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Bases históricas, epistemológicas e conceituais Prof. César Pessoa Descrição O estudo dos aspectos epistemológicos e históricos, grupos e agrupamentos, a pesquisa sobre processos grupais, dinâmica de grupo, funções adaptativas, autoritarismo, conflito, preconceitos, forças psicológicas e sociais na história do estudo dos processos grupais. Propósito A história dos objetos e métodos de análise e a apresentação de conceitos relativos aos processos fornecem conhecimentos iniciais a gestores e outros especialistas sem os quais não poderiam diagnosticar e implementar estratégias de modificação nas relações de poder e comunicação entre e dentro de grupos. Objetivos Módulo 1 Aspectos epistemológicos e históricos dos processos grupais Distinguir teorias e objetos na história do estudo dos processos grupais. Módulo 2 Fundamentação teórica sobre grupos e processos grupais Identificar o grupo psicológico como um dos pilares no estudo dos processos grupais. Módulo 3 Funções e objetivos dos grupos Reconhecer a importância dos grupos para a vida social, organizacional e institucional. Módulo 4 Forças psicológicas e sociais Identificar como se forma a identidade e a diferenciação grupal. Introdução A existência de grupos e seu estudo demorou a ser estabelecido dentro da psicologia social. Entre o século XIX e a primeira metade do século XX, foram estudadas representações sociais e a personalidade individual, até que, por volta de 1930, teorias e metodologias voltadas para a intervenção sobre grupos dentro de instituições alcançaram bons resultados. Reconhecer sua dinâmica, assim como estar preparado para diagnosticar conflitos e suas causas a partir de diferentes metodologias, pode ajudar especialistas de diversas áreas na implementação de estratégias de resolução de problemas e aprimoramento de liderança e comunicação. Tendo isso em vista, este estudo é relevante para todo profissional que trabalha em instituições, desde escolas até empresas, e enfrenta determinados dilemas, tais como dificuldade em comunicação, lideranças autoritárias, necessidade de implementar estratégias a fim de tornar a informação mais fluida e distribuída entre parceiros de trabalho, além de mitigar possibilidades de formação de estereótipos e preconceitos. 1 - Aspectos epistemológicos e históricos dos processos grupais Ao �nal deste módulo, você será capaz de distinguir teorias e objetos na história do estudo dos processos grupais. Contexto histórico O privado e o público no século XIX O processo histórico decorrente da Revolução Industrial acelerou o ritmo das atividades sociais entre os séculos XVII e XIX. Isso fez com que grandes centros urbanos surgissem, assim como os processos migratórios do campo para a cidade, ampliando o medo e a ansiedade relacionada ao desconhecido oriundo de pequenas cidades ou da vida agrária. A higiene e medicina urbana, que surgem no final do século XIX em países europeus, se desenvolveram a partir de preocupações com a eclosão de movimentos sociais disruptivos e propagação hereditária de doenças mentais. Desse cenário, surgiu objeto que viria a ser estudado por sociólogos, psicólogos e psicanalistas: as massas ou multidões, grandes aglomerados que eram considerados periculosos, imprevisíveis e hostis. Prática eugenista. No Brasil, ao final do século XIX, a medicina desempenhou importante papel na organização dos grupos sociais, especialmente em centros urbanos, como o Rio de Janeiro, então capital. As reformas urbanas implementadas durante o governo de Pereira Passos se pautaram no modelo das práticas médicas francesas que encampavam um programa eugenista de melhoria da raça. A eugenia foi uma teoria biológica próxima ao racismo que postulava a superioridade caucasiana às demais raças, sobretudo às etnias africanas, consideradas muito próximas, do ponto de vista físico e intelectual, ao reino animal. Apesar de estarrecedora, a teoria eugenista foi extensivamente adotada na medicina, biologia e psicologia até meados do século XX. Cabe ressaltar que, no Brasil, a miscigenação foi alvo de intervenções médicas que temiam um rebaixamento dos atributos intelectuais da população. A psicologia das massas e dos grupos Autores e trabalho importantes Durante o século XIX, a psicologia das massas, proposta por autores como Gustave Le Bon e Gabriel Tarde, considerava as aglomerações urbanas como sintoma de decadência irremediável do processo civilizatório. Freud critica as teorias anteriores sobre os fenômenos coletivos por tomarem o público como conjunto passivo, vulnerável e suscetível à sugestão hipnótica. Segundo o psicanalista, a força que une o líder à multidão é de caráter ativo, ou seja, a libido, energia que perpassa a vida amorosa e cultural de todo ser humano. A situação tomou rumo bastante diferente a partir dos estudos de Kurt Lewin no século XX sobre dinâmica de grupo, priorizando modificações das relações de poder e liderança em prol da democracia. Para isso, o autor teve de situar o grupo como elemento de interface entre a administração em grande escala do Estado e as necessidades individuais. Assim, Lewin operou uma leve, mas significativa, modificação na análise dos processos sociais, que limpou o campo de estudos da disputa ferrenha entre sociólogos e psicólogos. Sociologia e Psicologia Entre o final do século XIX e o século XX, diversos atores sociais, tais como médicos, psicólogos e também participantes das ciências sociais, ajudaram a consolidar e a ampliar a importância da temática dos processos grupais, investigando a formação de identidades, os contágios emocionais, o papel da hipnose na vida social, o espaço vital de pertencimento a vários grupos, o conflito e a competitividade, bem como estereótipos e preconceitos. Até a década de 1940, o cenário de estudos ficou dividido e estagnado na discussão sobre as existências de representações sociais, pesquisadas por sociólogos como Émile Durkheim e pelo antropólogo Marcel Mauss, e as críticas dirigidas a esses autores feitas por psicólogos sociais norte-americanos, como Floyd Allport. De acordo com os psicólogos, representações eram fenômenos ou processos mentais. Afirmavam, ainda, que uma mente coletiva não poderia existir, ou seja, apenas individualmente haveria mente e representação. Sociólogos e psicólogos disputavam uma arena de atuação. Durkheim, sociólogo, filósofo e antropólogo judeu francês. Enquanto sociólogos alegavam que as ciências sociais tratavam de representações sociais, psicólogos consideravam as representações individuais. Apesar de a disputa no campo dos estudos sobre os processos sociais entre sociologia e psicologia social ter sido marcante no início do século XX, a noção de grupo se consolidou entre a década de 1930 e 1940, sobretudo com os estudos de Kurt Lewin. Sua obra inspirou outros estudos que resultaram em formulações mais atuais, como a teoria da identidade e diferenciação grupal de Henri Tajfel. Sociologia, Psicologia e processos grupais Confira agora reflexões sobre os conflitos epistemológicos entre Sociologia e Psicologia no estudo dos processos grupais. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Entre os séculos XIX e XX, verificamos diversas explicações sobre a formação de grandes multidões, bem como acerca da diferenciação entre membros de pequenos grupos. Esses estudos trouxeram contribuições para o esclarecimento de situações caracterizadas: A pela emergência de padrões de comportamento hostis aos quais os estudiosos do século XIX se mostraram céticos quanto à possibilidade de resolução, enquanto no século XX, foram criadas técnicas de intervenção e manejo do preconceito, autoritarismo e dos modos de liderança. B pela impossibilidade de serem modificadas tendo em vista a irracionalidade constituinte da personalidade ligada a instintos de sobrevivência, tais como conduta sexual e agressividade. C pelo desaparecimento acentuado de atitudes etnocêntricasdurante o século XX. D pelo autoconhecimento pleno dos indivíduos acerca de suas motivações na vida social. Parabéns! A alternativa A está correta. A psicologia das massas, no século XIX, considerava as aglomerações urbanas como sintoma de decadência irreparável do processo civilizatório. A partir dos estudos de Kurt Lewin no século XX sobre a dinâmica de grupo, passou-se a priorizar modificações das relações de poder e liderança pela da democracia. Questão 2 Na década de 1920, as teorias sobre a formação de grandes grupos ganharam apoio da psicanálise. Na visão de Freud, o nexo entre líder e seguidores ocorre por meio de: Parabéns! A alternativa E está correta. E pela intervenção de uma medicina que no século XIX contribuiu para a diminuição da desigualdade social. A contaminação emocional, concordando com Gustave Le Bon. B uma imensa passividade da multidão anônima criada pela migração do campo para as cidades. C efeitos ligados à embriaguez por álcool e por ópio, substâncias populares na época. D força carismática do líder capaz de produzir efeitos semelhantes ao da hipnose. E identificação dos seguidores entre si de forma horizontal e com o líder de modo vertical. Freud criticava as teorias anteriores sobre os fenômenos coletivos por tomarem o público como passivo. Segundo Freud, a força que une o líder à multidão é de caráter ativo, ou seja, a libido, energia que perpassa a vida amorosa e cultural de todo ser humano. 2 - Fundamentação teórica sobre grupos e processos grupais Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car o grupo psicológico como um dos pilares no estudo dos processos grupais. Distinção entre grupos psicológicos e agrupamentos A distinção entre grupos psicológicos e agrupamentos é pautada, em geral, na ideia de que autênticos grupos psicológicos são marcados por interações face a face e compartilhamento de interesses, enquanto os agrupamentos podem envolver proximidade física, como em filas, ou vizinhanças, porém sem interações duradouras. No entanto, é importante ressaltar que as fronteiras entre grupos psicológicos e agrupamentos, apesar de frequentemente presentes e importantes na compreensão de processos grupais, são dinâmicas e fluidas. Desse modo, agrupamentos podem se transformar em grupos psicológicos na medida em que indivíduos que não estão interagindo passam a fazê-lo em torno de algum projeto ou vínculo importante. Pilares dos estudos de processos grupais no século XX O grupo psicológico A definição de grupo psicológico é um dos pilares dentro dos estudos sobre processos grupais no século XX. Para defini-lo, é importante diferenciá-lo de um conjunto de pessoas com proximidade física, mas sem vínculo psicologicamente relevante, como uma fila de banco. Porém, mesmo um agrupamento de pessoas desconhecidas é capaz de adquirir atributos de um autêntico grupo psicológico se houver compartilhamento de interesses. Por exemplo, se todos os caixas eletrônicos de um banco deixarem de funcionar e os clientes na fila de espera se organizarem para reclamar com membros da instituição. Kurt Lewin. Kurt Lewin, autor ligado ao gestaltismo, transplantou os conceitos dessa escola de pensamento para o estudo dos processos grupais. Gestalt é uma palavra alemã que significa “forma” ou “conjunto”. Logo, o gestaltismo alemão se refere a uma soma ou conjunto de elementos mentais, comportamentais ou sociais. Assim, Lewin propõe que um grupo, tal como uma melodia, é uma totalidade de interações e valores com propriedades que não estão presentes nos seus elementos de forma isolada. O espaço vital Outro conceito importante na ciência dos grupos é o espaço vital, a partir do qual Lewin criou uma metodologia que, em sua opinião, poderia representar graficamente o lugar e a dinâmica dos valores do pertencimento de um indivíduo aos grupos aos quais pertencia. Nessa representação gráfica da hierarquia dos valores dos grupos aos quais o indivíduo se sente vinculado, podem aparecer grupos, como: Família Amigos de infância Colegas de trabalho Relacionamentos afetivos Todo esse conjunto e sua hierarquia correspondem ao que Lewin chama de espaço vital. Trata-se de uma noção muito importante para o campo de estudos sobre processos grupais, dando visibilidade e nitidez a pré-disposições comportamentais (atitudes). A pesquisa sobre atitudes e pequenos grupos realizada por Kurt Lewin foi uma tentativa de melhor compreender e combater a formação de preconceitos étnicos e raciais. Em seus estudos sobre a dinâmica dos grupos, Lewin buscava constantemente esclarecer o espaço vital dos indivíduos, isto é, os diversos grupos com os quais alguém sente-se compartilhando valores e projetos existenciais. A transformação de agrupamentos em grupos psicológicos Confira agora as diferenças e a possibilidade de transformar agrupamentos em grupos psicológicos. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Agrupamentos e grupos são geralmente confundidos pelo senso comum. No campo da psicologia social interessada nos processos grupais, esses termos têm significado distinto, apresentando dinâmicas e características, tais como: A interações face a face entre indivíduos que compartilham valores e projetos (agrupamentos), e grandes massas que se organizam através do contágio emocional (grupo psicológico). B personalidade semelhante (grupo psicológico), e não semelhantes (agrupamentos). C agrupamentos podem ser compostos por muitas ou poucas pessoas, enquanto grupos psicológicos são compostos apenas por poucas pessoas. D propensão ao comportamento violento (agrupamento); comportamento previsível e obediência a normas (grupo psicológico). Parabéns! A alternativa E está correta. Um dos pilares dos estudos sobre processos grupais no século XX é a definição de grupo psicológico. É diferente de um conjunto de pessoas com proximidade física, como em uma fila de banco, que não estão vinculadas persistentemente. Porém, a situação muda se algo coloca essas pessoas em situação e divisão de interesses. Questão 2 A noção de espaço vital, consagrada por Kurt Lewin dentro de sua pesquisa sobre preconceitos durante a década de 1930, envolve: Parabéns! A alternativa B está correta. E quando grupos psicológicos possuem indivíduos que não estão interagindo, passam a chamar agrupamentos. Nesse caso, eles passam a interagir em torno de algum projeto ou vínculo. A a força implacável de fatores internos da personalidade que definem padrões de comportamento de difícil mudança. B a dinâmica da personalidade derivada do pertencimento do indivíduo a diversos grupos sociais. C o conflito entre grupos derivado da luta pela sobrevivência. D as pulsões sexuais estabelecidas por Freud como fatores fundamentais no processo de socialização. E a força determinante do meio externo sobre o comportamento social. Representar graficamente o vínculo de cada indivíduo a diversos grupos sociais com o valor que cada grupo ocupa em todo momento é um aspecto fundamental para a psicologia social. Esse espaço pode representar e apresentar os vínculos sociais de uma pessoa e é denominado de espaço vital. 3 - Funções e objetivos dos grupos Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer a importância dos grupos para a vida social, organizacional e institucional. Relações funcionais entre dois ou mais grupos Grupo, adaptação e democracia À medida que as sociedades industriais se organizaram em instituições que demandam desempenho e aprimoramento das capacidades dos indivíduos, a necessidade de gerir sem inibir a iniciativa foi ampliada. Não por acaso, os Estados Unidos, nação com crescimento exponencial da indústria, dos meios de comunicação e da democracia, foram palco de eclosão de pesquisas sobre pré-disposições a agir, ou seja, atitudes e opinião pública. Dentro desse cenário, teorias sobre atitudes, opinião e comportamento intergrupal deram origem não somente a ideias, mas também a práticas deintervenção, sobretudo voltadas para a melhoria da comunicação e distribuição da gestão entre membros de uma corporação. Cabe destacar que antes que existisse uma psicologia social e a noção de grupo psicológico, os processos mentais examinados em laboratório e mensurados através de testes mentais eram feitos de acordo com a adaptação dos indivíduos a normas de instituições pedagógicas e industriais. Pesquisa em dinâmica de grupo Nesse momento histórico, Kurt Lewin criou um centro de pesquisa para investigar esse conjunto de fenômenos, compreendidos como fundamentais para a consolidação de uma atmosfera democrática não somente na administração pública, mas também em escolas, lojas e locais de trabalho em geral. Na proposta encaminhada pela pesquisa em dinâmica de grupo, as associações diversas existentes dentro de instituições podem ser consideradas intermediárias entre o Estado e o indivíduo. Nessa posição intermediária, o grupo apresenta a função de equilibrar demandas por obediência, sem que essas demandas comprometam a capacidade dos grupos de serem livres e criativos. Esse equilíbrio entre obediência e liberdade está muito próximo à concepção política de democracia, tal como era entendida no contexto político dos Estados Unidos durante a década de 1940. Busca por equilíbrio entre obediência a regras e criatividade Grupo e empreendedorismo Com relação à pesquisa de grupos no contexto da busca por equilíbrio entre obediência a regras e criatividade, nota-se um desnivelamento entre as duas esferas a partir da década de 1960. Podemos dizer que, nesse momento, o entendimento dos processos grupais passa por transformações ligadas ao prestígio adquirido pela noção de empresa e de empreendedorismo. Esse desnivelamento dá proeminência à iniciativa individual e à criatividade entendida como adaptação a transformações extremamente velozes às quais o indivíduo é obrigado a estar atento. Em vez de o grupo ser valorizado como lugar da convivência entre indivíduos ligados por vínculos não sanguíneos, ganha valor a noção de equipe como um módulo que pode ser montado por determinado tempo e desfeito rapidamente. Os indivíduos são incitados a descobrir seus recursos interiores e a desenvolvê-los a partir de fórmulas de autoajuda, nas quais o valor mais elevado é a iniciativa e o enfretamento de crises e riscos. Pesquisas sobre processos grupais Um aspecto curioso nesse cenário é o fato de as pesquisas sobre processos grupais se voltarem para o tema do conflito e da competitividade, dentre os quais se destaca o experimento de Muzafer Sherif. Nesse experimento, o qual estudaremos com mais detalhes no próximo módulo, pré-adolescentes formaram grupos de modo artificial e foram incitados a competir. A pesquisa de Sherif refletiu a atmosfera de uma época em que a empresa, o empreendimento, a iniciativa e a adaptação a crise tomaram à frente do equilíbrio entre obediência e liberdade buscado nas pesquisas de Kurt Lewin. Nas concepções epistemológicas ditas construcionistas, a personalidade, ou o “eu”, não equivale a um conjunto de pré-disposições estáveis ao longo da história. Comentário Considerando essa perspectiva, após a década de 1960, os manuais de administração pessoal passaram a enfatizar a ideia de que as mudanças sociais devem ser produzidas prioritariamente pelos recursos internos aos indivíduos, construindo um outro tipo de “eu” ativado pela iniciativa e o risco. Dinâmica de grupo: da pesquisa à prática Confira agora as reflexões, a partir dos trabalhos de Kurt Lewin, sobre a dinâmica de grupo com exemplos de pesquisa e prática. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Os diversos grupos existentes dentro de instituições podem ser considerados associações intermediárias entre o Estado e o indivíduo. Nessa posição intermediária, o grupo apresenta a função de: Parabéns! A alternativa A está correta. Quando as sociedades industriais se organizaram visando ao desempenho e aprimoramento das capacidades dos indivíduos, a necessidade de conduzir sem inibir a iniciativa dos indivíduos foi estendida. Teorias sobre atitudes, opinião e intergrupal foram desenvolvidas. Questão 2 Uma importante modificação na função dos grupos aparece por volta da década de 1960 no espaço da administração de empresas, envolvendo: A equilibrar as necessidades por obediência, sem vincular a capacidade dos grupos de serem livres e criativos. B tornar-se independente do Estado e da administração pública. C vigiar os líderes, controlar seu modo de gerir e comunicar. D acolher passivamente regras e ordens na medida em que se torna cada vez mais organizado. E realizar operações e procedimentos que o Estado é incapaz de realizar. Parabéns! A alternativa D está correta. Ao longo do século XX, o grupo foi construído como uma instância intermediária entre o espaço individual e a administração pública, passível de ser manejada de acordo com as demandas institucionais, na medida em que as esferas privadas e públicas sofriam modificações. A a exigência de amparo do Estado em conjunto com a diminuição de força política de entidades representativas de trabalhadores. B o papel atribuído às emoções como fonte de decisões precisas. C o recurso a explicações biológicas sobre o funcionamento da motivação. D a noção do “eu” como um conjunto de recursos internos que devem ser potencializados para que se acompanhe as transformações velozes implementadas pelo aumento da competitividade no campo do trabalho. E o enrijecimento das normas institucionais que, ao final, impedem a iniciativa e a criatividade individual. 4 - Forças psicológicas e sociais Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car como se forma a identidade e a diferenciação grupal. Identidade e diferenciação grupal Diagnósticos sobre fenômenos sociais Na década de 1950, surgem importantes estudos acerca de dinâmicas de grupos incorporando conceitos psicanalíticos, como fez o sociólogo alemão Theodor Adorno, célebre membro da escola de Frankfurt. Os estudos na instituição de ciências sociais criaram uma tradição de incorporação de conceitos oriundos da psicanálise, realizando diagnósticos sobre fenômenos sociais, especialmente aqueles ligados à adesão da população a governos totalitários. Isso de modo algum implicou o desaparecimento das perspectivas gestaltistas de Kurt Lewin. Houve, contudo, um enriquecimento no cenário de pesquisas, inclusive com obras da perspectiva gestaltista que criaram novos conceitos, caso do psicólogo social polonês Henri Tajfel. Theodor Adorno. Theodor Adorno, quando radicado nos Estados Unidos após a ascensão do partido nazista na Alemanha, buscou expandir pesquisas anteriores, como o trabalho de Freud sobre a identificação dos subalternos com líderes carismáticos. Desse modo, Adorno empreendeu, na década de 1950, pesquisas quantitativas sobre traços de personalidade vinculados a condutas hostis, agressivas e preconceituosas. Resgatando a teoria psicanalítica, Adorno atribuiu a formação de um tipo de personalidade, denominada de “personalidade autoritária”, a uma educação paterna agressiva, repercutindo em idade madura o deslocamento do ódio original dirigido à figura paterna para grupos de etnias diferentes. Assim, Adorno traz à cena da psicologia social uma explicação e metodologia dirigida para um dos fenômenos ao mesmo tempo mais destrutivos e importantes do século XX: o holocausto judeu durante a Segunda Guerra Mundial. Teoria da identidade social Na teoria da identidade social consolidada ao longo da década de 1970, o psicólogo polonês Henri Tajfel analisa condutas hostis em relação a outros grupos. Com inspiração na teoria gestaltista da percepção, Tajfel inicia, na década de 1950, pesquisas sobre comparação de figuras gráficas, relacionando processos de comparação à autoimagem e pertencimento a grupos. Posteriormente, Tajfel apresenta uma teoria em que os processos de comparação estão ligadosa importantes processos grupais, tais como estereótipos e preconceito. Para tanto, elabora a ideia de que todo indivíduo se sente pertencente a um grupo segundo dois conjuntos de crenças: Sistemas de crenças na mobilidade social Envolve a visão do meio social como espaço aberto a mudanças. Sistemas de crenças na mudança social Envolve a visão do meio social como um espaço no qual nenhuma mudança poderia ser introduzida pela ação individual. No primeiro sistema de crenças, a modificação é conduzida por tentativas individuais de inserção em outros grupos sociais, enquanto, no segundo, a modificação é conduzida de forma coletiva. A teoria de identidade social de Tajfel busca dar conta do fenômeno da formação de estereótipos, compreendidos como exageros de características percebidas através de comparações e avaliadas como inferiores. Desse modo, caso o indivíduo possua crenças de que o pertencimento ao seu grupo é um valor a ser estimado, existe tendência para que considere outros grupos inferiores. Caso o indivíduo represente para si mesmo o grupo ao qual pertence como inferior, ele busca adaptar-se à conduta de grupos que considera superiores. Con�itos em grupos Experimento de Stanford A partir da década de 1960, surgem teorias baseadas em experimentos famosos sobre conflitos entre grupos, como o Robbers Cave Experiment, realizado por Muzafer Sherif. Na década seguinte, ocorreu o experimento de Stanford, conduzido por Philip Zimbardo. Em ambos os experimentos, especialmente no último, a competitividade entre os grupos envolvidos foi tão elevada a ponto de a intervenção sobre a relação entre os grupos ter sido necessária. Sherif, psicólogo turco que imigrou durante a década de 1940 para os Estados Unidos devido a conflitos políticos em seu país de origem, ficou conhecido devido a contribuições a pesquisas na área de julgamentos sociais. Sua orientação teórica com relação a problemas de preconceito e juízos socialmente influenciados é bastante distinta daquelas adotadas por Kurt Lewin, Theodor Adorno e Henri Tajfel. Apesar dessa divergência, as obras convergem quanto à importância de fatores psicológicos, como pode ser visto na noção de espaço vital, de Lewin, na gênese da personalidade autoritária de Adorno ou nos sistemas de crenças elencados por Tajfel. A teoria realista do con�ito O sistema teórico de Sherif costuma ser classificado como teoria realista do conflito grupal. A denominação realista marca a ênfase nos fatores que provocam a eclosão de separações, vieses e preconceitos entre grupos. Tal como Adorno e Tajfel, a teoria de Sheriff trabalha com duas dimensões: coesão interna e separação externa, ou seja, quanto mais um grupo enxerga defeitos em outro, maior a coesão entre seus membros. No entanto, ao contrário da inspiração cognitivista e psicanalítica de outros autores, o psicólogo turco trabalha com fatores ligados somente às condições externas. Por exemplo, observar, em meio à escassez de água e comida, como a disputa por esses recursos determina competitividade e coesão interna. Parte considerável de sua teoria está ligada ao experimento realizado nos anos 50. Nessa ocasião, juntamente com sua esposa, Sherif conduziu 22 pré-adolescentes a um camping de férias em Oakloma (o camping Robber’s Cave ou Caverna dos ladrões), dividindo o grupo em equipes. O psicólogo usou estratégias de formação e separação do grupo. Buscando despertar a competitividade entre as equipes, Sherif criou tarefas em que duas equipes se confrontavam. Após essa fase, Sherif colocou as duas equipes formadas artificialmente em situações de cooperação, verificando que a hostilidade entre equipes permaneceu. Curiosidade Esse experimento recebeu críticas por não mostrar adequadamente os processos psicológicos envolvidos na diferenciação entre os grupos. Por essa razão, a teoria de Sherif é considerada como uma teoria realista do conflito, mas não psicológica. Não obstante, fornece pistas para se entender a diversidade de abordagens das quais um especialista em processos grupais pode lançar mão para entender conflitos entre grupos. O poder da conformidade social Confira agora uma reflexão sobre como os indivíduos tendem a agir em conformidade com as expectativas do grupo a que pertencem. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 A compreensão da formação de estereótipos e preconceitos vem sendo tratada na atualidade segundo um viés: A que privilegia o comportamento observável. B no qual os fatores internos relativos à personalidade são realçados. Parabéns! A alternativa C está correta. Na teoria da identidade social do psicólogo polonês Henri Tajfel, as condutas hostis em relação a outros grupos estão ligadas ao modo como cada indivíduo de um grupo se compara a outros grupos. Caso o indivíduo possua crenças de que o pertencimento ao seu grupo é um valor a ser estimado, existe tendência para que considere outros grupos inferiores. Caso o indivíduo represente para si mesmo o grupo ao qual pertence como inferior, ele busca adaptar-se à conduta de grupos que considera superiores. Questão 2 Após a Segunda Guerra Mundial, muitos estudos sobre personalidade foram realizados na tentativa de compreender a ascensão do nazifascismo, dentre essas pesquisas, podemos citar: C cognitivo, no qual o papel das crenças e da comparação entre grupos é realçado. D que desloca a agressividade da figura paterna para grupos externos à família. E de escalas de personalidade autoritária. A a escala de personalidade autoritária proposta por Adorno. B a reatualização da teoria do contágio emocional, criada no século XIX por Gabriel Tarde. C a maior valorização do estudo de Freud sobre a identificação com o líder. D o modelo realista de conflito grupal elaborado por Muzafer Sherif a partir de seu experimento conhecido como Robber’s Cave. Parabéns! A alternativa A está correta. Theodor Adorno, sociólogo alemão pertencente à escola de Frankfurt e radicado nos Estados Unidos após a ascensão do partido nazista na Alemanha, buscou, na década de 1950, realizar pesquisas quantitativas sobre traços de personalidade vinculados a condutas hostis, agressivas e preconceituosas. Resgatando a teoria psicanalítica, Adorno atribuiu a formação de um tipo de personalidade, denominada “autoritária”, a uma educação paterna agressiva, em idade madura em um deslocamento do ódio original dirigido à figura paterna. Considerações �nais Entre os século XIX e o XX, diversos atores sociais participaram da consolidação da temática dos processos grupais, investigando formação de identidades, contágios emocionais, o papel da hipnose na vida social, o espaço vital de pertencimento a vários grupos, o conflito e a competitividade, bem como estereótipos e preconceitos. No século XIX, médicos higienistas contribuíram para consolidar a noção de massa, posteriormente estudada por sociólogos como Gustave Le Bon e Gabriel Tarde, e mais tarde por Sigmund Freud. Este último deu uma guinada na compreensão dos fenômenos de multidão, marcando a atividade das forças psíquicas que se organizaram investindo verticalmente na figura do líder e, horizontalmente, entre os membros subalternos. Trata-se, na opinião do autor, de uma energia vital denominada libido que atravessa os relacionamentos familiares, a vida profissional, a amizade e até mesmo a atividade filosófica. Apesar de a disputa no campo dos estudos sobre os processos sociais entre Sociologia e Psicologia social ter sido marcante no início do século XX, a noção de grupo se consolidou entre a década de 1930 e 1940, sobretudo com os estudos de Kurt Lewin. Sua obra inspirou outros estudos que resultaram na teoria da identidade e diferenciação grupal formulada pelo psicólogo polonês Tajfel. Compreender como os indivíduos formam identidades a partir de comparações de seu próprio grupo com outros permite que gestores e todos que trabalham em instituições possam detectar e elaborar estratégiasque evitem a propagação de hostilidade, bem como formação de estereótipos e preconceitos. E a teoria da identidade social proposta pelo psicólogo polonês Henri Tajfel. Tendo em vista o vasto campo de aplicação, as obras de Henri Tajfel e de Kurt Lewin permanecem extremamente atuais, proporcionando ferramentas interessantes para resolução de conflitos e mitigação de estereótipos e preconceitos em qualquer ambiente onde ocorram. Podcast Ouça agora as diferenças entre os processos de maioria e minoria de Kurt Lewin, destacando estratégias para o manejo do preconceito, do autoritarismo e os perfis de liderança. Explore + Confira as indicações que separamos especialmente para vocês! Para aprender mais sobre o papel da intervenção médica no espaço urbano e na classificação racial da população brasileira, assista ao vídeo “Psicologia - 50 Anos de Profissão no Brasil” no canal Conselho Regional de Psicologia do RS no YouTube. Para se aprofundar na teoria realista dos conflitos entre grupos, assista ao vídeo “5 Minute History Lesson, Episode 3: Robbers Cave”, no canal Cummings Center for the History of Psychology no YouTube. Veja como Muzafer Sherif produziu e, posteriormente, resolveu a competitividade entre grupos de pré-adolescentes no experimento Robber’s Cave. Um dos experimentos mais famosos sobre obediência à autoridade, que busca refletir sobre as razões do envolvimento da população alemã no holocausto judeu, foi transformado em filme. Em Experimentos, dirigido por Michael Almereyda em 2015, podemos entender um pouco mais sobre o experimento e a biografia do psicólogo Stanley Milgran. Assista ao vídeo “Stanford Prison Experiment 05”, encontrado no YouTube, no qual há depoimentos de participantes do experimento. A competitividade entre os grupos envolvidos é tão alta que a intervenção sobre a relação entre os grupos se fez necessária. Referências BARROS, R. D.; JOSEPHON, S. C. A invenção das massas: a psicologia entre o controle e a resistência. In: VILELA, A. M. J. et al. História da psicologia: rumos e percurso. Rio de Janeiro: Nau editora, 2019. CAMINO, L.; TORRES, A. R. R. Grupos sociais, relações intergrupais e identidade social. In: CAMINO, L. et al. Psicologia Social: temas e teorias. Brasília: Tecknopolitik, 2013. FERNANDES, S. C.; PEREIRA, M. E. Endogrupo x exogrupo: o papel da identidade social nas relações intergrupais. Estudos e pesquisa em psicologia, Rio de Janeiro, v. 18, n.1, p. 30-49, 2018. ROSE, N. Psicologia como uma ciência social. Revista Psicologia e sociedade, v. 20, 2008. SOARES, J. C. Escola de Frankfurt: unindo materialismo e psicanálise na construção de uma psicologia social marginal. In JACO-VILELA, A.; FERREIRA, A; PORTUGAL, F. (Orgs.). História da psicologia: rumos e percursos. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2008. SPINK, M. J.; SPINK, P. K. A Psicologia Social na atualidade. In: VILELA, A. M. J. et al. História da psicologia: rumos e percurso. Rio de Janeiro: Nau editora, 2019. Material para download Clique no botão abaixo para fazer o download do conteúdo completo em formato PDF. 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