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O que chamamos de grupo

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O QUE CHAMAMOS DE "GRUPO"?
(In: FONSECA, Afonso H. L. da. Grupo, fugacidade, ritmo e forma – processo de grupo e facilitação 
na psicologia humanista. São Paulo: Ágora, 1988, pp. 175-186)
p.175
Ao pensarmos o "grupo" como configuração social humana, é importante que atentemos para 
o papel de mediação que ele desempenha entre o todo social e a particularidade do indivíduo. 
O grupo é uma configuração social intermediária que articula a realidade da esfera do 
indivíduo com as dinâmicas macrossociais. 
Na sociedade contemporânea, não obstante, não podemos deixar de considerar a evidência da 
dissolução dos grupos, enquanto uma tal instância de mediação, através da invasão de seus 
domínios pelos mecanismos maciços de organização e comercialização da produção. Os indivíduos 
são atingidos no interior de seus microgrupos – pela TV, por exemplo - e são organizados segundo as 
demandas macrossociais da constituição e manutenção da força de trabalho e do mercado 
consumidor. Há uma dissolução dos papéis efetivos dos grupos e das comunidades, de modo que há, 
ao nível microssocial, uma atomização dos indivíduos, que não mais são organizados, ou organizam-
se, como corpo coletivo microssocial. O processo faculta a constituição do trabalhador isolado como 
um simples pacote de força de trabalho a ser alienada no cotidiano da produção heterogênea, ou a 
constituição do consumidor alienado desconsideradas as suas necessidades, as possibilidades de 
sua produção criativa e as possibilidades do desdobramento do potencial múltiplo de sua atividade. 
Num outro sentido, os grupos e comunidades são inconvenientes aos mecanismos e forças 
dominantes na sociedade de consumo: eles acolhem e possibilitam o desdobramento de processos 
de elaboração social das necessidades relativos à objetivação e criação da essência humana. 
Contrapõem-se, dessa forma, aos influxos de elaboração de necessidades alienadas no trabalhador e 
no consumidor. 
Se parece evidente o processo de dissolução dos grupos na sociedade de consumo, não podemos 
negligenciar, por outro lado o fato de que proliferam formas grupais de resistência.
p. 176
num espectro que abrange desde os sindicatos e suas organizações macro e micros-sociais, até os 
microgrupos dos botecos, das mesas de bar de sábado à noite, os grupos de amigos, grupos 
religiosos, associações de bairro, grupos de estudantes, alguns grupos formados no companheirismo 
do trabalho, associações de classe etc., onde se entrincheira a resistência à dissolução, havendo uma 
conservação relativa das funções humanizantes do grupo e da comunidade. 
Os grupos de Psicoterapia, ou os grupos menos específicos que se desenvolveram como 
prática corrente no âmbito da chamada psicologia Humanista, podem, ainda que não 
irrestritamente, ser situados nesse contexto particular dos modos de resistência à dissolução 
das formas grupais na sociedade de consumo. Processo de preservação e de recriação das 
condições humanizantes próprias às funções naturais dos grupos, no seio de uma sociedade que 
privilegia maciçamente valores desumanizantes e que escamoteia sistematicamente o indivíduo 
particular. 
Talvez seja importante enfatizar - diante do romantismo e das quimeras exacerbadas da Psicologia 
Humanista norte-americana, vastamente herdados - que esses grupos particulares não são, nem de 
longe, nem poderiam ser, produtores significativos do processo de resistência. São, antes, uma das 
formas de expressão desse processo, e, apenas nessa medida, constituintes e produtores dele. 
Essa perspectiva de compreensão dos grupos permite-nos contextualizar de um modo mais 
adequado os grupos praticados no âmbito da Psicologia Humanista, da mesma forma em que nos 
permite compreender e definir melhor a sua natureza, os seus limites e as possibilidades de seus 
desdobramentos. O que podemos cultivar nesses grupos, inclusive em termos genuinamente 
ditos terapêuticos, é o papel do grupo humano de elaboração de necessidades genuinamente 
humanas e de constituição reconstituição de individualidades criativas, que possam 
potencializar-se neles para objetivar e criar simultaneamente, nos limites de suas existências e 
na explicitação de suas personalidades, a essência humana de que são portadoras. 
Por outro lado, não podemos esquecer o fato de que, em sua função de mediação entre a 
particularidade do indivíduo e a totalidade social, o grupo realiza a mediação entre o indivíduo e a 
formação sócio-histórica concreta que lhe diz respeito. O grupo não existe, nem pode existir, como 
uma instância em si, isolada do seu meio específico. Ê ele uma produção do seu contexto 
sócio-histórico. Contexto que o constitui e que o atravessa de ponta a ponta. Cumpre nos 
considerar essa questão para que possamos compreender
p. 177
e compartilhar, no grupo, dos modos de resistência aos particulares influxos de desumanização de 
nosso contexto sócio-histórico. Do contrário, arriscamo-nos a investir o poder que eventualmente 
dispomos como facilitadores na concretização do grupo como um processo, também, de 
desumanização, alinhado com os mecanismos desumanizantes da sociedade de consumo, levando-o 
à frustração do seu potencial natural de humanização. 
É em grande parte, exatamente para fugir ou reconstituírem-se dos eventuais efeitos de 
desumanização da sociedade de consumo que as pessoas buscam o grupo. Encontram, não raro, 
uma reprodução, apenas, dos mecanismos da dinâmica dessa sociedade, seja ao nível material, seja 
ao nível das relações interpessoais. 
Assim, parece fundamental para o desempenho do trabalho de facilitador que possamos compreender 
alguns aspectos básicos dos grupos como configuração social humana particular, da mesma forma 
que possamos compreender a condição concreta dos grupos no contexto da sociedade de consumo, 
na medida em que os grupos que facilitamos são, de um modo ou de outro e inevitavelmente, por eles 
determinados. Não é difícil entender, assim, que é imprescindível que o facilitador conheça de 
um modo efetivo, ainda que não especializado, a realidade sócio-histórica em que se inserem 
ele próprio, o grupo que facilita e as pessoas que dele participam. Que ele conheça as lutas 
concretas e esteja humanamente posicionado com relação a elas - do processo de humanização 
nesse contexto sócio-histórico particular, de modo que possa entender a forma como as ressonâncias 
das tensões dessas lutas se particularizam de modo especial na atualidade existencial e nas relações 
da atualidade existencial dos participantes do grupo. O facilitador pode entender concretamente, 
assim, as contingências e percalços da atualização do potencial e da essência humana, no contexto 
particular do grupo, livrando-se dessa maneira de uma participação rigidamente irracional e alienada, 
e do consequente exercício irracional e alienado do poder de que dispõe. 
De resto, cumpre-nos compreender que os grupos que facilitamos são, em geral, microgrupos nos 
quais todos os participantes estão em contato face a face uns com os outros e têm uma possibilidade 
direta de relacionamentos interpessoais. São grupos casuais, no sentido de que as individualidades 
dos participantes não dependem diretamente dele. Nesse sentido, elas constituem o grupo e existem 
de modo independente, ainda que possam ser mais ou menos afetadas por sua vivência. São 
também configurações sociais humanas, transitórias e temporárias, efêmeras: nascem, crescem e 
morrem no encontro particular de seus membros particulares, naquele tempo e espaço particulares. 
São grupos exclusivos, pois implicam o pagamento de taxas - a remuneração do facilitador, as taxas 
de infra
p.178
-estrutura etc. - que excluem grande parte dos seus participantes potenciais. São grupos voluntários, 
na medida em que não existe nenhuma obrigatoriedade na participação neles, e caracterizam-se mais 
como grupos psicológicos do que como grupos institucionais, ainda que não possamos negligenciar a 
sua estrutura institucional- facilitador-participante, por exemplo - e aarticulação desta coma estrutura 
institucional da totalidade social. 
Em termos conceituais, “grupo" é um termo que se refere a uma grande variedade de 
configurações sociais ou, até mesmo, a um vazio conceitual, como é comum, à inexistência de 
conceitos isso não impede que a palavra seja utilizada, frequentemente com desenvoltura verbal, de 
um modo particular, no âmbito da chamada Psicologia Humanista e da Abordagem Centrada na 
Pessoa, onde "grupo" é um termo obrigatório, sendo, entretanto, um tanto quanto nebulosas 
conceitualmente as entidades às quais o termo se refere. 
Na prática, os "grupos" têm existido, à revelia da carência de uma maior precisão conceitual. Não 
obstante, parece ser essa carência responsável, em grande parte, pelas dificuldades de compreensão 
dos processos que ocorrem nos grupos empiricamente existentes, de compreensão dos seus 
resultados e do que se pode postular como "facilitação. Não parecem ter outra origem, em grande 
parte, as dificuldades de uma teorização adequada e as dificuldades e impossibilidades do 
treinamento de facilitadores.
Não pretendo aqui tentar conceituar "grupo" ou participar da polêmica de conceituação. Minha 
intenção é a de colocar algumas ideias que nos permitam entender melhor e melhor 
contextualizar os grupos empíricos com que trabalhamos e os referenciais e princípios de 
nosso trabalho e atuação dentro dos mesmos. 
Na verdade, a imprecisão e confusão conceitual advêm em grande parte de que o conceito de 
grupo é, de um modo geral, ainda bastante indefinido e confuso, eventualmente, um "lugar 
vazio que, segundo o contexto, se enche de diferentes significados".' Várias definições podem 
ser dadas "sem que se violente o sentido da palavra". Dentre estas, o grupo entendido como 
"comunidade de interesses, aglomeração casual de indivíduos, comunidade unitária no tempo 
e no espaço, ou dispersa, comunidade cônscia de si mesma ou apenas vinculada por algumas 
características objetivas".'
Adorno e Hohkeheimer indicam que existiram sempre duas tendências na conceituação de 
"grupo": uma, que tende a abranger figuras sociológicas da mais variada espécie, e a outra, que 
configura "tentativas de definição, sobretudo na Alemanha, que buscam reservar o termo para 
designar um gênero específico de configuração social. É ilustrativa da primeira tendência a 
definição dada por Oppenheimer e citada por Adorno e Horkeheimer: "Qualquer círculo de pessoas 
(maior ou menor, momentâneo ou duradouro, solidamente organizado ou reunido de forma 
indefinida) que atuem contemporaneamente e de modo semelhante sob um mesmo impulso 
externo e na base de um estado de consciência comum. 
"Geiger,' na mesma linha, diz: "O grupo é constituído por uma multiplicidade de indivíduos 
vinculados entre si de tal forma que o indivíduo sentir-se-á parte integrante do todo, do nós." A 
consciência, todavia, é um elemento que pode até faltar inteiramente.
"As definições de Weise são citadas por Adorno e Horkeheimer como ilustrativas da outra tendência 
na definição de "grupo": a que busca reservar o termo para designar um gênero específico de 
configuração social. Weise dividiu as configurações sociais humanas em função da sua 
distância ideal do indivíduo vivente. Classificou-as em "massas", "grupos" e "entidades 
coletivas" ou "corporativas" "abstratas". Nas suas palavras: " ... No caso das 'massas' ... os 
processos sociais em movimento são encarados de tal modo que as relações próprias do 
indivíduo (a ela) incorporado influem diretamente sobre a conduta destas. As massas estão 
muito próximas da natureza específica, notadamente dos desejos,' dos homens que as 
compõem." 
"Os 'grupos' - configurações de segunda potência – estão mais distantes do jogo variável das 
relações individuais, visto que possuem uma organização que impõe ao indivíduo a tônica de 
sua atuação." 
"As 'entidades coletivas ou corporativas abstratas' - configurações supremas da socialização - 
baseiam-se numa ideologia sustentada pelos homens que as compõem, que forma os 
coletivos deum modo inteiramente impessoal, isto é, o mais distante possível do indivíduo 
singular empírico. Esses coletivos são pensados e sentidos como portadores dos valores 
duradouros, não vinculados ao transcurso do prazo de vida dos indivíduos."
Para Wiese, segundo Adorno e Horkeheimer, o tipo ideal de grupo possui as seguintes 
características: 1) relativa constância e relativa continuidade; 2) organização, baseada na repartição 
de funções entre os membros; 3) ideias do grupo presentes em seus membros individuais; 4) 
formação de tradições e costumes nos grupos de mais longa duração; 5) relações mútuas com outras 
configurações grupais; 6) um critério de direito (sobretudo nos grupos mais realistas e de maiores 
dimensões). 
Essa definição de grupo, no que pese a sua utilidade,' não é suficiente para abarcar todas as 
modalidades e variações dos grupos, "Daí que se buscou sempre superar essa limitação 
designando-se, através de atributos adicionais à palavra "grupo", "algumas formas concretas 
das múltiplas vinculações sociais dos homens. Temos, assim, grupos "transitórios", 
"efêmeros" ou "duradouros", grupos "abertos" ou grupos "exclusivos", grupos "organizados" 
ou "não-organizados", grupos "voluntários" ou "compulsórios", grupos "psicológicos" ou 
"institucionais".
Um conceito importante e útil é o conceito de "microgrupo": um núcleo de pessoas bastante 
pequeno para que cada pessoa' possa ligar-se a cada uma das outras de, um modo direto e 
pessoal e sem a mediação de terceiros". A família é um exemplo básico de microgrupo.
Os microgrupos já eram reconhecidos por Gumplowicz como o elemento originário de todo e qualquer 
desenvolvimento social e o fator mais elementar do processo natural da história". 
Cooley atribuiu grande importância aos microgrupos do tipo da família, do tipo dos grupos de diversão 
e dos grupos de vizinhança, aos quais ele denominou de "grupos primários", definindo-os como tais 
em termos do tempo e da importância deles para o desenvolvimento da personalidade e para a 
manutenção das ideias e ideais sociais do indivíduo. Com relação a esses grupos primários, são 
secundários, por exemplo, o Estado, o partido, a classe. A cerca dos grupos primários
p. 181
Cooley escreveu: "São os que se caracterizam por uma associação e uma colaboração 
pessoais e sem a mediação de terceiros. São praticamente universais, porque pertencem a 
todos os tempos e a todos os estágios do desenvolvimento; são, pois, um dos principais 
esteios de tudo o que é universal na natureza e nos ideais dos homens. Obviamente, essas 
vinculações constituem a aprendizagem inicial da natureza humana no nosso mundo e não existem 
bases aparentes para supor que isso tenha sido diferente em qualquer tempo e lugar.
Os microgrupos foram objeto de grande atenção e de um grande número de estudos da sociologia e 
da psicologia social. Esse interesse, entretanto, tem sido de ordem eminentemente pragmática, 
visando a estruturação e desenvolvimento de equipes de trabalho em indústrias e em empresas em 
geral, de modo que tal interesse diz respeito especificamente à produtividade do trabalho. Adorno e 
Hohkeheimer observam que "a grande atenção da sociologia contemporânea para com os 
microgrupos (existentes na realidade ou experimentalmente formados) limita-se ao conhecimento dos 
mecanismos psicossociais internos de mediação do grupo, que explicam a dependência e a 
uniformidade psíquica de seus membros, são quase que relegadas para um plano obscuro as, 
relações recíprocas entre esses grupos e o mundo social onde se situam, as quais determinam, em 
grande medida, o conteúdo específico das concepções, atitudes, normas etc., de que o grupo é 
mediador.
Ao pensarmos o desenvolvimento dos trabalhos com grupos, é obrigatória a referência às ideias 
desenvolvidas em torno da chamada dinâmica de grupo. Discutindo a evolução das concepções do 
grupo na sociologia, Adorno e Horkeheimer indicam a existência de duas tendências fundamentaisrelativas à concepção da "realidade" que pode ser atribuída ao grupo. De um lado, caso se admita a 
existência real dos indivíduos isolados, os grupos só poderão ser vistos como agregados de 
indivíduos: tendência individualista. Por outro lado, "os grupos podem ser encarados como realidades 
pré-existentes e superordenadas: tendência universalista. Adorno e Horkeheimer indicam que a 
discussão sobre o conceito realista da existência do grupo foi orientada, na década de 20, na Europa 
e nos Estados Unidos, quase que exclusivamente pela oposição entre os 'aspectos 'individualista' e 
'universalista', que interpretavam de modo antagônico a relação entre o indivíduo e o grupo. Sob a 
influência da Psicologia da Gestalt, impôs-se progressivamente nessa 
182
Discussão, a tese segundo a qual (a relação indivíduo e grupo) deverias: ser entendida como relação 
de reciprocidade funcional. Essa concepção é postulada basicamente pela teoria da dinâmica de 
grupo, elaborada inicialmente por Kurt Lewin. Os defensores dessa teoria sublinham não só a 
'interação' do grupo e do indivíduo mas também as constantes mudanças a que estão sujeitos, por 
força dessa interação, tanto o grupo em si como a qualidade dos indivíduos que o compõem. Adorno 
e Horkeheimer citam Lewin: "O todo não é 'mais do que a soma de suas partes', dado que possui 
propriedades distintas. Poder-se-ia dizer: 'o todo é distinto da soma de suas partes'. A ideia do grupo 
como totalidade dinâmica deve abranger uma definição de grupo fundamentada na 
dependência em que os membros se encontram (ou, melhor dito, as unidades partes do grupo) 
Um grupo é frequentemente definido como uma pluralidade de pessoas entre as quais regem certos 
acordos, particularidades, acordos sobre as atitude. Penso que se deveria entender em que medida 
uma tal definição do grupo se distingue, em princípio, de alguma outra definição do grupo que se 
inspire na mútua dependência dos seus membros. É muito provável que, dado um certo número de 
pessoas, se manifestem algumas concordâncias - por exemplo, de sexo, de raça, situação 
econômica, atitudes - sem que por isso tais pessoas devam constituir, necessariamente, um grupo, no 
sentido de um todo social composto por partes interdependentes. Por outro lado, o grupo não está 
forçosamente formado por membros que tenham extraordinárias semelhanças, visto que, para os 
grupos sociais, como para uma totalidade em qualquer outra área, é válido que um todo caracterizado 
por um elevado grau de solidez interna possa conter partes bastantes heterogêneas. A espécie de 
dependência recíproca dos membros (ou seja, o que o grupo possui em conjunto) é uma 
característica distinta do grupo tão importante quanto o grau de independência recíproca e a 
própria estrutura do grupo.
Ao lado da importância dos "microgrupos", cumpre sublinhar a importância dos 
"macrogrupos". Adorno e Horkeheimer observam a tendência natural do homem para experimentar-
se nos microgrupos, ao mesmo tempo em que observam o caráter racionalmente ordenado os 
objetivos utilitários, usualmente heteronômicos e a tendência ao anonimato dos macrogrupos.
É interessante fazermos uma distinção entre "grupo" e "comunidade", da mesma forma que 
distinguir as relações do indivíduo tanto com um como com a outra. 
183
Heller observa que a comunidade é uma unidade estruturada organizada de grupos, dispondo 
de uma hierarquia homogênea de valores e à qual o indivíduo pertence necessariamente; essa 
necessidade pode decorrer do fato de se estar 'lançado' na comunidade ao nascer, caso em que 
a comunidade promove posteriormente a formação da individualidade, ou de uma escolha 
relativamente autônoma do indivíduo já desenvolvido. 
O grupo pode ser distinguido da comunidade a partir de várias perspectivas. Na mais geral, podemos 
observar que no caso clássico, o homem pertence a uma comunidade; e nos casos não clássicos, 
pertence apenas a 'poucas'. Não obstante, o indivíduo pode pertencer a diversos grupos 
distintos, de modo que ocorre para ele uma hierarquização dos grupos a que ele pertence, segundo 
os seus interesses, valores e necessidades. No caso da comunidade, não ocorre um tal tipo de 
hierarquização, uma vez que não há uma pluralidade de participações similar à participação 
dos indivíduos, nos grupos. 
Na perspectiva da individualidade, a participação do indivíduo nos grupos é casual. Já a 
participação na comunidade é necessária. Cumpre, entretanto, distinguir suas formas de 
necessidade, correspondentes a dois tipos distintos de comunidades. Pode-se pertencera uma 
comunidade em consequência de uma necessidade exterior ou em consequência de uma 
necessidade interna, ou seja, em consequência de uma escolha individual. Somente a sociedade 
burguesa, sociedade sem estamentos, sociedade classista "pura", abole as comunidades naturais 
enquanto integrações sociais primárias. De modo que apenas nessa sociedade é que se pode 
produzir uma relação acidental ou "casual do homem com a sua integração social básica ou com sua 
classe. 
A reflexão sobre a "massa" como configuração social humana e sobre a chamada "sociedade de 
massa" pode servir como um importante subsídio para a contextualização dos grupos. Vimos 
anteriormente as observações de Wiese com relação às distinções entre massas, grupos e entidades 
coletivas abstratas. Citamos e comentamos a seguir algumas observações de Adorno e Horkeheimer 
e de AHeIler acerca das relações do grupo com a massa na sociedade contemporânea.
 
P184
Como comentamos anteriormente, os grupos são, no seu sentido mais geral, configurações 
sociais de mediação da relação entre o indivíduo particular e a totalidade social a que ele se 
vincula, entre a universalidade da sociedade e a particularidade do indivíduo. São, pois, 
instâncias intermediárias que articulam a relação do indivíduo com a totalidade social, 
servindo como elementos de mediação. Nos microgrupos o indivíduo tem, e teve sempre, o 
contexto primário de constituição de sua personalidade, do desenvolvimento de controle e de 
manutenção de sua estabilidade como tal. A partir do desenvolvimento da sociedade industrial, com 
suas características particulares de uniformização e de normalização, a partir do desenvolvimento dos 
transportes e dos meios de comunicação os microgrupos, em particular os grupos primários, perdem 
progressivamente suas características de elementos de mediação na relação entre o indivíduo e a 
totalidade social, perdem progressivamente o seu poder de influência na constituição das qualidades 
específicas da individualidade e são cada vez mais subsumidos pelas dinâmicas gerais da totalidade 
social, orquestradas estas pelas demandas da produção econômica e do consumo. Dessa forma, os 
microgrupos vão perdendo progressivamente a sua singularidade e autonomia, à medida que 
são normalizados e heteronomizados pelas dinâmicas da produção e do consumo alienados.
Há naturalmente, entretanto, uma reação dos grupos e das pessoas a esse processo de dissolução, 
de normalização e de heteronomização. Essa reação deve-se, em parte, à força de resistência própria 
dos antigos grupos, força que gera tendências reativas. De modo que "brotam numerosas 
configurações novas de microgrupos que se formam nas bases como reação espontânea e 
inconsciente, frequentemente destrutiva, contra a pressão e a frieza da sociedade de massa e que 
oferecem ao indivíduo uma cobertura coletiva, estreita solidariedade e alguns esquemas de 
identificação. Como comentamos, os grupos vivenciais podem, no seu melhor funcionamento; operar 
como uma dessas formas grupais reativas.
Adorno e Horkeheimer comentam: "Todas essas formas grupais, entretanto, só se definem e 
adquirem um significado específico em relação com o processo total de crescente nivelamento das 
diferenças qualitativas do grupo que se registram na sociedade moderna. Quanto mais a ideologia 
insiste na autonomia do grupo, tanto mais os próprios grupos como instâncias mediadoras entre a 
totalidade e o indivíduosão determinados de fato pela estrutura da sociedade. Assim, o grupo 
continua exercendo sua função mediadora e seria difícil conceber
p.185
uma sociedade sem essa função; mas a função mediadora depende hoje, de maneira evidente, do 
todo socíetário, como é provável que sempre tenha dependido de uma maneira menos ostensiva.
A massa é coparticipação de muitos homens, numa ação determinante, que pode se expressar 
tanto através de uma ação comum e idêntica quanto através de um comum 'papel de coristas. 
A ação comum e o papel de acompanhamento podem eventualmente ser casuais - quando das 
reações em face do incêndio de um teatro, por exemplo - ou não casuais, como, por exemplo, em 
uma manifestação. 
Um importante aspecto distintivo entre a massa e o grupo é o de que o interesse e a finalidade 
comuns, a função comum, características dos grupos sociais estruturadores, não o são na 
mesma medida características da massa. Por outro lado, a atividade comum ou a comum função 
de coro não são características necessárias do grupos.
Os grupo e as comunidades existem necessariamente de forma articulada, estratificada, 
organizada. A massa por seu turno pode aparecer não estratificada e não articulada. Ainda 
assim, é necessário não confundir, como frequentemente se faz - em particular em setores mais 
conservadores e reacionários -, a massa não estruturada: vulnerável e de fácil manipulação, com 
a massa estruturada, que, enquanto tal, pode mesmo aparecer como comunidade, na medida em 
que represente uma comunidade específica. Uma massa de trabalhadores em uma manifestação de 
1º de maio, por exemplo, configura uma massa estruturada, diferente de uma multidão não-
estruturada. A multidão não-estruturada é passível de fácil manipulação, enquanto que a 
manipulação da multidão estruturada encontra resistência na' individualidade dos próprios 
elementos constituintes, esvaindo-se à medida que contraria os interesses de sua agregação. 
Para HelIer, o que se pretende dizer com a expressão "sociedade de massa" é, sobretudo, que 
uma sociedade dada favorece -exclusivamente, ou em primeiro plano - a estruturação interna 
na qual não se podem desenvolver nem a individualidade nem a comunidade. Dessa forma, a 
sociedade passa a expressar-se, desde o primeiro momento, como se todos formassem uma 
multidão mani
P186
pulada e como se por todos os lados dominasse uma atitude de dispersão: Sociedade de 
massas, portanto, diz Heller, é uma expressão metafórica para descrever uma sociedade 
conformista manipulada. A reflexão sobre as várias modalidades das configurações sociais 
humanas nos propicia condições para uma melhor compreensão do grupo, enquanto configuração 
social particular, e do grupo vivencial com que trabalhamos. Nos propicia elementos para uma 
compreensão de sua estrutura e dinâmica, assim como elementos para uma compreensão do 
significado dele para os indivíduos participantes. Por outro lado, não podemos esquecer a importância 
de uma reflexão competente sobre a situação sócio-histórica do sistema social concreto do qual 
agrupo e seus participantes derivam, e no qual eles se inserem, como recurso indispensável de 
compreensão das tensões de humanização e de atualização, objetivação e produção da essência 
humana ao nível da atualidade existencial das pessoas participantes e da dinâmica de suas vivências 
e interações no contexto grupal particular. Essa compreensão é já parte de um inalienável 
posicionamento efetivo e ativo do facilitador com relação às contingências do processo sócio-histórico 
de humanização no sistema social, e, de um modo particular, no contexto da vivência grupal.

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