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84 3 • Análise Dos Sistemas De Medição ANÁLISE DOS SISTEMAS DE MEDIÇÃO 3.3 ERROS NA MEDIÇÃO Um controle estatístico de processo tem como objetivo verificar se o processo está sob controle estatístico e, além disso, com uma variabilidade aceitável, no caso da variação do sistema de medição ser grande, poderá haver um impacto negativo nas decisões sobre os seguintes pontos: 1) Uma peça boa pode ser considerara ruim, o que seria um erro tipo I, o falso alarme; 2) Uma peça ruim pode ser considerada boa, erro tipo II; 3) Chamar uma causa comum de causa espe- cial ou vice-versa; 4) Desajustar um processo centralizado por considerá-lo de maneira errônea descentralizado; 5) Manter um processo descentralizado por considerá-lo de maneira errônea como centralizado; 6) Considerar um processo capaz, quando na verdade esse processo é não capaz de atender às exigências. Como podemos notar, o controle estatístico de processo e as cartas de controle estão ligados à análise de medição, além de podermos estabelecer hipóteses e alternativas para o teste de uma medição. As principais aplicações dessa metodologia são: • Estabelecer critérios de aceitação de novos equipamentos; • Comparar dispositivos de medição; • Fazer a avaliação de dispositivos que estejam com suspeita de deficiência; • Comparar um equipamento antes e pós-reparo; 85 3 • Análise Dos Sistemas De Medição ANÁLISE DOS SISTEMAS DE MEDIÇÃO • Indicar os dados necessários para o cálculo da variação de um processo; • Estabelecer a curva de desempenho de um dispositivo. O último item cita a construção de uma curva de desem- penho que pode ser definida como: “A construção de uma curva de desempenho do dispositivo de medição (GPC, do inglês Gage Performance Curve) tem como objetivo ilustrar como varia a probabilidade de aceitação (Pa) de uma peça em função do seu valor de refe- rência (VR). Uma vez que o erro de medição foi caracterizado, isto é, sua média e desvio padrão são determinados, torna-se possível calcular a probabilidade de aceitação da peça dado seu valor de referência. Admitindo que o erro é normalmente distribuído com média igual à tendência (b) e o desvio padrão (σ) igual ao RR, conclui-se que o valor da medição de uma peça tem distribuição normal com média igual a VR+b e desvio padrão igual ao RR.” (PORTAL ACTION)Outro ponto de importância que pode ser um gerador de incertezas é a discriminação dos dados. A discriminação seria a capacidade de um sistema detectar e indicar pequenas mudanças nas características das medidas, com confiabilidade. É claro que há limitações físicas e econômicas que impe- dem uma verificação de todos os valores. Por isso, deve haver uma organização que, por agrupar dados, impedirá o sistema de distinguir pequenas mudanças individuais nas caracterís- ticas de cada peça. O mais comum é agrupar peças por categoria, por exemplo, por lote, de modo que a característica medida seja comum à categoria. 86 3 • Análise Dos Sistemas De Medição ANÁLISE DOS SISTEMAS DE MEDIÇÃO Essa discriminação não será aceitável se a análise não detectar va- riação no processo. A figura a seguir, retirada de Menezes, mostra o impacto sem superposição de dados distribuídos do processo. Figura 14 – Impacto de categorias, (Fonte: Menezes, 2013) Para evitar os erros de medição, algumas diretrizes devem ser seguidas, sendo elas: • Uma abordagem de medição estudada e planejada; • Determinação prévia do número de operador, peças e leituras a serem feitas, além da criticidade das dimen- sões e a configuração da peça; • Escolha dos operadores levando em conta a experiência, logo, os operadores devem conhecer os dispositivos; • Seleção das peças de modo aleatório e representação da sua faixa de operação; • Organização das peças, em geral, indicando sua numeração; 87 3 • Análise Dos Sistemas De Medição ANÁLISE DOS SISTEMAS DE MEDIÇÃO • O método utilizado na medição deve seguir o pro- cedimento de medição definido e é necessário cons- tante nesse ponto; • Os princípios de aleatoriedade devem ser respeitados, logo, as medições serão feitas em ordem aleatória (sorteio); • A observação e a checagem na medição devem ser feitas por alguém com conhecimento técnico que conheça os cuidados na condução do estudo; • O local de medição das peças deve ser indicado. As técnicas que envolvem a checagem e a validação do estudo dependem de cada processo, do tipo de variável obser- vada e das características de amostragem. A acurácia e a precisão de um sistema dependem da qua- lidade dos dados obtidos, pois se todas as medições estão próximas do valor real, o sistema de medição é considerado como adequado, enquanto a baixa qualidade das medidas em geral se deve a uma grande variação nas medições. Logo, dois componentes afetam as medições, conforme a Figura 8: Figura 15 – Condições de boa qualidade das medidas. (Fonte: Autor) 88 3 • Análise Dos Sistemas De Medição ANÁLISE DOS SISTEMAS DE MEDIÇÃO 3.4 ACURÁCIA E PRECISÃO Qualquer medida que obtenhamos está sujeita a erros dos mais variados, seja por natureza grosseira, por erro do operador, sistemática, erro no processo ou mesmo randômica, quando escolhemos por acaso uma peça fora das características. Logo, podemos entender que o valor verdadeiro de uma grandeza, a rigor, não será conhecido, não importa o método de medição utilizado. Na prática, o valor verdadeiro de uma grandeza é um conceito abstrato. Uma definição para acurácia e precisão é obtida em Mi- khail e Ackermann (apud MONICO et al, 2009): Mikhail e Ackermann (1976, p. 64) apresentam acurá- cia como sendo o grau de proximidade de uma estimativa com seu parâmetro (ou valor verdadeiro), enquanto preci- são expressa o grau de consistência da grandeza medida com sua média. Esses autores acrescentam que acurácia reflete a proximidade de uma grandeza estatística ao valor do parâmetro para o qual ela foi estimada e que precisão está diretamente ligada com a dispersão da distribuição das observações. Ainda os mesmos autores discutem esses conceitos to- mando como base a Figura 15 (MIKHAIL; ACKERMANN, 1976 p. 44). Eles afirmam que precisão pode ser definida como o grau de conformidade entre as séries de observações da mesma variável aleatória, e que a dispersão da distribuição de probabilidade é um indicador da precisão. 89 3 • Análise Dos Sistemas De Medição ANÁLISE DOS SISTEMAS DE MEDIÇÃO Figura 16 – Acurácia e precisão. (Fonte: MONICO et al, 2009, p. 471) Os mesmos autores indicam, com base na Figura 9, que a estimativa p3 é a mais precisa, logo, em termos de acurácia, ela seria o grau de proximidade da estimativa com seus pa- râmetros. Podemos notar que além as estimativas p1 e p2 são igualmente acuradas, pois estão centralizadas na estimativa p, mas não tão precisas como p3, devido à variabilidade. Logo, podemos resumir a acurácia como centralização ao valor estimado, enquanto a precisão é uma medida vinculada à variabilidade. A Figura 16 mostra um comparativo entre a precisão e a acurácia. Notamos que uma medida precisa nem sempre é uma medida centralizada, enquanto mesmo quando a medida está centralizada sua precisão pode ser baixa, o que irá produzir dados de baixa qualidade. Portanto, em um planejamento de medição, é necessário levar em conta esses dois fatores, a fim de se produzir dados de alta qualidade. 90 3 • Análise Dos Sistemas De Medição ANÁLISE DOS SISTEMAS DE MEDIÇÃO Figura 17 – Precisão x Acurácia. (Fonte: MENEZES, 2013) 3.5 ANALISANDO O MSA A análise de medição em uma organização, no seu início, prevê a identificação de propriedades nas quais os sistemas devem focar inicialmente. A variação total ou final de um sistema de medição tem como base a combinação da varia- ção do processo e do sistema de medição, como apresenta- do na Figura 17. 91 3 • Análise Dos Sistemas De Medição ANÁLISE DOS SISTEMAS DE MEDIÇÃO Figura 18 – Visão gera do MSA. (Fonte: MENEZES, 2013) É importante notar que quanto menor a variânciana medição mais confiante estaremos com o fato de que a va- riação total depende exclusivamente da variação do processo: σ̂ 2total = σ̂ 2 processo + σ̂ 2 medição A estabilidade de um processo depende da variação total nas medições obtidas com o sistema de medição. Nesse caso, uma única característica é medida na mesma peça ou um pa- drão ao longo de um período extenso. Essa estabilidade se refere ao desempenho ao longo do tempo de uma peça e, em geral, não conseguimos quantificá-la e, sim, avaliá-la com a utilização de cartas de controle. A técnica, nesse caso, é a medição de uma peça padrão (a mesma peça) ao longo do tempo, sendo os resultados plotados em uma carta de controle. 92 3 • Análise Dos Sistemas De Medição ANÁLISE DOS SISTEMAS DE MEDIÇÃO Figura 19 – Processo de medição estável. (Fonte: Autoria própria) Como trata-se de uma mesma peça, o esperado seria que as leituras fossem sempre as mesmas, mas devido à variabilidade do próprio sistema de medição isso não acontece. Essa verificação do sistema deve ocorrer em uma mesma peça a fim de verificar sua precisão e acurácia, ou seja, se o valor alvo é encontrado e qual a variação encontrada que se somará à variação total. Quando um sistema de medição não está instável, encon- tramos diversas distribuições normais, além de pontos fora dos limites de controle na carta construída pra avaliar a medição. Figura 20 – Processo não estável. (Fonte: Autoria própria) As diretrizes para um estudo envolvendo um sistema de medição são: 93 3 • Análise Dos Sistemas De Medição ANÁLISE DOS SISTEMAS DE MEDIÇÃO • Obter uma amostra e calcular um valor de referência, medindo uma mesma peça no mínimo 10 vezes e cal- culando a média das medidas; • De maneira periódica, medir a peça de 3 a 5 vezes; • A experiência e o brainstorming serão utilizados para definir o tamanho da amostra. • As cartas de controle serão trabalhadas duas a duas: • X-barra e amplitude, cujos limites são definidos como: Para a média: LIC = x= – A2R LSC = x= + A2R Para a amplitude: LIC = D3R LSC = D4R • X-barra e desvio padrão, cujos limites são definidos como: Para as médias: LSC = X= + (A3 * S) LIC = X= – (A3 * S) Para os desvios padrão: LSC = B4 * S LIC = B3 * S 94 3 • Análise Dos Sistemas De Medição ANÁLISE DOS SISTEMAS DE MEDIÇÃO Que utilizam valor da Tabela 1: N 2 3 4 5 6 7 8 9 10 12 15 18 20 A 1,88 1,02 0,73 0,58 0,48 0,42 0,37 0,34 0,31 0,27 0,22 0,19 0,18 D4 3,27 2,57 2,28 2,11 2,00 1,92 1,86 1,82 1,78 1,72 1,65 1,61 1,59 D3 0 0 0 0 0 0,08 0,14 0,18 0,22 0,28 0,35 0,39 0,41 Tabela 9 – Valores para os limites de controle. (Fonte:) • Calcular a média e o desvio padrão, para compara-lo com o do processo. Retomando, diretrizes buscam avaliar um sistema de me- dição, por isso diferem das diretrizes adotadas em um controle estatístico de processo, mesmo tendo ferramentas em comum. 3.6 REPRODUTIBILIDADE E REPETITIVIDADE (R&R) A variação das medidas obtidas com um instrumento de medição, quando usado várias vezes por um mesmo avaliador, medindo uma mesma característica em uma peça, é chamada de repetitividade, enquanto a reprodutibilidade é a variação das medidas feitas por diferentes avaliadores utilizando um mesmo instrumento de medição, avaliando essa característica em um mesmo conjunto de peças. 95 3 • Análise Dos Sistemas De Medição ANÁLISE DOS SISTEMAS DE MEDIÇÃO Figura 21 – Comparação entre R&R (Fonte: Adaptado de Beckert) Sobre a repetitividade, Menezes (2013) apresenta o diagrama de flechas indicando que o interesse está na medida de variação de um mesmo operador medindo uma mesma peça. A ideia é que todas as medições se aproximem de um valor alvo. Se houver uma variação grande nas medidas, o sistema de medição apresenta dados de baixa qualidade e não pode ser considerado como confiável. Figura 22 – Análise de repetitividade. (Fonte: MENEZES, 2013) 96 3 • Análise Dos Sistemas De Medição ANÁLISE DOS SISTEMAS DE MEDIÇÃO O que esperamos é que as medidas tenham certa lineari- dade entre as medidas da primeira e da segunda medida, com um valor de coeficiente de Pearson, próximo de 1, o que indica que os dados são bem ajustados à reta. A ferramenta Excel, por exemplo, nos entrega valores para R², o que nos permite m ajuste mais fino dos dados. A reprodutibilidade já busca entender sobre a variação média de medidas feitas por diferentes operadores, utilizando um mesmo dispositivo de medição, medindo características das mesmas peças. Figura 23 – Análise de reprodutibilidade. (Fonte: MENEZES, 2013) Note na Figura 22 que cada peça medida por um avaliador diferente está centrada em uma posição diferente do gráfico. A variação das diferentes médias é que nos dará os índices de reprodutibilidade, sendo que, se essa variação for alta, o sistema não pode ser entendido por uma única distribuição normal, o que é negativo – teríamos dados confiáveis sobre sua confiabilidade. Essa medida é estimada pela amplitude das diferentes médias: pega-se a média maior e a média menor, e faz-se a diferença entre elas; quanto melhor a amplitude melhor. 97 3 • Análise Dos Sistemas De Medição ANÁLISE DOS SISTEMAS DE MEDIÇÃO As diretrizes para a análise da reprodutibilidade são: • Obter amostras de 10 peças de forma aleatória; • 3 operadores diferentes medem 3 vezes cada peça; • As peças devem ser numeradas; • Os dispositivos de medição devem ser calibrados; • Os operadores devem realizar as medições em ordem aleatória (sorteio). 3.7 AVALIANDO UM SISTEMA DE MEDIÇÃO Os critérios de aprovação de um estudo R&R são: 1) Abaixo de 10% Pode ser considerado aceitável, pois está em nível reco- mendado e será útil em controle apertado de processo. 2) Entre 10% e 30% Pode ser aceito com implicações, ou seja, a base de tomada de decisões irá considerar os custos do dispositivo de medição, retrabalho e reparo. Um sistema de medição com esse grau de aceitação deve ser pré-aprovado pelo cliente. 3) Acima de 30% Inaceitável. Os esforços devem ser tomados para melho- rar o sistema de medição no sentido de melhorar a variação, observando a repetitividade e a reprodutibilidade. Já quando avaliamos um sistema de medição por atributo, precisamos levar em conta em primeiro as diretrizes do siste- ma, que envolvem: 98 3 • Análise Dos Sistemas De Medição ANÁLISE DOS SISTEMAS DE MEDIÇÃO • Selecionar no mínimo 50 peças; • Definir um atributo de referência, por exemplo, uma cor padrão; • Indicar 3 operadores com experiência; • Cada operador mede a peças 3 vezes, em local de che- cagem determinado. Menezes (2013) apresenta os seguintes critérios de avalia- ção para um sistema de medição por atributo, o que leva em consideração resultados obtidos pelo controle de processo ou pela confiabilidade do sistema: Figura 24 – Critério de aprovação MAS por atributos. (Fonte: MENEZES, 2013) Na verdade, essas tabelas apresentam critérios básicos de avaliação que devem ser adaptados a cada situação e em- presa, de maneira que Menezes (2013) indica que uma avalia- ção deve seguir: 99 3 • Análise Dos Sistemas De Medição ANÁLISE DOS SISTEMAS DE MEDIÇÃO Figura 25 – Critérios de avaliação MSA. (Fonte: MENEZES, 2013) Um exemplo possível para a organização de uma análise de medição está disponível em: https://www.minitab.com/uploaded Files/Documents/sample-materials/FuelInjectorNozzles-PT.pdf. O problema traz a situação de um fabricante de bicos injetores de combustível que instala um novo sistema digital de medição. A intenção é determinar se o novo sistema é bom para medir os bicos. Na coleta de dados, os técnicos coletam amostras ale- atórias em todas as máquinas em todas as principais varia- ções de processo: • Máquina • Tempo • Turno • Alteração de trabalho. 100 3 • Análise Dos Sistemas De Medição Em 9 bicos que representam os que são normalmente produzidos, todos codificados, a ordem de medição será: o primeiro operador mede os 9 bicos em ordem aleatória, o segundo operador, mede os 9 bicos emordem aleatória e dife- rente do primeiro, e o processo será repetido 2 vezes gerando um total de 36 medições. A especificação de cada bico é 9012 ± 4 mícrons, ou seja, apresenta uma tolerância de 8 mícrons. VARIÁVEL DESCRIÇÃO Bico Bico injetor de combustível medido Operador Operador que fez a medição Ordem de ensaios Ordem original de execução do experimento Diâm Diâmetro medido do bico (mícron) Esse problema apresenta suas conclusões organizadas em tabelas: GRÁFICO PADRÃO R Pequena amplitude média Carta Xbarra Limites de controle estreitos e muitos pontos fora de controle Ordem original de execução do experimento Por peça Medições muito similares para cada peça em to-dos os operadores e claras diferenças entre peças Por operador Linha reta horizontal Operador por peça Linhas sobrepostas Em um sistema aceitável, ou seja, com tolerância até 10%, a medição dos bicos contribui pouco para a variação total do sistema. 3 • Análise Dos Sistemas De Medição EXERCÍCIOS EXERCÍCIOS 104 Exercícios ENGENHARIA DE SISTEMAS PRODUTIVOS 1) Defina precisão e acurácia. A resposta deve estar apoiada na definição de Mihail e Ackermann, sendo uma sugestão: acurácia seria o grau de proximidade de uma estimativa com seu parâmetro (ou valor verdadeiro), enquanto precisão expressa o grau de consistência da grandeza medida com sua média. 2) Organize um fluxograma para avaliação do sistema de medição da empresa em que trabalha e compare o mesmo com os de seus colegas; aponte diferenças relevantes entre os sistemas que poderiam ser utilizadas na melhoria do sistema apresentado. Resposta pessoal. Os alunos podem se apoiar no fluxogra- ma de análise generalizado apresentado no capítulo. 3) No curso, foi apresentado diversas ferramentas estatís- ticas que podem ser úteis na análise de um sistema de precisão. Cite ao menos 3. Resposta pessoal Exemplo: Controle estatístico de processo, distribuição nor- mal, digrama de Ishikawa, fluxogramas, confiabilidade e Anova. 4) Quais são as características de uma medida de alta qualidade? A resposta deve ter como base a imagem abaixo:
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