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Aula 8: 15 de abril 8-1 Curso: Relatividade 01/2019 Aula 8: 15 de abril Profa. Raissa F. P. Mendes 8.23 Tensores 0-2 Já vimos que o produto escalar entre dois vetores é um exemplo de tensor do tipo ( 02 ). De modo geral, tensores do tipo ( 02 ) são mapas (bi)lineares de dois vetores nos reais. O tensor mais simples desse tipo é o produto externo de duas 1-formas: o tensor p̃⊗ q̃, que, aplicado em dois vetores ~A e ~B, produz o número p̃( ~A)q̃( ~B). (Note que o produto externo não é comutativo!) Para especificar um tensor do tipo ( 02 ) qualquer, precisamos especificar 16 números, correspon- dentes, por exemplo, à atuação do tensor em todas as combinações dos vetores de base: f(~eα, ~eβ). Com as noções naturais de adição e multiplicação por escalar, o espaço de vetores ( 02 ) é um espaço vetorial de dimensão 16. Base: Da mesma forma que escolhemos uma base de 1-formas {ω̃α} dual à base de vetores {~eβ}, podemos escolher uma base conveniente de tensores ( 02 ): os 16 tensores definidos como wαβ = ω̃α ⊗ ω̃β. (8.15) Escrevemos f = fαβw αβ, onde fαβ são as componentes do tensor f nessa base. Note que as componentes fµν podem ser obtidas simplesmente como (mostre! ) fµν = f(~eµ, ~eν). Atuação: A atuação de f em dois vetores quaisquer é dada por f( ~A, ~B) = f(Aµ~eµ, B ν~eν) = A µBνf(~eµ, ~eν) = A µBνfαβω α(~eµ)ω β(~eν) = A µBνfαβδ α µδ β ν = A µBνfµν . Transformação das componentes: Como as componentes de um tensor ( 02 ) se transformam quando vamos de um referencial inercial para outro? Temos: fµ̄ν̄ = f(~eµ̄, ~eν̄) = f(Λ α µ̄~eα,Λ β ν̄~eβ) = Λ α µ̄Λ β ν̄f(~eα, ~eβ) = Λ α µ̄Λ β ν̄fαβ. Tensor métrico: O produto escalar entre dois vetores define o que chamaremos do tensor métrico em Relatividade Restrita (e que será generalizado mais à frente!). Vimos que g( ~A, ~B) = ηµνA µBν , de modo que as componentes do tensor métrico em Relatividade Restrita são gµν = ηµν . Como qualquer tensor do tipo ( 02 ), as componentes do tensor métrico devem se transformar da forma ηµ̄ν̄ = Λ α µ̄Λ β ν̄ηαβ. No entanto, vimos que as componentes do tensor métrico são as mesmas (diag(−1, 1, 1, 1)) em todos os referenciais inerciais! De fato, é fácil verificar, com a forma expĺıcita Aula 8: 15 de abril 8-2 da matriz de Lorentz, que η = ΛT ηΛ. As transformações de Lorentz podem ser definidas dessa forma, pelo fato de que deixam o tensor métrico invariante. Simetrias. Um tensor ( 02 ) é dito simétrico se f( ~A, ~B) = f( ~B, ~A) para todo ~A e ~B. Ou, em termos de componentes, fαβ = fβα. Definimos a parte simétrica de um tensor como o tensor com componentes h(αβ) := 1 2 (hαβ + hβα). Da mesma forma, um tensor anti-simétrico obedece f( ~A, ~B) = −f( ~B, ~A) para todo ~A e ~B. Ou, em termos de componentes, fαβ = −fβα. Definimos a parte anti-simétrica de um tensor como o tensor com componentes h[αβ] := 1 2 (hαβ − hβα). Note que hαβ = h(αβ) + h[αβ]. O tensor métrico é simétrico, pois vimos que g( ~A, ~B) = −A0B0 +A1B1 +A2B2 +A3B3 = g( ~B, ~A). Comparando linguagens: (a) Linguagem geométrica: g(~u,~v); (b) Linguagem de componentes: ηµνu µvν ; (c) Linguagem geométrica baseada em coordenadas: g = ηµν d̃x µ ⊗ d̃xν . Note que existe uma correspondência entre a métrica, escrita como em (c) e o conceito de elemento de linha, ds2 = ηµνdx µdxν . O elemento de linha, assim como a métrica, representa o módulo ao quadrado de um deslocamento infinitesimal numa direção não especificada. 8.23.1 A métrica como um mapa entre vetores e 1-formas Um papel muito importante da métrica é agir como um mapa entre vetores e 1-formas. Para todo vetor ~V , podemos construir o objeto g(~V , ). O que ele faz? Ele admite como argumento um vetor e expele um número, ou seja, é uma 1-forma! Chamamos essa 1-forma de Ṽ : Ṽ ( ) = g(~V , ) = g( , ~V ). Temos que Ṽ ( ~A) = ~V · ~A. Quais são as componentes de Ṽ ? Elas são: Vα = Ṽ (~eα) = g(~V ,~eα) = g(V β~eβ, ~eα) = V βg(~eβ, ~eα) = ηαβV β. Ou seja, se ~V →O (a, b, c, d), então Ṽ →O (−a, b, c, d). Mais tarde, quando a métrica for mais complicada, essa regra também será! Temos que Vα = ηαβV β. Podemos inverter essa relação, escrevendo: (η−1)αγVα = (η −1)αγηαβV β = δγβV β = V γ . Aula 8: 15 de abril 8-3 Por simplicidade, vamos chamar as componentes da métrica inversa simplesemente de ηαβ. No espaço-tempo plano, e em coordenadas cartesianas, a métrica inversa tem as mesmas componentes da métrica. Em particular, podemos associar à 1-forma d̃f o vetor ~df , que é o vetor gradiente. Como mostrar que ele corresponde à noção usual, sendo ortogonal às superf́ıcies de ńıvel de f? Seja ~V um vetor paralelo a uma superf́ıcie de ńıvel de f , de modo que d̃f(~V ) = dfνV ν = 0. Temos que ~df · ~V = ηµνdf µV ν = dfνV ν = 0. Como d̃f →O (∂tf, ∂xf, ∂yf, ∂zf), temos que ~df →O (−∂tf, ∂xf, ∂yf, ∂zf): as componentes tridimensionais são as mesmas e é por isso que identificamos esses objetos no espaço Euclideano. Note que a dualidade entre vetores e 1-formas é a mesma que aparece entre vetores coluna e vetores linha em álgebra, ou, em Mecânica Quântica, entre bras e kets: 〈φ|ψ〉 = ∫ φ∗(~x)ψ(~x)d3x. Magnitude de 1-formas. Definimos a magnitude de uma 1-forma como a magnitude do vetor associado: p̃2 = ~p2 = ηαβp αpβ = pβpγη γβ = −(p0)2 + (p1)2 + (p2)2 + (p3)2. 8.23.2 Formas diferenciais Uma forma diferencial ou p-forma é um tensor do tipo ( 0p ) que é antissimétrico em todos os ı́ndices. Formas diferenciais são úteis porque podem ser derivadas e integradas sem o aux́ılio de estruturas geométricas adicionais. É nessa linguagem também que as leis do Eletromagnetismo assumem Aula 8: 15 de abril 8-4 sua forma mais elegante. No nosso curso, não veremos p-formas em mais detalhes. Para mais informações, ver a discussão no livro do Sean Carroll! 8.24 Tensores N-0 Um tensor do tipo (N0 ) é definido como uma função multilinear de N 1-formas nos reais. Se definirmos a atuação de um vetor em uma 1-forma como ~V (p̃) = p̃(~V ) = pαV α, então vetores serão exemplos de tensores do tipo ( 10 ). Toda a nossa discussão anterior se aplica a como construir tensores do tipo (M0 ); uma base para vetores do tipo ( 2 0 ) é ~eα ⊗ ~eβ, e assim por diante. 8.25 Tensores M-N Por fim, definimos um tensor do tipo (MN ) como um mapa multilinear de M 1-formas e N vetores nos números reais. Por exemplo, se R é um tensor ( 11 ), ele atua numa 1-forma p̃ e num vetor ~V produzindo o número R(p̃, ~V ). Uma base para esse espaço é {~eµ⊗ ω̃ν}. As componentes do tensor R nessa base são R(ω̃α, ~eβ) = R α β. Em outro referencial inercial, Rᾱβ̄ = R(ω̃ ᾱ, ~eβ̄) = R(Λ ᾱ µω̃ µ,Λνβ̄~eν) = Λ ᾱ µΛ ν β̄R(ω̃ µ, ~eν) = Λ ᾱ µΛ ν β̄R µ ν . A transformação é simples: cada ı́ndice traz um Λ com ı́ndices nas posições adequadas para permitir a convenção de soma. Note que podemos também interpretar um tensor ( 11 ) como um mapa de vetores em vetores: Tµν : V ν → Tµν V ν e pode-ser verificar que este último se transforma como um vetor. É interessante que alguns livros vão definir tensores como um conjunto de números que se trans- forma apropriadamente por transformações de Lorentz. Essa definição é operacionalmente útil, mas obscurece o significado mais profundo de tensores como entidades geométricas. Note também que alguns tensores, como a métrica, a métrica inversa, a delta de Kronecker e o śımbolo de Levi-Civita (�µνρσ é igual a 1 se µνρσ é uma permutação par de 0123, −1 se é uma permutação ı́mpar e 0 caso contrário), são tais que, embora suas componentes se transformem de acordo com a lei de transformação de tensores, elas são invariantes por essas transformações. 8.25.1 Levantando e baixando ı́ndices Da mesma forma que a métrica oferece um mapa entre um vetor ~V e uma 1-forma Ṽ , ela mapeia um tensor (MN ) num tensor ( M−1 N+1 ). De forma semelhante, a métrica inversa mapeia um tensor do tipo (MN ) em um do tipo ( M+1 N−1 ) . Geralmenteindicamos os tensores relacionados dessa forma com a mesma letra, só os distinguindo pela posição dos ı́ndices. Por exemplo, se Tαβγ são as componentes Aula 8: 15 de abril 8-5 de um tensor ( 21 ), T α βγ = ηβµT αµ γ são as componentes de um tensor ( 12 ) (existem outros tensores do mesmo tipo associados aquele; quais são?). Essas operações são chamadas de levantar e baixar os ı́ndices; quando dizemos isso, nos referimos ao mapa fornecido pela métrica. Às vezes nos referimos aos ı́ndices de cima como “contravariantes” e aos ı́ndices de baixo como “covariantes”. O que seria o tensor ηαβ = η αµηµβ? É η α β = δ α β. Levantando outro ı́ndice, obtemos a identidade ηαβ = ηαβ. Então podemos considerar ηαβ como componentes de um tensor ( 20 ) obtido a partir de g por g−1. (Pergunta: quanto dá ηµνη µν?) Observações: (i) Existem espaços sem métrica, como o espaço de fase em Mecânica Clássica. (ii) A métrica é uma estrutura adicional na álgebra vetorial. (iii) A métrica da Relatividade Restrita é simétrica. Se fosse antissimétrica, teŕıamos um espaço espinorial. 8.26 Derivando tensores Vamos lembrar o nosso objetivo, que é escrever as leis da F́ısica (Eletromagnetismo, Mecânica, Hi- drodinâmica, Gravitação, etc.) de uma forma que seja explicitamente invariante (ou covariante) por transformações de Lorentz. Para isso, gostaŕıamos de escrevê-las em termos de tensores. Embora talvez seja mais elegante usar a linguagem geométrica, como F = 0, é equivalente escrevemos em termos de coordenadas Fα...γ... = 0. Note que se essa expressão é válida em um referencial inercial, é válida em todos os outros: pela lei de transformação de tensores, F ᾱ...γ̄... = Λ ᾱ µ . . .Λ ν β̄ . . . Fµ...ν... = 0 em outro referencial. A forma da lei é a mesma, dizemos que a lei está escrita de forma covariante. As leis da F́ısica são geralmente expressas como equações diferenciais parciais. Para isso, vamos precisar discutir bastante a noção de derivadas, especialmente quando estivemos interessados em espaços-tempos mais gerais. Qual é a dificuldade em se definir uma derivada? Em cada ponto do nosso espaço-tempo, podemos definir um espaço vetorial e nesse espaço sabemos somar e comparar vetores. Mas derivada envolve a comparação de vetores ou tensores definidos em pontos diferentes. Nesse caso, não é óbvio como somar ou comparar esses objetos. Uma opção é estabelecer uma forma de carregar vetores de um ponto a outro, para fazer a mesma comparação no mesmo local. Discutiremos isso mais à frente! Por hora, vamos considerar derivadas em Relatividade Restrita. Vimos que uma função é um vetor ( 00 ) e o gradiente é um tensor ( 0 1 ). Derivar uma função produz um tensor de ordem maior. E isso se aplica a tensores de qualquer tipo. Suponha, por exemplo, um campo tensorial do tipo ( 11 ), T = T α β~eα ⊗ ω̃β. Suponha que nos movamos ao longo de uma curva parametrizada por um parâmetro τ (como o tempo próprio ao longo de uma linha de mundo). Podemos definir dT dτ = lim ∆τ→0 T(τ + ∆τ)−T(τ) ∆τ . Como a base de vetores e 1-formas é a mesma em toda parte (por exemplo, ω̃α(τ + ∆τ) = ω̃α(τ)), temos que dT dτ = dTαβ dτ ~eα ⊗ ω̃β = (∂γTαβ ~eα ⊗ ω̃β)Uγ , onde Uγ é o vetor tangente à curva. Agora, o tensor dT/dτ é do tipo ( 11 ). Mas podemos definir o tensor “gradiente” como o tensor ( 12 ) ∇T = (∂γTαβ ~eα ⊗ ω̃β ⊗ ω̃γ). Note que as componentes desse tensor, ∂γT α β se transformam adequadamente sob transformações de Lorentz. Isso não será verdade em geral! 8.26.1 Outras operações com tensores Contração: reduz o rank em 2. Por exemplo, M(~u,~v) = R(~eα, ~u, ω̃ α, ṽ) transforma um tensor do tipo ( 22 ) em um tensor do tipo ( 1 1 ). Em componentes, M ν µ = R αν αµ . Outras operações são o divergente, em que o ı́ndice da derivada é contráıdo com um dos ı́ndices originais do tensor, transposta, simetrização e antissimetrização, etc. Para casa: Ler o caṕıtulo 3 do Schutz. Fazer as questões 1, 2 e 3 da Lista 3! 8-6 Tensores 0-2 A métrica como um mapa entre vetores e 1-formas Formas diferenciais Tensores N-0 Tensores M-N Levantando e baixando índices Derivando tensores Outras operações com tensores
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