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55 LINGUAGEM VISUAL Unidade II PRINCÍPIOS (ELEMENTOS) DO DESENHO TÉCNICO – INTRODUÇÃO AO EIXO Z Pensemos sobre os aspectos tridimensionais da representação. É fato que o homem reproduz os elementos que o cercam em duas dimensões, porém há recursos para representar a vivência em 3D sobre um plano 2D. Essa execução de representação mais complexa ocorre com a inserção do eixo z na elaboração dos desenhos. É fundamental a aplicação da geometria plana e espacial na interpretação e execução de desenhos técnicos. Todavia, o estudo da volumetria não precisa se restringir ao uso do papel, podendo se dar também por meio de maquete física. O modo de representação é que sofre variação. Estudos comprovam que são inegáveis os benefícios desse processo na complementação e no enriquecimento do canal de raciocínio. Mais do que cumprir regras de representação, o delinear das formas e volumes para o designer significa o processo de maturação e consolidação das ideias, o encontro de respostas a problemáticas existentes. “O desenho é um processo de criação visual que tem propósito. Diversamente da pintura e da escultura, que constituem a realização das visões e sonhos pessoais dos artistas, o desenho preenche necessidades práticas” (WONG, 2010, p. 41). 3 OS VOLUMES A volumetria surge pela ocupação de um sólido no espaço e pela introdução do eixo z na identidade das formas. Até agora, trabalhamos apenas com exemplos de coordenadas formais nos eixos x e y. O objetivo era familiarizá‑lo com os entes elementares: ponto, reta, plano, círculo, semirretas, semicírculos, ângulos e polígonos. A partir de agora, o raciocínio será imbuído da terceira linha comum a um feixe de planos. Essa volumetria/profundidade será atingida com a expressão dos conceitos apresentados anteriormente (multiplicação, divisão, subtração, adição e interpenetração de planos). Todavia, a magnitude volumétrica pode surgir por meio de espaços ilusórios. A superposição, já mencionada (uma forma se superpõe à outra), dá a sensação de que uma figura está em frente ou acima da adjacente. Outro item já ilustrado que também pode imprimir tridimensionalidade é a reprodução de forma múltipla. A figura, ao sofrer gradativo aumento no tamanho, sugere uma dinâmica em que os componentes maiores estão se aproximando, enquanto a diminuição sugere que os demais elementos estão distanciando. Quanto maior o nível de alteração no tamanho dos elementos extremos, maior a intensidade da ilusão (ou seja, de profundidade espacial). A mudança de valores tonais também é um recurso para a obtenção de profundidade. Quanto mais escura a cor, mais ela se sobressairá e mais próxima do observador parecerá (se comparada às demais 56 Unidade II cores claras). Já com relação às texturas, a ilusão ótica se cria da seguinte maneira: imagine um cenário paisagístico à sua frente. Na vegetação mais próxima é possível captar nuances de textura na folhagem e o formato de cada massa verde. Já na vegetação mais distante os detalhes se perdem, por exemplo, árvores antes perceptíveis em minúcia agora se tornam um maciço arbóreo. Essa lógica se aplicará na diferenciação das texturas: quanto mais grossas e espaçadas as tramas, mais próximas as figuras parecerão dos olhos; da mesma maneira, quanto mais finas e unidas, mais distante se sentirá a imagem. As formas planas, ao serem somadas a curvas ou quebras, modificam sua propriedade natural e passam a ter um desvio do plano de imagem, o que lhes confere a noção de profundidade. A adição de sombra (à frente, atrás, conectada ou não a uma forma) salienta a existência física da figura e lhe acresce o aspecto tridimensional. Figura 67 – Espaços ilusórios: em textura, em linhas inclinadas, em curvas e quebras Já a produção de planos inclinados gera o espaço ilusório, mesmo que em pequena proporção (enquanto a face posicionada em vista frontal não tem caráter de profundidade). 3.1 Compatibilidade formal Existem aspectos que tornam uma forma semelhante ou contrastante em relação a outras. Alguns dos principais condicionantes dessa definição de compatibilidade formal são: exploração da forma, relação com o meio construído (artificial) ou o meio natural, organização espacial e arquitetura. 57 LINGUAGEM VISUAL Figura 68 – Pelourinho, Bahia Uma casa pode apresentar elementos construtivos e cores que remetam a um determinado período, em harmonia com as edificações da adjacência. Essa concordância formal traz ao ambiente construído uma unidade visual. Um bom exemplo disso é o bairro do Pelourinho, em Salvador, conhecido exatamente por abrigar um conjunto arquitetônico de época. Às vezes a regularidade produz uma composição rígida, e algum desvio se faz desejável. A ruptura é aplicada com eficácia quando um ou mais componentes mudam em termos de formato, tamanho, posição, direção, técnica construtiva ou outros. No exemplo a seguir, busca‑se evidenciar as interferências projetuais mais recentes na construção já existente. O uso de materiais leves e técnicas construtivas evoluídas destacou os novos componentes da edificação. A intenção do projeto é justamente demarcar temporalmente as transformações do espaço, as novas tecnologias construtivas empregadas e os novos materiais, deixando claro para o usuário do espaço o que veio primeiro e o que se seguiu. Ao mesmo tempo, note que esse contraste não necessariamente gera conflito. No caso do Louvre, a transparência do vidro sinaliza essa vertente projetual de busca de harmonia, em que o atual pode conviver muito bem com o passado. Figura 69 – Museu do Louvre Já no projeto do arquiteto Frank Lloyd Wright denominado Casa da Cascata (Falling Water), construiu‑se uma residência em um cenário de vegetação natural buscando a menor interferência possível no ambiente. Perceba como a habitação se camufla no entorno, integrando‑se à vegetação. A escala da construção 58 Unidade II também não entra em conflito com as formas da natureza local. A topografia foi utilizada a favor do projeto, e os materiais de revestimento conversam com o entorno, integram‑se ao meio. De modo geral, o elemento construído se apropria das informações do lugar no qual se insere, causando o menor impacto possível. Figura 70 – Falling Water, projeto de Frank Lloyd Wright Voltando às questões de contraste, agora em análise de ambientes internos. Os projetos do arquiteto Sig Bergamin, por exemplo, criam nos usuários dos espaços uma sensação inicial de ausência de identidade. Como destacado no próprio site do profissional, em seus trabalhos não há presença de um estilo definido. Um único ambiente pode conter peças que remetam a Lisboa, Vietnã, Marrakesh, Bahia e Califórnia. A aparente falta de uniformidade imposta pela desconectada composição de elementos de decoração é acompanhada por um interessante processo de reconhecimento individual de cada peça. É como se, cada vez que o espectador adentrasse um espaço, ele pudesse ser surpreendido por algo que até então tinha passado despercebido. Saiba mais Patrícia Urquiola, para as Torres Marienturm e Marienforum, no distrito financeiro próximo ao parque Taunusanlage, em Frankfurt, procurou se apropriar de fatores externos ao projeto na concepção dos ambientes internos, buscando uma integração/compatibilidade entre o exterior e o interior. Ao se valer da posição única e estratégica das torres de um edifício financeiro localizado próximo a um parque com vasta presença arbórea, a arquiteta introduz nos ambientes privativos esse contexto vegetativo. Como projeto final, tem‑se espaços que transitam entre a temática do trabalho e a da natureza. Além disso, materiais usualmente aplicados em ambientes externos foram incluídos no interior. O resultado, que pode ser visto no link indicado a seguir, são áreas de aconchego espacial, de mobiliário elegante, com texturas não usuais e padrões geométricos. <http://www.patriciaurquiola.com/architecture/marientrum/>. 59 LINGUAGEM VISUAL Na sequência, serão dados exemplosem que o elemento considerado pode se relacionar com o entorno de maneiras diferentes das apresentadas até aqui. Não necessariamente serão analisadas compatibilidades estéticas e formais, congruências na linguagem visual ou total contraste. Nas situações a seguir, o que se procura é conferir se a(s) forma(s) estudada(s) conecta(m)‑se, em uma esfera de análise mais ampla, com o seu entorno. Ou seja, trata‑se de outra escala de abordagem sobre a compatibilidade formal. Uma rede de pavimentação que interliga bairros, acesso a energia e a rede de esgoto a todos os moradores de uma região, eixos de vias que conectam um bairro a outro, um tipo de malha urbana etc. são aspectos que podem conferir integração ou não a uma composição ou objeto. Urbanisticamente falando, quando um bairro ou uma região possui uma disponibilidade de equipamentos públicos e infraestrutura básica semelhante à de bairros adjacentes, diz‑se que possui aspectos comuns à malha que o cerca. Entretanto, nem sempre tal compatibilidade aparente se faz de maneira positiva. Muitos bairros, em áreas periféricas, são desprovidos de rede de esgoto, água, pavimentação, energia, equipamentos públicos, áreas de lazer, áreas institucionais e outros. O fato de o bairro adjacente também não possuir esses itens, considerados essenciais ao cidadão, não reproduz o que se espera de uma cidade. Porém, os bairros criam uma relação de semelhança, mesmo que de precariedade e vulnerabilidade. Bairros marginalizados por vezes encontram‑se desconectados do tecido urbano. A falta de continuidade os isola do acesso aos sistemas públicos de saúde e de educação, a oportunidades de trabalho e muito mais. O objetivo aqui não é focar o planejamento das cidades, mas, como último exemplo, avalie a seguinte situação: uma comunidade pode estar inserida na malha urbana configurada, porém sem dispor das mesmas condições favoráveis de um bairro próximo. No Rio de Janeiro, por exemplo, as favelas ocupam posição de proximidade com bairros de classe alta; todavia, essa relação de vizinhança física não lhes fornece condições iguais de acesso a recursos tidos como de direito a todos os cidadãos. Figura 71 – Favela do Morro Dona Marta, Rio de Janeiro 60 Unidade II Por último, avalie mais alguns casos em que o vínculo se faz na análise da concordância ou da desproporção formal. Quando um elemento construído ganha importância de objeto, significa que ele se destaca do seu entorno. O gabarito (altura) de uma construção pode ser tão superior ao das demais que ela adquire caráter de marco urbano. A perspectiva dominante do elemento construído pode ser percebida nos exemplos que seguem. O Congresso Nacional, projetado por Oscar Niemeyer, em Brasília, é um marco não só para a cidade como para o país. Com uma localização privilegiada, o projeto reflete a grande influência de Le Corbusier e as características da arquitetura moderna brasileira. Além das curvas, Niemeyer empregava em suas obras os cinco pontos estruturadores do modernismo: os pilotis (pilares de concreto que mantêm o prédio suspenso, permitindo o livre trânsito de pessoas), o terraço‑jardim, a planta livre, as janelas em fita e as fachadas livres. Já a Torre Eiffel, construída como uma instalação temporária para a Exposição Universal de 1889, em Paris, tinha como objetivo comemorar o centenário da Revolução Francesa. Porém, tornou‑se uma sensação imediata por sua aparência e altura: é formada por quatro pilares de treliças de ferro dispostos em um quadrado, com uma inclinação inicial de 54º e que se curvam para cima até se encontrar. Figura 72 – Congresso Nacional, Brasília, projeto de Oscar Niemeyer Figura 73 – Torre Eiffel, Paris 61 LINGUAGEM VISUAL Observação As treliças são estruturas compostas de cinco ou mais unidades triangulares construídas com elementos retos, cujas extremidades são ligadas em pontos conhecidos como nós. O tema deste tópico permite muitas outras comparações. Os vínculos que podemos estabelecer ao analisar os projetos são infinitos. Todavia, para dar sequência a outros pontos de estudo tão importantes quanto, trataremos agora de algumas maneiras de educar o olhar e incitar uma visão crítica sobre as coisas. 3.2 Composição ou monolítico Quando escrevemos uma carta, temos a finalidade de expressar algo. A comunicação é feita por um conjunto de vocábulos que, somados, contextualizam‑se em frases. As intenções expostas deverão fornecer ao destinatário um grau de informação compatível ao que se deseja transmitir. O controle dessa mensagem é feito pelo modo como expomos nossos pensamentos em palavras. O mesmo processo se dá com a composição. As formas deverão ser dispostas de maneira a serem notadas pelos receptores como pretendido pelo autor do projeto. O significado da composição estará tanto no olhar do observador quanto na visão atenta do criador. O projeto a seguir é de uma residência que possui mais de um elemento formal na composição. Os três cubos, apesar de serem formas puras e estarem alinhados com o eixo horizontal, não adquirem a noção de imobilidade, apenas a ideia de estabilidade. Em seus diferentes alinhamentos, a casa adquire movimento. Ao mesmo tempo, suas formas simples dão racionalidade e simplicidade ao projeto. O vidro traz leveza para a construção e expõe os usos de cada ambiente inserido nos cubos. Figura 74 – Exemplo de arquitetura em composição. Somatória de formas em cubo 62 Unidade II Disse Niemeyer: “Eu não queria um museu de vidro, mas uma grande sala de exposições rodeada por paredes retas e por uma galeria que protege e permite que os visitantes façam uma pausa de vez em quando para apreciar a bela vista” (HOLANDA, 2012). Com essa inspiração, o Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Niterói foi projetado. Foram utilizados conceitos de espaço livre para a circulação dos visitantes, janelas horizontais e estrutura de concreto apoiada em um pilar que cria integração com a paisagem. Na construção é possível observar o uso das formas arredondadas e o emprego do concreto, presente em quase todas as obras de Niemeyer. Figura 75 – Museu de Arte Contemporânea, Niterói, projeto de Oscar Niemeyer 3.3 Hierarquia A hierarquia pode acontecer quando uma forma prevalece em relação a outra, se destaca, seja pelo tamanho, pelo volume ou por uma forma distinta. Muitas vezes a hierarquia funciona como orientador de funções para determinado espaço. Por exemplo, uma forma redonda pode assinalar um espaço de lazer, enquanto formas retangulares podem indicar áreas de serviço, e assim por diante. Se considerarmos uma edificação complexa, como um hospital, as alas poderão ser diferenciadas por meio da hierarquia formal (a diferença na escala da forma também serve como fator de hierarquia). 3.4 Equilíbrio O equilíbrio é uma referência que embasa os juízos visuais do homem. O encontro do equilíbrio se faz pelo processo de uniformidade entre pesos e contrapesos, entre relação horizontal‑vertical do que se está vendo e criação de eixos de análise. Formatos regulares, cuja metade da esquerda é espelho da metade da direita, criam o que chamamos de figuras simétricas. Uma linha imaginária pode ser traçada, dividindo a figura em partes iguais. 63 LINGUAGEM VISUAL Figura 76 – Museu da Inconfidência, Ouro Preto, MG Um ambiente simétrico tem, entre suas características, elementos visuais equivalentes tanto de um lado quanto de outro, como esquadrias (portas e janelas) e elementos decorativos (quadros, espelhos, adornos, mobiliário). Figura 77 – Exemplo de como a simetria pode interferir no espaço interno A simetria pode ser introduzida em uma grandeza orgânica. A fim de alcançar precisão em ambas as partes, pode‑se criar uma imagem especular dos componentes que se encontram em um dos lados de um eixo invisível. O eixo não precisa ser linear, pode ser em curva (em forma de C ou em S), e os componentes podem ser adequadamente ajustados para propiciar uma expressão simétrica. Pode‑se também introduzirnos componentes manipulações adicionais ao resultado, de modo que as formas sofram leves discrepâncias visuais. A liberdade nessas alterações é bem‑vinda, desde que não se destrua a simetria da estrutura. 64 Unidade II Figura 78 – Expressão simétrica Figura 79 – Guarda‑corpo de escadaria em estilo Art Nouveau O estilo Art Nouveau, em voga entre 1890 e 1910, se baseava no uso da simetria orgânica em suas composições. Inspirado na natureza, sua ornamentação se fazia por linhas longas, ondulantes e naturais. O intenso uso de ferro e vidro era resultado dos avanços tecnológicos oriundos da Revolução Industrial. A assimetria deve vir com um desvio imposto à forma simétrica, ora pelo deslocamento de seu alinhamento, ora pela superposição das metades, ora pelo acréscimo de alguma variação em uma das metades. Figura 80 – Assimetria 65 LINGUAGEM VISUAL Figura 81 – Equilíbrio assimétrico por variação de peso visual nos componentes janelas Figura 82 – Perda de equilíbrio em ambiente simétrico ao adicionar cor em uma das paredes A subversão da simetria pode ocorrer com a ruptura do princípio organizador do eixo espacial. Visualize nos exemplos a seguir que, no primeiro caso, a simetria foi quebrada ocupando‑se o centro do ambiente e obstruindo‑se o eixo de abertura de porta. A simetria da planta baixa não se alterou, mas agora é percebida como rota circular. Submetidas a um percurso arredondado, as pessoas são obrigadas a deslocar‑se para um lado ou para o outro, em decorrência do bloqueio inicial. A distribuição espacial interna complementa o movimento imposto logo na entrada. No segundo caso, a autoridade do eixo de simetria é descartada simplesmente ao se deslocar a posição da porta. Uma entrada assimétrica deixa o deslocamento axial impossibilitado e demanda do usuário uma rota circular ou aleatória. 66 Unidade II Figura 83 – A subversão da simetria A ruptura na equivalência da aparência pode vir junto de alterações na distribuição espacial interna dos móveis e elementos construídos. Um acesso deslocado exige um movimento diferente do axial e, de acordo com o layout, pode conduzir a uma rota arredondada ou sem um sentido sugerido. Figura 84 – Eixo de porta assimétrico e sugestão de percurso interno circular A distribuição interna de paredes pode causar ao usuário diferentes experimentações espaciais. No caso da imagem da esquerda, na figura a seguir, ao transpor a porta o transeunte percorrerá um espaço estreito até chegar aos poucos a uma área mais ampla. Já a figura da direita permite ao que vivencia o lugar perceber uma amplitude inicial logo ao passar pela porta. Acessos estreitos em ambos os lados da estrutura interna direcionam para uma descoberta do que existe na outra face. 67 LINGUAGEM VISUAL Figura 85 – Assimetria em curva interna A composição não precisa ser constituída de paredes internas unidas às externas; as divisões internas podem ser livres da estrutura ortogonal limitadora. Além disso, os limitadores internos podem criar um diálogo e um direcionamento para outros espaços a partir do momento que suas estruturas saem do confinamento delimitador e se lançam para fora. Figura 86 – Exemplo de paredes soltas (esquerda) e sem confinamento (direita) Em seu projeto de 1973 Casa Bianchi, em Riva San Vitale (Suíça), Mario Botta criou uma passarela de acesso deslocada na entrada da edificação. Esta, que se faz no nível superior, é estruturada, posteriormente, por uma rota espiral, descentralizada do eixo central e toda inspirada na geometria do retângulo áureo (assunto que será apresentado futuramente). 68 Unidade II Figura 87 – Plantas simplificadas e estudo de planta da Casa Bianchi, Mario Botta (1973) Já a casa da Filarmônica de Los Angeles, situado nas imediações do Museu de Arte Contemporânea, de Arata Isozaki, se abriga em um prédio cuja arquitetura é definida por muitos como uma rosa a explodir. Com um custo de obra que ultrapassou as estimativas de orçamento, o revestimento da fachada, que antes seria em calcário, foi feito em titânio cinzento, alternativa bem menos dispendiosa diante do já extrapolado teto financeiro previsto. Figura 88 – Walt Disney Concert Hall, Los Angeles, Califórnia, projeto de Frank O. Gehry (1988). Esse projeto é um exemplo de como a assimetria pode ser aplicada na fachada de edificações 69 LINGUAGEM VISUAL Saiba mais Em alguns casos a assimetria das formas pode levar a um resultado simétrico. No projeto Switch Restaurant, de Karim Rashid, a visão simétrica é composta de um conjunto contínuo de ondulações assimétricas, que percorrem teto e paredes. Essa ondulação contínua que envolve o espaço cria uma simetria e, ao mesmo tempo, uma forte noção de profundidade. A textura e os efeitos de luz e sombra também são evocados no resultado final dessas oscilações, que remetem a dunas de areia do deserto. O espaço oferece a noção de perspectiva por meio da repetição das formas. Acesse o link a seguir para compreender melhor a proposta. <https://www.dezeen.com/2009/09/04/switch‑restaurant‑by‑karim‑rashid/>. 3.5 Composição simples versus composição complexa Uma composição é considerada simples quando sua forma é única e regular, não proveniente de nenhum processo de adição, subtração, divisão ou multiplicação que altere a tipologia inicial. Já o uso múltiplo de um formato é chamado de proliferação. O tamanho e o formato de elementos superpostos ou sobrepostos, proliferados, podem variar. O resultado será uma construção complexa. Figura 89 – Sidney Opera House, Austrália, projeto de Jorn Utzon 70 Unidade II Figura 90 – Proliferação de formatos Figura 91 – Escadaria de edifício em Berlim, exemplo de proliferação da forma Um composto pode ser tratado como um plano maleável que se molda a fim de revelar sua parte inferior ou posterior. Um formato pode também ser alterado por uma torção que o afina no meio. Figura 92 – Enrolamento e torção em formatos 71 LINGUAGEM VISUAL Saiba mais O designer industrial egípcio Karim Rashid, em seu projeto Switch Kiosk, cria um conceito de estande a ser utilizado em corredores de shoppings, cujos layers de membranas onduladas propiciam ao visitante um sentimento de privacidade e proteção. Ainda assim, em determinados momentos, em decorrência das ondulações, é possível ver e ser visto pelos outros visitantes do lugar. A atmosfera de luz acentua a forma escultural do estande. Acesse o link a seguir para ver algumas imagens retratando projetos de Rashid. <http://www.karimrashid.com/projects/#category_7/project_37>. A dobra em frequência excessiva de um formato leva à ondulação. Esse enrolar e ondular de um formato pode ser vincado, ora em toda a estrutura, ora em parte do formato. Veja esses efeitos produzidos em obras como o Experience Music Project, em Seattle, e a fachada de um dos edifícios de Düsseldorf (área da província de Renânia do Norte‑Vestfália que se tornou centro cultural e de negócios) – ambos, projetos de Frank Gehry. Figura 93 – Formas onduladas Figura 94 – Experience Music Project, Seattle 72 Unidade II Figura 95 – Arquitetura com ondulações em fachada, Düsseldorf Figura 96 – Exemplo de como as formas e suas variações ondulantes compõem os elementos de iluminação A composição complexa pode ser concebida de várias maneiras, como as já apresentadas. O processo de dilatação é mais um desses mecanismos de trabalho da forma e funciona como encher uma bexiga. Ao inserir ar ou qualquer líquido no seu interior, ela adquire um formato que se molda às propriedades físicas do elemento ou à base de apoio. Um formato pode ser significativamente dilatado, proximo ao volume de uma esfera, sem um aumento óbvio de tamanho. Pode também ser esvaziado, sofrer cargas externas maiores que as internas, a ponto de contrair‑se ou tornar‑se enrugado, sem uma diminuição óbvia do tamanho. Figura 97 – Esvaziamento e dilatação da forma 73 LINGUAGEM VISUAL Figura 98 – Metamorfose Na imagem anterior fica implícitaa transformação do objeto de modo deformado. Uma ou mais de suas áreas sofrem algum tipo de distorção. Cientificamente seria como se uma célula se reproduzisse de forma descontrolada. Lembrete A deformação no design espreme, empurra, puxa e multiplica trechos. Gera uma mutação em parte restrita da forma. Dos arquitetos Vlado Milunic e Frank O. Gehry, o prédio conhecido como Casa Dançante é todo de vidro e concreto. O impressionante edifício lembra, com humor, a elegância e a sensualidade da dupla Fred Astaire e Ginger Rogers. O prédio curvado em forma de B se destaca dos que compõem o entorno. É um exemplo de descontrutivismo caracterizado pela distorção e pelo caos controlado. Figura 99 – Casa Dançante, Praga 74 Unidade II 3.6 Concentração A concentração se refere a um modo de distribuição de unidades de forma. O agrupamento pode ser denso em certas áreas ou rarefeito em outras. A distribuição, geralmente, é desigual e não convencional. Um local de agrupamento intenso ou de dispersão dos elementos pode se tornar o centro de interesse espacial. A cidade é um exemplo típico de concentração, pois os edifícios e as pessoas se aglomeram ao redor do centro. Essencialmente, a concentração é uma organização quantitativa. O desenhista estará preocupado com a quantidade de unidades e com a forma como produzem acentuações rítmicas ou tensões dramáticas ao variar de um lugar para outro. Portanto, para ter um bom resultado no uso da concentração, lance mão de contrastes, que vão dar diferencial ao projeto. A composição pode ser centralizadora quando um número de formas se agrupa ao redor de uma forma matriz dominante. As formas lineares são compostas de uma série de elementos dispostos sequencialmente em fileira. Já a forma radial se faz pela composição de formas lineares que se estendem de dentro para fora, em movimento radial. Figura 100 – Agrupamento e orientação A concentração em malha é introduzida por modulações relacionadas. Por último, as formas aglomeradas se fazem pelo agrupamento de elementos de características visuais comuns (esse último é muito usado no paisagismo). Figura 101 – Concentração em malha e em maciço 75 LINGUAGEM VISUAL 3.7 Estrutura e forma As estruturas possuem a função de sustentação. Comparando com o corpo humano, elas seriam o nosso esqueleto. Os ossos são os componentes que nos proporcionam a anatomia que temos. Na arquitetura, as estruturas recebem as cargas de toda a construção. Em alguns casos, a aparência desses elementos fica oculta, escondida no fechamento das paredes, passando despercebida por quem usa o edifício. Todavia, em alguns casos essa exposição é intencional e passa a integrar a composição da forma do edifício. O Museu de Arte de São Paulo (Masp), obra da arquiteta Lina Bo Bardi, é um exemplo em que a estrutura fica evidente: o edifício é todo suspenso pelas estruturas em vermelho. O vão do Masp serve de ponto de encontro para grandes eventos e é referencial representativo de manifestações importantes para a cidade e o país. Figura 102 – Masp, São Paulo, projeto de Lina Bo Bardi O arquiteto Santiago Calatrava é outra figura que utiliza em suas edificações a estrutura como parte fundamental da forma. Observe a seguir o exemplo da Gare do Oriente, na Expo 98 em Lisboa. Note que a repetição da estrutura dá ritmo ao edifício. Em uma das áreas superiores da composição, a frequência formal configura a cobertura de um dos setores. O local é um ponto nodal de linhas de ônibus, trem e metrô, dando maior facilidade para os embarques urbanos, nacionais e internacionais. Figura 103 – Gare do Oriente, Lisboa, projeto de Santiago Calatrava 76 Unidade II A título de curiosidade, saiba que desenhos geométricos de diferentes padrões podem gerar modelagens paramétricas (MP). Segundo estudos de Branko Kolarevic (2003), há um nicho de profissionais utilizando a técnica de MP para amparar seu modo de construir. Essa vertente de elaboração projetual une milhares de partes individuais em um grande número de composições. A produção de componentes de grande complexidade se faz pela repetição de elementos simples, dispostos em parâmetros algorítmicos aplicáveis a todos os componentes. Esses sistemas generativos expandem a obtenção de combinações, exigindo por parte do desenhista/projetista um pensamento lógico associativo e interativo. Figura 104 – Exemplo de módulo paramétrico Saiba mais Explore o universo projetual do arquiteto Santiago Calatrava, importante referência em construções que evidenciam a estrutura na forma, por meio do site indicado a seguir. <https://calatrava.com/>. 3.8 Ritmo O ritmo se dá com base em uma frequência, como numa cadência ou numa atividade que se repete com constância. Imagine um trabalhador que precisa exercer sua função durante os dias considerados comerciais: sua frequência ao serviço será, consequentemente, de cinco dias por semana, e esse acontecimento se repetirá semanalmente. 77 LINGUAGEM VISUAL Essa constância, em design e arquitetura, pode imprimir uma qualidade estética visual ao objeto. O ritmo é atingido por meio da repetição de elementos semelhantes. Podem ser estruturais (por exemplo, colunas que desempenham o papel de sustentação de um piso superior ou plano de cobertura); podem ter função de abertura (articulando limites penetráveis dos ambientes ou em estruturas conhecidas por vãos, como portas e janelas); também podem ser apenas um item decorativo. O ritmo pode ser impresso nos elementos estruturais, como no Jefferson Memorial e na Torre de Pisa. Figura 105 – Jefferson Memorial, Washington, D.C. Figura 106 – Torre de Pisa, Itália Observe a seguir exemplos de ambientes internos que utilizaram o recurso de ritmo na formação espacial, seja pela combinação de frequência em linhas e planos, pela composição de aberturas do plano de fundo ou pelo ritmo imposto por meio das colunas (mesmo que apenas com efeito decorativo). 78 Unidade II Figura 107 – Ritmos contrastantes Figura 108 – Ritmo em plano de fundo Figura 109 – Ritmo estrutural 79 LINGUAGEM VISUAL Quando as linhas estão dispostas com um espaçamento frequente e distante, elas transmitem uma ideia de permeabilidade entre os espaços, sejam eles internos e externos, internos e internos, ou externos e externos. Todavia, quanto mais próximo ficar o intervalo entre as linhas, menor será a sensação de transposição, até chegar o momento em que a proximidade entre os elementos se fará tão forte que a construção do plano fechado, mesmo que não explícita, acontecerá ao expectador. Figura 110 – Estudo de frequência de linhas Quando o fechamento ocorre, o ritmo pode acontecer pela distribuição das aberturas (portas e janelas). Veja exemplos de ritmo vertical, ritmo em camadas, ritmo de primeiro plano, além da imagem do Castelo Cher River, na França. Ritmo de primeiro plano Ritmo em camadas Ri tm o ve rt ic al Figura 111 – Ritmo vertical, ritmos em camadas e ritmo de primeiro plano 80 Unidade II Figura 112 – Castelo Cher River, próximo ao Vale de Loire, França Lembrete A execução de uma sequência de linhas retas, de acordo com um intervalo, pode transmitir a sensação de permeabilidade, integração espacial ou até de plano fechado. Figura 113 – Exemplo de ritmo, Basílica de São Pedro, Roma 81 LINGUAGEM VISUAL Figura 114 – Coliseu, Roma O ritmo também pode reiterar a ideia de horizontalidade ou verticalidade de uma forma. A linearidade enfatiza a altura e o comprimento de um objeto, unifica planos de inclinações e posições variadas e define a qualidade de uma textura. Figura 115 – Arranha‑céu e o reforço de sua verticalidade Um padrão de ritmo pode ser imposto por meio de um painel decorativo em uma sala de reuniões ou da frequência dos componentes de uma escada, como o corrimão e os degraus. 82 Unidade II Figura 116 – Ritmo em elementos de decoração e acessibilidade Elementos retilíneos verticais também definem um volume transparente noespaço. No exemplo a seguir, quatro torres em forma de minarete delineiam um campo espacial de onde a cúpula da Basílica de Santa Sofia se eleva, criando uma espécie de campo de proteção à estrutura. Figura 117 – Basílica de Santa Sofia, Istambul Essas são algumas relações possíveis de criar com o conceito de ritmo. Tente você também encontrar, nos objetos e formas que o cercam, essa condicionante. 3.9 Volumes versus planos O conceito de volume remete à ideia de sólido, como um corpo em três dimensões, com comprimento, largura e altura; já a noção de plano está relacionada à esfera bidimensional. 83 LINGUAGEM VISUAL Saiba mais Explore elementos construídos com o conceito de plano por meio de uma visita virtual ao Pavilhão de Barcelona, de Mies van der Rohe. Para isso, acesse o site indicado a seguir. <https://www.archdaily.com.br/br/774669/um‑passeio‑virtual‑pelo‑ pavilhao‑de‑barcelona‑de‑mies‑van‑der‑rohe>. Em termos de volumetria, pode‑se destacar o projeto da Staatliches‑Bauhaus. Toda produzida com formas puras, foi realizada durante um período em que se preconizava a reconstrução das cidades em decorrência da guerra. Sua concepção era racional e funcional. Figura 118 – Vista superior da Staatliches‑Bauhaus Figura 119 – Uma das faces da Staatliches‑Bauhaus De acordo com Vianna e Gonçalves (FRANÇA, 2013), a forma arquitetônica é o ponto de partida de contato entre massa e espaço. Formas, texturas, materiais, modulação de luz e sombra, cor, tudo se combina para injetar uma qualidade ou espírito que articula o espaço. A determinação da qualidade da arquitetura se dá pela habilidade de o projetista utilizar e relacionar os elementos, tanto nos espaços internos quanto nos externos. 84 Unidade II 4 PERSPECTIVAS, TEXTURAS, HACHURAS E MATERIAIS 4.1 Perspectivas cavaleira e isométrica A perspectiva é uma técnica de representação em três dimensões. O recurso utilizado para alcançar essa noção de profundidade é o acréscimo de linhas anguladas ao desenho. Essa ação de inclinar linhas pode tornar o desenho mais complicado, por não ser facilmente visualizado o resultado das ações no papel, entretanto, após a construção, as formas, se comparadas ao mundo real, se tornam mais tangíveis na compreensão. Algumas pessoas têm a tendência de pensar escultoricamente, todavia muitas outras tendem a pensar em termos de vista (elementos chapados). Os indivíduos que encaram o mundo, em suas percepções, de modo plano podem encontrar algumas dificuldades no desenho tridimensional. Repetidamente, tenderão a se fixar em detalhes de uma única face, esquecendo de informações presentes nas demais. Perder‑se‑ão na compreensão das formas tridimensionais, pois comumente terão o olhar voltado para um plano, envolvendo‑se facilmente com a cor e a textura das superfícies, deixando o volume de lado. Há variações de posturas a serem tomadas quando comparamos o desenho bidimensional e o tridimensional. Ter em mente a forma do objeto e rotacioná‑la em um exercício mental são passos fundamentais para o sucesso do desenho em 3D. A exploração do objeto deve ser completa, não limitada a uma ou duas vistas. O girar da forma permitirá o reconhecimento dos materiais aplicados nas superfícies, da ocupação do volume no espaço, do fluxo de seus espaços e da completa noção de profundidade. Portanto, para a tridimensionalidade acontecer não é necessário ficar restrito à representação de vistas, como indicado anteriormente. Outra maneira é adotar linhas inclinadas, que configuram a noção de profundidade ao observador. Para iniciar o desenho em três dimensões, é preciso reconhecer as três direções básicas: comprimento, largura e profundidade. Sua obtenção em qualquer objeto se faz inicialmente pela identificação das medidas referentes à vertical, à horizontal e à transversal. Figura 120 – A configuração da tridimensionalidade, por eixos e planos Observe a imagem anterior. Um eixo vai para cima, outro para baixo, e um terceiro percorre o sentido transversal (imagem da esquerda). Para cada feixe de linha gerado, cria‑se a delimitação de um plano que liga a intersecção de dois eixos por vez. Assim, consolida‑se um plano vertical, um plano horizontal e um 85 LINGUAGEM VISUAL plano transversal (imagem do meio). Ao copiar tais planos, a face vertical se torna, consequentemente, os planos frontal e posterior. O plano horizontal se reproduz, então, nos planos superior e inferior, enquanto a duplicidade do plano transversal gera os planos lateral esquerdo e lateral direito. Com esses planos, pode‑se construir um cubo (imagem da direita). Qualquer forma tridimensional pode ser inserida em um cubo imaginário e explorada com base em suas vistas básicas. Uma das possibilidades é ter as vistas frontais sendo visualizadas de frente, com a maior área de representação, e as vistas oblíquas, com distorções e estreitamento, ocupando menos área. A seguir, temos algumas das maneiras mais comuns de usar as formas planas num espaço ilusório. A A A L L 30º 45º 60º L P P P Figura 121 – Perspectivas cavaleiras 30º, 45º e 60º Na perspectiva cavaleira, projeta‑se a forma nos planos superior, frontal e lateral para proporcionar profundidade ao objeto representado. Suas referências são: linhas verticais (altura), linhas horizontais (largura), uma das faces frontais (representada em verdadeira grandeza, ou seja, sem distorções de medida) e as demais linhas inclinadas em ângulos de 30º, 45º e 60º (profundidade). No caso da cavaleira de 30º, o terceiro eixo é sempre de linhas inclinadas, com ângulo de 30º, oblíquas aos demais traços e sempre em menor tamanho que o real. A essa distorção damos o nome de fator de redução. Para linhas com ângulo de 30º, a forma é representada com dois terços do seu tamanho real. Na cavaleira de 45º, as linhas inclinadas que sofrem as distorções de medida são construídas em ângulo de 45º, e a representação das dimensões se faz pela metade da medida real. Já na cavaleira de 60º, os traços inclinados, com ângulo de 60º, são representados com um terço da dimensão real do elemento medido. 86 Unidade II As linhas não precisam ficar restritas às condições horizontais, verticais e diagonais de ângulos 30º, 45º e 60º. Se o objeto exigir, linhas em ângulos diferentes deverão ser construídas. Todas as perspectivas são influenciadas pelo fator de redução. Cabe ao desenhista distinguir a impressão de profundidade mais adequada. Se houver a prioridade de enfatizar uma das vistas da peça, opte pela cavaleira. Quanto maior a angulação adotada em relação às demais faces, menor a visibilidade. Em resumo, na perspectiva cavaleira há sempre uma face paralela ao quadro, em que sua dimensão estará sempre em verdadeira grandeza (apenas os eixos horizontal e vertical). O terceiro eixo (ou fugante) estará sempre oblíquo em relação aos demais e sofrerá reduções (K) conforme o ângulo adotado. Observe: • 30º ‑ K = 2/3; • 45º ‑ K = 1/2; • 60º ‑ K = 1/3. Observação Na perspectiva cavaleira, quanto menor o ângulo da fugante, menor a redução sofrida na representação e maior a visualização da face oblíqua. A isometria é outro sistema de representação da profundidade. A imagem a seguir é uma projeção gráfica classificada como perspectiva isométrica. Suas principais características são a existência de linhas verticais para a altura e demais linhas inclinadas em ângulo de 30º (largura e profundidade). 30º30º P L A Figura 122 – Perspectiva isométrica 87 LINGUAGEM VISUAL Todos os eixos na perspectiva isométrica sofrem deformações iguais, mas, para efeito de desenho, podem ser utilizadas suas verdadeiras grandezas. A tomada de medidas pode ser feita pelos eixos ou pelas linhas paralelas. Planos inclinados, fora do paralelismo isométrico (fora das linhas de ângulo de 30º), não possuem medidas confiáveis, pois terão suas dimensões deformadas, resultado da união de planos paralelos. Exemplo de aplicação De acordo com a perspectiva isométrica a seguir,crie a vista superior da forma. Não há necessidade de se preocupar com a escala, visto que não temos informações de medidas. Estabeleça apenas o elo de informação de grandezas e texturas. Figura 123 – Perspectivas 4.2 Texturas, hachuras e materiais Como visto anteriormente, conhecer as imagens que nos cercam amplia nossas possibilidades de contato com o mundo real. Com relação às texturas, isso implica visualizar a composição das coisas em suas superfícies, atentar‑se para as características naturais ou artificiais, sejam elas visíveis, tateáveis ou sensíveis; porém, sempre presentes em uma uniformidade. Quando criamos texturas, normalmente delimitamos um espaço fechado e inserimos nele um interesse visual capaz de defini‑lo e distingui‑lo: o que está dentro passa a ser diferente do que está fora. Esse sensibilizar de superfície deverá ser feito sempre com uniformidade e regularidade, mas com características próprias, para não se confundir com outra textura. Tecidos, folhas de árvores, papéis de parede, entre outros elementos, contêm textura em suas propriedades. As texturas são formadas por elementos idênticos repetidos de maneira continuada e uniforme. A percepção desses componentes se faz pela noção de superfície. Entretanto, quando retiramos essa 88 Unidade II uniformidade da superfície, como esse contexto é percebido pelo indivíduo? Ao rarefazer ou adensar um limite, em determinado ponto, a visibilidade da superfície passa a ser analisada em níveis de textura, por sobreposição total ou parcial, resultando, assim, nas texturas mistas. É a compreensão do todo que prevalece na identificação de que tal textura representa uma única superfície. O ladrilhamento é um preenchimento do plano que pode ser elaborado com uma composição de formas geométricas planas. Para isso acontecer, seus contornos devem ser poligonais, e uma peça deve encaixar na outra sem que haja espaço entre elas e sem que aconteça qualquer tipo de superposição. Assim, a cobertura da superfície ocorre de forma nivelada e uniforme. Quando a escolha do material de acabamento é feita com base em uma única região poligonal, a solução se faz dentro de três possibilidades: com as formas quadradas (A), com as formas triangulares equiláteras (B) ou com as formas hexagonais regulares (C). Note que o uso das formas pentagonais regulares (D) deixará vãos, o que não vedará toda a superfície. Figura 124 – Ladrilhos e preenchimento de planos Outros tipos de ladrilhamento podem ser formados pela combinação de dois ou mais polígonos regulares. O exemplo a seguir mescla o uso de quadrados e octógonos. Figura 125 – Representação de ladrilho com duas combinações 89 LINGUAGEM VISUAL Figura 126 – Padronagens criadas por azulejos e tijolos Com o passar dos anos e o aprimoramento das tecnologias e dos softwares de modelagem, novos padrões de acabamento foram sendo criados. Papéis de parede e tantos outros tipos de revestimento começaram a ser produzidos em nível comercial, imprimindo uma característica tridimensional à sua trama. Saiba mais A coleção Chameleon, produzida por Marcel Wanders, abrange uma série de texturas para as superfícies de metal. Ao redefinir, por peles caleidoscópicas, o acabamento do material, rompe com as evidências das formas arquitetônicas e expande as possibilidades de resultados projetuais. Redefinindo o material para ser mais significativo e bonito, a coleção rompe com as formas arquitetônicas cansadas e é um portal para um novo futuro em relação à arquitetura de metal. Essas peles caleidoscópicas, inovadoras e expressivas, permitem diversas aplicações de produtos para arquitetura, de micro a grande escala, explorando a natureza semiótica a que os metais estão ligados. A pele sensível, a pele romântica, a pele dinâmica e a pele luxuosa revelam efeitos hipnotizantes em 3D e criam experiências por luz natural, luz artificial, escala, distância, reflexão, movimento e forma. Acesse o link a seguir para ver mais sobre esse projeto. <https://www.marcelwanders.com/work/chameleon>. Os espaços ilusórios em texturas são construídos por padrões regulares de linhas e formas, algumas repetitivas e/ou gradativas. 90 Unidade II Figura 127 – Espaço ilusório Saiba mais Marcel Wanders cresceu em Boxtel, na Holanda, e formou‑se com louvor pela Faculdade de Artes do Arnhem em 1988. Sua obra é multidisciplinar e abrangente: abarca não só instalações fantásticas no universo das artes visuais como também design de interiores, por meio de produtos domésticos, móveis, objetos, luminárias e tapetes. Em alguns de seus trabalhos, a textura imprime volumetria, dinamismo e beleza ao espaço. A reprodução de formas em atmosferas caleidoscópicas fica cada vez mais presente no mundo do design de interiores e evidencia tendências de trabalhos renomados. Acesse o link a seguir para conhecer alguns projetos de Wanders. <https://www.marcelwanders.com/work/maison‑decorte>. O domínio de todas essas possibilidades técnicas nos permitirá extrair o máximo rendimento dos efeitos texturais na representação dos materiais escolhidos. 91 LINGUAGEM VISUAL Figura 128 – Exemplo de planta com aplicação de materiais A cadeira Louis Ghost, de Philippe Starck, de 2003, foi inspirada em um clássico do mobiliário ocidental, a poltrona barroca Luís XV, e tornou‑se um ícone do design contemporâneo com seus longos braços e um medalhão no espaldar. Segundo o criador da peça, “o sucesso universal da cadeira Louis Ghost não deriva de seu design, mas da memória comum” (HÁ..., 2012), em uma combinação de formas e estilos que habitam o inconsciente coletivo. O plástico foi utilizado como material de aumento de produtividade; a transparência da peça estimula a experiência tátil e ao mesmo tempo faz uma crítica sobre a resistência do material. As hachuras são representações técnicas dos materiais aplicados na fabricação ou construção de componentes. Em geral, são representadas apenas nos cortes e seguem determinações definidas pela ABNT. A seguir serão exemplificados alguns modelos. Geral, ferro Outros metais Concreto em corte Aço Vidro, cerâmica, mármore, granito em corte Madeira em corte Cobre, bronze, latão, derivados Aterro, solo em geral Líquido Figura 129 – Hachuras de materiais: desenho técnico 92 Unidade II O traço de hachuras deve ser feito com espessura fina e desenhado com instrumentos de precisão (esquadro, escalímetro ou lapiseira, por exemplo). Com raras exceções para as superfícies de madeira e concreto, que podem ser representadas à mão livre. Quando em desenhos de cortes e influenciados por cotas, as hachuras devem ser interrompidas para que a escrita de medida não fique com uma interpretação prejudicada. Na maioria dos casos, os traços de hachura em corte são executados em ângulo de 30º para se diferenciar das demais hachuras, que são executadas em 45º. Figura 130 – Corte de peças e interrupção de hachura para escrita de texto de cota Exemplo de aplicação A experiência do aluno, a partir de agora, deve sair do campo da leitura. Há de se aplicar a teoria à prática. Nesta etapa, os conhecimentos teóricos já se fazem suficientes para a resolução de alguns desenhos técnicos cabíveis ao momento. A cautela e o capricho nos traços são fundamentais. Vale lembrar que a destreza para o desenho é obtida com prática e muito esforço. Atingir traços cada vez mais limpos exige paciência e horas de empenho. Não se frustre, tenha calma e foco nos objetivos. Permita‑se reproduzir objetos presentes no seu dia a dia, como mesa, cadeira, móvel de cozinha ou algum objeto de decoração. Utilize os recursos de representação vistos até aqui e não se preocupe com a questão das escalas. Crie, com a régua escolar, um parâmetro de medida. Resumo Em linhas gerais, pode‑se dizer que a linguagem dos designers, dos arquitetos e dos artistas se dá pelo desenho e pelo uso da imagem, estando expressa em volumes, linhas, curvas, textos, fotografias e outros. Estasexpressões de forma se guiam mais do que pela representação gráfica; propõem soluções, expõem ideias e argumentos, são carregadas de símbolos e signos, reproduzem os anseios e desejos de uma sociedade, marcam o espaço de forma significativa e transferem sentido ao lugar. O intuito, nesta unidade, foi apresentar formas volumétricas por meio de planos em séries, quadrados, retângulos, formas orgânicas e inorgânicas etc.; a disposição de superfícies e volumes levando em consideração a 93 LINGUAGEM VISUAL posição (espaçamento) e a direção. Tratou‑se, ainda, de representações gráficas de superfícies cujos materiais diferem entre si (aço, concreto, madeira, líquido etc.). Portanto, buscou‑se mostrar maneiras de desenhar e compreender o mundo ao nosso redor. As imagens tiveram o intuito de ampliar o repertório do aluno, gerando a curiosidade necessária para procurar conhecimento além do que foi apresentado. Exercícios Questão 1. Analise as duas imagens a seguir e assinale a alternativa correta. Figura 131 Figura 132 – Cabeça de uma Mulher Lendo, 1953, Pablo Picasso 94 Unidade II A) As duas imagens são simétricas em relação a um eixo invisível vertical. B) As duas imagens são assimétricas em relação a um eixo invisível vertical. C) Em relação a um eixo vertical, a imagem da borboleta é simétrica e a do rosto é assimétrica. D) Em relação a um eixo horizontal, a imagem da borboleta é assimétrica e a do rosto é simétrica. E) A imagem da borboleta é simétrica em relação a um eixo horizontal. Resposta correta: alternativa C. Resolução da questão A simetria é caracterizada pela coincidência das metades determinadas por um eixo invisível. Isso ocorre com a primeira imagem, da borboleta, se traçarmos um eixo vertical, mas não acontece com a segunda. Questão 2. Considere a postagem de uma rede social e as afirmativas a seguir. Figura 133 – Tsuru “Olá, gostaria de compartilhar algo que aconteceu hoje comigo. Estava na linha azul, com minha típica cara de sono e fones de ouvido, nisso vi um moço fazendo um pequenino origami (tsuru) com um papel de chiclete, achei super legal, mas disfarcei a curiosidade (acho). Quando chegou à estação Ana Rosa, pouco antes de ele descer, ele me deu o origami, fiquei tão sem jeito que mal agradeci rs. 95 LINGUAGEM VISUAL Gostaria de compartilhar essa atitude linda, já que nos dias de hoje quase tudo é cara feia, e agradecer esse desconhecido cavalheiro, achei muito gentil da parte dele. Fez um sorriso aparecer logo cedo.” Disponível em: <https://www.facebook.com/saopaulodepre/posts/929790767179115>. Acesso em: 8 dez. 2015. I – O fundamento do origami envolve a criatividade e a psicomotricidade. II – O origami é uma arte milenar do Japão que consiste em dobrar papel sem o uso de cola e tesoura, explorando formas geométricas. III – O papel dobrado a que se refere a postagem não pode ser considerado um origami porque foi feito com papel de chiclete e não tem significado. Está correto o que se afirma somente em: A) I. B) II. C) III. D) I e II. E) I e III. Resposta desta questão na plataforma.
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