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DOR EPIGÁSTRICA LETÍCIA FAGUNDES DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO (DRGE) É a condição que se desenvolve quando o refluxo do conteúdo procedente do estômago provoca sintomas desagradáveis e/ou complicações EPIDEMIOLOGIA: é um dos diagnósticos mais comuns em gastroenterologia, com uma prevalência que pode variar entre 12%-20% da população urbana, afetando a qualidade de vida da população e elevando os custos. Além disso, a incidência do adenocarcinoma esofágico relacionado ao esôfago de Barret (complicação da DRGE) vem aumentado de forma expressiva. Os FATORES DE RISCO para DRGE são: 1. Idade elevada 2. Sexo feminino 3. Gestação e obesidade → Eleva a pressão intra- abdominal 4. Hernia hiatal 5. Fatores genéticos ETIOPATOGENIA E FISIOPATOLOGIA As lesões tipicamente observadas da DRGE ocorrem quando a mucosa do órgão é exposta ao refluxo gástrico que contém agressores como ácido, pepsina, sais biliares e enzimas pancreáticas. O espectro das lesões engloba: esofagite, estenose, esôfago de Barrett e adenocarcinoma O subgrupo mais bem definido de pacientes com DRGE, embora represente a minoria dos casos totais, tem esofagite que consiste em necrose da mucosa esofágica decorrente do ácido gástrico e pepsina refluídos, que acarreta erosões e ulceras. Em condições normais, ocorrem episódios de refluxo de curta duração e rápida depuração, o chamado refluxo fisiológico. Para esse refluxo se tornar patológico, numerosos fatores podem estar relacionados, tais como: 1. Relaxamentos transitórios frequentes do esfíncter esofágico inferior (EEI), não associados à deglutição, e prolongados (5-35 segundos) 2. Hipotensão esfincteriana 3. Distorção anatômica da junção esofagogástrica (exemplo, hernia de hiato) 4. Presença de um reservatório gástrico de ácido (“bolsa ácida”) que não se mistura com a refeição e pode ser detectada próximo à junção esofagogástrica em torno de 20 minutos após a refeição. a. Nos pacientes com DRGE, sobretudo naqueles com hérnia hiatal, a bolsa ácida é maior e se estende mais proximalmente no esôfago quando comparada àquela observada em controles saudáveis O refluxo gastroesofágico provoca: a. Diminuição da resistência do epitélio mucoso esofágico b. Dilatação do espaço intercelular → Uma das mudanças morfológicas mais precoces observadas, sendo que, na teoria, pode ser o mecanismo gerador ou perpetuador dos sintomas c. Presença de erosões na mucosa → Pode ou não estar presente PRESENÇA DE EROSÕES: Doença do refluxo não erosiva (DRGE – NE): forma mais frequente da enfermidade, sendo definida pela presença de sintomas desagradáveis associadas ao refluxo, com ausência de erosões ao exame endoscópio Doença do refluxo erosiva (DRGE-E): apresentação clássica da enfermidade, com sintomatologia clinica e presença de erosões ao exame endoscópico. DOR EPIGÁSTRICA LETÍCIA FAGUNDES ESÔFAGO DE BARRET Condição adquirida que resulta do refluxo gastroesofágico crônico e consiste na substituição do epitélio escamoso estratificado do esôfago por epitélio colunar contendo células intestinalizadas (metaplasia intestinal) em qualquer extensão do órgão O diagnóstico é suspeitado pelo exame endoscópico, mas deve ser sempre confirmado pelo exame histológico de fragmentos de biópsia (metaplasia intestinal incompleta com presença de células caliciformes) O esofago de Barret é uma condição pré-maligna que se acredita ser o maior fator de risco para o desenvolvimento de adenocarcinoma do esôfago distal → exposição ácida aumenta a probabilidade de adenocarcinoma. A historia natural da doença é: esofagite → metaplasia intestinal → displasia → neoplasia O risco de malignização parece estar relacionado a extensão do epitelio metaplásico, sendo maior nos pacientes com o esofago de barret longo, maior do que 3 cm. RECIDIVAS O tratamento da DRGE consegue atenuar a doença, mas não cura de fato → A DRGE-E recidiva em 80 a 90% dos pacientes dentro de seis meses do término do tratamento. O tratamento de manutenção desses pacientes deve ser considerado, sobretudo, nos casos de esofagite erosiva Não existe relação da infecção por H. pylori com a DRGE e que sua erradicação não agrava seus sintomas. Portanto, tendo em vista a remissão de sintomas ou cicatrização de lesões, até o presente, não está indicada a pesquisa do H. pylori ou sua erradicação. DIAGNOSTICO O diagnostico se inicia com uma anamnese cuidadosa, devendo identificar os sintomas característicos, sua frequência, intensidade, fatores atenuantes e precipitantes, além do impacto na qualidade de vida dos pacientes. Os sintomas considerados típicos são: 1. Pirose (azia) → sensação de queimação retrosternal que se irradia do epigástrio à base do pescoço, podendo atingir a garganta que costuma ocorrer entre 30/60 minutos após as refeições, principalmente quando são muito volumosas ou ricas em gorduras 2. Regurgitação → percepção do fluxo do conteúdo gástrico refluído para a boca ou hipofaringe Esses sintomas costumam estar acompanhados por sialorreia, eructação, sensação de opressão retroesternal A DRGE pode ainda apresentar sintomatologia atípica tais como: 1. Dor torácica não cardíaca (DTNC) → A DRGE é a causa mais comum de dor torácica quando afastada a etiologia cardíaca 2. Globus faringeus (“bola na garganta”) 3. Asma, pneumonias de repetição e tosse crônica 4. Fibrose pulmonar idiopática 5. Apneia do sono 6. Otite média e sinusite crônica 7. Rouquidão e pigarro 8. Desgaste do esmalte dentário Deve-se ficar atento ainda à ocorrência de sinais e/ou sintomas de alerta que estão associados a complicações como: anemia, hemorragia digestiva, emagrecimento, disfagia e odinofagia, além da presença de sintomas de grande intensidade, principalmente os que têm início recente em pacientes idosos e/ou com história familiar de câncer TESTE DIAGNOSTICO TERAPÊUTICO Consiste em administrar IBP em dose plena por 4 semanas para pacientes com menos de 45 anos e com manifestações típicas para o diagnóstico de DRGA. Porém, é recomendado que todo paciente com suspeita ou já diagnostico de DRGE realize a endoscopia digestiva alta (EDA) antes do início do tratamento → O teste diagnostico terapêutico em determinados pacientes não apresentam uma boa resposta porque necessitam de uma dose maior do medicamento ou por tempo mais prolongado. Além disso, a EDA permite a visualização direta da mucosa, classificando a DRGE em erosiva e não erosiva, além de possibilitar a realização de biopsias → Edema e eritema não DOR EPIGÁSTRICA LETÍCIA FAGUNDES são características da DRGE. É recomendável o emprego da classificação de Los Angeles na classificação endoscópica RAIO X CONTRASTADO DE ESÔFAGO (ESOFAGOGRAMA OU SERIOGRAFIA) A indica-se baseia-se em avaliar dinamicamente a morfologia do órgão e o tempo de trânsito do contraste, porém, baixa sensibilidade e especificidade e, por conseguinte, raramente está indicada. O exame pode auxiliar na investigação de pacientes que referem disfagia e odinofagia, tornando-se fundamental para caracterizar estenoses e ajudar na decisão terapêutica dessa complicação CINTILOGRAFIA Exame caro e pouco disponível, porém, como não é invasivo, é mais usado em crianças e manifestações atípicas respiratórias, demonstrando o refluxo do conteúdo gástrico após ingestão de contraste marcado com Tc 99 MANOMETRIA CONVENCIONAL E MANOMETRIA ESOFAGICA DE ALTA RESOLUÇÃO Não dá o diagnóstico de refluxo, estando indicado apenas em algumas situações, tais como: 1. Antes da realização do exame pHmétrico, com o objetivo de precisar o local do esfíncter esofágico inferior para localização do sensor de pH. 2. No pré-operatório da DRGE para afastar acalasia e distúrbios importantesde motilidade esofágica 3. Na investigação complementar de disfagia, particularmente quando existe suspeita de alterações motoras de esôfago, como o “esôfago em quebra-nozes” e espasmo esofágico difuso. A manometria de alta resolução procura superar as limitações da manometria convencional, porém, no que se refere à DRGE de modo geral, o método atualmente não apresenta grandes vantagens em relação à manometria convencional. TESTES DE REFLUXO (PHMETRIA) – PADRÃO OURO Demonstram a exposição excessiva do esôfago ao suco gástrico refluído, anormalidade fisiológica da DRGE em pacientes sem esofagite detectável endoscopicamente, sendo indicados em pacientes que se queixam de sintomas atípicos ou que, inexplicavelmente, têm resposta insatisfatória ao tratamento. É feito através do registro ambulatorial do pH esofágico por 24 a 96 horas utilizando um transmissor sem fio sensível ao pH que é fixado à mucosa esofágica, ou com um eletrodo com fio posicionado por via transnasal, cuja ponta é estacionada no esôfago distal. O resultado é expresso como porcentagem do dia na qual o pH esteve < 4 (indicando refluxo ácido recente) – valores acima de 5% indicam DRGE. TRATAMENTO Objetivam controlar os sintomas, cicatrizar as lesões e prevenir as complicações, podendo ser fundamentalmente clinico e cirúrgico. MANEJO COMPORTAMENTAL Visam prevenir condições e alimentos que promovam ou facilitem o refluxo, tais como: 1. Redução do peso corporal em pacientes com sobrepeso e obesidade 2. Elevação da cabeceira da cama em 15 cm para pacientes com pirose noturna 3. Moderação na ingestão dos seguintes alimentos: café, chocolate, alimentos gordurosos, cítricos, bebidas alcoólicas e carbonatadas, hortelã, tomate e derivados 4. Evitar deitar por duas horas após as refeições 5. Evitar refeições copiosas 6. Redução drástica ou cessação do tabagismo 7. Cuidados com as medicações de risco: anticolinérgicos, teofilina, antidepressivos tricíclicos, bloqueadores dos canais de cálcio, agonistas beta-adrenérgicos, alendronato DOR EPIGÁSTRICA LETÍCIA FAGUNDES MANEJO FARMACOLÓGICO Os fármacos disponíveis são: 1. Alcalinos/antiácidos e sucralfato Agem neutralizando a secreção ácida gástrica e, raramente são empregados, estando indicado apenas para fornecer alivio sintomático passageiro em indivíduos com sintomas esporádicos 2. Alginato É um polissacarídeo natural que se polimeriza quando exposto ao ácido formando uma matriz de gel sobrenadante ao conteúdo gástrico que posteriormente é estabilizada por íons cálcio → A combinação de alginato-antiácido tem se mostrado efetiva em prevenir o refluxo originário da bolsa ácida. 3. Bloqueadores dos receptores H2 da histamina São uteis para a cicatrização de esofagite erosiva leve, mas não são ideias para o tratamento de doença moderada a intensa ou quando longo período é necessário, já que apresentam taquifilaxia. São eventualmente prescritos em situações em que não pode ser utilizado o IBP. Exemplos: cimetidina, ranitidina, famotidina e nizatidina 4. Procinéticos São considerados remédios de exceção, uma vez que não aumentam o índice de cicatrização de esofagite, servindo apenas para dar um alivio da pirose em associação com IBP em pacientes com quadro de dismotilidade associada (exemplo, empachamento pós-pandrial) Exemplos: metoclopramida, domperidona e bromoprida) 5. Inibidores da bomba de prótons (IBP) É a classe de fármacos mais indicada para o tratamento da DRGE, com altos índices de cicatrização. Os IBPs devem ser feitos em ciclos de 4 a 8 semanas de tratamento na fase aguda, em jejum, 30-60 minutos antes da ingestão alimentar (é necessária a ativação das bombas protônicas pelos alimentos para a estimulação da produção de ácido clorídrico) sendo que suas doses são: Pode-se fazer doses dobradas em pacientes com complicações (estenose, ulcera ou esôfago de barret) ou com manifestações atípicas (por período prolongado, em geral, de 6 meses de tratamento) As doses do tratamento de manutenção costumam ser inferiores àquelas utilizadas no tratamento da fase aguda da enfermidade → Exemplo: pantoprazol 20 mg/dia e esomeprazol 20 mg/dia Determinados pacientes hipersecretores podem necessitar de dose dobrada do IBP para alívio dos sintomas ou cicatrização da esofagite. Os eventos adversos mais comuns dos IBP são: cefaleia, diarreia, constipação e dor abdominal. Atenção especial deve ser dada ao uso dos IBP durante a gravidez, uma vez que, nessa condição, o omeprazol está enquadrado na categoria C e os outros IBP, assim como os antagonistas do receptor H2, na categoria B. CIRURGICO Tem opiniões controversas, sendo que os melhores resultados são obtidos em que o tratamento clínico promoveu bom resultado. As indicações são: 1. Esofagites recidivantes após tratamentos bem conduzidos, de no mínimo seis meses 2. Pacientes que apresentem complicações da DRGE, inclusive as extraesofágicas 3. Perspectiva de uso de inibidores da bomba de prótons por longos anos 4. Hérnias de grande volume em pacientes com risco de volvo ou perfuração 5. Baixa idade Quando os sintomas começam a influenciar na qualidade de vida do paciente, a indicação é subjetiva. A operação objetiva diminuir a exposição esofágica ao suco gástrico pela criação de um mecanismo antirrefluxo sobre o esfíncter esofágico inferior → Os procedimentos cirúrgicos mais utilizados são as fundoplicaturas totais e parciais feitas pela via laparoscópica, nas quais o esôfago distal é envolvido pelo fundo do estômago em 360° e 270°, respectivamente DOR EPIGÁSTRICA LETÍCIA FAGUNDES ➔ Seguimento cirúrgico É realizado com endoscopia digestiva alta, pHmetria esofágica de 24 horas, esofagograma com videofluroscopia e, se possível, manometria. Em pacientes que não apresentam recidiva dos sintomas e sem complicações pépticas, não existe imperiosa necessidade de acompanhamento. Mas, no caso daqueles em que já existia presença de esôfago de Barrett, quando da indicação cirúrgica, há necessidade de acompanhamento preferencialmente endoscópico e biópsia da seguinte maneira: a. Sem a presença de displasia → o seguimento pode ser a cada três anos b. Displasia de baixo grau → a cada ano c. Displasia de alto grau → revisão da lâmina por outro patologista independente. No caso de confirmação de diagnóstico, o paciente deve ser encaminhado à cirurgia ou à ablação endoscópica Alguns pacientes apresentam recidiva dos sintomas que podem estar relacionados às desordens da motilidade esofágica e não causadas pela fundoplicatura. Exemplos mais frequentes são a acalasia e espasmos esofágicos difusos associados ao quadro. Nesses casos, o acompanhamento pós-operatório é necessário, e a melhor avaliação se faz com o uso do esofagograma baritado e idealmente com deglutograma. HERNIA DE HIATO É uma herniação das vísceras (na maioria dos casos, do estomago) para dentro do mediastino através do hiato esofágico do diafragma. CLASSIFICAÇÃO Existem 4 tipos de hérnias de hiato: 1. Tipo I (hernia de hiato por deslizamento) Pode ser definida como sendo aquela na qual a junção gastresofágica e a cárdia do estômago sofrem translocação cefálica em consequência do enfraquecimento do ligamento frenesofágico que fixa a junção gastresofágica ao hiato diafragmático e da dilatação do hiato diafragmático. Representa, no mínimo, 95% dos casos, sendo que sua incidência aumenta com a idade. As hérnias por deslizamento aumentam com a elevação da pressão intra- abdominal, a deglutição e a respiração e predispõem os indivíduos acometidos à DRGE. 2. Tipo II, III e IV Representam subtipos da hérnia paraesofágica, na qual a herniação para dentro do mediastino inclui outra estrutura visceral diferente da cárdia gástrica. TipoII – fundo gástrico sofre herniação, enquanto que a transição esofagogástrica permanece intrabdominal Tipo III – hernia mista → paraesofagica (fundo gástrico sofre herniação) + por deslizamento Tipo IV → outras vísceras além do estômago sofrem herniação para dentro do mediastino, geralmente o cólon. QUADRO CLINICO E MANEJO Os sintomas de hernia de hiato são muito parecidos com a DRGE e incluem indigestão, azia e regurgitações, sendo geralmente leves. A preocupação maior é para os casos de hérnia de hiato paraesofágica grandes, porque a porção do estômago que extravasou pelo diafragma pode sofrer torção em seu próprio eixo e causar uma situação grave, chamada volvo gástrico que desencadeia inchaço, eructação, dor no peito e dificuldade para engolir. É uma condição séria que requer intervenção cirúrgica imediata para ser corrigida. Nem sempre é necessário tratar a hérnia de hiato, em especial para os casos em que ela é assintomática. Porém, quando ocorrem sintomas de refluxo as medidas envolvem o controle deles. Em casos em que há hérnia de hiato e refluxo gastroesofágico grave ou de difícil controle, a cirurgia para corrigir a hérnia de hiato pode ser indicada. Já no caso da hérnia paraesofágica, pelo risco de volvo gástrico, muitas vezes é preciso fazer uma cirurgia para reposicionar a porção do estômago e corrigir os defeitos da musculatura. ESOFAGITES INFECCIOSAS É uma inflamação secundaria a um processo infeccioso que atinge o esôfago, causando odinofagia (dor ao engolir), disfagia, dor torácica e hemorragia. DOR EPIGÁSTRICA LETÍCIA FAGUNDES A odinofagia é um sintoma típico de esofagite infecciosa, não sendo comum em esofagite de refluxo, por essa razão, sua presença deve sugerir a possibilidade de outra etiologia Esse tipo de esofagite tornou-se mais comum com a utilização crescente de imunossupressão para transplante de órgãos, doenças inflamatórias crônicas e quimioterapia, além da epidemia da Aids → Essas situações aumentaram as infecções por espécies cândida, herpes-virus e citomegalovírus. Raramente atinge pacientes imunocompetentes, se atingir, as principais espécies envolvidas são herpes simples e cândida albicans Esofagite x Aids Entre os pacientes com Aids, a esofagite infecciosa torna- se mais comum à medida que a contagem de células CD4 declina: raramente atinge pacientes com contagem de CD4 > 200, mas é comum quando a contagem é < 100. O próprio HIV também pode estar associado a uma síndrome autolimitada de ulceração esofágica aguda com úlceras orais e erupção cutânea maculopapulosa por ocasião da soroconversão. Além disso, alguns pacientes com doença avançada têm úlceras esofágicas profundas e persistentes durante o tratamento com glicocorticoides orais ou talidomida. Entretanto, com o uso generalizado dos agentes antivirais altamente eficazes, houve redução dessas complicações do HIV. CANDIDA A cândida normalmente é encontrada na faringe, tornando- se patogênica e causar a esofagite nas seguintes situações: 1. Deficiência de imunidade 2. Estase esofágica secundaria aos distúrbios de motilidade esofágica e aos diverticulos A espécie mais comum encontrada é a cândida albicans tendo aspecto característico de placas brancas friáveis, sendo que em raros os casos, pode complicar para sangramentos, perfuração, estenose ou disseminação sistêmica. Manejo: o fluconazol oral (200-400 mg no primeiro dia e, em seguida, 100-200 mg/dia), por 14 a 21 dias, é o tratamento preferido. Os pacientes que não melhoram com fluconazol podem responder ao voriconazol ou ao posaconazol. Como alternativa, os pacientes que não apresentam melhora satisfatória ou que não conseguem deglutir fármacos podem ser tratados com equinocandina intravenosa. HERPES Agente etiológico: ▪ Herpes-vírus simples tipo 1 ou 2 ▪ Varicela-zóster em crianças infectadas por varicela ou no adulto com herpes-zoster. Quadro clinico: ▪ Vesículas no nariz e nos lábios podem coexistir, sugerindo a etiologia herpética ▪ Anormalidades endoscópicas: vesículas e pequenas úlceras em saca-bocado A cultura ou PCR ajuda a detectar cepas resistentes ao aciclovir. Manejo: ▪ Pacientes imunocompetentes: aciclovir - 200 mg por via oral, 5 vezes/dia por 7-10 dias → embora a doença seja geralmente autolimitada após um período de 1 a 2 semanas nesses casos. ▪ Pacientes imunossuprimidos: o Aciclovir - 400 mg via oral, 5 vezes/dia por 14-21 dias o Fanciclovir - 500 mg via oral, 3 vezes/dia o Valaciclovir - 1 g via oral, 3 vezes/dia. ▪ Odinofagia grave: aciclovir intravenoso - 5 mg/kg a cada 8 horas, por 7-14 dias. CITOMEGALOVÍRUS (CMV) Ocorre de forma predominante nos pacientes imunossuprimidos, sobretudo nos receptores de transplante de órgãos, sendo ativados de seu estado de latência Exame endoscópico: úlceras serpiginosas sobre mucosa oral normal sob outros aspectos, principalmente no esôfago distal. Biópsias das bases das úlceras: demonstram os corpúsculos de inclusão nucleares ou citoplasmáticos grandes, que são patognomônicos da doença. A imuno-histologia com DOR EPIGÁSTRICA LETÍCIA FAGUNDES anticorpos monoclonais contra CMV e os testes de hibridização in situ são úteis à confirmação precoce do diagnóstico. Manejo: ganciclovir (5 mg/kg a cada 12 horas por via intravenosa) e do valganciclovir (900 mg via oral a cada 12 horas). O tratamento deve ser mantido até que haja cicatrização, o que pode demorar 3 a 6 semanas. O tratamento de manutenção pode ser necessário aos pacientes com doença recidivante. DIVERTICULOS ESOFÁGICOS São saculações ou receptáculos formados pela protusão de uma ou mais camadas da parede esofágica, sendo que quase todos são adquiridos e podem ser classificados de acordo com diversos parâmetros, tais como: 1. Constituição: a. Verdadeiro → todas as camadas da parede esofagiana (mucosa, submucosa e muscular) b. Falso → formados pela mucosa e submucosa 2. Local de ocorrência a. Hipofaríngeos (Zenker) b. Torácico superior c. Torácico médio (mesoesofágico) d. Torácico inferior (epifrênico) 3. Etiopatogenia a. Tração b. Pulsão EPIDEMIOLOGIA: baixa incidência, com predomínio na quinta década de vida, sendo mais comum nos homens, na população branca A principal queixa dos portadores de divertículo intramural é a disfagia, geralmente de longa data que pode levar ao emagrecimento e desnutrição crônica que pode ser agravado pelos episódios de aspiração por ocasião das regurgitações, que resultam em bronquites, bronquiectasias e até abscessos pulmonares. DIVERTICULO DE ZENKER Pseudodivertículo resultado da herniação da mucosa e submucosa através da camada muscular do esôfago como consequência da elevação da pressão intraluminal associada à obstrução distal (músculo cricofaríngeo (esfincter esofágico superior) estenótico) A ocorrência de herniação hipofaríngea é mais comum em uma área de fraqueza natural proximal ao músculo cricofaríngeo, conhecida como triângulo de Killian → inferior ao músculo constritor inferior da faringe e acima do músculo cricofaríngeo Diverticulo de Killian-Jamienson → tipo de divertículo hipofaríngeo, porém, de ocorrência extremamente rara. É possível fazer o diagnóstico diferencial com o de Zenker através exame contrastado do esôfago, que identifica o divertículo de Zenker na parede anterolateral enquanto o de Zenker é na parede posterior Quadro clinico: quando são pequenos costumam ser assintomáticos, mas quando crescem a ponto de reter alimentos e saliva, podem causar disfagia, halitose, ruido à deglutição e aspiração. Tratamento: indicado quando os pacientes são sintomáticos, independentemente do tamanho da bolsa e consiste em diverticulectomia cirúrgica e miotomia cricofaríngea, ou uma cirurgia de marsupializaçãona qual um dispositivo de grampeamento endoscópico é usado para cortar esse músculo. EPIFRÊNICOS DOR EPIGÁSTRICA LETÍCIA FAGUNDES São pseudodiverticulos de pulsão que ocorrem nos 10 cm inferiores do esôfago, tipicamente em pacientes adultos e que também podem ocorrer após a fundoplicatura. Quadro clinico: apresentam sintomas variados e, de modo geral, estão relacionados aos de tamanhos maiores. Queixas de desconforto ou dor retroesternal, regurgitações e disfagia são relatadas. Frequentemente causam acalasia, distúrbios do esôfago hipercontrátil ou estenose esofágica distal. Tratamento: só é indicado quando o divertículo é de tamanho considerável ou o paciente apresenta queixas importantes, como regurgitação, vômitos, tosse e complicações pulmonares por aspiração, dores retroesternais ou precordiais, assim como algumas das outras formas de complicação, o tratamento é essencialmente cirúrgico → diverticulectomia, podendo-se associar miotomia e outro procedimento complementar nos divertículos epifrênicos, como a esofagogastrofundoplicatura. MESOESOFÁGICOS Pode ser causado por dois mecanismos: 1. Casos clássicos → A tração da parede esofágica produzida por uma inflamação adjacente (tuberculose ou Histoplasmose) levava a formação do divertículo que, nesses casos, são verdadeiros 2. Pulsão associada aos distúrbios motores do esôfago → espasmo difuso ou o aumento do tônus do esôfago distal associado à peristalse normal ou hiperativa resultam em um aumento da pressão do esôfago médio, formando o divertículo. Quadro clinico: geralmente é assintomático devido ao pequeno tamanho. Porém, os sintomas mais comuns são disfagia e regurgitação. Quando aumentam de tamanho, podem ocasionar inflamação, fístulas brônquicas, pleurais e até aórtica, evoluindo com hemorragia maciça. Outra complicação rara é a formação de carcinoma no divertículo Tratamento: igual ao epifrênicos DIAGNOSTICO Pode ser feito pelo exame radiológico contrastado que evidencia pequenos ou grandes divertículos, localização, numero e retenção de material de contraste e compressão do esôfago. Pode-se utilizar ainda o método endoscópico que permite ainda avaliar as afecções concomitantes aos divertículos → Atualmente, com a técnica da visão frontal, a insuflação de ar e os devidos cuidados, os divertículos faringoesofágicos e os divertículos do esôfago são detectados com facilidade e examinados com segura, sem risco de perfuração esofágica. ACALASIA É uma doença rara (incidência entre 1 a 3/100.000) causada pela destruição das células ganglionares localizadas no plexo mioentérico do esôfago (na doença crônica, observa- se a aganglionose) que geralmente aparece entre os 25-60 anos. A doença afeta os neurônios ganglionares excitatórios (colinérgicos) e inibitórios (óxido nítrico) → Os neurônios inibitórios são responsáveis pelo relaxamento do esfíncter esofágico inferior (EEI) durante a deglutição e a propagação sequencial da peristalse. A ausência desses neurônios é responsável pela incapacidade de relaxar o EEI durante a deglutição e pela ausência de peristalse → A acalasia crônica caracteriza-se por dilatação progressiva e deformidade sigmoide do esôfago com hipertrofia do EEI. Evidências sugerem que a causa básica dessa degeneração seja um processo autoimune atribuível a uma infecção latente pelo herpes-vírus humano tipo 1 nos indivíduos geneticamente predispostos. QUADRO CLINICO ▪ Disfagia aos alimentos sólidos e líquidos ▪ Regurgitação → Alimentos, líquidos e secreções retidos no esôfago dilatado ▪ Dor torácica → Causados pelo espasmo do esôfago sendo caracterizada por dor retroesternal opressiva DOR EPIGÁSTRICA LETÍCIA FAGUNDES e em aperto, algumas vezes, com irradiação para pescoço, braços, mandíbula e dorso ▪ Emagrecimento. Os pacientes com acalasia avançada podem desenvolver bronquite, pneumonia ou abscesso pulmonar secundário a regurgitação e aspiração crônicas. DIAGNOSTICO DIFERENCIAL 1. EED 2. Doença de chagas A fase crônica da doença de Chagas começa vários anos após a infecção e resulta da destruição das células ganglionares autonômicas de todo o corpo, inclusive coração, intestino, trato urinário e vias aéreas. 3. Pseudoacalasia Mais comum em pacientes idosos, com sintomas que começam repentinamente (menos de 1 ano) e emagrecimento.Por essa razão, a endoscopia deve fazer parte da investigação de acalasia. Quando a suspeita de pseudoacalasia é grande e a endoscopia não confirma o diagnóstico, a TC ou a USE pode ser útil. DIAGNOSTICO É dado pela radiografia com deglutição de bário e/ou manometria esofágica, sendo a endoscopia restrita a casos que se queira excluir a pseudoacalasia. As alterações observadas nas radiografias contrastadas da deglutição são: 1. Dilatação do esôfago com esvaziamento incompleto 2. Nível hidroaéreo 3. Afilamento na região do EEI, resultando no aspecto semelhante ao de um bico de pássaro 4. Casos crônicos: esôfago pode adquirir uma configuração sigmóidea Já a manometria esofágica é o exame diagnostico mais sensível pois permite a detecção da doença em uma fase precoce. Os critérios diagnósticos de acalasia nesse tipo de exame incluem: 1. Relaxamento reduzido do EEI 2. Ausência de peristalse A manometria de alta permitiu classificar a acalasia em três subtipos com base no padrão de pressurização do esôfago aperistáltico, sendo eles: 1. Acalasia clássica → Pressurização mínima do corpo esofágico 2. Acalasia com compressão → há pressurização líquida significativa 3. Acalasia espástica → caracteriza-se pelas contrações espásticas do esôfago MANEJO A acalasia não pode ser evitada ou revertida e a peristalse não pode ser recuperada. O objetivo do tratamento é reduzir a pressão do EEI que pode ser atingida através de: Tratamentos farmacológicos: relativamente ineficazes, mas em geral são usados como medida temporizadora com nitratos ou os bloqueadores dos canais de cálcio administrados antes das refeições. A toxina botulínica injetada no EEI durante a endoscopia melhora a disfagia por pelo menos 6 meses. A sildenafila ou outros inibidores da fosfodiesterase reduzem eficazmente a pressão do EEI, mas questões práticas limitam sua eficácia clínica na acalasia. Os únicos tratamentos duradouros para acalasia são dilatação pneumática e miotomia de Heller. Dilatação pneumática: técnica endoscópica que utiliza um balão dilatador cilíndrico não complacente, que é posicionado ao longo do EEI e inflado até um diâmetro entre 3 e 4 cm. A principal complicação é perfuração. Miotomia laparoscópica de Heller, em geral combinada com uma operação antirrefluxo (fundoplicatura parcial); resultados bons a excelentes Pacientes com doença avançada podem não responder à dilatação pneumática ou à miotomia de Heller, sendo necessário a ressecção do esôfago com tração do estômago ou interposição de um segmento do cólon transverso antes da alimentação por gastrostomia. Nos pacientes que fazem tratamento inadequado ou não são tratados, a dilatação do esôfago predispõe à esofagite de estase que pode estar relacionado a carcinoma de células escamosas do esôfago.
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