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Conteudista: Prof.ª Dra. Tábata de Paula Facioli Marinheiro Revisão Textual: Esp. Laryssa Fazolo Objetivos da Unidade: Compreender o funcionamento fisiológico básico do sistema renal; Proporcionar o conhecimento das principais respostas desse sistema diante das exigências físicas. Contextualização Material Teórico Material Complementar Referências Fisiologia do Sistema Renal A Fisiologia do Sistema Renal, tópico abordado nesta unidade, dedica-se a estudar como o corpo humano mantém a homeostase dos líquidos corporais, absorvendo as substâncias necessárias e excretando as desnecessárias. O entendimento desse sistema é fundamental, pois existem inúmeros problemas bastante comuns na área da saúde que ocorrem devido a anormalidades no sistema de controle que mantêm a homeostasia dos líquidos corporais. Além disso, é importante também o conhecimento do funcionamento do sistema renal diante de situações de maiores exigências físicas, como durante a prática de exercício físico, pois é possível que ocorra um processo de desidratação que, se não considerado, poderá causar danos ao nosso organismo. 1 / 4 Contextualização Vídeo Um episódio durante a final da maratona olímpica de 1984 exemplifica alguns dos efeitos da prática de exercício físico. 1984 Marathon women, the �nish of Gabriela Andersen https://www.youtube.com/watch?v=GM5wTcItbuY A maratonista Gabriela Andersen-Schiess claramente apresenta problemas para terminar a prova. Desorientada e com problemas musculares, a atleta sofreu grande desidratação devido à longa duração da prova, aliada ao consumo de água e não isotônicos para reposição hidroelétrica. No final desta Unidade, entenderemos por que isso ocorreu e como os rins trabalham para tentar evitar eventos como esse. Introdução ao Sistema Renal Imagine que você foi fazer uma trilha e acabou se perdendo do seu grupo, ficando sozinho no meio da mata e sem nenhum suprimento de água ou qualquer outro líquido. Quanto tempo você acha que sobreviveria nessas condições? Se estiver frio, no máximo 7 dias, em dias mais quentes, no máximo 4. O corpo perde em média de 2 a 2,5% de água por dia, essa água é liberada por meio de suor, urina e fezes. Se você estivesse no cenário descrito anteriormente, o seu organismo iria reabsorver o máximo de água possível para tentar manter a homeostase do organismo, diminuindo essas secreções. 2 / 4 Material Teórico Glossário Homeostasia é a propriedade que o corpo humano tem de regular/adaptar seu ambiente interno diante de mudanças tanto internas quanto externas para mantê-lo estável. Agora imagine que você acabou de almoçar. Dentro de alguns minutos, você provavelmente sentirá sede, principalmente se a sua alimentação conteve grande quantidade de sódio. A sensação de sede acontece porque há um desequilíbrio na concentração de sódio no sangue, esse desequilíbrio é então percebido pelo sistema renal que irá então trabalhar para que isso seja revertido. Esses dois exemplos ilustram a importância do sistema renal na manutenção da homeostase corporal, que tem como principal função o equilíbrio hidroeletrolítico dos líquidos corporais. Ou seja, sua principal função é regular a concentração de água e íons presentes no sangue. Organização do Sistema Urinário De forma geral, o sistema renal é composto: Esses órgãos trabalham em harmonia para manter a homeostase dos líquidos corpóreos por meio da regulação da osmolaridade e do volume extracelular do fluido e, também, pela manutenção do equilíbrio iônico (balanço entre as concentrações de elementos químicos eletricamente carregados presentes nos líquidos corpóreos). Para tal, o sistema renal filtra o sangue, reabsorve o que é necessário e excreta o que não é. Pelos rins, que têm como principal função a filtração do sangue;1 O ureter, responsável por carregar a urina do rim até a bexiga;2 A bexiga, que irá armazenar a urina;3 A uretra, que irá conduzir a urina da bexiga até sua excreção (Figura 1).4 Glossário Osmolaridade é definida pela quantidade de partículas dissolvidas em um determinado solvente. Figura 1 – Visão geral do sistema urinário Fonte: Adaptada de Freepik Rins e Néfrons Os rins estão localizados na parede posterior do abdômen e pesam aproximadamente 150 gramas. A face medial do rim apresenta uma região chamada hilo renal, por onde passam a artéria e veias renais, vasos linfáticos, suprimento nervoso e o ureter. O rim possui duas regiões principais, a medula interna e o córtex externo (Fig. 2a). Na medula interna, estão localizadas de 8 a 10 tecidos denominados pirâmides renais que ancoram os néfrons. Os néfrons são as unidades funcionais do rim, acredita-se que há entre 800.000 a 1 milhão de néfrons em cada rim (Fig. 2b). As pirâmides estão ancoradas em estruturas chamadas cálices que aumentam gradualmente de tamanho, começando com os cálices menores, que se abrem nos cálices maiores, que desembocam na pelve renal. A pelve renal é uma estrutura em formato de funil, que tem como continuação a parte superior do ureter. Figura 2 – (a) Estrutura interna do rim (b) Estrutura da unidade funcional do rim, o néfron Fonte: Adaptada de GUYTON; HALL, 2011 Bexiga A bexiga está localizada na região pélvica. Em homens, ela está diretamente em frente ao reto e, nas mulheres, logo abaixo do útero, em frente à vagina (Figura 3). A bexiga pode ser subdividida em duas partes principais: o corpo, local onde a urina é armazenada; e o colo, extensão afunilada que se conecta com a uretra. O tecido muscular da bexiga é denominado músculo detrusor. Suas fibras musculares estão presentes em toda a extensão da bexiga e são as responsáveis pela contração do órgão, etapa principal para a excreção da urina. A inervação da bexiga, importante para o controle muscular desse órgão e no reflexo de micção (vontade de urinar), é controlada principalmente pelo sistema nervoso neurovegetativo (porções simpática e parassimpática). A porção simpática inerva a musculatura lisa da bexiga e do esfíncter uretral interno lhe conferindo poder de contração, enquanto a porção parassimpática inerva a parede da bexiga lhe conferindo poder de relaxamento. Além disso, é pela área denominada trígono que os ureteres entram na bexiga e penetram pelo músculo detrusor, lá depositam o material a ser excretado. Os ureteres medem de 25 a 35 centímetros, sua musculatura é lisa, e, assim como ocorre com outras musculaturas lisas viscerais, as contrações peristálticas ao ureter são aumentadas pela estimulação parassimpática e inibidas pela estimulação simpática. Figura 3 – Anatomia da bexiga, ureter e uretra e suas diferenças entre homens e mulheres Fonte: GUYTON; HALL, 2011 Líquidos Corporais O líquido corporal total está distribuído em dois principais compartimentos, o líquido extracelular e o líquido intracelular. O líquido extracelular pode ser ainda subdivido em líquido intersticial e plasma sanguíneo. Cada tipo de líquido está em quantidades diferentes no organismo (Fig. 4). Essa quantidade pode ser alterada de acordo com a idade, o sexo e o total de gordura. Ainda há o ganho de líquido corporal por meio da ingestão de bebidas e alimentos, e a perda desses líquidos na urina, fezes, suor, pulmões e pele. Glossário Líquido intersticial: líquido presente no interstício, espaço existente entre as células ou entre as estruturas dos órgãos. Figura 4 – Quantidade de cada tipo de líquido corporal e suas trocas Fonte: Adaptada de GUYTON; HALL, 2011 Os líquidos intracelulares, presentes no interior das células, variam de acordo com o tipo celular e o metabolismo de cada célula. Por sua vez, os líquidos extracelulares são todos os líquidos por fora das células, sendo que os dois maiores compartimentos do líquido extracelular são o líquido intersticial e o plasma, que realizam, constantemente, trocas de substâncias por meio dos poros presentes nas membranas capilares. Portanto, esses líquidos extracelulares possuem aproximadamente a mesma composição (grandes quantidades de íons de sódio e cloreto, razoáveis quantidades de bicarbonato e pouca quantidade de potássio, cálcio e magnésio, fosfatos e ácidos orgânicos), exceto pelas proteínas em alta concentração no plasma, pois os poros nas membranas capilares não são permeáveis a essas proteínas, o que impede a troca entre os líquidos extracelulares. Fluxo Sanguíneo Renal (FSR) Para que o rim possa realizar o seu trabalho de filtração sanguínea, é necessário que haja um grande fluxo de sangue nestes órgãos. Esse fluxo sanguíneo representa cerca de 22% do total de sangue bombeado pelo coração e fornece nutrientes aos rins, além de remover produtos indesejáveis, assim como acontece nos outros tecidos. Importante! Uma das principais funções do sistema renal é justamente manter o equilíbrio da quantidade de diferentes substâncias presentes nos líquidos corporais, levando em consideração as distintas situações fisiológicas e fisiopatológicas do organismo. O FSR é determinado pela razão entre a diferença de pressão entre a artéria renal e a veia renal e a resistência desse leito vascular, sendo que a principal forma de modificação da resistência é por meio da modificação do diâmetro do vaso, ou seja, em uma vasoconstrição, temos a diminuição do FSR e, em uma vasodilatação, temos o aumento do FSR, então temos: FSR = ∆P R Dessa forma, podemos dizer que o fluxo sanguíneo nos rins é elevado e isso ocorre com o objetivo de abastecer o plasma para se ter altas densidades da filtração glomerular, necessárias para a regulação dos volumes dos líquidos corporais e das concentrações de solutos. Portanto, os mecanismos que regulam o FSR estão relacionados ao controle da filtração glomerular e das funções excretoras dos rins, por isso é tão importante ter um regulador do FSR, pois, regulando o FSR, consequentemente, irá regular a taxa de filtração glomerular e conseguirá controlar o volume de líquido corporal. Saiba Mais Estima-se que o rim receba cerca de 1.100 mL de sangue por minuto. Figura 5 – (a) Macrocirculação arterial e venosa renal; (b) Microcirculação dos néfrons Fonte: Adaptada de GUYTON; HALL, 2011 Filtração Glomerular (FG) Para que a urina seja formada, é necessário que ocorram três diferentes processos renais: (i) filtração glomerular; (ii) reabsorção de substâncias dos túbulos renais para o sangue; e (iii) secreção de substâncias do sangue para os túbulos renais (Figura 6). Esses processos acontecem nos néfrons e são regulados de acordo com as necessidades corporais, podendo variar de acordo com a situação fisiológica do organismo. Por exemplo, se a ingestão de sódio foi maior do que o necessário, essa substância será secretada em maior quantidade. Importante! O sangue chega ao rim através da circulação arterial, é filtrado e, então, sai pela circulação venosa (Figura 5). Os capilares glomerulares são, como a maioria dos capilares presentes no corpo, impermeáveis a proteínas. Consequentemente, o filtrado que sai dos glomérulos e é depositado na cápsula de Bowman (Figura 5b) é praticamente livre de proteínas e de substâncias que estão ligadas a ela, como o cálcio e os ácidos graxos. Importante! A filtração glomerular (FG) é o primeiro processo fisiológico e consiste na filtração dos líquidos que chegam aos rins por meio das artérias renais que, após várias ramificações, chegam aos capilares glomerulares. Saiba Mais Como o sistema renal não filtra proteínas, a ingestão exagerada desse nutriente, como, por exemplo, por meio de suplementos proteicos, pode levar a uma sobrecarga renal e eventualmente a cálculos renais (“pedras nos rins”). No organismo humano adulto, a FG é cerca de 125 mL por minuto (180 L/dia). Essa grande quantidade de FG permite que os rins removam do organismo substâncias indesejáveis, assim como o controle, preciso e rápido, do volume e composição dos líquidos corpóreos. Figura 6 – Ordem cronológica dos processos que ocorrem durante a filtração sanguínea e consequente formação da urina Fonte: GUYTON; HALL, 2011 Na microcirculação dos capilares, existem diferentes forças que promovem a passagem de líquidos dos vasos para o interstício e do interstício para o vaso. Uma dessas forças é chamada de pressão hidrostática, força que consiste na presença de líquido no vaso. Outra força é a pressão coloidosmótica, que é a força de atração de água exercida pela proteína. A FG é determinada pelo coeficiente de filtração glomerular (Kf, quantidade de líquido que o glomérulo consegue filtrar) x pressão líquida de filtração (soma das pressões hidrostáticas e coloidosmóticas). Essas duas pressões, se combinadas, podem criar forças que são favoráveis ou que se opõem à filtração, sendo assim um determinante para a FG. Essas pressões podem ser alteradas em determinadas situações fisiológicas e fisiopatológicas. Outro ponto determinante para a FG é o tamanho das moléculas e suas cargas elétricas. Nos capilares glomerulares, as moléculas são filtradas de acordo com o seu tamanho e sua carga elétrica, gerando diferentes filtrabilidades. A filtrabilidade pode ser classificada utilizando a filtrabilidade da água como referência, ou seja, se a molécula for filtrada tão facilmente quanto a água, sua molaridade é igual ou próxima a 1,0. Se a filtrabilidade de uma molécula for, por exemplo, 0,75 isso significa que a molécula é filtrada apenas 75% tão rapidamente quanto a água. Por outro lado, quanto mais o peso molecular se aproxima do da albumina, a filtrabilidade chega próximo a 0 e é mais dificilmente absorvida. Reguladores da FG e do FSR Existem algumas formas de regular a FG e o FSR, as quais discutiremos a seguir. Quando a pressão hidrostática na cápsula de Bowman aumenta, a FG reduz. Ou seja, quando há grande quantidade de filtrado na cápsula, os capilares reduzem a filtração dos líquidos. Por outro lado, se a pressão hidrostática diminui, a FG aumenta. Em certas patologias associadas à obstrução do trato urinário, a pressão hidrostática pode aumentar acentuadamente (devido ao acúmulo de filtrado na cápsula de Bowman), causando grave queda da FG, resultando na distensão e dilatação da pelve e cálices renais e, consequentemente, grave lesão renal. Por outro lado, se a pressão hidrostática aumentar nos glomérulos, a FG também será aumentada. A pressão hidrostática glomerular e a pressão coloidosmótica capilar glomerular podem ser influenciadas por hormônios e pelo sistema nervoso simpático. Nesse sentido, sabe-se que nos vasos (arteríolas aferentes e eferentes) existem receptores do SNAS chamados receptores alfa-1 (α-1) que estão ligados à fibra pós-ganglionar do SNAS. Se houver uma estimulação do receptor α-1 por meio, principalmente, da noradrenalina, haverá um efeito de vasoconstrição. Caso a vasoconstrição ocorra na arteríola aferente, consequentemente, haverá menos sangue chegando ao glomérulo, levando à diminuição da taxa de FG e FSR. Porém, se a vasoconstrição ocorrer na arteríola eferente, haverá o efeito contrário, o sangue irá acumular no leito vascular, aumentando a pressão hidrostática no glomérulo renal, levando ao aumento da taxa de FG, mas com diminuição do FSR. Como existe maior número de receptores α-1 nas arteríolas aferentes e, consequentemente, muita noradrenalina sendo secretada nessa região, haverá uma vasoconstrição maior na arteríola aferente, levando ao resultado de diminuição da taxa de FG e diminuição do FSR. Uma substância vasoativa, a angiotensina II, que pode ser classificada como um hormônio circulante, faz parte do chamado sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) que é responsável, principalmente, pelo controle da volemia, ou seja, do volume sanguíneo e da pressão arterial (PA). A renina é produzida nos rins e converte angiotensinogênio em angiotensina I, a qual é convertida pela enzima conversora de angiotensina (ECA) em angiotensina II. A angiotensina II, assim como SNAS, irá causar vasoconstrição, porém, nesse caso, a arteríola eferente é mais sensível, ou seja, baixos níveis de angiotensina II é possível estimular a arteríola eferente, mas não será suficiente para estimular a arteríola aferente. Dessa forma, se há a vasoconstrição da arteríola eferente, o efeito final será o aumento da taxa de FG e diminuição do FSR. Em conjunto, essas duas situações levam ao aumento da reabsorção de sódio e água, o que ajuda a levar a pressão arterial sanguínea ao nível ideal ao mesmo tempo em que mantém a excreção de produtos indesejáveis do metabolismo, como ureia e creatinina. O aumento da angiotensina II ocorre geralmente quando a pressão arterial está mais baixa que o normal ou quando há grande redução do volume. Por outro lado, se houver altos níveis de angiotensina II circulante, haverá a estimulação tanto da arteríola eferente quanto da arteríola aferente, assim, o efeito final será a diminuição na taxa de FG e do FSR. Outro regulador do FSR são as prostaglandinas, que são metabólitos do ácido araquidônico. Além disso, as prostaglandinas são conhecidas como importantes mediadoras da inflamação. Ao contrário do SNAS e da angiotensina II, a prostaglandina, principalmente a prostaglandina E2 (PGE2), é responsável por causar uma vasodilatação das arteríolas. Nesse caso, não há aqui a diferença entre arteríola aferente e eferente, pois, como há a dilatação das duas, existe um efeito global de aumento da taxa de FG e do FSR. Saiba Mais Quando se tem uma hemorragia (diminuição do volume sanguíneo) há uma perda grande de volume de líquido corporal que é detectado pelos rins. Os rins, então, passam a secretar renina, culminando no aumento dos níveis circulantes de angiotensina II. Esse aumento na angiotensina II leva à redução da taxa de FG e consequente menor secreção de urina, retendo, dessa forma, o pouco líquido que ainda possui no organismo. Ou seja, a angiotensina II impede que a hemorragia se agrave ainda mais. Saiba Mais Esse efeito de vasodilatação da prostaglandina é chamado de efeito O óxido nítrico, outro vasodilatador, é liberado pelo endotélio vascular de todos os capilares do corpo. Em situações de homeostase, essa substância é importante, pois leva à vasodilatação e, consequentemente, ao funcionamento correto dos rins, excretando as quantidades corretas de água e sódio. Consequentemente, se esse vasodilatador não pode ser produzido, secretado ou tem sua ação bloqueada, a pressão vascular renal é aumentada, prejudicando a FG e a excreção de sódio, levando ao aumento da pressão sanguínea. Isso pode acontecer, por exemplo, em pacientes com aterosclerose (condição vascular patológica causada pelo depósito de gordura ou outros elementos na parede do endotélio), o que causa problemas na produção de óxido nítrico, aumentando a concentração de sódio na pressão arterial. A dopamina é outro vasodilatador importante na regulação da FG e do FSR. Além de possuir efeito sobre as arteríolas renais, a dopamina também age nas artérias do coração e cérebro e possui efeito protetor, pois quando a perfusão sanguínea está muito diminuída, existe a tentativa de realocar todo o sangue que está sobrando na circulação e direcionar a órgãos vitais, como, rins, coração e cérebro. Existe ainda outro vasodilatador, a bradicinina, que, assim como os vasodilatadores citados acima, em situações de homeostase, atua amenizando os efeitos da vasoconstrição da angiotensina II e dos nervos simpáticos. Além desses mecanismos reguladores, o rim possui um próprio sistema de autorregulação. Quando acontece uma diminuição da pressão de perfusão renal, por exemplo, o rim detecta essa diminuição e reduz a resistência das artérias, justamente para compensar essa redução da pressão e manter a FG e o FSR constantes, o mesmo vale para o raciocínio inverso, ou seja, protetor, porque a liberação de prostaglandinas ocorre justamente quando a taxa de FG está muito diminuída, o que pode levar a uma insuficiência renal, e a liberação de prostaglandina ocorre na tentativa de impedir uma autodestruição do rim. quando há o aumento da pressão de perfusão renal, há o aumento da resistência, para que a FG e o FSR permaneçam constantes. Ou seja, a autorregulação compreende mecanismos intrínsecos aos rins, ou seja, independem de influências do sistema como um todo, e levam à manutenção do FSR e da FG relativamente constantes, mantendo a excreção de substâncias indesejáveis, água e solutos. Reabsorção pelos Tubos Glomerulares Após ser depositado na cápsula de Bowman, o filtrado glomerular entra nos túbulos renais. Primeiro, no (1) túbulo proximal, seguindo para a (2) alça de Henle, (3) túbulo distal, (4) túbulo coletor e, por fim, (5) ducto coletor. Durante esse percurso, determinadas substâncias são reabsorvidas pelos túbulos e voltam para a circulação sanguínea, enquanto outras são secretadas do sangue para dentro dos túbulos dos néfrons. A maioria das substâncias são reabsorvidas, porém as substâncias que serão secretadas contribuem significantemente para a concentração de íons de potássio e de hidrogênio na urina. Ou seja, a FG e a reabsorção são mais significativas que as excreções, uma pequena alteração na secreção de substâncias pode causar uma grande alteração na formação final da urina. Por exemplo, se a reabsorção diminuir em 10%, de 178,5 L por dia para 160,7 L por dia, há um aumento de 1,5 L de urina (chegando a um total de 19,3 L diário), se a FG não for alterada. A alteração na quantidade de excreção de uma substância pode indicar alguma patologia, como a diabetes, por exemplo. Importante! Em situações fisiológicas normais, a glicose é reabsorvida 100%. Se há glicose na urina, isso pode ser um indicativo de que há maior quantidade de glicose na corrente sanguínea, indicando talvez uma diminuição na produção de insulina. A Tabela 1 mostra a reabsorção e excreção normal de diferentes substâncias presentes nos líquidos corporais. Tabela 1 – Principais substâncias filtradas e correspondente quantidade que é reabsorvida e excretada Quantidade Filtrada Quantidade Reabsorvida Quantidade Excretada % da Ca Filtra Reabsor Glicose (g/dia) 180 180 0 100 Bicarbonato (mEq/dia) 4.320 4.318 2 >99, Sódio (mEq/dia) 25.560 25.410 150 99,4 Cloreto (mEq/dia) 19.440 19.260 180 99, Potássio (mEq/dia) 756 664 92 87,8 Fonte: Adaptada de GUYTON; HALL, 2011 Para que a reabsorção das substâncias ocorra, são necessários dois processos: (i) a substância precisa ultrapassar a membrana do epitélio dos túbulos e se juntar ao líquido intersticial; e, (ii) através das membranas peritubulares, retornar ao sangue (Fig. 7). Para ultrapassar a membrana epitelial tubular, é necessário que ocorra o transporte que pode ser ativo, ou seja, com gasto energético, ou passivo, sem gasto energético. O tipo de transporte será determinado de acordo com o tipo de substância a ser reabsorvida. A água e os solutos, por exemplo, podem ser transportados via transcelular (através das próprias membranas celulares) ou via osmose. Após ultrapassar o epitélio tubular e se juntar ao líquido intersticial, a água e os solutos são transportados através das paredes dos capilares peritubulares e daí para o sangue por ultrafiltração, que é, assim como a FG, medida pela força hidrostática e coloidosmótica. Quantidade Filtrada Quantidade Reabsorvida Quantidade Excretada % da Ca Filtra Reabsor Ureia (g/dia) 46,8 23,40 23,4 50 Creatina (g/dia) 1,8 0 1,8 0 Figura 7 – Esquema prático do mecanismo de reabsorção de substâncias que acontece nos túbulos renais Fonte: Adaptada de GUYTON; HALL, 2011 Túbulo Proximal O túbulo proximal é a primeira parte da aparelhagem tubular do néfron (Figura 8). Nessa parte do túbulo, ocorre cerca de 65% da reabsorção de água e sódio e, em ligeira diminuição percentual, de cloreto, presentes no filtrado glomerular. Isso acontece devido às características celulares do epitélio do túbulo proximal. Essas células têm um elevado número de mitocôndrias que irá fornecer a energia necessária para o transporte ativo, além de terem uma maior superfície de membrana para o transporte de substâncias como íons. Essa membrana diferenciada também possui moléculas proteicas carregadoras que realizam o transporte de frações de íons de sódio. Nessa parte tubular, ocorre não só a reabsorção, mas também a secreção de substâncias formadas pelo metabolismo, que devem ser rapidamente eliminadas do organismo como, por exemplo, sais biliares, oxalato, urato e catecolaminas. É nessa parte também que ocorre a secreção de diferentes fármacos ou toxinas. Figura 8 – Localização do túbulo proximal no néfron Fonte: Adaptada de GUYTON; HALL, 2011 Alça de Henle A alça de Henle, próxima parte que o filtrado glomerular passa, pode ser dividida em três segmentos: segmento descente fino, segmento ascendente fino e segmento ascendente espesso (Figura 9). Os dois primeiros segmentos, diferentemente do túbulo proximal, possuem células com poucas mitocôndrias e pouquíssimo nível de atividade metabólica e membrana epitelial simples. O segmento descendente fino tem como principal função a difusão simples de água e solutos, sendo que, aproximadamente 20% da água filtrada é reabsorvida nesse segmento da alça de Henle. De outra forma, o segmento ascendente fino e o segmento ascendente espesso são impermeáveis à água, sendo importante para a concentração de urina. No segmento ascendente espesso, há também a reabsorção de sódio, cloreto e potássio e, em menor quantidade, de cálcio, bicarbonato e magnésio. Além disso, a reabsorção de sódio nessa área da alça de Henle ocorre devido à grande quantidade de bombas sódio-potássio ATPase, que mantém baixas concentrações de sódio no interior das células, favorecendo o transporte de sódio para dentro das células do epitélio tubular. Figura 9 – Localização da alça de Henle no néfron. A) Parte descendente fina; B) Parte ascendente grossa Fonte: Adaptada de GUYTON; HALL, 2011 Túbulo Distal A quantidade de líquido restante é então depositada na parte distal tubular (Figura 10). A primeira parte tubular distal forma a mácula densa, um grupo de células que estão organizadas de forma compactada e fazem parte do complexo justaglomerular. Essas células são denominadas células granulares ou células justaglomerulares, e apresentam citoplasma rico em grânulos que contêm renina. A renina, como já mencionado, converte o angiotensinogênio em angiotensina I a qual será, posteriormente, convertida para a enzima peptídeo ativo angiotensina II. A produção de renina é principalmente produzida por três mecanismos distintos: (i) pelos barorreceptores (receptores de pressão) das células justaglomerulares quando há queda na pressão arterial, (ii) pelas células da mácula densa quando for detectada queda na concentração de íons e (iii) pelas células justaglomerulares quando há estímulo adrenérgico pela noradrenalina. Como já descrito anteriormente, a angiotensina II é importante para a regulação da FG e, consequentemente, para o balanço de sódio e água. A segunda porção do túbulo distal é praticamente igual ao último segmento da alça de Henle, sendo impermeável à água e à ureia, e comumente chamado de tubo diluidor, por também ser responsável pela diluição do líquido tubular. Por sua vez, na região tubular distal inicial, há a absorção de cloreto de sódio por meio do cotransportador de sódio-cloreto, que retira o cloreto de dentro do tubo e passa para a célula. Para passar da célula para o interstício, o cloreto é transportado pela bomba de sódio-potássio ATPase. Figura 10 – A) Localização do túbulo distal inicial; B) do túbulo distal final e túbulo coletor no néfron Fonte: Adaptada de GUYTON; HALL, 2011 Túbulo Distal Final e Túbulo Coletor A parte final do túbulo distal e a do túbulo coletor se assemelham quanto às características celulares. Ambas possuem dois tipos celulares, as células principais e as células intercaladas. As células principais reabsorvem sódio e água do lúmen e secretam íons potássio para o lúmen. Já as células intercaladas reabsorvem íons bicarbonato e potássio e secretam íons hidrogênio para o lúmen tubular. As células principais podem ser estimuladas pela aldosterona, hormônio produzido pelas células da zona glomerulosa. A aldosterona irá estimular a produção de bombas de sódio-potássio ATPase na superfície das células principais, levando à devolução de sódio para o sangue. Esse mecanismo possibilita a devolução de praticamente 100% do sódio para o sangue e é importantíssimo durante um processo hemorrágico, onde há grande quantidade de perda volumétrica de sangue. O principal papel da aldosterona é tentar manter a pressão arterial por meio do transporte de sódio dos túbulos para o sangue. As células principais podem ser estimuladas pela aldosterona, hormônio produzido pelas células da zona glomerulosa. A aldosterona irá estimular a produção de bombas de sódio-potássio ATPase na superfície das células principais, levando à devolução de sódio para o sangue. Esse mecanismo possibilita a devolução de praticamente 100% do sódio para o sangue e é importantíssimo durante um processo hemorrágico, onde há grande quantidade de perda volumétrica de sangue. O principal papel da aldosterona é tentar manter a pressão arterial por meio do transporte de sódio dos túbulos para o sangue. Assim como o túbulo coletor, o túbulo distal final é também importante para a reabsorção de água. Saiba Mais Já reparou que, quando a ingestão de álcool ocorre em grande quantidade, a vontade de ir ao banheiro aumenta? Isso acontece O álcool inibe a produção de vasopressina (também chamado de hormônio diurético ou ADH), hormônio que atua na permeabilidade do túbulo distal final. Na ausência de vasopressina, esses túbulos se tornam impermeáveis à água e toda a água é excretada em forma de urina em vez de ser reabsorvida, como acontece normalmente. É por isso também que, no dia seguinte, um dos principais sintomas da ressaca é a sede. Por prejudicar a reabsorção de água, o álcool também pode causar a desidratação. Ducto Coletor Medular O ducto coletor medular é responsável pelo processamento da urina, tendo pouca importância para a reabsorção de água e íons (Figura 11). A permeabilidade dessa parte tubular pode, assim como no túbulo distal, ser controlada pela vasopressina. Se a vasopressina estiver elevada, a água será absorvida e a urina será mais concentrada. porque a cada 1,3 mL de álcool ingerido, há um aumento na urina de 10 mL. Figura 11 – Localização do ducto coletor no néfron Fonte: Adaptada de GUYTON; HALL, 2011 Assim como a FG, a reabsorção tubular pode ser controlada de acordo com a necessidade e condições fisiológicas do organismo. Como já posto acima, a reabsorção pode ser regulada pelo hormônio aldosterona, porém, esse não é único hormônio que tem essa capacidade. A angiotensina II, o hormônio antidiurético, o hormônio da paratireoide e o peptídeo natriurético atrial, também funcionam como importantes reguladores da reabsorção, cada um atua em uma área tubular diferente e exerce uma função diferente. A tabela abaixo sumariza essas diferenças. Tabela 2 – Regulação da reabsorção tubular por diferentes hormônios Hormônio Local de Ação Efeitos Aldosterona Túbulo e ducto coletores ↑ reabsorção de NaCl e H2O ↓ secreção de K+ Angiotensina II Túbulo próxima, porção ascendente espessa da alça de Henle/Túbulo distal, túbulo coletor ↑ reabsorção de NaCl e H2O ↑ secreção de H+ Hormônio antidiurético Túbulo distal/ túbulo e ducto coletores ↑ reabsorção de H2O Hormônio Local de Ação Efeitos Hormônio da paratireoide Túbulo proximal, porção ascendente expressa da alça de Henle/túbulo distal ↓ reabsorção de PO4≡ , ↑ reabsorção de CA++ Peptídeo natriurético atrial Túbulo distal/túbulo e ducto coletores ↓ reabsorção de NaCl Fonte: Adaptada de GUYTON; HALL, 2011 Vídeo Vamos ilustrar um pouco do que foi falado até aqui! CN9 U2 7 E Formação da urina https://www.youtube.com/watch?v=R4cNMryGOro Osmolaridade e a Sede Osmolaridade é definida pela quantidade de partículas em um determinado solvente. Os íons de sódio correspondem a 94% dos osmóis de líquidos extracelulares e por isso a sua osmolaridade é importante para o controle da excreção de sódio, ou seja, a quantidade de íons presente nos líquidos extracelulares (osmolaridade sódica) pode aumentar ou diminuir a reabsorção e excreção desses íons. Os principais reguladores desse mecanismo é o sistema de osmoreceptor- ADH e o mecanismo de sede. O déficit na quantidade de água no organismo altera diretamente a osmolaridade sódica. Como há menor quantidade de água, os íons estão mais concentrados nos líquidos extracelulares. Esse aumento na osmolaridade é sentido por neurônios específicos chamados células osmoreceptoras, que estão localizados no hipotálamo anterior, que irão então murchar. Esse murcharmento vai estimular as células a enviar sinais para outros neurônios até o sinal chegar à hipófise. A hipófise irá então estimular a secreção de vasopressina que, através da corrente sanguínea, chegará ao tecido renal e exercerá seu papel no aumento da permeabilidade à água no epitélio da porção final dos túbulos renais e dos ductos coletores (Figura 12). Com o aumento da permeabilidade, a água será reabsorvida em maior quantidade, aumentando a concentração da água nos líquidos extracelulares e corrigindo a osmolaridade. Figura 12 – Interação do sistema nervoso no controle da osmolaridade sódica através da vasopressina (ADH) Fonte: Adaptada de GUYTON; HALL, 2011 Encontra-se também no hipotálamo o centro da sede. Acredita-se que neurônios dessa área atuam como osmoreceptores, ativando o mecanismo da sede, assim como os osmoreceptores estimulam a produção de vasopressina. A osmolaridade elevada nos líquidos extracelulares leva à desidratação dos neurônios dessa área, causando o desejo de sede. Esse centro também pode ser ativado quando há diminuição na pressão arterial e na quantidade de líquido extracelular, o que acontece na hemorragia, por exemplo. A sensação de sede também pode ser causada pelo ressecamento da mucosa da boca e do esôfago. Se, por um lado, a hiperosmolaridade (aumento da osmolaridade) desregula a homeostase dos líquidos extracelulares, a hiposmolaridade (redução da osmolaridade) também desregula essa homeostase. Se a sensação de sede não fosse rapidamente controlada, a ingestão de água seria muito maior do que se é devidamente necessário, isso poderia levar a uma hiperdiluição dos íons presentes nos líquidos extracelulares. Os dois principais sistemas de regulação osmótica trabalham em conjunto para manter com precisão a osmolaridade dos líquidos extracelulares, evitando, assim, quadros patológicos agudos como a desidratação. Esses mecanismos controlam não só a hiperosmolaridade causada pela diminuição de água no organismo, como também controlam a hiperosmolariade causada pela grande ingestão de sódio por meio da dieta. Se esses dois mecanismos estiverem funcionando normalmente, um aumento de até 6x na ingestão de sódio causaria pouca ou nenhuma alteração na osmolaridade sódica. Se um dos mecanismos falhar, o outro consegue manter a regulação da osmolaridade, desde que a ingestão de água seja mantida em níveis normais. Entretanto, se ambos falharem, a regulação da osmolaridade sódica será terrivelmente comprometida. Regulação Renal do Equilíbrio Ácido-Base Outro importante íon presente no organismo é o hidrogênio (H+). Praticamente todos os sistemas de enzima dependem da homeostase de H+ para funcionar adequadamente. A homeostasia desse íon não depende apenas do balanço entre a ingestão/produção de H+ e a sua secreção, mas também da manutenção do equilíbrio ácido-base dos líquidos corporais, e o sistema renal é responsável também por esse equilíbrio. O íon hidrogênio é próton único livre, liberado do átomo de hidrogênio. Moléculas que contêm átomos de hidrogênio podem liberar íons hidrogênio que são conhecidos como ácidos, a exemplo temos o ácido clorídrico (HCl), importante para a correta digestão de alimentos e que se ioniza na água formando íons H+ e íons cloreto (Cl-); outro exemplo é o ácido carbônico (H2CO3) que se ioniza na água formando íons H+ e íons bicarbonato (HCO3-). Por outro lado, as bases são íons ou moléculas capazes de receber hidrogênio liberado pelas substâncias ácidas. A exemplo temos o HCO3-, que é base porque pode se combinar com o H+ para formar H2CO3. As proteínas também podem ser classificadas como substâncias básicas, porque seus aminoácidos com cargas negativas prontamente recebem os íons de H+. Os ácidos podem ser classificados como fortes ou fracos, dependendo da sua capacidade de dissociação e liberação de íons. Do mesmo modo, as bases também podem ser classificadas em fortes ou fracas, dependendo da sua capacidade de reagir e integrar o H+ liberado pelo ácido, removendo-o prontamente de uma solução. Para medir a concentração de H+ em uma determinada substância, utiliza-se o pH, essa medida é inversamente proporcional à quantidade de íons e H+ presentes na substância, ou seja, quanto mais H+, menor será o pH. O pH pode ser alcaloide ou básico, e ácido. O termo alcalose compreende a remoção excessiva de H+ dos líquidos corporais, enquanto o termo acidose se refere à adição excessiva de H+ aos líquidos corporais. O pH normal do sangue arterial é de 7,4, dessa forma, considera-se uma acidose quando o pH cai abaixo desse valor, e alcalose quando o pH está acima de 7,4. Por sua vez, o sangue venoso e dos líquidos intersticiais é de cerca de 7,35. Para regular o pH dos líquidos corpóreos, o organismo possui três diferentes mecanismos: (i) sistema tampão, em que os líquidos corporais se combinam, imediatamente, com ácido ou base para evitar alterações excessivas da concentração de H+, (ii) centro respiratório, ou seja, respiração, que regula a remoção de CO2 e, portanto, elimina H2CO3 do líquido extracelular e, (iii) filtração renal, que atua excretando urina ácida ou alcalina, reajustando, assim, a quantidade de H+ presente nos líquidos extracelulares. Os dois primeiros mecanismos agem rapidamente para evitar alterações muito bruscas na quantidade de H+, enquanto o último mecanismo é mais demorado, mas, o melhor regulador do sistema ácido-base. Os rins regulam o pH dos líquidos corporais por meio da filtração de enormes quantidades de HCO3- (bicarbonato). Essas moléculas são continuamente filtradas para os túbulos e quando excretadas pela urina, retiram dos líquidos corpóreos as substâncias básicas. Além disso, as células epiteliais tubulares secretam H+, removendo, assim, ácidos do sangue. Para a manutenção do primeiro mecanismo de regulação de pH, o tamponamento ácido-base, é necessário que os rins reabsorvam a maior quantidade possível de bicarbonato (substância básica que se liga a substâncias ácidas). Esse mecanismo é prejudicado quando ocorre redução de concentração de H+ no líquido extracelular (alcalose). A alcalose impede que o rim reabsorva bicarbonato, ou seja, mais H+ estarão liberados no líquido extracelular, aumentando, assim, a concentração de H+. Por outro lado, quando os líquidos extracelulares estão ácidos, os rins não excretam HCO3-, e sim os reabsorvem. Os rins também podem produzir uma nova molécula de bicarbonato que será, então, devolvida para os líquidos corporais. Importante! Em resumo, o rim regulariza a concentração de H+ por meio de três mecanismos diferentes: Secreção de H+ da célula para dentro do tubo e posterior excreção pela urina; Reabsorção de Bicarbonato; A secreção de H+ e reabsorção de bicarbonato ocorrem praticamente em toda a extensão do túbulo renal, exceto pelas porções fina descendente e fina ascendente da alça de Henle. Para cada HCO3- reabsorvido um H+ precisa ser secretado das células para o tubo. Cerca de 85% da reabsorção de HCO3- e de H+ acontece na porção tubular proximal. Sistema Renal e Exercício Físico Durante a prática de exercício físico, o metabolismo pode aumentar de 5 a 20 vezes, e a energia gerada por esse metabolismo é também convertida em calor. Esse calor precisa ser dissipado de alguma forma, a fim de evitar a hipertermia (aumento excessivo de temperatura). A principal forma de eliminar o calor é por meio da sudorese, que requer água para acontecer. Com o aumento da sudorese e, consequentemente, na excreção de água, há alteração na homeostase dos líquidos corporais. Síntese de novo bicarbonato. Saiba Mais Estima-se que, a cada hora de exercício físico, a perda de água possa chegar a 2 litros, podendo causar hipohidratação e hiperosmolaridade. Por isso é importante que o atleta mantenha sempre a ingestão de água durante as atividades físicas. A hiponatremia (baixa quantidade de sódio nos líquidos corporais) pode ser causada pela ingestão de grande quantidade de água e é o distúrbio eletrolítico mais comum em atletas que participam de exercícios físicos de longa duração como, por exemplo, maratonas. Durante a maratona, o atleta perde grande quantidade de sódio por meio da sudorese e também por meio da diluição do sódio pela ingestão de água. A diminuição de sódio no líquido corpóreo pode acarretar a entrada de maior quantidade de água nas células, podendo causar disfunções fisiológicas e causar sintomas como tontura e náuseas. Para evitar que isso ocorra, é necessário que o atleta se hidrate durante a prática do exercício, isto é, mantenha a quantidade de água normal no organismo e se reidrate após a prática, por meio da alimentação e ingestão de bebidas isotônicas (que contenham não só água, mas também íons). Para manter a homeostase do organismo durante o exercício físico, o sistema renal dispõe de diferentes mecanismos. Já foi descrito na literatura que, durante o exercício físico, as concentrações de vasopressina aumentam, aumentando, assim, a reabsorção da água. O exercício físico também pode alterar a angiotensina II, aumentando a conversão da angiotensina I em II, importante vasodilatador que atua na regulação da FG. Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos O Incrível Mundo dos Rins 3 / 4 Material Complementar O INCRÍVEL MUNDO DOS RINS! https://www.youtube.com/watch?v=m6NfXG5fI0s O Rim e o Néfron – Biologia Humana Leitura Efeitos da Hiponatremia Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE Chegada de Gabriela Andersen-Schiess Jogos Olímpicos de 1984 Clique no botão para conferir o conteúdo. O rim e o néfron | Biologia Humana | Khan Academy https://pt.wikipedia.org/wiki/Gabriela_Andersen-Schiess https://www.youtube.com/watch?v=bMxbqhtnWCk ACESSE http://globoesporte.globo.com/eu-atleta/saude/noticia/2015/02/cruzar-linha-de-chegada-de-joelhos-e-desumano-e-perigoso-nao-heroico.html GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de fisiologia médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. PITHON-CURI, T. C. Fisiologia do exercício. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. 4 / 4 Referências
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