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Linguagens Básica Interpretando textos literários Teoria Quando tratamos de interpretação de texto, é muito importante saber que para além dos textos não literários, existem os conceitos por trás na produção de um texto literário, ou seja, um texto com propósitos artísticos. Trata-se de uma forma de arte que tem como matéria-prima a palavra. Literário é todo texto que não apresenta compromisso com o real nem com os fatos: por mais que um autor tenha como referência a realidade, ele acabará recriando-a de alguma forma, colocando em seu texto sua interpretação subjetiva e sua visão de mundo particular. Tais textos não se propõem a cumprir uma função utilitária e informativa, compromissada com o mundo externo, o que não quer dizer também que eles não possam apresentar informatividade. Em segundo lugar, é importante apontar que, apesar de a literatura ser um recorte específico das diferentes manifestações artísticas, em diversos momentos da história, ela acompanhou as artes plásticas, apresentando-se em movimentos que também abordaram a pintura, a escultura e, para além das artes plásticas, o cinema. Vale ressaltar que os textos literários recorrem constantemente à linguagem conotativa, isto é, ao sentido figurado dos termos. Em um texto literário, deve-se: ● Observar quem fala no texto: eu lírico (poema), narrador, cronista..; ● Perceber o ponto de vista do enunciador, ou seja, a utilização da primeira pessoa (visão particular) ou da terceira pessoa (visão coletiva); ● Analisar os aspectos linguísticos (gramaticais), lexicais (escolha das palavras) e estilísticos (como se faz o uso da gramática); ● Relacionar ao contexto da época. Como entender o poema? O poema é um gênero textual composto por versos (cada linha de um poema), estrofes (agrupamento de versos) e necessita de um eu lírico (a voz que ‘fala’ em um poema). Uma característica comum à obra poética é o trabalho com a linguagem, visto que se trata de um texto mais curto. Veja os exemplos a seguir: Linguagens Básica Pneumotórax Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos. A vida inteira que podia ter sido e que não foi. Tosse, tosse, tosse. Mandou chamar o médico: — Diga trinta e três. — Trinta e três… trinta e três… trinta e três… — Respire. ………………………………………………………………………. — O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado. — Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? — Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino. (Manuel Bandeira) Favelário nacional Quem sou eu para te cantar, favela, Que cantas em mim e para ninguém a noite inteira de sexta-feira e a noite inteira de sábado E nos desconheces, como igualmente não te conhecemos? Sei apenas do teu mau cheiro: Baixou em mim na viração, direto, rápido, telegrama nasal anunciando morte... melhor, tua vida. (...) Aqui só vive gente, bicho nenhum tem essa coragem. (...) Tenho medo. Medo de ti, sem te conhecer, Medo só de te sentir, encravada Favela, erisipela, mal-do-monte Na coxa flava do Rio de Janeiro. Medo: não de tua lâmina nem de teu revólver nem de tua manha nem de teu olhar. Medo de que sintas como sou culpado e culpados somos de pouca ou nenhuma irmandade. Linguagens Básica Custa ser irmão, custa abandonar nossos privilégios e traçar a planta da justa igualdade. Somos desiguais e queremos ser sempre desiguais. E queremos ser bonzinhos benévolos comedidamente sociologicamente mui bem comportados. Mas, favela, ciao, que este nosso papo está ficando tão desagradável. vês que perdi o tom e a empáfia do começo? (...) (Disponível em: https://www.pensador.com/frase/MTYwMTQyMw/) Traços do texto narrativo Os elementos da narrativa são essenciais para o gênero em questão, pois é por meio deles que ocorrem as ações da história. Dividem-se em cinco: • Personagem: São as pessoas (ou seres) presentes na narrativa. De acordo com sua importância, são denominados como “protagonistas” (figuras principais) ou “coadjuvantes” (personagens secundários); • Enredo: É o tema/assunto da história, que pode ser contada de maneira l inear ou não-linear (respeitando ou não a cronologia). E é a partir dele que irá se desdobrar o decorrer da narrativa; • Tempo: Podendo ser cronológico (que segue uma linearidade dos acontecimentos) ou ocorrer de modo interior e digressivo, é importante ressaltar que toda a narrativa é transmitida em um certo tempo para que se façam os acontecimentos; • Espaço: É o local em que se desenvolve a narrativa. Podendo ser físico ou psicológico, determinará onde as ações irão acontecer; • Narrador: Também chamado de “foco narrativo”, é a “voz” do texto, ou seja, é quem irá transmitir as ideias presentes da narrativa; https://www.pensador.com/frase/MTYwMTQyMw/ Linguagens Básica Exercícios 1. Os textos literários costumam ter uma linguagem (A) subjetiva. (B) neutra. (C) desordenada. 2. O texto literário se caracteriza: (A) Por um caráter expressivo e trabalho estético com a linguagem. (B) Por seu objetivo de instruir o leitor. (C) Pelo compromisso com a transmissão de informações. (D) Pela intenção de fazer o leitor consolidar determinado conhecimento. 3. Leia os textos a seguir para responder à questão: Texto I Piratininga virou São Paulo: o colégio é hoje uma metrópole Os padres jesuítas José de Anchieta e Manoel da Nóbrega subiram a Serra do Mar, nos idos de 1553, a fim de buscar um local seguro para se instalar e catequizar os índios. Ao atingir o planalto de Piratininga, encontraram o ponto ideal. Tinha “ares frios e temperados como os de Espanha” e “uma terra mui sadia, fresca e de boas águas”. Os religiosos construíram um colégio numa pequena colina, próxima aos rios Tamanduateí e Anhangabaú, onde celebraram uma missa. Era o dia 25 de janeiro de 1554, data que marca o aniversário de São Paulo. Quase cinco séculos depois, o povoado de Piratininga se transformou numa cidade de 11 milhões de habitantes. Daqueles tempos, restam apenas as fundações da construção feita pelos padres e índios no Pateo do Collegio. Piratininga demorou 157 anos para se tornar uma cidade chamada São Paulo, decisão ratificada pelo rei de Portugal. Nessa época, São Paulo ainda era o ponto de partida das bandeiras, expedições que cortavam o interior do Brasil. Tinham como objetivos a busca de minerais preciosos e o aprisionamento de índios para trabalhar como escravos nas minas e lavouras. (Disponível em http://www.cidadedesaopaulo.com/sp/br/a-cidade-de-sao-paulo) Texto II Soneto sentimental à cidade de São Paulo Ó cidade tão lírica e tão fria! Mercenária, que importa - basta! - importa Que à noite, quando te repousas morta Lenta e cruel te envolve uma agonia Não te amo à luz plácida do dia Amo-te quando a neblina te transporta Nesse momento, amante, abres-me a porta E eu te possuo nua e fugidia. Linguagens Básica Sinto como a tua íris fosforeja Entre um poema, um riso e uma cerveja E que mal há se o lar onde se espera Traz saudade de alguma Baviera Se a poesia é tua, e em cada mesa Há um pecador morrendo de beleza? (Vinícius de Moraes) Sobre os textos, é correto afirmar, exceto: (A) O primeiro texto explora a linguagem não literária, caracterizada pelo uso da função referencial, que preza pela objetividade e imparcialidade da informação. (B) O segundo texto explora a linguagem literária, na qual podemos observar o emprego de recursos estilísticos e expressivos. Predominância da função poética da linguagem. (C) As notícias, artigos jornalísticos, textos didáticos, verbetes de dicionários e enciclopédias, anúncios publicitários e textos científicos são exemplos da linguagem não literária. (D) Os textos literários apresentam uma preocupação com o objeto linguístico. Suas características são bem delimitadas,como o uso da objetividade, a transparência e o compromisso em informar o leitor. 4. (Encceja) Ou isto ou aquilo O dono da usina, entrevistado, explicou ao repórter que a situação é grave. Há excedente de leite no país, e o consumo não dá pra absorver a produção intensiva: — Uma calamidade. Imagine o senhor que o jornal aqui do município reclama contra a poluição do rio, que está coberto por uma camada alvacenta. Não é nenhum corpo estranho não, é leite. Estão jogando leite no rio porque não têm mais onde jogar. Os bueiros estão entupidos. A população, como o senhor deve saber, é insuficiente para beber toda essa leitalhada ou comê- la em forma de queijo, requeijão, manteiga e coisinhas. — Insuficiente? Parece que a produção de crianças ainda é maior que a produção de leite. — Numericamente sim, mas não têm capacidade econômica para beber leite. Têm apenas boca, entende? Então nada feito. Se falta dinheiro aos pais dos garotos para adquirir o produto, ainda bem que se joga leite fora, em vez de jogar os garotos. (ANDRADE, C. D. O sorvete e outras histórias. São Paulo: Ática, 1994.) Explorando o recurso do diálogo no discurso ficcional, a narrativa remete a um significado que (A) reforça o senso comum a respeito do interior. (B) recorre ao humor como canal de crítica social. (C) questiona a credibilidade das notícias do jornal. (D) ironiza as práticas tradicionais da produção leiteira. Linguagens Básica 5. (Encceja) Código Nacional de Trânsito não ultrapasse quando a faixa for contínua não ultraje a pátria quando a farsa for contínua não vire a página quando a farsa for contínua não pule a pauta quando a farsa for contínua não mude a prática quando a farsa for contínua (ÁVILA, A. Discurso da difamação do poeta. São Paulo: Summus, 1978.) No poema, publicado na década de 1970, as expressões do código de trânsito metaforizam o(a) (A) medo de agir contra a situação política vigente. (B) necessidade de resistir ao discurso autoritário. (C) regulamentação do espaço no regime militar. (D) fortalecimento da indústria automobilística. Linguagens Básica Gabaritos 1. A Os textos literários tendem a recorrer à subjetividade, ou seja, a explorar aspectos emocionais dos seus respectivos personagens, narradores e eu líricos. O texto comumente objetivo, por outro lado, é o não literário. 2. A Todas as outras características (“instruir o leitor”, “transmissão de informações”, “consolidar determinado conhecimento”) são atribuídas aos textos não literários, logo, a alternativa correta é a A. 3. D A alternativa D está incorreta, pois as características “objetividade, transparência e compromisso em informar o leitor” são atribuídas aos textos não literários. A letra relaciona esses traços aos textos literários, o que é inadequado. 4. B O personagem, ao dizer que ‘ainda bem que se joga leite fora, em vez de jogar os garotos’, recorre à ironia e ao humor para trazer uma crítica social a respeito do desperdício de leite na cidade. Quando, logicamente, se pensa na incoerência em sobrar leite em um lugar que está com cada vez mais crianças, é levantado o fato de que essas crianças não têm condições financeiras para consumir esse produto. 5. B O texto, apesar do título ‘Código Nacional de Trânsito’ e das expressões ‘não ultrapasse’ ‘quando a faixa for contínua’, não aborda a temática literal do trânsito em si. O poema está dando um recado para o leitor, indicando a importância de permanecer resistindo (isto é, ‘não virar a página’) mesmo quando a farsa, no país, for contínua. Como o enunciado dá a dica de que se trata de um poema da década de 70, é necessário olhar para o contexto de ditadura da época para compreender, ainda mais, o caráter de resistência popular propagado pelo texto.
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