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3 Prefeitura do Município de São Paulo Marta Suplicy Prefeita do Município de São Paulo Gonzalo Vecina Neto Secretário Municipal da Saúde Fábio Mesquita Coordenador de Desenvolvimento da Gestão Descentralizada Márcia Marinho Tubone Gerente do Projeto Prioritário Acolhimento Organização Angela Aparecida Capozzolo Eunice E. Kishinami Oliveira Pedro Gilka Eva Rodrigues dos Santos Márcia Marinho Tubone Nelson Figueira Júnior Dezembro/2004 4 ÍN D IC E Apresentação.................................... 7 01. Acolhimento................................ 9 02.Criança ....................................... 19 03. Adolescente ............................... 47 04. Adulto......................................... 61 05. Mulher........................................ 83 06. DST/AIDS.................................. 97 07. Idoso......................................... 119 08. Mental ...................................... 129 09. Ocular ...................................... 147 10. Trabalhador.............................. 157 11. Bucal......................................... 175 12. População Negra..................... 189 13. Resgate Cidadão ..................... 197 14. Deficiência ............................... 213 15. Assistência Farmacêutica....... 241 16. Assistência Laboratorial......... 247 ÁREAS TEMÁTICAS: 5 A edição do “1º Caderno de Apoio ao Acolhimento: orientações, rotinas e fluxos sob a ótica do risco e vulnerabilidade” teve significativa receptividade nos serviços de saúde do município de São Paulo, bem como despertou o interesse de outros municípios do território nacional. Apesar das respostas positivas, não é sem controvérsia que um instrumento orien- tador como este chega aos profissionais de saúde em razão de provocar toda uma re-discussão sobre competências técnicas e organização dos processos de trabalho. O aperfeiçoamento deste Caderno pretende-se contínuo, com o objetivo de promover cada vez mais a melhoria da qualidade da assistência à saúde no muni- cípio, bem como de outros, no apoio ao processo de organização dos serviços para responder às necessidades da população e não exclusivamente às ofertas. O enfoque em necessidades de saúde é fundamental na viabilização dos prin- cípios do SUS. É tomar a Integralidade como o modo de conhecer a realidade e organizar a atenção à saúde, identificando prioridades tendo como base o perfil epidemiológico do território e a otimização dos recursos existentes nos e entre os serviços. É a busca da Universalidade se traduzindo na organização dos serviços de modo que se garanta o acesso não só para aqueles que procuram, mas também para aqueles que mais precisam. Para isso é preciso utilizar como ferramentas de trabalho a Equidade e o Aco- lhimento. O Acolhimento não como um ato individual mas coletivo, uma estra- tégia que visa a ampliação do acesso com abordagem de risco e vulnerabilidade, um diálogo construído dentro do serviço com os profissionais de saúde e com a comunidade fortalecendo o Conselho Gestor. Avançando nesta proposta, estamos editando o “2º Caderno de apoio ao Aco- lhimento: Orientações, Rotinas e Fluxos sob a ótica do risco e vulnerabilidade”, reelaborado com sugestões dos profissionais de saúde da rede municipal e novas contribuições que só fazem enriquecer o objetivo a que se propõe. Lembramos que a construção deste instrumento é sempre coletiva, num processo intenso de discussão, para que o aprimoramento de seu conteúdo continue contribuindo cada vez mais para a atuação cotidiana dos profissionais de saúde. Gonzalo Vecina Neto Secretário Municipal de Saúde de São Paulo 6 2º C A D E R N O D E A P O IO A O A C O L H IM E N T O - O R IE N T A Ç Õ E S , R O T IN A S E F L U X O S S O B A Ó T IC A D O R IS C O / V U L N E R A B IL ID A D E Coordenação: Márcia Marinho Tubone Equipe: Angela Aparecida Capozzolo Gilka Eva Rodríguez dos Santos Nelson Figueira Júnior 7 Apresentação A elaboração e publicação deste novo Caderno de Apoio ao Acolhi- mento tiveram como motivação primeira à possibilidade de disponibilizar para os serviços de saúde novas orientações, fluxos e rotinas, desta vez, da área de Saúde Mental, População negra e assistência Laboratorial incluídas neste Caderno e ausentes no anterior. Além disto, contém correções, atualizações e alterações nas propostas já existentes das outras áreas temáticas, a partir das contribuições sugeridas pelos profissionais de saúde da rede. O 1º Caderno demonstrou ser um importante referencial, tanto para a discussão e organização dos fluxos assistenciais nos serviços de saúde, bem como para subsidiar ações de educação permanente, favorecendo a reflexão conjunto entre profissionais de diferentes áreas e setores da assistência na organização do processo de trabalho e para a implantação do Acolhimento. O 2º Caderno de Apoio ao Acolhimento – orientação, rotinas e flu- xos sob a ótica do risco e vulnerabilidade, mais uma vez, é resultado da articulação do Projeto Acolhimento da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, das áreas temáticas e dos diferentes saberes do coletivo de trabalhadores da saúde da SMS, proporcionando um avanço deste instru- mento para contribuir na melhoria da qualidade da atenção à saúde. O 1º e o 2º Caderno destacam as dimensões biológicas, subjetivas e sociais no processo saúde-doença, que devem ser consideradas na iden- tificação do risco e vulnerabilidade para a priorização da atenção, como também para as ações e orientações de prevenção e diagnóstico precoce que devem ser oportunizadas pelos profissionais de saúde no momento do Acolhimento. Trata-se de um material que deve ser utilizado com criatividade, em conjunto com os diversos materiais já publicados pelo Ministério da Saúde, Secretaria Estadual e Municipal de Saúde, que orientam a atenção aos diferentes ciclos de vida e a vigilância à saúde. Pretende-se que o material apresentado neste 2º Caderno sirva mais uma vez como referencial, para que as equipes de saúde, de acordo com os recursos e a realidade local, possam romper com um modelo baseado na oferta e formule propostas na construção de um modelo que trans- formem o cotidiano e tenha como eixo o usuário e suas necessidades. Equipe do Projeto Prioritário Acolhimento Secretaria Municipal de Saúde São Paulo – dezembro/2004 11 IN T R O D U Ç Ã O No processo de implementação do Sistema Único de Saúde (SUS) deparamo-nos com os desafios da construção de um modelo de atenção que consiga responder às necessidades de saúde da população, garantindo o acesso universal aos serviços e a oferta de uma atenção integral de boa qualidade e resolutividade. Nesse sentido, torna-se de fundamental importância a reformulação das práticas de saúde e dos processos de trabalho que historicamente constituíram-se em um modelo hegemônico dissonante dos princípios da Universalidade, integralidade e equidade do SUS. O acolhimento foi definido como um dos projetos prioritários da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) em 2001, no contexto de reconstrução do Sistema Único de Saúde no nosso município. Inicialmente, a proposta centrou-se em estimular e promover refle- xões e ações de humanização dos serviços de saúde. A partir de 2003, o projeto avançou na perspectiva de transformar a organização do processo de trabalho nos serviços de saúde com o objetivo de ampliar o acesso à atenção integral de boa qualidade e resolubi- lidade, atuando de forma transversal em toda a rede de serviços. O acolhimento passa a ser considerado, fundamentalmente, como uma estratégia para pro- mover mudanças no processo de trabalho. Para detalhar esta proposta, teceremos aqui algu- mas consideraçõessobre o modo predominante de funcionamento e produção de cuidado que marcam e envolvem o cotidiano dos serviços de saúde, desta- cando-se em vários momentos a atenção básica. O cotidiano dos serviços de saúde .... Os serviços de saúde são os lugares onde são pro- duzidos os cuidados às pessoas portadoras de algum tipo de necessidade de saúde. A maneira como se organizam e se articulam os diferentes trabalhos e ações (atendimento de enfermagem, consulta mé- dica, curativo, inalação, atividades educativas etc.) para responder às necessidades de saúde, o modo como cada profissional de saúde opera seu trabalho 12 específico, como se relaciona com os usuários e com os demais colegas de equipe caracterizam o processo de trabalho e definem a produção de cuidado. O processo de trabalho em saúde é bastante complexo, rico e dinâmico. A forma como historicamente a rede de serviços de saúde foi constituída em nossa sociedade – com ênfase no consumo de medicamentos, exames e equi- pamentos biomédicos e com uma dicotomia entre os serviços responsáveis pelas ações de saúde pública (rede de saúde pública) e aqueles responsáveis pelas ações de assistência médica (assistência previdenciá- ria), bem como os modos predominantes de gestão e a organização do trabalho e questões relacionadas à formação, qualificação e inserção das diversas categorias profissionais na rede de serviços públicos, entre outras questões, delineiam os modelos de atenção, ou seja, como se estruturam as práticas de saúde. Em nosso município, apesar dos investimentos realizados, observam-se ainda diversos problemas nos modelos de atenção que se expressam por pro- cessos de trabalho pouco acolhedores e resolutivos. Os serviços de atenção básica, por exemplo, apesar da diversidade na origem e nas características das unidades (municipalizadas, ex-Qualis, mistas, PSF, PACs, tradicionais) possuem semelhanças no que diz respeito ao fato de ofertarem fundamentalmen- te consultas médicas agendadas para alguns grupos populacionais prioritários e apresentarem dificulda- des significativas para atender a população em suas intercorrências e problemas de saúde. A decisão sobre o acesso às consultas, em geral, é realizada pelo pessoal do balcão/expediente da uni- dade, predominando o critério de ordem de chegada para a distribuição de vagas, sem uma priorização por risco/gravidade. Pessoas que buscam por um atendimento no dia são encaixadas nas vagas exis- tentes até o preenchimento dessas, sendo as demais dispensadas ou encaminhadas para outros serviços, independentemente dos motivos que as levaram a buscar por atenção. Constata-se ainda diversas nor- mas e critérios rígidos, burocráticos que dificultam o acesso dos usuários ao acompanhamento nas unidades de saúde. No modo predominante de funcionamento dos serviços de saúde, observa-se uma subutilização da capacidade dos diversos profissionais de saúde no atendimento e na resolução dos problemas dos usu- ários. As respostas às necessidades de atenção estão centradas na oferta de consultas médicas, em geral, pouco articuladas ao trabalho e às ações dos demais profissionais de saúde. Constata-se poucos espaços coletivos para a reflexão, análise e troca de saberes entre os profissionais. Além disso, a abordagem dos diversos profissionais tende a ficar restrita aos aspectos biológicos e a realização de procedimentos. Os padrões de vínculo e responsabilização dos pro- fissionais resultam em pouco espaço para a escuta, para a interação e o diálogo com os usuários. O acolhimento é uma ação que pressupõe mu- danças nas relações que se estabelecem entre os profissionais e os usuários e mudanças nesse modo predominante de operar os processos de trabalho (Malta et al.1998; Franco; Bueno; Merhy,2000). O momento de encontro entre os trabalhadores e o usuário... Se há algo importante em qualquer serviço de saúde é a necessidade dos trabalhadores desenvolve- rem a capacidade de interação com quem demanda atenção. No caminho percorrido em um serviço de saúde, da entrada à saída, o usuário sempre está em busca de identificar alguém que possa conduzi-lo à almejada solução de seus problemas de saúde. Deseja ser acolhido, compreendido em suas necessidades, examinado, orientado e sentir-se confiante da atenção e responsabilização dos profissionais em manter, recu- perar ou restabelecer seu bem estar (Merhy, 1998). O trabalho em saúde se realiza sempre num en- contro entre duas pessoas – trabalhador e usuário. 13 Nesse momento de encontro acontece um jogo de expectativas, onde as falas, os gestos, a disponibilida- de para escutar, as diversas formas de comunicação permitirão ou não a acolhida das intenções que as pessoas colocam neste encontro. O momento de encontro clínico é fundamental para possibilitar a identificação da singularidade que o processo de adoecimento adquire para o usuário, as causas que o condicionam e determinam. Esse momento requer do profissional abertura para o estabelecimento de vínculo, para o diálogo, para a desenvolvimento de laços de confiança. Trabalhadores e usuários se influenciam e se afetam mutuamente nesse encontro. Ocorre uma mobiliza- ção de sentimentos e um jogo de identificações que interferem na aplicação dos conhecimentos e técnicas do trabalhador na percepção das necessidades de aten- ção. Há, de um lado, uma pessoa-usuário com sua história de vida, condição social, cultura, concepções, valores, sentimentos e desejos singulares que busca alívio da sua dor, do seu sofrimento e, de outro lado, uma pessoa-trabalhador também com sua história de vida, condição social, cultura, concepções, valores, sentimentos e desejos singulares, que é portador de um conhecimento técnico que pode intervir nesse sofrimento e nessa dor. A interação entre trabalhador e usuário é permeada pelos saberes, experiências de vida, sofrimentos e subjetividades de ambos. Esses aspectos inerentes à prática dos diversos pro- fissionais de saúde tendem a ser pouco valorizados e explicitados. Acostumou-se com um trabalho centra- do em procedimentos no qual o “enquadramento” dos problemas de saúde é quase sempre previsível e programado. Predomina a concepção entre os profis- sionais que a aplicação do conhecimento técnico de acordo com seus preceitos científicos, resultará sempre na resposta mais adequada, independentemente das características singulares de quem recaia sua ação. Assumir a importância de abrir espaços junto às ações de saúde com o objetivo de proporcionar mo- mentos de falas e escutas do usuário para se atingir um objetivo terapêutico (escutar em si já tem um efeito terapêutico) pode provocar certo desconforto para alguns profissionais, devido a um sentimento de despreparo para lidar com as incertezas e a imprevisibilidade destes encontros, relativamente, em aberto. O espaço de interação, no entanto, é relevante na medida em que se configura como espaço articulador de todo o campo de conhecimento da saúde. Neste sentido, envolve e engloba todo o profissional do estabelecimento de saúde, do porteiro ao médico. Todo o profissional pode realizar uma escuta de quem demanda atenção procurando entender o significado de sua queixa ou de seu sofrimento – todo o profis- sional pode cuidar e se responsabilizar, mesmo que não seja de seu núcleo técnico de conhecimento, para resolver o problema do usuário. Aqui reside o potencial para trabalharmos a busca ilusória de que são os exames e procedimentos que garantem a segurança na solução de problema de saúde, tanto para quem usa os serviços de saúde - o usuário que desempenha um papel fundamental na manutenção e ou recuperação de seu bem estar - como para o trabalhador de saúde. Como espaço articulador, não prescinde de proporcionar respostas com exames e procedimentos para os problemasde saúde ou mesmo de determinar sua gravidade, porém não se restringe a isso. Podemos dizer que os serviços precisam funda- mentalmente de profissionais que se vinculem, se responsabilizem pela resolução do problema do usuário e se comprometam em disponibilizar o conhecimento que possuem para a oferta de uma atenção integral às necessidades de saúde do usuário. Necessidades de saúde... O processo de saúde-doença se manifesta na vida dos indivíduos a partir das relações que se estabele- cem com as reais condições de vida, com as situações concretas associadas ao mundo do trabalho, à família e ao meio social e a partir das representações, do 14 significado e das vivências e experiências subjetivas de cada pessoa. Por mais simples que seja o problema de saúde que o usuário apresente ele estará sempre relacionado às dimensões subjetivas e sociais atre- ladas à sua condição existencial e não só ao aspecto biológico comumente identificado como causador de sofrimento e adoecimento. Envolve, assim, sempre inúmeras dimensões da vida. Ao pensarmos as necessidades de saúde podemos agrupá-las em quatro grandes conjuntos: necessidade de possuir boas condições de vida; necessidade de ter acesso a toda a tecnologia de saúde capaz de melhorar e prolongar a vida; necessidade de ter vínculo com profissional e equipe de saúde e a necessidade das pessoas obterem graus crescentes de autonomia no cuidado à própria saúde (Cecílio, 2001). A complexidade de fatores envolvidos no processo de saúde-doença exige uma organização do processo de trabalho para intervir na dimensão coletiva do processo saúde-doença e também para oferecer uma assistência integral às pessoas. Depende da integração de diversos serviços, de um trabalho de equipe e da atuação específica dos profissionais em diversas dimensões. Podemos perceber, assim, os limites da organização do trabalho predominante em nossos serviços de saúde. Nesse sentido, para responder e organizar os servi- ços de saúde de acordo com as necessidades de saúde da população de um território é importante que as pessoas tenham acesso aos profissionais de saúde, que suas demandas possam ser escutadas, analisadas e que a organização e a oferta de ações e atividades do conjunto dos trabalhadores seja norteada por essa demanda. Detalhando um pouco mais a nossa proposta O projeto acolhimento propõe que todos os usuários que procuram os serviços de saúde sejam escutados por um profissional de saúde. A existência de um espaço privativo e protegido, a atitude acolhe- dora do profissional é a chave para identificação dos motivos de busca por atenção e, conseqüentemente, para intervenções mais resolutivas. O objetivo é que o profissional consiga escutar o usuário, perceber as diversas dimensões (subje- tivos, biológicas e sociais) relacionadas ao motivo da procura por atendimento e identificar risco e vulnerabilidade, de maneira a orientar, priorizar e decidir sobre os encaminhamentos necessários para a resolução do problema do paciente. O que queremos dizer com isso? Uma demanda por atendimento médico, por exemplo, para o diagnóstico de gravidez, exige abor- dagens, ações e prioridades diferenciadas caso seja uma adolescente ou uma mulher adulta, caso a gravidez seja desejada ou não. Assim, o resultado do teste de gravidez de uma adolescente mesmo que negativo indica a necessidade de uma programação de retorno, da vinculação a um profissional da equipe (não neces- sariamente médico) e o desenvolvimento de ações que possibilitem orientações sobre sexualidade, proteção contra DST/AIDS, planejamento familiar entre outras questões. Dessa maneira, o acolhimento tem como finalidade conseguir identificar diversas dimensões relacionadas ao motivo da procura por atenção para definir projetos terapêuticos singulares. Uma escuta ampliada é particularmente impor- tante, pois atualmente, um número cada vez maior de tensões sociais e psicológicas se expressa como um sintoma corporal e leva a procura por atendi- mento médico. Alguns estudos indicam que parte significativa da demanda nos serviços de saúde (cerca de 50% a 60/%), é constituída por problemas que não se encaixam em alguma entidade nosológica (doença) e exigem outros tipos de intervenções, além da consulta médica (Almeida, 1998). Por exemplo, é freqüente pessoas buscarem consulta médica com queixas vagas e indefinidas que foram desencadeadas por situações e conflitos familiares, por sofrimentos decorrentes de dificul- dades sociais, de situações de desemprego, entre outros. Muitas vezes as pessoas estão em busca de um espaço para poderem falar de seus problemas e 15 preocupações e a intervenção mais adequada para esses casos é a oferta de vínculo, de espaço de escuta em atendimento individual ou em grupo. O momento do acolhimento é um momento importante para oportunizar ações de prevenção, de educação em saúde e para a detecção precoce de agravos tais como: identificação de sintomáticos respiratórios para o diagnóstico precoce de pessoas com tuberculo- se, identificação de pessoas portadoras de hipertensão através da medida da pressão arterial, atualização de carteira de vacinação, controle da periodicidade de realização de exame de Papanicolao para prevenção de câncer de colo de útero, entre outros. O momento do acolhimento é também um importante momento para se vincular o usuário ao serviço de saúde (ver o fluxo proposto para o acolhimento). Assim, considerando a complexidade dos fatores envolvidos na produção do adoecimento a atuação dos profissionais não pode se restringir apenas aos aspectos biomédicos e a realização de procedimentos. É essencial que os profissionais possam desenvolver uma clínica ampliada que inclua a doença, o sujeito e seu contexto. Uma clínica que consiga abordar e pensar intervenções nos aspectos biológicos, subje- tivos e sociais. Intervir no sofrimento que o usuário apresenta, mas também antecipar outras necessidades de saúde (Campos, 2003). Você deve estar se perguntando se isso é possível. Sabemos que a prática em saúde, por diversos motivos, vem se distanciando das emoções, dos sentimentos, da história de vida e das condições sociais das pessoas que traduzem possibilidades distintas de adoecer e manter a saúde. O modelo de pensamento predomi- nante entre os profissionais da saúde, decorrente de uma formação orientada por referenciais científicos, tende a considerar que a causa das “doenças” está na alteração do funcionamento dos órgãos do corpo. Há, portanto, uma dificuldade de serem consideradas outras dimensões que possam estar relacionadas ao processo de adoecimento, restringindo sua atuação, como vimos, aos aspectos biológicos. O envolvimento dos profissionais com o trabalho, a sua disponibilidade em estabelecer contato, em se vincular ao usuário e o compromisso em utilizar todo o conhecimento que possuem na oferta de uma atenção integral são importantes pontos de parti- da. No entanto, é fundamental qualificar a escuta, ampliar as abordagens e a capacidade resolutiva de todos profissionais. O material contido neste caderno bem como as diversas publicações e protocolos que orientam e normatizam a atenção aos diferentes ciclos de vida e a vigilância a saúde fornecem importantes subsídios para realização de avaliação de risco, para apoiar a atuação dos profissionais de saúde no acolhimento. Porém, ampliar as abordagens e as intervenções no cotidiano exige um processo constante de apropriação e troca de saberes entre os diversos profissionais da equipe bem como a existência de espaços nos serviços de saúde para a discussão coletiva de casos, para a análise e reflexão das práticas e do processo de trabalho. A gestão dos serviços de saúde tem um papel fundamental para viabilizar processos de educação permanenteno cotidiano dos serviços, para a cons- trução de novas formas de produção dos atos de saúde, enfim, para possibilitar processos de trabalho mais acolhedores e resolutivos. Não pretendemos, nem seria possível, neste texto aprofundarmos os vários referenciais que norteiam esta proposta de acolhimento. Apresentamos abaixo bibliografias que abordam com mais detalhes esses referenciais. A implementação de mudanças nas relações que se estabelecem entre os profissionais e os usuários e no modo predominante de operar os processos de trabalho é um grande desafio. Diversas experiências municipais em todo o território nacional têm demonstrado, no entanto, a viabilidade dessas mudanças e o papel estratégico do acolhimento na construção de modelos de atenção que tenham como eixo o usuário e suas necessidades. 16 Usuário procura a Unidade Expediente / balcão verifi ca demanda do usuário O usuário tem consulta ou grupo agendado Não tem consulta agendada e quer /necessita atendimento Procura atendimento específi co: sala de vacina, curativo, inalação, farmácia, coleta de exames Separa o prontuário e encaminha usuário para o atendimento Acolhimento Recepção técnica com escuta qualifi cada Encaminha usuário para o setor desejado Profi ssional de Saúde em atendimento individual: Escuta a demanda do usuário; Analisa sua necessidade de atenção; Identifi ca risco/ vulnerabilidade (biológico, subjetivo e social); Prioriza as ações/atividades • Orienta e resolve situações previstas no Caderno de Apoio ao Acolhimento e demais protocolos; • Oportuniza ações de prevenção; • Diagnóstico precoce; • Informa sobre atividades desenvolvidas na unidade; • Constrói vinculo; • Agiliza encaminhamentos Retaguarda imediata para casos agudos • Consultas: médica, enfermagem, odontológica, social, psicológica e outras. • Procedimentos: aferição de pressão, curativos, inalação, imunização, medicação, sutura. Área de abrangência • Consultas de rotina: médico; enfermagem; dentista e outros. • Grupos educativos • Visitas domiciliares • Vigilância • Matrícula • Agendamento • Orientação • Encaminhamento seguro com responsabilização Sim Não FLUXOGRAMA DE ACOLHIMENTO 17 ALMEIDA, E.L.V., apud Souza, A.R.N.D. For- mação Médica, Racionalidade e Experiência: O Discurso Médico e o Ensino da Clínica. Rio de Janeiro, 1998 [ Tese de Doutorado – Instituto de Psquiatria da URFJ). CAMPOS, G.W.S. Uma clínica do sujeito: por uma clínica reformulada e ampliada. In: Campos, G.W.S Saúde Paidéia. São Paulo. Hucitec, 2003. p51-68.* CAMPOS, G.W.S. O Anti-Taylor: sobre a invenção de um método para co-governar instituições de saúde produzindo liberdade e compromisso. Cadernos de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 14(4): 836-8700, out-dez,1998.* CAPOZZOLO AA. No olho do furacão: trabalho médico e o programa saúde da família. [Tese] Campinas (SP): Universidade Estadual de Campinas, Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva; 2003. CECÍLIO, L.C.O.; As Necessidades de Saúde como Conceito Estruturante na Luta pela Integralidade e Equidade na Atenção em Saúde; Rio de Janeiro; UERJ, IMS: ABRASCO; 2001. FRANCO, T.B.; BUENO, W.S.; MERHY, E.E. O Acolhimento e os Processos de Trabalho em Saúde: O Caso de Betim (MG); Rio de Janeiro, Cadernos de Saúde Pública/FIOCRUZ, junho/2000.* FRANCO, T.B. O Fluxograma Descritor e Projetos Terapêuticos para Análise de Serviços de Saúde em Apoio ao Planejamento: O Caso de Luz (MG) In: O Trabalho em Saúde: Olhando e experienciando o SUS no cotidiano; São Paulo, Hucitec, 2003. FRANCO, T. B.; MERHY, E. E. O uso de ferramentas analisadoras dos serviços de saúde: o caso do Serviço Social do Hospital das Clínicas da UNICAMP in MERHY, E.E. et al “O Trabalho em Saúde: olhando e experienciando o SUS no cotidiano”; São Paulo, HUCITEC, 2003. R E F E R Ê N C IA S B IB L IO G R Á F IC A S 18 FRANCO, T.B; PERES, M.A.A.; FOSCHIERA. M.M.P.; PANIZZI, M (org). Acolher Chapecó: uma experiência de mudança do modelo assisten- cial, com base no processo de trabalho; São Paulo, Hucitec, 2004. MALTA, D.C.; FERREIRA, L,M.; REIS, A .T.; MERHY, E.E.; Acolhimento um relato de expe- riência de Belo Horizonte. In: CAMPOS, C.R.; MALTA, D.C; REIS, A.T et al. Sistema Único de Saúde em Belo Horizonte: São Paulo: Xamã, 1998. Pp121-142.* MERHY,E.E.. Em busca da qualidade dos serviços de saúde: os serviços de porta aberta para a saúde e o modelo técnico assistencial em defesa da vida. In: CECÍLIO L. C. O. (org.). Inventando a Mudança na Saúde. São Paulo : Hucitec, 1994. p. 117-159. MERHY, E. E. Em busca do tempo perdido: a mi- cropolítica do Trabalho Vivo em saúde. In: MERHY, E. E.; ONOCKO, R. (Org.) Agir em saúde: um desafio para o público. São Paulo: Hucitec, 1997. MERHY, E.E. Um dos grande desafios para os ges- tores do SUS: apostar em novos modos de fabricar os modelos de atenção. In: MERY et al. O Trabalho em Saúde: olhando e experienciando o SUS no co- tidiano”; São Paulo, HUCITEC, 2003. MERHY, E.E. A perda da dimensão cuidadora na produção da saúde – uma discussão do modelo assistencial e da intervenção no modo de trabalhar assistência. In: CAMPOS, C.R.; MALTA, D.C; REIS, A.T et al. Sistema Único de Saúde em Belo Horizonte: São Paulo: Xamã, 1998. Pp121-142. Silva Jr. A.G. Modelos Técnico-assistenciais em saúde: o debate no campo da saúde coletiva. São Paulo: Hucitec, 1998. * estes textos estão publicados no caderno: Textos de Apoio ao Projeto Prioritário Acolhimento, disponível nas unidades de saúde. R E F E R Ê N C IA S B IB L IO G R Á F IC A S 21 Á R E A T E M Á T IC A - S A Ú D E D A C R IA N Ç A Elaboração: Ana Cecília Silveira Lins Sucupira Ana Maria Bara Bresolin Edith Lauridsen Ribeiro Eunice E. Kishinami Oliveira Pedro Patrícia Pereira de Salve Sandra Maria Callioli Zuccolotto Colaboração: Henriqueta Aparecida Norcia Nilza Maria Piassi Bertelli Márcia Freitas Maria Elisabete J.Raposo Righi Maria Laura Deorsola Naira Regina dos Reis Fazenda Tânia Jogbi 22 SITUAÇÕES DE RISCO O ciclo da criança compreende um período da vida do ser humano onde incidem diferentes riscos de adoecer e morrer, conforme o momento do processo de crescimento e desenvolvimento e a inserção social da criança. De um modo geral, a vulnerabilidade da criança aos agravos de saúde é maior nos dois primeiros anos de vida, especialmente no primeiro ano, em função da imaturidade de alguns sistemas e órgãos (sistema imunológico, neurológico, motor e outros), que vão passar por intenso processo de crescimento. Além disso, quanto menor a idade da criança, maior a dependência do adulto para os cuidados básicos com a saúde, a alimentação, a higiene, a estimulação e a proteção contra acidentes, entre outros. Planejar o atendimento sob o enfoque de risco sig- nifica um olhar diferenciado para a criança que está exposta a determinadas condições, sejam biológicas, ambientais ou sociais – as chamadas situações de risco – que a predispõem a uma maior probabilidade de apresentar problemas de saúde ou mesmo de morrer. Isso significa a necessidade de reconhecer as situações de risco e de priorizar o atendimento a essas crianças, nos serviços de saúde. Priorização da atenção à criança de risco A equidade pressupõe atendimento diferenciado de acordo com as necessidades de cada criança. Dessa forma, devem ser priorizados grupos de crianças que apresentem condições ou que estejam em situações consideradas de maior risco. Considera-se aqui que todas as crianças vivenciam situações de risco que variam de acordo com o seu grau de vulnerabilidade. Assim, propõe-se até os 2 anos de idade a denominação de criança de baixo risco, em vez do termo “criança normal” e crian- ça de alto risco, para aquela que apresenta maior vulnerabilidade diante das situações e dosfatores de risco, como, por exemplo, as que nascem com menos de 2.500 g. RISCOS AO NASCIMENTO 1. Critérios obrigatórios (presença de qualquer um dos seguintes critérios): • Peso ao nascer menor que 2.500g • Morte de irmão menor de 5 anos • Internação após a alta materna Obs: Os recém-nascidos que apresentam defi ci- ências estabelecidas desde o nascimento, doenças genéticas, neurológicas, malformações múltiplas também são consideradas crianças com proble- mas e que necessitam de cuidados diferenciados. 2. Critérios associados (presença de dois ou mais dos seguintes critérios): • Mãe adolescente abaixo de 16 anos • Mãe analfabeta • Mãe sem suporte familiar • Mãe proveniente de área social de risco* • Chefe da família sem fonte de renda • História de migração da família há menos de 2 anos • Mãe com história de problemas psiquiátricos (depressão, psicose) • Mãe portadora de deficiência que impossibilite o cuidado da criança • Mãe dependente de álcool e/ou drogas • Criança manifestamente indesejada * Área social de risco- definição de micro-área homogênea, segundo critério de risco, no processo de territorialização na subprefeirura. 23 Na medida em que a criança cresce diminui a vulnerabilidade biológica e, na idade escolar, dos 3 aos 10 anos, espera-se uma “calmaria biológica”. Entretanto, em determinadas condições de vida, essa tendência evolutiva de redução na incidência de agravos se modifica. Isso implica na necessidade de uma mudança de olhar na UBS para as situações de risco adquirido, que podem estar presentes em qualquer idade. RISCOS ADQUIRIDOS Presença de um dos seguintes critérios, em qualquer idade: • Desnutrição – abaixo do percentil 3 do NCHS* para peso e altura • Maus tratos • Após a segunda internação • Desemprego familiar e/ou perda absoluta de fonte de renda • Criança manifestamente indesejada • Criança com 3 ou mais atendimentos e observação em pronto-socorro em um período de 3 meses * National Center of Health Statistics, curva padrão adotada pela OMS PROMOÇÃO/ PREVENÇÃO DE SAÚDE Em todo atendimento à criança, seja programático ou eventual, é fundamental observar e avaliar: 1- O aspecto geral da criança e seu estado nutri- cional; 2- A presença de sinais que sejam indícios de violência contra a criança, como hematomas, equimoses ou queimaduras e outros. Reportar ao texto e fluxo de casos com suspeita de violência; 3- As relações que estabelece com o responsável/ cui- dador (vínculo familiar) e com o profissional; 4- As condições da alimentação (disponibilidade de alimentos/aceitação); 5- A situação da imunização: atualizar esquema de vacinação; 6- A freqüência à creche /escola . Socialização e atividades de lazer; 7- O seguimento em serviços de saúde. COMPROMISSOS DA UBS : “O que não pode deixar de ser feito” • Identificação e priorização do atendimento ao RN de alto risco; • Incentivo ao aleitamento materno; • Verificação dos resultados do teste de triagem neonatal; • Aplicação e orientação sobre as vacinas do es- quema básico; • Atendimento seqüencial do processo de cresci- mento, segundo cronograma proposto no Caderno Temático da Criança; • Orientações para uma alimentação saudável; • Acompanhamento do desenvolvimento da criança, com ênfase na observação das relações familiares e estímulo a um ambiente que propicie interações afetivas; • Atendimento aos agravos à saúde. 24 Identifi car risco:* ao nascimento ou adquirido * Ver critérios de risco 1 Ver protocolo de Enfermagem: Atenção à Saúde da Criança Bebê de baixo risco Bebê de alto risco Identifi car queixas Identifi car queixas Orientar vacinação Aleitamento materno Verifi car ganho de peso Cuidados gerais Seguir fl uxo da queixa específi ca Consulta de Enfermagem1 Consulta médica Agendar consulta de rotina de criança baixo risco* Agendar consulta de rotina de criança de alto risco* SimNão SimNão FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO PARA PUERICULTURA (MENOR DE 2 ANOS DE IDADE) Acolhimento 25 Queixa de coriza e/ou tosse e/ou obstrução nasal e/ou ronqueira e/ou canseira no peito Apresenta qualquer sinal geral de perigo? Sinal geral de perigo • Não consegue beber líquidos ou mamar no peito? • Vomita tudo que ingere? • Teve convulsões nas últimas 72 h? • Está sonolenta ou com difi culdade para despertar? Apresenta FR � ou tiragem subcostal Febre ou hipotermia (T menor ou igual a 35,5 °C) Consulta de Enfermagem 1 Consulta médica SimNão SimNão FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE PROBLEMAS RESPIRATÓRIOS AGUDOS CRIANÇA MENOR DE 2 MESES DE IDADE 1 Ver protocolo de Enfermagem: Atenção à Saúde da Criança Acolhimento 26 FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE PROBLEMAS RESPIRATÓRIOS AGUDOS CRIANÇA MAIOR DE 2 MESES DE IDADE Queixa de coriza e/ou tosse e/ ou obstrução nasal e/ou dor de garganta e/ou ronqueira e/ou canseira no peito Apresenta qualquer sinal geral de perigo? Sinais gerais de perigo • Não consegue beber líquidos ou mamar no peito? • Vomita tudo que ingere? • Teve convulsões nas últimas 72 h? • Está sonolenta ou com difi culdade para despertar? Apresenta FR � ou tiragem subcostal? Consulta médica Tem febre? Tem dor ou secreção no ouvido? ou tosse há mais de 15 dias? Atendimento de enfermagem1 Febre menos ou igual a 5 dias Tem dor ou secreção no ouvido? ou tosse mais de 15 dias? Consulta de Enfermagem2 Febre mais de 5 dias Consulta médica 1 Auxiliar de enfermagem sob a supervisão da (o) enfermeira (o) - Orientações Gerais 2 Protocolo de Enfermagem atenção à Saúde da Criança SimNão SimNão SimNão SimNão SimNão Acolhimento 27 FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE PROBLEMAS DE CHIADO NO PEITO Respiração curta e/ou falta de ar e/ou chiado no peito Criança menor de 2 meses ou 1º episódio em qualquer idade Sinal geral de perigo • Não consegue beber líquidos ou mamar no peito? • Vomita tudo que ingere? • Teve convulsões nas últimas 72 horas? • Está sonolenta ou com difi culdade para despertar? Apresenta sinal de perigo? Consulta médica Tem febre? FR normal e sem tiragem Consulta de Enfermagem Consulta de Enfermagem 1 Inalação com beta2 conforme receita anterior Não melhorou: FR ou mantém tiragem Melhorado: FR normal e sem tiragem Domicílio Consulta médica FR � ou com tiragem subcostal SimNão SimNão SimNão Acolhimento 1 Ver protocolo de Enfermagem: Atenção à Saúde da Criança 28 ASPECTOS IMPORTANTES NO ATENDIMENTO À CRIANÇA COM QUEIXAS RESPIRATÓRIAS AGUDAS 1. Identifi car a idade (menor ou maior de 2 meses) e seguir o fl uxo indicado. 2. Identifi car se a criança apresenta algum sinal geral de perigo e seguir o fl uxo indicado. 3. Se não houver sinal geral de perigo, perguntar: Há quantos dias tem as queixas? Tem febre ? Há quantos dias? Medida ou não? Quando não tem febre, a criança brinca e aceita a alimentação? Tem dor de ouvido? Tem cansaço ou difi culdade para respirar? Tem chiado no peito? 4. Como avaliar o estado geral / atividade da criança: • Está ativa, brincando – sem gravidade • Fica quietinha, caída, apenas durante a febre – pode não ter gravidade • Fica prostrada, gemente, sem querer brincar mesmo sem febre – sinais de gravidade 5. PRESENÇA DE FEBRE (defi nida como T maior ou igual a 37,5 º C) • Se sim, há quantos dias: < 5 dias, criança em bom estado geral, com tendência à melhora - possivelmente sem gravidade • Se febre há 5 dias ou mais, criança deve ser vista pelo médico ORIENTAÇÕES • Tranqüilizar a mãe / família; orientar banho morno; aumentar a oferta de líquidos e utilizar vestimentas leves. • O uso de antitérmicos pode ser recomendado quando a temperatura for maior de 37,8º C Paracetamol: 1 gota / Kg de peso / dose até 4 x /dia (intervalo mínimo de 4 horas entre as doses). Dipirona: meia gota / Kg de peso / dose até 4 x / dia, intervalo de 6 horas(dose máxima por dia: 60 gotas até 6 anos, 120 gotas de 6 a 12 anos e 160 gotas para maiores de 12 anos). • Procurar a unidade caso apareça qualquer sinal de alerta. 6. DOR DE OUVIDO Deve ser atendida pelo médico 7. VÔMITOS Se sim, quantas vezes? • Mais de 3 vezes em 2 horas – atendimento com enfermeira ou médico • Após a alimentação ou acesso de tosse – sem gravidade • Vômito em jato – deve ser atendida pelo médico 8. CHIADO NO PEITO • Se for o primeiro episódio de chiado no peito – deve ser atendida pelo médico • Se houver episódios repetidos de chiado no peito (sibilância), pode ser avaliada em consulta de enfermagem 29 9. DIFICULDADE PARA RESPIRAR – CANSAÇO NO PEITO • Contar a freqüência respiratória em 1 minuto e verificar a presença de tiragem sub-costal • Se FR e / ou tiragem subcostal deve ser atendida pela enfermeira ou médico Faixa etária “Respiração rápida” ou freqüência respiratória aumentada menores de 2 meses 60 ou mais respirações por minuto de 2 a 11 meses 50 ou mais respirações por minuto de 1 a menos de 5 anos 40 ou mais respirações por minuto de 5 anos ou mais 30 ou mais respirações por minuto 10. ORIENTAÇÕES GERAIS PARA QUEIXAS RESPIRATÓRIAS AGUDAS • Decúbito elevado • Dieta fracionada • Aumentar a oferta de água, suco de frutas ou chás para fluidificar a secreção e facilitar sua remoção • Lavagem nasal com soro fisiológico • Nebulização / Inalação NÃO DAR XAROPE OU ANTIBIÓTICO ORIENTAR SINAIS DE PERIGO E O RETORNO, CASO NÃO MELHORE APÓS 3 DIAS 11. SINAIS GERAIS DE PERIGO • Piora do Estado Geral (letargia ou prostração) • Aparecimento ou piora da febre • Não consegue ingerir líquidos ou alimentos • Presença de dificuldade para respirar Para as crianças com Sinais de Perigo, o profi ssional (médico ou enfermeiro) deverá providenciar as condições para que a criança seja atendida imediatamente no hospital . Estabelecer contato telefônico com o profi ssional da referência e enviar a Ficha de Referência explicitando o motivo do encaminhamento. 30 FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DA DIARRÉIA Verifi car se tem diarréia N° de evacuações, Duração dos episódios Aspecto das fezes A criança está com diarréia há mais de 14 dias? Atendimento de enfermagem 1 Menor de 2 meses de idade Maior ou igual a 2 meses Tem sangue nas fezes ? Consulta de Enfermagem 2 Consulta médica Verifi car estado de hidratação Consulta médica Sem desidratação Desidratação Desidratação grave Atendimento de enfermagem1 Consulta de Enfermagem 2 Consulta médica Plano B Plano A SimNão SimNão SimNão Acolhimento 1 Auxiliar de enfermagem sob a supervisão da (o) enfermeira (o) - Orientações 2 Protocolo de Enfermagem: Atenção à Saúde da Criança Queixa de diarréia 31 CLASSIFICAÇÃO DO ESTADO DE HIDRATAÇÃO SEM DESIDRATAÇÃO Criança ativa, Aceitando líquidos Turgor de pele normal PLANO A: TRATAR A DIARRÉIA EM CASA 1. Dar líquidos adicionais à vontade: • Amamentar com maior freqüência • Dar soro de reidratação oral • Dar água, chás, caldos, água de arroz, • Quantidade de líquidos adicionais: Até 1 ano: 50 a 100 ml após cada evacuação diarréica 1 ano ou mais: 100 a 200 ml após cada evacuação diarréica 2. Continuar a alimentar com a dieta habitual 3. Retornar se apresentar sinais de perigo. SINAIS DE PERIGO • Piorar o Estado Geral • Não conseguir beber líquidos • Ficar sem urinar por mais de 6-8 horas • Se a diarréia persistir por mais de 5 dias • Aparecer sangue nas fezes DESIDRATAÇÃO: DOIS OU MAIS DESSES SINAIS Criança irritada, inquieta Olhos fundos Bebe avidamente com sede Turgor de pele semipastoso (Sinal da prega: a pele volta lentamente ao estado anterior) PLANO B: TRO NA UNIDADE 1. Quantidade de soro oral nas primeiras 4 horas Demonstrar para a mãe como dar o soro Oferecer o soro em pequenos goles com colher Se vômitos, aguardar 10 min e continuar mais lentamente 2. Continuar a amamentar no peito 3. Reavaliar o estado de hidratação após 4 horas 4. Selecionar o plano adequado para continuar o tratamento DESIDRATAÇÃO GRAVE: DOIS OU MAIS DESSES SINAIS Criança letárgica ou inconsciente Olhos fundos Não aceita líquidos ou aceita muito mal Turgor de pelo pastoso – Sinal da prega: a pele volta muito lentamente ao estado anterior CONSULTA MÉDICA IMEDIATA Peso Soro < 6 200-400 6 - < 10 400-700 10 - < 12 700-900 12-19 900-1400 32 ASPECTOS IMPORTANTES NA AVALIAÇÃO DA CRIANÇA COM DIARRÉIA 1. Criança abaixo de dois meses deve sempre ser avaliada pelo médico. 2. Quando não houver tempo sufi ciente para acompanhar a TRO na unidade, pode-se iniciar a TRO e terminar a hidratação em casa, exceto nos seguintes casos: Fatores de risco individual • Criança menor de 2 meses • Crianças menores de 1 ano com baixo peso ao nascer • Crianças com desnutrição moderada ou grave Fatores de risco situacional • Dificuldade de acesso ao hospital • Mãe ou responsável pela criança com dificuldade de compreensão • Criança proveniente de microárea social de risco. Nesses casos, encaminhar para hidratação no hospital. 3. Orientações para retornar à unidade de saúde, se ocorrerem sinais de perigo SINAIS DE PERIGO • Piorar o Estado Geral • Não conseguir beber líquidos • Ficar sem urinar por mais de 6-8 horas • Se a diarréia persistir por mais de 5 dias • Aparecer sangue nas fezes 4. Indicações para encaminhamento para hospital ENCAMINHAR PARA O HOSPITAL QUANDO: • A criança não ganhar ou perder peso, após as primeiras 2 horas de TRO • Houver alterações do estado de consciência (comatosa, letárgica) • Vômitos persistentes (no mínimo 4 vezes em 1 hora) • Íleo paralítico (distensão abdominal) 5. Não se recomenda o uso de antiemético, porque a criança fi ca sonolenta, o que difi culta a aceitação do soro oral. 6. Não se deve utilizar antidiarréicos e antibióticos para diarréia. 7. Orientações para os casos de diarréia: • Incentivar o aleitamento materno • Orientar alimentos de fácil digestão, pastosos ou líquidos • Orientar higiene pessoal e dos alimentos • Orientar utilizar água filtrada • Orientar o destino adequado dos dejetos • Orientar o uso da TRO no início dos sintomas diarréicos Esclarecer sobre a evolução da diarréia que pode demorar até 14 dias. 33 FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE CONJUNTIVITE Orientações Gerais • Limpeza freqüente das secreções com água limpa e fria • Fazer compressas com água limpa e fria, várias vezes ao dia • Lavar bem as mãos antes e após qualquer manipulação dos olhos • Não utilizar água boricada ou outros produtos nos olhos • Usar toalha separada Queixa de secreção ocular Secreção clara Secreção purulenta Consulta de Enfermagem 1 Consulta médica Acolhimento 1. Ver orientação de conjutivite na Saúde Ocular 34 FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE FALTA DE APETITE 1 - Orientações Gerais: • Verificar quem assume os cuidados e a alimentação da criança • Observar dinâmica emocional e relações na família e na escola • Tentar identificar eventos que possam diminuir a aceitação alimentar • Verificar se a dieta é adequada para a idade • Verificar se a criança substitui a refeição de sal por leite • Verificar se a criança ingere guloseimas, salgadinhos, refrigerantes nos intervalos das refeições • Verificar se a criança freqüenta a creche. Pedir relatório da aceitação alimentar Apresenta falta de apetite há menos de 1 semana Consulta de Enfermagem Bom estado geral Orientações gerais 1 Consulta médica Agendamento de consulta médica Seguir fl uxo das queixas específi cas Consulta médica Febre e/ou Perda de peso e/ou Queda no estado geral Apresenta outras queixas associadas? SimNão Sim Não Sim Não Acolhimento 35 FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE DOR ABDOMINAL Orientações para a dor abdominal: • Observar evolução da dor: nº de episódios, desencadeantes, tendênciaevolutiva e dinâmica emocional / relações na família e na escola • Tranqüilizar e apoiar a família • Orientar massagem local • Verificar hábito alimentar e hábito intestinal • Evitar uso de medicamentos DOR ABDOMINAL É o primeiro episódio? Início há menos de 7 dias e febre, ou Vômitos, queda no estado geral Atendimento de enfermagem 1 Agendar consulta médica Consulta de Enfermagem Consulta médica Interfere nas atividades (falta à escola, deixa de brincar, fi ca pálida) SimNão SimNão SimNão Acolhimento 1. Auxiliar de enfermagem sob a supervisão da (o) enfermeira (o) 36 FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE CEFALÉIA Orientações para a cefaléia: • Observar evolução da dor: nº de episódios, desencadeantes, tendência evolutiva e dinâmica emocional / relações na família e na escola • Tranqüilizar e apoiar a família • Colocar a criança de repouso, em local tranqüilo, sem muita luminosidade • Utilizar analgésicos só se a dor for intensa CEFALÉIA É o primeiro episódio? Interfere nas atividades (falta à escola, deixa de brincar, fi ca pálida) Início há menos de 3 dias e febre, ou vômitos, Queda no estado geral Atendimento de enfermagem 1 Consulta de Enfermagem Consulta médica Agendar consulta médica SimNão SimNão Não Sim Acolhimento 1. Auxiliar de enfermagem sob a supervisão da (o) enfermeira (o) - Orientações 37 FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE DOR EM MEMBROS Orientações gerais para dor em membros: • Observar evolução da dor: nº de episódios, desencadeantes, tendência evolutiva e dinâmica emocional / relações na família e na escola • Tranqüilizar e apoiar a família • Orientar massagem local • Evitar uso de medicamentos DOR EM MEMBROS É o primeiro episódio? Interfere nas atividades (falta à escola, deixa de brincar, fi ca pálida) Início há menos de 7 dias e febre, ou difi culdade para andar, queda no estado geral Atendimento de enfermagem 1 Consulta de Enfermagem Consulta médica Agendar consulta médica Não Sim Não Sim SimNão Acolhimento 1. Auxiliar de enfermagem sob a supervisão da (o) enfermeira (o) - Orientações 38 FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE QUEIXA DE FALTA DE GANHO DE PESO • Verificar quem assume os cuidados e a alimentação da criança • Observar dinâmica emocional e relações na família e na escola • Tentar identificar eventos que possam diminuir a aceitação alimentar • Verificar se a dieta é adequada para a idade • Verificar se a criança substitui a refeição de sal por leite • Verificar se a criança ingere guloseimas, salgadinhos, refrigerantes em excesso • Verificar se a criança freqüenta a creche. Pedir relatório da aceitação alimentar FALTA DE GANHO DE PESO Verifi car duração da queixa Mais de um mês Menos de um mês Estado geral bom Sem outras queixas Queixas associadas Orientações gerais Orientação alimentar Consulta de Enfermagem Seguir fl uxo específi co Queda no estado geral Bom estado geral Agendar consulta de enfermagem (rotina) Consulta médica SimNão Acolhimento 39 FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE VÔMITOS VÔMITOS Vomita tudo o que ingere? Tem tosse ou diarréia ou chiado no peito ou febre? Consulta médica Consulta de Enfermagem Seguir fl uxo das queixas específi cas SimNão SimNão Acolhimento 40 FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE REGURGITAÇÕES Eliminação de alimentos sem náuseas ou esforço abdominal (Crianças menores de 12 meses) REGURGITAÇÕES Verifi car ganho de peso Bom ganho de peso Sem ganho de peso Orientações Gerais Orientações alimentares Orientações posturais Consulta de Enfermagem Agendar consulta rotina Orientações Identifi car outras queixas Agendar consulta de enfermagem Consulta médica SimNão Acolhimento 41 FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE FEBRE REFERIDA MENOR DE 3 ANOS FEBRE Verifi car idade Menor de 2 meses Maior de 2 meses Consulta médica Apresenta qualquer sinal geral de perigo? Ou T de 39º C ou mais Apresenta sinais gerais de perigo: • Não consegue mamar nem ingerir líquidos? • Vomita tudo que ingere? • Apresentou convulsões nas últimas 72 h? • Está sonolenta e com difi culdade para despertar? Se todas as respostas forem negativas Se uma das respostas for positiva Tem outra queixa? Consulta médica Consulta médica Seguir rotina de fl uxo da queixa referida Acolhimento Não Sim 42 FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE FEBRE REFERIDA MAIOR DE 3 ANOS FEBRE Apresenta qualquer sinal geral de perigo Apresenta sinais gerais de perigo: • Não consegue mamar nem ingerir líquidos? • Vomita tudo que ingere? • Apresentou convulsões nas últimas 72 h? • Está sonolenta e com difi culdade para despertar? Se todas as respostas forem negativas Se qualquer resposta for positiva Tem outra queixa? Consulta médica Bom estado geral e febre menos de 5 dias Estado Geral comprometido ou febre mais de 5 dias Seguir rotina de fl uxo da queixa referida Consulta de Enfermagem Consulta médica Identifi cado foco infeccioso? Cuidados de Enfermagem Retorno em 24 horas Consulta médica Não Sim SimNão Acolhimento 43 Orientações gerais para febre A temperatura corporal normal situa-se na faixa de 36 a 37 ºC Febre: - É defi nida como temperatura do corpo acima da média normal, associada ou não a tremores, calafrios, rubor de pele, aumento da freqüência respiratória e cardíaca. Adotamos, aqui, a T axilar maior ou igual a 37,5ºC. Hipotermia: - É defi nida como temperatura corporal abaixo de 35,5º C, pele fria, palidez, calafrios, perfusão capilar diminuída, taquicardia, leito ungueal cianótico. Calafrios: - Sensação de frio, contrações musculares quando a temperatura corporal cai abaixo do normal ou na fase de calafrios da febre. Orientações • Tranqüilizar a mãe / família. • Banho morno. • Aumentar a oferta de líquidos. • Utilizar vestimentas leves. • O uso de antitérmicos pode ser recomendado quando a temperatura for maior de 37,8º C: Paracetamol: 1 gota / Kg de peso / dose até 4 x /dia (intervalo mínimo de 4 horas entre as doses). Dipirona: meia gota / Kg de peso / dose até 4 x / dia, intervalo de 6 horas (dose máxima por dia: 60 gotas até 6 anos, 120 gotas de 6 a 12 anos e 160 gotas para maiores de 12 anos). • Procurar a Unidade caso apareça qualquer sinal de alerta. 44 FLUXO SAÚDE DA CRIANÇA 1 Seja qual for a origem das difi culdades da criança / adolescente, as intervenções terapêuticas devem visar sempre as três dimensões do problema: escola, família e criança/adolescente. CRIANÇA / ADOLESCENTE QUE NÃO APRENDE ACOLHIMENTO INVESTIGAR na UBS Como é a criança/ adolescente Como é a família Como é a escola Avaliação pediátrica e/ou equipe multiprofi ssional: • avaliação global: antecedentes neonatais, convulsões, doenças sistêmicas, medicamentos; • nutrição; • desenvolvimento: físico, motor, visão, audição, cognitivo, linguagem; • presença de sintomas emocionais: ansiedade, tristeza, irritabilidade, medos; • presença de alterações de conduta: agitação, hiperatividade, agressividade; • relacionamento com pais, pares, professores e outros. • o que pensa do problema da criança; • o que pensa da escola; • avaliação da dinâmica familiar. • conversar com o professor e com coordenador pedagógico; • contrapartida de escola. Família disfuncional Maus tratos Ambiente escolar disfuncional Problemas pedagógicos Intervenções dirigidas à família Orientação familiar Intervenções centradas no ambiente escolar Trabalho conjunto UBS/Escola Na UBS: • tratar problemas clínicos; • iniciar intervenção em: transtornos de conduta, ansiedade, depressão, hiperatividade; • orientar a família e a escola; • acompanhar a evolução Observação: Na suspeita de transtorno psiquiátrico grave, iniciar intervenção e avaliar capacidade técnica de atendimento da equipe da UBS Suspeita de retardo mental importante ou autismo Persistência ou piora do problema Avaliar necessidade de encaminhamento ou atendimentoconjunto com serviço especializado (CAPSi ou outro disponível) 45 CRIANÇA / ADOLESCENTE COM PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO Na UBS INVESTIGAR • que tipo de problema existe? • quanto prejuízo o problema causa à criança/adolescente ou à família? • o que desencadeia o problema? é relacionado a um contexto específi co? • quais são os pontos fortes da criança? • o que pensa a família? Comprometimento importante da rotina de vida da criança / adolescente e/ou família e/ou escola Sim Não Agendar na UBS atendimento com urgência relativa (7 a 10 dias) com pediatra e/ou equipe multiprofi ssional para investigar: • sintomas emocionais ansiedades, medos, tristezas, alterações apetite e sono • problemas de conduta agressividade, comportamento anti-social, agitação • atraso no desenvolvimento • difi culdades no relacionamento social • uso de drogas Agendar na UBS atendimento de rotina com pediatra ou equipe multiprofi ssional para investigar a queixa: • ouvir a família (mãe, pai e outros cuidadores) • ouvir a escola • conversar com a criança/adolescente Sintomas graves • destrutividade persistente e deliberada; • agressividade resultando em lesões corporais; • autotraumatismo deliberado; • desinibição social grave; • isolamento e retração persistente; • alucinações e ilusões; • tentativas de suicídio*; • uso abusivo agudo de drogas*. (* avaliar necessidade de atendimento de urgência – Pronto-Socorro) Avaliação e acompanhamento pediátrico e da equipe multiprofi ssional na UBS Orientação Sintomas relacionados com atraso do desenvolvimento retardo mental, autismo difi culdades de aprendizagem Persistência da queixa Melhora da queixa Avaliar necessidade de encaminhamento ou atendimento conjunto com serviço especializado (CAPSi ou outro disponível) Intervenções conjuntas escola/UBS Persistência ou piora do problema EM QUALQUER QUEIXA: • avaliar a família e a escola em busca de fatores de desencadeamento e manutenção do problema; • levantar aspectos positivos da criança/adolescente e da família para ressaltá-los; buscar pessoa de vínculo na família ou escola para ancorar a intervenção. FLUXO SAÚDE DA CRIANÇA 2 46 Garralda ME. Tratando a criança com problemas psiquiátricos. Trad. Buckup HT. São Paulo: Livraria Editora Santos, 1995. Goodman R, Scott S. Psiquatria infantil. Trad. Armando MG. SãoPaulo: Roca, 2004. GRISI, S. & ESCOBAR, AM. – Prática Pediátrica. Rio de Janeiro, Atheneu, 2001. MINISTÉRIO DA SAÙDE - Fundamentos técnico-científi cos e orientações práticas para o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento. Brasília, 2002. MINISTÉRIO DA SAÙDE - Agenda de Compromissos para a Saúde Integral da Criança. Brasília, 2004. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE & ORGANIZAÇÃO PAN - AMERICANA de saúde – Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI), 1999. SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE SÃO PAULO. Caderno Temático da Criança, São Paulo, 2003. SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE SÃO PAULO. Atenção à Saúde da Criança. Protocolo de Enfermagem (edição revisada). São Paulo, 2003. SUCUPIRA, ACSL et al - Pediatria em Consultório. São Paulo, Sarvier, 2000. R E F E R Ê N C IA S B IB L IO G R Á F IC A S 49 Elaboração: Ana Cecília S. L. Sucupira Ana Paula Marques Gabriela Junqueira Calazans Haroldo César Saletti Filho Paula Silveira Regina Guise Silvana Cappellini Á R E A T E M Á T IC A - S A Ú D E D O A D O L E S C E N T E 50 A atenção à saúde do adolescente e do jovem tem sido um importante desafio para a organiza- ção dos serviços de saúde e para a sociedade. Nas últimas décadas , a necessidade do estabelecimento de políticas para a adolescência tem – se destacado, considerando o grande continente populacional que estes grupos representam e também a importância do desenvolvimento integral de suas potencialidades. O Plano de Ação da Conferência Mundial de População e Desenvolvimento , realizada no Cairo, em1994,introduziu o conceito de direitos sexuais e reprodutivos e destacou os adolescentes como indi- víduos a serem priorizados pelas Políticas Públicas de Saúde. A IV Conferência Internacional sobre a Mulher, realizada em Beijing, em 1995 reiterou esta definição e trouxe recomendações importantes em relação à Violência Sexual. Alguns importantes marcos internacionais e na- cionais podem ser ressaltados como a Comemoração do Ano Internacional da Juventude em 1985, A Formação do Comitê de Adolescência pela Socie- dade Brasileira de Pediatria em 1978, a criação da Associação Brasileira de Adolescência (ASBRA) em 1989, o Projeto Acolher da Associação Brasileira de Enfermagem, em 1999 e 2000 e o Projeto AdoleSer com Saúde, em 2001, da Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia. Entendendo esta importância é que a Secretaria Municipal de Saúde, através da Área Temática de Saúde do Adolescente e do Jovem da Coordenado- ria de Desenvolvimento da Gestão Descentralizada, ressalta seu compromisso e atenção com esta faixa etária, traduzindo-se tal preocupação em ações continuadas e integradas.Ações estas que tem como principal porta de acesso a Unidade Básica de Saúde (vide Portaria 527/04 em anexo). Este fluxo reflete tal postura e com responsabilidade vem alertando os profissionais sobre os principais riscos e agravos a saúde do adolescente e do jovem, reafirmando importantes parcerias institucionais e tendo cuidado com a abordagem de questões mais A T E N D IM E N T O N O A C O L H IM E N T O D E A D O L E S C E N T E S N A S U N ID A D E S M U N IC IP A IS D E S A Ú D E 51 polêmicas. Também mostra uma continuidade inte- grada entre os diversos programas já desenvolvidos pela Secretaria Municipal de Saúde. Este fluxo para acolhimento do adolescente e do jovem na Unidade Básica de Saúde, tem dentre seus objetivos o de implementar os princípios do SUS como o de Humanização do Atendimento, universalidade do acesso com equidade. Vale ainda ressaltar que a demanda trazida pelo Adolescente é quase sempre reticente e, muitas vezes, camuflada na forma de “uma dor aqui ou ali sem maior importância” até que o adolescente sinta - se seguro para expressar o real motivo que o leva a pedir ajuda.Nesse sentido é importante criar um ambiente preservado e que assegure o sigilo, visto que os relatos de experiência de alguns profissionais referem – se aos “sumiços” desses pacientes após um primeiro contato. Esse sigilo deve ser mantido mesmo perante seus familiares, desde que não se incorra em riscos à vida dos adolescentes. Pais ou responsáveis só pode- rão ser informados sobre o conteúdo das consultas com o expresso consentimento dos adolescentes. A ausência de pais ou responsáveis não deve impedir o atendimento médico aos adolescentes – embora o envolvimento da família deva ser estimulado pelos profissionais de saúde -, seja nas consultas iniciais ou nas de retorno, sendo que em todas as situações em que se caracterizar a necessidade da quebra do sigilo, os adolescentes devem ser informados, tanto das condutas quanto de suas justificativas. Este primeiro contato, então, deverá exigir do pro- fissional uma escuta sensível para reconhecer o que está por trás do verbalizado nos primeiros minutos. Em se conquistando a confiança inicial (ela passará por algumas fases e vários encontros posteriores bem sucedidos para que se estabeleça de fato), cabe pensar quem é este sujeito que pede cuidado. Lembrando ainda que o adolescente, embora chegue pouco aos serviços de saúde porque adoece pouco, requer atenção através de ações de promoção à saúde e de prevenção de doenças. Estas ações podem se dar nas unidades de saúde ou em articulações com outros setores, principalmente a escola, local privilegiado de inserção dessa população. Estas intervenções devem combinar aspectos inovadores e estimuladorescom a criação de espaços de inclusão – tais como grupos de atendimento -, favorecendo processos de identificação e sensibilização para suas demandas. Ressalta-se ainda, a questão do início da atividade sexual nesta fase da vida. O profissional de saúde tem um papel importante como facilitador de espaços de educação sexual e prevenção das DST/AIDS, além da orientação sobre a gravidez e o aborto. Também é papel da equipe de saúde a orientação sobre métodos contraceptivos e a disponibilização destes métodos, alertando sempre os adolescentes de ambos os sexos da necessidade da dupla proteção e do uso responsável destes recursos (por exemplo, o uso criterioso da pílula do dia seguinte). Cabe,ainda, apontar que a Sociedade de Pediatria de São Paulo recomenda como campo de atuação do pediatra a faixa compreendida entre 0 e 20 anos incompletos - referendada pela Sociedade Brasileira de Pediatria e pela Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia. Outro aspecto a ser ressaltado nesta introdução, diz respeito à importância das ações e estratégias mul- tiprofissionais. As ações articuladas e desenvolvidas pela equipe resultam em intervenções mais eficazes. Finalmente, as vulnerabilidades para as quais os profissionais de saúde devem estar atentos quando aten- dem adolescentes e que podem estar presentes entre as queixas subliminares, numa abordagem inicial, são: • dificuldades nas relações familiares (separações, falta de diálogo, conflitos entre pais e filhos, al- coolismo de um ou ambos os pais, incesto/abuso, transtorno mental, etc.); • relação com a escola (evasão escolar, repetência, dificuldade de criação de vínculos, atos de vio- lência, agressividade, etc.); • uso de álcool e drogas lícitas e/ou ilícitas; 52 • início da vida sexual (verificar os cuidados com o próprio corpo e com o do outro, uso de proteção/ preservativo); • DST/AIDS; • gravidez (especialmente antes dos 16 anos, pro- babilidade de abuso sexual); • aborto e suas conseqüências (físicas e psicológi- cas); • exclusão social (atingindo especialmente as populações periféricas e levando a inserção no tráfico de drogas, com risco, entre outros, de morte precoce por homicídio); • tentativas/risco de suicídio; • acidentes de trânsito e outras situações de violência (como agentes e vítimas); • violência doméstica e sexual (ver texto e fluxo de casos com suspeita de violência). Apresentamos a seguir as queixas mais freqüentes que procura por atendimento (queixa imprecisa), atraso menstrual, corrimento vaginal, desconforto respiratório, dor ao urinar, dor de cabeça, dor em membros, dor no baixo ventre, relato de crise con- vulsiva, vômitos - e as respectivas sugestões de fluxos. Foram excluídas as queixas relacionadas à violência doméstica e sexual, abordadas pelo PP Resgate Cidadão com maior detalhamento, neste manual. Esperamos que este fluxo possa de fato se trans- formar como elemento importante de um trabalho mais resolutivo acolhedor. Publicado no D.O.M. em 20/08/04 Portaria 527/04 – SMS.G O Secretário Municipal da Saúde, no uso das atribuições que lhe são conferidas por Lei e, Considerando: 01 - Que a Lei Federal 8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente - afirma o valor intrínseco da criança e do adolescente como seres humanos, a necessidade de especial respeito às suas condições de pessoas em desenvolvimento, o seu reconhecimento como sujeitos de direitos e a prioridade absoluta à criança e ao adolescente nas políticas públicas e que os direitos assegurados aos adolescentes devem ser efetivados por meio de políticas sociais públicas, tal como é expresso pela Constituição Federal no art. 227, § I e pelo próprio ECA em seus art. 7º, 11, 17 e 18, 02 - O art. 103 do Código de Ética Médica, em que fica vedado ao médico “revelar segredo profissio- nal referente a paciente menor de idade, inclusive a seus pais ou responsáveis legais, desde que o menor tenha capacidade de avaliar seu problema e de con- duzir-se por seus próprios meios para solucioná-lo, salvo quando a não revelação possa acarretar danos ao paciente”, 03 - A Lei Mun. 11.288, de 21/11/92, que dis- põe sobre a obrigatoriedade da assistência de saúde aos adolescentes na Rede Municipal de Saúde do Município de São Paulo, ressaltando a perspectiva do trabalho em equipe multiprofissional, 04 - As recomendações da Sociedade de Pediatria de São Paulo - que orienta como campo de atuação do Pediatra a faixa compreendida entre 0 e 20 anos incompletos - referendadas pela Sociedade Brasileira de Pediatria e pela Federação Brasileira das Socie- dades de Ginecologia e Obstetrícia, de que para a boa prática da consulta aos adolescentes devem ser garantidas a confidencialidade e o sigilo das infor- mações, mesmo perante seus familiares, desde que não se incorra em riscos à vida dos adolescentes, de que pais ou responsáveis só poderão ser informados sobre o conteúdo das consultas com o expresso con- sentimento dos adolescentes, de que a ausência de pais ou responsáveis não deve impedir o atendimento médico aos adolescentes, seja nas consultas iniciais ou nas de retorno e de que em todas as situações em que se caracterizar a necessidade da quebra do 53 sigilo, os adolescentes devem ser informados, tanto das condutas, quanto de suas justificativas, 05 - As orientações da Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia para os ser- viços de orientação em saúde sexual e reprodutiva para adolescentes, que indicam a confidencialidade das informações, a privacidade no atendimento, a facilidade de acesso aos serviços, a boa comunicação, com linguagem simples esem julgamentos morais ou valorativos e a focalização do interesse da entrevista nos (as) adolescentes, sendo que a presença de pais ou familiares só deve ocorrer por solicitação do (a) adolescente como pré-requisitos mínimos para a boa qualidade da atenção à saúde, 06 - O Plano de Ação da Conferência Mundial de População e Desenvolvimento (CAIRO, 1.994) que introduziu o conceito de direitos sexuais e re- produtivos na normativa internacional e inseriu os adolescentes como sujeitos/públicos destas normas, programas e políticas públicas, sendo que na revisão deste plano, promovida pela ONU em 1.999 (CAI- RO +5), avançou-se na consideração dos direitos dos jovens, deixando de serem incluídos os direitos dos pais em todas as referências aos adolescentes, garantindo a estes os direitos à privacidade, ao sigilo, ao consentimento informado, à educação sexual no currículo escolar, à informação e assistência à saúde reprodutiva, 07 - As conclusões do Fórum 2.002 em Con- tracepção: Adolescência e Ética - organizado pela Unidade de Adolescentes do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas - FMUSP reunindo pro- fissionais de Saúde, da Justiça e de Comissões de Bioética - sobre a prescrição de contraceptivos a adolescentes menores de 14 anos, indicando que: a prescrição de contraceptivos aos adolescentes me- nores de 14 anos não constitui ato ilícito por parte do Médico, desde que não haja situação de abuso ou vitimização e que a adolescente detenha capaci- dade de autodeterminação - com responsabilidade e consciência a respeito dos aspectos que envolvem a sua saúde e a sua vida, 08 - O Código de Ética Profissional dos Assis- tentes Sociais em seus art. 16, 17 e 18, o Código de Ética do Enfermeiro - COREN/SP em seu art. 29, o Código de Ética Profissional dos Psicólogos em seus art. 21, 26 e 27, e, ainda, constando no código de ética de outras profissões do campo da saúde a importância do sigilo profissional na relação com os pacientes (incluídos crianças e adolescentes) e no cuidado com vistas ao estabelecimento de confiança para a intervenção em saúde, 09 - A importância de se propiciar condições adequadas de sigilo,escuta e cuidado aos adolescen- tes de ambos os sexos que procuram os serviços de saúde ou são por ele abordados (como nas ações do Programa Saúde da Família), para que se estabeleça uma relação de confiança de fato, que conduza à maior resolutividade das demandas identificadas e, 10 - Que na experiência de vida de adolescentes encontram-se a criação de identidade própria através de grupos de pertinência, reconhecimento de seu espaço social/exclusão social, entrada no mercado de trabalho, escolha educacional/profissional, as relações familiares e seus conflitos, a violência doméstica, o início da vida sexual, a eventual ocorrência de uma gravidez, as DST/AIDS, o aborto, o contato com drogas lícitas e ilícitas, ou seja, uma grande diversidade de experiências que interferem em suas condições de saúde e nas suas possibilidades de se cuidar, DETERMINA: I - Que os serviços de saúde sob a gestão municipal devem efetivar o direito de adolescentes e jovens, pessoas entre 10 e 24 anos, à atenção integral à sua saúde, respeitando as especificidades e as condições de vulnerabilidade relacionadas a este momento de vida. II - O acesso igualitário às ações e aos serviços 54 de saúde sem preconceitos de origem, raça sexo, orientação sexual ou quaisquer outras formas de discriminação ou privilégios. III - Que profissionais de saúde de todas as cate- gorias e especialidades devem realizar oatendimento do/da adolescente com sigilo e confidencialidade, preservado de qualquer interferência. IV - Que profissionais de saúde que abordam adolescentes nos serviços da rede municipal de saúde devem propiciar condições de sigilo e privacidade aos (às) pacientes adolescentes de forma a favorecer diagnósticos mais precisos e completos e condutas terapêuticas mais adequadas e continentes. V - Que se deve estimular a participação da família e/ou responsáveis na atenção à saúde dos adolescentes, bem como incentivar que os próprios adolescentes envolvam suas famílias e/ou responsáveis no acom- panhamento de seus problemas, assegurando, porém, que a relação dos profissionais de saúde com a família não deve preponderar sobre a relação entre os mesmos profissionais e os pacientes adolescentes. VI - Sempre quepossível, priorizar a abordagem da atenção multiprofissional à saúde do adolescente, considerando a integralidade das ações e estratégias que contribuam para a solução das demandas trazidas por adolescente e a preservação de sua intimidade. VII - Que as agendas das Unidades Básicas de Saúde contemplem o acompanhamento dos adolescentes, com ênfase no atendimento médico - notadamente de pediatras, ginecologistas, clínicos gerais e generalistas - e da oferta de outras ações de promoção da saúde e de prevenção dos agravos relacionados aos aspectos de vulnerabilidade dos (as) adolescentes, tais como gravidez, DST/AIDS e violência, favorecendo a aderência aos serviços de saúde e facilitando o intercâmbio de informações. VIII - Que a gerência das unidades de saúde deve indicar, através de avaliação de interesse e capacitação, os profissionais de saúde da equipe multiprofissional que devem se tornar referência no atendimento de adolescentes e de jovens, de forma que os mesmos possam ser identificados e reconhecidos pela popu- lação adolescente de seu território. IX - Que na atenção à saúde de adolescentes e jovens sempre deve ser realizada orientação relativa à sexualidade e à saúde reprodutiva e devem ser disponibilizados os métodos contraceptivos a todos os adolescentes atendidos, inclusive contracepção de emergência, conforme Port. 295/04-SMS.G, devendo ser dispensada atenção especial nos casos de relatos de resistência ao uso de preservativo, de experiências de gravidez, aborto, DST/AIDS e abu- so sexual - acolhendo suas dúvidas e propiciando espaço de troca isento, livre de preconceitos e de julgamentos morais. X - Que o fornecimento de métodos contraceptivos a adolescentes e jovens, principalmente, os preserva- tivos para prevenção de DST/AIDS e gravidez, deve ocorrer de forma simples e desburocratizada. XI - Desenvolver ações integradas entre os ser- viços de saúde e outras áreas, tais como a área da educação, trabalho, assistência social, articulando e complementando políticas e atividades. XII - Esta Portaria entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. ADOLESCÊNCIA, ANTICONCEPÇÃO E ÉTICA Diretrizes Sociedade Brasileira de Pediatria - SBP Federação Brasileira das Sociedades de Gine- cologia e Obstetrícia FEBRASGO Considerando o número cada vez maior de adolescentes iniciando a vida sexual e o risco que envolve a atividade sexual desprotegida, pediatras e ginecologistas precisam estar preparados para abordagem deste tema durante o atendimento dos jovens. Constitui grande desafio a adequada orienta- 55 çãosexual, que implica em enfatizar a participação da família, escola, área de saúde e sociedade como um todo, nesse processo contínuo de educação. Assim é necessário que os profissionais de saúde, tanto generalistas quanto especialistas, tenham conheci- mento sobre sexualidade e anticoncepção, incluindo os aspectos éticos que envolvem a prescrição dos métodos anticoncepcionais. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e Fe- deração Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), respaldadas pelo Esta- tuto da Criança e do Adolescente (ECA)1, ONU (Cairo + 5, 1999)2 e Código de Ética Medica3, e baseados nas resoluções do Fórum 2002 Adolescên- cia, contracepção e ética4, estabelecem as seguintes diretrizes em relação a saúde sexual e reprodutiva dos adolescentes. O adolescente tem direito à privacidade durante a consulta, ou seja, de ser atendido sozinho, em espaço privado e apropriado. Deve-se lembrar que a privacidade não está obrigatoriamente relacionada à confidencialidade. A confidencialidade é definida como um acordo entre o profissional de saúde e o cliente, no qual se estabelece que as informações discutidas durante e depois da consulta ou entrevista, não podem ser passadas a seus pais e/ou responsáveis, sem a per- missão expressa do adolescente. A confidencialidade apóia-se em regras de bioética médica, através de princípios morais de autonomia. A garantia de confidencialidade e privacidade, fundamental para ações de prevenção, favorece a abordagem de temas como sexualidade, uso de drogas, violência, entre outras situações. O profissional de saúde deve respeitar os valores morais, sócio-culturais e religiosos do adolescente que está sendo atendido. O sigilo médico é um direito garantido e reconhe- cido pelo, artigo 103 do Código de Ética Médica. Em situações de exceção, como déficit intelectual importante, distúrbios psiquiátricos, desejo do ado- lescente de não ser atendido sozinho, entre outros, faz-se necessária a presença de um acompanhante durante o atendimento. Nos casos em que haja referência explicita ou suspeita de abuso sexual, é conveniente a presença de outro profissional durante a consulta. Nessas situações o profissional está obrigado a notificar o conselho tutelar ou à Vara da Infância e Juventude, como de- termina o ECA - lei federal 8069-90 -Recomenda-se a discussão dos casos em equipe multidisciplinar, de forma a avaliar a conduta, bem como o momento mais adequado para notificação. O médico deve aproveitar todas as oportunidades de contato com adolescentes e suas famílias para promover a reflexão e a divulgação de informações sobre temas relacionados à sexualidade e saúde reprodutiva. A orientação deve abranger todos os métodos recomendados pelo Ministério da Saúde, com ênfase na dupla proteção (uso de preservativos), evitando-se qualquer juízo de valor. A prescrição de métodos anticoncepcionais de- verá levar em conta a solicitação dos adolescentes,
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