Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Ficha de leitura Boavida, Nuno e Moniz, António Brandão (2022), “Perfil e representação de trabalhadores de plataformas digitais em Portugal”, Sociologia: Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Número Temático -Trabalho, plataformas digitais, cuidados: perspetivas pluridisciplinares, pp. 32-61.DOI: https://doi.org/10.21747/08723419/soctem2022a3 Parte Pág. Palavra-chave Excerto Resumo Introdução 33 Externalização do trabalho Oferta e procura Plataforma online trabalho renumerado terceirização ‘Uberização’ precariado digital “A agência europeia Eurofound define uma plataforma digital de trabalho como uma plataforma online que faz a correspondência entre oferta e procura de trabalho remunerado (Eurofound 2018).” (p.34) “a expressão ‘Uberização’ tornou-se sinonimo de um conjunto vasto e mais ou menos homogéneo do ‘novo’ precariado digital” (p.34) “(…) as demais plataformas que operam em outros setores da economia digital não estão cobertas por regulamentações especificas.” (p.34) É realizada a exposição de como a Eurofound define a plataforma digital de trabalho, abordando as características deste trabalho: as partes envolvidas; a organização do trabalho renumerado e o modo de funcionamento do mesmo; e o seu objetivo, por exemplo. Além disso, são abordados aspetos como o conceito de ‘Uberização’ que se encontra relacionado com a precarização digital e como uma ameaça à forma de organização tradicional do trabalho. É de referir que se fala de regulamentações no tipo de economia digital e da falta de informação acerca de uma voz coletiva que discuta as condições de trabalho (ou falta delas). Metodologia 35 Investigação entrevistas falta de informação metodologia estudos de caso “(…) não existem referencias claras sobre a quantidade de trabalhadores a operar em plataformas digitais, quais as asuas características demográficas, quantas empresas Inicialmente refere-se a falta de informação sobre a quantidade de trabalhadores que operam através de plataformas de carater digital, acompanhando-se a ausência de dados sobre as suas características demográficas ou a quantidade de empresas https://doi.org/10.21747/08723419/soctem2022a3 estão registadas, entre outras informações.! (p.35) “Os guiões procuram também manter uma coerência logica com o setor económico, os locais de trabalho e o modelo de trabalho de cada plataforma.” (p.36) registadas. Refere-se ainda a forma como a investigação decorreu e a metodologia utilizada: análise de literatura e documentos relacionados com a temática das plataformas digitais; entrevistas exploratórias; estudos de caso, sendo estes selecionados através de critérios descritos ao longo desta parte do texto em análise. Ademais, refere-se o objetivo da utilização destas metodologias de pesquisa, além de serem apresentado o tipo de questões que completavam o guião das entrevistas. As plataformas digitais em Portugal 36 Crise económica Fontes alternativas de rendimento Género “o trabalho em plataformas digitais em países como Portugal cresceu consideravelmente após a crise económica (2007- 2013), pois muitas pessoas começaram a procurar fontes alternativas de rendimentos devido às altas taxas de desemprego (Pirone et al. 2020)” (p.36) “Entre os trabalhadores que exercem um trabalho significativo na plataforma, mas não como ocupação principal, o rácio mulheres/homens varia de 0,18 (ou seja, uma mulher para Inicialmente aborda-se o crescimento das plataformas de carater digital pós crise económica, referindo-se igualmente o motivo deste: a procura de uma fonte alternativa de rendimento. Fala-se ainda das diversas formas de trabalho a partir de plataformas deste tipo, informando-nos que alguns trabalhadores apresentam mais que um tipo de tarefa na plataforma de trabalho digital. Por fim, o autor do texto explica ao leitor que existe um fator diferenciador no que toca aos trabalhadores de plataformas digitais: o género – existindo mais homens do que mulheres a exercer este tipo de profissões. cada seis homens)” (p.37) Transporte individual de passageiros 37 Uber TVDE “Uberização” Economia digital “Lei Uber” Empresas operadoras de TVDE Sindicatos Legislação portuguesa Jornadas de trabalho Meios de produção Auto-perceções Interesses Ações coletivas Sindicato independente STRUP Contrato Coletivo de Trabalho “A "Uberização" tornou-se numa expressão e num modelo de trabalho que descreve a economia digital ou economia gig.” (p.37) “De facto, a “Lei Uber” não permite o recrutamento direto de motoristas por plataformas eletrónicas, mas sim através de “operadores”.” (p.38) “A legislação portuguesa não inclui um quadro legislativo específico sobre o trabalho em plataformas digitais (Rebelo 2019). Segundo Amado e Moreira (2019: 77) o modelo de negócio da Uber “pressupõe a inexistência de qualquer contrato de trabalho entre a empresa operadora da plataforma tecnológica e o motorista, devido ao aparecimento de outro ator em cena, o operador de TVDE”.” (p.39) “Há uma crescente consciencialização de que o Contrato É, desde logo, apresentada a força da Uber como a plataforma TVDE mais relevante em Portugal, existindo até o conceito de ‘Uberização’ – modelo de trabalho que caracteriza a economia digital – e uma “Lei Uber” aprovada pelo parlamento ao fim de muita insistência. A legislação aplicada a estas plataformas de transporte de passageiros determinou empresas operadoras de TVDE que funcionam como intermediário entre as empresas e os motoristas, não permitindo que o recrutamento de motoristas não possa ser realizado diretamente pelas empresas, mas sim por estes operadores. Por conseguinte, através de um dos estudos de caso e de algumas entrevistas, foi possível verificar a existência de dois sindicatos de motoristas TVDE: STRUP e SMTVDE. Além disso, são referidas duas associações empresariais: AEO-TVDE – representam frotas maiores – e APMVD – para frotas menores – não existindo grande informação sobre estas. Posto isto, são referidos os principais problemas e dificuldades apontados pelos entrevistados: inadequação da legislação – que não tem em conta este tipo de trabalho e que, por isso, faz com que o modelo de negócio da Uber pressuponha a inexistência de qualquer tipo de contrato com o Coletivo de Trabalho dos táxis poderia ser estendido aos motoristas TVDE, tal como o sindicato estrategicamente desejava.” (p.42) motorista, devido à existência de um terceiro elemento (o operador) -, remuneração, jornadas de trabalho longas, falta de recursos para adquirir e manter um carro de serviço – fraco acesso a meios de produção -, diversidade de autoperceções e dificuldade de se encontrar uma voz coletiva – por causa da falta de posições comuns. É também exposto o descontentamento dos motoristas com a entrada em vigor da “Lei Uber”, que faz com que os trabalhadores percecionem que quanto mais regulamentações existirem, menos receitas obterão. Os interesses reais das associações TVDE são apresentados como não representativos da totalidade dos interesses dos motoristas, pois estas associações representam as empresas e os trabalhadores, posicionando-se ao lado de ambos. É importante referir que uma das soluçõesapresentadas acerca da ação coletiva é a criação de um sindicato independente. Por fim, são apresentados mais problemas discutidos com o STRUP. Posteriormente, o autor do texto indica que existe uma consciencialização crescente de que o Contrato Coletivo de Trabalho dos táxis deveria estender-se aos motoristas TVDE. A entrega de comida 42 Uber Eats Entregadores Sobre-exploração Imigrantes Taxas Sistema de remuneração CGTP Alimentos Precários Inflexíveis Falsa autonomia Precaridade Subordinação Diversidade cultural Subcontratação vulnerabilidade “grande parte deles é do sexo masculino, jovem e migrante. Estes últimos parecem ser mais vulneráveis aos esquemas de sobre- exploração porque têm uma situação de residência irregular.” (p.43) “Em Portugal, os entregadores de comida de plataformas como Uber Eats e Glovo são profissionais independentes que recolhem encomendas dos restaurantes e as entregam aos seus consumidores finais. Os entregadores de comida são pagos por cada serviço, e podem escolher onde e quando vão trabalhar e utilizar o seu próprio meio de transporte (carro, moto, bicicleta).” “os entregadores de alimentos tornaram-se um fator relevante no mercado de trabalho e o seu exemplo negativo (do ponto de vista sindical) de "falso trabalho autónomo" sem direitos laborais e sem representação coletiva dos seus Começa por existir uma referência ao crescimento substancial do setor alimentar das plataformas digitais, acompanhando-se o aumento exponencial do número de entregadores de comida com recurso a plataformas online no nosso país, sendo referida a variedade de características sociodemográficas dos mesmos. Com isto é exposta a quantidade elevada de imigrantes nestes postos de trabalho que são mais vulneráveis à sobreexploração deste sistema. É explicado o modo de funcionamento das apps que envolve uma operação entre 3 participantes: consumidores, entregadores e restaurantes. Em termos de remuneração, é exposta a variabilidade da mesma, não existindo uma taxa fixa para o número de km efetuados pelos entregadores. Os entregadores são pagos por cada serviço, utilizam os seus próprios meios e escolhem quando e onde trabalhar (pois podem aceitar ou não um pedido). São assim trabalhadores independentes (é descrito a forma como trabalham). As horas de alta procura de serviço traduzem-se em maior rendimento por hora, sendo que, caso seja uma hora de pouca procura, a remuneração é menor. interesses, é altamente visível e pode motivar os sindicatos querer sindicalizar estes trabalhadores.” (p.44) “A representante da CGTP entrevistada afirmou que "se lermos para a definição de empregado no Código do Trabalho, é fácil perceber que esses trabalhadores da plataforma são empregados", e defendeu que a relação existente nas plataformas é de subordinação, pois os trabalhadores precisam da plataforma para exercer a sua função.” (p.45) “definição de empregado no Código do Trabalho, é fácil perceber que esses trabalhadores da plataforma são empregados", e defendeu que a relação existente nas plataformas é de subordinação, pois os trabalhadores precisam da plataforma para exercer a sua função.” (p.47) Os entregadores efetuam o seu trabalho numa forma de falsa autonomia, não tendo direitos laborais nem representação coletiva dos seus interesses. Não foi encontrada nenhuma associação especifica para entregadores de alimentos. É determinada uma relação de subordinação entre os entregadores e a plataforma, pois, sem ela, não têm forma de exercer a sua função. É apresentada a falta de vontade e coragem dos entregadores se queixarem das suas condições precárias, pois estes trabalhadores são, na sua maioria, imigrantes em situações vulneráveis. Há também uma dificuldade de reunir muitos entregadores, havendo, desta forma, uma falta de informação dos mesmos acerca da sobreexploração que sofrem. São igualmente apresentadas as razões pelas quais as pessoas escolhem ser trabalhadores de entrega de comida através destas plataformas, sobressaindo a flexibilidade de horários e facilidade de integrarem o mercado de trabalho. No entanto, alguns têm noção dos riscos que correm e que, ao não existir um contrato, não têm qualquer proteção. Todavia, um contrato de trabalho não permitiria aquilo que leva a maioria dos indivíduos a exercerem esta profissão: flexibilidade de horários e facilidade de integração no mercado de trabalho. Serviços profissionais digitais: freelancers 48 Freelancers digitais Projetos Jovens Altas qualificações Rendimentos imprevisíveis Jornadas de trabalho Precariedade Voz coletiva Facebook Movimentos alternativos Preços mínimos "Os freelancers digitais trabalham com plataformas digitais que os ajudam a concorrer a tarefas e projetos, bem como a obter clientes e a garantir o pagamento do trabalho executado.” (p.48) “Segundo um ativista, “os ganhos costumavam ser bons, mas a concorrência internacional torna os preços muito baixos”. Dois entrevistados relataram também longas jornadas de trabalho, rendimentos imprevisíveis e as comissões intermediárias podem chegar a 15%.” (p.49) “as transformações no mercado de trabalho associadas aos processos gerais de digitalização não representam uma preocupação atual para a maioria destas organizações (Rego 2018). A falta de conceitos concretos sobre como representar esses trabalhadores digitais, as novas gerações e onde, Nesta parte, é referida a existência de freelancers digitais que, ao trabalharem em plataformas de carater digital, conseguem obter clientes e expor os seus projetos. É igualmente apresentada a dificuldade de quantificar o número de profissionais com esta denominação, pois existe uma grande variedade de tarefas e a possibilidade de deslocação. Além disso, estes indivíduos podem trabalhar em diversas áreas adequadas a este tipo de trabalho (marketing, design e web, etc.). É referida a dificuldade de obter rendimento a partir de plataformas digitais como freelancer digital. Aliás, são descritas como dificuldades as longas jornadas de trabalho, rendimentos imprevisíveis e comissões intermediarias que podem chegar a 15%. Ademais, é referido que a concorrência internacional é uma ameaça para os ganhos dos portugueses. Existe igualmente uma falta de representação coletiva destes profissionais, existindo, no entanto, algumas formas de sindicatos tradicionais que podem representá-los: SNATTI, Sitese, Sindetelco, Sindel ou CESP – ou até mesmo algumas associações/movimentos. Porém, é apresentada a ideia de que estas organizações podem não são certamente algumas das motivações de muitos sindicatos em Portugal e outras associações e movimentos.” (p.51) interessar-se pelas questões que preocupam os trabalhadores desta área. Relativamente à voz coletiva, é exposta a vontade de alguns entrevistados de terem voz coletiva como alternativa às organizações já existentes. Em alguns grupos do Facebook ou outros sites são apresentas formas de orientação de alguns problemas apontados pelos Freelancers ao longo das metodologias aplicadas. Todavia, não é procurada uma forma de representação coletiva, mas sim movimentos alternativos em que são criados grupos onde separtilhem informações relativas a questões básicas e fundamentais (como preços a praticar ou experiências na área). Conclusões preliminares e discussão 52 Fenómenos digitais Intervenção do Estado Diversidade de perfis Vulnerabilidade Algoritmos Intervenção sindical Uber Contrato de trabalho Salário mínimo Precarização “No debate público existe o uso generalizado da expressão Uberização para identificar estes fenómenos digitais, o que se pode tornar num equívoco ao caracterizar as plataformas digitais de trabalho em Portugal.” (p.52) “a diversidade encontrada nos perfis dos trabalhadores de cada plataforma explica, em parte, a falta de interesse de movimentos sociais em Nesta última parte, é-nos dito que o conceito ‘Uberização’ como modo de identificar fenómenos digitais é algo errado, pois as plataformas digitais de trabalho abrangem mais setores além do transporte de passageiros (como alimentação, hotelaria, etc.). Além disso, a centralização da Uber no debate politico leva ao esquecimento de criar medidas que permitam regulamentar setores distintos. Além do referido, é explicado que a falta de interesse dos trabalhadores de plataformas tem origem na diversidade de perfis encontrados. Isto acompanha a dificuldade Sistema de classificação Poder de negociação Classificação Portuguesa das Profissões Entidades reguladoras Economia tradicional portuguesa representar estes segmentos da força de trabalho.” (p.52) “As pesquisas sobre o trabalho em plataformas digitais e a discussão política sobre a sua regulamentação permanecem muito centradas no transporte de passageiros como Uber, desconsiderando especificidades de entregas de alimentos e outros serviços profissionais” (p.54) “Um contrato de trabalho regular para todos os trabalhadores de plataformas digitais deveria fornecer acesso ao salário mínimo legal obrigatório.” P.54) “Há, assim, espaço para a intervenção da fiscalização do trabalho, incentivos fiscais a plataformas e trabalhadores e, eventualmente, uma revisão do código do trabalho.” (p.55) “As organizações que representam os trabalhadores digitais podem, assim, do diálogo com os indivíduos que desempenham funções neste tipo de trabalhos ou a vulnerabilidade da grande maioria. Também é importante destacar que um dos problemas apontados pelos trabalhadores destas plataformas é a falta de transparência de algoritmos. É novamente explicada a centralidade dos leis e informações sobre as plataformas digitais no transporte de passageiros (Uber), desconsiderando os restantes setores (alimentação, etc.) De seguida, fala-se dos benefícios que traria a existência de um contrato de trabalho – não definido por empresas intermediárias ou contratos de curto prazo ou zero horas – regular para todos os trabalhadores de plataformas digitais: salário mínimo legal, condições decentes, proteção no caso de acidentes ou desgaste, controle das jornadas de trabalho. O sistema de classificação apresenta-se como um problema a melhorar. Isto porque não existe uma demissão dos trabalhadores da plataforma, havendo apenas uma desconexão dos mesmos. Aliás, os parâmetros definidos pelo algoritmo são vistos como precários e pouco claros. conseguir promover uma nova legislação no Parlamento (…)” (p.56) “as entidades reguladoras devem convencer as plataformas digitais a cumprir com os padrões laborais, económicos e financeiros mínimos da economia tradicional portuguesa para evitar o dumping das empresas nacionais.” (p. 56) É apontada uma solução que pode permitir a manutenção de novos setores cujo funcionamento ocorra através de plataformas digitais: criação de uma nova categoria de trabalhadores digitais da CPP. O reconhecimento de profissões digitais levaria a que estes profissionais obtivessem poder de negociação. Por fim, as organizações que representam os trabalhadores de plataformas de carater digital são vistas como possibilidade de promoção de novas legislações no Parlamento que devam ter em conta os diferentes setores de funcionamento das plataformas. Assim, esta regulação deve permitir que sejam cumpridos padrões da economia tradicional portuguesa de modo a evitar-se o dumping de empresas portuguesas.
Compartilhar