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DESCRIÇÃO Estudo sobre fundamentos, conceitos e teorias acerca da teoria geral do delito. PROPÓSITO Compreender os desdobramentos acerca da teoria do delito, importante para a consolidação do entendimento do Direito Penal, por meio de uma construção dogmática e prática e dos conceitos básicos penais. PREPARAÇÃO Antes de iniciar este conteúdo, tenha em mãos o Código Penal. OBJETIVOS MÓDULO 1 Definir conceitos gerais da teoria geral do delito e suas características fundamentais MÓDULO 2 Identificar as características do fato típico MÓDULO 3 Descrever a ilicitude e suas causas excludentes MÓDULO 4 Identificar os elementos da culpabilidade e as modalidades de erro INTRODUÇÃO Neste conteúdo, vamos estudar aspectos relativos à teoria do delito. Os ditames constitucionais são o primeiro ponto a considerar nesse assunto, uma vez que, para ser levada à esfera penal, a inadequação de determinada conduta necessariamente terá de estar expressa neles. Conheceremos, então, os limites de atuação do Estado e os determinantes para o ato constituir-se um crime. Também observaremos o contexto, o sujeito, o objeto da infração, as implicações e o modo como suas variáveis são consideradas na análise jurídica. Esses elementos ajudam na compreensão do conceito de crime e dos princípios relacionados ao delito. MÓDULO 1 Definir conceitos gerais da teoria geral do delito e suas características fundamentais INFRAÇÃO PENAL PRINCÍPIOS PENAIS APLICÁVEIS À TEORIA GERAL DO DELITO Para compreender o Direito Penal e sua aplicabilidade, é necessário partir dos princípios balizadores, que limitam a atuação do Estado por meio de garantias constitucionais. Tais limitações estão diretamente ligadas à dignidade da pessoa humana, protegida e preconizada pela Constituição Federal de 1988. Assim, os princípios penais estão organicamente ligados aos ditames constitucionais, visto que, ou estão relacionados, ou são produto de decorrências lógicas do conceito central constitucional de dignidade. Dessa forma, serão demonstrados os mais relevantes princípios penais que dialogam, direta ou indiretamente, com essa lógica constitucional. PRINCÍPIO DA OFENSIVIDADE PRINCÍPIO DA LEGALIDADE PRINCÍPIO DA OFENSIVIDADE O princípio da ofensividade, também conhecido como princípio da lesividade ou proteção ao bem jurídico, determina que, para que o Direito Penal atue, é necessário que haja uma conduta que lesione um bem jurídico ou traga risco a este, desde que seja direcionada a terceiro(s). PRINCÍPIO DA LEGALIDADE O princípio da legalidade, também conhecido como princípio da reserva legal, está previsto no artigo 1º do Código Penal (CP) e artigo 5º, inciso XXXIX da Constituição Federal. Tais dispositivos apontam que “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. A referida expressão advém dos brocardos em latim nullum crimen sine lege e nullum poena sine lege, que significam que não há crime ou pena sem anterior que o defina. Conforme preleciona Bitencourt (2017), o princípio da legalidade tem como função primordial a efetiva limitação do poder de punir do Estado, visto que nenhum fato deverá ser considerado crime e nenhuma pena poderá ser imposta sem que haja uma lei prévia que defina tal ato como crime e demonstre limites para sua sanção adequada. O princípio da legalidade está ligado a quatro aspectos limitadores do Direito Penal, observando o fato de que a lei deverá ser (SANTOS, 2017): Prévia Será prévia, pois a lei penal deverá ser anterior ao fato. Escrita Será escrita em razão da codificação das leis, visto que o nosso sistema jurídico não se baseia nos costumes, mas nas leis escritas. Estrita Será estrita na medida em que não deverá ser utilizada analogia para aumentar o alcance do tipo penal, ou seja, a lei penal deverá ser específica quanto a que se refere. Certa Será certa ao demonstrar a mensagem de forma clara e lógica, proibindo, assim, indeterminação e vagueza do tipo penal. • Princípio da culpabilidade Considerado o princípio mais importante de caráter material, o princípio da culpabilidade diz respeito a como imputar a conduta a um agente. Aqui, o Direito Penal estaria limitado a atingir alguém somente na hipótese em que esteja presente o elemento subjetivo na conduta, qual seja, dolo ou culpa (BITENCOURT, 2017). A culpabilidade, enquanto princípio, possui várias consequências práticas. A consequência mais latente da culpabilidade é a proporcionalidade entre delito e pena, também conhecido como a limitação do quantum (Quantidade) da pena. Tal consequência se impõe na medida em que o princípio não atua como fundamento da pena imposta, mas como seu limite, ao considerar a conduta do agente de acordo com sua gravidade. Nesse sentido, a culpabilidade teria como função impedir a responsabilização objetiva no Direito Penal. A mera causação de um fato naturalístico nunca vai ser condição suficiente para a imputação, dado que a coação física irresistível, por exemplo, descaracteriza o ato por parte do coagido, que é mero meio do coator. Dessa forma, a exigência de dolo ou culpa para a coação decorre da culpabilidade, o que veda o Estado de punir condutas de forma objetiva, apenas pela consequência gerada, independente de dolo ou culpa. A reprovabilidade do ato é necessária, contudo, ela possui limites. Diante disso, observa-se que a punição é eminentemente individual e não pode transcender, ou seja, passar de uma pessoa para a outra. Assim, a culpabilidade vem como garantia de que a pena não poderá passar da pessoa do condenado. Foto: Shutterstock.com Partindo disso, a culpabilidade passa a ser considerada um dos maiores argumentos contra a responsabilidade da pessoa jurídica. Tal garantia exige que o ato criminoso tenha relação subjetiva (dolo ou culpa), bem como haja a individualização da punição na medida da relevância da contribuição para o ato criminoso, além das consequências do delito de forma proporcional (BITENCOURT, 2017). Somente a pessoa física supriria tais requisitos para a responsabilização e consequente punição. • Princípio da intervenção mínima O princípio da intervenção mínima, também conhecido como última ratio (Última razão) é considerado a garantia de que o Direito Penal somente será acionado em última hipótese, ficando atrás de outros meios de resoluções de conflitos. É um postulado político-criminal, uma limitação ao legislador, dado que este só poderá intervir por meio do Direito Penal em última opção, e em detrimento das outras áreas do Direito. Da intervenção mínima, nascem dois subprincípios que dialogam com a ideia de limitação da esfera de atuação do Direito Penal. SUBSIDIARIEDADE FRAGMENTARIEDADE SUBSIDIARIEDADE Garante que o Direito Penal será utilizado de forma subsidiária, ou seja, apenas quando os demais ramos do Direito se mostrarem insuficientes, o Direito Penal poderá ser aplicado. FRAGMENTARIEDADE Significa que os bens jurídicos não necessariamente serão protegidos de forma total, visto que a proteção é fragmentária. Ou seja, aqui o Direito Penal só deverá se preocupar com violações graves aos bens jurídicos protegidos pelo ordenamento jurídico. Desse modo, as demais violações poderão ser resolvidas pelas outras áreas do Direito. • Princípio da proibição (vedação) do excesso O princípio da proibição (ou vedação) do excesso é um princípio que parte do princípio constitucional da proporcionalidade. O Superior Tribunal de Justiça já entendeu que a aplicação de prisão preventiva em certas situações viola a proibição de excesso. É considerado um princípio constitucional implícito criado e aplicado pelos tribunais superiores, em especial pelo Supremo Tribunal Federal. • Princípio da insignificância O princípio da insignificância, também conhecido como “bagatela”, está relacionado diretamente com o grau de significância da lesão ao bem jurídico tutelado pelo Direito Penal. Assim, a insignificância está relacionada à impossibilidade de o DireitoPenal intervir em fatos que não sejam graves o suficiente para demandar a sua intervenção. Partindo desse conceito, observa-se que o referido princípio parte da ideia de atipicidade material do fato. Nesse sentido, ante uma análise específica do conceito de crime e da tipicidade, o injusto penal deverá conter tipicidade formal e tipicidade material para a constatação de um fato típico objetivo. Para tanto, observa-se sua diferenciação: TIPICIDADE FORMAL Conduta + resultado naturalístico (nos crimes materiais) + nexo causal + adequação típica (do fato à letra da lei). TIPICIDADE MATERIAL Criação de risco proibido relevante (conduta ofensiva) + alto grau de reprovabilidade da conduta + risco social + lesão ao bem jurídico que deverá ser concreto, transcendental, não insignificante, intolerável, objetivamente imputável ao risco criado, e estar no âmbito de proteção da norma penal. FATO TÍPICO OBJETIVO Tipicidade formal + tipicidade material. Nesse sentido, o princípio da insignificância veio para resolver alguns problemas quanto à verificação do critério típico material nos casos em que formalmente o delito existia (a conduta se adequava ao que a lei proibia), contudo não era materialmente típico, pois a lesão ao bem jurídico era mínima, quando não inexistente. Dessa forma, foram criados requisitos pela doutrina, e absorvidos pela jurisprudência, em especial pelo Supremo Tribunal Federal, para que sejam aferidos na análise da conduta para, ao final, se conduzir à atipicidade material do fato. São requisitos cumulativos: a) A conduta minimamente ofensiva (a conduta típica não poderá ser ofensiva). b) Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento do agente. c) Ausência de risco/periculosidade social do ato. d) Lesão inexpressiva ao bem jurídico. Assim, atendendo a todos esses requisitos, poderá ser enquadrada a conduta ao princípio da insignificância. Ao considerar a incidência do referido princípio, afasta-se a tipicidade material. O fato será considerado atípico e, portanto, não haverá crime. CONCEITOS DE CRIME Crime é definido como a conduta típica, ilícita e culpável. Destaca-se que a punibilidade não integra a estrutura do delito, em razão de ela ser a consequência jurídica da violação da norma penal incriminadora. Assim, a partir do panorama histórico apresentado, seguimos para os principais conceitos de crime trazidos pela doutrina. Para isso, Bitencourt nos traz a definição dos conceitos clássico de delito, neoclássico de delito e o conceito finalista de delito. Quanto ao conceito clássico de delito, Bitencourt (2017) aponta que Von Liszt e Beling foram os autores que desenvolveram o conceito, ao dialogar a ação com o resultado, a partir do pensamento jurídico do positivismo científico. Para eles, o conceito de ação estava baseado em um entendimento naturalístico, no qual a vinculação entre a conduta do agente e o resultado naturalístico estava relacionada ao nexo de causalidade. Ainda segundo Bitencourt, o conceito clássico de delito seria composto por quatro elementos estruturais, quais sejam: Ação Era entendida como um “conceito puramente descritivo, naturalista e causal, valorativamente neutro”. Aqui, a ação era tida de forma objetiva, como o elemento objetivo necessário para a causação do resultado externo. Tipicidade Era vista como um aspecto externo da ação, uma vez que é composta pelos aspectos objetivos dos fatos descritos na norma penal. Nesse caso, as circunstâncias subjetivas (de caráter interno do delito) ficavam de fora, por pertencerem à culpabilidade. Antijuridicidade Era considerada um “elemento objetivo, valorativo e formal”. Aqui, era analisado o juízo de desvalor da conduta (valoração negativa), dado que eram verificados os elementos objetivos como a provocação de resultados externos negativos, repudiados juridicamente. Culpabilidade Era analisada como o elemento subjetivo do crime. Nesse caso, ela se limitava a apontar descritivamente a comprovação da existência de um vínculo subjetivo entre o agente e o fato. Partindo disso, o grau de intensidade de nexo psicológico ensejaria nas formas de culpabilidade, podendo ser culposas ou dolosas. Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal Quadro: Os 4 elementos estruturais que compõe o conceito clássico de delito. Adaptado por Deborah Luíse Santos Alves. O segundo conceito de delito trazido por Bitencourt (2017) é o conceito neoclássico de delito, que foi desenvolvido por Reinhart Frank a partir da concepção trazida por Liszt e Beling. Esse novo conceito partia de uma influência direta da filosofia neokantiana, ao dar relevância aos aspectos normativos e axiológicos, sem alterar o conceito de crime como ação: TÍPICA ANTIJURÍDICA CULPÁVEL Aqui, Bitencourt aponta que a relevância formal atribuída ao conceito clássico foi substituída pelo “pensamento jurídico circunscrito em si mesmo por um conceito de delito voltado para os fins pretendidos pelo Direito Penal e pelas perspectivas valorativas que o embasam”. Em razão dessa mudança de foco, os elementos que compunham o delito sofreram transformações de ordens conceitual e prática. As mudanças se seguiram da seguinte forma: Ação Passou a não admitir somente o elemento objetivo (resultado naturalístico), uma vez que havia a possibilidade de acrescentar elementos e detalhes específicos na norma, o que favoreceu a caracterização de delitos omissivos, culposos ou na forma tentada. Tipicidade Passou a ser composto por elementos descritivos (exteriores), elementos normativos e elementos subjetivos, tornando-se “tipo de injusto”. Antijuridicidade Abandonou a ideia formalista de contradição entre a conduta e a norma, para trabalhar o conceito material de antijuridicidade. Tal conceito tinha como ideia principal a representação de “danosidade social”, e permitia a análise de aspectos axiológicos e teleológicos para a “interpretação restritiva de condutas antijurídicas”. Culpabilidade Recebeu o conceito de “reprovabilidade pela formação da vontade contrária ao dever”, propiciando a solução das questões que a teoria anterior (teoria psicológica da culpabilidade) não poderia solucionar. Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal Quadro: Os 4 elementos estruturais que compõe o conceito clássico de delito após as mudanças. Adaptado por Deborah Luíse Santos Alves. O terceiro conceito ensinado por Bitencourt (2017) é o conceito de delito proposto pelo finalismo de Welzel. O referido autor buscou inserir no conceito de delito um viés mais ontológico, ao conduzir a ação humana ao centro das discussões acerca da teoria do delito. Welzel buscou se afastar do excesso de formalismo e objetivismo abstrato das concepções anteriores e suprir lacunas que surgiram ao longo do desenvolvimento das teorias. Bitencourt (2017, p. 162) aponta que o sistema finalista, também conhecido como teoria final da ação, teve o condão de “eliminar a separação entre os elementos objetivos e subjetivos da ação e do próprio injusto, transformando, assim, o injusto naturalístico em injusto pessoal”. Nesse sentido, Bitencourt (2017, p. 286) afirma que o finalismo deslocou o dolo e a culpa para o injusto penal, retirando-os da culpabilidade. A finalidade estaria no centro do injusto penal, uma vez que a culpabilidade concentraria apenas as circunstâncias que “condicionam a reprovabilidade da conduta contrária ao Direito”. Desse modo, com a especial atenção dada à culpabilidade nessa nova estrutura do conceito de delito, Bitencourt cita alguns exemplos de mudanças consideráveis na análise do delito: houve uma melhor delimitação dos conceitos e distinções entre os tipos culposos e dolosos, e o dolo e a culpa não seriam mais elementos da culpabilidade, mas do próprio injusto penal. Para Welzel, o crime continua sendo uma ação típica, antijurídica e culpável, tendo em vista que as mudanças realizadas pelo finalismo apenas moviam ou destacavamalguns elementos, sem alterar a estrutura final do delito. O QUE É UM CRIME? O especialista Rodrigo Amaral trata do conceito de crime e suas diferentes teorias. Assista! CLASSIFICAÇÃO DAS INFRAÇÕES PENAIS Para uma correta elucidação da teoria do delito, é importante que sejam esclarecidos alguns conceitos terminológicos e práticos. O primeiro deles é a definição de infração penal, que é conceitualmente entendida como um gênero de que decorrem duas espécies, qual sejam, crime (delito) e contravenção penal, em razão de o Brasil adotar o sistema dualista (BITENCOURT, 2017) para a classificação da infração penal. As espécies de infração penal (BITENCOURT, 2017), ontologicamente falando, são iguais, tendo em vista que são atos violadores da norma penal. Contudo, no sentido axiológico, ambas as espécies caminham para lados diferentes no que tange à sua gravidade e lesividade ao bem jurídico tutelado pela norma penal incriminadora. Assim, os crimes são rotulados com mais gravidade do que as contravenções penais. Existem ainda algumas diferenças quanto à estrutura das espécies de infrações penais. Dentre elas, podemos citar: CRIME Espécie de pena privativa de liberdade Poderá ser reclusão ou detenção Limite das penas 30 anos (art. 70 do Código Penal) Tipo de ação penal Ação penal pública ou ação penal privada Tentativa punível É punível Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal Quadro: Deborah Luíse Santos Alves. CONTRAVENÇÃO PENAL Espécie de pena privativa de Prisão simples (arts. 5º e 6º da Lei de Contravenções Penais) que jamais será cumprida no regime fechado liberdade Limite das penas 5 anos (art. 10 da Lei das Contravenções Penais – LCP) Tipo de ação penal Ação Penal Pública Incondicionada (art. 10 da LCP) Tentativa punível Não é juridicamente punível (art. 4º da LCP), contudo, pode existir a tentativa Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal Quadro: Deborah Luíse Santos Alves. SUJEITOS DO DELITO RESPONSABILIDADE PENAL • Sujeito ativo Considera-se o sujeito ativo de um delito aquele que deu causa ao fato típico, sendo este o autor da infração penal (BITENCOURT, 2017). Assim, poderá ser sujeito ativo do delito a pessoa física maior de 18 (dezoito) anos de idade. NESSE SENTIDO, A PESSOA JURÍDICA COMETE CRIME? Em regra, não comete crimes, uma vez que não há como aferir se a pessoa jurídica incidiu em dolo ou culpa, não pode uma fantasia jurídica possuir consciência e vontade em relação ao cometimento do delito (BITENCOURT, 2017). Contudo, existe uma exceção que reside nos crimes ambientais. Nesse sentido, a Constituição Federal e a Lei 9605/98 (Lei de Crimes Ambientais) autorizam a responsabilização penal da pessoa jurídica. Foto: Shutterstock.com Tendo em vista alguns desastres ambientais que ocorreram recentemente, o entendimento atual do Supremo Tribunal Federal (STF), por meio do julgamento do Recurso Extraordinário (RE) nº 548.181/PR, de relatoria da ministra Rosa Weber da Primeira Turma, julgado em 06/08/2013 (Info 714), e do Superior Tribunal de Justiça (STJ), no julgamento do Recurso em Mandado de Segurança (RMS) 39.173/BA, de relatoria do ministro Reynaldo Soares da Fonseca da Sexta Turma, julgado em 06/08/2015 (Info 566), é de que poderiam ser responsabilizadas pessoas jurídicas por danos ambientais, ainda que sem a imputação conjunta a outra pessoa física — entendimento contrário ao anteriormente adotado. Foto: Shutterstock.com Desastre ambiental em Brumadinho, Minas gerais. Tal justificativa se dá, pois, em alguns casos práticos, é difícil a identificação das condutas e indivíduos responsáveis pelo dano ambiental. Antes da unificação desse entendimento, o STJ aplicava a interpretação contida no art. 3º da Lei de Crimes Ambientais (Lei 9605/98), que indicava que a responsabilização da pessoa jurídica devia ocorrer caso o dano fosse cometido “por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade”. Esse entendimento, entretanto, está superado. BITENCOURT (2017) Ensina que, nos casos de crimes contra o sistema financeiro, a responsabilidade penal será dos responsáveis pela empresa, podendo ser, a princípio, dos controladores e administradores da empresa, nos termos do art. 25 da Lei 7492/86, sendo vedada a responsabilização da pessoa jurídica. DOTTI (1995) Aponta que a responsabilidade dos “agentes” da empresa será realizada de forma subjetiva, em atenção à Constituição Federal e ao princípio da culpabilidade. Tal fato não impede que a pessoa jurídica possa devolver possíveis valores subtraídos por funcionários ou participar de acordos de leniência. • Sujeito passivo Podem ser sujeitos passivos do delito (DOTTI, 1995) a pessoa física, pessoa jurídica e o chamado “ente sem personalidade jurídica” (por exemplo, a coletividade). A doutrina classifica o rol de sujeitos passivos como: Formais (constantes) É composto pelo Estado, o interessado pela ordem social. Materiais (eventuais) Os titulares do bem jurídico violado ou em perigo. Próprios Cujo tipo penal exige qualidade/condição especial da vítima (por exemplo, delito de aborto e de infanticídio). OBJETO MATERIAL A doutrina conceitua como o objeto material do delito (CAPEZ, 2012) a coisa ou pessoa sobre a qual incide a conduta criminosa. Destaca-se que não é obrigatório que o objeto material combine com o sujeito passivo, mas, dependendo do caso, poderá ocorrer. EXEMPLO Numa hipótese de X matar Y, Y será o objeto material do delito, tendo em vista que é a pessoa sobre a qual incide a conduta criminosa. Já na hipótese em que X furta Y, o objeto material passa a ser o objeto furtado e não mais Y. Foto: Shutterstock.com OBJETO JURÍDICO O objeto jurídico (CAPEZ, 2012) é definido pelo próprio interesse da norma de proteger um valor, sendo este considerado o bem jurídico. Desse modo, pode-se dar o exemplo da vida humana, interesse este protegido no que tange ao tipo penal previsto no art. 121 do CP (delito de homicídio). ESTRUTURA DO CRIME A PARTIR DO CONCEITO ANALÍTICO DE CRIME Considerado um dos temas mais importantes da teoria do delito, o conceito analítico de crime determina quais são os elementos que formam o crime, analisando não só a estrutura, mas também cada especificidade que poderá acarretar a ausência de crime ou de punibilidade (BITENCOURT, 2017). Desse modo, compõem o conceito analítico a tipicidade, a antijuridicidade e a culpabilidade, conceitos que serão posteriormente desenvolvidos com mais afinco. Em linhas gerais, a estrutura do delito é formada por: ESTRUTURA DO CRIME Tipicidade - conceito doutrinário Tipicidade é considerada a conduta que dá causa a um fato previsto em lei, compreendida como a conduta + nexo causal + resultado + previsão legal. Antijuridicidade (ilicitude) - art. 23 do CP Será ilícito quando for caso de: - Estado de necessidade (arts. 24 e 23, I do CP). - Legítima defesa (arts. 25 e 23, I do CP). - Exercício regular do direito. - Consentimento do Ofendido (conceito doutrinário/jurisprudencial). Culpabilidade Será culpável quando for caso de: - Imputabilidade. - Potencial consciência da ilicitude. - Exigibilidade de conduta diversa. Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal Quadro: Elaborado pela conteudista com base em Bitencourt (2017). VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. (FMP CONCURSOS - 2012 - TJ-AC - TITULAR DE SERVIÇOS DE NOTAS E DE REGISTROS - REMOÇÃO) ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA. A) O conceito de infração penal é mais amplo do que o conceito de crime. B) O conceito de infração penal coincide com o conceito de delito. C) O conceito de infração penal coincide com o conceito de crime. D) O conceito de infração penal é menos amplo do que o conceito de crime. E) O conceito de infração penal não abrange o conceito da contravenção penal. 2. (IBADE - 2017 - PC-AC - AGENTE DEPOLÍCIA CIVIL) QUANTO À POSSIBILIDADE DE RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA PELA PRÁTICA DE CRIMES AMBIENTAIS E O ENTENDIMENTO ATUAL DOS TRIBUNAIS SUPERIORES, PODE-SE AFIRMAR QUE: A) é admitida, ainda que não haja responsabilização de pessoas físicas. B) é admitida, desde que em conjunto com uma pessoa física. C) não é admitida, pois há vedação legal no Código Penal. D) não é admitida, pois a pessoa jurídica é incompatível com a teoria do crime adotada pela Lei de Crimes Ambientais. E) não é admitida, haja vista que a Constituição Federal apenas tratou de sua responsabilidade administrativa. GABARITO 1. (FMP Concursos - 2012 - TJ-AC - Titular de serviços de notas e de registros - Remoção) Assinale a alternativa correta. A alternativa "A " está correta. O conceito de infração penal é mais amplo que o conceito de crime, haja vista que, para a teoria do delito, a infração penal é conceitualmente entendida como um gênero de que decorrem duas espécies, qual sejam, crime (delito) e contravenção penal, em razão de o Brasil adotar o sistema dualista para a classificação da infração penal. 2. (IBADE - 2017 - PC-AC - Agente de Polícia Civil) Quanto à possibilidade de responsabilidade penal da pessoa jurídica pela prática de crimes ambientais e o entendimento atual dos tribunais superiores, pode-se afirmar que: A alternativa "A " está correta. Recentemente, o STF, por meio do julgamento do RE nº 548.181/PR, de relatoria da ministra Rosa Weber da Primeira Turma, julgado em 06/08/2013 (Info 714), e do STJ, no julgamento do RMS 39.173/BA, de relatoria do ministro Reynaldo Soares da Fonseca da Sexta Turma, julgado em 06/08/2015 (Info 566), entenderam que poderiam ser responsabilizadas pessoas jurídicas por danos ambientais, ainda que sem a imputação conjunta a outra pessoa física — entendimento este contrário ao anteriormente adotado. MÓDULO 2 Identificar as características do fato típico TIPICIDADE A tipicidade é o primeiro elemento presente no conceito analítico de crime a ser estudado e se divide em dois conceitos (GRECO, 2002). Conceito formal Que aponta uma conduta que dá causa a um resultado previsto na norma penal incriminadora. Ou seja, a conduta se encaixa na forma de um artigo previsto em lei. Conceito material Que demonstra a existência de uma violação/ofensa relevante a um bem jurídico tutelado pelo ordenamento jurídico. Além disso, alguns princípios penais influenciam diretamente na tipicidade, como o princípio da insignificância, que exige a atipicidade material do fato para que não seja considerado crime, e o princípio da legalidade (ou reserva legal), que limita a atuação do Estado por meio dos ditames previstos no tipo penal. Então, é necessária uma análise mais detalhada da conduta presente no tipo penal para entender como funciona sua adequação prática. CONDUTAS DOLOSAS E CULPOSAS Antes de adentrarmos na conceituação dos delitos dolosos e culposos, é importante destacar que o Brasil adotou a teoria do tipo penal complexo, que consiste em uma parte objetiva, referente ao aspecto externo do agente, e outra parte subjetiva, que consiste nos aspectos internos do autor do fato. Os elementos que compõem a parte subjetiva do crime são chamados de dolo e culpa, e estão diretamente ligados à consciência e vontade direcionadas à prática de um delito. Diante disso, o dolo e a culpa possuem subclassificações que demonstram o grau de volição — ou sua ausência — do agente para a prática do delito. • Dolo O conceito de dolo no ordenamento jurídico brasileiro está presente no art. 18, I do Código Penal, que o apresenta como a hipótese em que o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo. A punição por dolo é regra, e a punição culposa só é possível quando expressamente prevista no tipo penal. Essa é a razão pela qual nosso ordenamento jurídico prevê mais delitos dolosos do que culposos. Além disso, nota-se que os delitos dolosos são punidos com penas maiores do que o seu correspondente culposo. Tal fato se dá, pois, a figura dolosa será negativamente valorada pelo ordenamento jurídico e, por isso, a resposta penal será mais grave. A estrutura geral do crime doloso divide a doutrina em duas correntes: volitivas e cognitivas, ao partir dos fundamentos de conhecimento por si só ou de conhecimento acrescido da vontade. Volitivas A maior parte das teses buscam um conceito psicológico de vontade — não se analisa o aspecto normativo, mas apenas a intenção do agente. Cognitivas Pensam à vontade num sentido atributivo-normativo — o agente não pode isentar-se de responsabilização por violar a norma, ao indicar que não almejou o resultado. Além disso, conceitualmente o dolo possui uma divisão tripartite (ZAFFARONI; PIERANGELI, 2002), cuja composição se dá: DOLO DIRETO DE 1º GRAU O agente está consciente das circunstâncias de fato e quer realizar aquele resultado. Aqui, há verdadeiramente a vontade no sentido psicológico-descritivo, quando o agente quis o resultado, ele o almejou. Por exemplo, X quer matar Y e para isso atira nos órgãos vitais de Y, ocasionando sua morte instantânea. Foto: Shutterstock.com DOLO DIRETO DE 2º GRAU Também conhecido como “dolo das consequências necessárias”, é quando o agente sabe que o evento vai ocorrer, mas não necessariamente o deseja, sendo considerado um efeito colateral previsível do que o agente quer. Por exemplo, X quer matar Y, que viajará de avião, e para isso instala uma bomba na turbina, ocasionando a queda e falecimento de todos os passageiros, incluindo Y, em decorrência do acidente. No caso de Y, será dolo direto de 1º grau; no caso das demais pessoas presentes no avião, dolo direto de 2º grau. Foto: Shutterstock.com DOLO EVENTUAL Há uma zona cinzenta na diferença com a culpa consciente (que será abordada posteriormente). No caso do dolo eventual, tem-se um conhecimento do risco de ocorrência do resultado. Dependendo da corrente, há um elemento de ânimo adicional. Por exemplo, X dirige propositalmente na velocidade de 200km/h em via pública movimentada. A possibilidade de X lesionar algum bem jurídico, seja a vida ou algum bem material, é extremamente alta. Foto: Shutterstock.com • Culpa O conceito de culpa está previsto no art. 18, II do Código Penal e prevê que ocorrerá quando o agente der causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia (BITENCOURT, 2017): Foto: Shutterstock.com IMPRUDÊNCIA Em linhas gerais, o conceito reside em fazer o que não deveria ser feito, sendo entendido como falta de cuidado, por exemplo, ultrapassar o semáforo no vermelho, ocasionando um atropelamento. Foto: Shutterstock.com NEGLIGÊNCIA É definida pelo ato de não fazer o que deveria ser feito, podendo ser entendida como omissão e inobservância do dever de fazer, como um caso em que uma babá permite que a criança brinque na cozinha ao lado de panelas quentes sem supervisão de adultos, o que gerou acidente com lesão grave na criança. Foto: Shutterstock.com IMPERÍCIA Caracteriza-se pela falta de cuidado técnico/específico inerente ao ofício/profissão, por exemplo, um engenheiro elétrico elabora um projeto técnico para a construção de prédio, e este desaba — aqui o engenheiro elétrico não tem a mesma expertise de um engenheiro civil. Ademais, o parágrafo único do art. 18 do CP prevê que, salvo nos casos culposos previstos em lei, ninguém poderá ser punido por crime, somente quando o pratica dolosamente. Além disso, não existe a possibilidade de tentativa de delito culposo, tendo em vista que a vontade é dirigida ao descumprimento do dever objetivo de cuidado, sem vinculação com a ocorrência ou não do resultado. Partindo disso, a culpa é composta por seis elementos objetivos (BITENCOURT, 2017) cumulativos, quais sejam: A conduta humana, relacionada à vontade de realizar a conduta, sem associação direta com o resultado; A violação do dever objetivo de cuidado, em que o autor age contrariamente às expectativasnormativas e sociais; O nexo de causalidade; O resultado naturalístico, que é a modificação no mundo real, sendo em regra involuntária; A previsão/previsibilidade; E a tipicidade na forma culposa (o tipo penal deve prever a conduta culposa). Ainda se tratando dos delitos culposos, existem quatro espécies (ZAFFARONI; PIERANGELI, 2002) definidas como: Culpa consciente É semelhante ao dolo eventual, contudo, aqui o agente prevê o resultado, mas acredita sinceramente que o resultado não vai se produzir. Difere do dolo eventual, pois o autor entende como possível a realização do delito, se conforma e prossegue com a ação delitiva. Culpa O agente não prevê o resultado que, por sua vez, era objetivamente inconsciente e subjetivamente previsível. Culpa própria É o gênero de que advém as espécies de culpa consciente e inconsciente. Culpa imprópria Será melhor abordado adiante, visto que decorre de erro do tipo evitável presente nas descriminantes putativas ou do excesso nas causas de justificação. Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal Quadro: Espécies de delitos culposos segundo Zaffaroni e Pierangeli (2002). Adaptado por Deborah Luíse Santos Alves. DOLO E CULPA O especialista Rodrigo Amaral fala do conceito de crime e suas diferentes teorias. Assista! ITER CRIMINIS O iter criminis é definido (BITENCOURT, 2017, p. 542) como caminho que se percorre para a prática de um crime. É composto por etapas que se sucedem, formando o delito. As etapas são compostas pela cogitação, preparação ou atos preparatórios, execução e consumação. ATENÇÃO A cogitação — ideia do crime — não é punida pelo Direito Penal, sendo a punição apenas pertinente a partir de uma conduta que ao menos iniciou a preparação do delito, em casos específicos. É importante destacar a definição de tentativa dentro do iter criminis e como ela incide no tipo penal. Nesse caso, a tentativa, prevista no art. 14, II do CP, ocorre quando há o início da execução do delito sem ocorrência da consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente. Aqui, a consumação era possível, porém não ocorreu. A tentativa não se confunde com os institutos do arrependimento eficaz e da desistência voluntária. Arrependimento eficaz (art. 15, 2ª parte do CP) Consiste no fato de que o agente, ao terminar todos os atos executórios, se arrepende e consegue reverter o delito pretendido com o seu arrependimento, não executando o resultado típico. Desistência voluntária (art. 15, 1ª parte do CP) O agente realiza parte dos atos executórios e desiste de continuar a execução do ato que levaria ao resultado definitivo. A diferença crucial entre a tentativa e os referidos institutos é: ARREPENDIMENTO EFICAZ E DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA O indivíduo pode prosseguir com a ação direcionada ao resultado lesivo, mas não quer. TENTATIVA O agente quer prosseguir com a empreitada criminosa, mas não pode por motivos alheios a sua vontade. javascript:void(0) javascript:void(0) CAUSALIDADE E RESULTADO O nexo de causalidade é definido como a vinculação entre a conduta do agente e o resultado. Nessa linha, o Código Penal, em seu artigo 13 afirma que: O RESULTADO, DE QUE DEPENDE A EXISTÊNCIA DO CRIME, SOMENTE É IMPUTÁVEL A QUEM LHE DEU CAUSA. CONSIDERA-SE CAUSA A AÇÃO OU OMISSÃO SEM A QUAL O RESULTADO NÃO TERIA OCORRIDO. Diante disso, a doutrina trabalha com algumas teorias que definem o conceito a partir do plano ontológico (plano de identificação), para então identificar, em um segundo plano, quando há causalidade. Para tal, Bitencourt (2017) explica as espécies de causas e as principais teorias que abordam o tema, que são: a teoria da causalidade adequada, a teoria da relevância típica — ou jurídica — e a teoria da conditio sine qua non, em regra adotada pelo Código Penal: CAUSALIDADE ADEQUADA Entende que a causa seria a condição necessária, imprescindível e adequada para ocasionar o resultado. Assim, a causa não é só aquela que produz um resultado naturalístico, mas também aquela que era previsível em uma perspectiva anterior, de acordo com as circunstâncias e os conhecimentos concretos sobre o fato. RELEVÂNCIA TÍPICA Define causa como a condição especial para a configuração do resultado, devendo esta ser analisada por um tipo penal que a especifique. Aqui, se utiliza a mesma ideia de conexão com a produção do resultado naturalístico, porém o vincula com o tipo penal. CONDITIO SINE QUA NON (TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DOS ANTECEDENTES CAUSAIS) Está prevista no caput do art. 13 do CP, e é tida como a regra. Tal teoria entende que causa é toda conduta anterior, sem a qual o resultado não teria acontecido. Assim, para verificar se a conduta foi necessária para a configuração do resultado, Bitencourt (2017) ensina a utilização de um juízo hipotético de eliminação, que consiste em eliminar o agente da relação causal e verificar se o resultado persiste ou não. Caso permaneça, a conduta do agente não é causa, mas se o resultado desaparecer, é porque o comportamento do agente foi a causa para a configuração do ato. Destaca-se, entretanto, que ao proceder com esse juízo de eliminação, um problema poderia surgir: o regressus ad infinitum. Bitencourt (2017) afirma que, ao remontar todo o processo causal, é verificável uma série de antecedentes — muitos deles remotos — indispensáveis, de forma macro ou micro, para a ocorrência do resultado. EXEMPLO Levemos em consideração um caso em que X atira e mata Y. Considerando que a arma de fogo foi imprescindível para a realização do evento, o comerciante da loja de arma foi causa para o homicídio. Ainda mais, o fabricante da arma e o fornecedor de matéria-prima para a confecção do armamento também seriam causas. Foto: Shutterstock.com Posto isso, Bitencourt (2017) aponta que o Direito Penal utiliza critérios normativos para limitar o alcance da causalidade, a fim de evitar problemas como esse. Segundo ele, tais critérios podem ser de diferentes ordens: Ordem dogmática-penal, como o elemento subjetivo do tipo, para verificar a relação direta e previsível entre a conduta e o resultado típico; De ordem valorativa, uma vez que podem ser apuradas as relações causais por meio de concausas ou superveniência de causas absolutamente independentes; Por intermédio da imputação objetiva, que será abordada mais adiante. Bitencourt (2017) aponta que, quanto aos critérios valorativos, existem causas (concausas) que podem se manifestar de maneiras diferentes. Podemos tomar como exemplo a concausa relativamente independente superveniente: a causa ocorre após a conduta do agente e, portanto, aplica-se o disposto no art. 13, § 1º do CP. Significa dizer que, no caso de causa relativamente independente superveniente que não produzir por si só o resultado, aplica-se a teoria da conditio sine qua non e o autor responde pelo resultado naturalístico. EXEMPLO O caso em que X dispara contra Y com dolo de matar, causando-lhe lesões não fatais. Ao chegar à sala de cirurgia, Y falece em decorrência de imperícia médica, contudo, observa-se que a imperícia médica só poderá ocasionar mortes quando a pessoa for submetida à intervenção médica. Desse modo, suprimindo os disparos feitos por X, Y não teria sido submetido à cirurgia e falecido em decorrência de imperícia. Nesse caso, X responde pelo homicídio consumado e o médico por homicídio culposo. Foto: Shutterstock.com Outro exemplo que trazemos é o de concausa absolutamente independente concomitante. Aqui, a causa nasce no mesmo instante em que o autor realiza a conduta. EXEMPLO O caso em que X atira em Y com o dolo de matar. Y, no entanto, sofre um ataque cardíaco súbito, não havendo doença preexistente, e falece no mesmo instante, em razão da tentativa de homicídio sofrida. Nesse caso, os tiros não foram a causa específica do falecimento de Y, logo, X responde pelos atos já praticados, o homicídio tentado, tendo em vista que X tentou matar Y, mas Y faleceu em decorrênciade outra causa. Foto: Shutterstock.com Por fim, a partir do estudo da causalidade, Bitencourt (2017) aponta que existem dois tipos de resultado: Resultado naturalístico (material) Caracterizado por resultar de uma conduta que gera alteração física no mundo dos fatos. Resultado normativo (jurídico) Entendido como aquele que advém de uma lesão ou risco/perigo de lesão ao bem jurídico tutelado pelo ordenamento jurídico. Não se pode confundir resultado naturalístico com o resultado normativo, pois o segundo (desvalor do resultado) é a valoração jurídica do primeiro, que é o resultado da ação em termos naturalísticos. TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA Cabe destacar inicialmente que a teoria da imputação objetiva parte de um conceito de causalidade objetiva, acrescido de critérios normativos na relação causal, a fim de evitar o regresso ao infinito presente na causalidade simples. Assim, a teoria da imputação objetiva foi introduzida no Direito Penal partindo da premissa de que a mera causalidade não era suficiente para a aferição de tipicidade de uma conduta. VOCÊ SABIA Roxin (1997) foi um dos primeiros a desenvolver a teoria de forma sistematizada, partindo da teoria do risco para delimitar os critérios do desvalor da ação, do desvalor do resultado e do alcance do tipo. O primeiro critério é a criação de um risco não permitido (GRECO, 2002), que consta no desvalor da ação e é definido como aquele cuja conduta deverá ser valorada no âmbito da tipicidade. Em linhas gerais, por meio de uma prognose posterior objetiva, analisam-se os dados aferíveis no momento da conduta pelo agente, não importando, em regra, se ele efetivamente acessou esses dados. Nesse caso, incide apenas uma exceção: quando o agente sabe mais do que normalmente o cidadão médio saberia, caracterizando numa hipótese de conhecimentos especiais; quando se tem conhecimentos especiais, eles são colocados no desvalor da conduta. Em suma, se a conduta for realizada em contexto no qual haja um risco permitido, mesmo que seja enquadrada na lei, ela não será tipificada. EXEMPLO Leve em consideração um caso em que X dirige em via pública conforme as leis de trânsito, o que gera um risco permitido. Assim, caso venha a atropelar alguém nessas condições, não responderá por crime. Entretanto, caso X desobedeça às leis de trânsito, trafegando bem acima do limite permitido, ao atropelar alguém, será responsabilizado pelo fato típico, pois criou um risco proibido. Foto: Shutterstock.com O segundo critério é chamado de realização do risco não permitido (GRECO, 2002), que está no desvalor do resultado: consiste na análise do nexo de causalidade entre o risco criado e o resultado produzido. Nesse caso, o agente é responsabilizado nos limites do risco que criou. EXEMPLO O caso em que X joga Y em um lago, sendo que este não sabe nadar. Vendo essa situação, Z se atira no lago para tentar salvar Y, ainda que também não saiba nadar. Ao final, Y e Z falecem por afogamento. Nesse caso, X apenas será responsabilizado pela morte de Y, tendo em vista que o risco criado por ele foi direcionado a Y, pois Z se autocolocou em risco em razão de conduta própria. Foto: Shutterstock.com O terceiro critério é o alcance do tipo (GRECO, 2002), que é considerado um “corretivo” do nexo de causalidade. Tal critério é analisado a partir de uma conduta que viole a finalidade de proteção do tipo penal, e somente haverá responsabilização caso haja essa conexão, além de produzir danos diretos ao bem jurídico tutelado. EXEMPLO Imagine dois ciclistas: X e Z, que andam em fila indiana, à noite, sem equipamentos que permitam a melhor visualização da pista, como o farol acoplado na dianteira da bicicleta. Por esse motivo, o primeiro ciclista X atropela Y que atravessava e não os viu chegando, ocasionando sua morte. Ocorre que apenas o primeiro deverá ser responsabilizado, tendo em vista que cada um responde individualmente pela sua conduta violadora à norma penal. Ainda que ambos não estejam com o farol aceso no momento do acidente, o que poderia evitá-lo, o dever de cuidado para a não violação da norma deverá ser individual, não direcionado a terceiros, exceto quando há previsão normativa para a responsabilização de terceiros no caso específico. Foto: Shutterstock.com Além disso, a teoria da imputação objetiva também foi desenvolvida por outro doutrinador chamado Jakobs, que trouxe uma perspectiva a partir do funcionalismo sistêmico. O autor trouxe o argumento (JAKOBS, 1997) de que a conduta humana estaria relacionada a papéis específicos, podendo ser valorada a partir de outros quatro critérios (BITENCOURT, 2017, p. 342). A CRIAÇÃO DO RISCO PERMITIDO Nos moldes da definição dada por Roxin (1997). PRINCÍPIO DA CONFIANÇA Entendido pela presunção de que os demais indivíduos da sociedade ajam conforme a norma e seus papéis sociais, salvo se as circunstâncias do caso concreto indicarem o contrário. PROIBIÇÃO DO REGRESSO Semelhante ao segundo critério, entende que, para os que cumprem os seus papéis sociais, não há responsabilização, pois não estariam violando a norma penal. COMPETÊNCIA DA VÍTIMA Que é caracterizada ações criadoras do próprio risco e o consentimento do ofendido. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. A TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA FOI INTRODUZIDA NO DIREITO PENAL PARTINDO DA PREMISSA DE QUE A MERA CAUSALIDADE NÃO ERA SUFICIENTE PARA A AFERIÇÃO DE TIPICIDADE DE UMA CONDUTA. PARA ALÉM DE OUTROS DESENVOLVIMENTOS DESSA TEORIA, O DOUTRINADOR JAKOBS TROUXE-NOS UMA PERSPECTIVA A PARTIR DO FUNCIONALISMO SISTÊMICO. EM OUTRAS PALAVRAS, O AUTOR TROUXE O ARGUMENTO (JAKOBS, 1997) DE QUE A CONDUTA HUMANA ESTARIA RELACIONADA A PAPÉIS ESPECÍFICOS, PODENDO SER VALORADAS A PARTIR DE OUTROS QUATRO CRITÉRIOS. ASSINALE A OPÇÃO QUE NÃO CORRESPONDE A UM CRITÉRIO DESENVOLVIDO PELO AUTOR. A) A criação do risco permitido. B) Princípio da confiança. C) Proibição do regresso. D) Competência da vítima. E) Alcance do tipo. 2. (ADAPTADA DE CESPE - 2020 - TJ-PA - AUXILIAR JUDICIÁRIO) ITER CRIMINIS CORRESPONDE AO PERCURSO DO CRIME, COMPREENDIDO ENTRE O MOMENTO DA COGITAÇÃO PELO AGENTE ATÉ OS EFEITOS APÓS A CONSUMAÇÃO. HÁ RELEVÂNCIA NO ESTUDO DO ITER CRIMINIS PORQUE, CONFORME O CASO, PODEM INCIDIR INSTITUTOS COMO DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA, PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO E TENTATIVA. CONSIDERA-SE PUNÍVEL O CRIME TENTADO NO CASO DE A) o agente ser flagrado elaborando os planos para a prática do crime. B) o agente ser flagrado realizando atos de preparação para o crime. C) o agente, iniciada a execução, desistir de prosseguir com a ação, impedindo seu resultado. D) o crime, iniciada a execução, não se consumar por circunstâncias alheias à vontade do agente. E) o agente, ao terminar todos os atos executórios, se arrepender e conseguir reverter o delito pretendido com o seu arrependimento, não executando o resultado típico. GABARITO 1. A teoria da imputação objetiva foi introduzida no Direito Penal partindo da premissa de que a mera causalidade não era suficiente para a aferição de tipicidade de uma conduta. Para além de outros desenvolvimentos dessa teoria, o doutrinador Jakobs trouxe-nos uma perspectiva a partir do funcionalismo sistêmico. Em outras palavras, o autor trouxe o argumento (JAKOBS, 1997) de que a conduta humana estaria relacionada a papéis específicos, podendo ser valoradas a partir de outros quatro critérios. Assinale a opção que não corresponde a um critério desenvolvido pelo autor. A alternativa "E " está correta. A criação do risco permitido, o princípio da confiança, a proibição do regresso e a competência da vítima são critérios desenvolvidos por Jakobs. O alcance do tipo é um critério criado por Roxin. 2. (Adaptada de CESPE - 2020 - TJ-PA - Auxiliar judiciário) Iter criminis corresponde ao percurso do crime, compreendido entre o momento da cogitação pelo agente até os efeitos após a consumação. Hárelevância no estudo do iter criminis porque, conforme o caso, podem incidir institutos como desistência voluntária, princípio da consunção e tentativa. Considera-se punível o crime tentado no caso de A alternativa "D " está correta. A tentativa, prevista no art. 14, II do CP, ocorre quando há o início da execução do delito, contudo, a consumação não ocorre por circunstâncias alheias à vontade do agente. Aqui, a consumação era possível, porém não ocorreu. MÓDULO 3 Descrever a ilicitude e suas causas excludentes CONCEITOS E TEORIAS A ilicitude, também conhecida como antijuridicidade em sentido amplo, é o segundo elemento presente no conceito analítico de crime. Zaffaroni e Pierangeli (2002) definem a ilicitude como a colisão entre a conduta do agente e o ordenamento jurídico, entendido não só como um sentido normativo, mas também de preceitos permissivos. Assim, para a verificação da antijuridicidade, é necessário analisar se a conduta típica (contra a lei) não está permitida por alguma causa de justificação, chamada de preceitos permissivos, que serão abordados adiante. A antijuridicidade pode ser classificada em duas modalidades: Modalidade formal Ocorre quando se tem uma contradição de uma conduta com o ordenamento jurídico. Modalidade material A antijuricidade material diz respeito à violação do bem jurídico. Esse juízo é pouco utilizado atualmente, porque tal discussão fica mais concentrada no âmbito da tipicidade, conforme já visto. Além disso, a doutrina traz quatro teorias que foram desenvolvidas a partir do conceito e aplicabilidade da ilicitude: TEORIA DA AUTONOMIA Consiste na autonomia conceitual e prática que a ilicitude tem em detrimento da tipicidade. Ambos são considerados institutos diferentes, tanto que há a possibilidade de existir um fato típico — no sentido de violador de bem jurídico e da norma — e lícito, como por exemplo, matar alguém, que é uma conduta típica, em legítima defesa, exclui a ilicitude (ZAFFARONI; PIERANGELI, 2002). INDICIARIEDADE Também chamada de ratio cognoscendi, que entende que a tipicidade é indiciária da ilicitude, dado que um fato típico é presumidamente ilícito. No entanto, caso haja causas que ensejam a não prevalência da ilicitude, o fato continuará sendo típico, porém será não ilícito (BRANDÃO, 2008). ABSOLUTA DEPENDÊNCIA (SANTOS, 2004) OU RATIO ESSENDI Consiste no fato de que a ilicitude confirma a tipicidade, visto que a formação do crime depende do diálogo da tipicidade com a ilicitude: o injusto será um fato típico se for ilícito. Quando comprovada a licitude, como no caso da incidência da legítima defesa no homicídio, exclui-se a ilicitude e consequentemente a tipicidade perde força. TEORIA DOS ELEMENTOS NEGATIVOS DO TIPO Por essa teoria, o tipo penal é composto de elementos positivos ou expressos, que são as clássicas elementares do tipo penal, mais elementos negativos ou implícitos do tipo, que são causas excludentes de ilicitude. Para que o fato seja típico, os elementos negativos — excludentes de ilicitude — não podem existir. Aqui também há uma absoluta relação de dependência entre fato típico e ilícito, um pressupondo a existência do outro. CAUSAS DE EXCLUSÃO DE ILICITUDE A doutrina penal trabalha com causas que justificam a exclusão da ilicitude, são elas: • Estado de necessidade (art. 24 do CP); • Legítima defesa (art. 25 do CP); • Estrito cumprimento do dever legal, exercício regular do direito. ESTADO DE NECESSIDADE A primeira causa, chamada de estado de necessidade, está prevista no art. 24 do Código Penal, e Bitencourt (2017) a conceitua como o choque de bens jurídicos de valores distintos, devendo um deles ser violado em detrimento do outro. Ao estado de necessidade, aplicam-se requisitos para sua correta verificação: Existência de perigo atual ou iminente. Ameaça a direito próprio ou alheio. Não provocação voluntária do perigo. Inexigibilidade de sacrifício do bem ameaçado. Inevitabilidade do perigo por outro meio. Conhecimento da finalidade de salvar o bem do perigo. Ausência de dever legal de enfrentar o perigo. Destaca-se ainda que os parágrafos 1º e 2º do art. 24 falam da impossibilidade de indivíduos que possuam o dever legal de enfrentar o perigo alegarem o estado de necessidade — nesse caso, em geral, o garantidor não tem relação com a situação em perigo — e da hipótese de diminuição de pena, caso o agente seja responsabilizado, como por exemplo, no caso do estado de necessidade exculpante (excludente de culpabilidade). LEGÍTIMA DEFESA A legítima defesa está prevista no art. 25 do Código Penal que diz: ENTENDE-SE EM LEGÍTIMA DEFESA QUEM, USANDO MODERADAMENTE DOS MEIOS NECESSÁRIOS, REPELE INJUSTA AGRESSÃO, ATUAL OU IMINENTE, A DIREITO SEU OU DE OUTREM. Além disso, a recente Lei 13.964/19, do Pacote Anticrime, prevê no parágrafo único do artigo que “Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se também em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes”. Nesse sentido, observa-se que a legítima defesa é baseada em injusta agressão, uma vez que o indivíduo, ao utilizar de meios moderados, poderá repelir injusta agressão atual ou iminente a direito seu ou de terceiros. Foto: Shutterstock.com ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL, EXERCÍCIO REGULAR DO DIREITO E OFFENDICULAS As três causas de justificação são diferentes, especificadas por Bitencourt (2017) da seguinte forma: A primeira é a conduta praticada em cumprimento de um dever legal que não configura crime, ainda que cause lesão a bem jurídico. A segunda, presente no art. 23, III do CP, é entendida como o exercício regular de um direito conforme o ordenamento jurídico. A terceira consiste nas chamadas defesas predispostas que, em regra, são mecanismos/dispositivos utilizados para impedir ou dificultar a ofensa de um bem jurídico. Nesse sentido, o estrito cumprimento do dever legal vincula-se à proporcionalidade em razão do dever legal, sobretudo em caso de agente público. Bitencourt destaca que o estrito cumprimento se refere aos atos rigorosamente necessários que justificam o comportamento permitido. Já o dever legal é a obrigação prescrita em lei, como é o caso do agente penitenciário que encarcera e mantém encarceradas pessoas mediante ordem judicial. No caso do exercício regular do direito, Bitencourt aponta a definição de regular, que consiste nos limites objetivos e subjetivos, formais e materiais delimitados pelos próprios fins contidos no Direito. Caso haja atuação fora desses limites, haverá abuso de direito, estando, portanto, excluída, da causa de justificação. Podemos utilizar como exemplo as lesões físicas de um atleta de artes marciais, que segue o regimento para atletas, durante a sua luta. COMENTÁRIO Quanto às offendiculas, são meios visíveis que podem se fazer presentes na forma de instrumentos ou dispositivos com o condão de impedir ou dificultar alguma lesão a bem jurídico, como o patrimônio, vida e o domicílio. Temos como exemplo de offendiculas a instalação de cerca elétrica ao redor dos muros da residência. CONSENTIMENTO DO OFENDIDO E OS ELEMENTOS DA ILICITUDE O consentimento do ofendido é considerado uma causa supralegal de excludente de ilicitude, em razão de não estar expressamente prevista em lei. Tal causa ocorre, segundo Toledo (1994), quando o titular do bem jurídico renuncia à tutela protetiva deste. Ou seja, é a hipótese em que o ofendido (vítima) anui ou concorda com a lesão ao bem jurídico de sua titularidade. Segundo o autor, tem como requisitos cumulativos: capacidade para consentir expressamente, bem jurídico disponível e consentimento anterior à prática da conduta. EXEMPLO Considere o caso em que X, tatuador profissional, desenha tatuagens em Y. Ao realizar tatuagens, X lesiona Y, podendo incidir em lesão corporal. Contudo, Y consentiu com o desenho de tatuagens no seu corpo e, por isso, aplica-secausa justificante de ilicitude por meio do consentimento do ofendido. Foto: Shutterstock.com Bitencourt (2017) ainda aponta a possibilidade de o consentimento do ofendido incidir em causa justificante de tipicidade. Ela pode ocorrer caso o tipo penal que exija o dissenso do ofendido for o “verbo” núcleo do tipo penal. Pode-se dar como exemplo o delito de constrangimento ilegal, presente no art. 146 do CP. Aqui, em razão de o “dissenso” da vítima integrar o núcleo do tipo penal (constranger ilegalmente), caso a vítima não sinta que foi ofendida com a situação, a tipicidade será afastada. Por fim, cabe destacar, conforme Toledo (1994), que a ilicitude possui elementos objetivos e subjetivos. Durante a análise do fato, deve-se verificar não só o elemento objetivo, que é a incidência de alguma causa justificante, mas também o elemento subjetivo, que consiste no conhecimento da situação justificante da situação de perigo (CAPEZ, 2012). CAUSAS DE EXCLUSÃO DA ILICITUDE O especialista Rodrigo Amaral abordará diversas espécies de causas de exclusão da ilicitude. Assista! VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. (CONSULPLAN - 2019 - MPE-PA - ESTAGIÁRIO - DIREITO) A EXCLUDENTE DE ILICITUDE AFASTA O ASPECTO ILÍCITO DO ATO. É A CIRCUNSTÂNCIA QUE TORNA O ATO ANTIJURÍDICO. NÃO HÁ, POIS, CRIME, QUANDO EVIDENCIADA UMA CAUSA QUE EXCLUI A ILICITUDE DO ATO. INDIQUE A ALTERNATIVA EM QUE NÃO HÁ EXCLUSÃO DA ILICITUDE. A) legítima defesa. B) erro quanto à pessoa. C) estado de necessidade. D) exercício regular de direito. E) estrito cumprimento do dever legal. 2. (NUCEPE - 2019 - PREFEITURA DE TIMON - MA - GUARDA-CIVIL MUNICIPAL) EM RELAÇÃO ÀS EXCLUDENTES DE ILICITUDE, É CORRETO AFIRMAR QUE A) considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual ou iminente, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. B) entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele justa agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. C) o agente, somente em caso de exercício regular do direito, responderá pelo excesso doloso ou culposo. D) não pode alegar legítima defesa quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo. E) o Código Penal não conceitua a excludente do estrito cumprimento de dever legal. GABARITO 1. (CONSULPLAN - 2019 - MPE-PA - Estagiário - Direito) A excludente de ilicitude afasta o aspecto ilícito do ato. É a circunstância que torna o ato antijurídico. Não há, pois, crime, quando evidenciada uma causa que exclui a ilicitude do ato. Indique a alternativa em que não há exclusão da ilicitude. A alternativa "B " está correta. Segundo a legislação penal, erro quanto à pessoa não é considerado excludente de ilicitude. Caso fosse um excludente de ilicitude, isso faria com que um cidadão que matasse pessoa diferente da pretendida no momento da execução do ato ficasse livre de qualquer condenação por homicídio. 2. (NUCEPE - 2019 - Prefeitura de Timon - MA - Guarda-Civil Municipal) Em relação às excludentes de ilicitude, é correto afirmar que A alternativa "D " está correta. O estrito cumprimento do dever legal vincula-se à proporcionalidade em razão do dever legal, sobretudo em caso de agente público. Mais ainda, o estrito cumprimento se refere aos atos rigorosamente necessários que justificam o comportamento permitido. Já o dever legal é o dever ou obrigação prescritos em lei. MÓDULO 4 Identificar os elementos da culpabilidade e as modalidades de erro CONCEITOS E TEORIAS A culpabilidade é o terceiro e último elemento da figura tripartite no delito. Bitencourt (2017) a define como fundamento e limite para a imposição de uma pena justa, assim como instrumento preventivo de delitos, ao confirmar a obrigatoriedade do cumprimento das normas penais. Zaffaroni e Pierangeli (2002) entendem que a culpabilidade possui caráter normativo e se baseia na hipótese em que o agente poderia fazer algo diferente do que fez, bem como se, nas circunstâncias, era exigível que o fizesse. No mesmo sentido dos outros elementos do tipo, a causalidade foi influenciada por várias teorias ao longo dos anos. Tais teorias sofreram influência direta de outras teorias, dentre elas o causalismo, o neokantismo e o finalismo: TEORIA PSICOLÓGICA Tem base causalista, logo, a partir dessa visão, a culpabilidade é integrada pelo dolo e pela culpa como suas espécies, e possui um só elemento: a imputabilidade. Essa teoria enxerga a culpabilidade como um estado psicológico, entendendo que o juízo de reprovação reside na relação psíquica entre o autor e o fato. Tal consideração gera problemas práticos de valoração e análise, dado que reunir duas espécies antagônicas — dolo/querer e culpa/não querer — é prejudicial ao intérprete, além de não responder a questões específicas da culpa, como o caso da culpa inconsciente. Assim, ao considerar a culpabilidade como um vínculo natural entre o agente e o fato típico, não poderia explicar a culpa inconsciente, pois esta é carente de previsibilidade do agente, sem elo naturalístico entre o agente e o fato (BITENCOURT, 2017). TEORIA PSICOLÓGICO-NORMATIVA DA CULPABILIDADE Possui raízes no neokantismo. Aqui, insere-se o chamado juízo de reprovabilidade, para a aferição da conduta delituosa do agente. Nesse caso, o dolo e a culpa passam a ser elementos da culpabilidade, acrescidos da reprovabilidade da conduta, dada a necessidade de valoração. É inserido ainda o conceito de dolo normativo estruturado pela vontade, consciência e consciência atual da ilicitude (BITENCOURT, 2017). TEORIA NORMATIVA PURA DA CULPABILIDADE E A TEORIA LIMITADA DA CULPABILIDADE O finalismo passou a ter influência direta no conceito de culpabilidade. A partir dessas teorias, o dolo e a culpa e, por consequência, a vontade e a consciência, são transferidos para o fato típico. Assim, com a influência direta do finalismo, houve um grande giro na concepção e na estrutura da culpabilidade. Isso ocorreu porque, com o dolo e a culpa integrantes, os neokantianos consideravam a culpabilidade um conceito complexo, por incluir tanto elementos psicológicos quanto normativos. Com o finalismo, passou-se a ter a normativização completa do conceito de culpabilidade, pois foram transferidos os elementos subjetivos para o tipo penal (CAPEZ, 2012). ELEMENTOS DA CULPABILIDADE A partir da inserção do finalismo na culpabilidade, passou-se a dar especial atenção a uma estruturação normativa. Foram criados três elementos que integrariam sua estrutura: a imputabilidade, a potencial consciência da ilicitude e a exigibilidade de conduta diversa. IMPUTABILIDADE O primeiro elemento chamado de imputabilidade, segundo Bitencourt (2017, p. 446), consiste na “capacidade ou aptidão para ser culpável, embora, convém destacar, não se confunde com responsabilidade, que é o princípio segundo o qual o imputável deve responder por suas ações”. Zaffaroni e Pierangeli (2002) definem a imputabilidade como a imputação física e psíquica do agente. Partindo dessa conceituação, o art. 26 do Código Penal traz o conceito de reverso/negativo, qual seja, o de inimputabilidade. Nessa linha, a doutrina majoritária trabalha com três critérios principais para aferição dessa (in)imputabilidade, o critério psicológico, o critério biopsicológico e o critério biológico. Tais diferenças podem ser vistas no quadro abaixo: CRITÉRIO PSICOLÓGICO CRITÉRIO BIOPSICOLÓGICO CRITÉRIO BIOLÓGICO Hipótese em que o agente, ao tempo de sua conduta delitiva, tinha capacidade de entender e de se autodeterminar, independentemente de estado mental ou faixa etária. Hipótese em que o agente é inimputável quando, em razão de doença mental, ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, ao tempo da conduta delitiva, era incapaz de entender o caráter ilícito do fato, bem como se autodeterminar. Hipótese em que se considera apenas odesenvolvimento mental do agente, podendo ser doença mental ou idade, mesmo que, ao tempo da conduta, o agente tinha capacidade de entender o caráter ilícito do fato, bem como se autodeterminar. Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal Quadro: Os 3 critérios principais para aferição da (in)imputabilidade. Adaptado por Deborah Luíse Santos Alves. O critério adotado em regra no Brasil é o biopsicológico, exemplificado nos arts. 26, caput e 28, §1º do CP, e tem como exceção o biológico, exemplificado no art. 27 do CP, referente à menoridade penal. Dessa forma, a inimputabilidade pode incidir em quatro hipóteses: Em razão de anomalia psíquica (art. 26, caput do cp); Em razão da idade do autor do fato, caso da menoridade (art. 27 do cp); Em razão da embriaguez (art. 28, § 1º do cp); E em razão de entorpecimento (arts. 45 e 46 da Lei 11.343/06). A embriaguez considerada para esses fins é a embriaguez completa, que incapacita completamente o discernimento do agente, além de ocorrer por caso fortuito, quando os efeitos eram desconhecidos, ou força maior, quando o agente foi obrigado a se embriagar. Além disso, o art. 28 do CP traz as hipóteses em que não se exclui a imputabilidade e, portanto, nas quais é passível a imputação do delito. POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE Além da imputabilidade, a culpabilidade é composta pela potencial consciência da ilicitude, que consiste na possibilidade de o agente conhecer o caráter ilícito da conduta. Ela difere-se da ausência de consciência da ilicitude, prevista no art. 65, II do CP como atenuante de pena. É importante destacar aqui o art. 3º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), que dispõe que ninguém deverá se escusar de cumprir a lei, alegando que não a conhece. Pacelli e Callegari (2016) apontam que não basta que o agente atue tipicamente conhecendo a situação típica, mas é preciso que o agente saiba ou possa saber que sua conduta é proibida. Assim, é necessário o conhecimento da ilicitude do fato e, quando este resta ausente, fala-se em erro de proibição — erro quanto à ilicitude do fato —, presente no art. 21 do CP e que será mais bem abordado na teoria do erro. EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA Terceira parte presente na culpabilidade, conforme ensina Bitencourt (2017), a exigibilidade de conduta diversa está associada à ideia da possibilidade de o agente agir conforme o Direito, dadas as circunstâncias concretas, ao invés de praticar a conduta proibida contida no tipo penal. O Código Penal excetua duas possibilidades de situações que não se poderia exigir conduta diversa, a coação moral e a obediência hierárquica. A coação moral é dividida em dois conceitos: irresistível e resistível. A coação moral irresistível está presente no art. 22, 1ª parte do Código Penal, e, segundo Prado (2008), consiste na hipótese em que o agente coator, que coage, obriga uma pessoa a cometer um delito contra terceiro, a vítima, “suprimindo-lhe a capacidade de resistência da ameaça”. EXEMPLO Imagine uma situação em que X teve seu filho sequestrado por Y, que o coage — obriga — a assaltar um banco para devolver seu filho sem ferimentos. Destaca-se que a coação moral irresistível é diferente da coação física irresistível, uma vez que nesta há ausência de vontade, sendo a vítima “meio” para o cometimento de infração penal. Além disso, tem-se a ordem hierárquica, presente na 2ª parte do art. 22 do CP, que será indicativo de excludente de inexigibilidade de conduta diversa, quando for cumprida ordem não manifestamente ilegal, emitida por superior hierárquico. Nesse caso, só é punível o coator, visto que não era exigível que o subordinado tivesse outra conduta. Pode-se dar como exemplo o caso do coronel que ordena o sargento a picotar toda a documentação de uma pasta. Contudo, a pasta continha documentação comprobatória, e o encarregado não sabia (apesar de o superior saber). Nessa linha, uma vez sendo a norma manifestamente ilegal, o inferior hierárquico não deverá agir. Caso aja, tanto ele como seu superior serão responsabilizados. TEORIA DO ERRO CONCEITO Conforme ensina Bitencourt (2017), o erro considerado relevante para o Direito Penal consiste no vício da vontade e/ou do conhecimento, ocasionando uma falsa percepção do mundo real. É importante destacar que a nossa teoria do erro é fortemente influenciada pela tradição do direito romano, em que o “erro” era dividido em erro de fato e erro de direito. Nesse sentido, o autor aponta que, ao adentrarmos em uma teoria moderna do erro, nos deparamos com algumas semelhanças conceituais e práticas em relação à antiga teoria. MODALIDADES DE ERRO Diante de uma expansão do estudo da teoria do erro, a doutrina penal majoritária diferenciou hipóteses diversas em que o erro incide sobre a conduta, o fato e o próprio direito. Dessa forma, temos duas divisões conceituais: o erro de tipo e erro de proibição, equivalentes aos antigos erro de fato e erro de direito. Destaca-se que essa antiga nomenclatura era utilizada até o recente surgimento da teoria finalista. Partindo disso, Welzel criou a então conhecida nomenclatura dos erros de tipo e dos erros de proibição, utilizada por vários autores. O erro de tipo (PACELLI; CALLEGARI, 2016) tem sua previsão legal no art. 20 do Código Penal que dispõe: “O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei”. Desse modo, o erro pode incidir em qualificadoras e circunstâncias elementares, denominado como erro de tipo essencial, ou também poderá incidir sobre o objeto, pessoa ou execução, configurando o erro de tipo acidental. O erro de tipo essencial (CAPEZ, 2012) é a espécie de erro que impede que o autor da conduta compreenda o caráter ilícito do fato. Tem como exemplo o caso em que X, que trabalha na mesma mesa de Y, leva para casa o celular de Y, achando ser o seu. Pode ser invencível (escusável), quando não poderia ser evitado, e vencível (inescusável), quando a evitabilidade era possível ao agente. Assim, o erro de tipo invencível afasta o dolo e a culpa, ao constatar que, mesmo com o devido cuidado diligente, a lesão não poderia ter sido evitada. Caso seja vencível (inescusável), é constatada a hipótese em que o resultado poderia ter sido evitado, se o agente fosse diligente. Nesse caso, afasta-se o dolo, e se reponde pela modalidade culposa, caso haja previsão em lei. Já o erro de tipo acidental (PACELLI; CALLEGARI, 2016) é aquele que incide dados específicos do delito. Poderá se manifestar das seguintes formas: o erro sobre o objeto (error in objecto), erro de pessoa (error in persona) e o erro de execução (aberratio ictus), que inclui o aberratio criminis. O erro sobre a pessoa (PACELLI; CALLEGARI, 2016) ocorre quando o agente executa a conduta conforme sua vontade, contudo erra quanto à pessoa a que teria sua conduta direcionada. Aqui, o que importa não é a pessoa, mas a violação de um bem jurídico. Tem como exemplo X que mata Y achando ser Z. X responderá pelo homicídio de Y como se estivesse matando Z. No caso de Z ser a esposa de X, este responderá por feminicídio, mesmo tendo matado Y, que era uma pessoa aleatória. O erro sobre o objeto (PACELLI; CALLEGARI, 2016) é aquele que recai sobre o objeto material do crime, podendo ser pessoa ou coisa. O que importa aqui é a lesão ao bem jurídico e a violação da norma incriminadora. Nesse sentido, tem-se como exemplo o caso em que X rouba o colar de Y, achando que era de ouro, apesar de se tratar de bijuteria. X responderá pelo delito de furto. O erro de tipo na execução (PACELLI; CALLEGARI, 2016) consiste no erro decorrente de acidente (desvio) na utilização dos meios de execução. Desse modo, o agente atinge coisa ou pessoa diversa da pretendida e responderá como se a pretendida fosse atingida. Por exemplo, X atira contra Y para matá-lo, mas erra a pontaria e atinge Z. X responderápelo homicídio de Z como se estivesse matando Y. Aqui, o erro é sobre bens jurídicos equivalentes. A aberratio criminis (PACELLI; CALLEGARI, 2016) também incide sobre a execução do delito, contudo o erro é sobre bens jurídicos distintos. Por exemplo, X quer quebrar a janela de Y, contudo a pedra atirada para tal fim, após quebrar a janela, atinge a cabeça de Y, que vem a falecer. Nessa hipótese, como o resultado foi diverso do pretendido, o agente responde pelo delito consumado na modalidade culposa, portanto, X responderá por homicídio culposo. Superada a conceituação e classificação do erro de tipo, tem-se o erro de proibição (PACELLI; CALLEGARI, 2016), que consiste no erro sobre o fato. Aqui, o agente sabe de sua conduta e da realidade, contudo, erra quanto à ilicitude, ou seja, o agente sabe o que está fazendo, porém equivoca-se quanto à proibição penal. Temos como exemplo o caso em que X bate em Y, sua esposa que deixou de cuidar da casa, acreditado ser uma correção justa. Mesmo sabendo que bater na esposa acarretará numa lesão corporal, X erra quanto à proibição daquela conduta de corrigir a esposa, por achar ser justo e, por isso, não considerado ilícito. DISCRIMINANTES PUTATIVAS Por fim, há as discriminantes putativas, que também estão inseridas na teoria do erro. Previstas no art. 20, §1º e art. 21 do Código Penal, são consideradas causas imaginárias (putativas) de erro. Nesse caso, Damásio de Jesus (2010) ensina que tais discriminantes configuram a hipótese do agente que, levado ao erro pelas circunstâncias do caso concreto, supõe que está agindo em face de uma causa excludente de ilicitude. RELEMBRANDO As causas excludentes de ilicitude consistem no estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal e exercício regular de direito, e é sob elas que o agente pensa estar agindo. As discriminantes se dividem em erro de tipo permissivo (artigo 20, §1º do CP) sobre a situação fática e erro de proibição indireto (art. 21 do CP): ERRO DE TIPO PERMISSIVO ERRO DE PROIBIÇÃO INDIRETO ERRO DE TIPO PERMISSIVO É o caso em que o agente erra sobre a situação fática, como o pai acha que é um bandido pulando o muro da casa e atira com o dolo de matar, por exemplo. Contudo, quem pulou foi seu filho, que havia esquecido a chave, e acabou atingido e falecido. Aqui há o caso da legítima defesa putativa (imaginária). Tal tipo de erro pode isentar de pena, mas se o tipo permitir, poderá haver responsabilização por culpa (PACELLI; CALLEGARI, 2016). ERRO DE PROIBIÇÃO INDIRETO Consiste no erro sobre a existência da discriminante, por exemplo, quando o agente acha que mata em legítima defesa da honra, o que não é aceito no mundo jurídico e nem tipificado, ou sobre os limites da discriminante, quando o agente prossegue com a conduta além do permitido (PACELLI; CALLEGARI, 2016). Só será excludente de ilicitude quando de fato se estiver diante de uma situação real. Quando a situação for derivada de erro do agente, será aplicada a teoria limitada da culpabilidade, que define e estrutura as descriminantes putativas na teoria do erro. ESPÉCIES DE ERRO O especialista Rodrigo Amaral irá falar sobre as diferentes espécies de erro. Assista! VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. (FUNCAB - 2013 - PC-ES - PERITO EM TELECOMUNICAÇÃO) ASSINALE A ALTERNATIVA QUE NÃO CONTEMPLA UMA EXCLUDENTE DE CULPABILIDADE. A) legítima defesa. B) menoridade. C) embriaguez completa decorrente de força maior ou caso fortuito. D) coação moral irresistível. E) obediência hierárquica. 2. (IBFC - 2017 - TJ-PE - TÉCNICO JUDICIÁRIO - FUNÇÃO JUDICIÁRIA) A TEORIA DO ERRO DETÉM GRANDE IMPORTÂNCIA PARA AVALIAÇÃO DA RESPONSABILIDADE PENAL DE INDIVÍDUO ACUSADO DO COMETIMENTO DE DELITO. SOBRE O ERRO DE TIPO, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA. A) erro de tipo é equívoco de representação, ou seja, o agente atinge terceiro achando tratar- se de pessoa que visava atingir com sua conduta ilícita. B) conhecido como aberratio ictus, o erro de tipo se vislumbra quando, no momento da execução do delito, terceiro é atingido sem que o agente tenha vontade de fazê-lo. C) o erro de tipo é uma modalidade de erro que, quando verificada, não exclui o dolo, cabendo ao julgador verificar a ocorrência de engano durante a execução do delito e aplicar-lhe pena mais branda. D) erro verificável é quando o agente criminoso supõe que sua conduta recai sobre determinada coisa e na realidade recai sobre outra. E) trata-se de erro sobre elemento constitutivo do tipo legal, excluindo o elemento subjetivo e permitindo uma condenação por ato culposo, quando previsto em lei penal. GABARITO 1. (FUNCAB - 2013 - PC-ES - Perito em Telecomunicação) Assinale a alternativa que não contempla uma excludente de culpabilidade. A alternativa "A " está correta. Legitima defesa é causa de excludente de ilicitude (art. 23 do CP), e não de culpabilidade. 2. (IBFC - 2017 - TJ-PE - Técnico Judiciário - Função Judiciária) A teoria do erro detém grande importância para avaliação da responsabilidade penal de indivíduo acusado do cometimento de delito. Sobre o erro de tipo, assinale a alternativa correta. A alternativa "E " está correta. Art. 20 do Código Penal. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Traçamos todos os desdobramentos acerca da teoria do Direito, não só definindo os conceitos gerais da teoria geral do delito, suas características fundamentais e a aplicabilidade dos seus princípios balizadores, como também perpassamos pela disposição lítica da classificação das infrações penais, seus sujeitos, objetos e estruturas gerais do crime conforme cada caso apresentado. Foi possível, portanto, solidificarmos o entendimento do Direito Penal como um todo, por meio de uma construção dogmática e prática e dos conceitos básicos penais. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS BITENCOURT, C. R. Falência da pena de prisão: causas e alternativas. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. BITENCOURT, C. R. . Tratado de Direito Penal: parte geral. 23. ed. ver., ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2017. v. 1. BRANDÃO, C. Curso de Direito Penal: parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2008. CAPEZ, F. Curso de Direito Penal: parte geral. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. v. 1. DOTTI, R. A. A incapacidade criminal da pessoa jurídica: uma perspectiva do Direito brasileiro. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 11, jul./set. 1995. GRECO, R. Curso de Direito Penal: parte geral. 2. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2002. JAKOBS, G. Derecho Penal: parte general. Fundamentos y teoría de la imputación. 2. ed. Madrid: Marcial Pons, 1997. JESUS, D. de. Direito Penal: parte geral. 31. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. PACELLI, E.; CALLEGARI, E. Manual de Direito Penal: parte geral. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2016. PRADO, L. R. Curso de Direito Penal: parte geral. 8. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. v. 1. ROXIN, C. Derecho Penal: parte general. Fundamentos. La estructura de la teoría del delito. Tradução e notas de Diego-Manuel Luzón Pena, Miguel Diaz y Garcia Conlledo e Javier de Vicente Remesal. Madrid: Civitas, 1997. t. 1. SANTOS, J. C. dos. A moderna teoria do fato punível. Curitiba: Fórum, 2004. SANTOS, J. C. dos. Direito Penal: parte geral. 7. ed. Florianópolis: Empório do Direito, 2017. TOLEDO, F. de A. Princípios básicos de Direito Penal. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 1994. ZAFFARONI, E. R.; PIERANGELI, J. H. Manual de Direito Penal: parte geral. 4. ed. rev. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. EXPLORE+ Para saber mais sobre Teoria do delito, indica-se a obra Fundamentos de Teoria do Delito, de Juarez Tavares, publicada pela Tirant Lo Blanch Brasil. CONTEUDISTA Deborah Luíse Santos Alves CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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