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UNIFIEO CIÊNCIAS POLÍTICAS Prof. Carlos Renato da Silva _______________________________________________________________ 1 O PODER DO ESTADO Outro elemento essencial constitutivo do Estado, o poder representa sumariamente aquela energia básica que anima a existência de uma comunidade humana num determinado território, conservando-a unida, coesa e solidária. É a faculdade de tomar decisões em nome da coletividade. Com o poder se entrelaçam a força e a competência, compreendida esta última como a legitimidade oriunda do consentimento. O poder repousa unicamente na força, e a Sociedade, onde ele se exerce, exterioriza em primeiro lugar o aspecto coercitivo com a nota da dominação material e o emprego frequente de meios violentos para impor a obediência, esse poder, não importa sua aparente solidez ou estabilidade, será sempre um poder de fato. O poder busca sua base de apoio menos na força do que na competência, menos na coerção do que no consentimento dos governados, convertendo-se num poder de direito. A força exprime a capacidade material de comandar interna e externamente. O poder significa a organização ou disciplina jurídica da força. E a autoridade traduz o poder quando ele se explica pelo consentimento, tácito ou expresso, dos governados (quanto mais consentimento mais legitimidade e quanto mais legitimidade mais autoridade). O poder com autoridade é o poder apto a dar soluções aos problemas sociais. Nascemos no Estado e ao menos contemporaneamente é inconcebível a vida fora do Estado. O Estado se sustenta pela coação, é simplesmente a organização social do poder de coerção ou a organização da coação social ou a sociedade como titular de um poder coercitivo regulado e disciplinado, sendo o Direito por sua vez a disciplina da coação. O Estado que possui o monopólio da coação organizada e incondicionada, não somente emite regras de comportamento senão que dispõe dos meios materiais imprescindíveis com que impor a observância dos princípios porventura estatuídos de conduta social. Atua o Estado por conseguinte no ambiente coletivo, quando necessário, com a máxima imperatividade e firmeza, formando aquele vasto círculo de segurança e ação no qual se movem outros círculos menores dele UNIFIEO CIÊNCIAS POLÍTICAS Prof. Carlos Renato da Silva _______________________________________________________________ 2 dependentes ou a ele acomodados, que são os grupos e indivíduos, cuja existência ganha ali certeza e personificação jurídica. O portador do poder do Estado, do ponto de vista jurídico, não é uma pessoa física e nem várias pessoas físicas, mas sempre e indispensavelmente a pessoa jurídica, o Estado. O segundo traço essencial que deriva da existência do poder estatal é a sua capacidade de auto-organização. O caráter estatal de uma organização social decorre precisamente da circunstância de proceder de um direito próprio, de uma faculdade auto- determinativa, de uma autonomia constitucional o poder que essa organização exerce sobre os seus componentes. Há Estado desde que o poder social esteja em condições de elaborar ou modificar por direito próprio e originário uma ordem constitucional. A indivisibilidade do poder configura outra característica do poder estatal. Significa que somente pode haver um único titular desse poder, que será sempre o Estado como pessoa jurídica ou aquele poder social que em última instância se exprime, pela vontade do monarca, da classe ou do povo. No Estado moderno um de seus postulados essenciais e desprender o poder do Estado do poder pessoal do governante. Titulares do poder são aquelas pessoas cuja vontade se toma como vontade estatal. Essa vontade, expressando o poder do Estado, se manifesta através de órgãos estatais, que determinam em seus atos e decisões o caráter e os fins do ordenamento político. No Estado democrático contemporâneo, a titularidade do poder estatal pertence ao povo; o seu exercício, porém, aos órgãos através dos quais o poder se concretiza. O poder do Estado na pessoa de seu titular é indivisível: a divisão só se faz quanto ao exercício do poder, quanto às formas básicas de atividade estatal. Distribuem-se através de três tipos fundamentais: a função legislativa, a função judiciária e a função executiva, que são cometidas a órgãos ou pessoas distintas, com o propósito de evitar a concentração de seu exercício numa única pessoa. No Estado federal, a União e os Estados-membros não compõem subjetivamente duas vontades distintas, portadoras do poder estatal, mas sim há uma divisão de competência e não do poder do Estado UNIFIEO CIÊNCIAS POLÍTICAS Prof. Carlos Renato da Silva _______________________________________________________________ 3 propriamente dito, o qual se conserva referido a uma só pessoa, a um único titular. A soberania, que exprime o mais alto poder do Estado, a qualidade de poder supremo, apresenta duas faces distintas: A soberania interna significa o império que o Estado tem sobre o território e a população, bem como a superioridade do poder político frente aos demais poderes sociais, que lhe ficam sujeitos, de forma mediata ou imediata. A soberania externa é a manifestação independente do poder do Estado perante outros Estados. LEGALIDADE DO PODER POLÍTICO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE O termo legalidade aquilo que exprime inteira conformidade com a ordem jurídica vigente. A legalidade nos sistemas políticos exprime basicamente a observância das leis, isto é, o procedimento da autoridade em consonância estrita com o direito estabelecido. Todo poder estatal deverá atuar sempre de conformidade com as regras jurídicas vigentes. Em suma, a acomodação do poder que se exerce ao direito que o regula. O funcionamento do regime político e a autoridade investida nos governantes devem reger-se segundo as linhas-mestras traçadas pela Constituição, cujos preceitos são a base sobre a qual assenta tanto o exercício do poder como a competência dos órgãos estatais. O livre e desembaraçado mecanismo das instituições e dos atos da autoridade, movendo-se em consonância com os preceitos jurídicos vigentes ou respeitando rigorosamente a hierarquia das normas, que vão dos regulamentos, decretos e leis ordinárias até a lei máxima e superior, que é a Constituição. O poder legal representa por consequência o poder em harmonia com os princípios jurídicos, que servem de esteio à ordem estatal. O conceito de legalidade se situa assim num domínio exclusivamente formal, técnico e jurídico. LEGITIMIDADE DO PODER POLÍTICO PRINCÍPIO DA LEGITIMIDADE A legitimidade é a justificação e os valores do poder legal, é a legalidade acrescida de sua valoração. UNIFIEO CIÊNCIAS POLÍTICAS Prof. Carlos Renato da Silva _______________________________________________________________ 4 É o critério que busca aceitar ou negar a adequação do poder às situações da vida social que ele é chamado a disciplinar. No conceito de legitimidade entram as crenças de determinada época, que presidem à manifestação do consentimento e da obediência. A legalidade de um regime democrático, por exemplo, é o seu enquadramento nos moldes de uma constituição observada e praticada. Será sempre o poder contido naquela constituição, exercendo-se de conformidade com as crenças, os valores e os princípios da ideologia dominante, no caso a ideologia democrática. SOBERANIA Do ponto de vista externo, a soberania é apenas qualidade do poder da organização estatal. Do ponto de vista interno, como conceito jurídico e social, a soberania é da essência do ordenamento estatal, uma superioridade e supremacia do poder do Estado sobre os demais poderes sociais, que ficam subordinados. A soberania interna fixa a noção de predomínio que o ordenamento estatal exerce num certo território e numa determinada população sobre osdemais ordenamentos sociais. O Estado é portador de uma vontade suprema e soberana que deflui de seu papel privilegiado de ordenamento político monopolizador da coação incondicionada na sociedade. É a capacidade do Estado a uma autovinculação e autodeterminação jurídica exclusiva. A doutrina da soberania popular, é a soma das distintas frações de soberania, que pertencem como atributo a cada indivíduo, o qual, membro da comunidade estatal e detentor dessa parcela do poder soberano fragmentado, participa ativamente na escolha dos governantes. Essa doutrina funda o processo democrático sobre a igualdade política dos cidadãos e o sufrágio universal. A SEPARAÇÃO DE PODERES É o instrumento mais poderoso e mais rígido de proteção e garantia das liberdades individuais, no direito de fazer-se tudo quanto permitem as leis. O poder legislativo, o poder executivo e o poder judiciário. Cada um desses poderes correspondem a determinadas funções. Através do poder legislativo fazem-se leis para sempre ou para determinada época, bem como se aperfeiçoam ou ab-rogam as que já se acham feitas. UNIFIEO CIÊNCIAS POLÍTICAS Prof. Carlos Renato da Silva _______________________________________________________________ 5 Com o poder executivo, ocupa-se da paz e da guerra, envia e recebe embaixadores, estabelece a segurança e previne as invasões. O poder judiciário dá ao Estado a faculdade de punir os crimes ou julgar os dissídios da ordem civil. A liberdade política decorrente do juízo de segurança que cada qual faça acerca de seu estado no plano da convivência social. A liberdade estará sempre presente toda vez que haja um governo em face do qual os cidadãos não abriguem nenhum temor recíproco. A liberdade política exprimirá sempre o sentimento de segurança, de garantia e de certeza que o ordenamento jurídico proporcione às relações de indivíduo para indivíduo, sob a égide da autoridade governativa. Como a natureza das coisas não permite a imobilidade dos poderes, mas o seu constante movimento, são compelidos a atuar em harmonia e independentes, com mecanismos de controle recíproco da ação dos poderes, a faculdade de estatuir e de impedir. DO ESTADO UNITÁRIO A ordem jurídica, a ordem política e a ordem administrativa se acham aí conjugadas em perfeita unidade orgânica, referidas a um só povo, um só território, um só titular do poder público de império. No Estado unitário poder constituinte e poder constituído se exprimem por meio de instituições que representam sólido conjunto, bloco único. A CONFEDERAÇÃO Sem perda das respectivas soberanias, podem vários Estados associar-se debaixo de forma estável de união, que lhes consente seguir política UNIFIEO CIÊNCIAS POLÍTICAS Prof. Carlos Renato da Silva _______________________________________________________________ 6 comum de defesa externa e segurança interna, mediante órgãos interestatais, cujos poderes variam quanto à espécie e ao número, conforme delegação cometida. O ESTADO FEDERAL Estado soberano, formado por uma pluralidade de Estados, no qual o poder do Estado emana dos Estados-membros, ligados numa unidade Estatal. Na Federação a legislação é unitária ou comum, criando indiferentemente direitos e obrigações imediatas para os cidadãos dos diversos Estados. Vários Estados se associam com vistas a uma integração harmônica de seus destinos. Não possuem esses Estados soberania externa e do ponto de vista da soberania interna se acham em parte sujeitos a um poder único, que é o poder federal, e em parte conservam sua independência, movendo- se livremente na esfera da competência constitucional que lhes for atribuída para efeito de auto-organização, que implica o poder de fundar uma ordem constitucional própria, atuando aí fora de toda a submissão a um poder superior e podendo no quadro das relações federativas exigir do Estado Federal o cumprimento de determinadas obrigações. A LEI DA PARTICIPAÇÃO E A LEI DA AUTONOMIA Mediante a lei de participação, tomam os Estados-membros parte no processo de elaboração da vontade política válida para toda a organização federal, intervêm com voz ativa nas deliberações de conjunto, contribuem para formar as peças do aparelho institucional da Federação. Através da lei da autonomia manifesta-se com toda a clareza o caráter estatal das unidades federadas. Podem estas livremente estatuir uma ordem constitucional própria, estabelecer a competência dos três poderes que habitualmente integram o Estado (executivo, legislativo e judiciário) e exercer desembaraçadamente todos aqueles poderes que decorrem da natureza mesma do sistema federativo, desde que tudo se faça na estrita observância dos princípios básicos da Constituição federal. A participação e a autonomia são processos que se inserem na ampla moldura da Federação, envolvidos pelas garantias e pela certeza do ordenamento constitucional superior — a Constituição federal, cimento de todo o sistema federativo. Há Estado federal quando um poder constituinte, plenamente soberano, dispõe na Constituição federal os lineamentos básicos da organização federal, traça ali o raio de competência do Estado federal, dá forma às suas instituições e estatui órgãos legislativos com ampla competência para elaborar regras jurídicas de amplitude nacional, cujos destinatários diretos e imediatos não são os Estados-membros, mas as pessoas que vivem UNIFIEO CIÊNCIAS POLÍTICAS Prof. Carlos Renato da Silva _______________________________________________________________ 7 nestes, cidadãos sujeitos à observância tanto das leis específicas dos Estados-membros a que pertencem, como da legislação federal. A superioridade do Estado federal sobre os Estados federados fica patente naqueles preceitos da Constituição federal que ordinariamente impõem limites aos ordenamentos políticos dos Estados-membros, em matéria constitucional, pertinentes à forma de governo, às relações entre os poderes, à ideologia, à competência legislativa, à solução dos litígios na esfera judiciária, etc. Os Estados federados aparecem por sua vez tomando parte ativa e indispensável na elaboração e no mecanismo da Constituição Federal. A organização federal implicando a dualidade do poder legislativo, repartido em duas Casas, uma representativa do conjunto dos cidadãos, com participação variável dos Estados, segundo índices populacionais, e outra, que ao invés de representar o povo da Federação em sua totalidade, se toma por representativa dos Estados, a chamada Câmara Alta ou Senado. As modificações constitucionais ficam sujeitas, no federalismo autêntico, à aprovação da Casa de representantes dos Estados Federados. A vontade dos Estados-membros é, por consequência, básica para a formação da vontade federal tocante a qualquer reforma da Constituição. FORMAS DE GOVERNO E FORMAS DE ESTADO Como formas de Estado, temos a unidade ou pluralidade dos ordenamentos estatais, a forma plural da sociedade de Estados (o Estado Federal, a Confederação, etc.) e a forma singular, o Estado simples ou Estado unitário. Como formas de Governo, temos a organização e o funcionamento do poder estatal, consoante os critérios adotados para a determinação de sua natureza. Os três principais critérios são: a) o do número de titulares do poder soberano; b) o da separação de poderes, com rigoroso estabelecimento ou fixação de suas respectivas relações; c) o dos princípios essenciais que animam as práticas governativas e conseqüente exercício limitado ou absoluto do poder estatal. Formas de governo puro são aqueles em que os titulares da soberania, quer se trate de um, de alguns ou de todos, exercem o poder soberano tendo invariavelmente em vista o interesse comum. UNIFIEO CIÊNCIAS POLÍTICAS Prof. Carlos Renato da Silva _______________________________________________________________ 8 Formade governos impuros são aqueles em que, ao invés do bem comum, prevalece o interesse pessoal, o interesse particular dos governantes contra o interesse geral da coletividade. A CLASSIFICAÇÃO DE ARISTÓTELES: MONARQUIA, ARISTOCRACIA E DEMOCRACIA A monarquia representa o governo de um só. Exige uma organização do poder político unitário, exprimindo uma forma de governo na qual se faz mister o respeito das leis. Desvirtuada de seu significado essencial de governo que respeita as leis, a monarquia se converte em tirania, a saber, governo de um só, que vota o desprezo da ordem jurídica. A aristocracia significa o governo de alguns, o governo dos melhores, dos mais capazes, na acepção de força da cultura, força da inteligência, força entendida de modo qualitativo, força, por conseguinte, dos melhores, dos que tomam as rédeas do governo. A aristocracia depravada se transmuda em oligarquia, plutocracia ou despotismo, como governo do dinheiro, da riqueza desonesta, dos interesses econômicos anti-sociais. A democracia é o governo que deve atender na sociedade aos reclamos de conservação e observância dos princípios de liberdade e de igualdade. A democracia decaída se transfaz em demagogia, governo das multidões rudes, ignaras e despóticas. AS MODERNAS CLASSIFICAÇÕES DAS FORMAS DE GOVERNO: DE MAQUIAVEL A MONTESQUIEU Maquiavel classifica as formas de governo em termos dualistas: de uma parte, a monarquia, o poder singular; e, de outra parte, a república, ou poder plural, que abrange a aristocracia e a democracia. Montesquieu distingue na forma de governo a natureza e o princípio desse governo. A natureza do governo se exprime naquilo que faz com que ele seja o que é. O princípio do governo, por sua vez, vem a ser aquilo que o faz atuar, que anima e excita o exercício do poder: as paixões humanas, por exemplo. São formas de governo: a república, a monarquia e o despotismo. A república compreende a democracia e a aristocracia. A natureza de todo governo democrático consiste em a soberania residir nas mãos do povo, o princípio se traduz no amor da pátria, na igualdade, na compreensão dos deveres cívicos. Na aristocracia, sua natureza é a soberania pertencer a alguns e seu princípio a moderação dos governantes. A monarquia se trata do regime das distinções, das separações, das variações e dos equilíbrios sociais. Sua natureza decorre de ser o governo de um só. Cumpre aqui ao soberano governar mediante leis fixas e estabelecidas. A organização política da monarquia toma por traço UNIFIEO CIÊNCIAS POLÍTICAS Prof. Carlos Renato da Silva _______________________________________________________________ 9 característico a presença de poderes ou corpos intermediários na sociedade. Essas organizações privilegiadas e hereditárias são o clero, a justiça e a nobreza, que atuam em presença do trono como poderes subordinados e dependentes. O princípio da monarquia se cifra no sentimento da honra, no amor das distinções, no culto das prerrogativas. Por fim, o despotismo. Sua natureza se resume na ignorância ou transgressão da lei. O monarca reina fora da ordem jurídica, sob o impulso da vontade e dos caprichos pessoais. O princípio de todo o despotismo reside no medo: onde há desconfiança, onde há insegurança, onde há incerteza, onde as relações entre governantes e governados se fazem à base do temor recíproco, não há governo legítimo, mas governo despótico, governo que nega a liberdade, governo que teme o povo. FORMAS FUNDAMENTAIS E FORMAS SECUNDÁRIAS DE GOVERNO (BLUNTSCHLI) Bluntschli distinguiu as formas fundamentais ou primárias de governo das formas secundárias. Ao distinguir as formas fundamentais, afirmou que o princípio de sua classificação atendia à qualidade do regente, ao passo que nas formas secundárias o critério a que obedeceu era o da participação que têm no governo os governados. São formas fundamentais: a monarquia, a aristocracia, a democracia e a ideocracia ou teocracia (a soberania por sede uma divindade). Quanto às formas secundárias, se refem ao grau de participação dos governados no governo, tomam a seguinte discriminação: governos despóticos (Um único governo arbitrário, fora da ordem jurídica) ou servis, governos semilivres, e governos livres, que são os compreendidos na forma dos chamados Estados populares ou Estados democráticos. AS FORMAS DE GOVERNO SEGUNDO O CRITÉRIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES: GOVERNO PARLAMENTAR, GOVERNO PRESIDENCIAL E GOVERNO CONVENCIONAL O governo parlamentar é aquela forma que assenta fundamentalmente na igualdade e colaboração entre o executivo e o legislativo, ligada mais teórica que efetivamente às novas ideias democráticas. O governo presidencial, segundo as regras técnicas do rito constitucional resulta num sistema de separação rígida dos três poderes: o executivo, o legislativo e o judiciário. UNIFIEO CIÊNCIAS POLÍTICAS Prof. Carlos Renato da Silva _______________________________________________________________ 10 O regime convencional se toma como um sistema de preponderância da assembleia representativa, em matéria de governo. GOVERNOS PELO CONSENTIMENTO E GOVERNOS PELA COAÇÃO A ideia de governo se entrelaça pois com a de regime. Todas as formas de governo são reduzidas a duas modalidades básicas: governos limitados ou governos absolutos, governos livres ou governos totalitários, governos da liberdade ou governos da ditadura. O SUFRÁGIO O sufrágio é o poder que se reconhece a certo número de pessoas (o corpo de cidadãos) de participar direta ou indiretamente na soberania, isto é, na gerência da vida pública. Com a participação direta, o povo politicamente organizado decide, através do sufrágio, determinado assunto de governo; com a participação indireta, o povo elege representantes. O eleitor é tão somente instrumento ou órgão de que se serve a nação para criar o órgão maior a que delega o poder soberano, do qual todavia se conserva sempre titular. É competência constitucional da nação o poder qualificado a traçar as regras e condições do sufrágio, e para determinar quem deve fazer parte do corpo eleitoral. Algumas limitações postas ao exercício do sufrágio, mediante a exigência de preenchimento de vários requisitos de capacidade àqueles a quem a nação cometeu a função eletiva. O sufrágio é a vontade soberana da nação, que pode investir no exercício da função eleitoral tão-somente aqueles que julgar mais aptos a cumprir esse dever. O sufrágio universal, fundado na soberania popular, com a obrigatoriedade do voto e sanções impostas ao eleitor. Diz que se trata de um “direito de função”. Conjuga assim no conceito de sufrágio igualmente a “função eleitoral” (direito) e o “correto exercício” dessa mesma função (dever ou obrigação). Como “função eleitoral”, o sufrágio é direito público subjetivo, contendo certos poderes reconhecidos ao seu titular. Como “correto exercício da função eleitoral”, entende-se por aí a face do sufrágio que se apresenta em forma de dever, de obrigação do eleitor ou cidadão. UNIFIEO CIÊNCIAS POLÍTICAS Prof. Carlos Renato da Silva _______________________________________________________________ 11 O exercício do voto, pelo lado de sua obrigatoriedade, apresenta-se como “dever cívico”, intermediário entre o “mero dever moral” e o “dever jurídico”. O SUFRÁGIO RESTRITO O sufrágio é restrito, porque se compreende que mais depressa a sociedade chegará àquele resultado: o governo dos melhores. O sufrágio é restrito quando o poder de participação se confere unicamente àqueles que preenchem determinados requisitos de riqueza ou instrução, de nascimento ou origem. Modalidades de sufrágio restrito: sufrágio censitário (a riqueza), sufrágio capacitário (a instrução), sufrágio aristocrático ou racial (a classe social ou a raça). O SUFRÁGIO UNIVERSAL A rigor todo sufrágio érestrito. Não há sufrágio completamente universal. Define-se o sufrágio universal como aquele em que a faculdade de participação não fica adstrita às condições de riqueza, instrução, nascimento, raça e sexo. Não se estendendo indiferentemente a todas as pessoas, comporta limitações. a consumação lógica do princípio democrático só se verifica com o advento daquele sufrágio, que conduz politicamente a democracia à sua plenitude. O sufrágio universal fez-se assim inseparável da ordem democrática. O voto secreto, garantia efetiva do princípio democrático, constitui um complemento do sufrágio universal. Daí também seu caráter obrigatório. No sufrágio igual, temos a consagração daquele princípio democrático que se exprime pela fórmula “um homem, um voto”. A DEMOCRACIA Conceito: A democracia deve ser o governo do povo, para o povo, pelo povo. Trata-se da melhor forma de organização do poder, conhecida na história política e social de todas as civilizações. Para Kelsen, a democracia é sobretudo um caminho: o da progressão para a liberdade. Do ponto de vista formal, a democracia distingue-se em três modalidades básicas: UNIFIEO CIÊNCIAS POLÍTICAS Prof. Carlos Renato da Silva _______________________________________________________________ 12 - democracia direta (ou não representativa): o povo, em assembléia, delibera a coisa pública, o poder é concentrado no exercício político pleno. As bases da democracia grega são: - isonomia - a igualdade de todos perante a lei, sem distinção de grau, classe ou riqueza. - isotimia - o livre acesso para todos os cidadãos ao exercício das funções públicas por merecimento, honra e confiança depositada no administrador pelos cidadãos. - e, isagoria - o direito de palavra, da igualdade reconhecida a todos de falar nas assembléias populares, de debater publicamente os negócios do governo. - democracia indireta (representativa): por razões de ordem prática o sistema representativo é condição essencial para o funcionamento no Estado moderno de organização democrática do poder. A democracia, fundada e legitimada no consentimento dos cidadãos, tem que ser, de necessidade, a representação ou o regime representativo, como instrumento do poder popular de decisão. - e, democracia semidireta (que é a democracia dos tempos modernos): trata-se de modalidade em que se alteram as formas clássicas da democracia representativa para aproximá-la cada vez mais da democracia direta. A alienação política da vontade popular faz-se apenas parcialmente. Acrescenta-se portanto à participação política certa participação jurídica. O partido político é hoje o poder institucionalizado das massas, através da qual as correntes da opinião afluem da área da sociedade, onde nascem, para a área do Estado e suas instituições, onde afetam ou dirigem o curso da ação política. A democracia do Estado social é a democracia do Estado partidário. Os partidos são a expressão mais viva do poder. Caracteriza-se como democracia coletivista, social, onde a compreensão dos valores humanos terá de fazer-se sempre com relação a grupos e não a indivíduos. O homem se conservará sempre ponto de partida e destinatário de toda a ação social. Os partidos se convertem na força condutora do destino da coletividade democrática. Sua ação absorveu a independência do representante, fê-lo um delegado da confiança partidária, mudou-lhe por conseqüência a natureza do mandato. A legislação, que entrega juridicamente o Estado aos partidos, possibilita a faculdade do cidadão intervir ativamente na formação da vontade política, dentro do sistema de opções que um quadro político-partidário pluralista lhe possa oferecer. UNIFIEO CIÊNCIAS POLÍTICAS Prof. Carlos Renato da Silva _______________________________________________________________ 13 O PRESIDENCIALISMO O sistema presidencial de governo surgiu com a Constituição de 1787, dos Estados Unidos, com a figura do Presidente, munido de poderes com forte aparência do sistema e nominalmente o assinala. Todos os Estados presidencialistas ostentam um Parlamento que em geral se chama Congresso. Três princípios básicos do presidencialismo: a) Historicamente é o sistema clássico do princípio da separação de poderes, como esteio máximo das garantias constitucionais da liberdade. b) forma de governo onde todo o poder executivo se concentra no Presidente, que o exerce inteiramente fora de qualquer responsabilidade política perante o poder legislativo. c) os poderes do Presidente devem derivar da própria Nação, diretamente do povo, por sufrágio universal direto; A responsabilidade do Presidente é penal e não política. A posição do Presidente em face do Congresso, que é o tronco do poder legislativo no sistema presidencial: a) nenhuma ingerência do titular do poder executivo nas prerrogativas que tem o Congresso de determinar por iniciativa própria; b) ausência de faculdade que permita ao Presidente por competência própria efetuar a dissolução do Congresso; c) inexistência de participação no poder legislativo, por força do Princípio da separação de poderes; d) consagração do direito de veto como meio de contrabalançar a competência legislativa do Congresso; e) nomeação pelo Presidente dos ministros da mais alta corte de justiça, sujeita porém à aprovação do Senado; f) direção da política exterior pelo Presidente da República. Os poderes do Presidente da República: a) a chefia da administração, através de ministérios e serviços públicos federais; b) o exercício do comando supremo das forças armadas; c) a direção e orientação da política exterior. O presidencialismo é um método, processo ou técnica da democracia representativa. É a técnica de governo que consiste em determinar UNIFIEO CIÊNCIAS POLÍTICAS Prof. Carlos Renato da Silva _______________________________________________________________ 14 atribuições de poderes e fixar ou disciplinar as relações dos poderes entre si. A técnica constitucional estatui os princípios cardiais dessa forma de governo: a separação, independência e harmonia dos poderes, sua limitação pela Constituição, a eleição do Presidente pelo sufrágio universal da Nação e a presença de prazos certos fixando a temporariedade dos mandatos da representação popular em câmaras indissolúveis.
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