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aula ciências políticas - parte 4

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UNIFIEO 
CIÊNCIAS POLÍTICAS 
Prof. Carlos Renato da Silva 
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O PODER DO ESTADO 
Outro elemento essencial constitutivo do Estado, o poder representa 
sumariamente aquela energia básica que anima a existência de uma 
comunidade humana num determinado território, conservando-a unida, 
coesa e solidária. 
É a faculdade de tomar decisões em nome da coletividade. 
Com o poder se entrelaçam a força e a competência, compreendida esta 
última como a legitimidade oriunda do consentimento. 
O poder repousa unicamente na força, e a Sociedade, onde ele se exerce, 
exterioriza em primeiro lugar o aspecto coercitivo com a nota da 
dominação material e o emprego frequente de meios violentos para impor 
a obediência, esse poder, não importa sua aparente solidez ou estabilidade, 
será sempre um poder de fato. 
O poder busca sua base de apoio menos na força do que na competência, 
menos na coerção do que no consentimento dos governados, 
convertendo-se num poder de direito. 
A força exprime a capacidade material de comandar interna e 
externamente. 
O poder significa a organização ou disciplina jurídica da força. 
E a autoridade traduz o poder quando ele se explica pelo consentimento, 
tácito ou expresso, dos governados (quanto mais consentimento mais 
legitimidade e quanto mais legitimidade mais autoridade). 
O poder com autoridade é o poder apto a dar soluções aos problemas 
sociais. 
Nascemos no Estado e ao menos contemporaneamente é inconcebível a 
vida fora do Estado. 
O Estado se sustenta pela coação, é simplesmente a organização social do 
poder de coerção ou a organização da coação social ou a sociedade como 
titular de um poder coercitivo regulado e disciplinado, sendo o Direito por 
sua vez a disciplina da coação. 
O Estado que possui o monopólio da coação organizada e incondicionada, 
não somente emite regras de comportamento senão que dispõe dos meios 
materiais imprescindíveis com que impor a observância dos princípios 
porventura estatuídos de conduta social. 
Atua o Estado por conseguinte no ambiente coletivo, quando necessário, 
com a máxima imperatividade e firmeza, formando aquele vasto círculo de 
segurança e ação no qual se movem outros círculos menores dele 
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dependentes ou a ele acomodados, que são os grupos e indivíduos, cuja 
existência ganha ali certeza e personificação jurídica. 
O portador do poder do Estado, do ponto de vista jurídico, não é uma 
pessoa física e nem várias pessoas físicas, mas sempre e 
indispensavelmente a pessoa jurídica, o Estado. 
O segundo traço essencial que deriva da existência do poder estatal é a 
sua capacidade de auto-organização. 
O caráter estatal de uma organização social decorre precisamente da 
circunstância de proceder de um direito próprio, de uma faculdade auto-
determinativa, de uma autonomia constitucional o poder que essa 
organização exerce sobre os seus componentes. 
Há Estado desde que o poder social esteja em condições de elaborar ou 
modificar por direito próprio e originário uma ordem constitucional. 
A indivisibilidade do poder configura outra característica do poder estatal. 
Significa que somente pode haver um único titular desse poder, que será 
sempre o Estado como pessoa jurídica ou aquele poder social que em 
última instância se exprime, pela vontade do monarca, da classe ou do 
povo. 
No Estado moderno um de seus postulados essenciais e desprender o 
poder do Estado do poder pessoal do governante. 
Titulares do poder são aquelas pessoas cuja vontade se toma como 
vontade estatal. 
Essa vontade, expressando o poder do Estado, se manifesta através de 
órgãos estatais, que determinam em seus atos e decisões o caráter e os 
fins do ordenamento político. 
No Estado democrático contemporâneo, a titularidade do poder estatal 
pertence ao povo; o seu exercício, porém, aos órgãos através dos quais o 
poder se concretiza. 
O poder do Estado na pessoa de seu titular é indivisível: a divisão só se faz 
quanto ao exercício do poder, quanto às formas básicas de atividade 
estatal. 
Distribuem-se através de três tipos fundamentais: a função legislativa, a 
função judiciária e a função executiva, que são cometidas a órgãos ou 
pessoas distintas, com o propósito de evitar a concentração de seu 
exercício numa única pessoa. 
No Estado federal, a União e os Estados-membros não compõem 
subjetivamente duas vontades distintas, portadoras do poder estatal, mas 
sim há uma divisão de competência e não do poder do Estado 
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propriamente dito, o qual se conserva referido a uma só pessoa, a um único 
titular. 
A soberania, que exprime o mais alto poder do Estado, a qualidade de 
poder supremo, apresenta duas faces distintas: 
A soberania interna significa o império que o Estado tem sobre o território 
e a população, bem como a superioridade do poder político frente aos 
demais poderes sociais, que lhe ficam sujeitos, de forma mediata ou 
imediata. 
A soberania externa é a manifestação independente do poder do Estado 
perante outros Estados. 
LEGALIDADE DO PODER POLÍTICO 
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 
O termo legalidade aquilo que exprime inteira conformidade com a ordem 
jurídica vigente. 
A legalidade nos sistemas políticos exprime basicamente a observância 
das leis, isto é, o procedimento da autoridade em consonância estrita com 
o direito estabelecido. 
Todo poder estatal deverá atuar sempre de conformidade com as regras 
jurídicas vigentes. 
Em suma, a acomodação do poder que se exerce ao direito que o regula. 
O funcionamento do regime político e a autoridade investida nos 
governantes devem reger-se segundo as linhas-mestras traçadas pela 
Constituição, cujos preceitos são a base sobre a qual assenta tanto o 
exercício do poder como a competência dos órgãos estatais. 
O livre e desembaraçado mecanismo das instituições e dos atos da 
autoridade, movendo-se em consonância com os preceitos jurídicos 
vigentes ou respeitando rigorosamente a hierarquia das normas, que vão 
dos regulamentos, decretos e leis ordinárias até a lei máxima e superior, 
que é a Constituição. 
O poder legal representa por consequência o poder em harmonia com os 
princípios jurídicos, que servem de esteio à ordem estatal. 
O conceito de legalidade se situa assim num domínio exclusivamente 
formal, técnico e jurídico. 
LEGITIMIDADE DO PODER POLÍTICO 
PRINCÍPIO DA LEGITIMIDADE 
A legitimidade é a justificação e os valores do poder legal, é a legalidade 
acrescida de sua valoração. 
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É o critério que busca aceitar ou negar a adequação do poder às situações 
da vida social que ele é chamado a disciplinar. 
No conceito de legitimidade entram as crenças de determinada época, que 
presidem à manifestação do consentimento e da obediência. 
A legalidade de um regime democrático, por exemplo, é o seu 
enquadramento nos moldes de uma constituição observada e praticada. 
Será sempre o poder contido naquela constituição, exercendo-se de 
conformidade com as crenças, os valores e os princípios da ideologia 
dominante, no caso a ideologia democrática. 
SOBERANIA 
Do ponto de vista externo, a soberania é apenas qualidade do poder da 
organização estatal. 
Do ponto de vista interno, como conceito jurídico e social, a soberania é da 
essência do ordenamento estatal, uma superioridade e supremacia do 
poder do Estado sobre os demais poderes sociais, que ficam 
subordinados. 
A soberania interna fixa a noção de predomínio que o ordenamento estatal 
exerce num certo território e numa determinada população sobre osdemais ordenamentos sociais. 
O Estado é portador de uma vontade suprema e soberana que deflui de seu 
papel privilegiado de ordenamento político monopolizador da coação 
incondicionada na sociedade. 
É a capacidade do Estado a uma autovinculação e autodeterminação 
jurídica exclusiva. 
A doutrina da soberania popular, é a soma das distintas frações de 
soberania, que pertencem como atributo a cada indivíduo, o qual, membro 
da comunidade estatal e detentor dessa parcela do poder soberano 
fragmentado, participa ativamente na escolha dos governantes. Essa 
doutrina funda o processo democrático sobre a igualdade política dos 
cidadãos e o sufrágio universal. 
A SEPARAÇÃO DE PODERES 
É o instrumento mais poderoso e mais rígido de proteção e garantia das 
liberdades individuais, no direito de fazer-se tudo quanto permitem as leis. 
O poder legislativo, o poder executivo e o poder judiciário. Cada um desses 
poderes correspondem a determinadas funções. 
Através do poder legislativo fazem-se leis para sempre ou para 
determinada época, bem como se aperfeiçoam ou ab-rogam as que já se 
acham feitas. 
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Com o poder executivo, ocupa-se da paz e da guerra, envia e recebe 
embaixadores, estabelece a segurança e previne as invasões. 
O poder judiciário dá ao Estado a faculdade de punir os crimes ou julgar 
os dissídios da ordem civil. 
A liberdade política decorrente do juízo de segurança que cada qual faça 
acerca de seu estado no plano da convivência social. 
A liberdade estará sempre presente toda vez que haja um governo em face 
do qual os cidadãos não abriguem nenhum temor recíproco. 
A liberdade política exprimirá sempre o sentimento de segurança, de 
garantia e de certeza que o ordenamento jurídico proporcione às relações 
de indivíduo para indivíduo, sob a égide da autoridade governativa. 
Como a natureza das coisas não permite a imobilidade dos poderes, mas o 
seu constante movimento, são compelidos a atuar em harmonia e 
independentes, com mecanismos de controle recíproco da ação dos 
poderes, a faculdade de estatuir e de impedir. 
 
DO ESTADO UNITÁRIO 
A ordem jurídica, a ordem política e a ordem administrativa se acham aí 
conjugadas em perfeita unidade orgânica, referidas a um só povo, um só 
território, um só titular do poder público de império. 
No Estado unitário poder constituinte e poder constituído se exprimem por 
meio de instituições que representam sólido conjunto, bloco único. 
A CONFEDERAÇÃO 
Sem perda das respectivas soberanias, podem vários Estados associar-se 
debaixo de forma estável de união, que lhes consente seguir política 
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comum de defesa externa e segurança interna, mediante órgãos 
interestatais, cujos poderes variam quanto à espécie e ao número, 
conforme delegação cometida. 
O ESTADO FEDERAL 
Estado soberano, formado por uma pluralidade de Estados, no qual o poder 
do Estado emana dos Estados-membros, ligados numa unidade Estatal. 
Na Federação a legislação é unitária ou comum, criando indiferentemente 
direitos e obrigações imediatas para os cidadãos dos diversos Estados. 
Vários Estados se associam com vistas a uma integração harmônica de 
seus destinos. Não possuem esses Estados soberania externa e do ponto 
de vista da soberania interna se acham em parte sujeitos a um poder único, 
que é o poder federal, e em parte conservam sua independência, movendo-
se livremente na esfera da competência constitucional que lhes for 
atribuída para efeito de auto-organização, que implica o poder de fundar 
uma ordem constitucional própria, atuando aí fora de toda a submissão a 
um poder superior e podendo no quadro das relações federativas exigir do 
Estado Federal o cumprimento de determinadas obrigações. 
A LEI DA PARTICIPAÇÃO E A LEI DA AUTONOMIA 
Mediante a lei de participação, tomam os Estados-membros parte no 
processo de elaboração da vontade política válida para toda a organização 
federal, intervêm com voz ativa nas deliberações de conjunto, contribuem 
para formar as peças do aparelho institucional da Federação. 
Através da lei da autonomia manifesta-se com toda a clareza o caráter 
estatal das unidades federadas. Podem estas livremente estatuir uma 
ordem constitucional própria, estabelecer a competência dos três poderes 
que habitualmente integram o Estado (executivo, legislativo e judiciário) e 
exercer desembaraçadamente todos aqueles poderes que decorrem da 
natureza mesma do sistema federativo, desde que tudo se faça na estrita 
observância dos princípios básicos da Constituição federal. 
A participação e a autonomia são processos que se inserem na ampla 
moldura da Federação, envolvidos pelas garantias e pela certeza do 
ordenamento constitucional superior — a Constituição federal, cimento de 
todo o sistema federativo. 
Há Estado federal quando um poder constituinte, plenamente soberano, 
dispõe na Constituição federal os lineamentos básicos da organização 
federal, traça ali o raio de competência do Estado federal, dá forma às suas 
instituições e estatui órgãos legislativos com ampla competência para 
elaborar regras jurídicas de amplitude nacional, cujos destinatários diretos 
e imediatos não são os Estados-membros, mas as pessoas que vivem 
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nestes, cidadãos sujeitos à observância tanto das leis específicas dos 
Estados-membros a que pertencem, como da legislação federal. 
A superioridade do Estado federal sobre os Estados federados fica patente 
naqueles preceitos da Constituição federal que ordinariamente impõem 
limites aos ordenamentos políticos dos Estados-membros, em matéria 
constitucional, pertinentes à forma de governo, às relações entre os 
poderes, à ideologia, à competência legislativa, à solução dos litígios na 
esfera judiciária, etc. 
Os Estados federados aparecem por sua vez tomando parte ativa e 
indispensável na elaboração e no mecanismo da Constituição Federal. 
A organização federal implicando a dualidade do poder legislativo, 
repartido em duas Casas, uma representativa do conjunto dos cidadãos, 
com participação variável dos Estados, segundo índices populacionais, e 
outra, que ao invés de representar o povo da Federação em sua totalidade, 
se toma por representativa dos Estados, a chamada Câmara Alta ou 
Senado. 
As modificações constitucionais ficam sujeitas, no federalismo autêntico, 
à aprovação da Casa de representantes dos Estados Federados. 
A vontade dos Estados-membros é, por consequência, básica para a 
formação da vontade federal tocante a qualquer reforma da Constituição. 
FORMAS DE GOVERNO E FORMAS DE ESTADO 
Como formas de Estado, temos a unidade ou pluralidade dos 
ordenamentos estatais, a forma plural da sociedade de Estados (o Estado 
Federal, a Confederação, etc.) e a forma singular, o Estado simples ou 
Estado unitário. 
Como formas de Governo, temos a organização e o funcionamento do 
poder estatal, consoante os critérios adotados para a determinação de sua 
natureza. Os três principais critérios são: 
a) o do número de titulares do poder soberano; 
b) o da separação de poderes, com rigoroso estabelecimento ou fixação de 
suas respectivas relações; 
c) o dos princípios essenciais que animam as práticas governativas e 
conseqüente exercício limitado ou absoluto do poder estatal. 
Formas de governo puro são aqueles em que os titulares da soberania, 
quer se trate de um, de alguns ou de todos, exercem o poder soberano 
tendo invariavelmente em vista o interesse comum. 
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Formade governos impuros são aqueles em que, ao invés do bem comum, 
prevalece o interesse pessoal, o interesse particular dos governantes 
contra o interesse geral da coletividade. 
A CLASSIFICAÇÃO DE ARISTÓTELES: MONARQUIA, ARISTOCRACIA E 
DEMOCRACIA 
A monarquia representa o governo de um só. Exige uma organização do 
poder político unitário, exprimindo uma forma de governo na qual se faz 
mister o respeito das leis. Desvirtuada de seu significado essencial de 
governo que respeita as leis, a monarquia se converte em tirania, a saber, 
governo de um só, que vota o desprezo da ordem jurídica. 
A aristocracia significa o governo de alguns, o governo dos melhores, dos 
mais capazes, na acepção de força da cultura, força da inteligência, força 
entendida de modo qualitativo, força, por conseguinte, dos melhores, dos 
que tomam as rédeas do governo. A aristocracia depravada se transmuda 
em oligarquia, plutocracia ou despotismo, como governo do dinheiro, da 
riqueza desonesta, dos interesses econômicos anti-sociais. 
A democracia é o governo que deve atender na sociedade aos reclamos de 
conservação e observância dos princípios de liberdade e de igualdade. A 
democracia decaída se transfaz em demagogia, governo das multidões 
rudes, ignaras e despóticas. 
AS MODERNAS CLASSIFICAÇÕES DAS FORMAS DE GOVERNO: DE 
MAQUIAVEL A MONTESQUIEU 
Maquiavel classifica as formas de governo em termos dualistas: de uma 
parte, a monarquia, o poder singular; e, de outra parte, a república, ou 
poder plural, que abrange a aristocracia e a democracia. 
Montesquieu distingue na forma de governo a natureza e o princípio desse 
governo. A natureza do governo se exprime naquilo que faz com que ele 
seja o que é. O princípio do governo, por sua vez, vem a ser aquilo que o 
faz atuar, que anima e excita o exercício do poder: as paixões humanas, 
por exemplo. São formas de governo: a república, a monarquia e o 
despotismo. 
A república compreende a democracia e a aristocracia. A natureza de todo 
governo democrático consiste em a soberania residir nas mãos do povo, o 
princípio se traduz no amor da pátria, na igualdade, na compreensão dos 
deveres cívicos. Na aristocracia, sua natureza é a soberania pertencer a 
alguns e seu princípio a moderação dos governantes. 
A monarquia se trata do regime das distinções, das separações, das 
variações e dos equilíbrios sociais. Sua natureza decorre de ser o governo 
de um só. Cumpre aqui ao soberano governar mediante leis fixas e 
estabelecidas. A organização política da monarquia toma por traço 
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característico a presença de poderes ou corpos intermediários na 
sociedade. Essas organizações privilegiadas e hereditárias são o clero, a 
justiça e a nobreza, que atuam em presença do trono como poderes 
subordinados e dependentes. 
O princípio da monarquia se cifra no sentimento da honra, no amor das 
distinções, no culto das prerrogativas. 
Por fim, o despotismo. Sua natureza se resume na ignorância ou 
transgressão da lei. 
O monarca reina fora da ordem jurídica, sob o impulso da vontade e dos 
caprichos pessoais. 
O princípio de todo o despotismo reside no medo: onde há desconfiança, 
onde há insegurança, onde há incerteza, onde as relações entre 
governantes e governados se fazem à base do temor recíproco, não há 
governo legítimo, mas governo despótico, governo que nega a liberdade, 
governo que teme o povo. 
FORMAS FUNDAMENTAIS E FORMAS SECUNDÁRIAS DE GOVERNO 
(BLUNTSCHLI) 
Bluntschli distinguiu as formas fundamentais ou primárias de governo das 
formas secundárias. 
Ao distinguir as formas fundamentais, afirmou que o princípio de sua 
classificação atendia à qualidade do regente, ao passo que nas formas 
secundárias o critério a que obedeceu era o da participação que têm no 
governo os governados. 
São formas fundamentais: a monarquia, a aristocracia, a democracia e a 
ideocracia ou teocracia (a soberania por sede uma divindade). 
Quanto às formas secundárias, se refem ao grau de participação dos 
governados no governo, tomam a seguinte discriminação: governos 
despóticos (Um único governo arbitrário, fora da ordem jurídica) ou servis, 
governos semilivres, e governos livres, que são os compreendidos na 
forma dos chamados Estados populares ou Estados democráticos. 
AS FORMAS DE GOVERNO SEGUNDO O CRITÉRIO DA SEPARAÇÃO DE 
PODERES: GOVERNO PARLAMENTAR, GOVERNO PRESIDENCIAL E 
GOVERNO CONVENCIONAL 
O governo parlamentar é aquela forma que assenta fundamentalmente na 
igualdade e colaboração entre o executivo e o legislativo, ligada mais 
teórica que efetivamente às novas ideias democráticas. 
O governo presidencial, segundo as regras técnicas do rito constitucional 
resulta num sistema de separação rígida dos três poderes: o executivo, o 
legislativo e o judiciário. 
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O regime convencional se toma como um sistema de preponderância da 
assembleia representativa, em matéria de governo. 
GOVERNOS PELO CONSENTIMENTO E GOVERNOS PELA COAÇÃO 
A ideia de governo se entrelaça pois com a de regime. 
Todas as formas de governo são reduzidas a duas modalidades básicas: 
governos limitados ou governos absolutos, governos livres ou governos 
totalitários, governos da liberdade ou governos da ditadura. 
O SUFRÁGIO 
O sufrágio é o poder que se reconhece a certo número de pessoas (o corpo 
de cidadãos) de participar direta ou indiretamente na soberania, isto é, na 
gerência da vida pública. 
Com a participação direta, o povo politicamente organizado decide, através 
do sufrágio, determinado assunto de governo; com a participação indireta, 
o povo elege representantes. 
O eleitor é tão somente instrumento ou órgão de que se serve a nação para 
criar o órgão maior a que delega o poder soberano, do qual todavia se 
conserva sempre titular. 
É competência constitucional da nação o poder qualificado a traçar as 
regras e condições do sufrágio, e para determinar quem deve fazer parte 
do corpo eleitoral. 
Algumas limitações postas ao exercício do sufrágio, mediante a exigência 
de preenchimento de vários requisitos de capacidade àqueles a quem a 
nação cometeu a função eletiva. 
O sufrágio é a vontade soberana da nação, que pode investir no exercício 
da função eleitoral tão-somente aqueles que julgar mais aptos a cumprir 
esse dever. 
O sufrágio universal, fundado na soberania popular, com a obrigatoriedade 
do voto e sanções impostas ao eleitor. Diz que se trata de um “direito de 
função”. Conjuga assim no conceito de sufrágio igualmente a “função 
eleitoral” (direito) e o “correto exercício” dessa mesma função (dever ou 
obrigação). 
Como “função eleitoral”, o sufrágio é direito público subjetivo, contendo 
certos poderes reconhecidos ao seu titular. 
Como “correto exercício da função eleitoral”, entende-se por aí a face do 
sufrágio que se apresenta em forma de dever, de obrigação do eleitor ou 
cidadão. 
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O exercício do voto, pelo lado de sua obrigatoriedade, apresenta-se como 
“dever cívico”, intermediário entre o “mero dever moral” e o “dever 
jurídico”. 
O SUFRÁGIO RESTRITO 
O sufrágio é restrito, porque se compreende que mais depressa a 
sociedade chegará àquele resultado: o governo dos melhores. 
O sufrágio é restrito quando o poder de participação se confere unicamente 
àqueles que preenchem determinados requisitos de riqueza ou instrução, 
de nascimento ou origem. 
Modalidades de sufrágio restrito: sufrágio censitário (a riqueza), sufrágio 
capacitário (a instrução), sufrágio aristocrático ou racial (a classe social ou 
a raça). 
O SUFRÁGIO UNIVERSAL 
A rigor todo sufrágio érestrito. Não há sufrágio completamente universal. 
Define-se o sufrágio universal como aquele em que a faculdade de 
participação não fica adstrita às condições de riqueza, instrução, 
nascimento, raça e sexo. 
Não se estendendo indiferentemente a todas as pessoas, comporta 
limitações. 
a consumação lógica do princípio democrático só se verifica com o 
advento daquele sufrágio, que conduz politicamente a democracia à sua 
plenitude. O sufrágio universal fez-se assim inseparável da ordem 
democrática. 
O voto secreto, garantia efetiva do princípio democrático, constitui um 
complemento do sufrágio universal. Daí também seu caráter obrigatório. 
No sufrágio igual, temos a consagração daquele princípio democrático que 
se exprime pela fórmula “um homem, um voto”. 
A DEMOCRACIA 
Conceito: A democracia deve ser o governo do povo, para o povo, pelo 
povo. 
Trata-se da melhor forma de organização do poder, conhecida na história 
política e social de todas as civilizações. 
Para Kelsen, a democracia é sobretudo um caminho: o da progressão para 
a liberdade. 
Do ponto de vista formal, a democracia distingue-se em três modalidades 
básicas: 
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- democracia direta (ou não representativa): o povo, em assembléia, 
delibera a coisa pública, o poder é concentrado no exercício político pleno. 
As bases da democracia grega são: 
- isonomia - a igualdade de todos perante a lei, sem distinção de grau, 
classe ou riqueza. 
- isotimia - o livre acesso para todos os cidadãos ao exercício das funções 
públicas por merecimento, honra e confiança depositada no administrador 
pelos cidadãos. 
- e, isagoria - o direito de palavra, da igualdade reconhecida a todos de falar 
nas assembléias populares, de debater publicamente os negócios do 
governo. 
- democracia indireta (representativa): por razões de ordem prática o 
sistema representativo é condição essencial para o funcionamento no 
Estado moderno de organização democrática do poder. A democracia, 
fundada e legitimada no consentimento dos cidadãos, tem que ser, de 
necessidade, a representação ou o regime representativo, como 
instrumento do poder popular de decisão. 
- e, democracia semidireta (que é a democracia dos tempos modernos): 
trata-se de modalidade em que se alteram as formas clássicas da 
democracia representativa para aproximá-la cada vez mais da democracia 
direta. A alienação política da vontade popular faz-se apenas parcialmente. 
Acrescenta-se portanto à participação política certa participação jurídica. 
O partido político é hoje o poder institucionalizado das massas, através da 
qual as correntes da opinião afluem da área da sociedade, onde nascem, 
para a área do Estado e suas instituições, onde afetam ou dirigem o curso 
da ação política. 
A democracia do Estado social é a democracia do Estado partidário. 
Os partidos são a expressão mais viva do poder. Caracteriza-se como 
democracia coletivista, social, onde a compreensão dos valores humanos 
terá de fazer-se sempre com relação a grupos e não a indivíduos. O homem 
se conservará sempre ponto de partida e destinatário de toda a ação social. 
Os partidos se convertem na força condutora do destino da coletividade 
democrática. Sua ação absorveu a independência do representante, fê-lo 
um delegado da confiança partidária, mudou-lhe por conseqüência a 
natureza do mandato. 
A legislação, que entrega juridicamente o Estado aos partidos, possibilita 
a faculdade do cidadão intervir ativamente na formação da vontade política, 
dentro do sistema de opções que um quadro político-partidário pluralista 
lhe possa oferecer. 
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O PRESIDENCIALISMO 
O sistema presidencial de governo surgiu com a Constituição de 1787, dos 
Estados Unidos, com a figura do Presidente, munido de poderes com forte 
aparência do sistema e nominalmente o assinala. 
Todos os Estados presidencialistas ostentam um Parlamento que em geral 
se chama Congresso. 
Três princípios básicos do presidencialismo: 
a) Historicamente é o sistema clássico do princípio da separação de 
poderes, como esteio máximo das garantias constitucionais da liberdade. 
b) forma de governo onde todo o poder executivo se concentra no 
Presidente, que o exerce inteiramente fora de qualquer responsabilidade 
política perante o poder legislativo. 
c) os poderes do Presidente devem derivar da própria Nação, diretamente 
do povo, por sufrágio universal direto; 
A responsabilidade do Presidente é penal e não política. 
A posição do Presidente em face do Congresso, que é o tronco do poder 
legislativo no sistema presidencial: 
a) nenhuma ingerência do titular do poder executivo nas prerrogativas que 
tem o Congresso de determinar por iniciativa própria; 
b) ausência de faculdade que permita ao Presidente por competência 
própria efetuar a dissolução do Congresso; 
c) inexistência de participação no poder legislativo, por força do Princípio 
da separação de poderes; 
d) consagração do direito de veto como meio de contrabalançar a 
competência legislativa do Congresso; 
e) nomeação pelo Presidente dos ministros da mais alta corte de justiça, 
sujeita porém à aprovação do Senado; 
f) direção da política exterior pelo Presidente da República. 
Os poderes do Presidente da República: 
a) a chefia da administração, através de ministérios e serviços públicos 
federais; 
b) o exercício do comando supremo das forças armadas; 
c) a direção e orientação da política exterior. 
O presidencialismo é um método, processo ou técnica da democracia 
representativa. É a técnica de governo que consiste em determinar 
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atribuições de poderes e fixar ou disciplinar as relações dos poderes entre 
si. 
A técnica constitucional estatui os princípios cardiais dessa forma de 
governo: a separação, independência e harmonia dos poderes, sua 
limitação pela Constituição, a eleição do Presidente pelo sufrágio universal 
da Nação e a presença de prazos certos fixando a temporariedade dos 
mandatos da representação popular em câmaras indissolúveis.

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