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Criminologia Aula 6: Tolerância zero, garantismo e abolicionismo Apresentação Nesta aula, você verá a política da tolerância zero que, de forma punitivista e seletiva, visa punir de modo desproporcional os delitos, ou seja, com maior rigor delitos menores. Ainda nesta aula, você conhecerá o sistema abolicionista que visa o �m do sistema penal seletivo e excludente por meio de ações na esfera civil. E ainda conhecerá o Garantismo penal, que é uma teoria que pondera entre o sistema abolicionista e a necessidade da existência do sistema penal. Objetivos Conhecer os fundamentos do Estado Neoliberal; Identi�car a política criminal do Estado Neoliberal; Conhecer os fundamentos do Abolicionismo e do Garantismo Penal; Analisar criticamente o atual Direito Penal segundo um modelo constitucional e democrático. Introdução Primeiramente na Inglaterra e posteriormente com muita força nos EUA, o Estado neoliberal de mercado, regido por uma intervenção mínima junto à sociedade, que se desvencilhou de seus papéis costumeiros, privatizou empresas públicas nos anos 90, o que repercute em um sentimento de insegurança coletivo. Com este novo modelo, há um aumento do desemprego, da insegurança e da pobreza, sendo considerado normal a desigualdade social e a seletividade do sistema. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Re�exões A partir disso, vamos a algumas re�exões: Clique nos botões para ver as informações. Obviamente, como seria possível esperar, há um aumento da criminalidade urbana, principalmente do trá�co de drogas e dos crimes contra o patrimônio, o que exige uma intervenção do Estado para efetuar um controle sobre tais “descontentes”. Controle do Estado Assim, o Estado afasta-se do seu papel social e incrementa o aparato repressivo, inclusive com o deslocamento de verbas orçamentárias de uma área para outra. Como exemplo, podemos citar os EUA, onde o orçamento da polícia é quatro vezes maior que dos hospitais públicos. Papel repressivo do Estado Essa intervenção, que �cou conhecida como movimento de lei e ordem, inserida num contexto econômico, repressivo e autoritário, estimula sanções penais para solucionar con�itos (ex. Juizados Especiais Criminais), é dirigida a grupos perigosos que devem ser controlados, possui uma ótica maniqueísta do bem contra o mal e desenvolve um direito penal máximo. Movimento de lei e ordem Critica-se esta política ao se efetuar as seguintes questões:Que lei? Qual ordem? Para quem?Como avaliar sua legitimidade?No Brasil, 2/3 da população vive com menos de dois salários-mínimos por mês e, sem dúvida, é esta a camada populacional considerada perigosa e, conseqüentemente, é o principal público do sistema penal neoliberal. Vítimas do sistema neoliberal Ou seja, como um Estado que se diz de direito, pode exigir do povo o cumprimento das leis, se ele é o primeiro a inadimplir com suas obrigações mais básicas? Estado inadimplente Política Tolerância zero Em Nova York é criada a política de tolerância zero para combater uma criminalidade que diminuía, mas que se tornou um símbolo da luta contra os parasitas sociais que ameaçam o bem-estar dos "bons cidadãos" em um modelo ainda mais repressivo e violador, inclusive, de direitos humanos. Sob o argumento de que as desordens sociais são o resultado de baixas taxas do coe�ciente de inteligência, ou seja, os pobres são pobres e delinquentes sofrem de inferioridade mental e moral, segundo essa política, seria improdutível destinar recursos para estas áreas. Uma das principais características da política tolerância zero é o maior rigor na punição de crimes menores, para prevenir crimes mais graves, ferindo, na maioria das vezes, o princípio da proporcionalidade. Neste modelo americano, que muitas vezes é alardeado como o único remédio contra a criminalidade, percebe-se uma política seletiva e excludente, que funciona apenas como instrumento de controle social, repercutindo no Brasil, face à inexistência de investimentos materiais no sistema, em normas penais simbólicas, repressivas e irracionais. Exemplo Vamos citar como exemplo americano os seguintes dados: 3% da população americana cumpre pena; Um em cada três negros de 20 a 29 anos estão presos, em condicional ou em sursis, e existe um instituto em alguns Estados – o three strikes and you are out – que trata da perpetuidade automática da pena na 3ª condenação, independentemente do crime praticado. Será que esta irracionalidade diminuiria os índices de criminalidade? Ou apenas aumentaria a exclusão social, na inexistência de políticas sociais sérias que poderiam na verdade incluir a quantidade enorme de desamparados? Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Abolicionismo Diante da política repressora de lei e ordem, surge um movimento radical, tendo como principal representante Louk Hulsman. O Abolicionismo Penal veri�ca: A seletividade do Direito Penal, A falência da pena privativa de liberdade; O mito da imparcialidade do juiz. De acordo com o abolicionismo, o sistema penal deve ser abolido e o con�ito entregue de volta à sociedade, para que as partes possam compô- la. Exemplo javascript:void(0); Como já constatado pela cifra negra , a maior parte dos crimes não são descobertos ou �cam impunes e, ainda assim, a sociedade sobrevive. 1 Os malefícios causados por um sistema penal seletivo recaem com todo o seu peso sobre um desafortunado, que sofrerá como um “bode expiatório”, uma vez que tal violência não trará qualquer benefício para a coletividade; pelo contrário, apenas aumentará a exclusão. (Fonte: Shutterstock). Por isso, segundo o Abolicionismo, todo o sistema penal deve ser eliminado para que a sociedade possa solucionar seus próprios con�itos através de juntas de conciliação, associações de bairro e lides na esfera civil. Garantismo Buscando um meio-termo, é edi�cada uma teoria de constitucionalização do Direito Penal chamada Garantismo Penal, criada por Luigi Ferrajoli. Esta teoria diz que, apesar da crise do sistema penal, sua inexistência seria muito mais prejudicial. O Garantismo Penal concorda com todas as críticas feitas pelo Abolicionismo, acreditando que este fez, de fato, um excelente diagnóstico, porém pecou no prognóstico, pois sem o sistema penal, retornaríamos à prática da vingança. O garantismo defende que, para se legitimar o sistema penal, este deve estar fundamentado segundo os princípios de um Estado Democrático de Direito e segundo os preceitos contratualistas do Iluminismo. Seu �m é limitar o seu poder punitivo através de um Direito Penal mínimo, sendo uma garantia do indivíduo contra os possíveis arbítrios do Estado. (Fonte: Freepik). https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/gon391/aula6.html Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Metáfora do direito penal e a represa Zaffaroni, também um garantista, compara o direito penal a uma represa que contém as águas caudalosas de um rio, que seria o poder punitivo do Estado. Zaffaroni, também um garantista, compara o direito penal a uma represa que contém as águas caudalosas de um rio, que seria o poder punitivo do Estado. Como toda represa, precisa de frestas por onde possa escoar um pouco da água, a �m de aliviar a pressão sobre a barragem. Estas frestas seriam os tipos penais, as hipóteses que o Estado estaria autorizado a intervir punitivamente. Porém, num modelo de lei e ordem, em que há uma in�ação legislativa no âmbito penal, teremos um aumento de furos nesta represa, mais hipóteses em que o Estado poderá intervir em nossas liberdades. Mas, o que ocorre com uma represa quando há muitos furos nela? Ela rui, vem abaixo. E então estaríamos diante de um Estado sem freios, sem limites, totalitário, como no período de ditadura militar, aqui mesmo no Brasil. Atividade 1. Como vimos nesta aula, tanto o Abolicionismo quanto o Garantismo criticam o sistema penal, mas divergem em alguns aspectos. Diferencieo Abolicionismo Penal do Garantismo Penal. Notas Cifra negra (ou zona escura, (dark number, ciffre noir) 1 Refere-se à diferença existente entre a criminalidade real e a criminalidade registrada. Referências CARVALHO, Salo de. Pena e garantias: uma leitura do Garantismo de Luigi Ferrajoli no Brasil. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2001. DORNELLES, João Ricardo W. Con�ito e segurança: entre pombos e falcões. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003. HULSMAN, Louk e CELIS, Jacqueline Bernat de. Penas perdidas: o sistema penal em questão. Rio de Janeiro: Luam, 1993. WACQUANT, Loïc. Punir os pobres: a nova gestão da miséria nos Estados Unidos. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2001. ZAFFARONI, Eugênio Raúl. Em busca das penas perdidas: a perda da legitimidade do sistema penal. Rio de Janeiro: Revan, 1999. Próxima aula A evolução histórica do uso das drogas; Os discursos legitimadores para o seu controle; As políticas criminais de controle das drogas. Explore mais Pesquise na internet, sites, vídeos e artigos relacionados ao conteúdo visto. Em caso de dúvidas, converse com seu professor online por meio dos recursos disponíveis no ambiente de aprendizagem. Assista aos �lmes: Prisioneiro da Grade de Ferro; Justiça; javascript:void(0); javascript:void(0); Ônibus 174. Leia o texto: Criminalização da pobreza e violência do Estado. javascript:void(0); javascript:void(0);
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