Buscar

4_1 Strieder_1993 APLICACAO TEORIAS TECTONONICAS NO CENTRO OESTE

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 23 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 23 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 23 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

APLICACAO TEORIAS TECTONONICAS NO CENTRO-OESTE A PARTIR DE 
1960 
 
ADELIR JOSÉ STRIEDER 
 
SUMARIO 
1. INTRODUCÃO 
2. AS TEORIAS GEOTECTÓNICAS: características principais 
2.1. A TEORIA GEOSSINCLINAL 
2.2. A TEORIA DAS FAIXAS MÓVEIS 
2.3. A TEORIA DA TECTÔNICA DE PLACAS 
APRECIAÇA0 DOS TRABALHOS DE GEOTECTÔNICA QUE ENVOLVEM O 
CENTRO-OESTE 
3.1. A APLICAÇÃO DOS CONCEITOS DE GEOSSINCLINAL 
3.2. A APLICAÇÃO DOS CONCEITOS DE FAIXAS MÓVEIS 
3.3. A APLICAÇÃO DOS CONCEITOS DE TECTÔNICA DE PLACAS. 
DISCUSSA0 FINAL E RECOMENDAÇÕES 
AGRADECIMENTOS 
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 
 
 
Artigo publicado no 
Boletim de Geologia da Sociedade Brasileira de Geologia, Núcleo Centro-Oeste. (1993) 
Boletim No. 16, pp 79-105 
 
 
 
ABSTRACT 
This paper makes a first tentative to classify the most important papers on geotectonic 
evolution of the central Brazil area according the formally applied geotectonic theory. 
The paper was designed to cover publications since 1960' decada, just the period of most 
intensive geological working in Brazil. A large effort was developed to recover some 
papers and to study them taking in mind their stated geotectonic concepts. At this point, 
it was realized on the necessity of looking for the background references and ideas used 
by the Brazilian geologists. This is the scope of the second chapter of the paper, where 
the main characteristics of each tectonic theory are presented in order to understand their 
application in the Brazilian geologic literature. The third chapter is, then, devoted to 
analyse the selected papers in the light of their proposed geotectonic vinculation. It was 
found that, despite the change in the applied geotectonic theory and the acquisition of 
new data, there is not a clear cut in the proposed geological evolution for the continental 
Brazil territory; one can say that there is much similarities in the tectonic conceptions and 
in the described tectonic evolutions. It seems that there was not, in reality, a change in the 
tectonic conceptions, because one can easily find misuse of the tectonic proposals and 
descriptions without critical review of the original source. 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
As hipóteses gerais sobre a estruturação e a evolução geotectônica da crosta 
terrestre estão baseadas em dois aspectos fundamentais: i) a profundidade do 
conhecimento geológico de uma determinada região e ii) o instrumental teórico utilizado 
para explicar a origem das estruturas geológicas observadas. A partir da sua formulação 
e da sua aceitação, as hipóteses geotectônicas parecem perder o vínculo com os aspectos 
desencadeadores e atuar de modo independente, pois passam a fornecer os critérios de 
investigação geológica; pode-se dizer que, a partir deste momento, as hipóteses 
geotectônicas passam a dirigir e a condicionar o aprofundamento do conhecimento 
geológico regional (em analogia à caracterização de Kuhn, 1975, pp.). 
No Brasil, o maior desenvolvimento da geologia se deu nas 3 últimas décadas, a 
partir da instalação dos cursos superiores em geologia. A partir do início da década de 
1960, um maior número de levantamentos geológicos começou a convergir e permitiu a 
elaboração de uma primeira proposta formal sobre a estruturação tectônica da 
"plataforma" brasileira (Almeida 1959,1966,1967b; Ferreira 1968). Isto não significa que 
anteriormente não se utilizasse de conceitos tectônicos na caracterização e na descrição 
de unidades geológicas. A utilização de conceitos tectônicos era, contudo, feita para 
regiões, ou para unidades geológicas restritas; não se possuía um arcabouço tectônico do 
território brasileiro capaz de servir como referencial na caracterização de unidades locais. 
Com base na literatura geológica, pode-se atualmente distinguir a aplicação de 
três diferentes teorias geotectônicas ao Precambriano: 1) geossinclinal, 2) faixas móveis, 
e 3) tectônica de placas. 
No entanto, uma avaliação mais cuidadosa desta literatura geológica permitirá 
revelar que, a despeito da teoria geotectônica utilizada, existe uma bem marcada 
similaridade nas caracterizações regionais realizadas: similaridade evolutiva e 
similaridade de concepções tectônicas. Estas similaridades estão bem expressas nas 
questões que, não resolvidas, ultrapassam os limites de aplicação de cada uma das teorias 
abordadas. O exemplo mais marcante deste problema diz respeito à definição de um, ou 
de dois ciclos tectónicos na estruturação das faixas "Uruaçu" e "Brasília"; a discussão tem 
origem na interpretação de dados geocronológicos e na concepção do que é e quanto dura 
um cicio tectônico. Em maior, ou em menor grau, este tipo de discussão também pode ser 
observado em algumas outras faixas de dobramento. 
Diante deste quadro, observa-se que, ultimamente, muitos trabalhos de caráter 
local, ao buscarem um arcabouço geotectônico regional como referencial, têm aplicado 
equivocadamente as teorias geotectônicas; há outros, ainda, que têm negligenciado o uso 
de arcabouços geotectônicos como referencial. Isto decorre, em boa parte, i) da falta de 
uma maior familiaridade com os critérios e as concepções que fundamentam cada teoria 
geotectônica, ii) da orientação metodológica dada à investigação geológica e, como efeito 
de causa e conseqüência, iii) da pouca profundidade do conhecimento do arcabouço 
geológico regional para permitir extrapolações geotectônicas. Porém, também decorre da 
ausência de uma discussão e de uma sistematização da utilização das diferentes teorias 
geotectônicas no Brasil. 
Como passo inicial para superar estes problemas, é necessário analisar os critérios 
e as características fundamentais de cada teoria geotectônica e a sua aplicação na 
realidade do conhecimento geológico brasileiro, de modo a tornar claras as concepções 
geotectônicas presentes e os pontos de ruptura entre estas concepções. Embora, em 
determinadas ocasiões, apresente-se detalhes do instrumental teórico e da metodologia 
cientifica empregada em cada teoria, este artigo não pretende examinar e discutir estes 
pontos, nem fazer um acompanhamento da modificação histórica da utilização daquele 
instrumental; o artigo apenas os apresenta de acordo com a necessidade de mostrar o 
modo de compreender a estruturarão e a evolução geotectônica da crosta terrestre 
conforme comumente expresso nas formulações de cada teoria. No segundo capitulo, o 
artigo tentará sistematizar os trabalhos mais importantes que envolvem a apresentação, 
ou a proposição de um arcabouço geotectônico para o Centro-oeste brasileiro. Por meio 
da análise qualitativa da aplicação das teorias geotectônicas explicitadas em cada 
trabalho, este artigo buscará destacar as similaridades interpretativas e, deste modo, 
mostrar que os critérios de investigação geotectônica não foram fundamentalmente 
modificados, apesar da mudança de teoria tectônica. 
 
 
AS TEORIA GEOTECTÔNICAS: características principais 
Este capitulo pretende resgatar, de antemão, as principais concepções e 
características de cada uma das teorias geotectônicas. A apresentação não pretende 
discutir aspectos controversos da formulação de cada teoria, mas, a partir de referências 
acessíveis, salientar os pontos mais importantes que permitirão examinar a aplicação 
daquelas teorias e compreender alguns dos critérios empregados na elaboração das 
propostas de estruturação geotectônica para o Centro-oeste brasileiro. 
 
A TEORIA GEOSSINCLINAL 
Esta teoria foi formulada no interegno 1850-1900, por Hall, Danna e Haug (ver: 
Aubouin 1965); naquele período, discutiu-se amplamente o predomínio das forças 
verticais contra o das forçaas horizontais no desencadeamento das estruturas geológicas 
da crosta terrestre. A teor ia geossinclinal foi formulada sobre muitas das idéias que 
fundamentaram a Hipótese do Levantamento (ver: Beloussov 1971, pg. 46-53): atuação 
da forca da gravidade e da força de "bombeamento" dos materiais quentesa partir do 
núcleo da Terra. 
A apresentação das principais características da Teoria Geossinclinal, neste artigo, 
segue as formulações expostas por Beloussov (1971). Isto se deve ao fato de se ter 
constatado que as idéias e os critérios utilizados para interpretar a evolução geotectônica 
do território brasileiro durante a "fase" geossinclinal estão muito mais próximas das 
ponderações levantadas por Beloussov, do que aquelas expressas por Aubouin (1965). 
A geração de uma geossinclinal foi inicialmente considerada como um processo 
auto-governado (ver Wyllie 1971). Porém, o curso do desenvolvimento da Teoria 
Geossinclinal incorporou muitas outras proposições que buscavam explicar aspectos 
particulares dentro do problema maior a ser equacionado: os movimentos oscilatórios da 
crosta terrestre. Esta questão focalizou sobremaneira a atenção dos geólogos à época em 
que se começou a estudar mais profundamente as seqüências sedimentares na prospecção 
de petróleo. 
A partir de cada uma das hipóteses incorporadas, formulou-se um mecanismo 
gerador para a geossinclinal (Wyllie 1971, pg. 211-232). A primeira proposta para 
explicar o desencadeamento da geossinclinal baseou-se na idéia de que o acúmulo de 
sedimentos é capaz de produzir a sobrecarga necessária para arquear continuamente a 
crosta (Hipótese da Isostasia: ver Beloussov 1971, p. 790). Uma segunda proposta, de 
âmbito mais global, considerou que a pulsação da "massa sub-cortical do planeta" seria 
responsável por etapas alternadas de expansão (subsidência e formação da geossinclinal) 
e de contração (dobramentos e levantamentos) da crosta; esta proposta (Hipótese da 
Pulsação: ver Beloussov 1971, p. 791) chamou a atenção para o caráter periódico dos 
eventos tectónicos, o que foi muito utilizado para explicar os movimentos oscilatórios 
superpostos da geossinclinal. A remoção do magma em profundidade e a sua erupção na 
superfície, ligadas, ou não à migração e à desintegração de elementos radioativos, 
contribuiriam como mecanismo tanto para a subsidência, quanto para o levantamento; a 
migração de elementos radioativos e a formação de intrusões graníticas na crosta se 
desenvolvem de modo desigual: nas zonas de maior migração há uma estratificação por 
densidade, de modo que o material granítico se eleva e o material mais denso se "afunda" 
para formar levantamentos e subsidências internas e externas da geossinclinal (Hipótese 
da Radiomigracao; Beloussov 1971, pg. 793-794, 806-610). A desintegra aço radioativa, 
por outro ponto de vista, foi considerada capaz de gerar calor suficiente para produzir 
correntes de convecções subcorticais, que causariam levantamentos (correntes 
ascendentes), dobramentos (correntes com movimento horizontal) e subsidência 
(correntes descendentes); por esta hipótese (Correntes de Convecção: ver Dietz 
1961,1968, Meyerhoff 1968), na década de 1960, considerou-se que poderia haver o 
“underthrust” de parte da crosta continental (p. ex.: Himalaias). A diferenciação do manto 
silicatado como resultado do resfriamento diferencial causa, em regiões de maior 
resfriamento e pressão, a contração das rochas magmáticas (gabros), que se convertem 
em eclogitos e formam uma geossinclinal na superficie terrestre; ao mesmo tempo, 
acredita-se que a diferenciação magmática, ao separar os elementos mais leves, causa a 
"flutuação" e elevação de massas graníticas e o afundamento do material mais denso 
(Hipótese da Undacão: van Bemmelen 1973). O próprio afundamento de "massas" 
eclogíticas no “material” subcortical pode desencadear uma geossinclinal. 
A principal característica de todas estas hipóteses era o conceito da unidade no 
desenvolvimento da estrutura terrestre (Beloussov 1971). Por este conceito, a causa que 
dava origem aos movimentos oscilatórios, às dobras, às falhas, etc.., era una; não se 
compreendia como conciliar esforços compressivos, tangenciais e distensivos em uma 
mesma situação tectônica. Em função principalmente deste conceito, as hipóteses da 
Contração e da Pulsação foram criticadas e abandonadas (Beloussov 1971, pg. 67-71). 
A Teoria Geossinclinal admite somente esforços verticais na formação das 
estruturas geológicas; os thrusts, as dobras e as nappes tem caráter secundário e tardio, 
pois se formam na Fase de Inversão da geossinclinal, por deslizamento gravitacional ao 
longo do talude dos levantamentos orogénicos (Hipótese dos Dobramentos por gravidade: 
Beloussov 1971, pg. 800-801). Num determinado período, inclusive a xistosidade 
horizontal de muitos maciços foi considerada como resultado de um alargamento 
horizontal e de uma compressão vertical da crosta como conseqüência da elevação da 
enorme massa de magma (Hipótese do Astenolito: ver Beloussov 1971, pp. 804¬606). 
De um modo geral, a geossinclinal é uma zona, ou um “cinturão de máxima 
fragmentação, mobilidade, permeabilidade e diferenciação da crosta e do manto superior, 
que experimentou intensa subsidência na fase inicial de seu desenvolvimento e intenso 
levantamento nos estágios finais” (Beloussov 1981). Ao grande movimento oscilatório 
que gera a geossinclinal, seguem-se movimentos verticais de menor escala, que dão 
origem a intrageossinclinais e a intrageanticlinais. A importante mudança da subsidência 
para o levantamento é uma INVERSÃO geral no regime tectônico. O desenvolvimento 
de um ciclo geossinclinal gera zonas tectônicas características; dentro delas, deve-se 
destacar o par eugeossinclinal e miogeossinclinal e as geanticlinais, formados durante o 
período de subsidência pelo “colapso” de uma plataforma. 
A presença de corpos básico-ultrabásicos em seqüências sedimentares é um 
elemento essencial para definir zonas eugeossinclinais. Estes corpos, de natureza 
ofiolítica, são considerados estarem alojados por processos tectônicos antes das 
deformações das rochas encaixantes; formam grandes lentes (lacólitos intrusivos ao longo 
de falhas) que dão origem a cinturões de dezenas, ou de milhares de quilômetros 
(serpentine belts: Hess 1939,1955). Enfatiza-se, às vezes, que a fase final de alojamento 
dos ofiolitos é determinada por processos tectônicos de natureza diapírica, normalmente 
após o seu resfriamento e serpentinização (Beloussov 1981): “se a estratificação regular 
de um complexo ofiolítico está rompida [...] isto é considerado como o resultado da 
deformação associada com as condições de movimento do ofiolito em direção à superfície 
(colapso do maciço mediano durante a fase de subsidência), ou com o seu rompimento e 
expulsão durante o fechamento da depressão” geossinclinal na crosta oceânica. 
A zona miogeossinclinal, por seu turno, é caracterizada por sedimentos terrígenos 
finos (folhelhos carbonosos) e por seqüências calcárias. Tanto a deformação, quanto o 
metamorfismo são fracos nesta zona; aliás, considera-se que a deformação e o 
metamorfismo apresentam uma diminuição de intensidade desde o maciço mediano até a 
plataforma. O maciço mediano é uma espécie de pequena plataforma no interior da 
geossinclinal, possui contatos por meio de falhas com a zona eugeossinolinal e tem uma 
estrutura composta por duas camadas: a) a camada Inferior é formada pelas rochas e pelas 
estruturas geradas em ciclos geossinclinais antigos e b) a camada superior é delgada, tem 
contatos de não-conformidade com a camada inferior e é constituída por sedimentos 
contemporâneos àqueles da zona geossinclinal circundante. 
Durante a fase de inversão (regime orogênico), predominam os esforços verticais 
de levantamento e há sedimentação fina, plataformal, de caráter regressivo (flysch); já, na 
fase de pós-inversão, a erosão atua mais do que o levantamento, disseca o relevo 
montanhoso e dá origem à sedimentação clástica grossa do tipo molassas continentais 
(Beloussov 1981). O levantamento orogênico é acompanhado por magmatismo, que 
decresce em intensidade na fase pós-inversão. A deformação é predominantemente vista 
comoresultado do movimento de blocos (Beloussov 1981): “os levantamentos 
orogênicos podem ser considerados como horst-anticlinórios, enquanto as depressões são 
consideradas como graben-sinclinórios”. Assim, é natural que se considere o regime de 
“rifteamento” como uma variante do regime orogênico. O desenvolvimento de um rift é 
provocado pela ação de forças dirigidas para cima, que causam, inicialmente, um arco, 
uma estrutura do tipo “antéclise convexa”; este arqueamento da crosta rígida gera 
esforços trativos e, de modo reflexo, um complexo sistema de grabens (Beloussov 1981). 
Por fim, é importante analisar as implicações tectônicas de uma característica 
fundamental da geossinclinal. Os movimentos oscilatórios são de diferentes magnitudes 
e se superpõem de modo complexo. Esta característica dos movimentos de primeira 
grandeza dos regimes geossinclinais é enfatizado pelo fato de que as estruturas dos ciclos 
subseqüentes se superpõem localmente, de modo discordante, sobre as estruturas 
anteriores; esta superposição gera um padrão em “zig-zag” num processo de expansão das 
plataformas às expensas dos cinturões geossinclinais (Beloussov 1981) 
 
A TEORIA DOS CINTURÕE5 MÓVEIS 
A teoria das faixas/cinturões móveis foi desenvolvida no período de conflito entre 
os conceitos e os fundamentos das teorias da geossinclinal e da tectônica de placas; ela 
surgiu como conseqüência da dificuldade em se extrapolar/documentar a ocorrência dos 
fenômenos associados tanto ao regime geosinclinal, quanto ao regime de convergência 
de placas para além de um limite aproximado de 500-600 Ma (Moody & Hill 1956,1964, 
Moody 1966, Anhaeusser et al. 1969). A “rara” ocorrência de estruturas, ou de 
associações petrotectônicas como registro destes regimes tectônicos nos terrenos 
precambrianos leva os pesquisadores a se dividirem em dois grupos, de acordo com o 
uso, ou a amplitude de aplicação do modelo de tectônica de placas descrita para o 
Fanerozóico (ver: Martin & Parada 1977a,b): a) "mobilistas", que consideram os 
processos de acresção e de subducção válidos para todo o Precambriano, e b) “fixistas”, 
que não acreditam na acresção e na subducção durante todo o Precambriano, mas num 
aumento gradual na mobilidade das placas litosféricas. Esta divergência se traduz, 
respectivamente, na aceitação, ou não, do uniformitarismo como princípio para a nova 
teoria de tectônica global em desenvolvimento. 
A Teoria dos Cinturões Móveis foi essencialmente elaborada pelos pesquisadores 
que advogavam um modelo “fixista” de tectônica de placas. Ela utiliza critérios 
metodológicos da teoria da tectônica de placas, principalmente com relação à utilização 
das estruturas deformacionais, mas ainda mantém muitos dos princípios da teoria 
geossinclinal. Segundo esta teoria, a evolução da crosta ocorreu, inicialmente, por 
processos de caráter predominantemente ensiálicos, sem expansão do assoalho oceânico, 
ou consumo de placas. No Proterozóico Superior, porém, começam a ocorrer pequenas 
separações de placas, que culminam na generalizada abertura dos oceanos e colisões de 
placas do Fanerozóico. Considera-se, então, que, ao invés do contínuo processo de 
acresção lateral, grandes placas continentais (“plataformas”) existiram desde o 
Proterozóico Inferior e que elas foram seccionadas e parcialmente 
destruídas/retrabalhadas por cinturões móveis lineares; “o retrabalhamento e o 
rejuvenescimento ocasionados por estes cinturões dá, agora, a impressão de que 
orógenos mais jovens envolvem núcleos antigos” (kröner 1977). 
O princípio de haver uma modificação no tipo de processo tectônico ao longo da 
evolução da crosta terrestre (não-uniformitarismo) foi introduzido durante o período de 
aplicação da teoria geossinclinal (Beloussov 1981), em razão da crescente dificuldade em 
caracterizar “típicas associações geossinclinais” nos terrenos cada vez mais antigos. Por 
este princípio, durante o Arqueano, não haveria uma diferenciação entre geossinclinal e 
plataforma (permobile stage): as rochas estariam indistintamente metamorfisadas acima 
do fácies anfibolito e intensamente deformadas. As seqüências de greenstone 
representariam produtos metamórficos de ambientes tipo eugeossinclinal ainda não 
completamente diferenciado. Após este estágio, começa a haver uma diferenciação em 
protogeossinclinios e em plataformas e a se desenvolver uma feição mais linearizada dos 
geossinclinios e uma polaridade dos eventos tectônicos; durante o Fanerozóico, já haveria 
a completa individualização de geossinclínios e de plataformas. 
Outro aspecto importante da crosta parece ter influenciado sobremaneira o 
desenvolvimento da Teoria dos Cinturões móveis: a lineari dade na disposição das 
unidades geológicas e das estruturas deformacionais. Num período anterior, durante a 
predominância da Teoria Geossinclinal, a linearidade na disposição das zonas tectônicas 
chamava a atenção dos pesquisadores, que a associavam com a formação de falhas 
primárias profundas. Porém, ao contrário da Teoria Geossinclinal, que dava destaque às 
falhas com movimento vertical, a Teoria dos Cinturões Móveis enfatiza os deslocamentos 
de natureza transcorrente. Pode-se dizer que o desenvolvimento desta teoria se deu 
juntamente com os primeiros estudos sobre zonas de cisalhamento e com a obtenção de 
imagens a partir de sensores remotos. 
Dentro deste contexto, os cinturões móveis foram caracterizados como feições 
lineares da crosta terrestre, que envolvem núcleos cratônicos (Anhaeusser et al. 1969). 
Os movimentos tectônicos dentro do cinturão móvel, são de caráter essencialmente 
transcorrente e o metamorfismo deve ser de médio a alto grau. A diferença para a Teoria 
Geossinclinal está na idéia de que haveria uma ampla crosta siálica já no Proterozóico 
Inferior, a qual seria retrabalhada e rejuvenescida em vários eventos tectônicos. Porém, 
mantém-se a idéia da superposição de eventos pela retomada de estruturas antigas; esta 
característica permite que o cinturão móvel tenha efeitos de deformação 
“policíclica/polifásica”. O cinturão deve, então, possuir trends estruturais e deformação 
coerentes com a sua extensão e mostrar efeitos de cristalização metamórfica, de 
migmatização e de granitização sintectônicas. Por estas características, é normalmente 
difícil estabelecer zoneamento metamórfico e alguns autores têm destacado, apenas, a 
justaposição de faixas de alto e de baixo grau metamórfico. Além destas características, 
o cinturão móvel está desvinculado da existência de espessas seqüências sedimentares 
depositadas em uma de suas fases evolutivas; ele pode se estabelecer sobre seqüências 
mais antigas, ou, simplesmente, sobre um “embasamento” ensiálico. Finas seqüências 
molassóides, contudo, podem ser relacionadas com a evolução dos cinturões móveis. 
O modelo "fixista" da tectônica de placas (Teoria dos Cinturões Móveis) retoma, 
ou incorpora sob outra configuração, muitos dos conceitos formulados pela Teoria 
Geossinclinal. O modelo, ao dirigir sua atenção somente para as feições lineares 
transcorrentes da crosta negligencia a importância de estruturas de cavalgamento, 
normalmente formadas em períodos anteriores e, por isso, parcialmente transpostas. A 
tectônica do tipo transcorrente ensiálica, com pequeno movimento relativo vertical entre 
os segmentos crustais, faz surgir algumas proposições interessantes: Katz (1962), por 
exemplo, considera os vários segmentos cratônicos arqueanos do Continente Gondwânico 
como megaparticulas (clastos) deformados, rompidos e imersos numa matriz de faixas 
móveis transformantes. 
As feições que resultam de um regime tectônico horizontal, entretanto, também 
foram descritas e analisadas em províncias arqueanas (p. ex.: Bridgewater et al. 1974, 
Coward et al. 1976); estas feições estão variavelmente transpostas e não haviam recebido 
um tratamento estrutural adequado. Mais recentemente, tem-se percebido que o processode convergência em nível ensiálico (subducção do tipo A) constitui a fase terminal de um 
processo muito mais amplo de convergência crustal. Por exemplo: o deslocamento da 
Índia em direção à Lurásia, após a ruptura de Gondwana, gerou uma série de terrenos 
acrescidos aos dois continentes durante o fechamento do oceano denominado Neo-Tethys 
(Schermer et al. 1984); com esta colisão, gerou-se um importante espessamento crustal 
por meio de nappes e de lâminas de cavalgamento e, no atual pós-arco, uma série de 
falhas transcorrentes como resultado do underthrusting da cunha do continente indiano 
(Tapponnier & Moinar 1976). Pode-se ver, então, que as falhas transcorrentes, em maior, 
ou em menor intensidade, se superpõem às estruturas iniciais do regime de convergência 
e estão associadas à sedimentação do tipo molassóide. 
Há, também, outros tipos de situações tectônicas onde a aplicação da Teoria dos 
Cinturões Móveis foi questionada dentro da sua própria época. Coward (1981), ao 
proceder a um maior detalhamento estrutural do Cinturão Damara e de seu braço costeiro 
norte, obtém um quadro tectônico muito diferente do fechamento de rifts continentais 
(junção tripla com um braço abortado) proposto por Martin & Parada (1977a,b) e por 
Parada (1979). Coward (1981) reconhece cavalgamentos com movimentação para SE e 
faz referência a corpos básicos e ultrabásicos na margem sul do cinturão, anteriormente 
já interpretados como zona de sutura. 
 
TEORIA DA TECTONICA DE PLACAS 
 A teoria está fundamentalmente baseada na preponderância dos esforços 
horizontais na litosfera terrestre, como pode ser derivado a partir das hipóteses sobre o 
movimento das placas (Dewey & Bird 1970a-b, Elsasser 1971, Morgan 1972); estabelece, 
portanto, uma ruptura conceitual e uma fundamentação metodológica muito diferente 
daquelas compreendidas pelas teorias da geossinclinal e dos cinturões móveis. A Teoria 
da Tectônica de Placas considera os esforços verticais como secundários/complementares 
aos esforços horizontais ocasionados pelo deslocamento de placas litosféricas. Assim, 
embora se possa estabelecer alguma correlação quanto ao conteúdo litológico, as 
tentativas de correlação de zonas tectônicas individualizadas segundo estas diferentes 
teorias geotectônicas são muito precárias (ver Dewey & Bird 1970b, no caso da 
correlação entre tectônica de placas e a geossinclinal). 
 A teoria da tectônica de placas foi inicialmente formulada com base na hipótese 
da deriva continental (Wegener 1912, ver: Beloussov 1971, Condie 1982); ela se baseou, 
principalmente, na possibilidade de justapor os atuais continentes num bloco único 
(Pangea) pelas semelhanças de formato, de estruturas geológicas e de conteúdo fossilífero 
de unidades sedimentares nos bordos continentais. A não aceitação inicial desta hipótese 
não impediu, contudo, que alguns pesquisadores (ver Cox 1973) continuassem a adquirir 
dados e a conduzir suas investigações no sentido de viabilizá-1a. As principais razões da 
não aceitação da hipótese da deriva continental relacionam-se com a interpretação dos 
dados geofísicos (McDonald 1964) e com a falta de um mecanismo aceitável para explicar 
a deriva. A aceitação da deriva continental tem início no período 1940-1960 com a 
publicação de dados geofísicos sobre a “expansão do assoalho oceânico” (Dietz 1961; ver 
Cox 1973), que passou a ser explicada pelo “arraste” de placas na base da litosfera e não 
mais pelo “arraste” no limite crosta-listosfera (Dietz 1961); assim, seria possível os 
continentes manterem a “raiz profunda” indicada pelos mapas gravimétricos. 
 Os mecanismos utilizados para explicar o deslocamento das placas litosféricas 
(ver Cox 1973) resgatam, em outros moldes, hipóteses que foram, por algum tempo, 
independentes. Tem-se considerado que a principal força diretora do movimento das 
placas litosféricas são as correntes de convecção estabelecidas na astenosfera; devido à 
“ligação” (coupling, acoplamento) entre astenosfera e litosfera, o deslocamento lateral na 
parte superior da célula de convecção “arrasta” a placa litosférica consigo (viscous drag 
model: Hargraves 1978). No entanto, outros modelos consideram que a base da litosfera 
é importante limite térmico ao longo do qual ocorre “desligamento” (decoupling, 
desacoplamento); ou seja, considera-se que a astenosfera é pastosa e não transmite 
suficientemente os esforços cisalhantes horizontais. O movimento das placas litosféricas 
seria, então, causado por deslizamento gravitacional, que puxa as placas a partir das 
cadeias meso-oceânicas, e pelas mudanças de fases minerais com aumento de densidade, 
que tracionam as placas na zona de subducção (buoyancy model: Hargraves 1976). 
 A compreensão de um outro fundamento tectônico foi ainda modificado com a 
introdução da Teoria da Tectônica de Placas: o conceito de unidade no desenvolvimento 
da estrutura terrestre e de relação e interdependência de seus vários aspectos. Por este 
princípio, há a necessidade de subordinar os diversos movimentos tectônicos a um único 
processo diretor, que tem bases conceituais diferentes para as diversas teorias 
geotectônicas. A grande dificuldade de aplicar o princípio tectônico acima, em outra 
época, vem da precariedade do conhecimento dos mecanismos deformacionais e da 
tentativa de generalizar a aplicação de um único tipo de esforço: compressivo horizontal 
(teoria da contração), ou movimentos verticais (teoria geossinclinal). No primeiro caso, 
era difícil explicar a existência de amplas regiões com predomínio de esforços 
distensionais, embora a teoria contracionista explicasse muito bem a existência de 
estruturas “em manto de carreamento”. Em contraposição, por dar exagerada importância 
aos movimentos oscilatórios verticais, a teoria geossinclinal simplesmente rejeitava a 
existência de amplos deslocamentos horizontais que introduziam importantes mudanças 
paleogeográficas. A Teoria da Tectônica de Placas, por seu turno, conseguiu articular os 
esforços tectônicos, os mecanismos e as estruturas deformacionais através do conceito de 
posicionamento tectônico dentro da placa litosférica; o avanço no conhecimento dos 
mecanismos deformacionais deu origem a uma nova compreensão dos processos 
tectônicos e as estruturas (compressivas, ou distensivas) passaram a ser entendidas dentro 
de um conceito de escala tectônica. 
 O clássico ciclo geotectônico da teoria geossinclinal (pré-inversão → pós-
inversão) pode estar compreendido na sequência progressiva de eventos relacionados às 
margens convergentes. Contudo, nesta posição tectônica, os corpos de serpentinito do 
“tipo alpino” e outros fragmentos de estruturas ofiolíticas alojados em rochas 
metassedimentares ganham um significado completamente novo: formam uma 
associação petrotectônica denominada melange oflolítica (Hsü 1968,1971, Gansser 
1974), que é originada pela interação variável de processos sedimentares e tectônicos em 
zona de sutura continental. Assim, o alojamento dos fragmentos ofiolíticos em unidades 
sedimentares é consequência direta, ou indireta da deformação imposta às rochas na zona 
de convergência de duas placas litosféricas. 
 O ciclo orogênico na Teoria da Tectônica de Placas, ao contrário da Teoria 
Geossinclinal, não requer uma sequência regular de eventos no espaço e no tempo; a 
seqüência de consumo e subsidência da placa, sedimentação, vulcanismo, deformação, 
plutonismo e “levantamento” diferencial varia significativamente, pois depende das 
várias interações possíveis entre as placas litosféricas convergentes. De um modo geral, 
admite-se dois modos pelos quais a orogênese pode ser iniciada: 
1) pela convergência de placas em margens continentais estáveis com sedimentação tipo 
miogeossinclinal, a qual registra fenômenos de progressão marinha pouco antes do início 
da convergência (Dewey & Horsfield 1970); 
2) pela colisão do tipo continente-continente, arco-arco, ou arco-continente;é 
caracterizada pela parada, ou pela relocacão da subducção (Burke et al. 1976). 
No processo colisional, de todo modo, são geradas grandes estruturas de 
cavalgamento e nappes, que introduzem mudanças paleogeográficas significativas nas 
unidades geológicas e que tem sido denominada de “tectônica de lâminas” (flake 
tectonics: Oxburgh 1972). Neste sentido, a tectônica de placas em zonas de convergência 
retoma, em outros princípios, as estruturas de “manto de carreamento” descritas à época 
da teoria da contração e sistematicamente negligenciadas na teoria geossinclinal. 
 
APRECIAÇÃO DOS TRABALHOS DE GEOTECTÔNICA QUE ENVOLVEM O 
CENTRO-OESTE 
 As proposições sobre a estrutura tectônica do Brasil têm sido explicitamente feitas 
no curso das três últimas décadas. Esta apreciação pretende sistematizar os diversos 
artigos publicados sobre geotectônica que envolvam, de forma ampla, o Centro-Oeste 
brasileiro. A sistematização dos artigos permitirá 1) analisar a fundamentação, ou a 
concepção tectônica utilizada em cada época de predomínio de uma dada teoria 
geotectônica; 2) orientar o uso dos trabalhos sobre geotectônica, quando se fizer 
necessário um arcabouço referencial para entender aspectos de caráter local; 3) examinar 
o grau de desenvolvimento atual dos conceitos de geotectônica no Centro-Oeste; e 4) 
fazer algumas recomendações sobre o rumo necessário para o adequado conhecimento da 
estrutura tectônica do Centro-oeste dentro dos princípios da tectônica de placas. 
 A sistematização, de acordo com a teoria geotectônica utilizada, resultou no 
seguinte agrupamento dos principais artigos: 
1) Teoria Geossinclinal: Almeida (1957a-b,1968,1969), Costa & Angeiras (1971), 
Almeida et al. (1976,1977), 
2) Teoria das Faixas Móveis: Wernick et al. (1979), Wernick & Fiori (1979), 
Almeida et al. (1960), Lesquer et al. (1981), Haralyi & Hasui (1981, 1982), 
Cordani & Brito Neves (1982), 
3) Teoria da Tectônica de Placas: Pena (1974), Marini et al. (1979), Haralyi et al. 
(1985), Hasui & Haralyi (1985), Strieder & Nilson (1990). 
 Os artigos relacionados em cada uma das teorias geotectônicas utilizam conceitos 
formais que possibilitam esta sistematização. Há de analisar, contudo, as características 
descritivas do enquadramento tectônico de determinadas unidades geológicas e das 
propostas de evolução geotectônica regional para que se possa compreender a concepção 
tectônica real que rege a apresentação de cada trabalho. 
 
APLICAÇÃO DOS CONCEITOS DE GEOSSINCLINAL 
 O primeiro esboço da organização tectono-estrutural do Centro-Oeste foi 
desenvolvido por F.F.M. de Almeida (1966,1967b,1968), de acordo com a concepção e 
os métodos da Teoria Geossinclinal. Inicialmente, o esboço distingue o Cinturão 
Geossinclinal Paraguaio entre o Cráton do São Francisco e o Cráton do Guaporé (Almeida 
1965,1966,1967a; Cordani et al. 1968). Este geossinclínio estaria dividido em dois longos 
cinturões (Paraguai-Araguaia e Brasília) e um maciço mediano (Complexo Basal 
Goiano). O método seguia a distinção das zonas tectónicas mais importantes: maciço 
mediano, eugeossinclinal (Série Araxá) e miogeossinclinal até parageossinclinal. Esta 
estrutura tectônica era genericamente correlacionada ao Ciclo Baykaliano dos Urais 
(Precambriano s.l.). 
 A implantação de um Centro de Pesquisas Geocronológicas em São Paulo (USP) 
levou à crescente aquisição de datações K/Ar e Rb/Sr. Já por ocasião da elaboração do 
Mapa Tectônico do Brasil (Ferreira 1968), o acúmulo de dados de caráter regional 
permitia a construção de isócronas Rb/Sr de referência e a classificação, por idades, de 
muitas das unidades geológicas então distinguidas. Naquele momento, Ferreira (1968) 
individualizou os principais ciclos de dobramentos: Transamazônico (2100 - 1800 Ma), 
Pré-Minas (1350 Ma), Minas (1300-900 Ma) e a Orogênese Brasiliana-Baykaliana (600 
Ma). A obtenção de idades em torno de 1100-1000 Ma para algumas das rochas da “Série 
Araxá” levou Ferreira (1968), Almeida (1968) e Hasui & Almeida (1970) a separá-la do 
Ciclo Baykaliano. Desta forma, o par de zonas tectônicas (eu e miogeossinclinal) foi 
desmembrado e dois ciclos tectono-orogênicos geossinclinais passaram a estar 
parcialmente representados: o Ciclo Minas-Uruaçuano e o Ciclo Brasiliano. 
 A separação dos ciclos Minas-Uruaçuano e Brasiliano-Baykaliano, no que diz 
respeito ao posicionamento da “Série Araxá” e à definição de uma evolução geotectônica 
para o Centro-oeste, não é muito clara neste primeiro instante. Neste aspecto, é 
interessante notar e compreender a caracterização de Almeida (1968): “as estruturas 
Araxaídes são mais antigas, embora ainda pertencentes ao Proterozóico Superior [...] (e) 
resultam de um evento tectono-orogênico que sugerimos denominar-se URUAÇUANO 
[...]”. A descrição evolutiva de Almeida (1968), no entanto, ainda conduz o leitor a 
imaginar um desenvolvimento coevo das duas zonas tectônicas: “a evolução 
ortogeossinclinal parece ter-se desenvolvido em direção às duas plataformas laterais, 
cujas coberturas manifestam fenômenos tectônicos relacionados com estádios estruturais 
tardios das faixas de dobramentos adjacentes”. Esta caracterização genérica é mantida, 
mas a “Série Araxa” passa a fazer parte do maciço mediano durante o Ciclo Brasiliano; o 
aparente “colapso” deste maciço gera apenas miogeossinclínios. As faixas, ou cinturões 
de dobramentos brasi1ianos são, então, caracterizados como faixas orogênicas (Almeida 
1968) constituídas por três estádios estruturais: a) estádio inferior (“flysch”: sedimentação 
da fase de inversão), b) estádio intermediário (conglomerados, ou psamitos recobertos 
por seqüências carbonatadas) e c) estádio superior (“molassas”: sedimentaçao da fase 
pós-inversão). 
 A leitura dos artigos desta fase mostra que os contatos entre as unidades 
geológicas eram, muitas vezes, empiricamente descritos como discordâncias, ou não-
conformidades. Dobras holomórficas de grande amplitude e, principalmente, falhas 
inversas de cavalgamento alocadas na fase tardia da orogênese Brasiliana respondem por 
outra parte dos contatos entre as unidades geológicas. Domos e braqui-anticlinais expõem 
as unidades “inferiores” e mesmo o embasamento (Niquelândia, Cana Brava, ...), como 
conseqüência de levantamentos tectônicos posteriores: “não são simples altos 
topográficos existentes à época da sedimentação do quartzito Cristalina, mas estruturas 
tectônicas que se constituíram posteriormente à sedimentação Canastra” (Almeida 1968). 
 Nesta nova linha interpretativa, Almeida et al. (1976) propõem um arcabouço 
tectono-estrutural geral para a América do Sul, no qual distinguem áreas “plataformais” 
(Plat. Sulamericana e Patagoniana), a Cadeia Andina e o foredeep Sub-andino. A ênfase 
maior é dada à Plataforma Sulamericana, que é dividida em áreas cratônicas e em 
cinturões de dobramento com relação ao Ciclo Brasiliano. Em prosseguimento, Almeida 
et al. (1977) aprofundaram a discussão sobre o arcabouço tectono-estrutural do território 
brasileiro, ao incluírem nas “Províncias Estruturais Brasileiras", as bacias sedimentares 
intracratônicas e a margem continental. Em ambos os trabalhos, são utilizados os 
conceitos e os fundamentos da Teoria Geossinclinal; portanto, as linhas gerais de 
descrição e de interpretação evolutiva são as mesmas de Almeida (1968). 
 A separação dos ciclos Minas-Uruaçuano (1350-1000 Ma) e Brasiliano-
Baykaliano (850 ± 100 Ma) não foi, entretanto, completamente aceita. Cordani et al. 
(1968,1973) julgam que não há elementos suficientes para estabelecer o Ciclo Uruaçuano 
independente do Brasiliano. Ao que parece, a distinção dos ciclos tectônicos baseava-se 
principalmente na não aceitação de um longo intervalo de duração para o Ciclo Orogênico 
Brasiliano. Costa & Angeiras (1971), ao contrário, admitem um ciclo geossinclinal-
orogênico de longa duração para o Centro-Oeste e o comparam com os Urais, onde a 
evoluçãogeossinclinal Baykaliana teve uma duração aproximada de 800 Ma. Costa & 
Angeiras (1971) puderam, então, utilizar adequadamente o conceito de ciclo orogênico 
geossinclinal: “intervalo de tempo (transcorrido) desde o estágio geossinclinal até o 
estágio plataformal”. 
 Na Plataforma Epi-Baykaliana do Brasil Central (Costa & Angeiras, 1971), a 
distinção de zonas tectônicas isópicas segue a teoria geossinclinal e considera 
principalmente o estilo estrutural e o seu comportamento evolucionário durante o ciclo 
orogênico. A distribuição de litofácies e a extensão geográfica atual das litofácies são os 
critérios mais adotados para a definição dos seus tectono-grupos. Assim, o acúmulo de 
novos dados geológicos regionais permitiu o aprofundamento da compartimentação 
tectónica: zona cratônica, pré-cratônica, miogeossinclinal, miogeo-anticlinal, sub-geo-
anticlinal, eogeossinclinal, embasamento antigo (cadeia eugeo-anticlinal = maciço 
mediano). Posteriormente, Dardenne (1978) retoma a proposta de evolução tectônica da 
Faixa de Dobramentos Brasília (sentido Cordani et al. 1968) em um único ciclo 
geossinclinal-orogênico. Dardenne (1978) propõe a divisão da faixa em cinco zonas 
isópicas de acordo, unicamente, com o tipo de deformação imposta às unidades 
geológicas; embora se utilize dos conceitos e dos fundamentos geossinclinais, não 
considera a composição litológica e a evolução tectono-sedimentar que comumente 
orienta a distinção de zonas tectônicas nesta hipótese de trabalho. 
 
APLICAÇÃO DOS CONCEITOS DE FAIXAS MÓVEIS 
 Esta teoria geotectônica começa a ser mais discutida no final da década de 1970, 
período em que certamente estiveram em conflito duas concepções geotectônicas 
fundamentalmente distintas: a “verticalista” e a “horizontalista”. Esta teoria foi utilizada 
para caracterizar “faixas móveis” isoladas (Cordani 1978, Wernick & Fiori 1979) antes 
de se propor um arcabouço tectônico mais amplo, capaz de articular as várias entidades 
geotectônicas em território brasileiro. 
 É importante destacar que, naqueles trabalhos preliminares, ao lado do novo tipo 
de caracterização introduzida, havia a preocupação de fixar os novos conceitos e critérios 
metodológicos. No entanto, pela caracterização das faixas, percebe-se que a teoria dos 
cinturões móveis, quando aplicada ao Centro-oeste, incorporou preferencialmente 
concepções trazidas da Teoria Geossinclinal, embora se afirme o “desligamento” dos 
mobile belts com relação à Teoria Geossinclinal (Cordani 1978). O “desligamento”, como 
percebido naquelas discussões, diz respeito à presença, ou à ausência de bacias 
sedimentares durante a evolução tectônica da faixa; ou seja, o “desligamento” diz respeito 
à diferença de constituição interna do cinturão e não à mudança dos conceitos tectônicos 
que regem a formulação das hipóteses envolvidas. 
 A teoria dos cinturões móveis está baseada em aspectos tectônicos essencialmente 
verticais, dentro dos quais os cavalgamentos e as nappes são ainda estruturas secundárias, 
lateralmente descontinuas e geradas como conseqüência de ajustes tensionais num regime 
tectônico transcorrente. Os aspectos ressaltados são sempre o deslocamento longitudinal 
(transcorrência), a rotação e o basculamento de blocos tectônicos, de modo a criar 
condições para o aparecimento de bacias “longilíneas”, onde haja sedimentação do tipo 
geossinclinal. 
 As correlações de estruturas deformacionais, em nível regional, estavam baseadas 
tão somente em trabalhos de caracterização/descrição e de hierarquização de superfícies 
e de lineações; elas incorporam, também, considerações sobre o “padrão estrutural”: 
estilo de dobras, vergência e orientação espacial. As correlações litológicas têm caráter 
mais amplo, pois, segundo a concepção desta teoria, um cinturão móvel pode incorporar 
litologias variadas, formadas em outros episódios tectônicos (retrabalhamento e 
remobilizacão nos vestigeosynclines). Neste aspecto, é dada mais importância à descrição 
e à correlação de rochas, principalmente de grau metamórfico médio a alto, do que às 
coberturas “plataformais”, ou geossinclinais, que ocorrem nos cinturões móveis. 
 Percebe-se, então, que, mais do que estruturas sedimentares, a Teoria dos 
Cinturões Móveis colocou em evidência as estruturas deformacionais. Quanto a este 
aspecto, as descrições encontradas na literatura geológica brasileira têm associado uma 
superfície deformacional para cada ciclo tectônico; isso pode, por exemplo, ser 
sinteticamente percebido na colocação de Cordani (1978): “[...] a petrologia pode indicar 
se as rochas sofreram apenas a evolução metamórfica do cinturão - uma só cristalização 
sintectônica -, ou, então, se ocorreram vários estágios de cristalização. Nesses últimos 
casos, evidentemente, estaríamos observando rochas anteriores ao cinturão, que 
sofreram os processos geodinâmicos da unidade [...] Então, [...] se tivermos idades para 
associar a estruturas [...] podemos demonstrar inteiramente a história evolutiva da 
região, mostrando os vários episódios de cristalização, o resfriamento regional, indicar 
a existência de núcleos retrabalhados de embasamento, etc...”. 
 A partir dos critérios expostos acima, as descrições tectônicas incorporam, 
essencialmente, hipóteses evolutivas com relação à época de formação, de metamorfismo, 
de posicionamento tectônico, de reativação, etc... das unidades geotectônicas maiores do 
Centro-Oeste brasileiro (ver: Wernick & Fiori 1979, Wernick et al. 1979, Almeida et al. 
1980, Haralyi & Hasui 1981, Lesquer et al. 1981). E, porque as datações geocronológicas 
obtidas marcavam mais um padrão regional de referência, do que eventos deformacionais 
e/ou tectônicos específicos, era natural que surgissem interpretações evolutivas distintas. 
É dentro deste quadro, por exemplo, que se sugere vincular a “Faixa Uruaçu”, ou “Faixa 
Arará-Canastra”, ao Ciclo Transamazônico (Wernick & Fiori 1979, Wernick et al. 1979) 
e o Supergrupo Baixo Araguaia ao Ciclo “Uruaçuano” (Hasui et al. 1980). 
 Uma interessante tentativa de aplicar os conceitos de faixas móveis deve-se a 
Wernick et al. (1979), que propuseram a indentação de cunhas rígidas (“Maciço de 
Guaxupé”) em faixas móveis rígido-plásticas circundantes, de modo a causar o 
desenvolvimento de zonas rúpteis de natureza transcorrente. Este modelo de evolução 
tectônica é particularmente baseado nas discussões e nas interpretações tectônicas 
desenvolvidas por Tapponnier & Moinar (1976) para os Himalaias. No entanto, deve ser 
observado que o processo de indentação de cunhas rígidas, conforme originalmente 
proposto, não se dá em “faixas móveis rígido-plásticas circundantes”, mas em regiões de 
convergência crustal com o desenvolvimento de um complexo arranjo de falhas de 
cavalgamento e, no final do ciclo, de falhas transcorrentes. Este exemplo reflete 
claramente o direcionamento da atenção para as feições finais do ciclo tectônico, 
conforme analisado no item “A Teoria do Cinturões Móveis”. 
 A elaboração e a discussão de um arcabouço de cinturões móveis e de núcleos 
cratônicos para parte do território brasileiro ganhou maior qualidade com a apresentação 
de cartas gravimétricas (Almeida et el. 1980, Haralyi & Hasui 1981,1982; Lesquer et al. 
1981). A correlação entre “faixas” de forte anomalia gravimétrica positiva e a ocorrência 
de unidades granulíticas, ou gnáissico-granulíticas vinha, no caso, corroborar a teoria dos 
cinturões móveis. As faixas com anomalia gravimétrica positiva são vistas como feições 
de alto ângulo com pequenos rejeitos verticais. Isso pode ser percebido na afirmação de 
que a forte anomalia gravimétrica do Centro-oeste goiano “indica um rejeito atual vertical 
do bloco meridional de cerca de 15 km e um espessamento crustal de cerca de 17 Km no 
bloco setentrional [...] (e) que não há indícios gravimétricos de que o bloco setentrional 
tenha, hoje, continuidade sob o bloco meridional” (Haralyi& Hasui 1981). Lesquer et al. 
(1981) chegam a comparar esta mesma anomalia gravimétrica às anomalias 
desenvolvidas nas regiões onde dois blocos continentais entram em colisão após a 
subducção de um domínio oceanico; “no entanto, (esclarecem aqueles autores) um 
modelo deste tipo negligencia o fato de que é possível explicar uma grande parte das 
anomalias pelos contrastes de densidade superficial: coberturas sedimentares leves de 
cráton e maciços granulíticos densos do Cinturão Alfenas”. Lesquer et al. (1981) refutam, 
ainda, a tectônica de colisão continental pela “ausência de índices característicos de uma 
zona de sutura (ofiolitos, metamorfismo HP-BT” e vulcanismo cálcio-alcalino). 
 O aprimoramento das cartas gravimétricas permitiu definir zonas de 
descontinuidade, através das quais se articulam blocos crustais, e classificar as anomalias 
gravimétricas em quatro grupos (Haralyi & Hasui 1981,1982), dos quais os três mais 
importantes são interpretados em termos de tectônica transcorrente. Nesta circunstância, 
uma característica é usada para definir e para delimitar a extensão do cinturão móvel: “é 
necessário que ele tenha trends estruturais característicos e que mantenham uma direção 
estrutural específica”. Por este critério, o Cinturão Móvel Alfenas foi distinguido do 
Cinturão Móvel de Ceres, ambos articulados no “Acidente Tectônico de Pirenópolis” 
(Almeida 1981). 
 A tectônica transcorrente é, contudo, capaz de desenvolver subducções-obducções 
incipientes em alguns locais. Haralyi & Hasui (1981) sugerem esta estrutura para a parte 
S-SW do Cinturão Alfenas, para o limite entre os blocos Porangatu e Cavalcante 
(Cinturão Móvel Ceres) e para o limite entre os blocos Dianópolis e Cavalcante-
Porangatu. Para aqueles autores, “o conjunto configura uma imponente rede regional, 
com algumas direções gerais que, no esquema de Moody e Hill (1956), satisfazem a um 
regime de compressão principal NE-SW”. 
 Porque os limites dos blocos expõem terrenos de alto grau (granulitos), muitos 
deles com “idade” arqueana/proterozóica inferior, e porque os contatos dos blocos 
correspondem a zonas de descontinuidade com espessamento crustal, interpretados dentro 
de um modelo essencialmente verticalista, Haralyi & Hasui (1981,1982) concluem que 
os dados de gravimetria indicam uma estrutura em blocos articulada no Arqueano. As 
reativações/regenerações Transamazônicas e Uruaçuanas levaram à formação das 
supracrustais. “Durante o Proterozóico, a geometria estrutural arqueana não foi 
destruída, a despeito da intensidade dos processos termo-tectônicos e (isso) levanta as 
restrições mais significantes para a convergência de placas e a subducção, favorecendo 
os modelos de evolução ensiálica” (Haralyi & Hasui 1982). 
 Aqui, porém, persiste a polêmica surgida à época da Teoria Geossinclinal: a 
separação dos ciclos Uruaçuano e Brasiliano. Cordani & Brito Neves (1982) redefinem a 
Província Estrutural do Tocantins de Almeida et al. (1977) como uma entidade tectônica 
estruturada inteiramente durante o Ciclo Brasiliano, com o desenvolvimento de duas 
faixas móveis: a) Paraguai-Araguaia e b) Brasília. Consideram, no entanto, que os efeitos 
tectono-térmicos destas estruturas não foram suficientes para cancelar os registros de 
estruturas mais antigas, as quais, ao lado de terrenos granito-gnáissicos do Ciclo 
Brasiliano, formam o Maciço Central de Goiás (MCG); “neste caso, o MCG seria um 
mosaico de fragmentos cratônicos antigos, de diferentes origens, justapostos e 
superpostos pelos ciclos orogênicos do Proterozóico médio e superior”. 
 Cordani & Brito Neves (1982) admitem, pela primeira vez, a possibilidade de 
ocorrência de amplos deslocamentos horizontais que modificaram as condições 
paleogeográficas dos terrenos envolvidos. 
 
APLICAÇÃO DOS CONCEITOS DE TECTÔNICA DE PLACAS 
A utilização dos conceitos de tectônica de placas começou de modo disperso na 
literatura geológica brasileira, num período que durou aproximadamente dez anos. Os 
primeiros trabalhos se envolvem somente com o “novo” conceito de deriva continental 
conforme aplicado à separação do supercontinente Gondwana. Hurley et al. (1967) 
utilizam dados geocronológicos para verificar a continuidade dos ciclos Eburneano e Pan-
Africano do “Escudo Guineano” no território brasileiro; esta correlação favoreceu a 
utilização da hipótese da deriva continental. 
 A primeira tentativa de aplicação dos conceitos de convergência de placas no 
Centro-Oeste deve-se a Pena (1974). Para aquele autor, a atuação sincrônica de duas 
células de convecção com eixos de direção aproximada N10-30E e N50-70W explica as 
forças tangenciais que originaram a estruturação tectônica do Centro-Oeste. “Ao longo 
dos tempos, a força de eixo NE tem-se mostrado mais ativa, pois foi a causadora do 
encontro de duas placas siálicas, suportando bacias epicontinentais separadas por um 
microcontinente, num processo de sutura que teria durado 1000 m.a. [...] O resultado 
espacial final deste encontro é o mesmo daquele proposto por Almeida (1967), apenas 
há diferença na interpretação da gênese das zonas geossinclinais [...] A translação 
lateral das placas e posterior choque provocou o amarrotamento dos sedimentos 
contidos em suas margens continentais, fornecendo as forças tangenciais causadoras da 
grande deformação plástica [...] e das grandes falhas de empurrão com direção paralela 
à linha de sutura e as falhas de rasgamento perpendiculares a ela” (Pena 1974). Por estas 
transcrições, pode-se perceber uma ruptura na concepção e na fundamentação 
geotectônica. O trabalho do Projeto Goiânia II recebeu o suporte teórico do geólogo 
Avery Ala Drake Jr. (USGS), que publicou suas impressões muito mais tarde: janela 
estrutural de Caldas Novas e melange ofiolítica nos metassedimentos Araxá (Drake Jr. 
1980). Com este suporte, Pena (1974) afirma que “as linhas de sutura marcariam antigas 
zonas de fossa tectônica, por onde poderia haver subida de material da astenosfera, 
formando hoje os corpos de serpentinito talcificados [...] O Maciço Central Goiano, 
separando as duas faixas geossinclinais [...] seria, nesse esquema, ou um 
microcontinente colocado entre duas placas maiores [...], ou seria formado por blocos 
falhados das margens continentais, acunhados entre os sedimentos que suportavam, em 
zona de fossa tectônica [...] A se aceitar a hipótese do microcontinente, essa faixa seria 
de idade anterior à dos geossinclínios laterais [...] No caso de se aceitar que teve 
evolução geológica paralela com a dos geossinclinios, deve-se considerar, então, que 
representa uma zona de fossa tectônica, por onde teria havido obducção de fragmentos 
do piso oceânico hoje representado pelos grandes maciços ...” Deve-se notar que o 
emprego do termo “geossinclínio”, por Pena (1974), é feito somente para designar uma 
depressão tectônica qualquer; o termo não parece ter a conotação genética da Teoria 
Geossinclinal. 
 A segunda tentativa de aplicar conceitos de tectônica de placas ao Centro-Oeste 
brasileiro deve-se a Marini et al. (1979). Ao sugerirem idades para “padrões de 
dobramento e sistemas de falhamentos” de caráter geral, a descrição de Marini et al. 
(1979) também incorpora hipóteses evolutivas essencialmente baseadas em datações de 
caráter regional e isso faz com que “[...] a região da Faixa Brasília (constitua-se) numa 
faixa crítica de grande instabilidade, que sofreu sucessivas reativações, tendo se mantido 
como uma zona de fraqueza durante todo o tempo do precambriano, com superposição 
de faixas orogenéticas nos diferentes ciclos. A subsidência das bacias sucessivas deu-se 
segundo um mesmo eixo orientado submeridianamente, herdado de um primeiro 
importante evento tectônico de idade arqueana [...] No presente trabalho, é sugerido 
colisão continental e obducção de crosta simática arqueana e uma evolução 
parcialmente ensimática no Ciclo Uruaçuano e ensiálica durante o CicloBrasiliano” 
(Marini et al. 1979). 
 O quadro da evolução geotectônica exposto por Marini et al. (1979) pode ser assim 
resumido: subducção e convergência acentuada de placas ocorreram somente no 
Arqueano, com o posicionamento dos maciços básico-ultrabásicos granulitizados e 
geração dos “greenstone belts” como seqüências pós-arco. No Proterozóico inferior, 
formaram-se as seqüências vulcano-sedimentares de Juscelândia, de Indaianópolis e de 
Palmeirópolis e os complexos acamadados, dobrados e metamorfizados da Serra dos 
Borges e da Malacacheta; estas unidades foram tectonicamente estáveis até o 
Proterozóico Médio, quando serviram de embasamento para a deposição do “Grupo” 
Serra da Mesa e, já durante um novo processo de subducção, do “Grupo” Araxá com seus 
corpos de serpentinito. As seqüências do Proterozóico Médio representam sedimentação 
continental em grabens ensiálicos cuja abertura “pouco teria ultrapassado o estágio 
proto-oceânico”; portanto, a subducção e o cavalgamento neste ciclo tectônico também 
foram pequenos, com nova “ascensão” e posicionamento dos maciços básico-
ultrabásicos. No Proterozóico Superior, propõem uma “junção tríplice, na altura do 
Maciço de Guaxupé”, entre a Faixa Brasília e a Região Dobrada Sudeste, de modo que a 
Faixa Brasília corresponde a um rift continental (evolução ensiálica); “no final do 
Proterozóico Superior, inverteu-se o sentido dos esforços atuantes na região, iniciando-
se a compressão da Faixa Brasília”, com o desenvolvimento de falhas inversas e de 
cavalgamento: “nas porções mais subsidentes da bacia e mesmo atingindo 
metassedimentos tidos como pertencentes ao embassamento (Grupo Araxá), 
desenvolveram-se, nessa ocasião, importantes falhamentos de empurrão, fazendo com 
que as unidades inferiores do Grupo Bambuí (e mesmo as sotopostas) cavalgassem por 
longas distâncias sobre as unidades superiores”. 
 Marini et al. (1979), cientes dos problemas para estabelecer a separação entre as 
faixas Uruaçu e Brasília e mesmo entre os ciclos tectônicos Uruaçuano e Brasiliano, 
optam pela “possibilidade de que pelo menos parte dos metamorfitos tradicionalmente 
atribuídos ao Grupo Araxá correspondam, na realidade, à zona mais interna da Faixa 
Brasília”. Estes problemas e razões são os mesmos que levaram outros autores (p. ex.: 
Haralyi & Hasui 1981, Lesquer et al. 1981, Hasui & Haralyi 1985) a também advogar a 
idéia de que a Província Estrutural do Tocantins (s.l.) constitui uma “zona crítica” com 
sucessivas reativações segundo direções herdadas do arqueano. Ao lado disso, o constante 
uso de termos como “eixo de bacia”, “subsidência”, “ascenção/diapirismo”, além de 
várias referências a autores que utilizam as teorias Geossinclinal e Cinturões Móveis 
parece ter cunho conceitual. Pode-se dizer, a partir dos pontos expostos, que o artigo 
possui muitos fundamentos trazidos da Teoria Geossinclinal e que, dentro das 
circunstâncias de um momento de transição de idéias/hipóteses, a proposição dos rifts 
ensiálicos representa a melhor alternativa para acomodar as concepções da teoria 
geotectônica anterior. 
 A idéia de que a convergência e a subducção crustal mais acentuada no Centro-
Oeste se deu no Arqueano e que os episódios tectônicos do Proterozóico foram de 
natureza “essencialmente ensiálica” foi retomada por Haralyi et al. (1985) e por Hasui & 
Haralyi (1985). Aqueles autores reavaliam a interpretação das anomalias do tipo I de 
Haralyi & Hasui (1982); ou seja, associam a presença de feições de baixo ângulo com 
processos de cavalgamentos principalmente nas rochas de alto grau que cercam o Cráton 
de São Francisco (Paramirim) e marcam o limite de alguns outros blocos (Porangatu, 
Araguacema). As interpretações, então, se fazem deste modo: “a duplicação de níveis 
crustais profundos nos dois blocos, decorrente do cavalgamento, responde pela anomalia 
de massas positiva [...] O baixo gravimétrico corresponde a uma depressão linear na 
base do bloco cavalgado [...]” (Hasui & Haralyi 1985). “Essa compartimentação 
regional é, sem dúvida, da maior expressão e responde pela distribuição geral dos 
terrenos arqueanos. Assim é que os terrenos de alto grau, que incluem os cinturões 
granulíticos, formam faixas separando os terrenos de granito-greenstone” (Haralyi et al. 
1985). As anomalias do tipo III, por sua vez, são “zonas de deslocamento” classificadas 
em várias direções, referidas ao Proterozóico Inferior e reativadas nos ciclos posteriores; 
destas, a mais importante é aquela relacionada à Inflexão dos Pirineus, que estaria 
representada por duas falhas com rejeitos opostos e que resulta um padrão complexo cujo 
“modelo crustal envolve cavalgamentos duplos” (Hasui & Haralyi 1985). 
 As interpretações evolutivas de Haralyi et al. (1985) e de Hasui & Haralyi (1985), 
no entanto, também incorporam conceitos herdadas de modelos geotectônicos anteriores; 
isso pode ser percebido 1) pela aplicação da designação de cinturões móveis a algumas 
unidades geotectônicas que cercam o Cráton do São Francisco, 2) pela interpretação de 
que as sequências do Proterozóico Médio resultam de processo de distensão, 
embaciamento e abertura oceânica incipiente e 3) pela não admissão de processos 
colisionais no Proterozóico Médio e Superior, embora se admita a presença de “grandes 
empurrões [...] relacionados com a tectônica tardi-brasiliana a E e W do Cráton do São 
Francisco” (Haralyi et al. 1985). 
 A partir da proposição da articulação regional de blocos tectônicos, a aplicação da 
Teoria da Tectônica de Placas foi restringida a regiões menores, onde se desenvolveram 
trabalhos de levantamento geológico básico. Os primeiros resultados relacionam-se com 
o “Supergrupo” Baixo Araguaia (“Faixa Araguaia”), onde Costa et al. (1988a,b) propõem 
uma colisão continental obliqua; ela gera um sistema imbricado de rampas obliquas de 
baixo ângulo, cujo transporte foi em direção NNW. A estas estruturas estão superpostas 
importantes zonas de cisalhamento dúctil com direção NNE, com caráter transcorrente 
sinistral (Lineamentos Transbrasilianos: Costa & Hasui 1988). É interessante, aqui, 
analisar a concepção de sutura crustal: ela parece ser entendida como uma linha (falha 
lístrica, rampa obliqua) que separa a Suíte Matança do Complexo Porto Nacional. A 
designação de “sutura crustal” não tem qualquer conotação com a identificação de uma 
associação petrotectônica do tipo melange ofiolítica. 
 A caracterização de sutura crustal, dentro dos conceitos e dos critérios 
metodológicos da teoria da tectônica de placas, é feita num trabalho de detalhe junto à 
Inflexão dos Pirineus (Strieder & Nilson 1991). A associação petrotectônica descrita 
compõe-se de corpos de serpentinito com cromita podiforme e de corpos máficos 
tectonicamente encaixados nos metassedimentos Araxá; esta associação petrotectónica, 
por estar localizada junto a um forte gradiente gravimétrico (anomalia do tipo I de Hasui 
& Haralyi 1985), marca uma zona de sutura crustal (“tectonic trench”). A partir de uma 
detalhada análise estrutural, pode-se indicar que a pseudo-estratigrafia D1 da melange 
ofiolítica está recumbentemente dobrada (F2) segundo um plano axial estruturalmente 
reconstituído: 205-24NW; assim, as imbricações sigmoidais EW-WNW relacionadas à 
D3 e à Inflexão dos Pirineus são rampas laterais de uma lâmina de cavalgamento que 
sofreu deslocamento diferencial para E-ESE (Strieder 1990). Estes e outros dados 
permitem indicar que a Inflexão dos Pirineus é uma sintaxe tectônica desenvolvida, mais 
provavelmente, pelo underthrusting de uma placa continental com formato em cunha 
durante o Proterozóico Superior (Strieder & Nilson 1991). A correlação da melange 
ofiolítica do Arará com unidades litológicas que compõem o “Supergrupo” Baixo 
Araguaia sugere uma similaridade de constituição muito forte, de modo que aquela 
entidade tectônica também poderá vir a ser considerada como uma melange ofiolítica;resta, contudo, analisar mais detidamente a geologia estrutural do “Supergrupo” Baixo 
Araguaia para concluir sobre o movimento tectônico durante a convergência crustal. 
 Strieder & Nilson (1991) entendem que toda a atual configuração tectônica do 
Centro-Oeste se deu no Proterozóico Superior e que as datações de caráter regional 
(isócronas de referência) devem, neste momento, ser substituídas por datações absolutas 
de episódios deformacionais em áreas selecionadas que passem por uma rigorosa análise 
estrutural. Dentro desta perspectiva, inclui-se o trabalho de Pimentel et al. (1992): a 
datação de uma unidade meta-riolítica na região de Pires do Rio (GO) forneceu idade de 
cristalização de 794+ 10 Ma, o que leva aqueles autores a concluírem, cautelosos, “que o 
Grupo Araxá, ao menos em parte, foi depositado no Proterozóico Superior”. Estes dados 
vêm, portanto, corroborar a conclusão de Strieder & Nilson (1991) a respeito de uma 
evolução tectônica conjunta para as unidades geológicas que compõem as faixas 
“Uruaçu” e “Brasília”. 
 
DISCUSSÃO FINAL E RECOMENDAÇÕES 
Ao que parece, as teorias geotectônicas estão baseadas em um aspecto, ou 
estrutura fundamental das unidades geológicas da crosta terrestre e são formuladas a partir 
de uma determinada região; posteriormente, a explicação do fenômeno geológico daquela 
região específica é expandida para explicar as feições em outras regiões quaisquer. Estes 
aspectos mostram que “a diversidade das hipóteses geotectônicas reflete tanto a evolução 
geral e a expansão do conhecimento geológico como a complexidade e os aspectos 
contraditórios dos processos tectônicos em si. Aqui está a debilidade e a consistência das 
diversas hipóteses: polarizam a atenção sobre um determinado aspecto do processo 
tectônico, mas não englobam o conjunto, ainda quando valorizam estes processos e 
promovem uma compreensão mais completa dos mesmos” (Beloussov 1971). 
 Dentro destas condições, a Teoria da Tectônica de Placas permite explicar, de 
maneira mais completa, uma série de fenômenos tectônicos que não eram facilmente 
conciliáveis pelas teorias anteriores. O princípio da unidade no desenvolvimento da 
estrutura terrestre, sob a Teoria da Tectónica de Placas, parece ter sido reformulado ao 
considerar duas escalas tectono-estruturais diferentes: a) na escala mais global, como 
causa dos fenômenos tectônicos, permite articular, ou conciliar os esforços compressivos 
e os distensivos em nível de posições tectônicas (tectonic settings) formadas durante a 
deriva de uma placa litosférica; b) nas escala específica das posições tectônicas, 
desenvolvem-se fenômenos tectônicos também específicos que requerem a articulação de 
esforços principais e subordinados para gerar as estruturas geológicas. 
 No Brasil, a polarização da atenção foi voltada, em princípio, para aspectos 
geológicos gerais e não para determinados aspectos do processo tectônico, porque se 
tentou articular o conhecimento geológico até então adquirido dentro das teorias 
tectônicas. É neste sentido que, por exemplo, o Centro-Oeste brasileiro foi 
geotectonicamente dividido dentro dos princípios da geossinclinal e se pode distinguir 
várias etapas de aquisição de informação e de refinamento desta divisão, desde Almeida 
(1965), até Costa & Angeiras (1971). A aquisição de dados geocronológicos, de caráter 
predominantemente referencial, ocasionou uma primeira ruptura importante na “estrutura 
geossinclinal” do Centro-Oeste: a divisão das faixas “Uruaçu e Brasília”, ou a separação 
temporal e tectônica do par mio e eugeossinclinal. A caracterização tectônica, a partir de 
então, embora ainda feita com os princípios da geossinclinal, não mais utiliza a divisão 
em zonas tectônicas elaboradas anteriormente e não formula uma hipótese evolutiva clara 
para as entidades geotectônicas definidas dentro dos princípios geossinclinais. 
 Estas circunstâncias se mostraram favoráveis à aceitação e à utilização da Teoria 
dos Cintures Móveis. Na época em que são identificadas, no Brasil, várias associações 
tipo granite-greenstone belts cercadas por terrenos gnáissico-granulíticos, passou-se a 
utilizar princípios de tectônica transcorrente para articular os segmentos crustais que 
contém aquelas associações. A Teoria dos Cintures Móveis foi, desta forma, adequada 
para explicar a separação das faixas “Uruaçu e Brasília” e, em alguns casos, para propor 
uma idade ainda mais antiga (do Ciclo Transamazônico) para a faixa de metassedimentos 
Araxá. A divisão e a articulação de “segmentos crustais antigos” dentro dos princípios 
essencialmente verticalistas da Teoria dos Cintures Móveis foi auxiliada, num segundo 
momento, pela aquisição de dados geofisicos (Almeida et al. 1980, Haralyi & Hasui 1981, 
Lesquer et al. 1981, Haralyi & Hasui 1982). 
 A utilização tanto da Teoria Geossinclinal, quanto dos Cinturões Móveis não deu, 
em momento algum, importância aos cavalgamentos e às nappes registrados no Centro-
Oeste, porque eram consideradas estruturas “tardias”, secundárias e com pequeno 
deslocamento. A primeira mudança de atitude com relação a este tipo de estrutura se dá 
com Hasui & Haralyi (1985) e com Haralyi et al. (1985). Estes autores reavaliam as 
condições do modelamento gravimétrico da anomalia do tipo I a sul de Brasília, por 
perceberem que a foliação impressa nos metassedimentos Araxá tem mergulho 
essencialmente baixo; mantêm, contudo, a mesma concepção evolutiva dos seus trabalhos 
anteriores (Haralyi & Hasui 1981). 
 A mudança de concepção tectônica é assinalada nos trabalhos de Pena (1974) e de 
Drake Jr. (1980). Porém, a ruptura com os conceitos tectônicos anteriores somente é 
realizada com os trabalhos de Strieder (1990) e de Strieder & Nilson (1991), porque 
tentam analisar em profundidade as implicações tectônicas de se caracterizar uma 
associação petrotectônica do tipo melange ofiolítica no Centro-oeste. A análise estrutural 
junto à Inflexão dos Pirineus (Strieder 1990) destacou a importância de grandes 
deslocamentos diferenciais de lâminas de cavalgamento e de nappes, durante um longo 
período de convergência de placas no Proterozóico Superior. Este tipo de estruturação 
tectônica da região Centro-Oeste parece resgatar o modelo inicial de Tapponnier & 
Moinar (1976), na medida em que a interrelação entre falhas de cavalgamento e falhas 
transcorrentes pode estar condicionada a justaposições irregulares, que resultam da não-
combinação do formato das placas convergentes, ou do aprisionamento de pequenos 
arcos-de-ilha entre duas placas convergentes principais. 
 Ao contrário do que se tem afirmado (precariedade dos mapeamentos geológico-
estruturais e das datações especificas), parece que não houve, na realidade, uma mudança 
de concepção tectônica capaz de redirecionar os trabalhos geológicos e salientar feições 
estruturais até então negligenciadas. O entendimento e a formulação de uma proposta 
mais específica para a evolução geotectônica do Centro-Oeste, conforme assinala a 
utilização da Teoria da Tectônica de Placas para regiões de convergência crustal, somente 
será possível se os trabalhos de mapeamento forem direcionados à caracterização das 
lâminas de cavalgamento, à distinção dos terrenos alóctones e autóctones e à definição da 
constituição petrológica e da estrutura interna das diversas lâminas e terrenos 
individualizados. O levantamento destes dados tem profundas implicações no 
melhoramento da modelagem gravimétrica da região e no modelo geo-econômico 
previsional. 
 Conforme é assinalado por Brito Neves & Cordani (1991), “as sínteses 
geotectônicas são necessárias, de tempos em tempos, para avaliar o grau do 
conhecimento científico de uma determinada região, para comparar e fazer correlações 
apropriadas e estender interpretações a partir de áreas bem conhecidas para áreas 
pouco conhecidas e para indicar as linhas principais de investigações futuras”. 
Entretanto, a apresentaçãode sínteses geotectônicas para o Centro-oeste, ou mesmo para 
o território brasileiro parece estar ainda muito carregada de formulações, conceitos e 
denominações desenvolvidas em período anterior ao da aplicação da Teoria da Tectônica 
de Placas. Pode-se dizer que ainda não há dados qualitativos, desvinculados das 
concepções geossinclinais e das faixas móveis, em número suficiente para permitir 
correlações regionalmente apropriadas e seguras que conduzam à apresentação de um 
novo arcabouço geotectônico para o Centro-oeste. É importante dar-se conta destes 
aspectos, pois isto limita proposições de cunho regional sem o devido suporte geológico. 
 Por fim, é necessário salientar que o agrupamento dos diversos trabalhos segundo 
a hipótese geotectônica utilizada deve melhor orientar os pesquisadores no momento de 
usarem um arcabouço geotectônico como referencial para trabalhos mais específicos. 
Assim, por exemplo, pode-se evitar, na apreciação, ou na elaboração do arcabouço, a 
utilização de trabalhos fundamentados em hipóteses geotectônicas distintas. 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
ALMEIDA, F.F.M. 1965. Geossinclineo Paraguaio. IN: 1ª Semana de Debates 
Geológicos, CAEG/Universidade Federal do Rio Grande do Sul, pp. 88-109, Porto Alegre 
(RS). 
ALMEIDA, F.F.M. 1966. Origem e Evolução da Plataforma Brasileira. IN: 2ª Semana de 
Debates Geológicos, CAEG/Universidade Federal do Rio Grande do Sul, pp. 42-89, Porto 
Alegre (RS). 
ALMEIDA, F.F.M. 1967a. Observações sobre o Precambriano da Região Central de 
Goiás. IN: Congr. Bras. de Geologia, XXI, Curitiba (PR), Bol. Paranaense de Geologia, 
Vol. 26:19-22. 
ALMEIDA, F.F.M. 1967b. Origem e Evolução da Plataforma Brasileira. IN: Div. Geol. 
Mineral, DNPM, Rio de Janeiro (RJ), Bol. N°. 241, 36 pp. mapa. 
ALMEIDA, F.F.M. 1968. Evolução tectônica do Centro-oeste brasileiro no Proterozóico 
Superior. An. Acad. Bras. Ciências, Vol. 40(supl.): 285-295 
ALMEIDA, F.F.M. 1969. Diferenciação tectônica da Plataforma brasileira. IN: Congr. 
Bras. de Geologia, XXIII, Salvador (BA), SBG/BA, Anais ..., pp. 29-46 
ALMEIDA, F.F.M. 1974. Antefossa do Alto Paraguai. IN: Congr. Bras. Geologia, 
XXVIII, Porto Alegre (RS), SBG/RS, Anais ..., Vol. 4: 3-8 
ALMEIDA, F.F.M. 1978. Regimes Tectônicos Arqueanos na Evolução Proterozóica e 
Mineralização do Leste Brasileiro. An. Acad. Brasil. Ciências, Vol. 50(41):601-602. 
ALMEIDA, F.F.M. 1981. O Cráton do Paramirim e suas Relações com o do São 
Francisco. IN: Simp. s/ Cráton do São Francisco e suas Faixas Marginais, Salvador (BA), 
1979, Anais..., SBG/BA, pp. 1-10. 
ALMEIDA, F.F.M.; HASUI, Y. & BRITO NEVES, B.B. 1976. The upper precambrian 
of South America. Bol. IG, Inst. Geociências (USP), Vol. 7: 45-80 
ALMEIDA, F.F.M.; HASUI, Y.; BRITO NEVES, B.B. & FUCK, R.A. 1977. Províncias 
estruturais brasileiras. IN: Simp. Geol. Nordeste, Campina Grande - PB, Ata ..., SBG/NE, 
pp. 363-391 
ALMEIDA, F.F.M.; HASUI, Y.; DAVINO, A. & HARALYI, N.L.E. 1980. Informações 
Geofisicas sobre o Oeste Mineiro e seu Significado Geotectônico. An. Acad. Brasil. 
Ciências, Vol. 52(1): 49-60. 
AUBOIN, J. 1965. Geosynclines. Elsevier Publ. Co., Amsterdan (Holanda), 335 pp. 
ANHAEUSSER, C.R.; MASON, R. & VILJOEN, R.P. 1969. A reappraisal of some 
aspects of Precambrian Shield Geology. Geol. Soc. Am. Bull., Vol. 80: 2175-2200. 
BELOUSSOV, V.V. 1971. Problemas Básicos de Geotectônica. Trad. Espanhol: S.C. 
Camiña & M.G. Elorza, Ed. Omega S.A., Barcelona (Espanha), 854 pp. 
BELOUSSOV, V.V. 1981. Continental Endogenous Regimes. Trad. Inglês: V. Agranat 
& Y. Prizov, Mir Plubishers, Moscou (URSS), 295 pp. 
BRIDGEWATER, D.; McGREGOR, V.R. & MYERS, J.S. 1974. A horizontal tectonic 
regime in the Archean of Greenland and its implications for early crustal thickening. 
Precambrian Res., Vol. 1: 179-197 
BRITO NEVES, B.B. & CORDANI, U.G. 1991. Tectonic evolution of South America 
during the Late Proterozoic. Precambrian Res., Vol. 53: 23-40 
CONDIE, K.C. 1982. Plate tectonics and crustal evolution. 2a. ed., Pergamon Press Inc., 
New York (USA), 310 pp. 
BURKE, K.; DEWEY, J.F. & KIDD, W.S.F. 1976. Precambrian paleomagnetic results 
compatible with contemporary operation of the Wilson Cycle. Tectonophysics, Vol. 33(3-
4): 287-299 
CORDANI, U.G. 1978. Comentários Filosóficos sobre a Evolução Geológica 
Precambriana. IN: Reunião Prep. p/ Simp. s/ Cráton do São Francisco e suas Faixas 
Marginais, Anais..., Salvador - BA, SBG/BA, Publ. Esp. 3: 32-42. 
CORDANI, U.G.; AMARAL, G. & KAWASHITA, K. 1973. The precambrian evolution 
of America. Geol. Rundsch., Vol. 62: 309-317 
CORDANI, U.G. & BRITO NEVES, B.B. 1982. The geologic evolution of South 
America during the Archean and Early Proterozoic. Rev. Bras. Geoc., Vol. 12(1-3): 78-
88 
CORDANI, U.G.; MELCHER, G.G. & ALMEIDA, F.F.M. 1968. Outline of Precambrian 
Geochronology of South America. Can. J. Earth Science, Vol. 5:629-632 
COSTA, L.A.M. & ANGEIRAS, A.G. 1971. Geosynclinal evolution of the Epi-baykalian 
plataform of Central Brazil. Geol. Rundsch., Vol. 60(3): 1024-1050 
COSTA, J.B.S. & HASUI, Y. 1988. Aspecto do lineamento Transbrasiliano na região de 
Porto Nacional - Natividade (GO). IN: Congr. Bras. Geologia, XXXV, Belém (PA), 
SBG/RN, Anais ..., Vol. 5: 2208-2216 
COSTA, J.B.S.; HASUI, Y. & GORAYEB, P.S.S. 1988a. Relações estruturais entre a 
Faixa Araguaia e o Maciço Goiano na região de Paraíso do Norte - Gurupi (GO). IN: 
Congr. Bras. Geologia, XXXV, Belém (PA), SBG/RN, Anais ..., Vol. 5: 2187-2196 
COSTA, J.B.S.; HASUI, Y. & HARALYI, N.L.E. 1988b. A zona de articulação dos 
blocos Brasília e Araguacema no Centro-norte de Goiás. IN: Congr. Bras. Geologia, 
XXXV, Belém (PA), SBG/RN, Anias ..., Vol. 5: 2197-2207 
COWARD, M.P. 1981. The Junction Between Pan-African Mobile Belts in Namibia: Its 
Structural History. Tectonophysics, Vol. 76(1): 59-73. 
COWARD, M.P.; JAMES, P.R. & WRIGHT, L. 1976. Northern Margin of the Limpopo 
Mobile Belt, Southern Africa. Geol. Soc. Am. Bull., Vol. 87: 601-611 
COX, A. ed. 1973. Tectonics and geomagnetic reversals. W.H. Freeman and Company, 
San Francisco (USA), 702 pp. 
DARDENNE, M.A. 1978. Zonação tectônica na borda ocidental do Cráton São 
Francisco. IN: Congr. Bras. Geologia, XXX, Recife (PE), SBG/NE, Anais ..., Vol. 1: 299-
308 
DEWEY, J.F. & BIRD, J.M. 1970a. Mountain belts and the new global tectonics. Jour. 
Geophys. Res., Vol. 75: 2625-2647 
DEWEY, J.F. & BIRD, J.M. 1970b. Plate tectonics and geosynclines. Tectonophysics, 
Vol. 10: 625-638 
DEWEY, J.F. & HORSFIELD, B. 1970. Plate tectonics, orogeny and continental growth. 
Nature, Vol. 225(5232): 521-525 
DIETZ, R.S. 1961. Continental and ocean basin evolution by spreading of the sea floor. 
Nature, Vol. 190(4779): 854-857 
DIETZ, R.S. 1968. Continental and ocean basin evolution by spreading of the sea floor: 
reply. Jour. Geophys. Res., Vol. 73: 6567 
DRAKE Jr., A.A. 1980. The Serra de Caldas window, Goiás. U.S.G.S. Prof. Paper, Vol. 
1119A-B: Al-Al1 
ELSASSER, W.M. 1971. Sea-floor spreading as thermal convection. Jour. Geophys. 
Res., Vol. 76: 1101-1112 
FERREIRA, E.D. 1968. La Carte Tectonique du Brésil: Aperçu sur la Plataforme 
Brésilienne. An. Acad. Brasil. Ciências, Vol. 40 (suplem.): 279-284 
GANSSER, A. 1974. The ophiolitic mélanges, a world-wide problem on Tethyan 
examples. IN: Ophiolites and related mélanges, G.J.H. McCALL ed., 1983, Benchmark 
Papers in Geology, Vol. 66, Hutchinson Ross Publ. Co., Stroudsburg (USA), pp. 21-49 
GUIMARÃES, D. 1951. Arqui-Brasil e sua evolução geológica. Div. Fom. Prod. Mineral 
- DNPM-MME, Rio de Janeiro (RJ), Bol. N° 88, 45 pp. 
HARALYI, N.L.E. & HASUI, Y. 1981. Anomalias gravimétricas e estruturas maiores do 
Sul de Goiás. IN: Simp. Geol. do Centro-oeste, Goiânia (GO), SBG/CO, Ata ..., pp. 73-
92 
HARALYI, N.L.E. & HASUI, Y. 1982. The Gravimetric Information and the Archean-
Proterozoic Structural Framework of Eastern Brazil. Revista Bras. Geoc., Vol.

Continue navegando