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Acumulação capitalista e questão social Aula 2: Modo de produção capitalista e Serviço Social Apresentação Nesta aula, re�etiremos sobre a base do sistema capitalista, no qual a complexa divisão do trabalho gerou a mais-valia e, consequentemente, a desigualdade social. Esse conteúdo é fundamental para entendermos como se construiu o pensamento crítico da área de Serviço Social, com o objetivo de quebrar o paradigma conservador da pro�ssão e interferir nesse contexto. Objetivos Discutir o modo de produção capitalista; Explicar a intervenção do Serviço Social no contexto do sistema capitalista; Desenvolver uma re�exão crítica da prática pro�ssional do assistente social inserido nesse contexto sobre o surgimento da desigualdade social. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Modo de produção capitalista O desenvolvimento do modo de produção capitalista tem uma espécie de dupla função: Acumulação de capital e proletariado Generalização da miséria Foi exatamente essa condição contraditória que levaram a classe dominante a desenvolver estratégias de controle social e a classe trabalhadora a lutar por seus direitos. A relação contraditória entre capital/trabalho e riqueza/pobreza está relacionada à questão social enquanto objeto de trabalho da prática social do assistente social. Levando em conta o processo histórico, a América Latina, em quase dois séculos de vida independente, não conheceu uma única revolução burguesa que culminasse na instauração de um regime democrático estável. Houve tentativas de revoluções burguesas como podemos citar: México (1910) Guatemala (1844) Bolívia (1952) Brasil (a partir de 1964) Mas, de fato, nenhuma delas conseguiu estabelecer um regime democrático e somente consolidou o funcionamento do modo de produção capitalista (BORÓN, 1995). Borón (1995) aponta que: "[O processo] autoritário do capitalismo latino-americano tem raízes muito profundas, que vêm do nosso passado colonial e da modalidade reacionária [e se integra ao capitalismo]. " - Borón, 1995, p. 64. Conforme Barboza e Freire (2006) nos explica que, foi possível empregar uma ofensiva ideológica para convencer a inevitabilidade das transições distintas e separadas no tempo, para recompor o sistema representativo e os espaços de negociação política, com tempos e passos determinados com clareza e o início indeterminado, que encararia as demandas sociais que a população esperava satisfazer com a volta da democracia. No entanto, somente depois de anos de terror do Estado, em meio a um certo desespero pela recuperação das liberdades individuais e públicas as forças dominantes impuseram as regras de jogo político mediante uma permanente chantagem à população sobre os riscos de um regresso autoritário. Esses autores nos mostram que, quanto menos se afetarem as questões estruturais fundamentais, mais segura seria a transição política, podendo negociar os espaços de acesso ao sistema político, modi�car as situações econômicas e ampliar as participações para eleger as elites, mantendo as desigualdades sociais. Fonte: Por nuvolanevicata / Shutterstock. Assim, a teoria destas transições se fundamenta numa autonomia absoluta do político frente ao econômico, como um campo de negociação possível, com regras precisas. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Pochmann (2016) estuda as transformações profundas do capitalismo, que têm como pressuposto condicionante e condutor a realização de marcante revolução de natureza burguesa. "Se, por um lado, estabelece as condições pelas quais se processa a materialidade do desenvolvimento das forças produtivas capitalistas, por outro, consolida a dominação sob a qual o poder burguês termina sendo exercido. " - Pochmann, 2016, p. 63. Atividade 1. Ao buscar entender o modo de produção capitalista, percebemos que ele tem uma espécie de dupla função. Qual a�rmação abaixo está correta? a) Acumular capital e proletariado e outra degeneralização da miséria. b) Acumular objetivos e inserir na sociedade moderna. c) Valorizar a mão de obra do trabalhador e fortalecer leis trabalhistas. d) Combater o excedente e obter remuneração combatível com o trabalho realizado. e) Acumular capital e atuar junto ao Estado na construção do país. Modo de produção capitalista e sua relação com a sociedade O capitalismo, isto é, o modo de produção capitalista, que produz as relações sociais que lhe são próprias determina também as diferenças entre capital e trabalho e entre os homens. Portanto, o capitalismo gera as classes sociais e essas se diferenciam pela posse privada dos meios de produção. Importante ressaltar que capital é uma construção social explicada pela expropriação da riqueza produzida pelo trabalho humano, que gera uma espécie de propriedade privada diferente das outras formas de organização social do trabalho devido à necessidade de gerar grandes lucros. Ao capital é impossível qualquer reprodução que não seja a sua reprodução ampliada, ou seja, acumulação de riqueza. Fonte: Por Ghing / Shutterstock. Um exemplo desse entendimento corresponde à análise do conceito de família no sistema capitalista. De�nir a família como palco da reprodução social implica tratá-la como unidade de consumo, pois, segundo Durham (1980), seus integrantes “vendem sua força de trabalho em troca de um salário com o qual compram mercadorias”, de modo a unir rendimentos que garantam determinado padrão material. Assim, segundo Durham (1980, p. 204), o consumo também é fruto da produção de valores de uso, compreendida por atividades do cotidiano doméstico (cozinhar, passar, lavar, remendar, cuidar dos pequenos) que não levam à produção de mercadorias, mas possibilitam “a reposição da força de trabalho consumida no processo produtivo”. Essa de�nição constitui um modo de conceber a família que é particular ao modo de produção capitalista, pois inclui as noções de valor de uso, de venda da força de trabalho. Video Para saber mais sobre o assunto, sugerimos que assista ao �lme Segunda-feira ao sol. O trailer do �lme está disponível no youtube. Essa produção cinematográ�ca traz algumas expressões da questão social no contexto da mundialização do capital, que promove a reorganização produtiva que atinge diretamente o mundo do trabalho, com aumento signi�cativo do desemprego e da precarização do trabalho. javascript:void(0); A produção voltada para a valorização da mercadoria está no trabalho abstrato. Como o valor de troca só é percebido quando o produto é vendido, ou seja, quando está distante dos trabalhadores, é que se cria a ilusão que a mercadoria conseguiu o valor no processo de venda, proporcionando uma falácia. O valor é um só e é auferido justamente no ato da produção, não no desfecho �nal da venda. Antes mesmo de sair das mãos de quem a produziu, a mercadoria já é valor. Por isso, Marx escreveu sobre o fetichismo da mercadoria, ou seja, inverter o processo de produção e retirar do trabalhador o seu próprio trabalho. O trabalho abstrato não é pago ao trabalhador pelo dono do capital. Veja a seguir como se obtém o lucro excedente: O Capital (Obra mais importante) • Formação e desenvolvimento do Capitalismo; • Capitalismo: fundado no con�ito social e na exploração dos trabalhadores. O Estado é para Marx o comitê que administra os interesses da burguesia, apaziguando os con�itos com as leis ou o poder de polícia. É um aparato da superestrutura para a manutenção da exploração. Exploração capitalista O modo de produção próprio do capitalismo é a extração do excedente (mais-valia) mediante o controle privado dos meios de produção (capital). Tudo vira mercadoria, inclusive o próprio homem. Mais-Valia Absoluta e Relativa - Trabalho não pago. Mercadoria Valor de uso Valor de troca Dinheiro Salário Alienação Coisi�cação Fetiche da mercadoria Ideologia A desvalorização do mundo humano cresce em razão direta a valorização das coisas (Marx). Assim, o Serviço Social buscoua sua ampliação, dentro desse cenário, quanto às suas funções até chegar no âmbito da defesa da universalidade de acesso a bens e serviços, dos direitos sociais e humanos, das políticas públicas e da democracia, mesmo levando em conta a dura realidade que a pro�ssão passou por ter surgido no universo das práticas reformistas integradoras. Tais práticas tinham como objetivo controlar e adaptar comportamentos, moldar subjetividades e formas de sociabilidade, com intuito da reprodução da ordem burguesa. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Atividade 2. Assinale a alternativa correta em relação a a�rmação de Durham (1980) sobre como também podemos entender o consumo: a) Útil para a qualidade de vida. b) Fruto da produção de valores de uso. c) Valor central para a sociedade feudal. d) Fruto da produção humana. e) Surgiu pela necessidade de gerar trabalho. Serviço Social nas relações sociais Albuquerque (2017) nos proporciona uma leitura sobre o resgate da trajetória histórica do Serviço Social a nível macro e micro societário, com ênfase na particularidade brasileira e no impacto das transformações societárias para o processo de precarização que a pro�ssão vem passando a partir do último decênio do século XX, com a difusão do neoliberalismo e da reestruturação produtiva de caráter �exível, ou seja, no crescimento do valor do sistema capitalismo. Novas questões são colocadas ao Serviço Social, que, do ponto de vista de sua intervenção ou da construção de seu corpo de conhecimentos, se coloca no entendimento de que esse sistema provoca o deslocamento da sociedade em relação ao enfrentamento da desigualdade social, ou seja, o Estado perde sua força e sua responsabilidade frente à questão social. Fonte: Por TimeShops / Shutterstock. Fonte: Por PHOTOCREO Michal Bednarek / Shutterstock. O pro�ssional de Serviço Social tem a postura de enfrentamento, pois busca decifrar as lógicas deste capitalismo para criar e recriar o seu próprio espaço de intervenção, considerando os processos de desestruturação dos sistemas de proteção social e da política social. Ele deve buscar uma forma de sair da ideia de conformismo, rompendo com o conservadorismo da pro�ssão. O contexto histórico de enfrentamento referente às lutas sociais, o caminhar das políticas sociais e os serviços sociais são espaços sócio ocupacionais para os assistentes sociais. Portanto, o Serviço Social nasce pela existência de necessidades sociais e adquire este espaço quando o Estado passa a interferir sistematicamente nas refrações da questão social (NETTO, 1996). A função do Serviço Social nas relações sociais está centrada em sua instrumentalidade, pela condição e capacidade de operar transformações, no objeto de intervenção e nas condições materiais de seus meios e instrumentos. O Serviço Social tem como objetivo criar ações com elementos emancipatórios fundados na razão dialética, com forças internas e externas que permitam rever fundamentos e legitimidades, com condições de questionar sua funcionalidade e instrumentalidade frente à ampliação das bases sobre as quais seu fazer pro�ssional se desenvolve e traz mudanças para a sociedade que atende. O Serviço Social consegue se desprender da base histórica, que dá origem à pro�ssão, ou seja, sua gênese, para quali�car suas novas, competências novas legitimidades, que vão além da requisição instrumental operativa do mercado de trabalho. Essas características enriquecem a instrumentalidade do fazer pro�ssional, permitindo ao pro�ssional de Serviço Social estar habilitado para reconhecer a dimensão política da pro�ssão e inspiram construções que sejam alternativas de instrumentos à superação da ordem social do capital para a busca de ação com resultados verdadeiros. Comentário Nesse caminho difícil da pro�ssão de Serviço Social, inserida para representar a classe trabalhadora, a práxis necessita de capacidades além da própria instrumentalidade e do cotidiano, que impera demandas de natureza instrumental. Suas características implicadas nas ações desencadeadoras precisam responder imediatamente o fazer pro�ssional e reconhecer o enfrentamento diário referente às questões sociais, pois o cotidiano e o cenário organizacional do capital levarão o pro�ssional para a permanência, ou seja, à atuação conservadora. Serviço Social nas relações sociais Ao olhar para dentro da construção histórica do Serviço Social, o que é fundamental para entender sua trajetória e sua busca atual, vimos que existem duas vertentes opostas sobre a origem do Serviço Social: Perspectiva endogenista Postura conservadora, na qual o Serviço Social desenvolveu-se através da organização e pro�ssionalização da �lantropia praticada por pessoas ligadas à igreja. Perspectiva histórico-crítica O Serviço Social é uma resposta da classe burguesa para a questão social, que é inerente a um sistema de produção excludente, uma vez que a riqueza socialmente produzida �ca monopolizada por uma pequena parte da sociedade. Serviço Social nas relações sociais A teoria marxista aproximou, em todo esse tempo de estudo, o Serviço Social do movimento de Reconceituação. Entenda como o marxismo in�uenciou na evolução da pro�ssão de Serviço Social. Evolução da pro�ssão de Serviço Social. Clique no botão acima. Evolução da pro�ssão de Serviço Social. Uma vertente das posições mais avançadas do movimento latino-americano de Reconceituação do Serviço Social busca a ruptura com a herança conservadora – teórico-metodológica e prático-pro�ssional. A realização da ação recorre pela primeira vez na história da pro�ssão no Brasil à interlocução com o pensamento marxista. Dessa forma, nasce um novo olhar dentro da pro�ssão e muitas agendas de pesquisas, o que faz que o Serviço Social crie seu próprio corpo técnico para fazer ciência. Também temos que entender a ética no Serviço Social para entender sua evolução como pensamento crítico e pro�ssão. A ética pro�ssional estava direcionada a uma prática alicerçada pelos costumes morais advindos da Igreja e da sociedade conservadora. Assim, o per�l do assistente social pertencia a um modo de ser imutável, perene, perfeito e não contraditório, como estudamos dentro da construção renovadora. No início, o modo de ser do pro�ssional de Serviço Social estava alicerçado na ética do aperfeiçoamento, pois ele não tinha a inquietude da transformação social que se busca atualmente. Podemos con�rmar que o Serviço Social, em sua trajetória, passou a formação de três modos de ser do assistente social: 1. Direcionamento da perspectiva modernizadora; 2. Ética pro�ssional voltada para a reatualização do conservadorismo; 3. Modo de ser com intenção de ruptura com as práticas tradicionais e conservadoras. Este último é atual, ou seja, ainda não conseguimos eliminar o conservadorismo da prática pro�ssional da pro�ssão de Serviço Social. É fundamental o entendimento que o assistente social não seria capaz de adentrar e entender as multifaces da questão social e suas expressões, que se alteram, se agravam sem a teoria social crítica advinda do método dialético de Marx O modo de ser do assistente social não está a esmo, no espaço vazio e distante do cotidiano das relações sociais. Pelo contrário, sua ética pro�ssional é inserida na história e só ela é capaz de autoconstruir o sujeito envolvido no processo. Portanto, sua ética, o ser da mobilidade, aquele que proporciona a mutabilidade das coisas, transforma os comodismos e a realidade socioeconômica, o devir de ideologias conservadoras em ideologias progressistas, do analfabetismo ao alfabetismo, en�m, da negligência de direitos à efetivação dos mesmos. Desse modo, a ética do aperfeiçoamento começa a se desvaler para dar espaço à ética da mobilidade, pois, na medida em que se avança no debate acerca da teoria social crítica, se progride também no aprofundamento da realidade social do sistema capitalista. Atividade 3. O capital é uma relação: a)Social, que se caracteriza pela expropriação da riqueza produzida pelo proletariado. b) Individual, que se caracteriza pela expropriação da riqueza produzida socialmente. c) Social, que se caracteriza pela expropriação da riqueza produzida pelos trabalhadores. d) Administrativa, que se caracteriza pela repartição da riqueza produzida pelos trabalhadores. e) Social, que se caracteriza pela divisão da riqueza produzida pelos trabalhadores para a sociedade. Notas Referências ALBUQUERQUE, Walter Araújo de. Serviço social e as transformações no mundo do trabalho: uma relação com a precarização pro�ssional. In: Seminário Nacional de Serviço Social, Trabalho e Políticas Sociais, II., 2017, Florianópolis. Anais. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2017. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/180070/101_00137.pdf?sequence=1. Acesso em: 14 maio 2019. BARBOZA, D. R.; FREIRE, S. de M. O Serviço Social crítico no atual contexto de redemocratização da América Latina. In: Revista Katálysis, Florianópolis, v. 9, n. 2, jul./dez. 2006. Disponível em: //www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414- 49802006000200010. Acesso em: 16 maio 2019. BORÓN, A. A sociedade civil depois do dilúvio neoliberal. In: SADER, E.; GENTILI, P. (Orgs.). Pós-neoliberalismo I: as políticas sociais e o Estado democrático. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p. 63-118. FALEIROS, V.P. Saber pro�ssional e poder institucional. São Paulo: Cortez, 2001. MARX, Karl. O Capital. Vol. 2. 3. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988. POCHMANN, M. Capitalismo e desenvolvimento. In: Brasil sem industrialização: a herança renunciada. Ponta Grossa: UEPG, 2016. Disponível em: //books.scielo.org/id/yjzmz/pdf/pochmann-9788577982165-02.pdf. Acesso em: 14 maio 2019. Explore mais Pesquise na internet, sites, vídeos e artigos relacionados ao conteúdo visto. Em caso de dúvidas, converse com seu professor online por meio dos recursos disponíveis no ambiente de aprendizagem. Leia o livro: ROSDOLSKY, R. Gênese e estrutura de O Capital de Karl Marx. 1. ed. Rio de Janeiro: Contraponto, 2001. Leia o texto: Divisão de lucros pode reduzir desigualdade social. javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0);
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