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Primeira Parte. Fundamentos
Capítulo 1. A intervenção do Direito Penal sobre a Criminologia
Panorama
•	 O	Direito	Penal	tem	específicos	interesses	de	aplicação	para	conhecimentos	
criminológicos.	Já	no	final	do	século	19	surgiu	a	demanda	por	soluções	
científicas	para	problemas	sociais.	A	crítica	da	brutalidade	e	da	ineficácia	
do	sistema	de	Direito	Penal	absolutista	 foi	precursora	do	pensamento	
criminológico.	 Desde	 o	 início,	 os	 interesses	 jurídico-penais	 ditaram	
dois	 postulados	 fundamentais,	 os	 quais	 a	 Criminologia	 devia	 seguir:	
o	princípio da individualização,	que	supõe	 liberdade	de	vontade	do	
indivíduo,	e	o	princípio da diferenciação,	que	representa	o	criminoso	
como	 não	 pessoa	 moral.	 No	 curso	 da	 compreensão	 científica	 das	
relações	sociais,	o	Direito	Penal	propõe	para	a	Criminologia	as	questões	
da	 racionalidade,	 da	 efetividade	 e	 da	 fundamentação	 de	 medidas	 de	
combate da criminalidade.	 Com	 esta	 orientação	 a	 Criminologia	
estava,	claramente,	em	serviço da ordem do Estado	e	tinha	de	oferecer	
diretrizes	práticas	de	combate	da	criminalidade.	Com	a	influência	das	
Ciências	sociais	e	a	fixação	no	pensamento	preventivo,	o	Direito	Penal	
ampliou	o	interesse	de	pesquisa	criminológica	para	o	autor,	a	vítima	e	
as	instâncias	de	controle	social.	Uma	assim	armada	Criminologia	sócio-
científica	tinha	de	oferecer	ao	Direito	Penal	estratégias	de	domínio	em	
relação	à	criminalidade	como	problema	individual	e	social:	análises	de	
causas,	 propostas	 de	 intervenção,	 pesquisas	 sobre	 eficácia	 do	 Direito	
Penal	e	sobre	a	legitimação	do	conjunto	do	Sistema	de	Justiça	Criminal	
estavam	na	 lista	de	pedidos	do	Direito	Penal.	Uma	Criminologia	que	
se	entendia	crítica	separava-se,	claramente,	da	posição	de	auxílio	para	o	
Direito	Penal.	Não	queria	mais	ser	“fornecedora”	do	Direito	Penal,	mas	
queria	desmascarar	o	Direito	Penal	como	instrumento	de	dominação.	A	
criminalidade	não	foi	mais	valorada	como	propriedade	da	pessoa,	mas	
apenas	 como	atribuição	por	parte	do	 conjunto	do	Sistema	de	 Justiça	
Criminal	(§	2).
•	 O	 interesse	 do	Direito	 Penal	 por	 causas	 da	 criminalidade	 desafiou	 a	
Ciência	social	para	formação	de	teorias	abrangentes.	O	comportamento	
Capítulo 1 - A intervenção do Direito Penal sobre a Criminologia12
individual	e	social	deveria	ser	explicado	cientificamente,	entretanto	está	à	
disposição	uma	quantidade	quase	infinita	de	teorias da criminalidade.	
Nesta	 tentativa	 de	 explicação	 das	 Ciências	 sociais	 e	 humanas,	 a	
sistemática	 se	 desenvolveu	 de	modo	mais	 paradigmático,	 ou	 seja,	 de	
princípios	 científicos	 contraditórios	metódica	 e	 substancialmente.	Por	
um	lado,	princípios	condicionantes	querem	explicar	o	comportamento	
individual,	o	que	encontra	o	maior	interesse	no	contexto	de	aplicação	
jurídico-penal:	deficits	cerebrais	patológicos	ou	condicionados	por	droga	
–	isto	o	Direito	Penal	compreende	(ainda).	Por	outro	lado,	princípios	
de	imputação	querem	demonstrar	o	processo	de	prejuízo	social	através	
de	 seleção	 negativa:	 furtos	 por	 necessidade	 econômica	 condicionados	
por	contradições	da	sociedade	de	classes	–	as	Ciências	sociais	críticas	da	
sociedade	aclamam	estas	vinculações.	O	Direito	Penal	precisa	se	situar	
nos	extremos	deste	espectro	de	teorias,	o	que	lhe	é	impossível	de	alcançar	
(§	3).	
•	 Enfim,	ao	Direito	Penal	não	resta	alternativa,	senão	construir	teorias	para	
o	controle	da	criminalidade,	as	assim	chamadas	teorias	penais	(teorias 
de criminalização).	 Teorias	 de	 retribuição,	 teorias	 de	 intimidação	 e	
melhoria	 do	 autor,	 de	 intimidação	 da	 coletividade	 e	 afirmação	 geral	
da	 norma,	 até	 as	 “teorias	 unificadas”	 produzidas	 pela	 Jurisprudência,	
oferecem	modelos	de	 justificação	para	o	Direito	Penal,	que	abrangem	
desde	a	proteção	de	interesses	individuais	até	a	proteção	de	complexos	
funcionais.	Sem	dúvida	–	como	as	Ciências	sociais	trocistas	até	autônomas	
observam	–,	em	geral,	 sem	qualquer	prova	empírica.	O	Direito	Penal	
continua	profissão	de	fé	–	fora	de	legitimação	empírica	(§	4).
§ 2. Interesses de Aplicação jurídico-penal
Literatura:	 Albrecht, P.-A.,	 Das	 Strafrecht	 auf	 dem	Weg	 vom	 liberalen	 Rechtsstaat	 zum	
sozialen	 Interventionsstaat:	 Entwicklungstendenzen	 des	 materiellen	 Strafrechts,	 KritV	
1988,	182	 s.;	Beccaria, C.,	Über	Verbrechen	und	Strafen,	1988	 (1	ed.	 ital.:	1764);	Beck, 
U.,	Risikogesellschaft:	Auf	 dem	Weg	 in	 eine	 andere	Moderne,	 2001;	Bettmer, F.; Kreissl, 
R.; Voss, M.,	Die	Kohortenforschung	als	 symbolische	Ordnungsmacht,	KrimJ	1988,	191	
s.;	Birkmeyer, K.,	Was	lässt	v.	Liszt	vom	Strafrecht	übrig:	eine	Warnung	vor	der	modernen	
Richtung	 im	Strafrecht,	1907;	Eisenberg, U.,	Kriminologie,	5	ed,	2000;	Farrington, D.P.; 
§ 2 - Interesses de Aplicação jurídico-penal 13
Ohlin, L.E.; Wilson, J. Q.,	Understanding	and	Controlling	Crime:	Towards	a	New	Research	
Strategy,	 1986;	 Ferri, E.,	 Das	 Verbrechen	 als	 soziale	 Erscheinung,	 1896;	 Garland, D.,	
Punishment	and	Welfare:	A	history	of	penal	strategies,	1987;	Göppinger, H.,	Der	Täter	in	
seinen	sozialen	Bezügen,	1983;	Göppinger, H.,	Angewandte	Kriminologie:	Ein	Leitfaden	für	
die	Praxis,	1985;	Göppinger, H.,	Kriminologie,	5	ed,	1997;	Gross, H.,	Die	Antrittsvorlesung	
des	Prof.	Dr.	v.	Liszt	in	Berlin,	in:	Archiv	für	Kriminalanthropologie	und	Kriminalistik,	3,	
1899,	114	s.;	Habermas, J.,	Technik	und	Wissenschaft	als	“Ideologie”,	1974;	Hassemer, W.,	
Strafziele	 im	 sozialwissenschaftlich	 orientierten	 Strafrecht,	 in:	 Hassemer,	W.;	 Lüderssen,	
K.;	 Naucke,	 W.	 (editores),	 Fortschritte	 im	 Strafrecht	 durch	 die	 Sozialwissenschaften?,	
1983;	Hassemer, W.,	Kriminologie	und	Strafrecht,	 in:	Kaiser,	G.;	Kerner,	H.-J.;	 Sack,	F.;	
Schellhoss,	H.	(editores),	Kleines	Kriminologisches	Wörterbuch,	3.ed,	1993,	312	s.;	Hess, 
H.;	Scheerer,	S.,	Was	ist	Kriminalität?,	KrimJ	1997,	83	s.;	Jakobs, G.,	Kriminalisierung	im	
Vorfeld	einer	Rechtsgutsverletzung,	ZStW	1985,	751	s.;	Kaiser, G.,	Wie	ist	beim	Mord	die	
präventive	Wirkung	der	 lebenslangen	Freiheitsstrafe	 einzuschätzen?,	 in:	 Jescheck,	H.-H.;	
Triffterer,	O.	(editores),	Ist	die	lebenslange	Freiheitsstrafe	verfassungswidrig?,	1987,	115	s.;	
Kaiser, G.,	Kriminologie,	2	ed,	1988	e	3	ed.	1996;	Kerner, H.-J.,	Pönologie,	in:	Kaiser,	G.;	
Kerner,	H.-J.;	 Sack,	 F.;	 Schellhoss,	H.	 (editores),	Kleines	Kriminologisches	Wörterbuch,	
1985,	 338	 s.;	 Kreissl, R.,	 Soziologie	 und	 soziale	 Kontrolle:	 Die	 Verwissenschaftlichung	
des	 Kriminaljustizsystems,	 1986;	 Kürzinger, J.,	 Kriminologie,	 2	 ed.,	 1996;	 Lamott, F.,	
Die	 Kriminologie	 und	 das	 Andere,	 KrimJ	 1988,	 168	 s.;	 Lautmann, R.,	 Justiz	 die	 stille	
Gewalt,	1972;	Leferenz, H.,	Die	neuere	Kriminalpolitik	auf	kriminologischer	Grundlage,	
in:	 Festschrift	 für	 Karl	 Lackner,	 1987,	 1009	 s.;	 Lombroso, C.,	 Der	 Verbrecher	 in	
anthropologischer,	ärztlicher	und	juristischer	Beziehung,	Volume	I,	1894	(1	ed	ital.:	1876);	
Lombroso, C.,	Neue	Verbrecherstudien,	1907;	Lüderssen, K.,	Kriminologie:	Einführung	in	
die	 Probleme,	 1984;	 Matza, D.,	 Abweichendes	 Verhalten:	 Untersuchungen	 zur	 Genese	
abweichender	Identität,	1973;	Moser, T.,	Repressive	Kriminalpsychiatrie:	Vom	Elend	einer	
Wissenschaft,	 2	 ed,	 1971;	 Müller-Tuckfeld, J.-C.,	 Krise	 der	 kritischen	 Kriminologie?,	
KrimJ	 1998,	 109	 s.;	 Naucke, W.,	 Die	 Modernisierung	 des	 Strafrechts	 durch	 Beccaria,	
in:	 Deimling,	 G.	 (editor),	 Cesare	 Beccaria:	 Die	 Anfänge	 moderner	 Strafrechtspflege	 in	
Europa,	1989,	37	s.;	Perrow, Ch.,	Normale	Katastrophen:	die	unvermeidbaren	Risiken	der	
Grosstechnik,	 2	 ed,	 1992;	Sack, F.,	 Probleme	 der	Kriminalsoziologie,	 in:	Handbuch	 der	
empirischen	Sozialforschung,	2	ed,	Volume	XII,	1978;	Sack, F.,	Kriminalität,	Gesellschaft	
und	Geschichte:	Berührungsängste	der	deutschen	Kriminologie,	KrimJ	1987,	241	s.;	Sack, 
F.,	Stichwort	“Kritische	Kriminologie”,	 in:	Kaiser,	G.;	Kerner,	H.-J.;	Sack,	F.;	Schellhoss,	
H.	 (editor),	Kleines	Kriminologisches	Wörterbuch,	3	ed,	1993,	329s.;	Scheerer, S.,	Vom	
Praktischwerden,	KrimJ	1989,	30	s.;	Schneider, H.-J.,	Kriminologie,	1987;	Taylor, I.; Walton, 
P.; Young, J.,	The	New	Criminology:	 for	 a	 Social	Theory	 of	Deviance,	 4	 ed,	 1977;	 van 
der Loo, H.; van Reijen, W.,	Modernisierung,	1992;	Weber, M.,	Wissenschaft	als	Beruf,	in:	
Mommsen,	W.;	Schluchter,	W.	(editores),	Gesamtausgabe	Max	Weber,	Volume	17,	1992.		
Capítulo 1 - A intervenção do Direito Penal sobre a Criminologia14
A. O nascimento da Criminologia como controle da criminalidade 
orientado pela ciência
I. O apelo a soluções científicas para problemas sociais
O	momento de nascimento	da	Criminologia	como	ciência	empírica	está	
no	final	do	século 19.	É	o	tempo	em	que	a	ciência	torna	possível	o	“progresso	
técnico”	e	o	promove	cada	vez	mais	rápido.	Racionalidade	técnico-científica	
substitui	 a	 orientação	 por	 valores	 tradicionais.	Verdade	 é	 procurada,	 não	
crença.	 Conhecimentos	 científicos	 transformados	 em	 produtos	 técnicos	
proporcionam	 a	 dominação	 da	 natureza,	 aumentam	 a	 produtividade	 do	
trabalho,	prolongam	a	vida	e	fornecem	conforto	à	vida	cotidiana.	Trabalho	e	
vida	são	subordinados	cada	vez	mais	fortemente	ao	princípio	do	fim	racional	
(van der Loo/van Reijen,	1992,	125).	Também	decisões	políticas	aparecem,	
agora,	 como	 consequência	 de	 imposições	 fáticas,	 como	 expressão	 de	 um	
igualmente	regular	curso	do	progresso.	Dominação	torna-se	administração	
do	tecnicamente	necessário	(Habermas,	1974,	48	s.).
Na	 esteira	 de	 crescentes	 intervenções	 estatais	 para	 produção	 de	 uma	
infraestrutura	econômica	e	social,	na	segunda	metade	do	século	19,	também	
na	 área	 do	 bem-estar	 social,	 é	 demandada	 intervenção	 cientificamente	
dirigida	 (Weber,	 1992,	 86	 ss).	 Se,	 com	 os	meios	 da	 ascendente	 ciência	
empírica,	parecem	as	forças	da	natureza	controláveis	e	as	doenças	curáveis,	
então	o	nascimento	de	uma	disciplina	científica	que	quer	pesquisar	o	crime	
e	eliminar	o	problema	da	criminalidade	não	é	mais	motivo	de	espanto.	Isto	
vale,	sobretudo	depois,	quando	cresce	a	necessidade	de	controle	nas	crises	
sociais	 da	 revolução	 industrial	 e	 o	 problema	 do	 desvio	 é	 transformado,	
pela	primeira	 vez,	 com	os	 instrumentos	da	 estatística	 central-estatal,	 do	
fenômeno	individual	do	fato	criminoso	no	abstrato	fenômeno	de	massa	da	
“criminalidade”	e	como	tal	é	percebido	publicamente	(Scheerer,	1989,	38).
II. Crítica da brutalidade e da ineficiência do sistema de Direito Penal 
absolutista, como precursora do pensamento criminológico (Beccaria)
Mais	do	que	um	século	antes,	o	libelo	do	jurista	italiano	Cesare	Beccaria	
(1738-1794)	 “Dei	 delitti	 e	 delle	 pene”	 (Dos	 Delitos	 e	 das	 Penas)	 –	
§ 2 - Interesses de Aplicação jurídico-penal 15
contemplado	com	grande	e	também	internacional	atenção	pública	–	fez	
a	propaganda	dos	princípios	de	Estado	de	Direito	do	Processo	penal.	Por	
um	lado,	mediante	sua	crítica	massiva	das	imponderabilidades	do	Direito	
Penal	absolutista,	das	máximas	do	processo	inquisitório,	como	da	tortura,	
da	coação	para	interrogatórios	juramentados	dos	acusados	ou	das	acusações	
“secretas”	e	da	pena	de	morte,	trouxe	Beccaria	o	interesse	do	Iluminismo	
para	dentro	do	Direito	Penal.	Por	outro	 lado,	com	sua	representação	de	
uma	cultura	do	Direito	Penal	racional,	comprometida	com	ponderações	de	
utilidade	social,	ele	nivelou	o	caminho	para	uma	Criminologia	orientada	
pela	 ciência	 empírica,	 que	 se	 sabe	 comprometida	 com	 o	 programa	 de	
prevenção	 criminal.	 As	 sanções,	 nas	 propostas	 político-criminais	 de	
Beccaria,	já	eram	pensadas	conforme	fins	(intimidação,	prevenção	geral),	
endereçadas,	nos	 seus	efeitos	 formadores	de	motivos,	à	vontade	 livre	do	
ser	 humano,	 para	 impedir	 condutas	 criminosas	 (Beccaria,	 1988,	 83	 s.).	
Estes	primórdios	de	uma	teoria	penal	 relativa	 foram,	depois,	 elaborados	
no	 sentido	de	prevenção	geral	por	Anselm	v.	Feuerbach	e	de	prevenção	
especial	por	Franz	v.	Liszt.
O	Direito	Penal	orientado	pelo	fim	fundado	por	Beccaria,	 encontra	
sua	justificação,	na	verdade,	não	primariamente	na	liberdade	do	cidadão	
ou	em	ideais	de	liberdade	e	de	humanidade.	Ao	contrário,	é	ao	Estado	
forte	 que	 Beccaria	 oferece	 um	 instrumentário	 muito	 mais	 eficiente	
para	combate	ao	desvio	do	que	podia	dispor	o	sistema	de	Direito	Penal	
absolutista	 (compare	 Naucke,	 1989,	 37	 s.).	 Isto	 torna-se	 claro	 pelos	
argumentos	 que	Beccaria	 propõe	 contra	 a	 pena	 de	morte.	Em	 relação	
aos	 efeitos	meramente	 pontuais	 da	 pena	 de	morte,	 ele	 atribui	 à	 pena	
privativa	de	 liberdade	perpétua	–	 vinculada	 com	 trabalho	 forçado	–	o	
maior	efeito	intimidante.	Não	é	a	humanidade,	que	sempre	e	em	geral	
contradiz	 a	 pena	 de	morte,	mas	 a	 insuficiente	 eficácia	 de	 intimidação	
que,	 na	 regra	 da	 criminalidade,	 permite	 transparecer	 a	 pena	de	morte	
como	inadequada.	No	âmbito	da	criminalidade	política,	mesmo	assim,	
sustenta	Beccaria	a	imprescindibilidade	da	pena	de	morte	(1988,	124).	
Com	isto,	os	princípios	do	Estado	de	Direito	são	abertos	à	disposição	de	
ponderações	estatais	utilitárias	e	é	posto	em	ação	um	desenvolvimento	
político-criminal	que,	até	hoje,	não	cessou.
Capítulo 1 - A intervenção do Direito Penal sobre a Criminologia16
III. Individualização e diferenciação
O	local de nascimento	da	Criminologia	é	a	prisão.	É	a	instituição	de	
referência	 para	 a	Criminologia,	 assim	 como	 a	 escola	 possui	 essa	 função	
para	 a	pedagogia,	ou	o	hospital	para	 a	medicina.	Oferece	 aos	primeiros	
criminólogos	o	campo	para	a	observação	e	“medição”	de	longo	prazo	dos	
delinquentes,	assim	como	para	a	experimentação	de	medidas	terapêuticas.		
1. Primeiros acessos científico-empíricos
a) Lombroso
O	médico-legista	Cesare Lombroso	(1835-1909)	encontrou	em	hospícios	
e	em	instituições	penais	as	cobaias	de	suas	pesquisas	sobre	as	características	
de	“L’Uomo	Delinquente”,	do	homem	criminoso	(1876).	Impressionado	
pela	força	explicativa	das	ciências	naturais	exatas,	ele	tentou,	com	ajuda	de	
estudos	antropológico-criminais,	desvendar	a	forma	originária	do	crime.
aa)	 Por	 meio	 de	 comparativas	 pesquisas	 antropométricas	 (medição	
do	ser	humano)	de	prisioneiros,	doentes	mentais	e	grupos	da	população	
normal	 (por	 exemplo,	 soldados),	 acreditou	 Lombroso	 ter	 comprovado	 a	
diferenciação	do	criminoso.	
Através	 de	 medições	 próprias	 e	 por	 avaliação	 de	 inúmeros	 trabalhos	
similares	de	colegas,	na	segunda	edição	de	sua	obra	principal	(1894),	pôde	
Lombroso comparar	 os	 dados	 de	 3839	 criminosos	 com	 as	 características	
observáveis	de	grandes	amostras	da	população	normal.	Considerando	um	
grande	número	de	dados,	Lombroso	demonstrou	desvios	dos	 criminosos	
em	relação	a	valores	médios	da	população.	Medições	 sobre	 tamanho	do	
corpo,	peso,	circunferência	do	crânio	ou	altura	da	testa,	até	características	
da	 expressão	 fisionômica,	 como	 orelhas	 salientes	 ou	 fronte	 fugidia	
comprovavam,	 na	 visão	 do	 criminólogo	 precursor,	 sua	 tese	 dos	 fatores	
natos	desencadeadores	da	delinquência,	que	seriam	comparáveis	com	uma	
doença	crônica	(1894,	252):	“Os	ladrões	possuem,	em	geral,	traços	faciais	
e	mãos	muito	vivazes;	seu	olho	é	pequeno,	inquieto,	muitas	vezes	estrábico;	
as	sobrancelhas	são	caídas	e	se	confinam;	o	nariz	é	torto	ou	chato,	a	barba	
§ 2 - Interesses de Aplicação jurídico-penal 17
rala,	o	cabelo	raramente	denso,	a	fronte	quase	sempre	pequena	e	fugidia,	a	
orelha	frequentemente	saliente	em	forma	de	asa.	(...)	Os	assassinos	têm	um	
olhar	transparente,	gelado,	fixo,	seu	olho	é,	às	vezes,	vermelho	de	sangue.	
O	nariz	é	grande,	muitas	vezes	um	nariz	de	águia,	ou	antes,	aquilino;	o	
queixo	 fortemente	 ossudo,	 as	 orelhas	 compridas,	 os	 pômulos	 largos,	 os	
cabelos	encaracolados,	cheios	e	escuros,	a	barba	muitas	vezes	rala;	os	lábios	
finos,	os	caninos	grandes”	(Lombroso,	1894,	229	s.).	
Figura 1:	tipos	fisionômicos	(fonte: Lombroso,	1907,	103)
As	 anomalias	 encontradas	 nos	 criminosos,	 em	 quantidade	 superior	
à	 média,	 Lombrosointerpretou	 como	 indícios	 de	 uma	 inibição	 de	
desenvolvimento,	como	“atavismo”,	um	tipo	humano	especial	criado	pela	
Capítulo 1 - A intervenção do Direito Penal sobre a Criminologia18
natureza	 (1894,	 248).	 Esta	 é	 a	 interpretação	 “do	 criminoso	 como	 um	
selvagem	caído	no	nosso	mundo	civilizado	(...)”	(Ferri,	1896,	27).					
bb)	O	mérito	de	Lombroso	deve	ser	visto	deste	modo,	que	ele	se	esforçou,	
mesmo	 que	 de	 forma	 limitada,	 para	 um	 acesso	 científico-empírico	 à	
criminalidade.	 Ele	 encerra,	 com	 isto,	 uma	 longa	 fase	 de	 considerações	
especulativas	 da	 delinquência	 (visão	 geral	 sobre	 a	 história	 primitiva	 da	
Criminologia,	 em	 Göppinger,	 1997,	 6	 s.).	 A	 crítica	metódica	 que	 deve	
ser	 feita	 a	 Lombroso	 não	 consiste	 no	 fato	 de	 ter	 observado	 ou	 medido	
errado.	Ao	contrário,	ele	não	percebeu	o	efeito	de	seleção	ao	qual	os	presos	
pesquisados,	da	quantidade	total	de	autores	puníveis,	estavam	submetidos.	
Lombroso	equiparou	a	criminalidade	com	o	que	ele	encontrou	nas	prisões.	
Muitas	das	 características	que	ele	verificou	nos	presos	 e	que	 interpretou	
como	causas	da	criminalidade,	do	ponto	de	vista	atual,	seriam	vistas	como	
as	consequências	dos	processos	de	seleção,	que	ocorrem	desde	a	Polícia	até	
a	Justiça	penal	e	no	ato	de	medição	da	pena	(compare	adiante	§	3	B	III	s.).	
Lombroso	 desencadeou,	 com	 sua	 ‘descoberta’	 do	 “criminoso	 nato”,	
acaloradas	 discussões	 sobre	 a	 justificação	 da	 pena,	 que	 continuam	 até	
nossos	dias.	Comete	um	ser	humano	–	determinado	por	 sua	disposição	
–	 um	 fato	 punível,	 então	 nenhuma	 reprovação	 de	 culpabilidade	 dever-
lhe-ia	 ser	 feita:	 segundo	 a	máxima	 própria	 do	Direito	 Penal,	 nenhuma	
pena	 sem	culpabilidade	 (assim,	 já	Ferri,	1896,	246	 s.).	Esta	 constelação	
motivou	um	adversário	da	Moderna	Escola	de	Direito	Penal,	mais	tarde,	
a	uma	exclamação	literária	que,	também	por	juristas	contemporâneos,	de	
modo	mais	ou	menos	semelhante,	foi	dirigida	a	Lombroso:	o	que	sobrou	do	
Direito	Penal	depois	de	v. Liszt?	(Birkmeyer,	1907).	
b) Ferri 
O	 jurista	 Enrico	 Ferri,	 um	 discípulo	 de	 Lombroso,	 completou	 e	
diferenciou	em	trabalhos	posteriores	a	hipótese	da	determinação	biológica	
da	delinquência.	Ele	indicou,	em	especial,	a	negligência	dos	fatores	psíquicos	
e	sociais	nas	explicações	da	criminalidade	de	Lombroso	(Ferri,	1896,	24	s.).		
Em	particular,	Ferri	diferenciou	os	fatores antropológicos	intrínsecos	à	pessoa	do	
delinquente,	que	ele	subdividiu	em	constituição	orgânica	(por	exemplo,	anomalias	do	
crânio)	e	psíquica	(inteligência,	anomalias	de	sentimento),	assim	como	os	caracteres	
§ 2 - Interesses de Aplicação jurídico-penal 19
pessoais	(raça,	idade,	sexo,	profissão,	origem	de	classe	etc.)	do	criminoso.	No	segundo	
grupo	encontram-se	fatores físicos	da	delinquência,	como	clima,	períodos	do	dia	ou	
estações	do	ano.	Os	 fatores sociais	diferenciados	no	terceiro	grupo	compreendem	
desde	a	densidade	da	população,	a	vida	familiar,	as	relações	econômicas	e	políticas,	até	
o	estado	da	legislação	penal,	da	Polícia	e	Justiça	–	uma	compreensão	extremamente	
moderna	(Ferri,	1896,	125	ss).	Ferri	esforçou-se,	também,	enfim,	para	a	solução	do	
problema	da	culpabilidade.	Através	da	negação	da	liberdade	de	vontade,	na	“Escola	
Positivista”	fundada	por	Lombroso,	a	imputação	jurídico-penal	precisou	ser	de	novo	
fundada.	Ferri	substituiu	a	hipótese	tradicional	da	responsabilidade	moral	(liberdade	
de	vontade)	pela	 ideia	de	 responsabilidade	 social:	por	 toda	ação	punível,	que	pelo	
autor	“é	executada	(...)	em	um	processo	psico-fisiológico	a	ele	pertencente”	(no	lugar	
citado,	 274ss),	 este	 é	 responsável	 jurídico-penalmente	 “apenas	 porque	 e	 enquanto	
ele	 vive	 em	 sociedade”	 (no	 lugar	 citado,	 297).	 Estas	 reflexões	 foram,	 mais	 tarde,	
desenvolvidas	na	chamada	teoria	da	“Defesa	social”.			
2. Hipóteses fundamentais da Criminologia
A	prisão,	da	qual	partiram	as	primeiras	pesquisas	criminológicas	empíricas,	
incorpora	e	mediatiza	dois	conceitos	fundamentais	da	Criminologia,	que	
até	hoje	determinam	o	pensamento	criminológico,	a	saber
•	 o	princípio	da	individualização	(a)	e
•	 o	princípio	da	diferenciação	(b).
a) O princípio da individualização
Embora	a	Criminologia,	como	ciência	empírica,	abandona	a	imputação	
jurídico-penal	da	 liberdade	de	vontade	 individual,	 em	favor	da	hipótese	
da	determinação	pessoal	ou	social	da	ação,	o	indivíduo	permanece	a	fonte	
essencial	do	crime	e	o	ponto	de	 referência	da	 intervenção.	O	princípio	
criminológico	da individualização	permanece,	com	isto,	tanto	no	quadro	
da	 lógica	 de	 imputação	 jurídico-penal	 da	 culpabilidade,	 como	 também	
[no	quadro]	da	ideologia	burguesa	da	responsabilidade	e	do	desempenho	
pessoal.	 A	 cela	 da	 prisão	 simboliza	 este	 princípio,	 que	 coloca	 limites	
enérgicos	ao	diagnóstico	criminológico	e	à	recomendação	de	intervenção	
criminológica.	
b) O princípio da diferença
No	quadro	de	investigação	das	primeiras	pesquisas	criminológicas,	como	
no	 estudo	 empírico	 de	 Lombroso sobre	 o	 “homem	 criminoso”	 (1876),	
Capítulo 1 - A intervenção do Direito Penal sobre a Criminologia20
o	muro	da	prisão	marca	a	 linha	de	separação	entre	o	grupo	de	pesquisa	
dos	 presos	 e	 o	 grupo	 de	 controle,	 os	 homens	 de	 fora.	 O	 interesse	 de	
conhecimento	é	a	diferença	do	criminoso	em	relação	aos	[homens]	normais.	
Para	 os	 primeiros	 criminólogos	 a	 prisão	 realiza	 não	 somente	 a	 exclusão	
social	do	criminoso,	mas	também	lhes	atribui,	 igualmente,	um	 status	de	
diferenciação	natural.	O	princípio da diferença,	a	observação	isolada	do	
“mundo	 da	 criminalidade”,	 como	 também	 a	 intervenção	 criminológica	
dirigida	para	a	pessoa,	são	próprias	também	da	Criminologia	tradicional	
contemporânea	 –	 e	 são	 lamentadas	 como	 contradição	 à	 autonomia	 da	
ciência	(Sack,	1987,	247	s.).			
IV. A Psiquiatria como precursora da Criminologia
A	Psiquiatria,	teoria	dos	transtornos	psíquicos	patológicos,	é	considerada	
como	 parteira	 da	 Criminologia.	 A	 jovem	 ciência	 criminológica	 extrai	
dela	 sua	 imagem	quase	médica,	 a	 aparência	de	uma	disciplina	moderna	
(aos	 olhos	 dos	 contemporâneos)	 e	 os	 primeiros	 conceitos	 explicativos	
da	criminalidade.	Ela	 fornece	o	modelo	para	conceitos	deterministas	de	
ação	–	ação	não	determinada	pela	livre	vontade	–	e	teorias	de	“anomalias”	
biológicas	para	explicação	da	“personalidade	criminosa”.	A	cooperação	entre	
estas	especialidades	prospera,	não	por	último,	porque	a	Psiquiatria	descobre	
um	novo	campo	de	atuação	e	profissionalização	na	área	da	Justiça	penal	
(Garland,	1987,	81s;	Lamott,	1988,	179s.).	Até	hoje	a	Criminologia	não	
alcançou	o	prestígio	da	Psiquiatria	na	Justiça	penal	(compare	Moser,	1971).	
Perícias	psiquiátricas	são	requisitadas	como	auxílio	de	explicação,	mesmo	
lá	 onde	 é	 evidente	 a	 necessidade	 de	 especial	 informação	 criminológica	
(compare	BGH	StV	1994,	252ss).
B. Interesse jurídico-penal na Criminologia
O	 Direito	 Penal	 consulta	 a	 Criminologia	 sobre	 avaliações	 de	 sua	
racionalidade,	 isto	é,	 razoabilidade	do	combate	à	criminalidade,	de	sua	
efetividade,	 portanto,	 eficácia,	 e	 da	 fundamentação	 da	 intervenção	
jurídico-penal	(questão	de	legitimidade).
§ 2 - Interesses de Aplicação jurídico-penal 21
I. O produto científico da “criminalidade” como problema solucionável 
pela Justiça penal
1. A produção do problema social
O	 interesse	 do	 Direito	 Penal,	 ou	 seja,	 da	 Justiça	 penal	 na	 ciência	
criminológica,	parte	do	problema	social	que	é	criado	e	descrito	por	normas	
jurídico-penais.	Sem	uma	norma	jurídico-penal	não	existe	criminalidade:	
somente	a	punibilidade	da	posse	de	droga	cria	a	criminalidade	de	drogas.	
Isto	pode	atingir,	dependendo	da	realidade	histórica	e	política,	o	tabaco,	o	
álcool	ou	o	haxixe.	Para	trabalhar	o	problema	criminal	assim	“produzido”	
são	 acionados	 normativamente	 Polícia,	 Justiça	 e	 Execução	 Penal:	 nessa	
medida,	eles	 também	“criam”	a	criminalidade.	Este	é,	de	certa	 forma,o	
modelo	do	“problema	social”	moderno	(compare,	sobre	isto,	em	detalhes,	
o	Capítulo	12,	abaixo).
2. A produção do problema moral
Porque	 o	 Estado,	 para	 proteção	 de	 bens	 jurídicos	 definidos	 jurídico-
penalmente,	emprega	sua	arma	mais	aguda,	a	aplicação	de	violência	estatal	
e	de	sanções	penais,	o	problema	social	da	criminalidade	recebe	um	posto	
especial,	destacado	dentro	da	sequência	de	problemas	sociais.	Criminalidade	
torna-se	um	problema	dominante	do	cotidiano	social.	A	atenção	pública	
concentra-se	no	problema	da	criminalidade.	Notícias	da	Justiça	aumentam	
a	 atenção	 pública.	 Produzem,	 em	 conjunto	 com	 os	 produtos	 de	 lei	
e	 ordem	 da	 indústria	 da	mídia,	 “funções	 simbólicas	 do	Direito	 Penal”,	
por	exemplo,	a	desvalorização	moral	da	criminalidade	ou	do	criminoso,	
ou	 a	 representação	 da	 autoridade	 estatal,	 (compare	Hess/Scheerer,	 1997,	
assim	 como	 §	 6	C,	 abaixo).	 Através	 da	 esquemática simplificação do 
Direito Penal	–	a	separação	do	Bem	e	do	Mal,	de	conformidade	e	desvio	
–	é	 simultaneamente	 traçada	uma	 linha moral divisória,	 é	destacado	o	
inimigo	interno	na	sociedade,	sob	inclusão	de	seu	espaço-vital	cultural	e	
separado	dos	valores	dominantes	(sobre	o	conceito	de	“Direito	Penal	do	
inimigo”,	compare	Jakobs,	1985,	753,	756	s.).	
Capítulo 1 - A intervenção do Direito Penal sobre a Criminologia22
3. Aparente solução do problema pela aplicação do Direito Penal
Com	 a	 rotulação	 de	 uma	 situação	 de	 conflito,	 ou	 seja,	 de	 um	
acontecimento	 danoso	 como	 tipo	 penal,	 está	 vinculada,	 contudo,	 não	
apenas	 uma	 definição	 de	 problema	 estatal.	 Antes,	 é	 posto	 igualmente	
sob	 prova,	 que	 o	 problema	 é	 de	 ser	 tratado	 politicamente	 e	 que	 são	
(podem	ser)	empreendidos	esforços	enérgicos	para	combater	o	problema.	
Criminalidade,	 ou	 seja,	 o	 ato	 legislativo	 de	 criminalização	 atua,	 neste	
ponto,	também	como	útil	recipiente	político	para	os	defeitos	estruturais	
insolúveis,	nos	limites	do	sistema	social	considerado.
Um	 exemplo:	 a	 destruição	 das	 condições	 naturais	 de	 vida	 dos	 seres	 humanos	
é	 aceita	 como	 preço	 político	 do	 progresso	 econômico.	 Aqui,	 a	 instituição	 de	 um	
Direito	Penal	ambiental	transmite	aos	cidadãos	a	impressão	de	que	a	luta	contra	os	
poderes	aparentemente	tão	difusos	da	destruição	ambiental	é	igualmente	possível,	na	
medida	em	que	culpados	são	apresentados	e	punidos.	Outros	acontecimentos	sociais	
causadores	de	dano	ou	perigo	social,	pense-se	na	exploração	de	usinas	nucleares	ou	
no	armamento	atômico,	que	permanecem	sem	indicação	de	problema	jurídico-penal,	
ao	contrário,	 integram	a	“natureza”	 social,	 as	 situações	de	 risco	da	civilização,	que	
simplesmente	devem	ser	aceitos	(vide	Beck,	2001;	Perrow,	1992).	
4. A Criminologia como ciência de solução de problemas
Afirmações	essenciais,	que	são	amplamente	aceitas	e	feitas	pela	Justiça	
penal	 aos	 ramos	 da	 ciência	 que	 estão	 reunidos	 sob	 a	 cobertura	 da	
Criminologia,	são:
•	 o	problema social construído	pelas	normas	do	Direito	Penal,
•	 a	desvalorização moral	da	realidade	problematizada	e
•	 a	verificação	de	que	o	problema	deve	ser	combatido	com	os	meios do 
Direito Penal em	um	processo	normativamente	emoldurado.
Hans Gross,	um	dos	pais	da	Criminologia,	que	em	seu	tempo	também	era	
corretamente	denominada	Criminalística,	mostra	na	 seguinte	 formulação,	
com	 que	 solicitude	 a	 ciência-factual	 criminológico-positiva	 se	 coloca	 a	
serviço oficial do Estado:	“A	Criminalística	não	quer	outra	coisa,	senão	
prestar	 serviços	 auxiliares	 à	 ciência	 do	 Direito	 Penal,	 ela	 alcançou	 seu	
objetivo	quando	pôde	carregar	pedras,	que	a	 (...)	Política	criminal	pode	
§ 2 - Interesses de Aplicação jurídico-penal 23
precisar	para	aquela	primeira	obra,	que	a	jovem	escola	alemã	quer	construir	
e	pela	qual,	um	dia,	os	homens	a	abençoarão,	pois	ela	não	é	mais	dedicada	
ao	conflito	sobre	o	que	foi	ideado	pelo	ser	humano,	mas	ao	conhecimento	
da	realidade”	(Gross,	1899,	16).
II. Criminologia hoje: continuidade a serviço oficial do Estado
Considerando-se	as	definições	da	Criminologia,	que	se	encontram	nos	
novos	manuais	e	descrições	de	tarefas	da	Criminologia,	mostra-se	completa	
continuidade	 em	 relação	 ao	 primitivo	 autoconceito	 de	 ciência	 auxiliar,	
mesmo	se	a	conceituação	é	hoje	mais	diferenciada.	
1. Criminologia como provedora de diretrizes práticas para o combate 
da criminalidade
A	 maior	 aproximação	 do	 âmbito	 do	 objeto	 jurídico-penalmente	
determinado	e	para	o	fim	de	combate	da	criminalidade	encontra-se,	por	
exemplo,	no	conhecido	manual	de	Criminologia	de	Hans Göppinger:
“A	 Criminologia	 é	 uma	 ciência	 empírica	 independente.	 Ela	 ocupa-se	 com	 as	
circunstâncias	existentes	no	âmbito	humano	e	comunitário,	que	se	relacionam	com	a	
existência,	a	comissão,	as	consequências	e	a	prevenção	de	fatos	puníveis,	assim	como	
com	o	tratamento	de	delinquentes.”	(1997,	1).	Mesmo	se	a	Criminologia,	segundo	
a	verificação	de	Göppinger,	não	está	limitada,	nos	objetos	e	sua	pesquisa,	ao	conceito	
de	 crime	 jurídico-penal	 normatizado,	 assim	mesmo	 vale:	 “Nessa	medida,	 o	 crime	
delimitado	juridicamente	é	ponto	de	partida	da	pesquisa	criminológica,	mas	não	o	
exclusivo	objeto	ou	meta	de	pesquisa	da	criminologia”	(1997,	4).	Nos	trabalhos	de	
pesquisa	de	Göppinger,	como	na	“Pesquisa	do	jovem	autor	de	Tübingen”	(Göppinger,	
1983),	revela-se	então	uma	nítida	autocompreensão	científica,	na	qual	a	Criminologia	
é	determinada	como	provedora	de	diretrizes	e	instrumentos	práticos	de	combate	da	
criminalidade.	Assim,	da	observação	comparativa	de	jovens	adultos	criminosos	e	não	
criminosos,	são	investigadas	características	criminógenas	da	personalidade	e	de	suas	
condições	de	vida	social	e	transpostas	para	um	esquema	de	prognose.	Deste	modo,	
obtém-se	uma	lista	de	características	pessoais	e	sociais	para	o	protótipo	criminal,	cujo	
traço	distintivo	consiste	no	desprezo	massivo	das	representações	de	valor	(pequeno)	
burguesas	e	do	conceito	de	ordem.
De	 modo	 semelhante	 Heinz Leferenz	 –	 que,	 assim	 como	 Göppinger,	
deve	 ser	 incluído	 na	Criminologia	 tradicional	 orientada	 para	 o	 autor	 –	
Capítulo 1 - A intervenção do Direito Penal sobre a Criminologia24
aloca	a	disciplina,	quando	ele,	em	uma	crítica	contribuição,	discute	com	a	
moderna	Criminologia	que,	segundo	a	opinião	dele,	distanciou-se	demais	
de	seus	precursores	e	de	sua	tarefa	originária,	“a	saber,	de	realizar	o	efetivo	
combate	do	crime	(von Liszt),	ou	seja,	do	criminoso	(Lombroso)”	(1987,	
1009).
Para	 a	Criminologia	 e	o	Direito	Criminal	 constata	Leferenz	 “(...)	que	 ambas	 as	
disciplinas	têm	o	mesmo	fim,	mas	que	os	caminhos	pelos	quais	esta	forma	do	controle	
social	deve	 ser	 implementada,	 são	 inteiramente	diferentes”	 (idem).	Ele	 lamenta:	 o	
“caminho	 sociológico”	 que,	 neste	 ínterim,	 a	 disciplina	 tem	 seguido,	 conduziria	 a	
Criminologia	a	uma	“teoria	do	comportamento	desviante”	e	negligenciaria	a	relação	
com	o	Direito	Criminal	(1987,	1012).	A	moderna	Criminologia	teria	se	distanciado	
do	 objetivo	 de	 combate	 da	 criminalidade:	 “(...)	 assim,	 os	 beneficiários	 da	 nova	
Política	criminal	são,	sem	dúvida,	os	delinquentes	atuais	e	potenciais”	(1987,	1013).	
Em	 conclusão	 invertida,	 segue-se	 disto:	 “Muito	mais	 questionável	 em	nossa	 nova	
Política	criminal	é,	contudo,	sua	fundamental	unilateralidade	em	prejuízo	das	vítimas	
potenciais	do	crime”	(1987,	1016).	
De	fato,	as	descrições	de	tarefas	dos	manuais	restantes	são,	neste	sentido,	
mais	contidas.	Mas,	também	aqui,	mostra-se	a	proximidade	das	categorias	
criminológicas	analíticas	em	relação	às	funções	de	disciplina	da	Justiça	penal.	
A	pessoa	do	autor	e	as	condições	de	sua	ação	permanecem,	com	o	objetivo	
de	otimização	da	prevenção,	um	ponto	central	do	conjunto	de	resultados.	
E	a	elevação	da	eficiência	do	controle	social	jurídico-penal	permanece	um	
interesse	essencial	da	pesquisa	de	 instâncias	 (Polícia,	Ministério	Público,	
Justiça,	 Execução	 Penal).	 Aqui,	 a	 ampliaçãodo	 âmbito	 do	 objeto	 da	
Criminologia	para	algumas	formas	de	comportamento	desviante	exteriores	
ao	Direito	Criminal	(por	exemplo,	alcoolismo	ou	prostituição),	lamentada	
por	Leferenz,	não	representa	nenhuma	quebra	de	continuidade.	
2. Interesse ampliado da pesquisa criminológica: autor, vítima e 
instâncias de controle social
Em	 diferente	 forma,	 contudo,	 encontram-se	 na	 sistemática	 de	 novos	
livros	de	Criminologia	também	capítulos	sobre	questões	de	criminalização	
e	 descriminalização,	 as	 condições	 e	 consequências	 do	 controle	 social	
jurídico-penal.	 Aqui	 são	 indicados	 determinados	 questionamentos	 não	
normativos.	Estes	capítulos	estão,	não	raramente,	desvinculados	no	quadro	
§ 2 - Interesses de Aplicação jurídico-penal 25
dos	 já	 conhecidos	 interesses	 de	 conhecimento	 –	 sem	 se	 desprender	 dos	
preceitos	normativos	do	Direito	Penal.	
Günther	Kaiser	define	a	disciplina	da	ciência	criminológica	como	segue:	
“Criminologia	é	o	conjunto	ordenado	do	saber	empírico	sobre	o	crime,	o	
criminoso,	a	anormalidade	social	negativa	e	sobre	o	controle	desta	conduta”	
(1996,	1).	Apesar	do	aparente	alargamento	da	definição,	que	Kaiser	assume	
no	 âmbito	do	objeto	da	Criminologia,	 ele	 afirma	que	o	 “conceito	geral	
de	comportamento	desviante”	(idem	2)	ultrapassa	os	limites	da	disciplina	
e	que	“o	crime	definido	juridicamente	representa	o	estratégico	ponto	de	
partida	 da	 observação	 criminológica”	 (idem,	 9).	 Embora	 Kaiser	 tenha	
rejeitado	energicamente	(Kaiser,	1988,	19)	a	reprovação	de	“subordinação	
prática”	dirigida	por	Sack	contra	a	Criminologia	tradicional	(Sack,	1978,	
221),	ele	constata	resumidamente:	“Segundo	a	concepção	aqui	defendida,	
controle	do	crime,	crime,	criminoso	e	vítima	do	crime	estão	no	centro	da	
sistemática	criminológica;	nesse	caso,	atribui-se	leve	prioridade	ao	controle	
da	criminalidade”	(Kaiser,	1996,	30).
Joseph	Kürzinger	 parte,	 em	 seu	manual,	 das	 anteriores	 definições	 de	
Criminologia	de	Kaiser,	mas	compreende	o	âmbito	do	objeto	da	disciplina	
de	forma	mais	ampla,	quando	escreve:	“Se	entendermos	como	objeto	da	
Criminologia,	conforme	a	opinião	amplamente	dominante,	não	somente	o	
crime,	mas	todo	comportamento	desviante	socialmente	negativo,	então	não	
surge	nenhum	problema,	pois	deixam-se	compreender,	sem	esforço,	então,	
todas	as	formas	de	comportamento	social	anormal	como	legítimo	objeto	
da	 pesquisa	 criminológica”	 (1996,	 20).	Na	 verdade,	 também	Kürzinger	
atribui	 o	 “controle	 jurídico-penal	 do	 crime”	 (idem,	 14)	 ao	 âmbito	 do	
objeto	da	Criminologia,	mas	não	confere	a	esse	tema,	em	seu	compêndio,	
nenhum	peso	especial.	Aqui	domina	uma	Criminologia	orientada	para	o	
autor	de	delitos	particulares.		
Sobre	a	clássica	determinação	de	funções	da	Criminologia,	na	descrição	
do	objeto	e	descrição	das	tarefas	(da	Criminologia),	os	manuais	de	Eisenberg	
e	Schneider,	publicados	em	várias	edições,	vão	além.
Na	 concepção	 de	 Ulrich Eisenberg,	 a	 “Criminologia	 [é]	 uma	 ciência	
empírica	das	relações	tanto	dos	julgamentos	jurídico-penais	de	cursos	de	
acontecimentos,	quanto	dos	cursos	de	acontecimentos	julgados	jurídico-
penalmente”	(2002,	2).	De	modo	correspondente,	análises	da	legislação	e	
Capítulo 1 - A intervenção do Direito Penal sobre a Criminologia26
do	controle	social	recebem	algum	peso	no	manual.	De	modo	semelhante	
soa	a	posição	central	em	Hans-Joachim Schneider:	“Criminologia	é	a	ciência	
humana	 e	 social	 que	 pesquisa	 empiricamente	 os	 processos	 individuais	
e	 sociais	 de	 criminalização	 e	 de	 descriminalização	 e	 que	 transmite	 seus	
conhecimentos	 como	 recomendações	 ao	 Legislador	 e	 ao	 aplicador	 do	
Direito”	 (1987,	 87).	 Além	 disso,	 Schneider	 inclui	 a	 legislação	 penal,	 as	
condições	 de	 formação	 do	 comportamento	 desviante,	 reações	 formais	 e	
informais	à	criminalidade	e	a	personalidade	do	autor	e	da	vítima	no	âmbito	
do	objeto.	Schneider desperdiça,	contudo,	o	ganho	explicativo	das	teorias	
da	 criminalização,	 através	 do	 seu	 contínuo	 alinhamento	 com	 teorias	 de	
explicação	da	criminalidade	(causalmente	orientadas	=	etiológicas)	(idem,	
560).	Assim,	a	posição	conceitual	central	de	sua	Criminologia	permanece,	
amplamente,	sem	consequências.
3. Princípios de uma Criminologia Crítica
Alguns	criminólogos,	que	pesquisam	o	estado	da	Criminologia	alemã	de	
uma	perspectiva	crítico-criminológica,	atestam	que	o	questionamento	de	
suas	pesquisas	seria	“completamente	interna	à	Justiça	e	ao	Direito	Penal”	
(Sack,	1987,	249).	A	Criminologia	tradicional,	segundo	este	autor,	“não	
desenvolve	questionamentos	teóricos	próprios,	mas	toma	estes	do	horizonte	
de	problemas	das	instituições	e	instâncias	próprias”	(idem).
Outros	 autores	 da	Criminologia crítica também	 insistem	nisto,	 que	
uma	ciência	não	deveria	deixar	reduzir	seu	interesse	de	conhecimento	por	
preceitos	normativos.	A	redução	de	perspectiva	da	Criminologia	tradicional	
encontra-se	fundada	na	perspectiva	de	prevenção	emprestada	do	Direito	
Penal.	Sobre	isto	indicou,	pela	primeira	vez	o	criminólogo	americano	Matza,	
quando	escreve:	“O	ponto	de	vista	da	prevenção	impede,	por	completo,	
apreender	 corretamente	o	 fenômeno	desviante,	porque	 é	determinado	e	
motivado	pelo	objetivo	de	eliminá-lo”	 (1973,	22).	Enquanto	o	objetivo	
de	prevenção	dirige	a	atenção	científica	ao	autor	criminoso	e	seu	ambiente	
social,	 a	 pesquisa	 crítico-criminológica	 é	 dirigida	 prioritariamente	 ao	
Estado,	ao	Direito	e	aos	órgãos de persecução penal.	Estes	objetos	de	
pesquisa	correspondem	ao	reconhecimento	de	que	a	criminalidade,	como	
fenômeno	social,	é	ativamente	produzida	pela	persecução	penal	estatal	–	ao	
§ 2 - Interesses de Aplicação jurídico-penal 27
contrário	das	hipóteses	da	Criminologia	tradicional,	nas	quais	os	órgãos	de	
persecução	penal	aparecem	como	passivos	verificadores	da	criminalidade	
(ver,	de	modo	abrangente,	sobre	Criminologia	crítica,	Sack,	1987,	309ss;	
Sack,	1993;	Hess/Scheerer,	1997,	83ss;	Müller-Tuckfeld,	1998,	109ss).
Considerada	 em	 conjunto,	 a	 compreensão	 hoje	 determinante	 da	
ciência	criminológica	–	apesar	dos	acalorados	debates	que	a	Criminologia	
crítica	 suscitou	 –,	 permaneceu	 vinculada,	 de	modo	 notável,	 ao	 âmbito	
do	objeto,	aos	 interesses	de	conhecimento	e	às	categorias	analíticas,	que	
já	caracterizavam	a	Criminologia	positivista	primitiva.	Assim,	um	exame	
sociológico-científico	 dos	 programas	 criminológicos	 desde	 a	 virada	 do	
século,	como	apresentaram,	por	exemplo,	os	criminólogos	ingleses	Taylor/
Walton/Young	 (1977)	 ou	 Garland	 (1987),	 também	 traz	 à	 luz	 categorias	
analíticas,	 interesses	 de	 aplicação	 jurídico-penal	 e	 funções	 sociais,	 que	
possuem	validade	tanto	para	a	velha	como	para	a	nova	Criminologia.	
III. Estratégias criminológicas de domínio em face da criminalidade 
como problema individual e social
A	reconstrução	da	criminalidade	como	um	problema	social	solucionável	
exige	 necessariamente	 posições	 de	 auxílio	 científico	 adequadas	 para	 seu	
domínio.	Daí	resultam	determinadas	exigências,	que	o	Direito	Penal	dirige	
à	Criminologia.	Pergunta-se	por:
•	 análises	causais	(1),
•	 propostas	de	intervenção	disso	resultantes	(2),
•	 verificação	dos	efeitos	da	sanção	(3)	e
•	 modelos	 de	 justificação	 para	 a	 Justiça	 penal	 criminologicamente	
fundados	(4).
Tais	 interesses	 são	 igualmente	 satisfeitos	 em	 obras	 primitivas	 e	 em	
modernas	obras-padrão	da	Criminologia.
1. Interesse por análise criminológica causal 
a) Leis como padrões de normalidade
A	 pessoa	 é	 objeto	 e	 unidade	 da	 análise	 criminológica.	 Desde	 os	
primórdios	da	escola	biológica	italiana	até	a	moderna	“pesquisa	de	grupos”	
Capítulo 1 - A intervenção do Direito Penal sobre a Criminologia28
(compare	Bettmer/Kreiss/Voss,	1988),	a	procura	pela	diferença	substancial	
entre	criminosos	e	conformistas	constitui	um	ponto	fixo	da	investigação	
criminológica.	 A	 hipótese	 da	 diferença	 do	 criminoso,	 condutora	 da	
pesquisa,	resulta	do	abandono	do	modelo	de	ação	da	liberdadede	vontade,	
que	caracterizava	o	Direito	Penal	clássico.	A	prospecção	dirige-se	agora	aos	
determinantes	condutores	da	ação,	que	determinam	o	criminoso	para	o	fato	
e	o	diferenciam,	ao	mesmo	tempo,	do	cidadão	conformista.	Com	a	tese	da	
anomalia,	portanto,	a	hipótese	de	que	a	criminalidade	é	devida	ao	“caráter	
criminal”,	à	diferença	do	criminoso,	está	vinculado	um	relevante	ganho	de	
legitimação	para	a	 intervenção	jurídico-penal.	Em	face	da	criminalidade	
“anômala”,	as	leis	penais	aparecem	como	expressão	do	consenso	do	cidadão	
sobre	normalidade	e	ordem	(compare	Garland,	1987,	93).	A	Criminologia	
tende,	desde	então,	como	ciência	do	desvio	(de	padrões	de	normalidade),	
a	uma	posição	acrítica	em	face	das	leis	existentes.	Estas	constituem	para	o	
criminólogo,	ao	mesmo	tempo,	o	critério	de	normalidade	assumido	como	
natural	e	como	não	mais	questionável.
b) Criminalidade como qualidade da pessoa 
A	 criminalidade,	 para	 a	 Moderna	 Escola	 de	 Direito	 Penal	 da	 virada	
do	 século	 e	 para	 os	 cientistas-auxiliares	 criminológicos,	 tornou-se	 pela	
primeira	 vez	 disponível.	 Enquanto	 ao	 cidadão	 ajustado	 continua	 sendo	
imputada	ação	autônoma,	 ao	desviante	 é	 atribuído	um	modelo	de	ação	
heterônoma,	determinada	por	força	alheia.	Ele	é,	com	isto,	patologizado	
como	“dependente”;	a	intervenção	parece	justificada	e	fundamentada	para	
o	bem	futuro	do	desviante.	A	Criminologia	é,	neste	ponto,	desde	o	começo,	
a	ciência	da	criminalidade	como	disposição	pessoal,	como	propriedade	da	
pessoa,	que	urge	descobrir,	observar	e	modificar.
Este	 princípio	 permanece	 também	mantido,	 quando	mais	 tarde,	 sob	
influência	da	Sociologia	criminal	(americana),	condições	criminógenas	no	
ambiente	da	pessoa	são	pesquisadas	e	integradas	nas	teorias	da	criminalidade	
(ver	 abaixo	 §	 3).	 Na	 verdade,	 o	 comportamento	 desviante	 aparece	 nas	
teorias	 sociológico-criminais	 como	 reação	 “normal”	 às	 correspondentes	
influências	 de	 socialização	 ou	 áreas	 de	 aprendizagem;	 neste	 ponto,	
hipóteses	semelhantes	também	poderiam	ser	motivo	para	uma	ampliação	
sócio-política	de	chances.	Contudo,	se	estes	conhecimentos	são	assumidos	
§ 2 - Interesses de Aplicação jurídico-penal 29
pelo	Sistema	de	Justiça	Criminal	e	subordinados	à	pretensão	de	combate	
da	criminalidade	normativamente	pretendida,	então	o	autor	criminal	está,	
de	novo,	no	centro	do	interesse	de	controle	que,	agora,	porém,	irradia	em	
seu	ambiente	social.	A	partir	da	compreensão	científico-social	sobre	causas	
da	criminalidade,	abrem-se	novas	áreas	de	intervenção	e	de	prevenção.	
c) Criminalidade como atribuição 
Somente	teorias	da	criminalização	mais	recentes	(“teoria do Labeling”),	
seja	isto	aqui	antecipado,	dissolvem	este	ponto-fixo	analítico,	quando	elas	
remetem	ao	Direito	Penal	e	à	persecução	penal	o	papel	decisivo	na	produção	
do	 fenômeno	 social	 da	 “criminalidade”	 (ver,	 em	 todo	 caso,	 sobre	 isto,	
abaixo	§	3	B	III/IV).	Com	isto,	o	princípio	“nenhuma	pena	sem	lei”,	bem	
conhecido	entre	os	juristas,	é	como	que	invertido	teórico-cognitivamente	e	
afirmado	que	a	norma	jurídico-penal	e	a	autorizada	atribuição	do	status de	
criminoso	(processo	penal)	produziria	criminalidade.	Quem	quer	explicar	
a	criminalidade	precisa,	segundo	estas	teorias,	preocupar-se	com	a	criação	
da	norma	e	com	a	aplicação	da	norma.
2. Interesse por propostas de intervenção criminológica
a) O Direito Penal clássico não precisa de Criminologia
Uma	 Justiça	 penal	 comprometida	 com	 o	 Direito	 Penal	 clássico,	 em	
que	a	sanção	retributiva	é	medida	pela	gravidade	do	fato,	ainda	não	tem	
nenhuma	 necessidade	 de	 conhecimentos	 criminológicos	 sobre	 as	 causas	
do	 fato	 punível	 relacionadas	 ao	 autor	 e	 sobre	 medidas	 justificadas	 por	
diagnósticos.	 Aqui	 a	 pena	 criminal	 é	 a	 compensação	 proporcional	 aos	
interesses	dos	membros	da	sociedade,	que	são	lesionados	pelo	fato	punível.	
Porque	o	fato	punível	é	atribuído	à	vontade	livre	do	cidadão	livre	e	igual,	
a	pena	não	objetiva	a	ressocialização,	mas	–	na	medida	em	que,	de	todo,	
justificada	 por	 prevenção	 –	 à	 intimidação.	 O	 Direito	 Penal	 é,	 como	
todas	as	competências	de	intervenção	do	Estado,	fundamentado	teórico-
contratualmente.	Corresponde,	 segundo	 a	 teoria,	 à	 decisão	 de	 todos	 os	
membros	 da	 sociedade	 que,	 para	 proteção	 contra	 lesões	 de	 interesses	
recíprocos	 ameaçados,	 se	 unificaram	 sobre	 este	 consenso	 normativo	
mínimo	e	de	sua	defesa	jurídico-penal	(vide	Taylor/Walton/Young,	1977).	
Capítulo 1 - A intervenção do Direito Penal sobre a Criminologia30
As	 teorias	 contratuais	do	 Iluminismo	nascem	como	plataformas	de	 luta	
da	 burguesia	 em	 ascensão	 contra	 a	 justiça	 feudal	 arbitrária	 e	 privilégios	
corporativos,	 principalmente	 para	 assegurar	 liberdade	 econômica.	 Seus	
escritos	igualitários	dirigidos	contra	as	desigualdades	feudais,	contudo,	mal	
podem	 esconder	 seu	 caráter	 ideológico	 em	 face	 da	não	menos	 evidente	
grave	desigualdade	de	propriedade	da	fase	inicial	da	industrialização.
b) O Direito Penal do fim desperta a necessidade da Criminologia
Propostas	de	intervenção	de	uma	atuante	Criminologia	empírica	somente	
se	tornam	capazes	de	aplicação	forense	com	o	Direito	Penal	orientado	pelo	
fim.	Este,	por	 sua	vez,	desenvolve-se	na	mudança	para	o	 século	20,	 em	
consequência	de	uma	crescente	necessidade	sócio-econômica	de	formação	
escolar	e	profissional,	no	cortejo	de	uma	renovada	luta	por	cada	força	de	
trabalho,	ainda	que	seja	ela	encontrada	na	execução	penal.	O	Direito	Penal	
do	fim	segue	unido,	em	todo	caso,	com	uma	transformada	concepção	do	
papel	do	Estado,	do	qual	agora	é	exigido	preencher	as	crescentes	lacunas	de	
função	do	mercado.	Além	disto,	conta	também	a	produção	e	manutenção	
de	um	processo	de	reprodução	social.	O	Estado	é	também	responsabilizado	
pela	 socialização	 organizada,	 inclusive	 pelas	 instituições	 acessórias	 de	
controle	social.	Estas	são	justificadas,	num	mundo	secularizado,	somente	
por	seus	objetivos	sociais	positivos,	não	mais	por	si	mesmas.	A	teoria	do	
Estado	 do	 Estado	 de	 Direito	 liberal	 e	 distanciado	 é	 agora	 substituída	
pelo	modelo	do	Estado	 social	 intervencionista,	 onipresente.	Ao	modelo	
do	 Estado	 de	 intervenção	 pertence	 uma	 teoria	 penal	 que	 subordina	
abertamente	o	instrumentário	jurídico-penal	a	considerações	de	utilidade	
estatal	(compare	Albrecht,	1988).	Para	continuar	uma	formulação	de	Ferri,	
na	mudança	de	disposição	da	virada	do	século,	não	se	trata	de	reduzir	as	
penas,	mas	a	criminalidade	(Ferri,	1896,	12).	
c) O Direito Penal da prevenção aumenta a necessidade da Criminologia
Os	 objetivos	 de	 prevenção	 do	 Direito	 Penal,	 até	 hoje	 situados	 no	
primeiro	plano,	exigem	uma	análise	científico-experimental	das	causas	da	
criminalidade	para	poder	perseguir,	com	meios	adequados,	finalidades	de	
correção	ou	de	 intimidação.	A	Criminologia	 entra	na	 categoria	de	uma	
“ciência	dos	fundamentos	do	Direito	Penal”	(Hassemer,	1993,	314).	Através	
§ 2 - Interesses de Aplicação jurídico-penal 31
da	ligação	entre	diagnose	de	criminalidade	e	tratamento	do	delinquente,	
a	Criminologia	está	relacionada,	desde	o	começo,	à	práxis	jurídico-penal.	
Ela	está,	desde	então,	em	face	da	pretensão	de	autonomia	da	ciência,	numa	
precária	relação	teoria-práxis.	A	Criminologia	exige	e	produz	uma	práxis	
de	 punição	 determinada,	 como	 parte	 integrante	 da	 disciplina	 científica	
que,	no	catálogo	da	moderna	divisão	interna	do	trabalho	criminológico,	
também	aparece	como	“Penologia”	(compare	Kerner,	1985).	O	destinatário	
principal	das	propostas	de	intervenção	é	o	Estado,	embora	também,	com	
frequência,	instituições	livres	e	organizações	de	bem-estar	semiestatais,	por	
delegação	estatal,	são	parceiros	participantes	de	tarefas	de	controle.	
A	 tese	 da	 anormalidade	 –	 e	 também	 isto	 é	 de	 se	 observar	 desde	 os	
primórdios	da	Criminologia	até	às	publicações	contemporâneas	(compare	
Farrington/Ohlin/Wilson,	1986,	22)	–	oferece,	em	relação	à	justificação	de	
intervençãojurídico-penal	clássica,	uma	fundamentação	plausível	para	uma	
ampliação	do	controle.	Sendo	conhecidas	as	características	criminógenas	
sociais	ou	pessoais,	então	parece	natural	prevenir	o	crime	com	a	intervenção	
coativa.	Medidas	preventivas	contra	a	qualidade	criminal	ou	o	ambiente	
criminógeno	parecem	muito	mais	racionais	do	que	a	intervenção	reativa	
depois	do	fato	punível.	A	lei	penal	dirigida	para	realidades	criminalizáveis	
existentes	 perde,	 com	 isto,	 sua	 posição	 de	 monopólio	 como	 norma	
condutora	da	intervenção	e	limitadora	da	intervenção.	Conceitos	abertos,	
indeterminados,	como	“abandono”,	complementam	e	ampliam	o	sistema	
normativo	fechado	dos	pressupostos	de	intervenção	jurídico-penal.	Quem	
orienta	para	 a	 própria	 biografia,	 com	visão	 autocrítica,	 os	 resultados	da	
pesquisa	de	Göppinger	(síndromes),	verificará	então	que	qualquer	um	que	
tenha	vivido	uma	juventude	cheia	de	eventos	e	agitada,	é	atingido	por	um	ou	
por	outro	complexo	de	diagnóstico	precoce	(Göppinger,	1985,	15	s.;	217	s.).	
Se	 a	 sanção	 jurídico-penal	não	 é	mais	medida	pelo	 fato	punível,	 que	
representa	 um	 acontecimento	 consumado	 localizado	 no	 passado,	 mas	
orientada	para	a	futura	modificação	da	personalidade	do	autor,	realizada	
sob	efeito	da	 sanção,	 então	esta	“medida”	não	pode	mais	 ser	delimitada	
antecipadamente.	 Ao	 contrário,	 a	 medida	 determina-se	 pelo	 grau	 do	
respectivo	 déficit	 específico	 de	 personalidade,	 num	 processo	 contínuo	
de	medições	de	resultado	que	acompanham	a	intervenção,	com	ajuda	de	
padrões	de	normalidade	criminológica	fixada.		
Capítulo 1 - A intervenção do Direito Penal sobre a Criminologia32
A	Criminologia	provoca,	entretanto,	com	sucesso	a	 impressão	de	que	
teria	 desenvolvido,	 na	 história	 secular	 de	 sua	 disciplina,	 um	 método	
científico	 para	 o	 combate	 da	 criminalidade.	 Não	 obstante,	 até	 hoje,	
não	 existe	 nenhum	 resultado	 convincente	 da	 Criminologia	 tradicional,	
orientada	pelo	autor,	sobre	disposições	individuais	de	criminalidade	e	seu	
tratamento	adequado.	Neste	ponto,	também	com	vistas	ao	presente,	é	de	se	
concordar	com	o	criminólogo	inglês	Garland,	quando	ele	se	mostra	pouco	
impressionado	com	o	desempenho	da	Criminologia	positivista	primitiva,	
com	 a	 pretensão	 de	 evidência	 obtida	 de	 modo	 científico-experimental.	
Esta	 Criminologia	 lembra,	 resume	 Garland,	 com	 todos	 seus	 dogmas	 e	
especulações,	antes	um	ramo	da	Teologia	(1987,	97).				
3. Interesse por análise criminológica dos resultados do controle social 
(pesquisa de efeito)
a) Pesquisa dos efeitos do Direito Penal
O	 moderno	 Direito	 Penal	 de	 orientação	 pelos	 resultados,	 dirigido	
para	 os	 desenvolvimentos	 futuros,	 conduz	 necessariamente	 a	 uma	
necessidade	 da	 Justiça	 penal	 por	 investigações,	 que	 se	 ocupam	 com	 os	
efeitos	 das	 intervenções	 recomendadas	 como	 justas.	 Partindo	 de	 teorias	
do	surgimento	da	criminalidade	relacionadas	à	pessoa	e	de	teorias	penais	
orientadas	pela	prevenção	especial,	a	necessidade	de	pesquisa	dirige-se,	em	
primeiro	lugar,	à	verificação	dos	efeitos	da	sanção	em	relação	ao	punido.	
Mais	 tarde,	 são	 também	pesquisados	 efeitos	de	 irradiação	da	ameaça	de	
sanção,	 intimidantes	 ou	 reforçadores	 da	 norma,	 ou	 seja,	 (efeitos)	 das	
sanções	 concretas.	 O	 efeito	 da	 intervenção	 da	 Justiça	 penal,	 que	 deve	
promover	a	educação	ou	o	tratamento	do	delinquente,	é	verificado	pelo	
resultado	da	provação	legal	(suspensão	condicional	da	pena)	ou	do	fracasso	
da	reincidência.	A	adequação	da	sanção	não	é	mais	decidida	somente	pela	
categoria	da	 Justiça.	Além	disso,	 entra	 a	questão	 científico-experimental	
determinada	sobre	a	correção	da	medida	para	o	diagnosticado	problema	
de	personalidade.	
b) Pesquisa de consequências acessórias danosas da Justiça penal
Com	o	conhecimento	crescente	das	condições	sociais	do	comportamento	
individual	desviante,	entram	na	perspectiva	do	pesquisador	da	criminalidade,	
§ 2 - Interesses de Aplicação jurídico-penal 33
ao	lado	da	família	ou	da	escola,	também	as	próprias	instâncias	de	controle.	
A	questão	sobre	o	grau	de	eficiência	das	sanções,	que	reagem	a	existentes,	de	
outro	modo	produzidas	qualidades	criminógenas,	é	ampliada	para	a	questão	
sobre	a	própria	 (contraprodutiva)	 contribuição	dos	órgãos	de	controle	na	
carreira	criminosa	de	seus	clientes:	não	a	família,	mas	a	punição	estatal	faz	o	
criminoso.	
Após	inicial	medo	de	contato	em	face	da	pesquisa	de	instâncias	(compare	
Lautmann,	1972),	mostram	os	órgãos	da	Justiça	penal	hoje,	inteiramente,	
um	interesse	próprio	na	organização	de	sua	atividade,	no	aumento	de	sua	
eficiência	de	intervenção	ou	na	evitação	de	consequências	acessórias	não	
intencionais	de	seus	programas	de	norma	e	de	aplicações	de	norma.	Eles	
deixam	desenvolver	 projetos	 sobre	 a	 “Polícia	moderna”	 ou	 a	 “Execução	
penal	moderna”,	instituem	modelos	de	uma	práxis	reformada	e	buscam	na	
ciência	por	pesquisa	de	acompanhamento	(compare	Kreissl,	1986,	129	s.).	
4. Interesse por legitimação criminológica da Justiça penal
O	interesse	da	Justiça	penal	na	aplicação	de	conhecimentos	científicos	
da	 Criminologia	 não	 pode	 ser	 avaliado	 somente	 em	 relação	 às	 funções	
instrumentais	 do	 Direito	 Penal	 de	 combate	 da	 criminalidade.	 Numa	
sociedade	 que	 se	 deixa	 conduzir	 sempre	 menos	 por	 representações	 de	
valor	tradicionais,	as	intervenções	coativas	do	Estado	na	vida	dos	cidadãos	
somente	 se	permitem	 justificar	pela	demonstração	de	que	a	 intervenção	
é	 legítima.	 A	 legitimidade	 de	 uma	 intervenção	 é	 comprovada	 por	 seus	
resultados.	E	para	a	demonstração	da	necessidade,	da	utilidade	e	da	correção	
objetiva	da	intervenção,	a	ciência	está	à	disposição,	com	seu	instrumentário,	
para	uma	busca	da	verdade	aparentemente	livre	de	valor.	A	ciência	pode	
remeter	a	 regularidades	da	ação	 social	 já	pesquisadas	que,	 integradas	no	
edifício	teórico,	estão	prontas	à	convocação	para	explicar	ações	passadas	e	
para	prognosticar	(ações)	futuras.	Enquanto	a	pena,	no	quadro	das	teorias	
absolutas,	 pode	 ser	 legitimada	por	dentro	do	Direito,	 os	defensores	das	
teorias	penais	relativas	precisam	“fazer	perícias	fora	do	processo	penal.	Eles	
precisam,	para	justificar	a	pena	e	a	aplicação	da	pena,	tomar	posição	sobre	os	
efeitos	esperáveis,	eles	precisam	fazer	prognósticos,	avaliar	probabilidades”	
(Hassemer,	1983,	46).	O	Direito	Penal	é	transformado	de	uma	orientação	
Capítulo 1 - A intervenção do Direito Penal sobre a Criminologia34
jurídico-normativa	em	uma	orientação	empírico	sócio-científica.	A	ciência,	
aqui	a	Criminologia,	torna-se,	deste	modo,	um	importante	instrumento	
de	 legitimação	 para	 decisões	 políticas	 (compare	 Habermas,	 1974,	 72ss;	
Sack,	1987,	260).	Ela	ratifica	a	necessidade	objetiva	da	intervenção	penal.	
Criminólogos	 contribuem,	 aqui	 especialmente,	 com	 informações	 –	 por	
eles	presumidas	–	 sobre	possíveis	efeitos	de	prevenção	do	Direito	Penal,	
por	 exemplo,	 sobre	 o	 efeito	da	pena	privativa	de	 liberdade	perpétua	na	
inibição	do	homicídio	na	população	(Kaiser,	1978).	
§ 3. Teorias da Criminalidade: a explicação da criminalidade no 
perfil de exigência do Direito penal
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§ 3 - Teorias da Criminalidade 35
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Entstehungsmilieu	für	Bandendelinquenz,	in:	Sack,	F.;	König,	R.	(editores),	Kriminalsoziologie,	
3	ed,	1979,	339	s.;	Montagu, M.F.A.,	Das	Verbrechen	unter	dem	Aspekt	der	Biologie,	in:	Sack,	
F.;	König	R.	 (editores),	Kriminalsoziologie,	 3	 ed,	 1979,	 226	 s.;	Pfeiffer, D.K.;	Scheerer, S.,	
Kriminalsoziologie,	 1979;	Quinney, R.,	Criminology,	1975;	Reiss, A.J.,	Delinquency	 as	 the	
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K.F.,	Rechtssoziologie,	1987;	Sack, F.,	Definition	von	Kriminalität	als	politisches	Handeln:	
der	labeling	approach,	in:	Arbeitskreis	Junger	Kriminologen	(editor),	Kritische	Kriminologie,	
1974,	18	s.;	Sack, F.,	Probleme	der	Kriminalsoziologie,	in:	König,	R	.	(editor),	Handbuch	der	
empirischen	Sozialforschung,	Volume	XII,	2	ed,	1978,	192	s.;	Sack, F.,	Neue	Perspektiven	in	
der	Kriminologie,	in:	Sack,	F.;	König,	R.,	Kriminalsoziologie,	3	ed,	1979;	Sack, F.,	Kriminalität,	
Gesellschaft	 und	Geschichte:	 Berührungsängste	 der	 deutschen	Kriminologie,	KrimJ	 1987,	
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in:	 Janssen,	H.	 et	 al.	 (editor),	Radikale	Kriminologie,	1988,	9	 s.;	Sack, F.,	Der	moralische	
Verschleiss	des	Strafrechts,	KritV	1990,	327	s.;	Sack, F.; König, R.	(editor),	Kriminalsoziologie,	
3	 ed,	 1979;	 Schneider, H.-J.,	 Kriminologie,	 1987;	 Schneider, K.,	 Die	 psychopathischen	
Persönlichkeiten,	1923;	Schwind, H.-D. et al.	 (editor),	Präventive	Kriminalpolitik:	Beiträge	
zur	ressortübergreifenden	Kriminalprävention	aus	Forschung,	Praxis	und	Politik,	1980;	Sessar, 
K.,	Rechtliche	und	soziale	Prozesse	einer	Definition	der	Tötungskriminalität,	1981;	Skinner, 
B.F.,	 Wissenschaft	 und	 menschliches	 Verhalten,	 1953;	 Springer, W.,	 Kriminalitätstheorien	
und	 ihr	Realitätsgehalt,	 1973;	Stumpfl, F.,	Die	Ursprünge	des	Verbrechens,	Leipzig,	 1936;	
Sutherland, E.H.,	Principles	of	Criminology,	4	ed,	1947;	Sutehrland, E.H.,	Die	Theorie	der	
differentiellen	Kontakte,	in:	Sack,	F.;	König,	R,	Kriminalsoziologie,	3	ed,	1979,	395	s.;	Taylor, 
I.; Walton, P.; Young, J.,	The	new	Criminology:	for	a	social	Theory	of	Deviance,	4	ed,	1977.		
A. Modos teóricos de intervenção 
I. Necessidade de teoria científica
1. Ganho de promoção de conhecimento
O	 interesse	 do	 Direito	 Penal	 por	 análises	 criminológicas	 de	 causas	
pressupõe	 teorias	 científicas	 que	 explicam	 o	 comportamento	 individual	
ou	 social.	 A	Criminologia	 tradicional	 não	 desenvolveu	 nenhuma	 teoria	
independente	 sobre	 isto,	mas	 realizou	empréstimos	de	outros	 setores	da	
ciência:	 Medicina,	 Psiquiatria	 Biologia,	 Psicologia,	 Sociologia.	 “Teorias	
criminológicas”	 de	 tipo	 tradicional	 são	 caracterizadas	 pelo	 fato	 de	 que	
Capítulo 1 - A intervenção do Direito Penal sobre a Criminologia36
aplicam,	 no	 âmbito	 do	 objeto	 do	 comportamento	 desviante,	 teorias	
explicativas	da	conduta	elaboradas	em	outras	disciplinas.
O	ganho	de	promoção	de	conhecimento	de	uma	teoria	científica	para	
explicação	do	comportamento,	seja	de	que	espécie	for,	reside	na	obrigação	
de	precisar	se	desligar	da	visão	do	mundo	cotidiano.	Assim,	vê-se	o	jurista	
penal	–	orientado	pela	lei	penal	–,	que	tem	de	partir	do	axioma	da	liberdade	
de	vontade,	obrigado	a	compreender,	por	exemplo,	através	de	uma	teoria	
científico-social	da	aprendizagem	(ver,	abaixo,	B	I	2),	o	comportamento	
criminoso	como	ação	consequente	de	regras	aprendidas.	
2. Insegurança por alheamento 
A	desvantagem	da	visão	teórica	aguçada	reside	no	efeito	de	alheamento	
com	isto	associado.	Precisamente	para	o	jurista	decorre	disto	uma	grande	
irritação,	 porque	 ele	 não	 pode,	 ou	 pode	 somente	 com	 grande	 esforço,	
transferir	 estes	 conhecimentos	 em	 sua	 ação	 profissional.	 Isto	 é	 posto	
sistematicamente,	porque	a	aplicação	jurídica	do	Direito	Penal	quase	não	
permite	aberturas	para	concorrentes	modelos	de	explicação	científica.	O	
sistema	do	Direito	Penal	contém	uma	pretensão	de	exclusividade	normativa,	
porque	é	construído	para	decisões	rapidamente	produzíveis,	que	não	são	
comprometidas	com	a	pretensão	de	verdade	científica.	A	última	deve	ser	
diferenciada	do	conceito	de	verdade	jurídico-penal	(forense),	porque	esta	
não	quer	explicar,	mas	apenas	quer	possibilitar	ao	magistrado	o	fundamento	
para	um	quadro	subjetivo	de	convicção	(§	261,	Código	de	Processo	Penal)	
(compare	abaixo	§	24	II).	Não	por	último,	irritações	ocorrem	para	o	jurista	
também	 disto,	 porque	 modelos	 explicativos	 de	 outras	 ciências	 não	 são	
transmitidos	de	modo	suficiente	na	formação	jurídica.
II. Utilização diferente das teorias criminológicas
	
O	 interesse	 do	 Direito	 Penal	 por	 explicação	 da	 criminalidade	 pode-
se	 ordenar	 segundo	 duas	 posições:	 por	 um	 lado,	 existe	 o	 interesse	 por	
instrumental	 utilizável,	 ou	 seja,	 conhecimentos	 empíricos	 sobre	 causas	
da	 criminalidade	 e	 sobre	 a	 efetividade	 do	 controle	 jurídico-penal	 da	
criminalidade,	 disponíveis	 para	 o	 combate	 da	 criminalidade.	 Trata-se,	
§ 3 - Teorias da Criminalidade 37
aqui,	da	eficiência	das	medidas	de	persecução	penal.	Por	outro	lado,	pode-
se	descobrir	uma	necessidade	de	conhecimento	criminológico	 simbólico	
utilizável	 –	 ou	 seja,	 disponível	 para	 a	 necessidade	 de	 fundamentação	
política.	Esta	necessidade	refere-se	também	à	explicação	e	ao	controle	da	
criminalidade.	Trata-se,	aqui,	do	ganho	político	da	persecução	penal	para	o	
Estado:	assim,	uma	explicação	exclusivamente	individual	da	criminalidade	
pode	economizar	medidas	político-sociais	caras.		
1. Necessidade de teoria no interesse da aplicação do Direito Penal 
vinculado a pessoas
Ao	 nível	 instrumental	 da	 utilização	 jurídico-penal	 de	 resultados	
criminológicos,	 a	 criminalidade	 é	 considerada,	 tradicionalmente,	 como	
um	 fenômeno individual,	 que	 precisa	 ser	 imputável com exatidão.	
Neste	 sentido,	 são	perguntados,	 em	primeiro	 lugar,	pelos	princípios de 
explicação causal	(etiológico-individualizantes)relativos à pessoa	(ver	B	
I).	Estes	deixam-se	inserir	melhor	no	modelo	de	ordenação	dogmática	do	
Direito	Penal	 (tipo	 legal,	 antijuridicidade,	 culpabilidade	 etc.)	 (compare,	
em	geral,	sobre	isto	Luhmann,	1972,	354	s.).	Mas,	porque	o	Direito	Penal	
exige	decisões	e,	neste	ponto,	não	é	um	sistema	aberto	de	ação,	 resulta,	
também	para	estes	modelos	de	explicação,	um	espaço	relativamente	estreito.
Além	disto,	a	 já	 limitada	capacidade	de	recepção	jurídico-penal	agrava-
se,	 ainda,	 com	 a	 crescente	 “sociologização”	 de	 numerosos	 princípios	
teóricos	de	explicação.	Pois,	através	da	invasão	de	relações	sócio-estruturais	
de	fundamentação	na	análise	teórica	(ver	B	II),	são	explodidos	os	modelos	
de	 imputação	 do	 Direito	 Penal	 direcionados	 à	 imputação	 pessoal.	 A	
plausibilidade	do	esquema	de	verificação	e	de	fundamentação	jurídico-penal	
de	tipicidade	objetiva	e	subjetiva,	de	antijuridicidade	e	de	culpabilidade,	que	
estudantes	de	Direito	aprendem	no	estudo	básico	para	o	fim	de	comprovação	
da	punibilidade,	é	reduzida	cada	vez	mais	através	da	crescente	penetração	de	
princípios	criminológicos	de	explicação	teórico-sociais.		
O	 Sistema	 de	 Justiça	 Criminal	 esforça-se,	 com	 auxílio	 de	 pesquisas	
criminológicas	 de	 causas	 e	 de	 efeitos,	 para	 obter	 uma	 maior	 eficiência	
criminal-preventiva	de	suas	medidas.	Isto	conduz,	necessariamente,	também	
ao	interesse	da	Justiça	penal	por	“teorias de criminalização”	(ver	B	III	e	§	4).	
Capítulo 1 - A intervenção do Direito Penal sobre a Criminologia38
Teorias	 deste	 tipo	 consideram	 a	 “criminalidade”,	 enfim,	 como	 resultado	
de	 intervenções	 e	 de	 criação	 de	 normas	 da	 Justiça	 penal,	 assim	 como	da	
“estigmatização”	 (rotulação	 como	 criminoso)	 disto	 resultante.	 Do	 ponto	
de	vista	da	persecução	penal,	 a	própria	ação	de	controle	parece,	 em	todo	
caso	na	medida	em	que	conduz	a	processo	 formal,	ou	mesmo	a	medidas	
privativas	 de	 liberdade,	 como	o	perigo	da	 eficiência	 preventiva.	A	 Justiça	
penal	 reage,	 consequentemente,	 com	 a	 proposta	 de	 processos	 informais	
(“diversion”)	e	sanções	ambulantes	(por	exemplo,	trabalho	comunitário).	A	
proposta	 teórico-criminológica	da	 teoria	da	 estigmatização,	 originalmente	
desenvolvida	como	meio	de	crítica	ao	Direito	Penal,	 é	 transposta	em	um	
programa	de	modernização	da	Justiça	penal.	Também	lá,	onde	a	renúncia	a	
processos	formais	é	produzida	por	sobrecarga	de	casos,	o	apelo	a	uma	teoria	
de	 criminalização	pode	prestar	 ajuda	de	 fundamentação	político-criminal	
útil	para	a	renúncia	da	persecução	penal.			
2. Enfoque dos objetivos sistêmicos do Direito Penal através de teorias 
sociais da criminalidade
Modelos	de	explicação	científico-sociais	do	comportamento	desviante	
também	sensibilizaram	o	Direito	Penal	na	medida	em	que,	ao	contrário	
de	seus	objetivos	dirigidos	ao	indivíduo,	não	mais	negligenciam	condições	
estruturais	 da	 criminalidade:	 destruição	 ambiental	 condicionada	 pela	
economia,	 dano	 econômico	 produzido	 por	 exagerada	 ideia	 de	 lucro,	
ondas	migratórias	condicionadas	por	necessidade	econômica	e	os	desvios	
correlacionados	 a	 isto.	 O	 legislador	 penal	 e	 as	 instituições	 de	 controle	
reconhecem	que	semelhantes	situações	problemáticas	e	situações	de	risco	
da	 sociedade	 “pós-moderna”	 não	 podem	 ser	 enfrentadas	 com	 os	 meios	
tradicionais	 do	 Direito	 Penal	 da	 culpabilidade.	 Em	 correspondência	 à	
explicação	teórica	do	desvio,	como	problema	estrutural	não	mais	redutível,	
simplesmente,	à	ação	culpável,	nós	observamos:	
•	 na	legislação penal,	uma	mudança	de	delitos	de	resultado	para	delitos	
de	 perigo	 (especialmente	 no	Direito	 Penal	 ambiental	 e	Direito	 Penal	
econômico;	compare,	sobre	isto,	Herzog,	1991,	109	s.),	
•	 um	relaxamento	dos	níveis de imputação	(não	mais	a	causalidade,	mas	
suposições	são	suficientes	para	reações	jurídico-penais),
§ 3 - Teorias da Criminalidade 39
•	 elevadas	 exigências de dever	 sobre	 o	 cidadão	 caracterizam	 o	
desenvolvimento	dos	delitos	de	omissão	e	de	imprudência.
Tudo	isto	parecia,	já	no	nível	normativo,	mal	desaguar	no	pensamento	
de	 prevenção	 repressiva	 do	 Direito	 Penal	 do	 risco.	 Pressupostos	 de	
intervenção	 tornam-se	 imprecisos,	 cláusulas	 gerais	 e	 conceitos	 jurídicos	
indeterminados	assumem	o	primeiro	plano.	A	legalidade	do	Direito	Penal	
parecia	 se	 diluir,	 a	 olhos	 vistos,	 em	 formas	 de	otimização do controle 
social.	Um	desenvolvimento	similar	encontra-se	no	nível	da	persecução 
penal.	Aqui,	a	reorientação	da	suspeita	relacionada	à	pessoa	para	situações	
aparentemente	 criminógenas	 de	 grupos	 (de	 população)	 e	 de	 risco	
comunitário	já	está,	no	nível	normativo,	em	parte	concluída	(ver,	sobre	o	
desenvolvimento	em	Direito	de	Polícia,	abaixo	§	15	III	1).
Este	 emprego	 de	 conhecimentos	 criminológico-estruturais,	 que	
originariamente	eram	aplicados	exclusivamente	na	crítica	ao	Direito	Penal,	
conduziu	imediatamente	à	consequência	paradoxal	de	uma	modernização	
e	racionalização	do	controle	social	 jurídico-penal	(compare	Kreissl,	1983	
e	 1986).	 A	 informação criminológica sócio-científica da	 Política	
criminal	conduziu	progressivamente	a	uma	elevação das possibilidades 
de intervenção preventiva	 do	 Direito	 Penal	 (compare	 Schwind,	 entre	
outros,	 1980;	 criticamente,	Albrecht,	 1986).	Mas	 a	 crise do Estado do 
bem-estar	(compare	abaixo	§	6	B	III)	relaxou	visivelmente	os	objetivos	de	
intervenção	preventiva	do	controle	social.	No	curso	da	fase	de	desilusão	
do	 desenvolvimento	 do	 Estado	 do	 bem-estar	 mostram-se	 agora,	 antes,	
processos	 questionáveis	 de	 racionalização	 burocrático-administrativa	 de	
um	Sistema	de	Justiça	Criminal	apenas	autoadministrante.
Com	 relação	 a	 uma	 ampla	 perspectiva	 de	 prevenção,	 entram	 na	
perspectiva	do	Direito	Penal,	ao	contrário	de	seus	objetivos	dirigidos	ao	
indivíduo,	também	as	teorias	do	Labeling	teórico-socialmente	orientadas	
(criminalidade	 como	 atribuição),	 sem	dúvida,	 também,	 de	 novo	 contra	
suas	 intenções	esclarecedoras	 (ver	B	IV).	A	teoria	vê	no	Direito	Penal	o	
garantidor	 de	 interesses	 individuais	 poderosos,	 que	 assegura	 dominação	
com	 o	 instrumento	 de	 atribuição	 da	 criminalidade.	 O	 Direito	 Penal	
moderno	aproveita	este	pensamento,	na	medida	em	que	evita	a	prova	da	
causalidade	necessária	ao	Estado	de	Direito	para	prevenção	das	situações	
Capítulo 1 - A intervenção do Direito Penal sobre a Criminologia40
de	 risco,	 precisamente	 através	 de	 imputação abertamente declarada	
(compare	BGHSt	37,	106	s.,	bem	como	Kuhlen,	1990,	566	s.	e	Hassemer,	
1994).	Ao	nível	da	fundamentação	de	prova	tão	reduzida	da	causalidade	
são	atraídos,	naturalmente,	interesses	de	bem-comum.
Pode-se,	em	geral,	dizer	que,	já	atualmente,	o	interesse	do	Direito	Penal	
por	 conhecimentos	 científicos	 aproveitáveis	 simbolicamente	 deve	 ser	
avaliado	de	modo	mais	relevante	do	que	a	necessidade	(menos	significativa)	
de	 conhecimentos	 empíricos	 aproveitáveis	 para	 a	 persecução	 penal.	 Isto	
se	relaciona	com	o	propósito	da	política	do	Direito,	de	colocar	em	ação	o	
Direito	Penal	como	substituto	para	qualquer	outra	via	política	de	solução	
na	política	social.	Com	isto	relacionado,	este	conhecimento	criminológico	
serve,	de	modo	não	subestimável,	à	legitimação	política	de	(novas)	estratégias	
de	intervenção	e	de	controle	estatais	(ver	abaixo	§	6	C	IV).	
B. Classificação sistemática das teorias criminológicas
Pode-se	 distinguir	 duas	 coordenadas	 para	 classificação	 das	 teorias	
criminológicas	de	explicação	da	criminalidade:	no	primeiro	nível,	teorias	
que	apresentam	a	criminalidade	como	dado	objetivo	de	uma	explicação	
causal	 (teorias etiológicas),	 são	 diferenciadas	 de	 teorias	 que	 examinam	
a	criminalidade	como	resultado	de	uma	atribuição	por	persecução	penal	
(teorias do Labeling).	No	segundo	nível,	é	diferenciado	entre	explicações	
teóricas	 vinculadas	 às	 pessoas	 (microteorias)	 e	 teorias	 criminológicas	
vinculadas	à	sociedade	(macroteorias).
Figura1:	coordenadas	para	classificação	das	teorias	criminológicas	(fonte:	Albrecht,	1983,	9)
§ 3 - Teorias da Criminalidade 41
A	 classificação	 dos	 princípios	 teóricos	 particulares	 neste	 sistema	 de	
coordenadas	(Albrecht,	1983,	9	s.)	não	pode	ser	mais	do	que	um	esquema	
rudimentar,	que	deve	contribuir	para	uma	sistematização	da	multiplicidade	
de	acessos	 teóricos.	Neste	caso,	na	verdade,	não	temos	de	 lidar	somente	
com	teorias	científico-sociais	da	criminalidade,	ou	seja,	da	criminalização,	
mas	também	com	modelos	explicativos	que	são	emprestados	da	medicina	
ou	da	biologia.	No	ponto	central,	este	modelo	de	sistematização	refere-se,	
contudo,	às	teorias	científico-sociais	de	explicação.
Nós	queremos,	na	sequência,	oferecer	a	possibilidade	ao	leitor	de	poder	
classificar	a	multiplicidade	de	teorias	criminológicas	em	um	esquema	geral	
superior.	Aqui,	concede-se	prioridade	a	esta	sistemática,	em	face	de	uma	
exposição	 detalhada	 de	 teorias	 singulares,	 que	 podem	 ser	 estudadas	 em	
outros	lugares,	como	fontes	originais	(compare,	por	exemplo,	Sack/König,	
1979),	 ou	 como	 literatura	 secundária	 (compare,	 por	 exemplo,	Lamnek,	
1993).
I. Princípio etiológico-individualizante
É	comum	a	todas	as	teorias	etiológicas	que	estas	partem	da	existência	de	
causas,	claramente	destacadas,	da	criminalidade	juridicamente	codificada.	
A	 particularidade	 dos	 modelos	 explicativos	 etiológico-individualizantes	
reside	em	seu	direcionamento	unipolar	para	o	 indivíduo	criminoso.	Em	
correspondência	 a	 isto,	 a	personalidade deficitária do criminoso,	 que	
impede	 uma	 integração	 na	 hierarquia	 de	 valores	 sociais	 gerais	 vigentes,	
vale	como	decisivo	fator explicativo.	A	ruptura	das	regras	jurídico-penais	
é	vista	como	incompetência	pessoal,	causalmente	ancorada	ou	no	âmbito	
médico-biológico,	ou	no	processo	de	socialização	individual	(educação	e	
instrução).	Com	isto,	a	psicopatologização	unidimensional	do	criminoso	
é	encoberta,	não	raramente,	por	um	modelo	de	disposição-ambiente	do	
“autor	em	suas	inserções	sociais”	(Göppinger,	1997,	209	s.).	
1. Teorias biológicas da criminalidade
Princípios	clássicos	dos	modelos	de	explicação	fundados	extensamente	
em	 disposições	 genéticas	 formam	 a	 orientação	 biológico-constitucional	
Capítulo 1 - A intervenção do Direito Penal sobre a Criminologia42
desenvolvida	por	Kretschmer	(1921),	a	biologia	hereditária	destacada	por	
Lange (1929),	Stumpfl	(1936)	e	Kranz	(1936),	que	foi	concretizada	com	
o	 auxílio	 das	 conhecidas	 pesquisas	 de	 gêmeos,	 assim	 como	 a	 teoria	 de	
psicopatas	de	Kurt Schneider	(1923).
a) Biologia da constituição (Kretschmer)
Segundo	 a	 teoria	 dos	 tipos corporais	 de	 Kretschmer,	 determinadas	
propriedades	 de	 caráter	 e	 tendências	 para	 o	 cometimento	 de	 delitos	
específicos	são	atribuídas	a	formas	particulares	de	constituição	(pícnicos,	
leptossômicos,	atléticos	e	displásticos).	
O	 psiquiatra	 alemão	 Kretschmer	 estudou	 a	 relação	 entre	 “constituição”	 e	 crime	
por	meio	de	mais	 de	4000	pessoas	pesquisadas	 (compare	Kretschmer,	 1955,	 331).	
Kretschmer	compreendia	por	constituição	o	conjunto	das	características	hereditárias	
de	 um	 ser	 humano,	 que	 se	 expressam	 na	 constituição	 corporal	 e	 espiritual.	 A	
combinação	 entre	 estrutura	 corporal,	 temperamento	 e	 estado	 psíquico	 Kretschmer	
sintetizou	em	tipos ideais	(compare	Kretschmer,	1955,	17	s.).	Por	tipos	ideais	devem	
ser	compreendidos	construções-modelo,	nas	quais	determinados	traços	da	realidade	
são	exagerados,	com	a	finalidade	de	destacá-los	nitidamente	(compare	Röhl,	1987,	
175).	Descritos	com	os	indicadores	de	Kretschmer,	representam-se	os	tipos	corporais	
como	segue	(compare	Kretschmer,	1955,	14,	77	s.):	
•	 Leptossômicos:	homem	magro,	espigado,	tórax	chato,	longo,	pescoço	fino,	cabeça	
pequena,	cara	pálida,	mãos	e	pés	estreitos,	cabelo	grosso.
•	 Atléticos:	homem	de	estatura	média	à	alta	com	largos	e	fortes	ombros,	tronco	em	
forma	de	 trapézio	 e	bacia	 estreita,	 forte	 relevo	de	músculos	 sobre	 estrutura	óssea	
grossa,	pescoço	forte	com	cabeça	rústica,	rosto	oval,	mãos	e	pés	grandes,	cabelo	forte.	
•	 Pícnicos:	tórax	curto,	fundo,	curvado,	formas	redondas,	suaves,	pescoço	curto	e	
cabeça	grande	e	arredondada,	rosto	largo	e	avermelhado,	mãos	e	pés	pequenos	e	de	
ossos	finos,	cabelo	macio.	
•	 Displásticos:	formas	de	estatura	desarmônicas,	anormais.
Kretschmer	atribuiu	especiais	propriedades	de	caráter	aos	respectivos	tipos	corporais,	
que	 devem	 sugerir	 uma	 disposição	 para	 determinadas	 formas	 de	 criminalidade:	
pícnicos	seriam	em	pequena	extensão	criminosos,	leptossômicos	inclinar-se-iam	para	
o	furto	e	a	fraude,	atléticos	tenderiam	para	delitos	patrimoniais	e	sexuais	violentos	e	
displásticos	destacar-se-iam	por	delitos	sexuais	(Kretschmer,	1955,	346;	ver	também	
H.-J. Schneider,	1987,	374	s.).			
Na	teoria	de	Kretschmer	fica	totalmente	obscuro	de	que	modo	os	tipos	
de	constituição	contribuem	para	a	criminalidade.	Os	tipos	de	constituição	
§ 3 - Teorias da Criminalidade 43
também	não	são	claramente	diagnosticáveis.	Os	dados,	em	geral	obtidos	
em	 instituições	 (psiquiátricas	 e	 estabelecimentos	 penais),	 não	 permitem	
o	 controle	 das	 influências	 sociais	 que,	 contudo,	 deveriam	 ser	mantidas	
constantes	no	quadro	de	pesquisa,	para	poder	medir	de	 forma	confiável	
a	influência	da	constituição	corporal.	Finalmente,	o	fator	criminógeno	da	
constituição	corporal	não	abre	nenhuma	possibilidade	para	uma	influência	
terapêutica.	
b) Pesquisas de gêmeos
Na	 pesquisa de gêmeos	 tenta-se	 provar,	 através	 da	 comparação	 da	
conduta	(criminosa)	de	gêmeos	monozigóticos	com	gêmeos	dizigóticos,	a	
contribuição	da	predisposição	hereditária	para	a	gênese	da	criminalidade.	
Desde	 os	 anos	 20	 do	 século	 passado	 ocorrem	 na	 Alemanha	 inúmeros	 esforços	
científicos	para	comprovar	empiricamente	a	determinação	biológica	do	crime.	Com	a	
retomada	de	pesquisas	caracterológicas	sobre	gêmeos,	que	já	no	século	19	tinham	sido	
realizadas,	deveria	ser	apresentada	a	prova,	com	auxílio	da	observação	comparativa	da	
criminalidade	de	gêmeos	monozigóticos	e	dizigóticos,	de	que	a	criminalidade	seria	
geneticamente	 determinada.	 Se	 o	 comportamento	 é	 hereditário,	 assim	 afirmava	 a	
hipótese	da	pesquisa,	então	o	comportamento	de	gêmeos	monozigóticos,	de	idêntico	
material	 genético,	 deveria	 ser	mais	 parecido	do	que	 o	 comportamento	de	 gêmeos	
dizigóticos,	de	diferente	material	genético.	Ao	contrário,	se	a	predisposição	hereditária	
não	 exerce	 nenhuma	 influência	 sobre	 o	 comportamento,	 então	 a	 comparação	 de	
realização	 de	 criminalidade	 por	 gêmeos	 monozigóticos	 e	 dizigóticos	 não	 permite	
mostrar	nenhuma	diferença	(compare	Lange,	1929;	Stumpl,	1936;	Kranz,	1936).
Se	 ambos	 os	 parceiros	 de	 um	 par	 de	 gêmeos	 demonstrassem	 semelhanças	 na	
comissão	de	ações	criminosas,	então	seriam	denominados	concordantes,	na	falta	de	
semelhança,	discordantes.	Na	seguinte	tabela,	estão	compilados	alguns	resultados	da	
pesquisa	de	gêmeos	dos	anos	vinte	e	trinta	do	Século	20:
Figura 2:	Comportamento	criminoso	de	gêmeos	(Fonte:	Sack/König,	1979,	239)
Capítulo 1 - A intervenção do Direito Penal sobre a Criminologia44
Do	total	de	104	pares	de	gêmeos	monozigóticos	pesquisados,	70	demonstraram	
comportamento	concordante,	portanto,	 igualmente	criminoso,	34	provaram-se,	ao	
contrário,	como	discordantes.	Em	relação	aos	112	gêmeos	dizigóticos	incluídos	na	
pesquisa,	 ocorreu	 exatamente	 o	 contrário.	 Aqui	 dominaram	 os	 pares	 discordantes	
(75),	que	não	demonstraram,	portanto,	nenhuma	concordância	no	comportamento	
criminoso;	os	pares	de	gêmeos	concordantes	(37)	formaram	a	minoria.	Para	os	antigos	
pesquisadores	de	gêmeos	estava,	com	isto,	comprovado,	que	fatores	hereditários	têm	
uma	participação	relevante	nas	causas	do	comportamento	criminoso.
Em	 relação	 às	 primeiras	 pesquisas,	 operantes	 apenas	 com	 pequeno	 número	
de	 casos,	 subsistem	 consideráveis	 dúvidas	 sobre	 a	 capacidade	 de	 generalização

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