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M ecânica dos Solos Alice Jadneiza Guilherme de Albuquerque Almeida MECÂNICA DOS SOLOS Mecânica dos Solos © by Ser Educacional Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, do Grupo Ser Educacional. Imagens e Ícones: ©Shutterstock, ©Freepik, ©Unsplash. Diretor de EAD: Enzo Moreira. Gerente de design instrucional: Paulo Kazuo Kato. Coordenadora de projetos EAD: Jennifer dos Santos Sousa. Equipe de Designers Instrucionais: Carlos Mello; Gabriela Falcão; Isis Oliveira; José Felipe Soares; Márcia Gouveia; Mariana Fernandes; Mônica Oliveira; Nomager Sousa. Equipe de Revisores: Everton Tenório; Lillyte Berenguer. Maria Gabriela Pedrosa. Equipe de Designers gráficos: Bruna Helena Ferreira; Danielle Almeida; Jonas Fragoso; Lucas Amaral; Sabrina Guimarães; Sérgio Ramos e Rafael Carvalho. Ilustrador: João Henrique Martins. ALMEIDA, Alice Jadneiza Guilherme de Albuquerque. Mecânica dos Solos: Recife: Grupo Ser Educacional - 2023. 110 p.: pdf ISBN: xxx-xx-xxxxx-xx-x 1. soloaaa 2. tensãoa 3. camada. Grupo Ser Educacional Rua Treze de Maio, 254 - Santo Amaro CEP: 50100-160, Recife - PE PABX: (81) 3413-4611 E-mail: sereducacional@sereducacional.com Iconografia Estes ícones irão aparecer ao longo de sua leitura: ACESSE Links que complementam o contéudo. OBJETIVO Descrição do conteúdo abordado. IMPORTANTE Informações importantes que merecem atenção. OBSERVAÇÃO Nota sobre uma informação. PALAVRAS DO PROFESSOR/AUTOR Nota pessoal e particular do autor. PODCAST Recomendação de podcasts. REFLITA Convite a reflexão sobre um determinado texto. RESUMINDO Um resumo sobre o que foi visto no conteúdo. SAIBA MAIS Informações extras sobre o conteúdo. SINTETIZANDO Uma síntese sobre o conteúdo estudado. VOCÊ SABIA? Informações complementares. ASSISTA Recomendação de vídeos e videoaulas. ATENÇÃO Informações importantes que merecem maior atenção. CURIOSIDADES Informações interessantes e relevantes. CONTEXTUALIZANDO Contextualização sobre o tema abordado. DEFINIÇÃO Definição sobre o tema abordado. DICA Dicas interessantes sobre o tema abordado. EXEMPLIFICANDO Exemplos e explicações para melhor absorção do tema. EXEMPLO Exemplos sobre o tema abordado. FIQUE DE OLHO Informações que merecem relevância. SUMÁRIO Unidade 1 Tipos de Solos a Sua Gênese � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 11 A origem dos solos � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 13 Solos residuais � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �16 Solos sedimentares � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �17 Solos orgânicos � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �18 Caracterização dos Solos � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 19 Sistemas de Classificação dos Solos � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 30 Unidade 2 Capilaridade dos Solos � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 37 Lei de Darcy � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 40 Compressibilidade dos Solos � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 44 Compactação � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 44 Adensamento � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 51 Princípio da Teoria do Adensamento � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 52 Definição de Recalques � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 55 Unidade 3 Conceito de Tensões � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �62 Tensões devido ao peso próprio do solo � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 67 Poropressão � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 72 Princípio das Tensões Efetivas � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 75 Unidade 4 Investigação Geotécnica � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �88 Ensaios De Laboratório: Compressibilidade e Resistência � � � � � � � �92 Ensaio edométrico: parâmetros de compressibilidade � � � � � � � � � � � � � 92 Resistência ao cisalhamento� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 94 Ensaios de Campo: Sondagem à Percussão (Spt) e Rotativa (Rqd) � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 98 Sondagem à Percussão (SPT) � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 98 Sondagem Rotativa � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 103 Apresentação Olá, caro(a) estudante! Tudo bem com você? Seja muito bem-vin- do(a) à disciplina Mecânica dos Solos! Nesta disciplina, vamos discutir acerca da importância do es- tudo do solo e suas interações com as nossas estruturas. E para con- textualizarmos, é só fazermos os seguintes questionamentos: onde estamos neste exato momento? Em uma edificação? A resposta é: esta edificação certamente deve estar acima de um solo e, para garantir a sua segurança, foi necessário, anterior- mente, elaborarmos estudos e projetos neste local, não é verdade? Dessa maneira, não tem como falarmos de engenharia sem citar- mos a importância do estudo do solo e a sua interação com as nossas estruturas. Pensando nisso, vamos abordar, ao longo deste objeto de aprendizagem, o que é solo, quais os tipos existentes, suas carac- terísticas, seu processo de formação e como podemos classificá-los. Posteriormente, iremos abordar sobre a compressibilida- de dos solos e como acontece o processo de capilaridade, avalian- do a interferência que o fluxo de água pode garantir no processo de adensamento e de recalque de uma edificação. Na sequência, será visto como acontece a propagação de ten- sões no solo, o conceito de tensão efetiva e como isso pode impactar diretamente na segurança da minha edificação. Por fim, verifica- remos alguns dos ensaios que podemos realizar em laboratório e em campo para que haja um melhor entendimento do solo e, assim, nos auxiliar nas medidas que devemos realizar durante as etapas de projeto e execução de obras. Aprender sobre os solos, suas características, comportamen- to e particularidades é de fundamental importância para a área de Engenharia Civil, pois serve de base para todas as outras disciplinas da mesma área. Lembrando que dominar o conteúdo o qual será es- tudado no decorrer desta trilha de aprendizagem é um diferencial para a nossa vida profissional. E então, preparado(a) para seguir nesta jornada? Vamos lá! Autoria Alice Jadneiza Guilherme de Albuquerque Almeida. Estimado(a) estudante, antes de iniciarmos nossa imersão nos es- tudos sobre a Mecânica dos Solos, gostaria de me apresentar. Eu sou a professora Alice de Albuquerque e vou acompanhá-lo(a) ao longo desta disciplina. Sou engenheira civil formada pela Universi- dade Federal de Pernambuco (UFPE), instituição onde fiz o mestra- do em Engenharia Civil e Ambiental e, atualmente, faço doutorado na área de Geotecnia. Também sou docente no Grupo Ser Educacional, bem como no Cen- tro Universitário Maurício de Nassau (Uninassau – Graças), cujas disciplinas ministradas por mim sãoas da área de Geotecnia e Ins- talações. Além da docência e de desempenhar atividades acadêmi- cas e realizar projetos em geral, também atuo como perita judicial, realizando perícias, laudos e vistorias. Currículo Lattes UN ID AD E 1 Objetivos 1. Conhecer o processo de origem e de formação dos solos e as- sociar ao tipo de solo existente; 2. Compreender o processo de caracterização dos solos e que ensaios podem ser realizados para obter estas informações preliminares; 3. Estudar sobre os sistemas de classificação dos solos existentes e como aplicá-los em obras de engenharia. 10 Introdução Vamos abordar de forma geral, o que são os solos e como são: o seu processo de formação, a caracterização e a classificação. Para que possamos aplicar este material na nossa obra, precisamos saber com detalhes suas características, parâmetros e propriedades. Com o conhecimento aprofundado do material, conseguimos garantir que escolhemos o melhor para aquela obra, aquele que vai apresentar uma excelente resistência, que será o mais viável eco- nomicamente, além de garantir com eficácia a segurança da nossa edificação. Então, para chegarmos nesses pontos e, assim, termos propriedade na escolha do material mais adequado, precisamos conhecê-lo. E é isto que iremos iniciar neste objeto de estudo. Assim sen- do, esteja atento(a) aos principais temas que veremos ao longo des- te conteúdo, são eles: 1. tipos de solo e sua gênese; 2. caracterização dos solos; 3. sistemas de classificação dos solos Para dar continuidade ao que já foi apresentado, convidamos você a se aprofundar a respeito desses temas e, assim, compreender a importância dessa ciência para a área da Engenharia. Desejamos bons estudos! 11 Tipos de Solos a Sua Gênese A aplicação de solos na construção civil é uma prática antiga, você sabia? Há informações que antes mesmo do nascimento de Cristo já havia obras que faziam o uso do solo como sua própria estrutura. Cerca de 4800 a.C. os egípcios já faziam o uso do solo para a constru- ção de barramentos de água, o que hoje por nós é conhecido como as barragens de terra. Com o passar dos anos, os estudos e técnicas foram sendo aprimorados para que tenhamos as obras de hoje, com a segurança e eficácia por nós conhecidas (SANTOS, 2019). Para chegar neste contexto do que hoje sabemos sobre os so- los e suas diferentes aplicações, é necessário que iniciemos a nos- sa disciplina falando sobre o pai da Mecânica dos Solos, o grande pesquisador e precussor desta ciência tão importante. Estamos fa- lando de Karl Terzaghi, considerado o “pai da Mecânica dos Solos”. Este grande estudioso tornou os estudos da Mecânica dos Solos uma ciência. Com isso, definições e pesquisas são utilizadas até hoje e nos servem de base para a validação de diversos fenômenos asso- ciados aos solos, sua geologia e sua mecânica. Terzaghi, como é popularmente conhecido, desenvolveu diversos estudos quando a Engenharia Civil apresentava diversos insucessos (diversos rompimentos de canais e quedas de taludes) e isto aconteceu no início do século XX. Por volta do ano de 1936, Terzaghi apontou que deveriam ser realizadas alterações nos pro- cedimentos de cálculos, não havia possibilidade de continuar a metodologia aplicada até ali, visto que era aplicado aos solos pro- cedimentos e metodologias que eram validadas em materiais como aço e concreto (PINTO, 2013). DEFINIÇÃO 12 Figura 1 - Karl Terzaghi em 1926 Fonte: Wikimedia Commons A partir deste grande passo, os estudos foram sendo apro- fundados e, desde então, temos a Mecânica dos Solos como uma ciência que avalia as condições de solo, principalmente associado à Engenharia. Em relação à área específica dentro da Engenharia que trata desses temas, destacamos a Geotecnia, cuja definição é: Geotecnia é o nome dado a esta área da engenharia que tem como base o estudo do solo, das rochas e a geologia aplicada à engenharia. Através dessa vertente, é possível realizar obras de terra, bem como garantir a eficácia em projetos de modo geral. 13 Avaliando de modo geral, o solo é parte fundamental das edi- ficações, porque se você parar para pensar, a edificação que você está agora certamente está assentada sob algum solo. Além disso, a argamassa feita para um acabamento, por exemplo, possui areia na sua composição. Não há como construir sem que esse material faça parte de pelo menos uma etapa de todo esse processo construtivo. Referente às obras de terra, podemos considerar a seguinte propo- sição: As obras em que o solo é a própria estrutura (como os aterros e barragens), o solo além de servir de base para a estrutura também faz parte da estrutura. Sabendo dessas informações, você pode per- ceber, prezado(a) estudante, a importância do estudo do solo para a sua correta e eficiente aplicação. A origem dos solos É fato que todos os solos são originados da decomposição das rochas. Então, para que falemos sobre a formação dos solos, é importante dar uma breve contextualizada sobre o que são as rochas. Estas nada mais são do que corpos sólidos presentes na camada externa sólida da terra (litosfera), e apresentam na sua constituição um agregado de minerais. A depender das suas características e do seu processo de formação, as rochas podem ser: ◼ sedimentares, quando formadas pela solidificação de sedimentos; ◼ metamórficas, quando há uma transformação de rochas já existentes; ◼ ígneas (rochas vulcânicas), quando há a solidificação do magna. VOCÊ SABIA? 14 As rochas são amplamente utilizadas na construção civil, sabia? Sua aplicação em acabamentos tem se tornado cada vez mais cons- tante. Sabendo disso, gostaríamos de deixar como sugestão o blog Archi&Urban em que na sua matéria, As Rochas utilizadas na Enge- nharia, há uma demonstração das principais rochas. Vamos tratar agora sobre a questão do intemperismo, caro(a) aluno(a)? O intemperismo é caracterizado pelo conjunto de proces- sos (físicos, químicos e biológicos) atuantes nas rochas presentes na superfície terrestre e nas que estão em profundidade. É através da ação do meio e de agentes físicos, químicos ou biológicos que acontece o intemperismo nessas rochas e, por consequência, a sua desintegração. O acontecimento em questão varia, podendo ser um intemperismo físico, químico e biológico, a depender dos agentes atuantes e do tempo em que a rocha entra em contato com esta ação. Vamos conhecê-los? ◼ Intemperismo físico, caracterizado pela desintegração física das rochas. Nesse processo, a alteração que ocorre nas rochas é apenas do tipo física. O solo pode apresentar diferentes ta- manhos de sedimentos e a sua principal característica é que é mantida a composição mineralógica da sua rocha de ori- gem, também conhecida como rocha mãe. Este intemperismo acontece usualmente, é mais superficial e acomete solos com maiores granulometrias. 15 Figura 2 – Intemperismo físico Fonte: Wikimedia Commons ◼ Intemperismo químico - neste intemperismo ocorre a ação de reações químicas (hidrólise, carbonatação, oxidação, hi- dratação, entre outros) que, por sua vez, desencadeiam uma decomposição dessas rochas. A principal diferenciação nesse tipo de intemperismo é que devido a ocorrência de reações químicas, o solo originado não apresenta composição mine- ralógicas da sua rocha de origem. O processo em questão tem mais poder de desagregar e decompor solos de granulação mais finas e presentes em profundidades. Figura 3 – Intemperismo químico (oxidação) Fonte: freepic.diller no freepik. 16 ◼ Intemperismo biológico - este tipo de intemperismo apre- senta como principal característica o agente associado ao processo de decomposição da rocha, ocorrendo através de um processo desencadeado de maneira biológica. Nesse caso, o agente atuante são agentes biológicos, ou seja, a desintegra- ção das rochas acontece por meio da ação de seres vivos ou de produtos gerados através da ação daqueles, podendo ser des- de a ação mecânicade raízes e caules de plantas até a ação de fungos e de liberação de substâncias agressivas quimicamen- te, devido a decomposição de animais ou secreções. Figura 4 - Intemperismo Biológico (ação de líquens na rocha) Fonte: ASphotofamily no freepik Solos residuais Os solos residuais apresentam como característica permanecerem no local de decomposição da sua rocha de origem. Ou seja, para que seja formado um solo residual, é necessário que a velocidade de de- sintegração dessa rocha e formação desse solo seja superior a qual- quer agente que possa transportar este solo para outro local. Para este último elemento, salientamos que são de fácil identificação, pois conseguimos observar o perfil deles, ou seja, é um perfil típico. 17 Perceba o solo da figura abaixo em que é possível verificar as camadas diferenciadas de material à medida que se aproxima da superfície. Figura 5 – Camadas do solo Fonte: Nilfanion no Wikimedia Commons Solos sedimentares Os solos sedimentares ou solos transportados, como também são conhecidos, são solos que apresentam como característica de serem acometidos com agentes ambientais que possibilitaram o seu trans- porte e deposição para outra localidade. Nesses tipos de solo, é um tanto quanto complicado determinar o local da sua rocha de origem, uma vez que, devido à ação destes agentes, este material pode estar muito distante do seu local de formação. Estes solos variam a depender do agente que proporcionou o seu transporte. Além do mais, podem ser divididos em quatro tipos, são estes: 18 1. solos eólicos, o agente de transporte foi a ação do vento; 2. solos glaciares, possuem as geleiras como agente de transporte; 3. solos aluvionares, solos que foram transportados devido a ação das águas (podendo ser fluviais, pluviais ou marinhos); 4. solos coluvionares, solos em que o agente de transporte é a gravidade. Solos orgânicos Os solos orgânicos, por sua vez, são materiais que apresentam em sua constituição a presença de matéria orgânica, o que lhe confere uma cor mais escura. Esta matéria orgânica pode ser tanto através de restos de vegetais ou de animais. Ressaltamos que este tipo de solo nos demanda cuidados especiais, pois, por serem materiais com matéria orgânica, com o passar do tempo essa matéria acaba sendo decomposta através da ação de microrganismos, o que, por sua vez, acaba desencadeando um aumento na quantidade de vazios deste material, colaborando para uma maior compressibilidade. Figura 6 - Solo orgânico Fonte: Taciara Zborowski Horst no Wikimedia Commons Além disso, esse processo de origem e formação dos solos, que também é conhecido como pedogênese (pedo: solo + gênese: 19 origem), não é um processo rápido. Pode levar cerca de séculos para suceder e isso varia de acordo com vários fatores, que vão desde a rocha de origem, ao clima, a presença de organismos vivos, topo- grafia, vegetação do local, além do tempo de atuação desses fatores sob a rocha em questão. Com o passar dos anos, os solos residuais e transportados tornam-se uma espécie de depósito geológico, onde ficam assentados em horizontes e é possível observar claramente a distinção entre estes horizontes (camadas) (PINTO, 2013). Figura 7 - Gráfico de um perfil de solo mostrando os horizontes O, A, B e C Fonte: adaptada de US Departament of Agriculture de Wikimedia Commons Caracterização dos Solos Estimado(a) estudante, já adentramos nesse mundo que é a Geotec- nia, que tal nos aprofundarmos cada vez mais sobre os solos? Se es- tes materiais fazem parte tão atuante das edificações de modo geral, do que ele é formado? Qual o seu formato e tamanho? Quais as suas características e particularidades? Então, vamos começar a respon- der todas essas perguntas! Lembramos que os solos são materiais trifásicos, mas o que significa isso? Significa que os solos são compostos por três fases, são elas: 20 ◼ partículas sólidas - são compostas pelos minerais e pela fra- ção orgânica, sendo estes minerais do tipo primário e/ou se- cundário, enquanto a fração orgânica pode conter uma porção viva e não viva. Esta fase corresponde a cerca de 50% do total do material; ◼ fase líquida - compreende a água presente no solo, podendo estar na forma higroscópica/adsorvida (água que se encontra em um solo seco e é facilmente retida por adsorção), capilar (água presente nos microporos e que está disponível para a utilização das plantas, corresponde a umidade do solo) e água livre/gravitacional (água presente nos macroporos do solo e que flui pelo material através da ação da gravidade ou de ou- tros gradientes de energia). A fase lí- quida do solo cor- responde a cerca de 25% do total do material; ◼ fase gasosa - esta fase correspon- de à atmosfera do solo, podendo es- tar compreendida de diversos gases, como: oxigênio, dióxido de carbo- no, nitrogênio e vapor de água. A fase gasosa corres- ponde a 25% do to- tal do material. É importante sa- lientar que não é uma regra a porcentagem as- sociada a cada fase, visto que cada solo pode apresentar diferen- tes composições e diferentes particularidades. Cada solo é único e Figura 8 - Amostra de solo com partículas sólidas e vazios preenchidos por ar e água. Fonte: adaptada de Alice de Albuquerque (2023) pelo Editorial do Grupo Ser Educacional (2023). SAIBA MAIS 21 particular. Dessa forma, é preciso atenção e cuidado para a sua cor- reta caracterização. Para elucidar melhor, analise a figura a seguir em que é possível observar as partículas sólidas e os vazios do solo, estes preenchidos por ar e água. O comportamento mecânico do solo acontece em função do com- portamento individual de cada fase (sólida, líquida e gasosa) e das interações entre elas. Para melhor compreender estas relações, ava- liamos estas fases em termos de volumes e pesos. Observe a seguinte contextualização: para uma amostra de solo, avaliamos o Volume total (Vt), que é dado pela soma do volume de partículas sólidas (Vs) e volume de vazios (água e ar) (Vv) e pelo Peso total (Pt), que é dado pela soma do peso das partículas sólidas (Ps) mais o peso da água (nesse caso, o ar não contabiliza em peso, apenas em volume) (Pw). Quando entendemos o comportamento dos solos e as relações existentes entre suas fases, conseguimos trabalhar com o material mais adequado para cada obra em questão, não é verdade? E, como forma de caracterizar os solos a serem utilizados, te- nha em mente que há a necessidade de realizar ensaios de campo e de laboratório. Nesse sentido, a partir de realizados em laboratório, como a análise granulométrica (onde são realizados peneiramento e sedimentação), é possível verificar a constituição dos solos. Através da análise granulométrica é possível a caracterização do material e assim contabilizar as partículas existentes no material. A etapa de peneiramento, que pode ser realizada com o uso de peneiramento mecânico ou manual, é feita com o uso de peneiras de diferentes aberturas, por onde são passados os solos. Sendo assim, é possível verificar a quantidade de material que ficou retido em cada peneira. Com essa informação, é possível sabermos que tipo de gra- nulometria tem aquele material. 22 Figura 9 - Peneirador mecânico para ensaio de granulometria em solos Fonte: Carlos Rogério Santana no Wikimedia Commons Na parte mais grossa dos grãos facilmente são separadas pe- neiras referidas. Entretanto, vale salientar que existem grãos tão diminutos que apresentam diâmetros inferiores a menor abertu- ra dessas peneiras. Sendo assim, é necessário realizar um segundo processo para contabilizar esses materiais. Na segunda etapa, é rea- lizado o processo de sedimentação para a contabilização da fração fina do material, caracterizada pelas argilas e pelos siltes. Na figura a seguir, é possível verificar uma amostra de solo com o ensaio de sedimentação em andamento. Figura 10 – Ensaio de Sedimentação Fonte: O autor (2023) 23 Já na figura a seguir, vocêpode observar a curva granulomé- trica, que é a representação dos resultados. Figura 11 - Curva Granulométrica de solo com e sem defloculante Fonte: O autor (2023) Como dito anteriormente, a curva granulométrica é a res- posta aos ensaios realizados, mais que isso, é com ela que obte- mos as proporções de cada material que ficou retido nas peneiras, da mesma forma que quantificamos os materiais finos obtidos por meio de ensaio de sedimentação. Segundo o item 2.2.23 da NBR 6502 (1995, p. 8) - Rochas e solos, a areia é caracterizada como “Solo não coesivo e não plás- tico formado por minerais ou partículas de rochas com diâmetros compreendidos entre 0,06 mm e 2,0 mm”, podendo ainda ter uma subclassificação em areias grossas, médias e finas. A porção fina, nesse contexto, é compreendida como as par- tículas de silte e argila, que possuem a seguinte classificação de acordo item 2.2.191 com a mesma NBR 6502 (1995, p.17), o Silte “É 24 formado por partículas com diâmetros compreendidos entre 0,002 mm e 0,06 mm.” e item 2.2.25 NBR 6502 (1995, p.9) a argila é con- siderada “Solo de granulação fina constituído por partículas com dimensões menores que 0,002 mm, apresentando coesão e plasti- cidade” (ABNT, 1995). Para classificação do solo fino, é necessário que uma porcentagem maior ou igual a 50% de partículas que pas- sam na peneira #200, ou seja, siltes e argilas. Organizando os tamanhos dos grãos temos a seguinte organização: • matacão (maior que 200 mm e menor ou igual a 1000 mm); • pedregulho grosso (maior que 20 mm e menor ou igual a 60 mm); • pedregulho médio (maior que 6 mm e menor ou igual a 20 mm); • pedregulho fino (maior que 20 mm e menor ou igual a 2 mm) • areia grossa (maior que 0,6 mm e menor ou igual a 2 mm); • areia média (maior que 0,2 mm e menor ou igual a 0,6 mm); • areia fina (maior que 0.06 mm e menor ou igual a 0,2 mm); • silte (maior que 0,002 mm e menor ou igual a 0,06 mm); • argila (menor ou igual a 0,002 mm) Ao final do ensaio, é possível verificar a diferença de tama- nho dos grãos que ficaram retidos em cada peneira, conforme figura a seguir: SAIBA MAIS 25 Figura 12 - Material retido nas peneiras após peneiramento Fonte: O autor (2023) A peneira #10 (2,0 mm) é a que separa o peneiramento gros- so (pedregulhos) do peneiramento fino (areias) e a peneira #200 (0,075mm) é a última, cujo material que passa por ela só é contabi- lizado na sedimentação (argilas e siltes). Todos estes ensaios são normatizados pela Associação Bra- sileira de Normas Técnicas Brasileiras, e suas preconizações devem ser seguidas ao realizar as análises. e então, não esqueça de consul- tar as Normas Técnicas relacionadas a cada ensaio citado, são elas: NBR 6459: Solo – Determinação do limite de liquidez.; NBR 7180: Solo – Determinação do limite de plasticidade NBR 7181: Solo – Análise granulométrica. 26 Ainda dentro desse contexto de análise e identificação dos materiais, é importante citar que complementando a análise gra- nulométrica, nós temos os índices de consistência, determinados pelos limites de liquidez e de plasticidade, também conhecidos como Limites de Atterberg. Esses ensaios são caracterizados por se- rem uma análise indireta do comportamento do solo na presença de água e são definidos da seguinte forma: ✓ Limite de Liquidez Ensaio realizado no equipamento de Casagrande, onde é de- terminada a umidade do solo com o qual uma ranhura nele feita re- quer 25 golpes para se fechar numa concha. São realizadas diversas tentativas, com o solo em diferentes umidades. Padronizado pela ABNT NBR 6459. Figura 13 - Ensaio de Liquidez com retirada de material para análise da umidade referente Fonte: O autor (2023) 27 ✓ Limite de plasticidade O Limite de Plasticidade corresponde a menor umidade de um solo moldado em cima de uma placa de vidro até as dimensões de um cilindro de 3 milímetros de diâmetro e aproximadamente 10 centímetros de comprimento. Após a moldagem da amostra nas di- mensões estabelecidas e verificada a presença de fissuras no solo, é analisada a umidade do material com o uso da estufa. Na figura a seguir, é possível observar parte desse procedimento Figura 14 - Limite de Plasticidade Fonte: Carlos Rogério Santana no Wikimedia Commons Com as informações de umidades para cada amostra ensaia- da, é determinado o índice de consistência e o índice de plasticidade do material através das seguintes equações: Onde LL é o limite de liquidez, LP o limite de plasticidade e w a Umidade do solo. 28 Em solos argilosos, a informação da consistência é de extre- ma importância, pois conseguimos mensurar o comportamento do material quando está em contato com água e assim ter parâmetros preliminares do seu comportamento. Para isso, usamos a seguinte tabela com base nos resultados obtidos para IC. Tabela 1 - Índice de Consistência de argilas Consistência IC Mole <0,5 Média 0,5 a 0,75 Rija 0,75 a 1,0 Dura >1,0 Fonte: Adaptado de Pinto (2013) Para solos arenosos, a caracterização e estado são dados em relação a compacidade das areias e esse parâmetro é dado em função da Equação, conforme tabela a seguir: Tabela 2 – Tipos de areias e índices de vazios máximos e mínimos Descrição da areia emin emax Areia uniforme de grãos angulares 0,7 1,10 Areia bem graduada de grãos angulares 0,45 0,75 Areia uniforme de grãos arredondados 0,45 0,75 Areia bem graduada de grãos arredondados 0,35 0,65 Fonte: Adaptado de Pinto (2013) 29 Quanto maior a CR, mais compacta é a areia, Terzaghi sugeriu a terminologia apresentada abaixo: Tabela 3 – Compacidade Relativa de areias Classificação CR Areia fofa Areia fofa Areia de compacidade média Areia de compacidade média Areia compacta Areia compacta Fonte: Adaptado de Pinto (2013) Ou seja, quanto mais compacta a areia maior é a sua resistên- cia e menor será a sua deformabilidade. Ainda dentro do contexto de caracterização dos solos, é ne- cessário dissertar a respeito dos índices físicos, que são parâmetros utilizados para compreender as propriedades dos solos e as relações existentes entre as suas fases (partículas sólidas, líquida e gasosa). As equações utilizadas e a suas definições estão elencadas na tabela a seguir: Tabela 4 – Determinação dos índices físicos do solo e suas definições Índice Físico Definição Teor de umidade (w): Relação percentual entre o peso da água e o peso dos sólidos em uma dada amostra Índice de vazios (e): Relação entre volume de vazios e volume de sólidos Porosidade (n): Relação percentual entre volume de vazios e volume total 30 Grau de Saturação (S): Relação percentual entre volume de água e volume de vazios Peso específico real dos grãos (γs): Relação entre peso e volume dos sólidos Peso específico aparente seco (γd): Relação entre peso de sólidos e volume total Peso específico aparente saturado (γ sat): Relação entre peso e volu- me totais para S= 100% Peso específico da água (γ w): Re- lação entre peso e volume da água Fonte: O autor (2023) Sistemas de Classificação dos Solos Os sistemas de classificação de um solo têm como finalidade me- lhor organizar estes materiais e, assim, obter a compreensão do seu comportamento. Isto é, é a partir dessa classificação que podemos incluir determinados solos em grupos de materiais que apresentam 31 características e propriedades geotécnicas semelhantes. Mas qual seria o real objetivo da classificação de um solo? Bem, sabe-se que essa prática veio da necessidade de com- preender o seu provável comportamento diante de uma determi- nada situação ou problema que possa existir em uma determinada obra. Com isso, é possível organizar as ideias e planejar a melhor atuação ou realizar o melhor planejamento de investigações destes materiais. Quanto à classificação dos solos em si, existem várias formas de separá-los, tais formas consideram desde a formação e a sua ori- gem ao processo de evolução deles até os dias atuais. Quandorelacionamos um solo quanto à sua origem, nes- se sentido, queremos saber como foi o processo de formação des- se material, se é um solo residual ou se ele é um solo sedimentar/ transportado, e qual o tipo de transporte este solo sofreu, se foi a gravidade, ou ventos, a gravidade ou até mesmo as geleiras. Dentro desse contexto que estamos falando, ainda é possível classificar o solo definindo características e propriedades geotécni- cas peculiares, como a estrutura dos minerais das partículas sóli- das ou até mesmo devido à presença de matéria orgânica (MO), por exemplo. Nesse sentido, os solos orgânicos têm como característica apresentar a coloração escura (marrom e cinza escuro), são mate- riais que apresentam na sua composição grande quantidade de ma- téria orgânica que é proveniente da decomposição de vegetações, animais e de microrganismos. Devido à grande quantidade de MO, estes materiais são utilizados para promover a adubação de solos. De acordo com Pinto (2013), ainda que haja limitações, a for- ma de classificação dos solos mais utilizada no mundo na Engenha- ria Civil é a seguinte: 1. a composição granulométrica (peneiramento + sedimentação); 2. os Índices de consistência, que são os índices obtidos a partir dos Limites de Atterberg (limite de liquidez e de plasticidade usados para determinar a consistência do solo). 32 Com essas informações, é possível verificar, definir e agrupar solos que apresentam comportamentos semelhantes e, para esta classificação, é utilizada a Classificação Unificada dos Solos (SUCS). Ela tem como base a proposta desenvolvida por Casagrande e é nor- malizada pela American Society for Testing and Materials (ASTM). Na classificação dos solos, há duas letras que trazem informações do tipo de solo e suas características, conforme quadro abaixo: Quadro 1 - Terminologia do Sistema Unificado G Pedregulho S Areia M Silte C Argila O Solo orgânico W Bem graduado P Mal graduado H Alta compressibilidade L Baixa compressibilidade Pt Turfas Fonte: Pinto (2013) De acordo com Pinto (2013), neste tipo de classificação, um ponto relevante é a respeito da porcentagem de finos que existem neste material, ou seja, a quantidade que passaram na peneira #200 e que foram contabilizados no ensaio de sedimentação. Se esta porcentagem for inferior a 50%, temos que este solo é do tipo grosso, podendo ser G (pedregulho) ou S (areia). Caso te- nha uma porcentagem superior a 50% passante na peneira #200, significa que este solo possui uma maior quantidade de finos, sendo considerado um solo fino e podendo ser um M (silte), C (argila) ou O (solo orgânico). EXEMPLO SINTETIZANDO 33 Agora, vamos fazer uma breve contextualização, utilizando o se- guinte exemplo: Se um solo é do tipo CL, pelo Sistema Unificado, temos uma argila de baixa compressibilidade, caso seja um solo SW, trata-se de uma areia bem graduada e isto ainda é avaliado conforme a quantidade de finos que ficam retidos na peneira nº 200. Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim desta discussão sobre os estu- dos da Mecânica dos Solos! O que mais lhe chamou atenção nesta leitura? Neste material de aprendizagem, abordamos sobre o processo de formação dos solos. Você aprendeu que eles são provenientes da ação do intemperismo nas rochas e que, a depender desse proces- so, ainda é possível termos diferentes tipos de solos com diferentes características e particularidades. É possível também ser avaliada a composição dos solos e como eles são compostos por um sistema trifásico. Também foi informado neste conteúdo didático, como pode ser ca- racterizado os solos por meio de ensaios geotécnicos e como isso nos dá informações a respeito dos índices físicos destes materiais. Lembre-se que em relação às argilas, nós caracterizamos quanto a sua consistência e as areias quanto a sua compacidade, está bem?! Por fim, foi abordado a respeito da existência dos solos grossos e finos e sobre as suas características e particularidades, além da ma- neira de como os classificamos de acordo com o Sistema Unificado de Classificação dos Solos. Objetivos 1. Compreender como acontece o processo de capilaridade de água nos solos e como os diferentes tipos de solo respondem ao fluxo de água. 2. Aprender sobre a compressibilidade dos solos e as suas particularidades. 3. Aprender sobre adensamento e a Teoria proposta por Ter- zaghi, bem como isto impacta diretamente nos recalques em edificações. UN ID AD E 2 36 Introdução Olá, estimado(a) estudante! Como vai você? Seja muito bem-vin- do(a) à disciplina Mecânica dos Solos! Neste objeto de aprendizagem, vamos aprofundar os concei- tos e propriedades dos solos, e como isso pode impactar diretamen- te nas edificações que planejamos construir. Com o conhecimento acerca dos diferentes tipos de solos e suas características é que po- deremos avaliar a trabalhabilidade deste material para a obra que planejamos executar. Havendo como base as particularidades e di- ferenças de solos com granulometrias variadas, vamos avaliar como que isto pode impactar diretamente no processo de fluxo de água nestes materiais e como isso pode influenciar diretamente na sua resistência e estabilidade. Também traremos a compressibilidade dos solos e como isso norteia a Teoria de Adensamento, bem como o processo de recal- ques em edificações. Conheceremos como que a água percola no nosso solo é fundamental, principalmente em obras de terra (aque- las em que o solo é a própria estrutura) e ter este entendimento é fator determinante na segurança da nossa obra. Assim sendo, esteja atento(a) aos principais temas que vere- mos ao longo deste material: 1. Capilaridade dos solos 2. Compressibilidade dos solos 3. Princípio da Teoria do Adensamento 4. Definição de recalques Agora que já apresentamos os tópicos de estudo que serão discutidos aqui, convidamos você a conhecer mais a respeito desses temas para que seja possível contextualizarmos a importância des- ses conteúdos para a segurança das obras de um modo geral. Ficou interessado(a)? Bons estudos! 37 Capilaridade dos Solos Para falarmos sobre o fenômeno da capilaridade, é importante re- lembrarmos do que é formado o solo. Sabemos que o solo é trifási- co e, na sua composição, há água que preenche os seus vazios. De acordo com Pinto (2013), a água preenche boa parte destes vazios do solo e quando o solo é submetido a uma diferença de potencial, ela tende a sair de uma direção a outra. Esta migração da água de um ponto a outro pode ser fácil ou difícil e esta facilidade ou dificulda- de está diretamente relacionada com o tipo de material em questão. Segundo Lopes (2011), fatores ligados diretamente à mineralogia do solo, além do tipo de material percolante (água, lixiviado, efluentes, entre outros), também influenciam diretamente na permeabilidade. A água apresenta ainda como característica um comporta- mento um tanto quanto diferenciado na sua parte superficial e este comportamento está intimamente relacionado com a conformação das suas moléculas. Dessa forma, apresenta na sua superfície uma espécie de membrana levemente curva e este fenômeno também é conhecido como tensão superficial. Esta curvatura em superfícies com água vai depender diretamente do tipo de material em questão e do grau de limpeza existente. É a tensão superficial que permite, por exemplo, um inseto conseguir caminhar sobre uma superfície com água, isso acontece devido à força Peso decorrente do peso do inseto ser inferior a força que atrai uma molécula a outra molécula de água. Na imagem a seguir, é possível verificar os reflexos da luz que revelam a superfície curva da água ao redor das moedas. DEFINIÇÃO 38 Figura 1 - Tensão superficial da água com moedas. Fonte: Nekonaute no Wikimedia Commons. Prezado(a) aluno(a) é bom lembrar que a coesão existente entre as moléculas de um líquido é o fator responsável pela tensão superficial. De acordo com Pinto (2013), uma boa maneira de elucidaresta relação entre as moléculas de água é o estudo do comportamento da água quando em contato com tubos capilares. Nessa situação, a água, quando em contato com um tubo, sobe pelas suas paredes até uma determinada altura em que a água esteja em equilíbrio. Mas o que de fato é a capilaridade? Capilaridade é caracterizada por ser um fenômeno presente em tu- bos de pequeno diâmetro e nesta situação a água se movimenta no sentido contrário ao da gravidade até uma dada posição, esta co- nhecida como altura capilar. 39 É a capilaridade que promove a percolação de água na direção ascendente, seja o material um tubo, o solo, ou até mesmo um bloco de concreto, como podemos ver na figura a seguir. Figura 2 - Ação capilar de um tijolo de concreto em uma poça de água. Fonte: APN MNO no Wikimedia Commons. Como já sabemos, os vazios existentes em um solo são muito pequenos e quando submetemos um solo seco ao contato com água, esta acaba sendo “sugada” pelo solo até uma dada altura, sendo que esta altura vai depender diretamente da quantidade e diâmetros destes vazios do solo. Ou seja, a depender do tamanho das partícu- las sólidas, esta água pode chegar a uma ascensão capilar que varia de poucos centímetros (no caso de pedregulhos) até a dezenas de metros (como acontece com argilas). Verificar o comportamento de um solo quando submetido a um fluxo de água e entender como este processo acontece é de fundamental importância para a engenharia civil, mais especifi- camente para Geotecnia. A partir do entendimento do processo de percolação, é possível calcular vazão, estimar e analisar recalques e prever a estabilidade de edificações (PINTO, 2013). 40 Lei de Darcy Para compreensão da poropressão e do fluxo de água dentro de um solo, Darcy em 1850 realizou um experimento para verificar como acontecia este processo. O equipamento utilizado por ele foi um per- meâmetro, o qual preencheu uma camada de espessura L com areia e acima deste permeâmetro tinha uma coluna com altura Z preen- chida com água. O ensaio consistia em observar se ocorria ou não fluxo de água da coluna para o solo. Ao realizar os experimentos, Darcy verificou que, para acontecer o fluxo de água, era necessário que tivesse uma diferença de potencial e que a água presente na bu- reta estivesse em uma cota diferente da cota do solo (PINTO, 2013). Nas figuras a seguir, há a representação de dois permeâme- tros em diferentes situações: uma na condição em que a cota da bu- reta (z) coincide com a do permeâmetro (não há fluxo de água) e outra, na segunda imagem, onde há uma variação de h da bureta em relação ao permeâmetro (há fluxo de água). Figura 3 - Água percolando no permeâmetro (1) Fonte: Pinto (2013, p. 114). 41 Figura 4 - Água percolando no permeâmetro (2) Fonte: Pinto (2013, p. 114). A partir do experimento referido, Darcy verificou que a varia- ção de fluxo de água no solo – ou seja, a vazão – variava em função da geometria do permeâmetro e das relações de alturas. Ainda nesse contexto, ele constatou que a água se movimentava no solo de ma- neira laminar, em outras palavras, o seu escoamento sucede-se de maneira em que a água caminha por meio de camadas. Sendo assim, para o cálculo da vazão de água dentro de um solo, Darcy constatou que a vazão de água dependia da área do per- meâmetro, da relação entre a altura da bureta e o tamanho da minha amostra de solo e de uma constante que variava para cada tipo de solo por ele analisado. 42 Com base neste experimento, foi apresentado a seguinte equação: Na equação proposta temos que: Q = vazão K = constante variável a depender do solo h = carga dissipada na percolação L = distância de dissipação desta carga (comprimento da amostra de solo) A = área do permeâmetro A relação entre a carga dissipada e a distância de dissipação é denominada gradiente hidráulico e é conhecida pela incógnita i. Considerando isso, ao realizar as substituições na equação da vazão, temos que: Além disso, ainda é possível fazer uma relação entre a vazão de água que está percolando em uma dada área do permeâmetro. Sendo assim, pode-se dizer que a vazão de água que passa em uma determinada área do permeâmetro indica a velocidade com que esse fluxo percola no material. Reescrevendo nossa equação para repre- sentar esta velocidade de percolação, temos: Um ponto importante que precisamos frisar no fluxo de água dos solos, que é fundamental no dimensionamento de obras de terra (principalmente em barragens), é a respeito do coeficiente de permeabilidade, representado pela constante k. Este representa o parâmetro de percolação de água em determinado solo para um gradiente igual a 1. 43 Existem solos em que a água consegue percolar com mais facilidade do que com outros solos e esta flexibilidade ou dificul- dade é elucidada em termos de k e, usualmente, em m/s, poden- do apresentar em cm/s também. Como os valores dos coeficientes de permeabilidade são bem baixos, eles são expressos em notação científica. No quadro a seguir, há alguns exemplos desses coeficientes: Quadro 1 – Valores típicos de coeficientes de permeabilidade Permeabilidade Tipo de solo K (cm/s) Solos Permeáveis Alta Pedregulhos >10-3 Alta Areias 10-3 a 10-5 Baixa Siltes e argilas 10-5 a 10-7 Solos Impermeáveis Muito Baixa Argila 10-7 a 10-9 Baixíssima Argila <10-9 Fonte: Adaptado de Pinto (2013). Pelo quadro acima, é possível verificar que solos mais finos apresentam coeficientes de permeabilidade menores do que solos mais grossos com maior granulometria. Esse fato está intimamente relacionado com a quantidade de vazios presentes neste material. Solos finos apresentam menos vazios quando comparados com so- los grossos, ou seja, argilas e siltes apresentam uma maior dificul- dade da água percolar quando comparadas a um solo arenoso. Além da granulometria e índice de vazios, existem outros fatores que po- dem influenciar a permeabilidade de um material, são eles: compo- sição mineral, estrutura, tipo de fluido/percolante, macroestrutura, estado do solo, grau de saturação, anisotropia e temperatura. DEFINIÇÃO 44 Compressibilidade dos Solos A compressibilidade de um solo tem como definição toda e qual- quer atividade que promova a diminuição de seu volume sob a ação de cargas, dividindo-se em dois pontos, podendo ocorrer variação a depender de como aconteceu esse processo. Podem surgir algum tipo de indagação a respeito dessa redu- ção de volume, como por exemplo: basicamente, será esta diminui- ção dos vazios do solo, mas que vazios são esses? Dessa forma, a resposta é que o solo é trifásico e que há uma grande parcela de vazios no solo preenchidos por ar e por água. Pois bem, quando realizamos uma compactação em um solo, estamos retirando os vazios desse material e isso acontece por meio da apli- cação de uma determinada carga. De forma clara, a compressibilidade é esta diminuição dos vazios de um solo e a depender do vazio (ar ou água) e do tipo de solo em questão, temos uma subdivisão desta compressibilidade, que é a compactação, a qual vamos conhecer agora, e o adensamento. Compactação A compactação de um solo ocorre devido a saída de ar do seu inte- rior, é uma prática comum na engenharia, uma vez que a sua ação promove ao solo uma densificação e, como consequência, há um aumento da sua resistência e diminuição da sua deformabilidade. O ato de realizar a compactação de um solo para melhorar a sua qualidade é uma prática antiga. Há registros em que as civi- lizações antigas já faziam o uso do solo como estrutura e usavam da compactação para melhoria desses materiais. As primeiras bar- ragens construídas tinham como característica o uso de solos que 45 eram adquiridos e transportados de jazidas localizadas próximo da área. Todo o processo de construção dessas barragens era realizado de maneira manual e para que elas apresentassem uma maior ho- mogeneidade e resistência, iniciava-se a aplicação de técnicas que até hoje são empregadasna compactação de solos. Nesse sentido, vale ressaltar que, como na antiguidade não havia as ferramentas e as tecnologias que temos hoje, esse processo de compactação se dava por meios do pisoteamento feito por pes- soas e animais. A realização disso consistia na prática de pisotear o solo para gerar maior densidade e, consequentemente, imprimir menor porosidade a ele, proporcionando ao material uma maior re- sistência. (MASSAD, 2010). Atualmente, para a compactação, faz-se o uso de maquiná- rios de diferentes tamanhos e procedimentos para compactação, que variam desde a velocidade de passagem do maquinário até a espessura da camada. Dessa maneira, é possível garantir a melhor compactação para o solo em questão. Para facilitar este processo, Massad (2010) propõe uma tabela resumo sobre o tipo de maquiná- rio e o procedimento de execução para garantir a melhor compacta- ção em campo. Vamos conferir? SAIBA MAIS 46 Tabela 1 – Equipamentos de compactação. Tipo Solo Modo de compactar Parãmetros dos equipamentos e (cm) N v (km/h) p ou P Rolo pé de carneiro Argila ou silte De baixo para cima 20 a 25 8 a 10 ≤ 4 2.000 a 3.000 kPa Rolo pneumático Silte, areia com finos De cima para baixo 30 a 40 4 a 6 4 a 6 500 a 700 kPa Rolo vibratório Material granular Vibração 60 a 100 2 a 4 ≥ 8 50 a 100 kN Legenda: e = Espessura da camada de solo solto N = Número de passadas do rolo compactador v = Velocidade do rolo compactador p = Pressão na pata ou no pneu P= Peso do rolo vibratório Fonte: Massad (2010, p. 154). Para aprofundar seus conhecimentos a respeito da compactação dos solos e a sua influência na estruturação deles, sugiro a leitura da dissertação de mestrado de Flavio Crispim, cujo título é Compacta- ção de solos: influência de métodos e de parâmetros de compactação na estrutura dos solos. Para determinar a compactação a ser realizada em campo, você deve compreender o solo em questão assim como os seus parâ- metros geotécnicos e propriedades. Mas como saber qual o melhor procedimento a ser realizado? Como saber com qual procedimento teremos o melhor resultado? 47 Para embasar a melhor escolha para a execução de uma com- pactação em campo, é necessário que sejam realizados ensaios em laboratório para caracterização do solo e determinação de seus pa- râmetros geotécnicos. Para isto é necessário que seja realizado o ensaio de compactação ou ensaio de Proctor, como também é co- nhecido, podendo este ser dos seguintes tipos: ✓ normal; ✓ intermediário; ✓ modificado. É através deste ensaio onde é determinada a curva de com- pactação e conseguimos extrair os dados de peso específico aparen- te seco máximo (γdmáx ) e a sua umidade ótima (Wot). De posse dessas informações, é possível verificar qual a umi- dade que devemos acrescentar ao solo para que, quando realizemos a compactação, tenhamos a sua máxima resistência. O ensaio de compactação é normatizado pela ABNT e o procedimento executivo deve seguir as seguintes normas técnicas: ✓ NBR-6457: Amostra de solo - Preparação para ensaios de compactação e ensaios de caracterização ✓ NBR-7182 – Solo – Ensaio de Compactação Para a compactação, são utilizados os seguintes equipamentos: • almofariz e mão com borracha; • perneira n°.4 (4,8mm); • balança; • molde cilíndrico de 1000 cm³, com base e colarinho; • soquete cilíndrico pequeno (2,5kg); • extrator de amostras; 48 • cápsulas para determinação de umidade; • estufa. O procedimento do Proctor Normal consiste em realizar o enchimento do cilindro com solo em três etapas e em cada uma delas são realizados 26 golpes com o soquete cilíndrico. Estes pre- cisam ser distribuídos uniformemente na camada. Após a compac- tação das três etapas, o conjunto é pesado e, em seguida, é feito o uso do extrator para retirada da amostra do molde cilíndrico. Na figura a seguir, é possível verificar a amostra de solo após a passagem do extrator. Figura 5 - Extração da amostra do cilindro metálico Fonte: elaborada pelo autor (2023) DICA 49 É importante saber que, após a retirada da amostra, é feito um corte no seu centro e, após isso, extraído duas pequenas amostras e direcionadas em uma cápsula onde, posteriormente, serão encami- nhadas para uma estufa para determinação da umidade relativa. Em seguida, é realizado o acréscimo de água, repetindo o procedimento até a obtenção de todos os pontos da curva de compactação (usual- mente variam entre 5 a 8 pontos). Na figura a seguir, é possível verificar as amostras a serem encaminhadas para a estufa. Figuras 6 A e 6 B - Coletas de amostras do cilindro para determinação da umidade Fonte: elaborada pelo autor (2023) Para solos arenosos, é necessário acrescentar cerca de 2% de água na massa para a obtenção de cada ponto da curva. Já os solos argi- losos necessitam de cerca de 3% de água. Fica a dica! SAIBA MAIS 50 Como produto do ensaio de compactação, temos a curva de compactação da figura a seguir, em que podemos analisar o pon- to máximo da curva com o peso específico aparente seco máximo (γdmáx) e a sua respectiva umidade (umidade ótima). Figura 7 - Curva de compactação de uma amostra de solo Fonte: O autor (2023) Com a informação da umidade ótima (que é o ponto que se compactarmos teremos a maior resistência do solo) realizamos a melhor compactação em campo. Em campo, para o acerto de umi- dade, são utilizados sistemas de irrigação ou aeração, e a homoge- neização do solo ocorre com o uso de maquinários que realizam o revolvimento de forma mecânica. Em campo, temos que achar o equilíbrio da quantidade de água a ser colocada no solo quando formos compactar. Se colocarmos água de menos, ficamos no ramo seco da curva e o solo apresenta uma SAIBA MAIS 51 estrutura do tipo floculada. Já se colocarmos água demais, nos- so solo estará no ramo úmido e apresentará uma estrutura do tipo dispersa. Tanto em um ramo quanto em outro, temos diferenças na capacida- de de percolação de água. Logo, precisamos sempre trabalhar com a umidade ótima ou o mais próximo possível desta. Para determinar a resistência de solos que servirão de base para pavimentos e pisos industriais, é necessário haver ensaios mais detalhados com cargas mais elevadas. Dentre eles, temos o CBR (California Bearing Ratio) ou ensaio ISC (Índice de suporte Califór- nia) que é o método utilizado pelos órgãos rodoviários no Brasil e no mundo. Adensamento Já sabemos que a compressibilidade de um solo acontece quando ao aplicar uma carga temos uma redução dos vazios deste material, e que a compactação é caracterizada pela saída principalmente do ar presente nestes vazios. Mas e quando o vazio expulso é a água? Que tipo de fenômeno seria esse? A resposta é: estamos falando do adensamento, processo em que acontece conforme à diminuição dos vazios deste solo devido à dissipação da poropressão, ocorrendo ao longo do tempo, podendo ser por horas, por dias, meses, anos e até mesmo séculos! Quando aplicamos um carregamento, principalmente em solos finos satu- rados, como argilas e siltes, ocorre uma redução do material e, con- sequentemente, uma mudança no estado de equilíbrio deste solo. Logo, temos um recalque acontecendo ao longo do tempo. 52 Sabendo que este processo se desenvolve ao longo do tempo, será que é possível prever quando isso irá acontecer? Ou até mesmo se o recalque pode ou não comprometer a segurança da minha edi- ficação? A resposta é sim! É possível avaliar como os recalques por adensamento acontecem ao longo do tempo, realizando uma inves- tigação geotécnica. Ou seja, ao realizarmos um estudo detalhado do solo em questão, com ensaios de campo e de laboratório, é possível compreender as propriedades geotécnicas do solo, bem como de- terminar as suas propriedades de deformabilidade. Dessa forma, podemos avaliar se o solo terá ou não capaci- dade de suporte da carga que queremos aplicar sob ele. Para com- preender como os recalques evoluemao longo do tempo e como isso pode impactar na nossa edificação, Terzaghi (1943) propôs a Teoria do Adensamento, que será explanada a seguir. Vamos conferir? Princípio da Teoria do Adensamento Segundo Terzaghi (1943) em sua Teoria do Adensamento, os recal- ques ou adensamentos que podem ocorrer em campo são subdividi- dos em: inicial, primário e secundário. ✓ Recalque inicial Ocorre após a aplicação de carga, e esta deformação se procede sem que haja a expulsão de água. ✓ Recalque primário Está associado à expulsão de águas nos vazios presentes no solo, também conhecido como adensamento primário. ✓ Recalque secundário É compreendido pelas deformações observadas no solo após o final do processo de adensamento, e seu resultado se relaciona ao índice de vazios e ao tempo, sob tensão efetiva constante. 53 Comumente, o adensamento secundário é menor que o aden- samento primário, exceto em argilas muito plásticas e em solos orgânicos, cujos resultados de adensamento secundário são mais significativos. Para a análise do comportamento de solos compressíveis, quando submetidos a carregamentos verticais, é utilizada a teoria de adensamento desenvolvida por Terzaghi em 1943. De acordo com a teoria esse estudo, há uma distribuição de poropressões ao longo da camada e várias hipóteses, tais como: • o solo deve ser homogêneo e estar saturado; • a lei de Darcy é válida (escoamento da água uniforme); • as partículas sólidas e a água são virtualmente incompressíveis; • o adensamento é unidirecional e principalmente ocorre a di- minuição dos índices de vazios a partir do aumento das ten- sões efetivas; • ainda que o solo seja constituído de partículas sólidas e va- zios o mesmo pode ser estudado a partir de elementos infinitesimais; • a compressão e o fluxo são unidimensionais; • as deformações acontecem exclusivamente pelo adensamen- to e são consideradas infinitesimais diante da camada de solo avaliada. Desse modo, é possível sintetizar a Teoria do Adensamento com a relação da tensão e seus índices de vazios. Ou seja, quanto maior a tensão aplicada, menor os índices de vazios, quanto maior o índice de vazios, menor a tensão aplicada (TERZAGHI, 1943). Ainda fazendo parte desse contexto do adensamento, temos a Analogia Mecânica de Terzaghi, que foi a maneira que Terzaghi solucionou o processo de adensamento nos solos e as diferenças e peculiaridades a depender do tipo de material. Este experimen- to também conhecido como sistema massa-mola consiste no uso 54 de um cilindro, um pistão, uma mola e uma válvula de controle de abertura. Foi observado que ao aplicar uma carga (pistão) em cima de uma mola confiada dentro de um cilindro e fechada na parte supe- rior, não havia modificação no sistema caso a válvula mantivesse-se fechada. A partir do momento em que abrissem a válvula, ocorreria a transferência da carga, que era absorvida pelo conjunto, para a mola e, consequentemente, teríamos a expulsão da água presente no cilindro. Com este ensaio, Terzaghi constatou que a mola representava o esqueleto sólido do solo e que solos grossos correspondiam a uma grande abertura da válvula, consequentemente, a água seria expul- sa mais rápido. Solos finos foram representados por uma pequena abertura na válvula. Nesses tipos de situação, a água saia de maneira lenta, até que chegasse a um equilíbrio e não tivéssemos mais saída de água. Na figura a seguir, é possível verificar o procedimento do en- saio realizado. Figura 8 – Analogia Mecânica de Terzaghi Fonte: Fralama no Wikimedia Commons. Resumidamente, temos o seguinte procedimento: ✓ mola, esqueleto mineral do solo; ✓ cilindro, representa o confinamento do solo com a mola e a água representando o solo; ✓ carga no pistão, carregamento vertical. 55 Para entendimento de como o adensamento sucederá em solos, é essencial que seja realizada uma amostragem de solo e di- recioná-la para um laboratório para efetuação de ensaios de carac- terização e adensamento. Na realização do ensaio de adensamento ou ensaio de adensamento edométrico, como também é conhecido, é adotada uma prensa que incide uma carga em uma amostra de solo confinada, garantindo que todas as deformações ocorram devido ao adensamento. Nesse ensaio, caro(a) aluno(a), é avaliado como as deforma- ções do solo acontecem ao longo do tempo e como resposta é obtida a curva de adensamento com o detalhamento do material em cada tipo de recalque. Na figura a seguir, é possível verificar o processo do ensaio e a prensa utilizada para a execução do experimento Figura 9 – Prensa de Adensamento Fonte: Carlos Rogério Santana no Wikimedia Commons. Definição de Recalques É sabido que estudar as deformações a que nossas estruturas podem estar submetidas é de grande interesse para a engenharia. Agora que você já sabe que as deformações dos solos argilosos e saturados DEFINIÇÃO EXEMPLO 56 acontecem ao longo do tempo, devemos ter uma preocupação ainda maior. As deformações que acontecem na maioria dos solos acabam sendo muito maiores do que as deformações que podem acometer as estruturas como um todo. Portanto, que devemos ter uma aten- ção ainda maior. Quando tratamos sobre deformações, é importante termos em mente que as deformações que acontecem em solos arenosos argilosos não saturados são do tipo rápidas e em solos argilosos sa- turados são lentas. Por isso, devemos ter ainda mais atenção quando nos depararmos com esse tipo de material em campo. O recalque tem como definição ser o deslocamento vertical descen- dente que acomete estruturas que estão apoiadas em uma superfície do terreno. Devido à compressibilidade do solo e dissipação da po- ropressão, a estrutura acaba deslocando e, como consequência, há o recalque. Estimado(a) estudante, quando falamos de recalque não tem como não citarmos o maior exemplo de estrutura acometida por este des- locamento, a Torre de Pisa, localizada na Itália. Esta teve seu início construtivo por volta dos anos 1173 e sua finalização em 1350. A partir da década de 60 começaram a realizar intervenções na base da estrutura e no seu solo para garantir a sua estabilidade e segu- rança, visto que diariamente dezenas de turistas vão conhecer este monumento tão importante. Em 1987 a construção foi declarada Patrimônio Mundial pela Unesco. SAIBA MAIS 57 Figura 10 - Torre inclinada de Pisa Fonte: Saffron Blaze no Wikimedia Commons. Não é só na Itália que temos problemas de recalques em edificações, temos os prédios localizados na orla da cidade de Santos, no estado de São Paulo. Nessa área, vários prédios apresentam problemas de inclinação acentuada e um deles até realizou o seu reaprumo com o uso de macacos hidráulicos. Vale a pena verificar o procedimento realizado no prédio Núncio Malzoni detalhado no breve artigo acadêmico intitulado “Prédio de Santos é colocado no prumo”, disponivel no formato digital da re- vista Pesquisa da FAPESP. SINTETIZANDO 58 Chegamos ao fim deste objeto de aprendizagem sobre os estudos da Mecânica dos Solos! Neste material didático, abordamos sobre os fenômenos que acon- tecem no solo devido ao fluxo de água como: a percolação e a capi- laridade, além de compreender o que é a tensão superficial. Vimos sobre o processo de percolação, que é a facilidade ou dificuldade que a água tem em percolar dentro de um maciço e como o tipo de solo (grossos ou finos) pode diferenciar de forma latente esta percola- ção da água. Para analisar esse processo, aplicamos a Lei de Darcy onde temos diferentes constantes K a depender do tipo de solo. So- los grossos apresentam maiores valores de K enquanto solos finos apresentam menores valores de K. Discutimos sobre o processo de compactação em campo e em labo- ratório, da umidade ótima e como é feita a umidificação do solo e sua homogeneização. Ainda foi falado sobre os tipos de maquinários mais adequados a depender do solo e da curva de compactação. E, por fim, apresentamos um poucosobre o adensamento e a Teoria proposta por Terzaghi com suas hipóteses e como as estruturas po- dem estar suscetíveis a recalques e deformações caso não se tenha o entendimento do solo em questão. Todo cuidado com solos argilo- sos saturados é pouco, combinado? Esperamos que tenha gostado do que trouxemos aqui. Até a próxima! Objetivos 1. Compreender como acontece a propagação de tensões do solo devido ao peso próprio do solo e das possíveis sobrecargas. 2. Aprender noções sobre o fluxo de água no solo aplicado ao equilíbrio de tensões do material. 3. Aprender o conceito de tensão efetiva, características e particularidades. UN ID AD E 3 60 Introdução Olá, caro(a) aluno(a)! Desejamos novamente boas-vindas a você! Neste objeto de aprendizagem, vamos dar continuidade aos assuntos desta disciplina, mas antes vamos fazer uma breve contextualização. Agora que já sabemos as características dos solos, seus com- portamentos e propriedades geotécnicas, precisamos aprofundar aspectos sobre questões mais particulares, por exemplo, vamos conversar sobre as tensões do solo e como isso pode nos dar infor- mações sobre a resistência dos materiais em questão. Precisamos compreender como desenvolvem-se as tensões neste solo e como a carga das edificações podem impactar na estabilidade e segurança de um dado local. Para construirmos esse saber, é necessário que conheçamos as características do solo, seu equilíbrio e se ele tem capacidade de suporte para a carga que planejamos inserir no meio. Dessa manei- ra, é de fundamental importância que saibamos como acontece o estado de tensões atuantes naquele solo para que possamos com- preender a melhor fundação a ser adotada. Neste material didático, veremos sobre o cálculo das tensões existentes no solo e como devemos levar em consideração a pre- sença da água nos nossos cálculos. Com esse conhecimento, vamos agregar segurança a nossa edificação, que é um fator determinante, não é mesmo? Assim sendo, esteja atento(a) aos principais temas que vere- mos ao longo deste material, são eles: ✓ tensões devido ao peso próprio do solo; ✓ conceito de tensão efetiva. Agora que já apresentamos os tópicos de estudo que serão discutidos aqui, convidamos você a conhecer mais a respeito desses 61 temas para que seja possível contextualizarmos a importância deste estudo para a garantia da estabilidade da nossa edificação como um todo. Ficou interessado(a)? Vamos nessa e bons estudos! 62 Conceito de Tensões Sabendo que o solo é parte atuante das estruturas, sendo material de suporte, até mesmo da própria estrutura, é de fundamental impor- tância para a construção civil compreender o seu comportamento quando em equilíbrio e quando submetido à aplicação de uma carga. A Geotecnia vem para compreender este comportamento do material e a sua relação com a estrutura, enquanto as tensões do solo referem-se às forças que atuam nele, que influenciam sua estru- tura e comportamento mecânico. Para analisar o solo em questão, sabendo que ele apresenta comportamento elasto-plástico quando aplicado a uma carga, é necessário que detalhemos um pouco mais o conceito de tensão de um modo geral. A tensão é dada pela relação entre uma força em uma deter- minada área em estudo, tanto é que a equação da tensão é: Ou seja, a tensão em um dado local é definida pela força apli- cada em um determinado espaço. Quanto maior a força e menor a área, maior a tensão aplicada, quanto maior a área, há uma maior distribuição desta força e, consequentemente, temos uma dimi- nuição da tensão. Sendo assim, a força e a área são inversamente proporcionais! Relembrando a constituição dos solos, sabemos que estes são trifásicos e que a sua composição contém partículas sólidas e va- zias (preenchidas por ar e água). Desse modo, é necessário avaliar como as forças são transmitidas ao longo da estratigrafia do solo. Toda tensão gera uma deformação. Em alguns solos, esta é de fácil visualização, já existem outros em que as deformações são tão di- minutas que não conseguimos visualizar a olho nu. Além do mais, estas deformações podem acontecer ao longo do tempo, como já foi abordado no objeto de aprendizagem sobre adensamento. 63 Dito isso, é necessário avaliar como acontece a propagação de forças neste solo, visto que esta transmissão acontece de partícula a partícula e uma parte acaba sendo resistida pela água que está pre- sente neste solo. Prezado(a) aluno(a), veja como funciona nos seguintes tipos de solos: ✓ solos com partículas maiores, como no caso de areias e do silte, a transmissão de forças sucede-se através do contato direto entre um mineral e outro. No caso desses solos, a trans- missão acontece através da força de uma partícula para outra. Esta força sucede-se do centro de massa de cada partícula até a partícula seguinte, conforme é possível verificar na figura a seguir: Figura 1 - Transmissão de forças entre partículas em solos grossos Fonte: adaptada de Alice de Albuquerque (2023) pelo Editorial do Grupo Ser Educacional (2023). ✓ solos argilosos, o processo de transmissão de forças é um tanto diferente, este tipo de solo tem grão tão diminutos que a transmissão de força não acontece através deste contato de mineral a mineral, e sim através da água adsorvida que fica aderida nas “paredes” deste grão. É como se a força fosse pro- pagada através do contato da água adsorvida de um mineral 64 para a água adsorvida de outro mineral, conforme é possível verificar na figura a seguir: Figura 2 - Transmissão de forças em solos finos através da água adsorvida. Fonte: adaptada de Alice de Albuquerque (2023) pelo Editorial do Grupo Ser Educacional (2023). Resumidamente, é como se acontecesse o seguinte esquema de transmissão de forças: 65 Para entender melhor como acontece a propagação dessas forças, vamos analisar a figura de Pinto (2013) a seguir: Figura 3 - Esquema de contato entre grãos para definição de tensões. Fonte: adaptada de Pinto (2013, p. 95 ) pelo Editorial do Grupo Ser Educacional (2023). Dada uma situação em que foi coletada uma amostra de solo e pretende-se avaliar a transmissão de forças para uma determinada área, suponha que tenha sido realizado um plano de corte e, como resultado, seja possível verificar os grãos e as forças sendo transmi- tidas em uma dada área, representados por uma placa plana. Com isso, é possível verificar que a força (F), por estar inclinada, ao rea- lizarmos a sua decomposição, se decompõe em duas componentes: uma no eixo Y e outra no eixo X. A força do componente do eixo Y é uma força Normal, perpendicular ao plano e simbolizada na figu- ra acima, pela letra N. A força presente no eixo X é uma força que tangencia o plano, atua paralelamente à superfície do solo, sendo simbolizada na figura pela letra T. Ao passo dessas definições, vamos aprofundar ainda mais sobre estas componentes. 66 De fato, a transmissão de forças no solo acontece majorita- riamente através da propagação destas (Normal e Tangencial) ao longo das camadas de solos. Segundo Pinto (2013), por não existir modelos matemáticos que possibilitem a contabilização destas for- ças, é necessário realizar este processo através dos conceitos de ten- sões que abordamos ainda há pouco. Logo, se essas forças ocorrem ao longo das camadas, para contabilizá-las é necessário realizar um somatório das forças em questão para uma dada área ao longo das camadas de solo. Sendo assim, para a componente Normal ao plano, a tensão é calculada pela seguinte equação: Onde: σ = Tensão Normal N = Força Normal A = Área Realizando o mesmo procedimento para as forças que tan- genciam o nosso plano e fazendo a relação para termos de tensão para uma determinada área, temos a seguinte equação: Onde: τ = Tensão Cisalhante T = Força Cisalhante A = Área Através dessas equações, é possível avaliar como as tensões são propagadas em um meio contínuo, que é como consideramos o solo mesmo diante desuas características com diferentes fases. Nos itens a seguir, vamos abordar mais detalhadamente este estado de 67 tensões do solo e como podemos calcular estas tensões ao longo das camadas. Tensões devido ao peso próprio do solo As tensões do solo devem ser adequadamente dimensionadas em obras de engenharia para garantir a estabilidade, além de evitar processos como erosão, compactação excessiva e colapsos. Esta tensão propagada ao solo acontece basicamente por duas maneiras, são elas: 1. tensões devido ao próprio solo; 2. tensões devido a propagação de cargas externas aplicadas ao terreno As tensões devido ao próprio solo são inerentes à superfície, além de depender da profundidade a ser analisada e dos tipos de so- los presentes na área de estudo. As tensões do solo dependem da profundidade, já que as camadas mais profundas suportam as su- perficiais. Os solos mais profundos, por sua vez, suportam toda a tensão gerada pelo peso das camadas de solo acima dele, ressaltan- do que o solo tem peso e este é propagado para as camadas de solos adjacentes. Lembram que as forças são transmitidas através de um somatório? Pois bem, a tensão em um dado ponto é dada pelo soma- tório de forças até aquele ponto. Sabendo que as tensões que acontecem no solo podem ser devido ao peso do próprio solo e a carregamentos externos, vamos aprofundar ainda mais sobre estas tensões. Em solos secos basi- camente as forças acontecem devido ao peso próprio do material e atuam perpendiculares ao plano. Já as forças cisalhantes são tão pe- quenas que, por sua vez, podem ser desprezadas no cálculo de ten- sões do solo. Desse modo, voltamos à tona a equação apresentada anteriormente sobre a tensão normal. Já que estamos abordando sobre a propagação de tensões para uma dada profundidade, vamos avaliar a seguinte situação em que precisamos determinar a tensão de um solo para uma dada pro- fundidade H Figura 4 - Perfil de solo em profundidade H Fonte: adaptado de brgfx, no freepik pelo Editorial do Grupo Ser Educacional (2023). Para o ponto situado a uma profundidade H, e sinalizado pelo símbolo vermelho da imagem, vamos avaliar a tensão. Como temos o solo fazendo um peso daquele ponto, a tensão pode ser dada pela relação entre o peso do solo para uma dada área. Desse modo, temos que: Onde σ = Tensão do solo W = Peso A = Área 69 Relembrando os índices físicos já estudados, vimos que o peso específico de um solo é dado pela relação entre o seu peso em um dado volume, ou seja, temos a seguinte relação: γ = Peso específico W = Peso V = Volume Fazendo uma relação em termos do Peso e colocando-o em evidência, temos a seguinte equação: W = γ · Volume Sabendo que o volume deste perfil analisado é dado pela área vezes a espessura desta camada, temos a seguinte relação: Volume = x · y · H Além disso, sabendo que área da base dessa amostra analisa- da é dada pela multiplicação de X e Y sinalizado na figura, podemos realizar as substituições abaixo e anular os componentes igual, re- sultando na seguinte equação: Logo, a tensão de um dado solo é dada pela multiplica- ção do seu peso específico e pela sua altura de camada (espessura da camada). Como temos diferentes tipos de solos com diferentes características, a depender do tipo de material, temos diferentes possibilidades de tensão, maiores ou menores sujeitos ao peso es- pecífico do solo. Sabendo que a tensão aumenta nas camadas mais profundas e que quanto mais profunda, maior tensão chega neste EXEMPLO 70 solo, a tensão é dada pelo somatório de pesos específicos multipli- cada pela espessura das camadas até o ponto que necessita realizar a determinação. Dessa forma, temos: σ = 𝜸 h σV = ∑ (efeito das camadas) Esta tensão é denominada como tensão normal, ou tensão devido ao peso próprio, geostática ou também tensão vertical. To- das essas definições referem-se à tensão devido ao peso das cama- das de solo. Para facilitar a elucidação da situação, vamos realizar o exemplo a seguir. Imagine a situação em que é necessário determinar as tensões geos- táticas de um perfil de solo que apresenta a seguinte conformação: Figura 5 – Exemplo de perfil de solo Fonte: adaptada de Alice de Albuquerque (2023) pelo Editorial do Grupo Ser Educacional (2023). 71 Analisamos da seguinte forma: uma camada de pedregulho de espessura de 5 metros, peso específico de 13kN/m³, uma camada de argila de 8 metros de espessura e peso específico de 18 kN/m³. Dado este perfil de solo, como determinar a tensão geostática para a cota de -13 metros? Vamos solucionar? Bem, o primeiro passo que devemos ter em mente é o en- tendimento correto do tipo de solo, peso específico e espessura das camadas. A tensão para a cota de -13 nada mais é que a tensão que chega nesta cota devido ao peso da camada de pedregulho e da ca- mada de argila, é um somatório, lembra? Sendo assim, vamos avaliar as tensões cota a cota para que não esqueçamos de nenhum componente! Cota (0), como não temos nenhuma tensão neste ponto, a tensão geostática é igual a zero. Sendo assim: Para Cota (0) -> 𝛔 = 𝜸 h = 0 Cota (-5), a tensão nesta cota é referente ao peso da camada de pedregulho, dessa maneira: Para Cota (-5) -> 𝛔 = 13*5 = 65 kN/m² Cota (-13), neste ponto está chegando uma tensão devido ao peso do pedregulho e o da argila. Sendo assim, realizamos o soma- tório - ∑ (efeito das camadas) Cota (-13) -> 𝛔 = ∑𝜸 h = 13*5 + 8*18 = 209 kN/m² Outro ponto importante a respeito dessas tensões é que elas também dependem da umidade do solo, uma vez que a água altera as propriedades mecânicas do solo. Para isso, vamos conversar so- bre a poropressão, ou melhor dizendo, a respeito da interferência da água no estado de tensões do solo. SAIBA MAIS Poropressão A poropressão – ou pressão neutra como também é conhecida – é a tensão devido a carga de água. Esta tensão é representada pela le- tra u e é determinada para que avaliemos a interferência da água no equilíbrio de tensões do solo. A poropressão independe da porosida- de do solo, varia exclusivamente se há ou não carga de água naquele perfil de solo analisado. Ou seja, sempre que verificarmos a presen- ça de um nível de água (um lençol freático, por exemplo) devemos realizar o cálculo dessa pressão, que também é dada pelo produto do peso específico da água pela espessura da camada de água (CAPUTO, 1996). Dessa maneira, é possível determinar a poropressão de um solo pela seguinte equação: u = 𝜸W · Hw Onde: U = poropressão/pressão neutra Hw = altura da lâmina de água 𝜸W = peso específico da água = 10kN/m³ Você sabia que existe unidade para densidade? De acordo com o Sistema Internacional, a unidade para a densidade é o quilograma por metro cúbico (kg/m³). Para densidade, tam- bém são utilizadas as seguintes unidades: kg/L, g/cm3 e g/mL, de maneira que: 1 g/cm3 = 1 g/mL = 1 kg/L = 1000 kg/m3. Para a poro- pressão, é necessária a conversão desta unidade para kN/m³ e, des- sa maneira, temos que o peso específico da água (𝜸W) é de 10kN/m³. EXEMPLO 73 Suponha uma dada situação em que é necessário determinar a poro- pressão para a profundidade de 4 metros. Foi fornecido um perfil de solo que apresentava nível de água (NA) na cota -1, conforme figura abaixo, vamos determinar a poropressão? Figura 6 – Perfil de solo com nível de água Fonte: adaptada de Alice de Albuquerque (2023) pelo Editorial do Grupo Ser Educacional (2023). Nesse caso, temos uma camada de argila média com peso es- pecífico natural de 25kN/m³ e foi solicitado determinar a poropres- são da água para a cota de -4 metros. Para isso, vamos avaliar cota a cota, seja por mudança de material ou pela presença da água Cota (0) -> não existe água, logo poropressão = 0 U = 0 Cota (-1) -> local do nível de água; neste ponto não temos tensão devido a poropressão, apenas a presença da água U = 0 74 Cota (-4) -> aqui temos poropressão e para seu cálculo de- vemos verificar a altura da camada de água,que para esta cota é de 3 metros; logo, Hw = 3 Sabendo que: u= 𝜸W * Hw E realizando as devidas substituições, temos que U = 10*3 = 30kN/m² A poropressão na cota de -3 é de 30kN/m² Com o entendimento da presença da água ou não em um per- fil de um solo, Terzaghi (1943) começou a estudar como ocorria a propagação de tensões e como esse processo acontecia, e a partir de estudos, foi constatado que as tensões totais existentes em um solo são dadas pela soma de duas parcelas. São elas: 1. parcela que se refere ao arranjo estrutural das partículas; 2. parcela que se refere a presença ou não de poropressão neste solo. As tensões totais do solo são a soma das tensões efetivas (que influenciam o arranjo estrutural do solo) e neutras (geradas pela pressão de poros). Assim, Terzaghi ( 1943 ) determinou a equação total das tensões em um solo, onde temos: Tensão total = tensão efetiva + poropressão Ou 𝛔t = 𝛔´ + u Onde 𝛔t = tensão total 𝛔’ = tensão efetiva u = poropressão 75 Princípio das Tensões Efetivas A tensão efetiva, parte atuante no estudo das tensões de um solo, é a tensão que efetivamente acontece entre os grãos. Esta é transmitida pelos contatos entre as partículas, é a tensão que faz com que uma partícula de solo fique “coladinha” em outra partícula de solo, por isso, quando falamos de tensão de solo, estamos querendo saber de fato as tensões efetivas daquele material. Para nós, engenheiros, é necessário compreender como estão as tensões que ligam uma partícula a outra e como aquele solo irá se comportar como um todo. É a tensão efetiva que, efetivamente, garante a estabilidade de um solo, fazendo com que este se encon- tre em equilíbrio, sendo aquela a responsável pelo comportamento mecânico do solo, tanto em termos de resistência quanto a questões de deformações dos solos (ORTIGÃO, 2007). Para melhor compreender esse processo, Terzaghi (1943) propôs o princípio das tensões efetivas, em que, a partir da equação de tensões totais, é colocada a tensão efetiva em evidência, ficando da seguinte maneira: Dessa forma, a tensão efetiva de um solo é dada pela tensão geostática (tensão total) menos a poropressão. Caso não haja pre- sença de nível de água no perfil analisado, a tensão efetiva é dada pela tensão geostática, ou seja, podemos concluir que as tensões efetivas são as diferenças entre os totais e as neutras. SAIBA MAIS 76 O fenômeno da areia movediça acontece quando a pressão efetiva se anula, ocasionando a perda total da resistência da areia ao cisa- lhamento. Sendo assim, as forças de percolação da água no interior do solo ultrapassam as forças de sustentação do solo devido ao seu peso próprio. É importante que avaliemos sobre o impacto da tensão efeti- va e a água quando avaliamos em termos de resistência do solo. Para isso, vamos avaliar a equação de tensão total. Temos que: Tensão total = tensão efetiva + poropressão A tensão total de um solo, que é a tensão devido ao peso pró- prio, não varia de maneira fácil, é a tensão relativa àquele material. Já a poropressão pode variar sem que tenha a presença de água, ou seja, pela presença de um nível de água (NA) ou até mesmo por um evento de chuva. Para isso, vamos avaliar a seguinte situação: suponha que para um dado talude foi avaliado seu estado de tensões e observou- -se que a tensão geostática era constante. Sendo assim, avalie novamente a equação: Tensão total (CONSTANTE) = tensão efetiva + poropressão Para uma situação em que a tensão total é constante, temos 3 situações, são elas: 1. a tensão efetiva é igual a poropressão; 2. a tensão efetiva é maior que a poropressão; 3. a poropressão é maior que a tensão efetiva. 77 Analisando, teremos as seguintes situações: a situação 1 em que as tensões efetivas e a poropressão são iguais, apresentamos um equilíbrio nestas tensões, o que possibilita uma melhor resis- tência deste material quanto às adversidades do meio. Já para a si- tuação 2, temos a tensão efetiva maior que a poro pressão, o que significa que a tensão que “agarra” uma partícula na outra é tão grande que temos pouquíssima água presente neste material, é um solo resistente, mas sem a presença da água podemos ter problemas de rachaduras no solo e este tipo de situação é bem comum em solos situados no sertão do Nordeste brasileiro, onde temos estes solos característicos da imagem a seguir. Figura 7 – Tensão superficial da água com moedas. Fonte: kamchatka no freepik Outro agravante desta localidade é que muitos dos solos refe- ridos podem ser expansíveis e colapsíveis, tipos de solos que acabam expandindo e colapsando quando em contato com a água e, como consequência, acabam provocando a movimentação de estruturas DICA 78 situadas na superfície deste solo, podendo causar diversas manifes- tações patológicas nas edificações como trincas e rachaduras. Para compreender um pouco mais sobre os diferentes tipos de so- los mencionados, deixo como sugestão de leitura a dissertação de mestrado de Jayne Silva (2018) com o seguinte título: ESTUDO DO COMPORTAMENTO GEOTÉCNICO DE UM SOLO POTENCIALMENTE EXPANSIVO, ENCONTRADO EM AGRESTINA/PE, APLICANDO CINZA DE CASCA DE ARROZ E CAL COMO ADITIVOS ESTABILIZANTES. Por fim, temos a situação 3, que sucede quando temos uma poropressão maior que a tensão efetiva entre os grãos. Para uma situação deste talude, em que não temos alteração do peso deste, temos um aumento da poropressão o que, consequentemente, há uma diminuição da tensão efetiva entre os grãos. Ou seja, quando há aumento ou acréscimo de água em um dado solo, há uma diminui- ção na tensão que une uma partícula a outra, isso quer dizer que há uma facilidade em ruptura do solo, uma vez que as partículas já não conseguem se ligar com tanta força assim. A presença de água em um solo pode sim trazer sérios riscos associados a questões de resistência e deformação. Quanto maior a poropressão, menor é a tensão efetiva entre grãos. Sendo assim, é possível até fazermos, por exemplo, associações com eventos de chuva. Quando há grande quantidade de chuva em uma dada região e não há tempo hábil para drenagem da água, existe um aumento na poropressão do solo e, como consequência, pode ocorrer a rup- tura do talude, isto posto, teremos um movimento de massa como desmoronamentos. A ocorrência desses movimentos de massa é multifatorial, mas a presença de água é um forte agravante para a sua ocorrência, por isso infelizmente sempre temos notícias de deslizamentos de terra em épocas chuvosas. 79 Figura 8 - Deslizamento de terra Fonte: Naikhat no Wikimedia Commons. É importante frisar que não necessariamente é preciso que tenha um evento de chuva para que se aumente a poropressão em um talude, pois a ocorrência de uma tubulação estourada e um va- zamento de água em um solo é também suficiente para a diminui- ção das tensões efetivas, além do evento de deslizamento de terra. Como solução, é necessário que medidas sociais sejam avaliadas, que pessoas tenham acesso a moradia digna e que elas possam sair destas áreas de risco, bem como que tenham um monitoramento nestas áreas de encostas. É preciso que seja avaliada a resistência e deformações destes taludes, assim como avaliar como eles reagem em eventos de au- mento desta poropressão. As tensões do solo podem ser medidas in situ com pressiômetros, extensômetros e medidores de deformação. Em laboratório, são medidas com aparelhos como o triaxial. Atrela- do a estes ensaios de campo e de laboratório ainda é possível fazer o uso de softwares de análise numérica, como o Plaxis, que permitem modelar e simular a distribuição de tensões em solos submetidos a diferentes cargas. DICA EXEMPLO 80 Os solos argilosos suportam melhor as tensões de cisalhamento do que os solos arenosos, devido à maior coesão entre as partículas. E isso justifica a maior aplicação de solos argilosos para a construção de obras de terra como aterros e barragens. Agora que já compreendemos aimportância e a relevância da tensão efetiva e da poropressão, que tal analisarmos as tensões do solo, só que agora com a tensão da água? Vamos, inicialmente, rea- lizar o mesmo perfil de solo como avaliamos no exemplo anterior. Imagine a seguinte situação em que é necessário determinar as tensões efetivas de um perfil de solo que apresenta a seguinte conformação: Figura 9 - Perfil de solo Fonte: adaptada de Alice de Albuquerque (2023) pelo Editorial do Grupo Ser Educacional (2023). 81 Como neste caso não temos a presença de água, então, pelo princípio das tensões efetivas, temos que a tensão geostática é igual a tensão efetiva. Logo, nesse caso, a tensão efetiva é de 209kN/m². Mas e se colocarmos um NA na interface entre a camada de pedregulho e a camada de argila? Vamos tentar? Figura 10- Perfil de solo com nível de água Fonte: adaptada de Alice de Albuquerque (2023) pelo Editorial do Grupo Ser Educacional (2023). Como procedimento, realizamos o estudo de tensões para cada cota, ou seja, vamos traçar avaliações para a cota de 0, -5 e -13. Cota (0) 𝜎t= 0 u = 0 𝜎’ = 0 Cota (-5) 𝜎t= 𝜸 · h = 13* 5 = 65kN/m² u=0 - → Embora tenhamos o NA de água iniciando nes- ta cota, não temos tensão de água para esta cota, apenas nas cotas seguintes. SINTETIZANDO 82 𝜎’ = 𝜎t - u = 65 – 0 = 65kN/m² Cota (-13) 𝜎t= ∑𝜸 h = 13* 5 =65 + 18*8= 209kN/m² u= 𝜸w hw = 10*8 = 80kN/m² 𝜎’ = 𝜎t -u = 209 – 80 = 129kN/m² Perceba que, como na mesma situação de solo, a presença de água interferiu significativamente na tensão efetiva, ou seja, a água (que e dada pela multiplicação do peso específico da água pela es- pessura da camada de água) alterou e reduziu em 80kN/m² a tensão efetiva deste solo para cota de -13 metros, obtendo, com isso, uma tensão efetiva de 129kN/m². Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim desta discussão sobre os estudos da Mecânica dos Solos! Neste objeto de aprendizagem, abordamos os princípios das ten- sões dos solos, as tensões devido ao peso próprio e a tensão que pode ocorrer caso se tenha uma sobrecarga naquela área. Vimos que a tensão devido ao peso próprio – ou tensão geostática como também é denominada – é obtida pela multiplicação do peso específico do solo pela espessura da camada analisada e que esta tensão é propagada camada a camada, ela é dada pelo somatório de tensões de cada camada. Ainda foi discutido sobre a poropressão e a sua interferência no estado de equilíbrio de um solo. Essa pressão da água também é determinada pelo produto do peso específico da água (que é 10 kN/m³, lembra?) pela espessura da camada de água. Para finalizar, ainda conversamos sobre o princípio das tensões efetivas, sendo este o que, de fato, nos interessa. A tensão efetiva é aquela que, efetivamente, existe entre os grãos, é a tensão que “une” um grão a outro. Sua determinação é dada pela subtração 83 da tensão geostática pela poropressão. Caso haja ausência de po- ropressão, a tensão efetiva é igual à geostática. Estudar as tensões atuantes em um solo é de fundamental importância para um solo, pois é através desse estudo que podemos compreender sobre resis- tência e deformações destes materiais, assunto muito pertinente na nova vida profissional como engenheiros. Esperamos que você tenha gostado do nosso material, desenvolvido especialmente para você! Até a próxima! Objetivos 1. Conhecer a ocorrência de ruptura dos solos; 2. Estudar como são realizados ensaios para determinar a resis- tência ao cisalhamento e o adensamento do solo; 3. Compreender os principais ensaios de campo, seu procedi- mento e determinações. UN ID AD E 4 86 Introdução Olá, estimado(a) estudante! Tudo bem com você? Chegamos a mais um objeto de aprendizagem da disciplina de Mecânica dos Solos! Nesta caminhada de aprendizados, já vimos o que é um solo e já compreendemos suas inúmeras variedades e particularidades. Você já sabe que cada solo é único e, por termos tipos variados, é mais do que necessário compreender como é o seu comportamento, além das propriedades geotécnicas deles. Para assegurar que o solo servirá como apoio para nossas edificações ou que este solo sirva para aplicação em obras de terra, é preciso que alguns parâmetros de segurança sejam atendidos. Dessa maneira, conseguimos assegurar que estejamos utili- zando o melhor material para nossa construção! Aqui, partiremos dessas noções para abordar alguns dos prin- cipais ensaios de campo e de laboratório que devem e são realizados nos solos de modo geral. Atrelado a isso, vamos conversar sobre estes ensaios, as normas técnicas que os norteiam, além dos seus procedimentos executivos. Lembre-se que quando realizamos en- saios, estamos analisando os solos e, assim, podemos construí-los de forma adequada e segura, além de poder realizar nossos proje- tos geotécnicos de maneira eficiente. É neste contexto que devemos construir nossas edificações, assentadas em um solo que tenhamos ciência de que nosso projeto foi dimensionado para tal. Assim sendo, esteja atento(a) aos principais temas que vere- mos ao longo deste material: 1. ensaios de laboratório (ensaio de adensamento e resistência); 2. ensaios de campo (sondagem à percussão e rotativa). Agora que já apresentamos os tópicos de estudo que serão discutidos aqui, convidamos você a conhecer mais a respeito desses 87 temas para que seja possível contextualizarmos a importância des- tes procedimentos para a Engenharia. Dito isso, vamos à leitura! 88 Investigação Geotécnica Um tópico de extrema importância para a engenharia como um todo é a adoção de medidas para investigação geotécnica do local, onde pretende-se realizar uma determinada obra. Entende-se como in- vestigação geotécnica os procedimentos realizados em campo para coleta e análise das características do solo e do subsolo em uma de- terminada localidade. Este deve ser o primeiro procedimento a ser realizado em uma obra e, através das informações obtidas através desses processos, é que poderemos tomar a melhor decisão para aquela localidade em relação à obra que pretendemos realizar. Realizar uma investigação geotécnica é o ponto inicial e deve ser sempre realizada antes de qualquer tipo de construção, seja uma edificação, uma barragem, uma ponte ou até mesmo uma estrada. Apenas através das informações obtidas com ensaios de campo e de laboratório é que poderemos dar início às fases de projeto e, poste- riormente, a execução da obra. Tendo pleno entendimento do solo e das rochas do local é que poderemos concluir se aquele solo ou ro- cha terá ou não capacidade de suporte da estrutura que planejamos executar e, assim, garantir a segurança e estabilidade da edificação. Faz parte da investigação geotécnica diversos procedimentos e técnicas de prospecção do subsolo: ◼ sondagem a trado, ◼ ensaios de permeabilidade e resistência, ◼ ensaio de penetração do cone (com ou sem contabilização da poropressão), ◼ ensaios de compressibilidade, ◼ sondagem à percussão e ◼ rotativa entre outros. Esses métodos de prospecção de um subsolo para fins geo- técnicos classificam-se em indiretos, semidiretos e diretos, sendo necessário, às vezes, realizar diversos ensaios naquele local para EXEMPLO 89 que tenhamos o máximo de informações sobre o solo da região. A quantidade de ensaios e tipos de técnicas utilizadas varia em função das características dos solos e do tipo de estrutura que será realiza- da naquele local. Através desses procedimentos, são obtidos diversos parâme- tros sobre as propriedades geotécnicas do solo da região, além das suas características físicas, geológicas, hidrológicas e geotécnicas daquele solo e do subsolo. De posse de informações sobre a carga que incidirá naquele solo, poderemos tomar a melhor decisão para a fundação daquele local, por exemplo. Além do mais, é possível determinar as medidas necessárias para a mitigação de riscos geo- técnicos, como deslizamentos de terra, erosão, colapso de encostas,entre outros. Para contextualizar a importância de uma investigação geotécnica, atente-se ao exemplo a seguir. Se sabemos a capacidade de carga de um solo, ou seja, se sabemos a carga que leva a ruptura daquele solo, devemos planejar nossas fundações, de modo que não sejam direcionadas para aquele solo, a carga que o levará à ruptura. Assim, é possível escolher a melhor fundação para aquele local, bem como a que profundidade ela deve estar localizada para garantir que não tenhamos prejuízos para nossa edificação e que esta esteja em segurança. Ressaltamos que todo o cuidado é pouco quando tratamos sobre solos, lembrando que eles são responsáveis pelo suporte da nossa estrutura, por isso devemos levar em consideração se eles são estáveis ou não, se têm capacidade de suportar a carga que quere- mos colocar, visto que estamos colocando em risco a nossa edifica- ção se não tivermos essas preocupações. Realizar uma investigação geotécnica é fundamental para garantir a segurança e a estabilida- de das estruturas construídas, além de contribuir para a redução de DICA 90 custos e prazos na construção. Tendo informações precisas sobre o solo, projetamos a melhor fundação com melhor viabilidade eco- nômica para aquela área em específico. A análise de dados obtidos desses ensaios permite que os engenheiros geotécnicos determinem a resistência do solo e das rochas, a capacidade de suporte, a estabi- lidade do terreno e outras características importantes. Ainda faz parte desses procedimentos de estudos do solo a co- leta de amostras para a realização de ensaios em laboratório. Sobre as amostras, elas podem ser do tipo deformadas ou indeformadas, a depender do tipo de propriedades que necessitamos determinar em laboratório e que definimos qual tipo de amostragem será mais representativa. Indicamos duas leituras complementares para você aprimorar seu conhecimento! A primeira leitura trata-se de diferentes tipos de amostragem, em que se relata as principais diferenciações entre as amostras defor- madas e indeformadas: Amostras de Solo Indeformadas / Defor- madas no site MTW Sondagens. Agora, indicamos uma leitura sobre as amostras indeformadas e a sua importância para a execução de alguns ensaios de laboratório: Coleta de Amostras Indeformadas no site TEC GEO Vale a pena conferir! Com base nas informações obtidas na investigação geotéc- nica, os engenheiros e projetistas podem determinar as caracterís- ticas do solo e do subsolo em relação à estabilidade de estruturas e fundações, capacidade de suporte de cargas, previsão de recalques e deformações, estabilidade de taludes e encostas, entre outros as- pectos importantes para o desenvolvimento de projetos de enge- nharia civil. SAIBA MAIS 91 Figura 1 – Amostragem de solos Fonte: Prof. Dr. Alessandro Samuel-Rosa no Wikimedia Commons. A ordem correta das diferentes etapas relacionadas a uma investi- gação geotécnica completa são: investigações de reconhecimento do subsolo, análise do projeto a ser realizado (para que sejam reali- zados os ensaios mais coerentes e significativos), estudo do projeto e análise do solo durante a construção para melhor entendimento do andamento do projeto. 92 Ensaios De Laboratório: Compressibilidade e Resistência Ensaio edométrico: parâmetros de compressibilidade O ensaio de adensamento de laboratório, também conhecido como ensaio edométrico, é um experimento que avalia a capacidade de um solo em suportar cargas e deformações ao longo do tempo. Esse ensaio é utilizado para estimar a compressibilidade e adensamento do solo, a fim de determinar a sua estabilidade em diferentes condi- ções. Este ensaio consiste em aplicar uma carga sobre uma amostra de solo confinada em um molde cilíndrico, enquanto se mede a va- riação da altura da amostra ao longo do tempo. O ensaio de adensamento é realizado com amostra de solo do tipo indeformadas (pois mantêm características reais do solo em natura) onde é realizada a cravação de um anel metálico vazado para obtenção de uma amostra de solo dentro deste molde cilíndri- co, com dimensões que variam entre 5 e 12 centímetros de diâmetro. O ensaio apresenta o seguinte roteiro de procedimento: 1. coleta de amostra indeformada; 2. amostra colocada em um anel metálico; 3. inserção da amostra dentro do equipamento e inserção de pe- dras porosas no topo e na base para permitir a saída da água; 4. colocação de uma placa rígida de aço em cima da amostra onde aplicam-se as cargas. Devido ao confinamento lateral do solo, bem como ao anel metálico, todas as deformações que acontecerão na amostram serão resultado da saída da água, ou seja, através do adensamento da amostra; SAIBA MAIS 93 5. aplicação de cargas ao longo do tempo até que se tenha uma estabilização das deformações, colocando em prática o dobro da carga anterior e repetindo o processo; 6. observação das deformações obtidas pelo solo devido à apli- cação das cargas ao longo do tempo e faz-se necessário rea- lizar o descarregamento destas pelo menos 3 vezes durante o ensaio para análise do solo em questão. Como o carregamento é aplicado gradualmente, é feito o re- gistro ao longo do tempo da taxa de deformação do solo, ou seja, à medida que a carga é aplicada, o solo começa a se deformar e a espessura diminuir. Outro ponto relevante sobre o ensaio de aden- samento é que cada solo apresenta um comportamento em relação a este carregamento, em areias a deformação é rápida, em questão de minutos, enquanto em argilas saturadas o processo é mais demora- do, podendo levar horas ou até mesmo dias. A partir dos resultados obtidos no ensaio de adensamento, é possível determinar a curva de compressibilidade do solo, que re- presenta a relação entre a tensão aplicada e a deformação do solo. Essa curva é utilizada para determinar a capacidade do solo em su- portar cargas ao longo do tempo. Ainda através do comportamen- to da curva de adensamento daquele solo, é possível determinar o coeficiente de compressibilidade, que representa a rapidez com que o solo se comprime em resposta à carga aplicada. Esse coeficiente é utilizado para calcular o tempo necessário para que o solo atinja uma determinada deformação, tópico extremamente importante para avaliar o comportamento dele ao longo dos anos, se há ou não possibilidades daquela edificação recalcar. No ensaio de adensamento, a amostra é colocada em uma célu- la de adensamento e submetida a uma carga vertical, geralmente em incrementos de 10kPa. Após cada incremento de carga, a de- formação vertical da amostra é registrada a intervalos de tempo 94 regulares, normalmente de: 1, 10, 30, 60, 120, 180, 240, 360, 720 e 1440 minutos. Vale frisar que para acontecer o adensamento, é necessário que as hipóteses da Teoria de Adensamento proposta por Terzaghi (1943) sejam validadas, ok? A partir dos parâmetros obtidos através da curva de adensa- mento, é possível estimar a magnitude da deformação do solo em resposta a um carregamento aplicado e, portanto, prever o compor- tamento do solo sob diferentes condições de carregamento. O ensaio de adensamento é um teste importante para a engenharia geotécni- ca, pois permite avaliar a capacidade de um solo em suportar cargas e deformações ao longo do tempo. Essa informação é utilizada para projetar fundações de edifícios e outras estruturas, bem como para avaliar a estabilidade de taludes e barragens. Resistência ao cisalhamento Tem-se como definição para a resistência ao cisalhamento do solo a maneira como o solo é capaz de suportar a tensão sem que ocorra a sua ruptura. Compreender a resistência de um solo é de fundamen- tal importância para garantir a segurança daquele material. Sempre que tratarmos de resistência, estamos nos referindo à resistência ao cisalhamento. O solo, por sua vez, acaba rompendo quando a tensão cisalhante atuante neste material é maior do que a sua resistência e isso ocorre em um plano de ruptura definido. Sendo assim, sempre que ocorreuma ruptura no solo, é necessário que haja a formação de uma superfície de cisalhamento contínua na massa dele. Outro detalhe importante a ser comentado é que a ruptura sempre acon- tecerá em uma zona cisalhada e uma superfície de cisalhamento (GERSCOVICH, 2010). Karl Terzaghi foi um grande pesquisador da área de Geotec- nia e apresentou grande contribuição para o estudo da mecânica dos solos como um todo. Foi através dos estudos de Terzaghi que a me- cânica dos solos se tornou uma ciência e ele trouxe contribuições 95 com teorias sobre tensões efetivas e adensamento. No princípio das tensões efetivas, proposto por Terzaghi, é abordado que as tensões geostáticas (tensão devido ao peso próprio) são dadas pela soma da tensão efetiva e a poropressão. Outros pesquisadores que trouxeram grande contribuição para a engenharia como um todo, foram Charles Augustin de Cou- lomb e Christian Otto Mohr. Através do estudo desses pesquisadores é que foi avaliado o comportamento de materiais quando em ruptu- ra devido a aplicação de tensões. Sendo assim, para conseguir determinar essa resistência ao cisalhamento dos solos em geral, é aplicado o modelo proposto por Terzaghi (1936), bem como na análise de critério de ruptura pro- posta por Mohr-Coulomb, e a determinação em questão é feita com base na equação a seguir: 𝜏 =𝑐′+(𝜎-𝑢𝑤) 𝑡𝑔 ϕ Onde: 𝜏 : tensão cisalhante; c’: intercepto de coesão efetiva do solo; σ: tensão total normal; uw: poropressão do solo; (σ – uw ): tensão efetiva normal; ϕ′: ângulo de atrito efetivo do solo; Exemplo Temos o exemplo: para um solo com tensão efetiva de 250kPa, coesão de 10kPa e ângulo de atrito de 30°, qual a resistência ao cisa- lhamento deste material? A resposta é a seguinte: ao substituir a equação proposta por Mohr-Coulomb, temos o seguinte resultado: 154,33kPa. Mas o que isso significa? Significa que para este solo em questão a sua resistência ao cisalhamento é de 154,33kPa, ou seja, se porventura aplicarmos uma carga desta magnitude neste solo, ele irá romper. 96 Para determinar os parâmetros de resistência do solo (c’, ϕ′), normalmente são utilizados os ensaios de cisalhamento direto, compressão simples e triaxial. Esses três ensaios são realizados para determinar a resistência ao cisalhamento dos materiais. O ensaio de cisalhamento direto é o mais simples dos três. Nele, é aplicada uma tensão em uma amostra de solo e observada a tensão de ruptura do material. Nos ensaios de compressão simples e triaxial, é utiliza- da uma prensa, sendo aplicadas tensões confinantes na amostra de solo. Além disso, é observada as tensões em que o material so- freu a ruptura. A principal diferenciação entre esses ensaios é que o triaxial apresenta um maior detalhamento, uma vez que o plano de tensões é conhecido e as poropressões são medidas, diferente do cisalhamento direto. Dentre os ensaios triaxiais especificamente, temos os seguintes: ◼ ensaio de compressão não confinada (UC); ◼ ensaio não consolidado não drenado (UU) ◼ ensaio consolidado não drenado (CU); ◼ ensaio consolidado drenado (CD). O ensaio mais comumente usado é o consolidado não drena- do (CU), dentre os vários tipos de ensaios disponíveis. Nesse expe- rimento, o corpo de prova é saturado com fluido e é aplicada uma pressão de fluido na câmara do equipamento até que ele seja aden- sado, ou seja, que ocorra a sua compreensibilidade. Sendo assim, a poropressão é dissipada e a tensão desviadora aumenta à medida que a tensão de confinamento é aplicada, gerada em cisalhamento. Durante o experimento, a condição de não drenar contribui para o aumento da poropressão. O ensaio de compressão triaxial pode ser usado para determinar a relação entre a tensão cisalhante e a defor- mação axial específica, bem como a envoltória de Mohr-Coulomb para as tensões efetivas e totais de cada tipo de material (SANTOS, 2019). 97 Na figura a seguir, é possível verificar o círculo de Mohr com destaque para a envoltória de ruptura. Através das respostas obti- das neste ensaio é que podemos determinar a envoltória de ruptura deste material, ou seja, podemos verificar quais são as suas tensões máximas e mínimas. na figura a seguir, é possível analisar o resul- tado dessa envoltória de ruptura para tensões aplicadas em um solo de 50, 100 e 200kPa. Figura 2 - Traçado dos círculos de Mohr correspondentes à realização de três ensaios triaxiais Fonte: O autor (2023) 98 Ensaios de Campo: Sondagem à Percussão (Spt) e Rotativa (Rqd) Sondagem à Percussão (SPT) A sondagem à percussão – conhecida popularmente como SPT que vem do inglês Standart Penetration Test – é um dos ensaios mais co- muns na engenharia, sendo um dos métodos iniciais para uma in- vestigação geotécnica. Trata-se de um método realizado com a ajuda de um equipamento formado por um martelo e um amostrador, onde faz o uso do martelo para cravar uma haste (vazada interna- mente, possibilitando que amostras de solo fiquem acondicionadas em seu interior). Para iniciar a cravação da haste, é necessário que seja realizado um furo de profundidade de aproximadamente 1 me- tro neste solo, para aí sim dar seguimento ao ensaio. O ensaio de SPT consiste em cravar esta haste no solo com o auxílio de um martelo de 65kg caindo a altura de queda livre de 75 centímetros. Para facilitar esta queda do martelo, e devido ao seu peso, é necessário o uso de um tripé com uma roldana na parte su- perior que favorece o içamento do martelo e possibilita o seu golpe na haste. A resistência do solo à cravação da haste, devido ao peso deste martelo, é dada pelo número de golpes necessários para que ocorra uma cravação de 45 centímetros desse amostrador no solo, sendo contabilizados os números de golpes nos últimos 30 centíme- tros de cravação. Ainda em relação a essa numeração, a quantidade necessária de golpes para penetrar os últimos 30 centímetros deste amostrador é registrada e utilizada para determinar a resistência do solo, sendo este número denominado de NSpt ou N. O SPT deve ser realizado em diferentes fases do projeto, de- pendendo das necessidades. É comum a realização no início da fase de projeto, para fornecer informações preliminares sobre as carac- terísticas do solo, e em fases posteriores, para confirmar as infor- mações obtidas e/ou investigar mais profundamente áreas críticas. Também é comum a realização do SPT durante a construção, para monitorar a qualidade do solo e as condições do subsolo em tempo real. 99 A quantidade de furos realizados no local da obra varia a de- pender do tamanho do terreno, conforme Norma Técnica, e a posi- ção entre eles é definida pelo projetista. É interessante que os pontos de realização da sondagem sejam definidos estrategicamente com locais do terreno onde deseja-se informações precisas sobre aquele solo. Usualmente, os furos são alocados próximo das áreas onde têm cargas de pilar e pretende-se construir as fundações. Um ponto importante a ressaltar sobre a sondagem SPT é que, além da informação obtida pelo número de golpes necessários para a cravação do amostrador, também é possível realizar uma análise tátil visual do solo, uma vez que há parte de uma amostra de solo deformada dentro da haste que possibilita uma breve identificação do solo em questão. Essas amostras são coletadas e analisadas em laboratório para determinar suas características físicas e mecâni- cas. Como no ensaio em questão, é realizada a cravação metro a me- tro, cota a cota, sendo possível verificar a estratigrafia do subsolo e assim identificar os diferentes tipos de solo e suas camadas, bem como se há ou não a presença de lençol freático. Esses dados são usados para projetar fundações, avaliar a estabilidade de taludes, projetar aterros, entre outras aplicações. A sondagem à percussão (SPT) é um procedimento comum na engenharia geotécnica, pois possibilita avaliar a resistência do solo e a capacidade de carga de um terreno por meio de ensaios de penetração,além de ser uma técnica relativamente simples, de fácil acesso e baixo custo. O procedimento de SPT é realizado em etapas, incluindo a preparação do local, a cravação da haste, a realização dos ensaios e a interpretação dos resultados. Para a realização da sondagem, é seguido o seguinte procedimento: 1. marcar todos os pontos solicitados pelo projetista; 2. montar o tripé; 3. perfurar, com o auxílio de um trado cavadeira, até um metro de profundidade; 4. recolher e acondicionar uma amostra representativa de solo; 100 5. cravar (1,0 até 1,45 m); 6. registrar o número de golpes dos últimos 30 cm). É importante frisar que o ensaio é normatizado pela ABNT, e as normas que regem as diretrizes, recomendações e exigências de como devem ser realizados esses procedimentos é a NBR 8036/83 - Programação de sondagens de simples reconhecimento dos solos para fundações de edifícios e a NBR 6484 - Solo — Sondagem de simples reconhecimento com SPT — Método de ensaio. Prezado(a) aluno(a), na NBR 8036/83 é possível verificar a quantidade de furos que devem ser realizados a depender da área estudada. Na tabela a seguir, é possível verificar de forma elenca- da a quantidade mínima de furos em relação à área de projeção de construção em m². Tabela 1 – Quantidade de furos em relação à área de projeção de construção Área de projeção (m²) Quantidade mínima de furos <200 2 200 a 600 3 600 a 800 4 800 a 1000 5 1000 a 1200 6 1200 a 1600 7 1600 a 2000 8 2000 a 2400 9 >2400 Fica a critério Fonte: O autor (2023) adaptado da NBR 8036/83 SAIBA MAIS 101 De acordo com a NBR 8036/83, caso não tenhamos à disposição a planta dos edifícios ou se estivermos planejando realizar um estudo de viabilidade daquela obra no local, atendemos como critério que o número de sondagens devem ser de no mínimo 3 furos e que a dis- tância entre estes não pode ser superior a 100 metros. Outro ponto pertinente a respeito das sondagens SPT é que, devido a heterogeneidade dos solos de modo geral, podemos nos de- parar com algumas situações em que não conseguimos dar prosse- guimento a realização do ensaio. Pensando nisso, a NBR 6484/2020 Solo, que é referente à Sondagem de simples reconhecimento com SPT — Método de ensaio, traz um item que aborda alguns critérios que devemos analisar para a possível paralisação da sondagem. No item 5.2.4.2 da NBR em questão, trata-se do critério de paralisação, conforme a informação a seguir. 5.2.4.2 Na ausência do fornecimento do critério de paralisa- ção por parte da contratante ou de seu preposto, as sondagens de- vem avançar até que sejam atingidos um dos seguintes critérios: a. avanço da sondagem até a profundidade na qual tenham sido obtidos 10 m de resultados consecutivos indicando N iguais ou superiores a 25 golpes; b. avanço da sondagem até a profundidade na qual tenham sido obtidos 8 m de resultados consecutivos indicando N iguais ou superiores a 30 golpes; c. c) avanço da sondagem até a profundidade na qual tenham sido obtidos 6 m de resultados consecutivos indicando N iguais ou superiores a 35 golpes. (NBR 6484/20, p. 17) 102 Continuando neste contexto de paralisação da sondagem de- vido às características do solo, a NBR 6484/20 também define que, ainda diante desses empecilhos, devemos dar prosseguimento à in- vestigação com a sondagem rotativa, que permite a perfuração de solos resistentes, bem como de rochas, blocos ou matacões. Outro ponto pertinente na NBR 6484 é a designação da con- sistência, para o caso de argilas, e a compacidade, para o caso de areias, a depender do Nspt daquela camada de solo durante o ensaio. A NBR traz um quadro com os números de N e a característica dos solos do perfil. Quadro 1 – Estado de compacidade e consistência. Fonte: NBR 6484 (2020) De posse dessas informações de resistência do solo, é pos- sível definir a melhor alternativa para aquela estrutura, qual fun- dação será a mais adequada e como aquele solo irá reagir a carga que pretendemos alocar no local, se o mesmo irá suportar ou não. É importante lembrar que o SPT deve ser realizado por profissionais capacitados e experientes, e que o procedimento pode ser afetado por uma série de fatores, como a granulometria do solo, a presença de água subterrânea e a compactação do terreno. DICA 103 Em relação aos diversos ensaios existentes, a sondagem SPT é um método de investigação de solo relativamente rápido e econô- mico, mas não é a única técnica disponível para investigação geo- técnica. Dependendo do projeto e das condições do subsolo, outros métodos como ensaios de cone, ensaios de permeabilidade, entre outros, também podem ser utilizados em conjunto com o SPT para uma investigação mais completa. No ano de 2020, a NBR 6484 passou por algumas alterações em que foram acrescentados alguns itens que devemos utilizar como dire- triz para o procedimento do ensaio. No blog Paulinho das Estruturas, é possível verificar as modifica- ções que foram realizadas na versão mais atualizada desta norma no artigo “O que mudou com a nova NBR 6484 atualizada em 2020”. Sondagem Rotativa Ao realizar a investigação geotécnica, pode ocorrer de nos deparar- mos com algum material de resistência elevada, que impossibilite a cravação da haste durante o ensaio de SPT. Caso atenda aos critérios de paralisação de sondagem, indicados na NBR 6484/20, teremos que alterar o procedimento de prospecção para dar continuidade ao estudo deste subsolo. Nesse caso, é necessário realizar uma sonda- gem do tipo rotativa. A sondagem rotativa é geralmente realizada durante a fase de projeto de uma construção, como edifícios, pontes, barragens, túneis e tantas outras obras de engenharia. Ela é importante para garantir que a obra seja construída com segurança e que os projetos sejam desenvolvidos de acordo com as condições do terreno. DICA 104 Esse tipo de sondagem é o método de prospecção utilizado para análise do subsolo com resistência elevada, seja devido a so- los resistentes a até mesmo materiais rochosos, blocos rochosos ou matações. É uma técnica mais complexa e cara do que a sondagem à percussão, embora ofereça uma visão mais detalhada das proprie- dades do solo e da rocha. O objetivo principal é avaliar a resistência do subsolo em questão, sua capacidade de suporte, a composição geológica, bem como se há a presença destas eventuais camadas rochosas. Além da análise da resistência do subsolo, através do ensaio de sondagem rotativa, também é possível obter amostras das ro- chas, que são denominadas de testemunhos. O interessante é que os testemunhos são coletados de forma contínua e em toda a profun- didade. Devido a força que o equipamento consegue incidir no solo, é possível atravessar camadas de rochas, além do mais, a facilidade ou dificuldade da perfuração é o que determina a qualidade deste maciço rochoso. Neste, ainda é através do ensaio de sondagem ro- tativa que conseguimos determinar possíveis irregularidades, iden- tificando possíveis fraturas, descontinuidades e até mesmo fendas. Devemos ficar atentos ao nos depararmos com uma rocha durante um procedimento de prospecção de subsolo, pois nem sempre en- contrar uma rocha significa que ela terá capacidade de suportar a carga da nossa edificação. É necessário avaliar a qualidade da rocha e se ela possui irregularidades. Assentar fundações sob materiais rochosos só é seguro se aquela rocha tiver capacidade de suportar a carga em questão. Imagina incidir uma carga em uma rocha que tem uma fratura? Certamente essa rocha pode acabar rompendo e, com isso, compro- meter a segurança e estabilidade da nossa edificação. Desse modo, sempre é importante analisar a qualidade da rocha neste subsolo, ok? 105 Esse procedimento consiste na utilização de um equipamento de perfuração rotativo acionado por um motor que penetra o solo. Na extremidade do equipamento, temos uma sonda equipada com broca diamantada, que permite a coleta de amostras de solo e rocha. E o processo aconteceatravés da inserção desta sonda ao subsolo onde ela rotaciona, e a broca da extremidade perfura o solo a al- tas velocidades. Gosto de relacionar a sondagem rotativa como uma grande furadeira que penetramos no solo. Essa situação se asseme- lha bastante com os processos que realizamos em casa ao furar uma parede. A perfuração é realizada até a profundidade desejada e, em seguida, a broca é retirada, sendo o furo revestido com tubos metá- licos ou com concreto de alta resistência para que não se torne um ponto de vulnerabilidade do subsolo. Assim como no SPT, a sonda- gem rotativa também nos fornece informações sobre a qualidade da rocha ensaiada. Nesse caso, o parâmetro obtido é o RQD, que indica a qualidade do meio rochoso. Lembra que não é porque encontramos a rocha que ela é resistente? Pois bem, o RQD, que é dado em termos de porcentagem, nos informa a resistência da rocha. Esse parâmetro indica uma relação entre peças (testemunhos) maiores que 10 centímetros e o compri- mento da manobra de avanço da perfuração. É avaliado em termos de somatório em todo o subsolo que se tenha material rochoso. ✓ RQD entre 0 e 25% → qualidade do maciço rochoso muito fraco; ✓ RQD entre 25 e 50% → qualidade do maciço rochoso fraco; ✓ RQD entre 50 e 75% → qualidade do maciço regular; ✓ RQD entre 75 e 90% → qualidade do maciço bom; ✓ RQD entre 90 e 100% → qualidade do maciço excelente. SAIBA MAIS SINTETIZANDO 106 Em investigações geotécnicas, que é feito o uso de sondagem à per- cussão (SPT) e a sondagem rotativa, tem-se um único relatório de sondagem, com todas as informações da estratigrafia daquele sub- solo, cota a cota, se há ou não presença de nível de água, assim como informações sobre o Nspt e RQD. As sondagens que apresentam es- ses dois tipos de ensaios são denominadas de sondagens mistas. Em resumo, a sondagem rotativa é recomendada quando as informações disponíveis sobre o subsolo são limitadas ou quando é necessário um conhecimento mais aprofundado para a realização de projetos de engenharia civil. Além disso, também pode ser rea- lizada para a exploração de recursos minerais, estudos ambientais e geológicos, bem como para a caracterização de terrenos para fins agrícolas e florestais. Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim da nossa disciplina de Mecânica dos Solos! Neste objeto de aprendizagem, abordamos questões sobre a inves- tigação geotécnica e a sua importância para a elaboração e execução de projetos na engenharia. Aprofundamos as informações que obte- mos com ensaios geotécnicos e como podemos utilizar esses sabe- res para o entendimento dos solos que temos na nossa obra. Aqui, abordamos alguns pontos sobre a ruptura de solos e quais en- saios realizamos em laboratório para determinarmos a resistência ao cisalhamento de um material. Falamos sobre o ensaio de aden- samento, ensaio de cisalhamento direto e o ensaio triaxial com as suas diferenciações a depender do procedimento de tensões e fluxo de água. 107 Ainda vimos os principais ensaios que realizamos em campo para prospecção do subsolo e análise das propriedades geotécnicas dos materiais. Abordamos o ensaio SPT, seu procedimento e pontos so- bre como podemos relacionar seu NSpt em termos de consistência de argilas e compacidade de areais. Através do número de golpes (N) nos últimos 30 centímetros de prospecção, podemos avaliar se uma argila é mole ou se uma areia é do tipo compacta, por exemplo. Tudo isso é de fundamental importância quando precisamos compreen- der o solo que iremos assentar nossas fundações. Por fim, falamos da sondagem rotativa (aplicada quando não con- seguimos dar prosseguimento à sondagem SPT devido a resistência do subsolo) e a sua aplicação para obtenção de testemunhos e aná- lise da qualidade da rocha em questão. Lembre-se que ao realizar uma eficiente investigação geotécnica, com ensaios de campo e la- boratório, conseguimos elaborar melhores projetos de engenharia e, assim, garantir a segurança e a estabilidade das estruturas cons- truídas sobre o solo. Esperamos que as colocações discutidas aqui tenham contribuído para o seu conhecimento a respeito da mecânica dos solos. Nos ve- mos em breve! Até a próxima! 108 Referências UNIDADE 1 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. 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