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Revista-Conhecer-Fantastico-Espiritismo Junho 23

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Prévia do material em texto

INÊS249 
sumario
Doutrina Espírita 4
Contexto histórico e bases espíritas 11
Allan Kardec 18
Diferenciações 23
Jesus e o Espiritismo 28
Prática espírita 30
Mediunidade 37
Expoentes espíritas 44
Livros 46
Endereços úteis 49
Sites interessantes 50
PRESIDENTE: Paulo Roberto Houch
 prh@editoraonline.com.br
REDAÇÃO
Diretora de Redação: Andrea Calmon
 redacao@editoraonline.com.br
Editora: Thaise Rodrigues
Subeditora: Carolina Botelho
Redatora: Fernanda Sciascio
 
PROGRAMAÇÃO VISUAL 
Coordenação: Arlete Scantamburlo
 diagramacao@editoraonline.com.br
Programação Visual: Débora Alves Pereira
Colaborou nesta edição: Fábio Matos (ilustrações)
Agradecimentos: Federação Espírita Brasileira (FEB)
ESTÚDIO
Coordenação Fotográfica: Arnaldo Bento
 estudio@editoraonline.com.br
PUBLICIDADE 
Diretor de Publicidade: Isidro de Nobrega
Gerente de Publicidade: Patrícia Massini Caldeira
 comercial@editoraonline.com.br
Executivos de Conta: Antônio Demésio, Célia Candido, 
 Graziella Vilela Fonseca, Jussara 
 Baldini, Luciana Lemes Rodrigues
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Assistente de Publicidade: Amanda Bezerra dos Santos 
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Assistente de Marketing: Bianca Grasseschi
CANAIS ALTERNATIVOS vendaavulsa@editoraonline.com.br
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LOGÍSTICA Luiz Carlos Sarra
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CRÉDITO E COBRANÇA
Assistentes: Nanci de Souza Monteiro, Nanci de 
 Araújo Nunes e Patricia Silva Souza
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Impresso por Prol Editora Gráfica
Distribuido no Brasil por Fernando Chinaglia 
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Conhecer Fantástico é uma publicação do IBC Instituto Brasileiro de 
Cultura Ltda. - Cx. Postal 61085 - CEP 05001-970 - São Paulo - SP - Tel.: 
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sem a prévia autorização do editor.
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antecedência. online@editoraonline.com.br
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ARTESANATO LEVE: • Arte em EVA • Arte em Fuxico
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FEMININA TEEN: • Top Girl Especial Testes
GAMES: • Detonando • Play Games • Pro Games
ESPORTE: • Guia de Fórmula 1
Aviso importante: A Arte Antiga Editora não se responsabiliza pelo conteúdo 
dos anúncios publicados nesta revista, nem garante que promessas 
divulgadas como publicidade serão cumpridas. Cabe ao leitor avaliar cada 
caso e buscar informações sobre produtos e serviços aqui anunciados.
4 DOUTRINA ESPÍRITA 
 Entenda a fé que valoriza o conhecimento
11 CONTEXTO HISTÓRICO E BASES ESPÍRITAS
 Recapitule a origem francesa, os 
fenômenos e a comunicação dos espíritos
18 ALLAN KARDEC
 O codificador do Espiritismo era 
pedagogo e conhecia diversas ciências
23 DIFERENCIAÇÕES
 Compreenda o que o Espiritismo é e 
desmistifique alguns pontos
28 JESUS E O ESPIRITISMO
 O Evangelho como guia e a busca do bem 
 A primeira vez que tive contato com o universo espírita, 
confesso, fiquei um tanto confusa. Influenciada pela bagagem católica 
familiar, tive dificuldade em entender certos conceitos, como 
reencarnação, mediunidade, livre-arbítrio e evolução dos espíritos.
E, hoje, tenho certeza de que boa parte das pessoas (que são adep-
tas, simpatizantes ou simplesmente se interessam em saber mais sobre 
a doutrina) também passou por isso. Afinal, esses princípios não são 
tão simples de serem compreendidos e merecem uma atenção mais 
aprofundada para que não sejam confundidos com algo espetacular, 
sobrenatural, fantasioso. Dessa forma, faz-se mais do que 
necessário nosso cuidado em trazer as informações de forma 
precisa, detalhada, tal qual consta da doutrina espírita, evitando 
quaisquer mal-entendidos. 
 Agora, o que gostaríamos de deixar bem claro aqui é que entender 
e compreender não é o mesmo que acreditar. Assim, a proposta desta 
edição de Conhecer Fantástico não é convencer você, leitor, de que se 
deve crer ou não nos preceitos e ensinamentos do Espiritismo. O 
propósito aqui é trazer em detalhes boa parte do que envolve a 
doutrina que surgiu no século 19, na Europa, espalhou-se pelo 
mundo e já conta com um número bastante significativo de 
adeptos e simpatizantes no Brasil.
 A partir da próxima página, como resultado 
do sério e competente trabalho da redatora 
Fernanda Sciascio, você vai conferir um 
panorama dos princípios básicos da 
doutrina, de quem foi Allan Kardec e 
da prática espírita, além dos principais 
expoentes e da literatura sobre o tema. 
 Aproveite para conhecer mais sobre 
a doutrina, que não exclui outras crenças 
e que se propõe a analisar os 
fenômenos, sejam eles materiais ou 
espirituais, sob a luz da ciência.
 Um grande abraço
 redacao@editoraonline.com.br 
30 PRÁTICA ESPÍRITA
 Como é a rotina de quem segue a 
doutrina e o que eles pensam
37 MEDIUNIDADE
 Você sabia que todos somos médiuns?
44 EXPOENTES ESPÍRITAS
 Quem são as pessoas que dedicam suas 
vidas ao bem ao próximo
46 LIVROS
 Estudar é uma das premissas da doutrina. 
Conheça as principais obras
49 ENDEREÇOS ÚTEIS 
 Em diferentes Estados e na internet, há 
muito o que conhecer
SUMÁRIO
INÊS249 
Doutrina Espírita 
Doutrina
Crer em reencarnação - a sobrevivência do espírito após a morte 
do corpo - é apenas uma das partes do Espiritismo. Amor, estudo e 
evolução são alguns pontos de partida da doutrina
Por Fernanda Sciascio
4
INÊS249 
spiritual, espiritualista, espiritualismo. Palavras similares com significados paralelos 
 que, às vezes, acabam por se misturar com Espiritismo ou Doutrina Espírita. Mas 
 vamos desfazer possíveis mal-entendidos. As premissas básicas são: espiritualismo 
 é o oposto do materialismo e todo mundo que acredita que haja em si algo além de 
matéria é espiritualista. Já os espíritas, também chamados de espiritistas, crêem nas relações 
do mundo material com os espíritos ou seres do mundo invisível, entre outras coisas. 
 Codificado pelo pedagogo francês Allan Kardec com o intuito de apoiar a fé na razão, 
na lógica e no bom senso, o Espiritismo traz conceitos sobre o homem e tudo o que o cerca. 
O conjunto de princípios aborda diversas áreas do conhecimento, das atividades e do com-
portamento humano e diz abrir uma nova era para a regeneração da humanidade. 
 O registro mais remoto de que se tem notícia é de Londres, no ano de 1744, quando 
Emmanuel Swedenborg divulgou em livro suas primeiras visões do mundo espiritual. Cerca 
de 60 anos mais tarde, nasceu em Lyon, na França, Hippolyte Léon Denizard Rivail que, mais 
tarde, sob o nome de Allan Kardec, codificaria o Espiritismo. 
 A doutrina nasceu mesmo em meados do século 19, quando o fenômeno das mesas 
girantes, ou dança das mesas, agitou a Europa - tendo antes passado pela América. Nos 
salões elegantes, após os saraus, a alta sociedade reunia-se ao redor das mesas para “brincar”. 
Incrédulas no início, as pessoas começaram a se interessar pelo assunto devido à multiplici-
dade das experiências. Naquelas situações, as pessoasfaziam simples e frívolas questões às 
mesas e estas se moviam, erguiam-se no ar e respondiam às perguntas por meio de batidas no 
chão. As questões eram “quantos filhos eu tenho?” ou “com quantos anos vou me casar?” 
e as batidas foram chamadas, mais tarde, de tiptologia. Com o tempo, foi sendo criado o 
“alfabeto das batidas”, de maneira que um toque significava “A”, dois toques “B”, e assim por 
diante. O fenômeno chamou a atenção de um pesquisador, discípulo do célebre estudioso 
Johann Pestalozzi: Hippolyte Leon Denizard Rivail. 
 
E
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6
ESPIRITISMOESPIRITISMO
 “Toda a religião, toda a moral se acham encerradas 
nestes dois preceitos. Se fossem observados nesse mundo, 
todos seríeis felizes: não mais aí ódios, nem ressentimentos. 
Direi ainda: não mais pobreza, porquanto, do supérfluo da 
mesa de cada rico, muitos pobres se alimentariam e não 
mais veríeis, nos quarteirões sombrios onde habitei durante 
a minha última encarnação, pobres mulheres arrastando 
consigo miseráveis crianças a quem tudo faltava. Ricos! 
pensai nisto um pouco. Auxiliai os infelizes o melhor que 
puderdes. Dai, para que Deus, um dia, vos retribua o bem 
que houverdes feito, para que tenhais, ao sairdes do vosso 
invólucro terreno, um cortejo de Espíritos agradecidos, 
a receber-vos no limiar de um mundo mais ditoso. Se 
pudésseis saber da alegria que experimentei ao encontrar 
no Além aqueles a quem, na minha última existência, me 
fora dado servir! Amai, portanto, o vosso próximo; amai-o 
como a vós mesmos, pois já sabeis, agora, que, repelindo um 
desgraçado, estareis, quiçá, afastando de vós um irmão, um 
pai, um amigo vosso de outrora. Se assim for, de que desespero 
não vos sentireis presa, ao reconhecê-lo no mundo dos Espíritos! 
Desejo compreendais bem o que seja a caridade moral, que 
todos podem praticar, que nada custa, materialmente falando, 
porém, que é a mais difícil de se exercer. A caridade moral 
consiste em se suportarem umas às outras as criaturas e é 
As norte-americanas, irmãs Fox, revolucionaram sua 
época comunicando-se com os espíritos
Os espíritas formam o 
terceiro maior grupo 
religioso do Brasil. São 
2,3 milhões de adeptos 
e, estima-se, 30 milhões 
de simpatizantes
o que menos fazeis nesse mundo inferior, onde vos achais, 
por agora, encarnados. Grande mérito há, crede-me, em um 
homem saber calar-se, deixando que fale outro mais tolo 
do que ele. É um gênero de caridade isso. Saber ser surdo 
quando uma palavra zombeteira se escapa de uma boca 
habituada a escarnecer; não ver o sorriso de desdém com 
que vos recebem pessoas que, muitas vezes erradamente, 
se supõem acima de vós, quando na vida espírita, a única 
real, estão, não raro, muito abaixo, constitui merecimento, 
não do ponto de vista da humildade, mas do da caridade, 
porquanto não dar atenção ao mau proceder de outrem é 
caridade moral. Essa caridade, no entanto, não deve obstar 
à outra. Tende, porém, cuidado, principalmente em não tratar 
com desprezo o vosso semelhante. Lembrai-vos de tudo o que já 
vos tenho dito: Tende presente sempre que, repelindo um pobre, 
talvez repilais um Espírito que vos foi caro e que, no momento, 
se encontra em posição inferior à vossa. Encontrei aqui um dos 
pobres da Terra, a quem, por felicidade, eu pudera auxiliar algumas 
vezes, e ao qual, a meu turno, tenho agora de implorar auxilio. 
Lembrai-vos de que Jesus disse que todos somos irmãos e pensai 
sempre nisso, antes de repelirdes o leproso ou o mendigo. 
Adeus: pensai nos que sofrem e orai.” Irmã Rosália (Paris, 1860) 
O amor é universal
6
Di
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B
7
Na América e na Europa, as 
mesas girantes
 Rivail, pedagogo francês, fluente em diversos idiomas, 
autor de livros didáticos e adepto de um rigoroso método de 
investigação científica, não aceitou de imediato os fenômenos das 
mesas girantes, mas estudou-os atentamente. A conclusão das 
observações é que o que movia as mesas era uma força inteligente, 
a qual mais tarde ele concluiu e identificou como os “espíritos 
dos homens” que haviam morrido. Para obter essa conclusão, o 
pedagogo fez centenas de perguntas aos espíritos e, então, analisou 
as respostas, comparou-as e codificou-as, submetendo-as a uma análise 
detalhada e racional. 
 O resultado da pesquisa foi a publicação de “O Livro 
dos Espíritos”, escrito pelo professor Rivail e assinado com 
o pseudônimo de Allan Kardec, para diferenciá-lo de suas 
obras científicas, até então publicadas. A experiência como 
investigador científico fez com que Rivail, hoje mais conhecido 
como Kardec, fixasse a aliança da ciência com a religião em suas 
condições preliminares. Em uma de suas obras, “A Gênese”, 
ele salienta: “O Espiritismo marchando com o progresso jamais 
será ultrapassado porque, se novas descobertas demonstrassem 
estar em erro sobre um certo ponto, ele se modificaria sobre 
esse ponto; se uma nova verdade se revelar, ele a aceitará”.
7
 Os bons espíritos 
atraem para o bem 
e os imperfeitos 
induzem ao erro
Brasil: um caldeirão de culturas
 Divulgado em praticamente toda a Europa no século 19, o 
Espiritismo chegou ao Brasil em 1865. Essencialmente católicos, 
os brasileiros são particularmente tolerantes a diferentes religiões 
e culturas e foi assim que o País acabou por reunir o maior 
número de espíritas em relação a nada menos que todo o 
mundo, além de a doutrina ter alcançado a posição de terceiro 
maior grupo religioso do País. São 2,3 milhões de adeptos, 
segundo o último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de 
Geografia e Estatística (IBGE). Porém esse número é ainda 
maior, pois estima-se em 30 milhões o número de simpatizantes 
à doutrina. Outro dado de relevância: vinculadas à Federação 
Espírita Brasileira, há dez mil instituições ou centros.
 Por aqui, a imagem dos seguidores dos princípios está forte-
mente associada à prática do bem, da caridade e do respeito 
aos praticantes de todas as religiões. Isso porque, em todos os 
Estados brasileiros, os centros espíritas mantêm instituições de 
auxílio, assistência e promoção social. Mas a essência é bem 
mais complexa do que isso...
 A primeira manifestação registrada oficialmente no Brasil 
aconteceu em 1845, no distrito de Mata de São João. Pouco 
mais tarde, em 31 de março de 1848, dessa vez em Hydesvylle/ 
Nova York (EUA), duas crianças receberam mensagem de um 
Nessa montagem, Jesus Cristo, Alan Kardec e Chico Xavier: ícones espíritas
Ilu
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tos
8
· Deus é a inteligência suprema, causa primeira de todas as 
coisas. É eterno, onipotente, soberanamente justo e bom;
· Além do mundo corporal existe o espiritual, habitação 
dos espíritos desencarnados;
. O homem é um espírito encarnado em um 
corpo material; 
· Os espíritos são os seres inteligentes da criação. Eles evol-
uem, intelectual e moralmente, até a perfeição;
· Cada espírito preserva sua individualidade, antes, durante 
e depois de cada encarnação;
· O número de reencarnações varia de acordo com cada 
espírito, sendo quantas vezes forem necessárias ao aprimo-
ramento. Há evolução sempre, podendo até estacionar, mas 
nunca regredir. A rapidez do progresso depende dos seus 
esforços;
· As relações dos Espíritos com os homens são constantes 
Allan Kardec, o 
decodificador do 
Espiritismo, era 
respeitado ped-
agogo, cientista, 
filósofo e tradutor. 
Falava seis 
idiomas
8
e sempre existiram;
. Os bons Espíritos nos atraem para o bem. Os 
imperfeitos nos induzem ao erro;
· Jesus é o guia e modelo para toda a humanidade. A 
doutrina que Ele ensinou e exemplificou é a expressão 
mais pura da lei de Deus;
· O homem tem o livre-arbítrio para agir, mas responde 
pelas conseqüências de suas ações;
· A vida futura reserva aos homens penas e alegrias de 
acordo com o procedimento de respeito ou não à lei 
de Deus;
· A prece é um ato de adoração a Deus. Aquele que 
ora com fervor e confiança se faz mais forte contra as 
tentações do mal e Deus lheenvia bons espíritos para 
assisti-lo.
Consultoria: Federação Espírita Brasileira (FEB)
Princípios básicos do Espiritismo
espírito. Elas marcaram a comunicação entre homens e espíritos 
e ficaram mundialmente conhecidas como as irmãs Fox. 
 No ano de 1856, Rivail recebeu na França a revelação de 
sua missão na Terra como o codificador do Espiritismo. Foi 
ele, inclusive, que criou as palavras “espírita” e “Espiritismo” e, 
a partir de então, ficou mais conhecido como Allan Kardec. 
Segundo as palavras do estudioso: “Para coisas novas, nomes 
novos”. Os estudos eram ininterruptos e, após diversos testes 
e análises racionais, sob crivos filosófico, científico e religioso, 
Allan Kardec publicou em Paris, em 18 de abril de 1857, os 
primeiros exemplares de “O Livro dos Espíritos”.
 De volta ao Brasil, Luiz Olímpio Teles de Menezes fundou 
em Salvador, Bahia, o Grupo Familiar de Espiritismo, no ano de 
1865. Desse momento em diante, surgiu também na Bahia uma 
revista específica sobre o assunto e um novo local de estudos 
espíritas foi inaugurado no Rio de Janeiro. Em 1º de janeiro 
de 1884, foi fundada a Federação Espírita Brasileira e em 2 de 
abril de 1910 nasceu, em Pedro Leopoldo (MG), o principal 
expoente espírita brasileiro: Francisco Cândido Xavier. 
 Outro marco espírita no Brasil aconteceu em 1949, com 
a aprovação dos 18 itens do pacto áureo, um dos mais impor-
tantes documentos do Espiritismo no País. Pouco mais de uma 
década depois, em 1860, a FEB (Federação Espírita Brasileira) 
foi declarada pelo Presidente Juscelino Kubitschek como “enti-
dade de utilidade pública”.
 A doutrina espírita nada mais é que o conjunto de princípios e leis, revelado pelos espíritos superiores, contidos nas obras 
de Allan Kardec. Alguns dos ensinamentos fundamentais são:
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B
9
Os princípios
 “O Espiritismo realiza o que Jesus disse do Consolador 
prometido: conhecimento das coisas, fazendo com que o 
homem saiba de onde vem, para onde vai e por que está 
na Terra; atrai para os verdadeiros princípios da lei de Deus 
e consolação pela fé e pela esperança”, escreveu Allan 
Kardec em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. A sen-
tença já é uma prévia dos ensinamentos que buscam nortear 
a todos os seus seguidores, independentemente da religião 
de cada um. Isso porque o Espiritismo não exclui outras fés, 
assim como o Budismo. 
 E no que consiste o Espiritismo? A doutrina é o conjunto 
de princípios e leis revelados pelos espíritos superiores, contido 
nas obras de Allan Kardec que constituem a Codificação 
Espírita. Elas são cinco: “O Livro dos Espíritos”, “O Livro dos 
Médiuns”, “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, “O Céu e o 
Inferno” e “A Gênese”. Por meio dessas ferramentas, os espíritos 
mais evoluídos revelam conceitos aprofundados a respeito de 
Deus, do universo, dos homens, dos espíritos e das leis que 
regem a vida de maneira seqüencial, de modo que as pessoas 
que acreditam na doutrina (e a estudam) entendam melhor o 
objetivo da existência e a razão da dor e do sofrimento. 
 Os ensinamentos começam salientando que Deus é a 
inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas. Ele é 
eterno, imutável, imaterial, único, onipotente e soberanamente 
justo e bom. O universo é Sua criação e abrange todos os 
seres animados e inanimados, materiais e imateriais, e nele 
há outros mundos habitados, com seres de diferentes graus 
de evolução. Até então, há diretrizes muito comuns também 
em outras religiões. O que difere bastante e o que é uma das 
características mais marcantes do Espiritismo é a crença de que, 
além do mundo corporal, existe o mundo espiritual, no qual 
coabitam os espíritos desencarnados.
 Para isso ser possível, é preciso saber que os espíritos 
reencarnam (ou nascem de novo) quantas vezes forem 
necessárias ao seu aprimoramento. Em cada vida, há evolução 
ou, no mínimo, permanência de estado, nunca regressão. A 
rapidez de cada progresso depende dos esforços de cada um 
e as relações dos espíritos com os homens são constantes, 
sempre existiram. Logicamente, os bons espíritos atraem para o 
bem e os imperfeitos induzem ao erro.
 O guia e modelo para toda a humanidade é Jesus, 
tido como o Espírito Perfeito, e a doutrina que Ele ensinou 
e exemplificou é a expressão mais pura da Lei de Deus. A 
moral do Cristo é o roteiro para a evolução segura de todos 
os homens. Cada ser humano tem o livre-arbítrio para agir, mas 
responde pelas conseqüências de suas ações, sendo por isso 
que a vida futura reserva aos homens penas e alegrias, de acordo 
com o procedimento de respeito ou não à Lei de Deus. Para 
quem acredita na doutrina, a prece é um excelente caminho 
para se fortalecer contra as tentações do mal. 
“O Livro dos Espíritos” foi a primeira 
obra espírita de Kardec
Congresso comemora 
bicentenário de Kardec
 Espíritas de todas as partes do mundo 
participarão do IV Congresso Espírita Mundial, 
promovido pelo Conselho Espírita Internacional 
e realizado pela União Espírita Francesa e 
Francofônica. Programado para realizar-se 
na Maison de la Mutualité, em Paris, França, 
no período de 2 a 5 de outubro de 2004, 
o evento vai homenagear Allan Kardec em 
seu bicentenário de nascimento, no país 
em que a Doutrina Espírita surgiu e tem o 
objetivo de divulgar os princípios espíritas.
Para mais informações, acesse o site da FEB: 
www.febnet.org.br. 
9
Divulgação/ FEB
10
ESPIRITISMOESPIRITISMO
Espíritos na pré-escola
 Assim como os bebês, segundo a doutrina, os espíritos 
nada sabem ao serem criados e precisam passar por um processo 
de aprendizagem, que acontece durante as encarnações. Antes 
disso, é interessante entender que, para os espíritas, o homem 
é um espírito encarnado em um corpo material e o perispírito é 
o corpo semi-material que une o espírito ao corpo material.
 Os espíritos são os seres inteligentes da criação e eles pré-
existem e sobrevivem a tudo. Assim, cada um deles (ou de 
nós) evolue intelectual e moralmente e passa de uma ordem 
inferior para outra mais elevada, até a perfeição, estágio em que 
goza de inalterável felicidade. 
 Cada espírito é único e preserva sua individualidade antes, 
durante e depois de cada encarnação. Há os espíritos puros, 
que atingiram a perfeição máxima; os bons espíritos, nos quais 
o desejo do bem é o que predomina; e os espíritos imperfeitos, 
caracterizados pela ignorância, pelo desejo do mal e pelas 
paixões inferiores. 
“Nascer, morrer, renascer 
ainda e progredir sem cessar, 
tal é a lei” 
Frase esculpida no monumento druida 
do cemitério Père-Lachaise
O que você sente?
 O ideal é que todo espírita cultive bons pensamentos 
e ações de maneira a elevar-se e aproximar-se da perfeição 
e, conseqüentemente, da felicidade eterna. Assim, alguns 
sentimentos são trabalhados e buscados com freqüência 
durante todas as etapas evolutivas dos espíritos. Um deles é 
a misericórdia. A definição dada pelos estudiosos do tema é 
que ela é o complemento da brandura, uma vez que aquele 
que não for misericordioso não poderá ser brando e pacífico. 
A misericórdia consiste no esquecimento e no perdão das 
ofensas, lembrando que o ódio e o rancor denotam alma sem 
elevação ou grandeza. 
 A base está nos ensinamentos do evangelho, segundo os 
relatos das palavras de Jesus Cristo. “Ama o próximo como a ti 
mesmo”, ou, faça pelos outros o que gostaria que eles fizessem 
por você. Essa é a expressão mais completa da caridade, porque 
resume todos os deveres do homem para com o próximo e, de 
uma maneira bastante natural, tende a destruir o egoísmo. 
 Numa intensidade maior e, no caminho do progresso 
evolutivo, a lei do amor é primordial. Ela está inserida em todos 
os ensinamentos deixados por Jesus por ser a excelência de 
todos os sentimentos positivos. Cabe lembrar que, em sua 
origem, o homem só tem instintos e, quando mais avançado 
e corrompido, só tem sensações. Mais para frente, quando 
instruído e depurado, tem sentimentos e o ponto mais delicado 
do sentimento é o amor, no sentidomais amplo da palavra. 
 A lei de amor, assim, substitui a personalidade pela fusão dos 
seres e, por meio dela, manifestam-se a caridade e a humildade 
espontânea e sincera. E é nesse momento que todas as premissas 
se fundem e criam o amor incondicional. “E aqui está o segundo 
mandamento que é semelhante ao primeiro, isto é, que não se 
pode verdadeiramente amar a Deus sem amar ao próximo, nem 
amar o próximo sem amar a Deus. Logo, tudo o que se faça contra 
o próximo, o mesmo é que fazê-lo contra Deus. Não podendo 
amar a Deus sem praticar a caridade para com o próximo, todos os 
deveres do homem se resumem nesta máxima”. 
10
Nos saraus europeus do início do século 19, era comum 
a “brincadeira” das mesas girantes
Ilustração: Fábio Matos 
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Contexto histórico e bases espíritas
uis Deus que a nova revelação chegasse aos ho- 
mens por mais rápido caminho e mais autêntico. 
Incumbiu, pois, os Espíritos de levá-la de um pólo 
a outro, manifestando-se por toda a parte, sem con-
ferir a ninguém o privilégio de lhes ouvir a palavra. Um homem 
pode ser ludibriado, pode enganar-se a si mesmo; já não será 
assim, quando milhões de criaturas vêem e ouvem a mesma 
coisa. Constitui isso uma garantia para cada um e para todos. 
Aos demais, pode fazer-se que desapareça um homem; mas 
não se pode fazer que desapareçam as coletividades; podem 
queimar-se os livros, mas não se podem queimar os Espíritos”. 
A mensagem está em “O Livro dos Espíritos” e explica uma 
das bases filosóficas do Espiritismo, chamada universalidade. A 
essência é que todos os ensinos da doutrina foram transmitidos 
a diversos médiuns, em locais e tempos diferentes, ao redor de 
todo o mundo. E isso lhe garante veracidade e credibilidade. 
 O Espiritismo moderno começou na França, em plena era 
do Iluminismo. “Para os espíritas, o século 18 foi uma época na 
qual espíritos elevados, de alto saber na ciência e na filosofia, 
começaram a reencarnar em solo gaulês para combater os erros 
da sociedade e da política em contraposição ao jugo da Igreja”, 
explica o psicólogo e historiador espírita Eduardo Carvalho 
Monteiro. O fato é que a genialidade dos pensamentos e 
obras levou o mundo ocidental a rediscutir a sociedade e o 
homem e, a partir da “Enciclopédia ou Dicionário Racional das 
A doutrina espírita foi 
codificada no século 19 
e fundamentada com 
experimentos práticos, 
analisados sob critérios 
filosóficos e científicos
“Q
Contexto histórico
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Ciências, das Artes e dos Ofícios”, lançado em 35 volumes 
com desenhos, ilustrações e mapas, de Denis Diderot e Jean 
lê Rond D’Alembert, a sociedade francesa não foi mais a 
mesma. O absolutismo monárquico começou a ser com-
batido, a nobreza e o clero com seus privilégios não foram 
mais aceitos sem contestações e os pilares que sustentavam as 
estruturas, até então vigentes, começam a ser derrubados.
A Revolução Francesa e o Espiritismo
 A transformação almejada é reforçada por livros como 
“O Espírito das Leis”, de Montesquieu (1748); “O 
Contrato Social”, de Rousseau (1762); “Cartas Filosóficas”, 
de Voltaire (1773); “A Ordem Natural e Essencial das 
Sociedades Políticas”, de La Riviére (1767), que acreditavam 
em mudanças do mundo por meio de uma reciclagem de seu 
pensamento e ampliação das perspectivas do conhecimento, 
devolvendo ao homem a consciência de si mesmo.
 Assim, a partir de 1780, o clamor popular das reivin-
dicações e o colapso da administração real forçaram o rei 
a criar uma Assembléia Nacional na França que ajudou na 
ascensão de líderes carismáticos, como Danton, Robespierre, 
Desmoulins, Marat, Tocqueville, Mirabeau e outros, os quais 
se tornariam os artífices da Revolução Francesa de 1789. Dela, 
destaca-se a síntese das idéias revolucionárias e o símbolo 
político-social de uma organização ideal nos 17 artigos da 
“Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”, atual 
até os dias de hoje, consagrando as idéias iluministas.
 O desenrolar histórico da transformação do homem e 
do mundo prosseguiu com muitas dificuldades e turbulências 
políticas por intermédio de Napoleão Bonaparte que, apesar 
das atitudes totalitárias que cometeu, concretizou o grande 
sonho iluminista: o Código Civil. Em meados do século 
19, apropriadamente denominado “das Luzes”, os espíritas 
acreditavam que as forças equilibrantes do universo haviam 
oferecido à humanidade uma revelação e transformação 
religiosa em contrapartida ao Positivismo materialista nascente 
na França e na Alemanha. Esse equilíbrio era o Espiritismo. 
Os precursores da doutrina
 A crença espírita diz que “nenhum campo pode oferecer 
boa plantação se não tiver o solo sido convenientemente 
preparado e semeado”. Assim, muitos espíritos missionários 
reencarnaram para favorecer o surgimento do Espiritismo. O 
vidente sueco Emanuel Swedenborg (1668-1772), grande 
autoridade em física e astronomia, fazia prodígios em estados 
alterados de consciência e dizia que “todas as afirmações em 
matéria de teologia são, como sempre foram, arraigadas no 
cérebro e dificilmente podem ser removidas; e enquanto aí 
estiverem, a verdade genuína não encontrará lugar”.
 Outra história interessante é a de Edward Irving 
(1792-1834), ministro presbiteriano, também de grande 
interesse para o Espiritismo. Irving, pertencente à classe de 
trabalhadores braçais escoceses, pregava curas espirituais e 
o dom de falar línguas estranhas em sua igreja. Na mesma 
época, grupos shakers (refugiados religiosos da Inglaterra) se 
estabeleceram em comunidades nos Estados Unidos onde 
cultivavam o mediunismo, que chegou a se manifestar em 
forma de transes coletivos durante sete anos consecutivos, 
após os quais os entes manifestantes, que se diziam 
espíritos, retiraram-se afirmando que retornariam em breve e 
invadiriam o mundo, entrando tanto nas choupanas quanto 
nos palácios. Essas experiências foram descritas em inúmeros 
livros e artigos da época.
 Andrew Jackson Davis (1826-1910), grande médium 
vidente, clarividente, audiente, de xenoglossia, psicógrafo 
e psicofônico, ditou mais de 30 livros em estado de 
transe que tiveram grande impacto nos Estados Unidos. 
Impressionavam o público com suas profecias e chegaram 
a adiantar, antes de 1856, o episódio de Hydesville, além 
de detalhes do automóvel e da máquina de escrever que só 
seriam inventados muito posteriormente.
 Os fenômenos mediúnicos produzidos em 1840, na 
Alemanha, pelo médium inconsciente Gottlieben Dittus; 
as belas comunicações espirituais obtidas pela médium 
sonâmbula Adèle Marginot sob a orientação de Alphonse 
Cahaganet, que editou, em 1847, “Os Arcanos da Vida 
Futura Revelados”; as notáveis comunicações mediúnicas da 
vidente de Prevost, Frédérique Hauffer, registradas pelo dr. 
Justinus Kerner em 1829 são exemplos de pessoas que an-
teciparam e prepararam a chegada do Espiritismo. 
 
Hydesville e as irmãs Fox
 A noite de 31 de março de 1848 marcou para sempre a 
história e inaugurou a era das pesquisas científicas psíquicas 
 “Fé inabalável só o é a que 
pode encarar frente a frente a 
razão, em todas as épocas 
da humanidade” 
Allan Kardec em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”
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e mediúnicas. Segundo o criador de Sherlock Holmes, Arthur Conan 
Doyle, em Hydesville, 31 de março de 1848, teve início o marco inicial 
do que se convencionou chamar “Espiritualismo Moderno”. 
 Uma ocorrência numa pequena cabana em Hydesville, 
Estado de Nova York, que deveria ser corriqueira, transformou-se 
em caso internacional e sua repercussão deflagrou o início do maior 
movimento espiritualista que a Terra já vivenciou. 
 Em dezembro de 1847, a família Fox composta pelo senhor John 
Fox, sua esposa Margareth e três filhas, Margareth, Katharine e 
Ana Leah, mudou-se para Hydesville indo residir numa casa 
de madeira que tinha a fama de ser mal-assombrada. Apesar 
de sempre ouvirem pequenos ruídos e batidas, os Fox já se 
estavam acostumando com a casa, mas naquela noite os 
barulhos intensificaram-see acordaram a todos. As meninas, 
em sua ingenuidade juvenil, logo perceberam que as batidas, 
denominadas posteriormente de raps, respondiam a seus 
estalos de dedos e palmas, procurando com isso estabelecer um 
contato entre o mundo visível e o invisível que desconheciam.
 “Senhor Pé-rachado, faça o que eu faço” (...) e seguiu-se o 
mesmo número de raps ao das palmas batidas por Margareth. 
Em seguida, repicou: “Agora faça exatamente como eu. Conte 
um, dois, três, quatro” e bateu palmas, sendo imitada nos sons 
pelo misterioso ser invisível. O termo “pé-rachado” deve-se à 
maneira que os norte-americanos se referiam ao demônio ou 
“cabra”. 
 A senhora Fox também quis testar a produção das batidas e 
pediu a quem ali estivesse que desse a idade de todos os seus 
sete filhos. Fazendo uma pausa entre um e outro filho, por meio 
do número de batidas o ser invisível acertou a idade de todos, 
inclusive do mais novo que morrera com três anos. Aquela 
era uma resposta inteligente que tão somente a família recém-
mudada poderia saber. E o diálogo por intermédio das batidas 
pôde prosseguir para espanto da mãe, Margareth Fox.
 Esse modo de intercâmbio entre os dois mundos recebeu o 
nome de tiptologia. Por esse método, a senhora Fox conseguiu 
saber que aquele espírito, como ele próprio se definira, havia 
vivido na Terra, fora assassinado naquela casa e seu corpo en-
terrado na parede da adega. Identificou-se como Charles Bryan 
Rosma, deu detalhes de sua família e se prontificou a continuar 
se comunicando por meio das batidas para que houvesse out-
ras testemunhas. Primeiramente os vizinhos, depois os curiosos 
que vinham de longe e, posteriormente, grupos de cientistas 
estudaram os fenômenos e os confirmaram. Elder Evans e outro 
shaker foram visitar as irmãs Fox e tão logo tomaram conhecimen-
to das manifestações espíritas ocorridas com elas, tendo sido sau-
dados entusiasticamente pelas forças invisíveis que diziam ser aqueles 
“O Livro dos Espíritos” foi lançado, na livraria Dentu, em Paris, no século 19
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Divulgação/ FEB
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ESPIRITISMOESPIRITISMO
fenômenos resultado do que fora predi-
to aos shakers quatro anos antes.
 Parte dos ossos de Rosma foi 
encontrada onde o espírito havia 
revelado, poucos dias depois, e 
outra parte, 56 anos mais tarde, no 
jardim, mostrando que os assassinos, 
receosos de serem descobertos, 
transferiram sua sepultura, deixando 
vestígios e ossos nos dois locais. 
 A casa de madeira de John 
Fox envelheceu e desmoronou em 
parte e, em 1916, Benjamin F. Bartlett 
adquiriu os restos do antigo barracão e providencialmente re-
construiu-o na cidade de Lily Dale (NY), na sede da Lily Dale 
Spiritualist Camp, onde é conservado até hoje como testemu-
nha do grande acontecimento espiritual de 31 de março de 
1848, em Hydesville.
 
Grandes nomes passam a acreditar
 As irmãs Fox e suas comunicações com os espíritos ficaram 
conhecidas em diversas regiões do mundo e a reprodução dos 
fenômenos passou a acontecer em várias regiões dos Estados 
Unidos. Tanto que, em janeiro de 1851, um conceituado ju-
rista chamado John Worth Edmonds, ex-senador, ex-juiz da 
Supremo Tribunal de Nova York e um dos homens mais con-
ceituados do país, materialista convicto, converteu-se à crença 
da existência dos espíritos após presenciar diversos fenômenos 
de efeitos físicos e intelectuais produzidos sob o mais rigoro-
so controle. E outros homens de prestígio testemunharam 
os fenômenos e passaram a acreditar em suas veracidades. 
Entre eles, o ex-Governador de Wiscousin e Senador N. P. 
Tallmadge e os professores da Universidade de Harvard W. 
Briant, B. K. Bliss, W. Edwards e David A. Wells, que public-
aram um manifesto em apoio à autenticidade do fenômeno da 
levitação das mesas
Máximas da 
Doutrina Espírita
* Fora da caridade não há salvação;
* Fé inabalável é aquela que pode 
encarar a razão face a face em todas as 
épocas da humanidade;
* Nascer, morrer, renascer ainda e viver 
sempre, tal é a lei;
* Reconhece-se o verdadeiro espírita 
pela sua transformação moral e pelos 
esforços que faz para dominar suas más 
inclinações;
* Todo efeito tem uma causa. Todo efeito 
inteligente tem uma causa inteligente. O 
poder da causa inteligente está na razão 
da grandeza do efeito.
Comunicar-se era preciso
 Foi em fins de 1850 que os es-
píritos indicaram uma nova maneira 
de se comunicar: por meio de mesas 
comuns. No princípio, elas só gira-
vam. Várias pessoas em torno de uma 
mesa colocavam as mãos sobre ela e o 
móvel começava a girar. Via-se, então, 
um corpo mais pesado que o ar flutuar 
sem ser tocado por ninguém. Eram os 
fluidos de uma ou mais pessoas do gru-
po que proporcionavam as condições 
para que isso acontecesse. Quando o efeito começava a se 
produzir, geralmente se ouvia um pequeno estalido na mesa 
que era o prelúdio do movimento. Alguns móveis dançavam 
ou subiam até o teto. 
 Mas não bastava. Os espíritos também queriam falar através 
das mesas. Levantando um dos pés, enquanto se recitava o 
alfabeto, os espíritos davam uma pancada com ela no chão toda 
vez que se proferisse a letra que servisse ao que eles quisessem 
dizer. Esse processo lento, mas eficaz, produziu resultados ex-
celentes e provou tanto a curiosos quanto a homens céticos a 
realidade da vida além-túmulo. 
 Para se ter uma idéia mais palpável sobre a que ponto essas 
manifestações penetraram no cotidiano dos norte-americanos, 
em 1853 foi feita uma petição por 15.000 cidadãos, entregue 
ao Congresso em Washington, solicitando a formação de uma 
comissão especial para o estudo dos “espíritos batedores e das 
mesas girantes”. Outra evidência de como os fenômenos at-
raíam curiosos é que, após os acontecimentos de Hydesville, 
uma seita chamada “Espiritualista” agregou 500.000 crentes e 
30.000 médiuns.
 Não tardou para que essa “mania” atravessasse o Atlântico 
e virasse “moda” nos salões dos intelectuais, em Paris. O inter-
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esse deles era apenas a diversão, uma 
vez que ter o poder de levantar e girar 
mesas parecia instigante, tanto que há 
desenhos da época que revelam ele-
gantes senhores e senhoras em volta de 
uma mesa, fazendo-a rodopiar no ar.
 Para melhorar a comunicação entre 
os espíritos e os homens, outras formas 
foram sendo criadas. Uma delas era uma 
cesta com cerca de 15 a 20 centímetros 
de diâmetro, na qual se amarrava um lá-
pis com a ponta para fora e para baixo. 
Mantida a cesta em equilíbrio sobre 
uma folha de papel, o médium encostava o seu dedo nela e a 
cesta se colocava em movimento, manipulada pelo espírito que 
escrevia sobre o papel.
 
Estudar os fenômenos, eis a questão
 Rivail, que mais tarde ficaria consagrado como Allan 
Kardec, o codificador do Espiritismo, teve seu primeiro contato 
com os fenômenos em 1854. Nessa data, o pesquisador ouviu 
pela primeira vez falar das mesas girantes, segundo ele próprio 
relataria mais tarde em “Obras Póstumas”. 
 “Encontrei um dia o senhor Fortier, a quem eu conhecia des-
de muito tempo e que me disse: Já sabe da singular propriedade 
que se acaba de descobrir no magnetismo? Parece que já não 
somente as pessoas que se podem magnetizar, mas ,também, 
as mesas conseguindo-se que elas girem e caminhem à vontade. 
– É, com efeito, muito singular, respondi, mas a rigor, isso não 
me parece radicalmente impossível. O fluido magnético, que é 
uma espécie de eletricidade, pode perfeitamente atuar sobre os 
corpos inertes e fazer com que eles se movam. Algum tempo 
depois, encontrei-me novamente com o senhor Fortier, que me 
disse: Temos uma coisa muito mais extraordinária; não só se 
Oscinco 
princípios da 
base do
Espiritismo
 
I ) Crença em um Deus único e perfeito, 
criador de todas as coisas;
II) Crença na sobrevivência do espírito;
III) Comunicabilidade dos espíritos 
desencarnados;
IV) Pluralidade dos mundos habitados;
V) Reencarnação (lei de causa e efeito).
consegue que uma mesa se mova, 
magnetizando-a, como também quefale. Interrogada, ela responde. – Isto 
agora, repliquei-lhe, é outra questão. 
Só acreditarei quando o vir e quando 
me provarem que uma mesa tem cére-
bro para pensar, nervos para sentir e 
que possa tornar-se sonâmbula. Até 
lá, permita que eu não veja no caso 
mais do que um conto para fazer-nos 
dormir em pé”.
 A resposta de Rivail foi dada de 
acordo com sua formação racionalista 
e científica. E ele preferiu investigar antes para depois tirar suas 
conclusões. Assim, o próximo passo da trajetória do profes-
sor foi observar os fenômenos das mesas girantes. Porém, ele 
acrescentou às suas experimentações sérias e criteriosas, deduções 
filosóficas e morais que continham explicações para as perguntas 
que mais incomodavam o homem no correr das eras, como: “De 
onde vim? Para onde vou? Quem sou eu?”.
 Segundo relatos de Allan Kardec, o primeiro contato 
aconteceu da seguinte maneira: “Passado algum tempo, pelo 
mês de maio de 1855, fui à casa da sonâmbula sra. Roger, 
em companhia do sr. Fortier, seu magnetizador. Lá encontrei 
15
“Para se designarem coisas 
novas são precisos 
termos novos” 
Allan Kardec, em “O Livro dos Espíritos”, em 
alusão à criação das palavras “espírita” 
e “Espiritismo”
16
ESPIRITISMOESPIRITISMO
16
Victor Hugo e
o Espiritismo
 Victor Hugo, a maior expressão do romantismo 
francês, auto-exilado na Ilha de Jersey, recebeu em 
6 de setembro de 1853 a histórica visita de Madame 
Girardin, inspirada poetisa, romancista e teatróloga, 
precocemente celebrizada aos 16 anos por sua talen-
tosa obra intelectual. Nos dez dias em que permane-
ceu na Ilha, Madame Girardin conviveu na intimidade 
com Hugo e seu grande amigo, o poeta e dramaturgo 
Auguste Vacquerie.
 Girardin falou-lhes, então, da grande mania dos 
salões de intelectuais franceses: as mesas girantes. 
Posteriormente, Vacquerie escreveria sobre o 
assunto: “Quando se falava das mesas girantes, 
nós duvidávamos. Havíamos feito experiências com 
elas, mas sem êxito certo. Víamos, sobretudo, na 
atenção que em todas as partes se dedicava a estes 
fenômenos uma armadilha da polícia francesa para 
distrair o público das vergonhas do governo”.
 Madame Girardin revelou-lhes que as mesas, além 
de flutuarem, comunicavam-se e, então, não precisou 
muita argumentação para que os anfitriões cedessem ao 
convite dela para que procedessem às experiências com 
as mesas em Marine-Terrace, como Hugo chamava sua 
residência em Jersey. Nos primeiros dias, as tentativas 
foram em vão, mas no último dia da visita de Madame 
Girardin à ilha eles se manifestaram e, a partir daí, 
Victor Hugo, sua família e Vacquerie não passavam um 
dia sequer sem estabelecer contato com os espíritos. 
Memoráveis diálogos se travaram então entre Victor 
Hugo e Moliére, Sheakspeare, Ésquilo, Dante e outros 
espíritos de grande projeção intelectual na vida terrena. 
 Assim, Hugo e a família, que tinha Carlos, o pri-
mogênito como médium principal, reuniam-se todas as 
noites depois do jantar para a rotina dos intercâmbios es-
pirituais. E foi por intermédio da mesa que Leopoldine, 
filha de Victor Hugo, em emocionante episódio, voltou 
para lhes falar que não morrera e continuava presente no 
ambiente familiar. Vacquerie era o encarregado do registro 
das reuniões, perenizando assim a vivência espírita do 
grande romancista francês Victor Hugo.
o sr. Pâtier e a sra. Plainemaison, que daqueles fenômenos me 
falaram no mesmo sentido em que o sr. Carlotti se pronunciara, 
mas em tom muito diverso. O sr. Pâtier era funcionário público, 
já de certa idade, muito instruído, de caráter grave, frio e calmo; 
sua linguagem pausada, isenta de todo entusiasmo, produziu 
em mim viva impressão e, quando me convidou a assistir às 
experiências que se realizavam na casa da sra. Plainemaison, na 
Rua Grange-Batelière, 18, aceitei imediatamente. A reunião foi 
marcada para uma terça-feira de maio às 20 h. Foi aí que, pela 
primeira vez, presenciei o fenômeno das mesas que giravam, 
saltavam e corriam em condições tais que não deixavam lugar 
para qualquer dúvida. Assisti, então, a alguns ensaios, muito 
imperfeitos, de escrita mediúnica numa ardósia, com o auxílio 
de uma cesta. Minhas idéias estavam longe de precisar-se, mas 
havia ali um fato que necessariamente decorria de uma causa.”
 
Experimentos e descobertas
 Numa das reuniões da sra. Plainemaison, o então professor 
Rivail conheceu o senhor Baudin e este o convidou a assistir 
às sessões que se realizavam em sua casa. Rivail logo se tornou 
assíduo desses encontros, que contavam com muitos freqüen-
tadores e tinham como médiuns as duas senhoritas Baudin, que 
escreviam numa ardósia com o auxílio de uma cesta chamada 
carrapeta e que se encontra descrita no “Livro dos Médiuns”. 
Esse processo, que exige a participação de duas pessoas, ex-
clui toda possibilidade de intromissão das idéias do médium e, 
justamente por isso, dava ainda maior credibilidade. 
 Àquela altura, Allan Kardec percebeu que os fenômenos 
aos quais observava escapavam às possibilidades do magnetis-
mo. Envolvido pelo plano espiritual, reconhecia a presença de 
uma força superior e a atuação de inteligências extra-corpóreas 
nos fenômenos, mas repelindo por seu espírito racional as 
revelações, apenas aceitava o que observava pela via lógica das 
deduções. Assim, ele procedeu em todos os seus trabalhos, 
desde os 15 ou 16 anos. Após ter constatado a impossibilidade 
de fraudes por parte dos médiuns que, a exemplo das adoles-
centes irmãs Baudin, não teriam condições de formular respostas 
tão pertinentes para as complexas questões propostas, Kardec 
entregou-se ao estudo racional e experimental do Espiritismo 
que findaria na edição de “O Livro dos Espíritos”. Para testar os 
médiuns, Rivail fazia questões dos problemas que lhe interessa-
vam, sobre filosofia, psicologia e da natureza do mundo invisível. 
Levava para cada sessão uma série de questões preparadas e 
metodicamente dispostas e elas eram sempre respondidas com 
precisão, profundeza e lógica. 
17
 “Eu, a princípio, cuidara apenas de instruir-me. Mais tarde, 
quando vi que aquilo constituía um todo e ganhava as propor-
ções de uma doutrina, tive a idéia de publicar os ensinos rece-
bidos para instrução de toda a gente. Foram aquelas mesmas 
questões que, sucessivamente desenvolvidas e complementa-
das, constituíram a base do “Livro dos Espíritos”, informou mais 
tarde Rivail.
 As provas da existência dos espíritos e que eles interferiam 
na vida material Rivail já tinha. O resultado dessas experiências 
iniciais foi que, embora com uma outra visão da vida por não 
possuírem mais o corpo da matéria, os espíritos desencarna-
dos eram suscetíveis a falhas e não possuíam a plena sabedoria 
devido a essa condição. 
A codificação
 Numa noite, em reunião com as médiuns Baudin, o espíri-
to protetor daquela família, conhecido como Zéfiro, fez uma 
revelação que provocou forte emoção no professor Rivail. O 
função, assim como toda a obra da codificação, é a transforma-
ção do homem. E para transformar é preciso educar. 
 Na edição definitiva do livro, há 1.118 perguntas feitas por 
Allan Kardec aos espíritos codificadores coordenados por um 
espírito evoluído de bastante discernimento. Vale destacar que 
a primeira edição preparada continha apenas 501 perguntas. 
A Introdução do livro básico da codificação contém 17 itens 
nos quais Kardec expõe a situação dos fenômenos espíritas em 
sua época, analisa a competência dos cientistas no julgamento 
da doutrina, define vocábulos, apresenta métodos de pesquisa 
nas sessões espíritas, examina a literatura de combate à codifica-
ção, resume a “Doutrina dos Espíritos”, estuda o problema das 
mistificações, focaliza a opinião das pessoas sobre Espiritismo, 
levando em consideração sua cultura e, por fim, considera o 
ceticismo face aos fenômenos mediúnicos.
Estudo constante
 No ano seguinte ao lançamento de “O Livro dos 
espírito lhe contou que já o conhecia de outra existência,ao 
tempo da civilização druida, tendo sido ele um grão-sacerdote 
de nome Allan Kardec. A partir de então, Rivail assumiu seu 
nome druida, principalmente para distinguir sua obra didáti-
co-pedagógica da futura Codificação Espírita que se iniciaria 
com o “Livro dos Espíritos”. Nesse tempo ele descobriu que 
tinha sido o escolhido para revelar ao mundo as leis naturais que 
ainda não eram compreendidas pela maior parte dos homens. 
 Em 18 de abril de 1857 foi lançado “O Livro dos Espíritos”. 
Aproveitando seus recursos intelectuais e experiência no magis-
tério, Allan Kardec resolveu dar ao livro básico da codificação 
uma metodologia didática, a qual se revelou altamente indicada 
para as circunstâncias de implantação da nova doutrina. O mé-
todo escolhido foi o de perguntas e respostas por parte dos 
espíritos, divididas em quatro grupos bem definidos de idéias, 
recebendo, cada um, o nome de parte ou “livro”. Sua principal 
“A liberdade da alma explica a sua imortalidade. A morte não é, 
portanto, o fim de tudo. Ela não é senão o fim de uma coisa e o 
começo de outra” Vitor Hugo
Espíritos”, Allan Kardec sentiu a necessidade de lançar uma 
publicação mensal que o mantivesse em contato com os 
praticantes da nova doutrina. Por meio da médium Ermance 
Dufaux, Kardec consultou os espíritos em 15 de novem-
bro de 1857 para orientar-se e prosseguiu na iniciativa. O 
primeiro circulou em 1º de janeiro de 1858, sem haver dito 
nada a quem quer que fosse e sem ter nenhum assistente ou 
patrocinador. A partir daquela data, os números se sucederam 
sem interrupção e a “Revista Espírita” e o “Jornal de Estudos 
Psicológicos” tinham por conteúdo o relato das manifestações 
materiais e inteligentes dos espíritos e todas as notícias relacio-
nadas 
ao Espiritismo. 
 A publicação foi dirigida por Kardec até a sua morte, em 
1869, e circula até hoje em português, francês e espanhol, ed-
itada pelo Conselho Espírita Internacional, apesar de ter sofrido 
algumas interrupções. 
17
18
ESPIRITISMOESPIRITISMO
Allan Kardec
O codificador do 
Espiritismo teve durante 
toda sua vida condutas 
retilíneas e em prol 
do próximo. Culto, 
organizado e bem-
intencionado, Kardec 
deixou como legado 
milhões de adeptos aos 
princípios por 
ele transcritos
Allan Kardec
18
 Segundo os adeptos, 
Allan Kardec foi um 
espírito preparado 
em diversas gerações 
para ter a lucidez 
necessária para 
decodificar 
o Espiritismo
Divulgação/ FEB
rimeiro, professor Rivail; mais tarde Allan Kardec. O 
francês oitocentista mudou definitivamente a história do 
mundo espiritual e sua tragetória de vida é um exemplo 
de dedicação a um propósito. Neste ano de 2004, 
os espíritas comemoram o bicentenário de seu nascimento e, 
também por isso, vale conhecer mais detalhes da vida notável 
do codificador da doutrina espírita.
Vocação para educador
 Hippolyte Léon Denizard Rivail nasceu em Lyon, na França, 
em 3 de outubro de 1804. Filho de Jean-Baptiste Antoine 
Rivail, homem de leis e juiz, e de Jeanne Louise Duhamel, o 
menino teve, a partir dos 11 anos, o mestre Johann Heinrich 
Pestalozzi (1746-1827) como educador. Bastante conceituado, 
Pestalozzi era mentor do Instituto de Yverdun, na Suíça, e foi 
chamado de “Educador da Humanidade” por sua influência 
na reforma do sistema educacional na França e na Alemanha. 
O professor da Unicamp Silvio Seno Chibeni salienta sobre a 
escola: “Os alunos recebiam ali educação integral esmerada, 
segundo inovador método pedagógico do famoso professor, 
baseado na convicção de que o amor é o eterno fundamento 
da educação”. A convivência com o mestre foi determinante 
na formação do caráter e da habilitação profissional de Denizard 
Rivail, pois a sólida base cultural e intelectual, além do amor 
pela educação, fez com que o jovem enveredasse pelos mes-
mos caminhos de seu mestre e viesse a se tornar um dos pro-
fessores e pedagogos mais solicitados de Paris, autor de mais 
de 20 obras didáticas e pedagógicas, e, na época, várias foram 
parte do ensino oficial da França.
 Desde cedo, Rivail preocupou-se com a questão religiosa da 
humanidade e tornou-se um estudioso do magnetismo animal, 
proposto por Franz Anton Mesmer, aplicando para isso seu 
espírito racionalista. Em 1831, casou-se com Amélie-Gabrielle 
Boudet (1795–1883), nove anos mais velha, professora de 
letras e belas-artes. Ela foi sua companheira e principal colabora-
dora em todas suas realizações.
 Assim, o casal fundou, em Paris, um estabelecimento 
semelhante ao de Yverdun, onde Rivail escreveu gramáticas, 
aritméticas e estudos pedagógicos superiores e ainda traduziu 
obras inglesas e alemãs, além de trechos de autores clássicos 
franceses para o alemão. Isso porque também foi um lingüista 
insigne e falava alemão, inglês, italiano, espanhol e holandês. 
E mais: organizava, em sua casa, cursos gratuitos de química, 
física, astronomia e anatomia comparada.
 Membro de várias sociedades sábias, notadamente da 
Academia Real de Arras, foi premiado, por concurso, em 
1831, com a monografia “Qual o sistema de estudo mais em 
harmonia com as necessidades da época?”. Dentre as suas 
obras, destacam-se: “Plano apresentado para o melhoramento da 
instrução pública” (1828); “Curso prático e teórico de aritmé-
tica” (1829), segundo o método de Pestalozzi, e “Gramática 
francesa clássica” (1831).
 
Espíritos em comunicação
 No ano de 1854, Rivail ficou sabendo por meio de outro 
magnetizador, conhecido como senhor Fortier, do fenômeno 
das “mesas girantes”, que era moda recente nos saraus dos 
grandes salões franceses. Fortier explicou-lhe também que as 
mesas não só giravam, mas também respondiam a perguntas por 
meio de batidas. Cético em princípio, Rivail não acreditou que as 
mesas pudessem responder às questões e começou a investigar, 
valendo-se da metodologia científica que aplicava para suas obras 
literárias, acreditando ter uma explicação magnética para o caso.
 Impressionado com o que testemunhou, Rivail logo deduziu 
a importância do fenômeno, que não poderia ser aplicado 
apenas para servir de diversão para os salões de intelectuais 
parisienses. Em se tratando de um acontecimento inteligente, 
teria que ter uma causa inteligente por trás dele, pois, seguindo 
o raciocínio de Rivail, uma mesa, que não tem cérebro para 
pensar, músculos e nervos para se movimentar, não teria condições 
de dançar e responder variadas perguntas se não houvesse uma 
inteligência a movimentando e raciocinando por ela.
 Após diversos testes com perguntas específicas elaboradas 
com base em seus estudos filosóficos e também em respostas 
de diferentes “mesas” (locais e datas distintos), Rivail concluiu 
que quem respondia eram os espíritos. Como esses seres in-
P
19
Para divulgar a doutrina, Kardec elaborou e 
lançou a Revue Spirit ou “Revista Espírita”
Divulgação/ FEB
ESPIRITISMOESPIRITISMO
visíveis nada mais eram do que homens em outras dimensões, 
eles estavam passíveis de erros e era preciso checar se as res-
postas vinham de espíritos evoluídos e se eram confirmadas por 
outros espíritos do mesmo grau de elevação. 
 Segundo a crença dos espíritas, diversas foram as razões 
para que Denizard Rivail fosse escolhido para ser o codificador. 
A principal delas é que ele não recebera o preparo apenas na 
vida do corpo carnal de Rivail, mas teve seu caráter e cultura 
de espírito imortal formados ao longo de inúmeras existências 
terrenas, com o intuito de desempenhar a missão de reforma-
dor religioso. Assim, a descoberta do Espiritismo não operou 
grandes transformações em seu espírito, mas foi apenas uma 
continuação de sua jornada milenar em prol da evolução es-
piritual planetária. A doutrina também não lhe deu qualidades 
que não possuía e sim colaborou na lapidação de seu próprio 
patrimônio espiritual.
Kardec, o codificador
 O pesquisador Rivail procurava sempre a razão e a lógica 
dos fatos e, justamente por isso, interrogou os espíritos, anotou 
e ordenou os dados que obteve. Assim é chamado codifica-
dor do Espiritismo,uma vez que os autores da doutrina são os 
espíritos superiores. E vale destacar que, a princípio, Rivail obje-
tivava apenas sua própria instrução. Foi no ano de 1856, em 30 
de abril e pela mediunidade da senhorita Japhet que Rivail teve 
a primeira notícia de sua missão, em linguagem bastante alegóri-
ca. Mais tarde, quando viu que as anotações formavam um 
conjunto que tomava as proporções de uma doutrina, decidiu 
publicar um livro, para instrução de todos. Assim, lançou “O 
Livro dos Espíritos”, em 18 de abril de 1857, em Paris, e adotou 
o pseudônimo Allan Kardec a fim de diferenciar a obra espírita 
da produção pedagógica anteriormente publicada.
 Em janeiro de 1858, Kardec lançou a “Revue Spirite” 
(Revista Espírita) e fundou a Sociedade Parisiense de Estudos 
Espíritas. Em seguida, publicou “O que é o Espiritismo” 
(1859), “O Livro dos Médiuns” (1861), “O Evangelho se-
gundo o Espiritismo” (1864), “O Céu e o Inferno” (1865) e 
“A Gênese” (1868). 
 
O legado
 O professor Silvio Seno Chibeni, em seu trabalho sobre 
a cronologia do Espiritismo e de Allan Kardec, afirma que 
Kardec faleceu em Paris, em 31 de março de 1869, aos 64 
anos, provavelmente em razão da ruptura de um aneurisma. 
Seu corpo está enterrado no cemitério Père Lachaise, na capital 
francesa, e seus amigos reuniram textos inéditos e anotações de 
Kardec no livro “Obras Póstumas”, que foi lançado em 1890.
 No dia seguinte à morte de Kardec, ele deveria desocupar o 
imóvel, indo para a casa da Villa Ségur. A partir de então, os es-
critórios da Revue iriam para a Rue de Lille, Librairie Spirite, que 
sediaria também a Société Parisienne des Études Spirites (SPES). 
O corpo foi sepultado ao meio-dia de 2 de abril, no cemitério de 
Montmartre. Estima-se que mais de mil pessoas acompanharam o 
cortejo, que seguiu pelas ruas de Grammont, Laffitte, Notre-Dame-
de-Lorette, Fontaine e pelo Boulevard de Clichy. 
 Na primeira reunião da SPES após o fato, os membros pre-
sentes lançaram a idéia de se levantar um monumento ao mes-
tre, que logo recebeu adesão de espíritas de muitas cidades. 
Foi assim que se fez construir o famoso dólmen do cemitério 
Père-Lachaise, para onde os restos mortais de Kardec foram trans-
ladados em 29 de março de 1870. O monumento druida está, 
desde então, no famoso cemitério que também é considerado um 
museu, por ter sido ali sepultados diversos grandes vultos franceses 
e mesmo de outros países. O de Kardec é o túmulo mais vis-
itado e o mais florido de todos.
 Quando inaugurado, o dólmen não registrava a célebre fra-
se “Nascer, morrer, renascer ainda e progredir continuamente, 
Saberes druidas
Lyon, a segunda maior cidade francesa de-
pois de Paris e o berço de Rivail, já foi a antiga 
Lugdunum, local de povoação celta-druida. 
A referência é importante porque os espíritas 
acreditam que Hypolite Leon Denizard Rivail 
é a reencarnação do druida Allan Kardec, 
tendo ele – inclusive reassumido a antiga per-
sonalidade.
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Amélie - 
Gabrielle 
Boudet foi a 
grande com-
panheira de 
Kardec
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Rivail teve, a partir dos 11 anos, aulas com o mestre 
Johann Heinrich Pestalozzi, conhecido depois como 
“o Educador da Humanidade”
Bases da educação 
pestaloziana
“A intuição é o fundamento da instrução”;
“A linguagem deve estar ligada à intuição”;
“A época de ensinar não é a de 
julgar e criticar”;
“O ensino deve seguir a via do desenvolvi-
mento e jamais a da exposição dogmática”;
“A individualidade do aluno deve ser sagra-
da para o educador”;
“ As relações entre mestre e aluno, 
sobretudo no que concerne à disciplina, 
devem ser fundadas no amor e 
por ele governadas”.
Allan Kardec 
por Anna Blackwell
 Ana Blackwell, que conheceu de perto Allan 
Kardec, cujas obras fundamentais traduziu para a 
língua inglesa, descreveu da seguinte maneira o 
codificador: “Allan Kardec era de estatura meã. 
Robusto, cabeça ampla, redonda, firme, com 
feições bem pronunciadas e olhos pardo-claros, 
mais parecia alemão que francês. Era ativo e tenaz, 
mas de temperamento calmo, precavido e realista 
até quase à frieza, cético por natureza e por edu-
cação, argumentador lógico e preciso, e eminente 
prático em suas idéias e ações, distanciado assim 
do misticismo que do entusiasmo. Ponderado, 
lento no falar, sem afetação, com inegável digni-
dade, resultante da seriedade e da honestidade, 
traços definitivos de caráter, nunca provocando 
qualquer comentário a respeito do assunto a que 
consagrava sua vida, recebia amavelmente os nu-
merosos visitantes que acorriam de todas as par-
tes do mundo para conversar com ele a respeito 
das idéias de que era o mais autorizado expoente, 
respondendo às consultas e às objeções, resolven-
do dificuldades, e dando informações a todos os 
investigadores sérios, com os quais falava franca e 
animadamente.
 Em algumas ocasiões apresentava fisionomia 
radiante com um sorriso agradável e prazenteiro, 
se bem que, por causa da sobriedade do seu todo, 
jamais o viram rir. Entre os milhares de visitantes, 
encontravam-se pessoas de alto nível no mundo 
social, literário, artístico e científico. O imperador 
Napoleão III, cujo interesse pelos fenômenos es-
píritas não era nenhum segredo, mandou chamá-lo 
várias vezes, e com ele manteve longas palestras, 
nas Tulherias, acerca das doutrinas expostas no O 
Livro dos Espíritos”. 
tal é a lei”, que foi esculpida ainda em 1870. Ao contrário do 
que muitas vezes se afirma, essa frase não se deve textualmente 
ao próprio Kardec, não obstante represente corretamente o 
pensamento espírita.
 No ano de 1883, mais precisamente em 21 de janeiro, 
morreu Madame Allan Kardec, como ficou conhecida a esposa 
do codificador espírita. Dois dias após, seu corpo foi sepultado 
junto ao do esposo, no Père-Lachaise, saindo o cortejo de sua 
casa na Villa Ségur. 
Pestalozzi, o educador da humanidade
 A formação do jovem Denisard Rivail junto a Johann 
Heinrich Pestalozzi, educador suíço, antecipou as bases de uma 
pedagogia do espírito pelo qual trabalhou Allan Kardec em sua 
missão de codificador do Espiritismo.
 A obra de Pestalozzi, reunida em 40 volumes, trata de temas 
políticos, sociais, religiosos, literários e filosóficos, demonstrando 
preocupação com a educação integral do homem.
 Sua obra não se fez restrita a teorias, mas consumou-se 
na ação, tendo ele fundado várias escolas onde aplicou suas 
idéias, mostrando-se um educador lúcido e apaixonado de 
crianças pobres e ricas, de órfãos e integrantes da aristocracia 
européia. O mestre da educação teorizava a partir da prática, 
mas também sabia agir tendo como base a teoria, valorizando a 
razão sem dogmatizar.
 Seu método pressupunha uma educação integral da criança, 
privilegiando a autonomia desta, na qual o diálogo e a iniciativa 
individual dominassem o relacionamento entre mestre e aluno. 
Pestalozzi era adepto de uma educação ativa, em que a criança 
aprende observando e operando, não apenas escutando. Essas 
propostas básicas foram aplicadas em suas escolas e discutidas 
em suas obras. O caráter amoroso e de dedicação ao próximo 
de Pestalozzi levou-o a formular em seu método de ensino uma 
base afetiva da educação. Um processo pedagógico eficaz, se-
gundo ele, nasce a partir de um elo afetivo que se cria entre 
educador e educando, baseado na dedicação sincera e integral 
do primeiro.
 O pensamento pestaloziano 
se faz presente na formação de 
Kardec e reflete-se na base hu-
manista com que foi concebida 
a Doutrina Espírita. Até atingir a 
maturidade, Kardec lutou pela 
educação de uma forma geral 
e para sua pátria, a França, mas 
ao assumir sua personalidade 
druida, essa missão ampliou-se 
para que toda a humanidade 
pudesse beneficiar-se com os 
caminhos que conduzissem à 
educação do Espírito Imortal 
através do Espiritismo.
Por meio da reencarnação, 
cada indivíduo trabalha sua 
evolução com o uso 
do livre-arbítrio 
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Diferenciações
É muito comum a confusão da doutrina com 
mediunidade ou com cultos afro-brasileiros. 
Entenda os principais pontos da base espírita
Diferenciações
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história e a antropologia 
revelam que as manifestações 
religiosas (do latim religione 
= “culto aos deuses”) do 
homem são tão antigas quanto o próprio 
ser humano no planeta. Os adeptos do 
Espiritismo crêem, inclusive, que nunca 
houve na Terra um povo ateu, baseados 
em “O Livro dos Espíritos”. E as manifestações do homem bus-
car a Deus são também tão variadas quanto os graus de cultura 
social, de entendimento moral e intelectual, de pontos de vista 
individuais, de interesses pertinentes a cada época e a cada lugar. 
Assim, nessa gama imensa de formas de buscar o auto-entendimen-
to e a aproximação do Criador, diversas “religiões” foram constituí-
das e, em diversas delas, destaca-se o componente medianímico 
(mediúnico e anímico — ou relativo à alma).
 O Espiritismo não criou a mediunidade, visto que esta foi regis-
trada nas mais longínquas épocas da humanidade, por diversas civi-
lizações e povos da Antigüidade. Pode-se, inclusive, dizer que são 
assuntos distintos e que a parte científica do Espiritismo se propõe 
a estudar o fenômeno mediúnico; e o seu aspecto evangélico visa 
discipliná-lo, canalizando-o para o bem.
Famosos que estudaram o Espiritismo
 
 Além do poeta francês Victor Hugo, Arthur Conan Doyle (o criador do personagem Sherlock Holmes) e 
o renomado sir William Crookes (que mediu, pesou e fez diversos experimentos científicos com o espírito 
materializado Katie King) estudaram a fundo doutrina. 
 No caso de Hugo, o escritor de “Os Miseráveis” e “O Corcunda de Notre Dame” manteve diálogos memo-
ráveis com personagens importantes como Byron, Lutero, Walter Scott e, principalmente, um espírito que 
se autodenominava apenas de “Sombra do Sepulcro”. Hugo, no início bastante cético, jamais deixou de se 
fascinar com o rico conteúdo das comunicações, sugerindo, em setembro de 1854, que os transcritos das 
sessões espíritas se tornariam as bíblias do futuro.
 Já sir William Crookes pode ser considerado um dos mais proeminentes físicos do século 19 e, no campo 
das pesquisas científicas, é conhecido, entre outras descobertas, como o identificador do elemento químico 
de número atômico 81, o Tálio. Na ocasião em que William Crookes passou a interessar-se pelos fenômenos 
paranormais, houve uma grande expectativa, pois seu nome era bastante conhecido nos meios científicos e o 
veredicto seria, naturalmente, aceito como decisivo julgamento do movimento, então chamado Spiritualism, 
semelhante ao hoje conhecido com Espiritismo, mas ainda não codificado. 
 Entre 1869 e 1875, Crookes levou a efeito um número enorme de sessões com os mais variados médiuns 
- as de maior importância ocorreram no seu próprio laboratório pessoal. São cinco os seus principais grupos 
de experiências com os médiuns mais qualificados e por ordem cronológica: Daniel Dunglas Home, Kate Fox, 
Charles Edward Williams, Florence Cook e Annie Eva Fay. Ele revolucionou a metapsíquica, hoje parapsicologia 
e seus relatórios convictos mudaram a visão dos fenômenos mediúnicos. 
Diferenças e semelhanças 
 É bastante comum encontrar 
idéias distorcidas sobre o Espiritismo, 
às vezes confundido com a Umbanda 
e com outros cultos afro-brasileiros. 
Para entender as diferenças, é funda-
mental lembrar que, com referência ao 
conteúdo doutrinário, sabemos que o 
Espiritismo se baseia em postulados científicos, filosóficos e 
éticos, o que não se dá na Umbanda, Candomblé ou outros 
cultos de prática mediúnica, que não têm doutrina codificada, 
embora seus adeptos aceitem a imortalidade da alma, a reencar-
nação e a lei de ação e reação (por eles chamada de “carma”), 
como fazem os espíritas. Outra diferença é que no Espiritismo 
não há rituais ou cerimônias litúrgicas. 
 O Candomblé é a manifestação mais pura do Africanismo, 
já que nasceu e se formou dentro das comunidades africanas, 
tendo várias manifestações diferentes. Porém, é importante 
entender que Africanismo é não só a fundamentação africana 
pura, mas também as influências nas culturas e nas religiões em 
que estabeleceu a base fundamental. A Umbanda, por exem-
plo, é originalmente brasileira, no entanto, foi influenciada dire-
A
24
Os adeptos do 
Espiritismo crêem que 
nunca houve na Terra 
um povo ateu
25
Franz Anton Mesmer foi o criador da 
filosofia do mesmerismo e é consid-
erado o pai do magnetismo animal. 
Ele construiu a técnica terapêutica de 
fixação dos olhos e passes com as 
mãos para restauração do equilíbrio. 
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tamente pelos africanos escravos, formando o sincretismo. Ainda 
assim, não há relação alguma com o Espiritismo. As semelhanças 
não vão além do uso de mediunidade, passes, água fluidificada, a 
crença em Deus, na imortalidade da alma, na reencarnação e na Lei 
de Causa e Efeito; mesmo que de formas e enfoques diferentes.
 Vale aqui duas aspas para ressaltar que “diferenciar é con-
hecer” e “segregar é ignorar”. Assim, o que é interessante é 
realmente entender mais a fundo o posicionamento da doutrina 
espírita. E o Espiritismo não é uma evolução de religião ou 
pensamento, é, sim, um conjunto de princípios codificado por 
orientação dos espíritos superiores, por Allan Kardec, por isso 
não faz sentido sua comparação com qualquer outra religião. 
Nomenclaturas errôneas
 Em 1943 foi criada no Brasil a portaria n.º 10.194, que 
proscrevia a prática do mediunismo, visando a proibição de 
toda e qualquer forma de manifestação mediúnica. Ainda nessa 
época, foi proposto excluir o Espiritismo do quadro das religiões 
no censo demográfico, mas a doutrina permaneceu. O que 
a amparou, naquela época, foi um dispositivo constitucional 
que consistia na livre adoção religiosa. Foi preciso que, em 
1945, os presidentes da Federação Espírita Brasileira e da 
Federação Espírita do Rio Grande do Sul apresentassem 
defesa, demonstrando que a prática mediúnica realizada pelos 
Centros Espíritas não fazia mal a ninguém, ressaltando a rotina 
de caridade e assistência social. 
 Devido a esses fatos, os cultos religiosos com prática 
mediúnica passaram a ser denominados espíritas, razão pela 
qual ainda hoje vemos denominações impróprias como “es-
piritismo de mesa branca”, “kardecismo”, “baixo espiritismo” 
e “espiritismo de terreiro”. A designação popular de “mesa 
branca”, por exemplo, pode ter advindo do fato de que as re-
uniões mediúnicas espíritas ocorrem, para simples acomodação, 
com os participantes dispostos ao redor de uma mesa, algumas 
vezes, com uma toalha branca recoberta sobre ela, o que é ab-
solutamente dispensável. Como tais reuniões têm caráter íntimo 
e privado, disciplinado e beneficente, o termo “mesa branca” 
surgiu para diferenciar o Espiritismo de outros cultos, sendo uti-
lizado popularmente também como sinônimo de kardecista. O 
equívoco é generalizado, uma vez que só há um Espiritismo 
(termo criado por Allan Kardec) e este não adota práticas exte-
riores para ser diferenciado. 
 Segundo os espíritas, tudo o que fugir do bom senso, con-
trariar a lógica, desdizer a fraternidade, impor condições, efetuar 
cobrança pelos serviços prestados, combater outras religiões, 
forçar adesões, usar práticas misteriosas ou místicas, prometer 
curas ou solução de problemas materiais, fazer previsões, pre-
cisar acontecimentos futuros ou revelar o passado foge da 
prática da doutrina espírita. Afinal, ela apóia-se no Evangelho e, 
portanto, busca a fraternidade, o amor e seu objetivo é orientar 
e ajudar o homem; jamais explorá-lo. 
Doutrina dos espíritos
 No livro “Religião dos Espíritos”, o espírito Emmanuel relata 
por meio do médium Francisco Cândido Xavier a mensagem 
conhecida como “Doutrina Espírita”, extraída do livro Religião 
dos Espíritos. 
 “... Porque a Doutrina Espírita é em si a liberdade e o enten-
dimento, há quem julgue seja ela obrigadaa misturar-se com to-
das as aventuras marginais e com todos os exotismos, sob pena 
de fugir aos impositivos da fraternidade que veicula. Dignifica, 
assim, a Doutrina que te consola e liberta, vigiando-lhe a pureza 
e a simplicidade, para que não colabores, sem perceber, nos ví-
Experimentos com o magnetismo viriam a solidificar algumas 
bases espíritas
O magnetismo teria preparado 
o caminho 
do Espiritismo
Ilustração: Fábio Matos
Ilustração: Fábio Matos
 
cios da ignorância e nos crimes do pensamento. ‘Espírita’ deve 
ser o teu caráter, ainda mesmo te sintas em reajuste, depois 
da queda. ‘Espírita’ deve ser a tua conduta, ainda mesmo que 
estejas em duras experiências. ‘Espírita’ deve ser o nome de 
teu nome, ainda mesmo respires em aflitivos combates contigo 
mesmo. ‘Espírita’ deve ser o claro adjetivo de tua instituição, 
ainda mesmo que, por isso, te faltem as passageiras subvenções 
e honrarias terrestres. Doutrina Espírita quer dizer Doutrina do 
Cristo. E a Doutrina do Cristo é a doutrina do aperfeiçoamento 
moral em todos os mundos. Guarda-a, pois, na existência, 
como sendo a tua responsabilidade mais alta, porque dia virá 
que serás naturalmente convidado a prestar-lhe contas.”
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O Espiritismo se baseia 
em postulados científicos, 
filosóficos e éticos
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Jesus e o Espiritismo
o codificador continua sua 
explanação: “Por que, pois, 
declaramos que o Espiritismo não 
é uma religião? Pela razão de que 
não há senão uma palavra para expressar 
duas idéias diferentes, e que, na opinião 
geral, a palavra religião é inseparável da de 
culto; que ela desperta exclusivamente uma 
idéia de forma, e que o Espiritismo não a 
tem. Se o Espiritismo se dissesse religião, 
o público não veria nele senão uma nova 
edição, uma variante, querendo-se, dos 
princípios absolutos em matéria de fé; 
uma casta sacerdotal com um cortejo de 
hierarquias, de cerimônias e de privilégios; 
não o separaria das idéias de misticismo, 
e dos abusos contra os quais a opinião 
freqüentemente é levantada. O Espiritismo, 
não tendo nenhum dos caracteres de 
uma religião, na acepção usual da palavra, 
não se poderia, nem deveria se ornar 
de um título sobre o valor do qual, 
inevitavelmente, seria desprezado; eis 
porque ele se diz simplesmente: doutrina 
filosófica e moral”.
 
Deus e os espíritos
 Para os espíritas, a concepção 
de Deus é de um ser eterno, 
imutável, imaterial, único, onipotente, 
soberanamente justo e bom. Criou o 
universo, que abrange todos os seres 
materiais — do mundo corpóreo — 
e imateriais — também conhecidos 
como do mundo espírita. Outro ponto 
importante é que a moral do Cristo, 
contida no Evangelho, é entendida como 
roteiro para a evolução segura de todos 
os homens, e a sua prática é a solução 
para todos os problemas humanos e o 
objetivo a ser atingido pela humanidade. 
 Segundo a doutrina, a obediência 
e a resignação são duas virtudes 
companheiras da doçura e muito 
ativas. É bastante comum os homens 
 “(...) dir-se-á, o 
Espiritismo é, pois, 
uma religião? Pois 
bem, sim! Sem 
dúvida, Senhores; no 
sentido filosófico, 
o Espiritismo é uma 
religião, e disto nos 
glorificamos, porque 
é a doutrina que 
fundamenta os laços 
da fraternidade e 
da comunhão de 
pensamentos, não 
sobre uma simples 
convenção, mas sobre 
as bases mais sólidas: 
as próprias leis da 
Natureza”, Kardec
 Jesus Cristo e o Espiritismo
as confundirem, erroneamente, com a 
negação do sentimento e da vontade, 
porém os espíritas acreditam que a 
obediência é o consentimento da razão 
e a resignação é o consentimento do 
coração, ambas forças ativas, porquanto 
carregam o fardo das provações que a 
revolta insensata deixa cair. Dessa forma, 
Jesus foi a encarnação dessas virtudes 
que a antigüidade material desprezava e 
Ele veio no momento em que a sociedade 
romana estava repleta de corrupção. 
 O exemplo Dele foi mostrar os 
triunfos do sacrifício e da renúncia, 
válidos mesmo nos dias de hoje, uma 
vez que cada época é marcada por 
diferentes virtudes e vícios. Os adeptos 
da doutrina espírita afirmam que a 
grande qualidade da geração atual é a 
atividade intelectual e, em contrapartida, 
o maior defeito é a indiferença moral. 
 Para o Espiritismo e, em parte, para a 
doutrina judaica, a morte seria apenas uma 
etapa da evolução do espírito, que voltaria 
à Terra em um novo corpo quantas vezes 
fossem necessárias até tornar-se um espírito 
puro ou, conforme os judeus, cumprir 
sua missão. Os espíritas não acreditam 
que Cristo tenha ressuscitado e, sim, 
reaparecido em espírito ou, em outras 
palavras, materializado-se. Essa teria sido 
uma forma de provar aos apóstolos e aos 
demais adeptos que a vida continuava após 
a morte do corpo físico. 
Bons sentimentos
 “Amar o próximo como a si mesmo” 
é a expressão mais completa da caridade 
e, ao colocá-la em prática, os espíritas 
acreditam que a tendência é a destruição 
do egoísmo. Assim, a caridade e a 
humildade são condições iniciais para a 
evolução espiritual e moral e tudo o que 
se faça contra o próximo é o mesmo que 
fazê-lo contra Deus. 
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Tela de Onil de Melo
Prática espírita
Prática Espírita
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No dia-a-dia de um espírita, estão presentes o estudo e 
a caridade. A compreensão de que a vida continua após 
a morte do corpo físico incentiva a busca por algo além 
do material
31
gualdade, liberdade e fraternidade. Os ideais do pensa-
mento francês, consagrados na Revolução Francesa de 
1789, também são bases do pensamento espírita. Isso 
porque não há hierarquias, como papas ou bispos, e sim, 
apenas um dirigente de trabalho que conduz a sessão. 
A doutrina também não tem imagens e, no Brasil, tornou-se 
mais acentuadamente religioso (no sentido filosófico) por con-
seqüência da produção mediúnica que destacou o aspecto 
moral e a mensagem de Jesus. Mas isso não faz com que em 
outros países o Espiritismo não tenha o aspecto moral destaca-
do. Afinal, uma das obras básicas da codificação espírita é o 
“Evangelho Segundo o Espiritismo”, feito de comentários sobre 
os ensinamentos de Jesus. E essa obra é aceita e estudada 
em todos os países que têm movimento espírita, sem exceção. 
 No Brasil, foram os médicos homeopatas que trouxeram a 
I
32
filosofia para cá. Como no século 19 houve perseguições de 
associações médicas, que acusavam os espíritas de exercerem 
ilegalmente a cura, a saída veio por meio da Constituição 
da Primeira República (1889-1930). A lei de liberdade de 
culto permite, até os dias de hoje, a prática de qualquer re-
ligião e foi assim que a doutrina adquiriu este conceito. 
 É desse período que provém o termo “mesa branca”, que 
diferencia os espíritas dos espiritualistas adeptos dos cultos afro-
brasileiros. A expressão não é apropriada, mas vale a menção de 
que o Espiritismo realmente começou em mesas, lembra-se?
 Outra menção importante é feita por Irinéia Terra, volun-
tária no Centro Espírita Nosso Lar — Casas André Luiz há 
34 anos. Hoje ela atua na diretoria administrativa, além de 
exercer outras atividades no centro, como ministrar aulas dia-
riamente e cerca de três palestras semanais, mais as tarefas na 
Os estudos espíritas 
geralmente 
acontecem ao redor de 
uma mesa
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parte espiritual. Ela explica um pouco mais 
sobre o amplo conceito da doutrina. “O 
Espiritismo é baseado em três aspectos: 
ciência, filosofia e religião. A filosofia faz 
as pessoas refletirem e compreenderem os 
fatos do processo evolutivo; e a ciência 
os constata. Assim, à medida que acon-
tece a aceitação consciente das leis divinas, o indivíduo passa 
a respeitar a natureza e as ligações divinas como um todo, 
construindo a religião. É importante ressaltar que o Espiritismo 
não é uma fé dogmática, mas uma consciência religiosa”. 
 
Dia-a-dia espírita
 Toda a prática espírita é gratuita, de acordo com o 
princípio moral do Evangelho: “Dai de graça o que de graça 
recebestes”. A doutrina também

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