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SAÚDE-MENTAL-CONTRIBUIÇÕES-INTRA-FAMILIAR-1

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SAÚDE MENTAL – CONTRIBUIÇÕES INTRA-FAMILIAR 
 
 
 
 
2 
 
Sumário 
INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 4 
A FAMÍLIA E A ATENÇÃO PSICOSSOCIAL .................................................................. 7 
TECNOLOGIAS RELACIONAIS COMO ESTRATÉGIA DE INCLUSÃO DA 
FAMÍLIA .................................................................................................................................... 9 
A FAMÍLIA É UMA ALIADA .......................................................................................... 15 
CONTEXTUALIZANDO O CAMPO DA SAÚDE MENTAL E A ..................................... 16 
EXPERIÊNCIA FAMILIAR NO CUIDAR ....................................................................... 16 
DESINSTITUCIONALIZADO ........................................................................................ 16 
O GRUPO DE FAMILIARES DO CAPS ........................................................................ 22 
NÚCLEOS DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA (Nasfs) ................................................ 32 
ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA (ESF) ................................................................... 33 
ABORDAGEM FAMILIAR: FERRAMENTAS E ............................................................. 36 
RECOMENDAÇÕES .................................................................................................... 36 
ALGUMAS RECOMENDAÇÕES PARA O TRABALHO COM ...................................... 41 
FAMÍLIA ........................................................................................................................ 41 
CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 45 
REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 46 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
NOSSA HISTÓRIA 
 
 
A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, 
em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-
Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo 
serviços educacionais em nível superior. 
A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de 
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação 
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. 
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que 
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de 
publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
INTRODUÇÃO 
 
A todo o momento, o ser humano é cobrado e influenciado pelo meio social em 
que vive, e este meio também determina como ele deve agir pensar e se comportar. 
Se ele fugir as normas sociais consequentemente será punido pela sociedade, com 
isso a todo o momento o individuo é vigiado por esta, e por ele mesmo, sendo assim 
o nível de estresse ao qual é submetido todos os dias é alto, saindo às vezes do 
“normal” para a “loucura” o que passa a ser um risco, porém nem mesmo na 
condição de portador de transtorno mental e ou dependente químico, o individuo se 
livra da cobrança e do julgamento social, e como não pode mais obedecer às regras 
sociais, passa a ser excluído do convívio em sociedade. 
A família em muitos casos faz parte deste processo de exclusão do doente, 
muitas vezes por medo, desconhecimento, ou simplesmente pelo estigma de ter em 
seu convívio familiar um doente tido pela sociedade como alguém sem capacidades, 
“louco” ou “drogado”. Percebemos as dificuldades e a carga psicológica na qual as 
famílias estão expostas, porem é essencial, todo e qualquer apoio nestes casos, sendo 
de suma importância seu envolvimento e participação durante todo o tratamento 
terapêutico vivenciado pelo paciente ao longo de sua internação, a fim de conhecer e 
entender melhor a problemática tornando-se participe deste processo. 
Trabalhar o tema família e doença mental decorre de nosso interesse de 
compreender como é a vida cotidiana do familiar de portadores de transtorno mental 
grave, sua convivência com a doença e ou doente mental e identificar as 
representações por eles construídas a respeito do fenômeno saúde-doença mental, 
face às transformações paradigmáticas 
que estão a orientar este campo da 
saúde mental. 
Diante das marcas de uma cultura 
globalizada inscrita no campo simbólico e 
na construção dos saberes sociais, 
 
 
 
 
5 
identificamos a família enquanto um grupo que constitui um campo de relações entre 
pessoas que compartilham significados de suas experiências existenciais. Este grupo 
atravessa os tempos passando por inúmeras transformações e críticas, sem afastar-
se, ao menos em tese, da responsabilidade e das exigências dos papéis socialmente 
atribuídos a ela de procriar e criar filhos saudáveis e preparados para assumir o 
mercado profissional e a vida em coletividade. 
Até bem pouco tempo, a assistência ao doente mental apresentava-se centrada 
nos hospitais psiquiátricos, locais da prática e do saber médico, cujo modelo de 
atenção restringia-se à internação e medicalização dos sintomas demonstrados pelo 
doente mental, excluindo-o dos vínculos, das interações, de tudo o que se configura 
como elemento e produto de seu conhecimento. No modelo de atenção atual, a política 
assistencial vigente preconiza a diminuição da oferta de leitos hospitalares e a criação 
de serviços substitutivos de atenção à saúde mental deslocando, assim, o seguimento 
e evolução dos tratamentos para o interstício das dinâmicas familiares mobilizadas 
pela inclusão dos portadores de transtorno mental. 
Por que os grupos de atendimento de familiares, depois de determinado 
tempo, ficam esvaziados? O que dificulta a aderência dos familiares dos 
portadores de transtorno mental aos tratamentos oferecidos pelos serviços? 
Não satisfazem as respostas que apontam os familiares como sujeitos 
resistentes às orientações e, por conseguinte, considerá-los como “maus familiares”, 
culpando-os pela dificuldade de atingirem as metas institucionais. O familiar, ainda, 
apresenta-se aos serviços simplesmente como “informante” das alterações 
apresentadas pelo doente mental, e deve, por conseguinte, seguir passivamente as 
prescrições dadas pelo tratamento oferecido. 
Portanto, acolher suas demandas, considerando as vivências inerentes a esse 
convívio, promovendo o suporte possível para as solicitações manifestas pelo grupo 
familiar continuam a ser o maior projeto de superação. Afinal, o “fato novo” com o qual 
a família está a se deparar é que o tratamento de seu familiar portador de transtorno 
mental não está mais centrado no hospital psiquiátrico. 
 
 
 
 
6 
Nos quadros agudos recomenda-se que a internação seja de curta 
permanência, e a continuidade do tratamento realizada nos equipamentos 
extrahospitalares; por conseguinte, o doente mental retornará à casa, à família 
(quando ela existe) e à comunidade. A assistência prestada aos portadores nos mostra 
que os familiares que procuram a ajuda e suporte dos serviços de saúde mental e de 
seus profissionais, apresentam demandas das mais variadas ordens, dentre elas, a 
dificuldade para lidarem com as situações de crise vividas, com os conflitos familiares 
emergentes, com a culpa, com o pessimismo por não conseguir ver uma saída aos 
problemas enfrentados,pelo isolamento social a que ficam sujeitos, pelas dificuldades 
materiais da vida cotidiana, pelas complexidades do relacionamento com o doente 
mental, sua expectativa frustrada de cura, bem como pelo desconhecimento da 
doença propriamente dita, para assinalarmos, algumas dentre tantas outras 
insatisfações. 
Face a este complexo cotidiano, acreditamos que as ações dirigidas à família 
de indivíduos portadores de transtorno mental grave devam estruturar-se de maneira 
a favorecer e potencializar a relação familiar/ profissional/serviço. Compreendendo o 
familiar como um parceiro singular e fundamental para o cuidado dispensado ao 
doente mental. O sentido desta parceria está orientado para a ação de cuidar deste 
familiar; há, portanto, que se incluir este sujeito como alguém que tem muito a dizer, 
especialmente quanto a seu próprio sofrimento psíquico e o quanto este mobiliza sua 
vida. 
Para isso, partimos do entendimento de que é necessário considerar sua 
demanda, para além da objetividade manifesta em suas queixas, geralmente 
centradas no sintoma do outro, do seu familiar portador de transtorno mental. Nesta 
perspectiva, identificamos que estes familiares possuem um saber, saber este 
constituído na relação com o doente mental e com os profissionais, que atravessa 
todas as suas queixas e pedidos de ajuda. Este saber, construído no senso comum, 
consiste em uma operação que dá um sentido às metáforas e imagens que lhes são 
oferecidas pela história social de seu tempo sobre o processo saúde/doença mental e 
convívio familiar, e por conseguinte, precisa ser identificado. 
 
 
 
 
7 
 
A FAMÍLIA E A ATENÇÃO PSICOSSOCIAL 
 
A família antigamente era vista pelos trabalhadores de saúde em geral como a 
culpada pelo transtorno mental, não podendo contribuir efetivamente durante o 
tratamento, constituindo-se como obstáculo no processo terapêutico, ficando 
estigmatizada. O modelo hospitalocêntrico de cuidado à doença mental impôs à família 
um papel de informante passivo, desconsiderando suas potencialidades. 
O modo psicossocial tem buscado modificar esse entendimento, demonstrando 
a importância da família na reabilitação do indivíduo em sofrimento psíquico. No 
momento em que as famílias recebem apoio e orientação adequadas, podendo 
compartilhar seus problemas e dificuldades, elas demonstram seu comprometimento 
com o cuidado ao seu familiar adoecido. É importante, então, promover espaços de 
atenção e cuidado à família nos serviços substitutivos de saúde mental, inserindo-a 
no processo de reabilitação, corresponsabilizando-a pelo cuidado de seu familiar e 
dando visibilidade à sua ação cuidadora. 
É importante destacar que a família busca formas de resolver as questões que 
emergem no seio familiar e, que procura um serviço de saúde quando não obtém êxito 
em suas tentativas, o que, por vezes, desencadeia sentimentos como medo, 
impotência, culpa, exaustão e até desespero. É importante que o serviço de saúde 
mental esteja atento às dificuldades da família e possa oferecer suporte para o 
desempenho de tarefas e decisões para o cuidado com seu familiar, buscando 
fortalecer as relações que podem produzir saúde, não esquecendo que a família faz 
parte de uma rede social também envolvida nos processos da atenção psicossocial. 
Para isso as equipes dos serviços substitutivos precisam desenvolver 
estratégias de inserção da família no cuidado. Estudos realizados em CAPS 
demonstram que as equipes profissionais têm utilizado como estratégias de inserção 
da família no cuidado em saúde mental espaços como grupos terapêuticos de 
familiares, atendimento individual por qualquer profissional do serviço (não só os da 
 
 
 
 
8 
área psi), oficinas terapêuticas, visitas domiciliares e busca ativa de familiares pouco 
presentes no serviço. Esses são espaços de escuta, acolhimento, construção e 
manutenção do vínculo entre equipe e família, demonstrando que esses profissionais 
valorizam a participação da família e entendem a importância dessa ser assistida em 
suas necessidades, para que o processo de reabilitação psicossocial seja exitoso. 
 
convive com um indivíduo em sofrimento psíquico. Estudos revelam que essa 
sobrecarga refere-se às consequências que afetam o cotidiano da família, tais como 
os gastos financeiros; a desestruturação social, profissional e familiar e sua 
consequente reorganização; as tarefas extras que a família assume em alguns casos 
como higiene, transporte, controle das medicações, alimentação, lazer, 
acompanhamento do tratamento e os comportamentos de seu familiar doente 
(tentativas de suicídio, por exemplo). Essas questões causam desgaste físico, mental 
e emocional, com os quais a família convive e se reorganiza constantemente. 
O suporte para superar essas situações poderá ser buscado junto ao serviço 
de saúde, em diferentes momentos, com objetivo de aliviar a sobrecarga, criando e 
fortalecendo o vínculo entre o serviço e a família. 
Figura : O CAPS II é um serviço de saúde aberto e comunitário do SUS. Ele é um lugar 
de referência e tratamento para pessoas que sofrem com transtornos mentais. Fonte: 
http://capsllportoseguro.blogspot.com/ 
 
Outro ponto a ser levado em consideração é a sobrecarga da família que 
 
 
 
 
9 
Na atenção psicossocial não se espera que as famílias simplesmente convivam 
com aquele que sofre, mas que sejam compreendidas em suas dificuldades para lidar 
com esse fato, a partir de espaços de participação, criando estratégias que efetivem a 
inclusão dos familiares no cuidado. Nesse sentido, o que se espera é uma 
corresponsabilização, uma aliança entre todos envolvidos no atendimento: usuário, 
familiar, equipe e comunidade, para transpor os momentos aflitivos. 
Para que a corresponsabilização seja efetivada é importante também que os 
serviços de saúde e seus profissionais, reestruturem sua forma de trabalho com a 
família. Em geral, o que a família busca é apoio e orientação para maneiras de cuidar 
e conviver com seu familiar. 
Acreditamos que nesse sentido as tecnologias relacionais são dispositivos 
importantes de promoção da saúde, caracterizadas principalmente como espaços de 
expressão das subjetividades e das necessidades da família. O que se quer é, 
conjuntamente, problematizar a vida cotidiana e, as respostas e as possíveis 
resoluções serão descobertas, na medida em que se fala e acolhe as diversas 
situações vividas. 
 
TECNOLOGIAS RELACIONAIS COMO ESTRATÉGIA DE 
INCLUSÃO DA FAMÍLIA 
 
Como vimos anteriormente, para construir a relação terapêutica com a família 
é preciso oferecer a ela um suporte em suas necessidades básicas com relação ao 
sofrimento do núcleo familiar. 
Como estratégias de inserir a família enquanto objeto do cuidado na atenção 
psicossocial, as tecnologias relacionais tornam-se importantes, pois envolvem 
corresponsabilização, acolhimento, escuta, vínculo, autonomização, relação 
 
 
 
 
10 
interpessoal, reconstrução da organização do trabalho das equipes, entre 
outros. 
As tecnologias relacionais, classificadas como tecnologias leves em saúde, 
caracterizam o trabalho vivo em ato, que é aquele que sofre influência real do 
trabalhador concreto e seu modo de utilizá-lo no ato de produção, como é o caso da 
saúde, ou seja, o trabalho em saúde não se constitui como algo produzido para se 
usufruir depois: a produção e o consumo ocorrem concomitantemente. As ações de 
saúde chegam ao usuário e são aproveitadas por ele no mesmo momento em que 
estão sendo produzidas. 
Entendemos que, dentre as tecnologias relacionais, o acolhimento e a escuta 
são ferramentas prioritárias para o estabelecimento de ações participativas na atenção 
psicossocial. 
 
Figura: Semana de Saúde Mental, promovida pela Fundação Municipal de Saúde (FMS). Fonte: 
http://cidadedeniteroi.com/2018/05/18/baile-no-teatro-popular-marca-quarto-dia-de-eventosna-semana-de-saude-mental/ 
Depreende-se que se a família precisa falar, alguém precisa acolher e ouvir. 
Esse é o momento em que as equipes dos serviços substitutivos podem se fazer 
presentes, estabelecendo uma relação de acolhimento da família, garantindo sua fala 
e uma ação integral, rompendo com a visão linear de saúde e tendo a capacidade de 
organizar o seu trabalho como um espaço de interação. 
 
 
 
 
 
11 
O acolhimento é constituído pelas relações desenvolvidas entre o serviço, os 
profissionais, os usuários e familiares, e suas ações consistem em intervenções técnicas e 
interpessoais, podendo ser entendido como a forma que o serviço de saúde se estrutura para 
receber os usuários e familiares e responder as suas demandas. Assim, para que o 
acolhimento ocorra é preciso haver encontro e escuta, possibilitando a reestruturação da 
unidade familiar, a partir de suas vivências. 
O acolhimento é uma estratégia que possibilita ao trabalhador em saúde 
identificar as demandas dos usuários, porque ocorre no momento em que a 
necessidade é identificada, podendo ser caracterizado como uma possibilidade de 
melhorias nas intervenções de saúde a partir do desenvolvimento de práticas integrais, 
reflexão e transformação das condutas dos profissionais, bem como das relações dos 
serviços e usuários. 
O acolhimento possibilita a construção de uma nova prática em saúde, a partir 
de ações comunicacionais, recebendo e ouvindo a população que procura o serviço 
de saúde, dando a resposta adequada para cada demanda em todo o percurso dessa 
busca, organizando o serviço de saúde a partir da necessidade do usuário, buscando 
a horizontalidade nas relações entre serviço, profissionais, usuários e familiares. 
Assim, acolher significa repensar a organização do processo de trabalho dos serviços 
substitutivos, que trabalham sob a lógica da atenção psicossocial. 
O acolhimento é o estabelecimento de uma relação solidária e de confiança 
entre os profissionais e os usuários do sistema de saúde, sendo essencial ao processo 
de co-produção de saúde, atendendo aos princípios do SUS. Para a prática do 
acolhimento é imprescindível que a equipe de saúde compreenda a importância dessa 
estratégia para a reabilitação da família, o objeto do cuidado, compreendendo que as 
tecnologias relacionais são importantes para a produção do cuidado na atenção 
psicossocial. 
 
 
 
 
12 
Assim, torna-se fundamental que o profissional de saúde compreenda o 
acolhimento como a tradução de posturas que o trabalhador em saúde pode procurar 
desenvolver para atender as necessidades do núcleo familiar. Nesse sentido, 
sinceridade, cumplicidade, afetividade, confiança e responsabilização são 
instrumentos do trabalho em saúde efetivos na acolhida, promovendo o fortalecimento 
e apoio nas relações com os familiares. 
No imaginário em saúde, acolher e ouvir, muitas vezes, não se caracterizam 
como cuidado em saúde, e as equipes sentem-se como se não tivessem feito nada 
por aquele usuário, porque “apenas” o acolheram, não evidenciando sua ação como 
ato de saúde. O pressuposto dos profissionais, até mesmo pela formação 
hospitalocêntrica, é de que a centralidade do trabalho em saúde está nos 
procedimentos, exames e medicações adequados a cada patologia. 
Particularmente na atenção psicossocial, o acolhimento e a escuta são 
ferramentas essenciais de trabalho, possibilitando dar voz ao sofrimento do outro, e 
por isso uma escuta qualificada faz a diferença na decisão da conduta adequada. 
 
 
 
 
13 
 
Figura : A Prefeitura de Campina Grande do Sul, através da Secretaria Municipal de Saúde, irá implantar 
no município o Programa de Acolhimento Humanizado. Este programa faz parte da Política Nacional de 
Humanização, o Humaniza SUS, do Ministério da Saúde e está na sua fase final de implantação em Campina. 
Fonte: http://www.campinagrandedosul.pr.gov.br/site/visual_noticias.php?id=387 
 
A ESCUTA minimiza o problema, pois ao falar para outro promove o alívio e ao 
mesmo tempo faz com que a pessoa possa refletir melhor sobre sua situação e estar 
em condições para optar pelo que decidir ser o melhor. 
A escuta não se limita somente ao que foi falado, mas também às lacunas do 
discurso, exigindo do profissional percepção para trabalhar sob esses silêncios. E 
também é preciso conhecer quem se escuta, sobre o que fala e como fala. Talvez a 
escuta seja uma dificuldade em saúde na atualidade. 
Escuta entendida como uma forma de cuidado, incluindo a empatia, 
compreendendo as decisões tomadas e suas consequências, sem julgamentos 
 
 
 
 
14 
prévios. Envolve ainda a plasticidade que o serviço deve ter, desenvolvendo diferentes 
formas de acolher as famílias que necessitam, respeitando a singularidade e a 
individualidade de cada grupo familiar, exigindo um exercício de atenção e dedicação. 
Necessita também que os profissionais não sejam impositivos, 
“donos do saber”, buscando a partir do acolhimento, a integralidade do cuidado, 
priorizando as ações a serem desenvolvidas. Assim, compreendemos que a escuta 
deve ser considerada parte fundamental do cuidado na perspectiva da atenção 
psicossocial. 
A utilização das tecnologias relacionais, como o acolhimento e a escuta, para 
estratégia de inclusão da família no tratamento é fundamental no contexto dos serviços 
substitutivos, porque, a partir dos vínculos criados nos espaços de acolhimento e 
escuta, a família se sente fortalecida para lidar com o sofrimento psíquico e tem a 
possibilidade de reorganizar seu núcleo familiar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 A FAMÍLIA É UMA ALIADA 
 
A partir da Reforma Psiquiátrica a família assume um papel importante na 
reabilitação psicossocial de seu familiar, sendo co-responsável pelo tratamento e 
cuidado. Por assumir essa tarefa em parceria com as equipes de saúde, torna-se 
fundamental que os serviços substitutivos estejam preparados para atender as 
necessidades do núcleo familiar, que é considerado objeto do cuidado em saúde 
mental. 
A família é uma aliada, uma parceira no processo de reabilitação psicossocial 
do usuário. A atenção psicossocial, associada ao protagonismo das famílias, vai 
facilitar a reinserção social do usuário e a promoção da saúde do núcleo familiar, 
considerando as dimensões pessoais, biológicas, sociais e políticas que envolvem o 
cotidiano da vida. 
As tecnologias relacionais, como o acolhimento e a escuta, aparecem como 
importantes estratégias em saúde, auxiliando a família a atingir sua reestruturação a 
partir de sua vivência com o sofrimento psíquico, integrando-a no planejamento da 
atenção psicossocial. 
No contexto dos atos em saúde, no qual as tecnologias são instrumentos para 
que se opere o cuidado, o uso de tecnologias relacionais pode favorecer a organização 
do trabalho em saúde, bem como as relações interpessoais dentro da equipe. 
A importância da utilização do acolhimento e da escuta como estratégias de 
inclusão da família no tratamento e reabilitação psicossocial consiste no fortalecimento 
de ações que produzam saúde, criando espaços de interação, apoio e suporte. Desse 
modo, promove-se um cuidado que se ocupa do aqui e agora, criando novas 
intervenções singulares que consideram a subjetividade dos sujeitos envolvidos, 
incentivando a participação da família nos espaços dos serviços substitutivos, 
compreendendo que acolher e escutar são portas fundamentais para acesso e 
atenção em saúde mental. 
 
 
 
 
16 
Acolher e escutar as famílias na lógica da atenção psicossocial é tarefa 
complexa, mas que, quando executada, demonstra sua importância e seus resultados 
positivos no modo de andar a vida do núcleo familiar. O acolhimento é uma prática de 
saúde cujo retorno é visível, pois as famílias criam vínculos e laços afetivos 
importantes com as equipes dos serviços, tendo-os como referência para o cuidado. 
Para finalizar esta reflexão,destacamos a importância do acolhimento e da 
escuta no envolvimento de todos os atores do cenário da saúde mental, ou seja, 
usuário, família, equipe de saúde mental e serviço. A inclusão da família na atenção 
psicossocial é de relevante importância para a efetivação do processo de reabilitação 
psicossocial e desinstitucionalização da loucura na sociedade. 
 
CONTEXTUALIZANDO O CAMPO DA SAÚDE MENTAL E A 
EXPERIÊNCIA FAMILIAR NO CUIDAR 
DESINSTITUCIONALIZADO 
 
Desde o advento da medicalização e institucionalização das ações sobre a 
doença mental, podemos associar a representação da loucura construída sobre o 
modelo de exclusão social que “refere-se ao isolamento de indivíduos de conduta 
desviante ou considerados indesejáveis pela comunidade”. Estas representações da 
loucura estão presentes em vários estudos históricos e, de acordo com Resende, a 
exclusão nos chamados hospícios dava-se ou por motivos de eficácia do tratamento, 
ou porque suas causas estavam associadas às relações familiares, ou ainda, porque 
o doente mental representava perigo ao grupo social, dada a dificuldade de “controlá-
lo”. 
Por intermédio da história da psiquiatria, é possível identificarmos as atitudes 
dela em relação à família do portador de agravo mental. Evidenciamos que se a 
família, em algum momento, retirou-se da cena do cuidado de seu familiar doente 
 
 
 
 
17 
mental, em outros, ela foi excluída por ser considerada como “nociva ao tratamento”, 
isto é, como causadora da doença, pois atrapalhava o tratamento proposto. Outras 
vezes, ela delegou esse cuidado pelo desconhecimento de não saber como agir frente 
a certas manifestações do doente, pela sobrecarga física e emocional que o sujeito 
doente acarreta a seus membros. 
O pós-guerra-mundial pode ser identificado como um “divisor de águas” entre 
dois grandes movimentos que assinalaram a evolução dos modelos da assistência 
psiquiátrica. Segundo a literatura, o século XIX é marcado pelo movimento da 
medicalização e “institucionalização das práticas terapêuticas; o doente mental deixa 
sua comunidade para ser internado e tratado em grandes asilos”. Já no período pós-
guerra, na segunda metade do século XX, assistiu-se a um movimento contrário, 
orientado pelo “esforço da desinstitucionalização: o doente mental deve deixar os 
hospitais e retornar à sua comunidade”. 
No Brasil, na atualidade, bem como em vários países do mundo, vêm ocorrendo 
mudanças significativas nas políticas que norteiam a assistência ao portador de 
transtorno mental, cujo sentido geral objetiva a transformação das relações da 
sociedade com estas pessoas. Os movimentos de Reforma da Assistência Psiquiátrica 
estão marcados pelo processo da desinstitucionalização. 
 
 DESINSTITUCIONALIZAÇÃO 
 
Na perspectiva que nos interessa destacar neste estudo, o conceito de 
desinstitucionalização contribuiu para os movimentos da Reforma da Assistência 
Psiquiátrica no país a partir da década de 80, sendo entendido como a desconstrução 
da cultura manicomial no contexto da perspectiva das idéias de Basaglia. Esta 
Reforma emerge no bojo de uma ampla discussão a respeito de recentes práticas 
terapêuticas, práticas estas sustentadas por uma nova ética relativa ao cuidado de 
pessoas que sofrem de transtornos mentais graves. 
 
 
 
 
18 
Sob o ponto de vista da desinstitucionalização, como um paradigma emergente, 
o campo da saúde mental amplia-se face à existência de um novo e complexo objeto: 
o sujeito e seu transtorno mental em relação com o corpo social. 
Este modelo constitui-se como tal pela permanente tensão com o paradigma 
dominante da psiquiatria, cujo objeto restringe-se à doença mental e à periculosidade 
social que o doente mental representa. Portanto, se outrora coube ao hospício 
legitimar suas ações sobre a loucura, separando o portador de transtorno mental da 
família na crença de que esta modalidade de tratamento reorganizaria o contato entre 
o doente, a família e sociedade. 
Hoje, estamos diante de uma nova lógica a orientar a atenção ao doente mental 
– a lógica da inclusão – entendendo-se este sujeito não constituído apenas de um 
aparelho psíquico que, eventualmente, necessite de diagnóstico e tratamento. Implica 
muito mais. 
A doença mental deve ser compreendida como um fenômeno complexo e 
histórico, atravessado pelas dimensões psicossociais que determinam o processo 
saúde-doença mental. Conforme demonstra os dados da literatura consultada para 
este trabalho, esta movimentação no cenário das políticas públicas repercutiu no 
campo assistencial da saúde mental no Brasil. 
A partir da década de 80, evidenciamos os reflexos da tendência observada na 
Europa e Estados Unidos, após a segunda Guerra Mundial. Cabe destacar, também, 
a Declaração de Caracas em 1990, como marco de fundamental importância para os 
processos da Reforma da Assistência Psiquiátrica na região das Américas. Em nosso 
país, o processo da Reforma da Assistência Psiquiátrica vem apresentando avanços 
nos últimos trinta anos; todavia, embora haja inúmeras iniciativas bem sucedidas no 
campo da saúde mental, a cultura asilar ainda está muito presente em nosso cotidiano 
como o recurso assistencial de mais fácil acesso à população. 
Diversas iniciativas governamentais, e não governamentais, de experiências 
inovadoras que estão presentes em várias cidades do país, em diferentes Estados, 
podem ser identificadas. Experiências que cada vez mais privilegiam a criação de 
 
 
 
 
19 
serviços descentralizados, estruturados em torno de recursos locais, próximos da 
realidade vivida pela comunidade; dentre estes, encontramos os hospitais-dia, os 
centros de atenção psicossocial, moradias assistidas e leitos em hospitais gerais. 
Frente ao exposto, ao partirmos da ampliação do campo da saúde mental, de 
seus modelos de intervenções, espaços da prática assistencial e das relações deste 
campo com a família do doente mental, consideramos que esta vivencia as propostas 
e os desdobramentos do movimento da Reforma da Assistência Psiquiátrica em curso 
no país. Assim, nos interrogamos: como esses familiares estarão representando o 
binômio saúde-doença mental nesse contexto. 
Como estas transformações estarão repercutindo na vida desses familiares? 
Na perspectiva de abordagem da Reabilitação Psicossocial, a doença não 
reside, isolada e culpabilizante, dentro do sujeito, mas no território virtual que é a 
interação entre os membros da família; o 
que não significa que a família deva 
ocupar o lugar de culpada ou vítima. Nesta 
abordagem desinstitucionalizante, a 
família deverá ser incluída na condição de 
protagonista do cuidado reabilitador. 
Assim, evidenciamos que o retorno 
do doente mental à família e à comunidade 
é polêmico e permeado por contradições; 
dentre estas, é oportuno reiterarmos a carência de serviços extra- 
hospitalares na comunidade, a descontinuidade dos programas de reinserção social 
do doente mental e a desconsideração dos desgastes a que 
ficam sujeitos os familiares. 
São aspectos que vêm sendo levantados por autores em uma perspectiva 
crítica ao processo da desinstitucionalização no Brasil e em outros países do ocidente. 
 
 
 
 
20 
Segundo a literatura, uma vez que entendemos ser a psiquiatria uma prática 
social e multifacetada que não restringe o objeto de suas ações na doença mental, 
mas sim, na “experiência do sofrimento psíquico de sujeitos inseridos em contextos 
socioculturais mutantes”, há que se assumir uma posição crítica permanente no 
sentido de evitarmos “uma burocratização das práticas e a fetichização da teoria”. 
Sgambati, na década de 80, analisa a relação entre as re-internações do doente mental 
em hospital psiquiátrico e a rejeição familiar. Enfatiza que 
O aumento das altas hospitalares não tem sido acompanhado pela criação de serviços 
assistenciais na comunidade para absorveresse contingente de doentes, e não tem sido avaliado se 
suas famílias estão preparadas para assumir esse encargo. 
 Assim, na prática, assistimos aos processos de desospitalização e 
desassistência das pessoas que sofrem psiquicamente. Fato que vem dificultando em 
muito a inclusão do familiar como protagonista nas estratégias de cuidado e em um 
suposto papel de parceria com os trabalhadores nos diversos projetos, em diferentes 
equipamentos de atenção à saúde mental. 
Diante dos quadros graves de sofrimento mental e de longa duração, como a 
esquizofrenia por exemplo, encontramos familiares pessimistas quanto à possibilidade 
de melhora do familiar doente mental. Para muitos, são tantos os fracassos, recaídas, 
abandonos de tratamento, que é comum encontrarmos familiares desmotivados, 
resistentes e temerosos frente a qualquer proposta de mudança, vinda dos 
trabalhadores e dos serviços. Particularmente para fins deste trabalho, detivemo-nos 
em estudos científicos que abordam o impacto e a sobrecarga a que ficam sujeitos os 
familiares envolvidos na convivência com as pessoas que apresentam um transtorno 
mental grave por não termos como objetivos da pesquisa a análise das dinâmicas das 
famílias envolvidas, no que diz respeito à gênese do sofrimento psíquico. 
O foco, aqui, se volta à compreensão das repercussões da re-inclusão do 
doente mental no cotidiano de vida de seus familiares. Portanto, por entendermos a 
forte influência dos movimentos descritos em nossa prática atual com os familiares de 
portadores de transtorno mental e que, por força do modelo, precisam absorver 
 
 
 
 
21 
responsabilidades de um cuidar que se torna leigo e deslocado para o próprio 
ambiente doméstico, apesar de toda a complexidade inerente ao quadro apresentado 
pelo familiar doente mental, buscamos apreender as representações de familiares a 
respeito do processo saúde-doença mental, focalizando a convivência com o doente 
mental. 
A doença mental é representada pelos familiares pelo processo de objetivação 
do familiar doente mental como aquele que é - o diferente - que faz coisas que os 
outros, ditos normais, não fazem. Nessa convivência, o tempo da doença é identificado 
pelos aspectos negativos impostos pelos comportamentos que despertam o 
estranhamento e o desconforto. 
Os familiares constroem representações do processo saúde-doença mental, 
caracterizadas pela diversidade, fluidez e ambiguidade. 
Portanto, quando nos remetemos aos princípios que orientam o processo da 
Reforma da Assistência Psiquiátrica, bem como às estratégias de integração 
reinserção social do portador de transtorno mental na família e na comunidade 
necessitamos considerar as evidências apresentadas, relativas às experiências 
singulares desses familiares dadas na convivência com o portador de transtorno 
mental que estão a orientar os diferentes modos de representarem o binômio 
saúdedoença mental. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
O GRUPO DE FAMILIARES DO CAPS 
 
 O GRUPO DE FAMILIARES E O CUIDADO COM O PORTADOR DE 
SOFRIMENTO PSÍQUICO 
 
O Grupo de Familiares do CAPS é 
composto, principalmente, por mães ou irmãs de 
usuários portadores de sofrimento psíquico. 
Esse grupo tem por objetivo oferecer um suporte 
aos familiares, tanto no sentido de ser um 
espaço para tirar dúvidas sobre o tratamento e o 
manejo com o usuário, como um momento para que o familiar cuidador possa 
desabafar, falar das suas angústias e do seu cansaço, mas também falar de si mesmo 
enquanto pessoa, não somente enquanto cuidador. 
Nos grupos de familiares ou nos atendimentos de família, é comum que as 
discussões girem em torno dos sintomas, e é importante que o profissional que 
coordena o grupo fique atento às possibilidades e ao conjunto de recursos que a 
família apresenta e como cada um se apropria deles ou como fica paralisado diante 
do momento vivido. 
Dessa forma, pode-se dizer que o vínculo mais significativo que se tem com 
esses usuários é através dos familiares que comparecem ao grupo. Assim, fica clara 
a importância de envolver a família no 
tratamento. 
Outra característica marcante no grupo 
é o fato de a maioria dos cuidadores serem 
mulheres. Esse fato é comumente encontrado 
na literatura sobre o cuidado de portadores de 
 
 
 
 
23 
sofrimento psíquico no ambiente doméstico. Conforme Rosa, há uma feminização do 
encargo de assistir ao 
portador de transtorno mental (ROSA, 2003, p. 240), deixando claro que o provimento 
de cuidado para familiares é uma questão de gênero historicamente produzida e 
mantida pela sociedade que vê na mulher uma cuidadora por excelência, tanto para 
familiares adoecidos ou não. 
Se de um lado temos a mulher/mãe cuidadora, de outro temos o filho portador 
de transtorno mental. Para Rosa (2003), o impacto que a doença mental provoca na 
família está diretamente relacionado à posição que o portador de sofrimento psíquico 
ocupa na estrutura familiar. Quando o filho é o portador de transtorno mental, a família 
é afetada em uma dimensão diferente e bem menor do que quando o pai ou a mãe 
adoecem. Isso ocorre pela suposta relação de dependência que o filho tem com os 
pais, podendo até exercer uma função positiva de unir o casal, ou, ao contrário, e 
agravar as tensões entre o casal. 
O adoecimento mental de um filho abala, 
frequentemente de forma intensa, a autoestima dos 
pais. O filho doente parece representar, para muitos 
genitores, uma denúncia das falhas do sistema 
familiar, que não conduziu com sucesso sua missão de formar os filhos (MELMAN, 
2008, p. 32). 
Muitas vezes, surge a necessidade de um familiar, especialmente a mãe, ter 
que abandonar o seu trabalho externo para se dedicar ao familiar que adoeceu. Em 
uma pesquisa realizada no Município de Santa Cruz do Sul-RS, Petry (2005) 
constatou, através do depoimento de algumas mães, que havia uma inconformidade 
frente à necessidade de deixar o trabalho para cuidar do familiar portador de 
sofrimento psíquico. A questão do trabalho também é abordada pelos familiares do 
grupo em relação à impossibilidade ou à dificuldade do portador de sofrimento psíquico 
em ter um emprego, havendo somente dois usuários exercendo atividade remunerada. 
 
 
 
 
24 
Essa é uma realidade encontrada com bastante freqüência, sendo poucas as 
pessoas acometidas por algum transtorno mental grave que estão empregados. Isso 
parece se tornar ainda mais delicado quando o sujeito adoeceu já na idade adulta, 
pois, dessa forma, a família já estava acostumada em ter aquele indivíduo como 
alguém produtivo e que ajudava com as despesas e as tarefas domésticas e, de 
repente, se vê obrigada a arcar com o seu sustento. 
 
 INFANTILIZAÇÃO 
 
A ociosidade constante do portador 
de transtorno mental compromete sua 
autonomia e a liberdade do cuidador. 
Diferentemente do que aparece no Grupo de 
Familiares, em que o fato de não trabalhar é 
visto como uma perda, um lamento, nos 
achados de Petry (2005) surpreende o fato 
de não ter sido detectada a obrigatoriedade de trabalhar ao indivíduo portador de 
sofrimento psíquico. Aceita-se que é doente, inútil e incapaz, comportamento 
justificado pela imagem de inutilidade que o senso comum confere ao doente mental 
(PETRY, 2005, p. 79). 
É extremamente presente na fala dos familiares no grupo a infantilização do 
portador de sofrimento psíquico. Essa infantilização, além de dificultar a autonomia do 
paciente, o tira do lugar de um sujeito que tem sua história, sua individualidade, suas 
vontades e desejos. A infantilização também pode trazer alguns ganhos secundários 
para os portadores de transtorno mental, pois ele é deslocado de suas atividades e 
responsabilidades habituais. Por outro lado, a mesma autora coloca que a família 
também pode ter seus ganhos secundários, pois pode fazer do portador de transtorno 
mental o bode expiatório para todos os problemasda família. 
 
 
 
 
 
25 
 ADMINISTRAÇÃO DO DINHEIRO 
Quando o portador de sofrimento psíquico recebe algum tipo de benefício, a 
família fica um pouco mais aliviada pelo lado financeiro; porém, podem surgir 
problemas em torno da administração do dinheiro. No caso do grupo de familiares, as 
queixas mais frequentes são sobre o uso que está sendo feito do dinheiro, pois já 
aconteceu e ainda acontece de alguns usuários darem uma parte significativa do seu 
dinheiro às igrejas ou a pessoas de má-fé. Também há um grande medo de que eles 
possam estar comprando bebidas alcoólicas ou drogas. O tema da religião é 
recorrente no grupo. Diversos usuários passaram a frequentar igrejas de orientação 
religiosa diferente e divergente da dos seus familiares, e isso aparece como uma 
grande preocupação no grupo. 
 
 PRÁTICAS RELIGIOSAS 
 
Para Velho (1999) citado por Silva e Moreno (2004), é comum, em situações de 
crise, as pessoas procurarem outras práticas religiosas. Essa temática já foi muito 
discutida no grupo, tendo quase todos os familiares 
relatado alguma experiência negativa da influência 
religiosa sobre os usuários. A questão religiosa é 
bastante delicada de ser abordada exigindo um 
esforço contínuo dos trabalhadores de saúde em não 
fazer um julgamento preconceituoso, como se 
houvessem religiões certas e outras erradas. 
Porém, é trabalho do profissional de saúde intervir quando há algum dano ao 
tratamento. Procuramos trabalhar no grupo que a religião pode ser um importante 
apoio social, uma ajuda para o enfrentamento das adversidades, da dor e do 
sofrimento, mas não a única solução para problema do sofrimento psíquico (SILVA; 
MORENO, 2004). 
 
 
 
 
26 
 
 AGRESSIVIDADE 
 
Uma queixa que os familiares costumam levar para o grupo é em relação à 
agressividade que muitas vezes se faz presente com a doença mental. Conforme Rosa 
(2003), a agressividade é um dos aspectos mais destacados pelos familiares como 
típicos da loucura. 
 Quase todas as pessoas do grupo já relataram algum episódio de 
agressividade, principalmente em situações de surto, quando a relação da família com 
o enfermo psicótico tende então a ser mais dramática, pois os sintomas são mais 
intensos e ameaçadores à segurança do grupo (ROSA, 2003, p. 262). 
Essa é uma situação que deixa os familiares bastante apreensivos, mas é 
importante destacar que as agressões foram mais comuns no início do 
desenvolvimento da doença, quando a família ainda não sabia ao certo o que estava 
acontecendo e o tratamento não estava adequado. 
O medo de sofrer uma 
agressão ou, mais comumente, a 
necessidade de estar sempre 
vigilante para que o portador de 
sofrimento psíquico não coloque sua 
vida em risco e faça o tratamento 
medicamentoso corretamente, entre 
outros cuidados necessários, acaba 
gerando uma sobrecarga na família. 
 
 
 
 
 
 
27 
  TODO O NÚCLEO FAMILIAR PRECISA SE REORGANIZAR PARA CONVIVER COM 
A DOENÇA. 
 
Para algumas famílias esse momento é mais dramático, pois alguns portadores 
de sofrimento psíquico se negam a ser cuidados e a assumir o tratamento. Assim, o 
cuidador precisa dispor de mais tempo para o seu familiar e acaba comprometendo as 
demais atividades do seu cotidiano. 
Estudos acerca de sobrecarga familiar apontaram para a importância de os 
profissionais levarem isso em consideração: a existência de um ente portador de 
transtorno mental representa para a família. Segundo Melman (2008), nos últimos 
anos, o conceito de sobrecarga familiar foi desenvolvido para definir os encargos 
econômicos, físicos e emocionais a que os familiares estão submetidos e o quanto a 
convivência com um paciente representa em peso material, subjetivo, organizativo e 
social. 
É bastante comum a equipe do CAPS chamar os familiares para uma conversa 
sobre o paciente. Infelizmente, algumas vezes, os familiares não comparecem e a 
responsabilidade pelo cuidado continua sobrecarregando somente um ou dois 
familiares mais próximos: O conhecimento desse quadro de sobrecarga por parte dos 
profissionais de saúde sugere que as intervenções terapêuticas levem em 
consideração essa realidade. 
Ajudar os familiares na interação e na gestão da vida cotidiana dos pacientes 
alivia o peso dos encargos, facilita o processo de estabelecimento de uma cooperação, 
diminui os fatores estressantes ativadores de situações de crise, estimula a criação de 
possibilidades participativas, melhorando a qualidade de vida de todas as pessoas 
envolvidas. Mello (1997) em seus estudos de sobrecarga familiar aponta que a 
presença do familiar doente obriga os cuidadores a refazerem os seus planos de vida 
e a redefinir integralmente os seus objetivos. À medida que a idade avança, as 
preocupações com o destino do paciente tornam-se inevitáveis. 
 
 
 
 
28 
Com o passar dos anos e com a conscientização da proximidade da morte, os 
pais acabam aprisionados por uma grande angústia que é fruto das incertezas que 
cercam o futuro do filho. 
Chama bastante atenção a quantidade de familiares que faz uso de 
medicamentos psiquiátricos, em especial, antidepressivos e benzodiazepínicos. Para 
Rosa (2003), o cuidador também segue a tendência de medicalizar e individualizar o 
sofrimento. Como nos últimos anos o uso de medicamentos dessa linha tem 
aumentado significativamente, fica difícil estabelecer uma relação direta entre a 
sobrecarga causada pelo cuidado com o portador de sofrimento psíquico e uso de 
medicação psiquiátrica por parte dos seus familiares, mas é importante fazer o registro 
pela frequência com que isso aparece no grupo, confirmado pela fala de alguns 
familiares. 
 AMENIZAR A SOBRECARGA FAMILIAR 
Para amenizar a sobrecarga familiar e alcançar o cuidado em saúde mental como 
preconizado pela Reforma Psiquiátrica, é necessário que se construa uma rede de 
cuidados, não deixando o indivíduo somente como responsabilidade da família ou dos 
serviços de saúde, mas integrando todas as estratégias possíveis para atendê-lo de 
forma integral e humanizada. 
 
Para Pereira (2002), é a 
interação das pessoas na 
sociedade, a criação de laços de 
amizade, culturais, de comunidade, 
de trabalho ou de estudo, que se 
constituem como importantes bases 
de apoio ao indivíduo e à família em 
momentos de crise. 
 
 
 
 
 
 
 
29 
 REDE SOCIAL DE SUSTENTAÇÃO 
 
Sluski (1997), citado por Melman (2008), usa o termo Rede Social de 
Sustentação para definir a soma de todas as relações que um indivíduo percebe 
como importantes ou diferenciadas da massa anônima da sociedade. 
A rede social coloca o indivíduo e sua família em um determinado território 
social e favorece que os serviços de saúde mental ampliem seu território de 
intervenção. 
O que se ouve com bastante frequência é a sensação de solidão por parte dos 
familiares em relação ao provimento de cuidado com o seu ente que adoeceu. Alguns 
relatam que não podem contar com a sua 
família ampliada ou com vizinhos, sendo o 
CAPS o único suporte fora da família 
nuclear. 
Por outro lado, também existem 
relatos de que as relações sociais que o 
portador de sofrimento psíquico 
estabelece com as pessoas 
 da 
comunidade em que vive se constitui como um grande aliado para o seu cuidado, pois 
essas pessoas, de certa forma, o protegem e procuram os familiares no caso de 
perceberem alguma situação de risco. 
Desde a desinstitucionalização dos doentes mentais crônicos tem-se percebido 
a necessidade de que haja uma rede de serviços que possa dar suporte ao indivíduo 
e à sua família para amenizar as dificuldades encontradas no dia a dia, devendo a 
intervenção no ambiente familiar fazer parte da rotina dos serviços de saúde mental. 
 
 
 
 
30 
No CAPS algumas iniciativas são tomadas para aproximar a família do serviço 
e vice-versa, como as visitas domiciliares, e para inseriros usuários em seu meio 
social, como a participação em eventos do município, na organização de passeios e 
em confraternizações dentro e fora do serviço. 
 DESAFIOS 
 As relações que se estabelecem dentro do CAPS, tanto entre usuários como entre os 
familiares, representam uma grande possibilidade de suporte afetivo para todas as 
pessoas envolvidas. A proposta de reinserção social do doente mental e a sua 
aproximação com a família não é uma tarefa fácil. 
Ao mesmo tempo em que as famílias anseiam por ter todos os seus membros 
próximos, elas também refletem o medo e o preconceito existente em nossa 
sociedade, o que, muitas vezes, pode deixá-las resistentes a acolher o ente que 
adoeceu: 
A construção de um tratamento pautado também pela conquista da cidadania e a 
confirmação de um outro modo de cuidar não poderia calar a necessidade de um espaço de 
escuta, para que nele pudesse aparecer o sofrimento muitas vezes inerente à convivência 
com alguém que representa na família algo estranho (SOUZA; BAGNOLA, 2007, p. 268). 
Dessa forma, um grupo de familiares pode funcionar como um espaço de acolhimento 
das experiências de vida dos seus participantes. 
O estímulo às trocas de experiências tem se revelado uma importante 
ferramenta para ampliar a capacidade de lidar com os problemas, assim como tem 
permitido que um familiar possa se abrir para o discurso do seu companheiro. 
A reforma psiquiátrica, a temática do cuidado e as questões familiares nos 
colocam inúmeros desafios. Se o cuidado em saúde mental a partir da reforma 
psiquiátrica é partilhado entre família e serviços de saúde, as teorias sobre a relação 
adoecimento psíquico e modos de funcionamento familiar precisam ser revisitados. 
A clássica visão sobre a família enfatizando a sua responsabilização sobre o 
adoecimento dos seus membros não oferece aos serviços possibilidade de aliança 
 
 
 
 
31 
para o cuidado e não desperta o desejo de realizar intervenções no modo de 
funcionamento familiar por estabelecer uma aliança com o usuário e uma coalisão com 
o restante dos membros. 
 
 
O grande desafio nos parece ser a compreensão da indissociabilidade entre 
indivíduo e família, estando aí compreendidos aspectos de adoecimento e de cuidado. 
O trabalho com as famílias requer o estabelecimento de relações de cuidado 
com o cuidador e não apenas a relação com o familiar no papel de familiar, isto é, uma 
relação que se volta para ouvir como esta pessoa se sente e como está sendo para 
ela cuidar e conviver numa família, onde há a presença de muito sofrimento psíquico, 
e não apenas trabalhar questões de como esta 
pessoa pode ajudar o seu familiar, o que deve 
fazer ou não fazer para que ele melhore. 
Se nos aproximamos apenas dos estudos 
que estabelecem nexos entre o adoecimento e os 
modos de viver em família, podemos, talvez, com 
alguma facilidade, adotar medidas de afastamento 
do usuário da sua família, medidas tão 
naturalizadas no período dominado pelo 
pensamento manicomial. 
Coco, que sofre de Alzheimer, e o bisneto Miguel, 
da animação Viva - A vida é uma festa. Imagem: 
Disney Pix ar 
 
 
 
 
32 
Se a reforma preconiza o não-afastamento do usuário do seu meio, então 
precisamos ter aproximação também com os estudos que apontam para as muitas 
possibilidades de convívio e de cuidado, mesmo quando há a presença de doença 
mental na família. 
NÚCLEOS DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA (Nasfs) 
 
Os Núcleos de Apoio à Saúde da Família 
(Nasfs) foram criados com o objetivo de ampliar a 
abrangência e o escopo das ações da Atenção Básica, 
bem como sua resolutividade. 
Os Nasfs são constituídos por equipes 
compostas por profissionais de diferentes áreas de conhecimento, que devem atuar 
de maneira integrada e apoiando os profissionais das equipes de Saúde da Família, 
das equipes de Atenção Básica para populações específicas (consultórios na rua, 
equipes ribeirinhas e fluviais etc.) e Academia da Saúde, compartilhando as práticas 
e saberes em saúde nos territórios sob a responsabilidade destas equipes, atuando 
diretamente no apoio matricial às equipes da(s) unidade(s) na(s) qual(is) o Nasf está 
vinculado. 
Os Nasfs não se constituem como serviços com unidades físicas 
independentes. Devem, a partir das demandas identificadas no trabalho com as 
equipes e/ou Academia da Saúde, atuar de forma integrada à Rede de Atenção à 
Saúde e seus serviços (exemplos: Caps, Cerest, ambulatórios especializados etc.) 
além de outras redes como Suas, redes sociais e comunitárias. 
A responsabilização compartilhada entre a equipe do Nasf e as equipes de 
Saúde da Família busca contribuir para a integralidade do cuidado aos usuários do 
SUS principalmente por intermédio da ampliação da clínica, auxiliando no aumento da 
capacidade de análise e de intervenção sobre problemas e necessidades de saúde, 
tanto em termos clínicos quanto sanitários. 
 
 
 
 
33 
 São exemplos de ações de apoio desenvolvidas pelos profissionais dos Nasfs: 
Discussão de casos, atendimento conjunto ou não, interconsulta, construção 
conjunta de projetos terapêuticos, educação permanente, intervenções no território e 
na saúde de grupos populacionais e da coletividade, ações intersetoriais, ações de 
prevenção e promoção da Saúde, discussão do processo de trabalho das equipes etc. 
As atividades podem ser desenvolvidas nas unidades básicas de Saúde, nas 
academias da Saúde ou em outros pontos do território. 
Os Nasfs devem utilizar as academias da Saúde como espaços que ampliam a 
capacidade de intervenção coletiva das equipes de Atenção Básica para as ações de 
promoção de Saúde, buscando fortalecer o protagonismo de grupos sociais em 
condições de vulnerabilidade na superação de sua condição. 
 
ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA (ESF) 
 
A Estratégia Saúde da Família (ESF), eixo estruturante 
da Atenção Básica à Saúde, concebe a família de forma integral 
e sistêmica, como espaço de desenvolvimento individual e 
grupal, dinâmico e passível de crises, inseparável de seu 
contexto de relações sociais no território em que vive. 
A família é, ao mesmo tempo, objeto e sujeito do processo de cuidado e de promoção 
da saúde pelas equipes de Saúde da Família. 
Na ESF o vínculo entre os profissionais de Saúde, a família e a comunidade é 
concebido como fundamental para que as ações da equipe tenham impacto positivo 
na saúde da população. 
 
 
 
 
34 
Esse vínculo de confiança vai sendo fortalecido por meio da escuta, do 
acolhimento, da garantia da participação da família na construção do Projeto 
Terapêutico Singular (PTS), da valorização da família enquanto participante ativa do 
tratamento etc. Na metodologia de trabalho das equipes de SF, o cadastramento das 
famílias e o diagnóstico da situação de saúde da população permitem que os 
profissionais prestem atenção diferenciada às famílias em situação de risco, 
vulnerabilidade e/ou isolamento social. 
As famílias com pessoas em sofrimento psíquico intenso e usuárias de álcool e 
outras drogas necessitam de atenção especial, e um primeiro passo nesse sentido é 
instrumentalizar os agentes comunitários de Saúde (ACS) na identificação dessas 
situações. Vecchia e Martins (2009) ressaltam que a estratégia de atender 
prioritariamente as famílias com maiores dificuldades psicossociais é importante, 
desde que tal priorização não produza estigmatizações, levando em consideração o 
dinamismo e a complexidade da vida de cada família. 
A Estratégia Saúde da Família, por ter como ação as visitas mensais aos 
moradores de uma determinada área, possibilita que 
pessoas e famílias em situação de maior risco sejam 
atendidas. Podem ser pessoas que não comparecem 
às consultas, que não solicitam ajuda (por exemplo, as 
que fazem uso prejudicial de drogas), que sofrem atos 
de violência, que estão em risco de suicídio ou em 
cárcere privado.Enfim, pessoas que muito necessitam 
e pouco ou nada demandam . 
Outro aspecto fundamental diz respeito ao prontuário familiar, que contém os 
prontuários individuais e é utilizado por todos os membros da equipe de Saúde. Essa 
organização facilita o acesso a todas as informações da família, sua história, queixas 
ou motivos das consultas, atenção recebida, problemas e formas de enfrentamento, 
dinâmica de relacionamento familiar etc. 
 
 
 
 
35 
As reuniões de equipe possibilitam a discussão de casos, o planejamento e 
avaliação de ações, a troca de conhecimentos, a abordagem interdisciplinar, 
constituindo-se em mais um recurso fundamental do cuidado em saúde mental. O 
acolhimento é outro recurso, transversal a todas as práticas, percebido como 
importante na construção de uma postura profissional baseada em receber, escutar e 
tratar de forma humanizada as famílias e suas demandas. Acolhimento implica 
também na responsabilização dos profissionais pela condução da proposta 
terapêutica e na corresponsabilização das famílias por sua saúde (KENNETH et. 
al. 2004). 
Por fim, é importante que as equipes de Atenção Básica garantam a 
participação da família na construção do Projeto Terapêutico Singular (PTS) de cada 
paciente, além de estimularem-na a participar de debates sobre o tema em reuniões 
dos conselhos locais e nas conferências de Saúde. 
 
Assim, a família também contribuirá na construção, na implementação e no 
acompanhamento de políticas públicas de atenção à saúde mental. Em síntese, as 
equipes de SF têm um campo fértil para trabalharem de forma integral e participativa 
com pessoas em sofrimento psíquico e suas famílias, apesar da abundância de 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
É válido relembrar qu e, para um tratamento ser mais completo, ele deve 
fornecer apoio cuidados com a saúde física, mental e emocional. O e 
deve psicólogos, e médicos como profissionais, com acompanhamento 
ao longo de toda a internação, inclusive nas recaídas ocorrer . Imagem: 
h ttps://blog.viversemdroga.com.br/ 
 
 
 
 
36 
práticas contrárias ao que estamos propondo, isto é, práticas centradas no indivíduo, 
que fragmentam o sujeito, especialismos etc. 
Nos cursos de graduação da área da Saúde, estudos sobre família e 
ferramentas que auxiliem seu acompanhamento são muito pouco comuns, o que 
impõe sérios limites quando os profissionais de Saúde se veem diante da necessidade 
de realizar intervenções baseadas em uma abordagem familiar. A educação 
permanente tem se configurado uma importante estratégia de enfrentamento dessas 
dificuldades. 
Uma forma especialmente interessante de educação permanente é o apoio matricial 
oferecido pelas equipes do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf) – que se constitui em 
retaguarda especializada para as equipes de SF. Essa parceria entre ambas as equipes é 
concebida sob a forma de cor-responsabilização pelos casos e se desenvolve por meio de 
discussões e consultas conjuntas, construção de projetos terapêuticos singulares, 
intervenções com as famílias e as comunidades, realização de grupos, discussão de casos 
clínicos etc. 
 
ABORDAGEM FAMILIAR: FERRAMENTAS E 
RECOMENDAÇÕES 
 
Para uma abordagem familiar é importante aliar conhecimentos científicos e 
tecnológicos às habilidades de observação, comunicação, empatia e intervenção, o 
que requer aperfeiçoamento de competências profissionais. 
Na abordagem familiar, considera-se que a saúde da família vai além da soma da 
saúde dos indivíduos. 
Sendo assim, espera-se que a equipe de Atenção Básica à Saúde seja capaz de 
identificar e desenvolver as seguintes especificidades: 
 
 
 
 
37 
– Conceituar família e considerar sua complexidade. 
– Cuidar com base na experiência da família ao longo do tempo, ou seja, sua 
história pregressa, atual e perspectivas futuras. 
– Trabalhar com todos da família, tanto doentes como sadios. 
– Que a família enquanto um sistema é afetada pela mudança de qualquer um de 
seus membros. 
– Reconhecer que a pessoa mais sintomática (doente) da família também pode 
mudar com o tempo. 
– Promover apoio mútuo e compreensão entre os membros da família sempre que 
possível. 
– Levar em conta o contexto social e cultural da família na facilitação de suas 
relações com a comunidade 
Outro aspecto importante é a contradição família pensada versus família 
vivida e a sua outra face família estruturada versus família desestruturada, 
apoiada em uma visão sistêmica inclusiva e não conservadora que reconhece 
múltiplas estruturas familiares que nada mais são do que formas diferentes de 
ser família e que vão ganhando contornos específicos por intermédio do tempo 
e das peculiaridades do espaço geográfico, social e cultural (SOARES; PAGANI; 
OLIVEIRA, 2005). 
Consolidada tal compreensão, os profissionais 
terão critérios para avaliar o enredo, a estrutura e a 
dinâmica do sistema familiar, elaborando um plano de 
trabalho multidisciplinar com as estratégias mais 
adequadas e possíveis. Sugerem-se formas de 
atuação da equipe que fortaleçam: 
 
 
 
 
38 
(1) a competência da família em garantir a sobrevivência material dos seus 
membros utilizando sua rede social primária (parentes, amigos e vizinhos), as 
instituições e as redes sociais comunitárias; 
(2) suas relações afetivas e novas possibilidades de agir, pensar e conviver; 
(3) sua participação social e comunitária enquanto exercício de cidadania. 
Essa atuação pode ser realizada de diferentes maneiras, como: 
– Oferecimento de acolhimento, escuta regulares e periódicas; 
– Grupos de orientação aos familiares; 
– Grupos de cuidado aos cuidadores; 
– Intervenções domiciliares que diminuam a sobrecarga da família 
cuidadora; 
– Oferecimento de dispositivos da rede social de apoio onde os familiares 
cuidadores de pessoas com sofrimento psíquico possam ter garantido também espaços 
 
 
 
 
39 
de produção de sentido para sua vida, vinculadas a atividades prazerosas e 
significativas a cada um. 
 
 
 
 
 
 
Aqui exemplificamos algumas ferramentas úteis 
para o trabalho com família. Vale ressaltar que 
devido às diversidades e às singularidades, 
muitas vezes será necessário buscar outras 
ferramentas ou até mesmo criar sua própria 
ferramenta de trabalho com família. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
40 
 
 
 
 
 
 
41 
ALGUMAS RECOMENDAÇÕES PARA O TRABALHO COM 
FAMÍLIA 
 
 Solymos, Maricondi e Soares (2009) apontam que o profissional que trabalha com 
família precisa aperfeiçoar em si mesmo os seguintes aspectos fundamentais: 
 Uma existência sem preconceitos, a disponibilidade para os outros e a capacidade 
de se desfocar do problema. 
 
• Uma existência sem preconceitos consiste em saber agir diante dos 
acontecimentos da vida. Esta postura exige saber reconhecer e valorizar o que ocorre 
em detrimento daquilo que se deseja; interessar-se pelo cotidiano e modo de vida das 
pessoas e não unicamente por suas fraquezas ou doenças; acolhê-las respeitando 
seu ritmo e o ritmo dos acontecimentos. 
• Uma disponibilidade para os outros significa uma flexibilidade pessoal em 
relação aos modos, tempos e lugares das pessoas e suas famílias. 
• Uma habilidade para se desfocar do problema significa não se restringir a 
ele. Vale dizer, significa centrar a atenção nas possibilidades de vida que as pessoas 
e as famílias também têm. 
Desse modo nasce a percepção de que as dificuldades podem ser equacionadas 
paulatinamente e que a melhor intervenção é aquela que permite que a própria família 
assuma a responsabilidade de encontrar os meios para o seu enfrentamento. 
 
 ALÉM DESSES TRÊS ASPECTOS, CABE TAMBÉM RESSALTAR ALGUMAS 
DICAS PRÁTICAS PARA O TRABALHO COM FAMÍLIA: 
 
• Pense em suas próprias experiências com sua família (família atual efamília de 
origem) e rememore histórias de sofrimento psíquico e/ou uso de álcool e drogas de 
parentes, amigos e vizinhos, identificando quais são seus valores, crenças e mitos 
 
 
 
 
42 
sobre tudo isso... Faça essa reflexão individualmente e depois com a sua equipe de 
Saúde. 
• Evite julgamentos baseados em qualquer tipo de preconceito. Só será possível 
conversar com uma família em prol do seu desenvolvimento se você puder ouvi-la sem 
julgar ou recriminar. 
• Priorize atendimento mais imediato às famílias com maiores dificuldades 
psicossociais. 
• Identifique pessoas que podem auxiliar no cuidado em saúde mental. Pode 
ocorrer que essas pessoas não pertençam ao grupo familiar de origem. 
• Observe como a família se coloca no espaço físico de atendimento, ou seja, 
onde cada pessoa senta ou se distribui no local onde é atendida. Essa observação lhe 
permitirá perceber alguns aspectos dos papéis familiares. Por exemplo, um filho adulto 
ao se colocar ao lado da mãe e não permitir seu pai ali se situar, pode indicar uma 
relação simbiótica entre mãe e filho e um pai com dificuldade de ocupar o seu lugar. 
Perguntas muito simples podem auxiliar muito. No exemplo, a pergunta poderia ser: 
“como é para o senhor ceder seu lugar ao seu filho?”. 
• Observe como a família se comunica, se as mensagens são claras ou obscuras, 
e busque auxiliar na comunicação. 
• Auxilie a família na diminuição da culpa, do 
desamparo e da desesperança diante das crises e das 
dificuldades enfrentadas no dia a dia com a pessoa em 
sofrimento psíquico. Permita que tais sentimentos 
sejam expressos. 
• Reconheça e valorize os saberes e os recursos 
encontrados pela família na convivência diária com o sujeito em sofrimento psíquico. 
• Fique atento(a) aos movimentos saudáveis, ainda que sejam mínimos, e 
discuta-os com a família. Muitas vezes, a convivência diária não permite perceber tais 
mudanças. 
 
 
 
 
43 
• Construa com as famílias alternativas de mudança e de promoção dos cuidados 
familiares da pessoa com sofrimento psíquico e/ou uso de álcool e drogas. Há um 
saber acumulado sobre este assunto que poderá ajudá-lo(a) muito na compreensão 
dos modos de ser, viver e conviver em família. 
• Promova sempre o diálogo e a troca de experiências entre todos, nas reuniões 
com a(s) família(s), nas consultas e visitas domiciliares. Desse modo, todos terão a 
oportunidade de se expor a mudanças e compreender o que está acontecendo. Isso 
amplia possibilidades de obtenção de resultados eficazes. 
• Crie o hábito de fazer anotações sobre cada atendimento realizado e, sempre 
que possível, discuta seu trabalho com seus colegas de equipe, compartilhando 
dúvidas, certezas, limites e possibilidades. Registros escritos preservam histórias, 
constroem histórias... 
• Não se assuste, nem reaja com base em fortes sentimentos, positivos ou 
negativos, que determinadas pessoas e famílias mobilizam. Nessas situações, melhor 
será adiar uma resposta ou conduta clínica e buscar ajuda de sua equipe de Saúde 
ou supervisão especializada. 
• Caso seu município possua Centros de Atenção Psicossocial (Caps), Nasf ou 
equipes de Saúde Mental, busque discutir situações em que você tem mais dificuldade 
de manejo clínico. As equipes desses serviços, além de auxiliar na conduta clínica, 
também podem apoiar na organização e na realização de ações de saúde mental 
envolvendo a família no território. As visitas domiciliares são ferramentas 
fundamentais para o cuidado à família. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
44 
 ENTRE AS QUESTÕES IMPORTANTES DE SE TRABALHAR NAS VISITAS 
DOMICILIARES, É IMPORTANTE QUE O PROFISSIONAL: 
 
• Identifique quem são os cuidadores da pessoa com sofrimento psíquico e/ou 
uso de álcool e drogas, procurando envolvê-los na conversa. 
• Faça com eles uma lista dos cuidados que a pessoa 
com sofrimento psíquico e/ou uso de álcool e drogas recebe 
deles. 
• Organize essa lista de cuidados classificando-os de 
acordo com prioridades discutidas e consensuadas entre todos: 
membros da equipe de Saúde e cuidadores familiares. 
• Observe e registre quais cuidados estão faltando. 
• Converse com os cuidadores familiares para, juntos, 
identificarem as causas das dificuldades e buscarem soluções alternativas. 
• Faça uma lista das pessoas, grupos e instituições que compõem a rede social 
da família, definindo metas para a sua ampliação, se for o caso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
45 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Para um cuidado integral em saúde mental, a abordagem familiar é 
fundamental. Ela deve estar comprometida com o rompimento, com a lógica do 
isolamento e da exclusão, fortalecimento da cidadania, protagonismo e 
corresponsabilidade. 
Mas, estruturar uma abordagem a partir da família 
exige dos profissionais de Saúde abertura e visão 
ampliada, isto é, uma visão que acolha as diferentes 
constituições familiares e os diferentes sentimentos que 
os cuidados no campo da Saúde Mental mobilizam. 
Quando o foco é a família, torna-se fundamental 
a abordagem que vai além das dificuldades e de soluções previamente estabelecidas. 
Assim, por exemplo, uma ação de fortalecimento dos cuidados familiares à pessoa 
com sofrimento psíquico e/ou usuária de álcool e outras drogas não deve estar 
apoiada naquilo que falta; pelo contrário, a ação deve nascer do que existe de recursos 
e fortalezas em cada família. 
Esse modo de ver e cuidar pode representar um importante princípio orientador 
que estimula a participação da família no processo de enfrentamento de dificuldades, 
quaisquer que elas sejam. 
O fortalecimento das equipes de Saúde da Família é de suma importância 
para a saúde mental. 
A educação permanente pode impulsionar mudanças das práticas em saúde, 
estimulando a construção de ações mais inclusivas das populações vulneráveis, 
como é o caso das famílias com pessoas com sofrimento psíquico e/ou usuárias de 
álcool e outras drogas. O aprofundamento e utilização das diferentes ferramentas de 
abordagem familiar indicadas neste documento podem instrumentalizar as equipes 
no entendimento de cada família e sua inclusão como protagonistas do cuidado. 
 
 
 
 
46 
 
REFERÊNCIAS 
 
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento 
de Atenção Básica. Saúde mental / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à 
Saúde, Departamento de Atenção Básica, Departamento de Ações Programáticas 
Estratégicas. – Brasília : Ministério da Saúde, 2013. 176 p. : il. (Cadernos de Atenção Básica, 
n. 34) 
COLVERO, L., Ide, C. and Rolim, M. (2004). Família e doença mental: a difícil 
convivência com a diferença. [online] Scielo.br. Available at: 
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v38n2/11.pdf [Accessed 31 Jan. 2020]. 
MIELKE FB, Kohlrausch E, Olschowsky A, Schneider JF. A inclusão da família 
na atenção psicossocial: uma reflexão. Rev. Eletr. Enf. [Internet]. 2010 
out/dez;12(4):761-5. Available from: http://dx.doi.org/10.5216/ree.v12i4.6812. 
SANTIN, Gisele; KLAFKE, Teresinha Eduardes. A família e o cuidado em saúde 
mental. Barbaroi, Santa Cruz do Sul , n. 34, p. 146-160, jun. 2011 
. Disponível em 
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010465782011000100009&lng
=pt&nrm=iso>. acessos em 29 jan. 2020. 
SANTIN, G. and Klafke, T. (2011). A FAMÍLIA E O CUIDADO EM SAÚDE MENTAL. 34th 
ed. Barbarói, Santa Cruz do Sul.

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