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1 INTERDISCIPLINARIDADE NA PRÁTICA EDUCATIVA 1 Sumário INTERDISCIPLINARIDADE NA PRÁTICA EDUCATIVAErro! Indicador não definido. INTRODUÇÃO ......................................................................................... 2 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA PERSPECTIVA DA INTERDISCIPLINARIDADE ............................................................................... 3 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A PERSPECTIVA INTERDISCIPLINAR .......................................................................................... 7 A PERCEPÇÃO DA INTERDISCIPLINARIDADE NO CONTEXTO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO: BREVE ANÁLISE ............................................ 10 A CONTEXTUALIZAÇÃO: O PONTO DE PARTIDA PARA UMA NOVA PROPOSTA EDUCACIONAL ........................................................................... 11 O PLANEJAMENTO COMO BASE DA AÇÃO PEDAGÓGICA ............. 13 A ORGANIZAÇÃO DE PROJETOS INTERDISCIPLINARES: UMA FERRAMENTA PARA O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM ....... 16 REFERÊNCIAS ..................................................................................... 19 file:///F:/FACUMINAS/APOSTILA/Nova%20pasta/INTERDISCIPLINARIDADE%20NA%20PRÁTICA%20EDUCATIVA.docx%23_Toc42542203 2 INTRODUÇÃO A prática da interdisciplinaridade possui uma linha de trabalho integradora que pode agregar um objeto de conhecimento, um projeto de investigação, um plano de intervenção. Quando problematizamos uma situação, o problema causador do projeto, pode ser uma experiência, um desencadeamento de ação para interferir na realidade. Devemos nos conscientizar que o projeto é interdisciplinar em sua compreensão, cumprimento e avaliação. A interdisciplinaridade envolve a contextualização do conhecimento, que mantém uma relação fundamental entre o sujeito que aprende e o componente a ser aprendido, evocando fatos da vida pessoal, social e cultural, principalmente o trabalho e a cidadania. Quando os alunos participam da tomada de decisão a respeito de um tema ou de um projeto, é possível que constituam relações entre os novos conteúdos e os conhecimentos que já possuem, conseguindo 3 aprendizagens mais significativas, comparando, criticando, sugerindo ajustes, novas relações e organizações, abrindo portas para a interferência em uma realidade, desencadeamento novas ações e, construindo um compromisso com uma cidadania ativa. PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA PERSPECTIVA DA INTERDISCIPLINARIDADE Para Santomé (1998), uma prática interdisciplinar implica, em um primeiro nível, uma proposta de trabalho pedagógico em que as disciplinas estabelecem contato umas com as outras, depois vão sendo modificadas e passam a ter uma ampla relação de dependência entre si. Nesse processo, começa a se compor uma interação entre seus objetos, uma intercomunicação e um enriquecimento fecundo implicando a transformação do trabalho pedagógico em sala de aula. No momento em que há o registro da intercomunicação e da dependência entre as diferentes disciplinas, “[...] ocorrem intercâmbios mútuos e recíprocas integrações, existe um equilíbrio de forças nas relações estabelecidas” (Id, p. 63). Noutra visão sobre a prática pedagógica interdisciplinar, Santos (2007, p. 53) assegura que ela deva ocorrer pelo princípio da utopia, ou seja, “[...] com a ideia de ainda não, mas que poderá vir a ser”. Refere, ainda, que “o que se propõe como utopia é muito mais amplo, tem a ver com o social e com o mundo com dimensões interdisciplinares, interdependentes e intercomunicáveis” (2007, p. 59). Assim sendo, é preciso compreender que a vivência da interdisciplinaridade nas práticas pedagógicas estabelece relações com problemáticas de caráter social. Ou seja, essa vivência interdisciplinar, no âmbito da sala de aula, permite trazer para as práticas pedagógicas elementos do cotidiano e construir uma interdependência e uma inter-relação entre o que se aprende com o que se vive. Crusoé (2014, p. 114) destaca alguns aspectos fundamentais que marcam a elaboração de uma prática pedagógica interdisciplinar. E nesse 4 sentido, refere que tal prática “está sempre por se construir, é circunscrita e envolve a necessidade de mobilizar saberes para compreender e intervir na realidade demandando um trabalho em parceria”. Dito de outra forma, implica dizer que uma prática pedagógica interdisciplinar pressupõe a exigência de novas buscas, atitudes e uma tomada de consciência que requer, principalmente dos professores, uma reflexão sobre suas ações que ajude a mobilizar os saberes profissionais no exercício da ação-reflexão-ação com o objetivo de construir e reconstruir o fazer pedagógico (CRUSOÉ, 2014). Furlanetto (2003, p. 95) considera que a prática pedagógica interdisciplinar deve ser vivenciada sob o arquétipo de Alteridade, “em que exista a liberdade para cada um se exercer, em que a tônica seja a verdade, a descoberta e a busca do crescimento” . Sobre o arquétipo da Alteridade, é importante esclarecer que ele se fundamenta na teoria dos arquétipos, elementos da psicologia simbólica. Ainda, na opinião de Furlanetto (2003), o dinamismo de Alteridade busca coordenar o dinamismo matriarcal e patriarcal. Ele funciona em polaridade e relaciona e complementa dois valores importantes para o funcionamento e a compreensão da realidade. E mais: “as polaridades podem ser diferenciadas sem afastarem-se em demasia e sem correrem o risco de se indiscriminarem e perderem suas características” (FURLANETTO, 2003, p. 92). Por isso, infere-se que a vivência da interdisciplinaridade nas práticas pedagógicas de sala de aula, deverá acontecer por meio do dinamismo de Alteridade, pois ele remete a uma mudança profunda na organização do processo de ensino-aprendizagem e na relação do professor com o estudante. A prática interdisciplinar fundamentada no dinamismo de Alteridade propõe que: 5 Uma prática interdisciplinar fundamentada na alteridade implica um novo olhar para a elaboração do processo de ensinar e aprender. Nesse sentido, os professores motivam os estudantes a descobrir, questionar e recriar juntos o que já está prescrito e organizado, através de uma relação dialógica, interativa e de descobertas. Por outro lado, Klein (2008) afirma que uma prática interdisciplinar no Ensino Fundamental pode ser elaborada em pressupostos que formam a base da teoria do ensino interdisciplinar, a qual está fundamentada em uma pedagogia apropriada, em um processo integrador, na mudança institucional e na relação entre disciplinaridade e interdisciplinaridade. No que toca à pedagogia apropriada, primeiro pressuposto da teoria do ensino interdisciplinar, é assegurado que a vivência de uma prática interdisciplinar baseia-se: A pedagogia apropriada para a vivência da interdisciplinaridade exige que os sujeitos elaborem projetos ou grupos de trabalhos, os quais favorecem a colaboração entre os professores, estudantes e a comunidade. Já o processo integrador, segundo pressuposto da teoria do ensino interdisciplinar A pedagogia apropriada para a vivência da interdisciplinaridade exige que os sujeitos elaborem projetos ou grupos de trabalhos, os quais favorecem a colaboração entre os professores, estudantes e a comunidade. (KLEIN, 2008, p. 121), exige que a interdisciplinaridade seja vivenciada em “equilíbrio entre amplitude, profundidade e síntese”. A amplitude “assegura uma larga base de conhecimento e informação”. A profundidade, “o requisito disciplinar, profissional e/ou conhecimento e informação interdisciplinar para a tarefa a ser executada”. Já a síntese “[...] assegura o processo integrador” (Id). No que toca à mudança institucional, terceiro pressuposto que constitui a teoria de um ensino interdisciplinar (KLEIN, 2008), requer-se uma transformação 6 na forma organizacional e institucionaldas escolas, uma vez que um ensino interdisciplinar, para além de exigir mudanças nas propostas curriculares, necessita de uma mudança abrangente. Infere-se que essas mudanças devem ocorrer na organização administrativa e pedagógica das instituições escolares. Os agentes escolares, professores e gestores precisam estar abertos para uma mudança de atitude que favoreça a vivência de práticas pedagógicas interdisciplinares que superem o individualismo pedagógico e sejam fomentadas por meio do trabalho em equipe. Além disso, é preciso romper com propostas puramente disciplinares e viabilizar um projeto pedagógico que se efetive coletivamente pelas vias da reflexão sobre o contexto social dos sujeitos educandos. O quarto e último pressuposto da teoria interdisciplinar, segundo Klein (2008), é a relação entre disciplinaridade e interdisciplinaridade. Este pressuposto assegura que a vivência de uma prática interdisciplinar busca uma relação complexa, a qual assegura que o “[...] projeto curricular vai incorporar tanto a perspectiva interdisciplinar como a perspectiva baseada em disciplinas” (JACOBS, 1989 apud KLEIN, 2008, p. 123). Nessa perspectiva, a vivência da interdisciplinaridade não surge para dirimir os saberes disciplinares, nem eliminar as disciplinas, pelo contrário, assegura a inter-relação e a intercomunicação necessária entre os conteúdos, evitando a fragmentação do conhecimento. Ainda a propósito da interdisciplinaridade, convém mencionar a concepção histórico-dialética proposta por Silva (2009, p. 84) que “[...] é orientada por uma perspectiva pós-moderna de complexidade, onde se considera, também, o processo histórico dialético e a problematização da realidade socialmente constituída à luz de alguns aspectos do materialismo histórico […]”. Essa concepção de interdisciplinaridade foi a que orientou este estudo e é demarcada a partir de três aspectos da dialética materialista histórica, a saber: enquanto uma postura ou opção de mundo; enquanto um método que permite apreender radicalmente a realidade social; e enquanto práxis. O primeiro aspecto, enquanto postura ou opção de mundo da concepção histórico dialética da interdisciplinaridade, permite que os sujeitos vivenciem a interdisciplinaridade em um aprofundamento da compreensão dos fatos sociais e ações ativas dos 7 sujeitos (SILVA, 2009). Para vivenciar a interdisciplinaridade enquanto postura ou opção de mundo, há que se ter presente nas práticas pedagógicas a vivência da problemática social motivada por temáticas de estudos de interesses dos estudantes, considerando as suas diversidades e as criatividades em sala de aula. O segundo aspecto da concepção histórico-dialética, ou seja, a interdisciplinaridade enquanto um método que permite apreender a realidade social, caracteriza-se por permitir uma vivência de interdisciplinaridade científica com resposta às necessidades sociais (SILVA, 2009). A vivência desse aspecto acontece quando os professores, no âmbito das práticas pedagógicas, trabalham em uma perspectiva crítica e problematizadora do conhecimento. O último aspecto, a interdisciplinaridade enquanto práxis, permite uma vivência da prática pedagógica “[...] como um exercício de crítica permanente do sujeito sobre o objeto [...]” (2009, p. 89). Em outras palavras, possibilita uma reflexão sobre o mundo para transformá-lo. A vivência da interdisciplinaridade com base nesse aspecto exige que os professores utilizem a reflexividade sobre a prática para transformá-la. A FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A PERSPECTIVA INTERDISCIPLINAR O contexto escolar hoje abrange preocupações que vão desde a valorização do tempo/espaço que o professor dispõe para trabalhar na sala de aula, até a relação de mediação entre o educando e a construção do conhecimento, levando em conta o aproveitamento de seus alunos. Transformar velhos conceitos em novas realidades, recriar, renovar. Eis um grande desafio... Nesse sentido um dos caminhos a ser seguido pelo professor é o trabalho numa perspectiva interdisciplinar, integrando as várias disciplinas que compõem o currículo escolar, mostrando aos alunos que não 8 existe fronteira ente as disciplinas, mas que uma perpassa pela outra, complementando-a. Para Câmara (1999, p.15), Esse entendimento leva-nos a refletir sobre o sentido da escola na sociedade atual, pois da forma como está, ela não dará conta de sobreviver à disputa com a dinamicidade dos conhecimentos e aos questionamentos do século XXI. Qualquer um de nós, disposto a repensar a escola precisa esvaziar cabeças cheias e transformá-las em espaços dinâmicos onde se entrelaçam os infinitos nós que compõem as redes de conhecimentos. A interdisciplinaridade é um exercício de recuperação da ideia de unicidade do conhecimento humano que, com o avanço da ciência, foi se ramificando e se especializando de tal forma que as partes parecem não estar mais ligadas ao todo. Somente os professores podem ter uma participação extremamente importante no processo de romper com essa tradição alienante e superar essa contradição histórica entre o saber e a realidade. Segundo Fazenda (1993, p. 41), [...] interdisciplinaridade é proposta de apoio aos movimentos da ciência e da pesquisa. É possibilidade de eliminação do hiato existente entre a atividade profissional e a formação escolar . É condição de volta ao mundo vivido e recuperação da unidade pessoal, a tomada de consciência sobre o sentido da presença do homem no mundo. 9 Essa perspectiva defende a ideia de que é preciso formar os estudantes de tal forma que, quando adultos, sejam capazes de continuar sua educação após sair da escola, possibilitando, assim um verdadeiro engajamento na vida social e política do país. E para que isso ocorra, faz-se necessário, sobretudo, uma preparação, um compromisso e vontade do professor, visto que a interdisciplinaridade é uma proposta bastante difícil para qualquer professor trabalhar, uma vez que nossa formação se deu e ainda se dá de maneira compartimentalizada, abstrata e distante da realidade. Gallo (1999, p. 38) afirma que Para o autor, também experimentaríamos, com essa postura pedagógica, uma sensível melhoria no aproveitamento e rendimento dos alunos. 10 A PERCEPÇÃO DA INTERDISCIPLINARIDADE NO CONTEXTO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO: BREVE ANÁLISE Ao longo do último século, estudiosos buscaram soluções para o problema da relevância do conhecimento escolar. De acordo com Santomé (1998), nas análises efetuadas sobre o significado dos processos de escolarização e os conteúdos culturais que se dirigem aos centros de ensino, destaca-se a denúncia sistemática do distanciamento existente entre a realidade e as instituições escolares. Uma possível alternativa seria “insistir na necessidade de que as questões sociais de vital importância e os problemas cotidianos sejam contemplados no trabalho curricular nas salas de aula e escolas”. (SANTOMÉ, 1998, p. 9). Durante as últimas décadas, o movimento da interdisciplinaridade tem ganhado força e espaço nas discussões sobre esse novo modelo de ensino. “É necessário estudar a problemática e a origem das incertezas e dúvidas para se conhecer uma educação que as enfrente.” (FAZENDA, 2011, p. 14). O autor traz também que o exercício da interdisciplinaridade pode facilitar o enfrentamento da crise do conhecimento e das ciências, porém ressalta que é necessário que se compreenda a dinâmica vivida por essa crise e que se perceba a importância e os impasses a serem superados num projeto que a contemple. De acordo com Fazenda (2011), as discussões sobre interdisciplinaridade chegaram no Brasil no final da década de 60 (séc. XX) com sérias distorções, devido à tentativa de exercitar o novo, sem haver reflexões; um modismo sem medir as consequências. O vocábulo passoua ser palavra de ordem a ser empreendida na educação, sem se atentar aos princípios, muito menos às dificuldades de sua realização. Outro aspecto fundamental a ser considerado foi o avanço que a reflexão sobre interdisciplinaridade passou a ter a partir dos estudos desenvolvidos na década de 70 do mesmo século por brasileiros. A necessidade 11 de explicitar os equívocos surgidos a partir das dicotomias enunciadas nos anos 70 desse século foi o que marcou a década de 80 do século em pauta. Fazenda (2011) retrata que 1990 foi o ano que representou o ápice de contradições para estudos e pesquisas sobre interdisciplinaridade. A maior contradição encontrada pelo autor foi a proliferação indiscriminada de práticas intuitivas, pois os educadores perceberam o fato de a interdisciplinaridade ser uma exigência primordial da proposta atual de conhecimento e de educação. Os números de projetos educacionais que se intitularam interdisciplinares tiveram grande aumento nesse período. Tais projetos surgiram da intuição ou da moda, sem lei, sem regras, sem intenções explícitas, apoiando-se numa literatura provisoriamente difundida, criando uma falta de orientação generalizada. No fim dos anos 90 daquele século, surgem os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), documento minucioso contendo diretrizes básicas para as modificações curriculares condizentes com as novas tendências. Esse documento de 1999 descreve a proposta de substituir a formação específica pela formação geral, desenvolvimento das capacidades de pesquisa, de busca de análise e seleção de informações; capacidade de aprender, criar, formular ao invés de simplesmente memorizar conteúdos. Diante dessa nova proposta, o Ensino Médio teve seus currículos reorganizados por áreas de conhecimento, objetivando facilitar o desenvolvimento dos conteúdos, numa perspectiva de interdisciplinaridade e contextualização. A CONTEXTUALIZAÇÃO: O PONTO DE PARTIDA PARA UMA NOVA PROPOSTA EDUCACIONAL A contextualização é a ação inicial do professor para realizar a indispensável e difícil tarefa de cruzar a lógica das competências com a lógica dos objetos de aprendizagem. Para que o conhecimento constitua competência e seja mobilizado na compreensão de uma situação, seja na solução de um problema, é preciso que sua aprendizagem se refira a fatos da vida do aluno, ao 12 seu mundo imediato. A aprendizagem em contexto é a abordagem por excelência para estabelecer a relação da teoria com a prática. Os PCNs para o Ensino Médio assim explicam a aprendizagem em contexto: É possível compreender, então, que a contextualização provocada pelo professor irá gerar uma reação pedagógica no aluno, ou seja, inicialmente, irá compreender e se identificar em um “meio ambiental ou social” para, em sequência, agregar novos conceitos a partir de uma inserção interdisciplinar. A interdisciplinaridade acontece como um caso particular de contextualização. Como os contextos são quase sempre multidisciplinares, quando o conteúdo de uma determinada área ou disciplina é em contexto, é quase inevitável a presença de outras áreas do conhecimento. Assim se estabelecem os projetos integrados: é o encontro de várias áreas do conhecimento para tornar o conteúdo o mais próximo possível da realidade do educando, estabelecendo conexões entre as mesmas, desvendando um conhecimento conjunto que não admite fragmentações, conhecimento pronto e acabado. Organizar situações de aprendizagem nas quais os conteúdos sejam tratados em contexto requer relacionar o conhecimento científico, por exemplo, a questões reais da vida do aluno ou a fatos que o cercam e lhe dão sentido. A interdisciplinaridade acontece naturalmente se houver sensibilidade para o contexto, mas sua prática e sistematização demandam trabalho didático de um ou mais professores. Por falta de tempo, interesse ou preparo, o exercício 13 docente, na maioria das vezes, ignora a intervenção de outras disciplinas na realidade ou no fato que está sendo trabalhado com os alunos. Segundo o referencial curricular para as escolas estaduais do Rio Grande do Sul das áreas de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Artes e Educação Física, a interdisciplinaridade pode ser simples, parte da prática cotidiana da gestão do currículo na escola e da gestão do ensino na sala de aula. Para isso, mais do que um projeto específico, é preciso que o currículo seja conhecido e entendido por todos, que os planos dos professores sejam articulados, que as reuniões levantem continuamente os conteúdos que estão sendo desenvolvidos e as possibilidades de conexão entre eles, existindo abertura para aprender um com o outro. O PLANEJAMENTO COMO BASE DA AÇÃO PEDAGÓGICA Existem inúmeras ideias de planejamento e essas são discutidas amplamente nos nossos dias, porém há alguns aspectos que são característicos, comuns entre várias definições, isto é, considera planejamento uma previsão metódica de uma ação com a intenção de racionalizar os meios da ação para atingir determinados fins, mas que por si ela não constitui a fórmula ideal para a solução dos problemas a serem resolvidos; auxilia, sim, na obtenção previsível dos objetivos traçados, se tivermos a crença de que o planejamento é algo pronto, definitivo e imutável, pelo contrário, devemos sempre levar em consideração a problemática da realidade, adequar e replanejar à medida que identificamos que algo pode ser melhor organizado. Nessa perspectiva, vemos que o planejamento é um “processo que consiste em preparar um conjunto de decisões tendo em vista agir, posteriormente, para atingir determinados objetivos”. (DROR, 1968, p. 10). 14 Diante disso, percebemos que o planejamento, de forma geral, é o conjunto de diversas ações que, coordenadas entre si, possibilitam a obtenção de um determinado resultado desejado. A interdisciplinaridade refere-se a uma abordagem epistemológica dos objetivos de conhecimento questionando a segmentação entre os diferentes campos do saber, essa produzida por uma visão compartimentada (disciplinar), que apenas informa acerca da realidade sobre a qual a escola, tal como é conhecida, historicamente, se constitui. Já a transversalidade refere-se a uma abordagem pedagógica que possibilita ao aluno uma visão ampla e consistente da realidade e sua inserção no mundo, bem como sua participação social. (KLEIMAN; MORAES, 1999). Transversalidade e interdisciplinaridade são conceitos inseparáveis, pois se alimentam mutuamente. A interdisciplinaridade questiona a fragmentação e a linearidade do conhecimento; a transversalidade questiona a alienação e o individualismo do conhecimento. Ambas podem ser postas em prática através do trabalho coletivo. (KLEIMAN; MORAES, 1999). 15 De acordo com os PCNs (BRASIL, 2000), a contribuição da escola é a de desenvolver um projeto de educação comprometido com o desenvolvimento de capacidades que permitam intervir na realidade para transformá-la. Um projeto pedagógico com esse objetivo poderá ser orientado por três grandes diretrizes: — posicionar-se em relação às questões sociais e interpretar a tarefa educativa como uma intervenção na realidade no momento presente. Essa diretriz, para nós, implica, necessariamente, muito mais que a assimilação ou recepção de informações, até porque a quantidade de informações que estão disponíveis hoje ao cidadão comum é tal que seu uso se torna impossível se ele não conseguir integrá-las em redes significativas que ele próprio deve aprender a organizar; — não tratar os valores apenas como conceitos ideais, o que para nós implica que o educador deve pautar suas opções metodológicas de modo a incorporar o valor em questão como objetivo das atividades. Isso quer dizer, por exemplo, que não é suficiente declarar que formar leitores é um objetivo desejado, mas que o professortem que mostrar, através das atividades que realiza, que vale a pena ensinar, aprender e praticar a leitura; e — incluir essa perspectiva no ensino dos conteúdos das áreas do conhecimento escolar, o que significa, na nossa perspectiva, que o ensino e a prática de leitura, atividade constitutiva da aprendizagem, deve fazer parte de todas as atividades, e que todo professor é, em última instância, professor de leitura. Nessa perspectiva, cabe notar que a leitura é a atividade-elo que transforma os projetos de um professor em projetos interdisciplinares: parte-se da ótica do especialista — historiador, geógrafo, biólogo — para instaurar um espaço comum a todos: o da leitura. Como a leitura é um problema comum a todos, podemos dizer que, se, por um lado, partimos daquilo que se opõe (o grau de domínio da escrita é um dos grandes divisores dos grupos sociais), também estamos partindo daquilo que é problema comum a todos, vista a “crise de leitura” na escola e na sociedade. 16 A ORGANIZAÇÃO DE PROJETOS INTERDISCIPLINARES: UMA FERRAMENTA PARA O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM Os projetos interdisciplinares estão em evidência nas escolas, uma vez que propõem a interação entre alunos e professor e a relação entre conteúdo e método: Segundo Pereira (2004), a interdisciplinaridade é compreendida não somente como uma integração de disciplinas, mas uma integração de todos os envolvidos no processo educativo; sua ação sugere uma mudança nas relações mantidas entre esses, lançando outra visão às relações epistemológicas no ambiente escolar. Ao desenvolver o processo de ensino e aprendizagem baseado em projetos disciplinares, é necessário ter clareza a respeito do que trata essa metodologia que, de acordo com Almeida (1999), é uma forma de conceber educação que envolve aluno, professor, recursos disponíveis e todas as interações que se estabelecem no ambiente de aprendizagem. Esse ambiente é criado para promover a interação entre todos os seus elementos, propiciar o desenvolvimento da autonomia do aluno e a construção de conhecimentos de distintas áreas do saber, na busca de informações significativas para compreensão, representação e resolução de uma situação- problema. Dessa forma, trata-se de uma nova cultura do aprendizado, que deve tornar as instituições de ensino capazes de atender às demandas da sociedade, bem como criar espaço para que professores e alunos tenham autonomia para 17 desenvolver o processo de aprendizagem de forma cooperativa, aprimorando a capacidade de trabalhar em equipe e a habilidade de aprender a aprender. Conforme estudo realizado por Cunha e Souza Júnior (2007), visando a analisar os resultados obtidos na aplicação de projetos interdisciplinares, através de pesquisa qualitativa e quantitativa e da perspectiva dos próprios alunos, foram comparados com os resultados obtidos na visão dos professores envolvidos. Na ocasião, foram encontrados os seguintes resultados: quanto à satisfação dos alunos, a maioria sinalizou que o processo de ensino e aprendizagem foi uma experiência construtiva, favorecendo o aprendizado através de aplicações práticas e do desenvolvimento de habilidades técnicas e linguísticas. Outro item avaliado foi a mediação/acompanhamento do professor na execução das tarefas. Esse teve resultado insatisfatório na concepção dos alunos, indicando que a orientação não aconteceu da forma adequada durante o processo. Ressaltando ainda outros aspectos verificados no estudo, os alunos reconhecem que o desenvolvimento do projeto em si não aconteceu de forma muito eficiente. A percepção dos alunos quanto ao grau de integração entre as disciplinas envolvidas demonstra que a maioria dos alunos percebeu a integração das disciplinas envolvidas no projeto e afirmou que a articulação entre elas é razoável ou muito intensa. Os aspectos relevantes que contribuíram para isso foram a percepção de alguns alunos sobre a falta de sincronia nas tarefas propostas pelos professores, ou seja, em algumas das atividades do projeto e também notaram que os atrasos durante o desenvolvimento do projeto se deram por conta da diversidade de ritmo das disciplinas, já que alguns conteúdos servem como pré-requisitos para outros professores envolvidos. A pesquisa comprovou as impressões dos professores no que diz respeito à desigualdade na divisão das tarefas entre os participantes das equipes com mais de dois integrantes. Apesar de adotar uma avaliação individualizada, tem sido difícil para os professores detectar a contribuição de cada aluno nas tarefas exigidas. 18 Um dos itens que revelou maior divergência entre professores e alunos refere-se aos prazos de entrega dos trabalhos. Enquanto os professores entendem que os alunos acumulam as tarefas e resolvem cumpri-las apenas bem perto do prazo de entrega, os alunos acham que os prazos estipulados são muito curtos. Além disso, a pesquisa sinalizou a necessidade de que haja momentos reservados especificamente para sanar dúvidas e obter orientações sobre os projetos. Os alunos repetentes são tratados de forma diferenciada nos projetos, pois as atividades a eles delegadas enfocam apenas competências relacionadas às disciplinas que estão cursando. Outra dificuldade encontrada para desenvolver projetos interdisciplinares, na visão de Santomé, é a dificuldade de relacionamento entre professores, posto que cada professor preocupa-se apenas com sua matéria, considerando-a sempre a mais importante e forçando o conjunto de estudantes a interessar-se só por ela, podendo recorrer em caso de necessidade à desvalorização de outras que considerar rivais. (1998 p. 127). Sendo assim, torna-se necessário uma mudança de postura dos professores quanto à interação das disciplinas, de modo que possam analisá-las no todo e não de forma isolada, e é esse elo entre elas que proporcionará a interdisciplinaridade, mantendo o foco no tema do trabalho a ser desenvolvido, mas visando a alcançar o máximo de possibilidades nas diversas áreas que o englobam. 19 REFERÊNCIAS CÂMARA, Maria Lúcia Botêlho. Interdisciplinaridade e formação de professores na UCG: uma experiência em construção. Brasília, 1999. Dissertação (mestrado). Faculdade de Educação, Universidade de Brasília. FAZENDA, Ivani Catarina. Interdisciplinaridade: um projeto em parceria. São Paulo: Loyola, 1993. GALLO, Sílvio. Transversalidade e educação: pensando uma educação não-disciplinar. In: ALVES, Nilda e GARCIA, Regina Leite (Orgs.). O sentido da escola. Rio de Janeiro: DP&A, 1999, p. 17-42. ALARCÃO, Isabel. Professores Reflexivos em uma Escola Reflexiva. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2011. BARDIN, L. 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