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A SerA SerA SerA SerA Serviço da Vidaviço da Vidaviço da Vidaviço da Vidaviço da Vida
Uma revista a serviço do trabalhoUma revista a serviço do trabalhoUma revista a serviço do trabalhoUma revista a serviço do trabalhoUma revista a serviço do trabalho
com as constelações sistêmicas segundocom as constelações sistêmicas segundocom as constelações sistêmicas segundocom as constelações sistêmicas segundocom as constelações sistêmicas segundo
Bert HellingerBert HellingerBert HellingerBert HellingerBert Hellinger
Fascículo 0Fascículo 0Fascículo 0Fascículo 0Fascículo 0
• Prefácio à primeira edição brasileira com
três fascículos da revista Alemã.
• Prefácio
• Sobre a origem da revista Bert Hellinger
• O que a revista Bert Hellinger oferece
• Ajudar às crianças
• Homem e mulher
• Atualidades
• Meditação
Sumário
Prefácio à primeira edição brasileira com três
fascículos da revista Alemã.
Em Agosto de 2005 tivemos a
honra de recebermos em Belo Ho-
rizonte a visita de Bert Hellinger,
após um convite para o qual nos
preparamos por um ano.
Naquela ocasião, Bert nos pre-
senteou com um rico workshop ba-
seado no tema de relacionamento
de casal, o lançamento do livro “Or-
dens da Ajuda” e muitas conversas
pessoais sobre diversos temas.
Naquele momento comentamos
com ele sobre sua nova revista,
“A serviço da vida”, que havía-
mos visto em Colônia em Maio
daquele mesmo ano. Perguntamos
a ele sobre sugestões para uma
revista brasileira sobre o tema das
constelações e se ele nos daria
permissão para traduzir artigos de
sua revista para o português. A
resposta como sempre foi afirma-
tiva, e ainda nos deu várias su-
gestões sobre a inclusão de arti-
gos de autores brasileiros.
Recebemos então em Setembro
uma nova surpresa, com um convi-
te de Bert para um novo workshop
no Brasil em 2006, desta vez com
o tema “Saúde e Doença na Família
- o que leva à doença e o que apóia
a cura”. Aceitamos prontamente, e
Prefácio
Giordano Bruno foi considerado o
maior criminoso e herético de to-
dos os tempos e queimado vivo uma
vez que afirmou que o mundo não
era o centro do universo e que os
planetas não giravam em torno do
mundo e sim em torno do sol.
Isto aconteceu há 500 anos
atrás. Hoje em dia é diferente? Sim!
Ninguém mais é queimado.
Se alguém, porém, ousar apro-
ximar-se do limite do limite do
imaginável isto é sempre conside-
rado uma pertinência e para mui-
tos significa um desafio. Alguns
nem mesmo o suportam.
Bert Hellinger aproximou-se
deste limite, ultrapassou-o e olhou
para outra realidade, vivenciou-a,
experimentou-a e nos apresentou-
a em seus cursos. Não pode dá-la
a ninguém, porém é , capaz de
construir um campo em seus cur-
sos, de maneira que outros tam-
bém sejam capazes de ter uma no-
ção do que pode ser esta realida-
de. Isto, no entanto, requer uma
determinada
postura. Algu-
mas pessoas vol-
tam transformadas
após a participação em um
curso.
Bert Hellinger teve a coragem
de trazer algo de novo à luz. Algo
que estava velado até então e que
freqüentemente atua de maneira
destrutiva. Para muitos isto signifi-
ca um ganho importante, enquanto
que, para outros representa uma
grande inconveniência. Logo sur-
ge um significativo campo de ten-
sões. O novo, porém, apenas se
apresenta, quando alguém ousa
experimentá-lo. Lá, onde o novo
não existe e tudo é regido pela
ordem, logo se estabelece a mo-
notonia.
Bert Hellinger é um mestre da
liberdade de valores, da adaptação
e do centro, que se une ao seu
entorno e utiliza-o, deixando-o,
porém, intocado. Mesmo que nin-
guém possa dar nada ao outro des-
ta outra realidade, penso que Bert
Hellinger deu-nos algo valoroso e
que através dele podemos apren-
der algo: de onde a vida vem,
como concordar com ela e como
encontrar a paz e o sucesso.
nos pusemos a trabalhar com gran-
de afinco para que tudo saísse a
tempo do novo evento.
Essa revista sai em sua primei-
ra edição no formato eletrônico.
Acreditamos que as edições poste-
riores possam sair em formato du-
plo — eletrônico e papel.
A riqueza do material incluído
nesses três fascículos e sua clareza
nos surpreendem.
Esperamos que esses textos sur-
preendam o leitor da mesma for-
ma que nos tocaram.
Equipe Editorial – Editora Atman.
Maria-Sophie Hellinger
Ajudar às crianças
A constelação familiar já passou
por muitas mãos.
Freqüentemente é utilizada de
maneira positiva, outras vezes,
porém, de forma negativa.
Por exemplo, quando alguém
faz referência ao meu nome e às
minhas afirmações, mesmo
estando muito longe do meu
conhecimento e das ações que
dele resultam. Portanto julgo
ser pertinente posicionar-me
para corrigir mal entendidos e
falsificações.
Mas principalmente pretendo
oferecer um auxilio de vida para
o dia a dia a um grande número
pessoas, que vai além do campo
da psicoterapia. Quero mostrar
como o amor e a vida podem
ser mais bem sucedidos com
mais facilidade no dia a dia.
Sobre a origem da
revista Bert Hellinger
1. Algo para você pessoalmente:
Orientação em: questões de
relacionamento, de destino pessoal, e
de sabedoria de vida.
2. Conselhos:
...como, por exemplo, se pode ajudar
a crianças.
...o que pode renovar e aprofundar
relacionamentos.
...como o passado pode ser útil para
o futuro.
3. Respostas a questões
palpitantes:
Neste contexto trata-se sempre de
apenas um ponto e uma questão –
direcionados sempre às possibilidades
imediatas.
O que a revista Bert
Hellinger oferece:
Pais às vezes têm problemas porque
seus filhos já mais velhos molham a
cama durante a noite. Podemos contar
histórias para tais crianças inserindo
pequenas cenas, onde, por exemplo,
fecha-se uma torneira de água ou con-
certa-se uma calha.
Chapeuzinho vermelho, por
exemplo, chega à casa da avó, quer
entrar pela porta e percebe que a ca-
lha está pingando. Diz a si mesmo:
“Antes vou concertar esta goteira”.
Entra no galpão, busca um pouco de
piche, pega uma escada, sobe, con-
certa a goteira para que não molhe a
entrada e depois desce para visitar a
sua avó.
Ou então no conto de branca de
neve e os sete anões um pequeno anão
queixa-se de manhã, que entrou chu-
va pelo telhado durante a noite e que
acordou totalmente molhado em sua
cama. Branca de neve lhe diz: “Con-
certarei o telhado imediatamente.”
Enquanto os anões trabalham, bran-
ca de neve sobe no telhado, vê que
apenas uma telha tinha saído do lu-
gar e coloca-a de volta. Quando o
anão volta para casa de noite está tão
cansado que esquece de perguntar
sobre o telhado. Na manhã seguinte
também se esquece, pois tudo está
bem.
Um pai cuja pequena filha molha-
va a cama contou estas histórias para
ela e registrou um efeito imediato. Na
manhã seguinte a cama da menina es-
tava seca. Neste contexto observou,
porém, outra coisa peculiar.
Antes, quando contava
histórias para filha, esta
sempre prestava atenção
para que ele as contasse exatamente
da mesma maneira sem acrescentar
ou retirar algo. Tratando-se destas
modificações, no entanto, não protes-
tou e aceitou-as como se fizessem
parte da história. Neste exemplo ve-
mos que a sábia alma da criança alia-
se ao narrador. A alma almeja a solu-
ção sem que esta lhe seja dita aberta-
mente, de modo que a criança sinta-
se encorajada a colocar em prática o
novo através do seu conhecimento.
É evidente que a criança perce-
beu o que o pai disse pois do contrá-
rio a história não teria surtido efeito.
Mas como o pai não falou diretamen-
te sobre o problema e respeitou o
sentimento de vergonha da criança,
ela sentiu-se respeitada por ele ter
tido tamanha delicadeza com ela e
pôde reagir.
A criança sabe que molha a cama.
Isto não precisamos lhe contar. E sabe
também que não deve molhar a cama.
Isto também ninguém precisa lhe di-
zer. Se lhe damos um conselho ou
abordamos o seu problema sente-se
inferior. Se a criança segue o conse-
lho, a auto-estima dos pais aumenta
enquanto que a sua auto-estima di-
minui. A criança protege-se contra a
perda de auto-estima recusando o
conselho. Exatamente pelo fato de
nós termos lhe dado um conselho, à
criança precisa fazê-lo de forma dife-
rentepara manter sua dignidade. A
dignidade é o que existe de mais im-
portante para cada pessoa. Também
para uma criança. Apenas quando a
criança sente um amor profundo no
conselho pode segui-lo.
A torneira está pingando
4
Resposta ao tema:
Querida Maria-Sophie,
Há meio ano atrás lhe procurei e parti-
cipei de uma constelação familiar por-
que meu filho de 14 anos ainda mo-
lhava a cama. Havia experimentado
tudo com o meu filho e o havia levado
para diversos médicos, homeopatas e
outros terapeutas. Tudo sem sucesso.
Durante o seminário coloquei o que
relatei a cima como sendo a minha
questão na presença de todos os parti-
cipantes. Você então me disse que não
poderia ter falado isto na presença do
meu filho e em frente de outras pes-
soas. Logo me irritei. Como então o
deveria ter feito? Sem mais comentári-
os você posicionou o menino e me
posicionou como representante de sua
mãe e seu pai. Mostrou-se claramente
que Manuel sentia-se atraído apenas por
seu pai. Logo você me perguntou so-
bre o seu pai. Eu disse que havíamos
nos separado e que os dois filhos do
primeiro casamento estavam comigo.
Você falou que seria importante e ne-
cessário para o menino que fique com
o seu pai. Depois você simplesmente
interrompeu a constelação. Eu fiquei in-
dignada e com muita raiva de você. Não
havia entendido nada. Até hoje não en-
tendi nada. O resultado, porém, para mim
é mais surpreendente: Desde esse dia
Manuel nunca mais molhou a cama. Mes-
mo sem entender como isso atuou, agra-
deço-lhe de coração.
O que deixa as crianças felizes?
Quando os seus pais alegram-se com elas.
Ambos os pais. Quando ambos os pais
alegram-se com a criança? Se através da
criança, respeitam e amam o parceiro –
homem ou mulher - e alegram-se com
ele. Falamos muito sobre o amor. Como,
porém, o amor revela-se da maneira mais
bonita? Quando me alegro com o outro
da maneira como ele é. E quando
alegramo-nos com a criança exatamente
como ela é.
 Neste caso os pais de repente pas-
sam a experimentar o poder que têm
sobre as crianças como uma tarefa. Prin-
cipalmente as mães experimentam este
poder de maneira intensa, uma vez que,
vivem em simbiose com a criança por
tanto tempo. Logo não experimentam
mais o poder como sendo um poder
próprio e sim como um poder a serviço
da criança por um determinado tempo.
Um tempo atrás estive em um curso
do qual participou, também, uma mu-
lher com uma criança de cinco meses
a qual ela segurava próxima ao peito.
Ela estava sentada do meu lado. Eu lhe
disse: “Olhe para além da criança, para
algo bem distante que está por trás dela.”
Ela olhou para além da criança. De re-
pente a criança respirou aliviada e sor-
riu para mim. Ficou feliz. Assim ambos
tornam-se mais livres, tanto os pais quan-
to as crianças. Ambos podem entregar-
se mais facilmente as suas destinações
e alegrar-se através delas e conseguem
manter o desapego necessário em rela-
ção ao outro.
O que é aquilo - o distante - para onde
a mulher olhou? É o destino, o seu des-
tino e o da criança. E é algo que está
ainda mais além do destino. É algo que
permanece velado para nós. Diante
dele permanecemos humildes.
Homem e Mulher
Quem pode dizê-lo? “Eu te amo.”? O que se
passa na alma de alguém quando diz tal frase?
O que se passa na alma do outro a quem essa
frase é dita?
A alma de quem a diz verdadeiramente treme.
Nela acumula-se algo, cresce como uma onda e
arrasta-o. Ele talvez se defenda contra ela por
medo sobre onde pode estar levando-o, sobre
qual será o seu destino. A outra ou o outro, a
quem a frase é dita, também treme. Pressente o
que mudará dentro deles, as responsabilidades
que traz consigo e como determinará suas vidas
para sempre.
Eu te amo
Aqui deparamo-nos tam-
bém com o medo da dúvida
se somos capazes de suportar tal fra-
se e se concordamos com ela em toda
sua extensão, se podemos abrir-nos
para ela, independente se a dizemos ou
se é dita a nós.
Não existe, porém, frase mais bonita. Não existe frase que
nos toca tão profundamente e nos liga tão intensamente a
outra pessoa.
È, também, uma frase humilde. Através dela tornamo-nos
pequenos e grandes ao mesmo tempo. Tornamo-nos pro-
fundamente humanos.
5
Atualidades
Quando pessoas com anorexia melhoram freqüentemente
tornam-se bulímicas. Isto significa que comem e posteri-
ormente vomitam o que comeram. Aqui se revela uma
luta interna entre a vontade de partir e a de ficar. Quan-
do uma menina ou uma mulher ainda não conseguiu li-
vrar-se totalmente da bulimia, então come. Assim diz in-
ternamente: “Eu fico.” Depois, porém, vomita a comida e
diz internamente: “Eu parto”. A solução para a menina
ou a mulher, que sente vontade de vomitar a comida, é
dizer ao pai: “Eu fico.”
No caso da bulimia existem, também, outras dinâmicas.
Quando a mãe diz aos filhos: “tudo que vem do pai de
vocês, não presta. Devem aprender apenas de mim”, isto,
por exemplo, pode levar à bulimia. Então a criança acei-
ta a comida da mãe, em lealdade a ela e a vomita em
lealdade ao pai. Essa forma de bulimia pode ser curada
quando a criança aceita a comida de ambos os pais. Prin-
cipalmente do pai.
Anorexia Bulimia
(Comer e vomitar)No caso da anorexia revela-se
freqüentemente que a pessoa
que tem anorexia diz interna-
mente: “Prefiro ir em seu lu-
gar”, no sentido de uma sal-
vação. O motivo da anorexia
freqüentemente é um senti-
mento de solidariedade com
uma pessoa excluída ou que es-
teja retirando-se ou com alguém
que esteja desaparecendo ou que seja culpado de algo.
Freqüentemente esta pessoa é o pai. Situações em que
isto pode ocorrer são: quando o pai está mais conectado
com a sua família de origem ou se ele tende a movimen-
tar-se para fora da família por outro motivo, por exemplo,
por causa de outra mulher, mas também pelo desejo de
morrer.
O que pode ajudar a uma pessoa com anorexia? Se o
pai lhe diz: “Eu fico e me tornarei feliz se você ficar entre
nós.” De um modo geral uma pessoa com anorexia está
mais segura perto de sua mãe. A mãe pode lhe dizer: “Se-
guro-a para que fique”.
Gostaria de dizer algo sobre o amor. Algo
diferente do que vocês talvez estejam
esperando. Às vezes ouvimos a frase
“Permaneçam no amor!” O que significa
isto? Permanecer no amor? Conhecemos
o amor que vincula. Através de um amor
especial estamos vinculados aos nossos
pais, ao nosso parceiro e também aos
nossos filhos. Como estamos ligados a
estas pessoas desta maneira, estamos ao
mesmo tempo, separados de outras.
Permanecer no amor significa que tudo
é amado da maneira com é, que tudo é
acolhido na alma da maneira como é. Sig-
nifica que concordamos com tudo da
maneira como é e o amamos como é,
exatamente como é. Significa também,
que concordamos com toda a vida como
ela é, exatamente como é: com a própria
vida assim como é, com a vida dos ou-
tros, como é, com a criação assim como
é, exatamente da maneira como é.
Do mesmo modo também a luta faz par-
te dessa vida. A vida de cada indivíduo
disputa o lugar com a vida dos outros. Se
permanecermos no amor, amamos tam-
bém os opostos, a luta, a vitória e a der-
rota, viver e morrer, os vivos e os mor-
tos, o passado da maneira como foi, o
futuro da maneira como vem, exatamen-
te como vem. Neste amor tornamo-nos
amplos e entramos em sintonia e con-
cordância com tudo.
Este amor é a entrega para o todo. É a
religião essencial. Neste amor somos re-
pletos, serenos, podemos assistir a tudo
como se desenvolve, entregamo-nos ao
próprio destino e respeitamos o destino
dos outros e o destino do mundo. Estar
entregue ao todo deste modo significa
permanecer no amor.
Isto implica também em
conseqüências para o nos-
so dia a dia. Quem perma-
nece no amor desta manei-
ra pode assistir a tudo como
é: à felicidade e ao desas-
tre, à vida e à morte, ao
emaranhamento e ao sofri-
mento. Como ama o todo e está entre-
gue ao todo, uma vez ou outra, atua den-
tro deste fluxo de vida, porém, sem
assoberbar-se permanecendo sempre em
sintonia e na aceitação. Quem ajuda desse
modo, permanece isento de preocupações.
E é livre. Aqueles a quem ajudam também
são livres. Todos possuem sempreo mes-
mo tamanho e a mesma importância. No
todo não há quem seja melhor ou pior. No
todo existimos simplesmente.
Permanecer no amor
4
Fechamos os olhos e recolhemos-nos ao
nosso centro. Vemos-nos como crianças
diante da nossa mãe e do nosso pai.
Olhamo-los com a devoção com que as
crianças pequenas olham para os seus
pais, com os olhos bem abertos e com o
amor mais profundo. A maior entrega que
já presenciamos em toda nossa vida foi
esse olhar para a nossa mãe e o nosso
pai. Talvez, posteriormente algo o tenha
interrompido, agora, porém, voltamos a
este amor original.
Olhamos para os pais e por detrás
deles enxergamos os seus pais, e por
detrás destes os pais destes pais, e assim
em diante – no final um número infinito.
Através dessas inúmeras gerações a
vida flui até os nossos pais e através de-
les nos alcança. É a mesma vida. Todos
que a receberam e a passaram a diante o
fizeram corretamente. Ninguém podia
acrescentar algo, ninguém podia retirar
algo. A vida flui em toda sua plenitude
atravessando todas estas gerações. Para
a nossa vida não faz diferença, como era
cada um desses indivíduos, se foram pes-
soas boas ou más, reconhecidas ou des-
prezadas. No serviço à vida foram todas
iguais. Dessa forma a vida também al-
cançou o meu pai, a minha mãe e atra-
vés do meu pai e da minha mãe chegou
até mim.
Agora abrimos o nosso coração e a
nossa alma para a plenitude da vida como
ela nos alcançou através da nossa mãe e
do nosso pai. E dizemos: “Obrigado (a).
Tomo-a de vocês. Tomo-a inteiramente,
pelo preço que vocês tiveram que pa-
Meditação
O fluxo da vida
gar e pelo preço que me custe. Seguro-
a com firmeza e devoção e transmito-a
em sua plenitude e nas condições em
que possa e seja capaz de transmiti-la”.
Depois apoiamos-nos em nossos pais
dos quais tomamos a vida por inteiro.
Olhamos para frente e repassamo-la
como sempre: a filhos próprios, a netos
próprios, a todas as inúmeras gerações
que nos seguem. Ou, se não temos fi-
lhos, repassamo-la de outra maneira, em
serviço à vida. A vida nos atravessa e
continua fluindo. Na medida em que nos
atravessa estamos mais profundamente
ligados a ela. Porque a vida, assim como
o amor flui.
A clareza
A clareza é abrangente. Desvenda os
contextos mais amplos, as circunstânci-
as, as possibilidades, as conseqüências. E
sempre é reconfortante. E também não
precisa provar nada porque embora seja
clara não tem ponto de vista. Podemos
dizer também que justamente pelo fato
de ser clara não possui ponto de vista
uma vez que apenas o estreito necessita
do ponto de vista para distinguir-se. A
clareza por ser clara é, também, ampla.
Como obtemos clareza? Primeiro na
medida em que nos recolhemos para que
aja espaço entre nós e a situação sobre a
qual queremos adquirir clareza. Apenas
assim ganhamos uma visão geral.
 Em segundo lugar na medida em
que não transferimos nada do nosso co-
nhecimento e dos nossos desejos que
possuímos até então para a situação para
assim caracterizá-la e sim abrindo-nos de
forma desprovida de intenções para que
tudo possa fazer efeito sobre nós com
toda sua complexidade e suas supostas
contradições. Permanecemos assim até
que se estabeleça uma ordem dinâmica
dentro dessa multiplicidade diante do
nosso olhar interno para que o essencial,
o próximo passo, o reconhecimento de-
cisivo revelem-se.
Portanto a clareza não é tanto obti-
da. Ela é dada àquele que é capaz de
esperar de forma distanciada, porém,
envolvida. Nasce daquilo que vemos
como massa caótica, às vezes aparece
em forma de relâmpago que por um
minuto clareia o entorno dentro do qual
temos que movimentar-nos e seremos
bem sucedidos.
A clareza mantém-se enquanto agimos
de acordo e muda na medida em que
atuamos. Apenas quando atuamos torna-
se totalmente clara. Por este motivo não
se pode ensiná-la ou mesmo prová-la na
teoria. É clara para aqueles que agem de
acordo com ela e é clara principalmente
para aqueles que agem conjuntamente
e de acordo com ela. Aprimora-se e
aprofunda-se através da ação.
7
Respostas a perguntas feitas
por carta:
A seguir encontram-se respostas a per-
guntas que me foram apresentadas. Mui-
tas das perguntas foram feitas por pes-
soas que eu nem mesmo conhecia. As
minhas respostas limitam-se à essência
das perguntas e, portanto, são breves. São,
porém, respostas que demonstram um
posicionamento e oferecem soluções.
Estas respostas podem ser lidas como
pequenas histórias, uma vez que cada
uma delas contém um destino velado.
Para um casal que não conseguia
decidir-se:
Esta é uma história para vocês.
Alguém ouviu dizer como é bom andar
de carro, principalmente quando se está
acompanhado. Ele decide primeiro olhar
os diferentes modelos. Assim vai a diver-
sas concessionárias, olha as ofertas e ve-
rifica suas particularidades. É verdade que
para quem quer andar todos os modelos
servem, existe, porém, sempre algo a
reclamar aqui e ali. E assim ele decide
esperar mais um ano. No ano seguinte
faz o mesmo e assim após três e quatro
anos. No meio tempo até chegou a soli-
citar férias mais longas para poder co-
nhecer também os modelos de carros em
outros países. Durante todos esses anos,
porém, ainda andava a pé. Mas de re-
pente perdeu a paciência. Neste momen-
to precisava de um carro imediatamente
mesmo que não fosse o melhor nem o
mais novo modelo. Tinha tanta pressa em
obtê-lo que atravessou um cruzamento
com o sinal aberto. Um caminhão tentou
frear, mas era tarde demais. Matou-o.
Observação: O homem certo e a mulher
certa raramente são encontrados. O bom
homem e a boa mulher geralmente são
suficientes.
Para uma mulher que gostaria de
ter um homem
Como você pode encontrar um homem?
Respeite os homens e um deles encon-
trará você.
O que deve ser levado em consi-
deração na diferença de idade
Aos 37 anos a diferença de idade ainda
não é tamanha que chega a prejudicar
um relacionamento. Você não vai querer
escolher a mais nova de todas. A seguin-
te orientação serve como regra: Se am-
bos tem um futuro pela frente então
existe uma base comum para eles. Quan-
do, porém, um dos parceiros já viveu o
que se chamaria de “seu futuro” e o ou-
tro ainda não, então o conflito está pre-
destinado. Um dos parceiros sente-se na
posição de ter abdicado do seu futuro e
se vingará por isto. Podemos observá-lo
quando um homem mais velho que já
foi casado e tem filhos relaciona-se com
uma mulher mais nova.
Ultimamente muitos se
pronunciaram a meu
respeito,
freqüentemente sem me
conhecer e sem conhecer
o meu trabalho.
Portanto...
...falarei a meu respeito pela
primeira vez
Começarei pelo o meu passado. Vivenciei
o nacional-socialismo do início ao fim.
Portanto sou uma das poucas testemu-
nhas da época que estão vivas. Sei do
que estou falando.
Ainda me lembro exatamente quan-
do uma noite meu pai entrou pela porta
de casa após o trabalho e disse a minha
mãe: “Hitler é Chanceler do Reich”. Es-
tava muito apreensivo. Ele tinha uma
noção do que isto significaria para nós.
Pouco depois sentimos na própria pele
o que significava. Morávamos em Colô-
nia e num dia de domingo queríamos
fazer um passeio para as montanhas.
Fomos à missa matinal e quando saímos
da igreja esperamos pelo bonde. Então
um integrante da SA (Strumabteilung-
tropa de assalto) aproximou-se do meu
pai e fez um comentário desaforado. Meu
pai também fez um comentário. Por con-
seguinte o integrante da SA se pôs a gri-
tar com o meu pai e queria prendê-lo.
Neste momento o bonde chegou. Meus
pais e nós – três crianças – entramos no
bonde rapidamente. O condutor fechou
a porta imediatamente e o bonde partiu.
O integrante da SA, no entanto, subiu em
sua bicicleta e aos berros seguiu o bon-
de. O condutor do bonde não parou na
estação seguinte e continuou até que ti-
nha se livrado do homem que nos per-
seguia. Os passageiros aplaudiram. Na-
quela época isto ainda era possível em
Colônia. Mais tarde, porém, não. Naque-
la época eu tinha sete anos.
8
Com dez anos de idade entrei para
um internato em Lohr am Main. Para
fazer o segundo grau, porém, freqüentei
o colégio da cidade. Um pequeno episó-dio mostrará como era o internato para
onde eu tinha entrado. Após a adesão da
Áustria à Alemanha houve um plebisci-
to. Aparentemente alguns padres do in-
ternato e algumas irmãs que trabalhavam
na cozinha haviam votado “não”. Não era,
porém, uma votação sigilosa. Os votos
foram interceptados. A noite teve uma
grande passeata da SA e em seguida um
grupo de integrantes da SA posicionou-
se em frente à casa que era o internato.
Com letras maiúsculas rabiscaram nos
muros: “Aqui moram traidores” e “vota-
mos no não”. Depois quebraram cerca
de 200 vidraças a pedrada. As pedras
atingiram também o dormitório onde es-
távamos dormindo. Na manhã seguinte
dois padres foram submetidos à deten-
ção cautelar e nós saímos de férias.
Em 1941 este internato foi fechado. Eu
fui a Kassel (Alemanha) para onde os
meus pais haviam se mudado no meio
tempo. Lá freqüentei o segundo grau.
Aderi a um grupo pequeno do movimen-
to da juventude católica que, porém,
havia sido proibido muitos anos antes.
Aparentemente éramos observados pela
Gestapo (polícia secreta do Estado).
Após a sétima série a turma inteira teve
que entrar para o Arbeitsdienst (serviço
de trabalho do Reich) e depois para a
Wehrmacht (forças armadas). Bem no
início da minha estadia no Arbeitsdienst,
uma noite um dos supervisores entrou
pela porta, veio diretamente em minha
direção e envolveu-me em uma conver-
sa. Era da Gestapo. Eu, porém, naquela
época não o sabia. Envolveu-me numa
conversa sobre Nietsche e Hegel. Natu-
ralmente, com 17 anos de idade eu sabia
apenas muito pouco a respeito. Porém,
alguma coisa, eu sabia. Então, durante a
conversa, ele disse: “Hegel previu o Es-
tado como o temos hoje.” E eu disse:
“Pelo meu conhecimento, Hegel odiava
o Estado”. Então, subitamente, ele falou:
“O senhor odeia o Estado”. Logo percebi
que se tratava de um interrogatório da
Gestapo. Um ano depois a nossa turma
recebeu o certificado de conclusão do
segundo grau por correio. Eu, neste meio
tempo, já servia a Wehrmacht, e estava
estacionado na França. O último ano do
segundo grau nós foi dado, uma vez que,
estávamos todos na Wehrmacht. Foi,
porém, requisitado um certificado de
conduta do Arbeitsdienst.
A mim o certificado de conclusão do se-
gundo grau foi negado uma vez que no
meu certificado de conduta do
Arbeitsdienst estava escrito: Trata-se de
um sujeito anti-social, que potencialmen-
te pode prejudicar o povo. Vocês podem
imaginar o que isto significava naquela
época? Significava: Ele está liberado para
ser morto.
Tudo que hoje em dia, às vezes,
acontece comigo fatalmente me lembra
essa situação.
Quando a minha mãe soube do ocor-
rido foi até o diretor do colégio e disse:
“Meu filho está servindo na Wehrmacht.
Está colocando sua vida em jogo e vocês
o negam o certificado de conclusão do
segundo grau?” O diretor envergonhou-
se e entregou-lhe o meu certificado de
conclusão de segundo grau. Minha mãe
lutou por mim como uma leoa.
Eu, então, estava na Wehrmacht, ativo
na frente oeste. Muitos dos meus cama-
radas morreram ou foram gravemente
feridos. Eu mesmo, muitas vezes, esca-
pei da morte por pouco. Por exemplo,
quando tivemos que atravessar um cam-
po minado por falta de outra saída.
Quando chegamos a Aachen fui man-
dado para um acampamento em
Charleroi na Bélgica como prisioneiro de
guerra dos Americanos. Éramos 1600 pri-
sioneiros e trabalhávamos 10 horas por
dia em um enorme depósito americano.
A mando de Eisenhover, porém, só rece-
bíamos a metade das calorias necessárias
para este trabalho, o que servia de casti-
go para os Alemães.
Alguns de nós tiveram a coragem de
fugir. Foram pegos e imediatamente
posicionados contra a parede e mortos a
tiros. Um ano depois eu também tentei
a fuga e consegui. Pouco antes do meu
aniversário de 20 anos estava, finalmen-
te, livre. Meu irmão, porém, permane-
ceu na guerra. Eu já não corria mais peri-
go porque a Alemanha havia perdido a
guerra. De modo contrário não estivaria
seguro. O sofrimento decorrente dos da-
nos psicológicos, no entanto, está pre-
sente diariamente.
Quantas pessoas que me agrediram
não vivenciaram nada parecido na própria
pele e tiveram que se defender contra um
sistema totalitário sob perigo de vida?
9
O presente
Agora quero voltar-me para o presen-
te. Porque existem tais ataques e ca-
lúnias contra a minha pessoa? A prin-
cipal acusação é que eu reconheço,
também, um agressor como ser huma-
no assim como a mim mesmo. Esta é a
maior inconveniência. Como cheguei
a assumir tal postura?
Em primeiro lugar porque me sin-
to na sucessão de Jesus. Ele sentava-
se à mesa com os pecadores. Por este
motivo outros se incomodavam. Ele
aboliu a diferenciação entre o bom e
o mau. Por exemplo, quando disse:
“Sejam misericordiosos como também
o pai de vocês é misericordioso. Ele
faz nascer o seu sol sobre maus e
bons, e faz chover sobre justos e in-
justos.” Este é o amor em sua essên-
cia que não exclui mais ninguém.
Um segundo aspecto foi impor-
tante pra mim. Eu pude ver através
do meu trabalho que existe uma for-
te ligação entre agressor e vítima. A
primeira vez que o percebi foi duran-
te um curso em Berna. Um homem
havia posicionado sua família. De-
pois disse: “Tenho que falar mais uma
coisa. Eu sou judeu. Ninguém da mi-
nha família, porém, morreu. Nós vi-
víamos na Suíça.” Mas a sua mãe ha-
via-se suicidado e ele também corria
perigo de suicídio. Era possível ob-
servar que ele e sua mãe no fundo
da alma estavam intimamente ligados
às vítimas judias.
Depois eu simplesmente posicio-
nei sete representantes para os judeus
assassinados e atrás deles, há 2
metros de distância, sete representan-
tes para os assassinos. Depois deixei
que os representantes das vítimas se
virassem para os agressores e não
interferi mais. Surgiu um movimento
do fundo da alma entre vítimas e
agressores. Os agressores estavam
tomados por uma dor imensa. Quan-
do avistaram as vítimas estenderam
as mãos em direção a elas e as abra-
çaram. Um dos agressores disse: “Esta
é apenas uma vítima. Há outras cen-
tenas de vítimas que tenho que enca-
rar.” De repente foi possível ver como
vítima e agressor no fundo eram uma
unidade ligados por um amor profun-
do. Como isto era possível? Tanto os
agressores como as vítimas puderam
ver que estavam entregues a uma for-
ça maior que atuava por detrás de-
les. Um dos agressores disse: “Sinto-
me como se fosse um dedo de uma
mão poderosa que pertence a um
poder ao qual estou totalmente en-
tregue.”
Esta foi a primeira experiência
deste tipo. A partir desse momento
eu não pude mais enfrentar os
agressores como se fossem diferen-
tes ou como se fossem inumanos ou
como se não fossem, também, incen-
tivados por uma força maior que atua
por detrás deles.
Apenas através do reconhecimen-
to que vítimas e agressores são mu-
tuamente atraídos fui capaz de servir
à paz em diversos países. Primeiro em
Israel. Fui convidado três vezes para
cursos em Israel. Lá eu fiz exatamen-
te o que descrevi aqui. Posicionei as
vítimas e os agressores uns de frente
para os outros. Também aqui foi pos-
sível observar como precisavam se
movimentar na direção dos outros.
Não tinham como escapar deste mo-
vimento.
Uma grande experiência que fiz du-
rante estas constelações foi que os mor-
tos - as vítimas mortas e os agressores
mortos - podem e querem encontrar-se
a não ser que seus descendentes assu-
mam a questão destes mortos e quei-
ram repetir todo o drama novamente.
Assim impedem a reconciliação. A mes-
ma experiência fiz também na Turquia
no conflito entre Turcos e Armênios. E
no Japão quando posicionei vítimas e
agressores de um grupo junto com as
vítimas e os agressores do outro gru-
po. Quando damos espaço aos movi-
mentos da alma, vimos e sentimos que
no fundo a alma deseja a reconcilia-
ção. Quer unir o que estava, até então,
separado.
O que contraria este movimento?
A petulância da consciência tranqüi-
la. Todos estes atos graves, todos es-
ses ataques partem de pessoas que
estão convencidas de que possuem a
10
consciência tranqüila e de que são
inocentes. Pensam que a sua boa
consciênciadá-lhes o direito de agre-
dir os outros e até aniquilá-los. Todos
os grandes conflitos obtêm sua força
da consciência tranqüila. O desejo de
aniquilação de um grupo contra um
outro se origina na consciência tran-
qüila de cada um. Ambos os lados
possuem uma consciência diferente
que é, porém, sempre tranqüila.
Desta maneira servi a paz em mui-
tos países. Na Espanha, por exemplo,
existia o mesmo movimento no con-
flito entre Espanhóis e Bascos. O
Basco que constelou este conflito es-
tava aberto para esta reconciliação.
Mas no dia seguinte alguém lhe pas-
sou um bilhete escondido ameaçan-
do-o de morte. Por quê? Porque ele
queria superar a separação.
 Tive uma experiência parecida
com os descendentes dos partidos da
guerra civil na Espanha. Porque o
conflito continua de forma velada e
muitos esperam que finalmente se
possa ter paz.
Assim foi também em vários ou-
tros países. Isto me dá força de conti-
nuar andando por este caminho in-
dependente do que os outros falam
de mim. Unir o que estava separado
é o processo essencial de cura den-
tro das famílias como podemos ob-
servar nas constelações familiares. E
também entre grupos rivais.
A Serviço da Vida
Uma revista a serviço do trabalho com
as constelações sistêmicas segundo
Bert Hellinger
Com artigos da revista alemã
“HellingerZeit Schrift”- revista trimestral
alemã de autoria de Bert Hellinger e
Marie-Sophie Hellinger.
Reprodução autorizada.
Direitos autorais para o português da
Editora Atman.
Tradução: Filipa Richter
Revisão: Tsuyuko Jinno-Spelter
Diagramação: Virtual Edit
Coord. Editorial: Décio Fábio de
Oliveira Júnior
Revista 0 – edição alemã em 05/2005
A SerA SerA SerA SerA Serviço da Vidaviço da Vidaviço da Vidaviço da Vidaviço da Vida
Uma revista a serviço do trabalhoUma revista a serviço do trabalhoUma revista a serviço do trabalhoUma revista a serviço do trabalhoUma revista a serviço do trabalho
com as constelações sistêmicas segundocom as constelações sistêmicas segundocom as constelações sistêmicas segundocom as constelações sistêmicas segundocom as constelações sistêmicas segundo
Bert HellingerBert HellingerBert HellingerBert HellingerBert Hellinger
Fascículo 1Fascículo 1Fascículo 1Fascículo 1Fascículo 1
• Prefácio
• Ajudar às crianças
• Homem e mulher
• Crescimento Interior
• Meditação
• Atualidades
• Entrevista
• História
Sumário
Prezados leitores,
O 5º congresso internacional de constelações sistêmicas 2005 em Colônia reuniu mais de
mil participantes de 40 países. Mostrou de forma impressionante como a constelação familiar e
as experiências novas adquiridas através desta vem sendo mundialmente reconhecidas.
Através de diversas palestras e seminários vimos o nível de diversidade com o qual a cons-
telação familiar evoluiu. Para muitas pessoas tornou-se um auxílio de vida e abriu diversas
portas.
A palestra com o título “Como o divino cresce em nós” proferida no último dia do congresso
pelo Irmão David Steindl-Rast foi particularmente comovente. Irmão Steindl-Rast é beneditino
e vive nos Estados Unidos. Sua palestra tocou os participantes de modo especial, demonstran-
do que por trás de todo ato de ajuda procura realizar-se algo de essencial que transcende todos
os limites impostos por nós, conectando-nos em um nível profundo. Há muito tempo os parti-
cipantes esperavam por algo assim. Irmão David autorizou-me a publicar o artigo proferido em
Colônia nesta revista. Lendo-o terão a possibilidade de compartilhar a comoção dos ouvintes
da palestra. Em outubro do ano passado eu e meu amigo Ludwig Fischer visitamos Irmão David
no mosteiro Mount Savior em Ithaka ao norte de Nova Iorque. Eu já o conhecia de palestras em
Salzburg e através de seus livros. A organização do congresso em Colônia já o havia convidado
muito antes para participar de um curso e de uma palestra em Colônia, mas Irmão David hesita-
va, tendo em vista a longa viagem. Juntos, assistimos à missa no mosteiro e em seguida fize-
mos uma longa caminhada. Falamos sobre “a nossa percepção de deus de hoje”. Concordamos
que precisamos ter muita cautela ao interpretar ou definir nossas percepções internas. No final
da caminhada Irmão David concordou em vir a Colônia e manter o contato comigo. Este é o
contexto desta contribuição especial que encontrarão na revista.
A palestra de Antjie Krog e a troca de experiências com a mesma durante o congresso foram
similarmente comoventes. Antjie Krog falou sobre seu trabalho na Comissão da Verdade e Re-
conciliação na África do Sul que tinha como objetivo reconciliar agressores e vítimas do regime
de segregação racial. Diferente de muitos relatos na Europa, a Comissão de Verdade e Reconci-
liação visava contribuir para a cura e o restabelecimento do aspecto humano danificado de
ambas as partes. No final de sua palestra eu estava com os olhos cheios de água. Como também
havia vivido na África do Sul durante muitos anos o seu relato tinha um significado especial pra
mim. O trabalho da Comissão de Verdade e Reconciliação visava em primeiro lugar restabelecer
a integridade da alma, tanto das vítimas como dos agressores. Esta é restabelecida na medida
em que os agressores voltam a comportar-se humanamente e o demonstram em suas ações.
Apenas nestas circunstancias vítima e agressor poderão reencontrar-se na condição de ser hu-
mano, estando ambas as partes inteiras internamente. Pra mim este trabalho foi um exemplo de
auxílio de vida do nosso tempo com um sentido muito profundo e que visa o futuro.
No debate seguinte eu disse que de acordo com a minha experiência a paz somente se
estabelece de forma duradoura se ambos, agressor e vítima são capazes de dizer um ao outro:
“Eu reconheço que sou igual a você”.
No final, auxílio de vida nos dias de hoje significa que se une o que estava separado. A revista
é uma contribuição importante para este assunto. Os artigos revelam diferentes formas de como
este movimento pode ser reconhecido, compartilhado e realizado em cada caso individual.
Desejo-lhes que com ajuda da revista façam novas conquistas que os preencham tanto no
campo pessoal como em seus relacionamentos.
Bert Hellinger
4
Ajudar às crianças
Muitas vezes crianças sabem
internamente o que precisam, não
querem, porém, que lhes seja dito.
Deve partir de um reconhecimen-
to interno próprio. Logo contamos
determinadas histórias à criança
que a ajudam a superar dificulda-
des. Contamos a história de tal for-
ma que nos aliamos, amorosamen-
te, ao bom entendimento da crian-
ça, como a um confidente.
Estive com os negros na África do
Sul, durante muitos anos. Um dia me
aproximei de um chefe tribal e conver-
samos. Apresentou-me também a sua
mulher. Ele tinha quatro mulheres e mui-
tos filhos com elas. Depois me falou de
seus filhos, pois um deles, um menino,
o preocupava. “Eu não sei o que ele
tem. Às vezes ele fica tão triste.”
Um dia o menino achou um amigo.
Foram caminhar e encontraram mais um
menino. Este era um pouco maior que
eles. Disseram um ao outro: “Agora va-
mos olhar o mundo.” Mas aquele meni-
no disse: “Há algo muito importante que
preciso fazer antes.” Ele havia perdido
alguém; alguém que lhe era muito que-
rido. Assim disse: “Antes eu tenho que
ir até o seu túmulo.” Foram juntos até o
Ajudar crianças com histórias
Mais um ponto deve ser conside-
rado. O inconsciente não conhece a
negação. Quando por exemplo os
pais falam ao seu filho “Tome cuida-
do para não levar um tombo”, a alma
ouve: “ Tome cuidado para levar um
tombo.” O “não” não é ouvido na
alma. Portanto é útil formular frases
desses gênero de maneira afirmativa,
ou seja, sem utilizar o “não”. Por
exemplo :” Cuide bem de você”, “che-
túmulo. Quando estavam diante do
túmulo o menino disse:” Esperem mais
um pouco, ainda tenho que colher algu-
mas flores. Colheu as flores e depois foi
até os outros que estavam diante do
túmulo.
De repente ele ficou triste. Fechou
os olhos e pensou naquela pessoa queri-
da. Depois sentou-se. E sentiu que essa
pessoa querida estava perto dele. Real-
mente a sentiu, assim comose alguém
colocasse o braço em volta do seu om-
bro e falasse: “Estou sempre perto de
você” e então ele ficou feliz.
Depois continuaram andando. Aque-
le menino olhou em sua volta e de re-
pente tudo estava mais bonito do que
era antes. As flores eram mais bonitas.
Ele ouvia os pássaros cantando e pen-
sou: Nunca os ouvi cantar tão bonito”.
Eles passaram por um pé de maçã. Ele
colheu uma maçã e deu uma mordida.
Nunca uma maçã tinha sido tão saborosa
para ele. Assim, juntos, continuaram an-
dando.
À noite voltaram para casa. O chefe
perguntou ao seu filho: “O que você fez?
Você está totalmente mudado.” O meni-
no disse: “Sim, estou. É que encontrei um
tesouro que agora está sempre do meu
lado.”
História para um órfão
gue bem na escola”, “tome cuida-
do ao utilizar a faca”. Assim sen-
do, é importante formular de ma-
neira positiva as frases que uma
criança diz em uma história. Vou
dar um exemplo.
O diretor de um orfanato par-
ticipou de um de meus cursos em
Moscou e trouxe um menino de 12
anos. O menino sentou-se do meu
lado e eu lhe contei uma história.
5
Pais com filhos portadores
de deficiência
Pais com filhos portadores de deficiência e pais de
criação que acolhem uma criança portadora de
deficiência são solicitados de maneira peculiar pelo
destino dessas crianças. Freqüentemente a constelação
familiar revela-nos de modo comovente como o amor
cresce diante de tal tarefa e destino.
A constelação dessas famílias revela três aspectos:
Em primeiro lugar o alívio que significa para os pais quando
carregam tal destino com respeito e amor mútuo sem procurar em
si ou em outros a culpa ou os motivos pela deficiência. Por outro
lado, às vezes um deles ainda está envolvido nos destinos da pró-
pria família de origem e gostaria de ir embora ou é incapaz de
voltar-se inteiramente ao parceiro e à tarefa em comum. A gratifica-
ção, porem, é grande quando este consegue libertar-se do emara-
nhado familiar através da constelação.
Em segundo lugar mostra que não existe saída de tal destino.
Uma retirada isenta de conseqüências para a própria alma e vida é
impossível. As conseqüências, neste caso, são mais graves para os
pais do que quando se rendem solícitos a sua responsabilidade e a
renúncia relacionada à mesma.
Em terceiro lugar, a constelação familiar revela que pais biológi-
cos e de criação podem, também, obter muita força e auxílio de
suas famílias de origem quando, por exemplo, existem antepassa-
dos com destinos parecidos. Lembrando-se deles com dignidade e
reconhecimento podem obter força e proteção. Geralmente a defi-
ciência é orgânica, logo muitas vezes não é possível alterá-la. Pode-
se apenas abrandar as suas conseqüências. Existem, no entanto,
exemplos que demonstram que uma deficiência pode, pelo menos
em parte, estar fundamentada na história familiar. Por exemplo,
tratando-se de autismo. Neste caso a constelação familiar revela
soluções que podem ter um efeito libertador para a criança porta-
dora de deficiência.
Há um outro aspecto a ser considerado. A deficiência afeta o
corpo e a mente, a alma, porém, permanece livre. É o olhar voltado
para a alma da criança que sustenta e aprofunda o amor em seus
pais biológicos e de criação.
Crianças são fiéis
aos seus pais
Falei ao ajudante: “Não é uma tarefa bonita aju-
dar a órfãos como você o faz?” É também uma tarefa
difícil. Aparentemente difícil. Podemos deixar o sol
brilhar sobre essas crianças, assim como são, e sob
seus pais, assim como sempre foram. Neste instante
as crianças sentem-se como crianças de sua família.
O mais importante para a criança é que saiba: “Este é
o meu pai e esta a minha mãe. Eu faço parte deles e
eles de mim, mesmo que já estejam mortos ou que
algo tenha sucedido”. Assim sentem-se em casa no
orfanato e é simples lidar com elas.
Se auxiliarmos demasiadamente uma criança ela
fica zangada. Ajudamos com distância e ajudamos,
principalmente, em nome dos pais. Logo é impor-
tante que nos situemos abaixo dos pais. Se nos colo-
carmos acima, como se fôssemos um pai ou uma
mãe melhor do que os pais reais da criança, ela fica
zangada.
Manter-se em sintonia com os pais é a melhor
maneira dos assistentes de ajudarem as crianças de
um orfanato.
Esta postura compreende também que se per-
mita que as crianças a eles confiadas, venham a ser
iguais a seus pais. Trata-se de um ponto muito im-
portante uma vez que crianças querem ser iguais a
seus pais. Se dissermos a uma criança “Só não fique
como o seu pai” ela quer tornar-se exatamente igual
ao pai por um sentimento de lealdade. Este é o efei-
to de tais alertas na alma da criança. Se, porém, é
permitido que a criança venha a ser como o seu pai
e essa lhe diz na alma ”eu quero ser igual a você”
então o pai a olha amorosamente e talvez lhe diga
“Você também pode fazê-lo um pouco diferente de
mim.” Através da aceitação de seus pais como eles
são a criança fica livre para desenvolver-se diferen-
temente, fora do campo de influência dos pais. Toda
criança ama os seus pais independente de como eles
são. Se a pessoa que quer ajudar a essas crianças ama
e respeita os pais dentro delas, elas sentem-se segu-
ras. Amam os ajudantes uma vez que estes estão
internamente ligados aos seus pais e porque sabem
que querendo, podem voltar internamente para os
seus pais a qualquer momento.
6
Homem e Mulher
Quando um ho-
mem encontra a mu-
lher pela qual se sen-
te atraído de modo
especial e quando
uma mulher, ao en-
contrar este homem,
se sente atraída por ele de
modo especial, os dois são atraves-
sados por um sentimento de felicida-
de, até então desconhecido, e por um
desejo que deles se apossa totalmente.
Sentem este sentimento de felicidade e
este desejo como amor. Quando então o
homem diz à mulher: “eu amo você” e
se a mulher também disser ao homem:
“eu amo você” eles se unem e se tor-
nam um casal.
Porém, será este primeiro amor, que
sentem um pelo outro, que confessam
um ao outro, suficientemente forte, para
uma união duradoura? Mesmo se após um
tempo, ficar claro que os caminhos di-
versos que até então percorreram, os
unem de forma tão intensa apenas por
um tempo? Quem sabe até por um lon-
go tempo, principalmente se não forem
apenas um casal e sim se tornarem pais.
E se estes caminhos, porventura, mais
tarde apontarem para direções distintas,
ainda assim os ligarão? Pois o que o ho-
mem e a mulher realmente sabem um
do outro na exaltação do primeiro amor?
O que sabem da escuridão que envolve
a sua origem, o seu destino e a sua de-
signação especial? Quando aquilo que
estava velado até então, vier à luz, a ques-
tão é, o que os ajudará para que o seu
amor persista e sobreviva a esta realida-
de? Sentimos que esta primeira confis-
são “Eu amo você” necessita ser
complementada por algo mais. Algo que
prepara um casal para este estado mais
abrangente, que o conduz para tal
amplidão e profundidade que o faz cres-
cer para além deste primeiro amor. Uma
frase que engloba esta dimensão maior
e que os prepara para ela, seria: “Eu amo
você e aquilo que guia a você e a mim”.
O que sucede, quando o homem diz à
mulher e a mulher diz ao homem esta
frase: “Eu amo você e aquilo que guia a
você e a mim”? De repente não olham
apenas para si e para o seu desejo, olham
para algo maior que está para além de-
les. Mesmo que ainda não consigam com-
preender o que esta frase exige deles
de especial, e que destino aguarda cada
um deles individualmente e juntos, tra-
ta-se de uma frase que prepara e possi-
bilita, após o amor à primeira vista, o
amor à segunda vista.
O segundo olhar
Sexo
A palavra sexo é uma palavra adver-
sa para a alma, pois lhe falta a alma, a
profundidade, a paixão repleta, a desco-
berta do outro e o ato de reconhecer e
encontrar a si mesmo no outro.
Quanta força, porem, está inerente à
antiga e hoje em dia mal vista palavra
volúpia. Nela sentimos o movimento, o
calor, a paixão, os corpos entrelaçados, o
ato de segurar-se intensamente, o abra-
ço insaciável, o impulso adiante, o auge
e o relaxamento feliz. Em comparação a
este calor sexo é frio — é como fastfoodao lado de uma refeição farta.
Volúpia é vida, imponente em sua
força e fértil em todos os sentidos. Dela
resulta algo muito além do pessoal e do
auto-referente. A volúpia, porém, é
incontrolável, transbordante, pois guiada
e sustentada por algo maior. Nela a alma
se alegra.
Devemos, portanto, introduzir nova-
mente esta palavra? Não. É excessiva-
mente frágil como algo sagrado. O me-
lhor a se fazer, no entanto, é abolir a pa-
lavra sexo. Com tudo que lhe atribuímos,
de qualquer modo é uma palavra desco-
nhecida para a alma.
A constelação familiar não apenas
revela o que estava, até então, velado.
Mostra também caminhos para a solução.
O ponto crucial da constelação familiar é
mostrar saídas do emaranhado e guiar os
as pessoas afetadas nesta jornada.
Assim como o amor à primeira
vista não pode durar quando não é se-
guido pelo amor à segunda vista, a solu-
ção na constelação familiar apenas terá
êxito se as pessoas em questão se
conectarem a algo maior. Ou seja, dei-
xando algo do passado para trás, consci-
entemente, e abrindo-se para algo novo,
mesmo que no início lhes cause medo.
O ato de saber e reconhecer, por si só,
neste caso não ajuda muito. Necessita-
se, além disso, de uma força especial.
A fonte de tal força é por um lado a
conexão com os pais e ancestrais e por
outro o ato de inserir-se em algo maior.
Quando nos rendemos a algo maior en-
tramos em sintonia com o que finalmen-
te nos conduzirá. Às vezes transporta-
nos para além dos limites de um emara-
nhado e nos liberta para um amor feliz e
repleto. Mas nem sempre. Às vezes tes-
temunhamos em nós mesmos ou outros
que um limite não pode ser ultrapassa-
do, ou seja, que nós ou o nosso parceiro
somos incapazes de libertar-nos de um
emaranhado temos que reconhecer este
fato sem querer mover ou modificar algo.
Num relacionamento entre casais tal fato
é percebido como morrer. Até mesmo
esse ato de morrer podemos enfrentar
com amor se dizemos um ao outro: Eu
me amo e eu amo você com tudo que
nos guia.”
Como amor e vida dão certo juntos
7
A constelação familiar revela muito
do quanto as ligações de destino solici-
tam de um casal e de seus filhos. Na cons-
telação familiar o homem ou a mulher
escolhe representantes para determina-
dos membros de sua família a partir um
grupo de participantes e coloca-os em
relação dentro do espaço. No momento
em que tomam o seu lugar os represen-
tantes percebem que se sentem igual às
pessoas que representam. Isso acontece
sem que saibam algo sobre elas. Através
dos representantes uma relação com um
outro membro familiar, até então oculta,
torna-se visível. Logo, a constelação fa-
miliar revela que os representantes en-
tram em um campo espiritual complexo
que os liga aos membros familiares au-
sentes. Não apenas externamente ou na
superfície e sim em áreas onde uma for-
ça que conduz a todos eles torna-se per-
ceptível para os presentes. Chamo esta
força de “grande alma”.
O homem ou a mulher que estão
constelando também são atravessados
por esta força. No momento em que
posicionam toda a família entram em
contato com esta grande alma e posteri-
ormente se surpreendem com o que ela
revelou. Trago-lhes um exemplo. Um
homem posicionou a sua família atual,
ou seja, selecionou representantes para
si mesmo, sua mulher e seus filhos. De
repente percebeu que posicionou uma
criança longe dos outros e com o olhar
voltado para fora o que revela que esta
criança aspira sair da família. O coorde-
nador da constelação perguntou ao re-
presentante da criança como se sentia
neste lugar e ela respondeu que se sen-
tia bem ali. Mas qual o motivo desta cri-
ança querer ir embora ou talvez até mor-
rer? Talvez uma outra pessoa da família
almejasse partir e talvez até morrer. Logo
o coordenador da constelação pediu à
representante da mãe da criança que tro-
casse de lugar com ela. Quando a per-
guntou como se sentia naquele lugar ela
também respondeu que se sentia bem.
Tal fato revela que a pessoa que quer
partir é a mãe, seja por qual motivo for,
e que a criança está disposta a assumir o
destino de sua mãe em seu lugar. Logo,
um fato profundamente assustar e
preocupante tanto para o homem quan-
to para a mulher e a criança tornou-se
visível através da constelação.
A questão é: “Como isso é possível?” De
onde vem o anseio da mulher de partir?”
E se formos além, “ de onde vem o an-
seio de morrer que sente no fundo da
alma? ” este seria o verdadeiro significa-
do se formos até as últimas conseqüên-
cias. A resposta estava em um aconteci-
mento na sua família de origem. Ela ti-
nha uma irmã gêmea que faleceu logo
após o nascimento. Quando uma repre-
sentante da irmã gêmea foi posicionada
diante da mulher na constelação, mos-
trou-se claramente que sua vontade de
partir era o anseio profundo de seguir
sua irmã na morte para unir-se a ela. Este
exemplo mostra o que significa quando
falamos de emaranhados de destino e
quais as conseqüências que podem acar-
retar para a relação de um casal. São vín-
culos de destino porque permanecem
além da nossa vontade, dos nossos cui-
dados e da nossa consciência. São liga-
ções de destino porque tem uma influ-
ência sobre as nossas vidas que não po-
demos controlar, pelo menos em quanto
não tomamos consciência delas. No caso
relatado não apenas a mulher estava en-
volvida num emaranhado de destino mas
também o seu marido e a criança. A cri-
ança porque queria assumir o destino de
sua mãe no seu lugar sem sequer saber o
motivo. O marido porque seria atingido
pelo destino sem possibilidade alguma
de tomar uma providência, caso a relação
com a sua mulher fracassasse devido ao
vínculo de destino da mesma.
Vínculos de destino Amor que liga e
amor que
desvincula
Quando um homem e uma
mulher se encontram ambos
percebem que lhes falta
algo. Afinal, o que é um
homem sem uma mulher e
uma mulher sem um
homem? O homem existe
sempre em relação à mulher
e a mulher existe sempre
em relação ao homem.
Conectando-se um ao outro
recebem o que lhes falta. O
homem recebe a mulher e a
mulher o homem. É
humilhante para ambos
admitir que sentem falta
um do outro. Não é fácil,
pois reconhecem assim os
seus limites. Alguns
desejam fugir de tal
reconhecimento, o homem,
por exemplo, tentando
desenvolver em si o
feminino e a mulher
tentando desenvolver em si
o masculino. Deste modo o
homem não precisa mais da
mulher e a mulher não
necessita mais do homem.
Conseguem ser um sem o
outro.
8
Uma relação entre um casal tem
êxito quando ambos, o homem e a
mulher, admitem que sentem falta do
outro e que precisam um do outro
para estarem plenos. Dando um ao
outro aquilo que lhe falta tornam-se
plenos e inteiros.
Através da consumação do ato se-
xual o amor entre homem e mulher
encontra sua realização. A relação de
um casal visa à consumação do ato
sexual.
É o ato de maior consumação de
vida e supera em muito qualquer ou-
tra realização, também a espiritual.
Através dele estamos em sintonia
com o essencial da vida. Pois, o que
nos compromete mais com o essenci-
al da vida e o que nos deixa crescer
mais do que a consumação sexual e
as suas conseqüências?
Mais um ponto está relacionado
a essa consumação. Através dela ori-
gina-se um vínculo. Após a consuma-
ção sexual o casal não se desvincula
mais. Portanto não podemos tratá-la
como se fosse algo aleatório. Traz
consigo amplas conseqüências.
O que um vinculo significa e qual
a sua profundidade percebemos atra-
vés da dor e do sentimento de culpa
e de fracasso que um casal experi-
menta no momento de uma separa-
ção. Não é possível separa-se sem
sentir e reconhecer o vínculo. Como
isto se reflete em relacionamentos
posteriores percebe-se através do fato
de uma criança de um segundo rela-
cionamento representar o parceiro do
primeiro relacionamento. A criança
tem os sentimentos deste parceiro e
os exprime diante dos pais. Não se
pode brincar com relacionamentos
anteriores. Eles continuam atuando.
Podemos observar também, que
quando um casal se separa e, sepa-
rados, os dois se relacionamcom
outros parceiros e se separam nova-
mente, nesta segunda separação a
Amar e precisar
Um relacionamento de casal rea-
liza-se quando duas pessoas necessi-
tam um do outro e quando recebem
do outro o que precisam. Vejo a par-
tir da sua carta que você ama o seu
marido, porém, não precisa dele. Que
obtém aquilo de que precisa de ou-
tras fontes e que assim sendo não há
base para um relacionamento sólido.
Neste caso a terapia não pode ajudar.
A conseqüência lógica seria o que seu
marido receia e aspira.
Obs.: Diante de fatos concretos não
precisamos ter a consciência pesada.
Partir com respeito
Você às vezes comportou-se
como se não precisasse de homens.
Agora respeite-os e liberte-os inter-
namente. Primeiro o seu marido, de-
pois o seu pai e mais um ou outro
homem possível. Espere para agir até
que tudo se ajeite. Da maneira que
está me parece que é necessário per-
manecer sem ação. No entanto, fique
atenta para que veja a lacuna que está
se abrindo.
A sintonia com o todo
Não acho que seja possível redu-
zir – de uma maneira adequada – a
relação a um sim ou a um não. A sua
vida continua inserida nas suas refe-
rências e a vida dele continua inserida
nas referências dele. Esses contextos
podem e devem continuar válidos. São
demasiadamente importantes para
que sejam ignorados.
O novo pode surgir. Seja qual for
o novo, precisa, porém, mostrar-se
antes, após uma espera paciente. As-
sim como um jardineiro que olha e
avalia antes de arrancar plantas. Logo
o meu conselho é: Faça aquilo que
você faria de qualquer maneira que
lhe teria correspondido, e deixe que
o novo a acompanhe de longe como
uma música de fundo. Mantenha-se em
sintonia com o todo durante este pro-
cesso.
Respostas a perguntas feitas por carta:
Sobre o tema homem mulher
dor e a culpa são menores em com-
paração à primeira separação. Dian-
te de uma terceira separação a dor e
a culpa são ainda menores e após um
tempo já não importam mais. Geral-
mente em uma relação posterior os
parceiros não têm a coragem de to-
mar o companheiro novo da mesma
maneira intensa como o primeiro.
Existe uma solução para eles, se
no momento de uma separação con-
tinuarem respeitando e amando o
parceiro antigo. Nem sempre os dois
alcançam esse estado ao mesmo tem-
po. Assim permanece algo doloroso
para ambos.
9
Crescimento Interior
A purificação
Há um tempo queria descobrir o que
significa “grandeza”. O que faz de alguém
uma pessoa com grandeza? Obtive re-
sultados peculiares. A maior grandeza de
uma pessoa é aquilo que a iguala a todos
os outros. Isto é o maior. Qualquer des-
vio para cima ou para baixo retira algo.
No decorrer do tempo a purificação
tornou-se um conceito ou procedimento
importante para mim. Necessitamos da
purificação da alma para atingir a gran-
deza que nos iguala a todos os outros.
Uma purificação que nos deixa inteira-
mente permeáveis para algo diferente
sem que nenhum propósito próprio in-
terfira – ou interfira apenas numa exten-
são reduzida. Também não devemos
exagerar. No misticismo cristão a purifi-
cação tem um papel bastante importan-
te em diversos aspectos. Fala-se primei-
ramente da purificação dos sentidos que
conduz a um recolhimento interior. Este
seria um caminho. O outro seria a purifi-
cação do espírito. Neste contexto purifi-
cação significa afastar algo supérfluo para
que permaneça o essencial e último.
Na purificação espiritual abdicamos
das nossas idéias, dos nossos conceitos e
da nossa noção sobre o que é certo ou
errado. De repente podemos nos expor
exclusivamente àquilo que se apresen-
ta. Se assim nos expusermos ao múlti-
plo, da forma que se manifesta, de re-
pente aparece algo que é essencial. De
repente podemos captá-lo. Quando tra-
balhamos com constelações familiares,
por exemplo, ocorre o mesmo. Sem sa-
ber nos expomos a algo. De repente mos-
tra-se alguma coisa sem que tenhamos
recorrido a imagens próprias. E sentimos
“sim, é isso que importa.” Quando temos
um problema ou nos preocupamos com
algo experimentamos uma sensação pa-
recida. Entregamo-nos ao problema como
ele é sem medo e sem um propósito
específico até que percebemos: é assim
que continua.
Então constatei: O que é a purifica-
ção propriamente dita? Como se reali-
za? Realiza-se na medida em que me
igualo a todos. A todos. Talvez não ape-
nas a todos os seres humanos e sim a
todas as criaturas, sem qualquer preten-
são. Insiro-me em um todo, sendo um
entre muitos, absolutamente igual e
equivalente.
É claro que em tal procedimento a
distinção entre o bem e o mal não existe.
Ou a diferença entre agressor e vítima.
O que um representante disse aqui
sobre a dignidade do agressor é muito
profundo.
Quando damos espaço a tal movi-
mento, quando nos abrimos e crescemos
sentimos que proporcionamos, também
a eles, a igualdade que lhes pertence.
A purificação se dá quando as dife-
renças dentro de mim se dissolvem; tam-
bém estas entre vítima e agressor na me-
dida em que eu as acolho na minha alma
do mesmo modo e lhes dou um lugar. É
impossível atingir purificação maior.
É gratificante entregar-se a tal purifi-
cação. Preenche-nos. Não nos tornamos
menos. Ao contrário. Dentro desta igual-
dade possuo tudo em mim, sem que eu
queira. Tem-me e me carrega.
O Ciúme
Uma mulher de um grupo con-
tou que torturava seu marido com
seu ciúme e mesmo reconhecendo
que não fazia sentido não conse-
guia resistir a tal comportamento.
Mostrei-lhe a solução. Eu disse: “A
curto ou médio prazo você perde-
rá o seu marido. Curta-o enquan-
to isso!” A mulher riu e sentiu-se
aliviada. Alguns dias depois o
marido ligou e disse “agradeço-lhe
pela minha mulher.”
Há muitos anos atrás o marido
havia participado de um dos meus
cursos com sua namorada. Durante
o curso falou diante de todos os par-
ticipantes e sem levar em considera-
ção a dor da sua namorada, que ti-
nha uma outra namorada nova e mais
jovem e iria separar-se da atual mes-
mo já tendo vivido com ela durante 7
anos. Depois participou de outro cur-
so, dessa vez com a nova companhei-
ra. Durante o curso ela engravidou e
pouco depois se casaram.
Agora entendi o sentido do
ciúme da mulher. Socialmente ela
negava o vínculo de seu marido com
a antiga namorada e através do seu
ciúme reforçava seu direito de posse
em relação ao marido publicamen-
te. No fundo, porém, reconhecia o
vínculo e também a sua culpa.
Logo o seu ciúme não era prova
de uma culpa do seu marido em
relação a ela e sim uma admissão
secreta de que não era digna de
seu marido e que a separação
provocada por ela seria a única
possibilidade de reconhecer a li-
gação ainda existente. Seria tam-
bém uma prova de solidariedade
com a antiga namorada do seu
marido.
Após alguns anos a reencontrei.
Havia se separado de seu marido.
Olhando de Perto
10
Como o divino cresce em nós
Irmão David Steindl-Rast O.S.B
Nota prévia:
Irmão Steindl-Rast é um professor
espiritual amplamente solicitado.
Proferiu esta palestra no
Congresso Internacional de
Constelações Sistêmicas em maio
de 2005 em Colônia e teve a
gentileza de disponibilizá-la para
esta revista. Irmão Steindl-Rast é
de Viena, é membro da Ordem
Beneditina e dedicou-se também,
intensamente, a outras religiões.
Vive retirado em um mosteiro nos
Estados Unidos.
Tratando-se do assunto “como o di-
vino cresce em nós” talvez seja apropri-
ado começar com um momento de si-
lêncio onde vocês possam abrir-se para
aquilo que entendem como “divino.”
Para mim as palavras decisivas neste
contexto são “em nós”. Falarei a vocês
da minha própria experiência e me vol-
tarei para as suas experiências pessoais.
Apelo, por assim dizer, às suas experiên-
cias, já que sobre um assunto como este
só pode-se falar do ponto de vista da
experiência. Logo espero que confiram
o que direi aqui através de suas próprias
percepções.
Quero repassar o título, palavra por
palavra. Falando de “divino” refiro-me
àquilo que Dorothee Sölle denomina de
Meditação
A fonte da vida
Imaginemos que nos dividi-
mos ao meio. De um lado senti-
mos o pai. Por detrás do pai sen-
timos seus paise anterior a es-
tes seus avós e se seguirmos em
diante os seus bisavós. Abrimo-
nos perante a força vital que nos
alcança e penetra através de to-
dos estes ancestrais. Sentimos a
sua força. Podemos seguir ainda
muito mais além. Todos estes an-
cestrais preencheram a vida. To-
maram-na e repassaram-na. Ago-
ra estão atrás de nós. Sentimos
o calor que nos atravessa acom-
panhando a força e talvez perce-
bamos a diferença em compara-
ção ao outro lado, onde tal liga-
ção ainda falta. Voltamo-nos para
o outro lado e sentimos a mãe
atrás de nós. Por detrás da mãe
sentimos seus pais e depois os
seus avós, bisavós e tataravós.
Uma rede gigante amplamente
ramificada repleta de força vital
que vem de longe através destes
ancestrais e nos atravessa.
Agora sentimos como estes
dois fluxos de vida, o do pai e o
da mãe transformam-se em uma
unidade nos nosso interior. Tra-
ta-se de uma unidade inconfun-
dível. Sentimos o calor e a força.
Talvez sintamos, também, como
essa força se acumula e almeja
fluir em diante, atravessando-
nos, alcançando os nossos pró-
prios filhos e tarefas a serviço da
vida. Quiçá colocamos também
uma doença neste fluxo, seja ela
qual for. Ela nos mostra que algo
está interrompido. Quer que su-
peremos este abismo. Se formos
capazes de restabelecer esta li-
gação sob a pressão da doença
esta cumpriu sua função.
“mais”. Mais é sempre mais. Mais em to-
das as dimensões. As palavras deus e di-
vino tem tamanha conotação que deve-
ríamos achar outras. ”Mais” cabe exce-
lentemente. “Mais” não apenas no mes-
mo nível, e sim, sempre, em novos pla-
nos e dimensões. Como seres humanos
estamos condicionados a este “mais”.
Queremos encontrar um sentido e so-
mente envolvendo-nos com este “mais”
podemos achá-lo.
O que quero dizer com o “divino”?
Tanto dentro de nós pessoalmente como
no mundo como um todo – mesmo que
sem a mesma intensidade – estamos,
neste momento, ultrapassando a frontei-
ra para um novo entendimento deste
“mais”, nos diversos níveis. Algo de to-
talmente novo está rompendo caminho.
Aqui também falaremos, em parte, so-
bre isto.
Com relação ao crescimento em nós,
como este “mais” poderá crescer “em nós”?
Através da nossa consciência sobre este
“mais”, ou seja, conscientizando-nos dele
e relacionando-nos com ele o que significa
que nos envolvemos com ele. Logo, trata-
se de dois pontos importantes: a
conscientização e o ato de envolver-se.
O primeiro aspecto, o da conscien-
tização, pertence mais à espiritualidade.
O ato de envolver-se, por sua vez, per-
tence mais à área da religião. Os dois as-
pectos são inseparáveis, uma vez que, a
conscientização e o ato de abrir-se para
a mesma estão estreitamente ligados um
ao outro.
Espiritualidade e religião, porém,
podem ser diferenciados um do outro.
Não podemos separá-los, no entanto, é
possível distingui-los. Deste fato resulta,
também, o nosso procedimento.
Atualidades
Tratarei do tema da espiritualidade
sobre 4 aspectos:
1.) O que é espiritualidade?
2.) Qual o relacionamento da
espiritualidade com a religião?
3.) O que impede ou inibe o cresci-
mento do “mais” em nós, ou seja,
do divino em nós?
4.) Como podemos incentivar tal
crescimento? O que podemos
fazer conscientemente para in-
centivar este crescimento den-
tro de nós?
Voltando ao primeiro ponto: O que
é espiritualidade? Sugiro que partamos da
palavra propriamente dita – espiritua-
lidade – que remonta a palavra “spiritus”
do latim. Traduzimo-la com a palavra
“espírito”. Neste contexto espírito signi-
fica espírito no sentido de “respiração
vital”. Originalmente “spiritus” significa-
va sopro de vento, respiração vital. As-
sim como a palavra grega “pneuma” ou
a hebraica “ruach” que ambas a antece-
dem. Todas significam “respiração vital”
e no sentido figurado, vivacidade.
Logo, vejo espiritualidade como vi-
vacidade intensificada em todas as áreas
da nossa vida. É uma amplificação da
extensão de nossa vivacidade.
Não vivemos sempre com a
mesma intensidade. A maioria de nós está
menos disposta de manhã do que à noi-
te. Existem também aqueles que já de
manhã tem muita energia e desesperam
os outros com tamanha disposição. O
nosso grau de vivacidade varia bastante.
Dependendo também da fase da vida em
que estamos. Quando vivemos plena-
mente em todos os sentidos – e existem
momentos em nossas vidas onde estamos
inteiramente vivos – temos uma noção
do que possivelmente significa viver ple-
namente a espiritualidade. Estes momen-
tos ocorrem em situações diversas e sem-
pre nos surpreendem. Podemos nos pre-
parar para eles, porém, permanecerão
imprevisíveis.
Neste ponto preciso falar de Abraham
Maslow, conhecido pela maioria de nós
pela sua hierarquia de valores. Fez uma
descoberta muito mais importante. Ele a
Espiritualidade denomina e descreve como “peakexperiences” o que seria “experiência de
pico ou de ponta”. Vale a pena falar um
pouco mais sobre como Maslow fez tal
descoberta em meados do século XX.
Colocou-se a questão: O que faz com que
algumas pessoas tenham tamanha viva-
cidade? O que faz com que tenham ta-
manha criatividade, tanta saúde? O que
faz delas pessoas de verdade, assim como
gostaríamos que as pessoas fossem? Ele
diz: Nada na minha formação de psicolo-
gia preparou-me para responder tal per-
gunta. Preocupava-se sempre com do-
enças da mente, porém nunca se per-
guntou: o que faz de uma pessoa alguém
tão saudável. Levou anos voltando-se para
esta questão e chegou a um resultado
que o surpreendeu. Há um fato comum
a todas as pessoas com tamanha vivaci-
dade, às vivas e às mortas que conhecia
apenas através de documentos escritos:
todas têm experiências místicas. Esta
descrição não foi muito bem vista na li-
teratura da psicologia. Logo rapidamen-
te mudou a expressão para “peak
experiences”. Durante toda sua vida, no
entanto, insistiu que não havia diferen-
cia alguma entre “peak
experiences” e a experiên-
cia mística. São a mesma
coisa.
Qual o ponto crucial em
uma experiência de pico? Que
todos a fazemos. Durante suas
pesquisas Maslow constatou que
tais experiências não estão limi-
tadas a pessoas extraordinárias e
que – na medida em que é possí-
vel fazer generalizações no campo
da psicologia – todos as pessoas as
fazem. Percebeu, porém, que a
maioria das pessoas reprime-as.
Algumas pessoas que
perguntou sobre as expe-
riências de pico disseram-lhe
que jamais haviam falado sobre isto
a alguém porque achavam que se trata-
va de um momento de delírio. Maslow
disse: “este talvez tenha sido o único mo-
mento de lucidez destas pessoas”.
Peço-lhes, agora, que lembrem de
uma experiência de pico própria. O pico
não precisa ser especialmente alto. De-
pende da altura do planalto de onde par-
tem. O que importa é que tenham um
ponto de referência em suas próprias
vidas.
Citarei quatro pontos que deveriam
coincidir tratando-se de uma experiên-
cia de pico. Não se preocupem, porém,
se não verifiquem tais pontos em sua
experiência de pico, uma vez que ser-
vem em primeiro lugar de referência.
Primeiro ponto: o tempo está para-
do. Isto pode significar que passou uma
hora e eu tenho a sensação de que se
passaram apenas alguns minutos. Ou
então que passaram somente alguns se-
gundos, mas que algo aconteceu que
parece ter levado horas. É como se a
noção de tempo estivesse desligada. O
ponto decisivo é: Estamos no aqui e ago-
ra, voltados inteiramente para o presen-
te. Este é um aspecto importante das
experiências de pico.
O segundo ponto é que temos um
sentimento infinito de fazer parte de algo.
Não apenas em relação às pessoas,
mas também em relação aos animais e
plantas, às pedras, às estrelas, o mar.
Quando temos tal experiência na natu-
reza nos tornamos uma unidade com as
árvores e as nuvens. Somos um com a
natureza. Nos sentimos unidos a tudo.
11
Os estreitos limites do “eu” foram rom-
pidos, apagados ou desfeitos.
O terceiro ponto é que neste deter-
minado momento dizemos “sim” a algu-
ma coisa sem qualquer restrição. Dizemos
sim a tudo que é, como é. Não julgamos,
simplesmente dizemos sim. Olhamos para
o que normalmente denominamosde
bom e que normalmente denominamos
de ruim. Temos a capacidade de olhar
para tudo da maneira como é. Permane-
ce bom, permanece ruim, mas nós pode-
mos dizer “sim” a isto, assim como é. Di-
zemos sim a tudo o que é.
Finalmente estamos repletos de um
sentimento máximo de alegria. Mais do
que alegria. Para nós alegria significa que
algo bom está acontecendo. Na experi-
ência de pico a sensação de alegria
independe do ocorrido. Às vezes temos
tal sensação no decorrer de situações ter-
ríveis. Durante um atentado de bombas
ou no caso da morte de alguém. Trata-se
de um sentimento de alegria que não
possuiu, praticamente, relação com o que
normalmente chamaríamos de alegria,
uma vez que a transcende amplamente.
Estes são os quatro pontos, sem or-
dem obrigatória:
1.) O tempo está parado. Estamos
no agora.
2.) O sentimento infinito de fazer
parte.
3.) Dizemos sim a tudo que é, como
é, sem julgamento.
4.) Uma sensação máxima de alegria.
Segundo Maslow estes elementos
também são típicos tratando-se da ex-
perimentação mística. Não precisam,
porém, preocupar-se agora e dizer: Não
sou místico. O místico não é uma pessoa
especial, ao contrário, cada pessoa é um
místico especial.
Como então os grandes místicos
distinguem-se da massa? Deixando que
esta vivência penetre em tudo que fa-
zem. Outros esquecem tais acontecimen-
tos ou reprimem as lembranças deles.
Se cuidarmos do místico e o deixamos
entrar nas nossas vidas, ele lhes dá for-
ma. Este é o significado pleno de
espiritualidade. Na medida em que dei-
xamos que esta experiência, a experi-
ência da totalidade, entre nas nossas vi-
das, estamos verdadeiramente vivos, fe-
lizes e presentes.
12
Religião
Como passamos desta vivacidade –
da vivacidade da espiritualidade que nos
deixa repletos de felicidade – para a re-
ligião muitas vezes aflitiva e tão menos
gratificante? Da espiritualidade inevitavel-
mente passamos para a religião.
Não digo, porem: para esta ou aque-
la religião. Não me referia às religiões
diversas. Refiro-me “à” religião. Todo ser
humano possui esta religião.
Farei a tentativa de demonstrar-lhes
novamente através de um apelo às suas
experiências próprias como se faz a pas-
sagem da experiência mística à religião
e da lá, talvez, às religiões.
Partimos da palavra religião. A pala-
vra latina para religião é “religo” e signi-
fica reconexão.
Reconectar-se com a realidade mís-
tica. A experiência mística cria a religião.
Agora voltamos o olhar para sua ex-
perimentação mística pessoal – a expe-
riência de pico. O que acontece no ins-
tante após essa experiência? Durante a
experiência de pico propriamente dita
estamos simplesmente presentes. Não
pensamos em nada, não queremos nada.
Sentimos tal felicidade e estamos presen-
tes. No instante seguinte, no entanto, já
se manifesta o nosso intelecto e pergun-
ta: O que era aquilo? É inevitável que
façamos tal pergunta. É impossível im-
pedir. Damos uma resposta que é místi-
ca em sua origem. Respondemos com
uma imagem, ao contrário da teologia que
busca uma resposta racionalmente coe-
rente. O mito vai muito além da teolo-
gia. Porém, de uma forma ou de outra
reagimos à pergunta sobre o que acon-
teceu. E mesmo se a religião não nos in-
teressa respondemos de algum modo a
tal acontecimento. O nosso intelecto nos
cobra uma resposta sobre aquilo que
vivenciamos. Este processo é, portanto,
inevitável.
A partir dessa resposta desenvolve-
se o ensinamento. O mito em si já com-
preende ensinamentos, em sua maioria
mais ricos que na teologia. Vejo a relação
entre mito e teologia como a relação
entre poesia e crítica literária. Sabemos
todos, que os críticos literários após al-
gum tempo interessam-se mais por ou-
tros críticos literários do que pela poesia
propriamente dita. O decisivo para vocês,
no entanto, continua sendo o fato que –
mesmo possuindo apenas uma religião
Moral
Temos que considerar mais um fato.
Após o intelecto, manifesta-se também
a vontade de cada um e cobra: sim, é o
que quero. Estar conectado a tudo dessa
maneira e sentir-me tão feliz. Quero tal
sentimento de fazer parte de algo que
todos ansiamos tanto. Porque é assim que
temos que viver. É assim que quero vi-
ver. Com tal desejo entramos no campo
da moral. Aqui já começa a ética.
Freqüentemente dizemos que cada um
dos diversos povos do mundo tem sua
própria moral, o que mostra que a moral
é algo construído e fabricado por nós. Se
olharmos cuidadosamente, porém, per-
cebemos que se trata sempre e em to-
dos os lugares da mesma moral, seja ela
primitiva ou refinada. Comportamos-nos
de maneira moralmente correta perante
o grupo de pessoas do qual fazemos par-
te e do qual gostaríamos de fazer parte.
Os diferentes sistemas morais defi-
nem quem pode pertencer a um deter-
minado grupo. A moral determina quem
pertence ao grupo. Inicia-se através de
um grupo pequeno, uma família peque-
na ou uma família grande. Em vários idi-
omas e culturas a denominação do gru-
po ao qual pertencemos é idêntica à
palavra ser humano. Perante estes seres
humanos comportamo-nos de maneira
moralmente correta porque fazem parte
de nós, dêem oposição a outros, estra-
nhos, que não fazem parte.
Ultrapassamos hoje uma barreira após
a qual não podemos mais traçar o limite
que define quem faz parte. Hoje faze-
mos parte infinitamente. Portanto, todo
limite que estabelecemos para definir
quem faz parte é imoral. Nem mesmo
os animais podem ser excluídos. O cos-
mo inteiro deve ser incluído. Apenas di-
ante deste conceito uma moral é
justificada e pode nos ajudar.
Resumindo: O intelecto interpreta. O
desejo compromete-nos internamente.
Nós nos comprometemos alegremente:
Quero viver assim para fazer parte.
pessoal – precisam processar intelectu-
almente a experiência mística tendo as-
sim, um ponto de partida daquilo que
posteriormente torna-se um ensinamento
na religião.
Ritual
Em terceiro lugar entram os senti-
mentos. Os sentimentos desejam feste-
jar a vivência mística e nos conduzem ao
ritual. Mesmo que vocês prefiram per-
manecer no contexto de suas religiões
pessoais, festejam suas experiências mís-
ticas. Suponhamos que tiveram uma ex-
periência mística no cume de uma mon-
tanha específica; tiveram uma experiên-
cia de pico. É bem possível que repeti-
damente voltem a esta montanha quan-
do possuem algum motivo para festejar.
Sentem o desejo de vivenciar novamen-
te tal experiência. Talvez não possam
vivenciá-la da mesma maneira, porém,
fazem um peregrinação para aquele lu-
gar para viver mais uma vez tal experi-
ência. Ou então lembram-se daquele dia
em que subiram a montanha e começará
assim a estabelecer uma agenda de ritu-
ais, mesmo que seja apenas um início.
Toda religião inicia-se um com
uma experimentação mística de seu cri-
ador. Em alguns casos, como nos de
Moisés, Jesus Cristo, Buda, e de Maomé,
é possível apontar claramente para a
experiência mística crucial. Em outros
casos não é possível determiná-la com
tamanha precisão, mas sabemos que toda
religião parte de uma experiência místi-
ca de seu criador ou criadores e posteri-
ormente transforma-se em ensinamentos,
éticas, morais e rituais.
O coração de toda religião é a
religião do coração
Após a morte destes criadores tal
experimentação é transferida e susten-
tada por uma comunidade. Sem comuni-
dade não há religião, uma vez que o que
vivenciamos é a beleza e o conforto de
pertencer a esta comunidade. No decor-
rer do tempo a comunidade muda o sen-
tido original. A passagem da experiência
mística à comunidade religiosa compara-
se a uma fonte de água borbulhante que
jorra do interior de uma rocha e após al-
gum tempo congela no inverno dos há-
bitos. O ensinamento estremece-se e
transforma-se em dogmatismos, a moral
ou ética por sua vez transforma-se em
moralismo, o ritual vem a ser um ritualis-
mo. Diante da transferência todas as reli-
giões correm o perigo de estremecer
após algum tempo.
Podemos agir contra tal processo de
enrijecimento? Sim. Sempre temos a pos-
sibilidade de voltar à nossa própria ex-
periência mística interna – ao calor que
sentimosno peito durante tal experiên-
cia – e assim descongelar as estruturas
congeladas de dentro para fora. A estru-
tura, porém, não é apenas um obstáculo.
Pode dar-nos muito conforto. Entendo
perfeitamente se alguém sente o desejo
de rejeitar e deixar para trás as religiões
da maneira que se apresentam hoje em
dia. Através da minha própria experiên-
cia, porém, tenho que dizer que estas
estruturas também podem nos enrique-
cer muito, dando-nos, por exemplo,
apoio, estabilidade, força, ligação com o
passado e guiando-nos na juventude e
infância. É difícil substituir tais tradições.
Mas temos que renová-las, revitalizá-las
e esquentá-las sempre, partindo do co-
ração. O coração de toda religião é a re-
ligião do coração.
Não podemos, portanto, esperar das
religiões que sejam como um trem, onde
subimos e que por si só nos levará a al-
gum destino almejado. Ao invés de ser-
mos movimentados temos que movi-
mentar-nos por conta própria.
Concepções
de deus
O que impede que o divino cresça
em nós? Freqüentemente é a imagem
de deus ou a concepção de deus que
nos é imposta por uma determinada reli-
gião ou que é transmitida por nossa reli-
gião. A religião deveria apoiar a
espiritualidade, muitas vezes, porém, lhe
obstrui o caminho. A nossa visão do mun-
do e a nossa concepção de deus são com-
postas por diversas suposições
desordenadas e não questionadas, mas
mesmo assim ambas são decisivas para a
nossa vida, tanto no contexto daquilo que
aceitamos como no que rejeitamos. Hoje
em dia a nossa concepção de deus é
marcada pela imaginação de que deus
está separado de nós.
Experiências místicas acrescentam e
religiões ensinam. No ensinamento inter-
pretamos o “mais” que encontramos nas
nossas experiências místicas. Este “mais”
freqüentemente foi interpretado e utili-
zado como poder. Encontramos na ex-
periência mística algo poderoso algo que
possui um poder superior. As religiões
freqüentemente interpretaram tal poder
no sentido de “ter poder sobre alguma
coisa”. Nesta interpretação deus é al-
guém totalmente diferente de nós, al-
guém que reina sobre nós e está separa-
do de nós.
Neste contexto devemos também
olhar para o nosso entendimento do pe-
cado. Originalmente pecado significava
desvio e segregação. A palavra pecado
e a palavra segregação em sua origem
são ligadas uma a outra. O pecado nos
separa do nosso próprio e verdadeiro eu
e do “mais” vivenciado. Nos ensina-
mentos religiosos o pecado foi interpre-
tado cada vez mais no sentido jurídico,
como se tivesse alguém lá em cima a
quem pertencesse o poder. Assim o po-
der transforma-se na culpa e precisa ser
castigado. Mas também podemos olhar
para o pecado do ponto de vista históri-
co, como se fosse algo que no nosso pró-
prio desenvolvimento ainda não teve
êxito. Através do pecado, origina-se, en-
tão, o estimulo de buscar o que ainda não
deu certo em nossas vidas e realizá-lo.
A imaginação de deus como alguém
acima de nós e a quem pertence o po-
der também nos distancia do conteúdo
original dos rituais. Distancia-nos do ser-
viço religioso como serviço à vida atra-
vés da celebração e do trabalho. Logo o
culto às vezes se iguala a uma cerimônia
de corteN R. A falsificação da concepção
de deus nos impede de compreender
mais profundamente o “mais”, de realizá-
lo com maior força de vontade e celebrá-
lo com mais alegria e criatividade.
Vida com
gratidão
A questão agora é: como podemos
estimular o nosso crescimento espiritual?
A resposta é evidente. Renovando e ajus-
tando, sempre, a nossa concepção de
deus através da experimentação viva de
deus. Possuímos tal experimentação de
13
14
deus. Possuímos a experiência do “mais”.
Ela está sempre a nossa disposição, pre-
cisamos apenas cultivá-la. Como
vivenciamos este “mais”? Lerei algumas
frases dos Sonetos a Orfeu de Rainer
Maria Rilke:
Mas para nós o existir ainda é
encantado.
Fontes, ainda, em cem lugares.
Jogo de puras forças e aquele
que as toca
se ajoelha admirado.
Estas frases aplicam-se aos dias de hoje
embora o poema comece com as pala-
vras:
A máquina ameaça a toda conquista...
Mesmo assim vale: Em vários pontos o
existir ainda é encantado, ainda é fonte,
um jogo de puras forças e aquele que as
toca se ajoelha admirado.
Podemos abrir-nos para estas forças.
Existe um caminho espiritual neste sen-
tido com que eu pessoalmente me iden-
tifico mais. Denomino-o de “vida com
gratidão”. Simplesmente viver com gra-
tidão. Conscientizamo-nos de que este
“mais” é a essência de tudo, a fonte de
tudo que existe. Dizemos sempre: Exis-
te isto e existo aquilo. Tudo que existe,
existe. A essência por si só não é algo. É
o nada de onde vem tudo. É a fonte
divina, a fonte maternal, o fundamento
maternal de tudo que existe. É o segre-
do de onde viemos e para onde
retornamos. Diante desta fonte nós mes-
mos nos percebemos como dádiva. Afi-
nal, também possuímos algo que existe.
Somos presenteados a nós mesmos. Não
nos compramos ou negociamos. Nos
momentos mais difíceis possivelmente
nem nos queremos. Querendo-nos ou
não, recebemos a nós mesmos de pre-
sente. Diante deste presente existe ape-
nas uma resposta correta e que faça sen-
tido: a gratidão. Nesta gratidão encontra-
mos sempre novamente o que existe: a
vida, o amor, tudo o que aprendemos, a
alegria, a música. Temos que tomá-los
assim, isto é a nossa gratidão. Nossa gra-
tidão retorna ao nada que é a essência
que dá tudo.
Como manter viva essa corrente den-
tro de nós? Através da gratidão, simples-
mente, e vivendo no momento.
Conscientizando-se, por exemplo, do
presente que é abrir uma torneira de
água. Ou considerando o presente que
recebemos ao ligarmos a luz. Se uma vez
ou outra vivemos em lugares onde não
há água de boa qualidade ou luz elétrica,
realmente tomamos consciência destes
presentes. Ver os outros e a natureza
como dádiva, com esta consciência, isto
significa viver com gratidão.
Agora lerei mais uma poesia curta de
Rilke para vocês, porque começa com a
palavra “silêncio” e termina com a pala-
vra “gratidão”. Aponta para o fato de que
podemos apenas encontrar essa vida com
gratidão, se nos envolvemos com o si-
lêncio.
Oração
Na oração unem-se três aspectos. No
início está o silêncio. A oração do silên-
cio sobre a qual não podemos dizer nada.
Podemos apenas embarcar neste silên-
cio para encontrar o “mais” em seu inte-
rior. Quanto mais profundamente entra-
mos neste silêncio, sempre mais profun-
damente, mais profundamente perce-
bemo-nos neste “mais”. Todos nós pos-
suímos a capacidade para esta oração.
No ocidente o segundo aspecto da
oração nos é mais familiar. Podemos
descrevê-lo como “viver da palavra de
deus”. Dizemos, assim, que tudo que
existe é palavra. Se existe, fala. O nada
expressa-se em tudo que existe. Portan-
to, tudo que existe é palavra divina.
Podemos nos envolver com esta
palavra de diversas formas. Seja onde for,
sempre que nos envolvermos com a
palavra, com algo que existe, e o trata-
mos com respeito, respondemos com sim
à palavra e pronunciamos este sim sem
restrições. Sim, aqui estou. Então esta pa-
lavra nos nutre. Toda palavra pode nutrir-
nos se respondemos desta maneira.
POESIA
Se fosse totalmente silencioso
apenas uma vez...
Se fosse totalmente silencioso
apenas uma vez
Se o fortuito e o acaso
emudecesse e o riso vizinho,
Se o ruído, que fazem o meus
sentidos
não me impedisse tanto no
despertar.
Então poderia em mil
pensamentos
pensar em você até o seu limite
e possuir você ( apenas o instante
de um sorriso)
e presentear você em tudo que vive
como um agradecimento.
Rainer Maria Rilke, 22.9.1899,
Berlin-Schmargendorf
Esta é uma poesia para o “mais”,
uma oração para o “mais”.
O terceiro aspecto que é desconhe-
cido a muitos de nós, mesmo que viva-
mos dentro dele permanentemente, cha-
ma-se meditatio in actione: encontrar
deus no agir. No agir permanentemente
encontramos deus. Pensem nas mães,
pensem nos professores. Permanente-
mente achamos o “mais” no agir. O agir
é um mundo de orações - um mundo de
orações pelo qual zelamos há séculos. Ou
seja, achar o “mais” no agir.
Neste contextorevela-se o poder de
cura do envolvimento com este “mais”.
O poder de cura que está inerente ao
desejo de tentar entender este “mais”,
sempre mais profundamente, de realizá-
lo com maior força de vontade, celebrá-
lo sempre com maior alegria e
criatividade – uma celebração da qual
participam o mundo inteiro e todas as
religiões.
17
A imagem
conjunta de deus
Cada um de nós que tem uma noção
do Budismo, por menor que seja, sabe o
quão central são o silêncio e o ato de
manter-se calado no Budismo. Quando
eu estudava o Budismo, às vezes achava
que havia entendido algo na conversa
com o meu professor. Perguntava-o: “É
assim mesmo?” Em seguida, ele sempre
começava a rir e respondia: é absoluta-
mente correto, mas que pena que você
o pronunciou.”
No Cristianismo temos que dizê-lo.
Pertencemos às tradições da “aprovação”,
ao Judaísmo, a Cristianismo, ao Islamismo.
Pertencemos àqueles que são em refe-
rência à palavra. A palavra nos pertence.
A palavra também é um espaço de en-
contro com o “mais”. Este é o nosso es-
paço.
O terceiro aspecto é o da compre-
ensão. Esta é a área do Hinduismo. No
Hinduismo a palavra e o silêncio não es-
tão em primeiro lugar. O mais importan-
te é o ato de compreender. Yoga signifi-
ca conexão. Yoga significa compreensão.
A prática hindu une a palavra e o silên-
cio no compreender. O que significa com-
preender neste contexto? Que nos en-
treguemos à palavra originada no si-
lêncio, de tal modo, que nos conduza ao
lugar de onde veio: ao silêncio. Se nos
entregamos à palavra e deixamos que
nos guie para o silêncio, então compre-
endemos. Nas nossas experiências de
pico, em nossas experiências místicas –
voltando mais uma vez ao assunto – di-
zemos: É isso. É isto que estávamos aguar-
dando. Como se tivéssemos esperado por
isto a vida inteira. Agora é isto.
Enfatizamos o “isto”. Isto é. Isto é a pala-
vra. Seja o que for: É isto.
Os Budistas dizem: isto o é. E isto
também o é . É isto também. Está tudo
compreendido no silêncio, no nada, de
onde vem tudo.
Os Hinduístas dizem: Porque estão
brigando. É isto. Apenas assim o com-
preendemos.
Logo posso imaginar as religiões
como uma dança de roda - e é com esta
imagem que gostaria de concluir - onde
dançamos todos. “É isto” independente
de como o enfatizamos, os hinduístas, os
budistas, os cristãos, os judeus, os muçul-
manos, todos, inclusive as religiões liga-
das à natureza. Dançamos todos a mes-
ma dança. Do exterior não podemos
perceber o sentido dessa dança. Olhan-
do de fora vemos que os movimentos
vão para direções distintas. Se, porém,
seguramos-nos pelas mãos e entramos
na dança, sentimos a unidade nesta dan-
ça. Necessitamos, hoje, desta dança con-
junta no mundo. Nela deus não está mais
separado de nós. Nela experimentamos
deus em nós e nós em deus. Esta con-
cepção de deus nos une a todos.
Observação:
Mais informações sobre o Irmão Steindl-
Rast veja no site www.gratefulness.org
Neste site Irmão Steindl-Rast oferece con-
duta espiritual em vários idiomas, entre
outros, em alemão. Há pouco tempo a
Editora Herder publicou seu livro
“Achtsamkeit des Herzen”
ISBN 3-451-05604-6
Crianças:
sobre o amor
Um grupo de
especialistas entrevistou
crianças entre quatro e
oito anos sobre o amor.
Encontrei as respostas no
meu e-mail há pouco.
Quando minha avó adoeceu de
artrites não podia mais se abaixar e
pintar suas unhas do pé. Desde então
o meu avô o faz para ela, mesmo
também sofrendo de artrites nas
mãos. Isto é amor.
(Rebekka, 8 anos)
Quando alguém te ama, pronuncia
seu nome de modo diferente. Então
você sabe que seu nome está seguro
na boca de quem te ama.
(Billy, 4 anos)
O amor deixa você sorrir quando
está cansado.
(Terri, 4 anos)
Amor é quando a mamãe faz café
para o papai e antes experimenta
para saber se está gostoso.
(Danny, 7 anos)
Amor é aquilo que está no quarto com
você no natal quando você para de
abrir presentes e apenas ouve.
(Bobby, 7 anos)
Se quiser aprender a amar melhor,
comece com o amigo que rejeita.
(Nikka, 6 anos)
Minha mãe me ama mais que
todo mundo. Além dela não existe
ninguém que à noite me beija
até que eu durma.
(Clara, seis anos)
Amor é quando seu cachorrinho lhe
lambe o rosto, mesmo que você o
tenha deixado sozinho o dia inteiro.
(Mary Ann, quatro anos)
Quando você ama alguém os seus
cílios abrem-se e fecham-se e
pequenas estrelas brilham de
dentro de você.
(Karen, 7 anos)
Aqui mais uma história de um
menino de 4 anos. Morreu a
esposa de um homem idoso da
vizinhança. O menino pequeno o
viu chorando. Foi ao seu encontro
no pátio, sentou-se no seu colo e
permaneceu perto dele.
Quando a mãe chegou e o
perguntou o que havia dito ao
homem idoso, respondeu:”Nada.
Ajudei-o a chorar.”
Frases para reflexão
Ordem e plenitude
Ordem é a maneira como fatores
distintos interagem.
Possui, portanto, diversidade e
plenitude.
Encontra-se na troca, une o
disperso,
e recolhe-o na consumação
Possui, portanto, movimento.
Remete o transitório a uma forma,
que promete continuidade
Possui, portanto, duração.
Mas como uma árvore, que antes
de se abater,
libera o fruto que a ela sobrevive,
também a ordem se movimenta
com o tempo.
Possui, portanto, renovação e
mudança.
Vibram e desdobram-se, as ordens
que vivem,
estimulam-nos e nos retêm
pela saudade e pelo medo.
Sabedoria para
viagem
A palavra
Originalmente a palavra é falada. É dita.
Através dela comunica-se algo, denomi-
na-se e descreve-se alguma coisa. A pa-
lavra serve à troca, é dar e receber. Re-
vela algo ao outro, até então velado.
Deixa-o compartilhar um assunto pesso-
al e cria conexão e confiança. Não im-
porta apenas o que é dito e sim como é
dito: o tom, a expressão, o olhar, o gesto.
Somente através destes aspectos a pala-
vra não é apenas ouvida, mas também é
vista.
Algumas palavras têm uma expres-
sividade maior, um peso. Nelas um pro-
cesso se condensa, um acontecimento,
uma realidade estendia por muito tempo.
Como, por exemplo, nas palavras pai,
mãe ou filho. A palavra de peso move
algo no interior da alma, toca-a, movi-
menta alguma coisa. Como no caso da
exclamação “socorro” ou das simples
palavras “por favor” e “obrigada”. Mas
também as palavras “vida” ou “morte”
ou “despedida” e “lar” tocam-nos e esti-
mulam algo.
Tem palavras que nos penetram e
na medida em que são proferidas inte-
gram-nos no processo que descrevem.
Por exemplo, a palavra “sopro”. Ou, tam-
bém, tratando-se da palavra “árvore”.
Quando a falamos, fazemos um movi-
mento interno – instintivamente – que
corresponde à copa de uma árvore em
forma de gesto.
A palavra falada possui uma vibra-
ção que falta à palavra escrita. Logo a
palavra falada necessita de tempo.
Apensa assim aquilo que foi dito pode
atuar. No caso da palavra escrita, pode-
mos ter pressa ao lê-la. Às vezes aconte-
ce que pulamos uma ou outra palavra.
Neste caso, talvez, absorvamos apenas a
sua informação, não o seu conteúdo in-
teiro. Para compreender o conteúdo da
palavra temos que pronunciá-la enquan-
to a lemos e conceder-lhe o tempo que
damos à palavra falada. Por exemplo,
quando lemos uma poesia. Quando di-
zemos algo com peso, freqüentemente
temos que dar ao outro o tempo neces-
sário para que o falado possa ecoar den-
tro dele, o tempo para que o ouvinte
possa repetir internamente o que foi dito.
Apenas assim o falado atinge a alma, é
saboreado e começa a agir. Nós, porém,
somente conseguimos falar deste modo,
se anteriormente a palavra agiu dentro
de nós; se no instante em que a pronun-
ciamos é um eco daquilo que soou den-
tro de nós.
Falando por si só, tais palavras são pou-
cas, simples, imediatas, dirigidas, e um
presente para os outros.
Contextos
O caminho fenomenológico do
conhecimento
16
Entrevista com Bert
Hellinger
16.06.1995
Percepção e intuição
Pergunta: Gostaria de falar com você
sobre os contextos de sua terapia e
sobre o que significa perceber
fenomenologicamente. Freqüen-
temente você intui um segredo que
provoca mudanças fundamentais, sem
que ele possa ser definido com exati-
dão. Como descreveria tal processo?
Bert Hellinger: Selhe entendi bem
você se refere à descrição do proces-
so de conhecimento.
O primeiro ponto é que não po-
demos capturá-lo com os conceitos da
intuição ou a experiência. Para mim é
muito mais. Pra mim a intuição é um
compreender instantâneo de como e
por onde algo continua. É direcionada
para o futuro. Ela acontece no momen-
to sem que eu acrescente algo.
Denomino o meu processo de
conhecimento de percepção. É algo
totalmente diferente. Percepção sig-
nifica que me exponho a um contex-
to, por exemplo, que observo o que
acontece, quando pessoas se referem
a sua consciência ou quando dizem
que agem com consciência. Trata-se
de um fenômeno complexo que du-
rante muito tempo não havia desven-
dado.Logo, durante anos, simplesmen-
te deixei que agisse sobre mim e ob-
servei-o com atenção concentrada, até
que de repente percebi o que “cons-
ciência” significa essencialmente.
A consciência é um órgão sistêmico
de equilíbrio através do qual percebe-
mos imediatamente se nos encontra-
mos em harmonia com o sistema ou
não. Se estamos fazendo algo que nos
assegura o estado de fazer parte ou se
estamos colocando o mesma em risco
ou anulado-o.
Revelou-se, portanto, que estar com a
consciência tranqüila significa: ainda posso
fazer parte. A consciência pesada signifi-
ca: Devo recear que não tenho mais o
direito de pertencer a um grupo. Logo,
diante de uma série de fenômenos, de
repente foi absorvido o essencial. Isto é
o que denomino de procedimento
fenomenológico. Não tem relação algu-
ma com conceitos predefinidos ou com
o propósito de forçar algo, como, por
exemplo, manter uma idéia ou tradição.
É um processo simples e concentrado.
Sem propósito e sem medo.
O conhecimento como processo
de vida
Pergunta: Muitos terapeutas sistêmicos
de família têm um entendimento diferen-
te sobre o que é terapia. Na visão deles a
invenção de verdades – denominam-nas
de histórias - têm um papel fundamen-
tal, uma vez que são da opinião que é
impossível encontrar uma verdade “ob-
jetiva”, por assim dizer. O trabalho feito
aqui demonstra que talvez a palavra
“achar” seja mais apropriada do que a
palavra “inventar”, por exemplo, na me-
dida em que constelamos e vemos que
naquele momento alguma coisa simples-
mente está presente.
Bert Hellinger: A partir do momento em
que nos dirigimos a algo absoluto duran-
te o processo de conhecimento estamos
no caminho errado. O conhecimento é
um processo de vida, ele serve à vida.
O conhecimento origina-se através da
interação com alguma coisa que não pre-
ciso compreender como tal. Absorvo o
resultado da interação. E neste contexto,
por exemplo, posso ver que quando duas
pessoas se expõem ao mesmo fenôme-
no com o objetivo de atingir algo em
relação a este fenômeno, uma alcança
mais que a outra. Se aquilo que reconhe-
cemos fosse apenas algo construído, não
seria possível distinguir se o resultado foi
maior ou menor.
Existe, portanto, uma orientação em
alguma coisa, que vai além da constru-
ção. Na constelação familiar, por exem-
plo, observamos, que os participantes
tem a capacidade de perceber algo que
está inerente a um sistema que nem co-
nhecem. Com conceitos construtivistas
não é possível captar tal processo. É, no
entanto, inegável que existe algo de ver-
dadeiro na teoria do construtivismo, no
sentido em que podemos ver que algo é
apenas construído e mesmo assim mui-
tas pessoas tomam-no como verdadeiro
como no caso de ideologias, por exem-
plo. A solução e o objetivo, porém, con-
sistem justamente na possibilidade de
nos desvincularmos das construções e nos
permitirmos de perceber mais uma vez
com precisão o que existe ali.
Ordem e efeito
Pergunta: O que exatamente faz o efeito
na sua forma de terapia? O que se modi-
fica com relação ao sistema, ao individuo,
a sua doença e a sua cura?
Bert Hellinger: Primeiramente falarei so-
bre o meu entendimento de ordem, uma
vez que o efeito se dá na medida em
que achamos uma ordem. Quando en-
contrarmos uma ordem, a ordem correta
– usarei este termo extremo – isto pro-
voca algo dentro de um sistema que cura
e traz solução.
A ordem é algo predefinido. Uma
árvore, por exemplo, desdobra-se de
acordo com uma ordem. Esta ordem é
predefinida. Não pode sair dessa ordem
porque não seria mais uma árvore. Da
mesma maneira o ser humano também
se desenvolve seguindo uma ordem. E
sistemas humanos desenvolvem-se de
acordo com uma ordem. Estas ordens são
predefinidas.
Alguns, porém, dizem: A ordem deve
ser diferente da encontrada porque de-
sejam algo diferente. Reformadores do
mundo, por exemplo, desejam uma or-
dem diferente da que encontram. Logo
constroem uma ordem que corresponde
aos seus desejos e não consideram o que
é a ordem predefinida. A ordem
preestabelecida é algo oculto, não posso
encontrá-la sem um esforço maior, mui-
to menos inventá-la.
Para mim o processo de achar a or-
dem ocorre na medida em que me reco-
lho dentro de mim, mantendo em vista,
porém, o que está na minha frente. Faço-
o de tal modo que eu não tenha nenhum
propósito e sem medo das conseqüênci-
as. Quando me encontro recolhido em
mim dessa forma, tenho uma ligação com
algo maior. Não posso definí-lo. Às vezes
denomino-o de alma ou grande alma; é
algo secreto de onde vem força.
Conectado a isto reconheço estruturas
que ajudam ou prejudicam.
Com relação à ordem eu parto do
princípio que: a ordem se revela naquilo
que une por um lado e que, por outro,
possibilita desenvolvimento, os dois. No
caso de uma família onde todos se sen-
tem mal quando constelamos, parto do
pressuposto que ela esteja em desordem.
Logo procuro a ordem que cura, que so-
luciona. Ao encontrar esta ordem, vejo
que se trata de uma ordem que une a
todos e possibilita o desenvolvimento de
cada um.
É possível reconhecer tais ordens em
um nível mais superficial e trabalhar com
elas, ou então em um nível mais profun-
do. Quando, por exemplo, encontramos
ordens que causam doenças e outras que
curam, uma pessoa pode trabalhar com
estas ordens em um nível relativamente
superficial, porque as conhece. Neste
caso, porém, a pessoa não trabalha par-
tindo de um reconhecimento imediato
da ordem e sim recorrendo àquilo que
ouviu sobre a ordem ou a algo anterior-
mente reconhecido. Aplica o seu conhe-
cimento. Esta é uma forma de trabalhar
com o conhecimento em torno de or-
dens. Assim, no entanto, permaneço li-
mitado na minha efetividade.
Se, ao contrário, quiser atingir algo
em um nível mais profundo, tenho que
me recolher muito mais profundamente.
Este recolhimento dirige-se a um centro
vazio. Assim encontro-me conectado a
algo que cura e que não posso explicar.
Mostra-se, porém, no efeito. Ao transmi-
tir o que reconheci de tal forma, vejo ime-
diatamente através do efeito, se estava
realmente conectado ou não. Se, por
exemplo, dá inicio a um movimento den-
tro do outro ou se apenas provoca curio-
sidade ou objeções e perguntas. Pode-
mos, portanto, distinguir entre diferen-
tes níveis.
17
Concordar com o mundo
como ele é
Pergunta: Volto a falar da ordem. Tenho
a impressão que este é o ponto princi-
pal onde seu trabalho é mal-compreen-
dido e onde dizem que você é dogmático.
Eu pessoalmente não compartilho essa
opinião. Para mim você é um empirista
confiável porque você procede de forma
fenomenológica. Porém, vejo também,
que este trabalho exige uma postura de
sensibilidade e apreço. Surpreende-me
com quanta calma e recolhimento inter-
no você suporta este trabalho. Também
aqui, neste seminário, o notei. Em alguns
momentos surgem situações de peso – o
que se percebe também através do pú-
blico. Onde você busca a força para tal
postura? Como se mantêm nessa postu-
ra de recolhimento interno e clareza de
percepção?
Bert Hellinger: A calma assim como a
percepção derivam da aceitação do mun-
do como ele é, ou seja, sem o propósito
de querer mudá-lo. Em princípio esta é
uma postura religiosa, pois, encaixa-se em
uma totalidade maior, sem a pretensão
de saber fazê-lo melhor ou poder atingir
saída melhor, do que a que as forças pro-
fundas visam por sua parte. Logo, para
mim o ponto de partidaé concordar com
tudo da maneira como é. Quando vejo
algo belo, isto para mim faz parte do
mundo com o qual concordo. E quando
vejo algo trágico, também concordo.
Concordo com ambos. É isto que deno-
mino de humildade: a aceitação do mun-
do como se apresenta. Apenas a aceita-
ção permite-me perceber com exatidão.
Caso contrário as minhas construções –
usarei esta palavra – ou as minhas inten-
ções ou ideologias prejudicam o meu
processo de percepção.
Temos que considerar também o fato
de que a ordem não se mostra com clari-
dade e aparece de forma diferente a cada
instante. Inerente a ela está uma diversi-
dade, uma plenitude. Revela-se apenas
em partes. Este é o motivo pelo qual
uma constelação difere-se de uma outra,
mesmo que tenham situações de base
parecidas. O que, então, eu percebo nes-
te determinado instante, eu digo. E en-
tão alguns acham que se trata de uma
afirmação geral ou uma verdade geral.
Ao contrário – não é isto. Trata-se da
percepção de algo que veio a luz desta
maneira neste determinado instante. Esta
percepção é valida para o instante e é
totalmente transparente neste instante.
Ao separar isto da percepção daquele
momento transformo-o em um
ensinamento, e torna-se dogmático.
Percepção integral
Pergunta: Quando se dá tanto e recebe-
se tanto como é possível delimitar o seu
espaço como pessoa?
Bert Hellinger: O terapeuta é capaz de
fazê-lo deslocando-se para um nível su-
perior durante o trabalho – poderíamos
também dizer nível inferior, não faz dife-
rença. A imagem, porém, do nível mais
elevado é mais bonita. Quando estou no
cume de uma montanha e olho em mi-
nha volta não tenho a necessidade de
delimitar o meu espaço em relação a
nada. Vejo o que está diante de mim, sou
parte de um todo e não preciso estabele-
cer um limite em relação a alguma coisa.
Diante da plenitude não precisamos deli-
mitar o nosso espaço. Quando, porém,
aproximo-me demasiadamente de algu-
ma coisa ou assumo algo alheio, não per-
maneço na posição do mero espectador.
Neste caso é difícil delimitar o espaço.
Pergunta: Após ter visto o seu trabalho,
pergunto-me quantos sentidos você pos-
sui. E pergunto-me especialmente: o que
você pode passar para os outros para
treinar os seus sentidos de modo pare-
cido?
Bert Hellinger: Neste trabalho os órgãos
de percepção precisam estar abertos de
qualquer modo. Mas, para além disso,
existe algo como uma percepção inte-
gral. A percepção integral torna-se pos-
sível na medida em que atribuo um lu-
gar a tudo, ou seja, não excluo nada. Na
constelação dou um lugar a cada um no
meu coração, também àqueles que es-
tão na posição do mal ou do agressor ou
diante dos quais os outros sentem asco
ou medo. Dou um lugar também a eles.
Logo estou conectado a uma totalidade,
percebo-o como totalidade.
 Também sempre olho para um ser
humano como sendo parte de uma tota-
lidade maior. E quando trabalho com um
ser humano, na função de terapeuta, na
verdade, não me dirijo a sua pessoa ou
ao seu “eu”, falo, porém, a sua alma, lá
onde ele está conectado a algo maior. O
efeito é muito maior do que se me res-
trinjo ao primeiro plano.
Como podemos treinar a percepção?
Treina-se a percepção integral. A partir
desta percepção o resto dá-se facilmente.
O limite máximo
Pergunta: Gostaria de retornar à per-
gunta sobre o que faz efeito. Notei que
você exige muito do paciente e o leva até
um limite máximo. E percebi também que
em um determinado ponto você pára,
para que possa fazer efeito, desdobrar-
se, para que a força possa agir. Você po-
deria explicar mais precisamente por
que o faz e como o faz?
Bert Hellinger: Sim. Com um paciente
ou cliente meu, eu percorro todo o cam-
po de conseqüências provenientes do
seu comportamento ou dos destinos em
sua família. Não me limito a algo alegre
ou fácil, olho também para o lado difícil,
principalmente para o lado difícil. E ca-
minho com ele até o limite onde ele e o
seu sistema correm perigo. Acompanho-
o até lá, com coragem e sem medo. No
final isto significa, que eu também me
deparo com a possibilidade dele morrer
ou de algo trágico acontecer. Isto eu
percorro com o paciente em todas as di-
reções. Assim abranjo todo a verdade deste
sistema. Uma vez percorrido este campo,
sei onde estão os limites do que é possí-
vel ou impossível dentro deste campo.
Se o paciente conhece o limite existe a
possibilidade de mudança para ele. So-
mente assim percebe o que é possível,
tanto no lado trágico como no lado bom,
e isto lhe dá força. Com esta força, en-
tão, procura-se a solução viável e me-
lhor para todos. Às vezes a solução signi-
fica aceitar, significa que diante do limite
máximo é necessário, também, aceitar o
fim e que não existe solução diferente
ou mais fácil. Na maioria dos casos, po-
rém, existe outra solução. Posso atingi-la
muito mais facilmente após ter caminha-
do com o cliente até o limite do que te-
ria sido possível antes. Agora ele vê as
suas possibilidades e os seus limites e
pode achar o caminho apropriado com
mais facilidade.
18
Ordem e amor
Pergunta: Gostaria de fazer uma pergun-
ta sobre o “amor”. Durante o seminário
você também disse que quando perde-
mos amor, o sistema entra em desordem
e quando reconhecemos o amor e o re-
cuperamos o sistema pode voltar a sua
ordem. O que acontece neste contexto?
Bert Hellinger: Antes de entrar mais
detalhadamente nesta pergunta, gosta-
ria de voltar mais uma vez ao assunto da
ordem. O que nos denominamos de va-
lores ou de sentido é algo que serve à
ordem, ou seja, àquilo que serve a uni-
dade e ao desenvolvimento. Por este
motivo a ordem sempre está em primei-
ro lugar. Todo o restante está a serviço
desta ordem. Portanto não posso desejar
modificar a ordem através de valores,
dizendo: este é o valor máximo, logo a
ordem deve adequar-se a ele. Não, é o
contrário. O valor segue a ordem. Tam-
bém o amor segue a ordem. Está a servi-
ço da ordem.
A maior expressão de amor é quan-
do afirmo a um outro que ele faz parte,
ou mais precisamente, quando reconhe-
ço , que possuiu o mesmo direito de fa-
zer parte de algo do que eu. Assim exijo
dele que reconheça o fato de que eu tam-
bém recorro ao mesmo direito de fazer
parte do que ele. Através desta aprova-
ção mútua resulta um sentimento pro-
fundo de união. Este é, então, o amor
que desvincula.
Neste contexto existem outras for-
mas de amor que atuam, por exemplo,
o amor que vincula. O amor que resulta
do vinculo, faz com que uma criança que
ainda não compreende os contextos mais
amplos, agarre-se a sua mãe ou ao seu
pai e queira permanecer junto deles a
qualquer preço, mesmo que já estejam
mortos. Desta postura resulta a dinâmi-
ca: “sigo você na morte”. Esta, porém, é
uma dinâmica que prejudica o sistema
porque assim, quando um vai, mais um
vai, ao invés de ao menos este ficar. Se,
no entanto, a criança for capaz de reco-
nhecer, que o pai continua vivo dentro
dela, mesmo que já tenha morrido, ou
seja, que reconheça que mesmo assim
está conectado a ela e ela a ele, então o
pai é reconhecido em seu direito de fa-
zer parte, mesmo estando morto. Logo a
criança pode exigir do pai com amor que
reconheça o direito dela de fazer parte e
lhe pedir: Seja amável se eu ficar, ou algo
parecido, dependo da frase em cada caso
particular.
Liberdade
Pergunto mais uma vez sobre a
efetividade do seu trabalho. Ultimamen-
te tem se tornado muito conhecido, po-
deria dizer também, que entrou para o
centro de atenções da psicoterapia. Na
medida em que isto acontece aumenta a
necessidade de avaliação do que você faz.
Em conversas com colegas da área sur-
gem, repetidamente, dúvidas e questões
sobre a efetividade do seu trabalho. Ouve-
se comentários como: sim, é impressio-
nante; é profundo; é de certa forma como
uma ação psicoterápica imediata, porém,
a sua efetividade é totalmente desconhe-
cida. O que também está acontecendo
com o seu trabalho neste momento é que
está sendo incluído, em parte, em um
outro grande sistema. A questão é, se este
outro sistema lhe convém. Mesmo assim,
após um ou dois anos, surge também em
mim, a necessidadede conferir este tra-
balho para saber como atua. Existe esta
possibilidade ou seria uma petulância,
ou será que na verdade não estamos a
altura de fazê-lo? É parecido com a
hipnoterapia onde modificamos ima-
gens internas, ou tentamos modificá-las
e depois deixamos que o processo se
desenvolva no subconsciente, mas em
certo ponto nos perguntamos: Faz efei-
to? Ou não faz efeito?
Bert Hellinger: Considero legítima a ne-
cessidade de se querer saber qual o efei-
to deste trabalho. Por outro lado, para
avaliar este trabalho a pessoa tem que
ter feito o trabalho. Quem faz o trabalho
já recebe uma informação no decorrer
do trabalho e assim pode avaliar depois
o que ajuda e o que não ajuda. A infor-
mação mais importante obtém-se no
momento da constelação. Neste momen-
to vemos imediatamente o que mudou,
no sentimento, no olhar, no ambiente, na
força de fazer algo. Como a pessoa de-
pois utiliza a informação que recebeu, o
terapeuta não pode determinar. Logo, a
avaliação do trabalho após um tempo não
é realmente confiável, uma vez que, to-
dos os outros fatores que têm influência,
não podem ser considerados. Se, por
exemplo, a lealdade de uma criança di-
ante dos seus pais manifesta-se mais uma
vez e o paciente prefere morrer a acei-
tar a solução, se poderia concluir que a
terapia não tenha sido eficiente. Isto,
porém, não é verdade. O paciente per-
manece livre e pode tomar a decisão que
quiser, independente da terapia.
Humildade
Pergunta: Qual o papel da humildade
para você e de certas posturas corpo-
rais que expressam a humildade? Como
a descobriu?
Porque é evidente que existem certas
posturas que expressam humildade,
também nas religiões como, por exem-
plo, o ato de ajoelhar-se ou de inclinar-
se profundamente.
Bert Hellinger: Observei estas posturas
em situações concretas, sem referência
a alguma religião. Primeiro observei que
uma ligeira inclinação da cabeça para
frente, estimula um fluxo de energia que
sobe pela coluna, ou seja, que a postura
de olhar para cima bloqueia o fluxo
energético. Se inclinamos a cabeça ligei-
ramente para frente a energia flui e as-
sim temos maior contato com a terra.
Se alguém faz isto diante dos seus
pais, e inclina-se profundamente, então
faz valer a ordem antiga onde os pais
são grandes e ele é pequeno. Na reve-
rência mais profunda a pessoa inclina-se
até o chão e a frase que acompanha a
reverência é: “dou lhe a honra”. Uma in-
clinação de tamanha profundidade geral-
mente acontece diante de pai e mãe,
talvez diante dos avós, raramente, po-
rém, diante de outra pessoa. Ela significa
humildade em sua extensão máxima.
Um fato peculiar é que no instante em
que alguém se expõe a tal reverência
profunda é capaz de, logo em seguida,
colocar-se na mesma altura dos pais, sem
petulância alguma.
As perguntas foram feitas por
Wolfgang Lenk, Johannes Schmidt
e Brigitte Zawieja.
19
O chapéu sobre o
espantalho
Um grupo de correligionários, que se jul-
gavam no início da sua jornada, encon-
trou-se para falar sobre os seus planos para
um futuro melhor. Todos concordaram que
o fariam de modo diferente. O comum e
corriqueiro tanto quanto este ciclo contí-
nuo parecia-lhes demasiadamente limita-
do. Procuravam o único, o amplo e espe-
ravam encontrar a si mesmos como nin-
guém antes. Em pensamentos já se viam
alcançando o objetivo, imaginavam como
seria e decidiram agir. “Primeiro” disseram
“temos que procurar o grande mestre; por-
que é assim que tudo começa”. Depois
iniciaram a sua jornada. O mestre vivia em
um outro país e pertencia a um povo des-
conhecido. Ouviam-se boatos estranhos
sobre ele, ninguém, porém, nunca tinha
certeza sobre aquilo que se falava. Do cor-
riqueiro conseguiram escapar rapidamen-
te, pois aqui tudo era diferente: os costu-
mes, a paisagem, o idioma, os caminhos,
o objetivo. Às vezes chegavam a um lugar
do qual se dizia que o mestre estava lá.
Mas quando queriam saber um pouco mais,
ouviam que ele tinha acabado de partir
novamente e que ninguém sabia em qual
direção tinha ido. Depois, porém, num belo
dia, o acharam.
Trabalhava nas terras de um campo-
nês. Assim ganhava seu sustento e tinha
um lugar para dormir. Primeiro não queri-
am acreditar que este homem seria o mes-
tre pelo qual procuravam há tanto tempo.
O camponês também se mostrava surpre-
so pelo fato de acharem que esse homem
que trabalhava no campo com ele fosse
alguém tão especial. Ele, porém, disse “Sim
eu sou um mestre. Se quiserem aprender
algo de mim, fiquem aqui por mais uma
semana. Então os ensinarei”. Os correligi-
onários aceitaram trabalhar para o mesmo
camponês e receberam comida, bebida e
alojamento. No oitavo dia ao escurecer o
mestre chamou-os, sentou-se sob uma ár-
vore e contou-lhes uma história.
“Há muito tempo atrás um jovem ra-
paz refletiu sobre o que fazer de sua vida.
Era de boa família, não sofria necessidades
e sentia-se comprometido com algo maior
e de mais valor. Assim deixou pai e mãe,
seguiu os ascetas durante três anos e tam-
bém os deixou. Depois encontrou Buda em
pessoa e logo sabia que nem isto bastava”.
Ambicionava subir mais alto. Queria che-
gar lá onde o ar é rarefeito e a respiração
difícil: onde ninguém antes dele havia ja-
mais chegado. Quando alcançou este lu-
gar o jovem rapaz se deteve. Era o final
daquele caminho e ele viu que se tratava
de um caminho equivocado.
Logo queria tomar a outra direção.
Desceu, chegou a uma cidade, conquis-
tou a mais bela das concubinas, tornou-se
sócio de um comerciante abastado e logo
se transformou em um homem rico e
prestigiado. Não havia, porém, descido até
o ponto mais baixo do vale. Permanecia
apenas na camada superior. Faltava-lhe a
coragem para o desempenho máximo.
Havia uma amante não havia, porém, uma
mulher. Teve um filho, no entanto, não era
pai. Havia aprendido a arte do amor e da
vida, porém, não o amor e a vida propria-
mente ditos. Aquilo que não aceitava ele
desprezava até que não o interessava mais
e assim o deixava de lado.“
Neste ponto o mestre fez um intervalo. Ele
disse: “Talvez reconheçam a história e sa-
bem, também, como terminou. Diz-se que
o homem tornou-se humilde e sábio no
final e voltou-se para o comum. Mas do
que isto adianta se antes já se havia perdi-
do tanto. Quem tem fé na vida não procu-
ra conquistar o distante que almeja
secretamente.
Ele enfrenta primeiro o comum. Caso con-
trário também o que é incomum para ele –
se é que isto existe – é apenas como o
chapéu sobre um espantalho.“ Todos per-
maneceram em silêncio. Também o mes-
tre que, depois, levantou-se sem dizer nada
e partiu.
Na manhã seguinte não era possível
encontrá-lo. Ainda durante a noite havia
ido embora sem dizer para onde.
Agora os correligionários estavam por
conta própria novamente. Alguns entre eles
não queriam acreditar que o mestre os ha-
via deixado e partiram em sua procura no-
vamente. Outros já quase não sabiam mais
distinguir entre seus medos e desejos e pro-
curavam por qualquer caminho que fosse.
Um, no entanto, caiu em si. Retornou
mais uma vez até a árvore, sentou-se e
direcionou o seu olhar para bem longe até
que alcançou o silêncio interno. Buscou
dentro de si tudo aquilo que o afligia e
colocou-o diante de si como alguém que
após uma longa caminhada tira a mochila
das costas antes de descansar. Sentiu-se leve
e livre. Ali estavam, diante dele: seus dese-
jos, seus medos, seus objetivos e sua ver-
dadeira necessidade. Sem olhar mais pre-
cisamente e sem determinação específica,
mais na posição de alguém que se entrega
ao desconhecido, esperava que aconteces-
se por si só – esperava que tudo se aco-
modasse no lugar que lhe convinha no con-
texto do todo, de acordo com a sua im-
portância e o seu peso. Não demorou muito
e o jovem percebeu que do lado de fora a
quantidade de questões posicionadas di-
ante dele diminuía. Como se algumas saís-
sem de fininho como ladrões desmascara-
dos em fuga. E ele realizou que tudo aqui-
lo que identificava como seus próprios dese-
jos, seus próprios medos e seus próprios
objetivos nunca lhe havia pertencido. Vi-
nham de um lugar totalmentediferente e
apenas haviam se estabelecido ali. Agora,
porém, o seu tempo havia terminado.
Parecia entrar movimento naquilo que
restava, ali, diante dele. O que realmente
lhe pertencia retornou a ele e ocupou o lu-
gar que lhe correspondia. No seu centro
acumulou-se força e logo reconheceu o que
era seu, reconheceu o seu objetivo adequa-
do. Esperou mais um pouco até que teve
certeza. Depois se levantou e partiu.
História
20
A Serviço da Vida
Uma revista a serviço do trabalho com
as constelações sistêmicas segundo
Bert Hellinger
Com artigos da revista alemã
“HellingerZeit Schrift”- revista trimestral
alemã de autoria de Bert Hellinger e
Marie-Sophie Hellinger.
Reprodução autorizada.
Direitos autorais para o português da
Editora Atman.
Tradução: Filipa Richter
Revisão: Tsuyuko Jinno-Spelter
Diagramação: Virtual Edit
Coord. Editorial: Décio Fábio de
Oliveira Júnior
Revista 1 – edição alemã em 09/2006
A SerA SerA SerA SerA Serviço da Vidaviço da Vidaviço da Vidaviço da Vidaviço da Vida
Uma revista a serviço do trabalhoUma revista a serviço do trabalhoUma revista a serviço do trabalhoUma revista a serviço do trabalhoUma revista a serviço do trabalho
com as constelações sistêmicas segundocom as constelações sistêmicas segundocom as constelações sistêmicas segundocom as constelações sistêmicas segundocom as constelações sistêmicas segundo
Bert HellingerBert HellingerBert HellingerBert HellingerBert Hellinger
Fascículo 2Fascículo 2Fascículo 2Fascículo 2Fascículo 2
• Prefácio
• O que faz feliz
• Homem e mulher
• Círculo de Amigos
• Ajudar às crianças
Sumário
A primavera está de volta. A terra
é uma criança plena de poesias;
tantas... Pelo esforço que encerra
o longo estudo, um prêmio lhe
cabia.
Assim Rilke dá as boas vin-
das à terra - que se desperta
após um longo inverno - em seus
Sonetos a Orfeu.
A nossa alma também segue
as estações, permanece, porém,
igual em suas profundezas e em
sua essência. Suporta o inver-
no, alegra-se na primavera,
transpira no verão e colhe no
outono.
Não apenas a própria alma,
mas também, a alma das pesso-
as com quem estamos intima-
mente ligadas. Às vezes, no en-
tanto, elas já podem estar no
verão enquanto nós ainda per-
manecemos no inverno. Ou en-
tão celebram a primavera en-
quanto nós já estamos na co-
lheita. E vice versa.
Mas todas as estações co-
nhecem umas às outras. Perten-
cem ao mesmo círculo, ao mes-
mo movimento em torno de um
centro comum.
Complementam-se em nossos re-
lacionamentos. Acrescentam ao
peso a esperança, ao calor o si-
lêncio, à colheita a gratidão e à
alegria a celebração pelo tempo
que durar.
Desse modo, os artigos e as
histórias dessa revista levam-
nos pelo ciclo anual da alma e
das nossas relações. Permanecem
relacionados uns aos outros e
também a uma essência. Estimu-
lam e criam espaço. A base de
todos, porém, continua sendo a
alegria.
Mesmo que o mundo mude
velozmente,
como nuvens num mosaico,
tudo o que é perfeito tende
de volta ao arcaico.
Sobre a mudança e o andar,
ampla e livre, inda perdura
tua voz que vibra no ar,
ó Deus da lira pura!
Nem a dor aqui se encerra,
nem do amor sabemos a sorte;
nem o temor do exílio da morte,
nada disso está desvendado.
Somente o canto na terra
será santo e celebrado.
Assim canta Rilke em um de seus
Sonetos a Orfeu. Assim canta
também a terra no poema sobre
a primavera. Minha mulher Ma-
ria Sophie e eu e todos os nos-
sos colaboradores desejamos-
lhes muita alegria com esta re-
vista.
Bert Hellinger
Desejo-lhes as boas vindas
4
Extratos do seminário “Auxílio de
vida” Germering, 09.07.2005
Esta é a questão.
Quem é mais feliz?
Quando fomos mais
felizes? Mais feliz, é
uma criança no seio
da mãe. Existe
felicidade maior do
que esta ligação
íntima? Isto também é
valido para nós, hoje
em dia. A nossa maior
felicidade é a ligação
com a nossa mãe e
depois com o nosso
pai. No decorrer da
vida, talvez, algo
tenha interferido que
nos distanciou da
nossa mãe. Então
ficamos vazios. Sem
mãe somos pessoas
vazias. Então algo
está faltando.
O sentimento
de base
Há muitos anos atrás estive em Chicago
a convite de um casal de terapeutas na
função de terapeuta visitante. Eram pes-
soas maravilhosas. Seu sobrenome era
Haimowitz. Uma vez o homem disse em
um grupo que toda pessoa possuía um
sentimento de base. Que retorna sem-
pre para este sentimento de base, pois
este é o lugar onde sente o menor stress.
Cada um de nós pode perceber imedia-
tamente como está o seu próprio senti-
mento de base. Imaginamos, por exem-
plo, um escala de menos 100 a mais 100.
O homem disse que nunca podemos
mudar o sentimento de base e que sem-
pre retornamos ao nosso sentimento de
base.
Agora confiram em vocês mesmos:
Onde se situam nesta escala de menos
100 a mais 100? Se é na parte abaixo de
zero, e onde lá, ou se estão na parte su-
perior a zero, e onde lá. Isto cada um de
nós sabe imediatamente. Quando olho para
uma pessoa também o sei imediatamen-
te. Reconhecemos imediatamente onde
O que faz feliz
O que deixa as
pessoas felizes?
uma pessoa situa-se nessa escala.
Este homem, então, afirmou que não
era possível mudar o sentimento de base.
Uma das minhas descobertas decisivas,
porém, foi que era possível mudá-lo sim.
O modifiquei em mim mesmo e foi as-
sim que percebi que era possível.
Uma vez participei de um curso. O
terapeuta trabalhou comigo pessoalmen-
te. Até hoje sou agradecido a ele. Cha-
mava-se Lês Kadis. Com a sua ajuda, de
repente vi o que minha mãe havia feito
por mim. Fiquei muito abalado ao ver,
de repente, tudo que a minha mãe havia
feito por mim. Era presente sempre. E
foi uma mulher corajosa. No contexto
do Nacional-Socialismo ninguém conse-
guia seduzi-la para nada. Quando me foi
negado o meu certificado de conclusão
escolar sobre o pretexto de que eu era
um sujeito anti-social ela foi até o colé-
gio e lutou por mim como uma leoa.
Então recebi o certificado. Nesta época
já estava no exército há um ano.
Bem, de repente percebi este fato e
percebi em mim como o meu sentimen-
to de base elevou-se por 75 pontos. 75
pontos, podem imaginá-lo? Ou seja, a li-
gação com a mãe traz felicidade. É, en-
tão, um dos fatores que deixam as pes-
soas felizes.
5
A felicidade no
relacionamento
entre casais
Onde a maioria sonha encontrar
a felicidade? No relacionamento a
dois, evidentemente. Neste contexto
fiz mais uma descoberta decisiva.
Devo contá-la a vocês? Quando am-
bos os parceiros estão em conexão
com as suas respectivas mães, então
se tornam felizes.
Algumas pessoas são solitárias.
Algumas mulheres são solitárias, al-
guns homens são solitários. Resumi
a minha descoberta em uma frase:
“Sem mãe não há parceiro”. Algumas
pessoas dizem: “Finalmente quero ter
um homem”. Não funciona assim.
Primeiro temos que ter a mãe para
depois acharmos um homem. Sem
mãe não há homem. Evidentemente
isto também se aplica ao homem: Sem
mãe não há mulher. Mas aqui tenho
as minhas dúvidas que algumas mu-
lheres querem ocupar o lugar da mãe
e assim fazer o homem feliz. Nós sa-
bemos qual o resultado disso.
Este então é o primeiro caminho
para a felicidade; permanecer em con-
tato com as raízes e de lá expandir-se
e ser feliz.
Obstáculos na
busca da
felicidade
Evidentemente há muitos fatores
que contrariam a felicidade e que es-
tão relacionados à nossa história fa-
miliar, aos acontecimentos na famí-
lia. A constelação familiar e a manei-
ra como ofereço este trabalho, mos-
tram como possivelmente podemos
superar tais obstáculos do amor e da
felicidade.
Muitas pessoas que são felizes têm
a necessidade de afirmar o contrá-
rio. Por quê? Porque acham que as-
sim protegem a felicidade. Muitos
têm a fantasia de que devem pagar
pela felicidade. É evidente que quan-
to mais pagamos pela felicidade,
menos temos. Isto é também uma
idéia religiosa.
Exemplo
Eu sou feliz
Mulher: Três irmãos do meu pai fale-
ceram quando crianças. O pai do meu
pai faleceu cedo e o meu pai também.
Morreu de câncer com 49 anos.
Hellinger: Quando acontece algo as-
sim em uma família, então, o amor
perante a família freqüentementecobra que compartilhemos tal
destino.
Para mulher: Feche os
olhos. Agora imagine to-
dos esses mortos. Pri-
meiro o seu pai e o pai
do seu pai e os irmãos
mortos do seu pai.
Diga a eles: “Vejo
vocês. Carrego-os no
meu coração. Eu amo
vocês.”
Depois olhe para além
deles, para bem longe,
para o destino deles.
Enquanto você dirige o
olhar para além deles,
para o destino deles,
eles também se voltam
para o seu destino – com
amor. E também o desti-
no olha para eles com
amor. Depois dão as costas
a você e viram-se apenas
para o destino deles. Junto com o des-
tino lhe dão as costas novamente e
voltam-se para algo por detrás do des-
tino, algo grande de onde tudo vem
e para onde tudo retorna. Lá está guar-
dado.
Se agora você falasse a um deles: ”Em
breve irei ao encontro de vocês por-
que os amo”, eles a ouvem?
Depois você olha para o seu próprio
destino junto com os seus filhos. E
você diz a este destino: “Sim”. O seu
destino também lhe dá as costas e
volta o seu olhar para outro lugar,
para algo maior.
Agora você se volta para os seus fi-
lhos e diz a eles: “Podem confiar em
mim. Eu fico.” E para o seu marido
você diz o mesmo. Ele ficará feliz se
dizer isto a ele. Olhe em seus olhos e
diga: “Eu sou feliz.”
Para o grupo: Agora o marido e os
filhos estão bem.
Para a mulher: E como você está?
Mais livre, mais solta.
6
Felicidade
através da
benevolência
para todos
O que faz com que as
pessoas sejam felizes? O
que me faz feliz? Como
me torno feliz?
Voltando-me para todas
as pessoas de maneira
similar. Voltar-me para
elas não significa amar
todas elas
emocionalmente.
Significa que me volto
para elas com respeito e
amor espiritual. Que me
volto para elas ao andar
com um movimento
criativo que atua por
detrás de tudo e que
dirige-se a tudo da
mesma forma. Não é
possível imaginá-lo de
modo diferente.
Quando deixo de voltar-me para alguém
perco a minha felicidade. Como uma
pessoa exclui uma outra? Sentindo-se
melhor. Quando se sente melhor. Todos
que se sentem melhor excluem alguém.
Todos que avaliam alguém de forma
negativa ou julgam-no, excluem-no. Essa
superioridade resulta da moral. Se refle-
tirmos um pouco, notamos que esta su-
perioridade estende-se a tal ponto que
os outros – supostamente superiores em
função da moral – digam: “Este pode vi-
ver e este não”. Não é incrível, tal petu-
lância, por detrás da moral? Felizes, po-
rém, estas pessoas moralistas não são.
Seguramente não.
A felicidade resulta do ato de voltar-se
para todos. Este ato de voltar-se para to-
dos é uma realização e uma tarefa para a
vida inteira. É a realização essencial da
nossa vida. Em princípio não é diferente
da benevolência para todos. Quero bem
a todos os seres humanos. Sintam o que
se passa no interior de vocês ao exerci-
tarem esta postura. Existe, talvez, uma
ou outra pessoa com a qual estejam abor-
recidos. Agora vocês a olham e dizem:
“Lhe quero bem em todos os sentidos.”
Vejo através de algumas expressões
que já estão mais felizes. A benevolên-
cia traz felicidade. Querer mal a alguém,
ao contrário, traz a infelicidade. Não ape-
nas a do outro e sim a nossa própria.
É possível verificar a benevolência
dentro de nós e renová-la.
Freqüentemente confiro a minha pró-
pria benevolência. Percebi que quando
fico inquieto ou ansioso não permaneço
conectado com a minha alma e o meu
coração. Isto vocês também percebem
imediatamente. Então, à noite, sento-me
– se não tiver tempo à noite o faço na
manhã seguinte o mais tardar – e me per-
gunto: “A quem neguei a minha benevo-
lência?” De repente estas pessoas apare-
cem diante de mim, no meu interior. Tor-
no a voltar-me para elas com benevolên-
cia. Com benevolência, simplesmente,
sem julgamento e com benevolência.
Então fico calmo novamente. Esta é uma
outra maneira de ser feliz, simplesmente,
através da benevolência.
O instante
Quero, agora, falar mais um pouco sobre
a felicidade. Qual o segredo da felicida-
de? Onde se realiza a felicidade? No ins-
tante. Toda a felicidade reside no instan-
te. O que contraria a felicidade? O des-
vio do instante. O olhar para trás ou o
olhar para a frente. Então, esquece-se o
instante. Com o instante esquecemos tam-
bém, a felicidade do instante. Permane-
cer no instante é uma tarefa difícil que,
podemos treinar.
Fechem os olhos. Toda a vida acontece
no instante. Apenas no instante. Manifes-
ta-se no instante com toda a sua força.
No instante – agora – a vida é repleta.
Então abrimos o coração para este mo-
mento, alegramo-nos com este momen-
to, agradecemos por este momento.
No instante não há lamento, também
não há medo. Todo medo concentra-se
no futuro, todo lamento reside no passa-
do. No instante vivemos sem lamento e
sem medo.
Porque as crianças freqüentemente
são tão felizes? Por que permanecem,
apenas, no instante.
Quero fazer mais um comentário so-
bre o instante. Viver de instante para ins-
tante, significa também, morrer de ins-
tante para instante. Deixamos o antigo
para trás. Isto é a despedida. O exercício
de viver no instante significa que domi-
no a arte de esquecer tudo. Ainda não o
aprendi, às vezes, porém, imagino o que
significa esquecer tudo.
Don Juan nos livros de Carlos
Castaneda aconselha-nos de esquecer a
sua história, esquecê-la totalmente. Se
conseguirmos fazê-lo, isto significaria fe-
licidade.
7
Trabalho
Homem: Trata-se do assunto tra-
balho.
Hellinger:O problema “trabalho”
pode ser resolvido facilmente.
Hellinger posiciona
primeiramente o homem e
depois uma representante
para o trabalho de frente
para ele. A representante
para o trabalho da um passo
para trás e vira-se.
Hellinger: Não me admira você não
ter trabalho. Ele não gosta de você.
O trabalho não gosta de você. Está
aborrecido com você porque você
não o respeita. O trabalho foge de
você. Isto, porém não é culpa do
trabalho. Mas, quem era o trabalho?
Homem: Era algo que está muito
distante de mim. Não era um mo-
vimento de aproximação.
Hellinger: Quem era isto aqui, o tra-
balho? Era a sua mãe. Sem mãe não
há trabalho. O que você fez a ela?
Homem: No momento sinto que
está de costas pra mim.
Hellinger:Minha pergunta foi bem
concreta.
Homem: Eu fui embora.
Hellinger: O que isso quer dizer?
Homem: Tenho pouco contato
com ela. Virei-lhe as costas.
Hellinger: O que você fez a ela?
Homem: Dei lhe as costas.
Hellinger para o grupo: Acho que
vai permanecer desempregado.
Não há nada que se possa fazer.
Sem mãe não há trabalho.
Quem dá as costas para
mãe dá as costas para o
trabalho – e o trabalho
lhe dá as costas
também.
Tomar os pais
inteiramente
Hellinger para o grupo: Gostaria de dizer mais uma
coisa neste contexto.
Às vezes olhamos para a nossa mãe e o nosso
pai e pensamos: algo não estava certo. Eles não eram
perfeitos. Temos umas exigências bastante peculia-
res em relação aos nossos pais, como se tivessem
que ser iguais a deus. Não exatamente iguais, um
pouco melhor ainda, evidentemente. É assustador o
que causamos aos nossos pais com tamanhas expec-
tativas. E depois ainda nos sentimos no direito de
tomar satisfação deles já que não foram iguais a deus.
Porque foram comuns, com erros; quase os mesmos
erros que nós temos e assim nós crescemos e nos
tornamos capazes de enfrentar a vida. Apenas por-
que os pais eram comuns e cometiam erros nós nos
tornamos capazes de enfrentar a vida. Eu fiz uma
experiência peculiar. Eu, comigo mesmo. Contei-lhes
anteriormente como o meu sentimento de base cres-
ceu. Acolhi a minha mãe no meu coração, por intei-
ro. O estranho era: Tudo aquilo do que eu achava
que pudesse reclamar e que eu achava que poderia
ter sido melhor, permaneceu do lado de fora. Muito
estranho. Quando tomamos o nosso pai e a nossa
mãe para dentro do nosso coração, assim como eles
são, eles permanecem inteiramente no nosso cora-
ção e sem aquilo que criticávamos. É uma experiên-
cia bonita. E também ajuda quando a conto assim.
Para o homem: Você fez algo a ela
que a machucou. Feche os olhos.
O homem coloca as mãos em
frente do rosto e começa a
soluçar.
Hellinger após um tempo: A sua
mãe ainda é viva?
Homem: Sim. O meupai já faleceu.
Hellinger: Então você ainda tem
uma chance. Agora você entrou em
contato com ela. Bom, muito bom.
Vou lhe fazer algumas sugestões
concretas. Você escreve uma carta
para ela. Depois percorre a sua in-
fância desde o seu nascimento e
olha para tudo que a sua mãe fez
por você, o tempo todo. Isto você
escreve para ela e que você vai
guardar tudo no seu coração. Tudo
que ela lhe deu você guarda no
seu coração.
O homem faz um movimento
afirmativo com a cabeça.
Hellinger: Exatamente. Depois, no
final você escreve mais uma coisa:
Sempre que você precisar de mim,
pode contar comigo.
O homem está muito emocionado.
Hellinger: Agora, em breve você
encontrará trabalho.
Os dois começam a rir alto.
Hellinger para o grupo: ele ficou
feliz. Muito bom. As mães nos fa-
zem felizes, sem dúvida.
Para o homem: está bom, vamos
deixar aqui.
8
A reconciliação
Esta reflexão precedeu
a constelação familiar
de um homem cujo
avô acompanhou um
transporte de detidos
de um campo de
concentração no final
da guerra e morreu
neste trem durante um
atentado a bomba.
Agressores só encontram a paz ao lado
das vítimas. Podem apenas aproximar-
se das vítimas se estas lhes dão um lugar.
Aqui pudemos observar como isto foi
difícil para as vítimas. Uma das vítimas
permitiu o contato com agressor. Após
esse contato os dois ficaram em paz. A
representante desta vítima olhou para as
outras vítimas que ainda não estavam em
paz, convidando-as a fazerem o mesmo.
Elas não podiam dar um lugar ao agressor.
A quem isto prejudica? Prejudica as
vítimas quando se negam a fazer este
movimento.
Então posicionei um representante
para a Alemanha. Existe mais um aspec-
to que obstrui o caminho de reconcilia-
ção entre vítima e agressor: a Alemanha
ou mais especificamente, os alemães.
Neste contexto gostaria de fazer um pe-
queno exercício com vocês.
Fechem os olhos e imaginem que ine-
vitavelmente fazem parte da Alema-
nha, que pertencem a este campo es-
piritual. Todos fazem parte desse cam-
po espiritual, os agressores, as víti-
mas, todos os entusiasmados,N R to-
dos fazem parte deste campo da mes-
ma maneira. Expomos-nos a eles, a
todos eles, aos entusiasmados, tam-
bém àqueles que falaram que não
sabiam de nada ou àqueles que se
distanciam como se não pertencessem
a este campo. E nos expomos aos
agressores e a todos os soldados e
vítimas em todos os lados. Expomos-
nos amplamente, por inteiro e total-
mente abertos. E compartilhamos com
eles também o sentimento. Dizemos
a eles: “Eu reconheço, sou como
vocês, sou igual. Presto-lhes uma re-
verência em minha alma, a todos
vocês, com humildade e amor. No
meu coração unem-se o sofrimento e
a culpa, tudo, da maneira como foi.”
Depois olhamos para além deles em
direção a algo maior que está além de
tudo e a que todos pertencem da mes-
ma forma e estavam igualmente entre-
gues – onde todos são igualmente aco-
lhidos. Diante deste poder paramos,
sem movimento, com devoção e sem
perguntas, ficamos ali, simplesmente.
A partir do momento em que alguém
do presente deixa em paz os que per-
tencem ao passado, quando não ad-
quire mais nada dessas pessoas e
elas, por sua vez, podem seguir seu
próprio caminho, então encontram a
paz. Portanto é grave quando algu-
mas pessoas acham que ainda preci-
sam fazer algo para os mortos. Vin-
gar-se, por exemplo, ou assumir algum
problema no seu lugar ou compensar
alguma coisa. Então, envolvem-se em
algo que não lhes diz respeito. Este é
um dos motivos que levam à infelici-
dade e ao desastre. Talvez deva expli-
car um pouco mais precisamente o
que atua por detrás disto.
Um dos meus reconhecimentos mais
decisivos foi a respeito do funciona-
mento da consciência. Trouxe-a, por
assim dizer, do céu para a terra. Per-
cebi, de repente, que a consciência é
um instinto, e não algo espiritual. Um
cachorro também possui uma consci-
ência. Perceberam que um cachorro
de vez em quando também tem uma
consciência pesada? Ou seja, a cons-
ciência é algo instintivo. Encontramo-
la somente em grupos ou rebanhos.
Se um membro do rebanho fez algo
que o pudesse excluir do rebanho,
fica com a consciência pesada. Logo
muda o seu comportamento para fa-
zer parte novamente.
Transferindo isto para o ser hu-
mano funciona assim: a nossa cons-
ciência nos vincula ao grupo impor-
tante para a nossa sobrevivência. Vin-
cula-nos especialmente a este grupo,
mas também, a todos os outros gru-
pos com os quais queremos manter
uma ligação.
A consciência é um órgão instin-
tivo de percepção. Podemos compa-
rar a consciência ao sentido respon-
sável pelo equilíbrio. O sentido res-
ponsável pelo equilíbrio também é um
órgão instintivo de percepção. Atra-
vés dele sabemos imediatamente se
estamos em equilíbrio ou não. De
forma parecida podemos perceber
através da nossa consciência se ain-
da podemos fazer parte ou não. As-
sim que fizermos algo que possivel-
mente nos exclua temos a consciên-
cia pesada. Logo mudamos o nosso
comportamento para podermos fazer
parte novamente. Quando podemos
fazer parte nos sentimos felizes e ino-
centes. Este é, em principio, o anseio
mais profundo de todo ser humano:
fazer parte. Não existe, portanto, mal
maior do que ser excluído.
Como punimos os criminosos?
Através da exclusão evidentemente.
Nós os mandamos para a prisão ou
os matamos. A exclusão é o pior que
existe. O maior bem é fazer parte.
Sabemos então, através da consciên-
cia o que é bom para nós e o grupo e
o que é ruim para nós e o grupo.
Eu reconheço que sou igual a você
NR com o nazismo
9
Uma outra percepção decisiva que fiz é
que existem duas consciências, uma em
primeiro plano e uma outra em segunda
plano, escondida. Na nossa cultura não
percebemos a existência desta outra
consciência. É uma consciência arcaica.
É a consciência mais antiga, precede a
consciência moral que sentimos. Esta
consciência é uma consciência de gru-
po. Empenha-se para que determinadas
regras dentro do grupo sejam respeita-
das. A primeira regra é: esta consciência
não permite a exclusão. Com a consci-
ência moral excluímos os outros na me-
dida em que nos sentimos melhores do
que eles. Nesta outra consciência isto não
existe. Todos aqueles que fazem parte
têm o mesmo direito de pertencer. Esta é
uma lei fundamental desta consciência.
Imaginem agora os bandos, as pes-
soas que viviam em bandos. Alguém
podia excluí-las? Isso era imaginável? A
consciência os manteve unidos. Ninguém
podia ser excluído. Seria a pior coisa para
o bando. Nem cogitavam tal hipótese.
Todos faziam parte. E o que se fazia com
A felicidade cega
Quero explicá-lo mais detalhadamente.
Uma criança faz tudo para poder fazer
parte. O fato de fazer parte lhe é mais
importante que a própria felicidade e a
própria vida. Muitas pessoas sacrificam a
própria vida para fazerem parte, por
exemplo, soldados e outras pessoas que
lutam por alguém. Nós dizemos que são
capazes de sacrificar a sua vida para a
comunidade. Trata-se, porém, do desejo
de fazer parte. Em que circunstâncias uma
pessoa é especialmente honrada? Se ti-
ver arriscado a sua vida para fazer algo
em favor do grupo ao qual pertence.
Para fazer parte, às vezes, uma pes-
soa diz determinadas frases interiormen-
te: Por exemplo, diz a sua mãe falecida
ou ao seu pai falecido ou ao seu irmão
falecido: “sigo-lhe”. Por detrás desta afir-
mação atua um amor profundo. É um
amor, porém, que leva para a morte. Ou
quando uma criança percebe que sua mãe
ou o seu pai deseja morrer, então diz in-
ternamente: “Eu vou no seu lugar” E de-
pois talvez morra ou fique doente. Po-
demos observá-lo, por exemplo, no caso
da anorexia. A pessoa anoréxica diz em
seu coração: “Prefiro que eu vá no seu
lugar,querido papai.” Normalmente é isto
que diz. Na maioria das vezes o faz para
o pai. Isto é amor e esse amor origina-se
na consciência.
Se estas crianças ou estes adultos
depois morrem, todos eles têm a consci-
ência tranqüila. Sentem-se inocentes e
ainda ficam felizes. Meu deus, que felici-
dade! E que tragédia para a pessoa a que
dizem: ”Melhor eu do que você!” Como
A felicidade é mais do que um sentimentode inocência
os assassinos? Se tivessem sido cristãos
teriam matado-os ou mandado-os para o
deserto.
Ainda existem, porém, grupos pri-
mitivos. Através deles revela-se do que
esta consciência original é capaz. Ano
passado conversei com um cacique indí-
gena no Canadá. Falou-me que em sua
língua não existe palavra para “justiça”.
Não possuem uma consciência como nós
a conhecemos. Com esta consciência
estariam imediatamente gritando por jus-
tiça. Encontram-se em sintonia com a
consciência original. Perguntei ao cacique:
” O que fazem então com um assassi-
no?” Ele respondeu:” Este é adotado pela
família da vítima. “ Portanto aqui não
existe exclusão. Nesta cultura não existe
exclusão. Vivem em sintonia com a cons-
ciência arcaica.
Esta consciência também atua em
nós, porém, de forma que não a perce-
bemos. Como atua? Quando excluo al-
guém do meu coração fico como esta
pessoa. Igual. E mais, posteriormente al-
guém do grupo terá que representar o
excluído através de identificação, sem
saber. Este é o emaranhado. Resulta da
consciência arcaica.
Esta consciência arcaica segue um
segundo princípio que diz: Todos aque-
les que chegaram depois, chegaram de-
pois em todos os sentidos. Isto significa
que todos aqueles que vieram antes tem
prioridade sobre os que vieram depois.
Por este motivo ninguém que chegou
posteriormente pode assumir algo para
uma pessoa que já estava lá antes. Toda
se sente o pai se a filha lhe diz interna-
mente: ”Morro no seu lugar”? Torna-se
feliz com tal afirmação?
Esta agora é a dinâmica que vem da
consciência que por um lado faz com que
nos sintamos felizes e inocentes e pelo
outro é contra a vida. Ela, porém, não
está em sintonia com a vida. A felicidade
verdadeira esta em sintonia com a vida.
10
violação desta regra é punida com um
desastre. A violação desta regra leva ao
desastre.
Quando alguém diz: “Sigo-lhe” está
violando a regra. Quando alguém diz:
”Assumo esta responsabilidade em seu
lugar” está violando a regra. Mas viola a
regra de consciência tranqüila. O pecu-
liar é que as duas consciências se con-
trariam.
Como atingimos a felicidade? Dando
preferência à consciência arcaica. Isto sig-
nifica a renúncia da inocência diante da
consciência moral. A consciência arcaica
exige mais. Logo estamos conectados a
muito mais pessoas.
Tragédias, todas as tragédias e todas
as tragédias familiares resultam do fato
de uma pessoa que nasceu depois assu-
mir de consciência tranqüila uma respon-
sabilidade de uma pessoa que nasceu
antes. Por exemplo, vingando-a ou atra-
vés do desejo de assumir algo no lugar
de um antecessor. Todas as tragédias ter-
minam com a derrota do herói mesmo
que este tenha agido de consciência tran-
qüila e por amor.
Logo, a felicidade é mais que o sen-
timento de inocência. Muito mais. E é
uma realização. Uma realização da alma
através do reconhecimento.
A grande
felicidade
É evidente que os moralistas ficam
enraivecidos quando relato estas
minhas conclusões e falo sobre as
suas conseqüências diretas. Isto re-
vela mais um aspecto da outra cons-
ciência. Esta consciência que nos liga
ao nosso grupo também nos separa
dos outros grupos. Ainda mais: cria
hostilidade entre nós e os outros gru-
pos. Todas estas hostilidades origi-
nam-se da consciência tranqüila. O
desejo de destruição que se mani-
festa em alguns de vocês é suporta-
do pela consciência tranqüila. Feli-
zes, porém, vocês não são. Mas tal-
vez reconheçamos melhor o que sig-
nifica a grande felicidade.
A plenitude
Quando um homem e uma mu-
lher encontram-se pela primeira vez,
sentem-se atraídos um pelo outro,
freqüentemente de modo irresistível. En-
xergam-se como indivíduos, eu e você.
Por detrás do homem, porém, estão tam-
bém sua mãe e seu pai, seus avôs e seus
irmãos e tudo que aconteceu nesta famí-
lia. Um sistema completo. Tenho a ima-
gem de que o sistema inteiro que se si-
tua por detrás do homem espera pela
mulher. Não apenas o homem. O mes-
mo aplica-se à mulher. Quando ele vê a
mulher precisa saber que por detrás dela
estão o seu pai, a sua mãe, seus avôs e
seus irmãos, um sistema inteiro. Este sis-
tema aguarda o homem. Ambos os siste-
mas esperam talvez poder finalizar algo
que permaneceu sem solução no passa-
do. Neste contexto o sistema do homem
não olha apenas para a mulher. Olha tam-
bém para o seu sistema. Os dois sistemas
ingressam em uma comunhão de desti-
nos e talvez queiram solucionar algo es-
Separação com amor
Um casal pode permanecer unido,
se os parceiros admitem mutuamente o
próprio caminho e quando os seus cami-
nhos não são muito distintos.
Quando as direções divergem de tal
modo que a comunhão no futuro é ques-
tionada, a separação pode tornar-se ne-
cessária em favor da lealdade consigo
mesmo e com o próprio destino. E nin-
guém precisa sentir-se culpado. Neste
caso leva-se aquilo que se tomou de bom
do parceiro para o próprio futuro e per-
mite ao parceiro que ele leve para o seu
futuro o que recebeu de bom de nós. E
se rende à dor que toda separação de
um parceiro importante traz.
Confiar na percepção
Da maneira que você escreve, uma ins-
tância importante no seu interior parece
perceber que o relacionamento não tem
pecial dentro desta comunhão, finalmen-
te solucioná-lo.
Portanto não existe relacionamento
a dois como muitas vezes o imaginamos.
O relacionamento a dois é um sonho.
Estamos todos inseridos em um campo,
em uma família maior. Se alguém foi ex-
cluído na família da mulher ou na família
do homem, como por exemplo, antigos
parceiros ou uma criança abortada ou
dada ou uma criança portadora de defici-
ência ou então alguém da família de
quem se sentia vergonha, então o mem-
bro familiar excluído está presente na re-
lação nova e na família nova. Por este
motivo, os dois, homem e mulher, preci-
sam incluir o membro excluído na famí-
lia nova. Somente assim os dois estarão
livres para o seu relacionamento.
Respostas por carta
Tema: Relacionamento de casal em crise
futuro enquanto uma outra instância ten-
ta convencer a primeira instância de que
sua percepção é equivocada. Isto é tudo
que ouso dizer.
Dar e receber
Existem diferentes possibilidades para
solucionar o problema sobre o qual fa-
lou. Uma seria você assumir o seu mari-
do como sendo o homem da sua vida e
deixar outros relacionamentos para trás.
Por exemplo, a relação com os pais. Uma
outra possibilidade seria você não ape-
nas perguntar-se o que deseja para você,
mas também o que quer dar a ele. Te-
mos que levar em consideração, porém,
que a gravidez é um período excepcio-
nal onde a mulher e suas necessidades
estão em primeiro plano de maneira que
vocês precisam reorientar-se apenas após
a gravidez.
11
Vibrando juntos
Às vezes podemos ajudar a alguém com
uma única frase. Como podemos fazê-
lo? Vou explicá-lo agora e vocês podem
sentir quais são os caminhos de ajuda
neste contexto.
Utilizarei uma imagem.
Imaginem que trabalhe com um casal.
Aqui está o homem e ali está a mulher.
Ambos vibram em uma tonalidade pró-
pria. A sua tonalidade. Todos temos a
nossa própria tonalidade. Embora soem
diferente vibram juntos. Isto é uma rela-
ção em sintonia. Neste contexto, porém,
ocorre algo a mais na alma. Se permane-
cerem apenas nesta tonalidade não é
suficiente. Ambos expandem-se ao mes-
mo tempo para os tons mais agudos de
sua tonalidade. Quanto mais se expan-
dem, mais se assemelham. Este seria
então um plano espiritual onde podem
vibrar juntos. Vocês conseguiram acom-
panhar?
Quando tiverem filhos podem proceder
do mesmo modo. Toda criança tem uma
tonalidade própria. Vocês vibram com
suas tonalidades e com os tons mais agu-
dos de suas tonalidades. De repente vi-
bram juntos nos tons agudos.
Tem outro fator, porém, a ser considera-
do. Existem também tons mais graves que
estão direcionados para o fundo. Isto não
pode ser conferido matematicamente. É
apenas uma imagem. A alma, porém, o
sente. Também na profundeza é possí-
vel vibrar junto.
Porque contei isto? Em primeiro lugar
porque nos faz felizes quando podemos
sentir essa imagem e vibrarmos junto. Mas
quandoalguém me procura pedindo aju-
da também me sintonizo com a sua to-
nalidade para vibrar com ele. Não me sin-
tonizo, porém, com exatamente o mes-
mo tom e sim com os tons mais agudos
onde de repente vibramos juntos. Então
entra um componente espiritual. Atra-
vés dessa vibração às vezes percebo
imediatamente o que importa na resolu-
ção do problema. Freqüentemente é
apenas uma frase, às vezes até apenas
uma palavra. É tudo o que é necessário.
Esta forma de ajuda e de auxílio de vida
é a maior intensificação deste trabalho. É
repleta de dedicação e respeito sem que
se desenvolva uma relação. Cada um
permanece no seu campo individualmen-
te e mesmo assim durante pouco tempo
os dois vibraram juntos. Depois posso me
recolher. Isto pode apenas ocorrer atra-
vés da benevolência. Então funciona.
O passado
brilha
Hellinger para o grupo: Do meu lado
estão sentadas duas irmãs. Uma me fa-
lou que o avô morreu porque foi intoxi-
cado com gás. Estava internado em uma
clínica neurológica e aparentemente
morreu no programa de eutanásia.
Para as irmãs: Fechem os olhos. Ima-
ginem o seu avô. Quando me sintonizo
com este contexto imagino
que existe uma força que o
envolve com muito
amor, com um
amor especial e que seu rosto brilha.
Quando também a expressão no rosto
das irmãs muda: Exatamente.
Agora preciso continuar mais um pouco.
Do seu lado estão os seus assassinos.
Todos que participaram, também envol-
tos pelo mesmo amor. E os seus rostos
também brilham.
Para uma das irmãs que luta com seus
sentimentos: E quando o seu rosto brilha?
Após um tempo: Finalmente ponha de
lado esta clava em que está escrito “avô”.
Novamente após um tempo: Depois
você vira as costas para todo o passado
e fica pequena.
Para o grupo: Através deste passado ele-
vou-se e ergueu-se.
Para esta irmã: Você não precisa disto.
A felicidade permanece do lado dos pe-
quenos.
Quando também o seu rosto começa a
brilhar: Acho que posso deixar isso aqui.
Está bem?
As irmãs fazem um movimento afirma-
tivo com a cabeça.
Como o avô vai ficar feliz! Tudo de bom
para vocês.
Para o grupo: O que fiz agora? Entrei
em sintonia com a tonalidade do avô.
Como deve sentir-se quando elas se com-
portam dessa forma? Pobre avô. Um fato
torna-se explícito neste exemplo. Enquan-
to olhamos apenas para estas relações:
eu e você e para a nossa família não ob-
temos o essencial. Temos que olhar para
além disso, para algo maior para que por
detrás de tudo o essencial possa atuar. E
lá ninguém está mal. E ninguém está
melhor ou pior que o outro. Como é
possível? Neste campo as nossas distin-
ções morais de culpa e inocência não têm
importância. Por quê? Tudo que ocorre,
o bom e o mal originam-se no mesmo
movimento. De onde mais poderiam vir?
É inimaginável. Neste movimento tudo
é correto e importante exatamente como
foi. Ninguém era melhor ou pior. Nenhum
destino foi mais fácil ou mais difícil. To-
dos iguais. Esta é uma postura religiosa.
Não é uma crença. É apenas uma postu-
ra repleta de respeito diante de algo in-
compreensível. Apenas ali obtemos a
força de finalizar algo dessa maneira e
servir à vida que ainda resta.
12
A criança ferida
Hellinger para o grupo: Hoje de ma-
nhã falei algo sobre o sentimento de
base.
Para um homem que está sentado do
seu lado: Onde se situa o seu senti-
mento de base? Em menos 50. Você é
capaz de sentir como é no momento?
Isto não são julgamentos. É apenas
um indício. Faltam muitos em sua
alma que não acharam lugar ali. Fe-
che os olhos.
O rosto do homem transforma-se no
rosto de uma criança pequena deses-
perada.
Para este homem: Permaneça como
você está.
Para o grupo: Quando olhamos para
o seu rosto vemos o rosto de uma
criança que deve ter em torno de 4
anos. Nesta idade aconteceu algo trá-
gico com a criança. A criança estava
completamente desesperada.
Para o homem: Permaneça exatamen-
te assim.
Para o grupo: Farei um exercício com
ele e vocês podem participar do exer-
cício. Contarei uma história.
Alguém pensa: que bom, finalmente
o fim de semana chegou e está fazen-
do um dia bonito. Hoje me farei um
presente. Algo bonito. Sai de casa e
sente o ar fresco. O sol brilha e ela
vai para fora. Passeia por campos
verdes saturados, atravessa uma pon-
te, continua andando e chega a uma
floresta. Entra no escuro da floresta,
abre um caminho pela mata densa e
alcança uma clareira. Deita-se na gra-
ma, olha para o céu, vê as árvores no
balanço do vento, ouve os pássaros
cantando e o murmurar de um riacho
por perto. Depois fecha os olhos e
adormece.
Ele sonha. No sonho volta a sua
infância, vê-se como criança peque-
na, vê tudo que aconteceu com esta
criança e tem compaixão com ela.
Assim dorme e sonha durante muito
tempo. Depois acorda, esfrega os
olhos, senta-se olha para frente e vê
uma criança pequena a alguma dis-
tância dele.
Quando chega mais perto vê que
é ele mesmo quando era pequeno.
Esta criança tem medo dele. Não tem
coragem de aproximar-se mais. Ele es-
pera com cuidado e sem se mexer
para que a criança tome confiança.
Após um tempo a criança aproxima-
se lentamente. Ele a olha e vê que a
criança está ferida gravemente. Espe-
ra mais um pouco e chora com a cri-
ança. A criança agora tomou confian-
ça. Ele a toma em seus braços delica-
damente e olha em seus olhos. Aca-
ricia as suas feridas, leva-a até o ria-
cho e lava as ferida na água transpa-
rente. Isto faz bem à criança. Ele a
suspende novamente, a segura e vol-
ta até a clareira com ela.
De repente a criança começa a
falar com ele. Diz a ele o que quer
dar a ele, equivalente ao fruto de todo
seu sofrimento. Ele toma tudo que a
criança lhe dá – tudo – o pequeno e
também o grande.
 Depois vê que a criança fica can-
sada. Ele a deita na grama delicada-
mente. A criança fecha os olhos. Per-
cebe que agora a criança deseja mor-
rer. Ele espera acontecer, olha para
ela mais uma vez com amor e lhe diz:
” Obrigado por tudo. Guardo-o no
meu coração e farei algo bonito com
o que você me deu, em lembrança à
você.”
Lentamente vira de costas e dei-
xa a criança para trás, em paz. Abre
novamente um caminho pela mata,
sai da floresta, continua andando e
chega a uma encruzilhada. Sente qual
é a direção e dá o próximo passo.
Após um tempo para o homem: Ago-
ra a criança sorri para você. Vou
deixá-lo aqui. Isto poderá atuar por
muito tempo em sua alma.
13
Para que o
relacionamento a dois
dêem certo três
aspectos são
necessários. Cada um
é importante por si só
e nenhum pode
substituir o outro.
A relação sexual
O primeiro aspecto é a relação sexual. É
imprescindível para o relacionamento a
dois que ela dê certo uma vez que o re-
lacionamento entre um casal direciona-
se para a união sexual. Ela é o que im-
porta essencialmente, porque apenas
através da relação sexual a vida conti-
nua. Na relação sexual o amor e a vida
condensam-se. Ela é o auge do nosso
desenvolvimento. Na relação sexual, no
amor que se expressa através dela e evi-
dentemente no instinto que nos conduz
Homem e Mulher
à relação sexual atua a força de maior
potência que conhecemos. Toda a vida
visa à continuidade. Está destinada à con-
tinuidade e torna-se plena quando alcan-
ça a continuidade. Por este motivo a for-
ça que atua por detrás é a força vital es-
sencial. E evidentemente é também a
maior força espiritual, uma força supre-
ma – usarei uma imagem para descrevê-
la – a força que mais se assemelha a
Deus. Nela manifesta-se o que existe de
maior no mundo – o divino – da maneira
mais concreta possível. Justamente pelo
fato de estarmos entregues a esta força
através do nosso instinto ela revela-se
como algo que independe de nós e nos
transcende. Logo o primeiro aspecto do
relacionamento entre um casal é que o
amor sexual dê certo.
O amor do
coração
Existe um segundo aspecto. É o amor do
coração. O amor sexual é mais bem su-
cedido quando se origina no amor que
parte do coração, quando é uma realiza-
Como o nosso relacionamento a dois dá certo
ção do amor do coração. O amor prove-
niente do coração é uma realização pró-
pria. A sexualidade existe também sem
este amor e este freqüentementeexiste
sem a sexualidade. Ambos são realiza-
ções próprias, o amor sexual e o amor
proveniente do coração.
A vida
conjunta
Agora entra um terceiro aspecto que é a
vida conjunta. A vida conjunta pode exis-
tir sem a sexualidade. Às vezes pode
existir também sem o amor. Às vezes
vemos casais que permanecem juntos,
embora não se amem verdadeiramente
e de coração. A vida conjunta, porém, é
um bem precioso. É também preciso
especialmente aprendê-la e realizá-la.
Quando estes três aspectos se jun-
tam, o amor sexual, o amor que parte do
coração e também a vida conjunta com
tudo que faz parte – a troca, a ajuda
mútua, o apoio – então a vida em casal
tem êxito. Então crescemos no relacio-
namento a dois.
14
Amor que
perdura
O amor que tem êxito é algo humano
e quase comum. Ele reconhece que
precisamos de outras pessoas e que
definhamos sem elas. Quando reco-
nhecemos isto mutuamente damos
algo ao outro e recebemos algo dele.
Alegramo-nos por estar recebendo
algo e alegramo-nos por poder dar
algo a alguém. Na medida em que
continuamos dando e recebendo com
respeito mútuo, com benevolência e
com o desejo que tanto o outro como
nós mesmos estejamos bem, compre-
endemos o que significa amar huma-
namente.
Este amor inicia-se com o relacio-
namento entre homem e mulher. To-
dos os relacionamentos posteriores
provêm desse amor. Ele é a base de
todas as relações humanas e nós so-
mos conduzidos a ele, irresistivelmen-
te. Porque o homem precisa da mu-
lher para estar inteiro e a mulher pre-
cisa do homem para estar inteira. É
um forte desejo que os leva um ao
outro. Este desejo às vezes denomi-
nado pejorativamente de “instinto” é
o movimento mais potente que a vida
possui. Ele leva a vida para diante.
Por este motivo, este desejo e este an-
seio são as forças mais profundamente
ligadas à essência original da vida.
Reconhecendo este fato tornamo-nos
uma unidade com a essência original
da vida dentro deste amor. Este amor
e esta atração conectam-nos com a
abundância da vida. Quem se abre
para este amor é solicitado. Tanto a
maior felicidade quanto o maior so-
frimento partem desse anseio e des-
se amor. Nele crescemos.
Quem se envolveu com este
amor, transborda após um tempo.
Esse amor transcende amplamente o
relacionamento a dois, por exemplo,
quando esse amor traz filhos. Então
este amor continua através do amor
dos pais em relação aos seus filhos.
E o amor que as crianças experimen-
tam retorna para os pais. Assim as
crianças crescem até que elas mesmas
procurem um homem ou uma mulher
e o fluxo da vida continua fluindo
através deles. Logo, onde o amor se
inicia, com o passar do tempo ele
engloba cada vez mais. Abrange tam-
bém outras pessoas. Mas apenas após
termos experimentado-o interiormen-
te como algo humano e dito “sim” a
ele. Neste sentido o grande amor é
algo comum. Este amor possuiu for-
ça e perdura.
A felicidade
plena
Meu tema era: o que faz as pessoas feli-
zes? O que acontece, porém, com tudo
de pesado que as pessoas vivenciam?
Nos Sonetos a Orfeu de Rilke existe um
poema sobre o lamento. È assim:
Só no espaço do louvor, o lamento
pode soar, ninfa da fonte do medo,
pairando sobre nosso tormento;
lágrima clara no mesmo rochedo
que suportas altares e portais.
Vê: sustenta nos ombros potentes
a certeza de que ela seria a mais
jovem dentre as irmãs no sentimento.
Júbilo professa, saudade confessa;
só a queixa ainda aprende. Sem pressa,
desvela, noites a fio, o mal atroz.
De repente, inexperiente e curva,
ergue a constelação de nossa voz
para os céus que seu sopro não turva.
De repente a queixa estava feliz. Isso
lhes parece conhecido, essa história da
queixa ou da acusação? Ou a questão das
cobranças, desvelar noites a fio o mal
atroz? Evidentemente esta é a receita
para a infelicidade.
Quero falar mais precisamente sobre
este aspecto, exercitar como se abre ca-
minho para a grande felicidade.
A felicidade está relacionada ao cres-
cimento. Crescimento interno. Quanto
mais crescemos internamente mais reali-
zados ficamos. Existe uma felicidade leve
que é alegre e jovial. Uma felicidade
bonita. E existe uma felicidade silencio-
sa. Que simplesmente encontra-se em
sintonia. Esta felicidade possui força e
nunca acaba. Não é ameaçada.
O ponto principal é: crescimento
necessita de dois componentes. De um
lado de nutrição e do outro de resistên-
cia. Todo crescimento impõe-se contra a
resistência. A árvore mais antiga do mun-
do está na Califórnia no topo de uma
montanha, totalmente desgrenhada com
uma aparência assustadora. Ela tem 3500
anos de idade. Qual das árvores felizes
15
pode aproximar-se dela em termos de
força? A imaginação geral da nossa cultu-
ra do bem-estar é que somos alimenta-
dos, alimentados, alimentados. Recebe-
mos, recebemos e recebemos e assim
tornamo-nos felizes.
Depois existem os conceitos sobre
o que seria uma infância feliz. Quais seri-
am os bons pais? Eles dão e dão e dão.
Este são os bons pais. Esta é a imagem
ideal. E imaginem se eles não tivessem
dado suficientemente. Seria o motivo dos
meus problemas. A culpa é deles. E de-
pois canto um cântico de lamento sobre
os meus pais a vida toda.
 O que acontece neste instante?
Tudo que acontece, da maneira como
aconteceu, foi uma chance para a força
e o crescimento – se eu concordar.
A partir do momento em que eu concor-
do com algo aquilo se torna algo bom.
Através do ato de concordar torna-se algo
bom e transforma-se em força. Se recu-
sar a aceitá-lo ou me lamentar eu o per-
co. Perco qualquer pessoa sobre a qual
me queixo. Se me queixar em relação
aos meus pais perco-os. Que vida mise-
rável seria esta, vida miserável.
Fechem os olhos. Este é um exercí-
cio para ficarmos felizes. Agora olhem
para sua mãe e o seu pai, como são, exa-
tamente como são. Alegram-se com eles
exatamente como são. E vocês dizem
“sim” a eles como são e “obrigado” por
tudo.
Algumas coisas foram diferentes da-
quilo que talvez desejávamos. Olhem
para aquilo que foi doloroso ou pesado e
digam: “Sim, da maneira como foi tomo-
o no meu coração. Farei algo disso. Cres-
ci através desses acontecimentos. Obri-
gado.”
Assim percorremos a nossa vida, co-
meçando na infância e olhamos para tudo
aquilo de que queremos livrar-nos. Por
exemplo, uma doença ou uma pessoa e
dizemos: “Eu acolho você no meu cora-
ção assim como é. Cresço através de
você. Você me mostrou e me deu algo
importante.”
Depois olhamos para nós mesmos,
por exemplo, para uma culpa e dizemos:
”Sim você faz parte de mim. Através de
você recebo uma força e uma suavidade
especial. Você pode permanecer comigo.”
De repente, inexperiente e curva,
ergue a constelação de nossa voz
para os céus que seu sopro não turva
Muitas pessoas querem ser perfeitas
como deus. Almejam ser como deus.
Uma vez um anjo realmente desejava ser
igual a deus. Sabem em que se transfor-
mou? Em um diabo.
Amor e ordem
O que é maior e o que é
mais importante, o amor
ou a ordem? O que vem
antes? Muitos acham
que amando
suficientemente tudo
entra na ordem correta.
Muitos pais, por
exemplo, pensam que
amando os filhos
suficientemente, estes
se desenvolvem da
maneira como os pais o
desejam. Muitas vezes,
porém, os pais são
decepcionados apesar do
seu amor.
Aparentemente o amor
por si só não basta.
16
O amor precisa encaixar-se em
uma ordem. A ordem é predetermi-
nada em relação ao amor. É assim
também nas outras áreas da nature-
za: Uma árvore desenvolve-se segun-
do uma ordem interna. Não é possí-
vel modificá-la. Apenas seguindo esta
ordem ela poderá desdobrar-se. As-
sim é também com o amor e os rela-
cionamentos com o próximo: podem
apenas desenvolver-se no contexto de
uma ordem. Esta ordem é predeter-
minada. Se soubermos algo sobre as
ordens do amor, o nosso amor e os
nossos relacionamentos terão mais
possibilidades de realizar-se plena-
mente.
A primeira ordem do amor em
uma relação a dois é que o homem e
a mulher são equivalentes embora
sejam distintos. Se reconhecerem este
fato o amor terá uma chance maior.
A segunda ordem diz que os mo-
vimentos de dar e receber precisam
estar equilibrados.Se um precisar dar
mais que o outro a relação está dese-
quilibrada. Ela necessita deste equi-
líbrio. Se a necessidade de compen-
sação entre o que se dá e o que se
recebe une-se ao amor, ambos os
parceiros retribuem com um pouco
mais ao outro do que receberam para
lhe compensar. Assim a troca entre
eles cresce e com ela a felicidade con-
junta.
Esta necessidade por compensa-
ção existe também no lado negativo
da relação. Quando um parceiro cau-
sa algum mal ao outro, este tem a ne-
cessidade de fazer o mesmo. Sente-
se machucado. Portanto, acredita ter
o direito de machucar, também, o
outro. Esta necessidade é irresistível.
Muitos que sofreram uma injusti-
ça sentem-se no direito de também
causar algum mal a outro. Logo,
acrescenta-se mais um aspecto à ne-
cessidade de compensação: a sensa-
ção de que através da injustiça que
me foi causada obtenho direitos es-
peciais. Logo, não causamos ao ou-
tro apenas o mesmo mal que ele nos
causou e sim um pouco mais. Mas
como foi causado um mal maior ao
outro este por sua vez também se sen-
te no direito de retribuir esse mal no-
vamente e como se sente neste direi-
to retribui com um mal um pouco
maior ainda. Assim a troca negativa
intensifica-se em um relacionamento.
No lugar da felicidade cresce a in-
felicidade neste tipo de relacionamen-
to. Podemos reconhecer a qualidade
de um relacionamento verificando se
a troca entre o dar e receber realiza-se
principalmente pelo bem ou pelo mal.
A questão é: Qual seria a solu-
ção? Existe uma solução? A solução
seria mudar da troca na área do mal
para a troca na área do bem. Como,
porém, isto pode funcionar?
Existe um segredo: Vingamo-nos
do outro com amor. Isto significa que
também lhe causamos um mal, po-
rém, um mal um pouco menor. Logo
a troca no campo do mal termina e
ambos podem começar a dar e rece-
ber algo bom novamente. Este é um
aspecto importante da ordem do
amor. Se o conhecemos e agimos se-
guindo-o é possível mudar muitas
coisas para o bem dentro de uma fa-
mília.
Mais uma outra ordem do amor
precisa ser considerada uma vez que
ignorada terá amplas conseqüências.
Uma mulher que se julga ser me-
lhor que sua mãe não tem respeito
pelos homens. Ela não compreende
os homens e em princípio não preci-
sa deles. Uma vez que acha que é
melhor que sua mãe isto geralmente
significa: Sou a melhor mulher para
o papai”. Logo já possui o seu ho-
mem e não precisa de outro.
Como uma menina torna-se capaz
de se transformar numa mulher e de
respeitar e ter um homem? Posi-
cionando-se ao lado de sua mãe
como sendo a menor.
O contrário também é valido para
os homens: um homem que não res-
peita o seu pai e se julga melhor para
sua mãe do que o seu pai não tem
respeito pelas mulheres. Já tem uma
mulher e não precisa de outra.
Como se torna capaz de ser um
homem e de respeitar e ter uma mu-
lher? Posicionando-se ao lado do seu
pai como sendo o menor.
Logo o homem aprende a respei-
tar a mulher através do pai e a mu-
lher aprende a respeitar o homem
através da mãe.
O que acontece, no entanto, se
um homem que é o filhinho da ma-
mãe casar-se com uma mulher que é
a filhinha do pai? O filhinho da ma-
mãe não é confiável para a mulher e
a filhinha do pai não é confiável para
o homem. Têm pouco respeito um
pelo outro.
Logo em primeiro lugar é neces-
sário que na família de origem seja
estabelecida a ordem de maneira que
o filho respeite o seu pai e a filha res-
peite a sua mãe.
17
Após os seminários de
constelação familiar
sempre constatamos que
energeticamente as
pessoas sentem-se muito
bem, que estão repletas
de confiança e vontade
de agir. Esse campo
energético em várias
pessoas perdura por
meses ou anos e em
outras se estende apenas
por semanas ou dias,
Círculo de Amigos
dependendo dos campos
aos quais as pessoas se
expõem no dia-a-dia.
Por este motivo procuramos encontrar
uma maneira fácil de prestar auxílio de
vida de modo que estas pessoas tenham
a possibilidade de manter por mais tem-
po esse campo e essa força que obtive-
ram em um final de semana. Para que
sejam capazes de buscar forças para o
dia-a-dia regularmente e renovar este
campo continuamente. Logo tivemos a
idéia de constituir um círculo de amigos
Hellinger. Neste meio tempo foram cons-
tituídos vários círculos de amigos
Hellinger por toda Europa e outros se
encontram em formação. Veja
www.hellinger-international.com/
indexFreund.htm.
Por um
pedaçinho
de pão
Observação:
Georg Sauler enviou-me este texto
por ocasião do meu aniversário
de 80 anos. Refere-se a uma cena
da ópera Fidélio de Beethoven.
Leonore, esposa de Florestan
procura o marido em seu cárcere
disfarçada de ajudante do
carcereiro e dá um pedaço de
pão e um gole de vinho ao
definhado.
Seguem o texto e a partitura da
música.
O pequeno gole na jarra e o resto
de pão que o carcereiro e seu aju-
dante estendem ao prisioneiro po-
lítico condenado à morte abalam-no
profundamente em sua escuridão.
“Seu túmulo é iluminado” nesta cho-
cante cena ágape. Comovido pro-
cura por palavras de gratidão e ain-
da totalmente anestesiado pela bon-
dade dos dois aflui do seu interior
um canto de louvor.
Via de regra, o quanto que nós,
filhos e filhas, recebemos dos nos-
sos pais. Quantas milhares de refei-
ções de amor. Nas constelações fa-
miliares, quando é possível pode-
mos vivenciar o processo profundo
que pode ser iniciado através da
redescoberta de pai e mãe. De re-
pente ouvimos a respiração. Um
brilho nos olhos da filha ou do filho
nos deixa vislumbrar a volta para um
campo apaziguado.
Existe um canto de gratidão aos
pais?
A partitura para tenor em
“Fidelio” Terceto n° 13 cabe per-
feitamente para entoar o hino aos
pais, em voz alta ou sussurrada.
Agradecimentos a Ludwig e seu
libretistas.
Encontrem e ganhem novos
amigos para vida toda!
O que vem à luz no
comportamento das
crianças e que muitas
vezes é tão aflitivo é algo
necessário dentro do
sistema que os outros
familiares, porém, negam.
A criança o assume para
os outros. Olha com amor
para os excluídos. Por
detrás de todo esse
comportamento atua um
amor oculto. Portanto, no
trabalho com crianças
difíceis não voltamos o
olhar para a criança e sim
para onde a criança olha.
Assim inicia-se um
movimento. Um
movimento de cura que
libera a criança, pois os
outros passam a olhar
para onde devem olhar.
Logo a criança não
precisa mais olhar para lá
no lugar deles e
comportar-se de acordo.
No trabalho de ajuda às
crianças este é o
procedimento essencial.
Imaginem só o que acontece com várias
destas crianças. São tratadas e medicadas
como se de algum modo não estivessem
bem. Na verdade fazem algo pelos ou-
tros, pelos grandes. Por este motivo esta
forma de ajudar às crianças deu início a
algo novo e abre inúmeras possibilida-
des totalmente novas. Apenas, porém,
se não olharmos para as crianças e sim
com elas para onde são levadas e para
aquilo que querem fazer pelos adultos.
Assim aliviamos as crianças. Os pais e os
outros envolvidos é que precisam mu-
dar. Precisam olhar justamente para aquilo
que não olharam. Assim inicia-se um de-
senvolvimento. Um desenvolvimento de
crescimento. Primeiro nos pais. Só depois
os filhos ficam livres.
A ordem
Isto é pedagogia sistêmica. Uma pe-
dagogia totalmente diferente. Este é o
segredo deste trabalho. É auxílio de vida
de uma forma especial. Aqui ajudo cri-
anças a saírem de um emaranhado e es-
tabeleço a ordem em seus sistemas fa-
miliares.
Quando um sistema está em desor-
dem ocorre sempre o mesmo: Pessoas
que fazem parte são excluídas. Também
fazem parte de um sistema todas as víti-
mas de membros dessas famílias. Se uma
pessoa participou da morte de outros,
talvez de forma muita culposa então es-
tes mortos fazem parte do sistema. Eles
estão presentes. Atuam e manifestam-se,
freqüentemente através de uma criança.
A criança então volta o seu olhar para lá.
Se os outros, porém, não voltarem o olhar
para lá, não adianta. Aqueles a quem real-
mente diz respeito é que precisam olhar
para lá. Logo, estabelece-se a ordem no
sistema que estava em desordem.
 Ordem significa sempre integraro
que foi excluído. Aqui se encontra o foco
do meu trabalho, agora e no futuro. Sig-
nifica auxílio de vida desse modo
abrangente. Abre o nosso olhar para ou-
tros contextos onde se torna mais fácil
ajudar às crianças e evidentemente tam-
bém aos seus pais.
Leonora
Tudo o que eu posso oferecer a
você é um restinho de vinho que
tenho em minha jarra. Beba! É cla-
ro que é apenas um pouco de vi-
nho, mas eu lhe dou com prazer.
Florestan
Você receberá a recompensa em
um mundo melhor, o céu o trouxe
até mim.
Oh, obrigado! Você me reanimou
docemente; não posso retribuir o
benefício, não posso.
Leonora
Este pedacinho de pão – sim, há
dois dias eu o estou carregando.
Aqui, tome o pão – pobre homem!
Florestan
Oh, eu lhe agradeço! – Obrigado!
Obrigado!
Você receberá a recompensa em
um mundo melhor, o céu o trouxe
até mim.
Oh, obrigado! Vocês me reanimou
docemente; não posso retribuir o
benefício, não posso.
Oh, que eu não possa recom-
pensá-lo!
Ao grande Bert Hellinger, que há
vários anos revitaliza de forma vir-
tuosa, no mundo inteiro, onde exis-
te a necessidade, a homenagem e
o respeito aos pais, minha cordial
retribuição divina pelo seu 80º ani-
versário.
Entretanto quem não gosta tanto
assim de Bert Hellinger, talvez o
ajude Jesus Sirach, um professor
sábio da velha Jerusalém (aprox.
175 a.C.):
“Quem honra o seu pai, expia fal-
tas. E quem respeita a sua mãe se
assemelha a um colecionador de
tesouros.”
(Sir.3/3-4)
Georg Sauler
Ajudar às Crianças
O amor oculto da criança
18
A filha não
quer estudar
Hellinger para uma mulher: Qual é o
assunto?
Mulher: Minha filha não quer ir à escola.
Está no quarto ano escolar. Recusa-se
cada vez mais de ir à escola e de sair de
casa de um modo geral.
Hellinger: E o pai da criança?
Mulher: O pai é muito mais novo que
eu. Nunca ficamos muito juntos. Agora
tentamos nos separar. Muitas vezes o in-
cluí no assunto, ele, porém, tem muito a
resolver consigo mesmo.
Hellinger: Quanto mais novo ele é?
Mulher: 22 anos.
Hellinger: 22 anos mais novo? É mesmo?
Bem, então começarei com a filha.
Hellinger escolhe uma
representante para a filha e deixa
que ela se posicione. A filha
movimenta os dedos de forma
inquieta e esfrega as mãos. Depois
olha para o chão. Helllinger pede
que se sente mais uma vez por um
momento e escolhe uma
representante para a mãe da
criança. Esta representante vira a
cabeça para o lado. Depois olha
para o chão e no meio tempo cerra
os punhos. Agacha-se e esfrega o
chão com uma mão como seu
quisesse limpar algo. A outra mão
ela fecha em forma de punho.
Agora Hellinger pede à
representante da filha que se
posicione novamente a alguma
distância da mãe. A mãe continua
esfregando o chão.
Hellinger para a representante da filha:
Diga a sua mãe “Eu cuido de você”.
A mãe segue esfregando o chão e
enquanto o faz olha para a filha. A
filha aproxima-se da mãe. Esta fica
de costas e agora esfrega o chão
com as duas mãos. Olha
rapidamente para a filha, mas, dá-
lhe as costas novamente. A filha
abre os braços como se quisesse
ajudar a mãe. A mãe agora está
ajoelhada e quase toca o chão com
a cabeça. Continua esfregando o
chão com as duas mãos.
Hellinger para os representantes após
algum tempo: Está bem. Obrigada a
vocês.
Para a mulher: Ficou claro para você
porque a filha quer ficar em casa?
Mulher: Ela me protege. Quer me ajudar.
Hellinger: Sim, ela tem medo que você
morra ou se mate.
A mulher faz um movimento
afirmativo com a cabeça e começa a
chorar.
Mulher: Você pode me ajudar? Para que
direção devo olhar?
Hellinger: Não posso me intrometer. Exis-
te um segredo que preciso respeitar.
A mulher respira fundo e faz um
movimento afirmativo com a cabeça.
Mulher: Eu sei.
Hellinger: Evidente que sabe. Mas eu não
quero saber. E não devo saber. A sua fi-
lha, porém, também o sabe. Pelo menos
o sente.
A mulher continua respirando
profundamente e faz um movimento
afirmativo com a cabeça.
Hellinger após algum tempo: Você pode
fazer um exercício com a sua filha. De
manhã antes de a escola começar você
diz a ela: ”Pode confiar em mim. Hoje
eu fico.” Antes que ela vá à escola. Na
manhã seguinte você o diz também:
“Hoje eu fico. Pode ir tranqüila ao co-
légio.”
A mulher ri aliviada.
Hellinger: Está bem?
Mulher: Obrigada.
Hellinger para o grupo: Parece ser um
problema e ele é: grande amor. A crian-
ça está repleta de amor.
Olhar
Luz turva não escurece o vidro claro,
o vidro turvo, porém, escurece a luz
clara.
Reconhecimento adquire-se através da
sintonia.
A esperança turva o olhar.
O ceticismo atua como a fé: ambos
substituem o olhar.
O costume contraria o olhar do novo.
Ele dissolve o emaranhamento em algo
passado daquele que tem a coragem de
olhar e libera-o das conseqüências.
O que existe de fato é indescritível.
Quem o vê, porém, sabe.
Vivenciar significa: perceber o que é.
Entramos no sol e já está claro.
Iluminação tem o mesmo efeito como
se muitos se inclinassem para um cen-
tro de luz.
Em um balde de água imaginamos o
mar, porém, sem realizá-lo.
Beleza necessita devoção.
A disponibilidade de olhar muitas ve-
zes é obstruída pelo fato de que ex-
perimentamos aquilo que é trágico para
nós como obrigação e o vivenciamos
como um sentimento de inocência;
e porque experimentamos o olhar que
nos mostra a solução como traição em
relação a uma ordem e o vivenciamos
como culpa.
Frases para reflexão
19
Sabedoria para
Viagem
O ato de voltar-se
para o outro
Quando me volto para um outro ser hu-
mano ou para um objeto ou uma tarefa,
distancio-me de mim, direciono-me para
o outro ou para aquilo outro, sou atraída
por ele, percebo-o com atenção aproxi-
mo-me dele com interesse e amor,
conecto-me a ele internamente e torno-
me um com ele por um momento.
O ato de voltar-se para alguém esquece
de si, porém, sem perder-se. Estou, por
assim dizer, fora de mim comigo mesmo.
Como isto é possível? O ato de voltar-se
para alguém parte da alma, movimenta-
se com a alma, atinge algo de essencial
no outro, no objeto, na tarefa. Esta es-
sência, porém, jamais é algo externo. Está
além daquilo que percebemos com os
nossos sentidos, está inserido em algo
abrangente, onde eu e o outro ou aquilo
outro a que me volto, encontramo-nos.
Através do ato de voltar-se plenamente
para o outro tornamo-nos mais do que
éramos antes. Talvez a vida e sua consu-
mação sejam exatamente o ato de vol-
tar-se para o outro constantemente. Onde
o movimento de voltar-se para alguém
estiver interrompido o tempo que ne-
cessitamos para recuperá-lo é um tem-
po perdido. Dentro deste movimento,
porém, o tempo passa voando e nós o
vivenciamos como sendo repleto.
Nota de
pensamento
A dinâmica de troca
Pelo fato de o mundo girar em torno
de si próprio, o dia e a noite se revezam
e pelo fato de girar em torno do sol exis-
te a mudança das estações com mais ou
menos quantidade de luz, frio ou calor.
Como existe a dinâmica de troca
existem início e fim, nascimento e mor-
te, ascensão e declínio e existem tam-
bém o bem e o mal. Pois também entre
o bem e o mal existe uma dinâmica de
revezamento. Um transita para o outro e
não existe sem o outro.
Por este motivo nós também não
suportamos um sem o outro. Por exem-
plo, não suportamos a alegria sem a dor,
o silêncio sem o trabalho e a vida sem a
morte. A força criativa atua tanto em um
quanto no outro do mesmo modo. Des-
sa forma atua também o divino, a força
original, em torno da qual no final tudo
gira – se é que podemos ousar ir tão lon-
ge em pensamento. A força original está
isenta dessa dinâmica de troca. Isto é
como eu o imagino. Ela é o centro em
torno do qual tudo gira da mesma forma
e, portanto é infinitamente silenciosa.
Esta é a minha imagem.
É evidente que isto são apenas ima-
gens através das quais tentamos aproxi-
mar de nós o essencial. Portanto falta-
lhes a certeza. Estas imagens, porém, têm
um efeito na alma, um efeito reconfor-
tante. Podemos nos orientar nestas ima-
gens internamente e durante toda dinâ-
mica de troca olhar para este centro. Po-
demos nos deixar cair lentamente neste
meio e durante qualquer dinâmica de tro-
capermanecer dentro dele recolhidos e
em silêncio.
Isto também existe em relação ao
bem e ao mal? Principalmente aí. Porque
nada nos distancia mais do nosso centro
que o bem ou o mal. Os dois. E o que
atrai ambos para a mesma força? O amor.
Porque o amor reside neste centro.
Em assunto
próprio
O ato de guiar
Quem guia toma a dianteira. Guia
aqueles que estão dispostos a seguí-lo.
Por que estão dispostos a seguí-lo? Por-
que lhes indica o caminho para um des-
tino que para eles também é importante
e os conduz nesta jornada.
Quem guia precisa saber através da
experiência para onde leva o cami-
A Serviço da Vida
Uma revista a serviço do trabalho com
as constelações sistêmicas segundo
Bert Hellinger
Com artigos da revista alemã
“HellingerZeit Schrift”- revista trimestral
alemã de autoria de Bert Hellinger e
Marie-Sophie Hellinger.
Reprodução autorizada.
Direitos autorais para o português da
Editora Atman.
Tradução: Filipa Richter
Revisão: Tsuyuko Jinno-Spelter
Diagramação: Virtual Edit
Coord. Editorial: Décio Fábio de
Oliveira Júnior
Revista 2 – edição alemã em 01/2006
nho.Isto se aplica principalmente ao cam-
po espiritual. Significa que aqueles que
o seguem precisam ter certeza que ele
já percorreu este caminho antes, pelo
menos uma parte.
Como um guia em uma área especí-
fica, sabe que está apto a guiar os outros
e que pode ou até deve guiá-los? Por-
que ele mesmo é guiado.
Porque se encontra em sintonia com
um movimento espiritual que o toma e
que ele segue com coragem e ação.
Aqueles que são guiados também são
tomados por este movimento espiritual.
Seguindo o guia, seguem, também, este
movimento. Isto, porém, também signi-
fica que podem apenas seguir aquele que
os guia, o tempo e a distância em que
ele permanecer em sintonia com tal
movimento. Assim que se desviar do
movimento o guia perde o dever e o
direito de guiar. E perde os seguidores
que permanecem em sintonia com a for-
ça criativa que conduz a todos.
Quem guia em sintonia com esta for-
ça criativa, ao mesmo tempo guia em
sintonia com aqueles que o seguem. Isto
significa que é também guiado por eles
e que pode confiar neles, assim como
eles confiam no guia. Apenas, porém,
enquanto eles também permanecerem em
sintonia com tal movimento espiritual. De
outro modo precisa separar-se de seus
seguidores. Mas também aqui em sintonia
com o movimento que o conduz.
Esta é a forma onde se revela com maior
clareza se o outro sabe e pode guiar.
20
• Prefácio
• Homem e Mulher
• Ajudar as Crianças
• Pais
• Ordens do Amor
• Meditação
• Frases de Reflexão
• Examinar de Perto
• Sabedoria a Caminho
• O Futuro
Sumário
A Serviço da Vida
Fascículo 3
Bert Hellinger
Com artigos da revista alemã
“HellingerZeit Schrift”- revista trimestral
alemã de autoria de Bert Hellinger e
Marie-Sophie Hellinger.
Reprodução autorizada.
Direitos autorais para o português da
Editora Atman.
Tradução: Tsuyuko Jinoo-Spelter
Diagramação: Virtual Edit
Coord. Editorial: Décio Fábio de
Oliveira Júnior
Revista 3 – edição alemã em
Sejam bem-vindos!
O tempo preenchido exige uma transição. Quando o passado está concluído,
cede espaço ao próximo passo para o crescimento. Justamente porque está
concluído, existe o novo espaço. Portanto, após a realização, o olhar dirige-se
para frente. Contudo, o tempo preenchido pode somente ceder espaço àquilo
que está vindo, quando nós o colocamos em nossa alma e coração, como algo
que nos pertence, não importando o que possa ter sido. É válido, por exemplo,
em relação a um trecho de vida que terminou e – especialmente – também em
relação a um relacionamento.
A ajuda à vida é, em primeira instância, uma ajuda aos relacionamentos.
Todo relacionamento é um relacionamento a prazo. Por isso, depois de um
certo tempo fica preenchido. O cerne desta revista será o crescimento em
nossos relacionamentos, pois algo anterior pôde ficar no passado e concluído.
Talvez um relacionamento anterior também possa e deva ceder espaço a um
outro, porque somente dessa forma nossa vida atinge a sua plenitude.
Os relacionamentos entram em desordem quando algumas pessoas que
também fazem parte foram excluídas e não são mais respeitadas. Foi-lhes
recusado o reconhecimento e o amor. O que resulta disso é a desordem que
continua nos relacionamentos presentes, por exemplo, no relacionamento de
casal e no relacionamento com os próprios filhos. O segundo ponto principal
desta revista é como reencontrar a ordem e dar espaço ao amor por todos.
Logo estará chegando a bela época das férias para muitas pessoas. O
que a torna especialmente bela? Temos mais tempo para o outro nas nossas
relações. O que lhes faz bem, e como é simplesmente fácil renová-las e
devolver o primeiro lugar à alegria existente dentro delas – nesta revista vocês
encontrarão também sugestões e ajuda relativas a isso.
A felicidade começa no espírito. O espírito tem principalmente fome
pela felicidade. A mesa está ricamente coberta também para ele nesta revista.
Outra boa notícia. Esta revista “A serviço da vida” também está sendo
publicada em outros países: no Paraguai, na Argentina, no Brasil, Itália e Polônia.
Outros países seguirão. Para mim, isso é um estímulo para permanecer o mais
próximo possível daquilo que ajuda imediatamente.
Minha esposa Maria Sophie e nossos colaboradores lhes desejam bons
votos. Com esta revista queremos lhes dar alegria e algumas sugestões para o
dia-a-dia do amor. Algumas delas deixa aflorar em nós também um sorriso. Por
exemplo: a melhor solução para um problema é algumas vezes um desvio.
Vínculos antigos permanecem
4
Hoje em dia, pensamos muitas ve-
zes – e também nos comportamos
dessa forma – que no relaciona-
mento de casal trata-se apenas do
homem e da mulher. Os dois se
amam, sentem-se atraídos um pelo
outro e se tornam um casal. Nessa
situação perdemos facilmente a vi-
são de que ambos provêm de uma
determinada família. Cada um de
nós tem outros pais e outros ante-
passados. Em cada família aconte-
Em uma família, aqui num sentido am-
plo, incluindo todos os ancestrais, todos
estão vinculados uns aos outros, como
se tivessem uma grande alma em co-
mum. Podemos denominá-lo também de
um campo espiritual. Nessa grande alma
todos permanecem presentes, todos
aqueles que um dia pertenceram, inclu-
sive os mortos, todos os mortos. Os fi-
lhos abortados e os irmãos que morre-
ram cedo também. Todos fazem parte,
também aqueles que rejeitamos e dos
quais não queremos saber de mais nada.
Permanecem presentes nesse campo.
Todos estão em ressonância mútua com
todos os outros nesse campo.
ceu algo diferente. Essas realidades
atuam no relacionamento de casal.
Ambos os parceiros provêm de seu
próprio campo espiritual, um ou-
tro campo familiar, que os toma a
serviço de muitas maneiras. Por
isso, nenhum dos dois é livre.
Se além disso, um deles ou até am-
bos tiveram um relacionamento fir-
me anterior e desses relacionamen-
tos também têm filhos, esse passado
os liga de formas múltiplas. Esse
passado liga-os aos filhos e também
ao pai ou à mãe desses filhos. Pre-
cisamos presumir que cada um
quer e deve permanecer nessas li-
gações de uma certa forma. Ne-
nhum deve esperar do outro que re-
nuncie a esses vínculos. Algumas
vezes isso se mostra quando o casal
embora queira, não consegue viver
junto.
Ao mesmo tempo, existe nesse campo
um movimento que quer reunir o que
estava separado. Dois movimentos dife-
rentes servem a esse objetivo. Por exem-
plo, algumas vezes uma pessoa viva sen-
te-se atraída em direção aos mortos. E
eles se unem na morte. Freqüentemente
este movimento é um movimento de
amor. Contudo, ao invés de conduzir à
vida, conduz à morte.
Entretanto, aqui existe também um ou-
tro movimento, um outro amor, que nos
conserva em vida. Por exemplo, posso
incluir com amor em mim, em minha
alma alguém que estava excluído. Ao in-
vés de me atrair para a morte, ele proteje
a minha vida, porque foi reconhecido.
Esse é o movimento contrário, um movi-
mento curativo.
Pelo fato de estarmos inseridos em tan-
tas relações,algumas vezes a ilusão de
termos uma vida feliz e realizada não
pode ser cumprida. Justamente porque
estamos conectados. Entretanto, se con-
cordamos com esses vínculos do desti-
no, não importa o que exijam de nós,
ganharemos uma profundeza especial. É
uma profundeza através da renúncia. E é
claro que nesse momento também nos
tornamos adultos. Nós nos tornamos mais
humanos, inseridos em algo maior e te-
mos uma outra força.
Os campos espirituais
Homem
e
Mulher
5
Eu vejo o relacionamento de casal ainda
em um outro contexto. Cada sistema fa-
miliar carrega um destino especial e tem
uma desordem especial. A desordem
surge quando nem todos aqueles que
fazem parte são reconhecidos como per-
tencentes. Então os que não foram reco-
nhecidos pressionam para serem reco-
nhecidos. Sob a pressão desse campo uma
criança precisa representar mais tarde
esse excluído sem que tenha consciên-
cia disso. Por exemplo, freqüentemente
um parceiro anterior dos pais ou dos avós
foi excluído, talvez porque tenha morrido
cedo. Talvez uma mulher tenha falecido
durante o parto. Essas pessoas não são
mais vistas nesse sistema,
freqüentemente porque o seu destino
causa medo nos outros. Contudo, fazem-
se notar mais tarde numa criança. Contu-
do, a criança não sabe que está emara-
nhada no destino de uma outra pessoa.
Se esse problema, que alguém esteja
excluído ainda não está resolvido na fa-
mília, essa criança procura, quando está
adulta inconscientemente um parceiro
que a ajude e à sua família a resolver
esse problema. Portanto, o sistema da
mulher procura através da mulher, no sis-
tema do marido a solução para um pro-
blema não resolvido. E talvez o inverso
também. O marido e o seu sistema pro-
A comunidade de destino
Contrariando as idéias que temos freqüentemente do amor romântico, num relacionamento atuam
ainda muitas outras forças. No amor romântico os dois estão de certa forma apaixonados um pelo outro,
apaixonados significa, não vêem nada. Estão tão fixados um no outro que o entorno permanece exclu-
ído. O amor romântico não se mantém por muito tempo porque o entorno logo se mostra.
curam através da mulher e do seu siste-
ma, uma solução para o seu problema.
Com isso ambos começam uma comuni-
dade de destino, na qual procuram por
um solução no outro.
Eu vivenciei na Suíça um exemplo evi-
dente. Um homem tinha um irmão que
morrera de inanição na guerra. A família
não tinha tido o suficiente para comer. O
homem estava intimamente ligado ao ir-
mão e tinha medo de morrer de fome,
que isso viesse a ser também o seu des-
tino. Então, o que fez? Ele se casou com
uma mulher que era anorética. Ela deve-
ria morrer de fome por ele.
Portanto, tais tipos de emaranhamento
existem. Algumas vezes levam a dimen-
sões que parecem monstruosas. Aqui um
exemplo de um curso para casais em
Washington. Uma mulher veio sem o
marido para uma constelação de casal.
Eu posicionei em frente a ela um repre-
sentante do marido. O marido começou
a tremer pelo corpo todo, realmente com
um medo mortal. Eu perguntei a ela. “
Você já pensou alguma vez em matá-
lo?” Ela disse. “Sim.” A filha dela que tam-
bém estava presente já havia tentado o
suicídio. Portanto, nessa família existia um
grande potencial de agressividade. Quan-
do algo assim vem à luz, alguns ficam
tentados a dizer: “Que mulher ruim.” Eu
não digo isso. Disse a ela: “Algo especial
deve ter acontecido em seu sistema.”
Depois de uma pausa, disse: “Meu pai
participou da produção da bomba atô-
mica.” E acrescentou: “Eu me pergunto
também, porque me casei com um ja-
ponês.” Então qual foi o emaranhamento
aqui? A guerra entre os Estados Unidos e
o Japão continuou nesse casamento. E
nenhum deles tinha consciência disso.
Isso são comunidades de destino. Algu-
mas vezes elas levam também à morte.
Quando reconhecemos esses vínculos do
destino, de repente se mostra uma boa
solução para ambos os parceiros. Então
encontram a paz. Este casal ficou muito
bem depois. Depois disso a filha foi dire-
to para o Japão. Lá estudou e desabro-
chou.
O relacionamento de casal e qualquer
outra relação humana íntima é de uma
profundidade inacreditável. Se nós todos
nos expusermos às suas dimensões, en-
contraremos um outro tipo totalmente
diferente de amor e relacionamento.
Muito mais profundo e direcionado a to-
dos.
Como disse, para a ordem é sempre im-
portante que o que foi excluído até então
seja reunido. Esse é o movimento princi-
pal que leva à ordem nos relacionamen-
tos e para a felicidade de todos.
4
Os homens e as
mulheres são
diferentes
Pois bem, o homem entende muito pou-
co de mulheres. Vocês já viram um ho-
mem que realmente entendesse algo de
mulheres? Vocês já encontraram uma
mulher que dissesse: “Meu marido me
entende.”? E o inverso é naturalmente a
mesma coisa. As mulheres não entendem
muito dos homens. Senão, não ficariam
continuamente tentando mudá-los.
Portanto, quando um homem e uma
mulher se encontram, encontram algo
estranho, algo que eles próprios não pos-
suem, algo que também não entendem,
mas de que precisam. O homem precisa
da mulher. Senão, para que que ele é
um homem? Sem a mulher ele não é um
homem. E inversamente, a mulher pre-
cisa do homem. Pois, sem o homem ela
não é uma mulher. A mulher se torna uma
mulher somente através de um homem.
Ou? Todo o resto é provisório.
Portanto, duas pessoas diferentes se en-
contram. Elas se completam mutuamen-
te, sem se entender, sem se entender na
profundeza. Por isso, a tensão num rela-
cionamento de casal permanece a vida
inteira. O homem sempre se admira com
a sua mulher e a mullher se admira com
o seu marido. Isso torna o seu relaciona-
mento vivo.
O crescimento no
relacionamento do casal
Vou dizer, de maneira geral, ainda algo mais sobre
relacionamentos de casal e o crescimento. O
crescimento é sempre uma ampliação. Quem cresce,
precisa colocar algo de fora para dentro de si. Cresce
com aquilo que antes estava fora dele. Cresce,
colocando-o para dentro de si.
No momento que um homem encontra
uma mulher, reconhece que é incomple-
to. Precisa renunciar à sua convicção de
que como homem sozinho é um ser hu-
mano completo. E com a mulher é a
mesma coisa. Quando encontra um ho-
mem, percebe que ser só mulher não é
o suficiente. É necessário ainda algo di-
ferente. Precisa renunciar à convicção de
que é a única incorporação certa do ser
humano. Pois, de repente alguém total-
mente diferente que também é certo,
está à sua frente. Ambos são certos, mas
diferentes. Quando reconhecem isso, re-
nunciam às suas convicções e tornam-
se humildes. Isso significa que reconhe-
cem que são necessitados. Quando am-
bos reconhecem isso no outro, enrique-
cem. E crescem.
O crescimento significa: eu tomo para
dentro de mim, o que até agora era es-
tranho para mim e que me desafia a re-
nunciar à minha convicção. Ambos fazem
isso mutuamente, o homem e a mulher.
E crescem com isso. Isso é crescimento.
As famílias também
são diferentes
Agora se acresce que o homem provém
de uma outra família diferente da mu-
lher e a mulher de uma outra família di-
ferente da do homem. Ambas as famílias
são diferentes. Freqüentemente o ho-
mem olha com desdém para a família da
mulher e a mulher olha com desdém para
a família do marido. Os dois talvez se di-
gam: “Minha família é melhor.” E ela é a
melhor para nós porque estamos vincu-
lados a ela. Sendo necessário que seja
assim. Pois, sem ela não poderíamos so-
breviver.
Entretanto, essas famílias são diferentes
uma da outra. Assim como o homem é
certo, embora não seja uma mulher, e
embora a mulher seja certa, embora não
seja um homem, assim também a família
do homem é certa e a família da mulher
é certa, embora sejam diferentes entre
si. Mesmo assim, cada um precisa reco-
nhecer a família do outro como equiva-
lente. Com isso, renuncia a algo. Assim
como o homem, em primeiro lugar, re-
nuncia um pouco à sua convicção de que
unicamente o homem é o ser humano
certo, ele também renuncia à convicção
de que só a sua família é a certa. E o
inverso. Ambos tomam algo diferente
para dentro de si e crescemcom isso.
Como isso é importante se torna óbvio
quando o casal tem filhos e precisa se
decidir como eles devem ser educados.
Então algumas vezes existe uma com-
petição entre os valores familiares de um
e os do outro. Também aqui cada um
deles precisa renunciar a algo. Dessa for-
ma encontram em um nível superior algo
em comum, que é maior do que se reco-
nheceram como os únicos certos. Isso
também é crescimento.
7
Isso existe também em muitos relacio-
namentos de casal. Um dos parceiros está
preso em algo e o outro não sabe o por-
quê. Muitas vezes é algo de sua família
de origem. Contudo pode ser também
uma outra coisa que o prende. Algumas
vezes é um aborto provocado que o
prende e o afasta do relacionamento, tal-
vez até exista um anseio pela morte,
dentro de si.
O outro gostaria muito de ajudá-lo, mas
sente que não consegue. Ficar parado
aqui sem fazer nada, é difícil. Ele precisa
reconhecer que as suas forças não bas-
tam ou que a sua compreensão não bas-
ta para ajudar o outro. Aqui a postura in-
terna adequada é: Eu concordo com a
situação como ela é – com todas as
consequências para ele e para mim. Nes-
se momento chego a uma sintonia com
algo maior. Então posso esperar. Depois
de um certo tempo talvez surja alguma
solução e algo curativo. Algumas vezes
não surge nada. Então talvez haja a se-
paração. Cada um segue então a sua fi-
nalidade, da forma que lhe foi determi-
nada.
Algumas pessoas pensam que isso é ruim,
que uma outra solução teria sido melhor.
Nós compreendemos quando elas sen-
tem esse anseio. Mas nos é permitido?
Nos é permitido termos essas idéias?
Estar em sintonia com os nossos limites
Quando encontramos alguém numa situação difícil, freqüentemente
desejamos uma boa solução para ele. Queremos ajudá-lo. Entretanto,
podemos e devemos fazer isso? Algumas vezes sentimos que não
podemos e nem devemos. Algo dentro de nós nos proíbe. Então
precisamos reconhecer que chegamos a um limite.
8
A força original
Em relação a isso existem profundas
compreensões de Rilke. Uma delas ele a
teve bem cedo, quando ainda era bem
jovem. Ele escreve em um curto poema
no seu manual de orações: “A vida de
todos é um presente”. A vida de todos é
um presente: minha vida é um presen-
te, a vida de meu parceiro é um presen-
te, a vida de meus pais é um presente, a
vida de meus filhos é um presente, to-
das as vidas da natureza são um presen-
te. O que isso significa?
Atrás de nossas vidas atua uma força ori-
ginal, uma origem ou uma fonte original
de todas as vidas, que atua da mesma
forma em todas as vidas e também so-
fre. Portanto, se o parceiro sofre, sofre
nele uma outra força maior. Poderíamos
também dizer, em primeiro plano: Deus
sofre nele. Em todas as criaturas sofredo-
ras Deus também sofre. E inversamente.
Se alguém destrói, por exemplo, um as-
sassino ou um soldado numa guerra, gru-
pos de bandidos ou não importa o que
for: Quem age aqui? Eles é que agem?
Ou Deus age através deles? Nós nos de-
fendemos contra essa idéia. Entretanto,
devemos fazer isso? Existe uma outra
reflexão que se aproxima mais dessa re-
alidade e corresponde mais a ela? E qual
o efeito que isso tem quando concorda-
mos com essa reflexão: Deus sofre em
tudo e age em tudo, da mesmo forma? A
destruição e a construção, a doença e o
restabelecimento ou a destruição e o pro-
gresso é um jogo alternado inacreditável
que se realiza em tudo: O que acontece
é um movimento divino. O conjunto do
sofrimento e da alegria, da destruição e
da construção e da vida e da morte é um
jogo alternado divino. A mesma força atua
em ambos.
E esse jogo alternado faz o mundo avan-
çar. Toda a criatividade vem de um tal
conflito, no qual existem ambas as coi-
sas: a derrota e a vitória. O mundo avan-
ça dessa forma.
A serenidade
Quando nos submetemos a essa obser-
vação, precisamos prescindir totalmente
de nós, de que nós indivíduos fossemos
importantes, de que nosso sofrimento
fosse importante, de que nossa tristeza
fosse importante ou nossa felicidade. Ou
de que nosso sucesso fosse importante
ou nossa vida ou nossa morte. Eis um
poema de Rilke relativo a isso:
Existe alguém que toma tudo nas
mãos,
 de forma que escorre como
areia pelos seus dedos.
Ele escolhe a mais bela das rainhas e
se deixa esculpir no mais branco dos
mármores,
Deitado tranquilamente na melodia de
um manto;
E deita os reis com as suas mulheres,
moldadas pela mesma pedra.
Existe alguém que toma todos na mão
como se fossem lâminas desgastas que
se quebram.
Não é nenhum estranho pois ele mora
no sangue,
Que é a nossa vida e murmura e
descansa.
Eu não posso acreditar que ele faça
algo injusto.
Contudo ouço que muitos falam
coisas más sobre ele.
De repente, ficamos inacreditavelmente
serenos. Olhamos para tudo, como é, e
concordamos com isso. Ficando serenos
dessa forma, entramos em sintonia com
esse movimento, como ele é. Então algo
maior se realiza em nós. Não mais o trivi-
al, mas algo grande: a sintonia com o todo
como ele é. Nessa sintonia podemos
encontrar um outro ser humano como ele
é, exatamente como ele é. Concordar
com isso, tal como é, seu sofrimento e
sua alegria, sua vida e sua morte, isso nos
leva a entrar em sintonia com os grandes
movimentos. Desviamos o olhar de nós
mesmos. O que é ainda o meu eu nesse
contexto? Então seremos carregados por
algo infinito.
O paraíso
Ainda uma compreensão importante. A
felicidade está à espera, fora do paraíso.
O crescimento só existe fora do paraíso.
O criativo começa depois que fomos
expulsos do paraíso. O grande amor co-
meça, depois que o amor paradisíaco
passou.
9
Após décadas de observação e experi-
ência, para mim o essencial que faz par-
te da felicidade se reduziu em três pala-
vras. Nestas três palavras, quando são
sentidas e ditas no momento certo, está
o segredo da felicidade em um relacio-
namento de casal.
Sim
A primeira palavra já alude em relação
ao início do dia em um relacionamento
de casal. Por que nos alegramos com o
outro? Porque concordamos com ele, do
jeito que ele é. Essa alegria também con-
tagia o outro. A palavra, que está por trás,
significa: “Sim.” Sim, para o outro, sim
para mim, sim para a situação, como ela
é, e sim para a felicidade.
É claro que algumas vezes existe algo
que está em oposição a isso, uma deter-
minada idéia. Em nossa sociedade preci-
samos pagar por quase tudo. Muitos ima-
ginam que nada é gratuito, tudo precisa
ser pago. Por isso, começam a pagar tam-
bém pela sua felicidade. Ao invés de olhar
para o outro e se alegrar com ele, pa-
gam a felicidade com o dinheiro. Com
isso perdem o outro de sua vista – e tam-
Agora vou falar do dia-a-dia do relacionamento de casal. Como se inicia o novo dia no
relacionamento de casal? O marido olha para a mulher e a mulher olha para o marido e suas faces
começam a iluminar. Eles se alegram um com o outro. Isso não é um belo início de um dia novo em
um relacionamento de casal? Portanto, o amor ilumina, e se mostra na iluminação. A expressão mais
bela do amor é quando um se alegra com o outro. Dessa forma é que começa o dia de um
relacionamento de casal. Eles se olham e se alegram com o outro, do jeito que ele é. Exatamente do jeito
que ele é. A felicidade é se alegrar mutuamente com o outro e fazer algo com isso, dando e recebendo...
Então o dia não vai ser suficientemente longo porque sempre flui algo novo entre eles. Isso é crescer.
O dia-a-dia do relacionamento de casal
bém a vista para a felicidade. Eles ficam
apenas com uns trocadinhos na mão. E é
tudo que resta da alegria e da felicidade.
Existe um instinto profundo em nós, que
recebe força da idéia de que preciso pa-
gar por tudo que recebo. Sobretudo pela
felicidade. Contudo, enquanto ficamos
pensando que já estamos pagando o su-
ficiente, a felicidade já desapareceu.
Essa idéia de que precisamos pagar por
tudo, existe também perante Deus. Atra-
vés de grandes sacrifícios e peregrina-
ções e instituições de caridade e tudo o
mais possível pagamos Deus pela felici-
dade agraciada. Ele fica feliz se pagarmos
por isso? Ele se preocupa com aquiloque
pagamos? Essa é uma idéia estranha.
Certa vez tinha um participante num
curso meu que tinha comprado um
Mercedes. Entretanto, ele não conseguia
usufrui-lo, era uma felicidade grande de-
mais para ele. Em sua família só se podia
comprar carros da Volks – os antigos. Um
dia na autoestrada de repente um carro
bateu na traseira de seu carro. Então ele
respirou aliviado. Finalmente tinha pago
pela sua felicidade.
Não lhes parece ser algo conhecido? Isso
é praticamente diário. Muitos pagam o
tempo todo. Eles pagam pela felicidade
e pagam pela culpa.
Por favor
Se o marido ofende a sua mulher, por
exemplo, através de uma observação
malvada, fica sentido e paga por isso. Ele
fica mal, diz por exemplo, para a mu-
lher: “Hoje não vou comer nada, hoje vou
ficar de jejum.”, embora ela tenha cozi-
nhado muito bem. Portanto, ele expia
pelo que fez. Como se contorna esse tal
tipo de expiação? Através de uma única
palavra.
Portanto, o marido ofendeu a mulher. Ele
não a viu. Ele até esqueceu o seu aniver-
sário. Algo assim é terrível. Alguns esque-
cem também o dia do casamento. Então
a mulher olha para ele e fica triste. O
que ele deve fazer agora? Ele deve ex-
piar? Ele deve bater no seu peito, em
sinal de minha culpa? Não. Ele olha para
ela e diz: “Por favor”, simplesmente “Por
favor”. Eu sinto muito. “Por favor”. Então
o coração dela se abre e a felicidade tem
novamente uma chance.
Obrigado
Já mencionei duas das três palavras má-
gicas para a felicidade: “Sim” e “Por fa-
vor”. Existe ainda uma palavra especial-
mente bela. Essa palavra é: “Obrigado.”
Simplesmente “Obrigado.” Em um rela-
cionamento de casal existe durante o dia
inteiro centenas de ocasiões onde nos
alegramos com algo e dizemos: “ Obri-
gado.” Reciprocamente.
Essas são então as três palavras mágicas
para um relacionamento de casal feliz e
pleno. Podemos nos nutrir com elas, mes-
mo quando algo difícil se nos apresentar.
10
Existe um exercício para isso, como
podemos nos conformar com essa
decepção. Poderíamos, por exem-
plo, sentar à noite e pegar cinco
folhas de papel, no mínimo três, e
começar a imaginar o parceiro e
escrever tudo aquilo que ele nos
presenteou. Cinco longas páginas,
mas elas não são o suficiente. Quan-
to mais tempo escrevemos, quanto
mais começamos a iluminar. Esse
é um belo exercício.
A decepção
Por que um parceiro fica decepcionado com o outro? Porque
esperava do outro algo que este não lhe podia dar. Tinha uma
expectativa em relação ao outro que, entretanto, vai além do
normal. Essa expectativa provém freqüentemente da infância.
Freqüentemente foi uma expectativa em relação à mãe. Então,
de repente, ficamos decepcionados.
11
Exercício com uma mulher, cujo marido
se suicidou seis meses após a separação.
Hellinger: Para onde ele quis ir com a
sua morte? – Para a sua mãe.
Mulher: Faz sentido.
Hellinger: Os subterfúgios da alma são
estranhos. Eu não me surpreendo abso-
lutamente com mais nada. A alma é um
labirinto no qual podemos nos perder
facilmente. Nele nos orientamos por um
fio condutor, que seguramos nas mãos o
tempo inteiro. Dessa forma conseguimos
lidar com isso. Um labirinto é escuro. Não
adianta nada ficar de olhos abertos aqui,
mas apenas nos atermos ao fio condutor.
Vamos tateando pelo fio condutor e nos
dirigindo para frente, centímetro por cen-
tímetro. Cada batida de coração é um
centímetro a mais. E seguimos a batida
do coração.
Eu simplesmente imagino isso. Procuro
imagens para a alma, pelas quais posso
me orientar no labirinto do amor. Segui-
mos então a batida do coração. Cada ba-
tida está com você: “Por favor, por favor,
por favor.” Esse “por favor” nos reporta à
infância e, em primeiro lugar, é claro, à
Respostas por carta para o tema:
Relacionamentos em crise
Pensamento secreto
Para algumas pessoas é difícil compre-
ender que também aquilo que pensam
e planejam secretamente atua num sis-
tema, sobretudo se está simultaneamen-
te em contraposição ao que dizem e fa-
zem.
O momento
O seu companheiro lhe dá um sinal evi-
dente que não quer se decidir por você,
e seria bom se você levasse isso a sério.
Entretanto, desfrute o relacionamento
enquanto durar.
Exemplo: o labirinto da alma
mãe: “Por favor.” Nós tateamos no escu-
ro e vamos para frente, com a imagem
da mãe perante os olhos e dizemos: “Por
favor, por favor.” Cada “por favor” é um
passo para frente.
Então a batida do coração fica um pouco
mais rápida. Os passos ficam um pouco
maiores. Entretanto, ainda continua es-
curo. A cada passo e a cada batida do
coração você diz: “Obrigada.” E diz ao
seu falecido marido: “Obrigada.”
Então comece a respirar mais profunda-
mente, a cada “obrigada.” Inspire e ex-
pire profundamente. Entretanto, ainda
continua escuro no labirinto. Devo conti-
nuar a andar com você no labirinto do
amor?
Mulher: Por favor.
Hellinger: Sim, com prazer. Agora a cada
passo vem um ”Sim.” É um sim bem es-
pecial. Um sim para a vida e um sim para
a morte, para ambos. Você diz sim para a
sua vida e sim também para a morte de
seu marido. Esta morte pertence à vida
dele. Sim.
Agora olhe para o seu marido atual e diga
também para ele: sim.
Um cão atado a uma
corda longa prefere
voltar
Em primeiro lugar é confiar que algumas
coisas se tornam boas como por si só,
quando ficamos quietos. Por exemplo,
quando você libera internamente o seu
marido, assim como o seu filho. Quando
você fica em silêncio dentro de si, uma
boa força poderá se desenvolver neles.
A concordância
As relações entre os seres humanos têm
sucesso, da maneira como são, e não da
maneira que deveriam ser.
A seriedade
Leve a sério a observação de seu marido
de que ele não te ama mais. Encaminhe
o divórcio. Procurar um apartamento e
mudar é ele que precisa, em primeiro
lugar. Somente se ele se recusar, é que
você vai empreender algo.
A realização da vida
A realização da vida é algo simples. A realização da vida é:
obrigado, por favor, sim. Isso é a realização da vida. Em muitas
situações, não importa como sejam, dizemos: sim, por favor,
obrigado. Nessas palavras estão contidas o mais simples. O grande
e profundo amor entre o homem e a mulher é o mais simples que
existe – se simplesmente puder ficar com o sim, por favor, obrigado.
12
O amor que sabe
A idéia de que devem e podem assumir
algo pelos pais ou ancestrais faz parte
do pano de fundo que causa dificulda-
des aos filhos. Isso leva a problemas in-
termináveis para eles. E de certa forma
também para os pais. Para entendermos
isso é necessário que saibamos algo so-
bre a diferença entre as diversas consci-
ências.
A boa e a má consciência
Nós sentimos a nossa consciência como
boa e má consciência, como inocência e
culpa. Muitos pensam que isso teria a ver
com o bom e o mau. Contudo, não é
Ajudar as Crianças
assim. Isso tem a ver com o vínculo à
família e com a separação dela. Cada um
de nós sabe, intuitivamente, com a ajuda
de sua consciência, o que deve fazer para
fazer parte dela. Uma criança sabe, intui-
tivamente, o que deve fazer para per-
tencer à família. Se se comportar de ma-
neira correspondente ela tem uma boa
consciência. Uma boa consciência signi-
fica então: eu sinto que tenho o direito
de pertencer.
Se uma criança se desvia disso ou se nós
nos desviamos disso, temos medo de
perder o pertencimento. Sentimos esse
medo como uma má consciência. Uma
má consciência significa, portanto: tenho
medo de ter colocado em jogo o meu
direito de pertencer.
Sentimos a boa e a má consciência de
formas diferentes em diferentes grupos.
Até as sentimos de forma diferente, con-
forme cada pessoa. Por isso temos, por
exemplo, em relação ao pai uma consci-
ência diferente da que temos em rela-
ção à mãe e na profissão uma outra cons-
ciência diferente da que temos em casa.
Portanto, a consciência muda continua-
mente porque temos de grupo a grupo
e de pessoa a pessoa uma outra percep-
ção, pois de grupo a grupo e de pessoa
a pessoa o que devemos fazer ou deixar
de fazer é algo diferente, para podermos
pertencer.
Com a ajuda da consciênciatambém di-
ferenciamos aqueles que nos pertencem
daqueles que não nos pertencem. Na
13
medida em que a consciência nos vincu-
la à nossa família, ela nos separa de ou-
tros grupos ou pessoas e exige de nós
que nos separemos deles. Por isso, devi-
do à nossa consciência temos
freqüentemente sentimentos de rejeição
e até de inimizade em relação a outras
pessoas e a outros grupos. Essa rejeição
tem a ver com a necessidade do
pertencimento e tem pouco ou quase
nada a ver com o bom e o mau.
Portanto, essa consciência é uma consci-
ência que sentimos. Com a ajuda dessa
consciência, diferenciamos entre o bom
e o mau, mas sempre apenas em rela-
ção a um determinado grupo.
O emaranhamento
Contudo, existe ainda uma outra consci-
ência oculta, uma consciência arcaica,
uma consciência coletiva. Essa consciên-
cia segue outras leis diferentes daquelas
ditadas pela consciência que sentimos. É
a consciência do grupo. Essa consciência
vela para que numa família todos se sub-
metam a determinadas ordens que são
importantes para a sua sobrevivência e
união.
Em primeiro lugar, o que faz parte des-
sas ordens, é que cada um que pertence
tem o mesmo direito de pertencer. Con-
tudo, sob a influência da consciência que
sentimos, algumas vezes excluímos al-
gumas pessoas da família. Por exemplo,
aqueles que pensamos que são maus,
também aqueles dos quais temos medo.
Nós os excluímos porque pensamos que
sejam perigosos para nós.
Contudo, através dessa outra consciên-
cia oculta, aquilo que fazemos de boa
consciência, seguindo a consciência que
sentimos, será condenado. Pois esta ou-
tra consciência não tolera que alguém seja
excluído. Entretanto, se isso acontecer,
alguém será posteriomente condenado,
sob a influência dessa consciência ocul-
ta, a imitar e representar um excluído em
sua vida, sem que tenha consciência dis-
so. Denomino essa ligação inconsciente
com uma pessoa excluída de
“emaranhamento”.
Por isso, podemos entender que
muitos filhos, os quais pensamos que
estão se comportando de forma estranha
ou estariam em perigo de se suicidar, ou
se tornam drogadictos ou não importa o
que seja, estão conectados com uma
pessoa excluída. Estão emaranhados com
essa pessoa. Por isso só podemos ajudá-
los se eles e outras pessoas na família
tiverem em seu campo de visão essa
pessoa excluída, colocando-a novamen-
te na família e no próprio coração. De-
pois disso, os filhos estarão liberados do
emaranhamento.
Para ajudar esse tipo de filhos, outros
membros familiares que até então igno-
raram essas pessoas precisam finalmen-
te olhar para elas. E aqueles com os quais
estavam zangadas ou rejeitaram precisam
se dedicar a elas com amor e acolhê-las
novamente na família. Esse é o pano de
fundo para muitas dificuldades que as
crianças têm, e também a preocupação
que algumas vezes seus pais têm por
elas.
O amor cego
Contudo, existe para essa consciência
oculta ainda uma outra lei. Essa lei tam-
bém traz dificuldades às crianças. Essa lei
exige que aqueles que pertenceram an-
tes à família, tenham precedência em
relação àqueles que vieram mais tarde.
Portanto, existe entre os membros ante-
riores e os posteriores uma hierarquia.
Essa hierarquia precisa ser obedecida.
Contudo, muitas crianças tomam a liber-
dade de assumir algo pelos pais para
ajudá-los. Com isso transgridem a hierar-
quia. Então a criança diz para a mãe ou
pra o pai, sob a influência dessa consci-
ência, frases internas, tais como:” Eu as-
sumo isso por você. “Eu expio por você.”
“Vou adoecer em seu lugar.” “Vou mor-
rer em seu lugar.” Tudo isso acontece por
amor, mas por um amor cego. Esse amor
cego leva às drogas ou a perigo de vida
e comportamentos agressivos. Entretan-
to, estes tipos de comportamento e es-
ses perigos têm a ver com a tentativa de
assumir algo pelos pais. Essa ordem é
violada e ferida dessa forma.
A ordem
Quando ficamos sabendo dessa ordem,
podemos restabelecê-la novamente. Isso
significa, por exemplo: os pais assumem
as conseqüências de seu próprio com-
portamento, de seu próprio
emaranhamento e os carregam sozinhos.
Então a criança estará livre. Ela não pre-
cisa assumir nada daquilo que é da alça-
da dos outros.
Contudo, a transgressão da ordem de ori-
gem é castigada duramente por essa
consciência oculta. Toda criança que ten-
ta assumir algo pelos pais ou por outros
que vieram antes dela, fracassa. Nenhu-
ma tentativa de assumir algo pelos pais
tem sucesso. Está sempre fadada ao fra-
casso e, na verdade, para todos os en-
volvidos. Nós precisamos saber disso. Por
isso, ajudamos as crianças a se soltarem
dessa intromissão. Ao invés de olhar para
as crianças, olhamos primeiro para os pais
e deixamos que eles mesmos resolvam
os problemas. Se os pais resolverem isso,
os filhos se sentem livres. Eles ficam no-
vamente tranqüilos e se sentem acolhi-
dos.
Portanto, estas são duas leis básicas que
devemos ter no nosso campo de visão e
estar em acordo interno quando se quer
ajudar crianças difíceis.
14
Nós entramos no nosso corpo e senti-
mos aquilo do que queremos nos livrar
no nosso corpo. Por exemplo, uma dor,
uma doença, uma tensão, algo que não
se sente em casa conosco ou não se sen-
te acolhido por nós.
Nós entramos nessa dor ou nessa doen-
ça e dizemos: “Sim. Eu agora a coloco
em minha alma e em meu coração.” Nós
entramos nesse órgão ou nessa doença
ou nessa dor e sentimos: Para onde essa
dor ou esse órgão olha? Para que pessoa?
Essa dor ou essa doença diz a essa pes-
soa: “Eu te amo. Eu a trago à me-
mória. Eu te represento.” Com
esse órgão, com essa dor ou
com essa doença olhamos
para essa pessoa e di-
Eu tomo você em meu coração
Vou fazer com vocês uma meditação, para que possamos sentir o
que significa: alguém foi excluído e alguém é incluído. Farei isso
em vários níveis, começando pelo nível físico.
zemos a ela: “Eu te amo também. Agora
coloco você em meu coração e na mi-
nha família e no meu corpo.” – E senti-
mos o efeito.
Depois que tivermos colocado essa pes-
soa em nossa alma, no próximo nível
olhamos para o nosso parceiro e suas
dores. Olhamos para o parceiro e olha-
mos com as suas dores para essa pessoa
que foi esquecida ou excluida em sua
família. Em seu lugar dizemos para essa
pessoa.” Eu te amo. Eu te coloco em meu
coração e na minha alma.” Aqui precisa-
mos saber que algumas vezes o nosso
parceiro representa alguém que foi ex-
cluído em minha família, e com isso está
a serviço de meu sistema.
Sigamos agora para mais um outro nível.
Olhamos para os nossos filhos e nos per-
guntamos quando se comportarem de
modo estranho ou quando estão doen-
tes: para quem estão olhando na família
dos pais? Quem trazem à memória com
seu comportamento ou sua doença?
Olhamos com eles para essa pessoa e
dizemos a ela: “Sim, eu também te amo.
Eu também lhe dou agora um lugar em
minha alma. Você pode estar e perma-
necer conosco.”
15
Nós imaginamos que estamos perante
todos as pessoas que nos pertencem:
nossos irmãos, nossos pais e seus irmãos,
nossos avós, nossos bisavós e ainda mui-
tas outras pessoas com as quais estamos
especialmente ligados, como, por exem-
plo nosso parceiro e nossos próprios fi-
lhos. Todos nós formamos um círculo e
nos seguramos pelas mãos. Todos olham
uns para os outros. Utilizemos o tempo
total, até que tenhamos olhado todos e
todos nos tenham olhado. Nós nos per-
mitimos sentir o efeito que tem em nós,
em nossa alma e no nosso corpo.
Então imaginamos que cada pessoa des-
se círculo uma após a outra entra no cen-
tro e é olhada por todas. Para isso tam-
bém permitimos utilizar o tempo total.
No final, nós também entramos no cen-
tro do círculo e deixamos ser olhados por
todos com amor. Depois voltamos nova-
mente para o círculo.
Todos continuam se segurando pelas
mãos. Então fecham os olhos. Eles todos
se soltam e se permitem recair na ori-
gem que acolhe e sustenta a todos. Na
profundeza da origem nos tornamos um
com todas as pessoas que existiram. Elas
estão ainda presentes em nós e na nossa
alma em comum. Nessa grande alma to-
dos estamos acolhidos. Nela estamos em
casa.
A grande alma
Paraa seguinte meditação
precisamos de um pouco mais de
tempo. Podemos também fazê-la em
mais dias. Com a grande alma
quero dizer aqui a alma
comum que nos liga aos
nossos antepassados e no
final até a todos os seres
humanos, os vivos e os mortos.
16
Hellinger para uma mulher, cuja filha
sofreu uma lesão durante o parto e fa-
leceu cedo: Gostaria, neste contexto, de
falar algo sobre a culpa. Não no sentido
moral, isso está bem longe de mim.
Freqüentemente nos sentimos culpados
porque alguém, de certa forma, foi pre-
judicado por nossa causa. Por isso,
freqüentemente também temos em re-
lação a um aborto provocado um senti-
mento de culpa. Pode ser também que
uma mãe tenha um sentimento de culpa
quando durante o parto uma criança so-
fre uma lesão, que talvez tenha levado a
uma deficiência permanente.
Freqüentemente as mães se sentem res-
ponsáveis e culpadas por isso.
Existem dois modos de lidar com uma
culpa desse tipo. Um deles é o sentimen-
to de culpa. O sentimento de culpa sig-
nifica que eu não olho para a pessoa em
relação a qual me sinto culpado, mas para
mim. Eu lamento algo e penso que po-
deria e deveria ter agido de outra forma.
Então tenho um sentimento de culpa.
Esse sentimento de culpa é um
substitutivo para a ação. Quem se sente
culpado dessa forma, não age. Permane-
ce passivo.
Existe ainda um outro modo de lidar com
a culpa. Olhamos para aquilo que acon-
teceu, do jeito que é, do jeito que acon-
teceu e dizemos: “Eu concordo com isso
do jeito que foi. Eu também concordo
com as conseqüências, todas as conse-
qüências, não importa o que resultar dis-
so para mim e para os outros. Nesse
momento não temos mais nenhum sen-
timento de culpa, mas ganhamos a força
para fazer algo, geralmente fazer algo de
bom. Com isso a culpa leva a uma boa
ação, e também estará acolhida de uma
boa forma.
Em relação à culpa existe algo ainda para
Pais
Golpes do destino
se pensar, principalmente quando senti-
mos culpa. Atrás desse sentimento de
culpa muitas vezes existe uma arrogân-
cia. Pensamos que éramos livres para fa-
zer algo de uma outra forma.
Agora olhe para além dessa criança mor-
ta. Imagine que ela está deitada à sua
frente. Agora olhe para bem longe dessa
criança – para o seu destino que é maior
do que você. Peça ao destino para en-
carregar-se dela e de você também, tan-
to de uma quanto da outra. Você perce-
be a diferença? Lá, essa criança deficien-
te que está morta encontra a calma e a
paz. Lá, todos estão acolhidos - da mes-
ma forma.
17
Vou dar um exemplo bem simples. Como
estão os filhos sobre os quais os pais se
preocupam? Esses filhos vão bem ou mal?
Têm mais ou menos força para viver?
Contudo, muitos pais pensam que se
preocupam com os filhos por amor. Mas
os filhos poderão respirar aliviados se os
pais renunciarem ao poder do amor com
o qual acham que podem e devem in-
terferir no destino deles. Portanto, em
relação ao amor é melhor olharmos para
o amor que serve à vida, levando aquilo
que está próximo e com o qual nos pre-
ocupamos, para algo maior.
Certa vez, veio para o meu curso uma
mãe com seu bebê de cinco meses. Ela
estava sentada ao meu lado e apertava a
criança no peito. Eu disse a ela: “Olhe
para além da criança, para longe.” Ela fez
isso. Ela olhou para além da criança, para
longe. De repente o bebê respirou fun-
do e aliviado. Ele se virou para mim, sor-
rindo.
Portanto, o amor tem uma medida. Con-
tudo, não são apenas os pais que algu-
mas vezes perdem a medida do amor.
São principalmente os filhos que perdem
a medida do amor. Eles não a conhecem.
Então assumem algo pelos pais porque
pensam que poderiam salvá-los com isso.
Essa é uma idéia inacreditável. Mas, os
filhos são assim.
Ordens do Amor
A medida do amor
Em relação ao amor existem, muitas vezes, certas
dificuldades. Uma dificuldade com o amor é que a ele
se liga a idéia de que ele tem poder. Por exemplo, que
com a sua ajuda pode-se mudar um destino. Essa idéia
é arrogante. Ao invés de servir ao amor, muitas vezes se
opõe a ele.
Isso tem a ver com o fato de que a crian-
ça não conhece a ordem essencial do
amor, isto é, que aqueles que vieram
antes têm precedência em relação aque-
les que vieram depois. Isso significa: os
pais têm precedência perante os filhos,
o primogênito tem precedência em re-
lação ao segundo filho, etc. É válida en-
tão uma ordem original. Essa ordem ori-
ginal proíbe que uma criança se preocu-
pe pelos pais, ou até que os queira salvar.
Existem duas dinâmicas básicas do amor,
desse amor cego das crianças que se
opõe à vida. A primeira dinâmica é, que
uma criança diga a um de seus genitores,
se um deles morreu cedo, ou também
para um irmão ou irmã que morreu cedo:
“Eu sigo você.” Por exemplo,
freqüentemente um gêmeo quer seguir
o irmão gêmeo ou a irmã gêmea na
morte. Isso é amor, mas um amor que se
opõe à vida. Não é um amor através do
qual a vida pode ter êxito.
Então existe ainda uma continuação des-
sa dinâmica, quando uma criança perce-
be que um dos pais quer partir ou mor-
rer. Pois, de fato, também freqüntemente
um dos pais quer ir embora ou morrer
seguindo a dinâmica “Eu sigo você.” En-
tão a criança lhe diz internamente: “Eu
vou no seu lugar.” Isso também é amor,
mas um amor que leva à morte.
Aqui faz parte das ordens do amor que
respeitemos o destino de cada um, do
jeito que é, sem interferir nele, nem
mesmo com a vontade de interferir. Este
é um amor totalmente diferente. É um
amor que sabe e tem força. Ele pode
conservar a distância e deixar o outro
seguir o destino que lhe foi determina-
do. Também nos deixa seguir o nosso
próprio destino sem querer mudá-lo atra-
vés de uma preocupação exagerada.
Portanto, vemos que o grande amor que
serve à vida exige algo de nós. Ele exige
principalmente a renúncia ao poder.
18
No início de nossa vida está o amor de
nossos pais como casal. Nós somos o fru-
to de seu amor. O primeiro passo de
nosso amor para os nossos pais é que
nós olhemos para eles como nossos pais
e tomemos a nossa vida como um pre-
sente. Então olhamos para além de nos-
sos pais para a fonte de todas as vidas e
tomamos nossa vida dessa fonte, como
ela vem de lá para nós. Esse amor signi-
fica: tomar, tomar como vem, sem restri-
ções e sem excluir nada. Totalmente, da
forma que vem desses pais e dessa fon-
te para nós.
Aprendendo a amar
Gostaria de dizer algo sobre as ordens do amor no
relacionamento a dois. Quem espera no
relacionamento a dois principalmente por algo para
si, no sentido de que o parceiro está presente
principalmente para si, ainda não está pronto para
um relacionamento a dois. Pois no amor existe um
desenvolvimento. Esse desenvolvimento precisa
preceder ao relacionamento.
Quando alguém faz censuras aos seus
pais ou quando tem expectativas em
relação a eles que vão para além daquilo
que as pessoas comuns podem presen-
tear, não toma mais sua vida em sua ple-
nitude. Com isso fica empobrecido em
sua alma já no início de sua vida. Esse
amor começa com o tomar a vida, como
ela vem desse amor de nossos pais para
nós. Esse tomar a vida plenamente, como
ela vem é um amor muito profundo.
É certo que nossos pais estão inseridos
em muitas coisas. Um dia também foram
filhos e também provêm de uma deter-
minada família. Eles também foram mar-
cados por essa família e ganharam uma
força especial. Também um desafio es-
pecial chega para eles de sua família. Eles
pertencem a uma determinada cultura e
a um determinado idioma e religião. To-
das essas circunstâncias pertencem à vida
deles e à nossa também. Nós tomamos
essa vida de nossos pais sob essas cir-
cunstâncias exatas nas quais eles tiveram
que viver e concordamos com eles: “Sim,
eu os tomo dessa forma como meus pais,
e vocês podem me ter dessa forma como
o filho de vocês.”
19
Então imaginamos o que os nossos pais
nos deram e presentearam através de
muitos anos. Eles nos sustentaram, nos
vestiram, nos protegeram. Eles sempre
pensaram em nós e se perguntaram: “De
que é que a criança precisa?” E eles fica-
ram preocupados conosco durante mui-
tos anos. Nós tomamos delese dizemos:
“Obrigado, eu tomo de vocês dessa for-
ma com tudo que está ligado a isso – e
pelo preço total que custou a vocês. Tam-
bém pelo preço que me custou através
das circunstâncias e dificuldades que exis-
tiram, que vocês tiveram e que eu tive.
A minha vida vale esse preço. Eu tomo
assim, como recebi de vocês e faço algo
disso, algo do qual vocês, como meus
pais, vão se alegrar. Vocês devem saber
que eu tomei de vocês, em sua plenitu-
de, e fiz algo disso.”
Meditação
Eu amo vocês dessa forma
Nós podemos fazer um pequeno exercício em
relação a isso. Imaginamos que estamos perante
nossos pais como crianças, como crianças
pequenas. Nós olhamos para eles, como crianças
pequenas olham para os seus pais, com um amor e
dedicação inacreditáveis. Crianças pequenas
olham para seus pais com dedicação — totalmente
dedicados a eles. E agora olhamos dessa forma
para nossa mãe e para nosso pai, como são,
exatamente como são. Nós dizemos a eles: “Sim, eu
amo vocês dessa forma, como vocês são. Vocês são
meus pais. Você é minha mãe. Você é meu pai, e eu
sou a criança amada de vocês.”
20
Ainda algo se opõe a esse tomar. Porque
os pais são comuns, tão comuns como
nós também, fizeram muitas coisas erra-
das. Existem aqueles pais que batem nos
seus filhos. Existem também situações
onde houve abuso de crianças. Então uma
criança assim censura os pais e diz tal-
vez: “Não quero saber mais nada de
vocês” , ou não importa como se com-
portam. Eles recusam o amor e pensam
que teriam direito a isso.
Ver os pais como seres humanos
Algumas vezes algo se opõe a esse tomar os pais do
jeito que são, e tomar tudo aquilo que vem deles, isto é,
uma expectativa em relação a eles, que vai para muito
além do que seres comuns podem dar. Nós os
colocamos, por assim dizer, ao lado de Deus e ficamos
zangados com eles se não são como o querido Deus.
Isso não é estranho? Essa expectativa impede que
tomemos tudo o que nossos pais deram e querem
realmente dar para nós.
21
Entretanto, algumas reflexões sobre Deus
ajudam a vida se as observarmos mais
exatamente. Por exemplo, recentemen-
te algo surpreendente me abriu os olhos,
que, na verdade, Deus é imperfeito, e,
com efeito, necessariamente. Se, portan-
to, até Deus deve ser imperfeito, os nos-
sos pais precisam então ser perfeitos?
Quero esclarecer mais precisamente o
que isso significa. Atrás da vida, atrás de
tudo que se move, uma força criativa está
atuando. Isso é compreensivel. Não po-
demos imaginar isso de uma outra for-
ma. Essas forças não vêm de nós. Elas
vêm de outro lugar. Essas forças criativas
são criativas porque o que veio antes era
imperfeito. O criativo pressupõe o im-
perfeito. Portanto, esse movimento cria-
tivo ou esse movimento divino é sem-
O imperfeito
Neste contexto ainda fiz algumas reflexões sobre Deus. Podemos fazer
todas as reflexões possíveis sobre Deus. Elas todas não estão certas.
Pois quem sabe realmente algo sobre Deus?
pre incompleto. Freqüentemente tam-
bém é falho. Freqüentemente ele se
encaminhou para a direção errada de for-
ma que surgem conflitos em relação à
direção certa. Através do conflito e da
discussão chegamos à compreensão em
direção ao que deve ser o próximo pas-
so. Nós não temos essa compreensão
partindo de nós ou de nossos conflitos.
O próprio movimento criativo necessita
do imperfeito e até do errado para a con-
tinuação de seu desenvolvimento.
Nossos pais também estavam inseridos
num movimento assim, imperfeito, com
erros e também com culpa. Agora pode-
mos entrar em vibração nesse movimento
imperfeito e concordar com ele, também
com o “mau” (entre aspas). Na medida
em que concordamos com ele e entra-
mos em vibração com esse movimento,
chega do imperfeito algo melhor, uma
nova força. Isso é válido para tudo que
vivenciamos como crianças, sem diferen-
ciação. Tão logo aceitemos isso como
parte de um movimento criativo da vida
em algo maior e concordamos com ele,
como foi, não importa o que tenha exi-
gido de nós. Então se comprova no final
que tudo foi bom para nós, não importa
o que tenha acontecido. Serviu ao nosso
crescimento. Então nos expomos
tambem ao ruim e ao pesado e concor-
damos com isso. Nós dizemos: “Sim, isso
foi parte de um movimento criativo. Tudo
que foi ruim, me impulsionou para algo
novo e melhor. Porque eu concordo com
isso também, isso se tornou uma força
para mim.”
22
Freqüentemente os filhos querem dar
cedo demais. Eles amam os pais e
querem fazer algo por eles, algo que
não é de sua alçada. O que vale aqui
é que o que precisam fazer principal-
mente é tomar ao invés de dar. To-
mar, tomar, tomar é o início de todo
O movimento básico do amor
Portanto, o movimento básico do amor, o início do amor é: Tomar, tomar, tomar,
tudo como é, simplesmente tomar. Quanto mais tomamos, tanto mais
enriquecemos. Esse é o início do amor. Se nós tivermos tomado muito, o amor
transborda. Contudo, não antes.
o amor que serve à vida.
Mais tarde, mais ou menos aos 20
anos, a criança não agüenta mais sim-
plesmente tomar. Agora ela quer fa-
zer algo. Então encontra um parceiro
e está pronta e capaz de dar. Não é
mais só tomar como uma criança. Já
tomou tanto que agora também pode
dar. Então existe o intercâmbio amo-
roso total do dar e tomar recíproco
entre o homem e a mulher.
Isso é a medida sobre uma ordem im-
portante para o relacionamento en-
tre o homem e a mulher.
23
Essa mãe compareceu a um curso meu.
Em uma constelação veio à luz que ela,
secretamente, ansiava morrer. Até então
tinha consciência de sempre ter deseja-
do ir embora e finalmente deixar tudo
atrás de si. O que estava ligado a esse
desejo veio à tona na constelação. Uma
irmã sua nascera morta. Ela havia sido
esquecida na família e nem sequer tinha
um nome. Então a mulher colocou a sua
irmã no coração e sentiu a sua boa força.
O seu desejo de ir embora e de morrer,
cessou.
Quando voltou do curso para casa, Marion
estava sentada à mesa, com a avó, na
cozinha, jogando dados. Ela olhou breve
para cima e disse para a mãe que estava
entrando: “Mamãe, hoje vou dormir sozi-
nha.” Foi assim e permaneceu assim
depois.
Relato de Günter Schricker
Ajudou
“Mamãe, hoje vou dormir sozinha”
Uma mãe solteira descreve seus problemas com a filha de nove anos que se sente
muita angústia: “Todas as noites ela vem para a minha cama. Eu preciso levá-la
para a escola e buscá-la pontualmente. Mesmo quando preciso levar um cesto de lixo
para baixo, ela sempre precisa ir comigo.”
Pequenas histórias
desse tipo podem
contam muitas coisas
para aqueles que
trabalham com as
constelações. Em
relação às
transformações
durante um curso, as
faces vivas e os olhos
radiantes, um
participante
comentou com as
seguintes palavras:
“Eu acho que estou
num resort de
beleza.”
24
25
A iluminação é o
conhecimento da ordem.
A verdade pura
é mentira.
Em relação ao certo, o
encontrar é difícil e o
entendimento fácil.
A fé exige a negação daquilo
que sabemos – e daquilo que
não sabemos
Frases para reflexão
O conhecimento
O sábio suporta a pura
verdade como uma vaca em
relação à cerca de arame
farpado, enquanto existir
algo para comer, fica
afastada, depois procura
uma fenda.
A preparação para o
encontrar é freqüentemente
uma renúncia.
 Apenas de olhos fechados
podemos ter “grandes“
idéias”.
A ordem é
avassaladora.
A auto-confiança é o
conhecimento de seu próprio
caminho.
Os sabichões precisam de
pouco conhecimento.
O que é certo ninguém
precisa defender, e o que não
é, também não.
A serenidade é quando alguém pode deixar algo. Por exemplo, uma preocupação, a revolta
do coração depois de uma ofensa, uma humilhação, uma calúnia.
Sereno também é aquele que pode deixar os sonhos antigos, as reivindicações antigas, as
censuras antigas e com isso liberar o seu coração, de forma que ele fique calmo, sereno e
disposto para aquilo que é possivel e nos está sendo presenteado agora.
Por isso, sereno é também aquele que perdoa no sentido de que algo
pode ficar no passado, sem rancor.
Essa serenidade é força sem emoções, disposição centradapara o que vem e para o agora.
26
A serenidade
27
A raiva se expressa de diferentes
formas. De uma forma que ajuda
ou que assola, de uma forma forte
 ou fraca. Vou examinar de perto
 algumas formas da raiva.
Examinar de perto
A raiva
1. Alguém me agride ou me faz uma
injustiça e eu reajo a isso, de forma
correspondente, com cólera e raiva.
Essa raiva me possibilita defender ou
me impor com força. Me habilita a
agir, ela é positiva e me fortalece. Essa
raiva é objetiva e por isso, adequa-
da. Ela se extingue tão logo tenha
atingido a meta.
2. Eu fico enfurecido e zangado por-
que percebo que não tomei o que
poderia e deveria ter tomado; que
não exigi o que poderia ou deveria
ter exigido ou que não solicitei o que
poderia ou deveria ter solicitado. Ao
invés de me impor e
tomar e buscar o
que me faz fal-
ta, fico en-
furecido e zangado com aqueles dos
quais não tomei; exigi ou solicitei,
mas que poderia ou deveria ter to-
mado, exigido ou solicitado. Essa rai-
va é um substituto para a ação e a
conseqüência de uma ação omissa.
Ela paralisa, torna incapaz, enfraquece
e freqüentemente perdura por muito
tempo.
A raiva atua de modo similar a uma
resistência ao amor. Ao invés de ex-
pressar o meu amor, ainda por cima
fico zangado com aqueles que eu
amo. Essa raiva remonta à infância
quando surge como conseqüência de
um movimento interrompido. A
vivência anterior é repetida em situa-
ções posteriores, retirando-lhe a força.
3. Estou zangado com uma pessoa
porque lhe fiz algo de mal, mas não
quero admitir isso. Com essa raiva eu
resisto contra as conseqüências de
uma culpa. Eu a atribuo a uma outra
pessoa. Essa raiva também é um
substituto para a própria ação. Ela me
permite permanecer passivo. Ela me
paraliza e me enfraquece.
4. Alguém me dá tantas coisas boas e
grandes que não posso mais devol-
ver. Isso é difícil de suportar. Então
resisto ao doador e seus regalos,
ficando zangado com ele. Essa
raiva se expressa como cen-
sura, por exemplo, dos fi-
lhos contra os pais. Ela se
torna um substituto para
o tomar e agradecer. Ela
nos paralisa e nos esva-
zia. Ou isso se expressa
como depressão. A de-
pressão é o outro lado da
censura. A depressão tam-
bém serve como substitu-
to para o tomar e agrade-
cer e dar. Ela nos paraliza e
nos esvazia. Ela também se
expressa como uma tristeza
que permanece durante longo
tempo após uma separação,
quando ainda devo tomar e agra-
decer aos mortos ou ao que está se-
parado de mim ou como no terceiro
tipo de raiva, admitindo a própria cul-
pa e suas conseqüências.
5. Algumas pessoas possuem uma
raiva, que assumem de outras e para
outras pessoas. Por exemplo, quan-
do em um grupo, um participante re-
prime sua própria raiva, depois de
um certo tempo um outro membro do
grupo fica zangado, na maioria das
vezes, o mais fraco, que não teria ne-
nhum motivo para isso. Nas famílias,
esse membro mais fraco é a criança.
Por exemplo, se a mãe está zangada
com o pai, mas reprime a sua raiva,
uma criança vai ficar zangada com ele.
O mais fraco é freqüentemente não
apenas o portador mas também o alvo
da raiva. Por exemplo, quando um
subordinado está zangado com o seu
superior, mas reprime a raiva em re-
lação a ele, muitas vezes descarrega
a sua raiva em um mais fraco. Ou
quando o marido fica zangado com a
sua mulher, mas reprime a sua raiva
em relação a ela, uma criança expia
no lugar dela.
Muitas vezes a raiva não somente é
transferida de um portador para uma
outra pessoa, por exemplo, da mãe
para a criança, mas também é
transferida de um forte para um fra-
co. Então a filha direciona a raiva que
assumiu da mãe em direção ao pai,
mas para alguém em relação a qual
se sente mais à altura, por exemplo,
ao próprio marido. Em grupos, a rai-
va assumida não se dirige à pessoa
forte, por exemplo, o coordenador de
um grupo, mas para um membro fra-
co, que se torna o bode expiatório
para o forte.
Em relação à raiva assumida os
agressores estão fora de si e se sen-
tem orgulhosos e pensam que têm
razão. Mas agem partindo de uma
força de um outro e de uma razão de
um outro e permanecem sem suces-
so e fracos. Também as vítimas da
raiva assumida sentem-se fortes e
pensam que têm razão, pois sabem
que sofrem injustiça. Contudo, elas
também permanecem fracas e seu
sofrimento infrutífero.
6. Existe uma raiva que é virtude e
competência. É desperta, uma força
de imposição centrada para algo que
deve se transformar, que se expõe de
forma ousada e sábia, também peran-
te os difíceis e poderosos. Entretan-
to, ela é sem emoção. Se for necessá-
rio, também faz algo ruim ao outro,
sem medo e sem estar zangado com
ele. Ela é agressividade como ener-
gia pura. Ela é o fruto de uma longa
disciplina e exercício; mas quem a ti-
ver, a tem sem esforço. Ela se expressa
também como uma ação estratégica.
28
29
Para começar ele nos liga a nós mesmos.
De repente ouvimos o murmúrio de nos-
so sangue, a batida do coração, o pedido
de nosso pulmão, a lamentação de nos-
so fígado ou de nosso intestino. Senti-
mos o desejo pela reunião como um
expectativa centrada, ouvimos o soar
conjunto de todas as células como uma
grande sinfonia e escutamos admirados,
com devoção. O que soa mais fundo e
pleno do que esta grande sinfonia? Como
é que poderemos algum dia ficarmos far-
tos de ouvir isso?
Contudo, o espaço do silêncio se abre
ainda mais e nós ouvimos nossa alma.
Ela nos conduz muito para além dos li-
mites de nosso corpo, em direção a to-
dos com os quais estamos conectados
através de nossa alma. Nela ainda estão
em casa. Eles permanecem presentes, nos
dizem algo, solicitam algo, nos presentei-
am com algo, olham para nós e esperam
por nós. Eles estão simultaneamente pró-
ximos e distantes de nós. Na presença
deles a nossa alma fala com muitas vozes,
como um coro a várias vozes.
Entretanto, algumas dessas vozes não
Sabedoria a caminho
O silêncio
O silêncio é o presente.
Ele ocorre entre aquilo
que foi e aquilo que vem.
Nele algo pára: a
percepção do mundo
externo, o fluxo dos
pensamentos, o diálogo
interno, a preocupação
com a próxima ação a
ser feita. Nós a liberamos
do espaço do silêncio.
Distanciando-se deste
espaço, abre-se para
outras coisas, tornando-
se amplo. Pois o silêncio
une.
estão ainda em sintonia. Ainda não en-
contraram o som puro. Se ouvirmos tam-
bém essas vozes, depois de um certo
tempo ficam límpidas e claras. Pois a
grande canção só se realiza depois que
cada uma das vozes for ouvida. Ou fa-
lando mais exato, só depois de ouvirmos
cada uma das vozes, também aquela que
parece destoar, a canção toda se realiza
para nós e se realiza em nós mesmos.
Se abrirmos nossos olhos no silêncio e
olharmos e ouvirmos ao que está ao nos-
so redor, os animais e as árvores e tam-
bém a menor flor singela. Entretanto, sem
ruídos na plenitude do silêncio.
Sim, o grande silêncio é poderoso e alto
à sua maneira. Algumas vezes dizemos
que Deus se recolheu e nós falamos en-
tão do silêncio divino. Uma palavra pode
soar de forma mais poderosa do que esse
silêncio? E, algumas vezes, entre os se-
res humanos o silêncio não é a resposta
mais clara, mais sublime, a mais válida?
Podemos vencer o silêncio, mas apenas
por um tempo. Ele espera por nós, algu-
mas vezes, por longo tempo. Não pode-
mos escapar dele por muito tempo.
O Futuro
As constelações
familiares
espirituais
O que no início das
Constelações Familiares se
apresentou como algo bem
simples, está alcançando,
nesse ínterim, uma
dimensão que nos desafia
de uma forma que, no
início, ainda não tinha
sido possível prever. É uma
dimensão espiritual que se
impõe, algumas vezes,
com uma força que
pressiona para os
bastidores a abordagem
anterior das Constelações
Familiares,
ultrapassando-a.
Isso provoca medo em algumas pesso-
as. Elas prefeririam se ater aos primórdios
das Constelações Familiares, por assim
dizer, neutralizar essa nova dimensão,
unindo as constelações familiares a ou-
tros métodos e em parte também subor-
dinando-as.
O primeiro choque para muitos foi que
nas constelações familiares espirituais,na
maioria dos casos, não era necessário uma
constelação no sentido habitual e sim, que
a constelação habitual algumas vezes blo-
queava o caminho para uma solução pro-
funda.
Os primórdios das
constelações familiares
Estou falando aqui das constelações fa-
miliares onde o cliente escolhia, dentro
de um grupo, representantes para os
membros de sua família e os colocava
uns em relação aos outros num espaço.
Depois se perguntava aos representan-
tes como se sentiam no seu lugar. De
suas respostas surgiam indicações para o
que ainda deveria ser modificado na cons-
telação ou se alguém ainda tinha que ser
acrescentado.
Dessas constelações resultaram as pro-
fundas compreensões das ordens do amor
dentro das relações humanas. Essas com-
preensões foram um avanço. Elas abri-
ram, em muitos níveis, novas possibili-
dades de solução e de ajuda, que antes
eram inacessíveis.
30
A consciência
A compreensão decisiva, porém, a ver-
dadeira, a compreensão que revirou tudo,
não veio das constelações familiares.
Contudo, ela indicou uma direção às cons-
telações familiares, para a qual foram se
desenvolvendo cada vez mais e cujo fi-
nal ainda não pode ser previsto. Essa
compreensão foi uma compreensão es-
piritual. Ela me foi presenteada em um
caminho do conhecimento espiritual. É a
compreensão de como a nossa consci-
ência atua. Não apenas a nossa consci-
ência que sentimos como uma consciên-
cia boa ou má. Foi, principalmente, a
compreensão de uma consciência, que
nos é amplamente inconsciente, que se-
gue outras leis diferentes da nossa cons-
ciência consciente.
O campo espiritual
Somente esta compreensão abriu a por-
ta para este campo espiritual, que liga
todos os membros de uma família de uma
forma que deixa cada um se tornar o
destino do outro. A família é sentida aqui
num sentido amplo que inclui também
aqueles que atuam com seus destinos nos
parentes consagüíneos.
Este campo espiritual, se for deixado a si
mesmo, resiste a transformações. Dessa
forma, por exemplo, o que não ficou
solucionado em uma geração, será repe-
tido de uma forma semelhante na gera-
ção seguinte. Pois o não solucionado liga
os membros familiares uns aos outros,
dando-lhes com isso segurança, a segu-
rança da pertinência.
O que é isso, isso que sustenta e segura
esse campo espiritual e causa a repeti-
ção do não solucionado? É a consciência.
Os movimentos
da alma
Contudo, através de uma nova forma das
constelações familiares foi revelada uma
outra dimensão desse campo espiritual
como algo que atua. Ela interrompe a re-
petição do não solucionado e abre cami-
nhos de solução para além da consciência.
O procedimento foi muito simples. Ao
invés de constelar uma família no senti-
do habitual, foram posicionadas somen-
te uma ou duas pessoas. Primeiro, ou o
cliente sozinho ou ainda uma outra pes-
soa, com a qual estava em conflito, que
ele, por exemplo, rejeitara. De repente
foram apanhados por um movimento
sem que pudessem resistir a ele. Esse
movimento sempre seguia na mesma
direção. Ele unia o que antes estava se-
parado. Portanto, no final, sempre era um
movimento de amor.
O decisivo nisso foi que não havia mais a
necessidade de quase nenhuma condu-
ção de fora. A alma procurava e encon-
trava a solução por si mesma, quando lhe
deixávamos seu espaço e seu tempo,
freqüentemente de uma forma totalmen-
te imprevisível, freqüentemente também
para além das habituais ordens do amor.
Contudo, somente quando o condutor da
constelação estava em sintonia com essa
dimensão da alma e se deixava levar por
ela. Como? Quando ele também, ultra-
passando os limites da consciência dei-
xava encontrar dentro de si com amor o
que estava separado.
Primeiro eu denominei essa forma da
constelação familiar “movimentos da
alma”. Também pensei que vinham de
um campo espiritual que liga os mem-
bros familiares uns aos outros de forma
fatal. Mas depois de um certo tempo se
mostrou que aqui atua uma dimensão
espiritual, para além do campo anímico
da consciência. Elas já eram o início dos
movimentos do espírito.
Os movimentos
do espírito
Para onde os movimentos do espírito
conduzem e como nós entramos em
sintonia com eles e como atuamos es-
tando em sintonia com eles, em primei-
ro lugar experimentaremos em nós pes-
soalmente em um caminho do conheci-
mento, um caminho do conhecimento
espiritual e depois em nossas ações em
sintonia com o espírito. Nessas ações
conduzimos na medida em que o espíri-
to nos conduz.
Qual é aqui a compreensão espiritual
básica, a compreensão que leva adiante?
O movimento do espírito é um movi-
mento criativo que leva ao movimento
e conserva em movimento tudo aquilo
que se movimenta e como se movimen-
ta. Por isso todo movimento como ele é,
é desejado por esse espírito. Este espíri-
to está por trás de cada movimento como
ele é, e está dedicado a ele como é. Quem
entra em sintonia com esse movimento
só pode então entrar em sintonia com
ele e permanecer em sintonia com ele,
se ele também estiver dedicado e per-
manecer dedicado também a todos da
mesma forma como é. Principalmente se
permancer dedicado a todos os seres
humanos como eles são, também a sua
família, também a seu destino, também
a sua culpa.
Aqui se torna visível aquilo que no final
significa para nós e para as constelações
familiares se seguirmos os movimentos
desse espírito ou, falando mais exatamen-
te, se esses movimentos nos impulsio-
narem e se nós entrarmos em sintonia
com eles.
O futuro das
constelações
familiares
Podemos voltar novamente atrás, anteri-
ormente a essas compreensões? Somen-
te pagando um preço alto. Qual é esse
preço? Nós voltamos à esfera da consci-
ência e em um movimento contra o amor.
Eu me coloquei nesse caminho do espí-
rito, pessoalmente e no meu trabalho. O
que isso significa para as constelações
familiares, tenho mostrado desde há al-
gum tempo em todos os cursos que ofe-
reço, principalmente, pela primeira vez,
nos cursos de treinamento. Eu descrevo
este caminho também em meus livros,
sobretudo os últimos. Nos DVDs, por
exemplo em: Aprendendo com Bert
Hellinger, um curso de treinamento em
Salzburg, 5 DVDs, e em áudio no CD,
por exemplo, em Viagens Interiores: O
caminho, 8 CDs.
Este caminho leva a um outro futuro das
constelações familiares, as constelações
familiares espirituais.
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	Constelação Familiar 01
	Constelação Familiar 02
	Constelação Familiar 03
	Constelação Familiar 04

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