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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PIRACICABA ANA CAROLINA CHAGAS PINATO BALABEM QUALIDADE DE VIDA DOS PROFISSIONAIS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA Piracicaba 2020 2 ANA CAROLINA CHAGAS PINATO BALABEM QUALIDADE DE VIDA DOS PROFISSIONAIS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA Dissertação de Mestrado Profissional apresentada à Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Universidade Estadual de Campinas, como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Mestra em Gestão e Saúde Coletiva. Orientador: Prof. Dr. Luiz Renato Paranhos Piracicaba 2020 Este exemplar corresponde à versão final da dissertação defendida pela aluna Ana Carolina Chagas Pinato Balabem e orientada pelo Prof. Dr. Luiz Renato Paranhos 3 4 5 DEDICATÓRIA A Deus, por estar sempre presente em minha vida. Obrigado por ser a minha força nos momentos de fraqueza, o meu guia nos momentos de desespero e minha luz nos momentos de alegria. Aos meus queridos pais Cesar e Angela, que doaram a maior parte das suas vidas pelo meu bem- estar, pela minha felicidade e pela minha educação, sempre com muito amor e muita dedicação. Meu sonho é me tornar metade do que vocês são. Ao meu irmão Cesar Filho, que sempre se orgulhou, me influenciou e incentivou a buscar melhores oportunidades. Ao Bruno e sua família, que sempre se importaram com a minha felicidade e sempre me deram forças para lutar pelos meus sonhos. 6 AGRADECIMENTOS À Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, na pessoa do Excelentíssimo Reitor Prof. Dr. Marcelo Knobel. À Faculdade de Odontologia de Piracicaba, na pessoa do Senhor Diretor, Prof. Dr. Francisco Haiter Neto e ao Vice-Diretor Prof. Dr. Flávio Henrique Baggio Aguiar, pela oportunidade de aprendizagem que me foi dada, desde à graduação. Ao meu orientador, Prof. Dr. Luiz Renato Paranhos, exemplo de pessoa e profissional. Sempre muito atencioso e dedicado. Soube me compreender nos momentos de insegurança, me apoiar nos momentos em que eu precisava de apoio e me corrigir nos momentos em que cometi erros. Muito obrigada pela oportunidade de trabalhar com você. À Profª. Luciane Miranda Guerra e Brunna Verna de Castro Gondinho pelo apoio e por toda sabedoria que me transmitiram. Aos demais Professores do Mestrado Profissional por terem se dedicado a transmitir informações tão valiosas. À minha família, por ter me ajudado em todos os momentos de aflição e por ter divido comigo os momentos de alegria. À toda Equipe da Unidade de Saúde da Família São Francisco, em especial à Taliane, uma amiga que fez parte do meu dia-a-dia e de todo meu processo de aprendizagem, com quem dividi segredos da vida e que levarei para toda vida. 7 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1. Fluxograma do processo de busca e seleção de literatura, adaptado da declaração PRISMA. 23 Figura 2. Escores de qualidade de vida reportados pelos estudos elegíveis com base no questionário WHOQOL-bref. 28 Figura 3. Escores de qualidade de vida reportados pelos estudos elegíveis com base no questionário WHOQOL-100. 28 8 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Estratégia para pesquisa no banco de dados 19 Tabela 2. Resumo das principais características dos estudos elegíveis 24 Tabela 3. Risco de viés avaliado por meio da Ferramenta para Avaliação Crítica da Joanna Briggs Institute para Revisões Sistemáticas, versão para estudos transversais 25 Tabela 4. Sumário dos principais resultados dos estudos elegíveis incluídos na análise complementar 26 9 RESUMO O objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão sistemática da literatura para identificar o escore geral e as dimensões mais afetadas da qualidade de vida entre trabalhadores da Estratégia Saúde da Família. Dez bases de dados foram utilizadas como fontes primárias de estudo, sendo elas: PubMed (incluindo MedLine), Scopus, Embase, SciELO, Web of Science, Literatura Latino-Americana e do Caribe de Ciências da Saúde (LILACS) e Science Direct. OpenThesis, OpenGrey e OATD (Open Access Theses and Dissertations). Foram utilizados somente estudos transversais desenvolvidos no Brasil, que apresentavam questionário de qualidade de vida aplicado à profissionais da Atenção Primária em Saúde. Dois avaliadores, de maneira independente, realizaram a seleção dos estudos elegíveis, a coleta de dados e a avaliação do risco de viés, através da ferramenta “The Joanna Briggs Institute Critical Appraisal tools for use in JBI Systematic Reviews”, para estudos observacionais transversais. Foi realizado o cálculo das médias ponderadas pelo tamanho amostral dos escores reportados por cada estudo com a finalidade de obter uma estimativa geral do nível de qualidade de vida. Além disso, foi possível realizar uma análise estatística complementar, a partir da coleta de média e desvio padrão dos resultados obtidos pelos questionários WHOQOL-1OO e WHOQOL-bref. A busca inicial apresentou 1744 resultados, dos quais oito foram incluídos na análise qualitativa, sendo eles publicados entre 2007 e 2018. O número de questionários respondidos nos oito estudos foi de 1358 e a idade média dos participantes variou entre 28 e 33 anos. A maioria dos profissionais pertencia à categoria de agentes comunitários de saúde, entretanto, haviam também médicos e enfermeiros. Todos os estudos apresentaram baixo risco de viés. A análise estatística com cinco estudos mostrou que o item que mais influenciou a qualidade de vida dos agentes comunitários de saúde foi o fator ambiental (56,12 ± 2,33), enquanto dos profissionais de níveis superior (médicos e enfermeiros) foi a saúde física (14,29 ± 0,21). Este trabalho permitiu concluir que profissionais que atuam na Estratégia de Saúde da Família apresentam dimensões de qualidade de vida afetadas de maneiras distintas, de acordo com a sua categoria profissional. Palavras-Chave: Atenção Primária à Saúde. Qualidade de Vida. Saúde da Família. Saúde do trabalhador. 10 ABSTRACT The purpose of this work was to a systematic literature review to identify the general score and the dimensions most affected by quality of life among Family Health Strategy workers. Ten databases were used as primary sources of study, they are: PubMed (including MedLine), Scopus, Embase, SciELO, Web of Science, Latin American Literature and Caribbean Health Sciences (LILACS) and Science Direct. OpenThesis, OpenGrey e OATD (Open Access Theses and Dissertations). Only cross-sectional studies developed in Brazil were used, which presented a quality of life questionnaire applied to Primary Health Care professionals. Two evaluators, independently, performed the selection of eligible studies, the data collection and the assessment of the risk of bias, through the tool “The Joanna Briggs Institute Critical Appraisal tools for use in JBI Systematic Reviews”, for cross- sectional observational studies. The calculation of weighted averages was performed by the sample size of reported scores for each study in order to obtain a general estimate of the quality of life. In addition, it was possible to perform a complementary statistical analysis, from the average and standard deviation collectionof the results obtained by the questionnaires WHOQOL-1OO and WHOQOL-bref. The initial search showed 1744 results, of which eight were included in the qualitative analysis, being published between 2007 and 2018. The number of questionnaires answered in the eight studies was 1358 and the average age of the participants ranged between 28 and 33 years. Most professionals belonged to the category of community health workers, however, there were also doctors and nurses. All studies had a low risk of bias. The statistical analysis with five studies showed that the item that most influenced the quality of life of community health agents was the environmental factor (56,12 ± 2,33), while higher-level professionals (doctors and nurses) were physical health (14,29 ± 0,21). This work concluded that professionals working in the Family Health Strategy have dimensions of quality of life affected in different ways, according to their professional category. Keywords: Primary Health Care. Quality of Life. Family Health. Occupational Health. 11 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 12 2. ARTIGO - Qualidade de vida dos profissionais da Estratégia de 16 Saúde da Família: uma revisão sistemática. 3. CONCLUSÃO 36 REFERÊNCIAS 37 ANEXOS Anexo 1 – APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA 40 Anexo 2 – CONFIRMAÇÃO DE SUBMISSÃO À REVISTA 41 PANAMERICANA DE SAÚDE PÚBLICA Anexo 3 – RELATÓRIO DE ORIGINALIDADE 42 12 1 INTRODUÇÃO Comumente, a “Atenção Primária em saúde” (APS) é entendida como um tipo de organização dos modelos de atenção, cujo objetivo é o fornecimento de serviços ambulatoriais, de baixa complexidade e, portanto, não especializados, realizados em unidades de saúde. Além disso, é conhecida pela resolutividade da maioria dos problemas de saúde da população (Lavras, 2011). Trata-se do nível onde a população adentra ao sistema a fim de sanar as suas necessidades de saúde e onde é oferecido um atendimento integral sobre todas as condições. No caso de condições incomuns ou raras, é papel da atenção primária coordenar e integrar a atenção fornecida em outros níveis. A APS pode ser entendida como a base do modelo de atenção em saúde, onde são abordados os problemas mais comuns apresentados por uma comunidade. Seu foco está na prevenção e no atendimento à comunidade, contrariando o modelo flexeneriano, mas não deixando de lado a cura e a reabilitação. Ela é a responsável por intervir sobre os determinantes sociais em saúde, que influenciam diretamente o curso da doença e a resposta do indivíduo aos seus problemas de saúde (Starfield, 2004). Historicamente, a idéia de atenção primaria em saúde teve seu início no ano de 1920, através do Relatório Dawson, elaborado no Reino Unido, cujo objetivo era contrapor-se ao modelo flexeneriano, biológico, individualizado e curativo, que se espalhou pelo mundo e fortaleceu a fragmentação do conhecimento. Através desse relatório, deu-se ênfase aos conceitos de regionalização e integralidade, tornando as ações curativas e preventivas indissociáveis (Lampert, 2014). Os serviços domiciliares de um dado distrito devem estar baseados num Centro de Saúde Primária – uma instituição equipada para serviços de medicina curativa e preventiva para ser conduzida por clínicos gerais daquele distrito, em conjunto com um serviço de enfermagem eficiente e com o apoio de consultores e especialistas visitantes. Os Centros de Saúde Primários variam em seu tamanho e complexidade de acordo com as necessidades locais, e com sua localização na cidade ou no país. Mas, a maior parte deles são formados por clínicos gerais dos seus distritos, bem como os pacientes pertencem aos serviços chefiados por médicos de sua própria região. (Ministry of Health, 1920) A regionalização (organização dos serviços de maneira a atender diversas regiões buscando identificar as suas necessidades) e a integralidade (cujo objetivo é fortalecer a união entre prevenção e cura) da atenção básica em saúde foram definidas e incorporadas no sistemas de saúde de todo o mundo a partir da influência da concepção elaborada pelo governo inglês, destacada acima. 13 No Brasil, podemos citar várias tentativas de se organizar a atenção primária em saúde, desde o ano de 1920, com a criação dos Centros de Saúde Escola. Desde então, foram implantados vários modelos, que se diferenciavam de uma região para a outra, de acordo com interesses e concepções de cada uma. O marco da participação dos municípios no desenvolvimento da APS aconteceu na década de 1970, após o Movimento da Reforma Sanitária, e aos poucos foi se expandindo. Em 1988 foi implementado o Sistema Único de Saúde (SUS) e, somente após a municipalização deste sistema, em 1990, é que a APS passou a ser fortalecida e incentivada pelo Ministério da Saúde, através de normatizações e financiamentos (Lavras, 2011). Em 1994, tem-se início o Programa de Saúde da Família (PSF), cujo objetivo era ampliar o acesso em áreas mais vulneráveis. Em 1999, passa a ser visto pelo Ministério da Saúde como uma estratégia para reorientar o modelo assistencial e reorganizar os serviços e ações de saúde (Souza, 2002). O PSF segue os princípios do Sistema Único de Saúde e tem intima relação com os princípios da APS definidos por Starfield (2004), como: primeiro acesso, longitudinalidade, cuidado integral, coordenação e orientação à família e à comunidade. O PSF funciona com uma equipe de saúde da família, composto por profissionais de áreas distintas, sendo alguns deles: médico generalista, enfermeiro, auxiliar de enfermagem e agente comunitário de saúde. Todos esses profissionais atuam em um território específico, com adscrição da clientela, cadastramento e acompanhamento dos indivíduos pertencentes àquela área. Seguindo os princípios da APS, a unidade de saúde da família deve ser a porta de entrada do sistema de saúde, o primeiro nível de atenção, onde a maioria dos problemas deve ser sanados e o responsável por promover a integração entre os níveis mais complexos. Cada equipe é responsável por aproximadamente 4500 habitantes (limite máximo). Seu papel é conhecer cada um dos indivíduos, identificar os seus problemas de saúde e os determinantes sociais que os influenciam, elaborar estratégias para enfrentar situações que influenciam o processo saúde/doença, desenvolver atividades educativas relacionadas com os problemas mais comuns e cuidar de maneira integral das famílias sob sua responsabilidade (Viana, 1998). O trabalho executado por esses profissionais requer habilidades e competências distintas, pois envolve práticas inovadores no que diz respeito ao cuidado em comunidade, resultando em uma rotina bastante complexa (Junqueira, 2012). Pode-se presumir, portanto, que a forma de trabalho exerce influência tanto sobre a qualidade de vida dos profissionais, quanto sobre a qualidade do serviço prestado por eles (Cardoso, 2015; Kimura e Carandina, 14 2009). Sendo assim, uma organização adequada do sistema é necessária para a manutenção da qualidade de vida dos profissionais de Saúde da Família (Fernandes et al., 2010). A definição do termo “Qualidade de Vida” não apresenta um consenso em relação ao seu conceito. Trata-se de um termo bastante complexo e amplo que pode apresentar-se de duas maneiras distintas. Uma delas é a forma global, dando ênfase à satisfação com a vida sem abordar suas subdivisões. E a outra é a sua divisão em fatores/áreas/dimensões que, ao se somarem, se aproximariam do conceito global.O que define o tipo de abordagem que o conceito de “Qualidade de Vida” terá são os objetivos de cada trabalho, a área de investigação e as possibilidades de avaliação (Pereira et al., 2012). Os conceitos de qualidade de vida mais aceitos nos dias de hoje tentam englobar todos, ou a maioria das subdivisões discutidas nas abordagens globais. O principal deles é aquele em que a qualidade de vida está diretamente ligada à percepção que as pessoas tem de que seus objetivos estão sendo alcançados ou que não estão tendo oportunidades para chegar à felicidade e a auto-realização, independente da sua saúde ou condições de vida, definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 1998). “Qualidade de vida” e “Qualidade de Vida no Trabalho” são conceitos complementares. Distintos, porém complementares. Enquanto a qualidade de vida está relacionada ao bem-estar físico, psíquico e espiritual de uma pessoa em seu contexto social, a qualidade de vida no trabalho está ligada às condições favoráveis de trabalho, bons relacionamentos e bem-estar dentro ou fora do ambiente laboral. O trabalho diz respeito à uma parte da vida dos indivíduos e esses, por sua vez, são essenciais na composição da força de trabalho de uma empresa. Podemos fazer uso de algumas subdivisões de qualidade de vida no trabalho para nos aproximarmos de um possível estado geral de bem-estar (Royuela et al., 2008). São elas: valor intrínseco do trabalho, desenvolvimento de competências e habilidades para a carreira, igualdade de gênero, saúde e segurança, inclusão e acesso ao mercado de trabalho, organização do trabalho e equilíbrio trabalho-vida privada, diálogo social e envolvimento dos funcionários, diversidade e não discriminação e desempenho global (Vilas Boas e Morin, 2014) Existe uma série de instrumentos para avaliação da qualidade de vida, não havendo um à frente dos outros (Farquhar, 1995). A literatura médica, desde década de 30, já apresentava estudos e instrumentos para tal avaliação. Um ponto a ser destacado é a importância de se levar em consideração a perspectiva da população a ser questionada e não apenas a interpretação de um observador (Seidl e Zannon, 2004). Os instrumentos utilizados para avaliação da qualidade de vida dos indivíduos podem variar segundo os objetivos do estudo. O instrumento WHOQOL (World Health 15 Organization Quality of Life), por exemplo, avalia a qualidade de vida geral e representa uma tentativa de padronização das medidas, permitindo alinhamento entre outros estudos (Pereira et al., 2012). O instrumento denominado WHOQOL foi desenvolvido pelo Organização Mundial da Saúde (OMS), a partir do momento em que constataram a falta de um instrumento com enfoque transcultural. Seu desenvolvimento teve início após a criação de grupo de qualidade de vida, denominado Grupo WHOQOL. Inicialmente o instrumento era composto por cem questões (WHOQOL-100), entretanto, a necessidade de um instrumento reduzido para ser usado em extensos estudos epidemiológicos fez com que a versão WHOQOL-Bref, com vinte e seis questões, fosse desenvolvida (Fleck, 2000). As características de cada instrumento também foram descritas no artigo de Fleck (2000). O instrumento WHOQOL-100 é composto por cem questões, referentes aos domínios físico, psicológico, nível de independência, espiritualidade, relações sociais e meio ambiente. Cada um desses domínios apresenta subdivisões, totalizando vinte e quatro e, em cada uma dessas subdivisões encontramos quatro perguntas. Além disso, temos uma 25º subdivisão referente à qualidade de vida geral. Em relação às respostas, elas são dadas através de quatro tipos de escalas, sendo elas: intensidade, capacidade, frequência e avaliação, a variar com o conteúdo da pergunta. Conforme elaborado pelo The WHOQOL Group (1998), o instrumento WHOQOL-Bref apresenta apenas vinte e seis questões, duas sobre qualidade de vida e as demais relacionadas a cada uma das vinte e quatro subdivisões do instrumento original. Nesse caso, cada subdivisão é avaliada apenas por uma pergunta. Por fim, tem-se o questionário de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) de Walton que, por ser o mais completo, ainda é o mais utilizado, mesmo após quatro décadas de seu desenvolvimento (Silva et. al., 2010). Esse instrumento é composto por oito domínios, sendo eles: compensação justa e adequada, uso e desenvolvimento de capacidades, condições de trabalho, oportunidade de crescimento e segurança, integração social na organização, constitucionalismo, o trabalho e o espaço total de vida e relevância social do trabalho na vida (Walton, 1973). Além disso, assim como no questionário WHOQOL, possuí para cada um dos domínios, as suas subdivisões. Walton não foi o responsável pelo desenvolvimento do instrumento de avaliação, apresentando apenas um modelo teórico, que mais tarde foi transformado por outros autores em instrumentos distintos presentes hoje na literatura (Silva et al., 2010). O instrumento de QVT mais utilizado é aquele elaborado por Fernandes (1996). Após reunir todos esses conhecimentos básicos, partimos para a execução da revisão sistemática, cujo objetivo foi identificar o escore geral e as dimensões afetadas da qualidade de vida entre trabalhadores da Estratégia Saúde da Família. 16 2 ARTIGO Qualidade de vida dos profissionais da atenção primária em saúde: Uma revisão sistemática Quality of life of primary health care professionals: A systematic review Submetido à Revista Panamericana de Saúde Pública (Anexo 2) RESUMO Objetivo: realizar uma revisão sistemática da literatura para identificar o escore geral e as dimensões mais afetadas da qualidade de vida entre trabalhadores da Estratégia Saúde da Família. Métodos: A revisão seguiu o protocolo PRIMA e foi registrada no banco de dados do PROSPERO. Dez bases de dados foram utilizadas, incluindo parte da “Literatura cinzenta”. Dois avaliadores, de maneira independente, realizaram a seleção dos estudos elegíveis, a coleta de dados e a avaliação do risco de vieses. A busca inicial apresentou 1744 resultados, dos quais oito foram incluídos na análise qualitativa, sendo eles publicados entre 2007 e 2018. Resultados: A amostra total foi de 1358 questionários respondidos. Todos os estudos apresentaram baixo risco de viés. Com cinco estudos foi possível realizar uma análise estatística complementar, a partir da coleta de média e desvio padrão dos resultados obtidos pelos questionários WHOQOL-1OO e WHOQOL-bref. A análise mostrou que o item que mais influenciou a qualidade de vida dos agentes comunitários de saúde foi o fator ambiental (56,12 ± 2,33), enquanto dos profissionais de níveis superior foi a saúde física (14,29 ± 0,21). Conclusão: profissionais que atuam na Estratégia de Saúde da Família apresentam dimensões de qualidade de vida afetadas de maneiras distintas, de acordo com a sua categoria profissional. Palavras-chave: Saúde da família. Saúde do trabalhador. Atenção primária. INTRODUÇÃO O Brasil tem enfrentado ao longo das últimas décadas o desafio de mudança no modelo de atenção em saúde pública, migrando do modelo flexeneriano, com centralidade nos procedimentos e na atenção especializada, para um modelo de atenção integral e pautado na compreensão dos determinantes sociais da saúde (1,2). Um dos pontos essenciais dessa 17 mudança está no fortalecimento da Atenção Primária em Saúde, que tem como sua principal estratégia operacional o modelo de Saúde da Família (3-5). Por meio dessa estratégia, foi possível realizar a ampliação do acesso a serviços de saúde e a implementação de ações visando o cuidado integral à saúde (6,7). O trabalho na Saúde da Família exige diversas habilidades e competências para o desenvolvimento de práticas inovadoras de cuidado em comunidade, o que torna o trabalho complexo e desafiador (8). Nesse sentido, é importante compreenderque a organização do trabalho exerce influência tanto sobre a qualidade de vida das pessoas, quanto sobre o serviço prestado, sendo importante objeto de investigação (9,10). Sendo assim, para uma adequada prestação de serviços, é necessária a manutenção da qualidade de vida dos profissionais de Saúde da Família (11). A qualidade de vida no trabalho, bem como a motivação do indivíduo, está diretamente ligada à satisfação e ao bem-estar dos funcionários. A insatisfação de uma equipe implica em prejuízos para a evolução e produtividade da instituição (12). Apesar da literatura atual, em especial a literatura nacional, apresentar estudos sobre a qualidade de vida dos trabalhadores atuantes na Saúde da Família, não existem trabalhos de evidenciação cientifica da literatura que relacionem o bem-estar desses profissionais a este modelo de trabalho (13), e que possibilitem a promoção de ações direcionadas a qualidade de vida desses trabalhadores. Desta maneira, o objetivo da presente revisão de literatura foi identificar o escore geral e as dimensões afetadas da qualidade de vida entre trabalhadores da Estratégia Saúde da Família. Tem-se como hipótese deste trabalho o fato de que a qualidade de vida dos trabalhadores da estratégia de saúde da família, independente da profissão, é influenciada pelo trabalho exercido por eles, principalmente na dimensão psicológica. MÉTODOS Protocolo e Registro Essa revisão sistemática foi realizada de acordo com a lista de recomendações do PRISMA (Itens de Relatórios Preferenciais para Revisões Sistemáticas e Meta-Análises) (14) e as diretrizes da Cochrane (15). O protocolo de revisão sistemática foi registrado no banco de dados do PROSPERO sob o número CRD42019123243. 18 Desenho do estudo e critérios de elegibilidade O presente estudo tem como finalidade responder à seguinte pergunta de pesquisa: “Quais são as dimensões da qualidade de vida mais afetadas nos profissionais que exercem sua função na Estratégia de Saúde da Família?”. Essa pergunta foi construída baseada no acrômio PVO, onde P diz respeito à população incluída no estudo (profissionais de saúde atuantes na Estratégia de Saúde da Família), V diz respeito à variável (qualidade de vida desses profissionais) e O está relacionada ao desfecho (quais as dimensões da qualidade de vida são afetadas, positiva ou negativamente). Critérios de inclusão: foram avaliados apenas estudos observacionais transversais, desenvolvidos no Brasil, com questionários de qualidade de vida aplicados à profissionais que atuam na Atenção Primária em Saúde, sem restrição quanto ao ano e idioma Os critérios de exclusão foram: 1) Estudos não relacionados ao tema; 2) Artigos de revisão, cartas ao editor, editoriais, opiniões pessoais, livros, capítulos de livros, livros didáticos, relatórios técnicos e resumos de conferências; 3) Estudos de validação de instrumento. Fontes de informação e estratégias de busca Foram utilizados como fontes primárias de estudo os bancos de dados PubMed (incluindo MedLine), Scopus, Embase, SciELO, Web of Science, Literatura Latino- Americana e do Caribe de Ciências da Saúde (LILACS) e Science Direct. OpenThesis, OpenGrey e OATD (Open Access Theses and Dissertations) foram usados para capturar parcialmente a "literatura cinzenta". Todas as etapas foram realizadas para minimizar os vieses de seleção e publicação. Os recursos MeSH (Medical Subject Headings), DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) e Emtree (Embase Subject Headings) foram usados para selecionar os descritores de busca apropriados. Os operadores booleanos "AND" e "OR" foram utilizados para aprimorar a estratégia de pesquisa por meio de várias combinações, conforme expresso na Tabela 1. A busca foi realizada em janeiro de 2019 e atualizada em agosto de 2019. Os resultados obtidos foram exportados para o software EndNote Web ™ (Thomson Reuters, Toronto, Canadá), no qual duplicatas foram removidas. Os resultados restantes foram exportados para o Microsoft Word™ 2010 (Microsoft™ Ltd, Washington, EUA), no qual as duplicatas restantes foram removidas manualmente. 19 Tabela 1. Estratégias para pesquisa no banco de dados Database Search Strategy (Janeiro, 2019) Results PubMed http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed ("Quality of Life"[All Fields] OR "Health Related Quality Of Life"[All Fields] OR "Health-Related Quality Of Life"[All Fields] OR "Life Quality"[All Fields] OR "HRQOL"[All Fields]) AND ("Family Health"[All Fields] OR "Family Health Strategy"[All Fields] OR "Primary Health Care"[All Fields]) AND ("Health Occupation"[All Fields] OR "Health Worker"[All Fields] OR "Health Profession"[All Fields] OR "Health Personnel"[All Fields] OR "Occupational Health"[All Fields]) 204 Scopus http://www.scopus.com/ (“Quality of Life” OR “Life Quality”) AND ("Family Health" OR "Family Health Strategy" OR "Primary Health Care") AND (“Health Occupation” OR “Health Worker” OR “Health Profession” OR “Health Personnel” OR “Occupational Health”) 267 (“Quality of Life” OR “Health Related Quality Of Life” OR “Health-Related Quality Of Life” OR “Life Quality” OR “HRQOL”) AND ("Family Health" OR "Family Health Strategy") AND (“Health Worker” OR “Health Profession” OR “Health Personnel”) 62 LILACS http://lilacs.bvsalud.org/ (“Quality of Life”) AND ("Family Health") AND (“Health Personnel”) 39 (“Qualidade de Vida”) AND (“Saúde da Família”) AND ("Saúde do Trabalhador") 30 (“Quality of Life”) AND ("Family Health") AND (“Health Workers”) 52 SciELO http://www.scielo.org/ ("Quality of Life") AND ("Family Health") AND ("Health Personnel") 5 ("Quality of Life") AND ("Family Health") AND ("Occupational Health") 5 (“quality of life”) AND ("Family Health") AND (“health workers”) 19 Web of Science http://apps.webofknowledge.com/ ((“Quality of Life” OR “Health Related Quality Of Life” OR “Health-Related Quality Of Life” OR “Life Quality” OR “HRQOL”) AND ("Family Health" OR "Family Health Strategy" OR "Primary Health Care") AND (“Health Occupation” OR “Health Worker” OR “Health Profession” OR “Health Personnel” OR “Occupational Health”)) 14 ScienceDirect https://www.sciencedirect.com/ (“Quality of Life” OR “Life Quality” OR “HRQOL”) AND ("Family Health" OR "Family Health Strategy" OR "Primary Health Care") AND (“Health Occupation” OR “Health Worker” OR “Health Profession” OR “Health Personnel” OR “Occupational Health”) 878 Embase http://www.embase.com ('quality of life' OR 'health related quality of life' OR 'health-related quality of life' OR 'life quality' OR 'hrqol') AND ('family health' OR 'family health strategy' OR 'primary health care') AND ('health occupation' OR 'health worker' OR 'health profession' OR 'health personnel' OR 'occupational health') 112 OpenGrey http://www.opengrey.eu/ ("Quality of Life") AND ( "Family Health" OR "Primary Health Care" ) AND ( "Health Worker" OR "Health Profession" OR "Health Personnel" ) 0 ("Quality of Life") AND ("Family Health") AND ("Occupational Health") 0 OpenThesis http://www.openthesis.org/ ("Quality of Life" OR "Health Related Quality Of Life" OR "Health-Related Quality Of Life" OR "Life Quality" OR "HRQOL" ) AND ( "Family Health" OR "Family Health Strategy" ) AND ( "Health Worker" OR "Health Profession" OR "Health Personnel" ) 55 OATD https://oatd.org/ ("Quality of Life" OR "Health Related Quality Of Life" OR "Health-Related Quality Of Life" OR "Life Quality" OR "HRQOL" ) AND ( "Family Health" OR "Family Health Strategy" ) AND ( "Health Worker" OR "Health Profession" OR "Health Personnel" ) 2 TOTAL 1.744 20 Seleção dos estudos A seleção dos estudos foi realizada em três etapas. Previamente, foi realizado um exercício de calibração anterior à seleção dos estudos, no qual os revisoresdiscutiram os critérios de elegibilidade e os aplicaram em uma amostra de 20% dos registros recuperados para determinar a concordância entre examinadores. Após atingir um nível adequado de concordância (Kappa ≥ 0,81), iniciou-se a primeira etapa, no qual os revisores (ACCPB e WAV) realizaram uma análise de todos os títulos do estudo de forma independente. As divergências entre os examinadores foram discutidas com um terceiro revisor (LRP) para chegar a um consenso. Os revisores não estavam cegos para os nomes dos autores e periódicos. Títulos não relacionados ao tópico foram eliminados nesta fase. Na segunda fase, os resumos foram lidos pelos revisores (ACCPB e WAV) de maneira independente. Neste momento, os resumos que não correspondiam aos critérios de elegibilidade foram eliminados. Registros cujos títulos correspondiam aos objetivos do estudo, porém não possuíam resumos disponíveis, foram analisados integralmente na fase seguinte. Na terceira fase, os estudos preliminares elegíveis foram lidos na íntegra com o objetivo de verificar se preenchiam os critérios de elegibilidade. Quando houve discordância entre os dois revisores, um terceiro revisor (LRP) foi consultado para tomar uma decisão final. Os estudos rejeitados foram registrados separadamente deixando claros os motivos de exclusão. Coleta de dados Após a seleção, os estudos foram analisados e dois revisores (AACPB e AMH) extraíram as informações referentes à identificação do estudo (autor, ano e local do estudo), sexo dos participantes, quantidade de questionários respondidos, profissão, tipos de questionários utilizados, outras características do trabalho e resultados de média de qualidade de vida obtidos pelos questionários. A fim de assegurar a consistência entre os revisores, um exercício de calibração foi realizado com os revisores (ACCPB e AMH), nos quais as informações foram extraídas conjuntamente de um estudo elegível. Qualquer discordância entre os revisores foi resolvida por meio de discussões, e quando ambos os avaliadores discordaram, um terceiro (LRP) foi consultado para tomar uma decisão final. Risco de viés individual dos estudos O risco de viés e a qualidade individual de cada estudo incluído foi avaliado pela ferramenta “The Joanna Briggs Institute Critical Appraisal tools for use in JBI Systematic 21 Reviews” (16) para estudos observacionais transversais. Essa ferramenta indica os seguintes itens de avaliação de qualidade: Q1) Os critérios para inclusão na amostra foram claramente definidos? Q2) Os sujeitos do estudo foram descritos detalhadamente? Q3) A exposição foi medida de forma válida e confiável? Q4) Critérios objetivos e padronizados foram usados para medir a condição? Q5) Os fatores de confusão foram identificados? Q6) Estratégias para lidar com fatores de confusão foram declaradas? Q7) Os resultados foram medidos de maneira válida e confiável? Q8) A análise estatística apropriada foi usada? Dois autores (AACPB e MNO) avaliaram de maneira independente cada domínio conforme as recomendações PRISMA (14). O risco de viés foi categorizado como Alto quando o estudo alcançou até 49% de pontuação "sim", Moderado quando o estudo atingiu 50% a 69% pontuação "sim" e Baixo quando o estudo alcançou mais de 70% pontuação "sim". Síntese qualitativa e análise estatística complementar Após a identificação dos estudos elegíveis, os valores dos questionários WHOQOL-bref e WHOQOL-100 foram analisados em quatro domínios (físico, social, ambiental e psicológico), sendo coletados os valores de média e desvio padrão obtidos através dessas avaliações. Foram coletados, também, os valores dos domínios espiritual e nível de dependência, presentes apenas no questionário WHOQOL-100 para análise complementar. Os dados dos estudos individuais foram extraídos e em seguida procedeu-se à síntese dos resultados. Considerando que todos os estudos elegíveis realizaram análises descritivas para determinar os escores de qualidade de vida entre os profissionais da saúde, sem maiores comparações entre categorias profissionais, não foi possível realizar meta- análises de desfechos contínuos para estimar tamanhos de efeito de diferenças. Foi possível calcular médias ponderadas pelo tamanho amostral dos escores reportados por cada estudo com a finalidade de obter uma estimativa geral do nível de qualidade de vida. Para tanto, utilizou-se o software STATA versão 15.0. RESULTADOS Seleção dos estudos Na fase inicial de seleção dos estudos, após a exploração das dez bases de dados eletrônicas, foram encontrados 1 744 resultados, incluindo três bases de dados da “literatura cinzenta”. Em seguida, foi realizada a exclusão dos artigos duplicados, restando 1 373 artigos para a análise de títulos e resumos e, destes, 12 foram mantidos para leitura do texto 22 completo. Após a leitura do texto na íntegra, quatro artigos foram excluídos (17-20). Destaca- se dentre os excluídos o trabalho de Fernandez et al. (20), cuja exclusão ocorreu pela duplicidade de conteúdo em relação ao trabalho dos mesmos autores publicado em outro periódico (21). Oito estudos foram selecionados para análise qualitativa, mas apenas cinco seguiram para a análise complementar. Um estudo (22) diferiu dos demais quanto ao instrumento de mensuração da qualidade de vida e, por isso, não foi incorporado na etapa de análise complementar. Dois outros estudos (23,24) não apresentaram os dados de qualidade de vida na íntegra, não sendo possível incluí-los na análise complementar. A Figura 1 reproduz o processo de busca, identificação, inclusão e exclusão de artigos. 23 Figura 1 - Fluxograma do processo de busca e seleção de literatura, adaptado da declaração PRISMA. Características dos estudos elegíveis Os estudos elegíveis tiveram sua publicação entre os anos de 2007 e 2018 (21-28). A amostra total incluiu 1358 questionários respondidos trabalhadores da atenção primária em saúde. A idade média variou entre 28 e 33 anos (Tabela 2). 24 Tabela 2. Resumo das principais características dos estudos dos estudos elegíveis. Autor, ano Estado Tamanho da Amostra (Total; %F; %M) Questionários Respondidos Profissionais avaliados Questionário de qualidade de vida Outras informações coletadas Kluthcovsky et al., 2007 Paraná 169; 89,3%; 10,6% 169 Agente Comunitário de Saúde WHOQOL-bref Não informado Vasconcelos and Costa- Val, 2008 Minas Gerais 60; 96,7%; 3,3% 60 Agente Comunitário de Saúde WHOQOL-bref Dados socioeconômicos Figueiredo et al., 2009 São Paulo 42; 100%; 0% 42 Agente Comunitário de Saúde Escala de percepção sobre QVT de Walton Não informado Miranzi et al., 2010 Minas Gerais 77; 54,8%; 45,2% 73 Médicos WHOQOL-100 Questionário auxiliar Ursine et al., 2010 Paraná 77; 86,3%; 13,7% 73 Agente Comunitário de Saúde WHOQOL-bref Dados sociodemográficos Fernandez et al., 2012 Minas Gerais 113; 92,2%; 7,8% 90 Enfermeiro WHOQOL-100 Dados sociodemográficos Teles et al., 2014 Minas Gerais 797; 79,9%; 20,3% 762 Médicos, Enfermeiros, Cirurgiões- Dentistas, Técnico de Enfermagem, Técnico e Auxiliar de Saúde Bucal e Agente Comunitário de Saúde WHOQOL-bref Dados sociodemográficos e sobre o trabalho Morais et al., 2018 Minas Gerais 122; 71,9%; 28,1% 89 Médicos WHOQOL-bref Dados sociodemográficos sobre o trabalho e Questionário de Burnout Abreviações: F – Feminino; M – Masculino; WHOQOL - World Health Organization Quality of Life instrument; QVT – Qualidade de Vida no Trabalho Todos os oito trabalhos foram aprovados em seus comitês de ética e os trabalhadores assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. E em sua maioria, os participantes dos estudoseram agentes comunitários de saúde (n=557), mas também responderam o questionário enfermeiros (n=180) e médicos (n=162). As pesquisas quantitativas foram realizadas por meio de questionários. Cinco estudos utilizaram o protocolo WHOQOL-Bref (23-26,28), que é uma versão reduzida do questionário WHOQOL-100, utilizado em dois estudos (21,27). Apenas um trabalho utilizou como metodologia a Escala de QVT de Walton (22). 25 Risco individual de viés dos estudos Todos os oito estudos apresentaram baixo risco de viés. Enquanto os estudos de Kluthcovsky et al. (25), Ursine et al. (28) e Morais et al. (23) obtiveram avaliações positivas em todos os critérios avaliados. Os estudos de Vasconcelos e Costa-Val (26), Figueiredo et al. (22), Miranzi et al. (27), Fernandez et al. (21) e Teles et al. (24) obtiveram 80% de respostas positivas. A questão que foi avaliada como negativa nestes estudos foi a que trata da descrição do local de estudo e dos sujeitos de estudo (Q2), uma vez que os estudos deixaram de informar esses dados, principalmente no que diz respeito aos sujeitos de estudo. Tabela 3. Risco de viés avaliado por meio da Ferramenta para Avaliação Crítica da Joanna Briggs Institute para Revisões Sistemáticas, versão para estudos transversais (Moola et al, 2017). 1) Os critérios de inclusão na amostra foram claramente definidos?; 2) Os sujeitos do estudo e o cenário foram descritos em detalhes?; 3) A exposição foi medida de maneira válida e confiável?; 4) Foram utilizados critérios padrão objetivos para a mensuração da condição?; 5) Foram identificados fatores de confusão?; 6) As estratégias para lidar com fatores de confusão foram informadas?; 7) Os resultados foram medidos de maneira válida e confiável ?; Q8) Foi utilizada a análise estatística apropriada ?; √ - sim; -- - Não; NA: Não aplicado. Para a questão que avalia os critérios de inclusão dos participantes do estudo (Q1), foi considerado como “Sim” (critério atendido) quando os estudos fizeram a inclusão do universo dos profissionais da Saúde da Família. A questão que trata dos fatores de exposição (Q3) foi considerada “Não Aplicável”, pois esta revisão sistemática buscou identificar fatores que influenciam na qualidade de vida, mas apenas as dimensões mais afetadas. Da mesma forma, as questões que tratam sobre a identificação (Q5) e tratamento (Q6) dos fatores de confundimento foram consideradas como “Não Aplicável”, pois teriam como função identificar a validade da exposição estudada. Autor 1 2 3 4 5 6 7 8 % Sim Risco Kluthcovsky et al., 2007 √ √ NA √ NA NA √ √ 100 Baixo Vasconcelos e Costa-Val, 2008 √ -- NA √ NA NA √ √ 80 Baixo Figueiredo et al., 2009 √ -- NA √ NA NA √ √ 80 Baixo Miranzi et al., 2010 √ -- NA √ NA NA √ √ 80 Baixo Ursine et al., 2010 √ √ NA √ NA NA √ √ 100 Baixo Fernandez et al., 2012 √ -- NA √ NA NA √ √ 80 Baixo Teles et al., 2014 √ -- NA √ NA NA √ √ 80 Baixo Morais et al., 2018 √ √ NA √ NA NA √ √ 100 Baixo 26 Mensuração dos Resultados e Síntese Qualitativa O trabalho de Figueiredo et al. (22) utilizou a escala de percepção QVT de Walton, que avalia salário justo e adequado, condições de trabalho, capacidades de trabalho, oportunidades de trabalho, integração social, respeitos às leis do trabalho, espaço de trabalho na vida e relevância social (29). Os autores observaram um escore geral médio do QVT de 6,72 pontos, sendo os domínios mais afetados a compensação justa e as condições de trabalho. Os resultados da extração do escore geral de qualidade de vida e os valores obtidos para cada uma das dimensões dos questionários WHOQOL-bref e WHOQOL-100 estão apresentados na Tabela 3. Os dados trabalho de Teles et al. (24) e Morais et al. (23), apesar de utilizar esses instrumentos, não foram apresentados na Tabela 3, uma vez que os dados foram apresentados em porcentagem aferida nos domínios da qualidade de vida. O artigo de Teles et al. (24) concentrou-se em avaliar os resultados de profissionais com baixa qualidade de vida, aferiu um escore geral 6,72 e indicou que agentes comunitários de saúde tem uma moderada qualidade de vida. Morais et al. (23) observaram que médicos apresentaram qualidade de vida insatisfatória nos domínios físico, social e ambiental e um escore geral de 14,5 ± 2,2. Tabela 4. Sumário dos principais resultados dos estudos elegíveis incluídos na análise complementar. Autor, ano Qualidade de Vida Global Dimensões Resultados Principais Conclusões Kluthcovsky et al., 2007 69,6 ± 14,5 Físico 74,2 ± 13,2 As variáveis sociodemográficas e os domínios não explicam por completo a variância da qualidade de vida. Social 75,8 ± 14,2 Ambiental 54,1 ± 12,0 Psicológico 74 ± 11,4 Vasconcelos e Costa-Val, 2008 3,98 ± 0,65 Físico 82,8 ±12 O trabalho apresentou resultados negativos apenas na dimensão Ambiental. Social 77 ± 18 Psicológico 76 ± 12,7 Ambiental 59,5 ± 12,5 Miranzi et al, 2010 Não informado Físico Psicológico Nível de Dependência Social Ambiental Espiritual 14,53 ± 2,35 15,32 ± 2,34 17,16 ± 1,95 15,67 ± 2,24 14,47 ± 1,76 16,67 ± 3,23 Os piores resultados foram apresentados nos domínios Físico e Ambiental. As principais queixas dos participantes foram, precariedade de vínculo, insegurança no ambiente de trabalho, quantidade de vínculos empregatícios e salário. Ursine et al., 2010 76,7 ± 13,4 Físico 74 ± 12,3 O domínio Ambiental apresentou resultados intermediários, enquanto o outros evidenciaram resultados positivos. Social 71,5 ± 16,7 Psicológico 71,5 ± 13,6 Ambiental 58,0 ± 11,4 Fernandez et al., 2012 16,7 ± 2,2 Físico Psicológico Nível de Dependência Social 14,1 ± 1,9 15,4 ± 2,0 17,0 ± 1,6 16,2 ± 2,1 Os resultados do questionário mostraram que houve pouco ou nenhum impacto negativo sobre os domínios. 27 Ambiental Espiritual 14,2 ± 1,9 16,8 ± 2,6 Análise Estatística Complementar Apenas cinco estudos (21,25-28) apresentaram dados de média e desvio padrão suficientes para a análise complementar. Três estudos incluídos na síntese descritiva (22-24) não foram incluídos nesta etapa por utilizar: um instrumento diferente dos demais (22), outro por apresentar apenas dados referentes aos trabalhadores com baixa qualidade de vida (24) e outro por descrever os dados de forma a impossibilitar o agrupamento na análise complementar (23). A Figura 2 mostra os escores de qualidade de vida reportados pelos estudos elegíveis com base no questionário WHOQOL-Bref. Estimando-se a média ponderada pelo tamanho amostral verificou-se que o escore total de qualidade de vida no questionário WHOQOL-Bref foi de 71,74 (DP = 3,27). O domínio mais afetado correspondeu ao ambiental (média = 56,12; DP = 2,33), seguido pelo psicológico (média = 73,79; DP = 1,51), relações sociais (média = 75,00; DP = 2,03) e saúde física (média = 75,86; DP = 3,46). A Figura 3 apresenta os escores de qualidade de vida reportados pelos estudos elegíveis com base no questionário WHOQOL-100. Estimando-se a média ponderada pelo tamanho amostral observou-se que o domínio mais afetado foi o físico (média = 14,29; DP = 0,21), seguido pelo ambiental (média = 14,32; DP = 0,13), psicológico (média = 15,36; DP = 0,04), relações sociais (média = 15,92; DP = 0,31), espiritual (média = 16,74; DP = 0,06) e nível de independência (média = 17,07; DP = 0,08). 28 Figura 2 - Escores de qualidade de vida reportados pelos estudos elegíveis com base no questionário WHOQOL-Bref. Figura 3 - Escores de qualidade de vida reportados pelos estudos elegíveis com base no questionário WHOQOL-100 29 DISCUSSÃO Esta revisão sistemática teve como objetivo traçar o escore geral e as dimensões mais afetadas de qualidade de vida dos trabalhadores as Estratégia de Saúde da Família. Os estudos incluídosutilizaram principalmente os instrumentos da Organização Mundial da Saúde (WHOQoL-100 e WHOQoL-Bref). Pôde-se observar, que profissionais de nível superior e agentes comunitários de saúde são afetados diferentemente no que diz respeito aos domínios da qualidade de vida. A maioria dos estudos que utilizou o WHOQOL-bref e investigou a qualidade de vida de agentes comunitários de saúde, evidenciou a dimensão ambiental como a mais afetada. Por outro lado, os estudos que utilizaram o WHOQoL-100 que incluíram médicos e enfermeiros apontaram a dimensão física como a mais afetada. A dimensão ambiental, mais afetada entre os agentes comunitários de saúde, está ligada à liberdade, à segurança, aos recursos financeiros e ao acesso a saúde, ao amparo social, à recreação, ao transporte e à qualidade do meio ambiente (30). Estudos qualitativos de Souza e Freitas (31) e Almeida, Peres e Fonseca (32) são coerentes a esse resultado, uma vez que evidenciaram que os agentes comunitários de saúde se sentem inseguros no trabalho juntos às famílias, uma vez que estão expostos à violência urbana e sem qualquer proteção contra essa realidade presente em muitos territórios. Há também uma sensação de insegurança e incerteza quando ao emprego que contribuem para o entendimento do domínio ambiental como o mais afetado entre os agentes comunitários de saúde, observada por Souza e Freitas (31) e Figueiredo et al. (22). Nesse sentido, sugere-se que a exposição à violência seja considerada como um risco ocupacional da profissão de agente comunitário de saúde (33). Apesar dessa medida não impactar diretamente sobre a qualidade de vida, pode contribuir na retribuição pela função exercida por essa categoria profissional. Para os médicos e enfermeiros a dimensão física foi a que apresentou piores resultados. Essa dimensão refere-se à dor, ao desconforto, a qualidade do sono, a fadiga, a dependência de medicamento e a capacidade para o trabalho (30). Médicos e enfermeiros são os profissionais que atuam na Atenção Primária a Saúde que acumulam um maior número de estudos sobre o esgotamento no trabalho (35) e, quando comparados a outros profissionais da Atenção Primária à Saúde, são os que apresentam maior estresse no trabalho (36). A prevalência de esgotamento no trabalho é alta para profissionais de nível superior (35,37). Silva et al. (37) apontaram uma prevalência de 64% de exaustão e uma ineficácia para o trabalho de 32% entre enfermeiros, médicos, cirurgiões-dentistas e assistentes sociais. Lima, Farah e Teixeira (35) ao estudarem médicos, enfermeiros e cirurgiões-dentistas da Saúde da 30 Família de um município de grande porte mineiro indicaram que mais da metade dos profissionais apresentavam síndrome de Burnout. Outro fator importante para compreender a dimensão ambiental como a mais afetada entre os agentes comunitários de saúde é a renda (ou disponibilidade de recursos financeiros). O salário do agente comunitário é o menor entre os trabalhadores da Saúde da Família (33), sendo que sua renda mensal pode ser considerada próxima (33) ou abaixo (34) da realidade salarial média do brasileiro, variando de acordo com a região do país. Ao falar de possíveis estratégias que poderiam ser executadas a fim de melhorar a qualidade de vida desses profissionais, uma das possibilidades seria o aumento da média salarial, para que não haja necessidade de busca por dupla jornada de trabalho. Além disso, implementação de grupos poderiam ser realizadas a fim de conscientizar a população a respeito da nova forma de organização do modelo de atenção, cujo objetivo é realizar o acompanhamento longitudinal das famílias e assim reduzir o número exagerado de consultas diárias sem necessidade. Mudanças na forma de trabalho dos agentes comunitários de saúde durante as visitas domiciliares também poderiam ser pensadas, migrando do trabalho individual para o trabalho em duplas, com o objetivo de propiciar uma maior segurança durante suas atividades. Os artigos incluídos nessa revisão sistemática utilizaram diferentes instrumentos para aferir a qualidade de vida no trabalho, desde aqueles inespecíficos (WHOQoL-100 e WHOQoL-Bref) até um específico para o ambiente de trabalho (QVT de Walton). Com relação aos instrumentos inespecíficos incluídos nesta revisão sistemática é importante ressaltar que ambos foram elaborados pelo mesmo grupo de pesquisadores, sem o WHOQoL- Bref a versão abreviada do WHOQoL-100 (30). Os autores desses instrumentos sugerem que ambos são efetivos para avaliar a qualidade de vida dentro do conceito estipulado pela Organização Mundial de Saúde, mas que a versão abreviada seria indicada para a avaliação da rotina de trabalho em pesquisas epidemiológicas (30). A existência de muitos instrumentos reside na própria essência do conceito de qualidade de vida: polissêmico, imperfeito e dinâmico (38). O instrumento específico usado por Figueiredo et al. (22), o QVT de Walton, parte da concepção da qualidade de vida relacionada ao trabalho observada em um contexto de movimentos trabalhistas por mais segurança jurídica no trabalho, melhores condições de trabalho e adequada remuneração (29). Contudo, a criação desse conceito e, consequentemente, do instrumento esteve ligado a uma particularidade histórica e cultural de uma região, havendo constantes atualizações e novas proposições para o conceito de qualidade de vida relacionada ao trabalho (39). 31 Limitações Este estudo não está livre de limitações. A primeira refere-se à heterogeneidade observada nos estudos elegíveis, causada pelo uso de diferentes questionários utilizados para avaliar a qualidade de vida (WHOQoL- Bref, WHOQOL-100, QVT de Walton) como discutido previamente. Além disso, foram utilizadas diferentes formas de apresentação dos resultados (ora em porcentagem, ora em média e desvio padrão), o que impossibilitou a inclusão de maior número de estudos na análise complementar. Outra limitação a ser levada em consideração é o fato de os estudos serem direcionados a diferentes profissionais, de diferentes áreas da saúde, os quais apresentam particularidades profissionais e sociais. Por fim, houve diferença importante entre o número de questionários respondidos, variando de 42 a 762, que pode explicar a heterogeneidade entre os achados. Diante disso, pode-se perceber que as variáveis respostas não foram semelhantes, apresentando-se como um obstáculo para que possamos correlacioná-las. Assim, embora os resultados obtidos sejam consistentes, devem ser analisados com cuidado e são necessários mais estudos para avaliar qual o verdadeiro impacto das condições de trabalho dos profissionais da Estratégia de Saúde da Família na qualidade de vida desses profissionais. Conclusão Os domínios da qualidade de vida são afetados de formas diferentes entre os profissionais da Atenção Primária em Saúde atuantes nas equipes de Saúde da Família. Enquanto médicos e enfermeiros são mais afetados no domínio físico, agentes comunitários de saúde são afetados no domínio ambiental. Isso revela que ações em prol da qualidade de vida de profissionais da Saúde da Família não podem ser padronizadas, mas tem que considerar as particularidades de cada categoria profissional. Outro fator importante a ser destacado é a influência do território de responsabilidade da equipe de Saúde da Família sobre a qualidade de vida dos agentes comunitários de saúde. Há um paradoxo importante quando se pensa nessa relação e na promoção da qualidade de vida dessa categoria profissional, uma vez que o território é o local privilegiado de trabalho do agente comunitário de saúde, mas também o principal responsável por interferir na qualidade de vida. 32 REFERÊNCIAS 1. Scherer MDA, Marino SRA, Ramos FRS. Rupturas e resoluções no modelo de Atenção à Saúde: reflexões sobre a estratégia saúde da família combase nas categorias kuhnianas. Interface: Comunic, Saúde, Educ 2005;16(9):53-66. 2. Brasil. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. 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Social indicators research 2006;77(2):333-368. 36 3 CONCLUSÃO A qualidade de vida dos múltiplos profissionais que atuam na Estratégia de Saúda da Família é afetada de maneira distinta em cada domínio e está individualizada à cada categoria profissional.Os médicos, apesar dos atendimentos domiciliares e dinâmicas em grupo, ainda permanecem boa parte do tempo na unidade de saúde de referência realizando atendimentos clínicos dentro de seus consultórios. Essa categoria apresentou como domínio mais afetado o domínio físico, relacionado à exaustão e esgotamento. Um dos fatores que podem estar relacionados a esse resultado é o número exagerado de consultas diárias, que pode ser explicada pelo fato de os pacientes ainda terem dificuldade de entender o novo modelo de atenção à saúde, integral e longitudinal e continuarem a procura de consultas frequentes para resolver problemas pontuais, contrariando os princípios e diretrizes da Estratégia de Saúde da Família. Outro fator que pode estar relacionado com esse esgotamento físico é o fato desses profissionais, em sua grande maioria, apresentarem dupla jornada de trabalho. A fim de complementar sua renda mensal, eles buscam por diferentes oportunidades, acumulando responsabilidades e funções, o que acaba contribuindo para a exaustão. Para agentes comunitários de saúde, que exercem suas funções no território de abrangência da unidade de referência, o domínio da qualidade de vida mais afetado foi o domínio ambiental. Isso pode ser facilmente entendido, já que esses profissionais estão sempre muito expostos, tanto à população, que nem sempre é receptiva ou compreensiva, quanto às situações que nela acontecem, que muitas vezes são formas de violência escancaradas, como uso e tráfico de drogas, violência doméstica, entre outras. Os agentes comunitários de saúde realizam seu trabalho, na maioria das vezes, de maneira individual, o que os faz se sentirem muito mais inseguros do que se estivessem em duplas, por exemplo. São necessárias formulação de estratégias, ligadas à remuneração, conscientização da população e modificações na forma de trabalho dos agentes comunitários de saúde, que modifiquem o processo de trabalho desses profissionais, a fim de tornar sua rotina mais prazerosa, segura, satisfatória, reconhecida e, assim, influenciar de maneira positiva a qualidade de vida dessas pessoas. 37 REFERÊNCIAS* 1. Cardoso ACM. O trabalho como determinante do processo saúde-doença. Tempo Soc. 2015;27(1):73-93. doi: 10.1590/0103-207020150110. 2. Farqhar, M. Definitions of quality of life: a taxonomy. J Adv Nurs. 1995 Sep;22(3):502-8. doi: 10.1046/j.1365-2648.1995.22030502.x. 3. Fernandes JS, Miranzi SSC, Iwamoto HM, Tavares DMS, Santos CB. 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