Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Biofísica Aplicada à Biomedicina Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Dr.ª Carolina Garrido Zinn Revisão Textual: Prof. Me. Luciano Vieira Francisco Aplicações da Biofísica nas Ciências Biomédicas • Radioatividade; • Métodos Analíticos: Princípios e Aplicações da Cromatografia, Espectrometria de Massas e Eletroforese. • Relacionar conceitos físicos às aplicações práticas das Ciências Biomédicas; • Compreender os princípios dos métodos utilizados para diagnóstico clínico, bem como daqueles utilizados em tratamentos de doenças. OBJETIVOS DE APRENDIZADO Aplicações da Biofísica nas Ciências Biomédicas Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Aplicações da Biofísica nas Ciências Biomédicas Radioatividade Conceitos e Classificações das Radiações Radiação é uma forma de energia em trânsito, emitida por uma fonte que se propaga pelo vácuo ou por um meio material, na forma de ondas eletromagnéti- cas ou partículas. A forma mais comum de radiação conhecida são os raios sola- res, mas existem equipamentos projetados pelo homem que também são capazes de emitir radiação, como o micro-ondas e o aparelho de raios X. A radiação pode ser classificada como ionizante e não ionizante, de acordo com os seus efeitos sobre os átomos da matéria sobre a qual incide, ou seja, de acordo com a capacidade de ionizar a matéria – arrancar um ou mais elétrons de um átomo. As radiações ionizantes são aquelas que ao incidirem sobre átomos, fornecem energia aos elétrons, fazendo com que esses sejam arrancados de sua ór- bita, aumentando a reatividade das substâncias. Por exemplo, se a radiação ionizar átomos do tecido humano, pode ocorrer quebra molecular. Se ocorrer ionização de uma molécula de ácido desoxirribonucleico (DNA), podem ocorrer alterações profundas, com sérias consequências, tais como mutações, morte celular e câncer. As radiações ionizantes encontram-se no extremo superior do espectro de frequ- ências, onde encontramos os raios X, os raios gama e os raios cósmicos (Figura 1). Por outro lado, as radiações não ionizantes apenas excitam os átomos, provo- cando saltos quânticos eletrônicos. Ainda que as radiações não ionizantes também tornem os átomos mais reativos, as alterações desaparecem pelo retorno ao seu estado fundamental. As radiações não ionizantes compreendem desde as ondas de rádio até as radiações ultravioleta – raios UV. Ambos os tipos de radiação promovem a desagregação molecular, produzindo radicais livres, que podem acarretar lesões celulares (OKUNO; YOSHIMURA, 2010; RODRIGUES DE OLIVEIRA, 2002). O ESPECTRO ELETROMAGNÉTICO RADIAÇÃO NÃO IONIZANTE RADIAÇÃO IONIZANTE LINHA DE ENERGIA COMPUTADOR TELEVISÃO RÁDIO BABÁ ELETRÔNICA CELULAR MEDIDOR INTELIGENTE ROTEADOR WI-FI CONTROLE REMOTO MICRO-ONDAS LUZ SOLAR BRONZEAMENTO ARTIFICIAL RAIO-X RAIOS GAMMA Figura 1 – Espectro das radiações não ionizantes e ionizantes Fonte: Adaptado de Getty Images 8 9 Partículas Radioativas A radioatividade é um fenômeno atômico que se origina no núcleo dos átomos de elementos denominados radioativos e consiste na emissão espontânea de três tipos distintos de radiação, designadas alfa, beta e gama, vejamos: • Partículas alfa (α): são emitidas espontaneamente pelo núcleo de elementos pe- sados como urânio e rádio. São compostas de 2 prótons e 2 nêutrons, com carga positiva +2 e número de massa 4. Apresentam grande poder de ionização em função de sua carga, contudo, o seu alcance é baixo, logo, possui poder de lesão baixo, pois não penetra muito na pele – cerca de 0,021 mm –, devido à baixa ve- locidade e a massa consideravelmente elevada. São facilmente barradas por folhas de papel. Em função de suas características é pouco utilizada na Medicina; • Partículas beta (β): são emitidas espontaneamente pelo núcleo de determi- nados átomos. Podem ser elétrons β–, ou pósitrons β+, com número de massa 0. Essas partículas possuem maior alcance que as partículas alfa, podendo penetrar cerca de 0,5 cm no tecido humano, causando queimaduras. Contudo, tem menor poder ionizante que as partículas alfas. Podem ser blindadas por materiais ricos em hidrogênio, como água e parafina, e por alumínio ou chum- bo. São utilizadas na saúde na braquiterapia, um tipo de radioterapia no qual o radioterápico é inserido no órgão a ser tratado ou próximo deste; • Partículas gama (γ): correspondem a um tipo de onda eletromagnética que acom- panha as partículas alfa e beta. Traçam percursos maiores do que as demais partí- culas, pois têm a velocidade da luz, não possuem carga elétrica ou massa. Podem atravessar o corpo humano e são blindadas apenas por grossas placas de chum- bo ou concreto. São utilizadas comumente na Medicina Nuclear para exames de diagnóstico com radioisótopos que emitem radiação γ, por exemplo, na tomogra- fia computadorizada por emissão de fóton único (SPECT), na cintilografia óssea (OKUNO; YOSHIMURA, 2010; RODRIGUES DE OLIVEIRA, 2002). Radioatividade: desintegração espontânea do núcleo atômico de determinados elementos com emissão de partículas ou radiação eletromagnética. Radioativo: nome dado ao átomo capaz de emitir radiação. Ex pl or Partículas Alpha α Partículas Beta β Raios Gamma γ Papel Aluminum Chumbo Figura 2 – Penetração dos diferentes tipos de partículas radioativas Fonte: Adaptado de Getty Images 9 UNIDADE Aplicações da Biofísica nas Ciências Biomédicas Efeitos Biológicos das Radiações O ser humano está constantemente em contato com radiações, seja por exposi- ção a fontes naturais de radiação, bem como a isótopos radioativos produzidos ar- tificialmente. Nos primórdios do estudo das radiações, muitos pesquisadores mor- reram na busca deste conhecimento científico; Becquerel, o casal Curie e Grubbe foram fundamentais para a descrição e melhor compreensão dos fenômenos radio- ativos. Além disso, os acidentes radioativos de Chernobyl, Hiroshima e Nagasaki auxiliaram no entendimento dos efeitos biológicos das radiações (RODRIGUES DE OLIVEIRA, 2002). Descoberta da Radioatividade, em: http://bit.ly/2Z3EopY Ex pl or Ao incidir sobre órgãos ou tecidos, um feixe de radiações pode provocar lesões em nível molecular, celular, tecidual e orgânico, dependendodo tipo e da quantida- de de radiação e sensibilidade dos diferentes tecidos à radiação. Os processos que conduzem a lesões são divididos em três fases, vejamos: 1. Física: a energia proveniente da radiação é transferida à matéria, ionizan- do ou excitando as moléculas e os átomos, gerando produtos reativos. Esta etapa ocorre rapidamente, na velocidade da partícula radioativa; 2. Química: os produtos reativos – radicais livres – agem com moléculas vizi- nhas ou entre si. Ocorre velozmente, na ordem de segundos; 3. Biológica: manifestação celular das radiolesões, ocorrendo em segundos ou até anos. A radiação pode agir diretamente sobre uma molécula – por exemplo, DNA –, lesando-a e a tornando incapaz de desenvolver o seu papel biológico. Pode ainda agir de forma indireta, sobre o local onde se encontra o DNA – por exemplo, a água do citoplasma celular (radiólise da água), formando radicais livres neste local e, consequentemente, alterando o DNA (RODRIGUES DE OLIVEIRA, 2002). Os efeitos biológicos podem ser divididos em: • Celulares: alteram a vida e função da célula. O núcleo da célula é mais danificado, pois só existe uma cópia desse, diferentemente das demais organelas celulares, tais como as mitocôndrias, que ocorrem em maior número. Pode haver aumento da permeabilidade da membrana plasmáti- ca, com liberação de enzimas, ocasionando a ruptura da célula. O rom- pimento de cadeias polipeptídicas, quebra de pontes de hidrogênio, mo- dificações de aminoácidos levam à perda de atividade biológica devido às alterações proteicas. As células com pouco citoplasma e alta taxa de multiplicação são as mais afetadas, tais como em tecidos embrionários, órgãos reprodutivos e células hematopoiéticas da medula óssea; logo, quanto maior a taxa de divisão e menor a diferenciação da célula, maior será a sua sensibilidade à radiação; 10 11 • Genéticos: as lesões no núcleo da célula podem acarretar: » Mutações gênicas: que são alterações nos nucleotídeos de certos genes, alterando as informações contidas nestes, de modo que as proteínas sinteti- zadas por esses genes serão modificadas; » Alterações cromossômicas: que são modificações do DNA de uma forma mais abrangente, tais como a perda, deleção ou duplicação de pedaços cro- mossômicos ou de cromossomos inteiros. • Somáticos: são divididos em efeitos: » Imediatos: manifestando-se em até 60 dias. Dependem do tempo de expo- sição, da dose adquirida de radiação, do tecido e da resistência do organis- mo. Por exemplo, uma dose de 1.000 Gy causa a desnaturação de todas as enzimas e proteínas do organismo, acarretando falência dos órgãos e óbito em minutos ou horas. Se a dose for de 100 Gy, o sistema nervoso será pre- judicado, levando à falta de coordenação motora, distúrbios circulatórios e respiratórios, com óbito em até 2 dias. Já doses entre 10 e 100 Gy afetam o trato gastrintestinal, produzindo sintomas tais como náuseas, vômitos e dese- quilíbrio eletrolítico. Doses abaixo de 10 Gy lesam a medula óssea, provocan- do a diminuição na produção de plaquetas, leucócitos e hemácias, podendo ocorrer hemorragias e a supressão do sistema imunológico; » Tardios: ocorrem após 60 dias de exposição. Podem estimular a carcino- gênese; o envelhecimento precoce pelo acúmulo de lesões, mecanismos de reparo incorretos e produção de radicais livres; e ter efeitos sobre a multipli- cação celular, levando à infertilidade e a problemas no desenvolvimento. Chernobyl: A História Completa, disponível em: https://youtu.be/DiGqjYkRQ6o Ex pl or Um exemplo de exposição rotineira à radiação é a exposição solar. Os raios ultravioletas emitidos pelo Sol são absorvidos pela pele, gerando o tom bronzeado que adquirimos no verão. Doses baixas e fracionadas de radiação são menos lesi- vas, pois o nosso organismo possui mecanismos de restauração do DNA. Contudo, a exposição intensa, desprotegida ao Sol pode causar envelhecimento precoce da pele e até câncer. Os protetores solares agem através de substâncias que absorvem os raios UV, impedindo a sua penetração e ação nas células da pele (OKUNO; YOSHIMURA, 2010; RODRIGUES DE OLIVEIRA, 2002). Radiação – Entenda de uma vez por todas: http://bit.ly/2YZGVkU Ex pl or Aplicações das Radiações Apesar de todos os seus efeitos negativos sobre as células, as radiações não são vilãs, quando utilizadas de forma controlada e nas doses adequadas. Desde a sua descoberta, têm sido empregadas amplamente na indústria e Medicina (OKUNO; YOSHIMURA, 2010). 11 UNIDADE Aplicações da Biofísica nas Ciências Biomédicas Aplicações na Indústria Uma das aplicações industriais mais importantes das radiações ionizantes é a esterilização de dispositivos médico-hospitalares, tais como materiais cirúrgicos, com altas doses de radiação gama – de 1 até 20 kGy. Assim, são esterilizados também algodão, suturas, gazes, band-aid dentro de suas embalagens, pois a ra- diação ionizante tem alto poder de penetração, diferentemente de outros métodos de esterilização. Desta forma, são eliminadas todas as formas de microrganismos que possam estar presentes nesses materiais, tais como vírus, bactérias, fungos e parasitas (OKUNO; YOSHIMURA, 2010). Alimentos também podem ser irradiados para evitar brotamento, tais como ba- tatas e cebolas; e para aumentar o tempo de prateleira, tal como o morango. Muitos países irradiam grãos, frutas, carnes, tubérculos e especiarias. No Brasil, alimentos irradiados devem conter essa informação em sua embalagem (OKUNO; YOSHIMURA, 2010). Raios infravermelhos, por sua vez, são utilizados no aquecimento e cozimento de alimentos no forno de micro-ondas e nos controles remotos de aparelhos eletrôni- cos (RODRIGUES DE OLIVEIRA, 2002). Aplicações na Medicina As aplicações das radiações na Medicina são realizadas em um campo gene- ricamente conhecido como radiologia que, por sua vez, compreende a radiologia diagnóstica e Medicina nuclear, auxiliando no diagnóstico por imagem. As técni- cas utilizadas na radiologia diagnóstica e Medicina nuclear permitem a obtenção de imagens do corpo, sendo que na primeira a imagem é anatômica e na segunda é funcional. Correspondem à principal fonte de radiação artificial para a qual somos expostos ao longo da vida. A radiação pode ser utilizada também como terapia para patologias, por meio da radioterapia (OKUNO; YOSHIMURA, 2010). Diagnóstico por Imagem com a Utilização de Radiação Ionizante Refere-se à obtenção de imagens com raios X, que podem ser estáticas ou di- nâmicas. Os raios X são ondas eletromagnéticas, muito similares aos raios gama, de comprimento de onda muito pequeno, produzidas quando elétrons em desloca- mentos são submetidos a uma desaceleração muito brusca, que o faz perder toda a sua energia ou uma parte significativa desta. Ao realizar raios X de tórax, por exemplo, o feixe emitido pela ampola atravessa o paciente, incidindo sobre o filme fotográfico. As regiões mais claras indicam estruturas mais densas e espessas, tais como os ossos, os quais atenuam mais a radiação que o tecido mole. A atenuação também pode indicar alterações no tecido, tais como inflamações, infecções ou a presença de nódulos benignos ou malignos. Nos raios X ocorre a superposição de órgãos, o que pode prejudicar a visualização. Para facilitar a visualização de alguns órgãos, utiliza-se contrastes que absorvem mais ou menos raios X que os tecidos vizinhos. O ar é um excelente contraste; por isso, ao realizar raios X de tórax, o 12 13 técnico pede para o indivíduo encher o pulmão de ar. Compostos de iodo são in- jetados no fluxo sanguíneo para obter imagens de artérias, enquanto compostos de bário são ingeridos para visualizar órgãos do trato gastrointestinal. Os exames de raios X são utilizados para verificar fraturas, tumores e imagens odontológicas. A blindagem contra as radiações é feita com chumbo (CARVALHO; OLIVEIRA, 2017; OKUNO; YOSHIMURA, 2010). Como funcionam os Raios X, em: https://youtu.be/hST9DRCwBto Ex pl or Tomografia ComputadorizadaA tomografia computadorizada utiliza uma ampola que emite feixes de raios X, assim como na radiografia convencional. A diferença é que essa ampola gira em tor- no do paciente, bem como os seus detectores – como se fossem várias “chapas” de raios X. Desta forma, é realizada uma varredura do local a ser examinado, com 300 a 600 exposições de ângulos diferentes do paciente. São obtidas imagens de planos de cortes sucessivos de 1 a 10 mm, como se observássemos fatias seccionadas do corpo. Com o auxílio da informática e Matemática, é possível reconstruir esses cortes de forma a montar as imagens finais (Figura 3). Com o advento do tomógrafo, por exemplo, é possível medir o tamanho de um tumor ou de artérias calibrosas como a aorta, em função da ausência de superposição de órgãos que ocorre na radiografia convencional, além de ser um método de diagnóstico por imagem com melhor reso- lução (OKUNO; YOSHIMURA, 2010; RODRIGUES DE OLIVEIRA, 2002). Figura 3 – Tomografi a computadorizada Fonte: Wikimedia Commons Nesta imagem é possível visualizar o feixe de raios X que é emitido pelo equipamento de um lado e detectado no lado oposto (a 180 graus). Ao atra- vessar o crânio do paciente, os raios X serão absorvidos e dispersos de 13 UNIDADE Aplicações da Biofísica nas Ciências Biomédicas acordo com as diferentes densidades dos tecidos. Tal processo se repete ao redor do paciente, em 360 graus. O computador, então, processa as ima- gens, reconstruindo-as. Quanto mais denso o tecido, mais branco aparece- rá; quanto menos denso, mais enegrecida será a sua imagem. Medicina Nuclear A Medicina nuclear utiliza radionuclídeos, igualmente chamados de radioisóto- pos, como fonte de radiação aberta, injetados ou administrados nos pacientes. Os radionuclídeos são chamados de traçadores e a sua passagem pelo corpo huma- no pode ser acompanhada externamente por detectores específicos. Esses elemen- tos radioativos são ligados a moléculas ou a compostos específicos, de acordo com o processo fisiológico ou patológico que deve ser investigado. Essa associação entre um radionuclídeo e um composto é denominada radiofármaco (RODRIGUES DE OLIVEIRA, 2002). Radionuclídeo: núcleo atômico instável, o qual, consequentemente, emite radiação. Ex pl or O iodo-131, na forma de iodeto de sódio, é utilizado para a obtenção de imagens da tireoide, a fim de detectar tumores, a hipofunção ou hiperfunção. O tecnécio-99 metastável, possui meia-vida de 6 horas, podendo ser ligado a diversos fármacos, sendo utilizado em uma variedade de estudos de órgãos e sistemas. O flúor-18 as- sociado a um análogo da glicose forma o Flúor-Deoxi-Glicose (FDG), empregado na tomografia por emissão de pósitron (PET) é utilizado para investigar tumores malig- nos, uma vez que estes consomem mais energia do que os tecidos sadios vizinhos, bem como para avaliação da atividade cerebral (OKUNO; YOSHIMURA, 2010). Cintilografia Utiliza radionuclídeos que apenas são captados em enfermidades específicas. O radiofármaco é administrado ao paciente. Ao atingir o local desejado, o radionu- clídeo sofre desintegrações espontâneas, gerando raios gama. Tais raios são detec- tados pela câmara gama – ou câmara de cintilação –, um aparelho capaz de captar os raios gama emitidos. Os raios atravessam o colimador de chumbo, incidem em um cintilador de tálio, produzindo raios de luz coletados por tubos fotomultiplicado- res, que serão convertidos em corrente elétrica. O computador detecta a corrente elétrica e realiza uma cartografia (RODRIGUES DE OLIVEIRA, 2002). Radioterapia Trata-se da terapia que utiliza radiação ionizante para o tratamento de tumores malignos. Baseia-se no princípio que células mais indiferenciadas, tais como as tumorais, são mais suscetíveis aos danos celulares e consequente morte – então provocados pela radiação –, do que as células sadias. Assim, irradia-se o tumor de várias direções. Quanto mais profundo o tumor, mais energética deve ser a radia- ção utilizada (MOURÃO JÚNIOR; ABRAMOV, 2017; OKUNO; YOSHIMURA, 2010; RODRIGUES DE OLIVEIRA, 2002). 14 15 Podem ser utilizadas radiações γ, X e β–. A escolha do tratamento varia de acordo com a localização do tumor. Quando os tumores são mais profundos, recomendam-se os feixes de elétrons de alta energia, tais como os resultantes do decaimento radioativo do cobalto 60. Preservam mais a pele, pois a sua dosagem superficial é com menor voltagem. Para o tratamento de tumores de pele, as radiações de menor energia são escolhidas, por afetarem com maior intensidade os tecidos mais externos. As partículas β– são as mais vantajosas, já que a sua energia é concentrada, em parte, sobre os tecidos mais superficiais, tornando essa técnica mais precisa quanto à localização do tecido tumoral e menos dependente de formação de radicais livres do oxigênio. A fonte emissora de radiação é colocada a certa distância do paciente e bombardeia um feixe de partículas exatamente sobre a área da pele adjacente ao local em que existe um processo cancerígeno (MOURÃO JÚNIOR; ABRAMOV, 2017; RODRIGUES DE OLIVEIRA, 2002). Quando a radioterapia é aplicada diretamente no tecido afetado, denomina-se braquiterapia. Neste caso, as substâncias radioativas que emitem partículas β– são injetadas diretamente sobre o câncer (MOURÃO JÚNIOR; ABRAMOV, 2017). Proteção radiológica: como as radiações não são vistas nem sentidas, precauções devem ser tomadas para limitar riscos e prevenir acidentes, especialmente para trabalhado- res da área de diagnóstico por imagem, tal como o biomédico. Deve-se permanecer o mínimo de tempo possível próximo à fonte de radiação, trabalhar a máxima distância possível da fonte de radiação e utilizar as blindagens adequadas para atenuar a radiação. Para tanto é utilizada a dosimetria, processo de medida dos níveis de radiação em um corpo ou em um local. Isto é realizado através do dosímetro, um aparelho utilizado para efetuar a dosimetria, que medirá a atividade radioativa, ou seja, o número de emissões radioativas por segundo (MOURÃO JÚNIOR; ABRAMOV, 2017). Diagnóstico por Imagem Sem Emissão de Radiação Ionizante Ultrassonografia A ultrassonografia, ou – como é popularmente conhecida – ecografia ou ultras- som, baseia-se no princípio de reflexão das ondas sonoras de alta frequência focadas em órgãos internos. É utilizada para diversos fins, tal como para a visua- lização do abdome e pelve, por exemplo, na avaliação do desenvolvimento fetal. O ultrassom não transmite radiação ionizante – por este motivo pode ser utilizado em mulheres grávidas (RODRIGUES DE OLIVEIRA, 2002). O princípio do método baseia-se em um transdutor vibratório, que tanto trans- mite quanto capta ondas sonoras de alta frequência. A imagem bidimensional é produzida a partir do padrão de reflexão e refração das ondas em diferentes teci- dos. A imagem formada depende do tempo que a onda demorou para chegar ao tecido-alvo e retornar ao transdutor, fornecendo a informação de profundidade e in- tensidade do eco captado pelo transdutor. Uma camada de gel é utilizada para me- lhorar o acoplamento do transdutor à pele (RODAS DURAN, 2003; RODRIGUES DE OLIVEIRA, 2002). 15 UNIDADE Aplicações da Biofísica nas Ciências Biomédicas O efeito Doppler ocorre quando existe um movimento relativo entre a fonte gera- dora da onda – o transdutor – e o receptor das ondas. O ultrassom emite ondas sono- ras com frequência constante, que ao incidirem sobre um objeto parado, voltam com a mesma frequência; porém, se as ondas incidirem sobre um objeto em movimento, a sua frequência de retorno será diferente: se o movimento do objeto for em direção à fonte, a frequência será maior; se o movimento do objeto for na direção contrária à fonte, a sua frequência será menor. A diferença entre as frequências obtidas permite a determinação da velocidade do objeto. Desta forma é possível avaliar a velocidade e direção do fluxo sanguíneo nos vasos, criando mapas da circulação sanguínea (RODAS DURAN, 2003; RODRIGUESDE OLIVEIRA, 2002). O ultrassom pode ser utilizado também na fisioterapia para tratamentos, pois a vibração gerada pelas ondas de alta frequência provoca calor nos tecidos profundos. Ressonância Magnética A Ressonância Nuclear Magnética (RNM) é um exame complementar de diag- nóstico por imagem que não utiliza raios X; portanto, pode ser utilizada em ges- tantes. A resolução da imagem é superior à da tomografia computadorizada. A RNM fundamenta-se na propriedade de alguns núcleos atômicos de apresentar o fenômeno de ressonância. Ressonância é a situação na qual um corpo vibra em uma frequência própria, com amplitude acentuadamente maior, como resultado de estímulos externos que apresentam a mesma frequência de vibração do corpo. Saiba mais sobre este assunto na página 118 da obra Biofísica essencial (MOURÃO JÚNIOR; ABRAMOV, 2017). Ex pl or Dessa forma, durante o exame o paciente é exposto a um campo magnético de alta intensidade, fazendo com que emita sinais de radiofrequência – ondas ele- tromagnéticas semelhantes às emitidas por uma emissora de rádio em Frequência Modulada (FM). A ressonância é particularmente evidente nos átomos de hidrogênio que compõem as moléculas de água, logo, as imagens são produzidas pelos próprios átomos de hidrogênio do paciente. A RNM é capaz de distinguir tecidos com base no teor de água que cada um possui. Os ossos, por exemplo, por conterem pouquíssima água livre, não produzem nenhuma imagem e são visualizados como manchas pretas (MOURÃO JÚNIOR; ABRAMOV, 2017; RODRIGUES DE OLIVEIRA, 2002). O campo magnético de altíssima magnitude gerado pelo aparelho de RNM é potencialmente perigoso para os pacientes que possuem implantes metálicos em seus organismos – tais como marca-passos, clipes vasculares, pinos ósseos de sustentação etc. –, uma vez que o campo magnético pode, eventualmente, causar o deslocamento de tais implantes, fazendo com que saiam do lugar (MOURÃO JÚNIOR; ABRAMOV, 2017). Ainda com a evolução tecnológica dos magnetos supercondutores utilizados para a RNM, surgiu um tipo ainda mais sofisticado de RNM, que além de estudar a morfologia das estruturas, é capaz de avaliar a sua função. Conhecida como 16 17 Ressonâ ncia Magné tica Funcional (RMF), esta técnica é realizada no mesmo apa- relho que a RNM, poré m, com a utilizaç ã o de um software adequado, tal exame é capaz de marcar á reas com metabolismo mais ativo, por meio de seu maior consu- mo de oxigê nio, fornecendo uma imagem colorida de acordo com o metabolismo do oxigênio. A RMF vem sendo utilizada nos estudos de neurofisiologia, tornando possível observar quais áreas cerebrais estão mais ativas durante a execução de uma tarefa (MOURÃO JÚNIOR; ABRAMOV, 2017). Figura 4 – Funcionamento do equipamento de ressonância nuclear magnética Fonte: Getty Images Laser: Fundamentos e Aplicações Sigla do inglês Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation, Laser nada mais é que uma onda luminosa amplificada. Trata-se de um feixe concentrado e intenso de luz coerente, de comprimento de onda na faixa visí vel. Entretanto, o laser apresenta uma energia muito maior que a luz comum, pois quando os seus fó tons atingem determinada superfí cie ocorre a soma das energias dos fó tons. Isso se dá porque a radiação emitida pelas fontes laser apresenta três caracterí sticas fundamentais: ser monocromática – fó tons com o mesmo comprimento de onda –; coerente – fó tons emitidos em concordâ ncia de fase, ou seja, propaga-se igual- mente ao longo do tempo e espaço –; e colimada – fó tons emitidos em uma mesma direção. Para produzir um raio laser é necessária uma fonte de energia – em geral, uma lâmpada de descarga – que excita átomos ou moléculas no interior de uma 17 UNIDADE Aplicações da Biofísica nas Ciências Biomédicas cavidade ressoadora, constituída por duas superfície com elevadíssimo poder de reflexão. O choque dos átomos do meio com os espelhos, através de reflexões su- cessivas, amplifica a luz e confere a esta as três características fundamentais citadas (MOURÃO JÚNIOR; ABRAMOV, 2017). Em razão de sua alta capacidade de transportar energia de maneira uniforme e intensa, o laser é bastante utilizado em procedimentos médicos, tal como para a correção de miopia, tratamento de cataratas e glaucoma, cauterização de vasos e tumores de pele, eliminação de manchas de pele, entre outras tantas aplicações, a mencionar a depilação (MOURÃO JÚNIOR; ABRAMOV, 2017; RODRIGUES DE OLIVEIRA, 2002). Métodos Analíticos: Princípios e Aplicações da Cromatografia, Espectrometria de Massas e Eletroforese Cromatografia Técnica cuja finalidade é identificar e separar substâncias presentes em uma mistu- ra, utilizando um dispositivo conhecido como cromatógrafo, no qual a mistura passa por duas fases: estacionária, fixa e constituída de um material poroso que serve como um filtro, ligado a um suporte; e móvel, que pode ser um líquido ou gás que auxilia na separação da mistura. A análise se dá através do tempo ou volume de fase móvel que cada componente percorre no sistema, gerando um gráfico de resposta medida pelo detector em função do tempo ou volume (SGUAZZARDI, 2017). Existem diferentes tipos de cromatografia, vejamos: • Cromatografia em camada delgada: utilizada para a determinação qualita- tiva de aminoácidos no sangue e na urina, fosfolipídios no líquido amniótico, rastreamento toxicológico etc.; • Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (Clae): Conhecida comumente como HPLC – do inglês, High Performance Liquid Chromatography. A fase móvel é um líquido. Utiliza pressão para obter separações mais rápidas, tem- peratura controlada, detectores em série e técnicas de gradiente de eluição. Utilizada para a determinação quantitativa de aminoácidos, Hbs, vitaminas e muitos outros compostos. A detecção e quantificação podem ser feitas por fotometria UV-visível, potenciometria – eletroquímica –, índice de refração, MS etc., dependendo do composto analisado; • Cromatografia Gasosa (GS) – do inglês gas cromatography: utilizada para separar compostos voláteis, ou que sejam facilmente convertidos em formas voláteis ou em vapor – o que limita o seu uso. Apresenta alta resolução, baixos níveis de detecção – alta sensibilidade –, exatidão e rapidez. Vários compostos 18 19 orgânicos – ácidos orgânicos – e a concentração de diversos fármacos podem ser determinados por essa técnica (BISHOP, 2010; SGUAZZARDI, 2017). DEGANI, A. L. G.; CASS, Q. B.; VIEIRA, P. C. Cromatografia um breve ensaio. Química nova na escola, v. 7, n. 1, 1998. Disponível em: https://bit.ly/2p3K2YD Ex pl or Espectrometria de Massas Após a separação de substâncias pela cromatografia gasosa, é possível iden- tificar essas substâncias se for utilizado um espectrômetro de massas como detector. Na espectrometria de massas – do inglês, Mass Spectrometry (MS) –, as substâncias separadas são bombardeadas por elétrons para que formem fragmentos e íons carregados. As partículas são, então, classificadas de acordo com a sua relação massa/carga (m/z) e contadas por um multiplicador de elé- trons (BISHOP, 2010). O software do equipamento possui bibliotecas e algoritmos computadorizados para a comparação dos espectros de massas de uma substância desconhecida com os obtidos na biblioteca de referência. O sistema de cromatografia gasosa acopla- do à espectrometria de massas (GS/MS) é amplamente utilizado na toxicologia, especialmente na confirmação de drogas ilícitas na urina, no exame antidoping (BISHOP, 2010). Podem ainda ser utilizados espectrômetros e massas em tandem (GC/MS/MS), obtidos pela adição de um segundo espectrômetro de massas ao sistema GC/MS, a fim de obter maior seletividade e para detecção de concentrações ainda mais baixas do analito (BISHOP, 2010). Eletroforese É um método de mobilização das proteínas de uma solução – como o plasma sanguíneo – através de um campo elétrico. As proteínas, na água, ionizam-se, formando grandes ânions; tendem a se aproximardo polo positivo de um campo elétrico, isto é , a força de campo – elétrica – produz a ruptura da inércia das prote- ínas no meio – ou seja, uma força que produz aceleração de uma massa. Sabemos que proteínas têm massas moleculares muito diferentes. Logo, essa força produz acelerações específicas: as proteínas mais leves se aproximam mais rapidamente do polo positivo (MOURÃO JÚNIOR; ABRAMOV, 2017). Na eletroforese em gel, a separação depende também do tamanho dos poros do gel. Para a melhor resolução de peptídeos de pesos moleculares abrangendo uma faixa maior é comum a utilização de gradiente do gel, de 5 a 20%, por exemplo. Desse modo, as proteínas grandes ficarão retidas no início da corrida e os peptí- deos pequenos migrarão até o final do gel na eletroforese (SGUAZZARDI, 2017). 19 UNIDADE Aplicações da Biofísica nas Ciências Biomédicas Figura 5 – Eletroforese de proteínas em gel Fonte: Wikimedia Commons O gel é colocado em uma cuba contendo solução tampão e um polo posi- tivo e um polo negativo. As amostras são aplicadas em cada poço do gel. Em seguida, a cuba é acoplada a um equipamento que produzirá uma cor- rente elétrica. Desta forma, as proteínas migrarão do polo negativo para o polo positivo, separando-se em bandas de acordo com a sua massa molecular. Eletroforese em gel | Biotecnologia | Biologia | Khan Academy Disponível em: https://youtu.be/B2KLuzD_suQ E xp lo r Na eletroforese capilar, utiliza-se um capilar estreito, preenchido por tampão de cor- rida, no qual se adiciona a amostra. A distância percorrida pelos analitos da amostra é a mesma, o que difere é o tempo que cada analito demora para percorrer essa dis- tância, chamado de tempo de migração. Assim, é gerado um gráfico de resposta em função do tempo, denominado eletroferograma. Uma vez que cada analito apresenta um tempo de migração característico, é possível identificar os analitos, ao passo que os picos permitem estimar a quantidade de cada um dos quais (SGUAZZARDI, 2017). Figura 6 – Eletroforese capilar. As proteínas possuem diferentes tempos de migração e os picos indicam a sua quantidade Fonte: Wikimedia Commons Assim, a eletroforese é um método útil para analisar a composição de uma solu- ção aquosa de proteínas. É amplamente utilizada na determinação de paternidade e no diagnóstico de patologias como o mieloma múltiplo e da infecção por vírus da imunodeficiência humana (HIV). 20 21 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Chernobyl: A História Completa https://youtu.be/DiGqjYkRQ6o O Incrível Efeito Doppler https://youtu.be/BDc1TcTdXZw Como acontece a cromatografia https://youtu.be/0m8bWKHmRMM Espectrometria de massa https://youtu.be/spHnG-O6wjU Leitura Aplicações da Energia Nuclear na Saúde http://bit.ly/2GkNiry Eletroforese Capilar QUEIROZ, S. C. N; JARDIM, I. C. S. F. Eletroforese Capilar. Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Química, 2001. http://bit.ly/2Gk9rGm 21 UNIDADE Aplicações da Biofísica nas Ciências Biomédicas Referências BISHOP, M. L. Química clínica: princípios, procedimentos, correlações. 5. ed. Barueri, SP: Manole, 2010. CARVALHO, R. P. de; OLIVEIRA, S. M. V. de. Aplicações da energia nuclear na saúde. São Paulo: SBPC, 2017. MOURÃO JÚNIOR, C. A.; ABRAMOV, D. M. Biofísica essencial. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. OKUNO, E.; YOSHIMURA, E. M. Física das radiações. São Paulo: Oficina de Textos, 2010. RODAS DURAN, J. E. Biofísica: fundamentos e aplicações. São Paulo: Prentice Hall, 2003. RODRIGUES DE OLIVEIRA, J. Biofísica para Ciências Biomédicas. Porto Alegre, RS: Edipuc, 2002. SGUAZZARDI, M. M. M. U. Biofísica. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2017. 22
Compartilhar