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COORDENADORA ANDRÉA MENDONÇA GUSMÃO AUTORES FABRÍCIO SOUZA SILVA PEDRO MODESTO NASCIMENTO MENEZES MATHEUS SANTOS DE SÁ FARMACOLOGIA1 COLEÇÃO MANUAIS DA FARMÁCIA CAPÍTULO 1 CAPÍTULO 2 FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL SUMÁRIO 1. Introdução.........................................................................................................................14 2. Farmacocinética ...............................................................................................................14 1. Vias de administração ...........................................................................................................................14 2. Absorção .....................................................................................................................................................16 3. Metabolismo dos fármacos ................................................................................................................18 4. Distribuição ...............................................................................................................................................19 5. Eliminação dos fármacos .....................................................................................................................22 3. Farmacodinâmica .............................................................................................................23 1. Ligação fármaco-receptor ...................................................................................................................24 2. Receptores farmacológicos ................................................................................................................24 3. Agonismo total, parcial, inverso e antagonismo ........................................................................25 4. Famílias de receptores ..........................................................................................................................29 5. Receptores acoplados a proteína G .................................................................................................30 6. Segundos mensageiros ........................................................................................................................31 Referências ...........................................................................................................................41 1. Introdução.........................................................................................................................44 2. Neurotransmissão no sistema nervoso central .............................................................45 3. Fármacos antidepressivos ...............................................................................................48 1. Inibidores da monoamino-oxidase (imao) ...................................................................................49 2. Antidepressivos tricíclicos (adt).........................................................................................................52 3. Inibidores seletivos da recaptação de serotonina (isrs) ..........................................................54 4. Fármacos antipsicóticos ..................................................................................................56 1. Antipsicóticos típicos ............................................................................................................................56 2. Antipsicóticos atípicos ..........................................................................................................................58 3. Estabilizadores de humor ....................................................................................................................60 5. Fármacos ansiolíticos, sedativos e hipnóticos ..............................................................61 1. Benzodiazepínicos ..................................................................................................................................63 2. Barbitúricos ...............................................................................................................................................65 CAPÍTULO 6ANATOMIA APLICADA À CLÍNICA E À CIRURGIA 3. Fármacos anti-hipertensivos ........................................................................................167 1. Fármacos simpaticolíticos .................................................................................................................169 2. Bloqueadores dos canais para ca2+ (bcc) .....................................................................................170 3. Vasodilatadores diretos ......................................................................................................................172 4. Fármacos que afetam o sistema renina-angiotensina-aldosterona .................................174 5. Diuréticos .................................................................................................................................................179 4. Farmacoterpia da angina ..............................................................................................183 1. Nitratos orgânicos ................................................................................................................................185 2. Antagonistas β-adrenérgicos ...........................................................................................................185 3. Bloqueadores dos canais para ca2+ ................................................................................................186 4. Outros fármacos antianginosos .....................................................................................................186 5. Fármacos que reduzem os riscos de infarto do miocárdio ..................................................187 5. Fármacos antiarrítmicos ................................................................................................188 1. Bloqueadores dos canais para Na+ ................................................................................................189 2. Antagonistas dos receptores β-adrenérgicos ...........................................................................189 3. Bloqueadores dos canais para Ca2+ ...............................................................................................190 6. Farmacoterapia da insuficiência cardíaca ...................................................................190 1. Terapêutica da insuficiência cardíaca crônica ..........................................................................191 2. Glicosídeos cardíacos ..........................................................................................................................191 Referências .........................................................................................................................204 1. Introdução.......................................................................................................................208 2. Classificação dos antibióticos .......................................................................................209 3. Bases moleculares da ação dos antibióticos ...............................................................211 1. Fármacos que interferem na síntese ou na ação do folato ..................................................211 2. Fármacos que inibem a síntese da parede celular bacteriana ...........................................213 3. Agentes que atuam diretamente sobre a membrana celular do microrganismo......218 4. Fármacos inibidores da síntese protéica bacteriana ..............................................................219 5. Fármacos afetam o metabolismo bacteriano dos ácidos nucleicos ................................221 4. Resistência bacteriana aos antibióticos .......................................................................225 5. Efeitos colaterais dos antibióticos................................................................................227 Referências .........................................................................................................................237 CAPÍTULO O que você irá ver nesse capítulo: 95 Farmacologia do sistema nervoso autônomo 3 Introdução Sistema nervoso autônomo simpático Agonistas adrenérgicos Antagonistas adrenérgicos Sistema nervoso autônomo parassimpático Agonistas muscarínicos Antagonistas muscarínicos Bloqueadores neuromusculares e ganglionares Anticolinesterásicos reversíveis e irreversíveis Quadro Resumo Quadro Esquemático Questões Comentadas✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ Objetivos de aprendizagem • Diferenciar o sistema nervoso autônomo simpático e parassimpático • Analisar os neurotransmissores envolvidos nas sinapses • Aprender o mecanismo de ação dos receptores envolvidos nesses sistemas • Entender como os fármacos atuam no sistema autônomo simpático e parassimpático 1 - INTRODUÇÃO O sistema nervoso, no ser humano, divide-se anatomicamente e fisio- logicamente, podendo ser classificado em Sistema Nervoso Central (SNC) e Sistema Nervoso Periférico (SNP). O SNC engloba as funções do Encéfa- lo e Medula Espinhal, enquanto o SNP os nervos, gânglios e terminações Pedro Modesto Nascimento Menezes Fabrício Souza Silva CAPÍTULO 3 96 nervosas, como mostrados na Figura 1. Dentro das ramificações de classi- ficação, tem-se que o SNP abrande os Sistema Nervoso Somático (SNS) e o Sistema Nervoso Autônomo (SNA). O SNS relacionado com as funções motoras e os movimentos do corpo e o SNA controlando os processos vitais involuntários do organismo (Figura 2). Por se distribuir amplamente pelo organismo e controlar funções que não dependem da consciência, o SNA é importante no funcionamento do sistema nervoso. Distribui-se amplamente em nervos, gânglios, inervam coração, vasos sanguíneos, glândulas, músculo liso e outos diversos tecidos, o que confere a sua extrema importância. O SNA ainda pode ser subdividido em sistema nervoso autônomo simpático e sistema ner- voso autônomo parassimpático. Essa divisão pode, de modo geral, ser explicada a partir da liberação do neurotransmissor na transmissão sináp- tica pré-ganglionar e pós-ganglionar. Na maioria das fibras pós-ganglio- nares do sistema simpático o neurotransmissor é a norepinefrina (NE), enquanto que as fibras pós-ganglionares do sistema parassimpático o neurotransmissor é unicamente a acetilcolina (ACh) e isso é de extrema importância para regulação da homeostasia do organismo. Figura 1. Classificação anatomo-fisiológicas do Sistema Nervoso. Fonte: Cummings, 2007 (Benjamin Cummings. "Central nervous system and peripheral nervous system." Pearson Education Inc., 2007. Web). FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO 97 2 - SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO SIMPÁTICO O sistema nervoso autônomo simpático, em geral, estimula algum órgão efetor, exceto o trato gastrintestinal. Além disso, é responsável pela liberação de norepinefrina (NE) e epinefrina em casos de emergência, como nos processos de “luta ou fuga”, quando uma situação estressan- te permite um aporte de neurotransmissores que permitam fugir rapida- mente ou tomar uma ação para lutar. As fibras pré-ganglionares liberaram acetilcolina (ACh), sendo cha- mas de fibras colinérgicas, no entanto, o efeito final é ativação de fibras adrenérgicas que permite a estimulação da liberação de NE, por via si- náptica ou estimulando as adrenais para liberação do neurotransmissor. A síntese de NE acontece a partir da tirosina, com o neurotransmissor dopamina como intermediário de reação. A NE produzida atua nos recep- tores adrenérgicos α e β (Quadro 1). Os receptores α1 são acoplados a proteína Gαq e são responsáveis pela contração da musculatura lisa vas- cular, por exemplo, através da ativação de fosfolipase Cβ, produção de IP3 e DAG (a partir de fosfolipideos da membrana plasmática), aumento da liberação de Ca2+ (via receptores de IP3 – IP3R e de rianodina – RyR) e ativação de PKC. Já os receptores α2 são acoplados a proteína Gαi e são responsáveis por relaxar a musculatura lisa vascular, por inibir a ativação da enzima adenililciclase e, consequentemente, redução na produção de AMPc (produção reduzida com aumento do substrato, o ATP) e pouca ativação de PKA. Os receptores β têm a transdução de sinal acoplada a proteína Gαs que pode ter funções distintas dependendo da localiza- ção tecidual. Apesar de sua transdução de sinal ser a partir da ativação de adenililciclase, aumento na produção de AMPc e ativação de PKA (por ser necessário 4 unidades de AMPc, ou seja, alta concentração intra- celular), no músculo liso das vias aéreas (β2) produz relaxamento, en- quanto que no coração (β1) promove aumento na força e frequência de contração. CAPÍTULO 3 98 Figura 2. Organograma representativo da divisão do Sistema Nervoso, em especial, o Sistema Nervoso Autônomo. Sistema Nervoso Sistema Nervoso Central Sistema Nervoso Periférico Sistema Nervoso Somatico Sistema Nervoso Parassimpático Sistema Nervoso Autônomo Sistema Nervoso Simpático Nicotínicos Muscarínicos α-adrenérgicos β-adrenérgicos Quadro 1. Apresentação dos subtipos de receptores adrenérgicos, sua transdução de sinal e o envolvimento tecidual. Subtipo Proteína G acoplada Efetores Tecidos α1A Gαq Ativação de PLC, PLA2, Canais para Ca2+, Trocador Na+/H+ e Sinalização MAPK Modulação dos canais para K+ Coração Fígado Músculo Liso Vasos Sanguíneos Pulmões Cérebro α1B Gαq Ativação de PLC, PLA2, Canais para Ca2+, Trocador Na+/H+ e Sinalização MAPK Modulação dos canais para K+ Coração Rins Baço Pulmões Vasos sanguíneos Tronco Cerebral Fonte: próprio autor. FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO 99 Subtipo Proteína G acoplada Efetores Tecidos α1D Gαi Ativação de PLC, PLA2, Canais para Ca2+, Trocador Na+/H+ e Sinalização MAPK Modulação dos canais para K+ Plaquetas Neurônios simpáticos Gânglios autonômicos Pâncreas Vasos coronários e do SNC Medula espinhal α2A Gαi Inibição de adenililciclase (AC) Redução de AMPc e atividade PLA Plaquetas Neurônios simpáticos Gânglios autonômicos Pâncreas Vasos coronários e do SNC Medula espinhal α2B Gαi Inibição de adenililciclase (AC) Redução de AMPc e atividade PLA Fígado Rins Vasos sanguíneos Vasos coronários e do SNC Pâncreas Plaquetas α2C Gαi Inibição de adenililciclase (AC) Redução de AMPc e atividade PLA Gânglios da base Córtex Cerebelo Hipocampo β1 Gαs Ativação de adenililciclase AC) Aumento de AMPc e PLA Ativação dos canais para Ca2+ do tipo-L Coração Rins Adipócitos Músculo esquelético Núcleo olfatório Tronco cerebral Medula espinhal β2 Gαs Ativação de adenililciclase AC) Aumento de AMPc e PLA Ativação dos canais para Ca2+ Coração Pulmões Vasos sanguíneos Músculo liso brônquico e TGI Rins β3 Gαs Ativação de adenililciclase AC) Aumento de AMPc e PLA Ativação dos canais para Ca2+ Tecido adiposo TGI Coração CAPÍTULO 3 100 A NE é o neurotransmissor primordial nas ações da transmissão adre- nérgica, porém é importante ressaltar que a sua síntese permite a produ- ção de outros ligantes endógenos, como por exemplo, a dopamina (DA) e a epinefrina (EPI), sendo chamados de catecolaminas. As informações em relação as catecolaminas foram bastante difundi- das e pesquisadas nos últimos anos, por questões farmacoterapêuticas envolvendo as funções desses endógenos em diversas patologias, princi- palmente no que diz respeito a saúde mental, tratamento da hipertensão e outras condições. 2.1 - Agonistas adrenérgicos Os fármacos agonistas do sistema nervoso autônomo simpático são chamados de simpaticomiméticos por seus efeitos finais serem se- melhantes a ativação dos receptores adrenérgicos pela NE, porém podem ser classificados como diretos (atuarem nos receptores α e β), indiretos (promoverem liberação da NE ou bloqueando suas enzimas de degrada- ção) ou mistos por promoverem ambas ações ao mesmo tempo(Quadro 2). Além disso, os fármacos podem ter variada seletividade por um alvo farmacológico e isso pode determinar seu mecanismo de ação por com- pleto, haja vista o tecido influenciar nas respostas promovidas pelos fár- macos. Quadro 2. Classificação de fármacos simpaticomiméticos. Ação Direta Ação Indireta Ação Mista Fenilefrina (α1) Clonidina (α2) Isoproterenol (β1, β2) Epinefrina (α1, α2, β1, β2) Terbutalina (β2) Anfetamina (aumento na liberação de NE) Cocaína (inibe a captação de NE) Selegilina (inibidor da monoaminaoxidase – MAO) Entacapona (inibidor da catecol-O-metil- transferase – COMT) Efedrina (aumento na liberação de NE e ativação de α1, α2, β1, β2) 2.1.1- Isoproterenol O isoproterenol é um agonista β-adrenérgico não seletivo, com baixa afinidade pelos receptores α-adrenérgicos, ou seja, produz poucos efeitos vasculares, inclusive reduzindo a resistência vascular e influenciando o au- mento do débito cardíaco, porém seus efeitos cardíacos são relacionados a palpitações, taquicardia sinusal e arritmias. Além disso, promove relaxa- mento do músculo liso em quase todos os tecidos quando o tônus está FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO 101 elevado, contudo, com efeitos mais proeminentes sobre a musculatura lisa dos brônquios e do trato gastrintestinal. O fármaco tem rápida absorção por via parenteral e inalatória, com biotransformação no fígado e da COMT em outros tecidos, além de baixa degradação pela MAO, permitindo maiores concentrações plasmáticas e maior tempo de ação. 2.1.2 -Fenilefrina A fenilefrina é um agonista α1-adrenérgico seletivo e provoca acentua- da vasoconstrição arterial, podendo ser utilizado como descongestionan- te nasal e midriático (solução oftálmica). É pouco utilizada na terapêutica, mas tem papel para regular processos hipotensivos, incluindo hipotensão ortostática e choque. 2.1.3 - Clonidina A clonidina é um agonista α2-adrenérgico utilizado durante algum tempo para o tratamento da hipertensão arterial, por atuar em nível do SNC, nos neurônios pré sinápticos, suprimindo a atividade do sistema sim- pático e nos vasos periféricos, apresentando elevado efeito anti-hiperten- sivo, reduzindo a pressão arterial e a frequência cardíaca, de forma prolon- gada quando administrada por via parenteral. Em estudos clínicos, foi revelado que a atuação da clonidina sobre a congestão nasal apresentava hipotensão, sedação e bradicardia como efeitos secundários, haja vista a ampla distribuição dos neurônios simpá- ticos pelo organismo. O fármaco é bem absorvido por administração oral, tem biodisponibi- lidade de quase 100% e meia-vida média de 12 horas. Além disso, existe uma boa correlação entre a biodisponibilidade e seu efeito farmacológi- co. Problemas renais podem retardar a eliminação e alterar sua meia-vida, sendo monitorado para esses casos. 2.1.4 - Anfetamina A anfetamina tem ação simpaticomimética indireta, aumentando a li- beração de NE a partir de seu deslocamento das vesículas em que se en- contram, além de terem ação periférica em receptores α e β-adrenérgi- cos, com efeitos durando até várias horas. Sua administração por via oral eleva a pressão arterial, pode promover arritmias, além de variações que incluem depressão e fadiga. Além disso, a ação sobre o músculo liso pode CAPÍTULO 3 102 ser de contração ou relaxamento, dependendo de qual estado se encon- tra o órgão. Por exemplo, no trato gastrointestinal com atividade elevada, a anfetamina pode relaxar a musculatura provocando redução do trânsito intestinal ou o oposto em caso do órgão estar relaxado. Em nível central, sua ação sobre o SNC estimula o centro respiratório bul- bar e estimula as sinapses do SNC, altera o estado de vigília e de alerta, re- duz a percepção de fadiga, eleva o humor com aumento da iniciativa, eleva a capacidade de concentração, aumento da atividade motora e da fala. Está relacionado com a depressão do apetite por aumento na liberação de NE e DA, permitindo uma menor ingestão de comida e não um au- mento do metabolismo, sendo um dos motivos pra seu uso abusivo que também inclui a possibilidade de não estado de sonolência e aumento de energia. No entanto, esse fármaco só deve ser utilizado sob orientação médica. 2.1.5 - Efedrina A efedrina é um simpaticomimético misto de ação nos receptores α e β adrenérgicos e atua a partir da liberação de NE dos neurônios simpáticos. Isso permite uma elevação da frequência e o débito cardíaco e aumento da pressão arterial, pois agem, principalmente, sobre os receptores α-a- drenérgicos, inclusive com aumento na contração de musculatura lisa. Além disso, quando atua nos receptores β adrenérgicos promove bronco- dilatação. Os efeitos do fármaco podem persistir por várias horas quando administrada por via oral e tem sua meia-vida por volta de 3 a 6 horas. 2.2 - Antagonistas adrenérgicos Os fármacos antagonistas do sistema simpático têm por caracte- rística reduzir a interação da NE, da epinefrina e de outros agentes sim- paticomiméticos com os receptores α e β-adrenérgicos, sendo que eles possuem diferentes afinidades pelos receptores, podendo, inclusive, ter uma interação covalente e podem ser chamados de simpaticolíticos. A capacidade de interação pode auxiliar ou atrapalhar o quadro clínico, pois os fármacos têm ações distintas a depender do receptor e o tecido em que se encontra, o que pode levar a ocorrência de efeitos colaterais, quando disseminado por todo organismo. Todas as informações sobre a complexidade do sistema nervoso autô- nomo são necessárias para compreender de forma completa a ação dos FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO 103 fármacos em relação a seu mecanismo de ação em nível molecular e po- tencialidades terapêuticas. Os antagonistas do sistema nervoso simpático serão exemplificados quanto a sua atuação nos receptores adrenérgicos e podem ser classifica- dos de diversas formas, desde a ação em cada tipo ou subtipo de receptor até por sua seletividade em relação a esses receptores. 2.2.1 - Prazosina É um fármaco usado em urgências clínicas relacionadas à hipertensão, por ser um antagonista seletivo dos receptores α1-adrenérgico, diferente de outros antagonistas não seletivos que poderiam causar efeitos cola- terais graves. A sua afinidade para o receptor α1 é mil vezes superior aos receptores α2-adrenérgicos, o que permite vantagens relevantes. Além de ser potente para os subtipos de receptores α, também tem efeito sobre a fosfodiesterase, reduzindo sua atividade. Existem alguns efeitos adversos como hipotensão postural e síncope. O seu efeito na hipertensão se dá nas arteríolas e veias, reduzindo a resistência periférica total, não aumentando a frequência cardíaca e o dé- bito cardíaco, além de não produzir liberação de NE a partir do SNC, o que não permite taquicardia reflexa por liberação de simpáticomiméticos. É um fármaco bem absorvido por via oral (biodisponibilidade de 50- 70%), sendo amplamente distribuído pela α1-glicoproteína ácida, com metabolismo hepático, em maior proporção, e meia vida de 3 horas. A prazosina exerce efeito na melhora da micção e das dores provocas pela hiperplasia prostática benigna (HPB), sendo utilizas as doses de 1-5 mg, 2 vezes ao dia, semelhante ao tratamento da hipertensão que trata com 1 mg, 2 ou 3 vezes ao dia. Esse fármaco foi o protótipo para diversos outros medicamentos utili- zados atualmente como a terazosina e doxazosina que são derivados da prazosina, além de outros que tem estrutura química diferente (alfuzosi- na, tansulosina e silodosina). 2.2.2 - Ioimbina É um antagonista competitivo dos receptores α2-adrenérgicos deriva- do da casca do caule de Pausinystalia yohimbe ou nas raízes de plantas do gênero Rauwolfa. Tem a capacidade de atravessar a barreira hemato-en- cefálica (BHE) produzindo um aumento na pressão arterial e da frequência CAPÍTULO 3 104 cardíaca, intensificando os efeitos simpaticomiméticos, haja vista sua atu- ação como bloqueador dos autorreceptoresno SNC. Alguns dados da literatura sugerem uma melhoria no tratamento da disfunção erétil, porém sua eficácia não é semelhante aos inibidores da fosfodiesterase que têm dados mais robustos em relação a essa atividade farmacológica. 2.2.3 - Propranolol Esse fármaco é um antagonista β-adrenérgico não seletivo e não blo- queia os receptores α-adrenérgicos, sendo amplamente utilizado no trata- mento da hipertensão arterial e outras patologias relacionadas ao sistema cardiovascular, perdendo espaço para os antagonistas seletivos β-adre- nérgicos e fármacos que também atuem sobre os receptores α1-adrenér- gicos ou liberação de óxido nítrico. O propranolol é lipofílico e tem a capacidade de atravessar a BHE e atu- ar no SNC, tem completa absorção por via oral, com metabolismo hepático e taxa de ligaçnao a proteínas plasmáticas de 90%. A biodisponibilidade desse fármaco depende de cada indivíduo, sendo observadas mudanças nas concentrações plasmáticas de forma proeminente. Sua meia vida é de 4 horas e seu efeito é reduzido com o tempo, necessitando um aumento na dose para os mesmos efeitos farmacológicos obtidos no começo do tratamento, o que pode levar a alguns efeitos colaterais importantes. 2.2.4 - Timolol É um antagonista não seletivo dos receptores β-adrenérgicos, utilizado no tratamento de algumas doenças dos sistemas cardiovascular, porém sua disseminação de uso está relacionada com o tratamento de glaucoma de ângulo aberto e hipertensão intraocular, em formas farmacêuticas of- tálmicas. O bloqueio dos receptores β-adrenérgicos permite uma redução na produção de humor aquoso, o que está relacionado com uma melhora clínica dos indivíduos. O fármaco permite uma absorção sistêmica considerável, apesar de sua administração ser oftalmica, sendo seu metabolismo hepático (CYP2D6) com meia vida de 4 horas. 2.2.5 - Atenolol Esse fármaco é um antagonista seletivo para os receptores β1-adrenér- gicos e não tem capacidade de atravessar a BHE, diferente do propranolol, FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO 105 conferindo maior segurança em relação aos efeitos adversos sob o SNC. Sua absorção não varia de acordo com os indivíduos, tem meia vida de 5-8 horas com pico plasmático máximo de 4 horas, sendo eliminado na urina. Após administração única de 50 ou 100 mg em pacientes, o efeito anti-hipertensivo se estende por 24 horas. Na prática clínica é utilizado para o tratamento de hipertensão arterial sistêmica, doença coronariana, isquemia do coração, arritmias e complica- ções relacionadas a infarto agudo do miocárdio. 2.2.6 - Carvedilol Esse fármaco tem perfil farmacológico diferente dos demais, é consi- derado um antagonista dos receptores β-adrenérgicos, mas na verdade seu efeito é variado. Antagoniza seletivamente os receptores β1 e α1-a- drenérgicos e é agonista parcial dos receptores β2-adrenérgicos, além de ter efeitos sobre os canais para Ca2+, antioxidante e anti-inflamatório. Seu uso clínico é realizado em pacientes com hipertensão e insuficiência car- díaca congestiva (ICC), possuindo um efeito cardioprotetor proeminente. O fármaco é rapidamente absorvido após administração por via oral, com capacidade de se distribuir por todos os tecidos, principalmente por sua ampla ligação as proteínas. Tem metabolismo hepático (CYP2D6 e CYP2C9) com meia vida de 7-10 horas, sendo necessário monitoramento do fármaco quando há politerapia com fármacos que afetem as enzimas do metabolismo hepático. Os fármacos descritos anteriormente podem ser vistos de forma resu- mida no Quadro 3 de acordo com seu mecanismo de ação, farmacocinéti- ca e indicações de uso. Quadro 3. Relação de fármacos que atuam sobre o sistema nervoso autônomo simpático. Fármacos Mecanismo de ação Farmacocinética Indicações de uso Anfetamina Liberação indireta de NE e agonismo α e β adrenérgicos Dose: 30-70 mg/dia (Lis- -dexanfetamina) Meia-vida: < 1 h Matabolismo: CYP2D6 Alguns derivados são utilizados no tratamento de Transtorno do deficit de atenção (TDAH) e narcolepsia Atenolol Antagonista β1 adrenérgico Dose: 50-100 mg/dia Meia-vida: 6,1±2,0 h Matabolismo: hepático Tratamento da hipertensão arte- rial, doença coronariana, isquemia do coração, arritmias e complica- ções relacionadas a infarto agudo do miocárdio 119 QUADRO RESUMO Palavras Chaves Descrição Sistema Nervoso Autônomo Parte do sistema nervoso periférico que abrange nervos e gânglios essenciais para o organismo Sistema Nervoso Simpático Responsável pela secreção final de Noradrenalina (NE) através de fibras colinérgicas pré-ganglionares ou fibras adrenérgicas pós-ganglionares Receptores α e β-adrenérgicos São receptores acoplados a proteína Gq e Gi (α1 e α2) Gs (β1-3) que são sensíveis a NE e Adrenalina, com respon- sabilidade de ação por diversos tecidos Agonistas adrenérgicos São fármacos que atuam nos receptores adrenérgicos mimetizando a ação da NE nos tecidos, também chama- dos de simpaticomiméticos Antagonistas adrenérgicos São fármacos que atuam nos receptores adrenérgicos impedindo a ação da NE nos tecidos, também chama- dos de simpaticolíticos Sistema Nervoso Parassimpático Responsável pela secreção final de Acetilcolina (ACh) através de fibras colinérgicas pré e pós-ganglionares Receptores Nicotínicos Canais iônicos operados por ligante (ACh como ligante endógeno) encontrados nos neurônios pós-gangliona- res e responsáveis pelo influxo de Na+, K+ e Ca2+ Receptores Muscarínicos São receptores acoplados a proteína Gq (M1, M3 e M5) e Gi (M2 e M4) que são sensíveis a ACh, com responsabili- dade de ação por diversos tecidos Agonistas muscarínicos São fármacos que atuam nos receptores muscarínicos mimetizando a ação da ACh nos tecidos, também cha- mados de colinérgicos Antagonistas muscarínicos São fármacos que atuam nos receptores muscarínicos impedindo a ação da ACh nos tecidos, também chama- dos de anticolinérgicos Bloqueadores neuromuscular e gan- glionar (antagonistas nicotínicos) São fármacos que atuam nos receptores nicotínicos nos gânglios e placa motora impedindo a ação da ACh Anticolinesterásicos reversíveis e irreversíveis São fármacos que inibem a ação de Acetilcolinesterase (AChE) que é uma enzima que degrada a ACh, permi- tindo um amento na concentração de ACh na fenda sináptica e seu posterior efeito 120 QUADRO ESQUEMÁTICO Sistema Nervoso Sistema Nervoso Central Collinérgicos Agonistas Antagonistas Anticollines- terásicos Nicotínicos Muscarínicos ɑ-adre- nérgicos β-adre- nérgicos Adrenérgicos Sistema Nervoso Somático Sistema Nervoso Parassimpático Sistema Nervoso Simpático Sistema Nervoso Autônomo Sistema Nervoso Periférico Fonte: próprio autor. 121 QUESTÕES COMENTADAS 01 (SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA-SE – PERITO CRI- MINALÍSTICO DA POLÍCIA CIVIL – FARMÁCIA, 2014) Analise as substâncias a seguir e assinale aquela que corresponde ao gru- po dos antagonistas muscarínicos. Ⓐ Carbacol. Ⓑ Ciclopentolato. Ⓒ Pilocarpina. Ⓓ Oxotremorina. Ⓓ Metacolina. GRAU DE DIFICULDADE DICA: Importante estar atento ao nome dos fármacos antagonistas e ago- nistas colinérgicos (muscarínicos e nicotínicos). Alternativa A: INCORRETA. Carbacol é um análogo da Acetilcolina que não permite a degradação pela Acetilcolinesterase, ou seja, tem ação co- linérgica. Alternativa B: CORRETA. Ciclopentolato, um antagonista competitivo dos receptores muscarínicos (a atropina, derivada da planta Atropa bella- donna também é dessa classe) e atua como midriático (dilata a pupila) em soluções oftálmicas. Alternativa C: INCORRETA. Pilocarpina é um alcaloide natural, derivado de plantas do gênero Pilocarpus e apresenta ação agonista muscarínica e nicotínica, com tratamento sob o sistema ocular, por exemplo, glaucoma de ângulo aberto Alternativa D: INCORRETA. Oxotremorina é um alcaloide sintético utili- zado apenas em pesquisas farmacológicas em que é necessário mimetizar os efeitos da acetilcolina, ou seja, é um agonista colinérgico. AlternativaE: INCORRETA. Metacolina é um fármaco pouco utilizado na terapêutica. Também é um análogo da Acetilcolina que não permite ação da Acetilcolinesterase e é utilizado na terapêutica para detecção pre- coce de pacientes com asma. 122 QUESTÕES COMENTADAS 02 (SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA-SE – PERITO CRI- MINALÍSTICO DA POLÍCIA CIVIL – FARMÁCIA, 2014) Considerando a classificação dos agonistas dos receptores adrenérgicos, assinale a alternativa correta. Ⓐ A α1-fenilefrina, α2-clonidina, a β1–dobutamina e a β2-terbutalina, constituem clássicos representantes agonistas adrenérgicos não seletivos de ação direta. Ⓑ A anfetamina, a tiramina, a cocaína, a pargilina e a entacapona consti- tuem drogas agonistas de ação direta. Ⓒ A efedrina é um agonista adrenérgico de ação mista. Ⓓ Anfetamina, a tiramina, a cocaína, a pargilina e a entacapona, consti- tuem drogas agonistas de ação mista. Ⓔ A α1-fenilefrina, α2-clonidina, a β1–dobutamina e a β2-terbutalina constituem clássicos representantes agonistas adrenérgicos de ação in- direta. GRAU DE DIFICULDADE DICA: Importante estar atento ao nome dos fármacos com ação simpati- comimética de ação direta, indireta e mista. Além disso, é necessário sa- ber em quais receptores determinados fármacos atuam e isso nos leva a forma como as proposições estão escritas, por exemplo, α1-fenilefrina ou β2-terbutalina, o que infere sua ação seletiva ou então não estariam escri- tos dessa forma. Alternativa A: INCORRETA. Na própria estrutura da proposição remete a seletividade dos fármacos em questão, ou seja, α1-fenilefrina, α2-cloni- dina, a β1–dobutamina e a β2-terbutalina são SELETIVOS de ação direta. Alternativa B: INCORRETA. Anfetamina, a tiramina, a cocaína, a pargili- na e a entacapona são fármacos de ação INDIRETA, permitem por diversas vias a liberação de catecolaminas. Alternativa C: CORRETA. Efedrina é um dos poucos fármacos que apre- sentam ação mista, atuando diretamente nos receptores adrenérgicos ou aumentando a secreção de catecolaminas.
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