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NEUROBIOLOGIA DAS 
EMOÇÕES 
Profª Gabriela Souza 
DECBI/UFOP 
DEFINIÇÃO 
• Segundo Damasio (2000): Conjunto de reações 
químicas e neurais subjacentes à organização de 
certas respostas comportamentais básicas e 
necessárias à sobrevivência. 
 
• Aspectos relevantes: 
1) A emoção possui um substrato neural que organiza 
tanto as respostas aos estímulos emocionais quanto 
a própria percepção da emoção; 
 
2) As emoções têm uma função biológica, ou seja, são 
importantes para que os animais apresentem 
respostas comportamentais adequadas a certas 
situações, aumentando suas chances de 
sobrevivência. 
CLASSIFICAÇÃO DAS EMOÇÕES 
• Emoções primárias 
• Emoções secundárias 
• Emoções de fundo 
Charles Darwin 1809-1882 
 
Livro: A expressão das 
emoções nos homens e nos 
animais 
“...o homem e os animais 
superiores têm sentidos, 
sensações, afetos e emoções 
similares, embora em graus 
muito diferentes...”. 
As emoções são reações básicas e 
necessárias à sobrevivência, que 
foram mantidas por toda a filogênese. 
1. Emoções Primárias 
 
 São emoções inatas ou não-aprendidas, ou seja, são emoções 
comuns a todos os indivíduos da nossa espécie, independente de 
fatores socioculturais. 
alegria 
raiva 
tristeza 
nojo 
Paul Ekman mostrou que diferentes culturas e 
civilizações não têm dificuldade de reconhecer 
expressões faciais uma das outras. 
EMOÇÕES PRIMÁRIAS: raiva, medo, nojo, surpresa, alegria e tristeza. 
2. Emoções Secundárias 
 
São influenciadas por aprendizado e contexto sociocultural. 
 
Ex.: Ciúme, vergonha, culpa, orgulho e etc.... 
 
3. Emoções de Fundo 
 
 Os estímulos que induzem essas emoções são 
geralmente internos, gerados por processos físicos 
ou mentais contínuos. 
 
 Levam aos estados de humor  bem X mal estar, 
tensão X calma, fadiga X energia, tensão X 
relaxamento. 
 
 Pode ser avaliada pela postura, grau de contração de 
alguns músculos, velocidade dos movimentos. 
 
TEORIAS SOBRE A GERAÇÃO DAS 
EMOÇÕES 
Crítica à teoria de James e Lange: 
 - Muitas respostas somáticas e viscerais (expressão emocional) 
são comuns a várias emoções. 
Crítica à teoria de Cannon e 
Bard: 
- Experiência emocional 
(sentimentos) em humanos com 
secção medular varia de acordo 
com o nível da lesão. 
PROPOSTA ATUAL SOBRE A GERAÇÃO 
DAS EMOÇÕES 
 
 
Emoção = preparação para ação. 
 
Esta ação pode ou não acontecer, 
dependendo da intensidade do 
estímulo emocional e do contexto 
onde o indivíduo se encontra. 
RESPOSTAS 
EMOCIONAIS 
SISTEMA APETITIVO 
Ativado em contextos 
agradáveis: 
Preparação para 
comportamentos de busca de 
alimentos, procriação e 
cuidado com a prole. 
SISTEMA DEFENSIVO Ativado em contextos 
desagradáveis: 
Preparação para 
comportamentos de 
evitação, escape ou ataque 
a estímulos nocivos. 
SUBSTRATO NEURAL DAS EMOÇÕES 
(Histórico) 
1878 – Paul Broca: “Lobo Límbico” envolvido no 
processamento do olfato. 
1930 – Circuito de Papez: Estruturas límbicas poderiam 
estar envolvidas no processamento emocional. 
1952 – MacLean introduziu na literatura a expressão 
Sistema Límbico que incluiria as estruturas do 
circuito de Papez e outras regiões tais como a amígdala 
e o córtex pré-frontal. 
VISÃO MAIS ATUAL 
Algumas estruturas foram retiradas do “Sistema 
Límbico” tais como n. anterior do tálamo e hipocampo 
e outras foram incluídas, tais como a Insula e partes 
específicas do Córtex Pré-frontal. 
Córtex 
Cingulado 
Anterior 
Córtex 
Orbitofrontal 
Como se pode gerar respostas emocionais 
em laboratório? 
 
Como se pode medir as respostas 
emocionais em laboratório? 
SISTEMA DEFENSIVO: 
EMOÇÕES NEGATIVAS 
AMÍGDALA 
• É uma estrutura-chave para o processo de integrar as informações 
sensoriais às respostas comportamentais e fisiológicas para 
estímulos que sinalizam perigo. 
Macaco adulto participando do teste de responsividade a uma série de objetos novos. O 
animal apresentado nestas imagens sofreu uma lesão bilateral da amígdala. Ele 
imediatamente pega a uva colocada em frente à réplica da cobra (A) e após colocar a uva na 
boca passa a explorar a cobra sintética (B). Animais normais não se aproximam da cobra e 
nunca a manuseiam. Figura obtida de Amaral et al. (2003). The amygdala: is it an essential 
component of the neural network for social cognition? Neuropsychologia 41: pp.517-522. 
Condicionamento aversivo (memória associativa)  Amígdala 
(LeDoux, 1994) 
Joseph LeDoux  Proposta de um via rápida 
para o processamento emocional 
CÓRTEX 
SENSORIAL 
TÁLAMO 
AMÍGDALA 
HIPOTÁLAMO 
NÚCLEO 
RETICULAR 
PONTINO 
Medula espinhal 
(SNA) 
 Pressão sangüínea 
Sudorese 
 Frequência cardíaca 
Potenciação de 
reflexos 
defensivos 
Hipófise -> Córtex 
da Adrenal Secreção 
hormonal 
NÚCLEO FACIAL E TRIGEMINAL 
NÚCLEOS AMINÉRGICOS E 
COLINÉRGICOS DO TRONCO 
Alerta e vigilância 
Expressão facial 
SUBSTÂNCIA CINZENTA 
PERIAQUEDUTAL 
dorsal 
ventral 
Fuga ou luta 
Imobilização 
Amígdala e o processamento 
consciente do medo 
ESTUDOS EM HUMANOS: 
Região dorsolateral – 
Envolvida no 
processamento da memória 
e atenção. 
CÓRTEX PRÉ-FRONTAL 
Regiões ventromedial e 
orbitofrontal – 
Envolvidas no 
processamento 
emocional. 
 
CASO PHINEAS GAGE 
Córtex Pré-Frontal Ventromedial 
1848 – Barra de ferro 
peso: 6 kg 
comprimento: 1 m 
diâmetro:3 cm 
“Gage não era mais Gage” 
Lesão no córtex Pré-Frontal 
Ventromedial: 
 
Sem resposta autonômica 
a fotos aversivas alertantes 
-Controles passam a escolher 
a pilha menos arriscada. 
-Pacientes com lesão no C. 
pré-frontal órbitofrontal 
continuam escolhendo a pista 
mais arriscada. 
- CONTROLES: Passam a suar mais 
ao longo do jogo e isso ocorre em 
maior intensidade nas pilhas 
ruins (ansiedade antecipatória). 
 
- PACIENTES: Não suam mais ao 
longo do jogo e também não há 
diferença entre as pilhas boas e 
ruins. 
Lesão no Córtex Pré-frontal Órbitofrontal 
IMPORTANTE!!!!!!! 
 
Nossas decisões são baseadas não apenas na 
avaliação racional das consequências das 
nossas ações, mas também em uma 
antecipação emocional inconsciente, de 
como nos sentiríamos se tivéssemos tomado 
uma ou outra decisão. 
 
As emoções, ao contrário do que o senso 
comum acredita, não só NÃO atrapalham 
nossas decisões, como são fundamentais 
para que elas aconteçam adequadamente. 
Antonio R. Damasio 
Teoria do “Marcador Somático” 
 
Simulação corporal Simulação mental 
Ambos os circuitos influenciam na 
tomada de decisões 
CÓRTEX CINGULADO ANTERIOR 
Participa do processamento 
dos estados corporais 
internos (interocepção), da 
dor lenta, de tarefas 
cognitivas e emocionais. 
CÓRTEX 
CINGULADO 
ANTERIOR 
Dor de exclusão social 
Participa do processamento 
dos estados corporais internos 
(interocepção), da dor lenta, e 
das sensações subjetivas 
relacionadas aos estados 
emocionais. 
INSULA 
Imobilidade 
atencional Fuga Luta 
Imobilidade 
tônica 
MODELO DE CASCATA DEFENSIVA 
Ratner, 1967; Maser e Gallup, 1977 ; Hennig, 
1978; Fanselow, 1994; Marx et al, 2008. 
Proximidade da ameaça 
Será que os seres humanos também 
apresentam uma cascata defensiva 
quando expostos ao perigo? 
TONIC IMMOBILITY AS AN EVOLVED PREDATOR DEFENSE: IMPLICATIONS FOR 
SEXUAL ASSAULT SURVIVORS. Brian P. Marx, John P. Forsyth, Gordon G. Gallup, Tiffany Fusé, 
Jennifer M. Lexington. Clinical Psychology: Science And Practice, 2008. 
INVESTIGAÇÃO DA FASE DE IMOBILIDADE ATENCIONAL: 
Visualização Passiva de Fotos com conteúdo Emocional 
Bradley et al, 2001 
Atividade do músculo corrugador do supercílio 
INVESTIGAÇÃO DA FASE DE IMOBILIDADE ATENCIONAL: 
Visualização Passiva de Fotos com conteúdo Emocional 
Bradley et al, 2001 
Frequência Cardíaca 
Bradicardia atencional 
neutral 
unpleasant 
Block 1
240
250
260
270
neutral
unpleasant
pleasant
R
T
 (
m
s)
a
b
a b
Block 2
240
250
260
270
neutral
unpleasantpleasant
R
T
 (
m
s)
a
b
ba
Block 3
240
250
260
270
neutral
unpleasant
pleasant
R
T
 (
m
s)
Block1 Block2 Block3
Block 1
240
250
260
270
neutral
unpleasant
pleasant
R
T
 (
m
s)
a
b
a b
Block 1
240
250
260
270
neutral
unpleasant
pleasant
R
T
 (
m
s)
a
b
a b
Block 2
240
250
260
270
neutral
unpleasant
pleasant
R
T
 (
m
s)
a
b
ba
Block 2
240
250
260
270
neutral
unpleasant
pleasant
R
T
 (
m
s)
a
b
ba
Block 3
240
250
260
270
neutral
unpleasant
pleasant
R
T
 (
m
s)
Block1 Block2 Block3
Block 1
240
250
260
270
neutral
unpleasant
pleasant
R
T
 (
m
s)
a
b
a b
Block 2
240
250
260
270
neutral
unpleasant
pleasant
R
T
 (
m
s)
a
b
ba
Block 3
240
250
260
270
neutral
unpleasant
pleasant
R
T
 (
m
s)
Block1 Block2 Block3
Block 1
240
250
260
270
neutral
unpleasant
pleasant
R
T
 (
m
s)
a
b
a b
Block 1
240
250
260
270
neutral
unpleasant
pleasant
R
T
 (
m
s)
a
b
a b
Block 2
240
250
260
270
neutral
unpleasant
pleasant
R
T
 (
m
s)
a
b
ba
Block 2
240
250
260
270
neutral
unpleasant
pleasant
R
T
 (
m
s)
a
b
ba
Block 3
240
250
260
270
neutral
unpleasant
pleasant
R
T
 (
m
s)
Block1 Block2 Block3
neutral unpleasant 
* 
TAREFA MOTORA 
(APERTAR) 
Emotion, 2006 
Frequência Cardíaca Amplitude de deslocamento corporal 
INVESTIGAÇÃO DA FASE DE FUGA E LUTA: Tarefa de 
Estresse Agudo 
Situações que envolvem imprevisibilidade (Mason, 1968), incontrolabilidade 
(Henry & Grim, 1990; Sapolsky, 1993) e ameaça com um potencial para perda ou 
prejuízo (Blascovich & Tomaka, 1996; Dienstbier, 1989) têm maior potencial em 
promover ativação da respostas fisiológicas ao estresse em seres humanos. 
Dickerson & Kremeny, 2004 
Frequência Cardíaca 
INVESTIGAÇÃO DA FASE DE IMOBILIDADE TÔNICA: Exposição de 
pacientes com Transtorno de Estresse Pós-traumático (TEPT) a pistas 
que lembrem o trauma 
Estudos que utilizaram: ruídos, pistas traumáticas 
padronizadas e pistas traumáticas personalizadas. 
Parâmetros analisados: FC, SUDORESE, PAS, PAD, EMG. 
O paradigma mais eficiente para provocar alterações 
fisiológicas em pacientes com TEPT é o que utiliza o roteiro 
dirigido personalizado. 
Neste paradigma, a FC e EMG (músculos frontal e 
corrugador) estavam consistentemente aumentados nos 
pacientes com TEPT em relação aos controles. 
 
 
 Imobilidade Tônica em humanos 
37%: Vítimas de estupro (Galliano e cols., 1993) 
 
 
52%: Abuso sexual na infância (Heidt e cols., 2005) 
 
 
43%: Vítimas de violência urbana (Fiszman e cols, 2007) 
 
Amplitude de 
deslocamento 
corporal 
Frequência 
Cardíaca 
SISTEMA APETITIVO: 
EMOÇÕES POSITIVAS 
PULSE GENERATOR 
Sistema de Recompensa 
Estimulação elétrica do estriado ventral e de regiões do mesencéfalo podem 
produzir vocalizações que são normalmente exibidas quando os animais 
encontram comida inesperadamente ou estão reunidos com seus co-específicos 
(Jurgens, 1976). 
Auto-estimulação elétrica: James 
Olds & Peter Milner (1950) 
 
Estruturas relacionadas à auto-
estimulação. 
Via do Prazer ou da Recompensa 
Presença de neurônios 
dopaminérgicos na área 
tegmentar ventral, núcleo 
accumbens e Córtex Pré-frontal. 
 
 Agonista dopaminérgico 
(anfetaminas): Aumenta a taxa 
de auto-estimulação. 
 
 Antagonista dopaminérgico 
(haloperidol): Diminui a auto-
estimulação. 
 
CÓRTEX PRÉ-FRONTAL ÓRBITO-FRONTAL 
 Estudos de ressonância magnética 
funcional que utilizaram sabores 
(Kringelbach et al, 2003), odores 
(Rolls et al, 2003), estímulos 
somatossensoriais (Rolls, et al, 
2003) e música (Blood e Zatorre, 
2001) agradáveis, induziram 
estados positivos e provocaram a 
ativação do córtex Pré-frontal 
órbito-frontal. 
Predisposição motivacional para procurar e manter o 
contato físico e os vínculos sociais. 
Interação Social 
(John Bowlby, 1973) 
 
Over & Carpenter (2009) 
57 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 APERTAR 
OU 
SOLTAR 
pleasant 
neutral 
Fotografias 
Tarefa Motora 
Registro Eletroencefalográfico: Potencial de 
Prontidão 
59 
* 
EXPECTATIVA DE APROXIMAÇÃO MEDO DE REJEIÇÃO 
* 
precoce tardia 
A
m
p
li
tu
d
e
 
(µ
V
) 
tempo (s) 
Com interação 
Sem interação 
Grupo 1: mãe de pano fornecia comida e a de arame não fornecia comida. 
Grupo 2: mãe de pano não fornecia comida e a de arame fornecia comida. 
Os filhotes ficavam agarrados nas mães de pano, independente se elas 
forneciam comida ou não. 
Quando estavam explorando a caixa e acontecia algo assustador sempre 
corriam para a mãe de pano. Harlow, 1958; Harlow & Zimmerman, 1959 
Toque social 
•Grupo experimental (recebeu 
toque 1 dia antes da cirurgia) 
•Grupo controle (não recebeu 
toque). 
Toque social 
Grupo experimental apresentou: 
- Decréscimo nos níveis de estresse 
no dia da cirurgia, medido através de 
questionários e de medidas 
fisiológicas, tais como pressão 
arterial e frequência cardíaca em 
relação ao grupo controle. 
- Maior seguimento das 
recomendações pré-operatórias 
dadas pelo médico em relação ao 
grupo controle. 
Whitcher & Fisher, 1979 
Para refletir... 
 
Como é o meu comportamento 
com as pessoas no meu dia-a-
dia? Será que isso influencia 
na minha saúde física e 
mental? 
 
Como será o meu 
comportamento como médico? 
Será que isso pode influenciar 
na saúde física e mental dos 
meus pacientes? 
 
"Ninguém é melhor médico do que é como 
pessoa!“ 
 
Prof. Dr. Silvio dos Santos Carvalhal 
(Faculdade de Ciências Médicas – UNICAMP) 
65

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