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Revista Jurídica Virtual
Brasília, vol. 1, n. 5, Setembro 1999
Trabalho Educativo pode ser trabalho Produtivo?
Marisa Tiemann
Procuradora Regional do Trabalho, junto à PRT/9ª Região
Bacharel em Direito, pela Faculdade de Direito de Curitiba
Licenciatura Plena em Pedagogia pela UFPr
Direitos humanos fundamentais. Direitos sociais do trabalhador. Trabalho subordinado e trabalho produtivo.
Trabalho do menor. Direitos do empregado menor, entre 16 e 18 anos de idade. Contrato de trabalho do menor
aprendiz. Aprendizagem metódica de um ofício. Trabalho educativo - inferências legais a partir do art. 68 do
ECA. Crítica ao Projeto de Lei da Câmara dos Deputados n. 469-B, de 1.995, que dispõe sobre o Programa
Especial de Trabalho Educativo à luz do direito internacional; à luz do direito constitucional; à luz do Direito do
Trabalho; à luz da LDB - Lei 9394/96; à luz do ECA, Lei 8069/90. Trabalho educativo - necessidade ou
realidade. Perspectivas de um trabalho educativo na faixa etária de até 18 anos, sem inserção no mercado de
trabalho. Perspectivas de um trabalho educativo na faixa etária de 14 a 18 anos, com inserção no mercado de
trabalho. Alterações no ECA. Proposta de Projeto de Lei para regulamentar o trabalho educativo no âmbito das
instituições sociais.Proposta de Projeto de Lei para regulamentar o contrato especial de trabalho com
formação educativa.
Direitos Humanos Fundamentais(1):
Ultrapassados quase dezoito séculos da era cristã a humanidade conseguia, precisamente em 1789,
estabelecer, por escrito, os princípios mínimos - fundamentais -- para o respeito a dignidade do ser humano.
Nasciam com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em França, e as demais que a ela se
seguiram na Europa e nos Estados Americanos as primeiras letras de direito positivo de tamanha abrangência
e universalidade que foram transpostas para a Declaração Universal dos Direitos do Homem, da ONU, em
1948.
A Declaração de França de 1.789 reconhecia em seu preâmbulo que há "direitos naturais, inalienáveis e
sagrados do homem" a serem consolidados num pacto social a partir do que se legitima o surgimento de uma
sociedade, cuja preservação exige que o Poder Político seja exercido com a supremacia do Direito, espelhado
na Constituição, na lei das leis.
Dentre os ideais da Revolução Francesa destacava-se a necessidade de estabelecer um "um governo de leis
e não um governo de homens" (Constituição de Massachussets - EUA) pois os povos da Europa e da América
estavam a repudiar o arbítrio e o abuso de poder dos governantes. Surge o Estado de Direito significando que
o Poder Político está preso e subordinado a um Direito Objetivo que exprime o justo. E, este o conceito de
justo estaria inspirado em Montesquieu "as leis são as relações necessárias que derivam da natureza das
coisas". E, também na lição de Rousseau, na célebre fórmula do Contrato Social "a lei é a expressão da
vontade geral", afastando a idéia de que possa advir da vontade arbitrária do legislador, mas sim que
represente a participação de todos, ou seja, leve em conta o interesse geral.
As declarações de direito contém, pois, os direitos naturais e as limitações destes para a vida em sociedade.
As declarações de direito constituíram tanto na Europa como nos Estados Americanos o embrião das
respectivas Constituições Políticas. O principal conteúdo destas declarações de direitos fora o de que existe
um conjunto de regras mínimas de que os seres humanos necessitam para um convívio numa sociedade
organizada e em prol do interesse de todos.
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1.789, já consagrava em seus primeiros artigos:
"art. 1º - Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem
fundamentar-se na utilidade comum"
"art. 2º - A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e
imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e a
resistência à opressão.
"art. 4º - A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próximo: assim, o
exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão aqueles que
asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes limites
apenas podem ser determinados por lei"
"art. 6º A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer,
pessoalmente ou através de mandatários, para a sua formação. Ela deve ser a mesma para
todos, seja para proteger, seja para punir. Todos os cidadãos são iguais a seus olhos e
igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo a sua
capacidade e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes e dos seus talentos"
"art. 12º - A garantia dos direitos do homem e do cidadão necessita de uma força pública; esta
força é, pois, instituída para fruição por todos, e não para utilidade particular daqueles a quem
é confiada;
"art. 15º - A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida
a separação dos poderes não tem Constituição.
Na declaração de direitos revelou-se a conquista definitiva do conceito de liberdade. Para assegurar os
direitos humanos fundamentais destinados a defender a natureza do ser humano o primeiro princípio a ser
declarado e respeitado é o da liberdade em todos os seus matizes: direito à vida, direito de ir e vir, direito à
segurança, direito a liberdade de pensamento e expressão; direito de propriedade (dispor dos bens) e seus
corolários a presunção de inocência, a legalidade criminal e a legalidade processual.
E nela, revelou-se, também, um dos princípios fundamentais da organização política embasado na igualdade
de todos perante a lei, a isonomia. Nos artigos 1º e 6º se constata a idéia de que o direito deve ser aplicado
de forma uniforme a todos, sem qualquer distinção. De conseqüência consagra-se o princípio da legalidade,
observados os limites da lei para o exercício do poder; inscrito numa Constituição que institua um governo não
arbitrário, organizado segundo normas que não possa alterar, limitado pelo respeito aos direitos naturais e
imprescritíveis do Homem e garantido pela separação dos poderes, dividindo o exercício do poder segundo a
fórmula preconizada por Montesquieu; com a existência de uma força pública que é a garantia dos direitos do
Homem e do Cidadão.
Nascia, aí, a primeira geração dos direitos humanos e fundamentais, também denominada de liberdades
públicas; permanecem nas Constituições dos povos mais evoluídos como inerentes à defesa da dignidade do
ser humano e, no Brasil, foi cunhada na Constituição com a expressão direitos e garantias individuais. São os
direitos e garantias concentrados nos setenta e sete incisos do art.5º, da CF/88.
Ao final da primeira guerra mundial reinava um sentimento de que a paz mundial dependia da harmonia social,
havendo um ambiente propício para a construção dos rudimentos de um direito social. Assim, em 25 de janeiro
de 1919 instalou-se a Conferência de Paz e dela surgiu o Tratado de Versailles que trouxe em seu bojo a
criação da OIT- Organização Internacional do Trabalho. A Parte XIII do Tratado, inicia por reconhecer em seu
preâmbulo que "a Sociedade das Nações tem por objetivo estabelecer a paz universal e que tal paz não pode
ser fundada senão sobre a base da justiça social".
A criação da OIT constituiu o prenúncio de uma ação legislativa internacional sobre as questões de trabalho
sob a tríplice justificação: política (assegurar bases sólidas para a paz universal), humanitária (existência de
condições de trabalho que despertam injustiça, miséria e privações) e econômica (o argumento inicial da
concorrência internacional como obstáculo para a melhoria das condições sociais em escala nacional).
E, ali, no art. 427 do Tratado de Versailles (1919) estava consagrado o princípio segundo o qual as Altas
Partes contratantes reconhecem que "existem métodos e princípios para a regulamentação das condições de
trabalho" que todas as comunidades devem esforçar-se emaplicar. Dentre esses métodos e princípios
exsurgem com importância especial e urgente:
art. 1º - O princípio diretivo antes enunciado de que o trabalho não há de ser considerado como
mercadoria ou artigo de comércio;
art. 4º - A adoção da jornada de oito horas;
art. 5º A adoção de um descanso semanal de vinte e quatro horas, sempre que possível aos
domingos;
art. 6º a supressão do trabalho das crianças e a obrigação de impor aos trabalhos dos menores
de ambos os sexos as limitações necessárias para permitir-lhes continuar sua instrução e
assegurar seu desenvolvimento físico;
art.7º - O princípio do salário igual, sem distinção de sexo, para um trabalho de igual valor.
Nascia, então, a segunda geração de direitos, denominados, direitos sociais e econômicos, sendo
consagrados com a criação da OIT um rol de direitos do trabalhador, tidos por fundamentais e obrigatórios
para todos os estados signatários do Tratado. "Um tratado internacional de remarcado relevo consagrava,
assim, o Direito do Trabalho como um novo ramo da ciência jurídica."
De 1919 até 1939 quando eclodiu a segunda grande guerra a OIT havia adotado 67 convenções e 66
recomendações sobre os principais temas do Direito do Trabalho e da Previdência Social. O Brasil já ratificou,
na área de trabalho infantil, as seguintes Convenções:
- Convenção n. 5 - sobre a idade mínima (indústria) 1919;
- Convenção n. 6 - sobre o trabalho noturno dos adolescentes ( indústria) 1919;
- Convenção n. 7 - sobre a idade mínima (trabalho marítimo); 1920 (denunciada com a ratificação da
Convenção n. 58);
- Convenção n. 16 - sobre exame médico dos adolescentes (trabalho marítimo), 1921;
- Convenção n. 58 - sobre idade mínima (trabalho marítimo), 1936;
Em, 10 de dezembro de 1.948 a Assembléia Geral das Nações Unidas - ONU aprovava a Declaração
Universal dos Direitos do Homem consagrando os direitos e liberdades fundamentais cuja observância
universal e efetiva deve constituir ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações além de
consistir em objetivo de cada indivíduo e de cada órgão da sociedade. Somaram-se nesta declaração as duas
grandes gerações de direitos fundamentais, os individuais e os sociais.
Além de especificar e detalhar o direito a liberdade e a igualdade que constituíram a base dos direitos
fundamentais individuais a Declaração Universal dos Direitos do Homem trouxe artigos específicos aos
direitos sociais que ora se transcreve:
Artigo XXIII
1. Todo homem tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e
favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.
2. Todo homem, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho.
3. Todo homem que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe
assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e a
que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.
4. Todo homem tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para a proteção de seus
interesse.
Artigo XXIV
Todo homem tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho
e a férias remuneradas periódicas.
Artigo XXV
Todo homem tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e
bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais
indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez,
velhice e outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu
controle.
2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças,
nascidas dentro ou fora do matrimônio gozarão da mesma proteção social.
Artigo XXVI
1. Todo homem tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus
elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-
profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, está baseada no mérito.
2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e
do fortalecimento do respeito pelos direitos do homem e pelas liberdades fundamentais. (......)
Artigo XXVII
1.Todo homem tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as
artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios. (.....).
O Brasil também incorporou a segunda geração de direitos em sua Constituição de 1.988, bastando examinar
o que dispõe o Capítulo "Dos Direitos Sociais" (arts. 6º, 7º e 8º) e o Título "Da ordem social".
Necessário dizer, também, que tal incorporação está expressa no preâmbulo da Carta Magna em vigor, onde
se lê que ao instituir um Estado Democrático a nação brasileira está "a assegurar o exercício dos direitos
sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como
valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social".
Para a construção de um Estado Democrático de Direito o Brasil, consignou. ainda em sua Carta Suprema, a
adoção dos princípios fundamentais da cidadania, da dignidade da pessoa humana, dos valores sociais do
trabalho e da livre iniciativa (art. 1º) e, estipulou como objetivos fundamentais a construção de uma sociedade
livre, justa e solidária; erradicação da pobreza e a da marginalização e a redução das desigualdades sociais e
regionais; a promoção do bem de todos sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação. (art. 2º).
E, no art. 6º há a explícita enunciação dos direitos sociais instituídos e garantidos pela Constituição em vigor:
"Art. 6º - São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na
forma desta Constituição"
Como se vê, a nação brasileira fez, na Constituição Federal de 1.988, uma opção clara pela incorporação dos
direitos individuais e sociais mínimos assegurados pelas sociedades modernas e pelos povos evoluídos.
Direitos Sociais do Trabalhador
O Direito do Trabalho surgiu de dois pressupostos interligados: de um lado a liberdade, ou direito de trabalhar
e de outro a necessidade de impor limites à liberdade de contratar, pelo poder de polícia do Estado.
Ao final da primeira guerra mundial existia uma panorama favorável a construção dos direitos sociais e
econômicos. Prevalecera, anteriormente, a consagração dos direitos individuais, com acirrado liberalismo
econômico tido como a livre iniciativa do empresário ante a concorrência de mercado. O Estado não podia
intervir posto que predominava a interpretação de que seu papel era apenas o de assegurar que todos eram
livres para contratar, o que foi cunhado pela história como o período do "laissez-faire". Nesse contexto, o
trabalho virou uma mercadoria, como outra qualquer, sujeita a lei da oferta e da procura. Com a
industrialização surgiu uma massa de desempregados e, sem nenhum limite pelo poder de polícia do Estado,
os salários foram aviltados até a miséria, crianças desde quatro e cinco anos foram utilizadas como mão-de-
obra; mulheres foram exploradas em trabalhos insalubres e penosos; homens foram submetidos a jornada
extenuantes.
Em, 1802, o Moral and Health Act, de Robert Peel, na Inglaterra proibia o trabalhado de menores por mais de
12 (doze) horas por dia, bem como o trabalho noturno. Uma lei francesa de 1841 proibia o trabalho nas
fábricas e manufaturas de menores de oito anos, o que comprova a afirmação de que havia, no início do
século XIX, nas fábricas de tecidos, crianças de quatro e cinco anos trabalhando. A Constituição da França de
1848 introduziu o Direito do Trabalho, e já proibia a "marchandagem" ou seja a venda do trabalho humano
como mercadoria.
Como vimos, o Tratado de Versailles consagrou a essência do Direito do Trabalho, já em seu artigo primeiro,
ao declarar que o trabalho não éuma mercadoria; o que significa dizer, em última instância que nas relações
entre empregado e empregador deve respeitar-se o ser humano, como sujeito de direitos e obrigações não
apenas como detentor de força física ou intelectual colocada à disposição de outrem. Afinal, é como sujeito de
direitos que um ser humano se torna cidadão e só como tal pode ter respeitada sua dignidade de pessoa
humana.
Para atingir esse desiderato, ou seja, de que a parte economicamente mais forte na relação de trabalho
respeite as regras mínimas que não ofendam a dignidade do trabalhador as normas de Direito do Trabalho são
revestidas de coercibilidade, ou seja, são normas cogentes, de ordem pública, da quais não pode abrir mão o
trabalhador, seu sindicato, ou qualquer dos poderes públicos, executivo, legislativo ou judiciário. Uma vez
infringidas pelo empregador cabe a aplicação de sanções, multas de competência da fiscalização entregue
aos agentes do Ministério do Trabalho.
Tais normas são as de direito internacional, já consagradas pelos Tratados internacionais de que o Brasil é
signatário, as normas da OIT ratificadas pelo Brasil, e o conjunto de regras mínimas estabelecidas nos art.6º,
7º e 8º na Constituição Federal de 1.988, as definidas na Consolidação das Leis do Trabalho e toda a
legislação esparsa..
Urge afirmar, pois, que os direitos elencados no art. 7º da CF/88 nada mais são do que a conquista de
duzentos anos de evolução da humanidade iniciando pela consagração do direito à dignidade do ser humano
e, prosseguindo com as conquistas dos últimos cem anos relativas aos direitos sociais dos cidadãos, à vida, à
educação, à saúde e ao trabalho.
As vantagens trabalhistas no art. 7º da Constituição Federal, tais como: direito a uma jornada máxima de oito
horas de trabalho, a férias remuneradas, a descanso de 24 horas, preferentemente aos domingos, direito a um
meio ambiente de trabalho saudável com redução dos riscos do trabalho insalubre, perigoso e penoso; a
proibição do trabalho infantil, do menor de 16 anos; a proibição de trabalho insalubre, perigoso penoso e
noturno aos menores de 18 anos são hoje, reconhecidamente, direitos naturais e inalienáveis que têm por
base a natureza e dignidade do ser humano, sua constituição física, o respeito a pessoa em desenvolvimento
no caso do menor, ou adolescente, os limites físicos, psicológicos do ser humano, são, também, reconhecidas
internacionalmente. Logo, existe aí, um mínimo, também imutável, fundamental, não sujeito a restrição, ou
negociação, de direitos indisponíveis que cabe respeitar, no campo social.
E, porque é assim?. Porque, surgiu essa proteção ao trabalho humano subordinado?. Por que "O trabalho é o
próprio trabalhador. Daí por que, como disse COUTURE, na relação jurídica do trabalho está em jogo a mais
nobre das substâncias do direito: a substância humana. O salário não é apenas o preço da força de trabalho:
é o meio de subsistência de um ser humano, a quem a sociedade não pode negar o direito a uma existência
digna" (3)
O trabalho é uma "expressão da personalidade humana, como atributo do ‘ser’ e qualificado na sua forma de
dependência. O sujeito da relação emprega não só as suas energias físicas, que não são por si mesmas um
objeto descartável do ente humano, mas investe a própria pessoa humana, como fonte permanente da qual
emanam aquelas energias. É este aspecto do trabalho dependente - que não tem sido suficientemente
destacado pela doutrina --- que singulariza o contrato de trabalho. Sob esse aspecto, podemos dizer que
enquanto os contratos de direito comum giram em torno de coisas, de bens, de patrimônio, o contrato de
trabalho apanha a própria pessoa, envolvendo-a na sua essência humana". (2)
Quer dizer que quando o sujeito do contrato de trabalho emprega suas energias físicas e mentais, sua força e
capacidade de trabalho em prol da produção e lucratividade de outrem, investe também toda a própria pessoa
humana, como fonte donde emanam tais atributos. A capacidade física, mental, psiquíca do trabalhador não
podem ser vistas como objeto descartável do ser humano, mormente num trabalho subordinado. É, pois, a
integridade da essência humana, que o Direito do Trabalho visa a proteger, criando limites e impondo
condições a sua utilização no regime de trabalho subordinado.
Fez-se necessário fazer toda essa digressão passando pelos direitos e garantias individuais e resumindo a
evolução das conquistas pelos direitos sociais alcançadas no limiar do terceiro milênio, para relembrar que se
os Estados soberanos optaram por limitar a autonomia dos particulares é porque os abusos foram imensos,
como revela a história, quando examina o período denominado "a questão social". Como rememora Amauri
Mascaro Nascimento, alguns dados são extremamente significativos, citando que "Georges Duveu escreve
que no século passado, na França, os mineiros passavam 12 horas no fundo das minas; nas fábricas de
alfinetes o normal era o trabalho durante 14 ou 15 horas; nas tecelagens também. É conhecida a luta, na
Inglaterra, pelas 8 horas, inspirando mesmo, as letras de uma canção de protesto social: Eight hours to work/
eight hours to play/ eight hours to sleep/ eight shillings a day". (4)
Em resumo, todas as conquistas sociais foram fruto de muito sacrifício, de trabalho em condições de miséria e
indignidade, e extremado abuso e exploração das condições físicas e psicológicas do ser humano, com
jornadas diárias extenuantes para crianças e mulheres que chegaram a ser chamadas de "torturas"; salários
infames cunhando a expressão de "salário de fome", e desproteção total diante de acidentes do trabalho e
riscos sociais como a doença, o desemprego. "Daí a necessidade de alterar o sistema jurídico liberal por meio
de uma corrente legislativa que, adaptando-se à realidade social, impedisse que os princípios da liberdade
contratual e da autonomia da vontade, que pressupunham a igualdade entre os contratantes (inexistente no
contrato de trabalho) se transformassem em fato de agravamento do desequilíbrio entre o Capital e o Trabalho
e de perturbação da ordem social" (3)
"... o quadro dramático da exploração humana, que o início do do processo de desenvolvimento acarretou, não
é mais tolerável nos dias que correm. A elevação do valor ético do trabalho humano, através de um longo e
penoso esforço contra a desumanização da economia, é uma conquista definitiva da civilização. A revolução
industrial há de se processar, hoje, por outros métodos" (3)
Este estudo não visa a enunciar quais seriam estes outros métodos, nem seria nossa pretensão adentrar
numa seara da qual não se domina. Contudo, se para alguns o Direito do Trabalho representa uma parcela de
peso, rotulado por encargos sociais, para a economia subdesenvolvida (e seu percentual não é tão grande
quanto se pensa ou divulga) urge contorná-lo com outros mecanismos políticos e econômicos sugeridos por
cientistas políticos, sociais e econômicos, encontráveis nos artigos de revistas especializadas, tais como:
envolver outros segmentos da sociedade (grandes fortunas) e a comunidade internacional no financiamento
desse crescimento; exigir o comprometimento social das multinacionais que se instalam no país; sem falar na
minimização dos efeitos dos demais elementos que coarctam para o recrudescimento das dificuldades (juros a
patamares inaceitáveis, por exemplo).
Evidentemente que, é preciso manter um vigoroso Direito do Trabalho principalmente porque não se pode
negociar com a saúde do trabalhador e o Estado terá sempre que custear o resultado dos infortúnios, que não
souber coibir. Assim, cabe tutelar para que um cidadão saia de casa para trabalhar, por exemplo na
construção de uma usina hidroelétrica, ou no parque industrial de uma grande indústria e não venha a morrer
em virtude de acidente no trabalho. Não se pode imaginar que um trabalhador vá contribuir para a construção
de bens comerciais e/ou industriais e venha a perder um dedo, ou ter amputado um braço ou uma perna. Não
se pode pretender que um adolescente saia decasa, deixe a escola, para assumir no mercado de trabalho a
produção de carvão vegetal, de açúcar e álcool, a extração de pedras, sal, a tecelagem, a produção de tijolos
ou cerâmicas, ou até mesmo a digitação em computadores e venha a adquirir nesse ambiente de trabalho os
seus efeitos nocivos à saúde, tais como artrose da coluna vertebral, lesões por esforços repetitivos; ferimentos
traumáticas por corte com instrumentos de trabalho; fadiga crônica, queimaduras, desidratação; problemas
respiratórios, auditivos, mutilações, dentre outros males, por não possuir idade cronológica para se adaptar a
um trabalho penoso, insalubre ou perigoso, mormente quando ausentes o fornecimento dos equipamentos de
proteção coletiva e individual adequados.
Trabalho Subordinado e Trabalho Produtivo
Já enunciou-se linhas acima que o Direito do Trabalho tutela o trabalho subordinado, posto que há outras
relações em que não há essa linha diferencial de tutela. Não são regidos pelas leis trabalhistas os contratos
dos empreiteiros, que se comprometem com o resultado de uma certa obra (art. 1237 C.Civil), os contratos
dos autônomos que por meio da locação de serviços ou prestação de serviços se comprometem em realizar
um serviço em certo tempo, por preço acertado, e trabalham ao modo, conta e risco próprios (art. 1216
C.Civil), de que são exemplos típicos os profissionais liberais, artistas, empreiteiros de obras, representantes
comerciais, dentre outros. O autônomo não está subordinado às ordens emanadas do poder diretivo do
tomador dos serviços e, sendo, portanto independente, trabalha quando quiser, como quiser e segundo os
critérios que determinar para entregar os resultados do objeto contratado.
O Direito do Trabalho, ao contrário, tutela o trabalho subordinado realizado por empregados. A CLT considera
empregado, toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual, a empregador, sob a
dependência hierárquica deste e mediante salário. E, considera empregador, a empresa (pessoa física ou
jurídica) que assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de
serviços.
Trata-se, pois, de um contrato em que se pretende contar com a prestação de serviços de uma determinada e
específica pessoa (pessoalidade) que exerce atividade permanente e continuada (não eventual) sob
dependência, ou seja, observando o poder diretivo do empregador, as regras e cláusulas contratuais e as
ordens de quando, onde e de que modo deve agir (subordinação hierárquica); mediante um salário
(onerosidade), trabalho este prestado para uma empresa, ou seja, em prol de terceiros, que assumem os
riscos da atividade econômica e que operam no mercado, predominantemente, com fins lucrativos.
Saliente-se, por fim que, mesmo que não haja um acordo de vontades expresso, que não exista um contrato
de trabalho formal, haverá uma relação de emprego. Toda vez que houver prestação de trabalho subordinado,
sem oposição do tomador dos serviços, caracteriza-se o vínculo entre empregado e empregador, de forma
tácita, atraindo a tutela do Direito do Trabalho (art. 442, da CLT).
Não é demasia, para o presente trabalho conceituar trabalho. Do Vocabulário Jurídico "De Plácido e Silva"
extrai-se que:
Trabalho em sentido genérico é "todo esforço físico, ou mesmo intelectual, na intenção de realizar ou fazer
qualquer coisa"
No sentido econômico e jurídico, porém, trabalho não é simplesmente tomado nesta acepção física: é toda
ação, ou todo esforço, ou todo desenvolvimento ordenado de energias do homem, sejam psíquicas, ou sejam
corporais, dirigidas com um fim econômico, isto é, para produzir uma riqueza, ou uma utilidade, suscetível de
uma avaliação, ou apreciação monetária. Assim, qualquer que seja a sua natureza, e qualquer que seja o
esforço que o produz, o trabalho se reputa sempre um bem de ordem econômica, juridicamente protegido.
Por esta razão, indicando o trabalho uma atividade produtiva, qualquer fato capaz de injustamente impedi-lo,
ou que seja causa de uma inatividade, de que resulte prejuízo, ou perda, para o trabalhador, dá motivo à justa
indenização. No cômputo dessa indenização, pois, o trabalho é compreendido como qualquer espécie de
atividade, de que se possa gerar um utilidade, ou um bem econômico"
Pois bem, o "o conceito jurídico de trabalho supõe que este ‘se apresenta como objeto de uma prestação
devida ou realizada por um sujeito em favor de outro’. Tal ocorre quando 1.uma atividade humana é
desenvolvida pela própria pessoa física; 2.essa atividade se destina à criação de um bem materialmente
avaliável; 3.surja de relação por meio da qual um sujeito presta, ou se obriga a prestar, a própria força de
trabalho em fvor de outro sujeito, em troca de uma retribuição". (3).
É esse trabalho subordinado, sob dependência e em prol da lucratividade de outrem, que recebe a tutela do
Direito do Trabalho. Tem como finalidade limitar e definir as condições aceitáveis em que a energia do
empregado possa ser entregue mediante retribuição, e minimizar as disparidades econômicas e sociais de
modo a coibir no trabalhador a convicção de estar sendo explorado. Como um bem econômico, uma utilidade
suscetível de ser mensurada economicamente é natural sujeitar aquele que o recusa, após contratá-lo, a
indenizar o empregado. Como também é o trabalho mote da subsistência digna, mister que na sua ausência,
seja pelo simples desemprego, seja por motivo de doença ou acidente de trabalho o Estado o defenda com o
seguro social. É a chamada tutela do hiposuficiente. É atribuir aos desiguais, tratamento desigual, de forma a
atingir a um equilíbrio de forças entre capital e trabalho.
Trabalho do Menor
No decorrer do estudo vimos que no início do século passado nasceram, com a revolução industrial, as
primeiras preocupações com a proibição e tutela do trabalho do menor. Sucessivamente reduziram-se as
horas de trabalho, e a idade mínima para o ingresso no trabalho e fixaram-se as proibições de atividades com
prejuízo da saúde física da pessoa em desenvolvimento.
São inúmeros os fundamentos que exigem uma proteção especial do trabalho do menor. Os de ordem física
justificam a proibição de trabalho noturno, insalubre, perigoso ou penoso de forma a assegurar seu
desenvolvimento natural e para que não seja exposto a riscos de acidente ou doença do trabalho; de ordem
cultural a fim de permitir que o menor adquira a instrução e capacitação adequada a competir no mercado de
trabalho; de ordem moral para que seja afastado de ambientes prejudiciais à sua moralidade. e de segurança
à pessoa em desenvolvimento para que não seja exposto a riscos de acidente do trabalho.
Conveniente pontuar que, inobstante o Estatuto da Criança e do Adolescente tenha procurado evitar o uso do
vocábulo menor, no âmbito do Direito do Trabalho tal palavra nada tem de negativo. Tanto assim, que a própria
Constituição Federal dela se apropria quando quer diferenciar o trabalho do adulto do trabalho do menor.
Portanto, neste estudo, a utilização da palavra menor terá sempre o mesmo significado que a palavra
adolescente.
O Brasil, recentemente, com a Emenda Constitucional 20/98, alterou a redação do art. 7º, inciso XIII para
proibir expressamente o trabalho de menor de 16 (dezesseis) anos, salvo na condição de menor aprendiz. Já
desde o advento da CLT é proibido o trabalho de menores de 18(dezoito) anos em trabalho noturno, insalubre,
perigoso ou penoso, ou que prejudique sua freqüência à escola.
A nova redação do inciso, do artigo 7º, da CF/88 aprovada em 15.12.1988, com a EC 20/98, ficou assim
expressa:
XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de
qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de
quatorze anos;
A alteração é introduzida a bom tempo, eis que por várias vezes o Congresso Nacional não pode referendar a
Convenção 138 da OIT que prescreve a idade mínima para ingresso no trabalho aos 15 anos e sua
progressiva ampliação, para 16 anos, em razão do nível do desenvolvimentodo país signatário. A Convenção
138 da OIT é a Convenção sobre a Idade Mínima, de 1.973, que visou fixar um instrumento geral sobre a
matéria, que substitua gradualmente os atuais instrumentos, aplicáveis a limitados setores econômicos.
Em seu artigo 1º, a Convenção 138 da OIT, preconiza:
"Todo País-membro, no qual vigore esta Convenção, compromete-se a seguir uma política
nacional que assegure a efetiva abolição do trabalho infantil e eleve, progressivamente, a idade
mínima de admissão a emprego ou a trabalho a um nível adequado ao pleno desenvolvimento
físico e mental do jovem".
Anote-se que já estava na pauta do Programa Nacional de Direitos Humanos (1.996) do Ministério da Justiça a
ratificação da Convenção 138/OIT como meta de curto prazo. Com efeito, se o Brasil quiser comercializar seu
produtos no mercado globalizado, mister que comprove, perante a comunidade internacional que não explora
mão-de-obra infantil ou de adolescentes. Os organismos internacionais e os instrumentadores do capitalismo
já têm consciência da gravidade dessa exploração, pois destruída a infância estará abortado o cidadão e com
ele, o ser humano produtivo, consumidor e propagador de riquezas.
A inserção precoce dos menores no mercado de trabalho, justificada pela legenda de que "melhor no trabalho
do que na rua" é fruto de uma visão retrógrada e distorcida da sociedade, do mercado de trabalho e do papel
mínimo do Estado, previsto na Constituição. Em verdade as conseqüências da inserção precoce dos menores
de 16 anos no trabalho são devastadoras e alarmantes.
Os informes dos organismos internacionais (IPEC - OIT), e não oficiais como as ONGs demonstram que
trabalham e produzem em igualdade de condições ao trabalhador adulto, e em determinadas funções (no
trabalho rural) em condições de maior produtividade, com salários menores. Aqueles que trabalham mais cedo
têm um desenvolvimento cultural e educacional, quantitativamente menor do que seus pais atingiram na idade
adulta. Os dados também informam que, quanto mais cedo iniciam o trabalho, quando adultos, têm a
tendência de permanecer com iguais ou piores salários do que os de seus pais.
Outros aspectos necessitam ser examinados: ao admitir menores o mercado de trabalho está ocupando
vagas, já escassas, que poderiam ser destinadas a seus pais, ou a outros empregados adultos. Quando
sofrem acidentes do trabalho têm suprimida sua integridade física em tenra idade e com drásticos
comprometimentos sociais, desde a necessária recapacitação para o seu retorno ao mercado do trabalho, em
gastos com a previdência, sem falar em sua readequação na vida social. Por fim, suprime das crianças e
adolescentes a melhor fase da vida e o seu direito inviolável de brincar e ter acesso a todo o conhecimento
científico disponível na sociedade.
Do ponto de vista do empregador constituem os menores um grupo de trabalhadores dóceis, extremamente
produtivos, nunca fazem greve, e desconhecem a legislação social mínima. Tamanha inocência e ausência de
noção de cidadania e dos direitos sociais assegurados pela Constituição Federal facilita sua inserção no
mercado sem o respectivo registro em CTPS e de conseqüência sem o reconhecimento de todos os direitos
sociais e previdenciários. Como, em geral, não possuem registro, ou quando trabalham formalmente são
registrados em funções subalternas, dificilmente têm acesso ao salário da categoria, denominado, piso
salarial.
Inobstante tão graves males, subsiste, no país, uma massa de trabalhadores menores, em total desrespeito ao
que determina a Constituição, que emprestam sua energia, seu potencial humano para a construção da
lucratividade de terceiros sem nenhum comprometimento social, seja com o reconhecimento dos direitos
individuais sociais indisponíveis, seja com o aporte aos órgãos competentes dos recolhimentos trabalhistas e
previdenciários.
Do ponto de vista da Drª Ruth Beatriz Vilela que já esteve à frente da Secretaria de Fiscalização do Trabalho,
do Ministério do Trabalho, as raízes do trabalho infantil, podem ser assim descritas:
"Países como o Brasil, cujo padrão de desenvolvimento apresenta uma distribuição de renda injusta, com
desigualdades regionais muito profundas e onde existe um contingente de famílias em situação de extrema
pobreza associada às precárias condições da escola pública a que seus filhos têm acesso, acarreta a
necessidade, por parte dessas famílias, de utilizar o trabalho precoce de seus filhos"
"Paralelamente à situação de pobreza em que vive significativa parcela da população do país, o fator cultural
contribui, embora de forma menos preponderante, para justificar a utilização de mão-de-obra infantil. Pela
cultura da valorização do trabalho, mesmo o precoce passa a ser visto como a grande alternativa para atenuar
a carência das crianças, prevenir a sua possível delinqüência e viabilizar sua incipiente cidadania. Qualquer
iniciativa que venha ampará-las, ocupando-as e retirando-as das ruas e dos riscos da ociosidade passa a ser
considerada como positiva, até mesmo aquelas executadas em condições que podem comprometer seu
desenvolvimento físico e psicológico. Com isso, os próprios pais são levados a pensar que o trabalho, para os
filhos pequenos, representa uma alternativa preferível ao ócio e até mesmo à escola".
Direitos do Trabalhador Menor
Entre 16 e 18 Anos de Idade:
Estabelecido, pois, que o menor atinge aos dezesseis anos a capacidade para o trabalho, vejamos de que
forma trata a legislação brasileira o direito do trabalhador adolescente.
Em primeiro lugar cumpre dizer que, na data da alteração da Constituição Federal, muitos menores entre 14 e
16 anos incompletos foram encontrados trabalhando. Para estes, como forma de minimizar as conseqüências
do rompimento brusco do trabalho, por vezes, a única fonte de renda deles, e da própria família, foi
assegurada a permanência no emprego, em razão da norma anterior.
Outrossim, é preciso mencionar que, inobstante a idade mínima para o trabalho seja a de dezesseis anos, o
emprego dessa mão-de-obra de forma ilícita de qualquer forma é tutelado. É que, em qualquer hipótese o
trabalho prestado a outrem, ou seja executado com o consentimento do empregador, inobstante sua
anulabilidade, produz efeitos, porquanto não podem ser devolvidas as energias despendidas pelo empregado.
Assim, encontrado menor de 16 anos trabalhando cabe à fiscalização do trabalho multar o empregador e
retirar o menor do trabalho. Mas, não podendo devolver-se as partes ao "status quo ante", sem prejuízo da
atividade já desempenhada pelo trabalhador, devem ser pagos todos os consectários legais decorrentes,
como se relação de emprego tivesse havido. (art. 444, c/c art. 9º da CLT).
Importa frizar, também, aqui, que recentemente, o artigo 203 do Código Penal foi alterado pela Lei 9.777 de 29
de dezembro de 1998 (DOU, 30.12.98), estabelecendo-se que quem frustar direito trabalhista, mediante
fraude ou violência, incorrerá em crime, sendo majorada a pena que é agora de Detenção de um ano a dois
anos e multa, além da pena correspondente à violência. Ao artigo foi acrescido o § 2º, com a seguinte
redação: "A pena é aumentada de um sexto a um terço se a vítima é menor de dezoito anos, idosa, gestante,
indígena ou portadora de deficiência física ou mental".
A regra basilar orienta no sentido de que os direitos sociais do trabalhador adolescentes são idênticos ao do
trabalhador adulto. E, assim o é, em face do respeito aos princípios fundamentais da igualdade de todos
perante a lei, da dignidade do ser humano; da não discriminação. Logo, além de fazer jus à gama de direitos
elencados no art. 7º da CF/88, está protegido com toda uma regulamentação especial.
Os primeiros direitos, ou seja, os direitos sociais de qualquer trabalhador brasileiro, inclusive do adolescente
na faixa etária de 16 a 18 anos, são: relação de emprego protegida pela anotação da CTPS - carteira de
trabalho e previdência social; recolhimentos a razão de 8% sobre a remuneração para o FGTS, e multa de
40% em razão de dispensa semjusta causa (art. 10 ADCT); seguro-desemprego; salário-mínimo; piso salarial
da categoria; irredutibilidade salarial salvo negociação coletiva; participação nos lucros; 13º salário; jornada de
oito horas; repouso semanal remunerado preferencialmente aos domingos; férias anuais remuneradas com
pelo menos um terço a mais do que o salário normal; licença à gestante com duração de 120 dias; estabilidade
da gestante desde a gravidez até cinco meses após o parto (art. 10, ADCT); licença-paternidade; aviso prévio;
reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho.
Ao empregado adolescente, na faixa de 16 a 18 anos são ainda asseguradas, as seguintes condições de
trabalho, em razão de se tratar de pessoa em desenvolvimento:
Art. 7º, inciso XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por
motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;
Art. 7º, inciso XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do
trabalhador portador de deficiência;
Art. 7º, inciso XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou entre os
profissionais respectivos.
Já a Consolidação das Leis do Trabalho contém outra gama de regras protetivas aos interesses do
adolescente-empregado:
A CTPS - carteira de trabalho e previdência social do adolescente-emrpegado deve ser anotada pelo
empregador, assim entendido, o beneficiário dos serviços (tomador), já que o registro por terceiros, mesmo
entidades filantrópicas, é proibido pela legislação (CF, art. 7º e seus incisos; CLT, art.s 2º, c/c 3º, 9º, 442, 443,
444 e Enunciado 331, do E. TST).
Ao adolescente é proibido o trabalho noturno, perigoso ou insalubre, tanto no âmbito urbano como no âmbito
rural (CF, art. 7º, inciso XXXIII; ECA art. 67, I, e II; CLT art. 405, I; Lei 5889/73, art. 8º e, Decreto 73.626/74, art.
12).
O trabalho noturno é aquele prestado das 22 h de um dia às 5h do dia seguinte para o trabalho urbano (CLT,
art.73, §2º). Para o trabalhador rural, é aquele prestado das 20h de um dia à 4h do dia seguinte, na pecuária,
e das 21 h de um dia às 5 h do dia seguinte, na agricultura (Lei 5589/73, art. 7º e Decreto 73626/74, art. 11,
parágrafo único).
O trabalho insalubre é aquele prestado em condições que expõe o trablhador a agentes nocivos à saúde,
acima dos limites de tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de
exposição aos seus efeitos (CLT, art.189, e Portaria 3.214/78 do Ministério do Trabalho e suas Norma
Regulamentares relativas à segurança e medicina do trabalho.
O trabalho perigoso é aquele que implique contato com inflamáveis, explosivos, energia elétrica de alta tensão
ou em atividades que coloquem em risco a integridade física do empregado (CLT, arts.193 e 405, I, NR-16 da
Portaria 3214/78; Lei 7369/85).
É vedado o trabalho penoso, que exige maior esforço físico ou que se realize em condições extremamente
desagradáveis. Especificamente é proibido ao adolescente e à mulher qualquer atividade que demande força
muscular superior a 20 (vinte) quilos , para o trabalho contínuo, e 25 (vinte e cinco) quilos, para o trabalho
ocasional (CLT, art. 405, §5º, c/c art. 390).
Considera-se, ainda prejudicial à saúde e à moralidade do adolescente o trabalho prestado nos locais
mencionados no art. 405, §3º da CLT, tais como: trabalho em boates, cabarés, venda de bebidas alcoólicas, na
produção, entrega ou venda de impressos contrários aos valores éticos e sociais da pessoa, da família. É
dever do empregador, nos termos do art. 425, da CLT, velar pela observância dos bons costumes e da
decência pública no âmbito do estabelecimento que empregue adolescente, bem como é dever de seus
responsáveis legais (pais, mães, tutores) afastá-los de empregos que diminuam consideravelmente seu tempo
de estudo, reduzam o tempo de repouso necessário à saúde e constituição física ou prejudiquem a sua
formação moral (CLT, art. 424; ECA , art. 67, III).
Os responsáveis legais pelo adolescente tem a faculdade de obter a rescisão de seu contrato de trabalho, se
comprovarem ser prejudicial a sua saúde e a sua moral (CLT, art. 408).
Quanto à remuneração o adolescente-empregado, mensalista, com jornada de 220 horas mensais, deverá
receber valores iguais ou superiores ao salário-mínimo, ou ainda, fará jus ao piso normativo da categoria
profissional (piso salarial da categoria fixado em Acordo ou Convenção Coletiva de Trabalho). Se a jornada for
reduzida, isto é, com menos de oito horas diárias, deverá receber o correspondente as horas trabalhadas com
base no salário-hora igual ou superior ao salário-mínimo-hora ou piso normativo-hora, com expressa menção
dessa condição na CTPS (CLT, arts. 58, 64, 65 e 76).
A jornada do adolescente-empregado é a mesma do empregado adulto, sendo equivalente ao máximo de oito
horas diárias, não podendo ultrapassar 220 horas mensais. Se o adolescente for empregado em mais de um
estabelecimento, as horas de trabalho em cada um serão somadas, a ponto de impedir que sua jornada seja
superior a oito horas diárias (CLT, art. 414).
É vedada a prorrogação habitual, da duração normal diária do trabalho do adolescente, na forma do art. 413,
caput, da CLT. Essa prorrogação é admitida por motivo de força maior se o trabalho do adolescente for
imprescindível ao funcionamento do estabelecimento, em até quatro horas por dia, com comunicação por
escrito ao Ministério do Trabalho, em 48 horas (CLT, art.413, II) sendo válida apenas enquanto perdurar o
motivo excepcional.
O adolescente-empregado pode firmar acordo de compensação de jornada, entendida esta, como aquela que
prorrogue a jornada de oito horas em até, no máximo duas horas diárias, para abolir o trabalho nos sábados e,
desde que não ultrapassada a jornada semanal de 220 horas e haja previsão em Acordo ou Convenção
Coletiva de Trabalho
Enfim, a jornada de trabalho do adolescente-empregado haverá de ser aquela que, observa os limites da lei
(oito horas ao dia, e 44 horas semanais), e desde que não prejudique sua freqüência à escola (CLT, art. 413, I,
c/c art. 427, e ECA, art. 67, IV).
O adolescente-empregado pode firmar recibo de pagamento (semanal, mensal), exceto o recibo de quitação
final. O recebido de quitação final relativo a extinção do contrato de trabalho (CLT, art. 439) somente terá
validade se for assinado por seu responsável legal (pai, mãe, tutor). De qualquer forma, se o adolescente-
empregado houver trabalhado por mais de um ano o recibo de quitação final somente terá validade se
homologado pela respectiva entidade sindical e, na omissão ou ausência desta, pela DRT e demais
autoridades competentes. (CLT, art. 477).
Contra o menor de 18 anos não corre a prescrição do direito de ação quanto a créditos trabalhistas
decorrentes de contrato de trabalho havido com ou sem registro em CTPS, tanto no âmbito rural, quanto
urbano. Somente a partir do momento em que o adolescente completa 18 anos é que começa a fluir o prazo
estabelecido pelo art. 7º, XXIX, "a" e "b" da Constituição Federal e art. 440 da CLT.
Relativamente às férias, ainda, não pode o adolescente fracionar o gozo de férias, ou seja, estas deverão
corresponder sempre a um período de 30 dias consecutivos (CLT, art. 134, § 2º). Os adolescentes têm, ainda,
o direito de fazer coincidir o período de suas férias no trabalho com as férias escolares (CLT, art. 136,§2º). É
facultado ao adolescente converter 1/3 das férias, ou seja, usufruir apenas 20 dias, e converter os restantes 10
dias em abono pecuniário, no valor da remuneração que lhe seria devida nos dias correspondentes (CLT, art.
143).
De modo que, atendidos os princípios da igualdade de todos perante a lei, da dignidade do ser humano, da
não discriminação, quando houver contrato de trabalho ou relação de emprego com o adolescente na faixa de
16 a 18 anos, este terá idênticos direitos a de qualquer trabalhador adulto. E, ainda, em respeito a sua
condição de pessoa em desenvolvimento haverá o empregador que conciliar os direitos sociaiselencados na
Constituição Federal, com as regras da CLT e do ECA protetivas do trabalhador adolescente.
Contrato de Trabalho do Menor Aprendiz
Aprendizagem Metódica de um Ofício
A par de poder ser contratado como empregado, nas mesmas condições do adulto, a legislação prescreve,
ainda, uma modalidade especial de contrato, a qual, por força do dispositivo constitucional já antes
comentado, permite a inserção no trabalho, a partir de 14 anos, na condição de menor aprendiz.
O contrato de trabalho do menor aprendiz é uma modalidade especial de contrato de trabalho regulada pelos
artigos 80 e 429 a 433 da CLT e demais regulamentação especial, que está a cargo do chamado Sistema "S" -
Senai, Senac.
O art. 80, parágrafo único, da CLT dispõe que considera-se aprendiz o menor sujeito à formação profissional
metódica do ofício em que exerça o seu trabalho.
Com a Emenda Constitucional nº 20/98 que deu nova redação ao artigo 7º, inciso XXXIII, ficou restrita a faixa
etária dos menores entre 14 (quatorze) a 18(dezoito) anos incompletos.
Os requisitos de validade do contrato de aprendizagem são:
a) - termo de contrato de trabalho escrito com anuência do responsável legal pelo adolescente;
b )- anotação do contrato de menor aprendiz na CTPS (CLT, art. 29, c/c art.. 429);
c )- registro do termo do contrato de aprendizagem no Ministério do Trabalho, solicitado no prazo de 30 dias,
por meio de requerimento acompanhado do certificado de aprendizagem, obtido na matrícula no SENAC e
SENAI;
d) - idade do adolescente entre 14 e 18 anos (art. 7º, inciso XXXIII da CF/88, c/c EC 20/98);
e) - conclusão pelo adolescente da 4ª série do ensino fundamental (1º grau) ou que o mesmo possua
conhecimentos mínimos essenciais para a preparação profissional;
f) - que a atividade objeto da aprendizagem esteja relacionada na Portaria 43/53, alterada pela Portaria
1055/64 e portarias posteriores;
g) - que se obedeçam as regras de proteção ao trabalho do menor previstas na CLT e no eCA;
h) - o contrato terá duração correspondente ao do curso, ou seja. o tempo necessário para a aprendizagem,
não podendo ultrapassar três anos.
A aprendizagem, segundo a CLT, pode ocorrer de duas formas:
a) - a realizada por meio do SENAC e SENAI (CLT, arts. 80, 429 a 433, Decreto 31546/52, e Portarias do MTb
43/53 e 1055/54 e portarias posteriores.
b) - a realizada na própria empresa desde que haja planejamento, supervisão e adequação dos cursos pelo
SENAI e SENAC (Portaria 127/56, do MTb) quando não exisitirem vagas nos cursos ministrados por essas
entidades, ou quando inexistirem cursos na localidade.
Quanto ao salário, o menor aprendiz, na primeira metade da duração máxima prevista para o aprendizado, o
salário nunca será inferior a meio salário mínimo. Para a segunda metade do contrato será de no mínimo 2/3
do salário mínimo (art. 80, caput, da CLT).
Há quotas mínimas de contrato de menor aprendiz que as empresas devem observar. Os estabelecimentos
industriais são obrigados a empregar e matricular nos cursos do SENAI número de aprendizes equivalent a
5% no mínimo e 15% no máximo dos operários existentes em cada estabelecimetno e cujos ofícios
demandem formação profissional, na forma do art. 429 da CLT.
Os estabelecimentos comerciais com mais de nove empregados são obrigados a empregar e matricular no
SENAC até o limite de 10% do total de empregados de todas as categorias em serviço no estabelecimento, na
forma do art. 1º, do Decreto-Lei 8622/46.
Em comentando esses dispositivos em confronto com a realidade há que observar-se que estão em
descompasso com a necessidade as exigências de que apenas SENAC e SENAI podem participar do contrato
de menor aprendiz, eis que estão atendendo em número insuficiente as empresas industrias e comerciais;
podendo ser perfeitamente estendidos a outras autarquias em regime especial, tais como SESC, SESI,
SENAR além das escolas técnicas e as escolas oficiais, reconhecidas pelo MEC, com regular
profissionalização.
Além disso, urge que se estendam as quotas mínimas para todos os estabelecimentos empresariais e que as
autarquias especiais destinem parte obrigatória de seus orçamentos para o atendimento dos adolescentes-
carentes. É que, com efeito, o sistema como se encontra é extremamente elitista, pois exige que o
adolescente esteja com a idade cronológica equivalente a idade escolar, exige pagamento de matrícula para
os cursos profissionalizantes; além de exigir como pré-condição uma escolaridade e formação incompatíveis
com a condição de menores-carentes ou oriundos de lares de famílias de baixa renda.
Tem havido parcerias entre o desembolso dos recursos do FAT, através do PLANFOR, por meio de Convênios
entre as Secretarias de Trabalho Estaduais e os Escritórios Regionais do SENAC e SENAI, para o
desenvolvimento de programas profissionalizantes pelo Sistema "S" para adolescentes-carentes, como uma
solução bastante eficiente e abrangente. Todavia, pode-se reconhecer que a mesma é insuficiente, até porque
não sistematizada para todo o país, e sim fruto de um arrojado, dinâmico e construtivo empenho do Ministério
Público do Trabalho, por sua Procuradoria Regional do Trabalho da 9ª Região, no Paraná, no sentido de
regularizar o trabalho do adolescente, diante da legislação como posta.
O Ministério Público do Trabalho, por suas Procuradorias Regionais, em todo o país, como se vislumbra no
Relatório das "Atividades do Ministério Público do Trabalho na Erradicação do Trabalho Infantil e na
Regularização do Trabalho do Adolescente" tem exigido o cumprimento das cotas de menores aprendizes no
âmbito de seus estados, perante os empregadores da área do comércio e indústria. Como a economia vem se
desenvolvendo amplamente na área de serviços, faz-se necessário, até por isonomia de tratamento que estas
também sejam chamadas a observar as cotas de menores-aprendizes, sendo também urgente uma alteração
legislativa, nesse sentido.
Uma peculiaridade valiosa do contrato especial do menor aprendiz é a possibilidade de o adolescente, quando
da conclusão do contrato ou ao atingir 18 anos de idade, de ser efetivamente aproveitado pela empresa em
que desenvolveu o aprendizado. Outra vantagem do sistema é a de que nessa modalidade contratual o menor
tem a efetiva possibilidade de aprendizagem de um ofício, posto que todo o processo de formação técnica e
prática e acompanhado, na parte teórica por professores especializados e na parte prática por profissionais da
área, os chamados mestres do ofício.
Por outro lado, mister que se reconheça que as necessidades do mercado estão mais voltadas para um
profissional polivalente, da mesma forma que a própria orientação que emerge da nova LDB é no sentido de
educar para um saber constante, posto que a previsão é de que cada trabalhador irá mudar de ramo
profissional, pelo menos, três vezes em sua vida ativa. De modo que outras formas de trabalho educativo, ou
de aprendizagem profissional estão sendo requeridas.
Conquanto a inequívoca contribuição que a modalidade de aprendizagem instituída pelo contrato de menor
aprendiz pode oferecer a essa clientela, inegável, por outro lado, que o Sistema "S", responsável pela parcela
de formação teórica, no programa do menor aprendiz, ainda que ampliado, ou que plenamente exigido em
suas atribuições, não é suficiente para atender toda a gama de adolescentes, ociosos, ou aguardando
colocação no mercado de trabalho, ou nela empregados de forma irregular.
Trabalho Educativo
Inferências legais a partir do art. 68 do ECA
Com fulcro no que dispõe o art. 68 do ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente aguarda-se o advento de
Lei que virá a regulamentar o que se denomina de trabalho educativo. O presente estudo visa a contribuir
para que alguma inovação seja trazida em benefício dos trabalhadores adolescentes e da qualificação da
mão-de-obra necessária ao mercado de trabalho.
Antes de adentrar especificamente no tema, é imprescindível enfatizar que além do que dispõe a Constituição
do país, o Brasil promulgou, com vigência a partir de 1990,a Convenção sobre os direitos da Criança, da
ONU, também conhecida como Convenção de Nova York porque ali firmada.
No artigo 1º, da Convenção, criança é conceituada como todo ser humano com menos de dezoito anos de
idade.
Nesta convenção internacional a ONU não recomenda em nenhum artigo o acesso das crianças ao trabalho.
Ao contrário o art. 28 reconhece o direito da criança à ampla educação e capacitação profissional; o artigo 24
reconhece o direito da criança de gozar do melhor padrão possível de saúde e serviços de saúde; o artigo 27
reconhece:
art. 27 - 1. Os Estados Partes reconhecem o direito de toda criança a um nível de vida
adequado ao seu desenvolvimento físico, mental, espiritual, moral e social.
2. Cabe aos pais, ou a outras pessoas encarregadas, a responsabilidade primordial de
propiciar, de acordo com suas possibilidades e meios financeiros, as condições de vida
necessárias ao desenvolvimento da criança.
3. Os Estados-Partes, de acordo com as condições nacionais e dentro de suas possibilidades,
adotarão medidas apropriadas a fim de ajudar os pais e outras pessoas responsáveis pela
criança a tornar efetivo esse direito e, caso necessário, proporcionarão assistência material e
programas de apoiso, especialmente no que diz respeito à nutrição, ao vestutário e à
habitação.
Não é demasia, citar alguns incisos do artigo que assegura o direito à educação:
Art. 28 - 1. Os Estados-Partes reconhecem o direito da criança à educação e, a fim de que ela
possa exercer progressivamente e em igualdade de condições esse direito, deverão
especialmente:
a)- tornar o ensino primário obrigatório e disponível gratuitamente para todos;
b)-estimular o desenvolvimento do ensino secundário em suas diferentes formas inclusive o
ensino geral e profissionalizante, tornando-o disponível e acessível a todas as crianças, e
adotar medidas apropriadas tais como a implantação do ensino gratuito e a concessão de
assistência financeira em caso de necessidade.
c)- tonar o ensino superior acessível a todos com base na capacidade e por todos os meios
adequados:
d)- tornar a informação e a orientação educacionais e profissionais disponívies e acessíveis a
todas as crianças;
e)- adotar medidas para estimular a freqüência regular às escolas e a redução do índice de
evasão escolar.
A Constituição Federal, a LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, o Estatuto da Criança e do
Adolescente em nada destoam destes princípios norteadores e dessa valiosa intenção de promover o
desenvolvimento da personalidade, das aptidões e da capacidade mental e física da criança em todo o seu
potencial, de modo a que possa competir no mercado de trabalho em igualdade de condições e formar-se
como cidadão.
No Brasil, no capítulo "Da Ordem Social" a Constituição insere uma seção específica "Da assistência Social"
onde prescreve no artigo 203 que a assistência social será prestada a quem dela necessitar e tem por
objetivos dentre outros:
I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;
II - o amparo às crianças e adolescentes carentes;
III - a promoção da integração ao mercado de trabalho; dentre outras.
No artigo seguinte, 204 da CF/88 estabelece que as ações governamentais na área de assistência social
serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade social, não descartando a colaboração de outras
entidades beneficientes e de assistência social.
No capítulo próprio "Da família, da criança, do adolescente e do idoso", destaca-se a regra que se aplica,
precipuamente, ao adolescente: que prescreve:
art. 227 - É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente,
com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.
§3º - O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos:
II - garantia de direitos previdenciários e trabalhistas;
III - garantia de acesso ao trabalhador adolescente à escola.
Deflui, pois, da norma constitucional que a opção do legislador Constituinte brasileiro foi, com absoluta
prioridade, pela educação, profissionalização e saúde do menor e em qualquer hipótese pela garantia do
trabalhador adolescente à escola e aos direitos previdenciários e trabalhistas. E, quando se trata de
adolescentes carentes a opção foi pela assistência social com amparo e promoção da integração ao mercado
de trabalho.
Portanto, o Brasil acompanhando a orientação das nações organizadas e dos povos mais evoluídos escolheu
como objetivos do Estado a plena valorização da criança e do adolescente e a prioridade pela sua educação e
profissionalização. Não é demasia, repisar, que inexiste texto de lei assegurando ao adolescente o direito ao
trabalho. Este, é tolerado aos menores entre 16 e 18 anos por se tratar de país em desenvolvimento e de
economia com distribuição desigual de rendas.
É dentro deste quadro jurídico que se busca repensar a validade e necessidade de um Programa de Trabalho
Educativo, iniciando-se pela imprescindível regulamentação do artigo 68 do ECA - Estatuto da Criança e do
Adolescente, estatuído nos seguintes termos:
Diz o artigo 68 do ECA:
art. 68 - O programa social que tenha por base o trabalho educativo, sob responsabilidade de
entidade governamental ou não-governamental sem fins lucrativos, deverá assegurar ao
adolescente que dele participe condições de capacitação para o exercício de atividade regular
remunerada.
§1º - Entende-se por trabalho educativo a atividade laboral em que as exigências pedagógicas
relativas ao desenvolvimento pessoal e social do educando prevalecem sobre o aspecto
produtivo.
§ 2º A remuneração que o adolescente recebe pelo trabalho efetuado ou a participação na
venda dos produtos de seu trabalho não desfigura o caráter educativo.
Da leitura do dispositivo em comento é possível inferir, com certa neutralidade:
1) - Quanto a clientela a ser atingida: A clientela que se pretende atingir com o programa de trabalho educativo
é, em geral, aquela oriunda de famílias de baixa renda, (menos de cinco salários mínimos), constituída de
crianças ou adolescentes, sendo criança a pessoa até doze anos de idade incompletos e adolescente aquela
entre doze e dezoito anos de idade, na forma do art. 2º, do ECA. Tratam-se de crianças ou adolescentes cuja
escolaridade não está compatível com a idade cronológica e cuja família não tem condições de lhe
proporcionar reforço escolar e ainda necessita que os menores auxiliem na complementação de renda. Por
vezes pode atingir menores oriundos de famílias desagregadas, de pais desempregados, os chamados
"menores de rua" e, inclusive, os menores infratores.
1) - Quanto a responsabilidade pelo desenvolvimento do trabalho educativo: a responsabilidade pelo
planejamento e realização de um programa de trabalho educativo é das instituições sócio-educativas, sejam
elas escolas, entidades de assistência social exclusivamente públicas ou governamentais, sejam as
organizações não governamentais - ONGs, sem fins lucrativos.
2) - Quanto ao objetivo do programa: O objetivo do programa como sobressai da norma é o de propiciar
capacitação para o trabalho. Portanto, trata-se de um programa de ensino, profissionalizante, quiçá, que vise
o desenvolvimento de algumas aptidões específicas para uma determinado trabalho. Sempre com a finalidade
de permitir o acesso do adolescente a alguma tarefa ou atividade que servirá como noção preparatória para a
aquisição de uma capacitação para o trabalho. O objetivo do programa de trabalho educativo não é oferecer
ou intermediar emprego para o adolescente.
3) - Quanto ao modo de seu desenvolvimento: Ao exigir que predominará a exigência pedagógica, quer
significar que, o desenvolvimento de aptidões e habilidades prevalecem sobre o aspecto produtivo, na
realização das atividades.
O art.62 do ECA, conceitua a aprendizagem como a formação técnico-profissional ministrada segundo as
diretrizes e bases da legilação de educação em vigor. Assim, o Programa visa que o adolescente, sob a tutela
de uma entidade de assistência social governamental ou de uma ONG, esteja submetido a alguma atividade
profissionalizante, realizando uma etapa de sua formação pedagógica. Na verdade o programa de trabalho
educativo está a pressupor que o adolescente freqüente seu curso regular de formação de 1º ou 2º grau e,
além disso, permaneça, em contra-turno escolar, sob a tutela assistencial, sob o manto do poder público ou de
uma entidade não-governamental numa espécie de escola, preferencialmente realizando uma tarefa que
prepare para um posto no mercado de trabalho.
4) - Quanto à natureza do programa: é eminentemente educativa, de formação, de complementação da
formação e capacitação profissional. O parágrafo segundo mais deixa claro o intuito da norma. Vale dizer, não
é proibido produzir alguma coisa, realizar uma tarefa. Todavia, o valor advindo da venda de produto, em geral
manufaturado, não descaracteriza o trabalho educativo. Isto porque, não se está trabalhando numa linha de
produção, com finalidade lucrativa.
O E. Professor de Direito do Trabalho na USP e UNESP e Juiz do Trabalho (aposentado) Dr. Oris de Oliveira,
estudioso do assunto, já assentou, que trabalho educativo, para o adolescente, consoante o art. 68 e
parágrafos do ECA pode ser conceituado como o trabalho:
a) - em que há exigências pedagógicas relativas ao desenvolvimento pessoal e social do
educando;
b) - do qual resulta produção;
c) - em que as exigências pedagógicas (a) prevalecem sobre as da produção (b);
d) - do qual se aufere remuneração, que não desfigura ou descaracteriza o caráter educativo
Definido o trabalho educativo, percebe-se que o próprio termo complexo que o designa deixa a
desejar porque gramaticalmente trabalho aparece como substantivo, algo substancial, principal
ao qual a educação se acopla como simples adjetivo, como acessório. Já se afirmou, com
razão: o substantivo é a educação que na sua dinâmica global pode e deve envolver a
dimensão trabalho.
Há, tantas modalidades de trabalho quantas possam enquadrar-se em sua conceituação.
Brevitatis causa, sem maiores detalhes, apontam-se algumas delas:
a) - trabalho no clássico contrato de aprendizagem, que se executa numa relação de emprego;
b) - o estágio, fora da relação de emprego;
c) - as atividades profissionalizantes de uma cooperativa-escola;
d) -as atividades das escolas-produção;
e) - as atividades de um processo de reciclagem ou
f) - de uma re-qualificação profissional
Com efeito, as modalidades apontadas se descaracterizam se forem realizadas fora de uma
ótica de trabalho educativo.
Em suma, para o Professor ORIS de OLIVEIRA o "ideal seria que educação para e pelo trabalho estivessem
associadas. Quando, porém a entidade educadora só repassa conhecimentos teóricos(o que é, por exemplo,
muito comum em entidades de ensino de terceiro grau) há apenas educação para o trabalho. Neste caso o
educando primeiro aprende para depois trabalhar. (...) A educação pelo trabalho se caracteriza quando o
próprio trabalho é um dos instrumentos do processo educativo como um todo." Para concluir que "O trabalho
educativo deverá, pois, realizar-se sempre em ensino regular, em instituições especializadas ou no ambiente
de trabalho. "Em síntese - formação técnico profissional (em todas as suas etapas) e trabalho educativo não
são termos dicotômicos."
Numa leitura menos amena, seria possível afirmar que o melhor exemplo de trabalho educativo é aquele
realizado pelos médicos-residentes nos hospitais escola, ou aqueles realizados pelos bacharéis em direito nos
escritórios modelos, ou na defensoria pública. Ocorre que, para transpor com fidelidade esse modelo para
toda e qualquer área do conhecimento, com razoável qualidade, seria necessário que as ONGs e instituições
sociais fossem dotadas das melhores oficinas e laboratórios, com docentes de primeira linha, para realizarem
um trabalho educativo voltado para a formação técnico profissional sob as diretrizes e base da LDB. Isto em
verdade é uma utopia, porque sequer os melhores Colégios particulares ofertam tal qualidade de ensino, em
virtude do alto custo. O que se tem de mais assemelhado, com uma proposta de tamanha envergadura, no
país, são as escolas técnicas que se tornaram absolutamente elitistas.
Veja-se um pouco da realidade que foi possível de ser operacionalizada pelas instituições sociais, ou ONGS
que acolhem menores e tentam realizar um trabalho educativo.
1) - Quanto à clientela: atendem crianças e adolescentes oriundos de famílias de baixa renda, pais
desempregados, em geral menores carentes de escolaridade inadequada à idade cronológica.
2) - Quanto ao objetivo: O objetivo tem sido desvirtuado porque muitas entidades tornaram-se meramente
assistencialistas. Muitas limitam-se a reunir as crianças/adolescentes que ali permanecem em horário de
contra-turno escolar, apenas para evitar que se reunam nas ruas, recebendo uma merenda, ou alguma noção
do mundo do trabalho. Não há adoção de um currículo mínimo de aprendizado, ou de preparação para o
primeiro emprego. Outras, embora ofereçam algum tipo de reforço escolar, sem grande sistematização, após
um curto período que varia de um mês a um semestre e, na seqüência, promovem a inserção do menor no
trabalho em identidade de condições com o empregado reconhecido pela CLT, porém sem todos e cada um
dos direitos destes, sequer com a anotação em CTPS e/ou vinculação ao regime do INSS.
3) - Quanto à natureza do programa: Para um país de imensas desigualdades sociais, o fato de famílias de
baixa renda poderem deixar crianças a partir dos sete aos 14 anos em entidades sociais, no horário de contra-
turno escolar (creches em geral funcionam das 7:00 às 17:00/18:00horas), constitui uma benção, já que o
ensino fundamental, ou dito de 1ª a 8ª série, não ultrapassa hoje, uma carga horária de quatro horas diárias.
Se neste local, ainda tiverem atividades como horta, banda, algumas oficinas de costura, tecelagem,
marcenaria, etc... e ali receberem um complemento nutricional, é evidente que, estar-se-á contribuindo para
um futuro melhor desta criança. Ocorre que muitas destas oficinas funcionam em locais com atividades
insalubres ou com máquinas perigosas, haja vista, a utilização de tintas tóxicas em tecelagens, a lida com
fornos de alta temperatura na feitura de pães e confeitos, além da utilização de serras fitas sem qualquer
proteção, gerando a possibilidade de mutilação das crianças, e do contacto com poeiras tóxicas para seu
desenvolvimento.
Por vezes, tais oficinas, se transformam em verdadeiros regimes de produção, obrigando os pequenos a
realizarem em tempo definido a confecção de uma quantidade de produtos, de cuja venda, se apropria a
instituição para a reposição de insumos e para a manutenção da entidade e da própria condição de carência
dos menores.
Já com relação aos adolescentes, embora haja uma espécie de complementação de ensino em contra-turno
escolar, em geral, são inseridos precocemente no trabalho, servindo tais instituições sociais, para que os pais
busquem nelas uma possibilidade de mercado de trabalho para os filhos, sem qualquer preparo prévio, sem
qualquer profissionalização.
4) -Quanto a forma de desenvolvimento do programa: O programa preconiza, em princípio, que a entidade
assistencial funcione como um laboratório de aprendizagem, onde haja uma carga horária mínima de
conteúdo de ensino, associando-se o aprendizado prático com a introdução de atividades em oficinas. Caso a
entidade não possa organizar essa oficina, poderia se servir das empresas, para que a parte prática do
aprendizado fosse desenvolvida dentro das fábricas, usinas, mercados, administração pública, etc... Ocorre
que, na prática, tais entidades adquiriram um cunho eminentemente assistencialista, devido aos parcos
recursos públicos e privados que lhes são destinados, ficandoao encargo do Pároco da cidade, ou mesmo à
Senhora Primeira Dama do Município, ou a um conjunto de cidadãos voluntários providenciar inclusive a
doação de um local, para reunir estas crianças/adolescentes para oportunizar-lhes alguma segurança, melhor
nutrição, alguma saúde, ficando a educação relegada apenas ao controle da freqüência no ensino regular (1º
ou 2º graus).
Por outro lado, com a inserção dos menores no trabalho, não há o desenvolvimento de uma parceria sadia,
destinada apenas a obtenção de recursos das empresas privadas, para a continuidade de tais projetos, ou o
aproveitamento de setores destas como laboratórios de experiências de trabalho, mas sim, a exploração dos
meninos e meninas, como mão-de-obra barata. Meninos adoecem, no trabalho, e não têm vinculação à
Previdência (INSS); meninas engravidam sem os benefícios da assistência social para si e para o nascituro; o
tempo de serviço prestado, dos 14 aos 18 anos, não é computado para fins de futura aposentadoria.
5) - Quanto às conseqüências do desvio de finalidade: Há desvio da finalidade da instituição social; há
desrespeito aos direitos sociais mínimos do trabalhador adolescente; há riscos de acidentes com mutilações,
riscos ergonômicos, riscos físicos por exposição a temperaturas elevadas, a choques elétricos, a ferimentos
pelo uso de ferramentas cortantes, intoxicação por tintas e corantes, dentre outros. Há desrepeito ao art. 227
da CF/88 e dos dispositivos do art. 6º e 7º da CF/88, sem falar em que cria uma odiosa discriminação em
relação ao trabalhador menor assistido, com o trabalhador menor regularmente empregado, a quem são
assegurados todos os direitos trabalhistas e previdenciários. Constitui, em última análise a exploração de uma
mão-de-obra barata pelos empregadores, e em um desvirtuamento das finalidades das entidades sociais que
ainda se apropriam de parte da bolsa do menor, para manter a própria instituição, em uma total inversão de
valores, onde o menor tem que trabalhar para se auto-manter e auto-preservar sua condição de sub-cidadão.
Apenas para dar alguns exemplo: há pequenas cidades do interior dos Estados da Federação em que todo o
comércio local, funcionava com menores oriundos dessas instituições sociais; em outro caso, as empresas
metalúrgicas, moveleiras e do comércio da cidade se utilizavam de um grande contingente de adolescentes, e
em apenas dois anos haviam ocorrido 100 acidentes do trabalho, inclusive com mutilações dos menores; nos
casos em que a inserção ocorre no âmbito da administração pública direta ou indireta, os menores são
ocupados em atividades subalternas, como office-boys, carteiros, e até mesmo em serviços de limpeza.
Pois bem, em suma, a leitura do artigo 68, com a redação em vigor, permite, sem qualquer contestação as
conclusões acima. Por outro lado o contexto em que se encontram as entidades assistenciais pode bem ser
observado pelos que estão atentos ao desenvolvimento de suas atividades, e vem retratado em muitos artigos
já publicados em revistas jurídicas (LTr,vol.63. pág.459/463, abril/99) nas Revistas do Ministério Público do
Trabalho, em especial a de nº 14, e no Relatório das Atividades do Ministério Público do Trabalho, na
erradicação do Trabalho Infantil e na Regularização do Trabalho do Adolescente, para 1988/1999.
Portanto, urge que se avance. Que se contribua para a construção de um programa mais justo, igualitário,
produtivo e que não traga prejuízos as crianças e adolescentes.
Projeto de Lei sobre
Programa Especial de Trabalho Educativo:
Sabe-se que tramita perante o Congresso Nacional, Projeto de Lei visando a regulamentação de um
"Programa de Trabalho Educativo". Partindo do disposto do exame introdutório acima exposto quanto a leitura
que se pode dar ao artigo 68 do ECA e, considerando a realidade encontrada nas instituições sociais, como
antes posta, far-se-á uma análise crítica ao Projeto. A análise do Projeto de Lei sobre o Programa de Trabalho
Educativo far-se-á sob o ponto de vista da legislação internacional; sob o ponto de vista da Constituição
Federal; sob o ponto de vista do ECA-Estatuto da Criança e do Adolescente; LDB- Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional e a luz do Direito do Trabalho.
a) - Sob o ponto de vista do direito internacional:
O Projeto de Lei preconiza que as atividades do programa de trabalho educativo serão realizadas em
empresas e órgãos públicos (art. 5º); que a jornada de trabalho educativo terá duração máxima de quatro
horas diurnas (art. 9º, §1º); que será anotado na CTPS do adolescente um contrato de trabalho em regime
especial (art.8º,II). O programa tem por objetivo a formação pré-profissional ou pré-aprendizagem (art. 2º) e
"assegurar ao adolescente que dele participa condições de iniciação ao trabalho e de capacitação profissional
para o exercício de atividade regular remunerada". O programa se destina a adolescentes na faixa entre 14 a
16 anos de idade (art.3º).
Sob o ponto de vista do direito internacional, incorporado pela legislação brasileira. O projeto está em
descompasso com toda a legislação internacional de proteção à criança e ao adolescente. Representa um
atraso, um retrocesso, em face do que preconiza o arcabouço da legislação internacional, ainda que se trate
de implementar medidas tendentes a minimizar as desigualdades sociais, tão presentes em nosso país.
Foi necessário transpor para este estudo as principais letras das Declarações de Direitos e Tratados
Internacionais que versam sobre a criança e o adolescente e a responsabilidade pelo seu desenvolvimento,
educação, saúde e profissionalização para que se pudesse concluir agora que os instrumentos internacionais
não preconizam que o adolescente tenha direito ao trabalho. Tanto a legislação internacional como a nacional
estão voltadas para a proteção do direito à ampla educação, incluindo-se nesta o acesso ao conhecimento
científico mais moderno e avançado. As estatísticas do IBGE demonstram: quanto mais cedo no trabalho,
menos anos de permanência na escola e de preparo técnico-profissional
A principal crítica que se pode fazer ao programa, neste aspecto é a de que faz clara opção pela inserção
precoce do menor no trabalho pois, apesar de referir-se a pré-profissionalização relegou toda a sua
realização, basicamente, ao período de trabalho produtivo realizado em prol das empresas privadas ou órgãos
públicos. Donde se infere que a idéia-raíz do programa é que exigindo do adolescente-carente sua
permanência no trabalho por quatro horas diárias e controlando sua freqüência ao curso de ensino regular,
seja 1º ou 2º grau, estará resolvida pela sociedade, pelo Estado, em colaboração com a iniciativa privada,
toda a questão da evasão escolar, da reduzida quantidade de adolescentes no ensino de 2º grau, enfim, o
problema do "menor de rua", do "menor abandonado", de classes sociais mais baixas, etc... e, suprindo assim
toda sua carência, capacidade de raciocínio e capacitação para tomada de decisões.
Fundamentalmente, está sendo negado o direito a igualdade de tratamento aos adolescentes. Enquanto aos
menores carentes se reserva o trabalho educativo, como preconizado no projeto, aos menores não-carentes
são asseguradas escolas particulares com amplo acesso ao conhecimento científico atualizado com as mais
modernas técnicas e métodos; aprendizado especializado em cursos profissionalizantes e escolas técnicas,
dentre outros.
Parte-se do pressuposto de que inserindo-o no mercado de trabalho antes, estará o adolescente, com o
emprego seguro, quando adulto. Outro engano e, severo, para não dizer perverso.
Não há garantia de emprego para o adolescente inserido no "trabalho educativo" tanto na empresa, quanto
menos nos órgãos públicos. O projeto não prescreve nenhuma obrigatoriedade nesse sentido. Por certo, o
empresário irá substituir, os adolescentes dóceis, produtivos, ensinados a corresponder às expectativas
empresarias nas oficinas das casas de assistência social, com salários irrisórios, quando estes atingirem
dezoito anos, por novos adolescentes,e não, por empregados adultos a quem são assegurados o piso da
categoria, e todos os direitos sociais e trabalhistas.
O que se está afirmando é que o Projeto não oferece nenhuma garantia entre participar o adolescente de um
programa de trabalho educativo -- cujo propósito único e palpável é o de exigir que o adolescente freqüente o
ensino regular (ensino fundamental ou de 1º grau, e de 2º grau) e permaneça outras quatro horas trabalhando
em empresas ou órgãos públicos --- e, sua imediata absorção pelo mercado de trabalho, quando atingir 18
anos.
Já quanto a possibilidade de o trabalho educativo ser realizado em órgão públicos a solução é ainda mais
perversa. Ao atingir 18 (dezoito) anos o trabalhador é dispensado do programa de trabalho educativo e
somente terá acesso definitivo a cargo ou emprego público mediante aprovação prévia em concurso público,
de provas e títulos, consoante exigência constitucional (art. 37, II, CF/88). O programa de trabalho educativo,
mais aqui, também não apresenta as bases mínimas necessárias a assegurar que o adolescente carente
possa competir, em igualdade de condições com o adolescente não-carente, a partir dos 18 anos, para o
acesso a uma vaga num concurso público.
Não há nenhuma segurança quanto a permanência do adolescente, após concluído o período de trabalho
educativo, como empregado da empresa contratante, ou mesmo em qualquer outro posto do mercado de
trabalho; muito menos num órgão público.
Em última instância, estaria malferido o direito à liberdade, o direito a igualdade social. A proposta como
tramita, parte da idéia de que retirando o menor carente da rua e oportunizando-lhe um posto de trabalho, no
programa de trabalho educativo estar-se-ia assegurando-lhe condições para sua subsistência e de sua
família, e preparando sua futura inserção no mercado de trabalho. Olvida que, a verdadeira formação, a real
preparação para o trabalho está no acesso amplo, irrestrito ao conhecimento técnico-científico mais moderno
e atualizado, como forma de aprender a pensar.
O direito à educação, profissionalização é corolário do direito à liberdade, à vida, à uma existência digna.
Constitui uma inversão de valores colocar o adolescente como responsável pela sua própria subsistência, ou
de sua família. Esta responsabilidade é a do adulto, e ele próprio já se depara com imensas dificuldades de
conquistar um mínimo para sua sobrevivência digna. A Convenção da ONU pelos direitos da criança,
preconiza exatamente o contrário. Cabe aos pais, representantes legais, ajudados pelo Estado, de acordo
com suas possibilidades e meios financeiros, propiciar as condições de vida necessárias ao desenvolvimento
da criança. Logo, aqui estaria malferido o direito à liberdade, no seu reduto, mais sagrado, o acesso à
educação plena.
Talvez, o único mérito do projeto é o de propor que o contrato de trabalho educativo se realize em apenas
quatro horas de inserção no trabalho produtivo. Pelo menos tem a determinação de definir uma jornada de
trabalho mínima. Isto porque, como ensina o Prof. Oris de Oliveira:
"Na elaboração jurídica do trabalho educativo do adolescente, sejam quais forem as suas
modalidades, seja qual for a natureza jurídica da relação, devem ser respeitadas as
denominadas "normas genéricas de proteção": - respeito à idade mínima, proibição de
trabalhos insalubres, perigosos, penosos, noturnos, , prejudiciais ao desenvolvimento físico,
moral e social, compatibilidade escola-trabalho. Esta última merece especial consideração
porque com uma jornada de oito horas, precedida e seguida de deslocamentos casa-local de
trabalho e vice-versa, interrrompida pelo intervalo da refeição, dificilmente se consegue esta
compatibilização não só de horários, mas sobretudo com a escolaridade diurna (os efeitos
precários do aproveitamento do estudo noturno são notórios), com uma escolaridade que
permita acesso, permanência e sucesso na escola."
Por outro lado, não resolve de todo o problema, pois ao relegar ao Educador da entidade gestora, ampla
liberdade para organizar o "plano das atividades" permite a este, preencher todo o outro turno com atividades
curriculares, o que conflitaria com a prevalência de permanência no ensino regular, pela manhã, como
referido. Além disso, é um mito achar que quem estuda de noite e trabalha de dia, não prospera em sua
formação. É preciso avaliar, cada caso, de per si, e determinar sua adequação, se for o caso.
b) - Sob o ponto de vista da Constituição Federal.
Quanto à idade mínima, mister salientar que o Projeto já está adequado a recente Emenda Constitucional nº
20/98, de dezembro/98, que deu nova redação ao art. 7º, inciso XXXIII da CF/88, ficando assim redigido:
XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de
qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de
quatorze anos;
O Projeto tramita com o artigo 3º determinando que o programa de trabalho educativo se destina ao
adolescente entre catorze e dezoito anos incompletos. E, no art. 8º determina que as empresas ou órgãos
públicos ao contratarem o adolescente anotarão na CTPS o regime especial do contrato de trabalho educativo.
Pois bem, a nova redação do inciso constitucional é de interpretação literal, coibindo qualquer contrato de
trabalho ao menor de 16 anos, salvo na condição de menor aprendiz. Uma modalidade conhecida de
aprendizagem é o contrato de trabalho do menor aprendiz. Porque efetivamente regula e definida em regras
jurídicas claras, ninguém tem dúvidas de que o dispositivo constitucional está a ela dirigido. Pois bem, diante
disso o contrato de menor aprendiz deve iniciar-se agora aos 14 anos, fazendo-se a devida adequação na
leitura do art. 80 da CLT.
Havendo uma regulamentação adequada, com justificativa amparada na realidade do país, no novo paradigma
introduzido pela LDB, e realizando efetiva formação profissional permito-me concluir que é possível uma
modalidade de aprendizagem em regime de trabalho educativo, a partir dos 14 anos de idade.
Ainda assim, o Projeto ofende a Constituição, pois afronta toda a gama de direitos sociais elencados no art. 7º
da CF/88 c/c o art. 227, II que asseguram a garantia de direitos previdenciários e trabalhistas a todo
adolescente empregado, ao reduzir qualitativa e quantitativamente direitos, violando principalmente o disposto
no art. 7º, inciso XXX quanto à proibição de diferenças de salários por motivo de idade. Ao mesmo tempo em
que, o projeto não oferece nenhuma contrapartida eficiente e adequada a melhoria do nível de preparação do
adolescente.
Traduzindo-se, o que se pretende afirmar é que, trabalhando o adolescente numa empresa, estará realizada a
condição de empregado (art. 442, CLT), e ainda que preste quatro horas de serviço fará jus aos direitos
sociais elencados no art. 7º da CF/88, e aos previdenciários do regime geral da previdência, apenas que
proporcionalmente a jornada trabalhada. Faz jus a RSR, 13º salário, férias de 30 dias; FGTS, INSS, seguro
desemprego, etc. e nada disso está prescrito no projeto. Ao contrário este retira todos os direitos já
assegurados pela Constituição Federal ao adolescente-empregado, na faixa de 16 a 18 anos. Sendo
modalidade de contrato de trabalho, alguém deve se responsabilizar pelos encargos trabalhistas e
previdenciários, seja a entidade assistencial, seja o contratante da atividade em modalidade de trabalho
educativo, seja ainda, o próprio Estado.
A segunda inconstitucionalidade é que o Projeto investe contra o artigo 203, incisos II e III, que assegura ao
adolescente carente a promoção de sua integração ao mercado de trabalho. A interpretação que se pode
extrair do contexto é a de que está a prescrever que as instituições assistenciais dotem os adolescentes-
carentes de condições de participar do mercado de trabalho em paridade de condições. O dispositivo não
desafia outra interpretação senão a de que tem por finalidade determinar que um dos papéis do Estado é o de
suprir aquilo que os pais, a família não puderamproporcionar, visando a inteira capacitação do adolescente,
comparado com a média da população, permitindo sua integração futura ao mercado de trabalho em
condições de competitividade.
Prescreve que, mesmo a título de assistência social, o Estado proveja quanto a capacitação e educação do
cidadão, exige que o papel institucional da assistência social seja o de complementar a formação e não o de
cadastrar menores para sua inserção no mercado de trabalho. Dir-se-ia, mas o Estado não obteve êxito em
fazê-lo com os adultos, pois há um volume considerável da população em condições de miserabilidade, ou
carente. Ocorre que, a legislação determina que a criança e o adolescente devem ser as prioridades,
consoante se lê no art. 4º do ECA, seja na proteção e socorro; seja nos serviços públicos, seja na formulação
de políticas públicas, seja na destinação privilegiada de recursos públicos.
A terceira inconstitucionalidade é quanto aos art. 205/206 da Constituição Federal que ao assegurar o direito à
educação como dever do Estado e da família, determina que será ministrada com base nos princípios da
igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; sendo dever do Estado a gratuidade e
obrigatoriedade do ensino fundamental, mesmo para os que não tiveram acesso na idade própria e
progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade do ensino médio. Donde, colocar para trabalhar um
menor carente, porque está em descompasso nos estudos, é aumentar esse abismo social, e impedir que lhe
sejam dadas as condições para retomar a condição de participar em igualdade de condições do ensino
fundamental e médio.
c) - Sob o ponto de vista do Direito do Trabalho.
Retornamos no tempo, no mínimo cem anos. O Projeto traz proposta retrógrada, porque torna o trabalho
humano, e o que é mais perverso, o trabalho do adolescente, mera mercadoria. O adolescente não se torna
sujeito de direitos, mas sim, mero objeto de mercancia, posto que a entidade assistencial, fica na posição de
mera intermediadora de mão-de-obra, cadastrando os adolescentes, e colocando-os a disposição de
empresas, órgãos públicos e associações, sem assegurar-lhe os direitos sociais e previdenciários em
igualdade de condições ao trabalhador adolescente, previsto no art. 7º, inciso XXXIII da CF/88. (Não tem
direito ao piso salarial da categoria, tem férias de 20 dias apenas, não faz jus a FGTS, INSS, seguro
desemprego, etc...)
No sistema capitalista vigente no país, toda empresa produtiva visa lucros, e o trabalho é um dos elementos
de produção. É através do trabalho que o empresário produz bens ou serviços para comercializar no mercado
e auferir lucros que remuneram a prestação dos serviços e continuidade da atividade produtiva. É da natureza
intrínseca da empresa, no sistema capitalista vigente no país, a sua produtividade, com vistas a lucratividade.
Portanto, sendo a empresa, ambiente por natureza de realização de trabalho produtivo e de finalidade
lucrativa é incompatível com sua natureza e finalidade pretender-se que nela se realize apenas trabalho
educativo. Daí justificar-se o título do presente: Trabalho Educativo pode (ou não) realizar-se em regime de
Trabalho Produtivo.
Mais aqui, retorna-se ao art. 68, § 1º do ECA. O caput do artigo 68 é de clareza solar, no sentido de que o
trabalho será exercido a cargo de entidades assistenciais sem fins lucrativos. Nada mais claro, posto que o
objetivo é amparar o menor carente, assistido. Tanto numa empresa, como num órgão público, não há, em
princípio, ambiente propício para o desenvolvimento do trabalho educativo, observada a exigência já posta na
legislação do Adolescente: de que haja na atividade, prevalência das exigências pedagógicas ao aspecto
produtivo, priorizando-se o desenvolvimento pessoal e social do educando.
Seria presunção ingênua aceitar que o empresário vá condescender com uma produção reduzida, menos
produtiva em quantidade ou qualidade do adolescente, em comparação com a de qualquer outro empregado.
O ambiente da empresa é por definição o local da produção, onde o elemento trabalho é cobrado com regras
claras quanto a sua produtividade, eficiência. A desídia é punida como justa causa. As faltas são punidas com
perda do direito a remuneração do domingo (dia de folga remunerada) e redução dos dias de férias. Ademais o
Projeto não prescreve que nesta nova modalidade de contrato de trabalho o empregador estará destituído do
seu poder diretivo, de comando hierárquico, de estabelecer regras, ordens, comandos e exigir o seu
cumprimento posto que esse é o traço característico do contrato de trabalho subordinado. Vale dizer, qualquer
contrato de trabalho "em regime especial" não derroga a CLT, em direitos e deveres de empregado e
empregador.
Refoge à lógica primária, a luz dos princípios e regras do Direito do Trabalho, pensar-se uma empresa com
2%, 5% ou até 10% de empregados adolescentes em regime de trabalho educativo, ou seja, menos
produtivos, ou até, improdutivos, porque estaria respeitando o desenvolvimento pessoal e social do educando.
Uma empresa que pudesse dar-se a este luxo estaria com as portas fechadas no atual mercado competitivo e
globalizante.
Portanto, na prática, tais adolescentes suprirão postos de trabalho efetivo e imprescindível nas empresas.
Dizer como prevê o projeto no §2º do art. 5º que o adolescente em regime de trabalho educativo não ocupará
lugar de um empregado na execução das atividades normais de fim ou de meio é mera falácia. Isto porque, ao
empresário é assegurado o direito de dirigir a empresa, porque é quem assume os riscos da atividade
econômica, portanto tem o direito de exigir produção. E, ademais, nenhuma empresa competitiva vai possuir
espaços ociosos, postos de trabalho desocupados (mesas, computadores, espaços na linha de produção),
aguardando os adolescentes em regime de trabalho educativo, gastando luz, pessoal de controle, material e
equipamento ocioso,etc.
Impossível não prever que o adolescente irá, mesmo nesse regime, ocupar um lugar de um empregado efetivo
da empresa. Aliás, é bom que assim o seja, até para que possa ser considerado um empregado, por inteiro, e
não um sub-empregado. É disto que o adolescente precisa: ingressar no seu primeiro emprego, sendo
considerado como um verdadeiro empregado, mas sob o manto de cidadão em pleno desenvolvimento, com
direito a "proteções especiais e prioridade absoluta".
A limitação da taxa de ocupação de menores em regime de trabalho educativo a 10% do total de empregados
efetivos da empresa, como prescreve o art. 15º do Projeto é pífia. Bastaria que uma empresa com 1.000 (hum
mil) empregados contasse com cem adolescentes, sendo cinquenta pela manhã, e cinquenta pela tarde, o que
seria suficiente para deixar todo um setor produtivo da empresa a cargo exclusivamente dos menores-
carentes, utilizados como mão-de-obra barata. No mínimo haveria de explicitar que tal exigência seria para
cada setor da empresa.
De conseqüência, inserir o adolescente na organização produtiva, a título de trabalho educativo, ainda que por
quatro, ou mais horas, por dia, seria exigir dele a produção equivalente a de um empregado normal, no mesmo
período de tempo, sem a contraprestação do mesmo salário e dos mesmos direitos sociais e previdenciários,
o que fere comezinhos princípios de direito. O trabalho, como visto, linhas atrás, é um bem economicamente
valorável.
O Programa transposto para os sistemas produtivos das empresas não resistiria ao disposto no artigo 9º da
CLT; "serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a
aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação". O adolescente, ainda que, em quatro horas,
produziria igual a qualquer outro empregado, e faria jus, no mínimo, a todos os direitos sociais e
previdenciários assegurados pela Constituição e legislação esparsa. Violado estaria o princípio da isonomia
viabilizando o ajuizamento de reclamatória trabalhista autorizando o Poder Judiciário a reparar a injustiça com
a condenação ao pagamentodas verbas que assegurem paridade de tratamento, em igualdade de condições,
ainda que proporcionais às quatro horas trabalhadas. Ex: piso salarial da categoria proporcional; férias de 30
dias, 13º salários; FGTS, seguro desemprego e INSS com seus consectários; estabilidade da gestante, do
acidentado.
Urge que se recomende a extirpação dessa proposta, para que nenhuma empresa possa utilizar-se dos
adolescentes como mão-de-obra barata, sonegando-lhe os direitos sociais que a CF/88 assegura a todos em
igualdade de condições. A inconstitucionalidade é flagrante. É perverso sustentar-se que o adolescente
carente necessita trabalhar nestas condições, enquanto os adolescentes de classe média freqüentam escolas
particulares, cursos técnicos-profissionalizantes, cursos de complementação de formação: língua estrangeira,
computação, etc... Ou mesmo que, possam ter tratamento diferenciado, dentre outros adolescentes que
necessitam ingressar cedo no mercado de trabalho, mas que tenham assegurados todos os direitos sociais
trabalhistas e previdenciários.
Já existe um contrato de trabalho especial, de natureza semelhante com finalidade e modo de execução muito
superiores, como é o contrato de trabalho do menor aprendiz, examinado em tópico próprio. E, para não criar
discriminações odiosas, a própria Constitução Federal equiparou o trabalhador adulto ao trabalhador
adolescente, entre 16 e 18 anos, em direitos e deveres.
d) - Sob o ponto de vista do sistema educacional - Lei LDB.
Os vocábulos "pré-aprendizagem" e "pré-profissionalização" não possuem qualquer conceituação no projeto
de lei a ponto de permitir-se a mais mínima referência do que querem dizer, quanto a currículo mínimo, horas
mínimas de formação teórica e prática, de modo que não oferece a garantia necessária de que realizará
efetiva formação e preparação para o trabalho. O projeto não possui nenhuma mecanismo de avaliação,
sequer preconiza acompanhamento pedagógico, embora busque regulamentar um programa educativo.
Mesmo que houvesse qualquer definição, pré-aprendizagem e pré-profissionalização não constituem a luz da
nova LDB formação técnico profissional, e o artigo 62 do ECA, considera aprendizagem, para os
adolescentes, aquela formação técnico-profissional ministrada segundo as diretrizes e bases da legislação de
educação em vigor.
É relativamente recente a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, consubstanciada na Lei
n.9394/96.
Dentre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional apresentadas pelo MEC sobressai
que:
"O novo enfoque de formação de trabalhadores ora proposto, baseado em um novo conceito de
competência profissional, representa um desafio para o setor educacional, uma vez que torna-
se imprescindível que se identifiquem e se construam novos âmbitos de saberes, que permitam
uma permanente adaptação a novas exigências dos setores produtivos, decorrentes da
contínua implantação de novas tecnologias. Os saberes que geram competências profissionais,
portanto, são passíveis de se modificarem com o tempo, mas as competências geradas devem
capacitar os trabalhadores para a busca de novos conhecimentos, por meio dos quais novas
competências requeridas são desenvolvidas. É o princípio básico do aprender a aprender, que
deve conduzir todo o processo educacional.
A nova identidade do ensino médio se configura a partir da estruturação, pela LDB, dos níveis
escolares em educação básica - educação infantil, ensino fundamental e ensino médio - e
educação superior (art. 21, incisos I e II, da Lei nº9.394/96), bem como pela vinculação da
educação escolar, em os todos os níveis, ao mundo do trabalho e à prática social.(art. 1, § 2º)
Como componente da educação básica, o ensino médio tem as seguintes finalidades (art. 35,
da Lei nº9.394/96):
"art. 35. ...
I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental,
possibilitando o prosseguimento dos estudos;
II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar
aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de
ocupação ou aperfeiçoamento posteriores;
III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o
desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico;
IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos,
relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina."
Além dessas finalidades, o texto legal explicita o esperado do egresso do ensino médio(art. 36,
§ 1º, incisos I a III da Lei nº9.394/96), identificando três amplas categorias de resultados de
aprendizagem, relacionadas ao:
"art. 36 . ...
§ 1º. ...
I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a produção moderna;
II - conhecimento das formas contemporâneas de linguagem;
III - domínio dos conhecimentos de Filosofia e de Sociologia necessários ao exercício da
cidadania.
É evidente que "o trabalho é o contexto mais importante da experiência curricular no ensino
médio, de acordo com as diretrizes traçadas pela LDB em seus artigos 35 e 36. O significado
desse destaque deve ser devidamente considerado: na medida em que o ensino médio é parte
integrante da educação básica e que o trabalho é princípio organizador do currículo, muda
inteiramente a noção tradicional de educação geral acadêmica ou, melhor dito, academicista. O
trabalho já não é mais limitado ao ensino profissionalizante. Muito ao contrário, a lei reconhece
que nas sociedades contemporâneas todos, independentemente de sua origem ou destino
socio-profissional, devem ser educados na perspectiva do trabalho enquanto uma das principais
atividades humanas, enquanto campo de preparação profissional, enquanto espaço de
exercício de cidadania, enquanto processo de produção de bens, serviços e conhecimento."
(Mello, 1998)
O ensino médio configura-se, portanto, como educação básica, e, como tal, vincula-se ao mundo do trabalho e
à prática social.
Como educação básica, a Constituição Brasileira e a LDB determinam a extensão da obrigatoriedade e da
gratuidade do ensino médio a todos os brasileiros. Também por se caracterizar como educação básica, o
ensino médio passa a desenvolver uma educação de natureza geral, articulada com os processos produtivos,
de forma a garantir:
a formação da pessoa, nela desenvolvendo os valores e as competências necessárias à
integração de seu projeto de vida ao projeto da sociedade em que se situa; 
a preparação e orientação básica para sua integração no mundo do trabalho, com
competências que venham a favorecer seu aprimoramento profissional e permitam-lhe
acompanhar as mudanças que caracterizam a produção no nosso tempo; 
o desenvolvimento de competências para que continue aprendendo, de forma autônoma e
crítica, em níveis mais complexos de estudos. 
Essas considerações gerais sobre a legislação indicam a necessidade de se construir novas alternativas de
organização curricular, comprometidas, de um lado, com o novo significado do trabalho no contexto da
globalização e, do outro, com o sujeito ativo, a pessoa humana que se apropriará desses conhecimentos para
aprimorar-se, como tal, no mundo do trabalho e na prática social.
Há, portanto, necessidade de se romper com os paradigmas tradicionais para que se alcancem os novos
objetivos propostos para a educação básica e para a educação profissional. Identifica-se que o conhecimento
tornou-se fator principal da produção. Aprender a aprender coloca-se como competência fundamental para a
inserção numa dinâmica social que se reestrutura continuamente. A perspectiva é, pois, de desenvolver meios
para uma aprendizagem permanente, que permita uma formação continuada, tendo em vista a construção da
cidadania.
Ao preconizar o aprender a aprender, o aprender a conhecer, o aprender a pensar, consideram-se as rápidas
transformações conseqüentes do acelerado desenvolvimento científico e tecnológico, as novas formas de
organização das atividades econômicas e sociais e aimportância de uma educação geral suficientemente
ampla, com possibilidade de aprofundamento numa determinada área de conhecimento. A educação geral
fornece as bases para continuar aprendendo ao longo da vida. Ela é de extrema importância para o
desenvolvimento de aptidões que possibilitem enfrentar novas situações, privilegiando a aplicação da teoria
na prática e enriquecendo a vivência da ciência na tecnologia, e destas no social, por sua significação no
desenvolvimento da sociedade contemporânea.
A base nacional comum da educação básica traz a dimensão de preparação para o trabalho. Esta dimensão
aponta para o fato, por exemplo, de que uma sentença matemática, expressando um determinado
conhecimento científico, seja um instrumento na solução de um problema concreto, que pode dar conta da
etapa de planejamento, gestão ou produção de um bem, do conhecimento ou de um serviço. Aponta, também,
para o fato de que a linguagem verbal se presta à expressão estética, a um texto jornalístico, informativo ou
opinativo, mas também à compreensão de um comando ou instrução clara, precisa, objetiva. Da mesma
forma, a biologia dá os fundamentos para a análise do impacto ambiental de uma solução tecnológica ou para
a prevenção de uma doença profissional. Enfim, o pressuposto é que não há solução tecnológica sem uma
base científica e que, por outro lado, soluções tecnológicas podem propiciar a produção de um novo
conhecimento científico.
Essa educação geral, que permite buscar e gerar informações, usá-las para solucionar problemas concretos
na produção do conhecimento, de bens ou na gestão e prestação de serviços, é preparação básica para o
trabalho. Na verdade, qualquer competência requerida no exercício profissional, seja ela psicomotora, sócio-
afetiva ou cognitiva, é um afinamento de competências básicas ou é o emprego destas em um contexto
específico de produção. A educação geral permite, assim, a construção de competências que se manifestarão
em habilidades básicas, técnicas ou de gestão.
Portanto, dentro dessa concepção de educação, há um universo básico e geral de competências e habilidades
requeridas ao desenvolvimento pessoal e da cidadania, à preparação básica para o mundo da produção e ao
domínio dos meios para continuar aprendendo.
Quando trata da educação profissional, a LDB o faz num capítulo próprio, caracterizando-a como uma
modalidade, como um subsistema. Explicita-a como "integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho,
à ciência, à tecnologia" e estabelece sua finalidade de conduzir "ao permanente desenvolvimento de aptidões
para a vida produtiva" (Art. 39, da Lei nº9.394/96). Determina como alvo dessa educação "o aluno matriculado
ou egresso do ensino fundamental, médio e superior, bem como o trabalhador em geral, jovem ou adulto" (Art.
39, Parágrafo Único, Lei nº9.394/96).
Diversamente da legislação anterior, que preconizava o ensino profissionalizante integrado ao de 2º grau, a
LDB determina que "a educação profissional será desenvolvida em articulação com o ensino regular ou por
diferentes estratégias de educação continuada, em instituições especializadas ou no ambiente de trabalho
(grifos nossos)(Art. 40, Lei nº9.394/96).
Há, ainda, elementos novos nessa concepção de educação profissional, tais como:
a) - o reconhecimento de que os conhecimentos profissionais podem ser adquiridos fora do
ambiente formal de instituições escolares e de que estes, avaliados, podem ser objeto de
certificação para prosseguimento ou conclusão de estudos (art. 41, da Lei nº9.394/96);
b) - a abertura de instituições de educação profissional à oferta de cursos especiais que
"condicionem a matrícula à capacidade de aproveitamento e não necessariamente ao nível de
escolaridade"(Art. 42, da Lei nº 9.394/96);
c) - a verticalização da educação profissional, assinalando sua abrangência desde o nível
fundamental até o nível superior (alunos e egressos).
A valorização do ensino médio conferida pela LDB, tanto por considerá-la como educação básica, quanto por
assegurar-lhe um perfil próprio de formação, recoloca a educação profissional em situação privilegiada de
complementaridade a esse ensino, estruturando, a partir das competências básicas, desenvolvidas no ensino
médio, o desempenho adequado de profissionais para um mercado de trabalho em constante mutação e para
continuar aprendendo e se adaptando às novas exigências desse mercado.
A nova LDB está em compasso com a legislação internacional que considera obrigatório e dever do Estado o
curso das oito séries do Ensino Fundamental; pretende a sucessiva ampliação da obrigatoriedade do ensino
médio; convalida cursos supletivos gratuitos para os que não concluíram o ensino fundamental na época
própria.
Ao estabelecer o ensino médio exige que seja atendida a formação geral do educando, para após poder
prepará-lo para o exercício de profissões técnicas (art. 36, §2º e 4º da LDB). Está consonante com a doutrina
mais moderna onde a escola deve ultrapassar a bipolaridade do ensino ora humanista destinado a formação
de dirigentes, ora técnico destinado a preparar para fazer, para somar ambas num ensino politécnico, eis que
o mercado de trabalho está a exigir um profissional que saiba pensar e fazer. Está estruturada no paradigma:
aprender a aprender, aprender a conhecer, aprender a pensar, aprender a fazer.
Assim, o Projeto está em desacordo com a LDB ao priorizar especificamente o fazer, colocando os
adolescentes em postos de trabalho para aprender a fazer, ou realizar uma específica habilidade técnica,
quando a tônica exigida pelo mundo do trabalho é o trabalhador do saber fazer produtivo, o trabalhador
pensante, com apreensão do saber científico-tecnológico disponível no mundo do conhecimento.
O Conselho Nacional de Educação ao fixar as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional
de Nível Técnico, mencionou:
"Os primórdios da educação profissional no Brasil registram apenas decisões tópicas no
sentido da profissionalização dos jovens, especialmente destinadas a amparar os órfãos e os
demais desvalidos da sorte. Esse caráter peculiar e assistencialista da educação profissional
brasileira se manteve, com diferentes nuances, quase que intocável até os nossos dias.
Na década de 1940, no conjunto das Leis Orgânicas da Educação Nacional, o objetivo do
ensino secundário e normal era o de "formar as elites condutoras do país" e o objetivo da
educação profissional (SENAI e SENAC) era o de oferecer "formação adequada aos filhos dos
operários, aos desvalidos da sorte e aos menos afortunados, aqueles que necessitam ingressar
precocemente na força de trabalho"
"Atualmente, estamos diante de um novo fato histórico. Tanto a Constituição Federal quanto a
nova LDB situam a educação profissional na confluência dos direitos do cidadão à educação e
ao trabalho (...) A composição dos níveis escolares nos termos do art. 21 da LDB, não deixa
margem para diferentes interpretações: são dois os níveis de educação escolar no Brasil - a
educação básica e a educação superior. Toda essa educação escolar, de acordo com o §1º do
art. 1º da Lei "deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social".
"A educação profissional , na atual LDB, não substitui a educação básica e nem com ela
concorre. A educação profissional complementa a educação básica. Uma eficiente educação
profissional, alicerçada em sólida educação básica, constitui a chave do êxito dos países
desenvolvidos, especialmente num mundo pautado pela competição, inovação tecnológica e
crescentes exigências de qualidade, produtividade e conhecimento.
A prioridade educacional do Brasil, nos próximos anos, portanto, deverá ser a de
universalização do ensino fundamental na idade própria e, progressivamente, a do ensino
médio. Importa portanto, capacitar os cidadãos par uma aprendizagem autônoma, contínua,
tanto no que se refere às competências essenciais, básicas e gerais, quanto no tocante à
competências específicas e profissionais.
"...a atual LDB reservou um espaço privilegiado para a educaçãoprofissional. Ela ocupa um
capítulo específico dentro do título amplo que trata dos níveis e modalidades de educação e
ensino.
O Decreto Federal 2208/97 que se seguiu à LDB concebeu uma organização curricular para o
ensino técnico de forma independente do ensino médio, associou formação técnica à uma
educação básica mais sólida e apontou a necessidade de definição mais clara de diretrizes
curriculares, com o objetivo de adequá-las às tendências do mercado de trabalho. A introdução,
no decreto, da possibilidade de utilização de módulos, para tornar mais flexível a formação
profissional no nível técnico, representou uma mudança importante, assim como a certificação
de competências.
A educação profissional de nível técnico é complementar à educação básica, devendo com ela
articular-se, sem perder sua própria identidade. A identidade curricular própria, entretanto, não
significa desintegração. Articular-se não implica em substituir ou concorrer com o ensino médio,
mas sim em assentar-se numa sólida educação básica. O Decreto-Federal 2208/97,
estabelece, inclusive, que, disciplinas profissionalizantes cursadas no ensino médio podem ser
aproveitadas no currículo de habilitação profissional de técnico de nível médio,
independentemente de exame específicos. Com isso, ficam mantidas as identidades
curriculares próprias, preservando-se a necessária articulação.
Uma educação profissional que conduza ao permanente desenvolvimento para a vida produtiva
e que integre as diferentes formas de educação, trabalho, ciência e tecnologia, deve avaliar,
reconhecer e certificar todo o conhecimento adquirido, seja em escolas de educação básica e
superior, seja em programas de educação profissional, inclusive no próprio trabalho.
A educação profissional é um direito do cidadão trabalhador em termos de uma educação para
o trabalho que o conduza ao permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva.
Para tanto "as escolas técnicas e profissionais, além dos seus cursos regulares, oferecerão
cursos especiais, abertos a comunidade, condicionada a matrícula a capacidade de
aproveitamento e não necessariamente ao nível de escolaridade" (art. 42 da LDB).
O reconhecimento de que a educação profissional deve ser concebida no contexto dos direitos
do cidadão à educação e à profissionalização, como adequada preparação para o exercício
profissional competente, deve conduzir à superação dos enfoques assistencialista e
economicista.
Aprender a trabalhar, qualificar-se para o trabalho não é sinônimo apenas da preparação para
execução de um determinado conjunto de tarefas. A educação para o trabalho exige, para além
do domínimo operacional de um determinado fazer, a apropriação de um saber tecnológico, as
dimensões de inteligência do processo produtivo, a reelaboração da cultura do trabalho e o
domínio e geração do conhecimento no seu campo profissional.
A educação profissional deve ser dimensionada como complementar à educação geral e como
direito do cidadão de preparar-se para o trabalho produtivo.
O Decreto Federal 2208/97 ao regulamentar os artigos 39 a 42 da LDB, Lei Federal 9394/96
configurou três níveis de educação profissional: básico, técnico e tecnológico, com objetivos de
qualificar , reprofissionalizar, especializar, aperfeiçoar e atualizar os trabalhadores em seus
conhecimentos tecnológicos visando sua inserção e melhor desempenho no exercício do
trabalho.
O nível técnico é "destinado a proporcionar habilitação profissional a alunos matriculados ou
egressos do ensino médio (inciso II do artigo 3º). Esses cursos técnicos poderão ser
organizados em módulos (artigo 8º) e no caso de o currículo estar organizado em módulos,
estes poderão ter caráter de terminalidade para efeito de qualificação profissional, dando
direito, neste caso, a certificado de qualificação profissional (§1º,art,8º). E, mais os módulos
poderão ser cursados em diferentes instituições credenciadas (§3º, do art. 8º) e poderá haver
amplo aproveitamento de estudos de disciplinas e módulos já cursados (§2º,art.8º).
De acordo com esses dispositivos normativos, a educação profissional de nível técnico
contempla a habilitação profissional propriamente dita de técnico de nível médio, a qual exige a
comprovação da conclusão do ensino médio como "conditio sine qua non" para a obtenção do
diploma de técnico (§4º, art. 8º); as qualificações iniciais e intermediárias (§§1º, 2º, 3º, art.8º) e
os módulos ou cursos posteriormente desenvolvidos, complementarmente, de especialização,
aperfeiçoamento e atualização (inciso III do art. 1º)
A possibilidade de aproveitamento de estudos na educação profissional de nível técnico é
ampla, inclusive, inter habilitações profissionais (§2º,art.8º). Duas únicas exigências são feitas:
que o prazo entre a conclusão do primeiro e do último módulo não exceda a cinco
anos(§3º,art.8º) e que a expedição do diploma de técnico ocorra desde que o interessado
apresente o certificado de conclusão do ensino médio (§4º, art.8º).
O aproveitamento de estudos mediante avaliação é encarado pela LDB de maneira bastante
ampla: o conhecimento adquirido na educação profissional, inclusive no trabalho, poderá ser
obejto de avaliação, reconhecimento e certificação para prosseguimento ou conclusão dos
estudos (artigo 41).
O diploma de uma habilitação profissional de técnico de nível médio, portanto, pode ser obtido
por um aluno que conclua o ensino médio e, concomitantemente ou posteriormente, tenha
concluído um curso técnico, com ou sem aproveitamento de estudos.
Esse curso pode ter sido feito de uma vez, por inteiro, ou a integralização da carga horária
mínima, com as competências mínimas exigidas para a área profissional objeto de habilitação
poderá ocorrer pela somatória de módulos cursados na mesma escola ou em cursos de
qualificação profissional ou módulos oferecidos por outros estabelecimentos de ensino, desde
que dentro do prazo limite de cinco anos.
Aquele que cursar apenas um ou dois cursos de qualificação profissional, de forma
independente ou como módulo de curso técnico, fará jus apenas aos respectivos certificados
de qualificação profissional, para fins de exercício profissional. Os certificados destes cursos
deverão explicitar, em histórico escolar, quais as competências teóricas e práticas da profissão
ou área profissional objeto de qualificação que estão sendo certificadas e, se for o caso,
explicitar também o título da ocupação. No caso de profissões legalmente regulamentadas,
será necessário explicitar o título da ocupação prevista em lei.
Pois bem, o Brasil possui uma nova Lei de diretrizes e bases da educação nacional que começa a ser
colocada em prática. Ela traz inúmeras inovações com relação a educação profissional. Colocou esta num
patamar adiante ao da educação do ensino médio. O aluno somente obterá o diploma de técnico, após
concluir o ensino médio. Isto sinaliza para o fato incontestável de que oito anos de estudos são insuficientes
para se adentrar ao mercado de trabalho.
Determina, também, que a formação técnico-profissional somente será realizada a partir do ensino médio.
Esta determinação, compatibilizada com a exigência, descrita no art. 62 do ECA, no sentido de que a
formação técnico-profissional do adolescente, deverá ser realizada sob a égide das diretrizes e bases da
legislação da educação em vigor, torna cristalino, que tal aprendizagem somente poderá ocorrer se o aluno
estiver cursando o segundo grau.
E veja-se, que nem poderia ser diferente porque muito embora o Decreto 2208/97, admita em seu artigo 4º
que poderá haver educação profissional a nível básico, esta, segundo diretrizes do MEC e do Conselho
Nacional de Educação "é destinado à qualificação e requalificação de trabalhadores, independentemente de
escolaridade prévia. Para esse nível não há regulamentação curricular, uma vez que se destina a atender
demandas específicas, sem exigências pré-determinadas de escolaridade, caracterizando-se como
modalidade não -formal, com cursos de duração variável" Logo, esta forma de educação profissional,sem
qualquer certificação, não interessa ao adolescente, o qual tem prioridade absoluta na educação e necessitará
certificação de suas habilidades e competências. O nível básico, destina-se aquele profissional sem qualquer
educação, ou certificação, permitindo-lhe uma requalificação para o trabalho.
Por outro lado, a Lei, flexibiliza a forma de apropriação desse conhecimento, permitindo seja concluído por
módulos, o que é um grande avanço, pois permite que o aluno estude nos dois cursos ao mesmo tempo: nível
médio e nível técnico-profissionalizante.
Ao reconhecer que a educação profissional poderá ser desempenhada no ambiente de trabalho (art. 40), fixa
os parâmetros. No artigo 41, a LDB prescreve que: "o conhecimento adquirido na educação profissional,
inclusive no trabalho, poderá ser objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para prosseguimento ou
conclusão dos estudos". Com isto fica claro que, somente quando o MEC autorizar, módulos de cursos
técnicos realizados no ambiente do trabalho, instituições especializadas, escolas técnicas, ONGs, poderão ser
pontuados como parcela da etapa de um curso de educação profissional, que uma vez concluído receberá
diploma devidamente registrado.
Mas, não se perca de vista, ainda que se possa entender que apenas o trabalho, o tempo de atividade em
determinada profissão seja pontuado como educação profissional, isto também não invalida o contrato de
trabalho. Ou seja, a LDB não exclui a obrigatoriedade do empregador pelos consectários decorrentes do
contrato de trabalho, quando se candidata a oferecer educação profissional, no ambiente de trabalho.
Pois bem, voltemos os olhos para um adolescente carente que sequer completou o 1º grau regularmente, e
portanto não domina ainda a leitura, a escrita e o cálculo e imediatamente é transportado para trabalhar oito
horas diárias numa empresa ou órgão público. O projeto não contempla detalhadamente o número de horas
de reforço escolar em contra-turno; muito menos de capacitação e/ou de treinamento em cursos básicos
profissionalizantes (computação, digitação) capazes de permitir que aos dezoito anos este cidadão possa
competir em igualdade de condições, com a média, que chega ao mercado de trabalho. Não há no projeto
compromisso formal de parte da entidade assistencial com a sua promoção humana, e capacitação
profissional no sentido de colocá-lo em igualdade de condições, ou quando menos, de recuperar o tempo
perdido, já que presume-se oriundo de classes sociais menos privilegiadas.
Também, por incrível que pareça, não transfere essa exigência para o empregador, vale dizer, não exige que o
empregador ofereça uma quantidade mínima de cursos, conhecimento teórico, para o desempenho de
qualquer ofício ou profissão.
Este deveria ser o espírito do projeto de trabalho educativo: salvar o adolescente carente, de cair na vala
comum de trabalhar, no período em que deveria receber o maior volume de formação e capacitação. Seria o
mínimo de se esperar em prol de uma maior igualdade social.
Por fim, neste item, é necessário enfatizar que qualquer programa de trabalho educativo fundado na
aprendizagem como formação técnico-profissional, não poderá considerar como tal, apenas as etapas de
orientação profissional, pré-aprendizagem, pré-profissionalização, sem que haja qualquer possibilidade de
certificação de competências
e) - Sob o ponto de vista do próprio artigo 68 do ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente:
No bojo do Projeto de Lei que tramita na Câmara dos Deputados, apenas se exige que a entidade gestora
elabore "plano de atividades integradas em parceria com as empresas, as entidades da sociedade civil ou
instituições públicas que atendam o objetivo do Programa de Trabalho Educativo". Ora, um plano de atividades
sem qualquer exigência de carga horária mínima, de conteúdo curricular específico, de especificação do nível
dos docentes, não pode ser tido como trabalho educativo considerado que o artigo 62 do ECA exige que a
aprendizagem se realize como formação técnico-profissional segundo as diretrizes e bases da legislação de
educação em vigor.
Como visto linhas acima, o art. 68 preconiza que o trabalho educativo será realizado sob a responsablidade de
entidades governamentais e não governamentais, sem fins lucrativos. O projeto desrespeita esse preceito
maior quando determina que o trabalho educativo será realizado apenas na jornada de quatro/oito horas nas
empresas, associações e órgãos públicos.
Com efeito, toda a intenção da Constituição e do ECA é a de que o adolescente carente possa desfrutar de
uma entidade assistencial, onde permaneça, em regime de contra-turno escolar, com a finalidade de "sair das
ruas", mas também, com a finalidade de complementar os estudos, e preparar-se mais adequadamente para
o trabalho, no futuro.
Assim, é no mínimo atrasada, em descompasso com toda a legislação internacional e nacional, a
interpretação que se quer fazer do artigo 68 c/c o artigo 62 do ECA quando se pretende a regulamentação do
Trabalho Educativo, ao se entender que este possa ser desenvolvido, exclusivamente, numa empresa, ou
seja, em regime de trabalho produtivo.
Por fim, juridicamente, não se extrai da leitura do art. 68 do ECA que trabalho educativo possa ser realizado
dentro de uma empresa. Por isso, é fundamental que se estabeleça em que medida, com quais critérios
poderá haver trabalho educativo em parceria com as empresas privadas e a realização de um trabalho
produtivo.
Para concluir, este tópico, é bom, também, que se tenha em mente qual o tipo de profissional que os
empresários estão a requisitar para atuar no mercado de trabalho de hoje. Segundo o que revela o
Economista da USP e Professor José Pastore em entrevista a Revista de ampla circulação, do último
semestre de 1.998:
"Eu fiz há pouco tempo uma pesquisa com empresários industriais em São Paulo para saber
que tipo de profissional o empresário quer na produção. Ele quer primeiro um trabalhador que
tenha bom senso, lógica de raciocínio e saiba se comunicar. Quer um trabalhador que entenda
o que é dito para ele. Também prefere alguém que seja capaz de transferir conhecimentos de
uma área para outra. Esse trabalhador deve ainda saber trabalhar em grupo". Em seguida,
perguntado se essa exigência alcança qualquer trabalhador desde o mais humilde até o mais
especializado, respondeu: "Estamos falando de todos. O trator muda, o azulejo muda, o
encanamento muda, o fio da eletricidade muda. A revolução tecnológica vai prosseguir.... Os
trabalhadores têm de ser mais capazes do que no passado. Eles precisam concorrer com
máquinas. Não há lei, sindicato, partido político que faça um empresário contratar pessoas que
não sejam capacitadas. Por todas essas razões é preciso melhorar a qualidade da formação
educacional no Brasil. O país está precisando de uma mobilização maior. Os que sabem mais
têm de assumir a responsabilidade de ajudar de alguma maneira, com tempo, talento e
sabedoria, os que sabem menos. A pior coisa do mundo é a obsolescência humana. A
sociedade precisa socorrer as pessoas que estão nesse caso. A pessoa que perde o emprego
porque não é mais útil. Casos assim são uma trajédia. Precisamos fazer tudo para evitar esse
sofrimento".
No mesmo sentido a Mestra em Educação e Profª da UFPr, Acácia Kuenzer, em seminários recentes, sempre
sustentando que "o mercado está a exigir maior escolarização do trabalhador":
"Com taxas de desemprego em torno de 8% no país e 5% no Paraná, o sistema econômico
vigente reduziu o número de postos de trabalho e aumentou a produtividade dos poucos que
restaram.
O mercado está exigente na hora de escolher quem vai ser premiado com uma vaga. Para
aqueles que não tiveram oportunidade de escolarização, estes são a maioria da população
brasileira, a desvantagem é ainda maior.
As posições do mercado de trabalho hoje exigem mais da capacidade intelectual do que das
habilidades manuais do indivíduo. Um trabalhador com quatro anos de escola básica
antigamente podia ser treinada para "fazer coisas". Havia umanecessidade maior de força
física e destreza manual, mas as mudanças tecnológicas introduziram novas necessidades na
qualificação desse trabalhador.
O ensino fundamental ( de 1ª a 8ª série) é absolutamente essencial, entretanto já não é uma
garantia. As posições de emprego hoje exigem que o indivíduo consiga pensar, analisar e isso
não pode ser obtido de outro modo que não na escola.
Acreditar numa profissionalização relâmpago para garantir o emprego também não é o
caminho, porque essas pessoas estão sendo meramente treinadas e isso já não é o que o
mercado precisa. O ideal para quem está atrasado no processo de escolarização seria o curso
supletivo e é preciso passar mais tempo na escola para aumentar capacidade de raciocínio e
tomada de decisão".
Trabalho Educativo
Necessidade ou realidade
a) - Aprendizagem, interpretação possível:
O Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA nos artigos 60 até 69 cuida de coordenar os conceitos de
educação, profissionalização e proteção ao trabalho do adolescente.
O título do Capítulo V "Do direito à profissionalização e à proteção no trabalho" necessita de uma
interpretação absolutamente construtiva e compatibilizada de dois grandes ramos das ciências sociais. O
direito à profissionalização está ligado à Ciência da Educação e por isso mesmo, regulado, no país, pela LDB -
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. O direito à proteção no trabalho faz parte de outra a Ciência
do Direito, especificamente do Direito do Trabalho, regulado pela CLT e legislação esparsa.
art. 60 - O art. 60 do ECA prescreve ser proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade,
salvo na condição de aprendiz. O artigo deve ser imediatamente adequado ao que dispõe a Constituição
Federal, devendo ser transcrito para constar que:
"é proibido o trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer
trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze
anos"
Poderia, desde logo, em antevendo um projeto legítimo de trabalho educativo, explicitar que o adolescente
trabalhará na condição de aprendiz, entre 14 e 18 anos desde que submetido a contrato especial de menor
aprendiz, e contrato especial de trabalho educativo, com formação, donde exsurgiria a possibilidade legal de
se realizar trabalho educativo a partir dos 14 anos.
art. 64 - O art. 64 dispõe que "ao adolescente até quatorze anos de idade é assegurada bolsa de
aprendizagem"
Tal artigo partia da redação antiga do art. 7º, inciso XXXIII da CF/88 que permitia o contrato de trabalho de
menor aprendiz a partir de 12 anos. Com a alteração acima vista, ou seja, desaparece a possibilidade de
contrato de trabalho de menor aprendiz a partir dos 12 anos, passando a idade mínima para o contrato de
trabalho do menor aprendiz ser a de 14 anos completos de idade. Leia-se, aprendiz, no duplo significante:
contrato de trabalho de menor aprendiz de um ofício e contrato de trabalho educativo, com formação.
Diante da imensa dificuldade de as instituições sociais operacionalizarem seu funcionamento a bolsa
aprendizagem para os menores até quatorze anos tornou-se um empecilho para a realização de um serviço
social de melhor qualidade. As entidades sociais, nas pequenas cidades dependem de doação de um local
para agrupar os menores-carentes, contam com doações da comunidade e parcos subsidíos públicos e ainda
devem pagar para as crianças até 14 anos uma bolsa aprendizagem para prestar-lhes uma assistência social
e educacional, aí incluído o espaço para a permanência em contra-turno escolar, professores para aulas de
reforço escolar e preparo pré-profissional, merenda, insumos para aprendizagem de algum tipo de tarefa que
possibilite a iniciação em um trabalho. Ora, exigir que estas entidades assistenciais ou sociais, ainda forneçam
uma bolsa aprendizagem, para que o menor ali permaneça, é exigir demais dos programas sociais. Deveria
ser, sim, uma obrigação dos pais, retirar os filhos da rua e determinar sua permanência em instituições com os
programas acima expostos, tal como lhes é obrigatório cuidar para que seus filhos compareçam a escola, no
ensino regular.
Esta exigência de bolsa de aprendizagem obrigou as instituições sociais a buscarem parcerias com a iniciativa
privada o que contribui, em muito, para o desvirtuamento dos programas, pois somente quando havia a
inserção do menor, no mercado de trabalho é que havia o repasse de valores a título de bolsa.
Do meu ponto de vista a bolsa aprendizagem apenas se justifica quando há a inserção do menor, entre 14 e
18 anos, em regime de produção de algum bem, no âmbito da instituição social. O Prof. Oris de Oliveira
esclarece quanto a produção: "Não uma produção qualquer, mas aquela cujo produto possa ser vendido
dentro das exigências de qualidade e competitividade. Uma produção, pois, que implique custo e benefício,
capaz de remunerar quem a executa".
Fora desta hipótese, não se justifica qualquer pagamento, posto que não teria havido, sequer a contrapartida,
ou seja, a atividade laborativa.
Sugere-se, então, que o art. 64 passe a exigir a bolsa aprendizagem para os menores entre 14 e 18 anos,
desde que, em regime de atividade laborativa, com produtividade, no âmbito das instituições sociais.
Já o art. 65 , nada mais contém do que repetição da regra do art. 227, da CF/88, ao determinar que ao
adolescente, aprendiz, maior de 14 anos serão assegurados os direitos sociais e previdenciários. Portanto,
interpretado aqui, com a possibilidade de coexistência de trabalho educativo, com inserção do menor no
mercado de trabalho, não há que se falar em bolsa de aprendizagem, mas sim, de efetivo salário.
Sugere-se a adequação do artigo, nesses termos.
Agora passa-se a examinar um conjunto de normas dispostas nos artigos 61 a 65 do ECA, sob o aspecto da
Ciência da Educação e da Ciência do Direito do Trabalho.
São eles os seguintes artigos:
"art. 61 - A proteção ao trabalho dos adolescentes é regulada por legislação especial, sem
prejuízo do disposto nesta lei.
art. 62 - Considera-se aprendizagem a formação técnico-profissional ministrada segundo as
diretrizes e bases da legislação de educação em vigor.
art. 63 - A formação técnico-profissional obedecerá os seguintes princípios:
I- garantia de acesso e freqüência obrigatória ao ensino regular;
II - atividade compatível com o desenvolvimento do adolescente;
III - horário especial para o exercício das atividades.
art. 64 - Ao adolescente até quatorze anos de idade é assegurada bolsa de aprendizagem;
art. 65 - Ao adolescente aprendiz, maior de quatorze anos, são assegurados os direitos
trabalhistas e previdenciários"
De início, o artigo 61 menciona que a proteção ao trabalho é regulada por legislação especial referindo-se, por
certo, à CLT e legislação esparsa e em seguida acrescenta, sem prejuízo do disposto nesta lei. A partir do
artigo 62 até o art. 65 passa a referir-se a vocábulos como "aprendizagem" e "bolsa aprendizagem" e
"adolescente aprendiz". A seqüência e a redação defeitosa dos artigos tem permitido uma interpretação de que
é possível ao "adolescente-aprendiz" realizar uma "aprendizagem", tida como "formação técnico-profissional"
e que está seria uma modalidade de contrato de trabalho, porém remunerada com uma bolsa aprendizagem.
Fudamentalmente, a interpretação do vocábulo "aprendizagem" vem permitindo uma tremenda confusão dos
institutos da formação, como etapa de um processo de educação, com o do contrato de trabalho.
Alguns intérpretes enxergaram no vocábulo "aprendizagem", associado com a idade mínima anterior de 12
anos, a possibilidade de se realizar pré-aprendizagem ou pré-profissionalização nas empresas, apenas
mediante bolsa aprendizagem. Outrossim, os encargos trabalhistas exigidos a partir dos 14 anos, quando da
inserção no mercado de trabalho, foram relegados, por se tratarem de adolescentes carentes, despreparados,
e pelo fato de receberem bolsa aprendizagem e não salário.
Uma tal interpretação do conceito de "aprendizagem" do ECA, emnada beneficia o adolescente, porque além
de não assegurar uma perfeita profissionalização, também não protege no trabalho. Vale dizer, nada
acrescenta aos instrumentos já previstos na LDB e nos direitos garantidos pela CLT, todos estes, esculpidos
nos princípios constitucionais que regem os títulos dos direitos sociais e da ordem social. Vale dizer, o próprio
ECA rememora que a proteção ao trabalho dos adolescentes é regulada por legislação especial, no artigo 61,
todavia, ao se interpretá-lo, faz-se letra morta da CLT e da LDB.
A miscelânia que se criou com tais interpretações permitiu que algumas empresas entendessem como
"formação técnico-profissional" cursos de treinamento específicos, de interesse exclusivo de suas empresas
destinados a atualização tecnológica dos trabalhadores para poder movimentar suas fábricas ou indústrias,
acompanhando os progressos da técnica e as novas exigências do mercado mas, suprimindo nestas
condições os direitos consagrados na Constituição Federal e na CLT aos empregados.
b) - Trabalho educativo: realidade:
Inquestionável que, na realidade, as empresas não obtém no mercado a totalidade dos trabalhadores
preparada, capacitada, para encarar as mudanças rápidas e diárias ocorridas no mundo do trabalho, ou
específicas de sua área de fabrico, produção ou de serviços, indispensáveis para a realização da atividade
produtiva e lucrativa por elas desempenhadas. Em razão disso, colhem no mercado, adolescentes, na faixa de
14 - 18 anos, empregando-os para o labor em oito horas diárias e, concomitantemente, ministram-lhes cursos
profissinalizantes. Tais cursos, equivalem a meros treinamentos, pois em geral são de curta duração, ensinam
especificamente aquelas tarefas necessárias a continuidade da produção da empresa e, por não cumprirem
os requisitos da LDB não asseguram certificação do curso de educação profissional. Tais cursos ocupam uma
pequena parte do horário que os adolescentes permanecem na empresa e o restante do tempo, seis ou sete
horas o adolescente é ocupado em atividade laborativa específica, produzindo em igualdade de condições e
exigências de produtividade de qualquer outro profissional devidamente empregado na empresa. Todavia,
estes adolescentes são remunerados com uma bolsa aprendizagem ou com parcela do salário-mínimo. A
justificativa patronal: está oportunizando a "aprendizagem", como se fora uma nova modalidade de contrato de
trabalho criado pelo art. 62 do ECA. Na verdade o que ocorre é que, ao adolescente de 14 anos é ministrado
um treinamento aos moldes mencionados, por dois meses, no máximo um semestre, e a partir dos 14,5 e até
os 18 anos o adolescente permanece na empresa, exclusivamente, em regime de trabalho produtivo.
Em resumo, tal forma de contratação vem em total prejuízo do adolescente e, é uma forma perversa de obter
trabalho com baixo salário, além de iludir o adolescente com um treinamento, ao passo que um curso ou um
módulo de curso técnico-profissionalizante possui requisitos específicos para a obtenção do respectivo
diploma, ou certificação.
Do ponto de vista do Direito do Trabalho está havendo fraude aos direitos do trabalhador, podendo ser
invocado o art. 9º da CLT, segundo o qual "serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de
desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação". Isto porque, a
Constituição e a CLT já asseguram proibição do trabalho ao menor de 16 anos e, ao adolescente, entre 16 e
18 anos, igualdade de salários ao trabalhador adulto, e o art. 7º XXX proibe discriminação no tocante a
salários por motivo de idade.
Logo, o adolescente, mesmo sendo ocupado uma parte da jornada de trabalho, com curso de atualização no
interesse da empresa, está realizando um contrato de trabalho como qualquer outro empregado, quando em
atividade na organização produtiva da empresa, presentes os elementos da relação de emprego e, portanto
faria jus, em tese, também ao piso salarial da categoria, em geral nas áreas de produção técnica, muito
superior ao salário-mínimo.
Do ponto de vista da LDB os cursos de formação técnico-profissionalizante são ministrados a nível de ensino
médio, por escolas profissionalizantes, ou mediante uma habilitação específica em escolas comuns. Em
qualquer caso, há um currículo mínimo, vale dizer, um conteúdo mínimo, um número mínimo de horas-aula,
fiscalizado pelo MEC, e devidamente certificado. É o que se extrai das regras do art. 35 c/c com o art. 36
quando cuida do ensino médio. Dispõe o art. 35, incisos II e IV que o ensino médio, com duração de três anos
terá como finalidades "II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando para continuar
aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou
aperfeiçoamento posteriores"; IV- a compreensão dos fundamentos científico-tecnológico dos processos
produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina".
Já o artigo 36, §2º dispõe que "o ensino médio, atendida a formação geral do educando, poderá prepará-lo
para o exercício de profissões técnicas" e no § 4º - "a preparação geral para o trabalho e, facultativamente, a
habilitação profissional, poderão ser desenvolvidas nos próprios estabelecimentos de ensino médio ou em
cooperação com instituições especializadas em educação profissional."
Quando trata da educação profissional a LDB, é inegável, no art. 40 prescreve que esta "será desenvolvida
em articulação com o ensino regular ou por diferentes estratégias de educação continuada em instituições
especializadas ou no ambiente de trabalho", até porque num país em desenvolvimento o poder público não
pode atingir seus misteres sem o auxílio da iniciativa privada. Todavia, deixa certo, e de clareza solar, no artigo
40 e seu parágrafo que o conhecimento adquirido na educação profissional realizada no trabalho poderá ser
objeto de avaliação e reconhecimento para prosseguimento e conclusão dos estudos. E, conclui no parágrafo
primeiro do art. 40,da LDB que "os diplomas de cursos de educação profissional de nível médio, quando
registrados, terão validade nacional".
Frize-se, porém, e aqui, o mais importante, que no capítulo (art. 39 a 42) da LDB que cuida da educação
profissional fica bem claro, e isso no artigo 41, que:
"o conhecimento adquirido na educação profissional, inclusive no trabalho, poderá ser objeto de
avaliação, reconhecimento e certificação para prosseguimento e conclusão de estudos".
Donde deflui que quando a educação profisional for oportunizada no ambiente de trabalho, poderá; ser
pontuada para fins de prosseguimento e conclusão de um determinado curso técnico. Todavia, os cursos de
educação profissional somente serão certificados, ou seja, só terão validade os diplomas se tais cursos forem
registrados, nas delegacias do MEC. E, é notório que, para tais registros, ou para que haja a devida
certificação, hão que ser observados os requisitos mínimos de duração do curso, carga horária,
aproveitamento, currículo mínimo, e demais critérios, tais como freqüência e aproveitamento do educando.
Urge, pois, que se extirpe do Código que visa a proteção do Adolescente, a miscelância que pode traduzir a
expressão "aprendizagem", para reconhecer-se que não há que se confundir os institutos: ou bem se trata de
formação, ou bem se trata de contrato de trabalho de menor aprendiz, ambos perfeitamente regidos por
normas próprias da legislação fundamental da educação(LDB) ou do trabalho (CLT), os quais devem ser
respeitados e aos quais devem ser reservados horários distintos na vida diária do adolescente.
Não se pode, nos dias de hoje, baralhar os institutos da formação pedagógica, com o do contrato de trabalho
até porque a LDB e a CLT continuam sendo dois instrumentos distintos, que por vezes podem se unir, na
preparação do cidadão trabalhador. Isto, por si só, não pode servir de engodo ao adolescente quanto ao
verdadeiro conteúdo, capacitação e diplomação de um curso de natureza técnico-profissionalizante; nemtampouco oportunizar a fraude ao direitos trabalhistas permitindo que o empregador sonegue os direitos
sociais assegurados em igualdade de condições ao trabalhador adolescente, entre 16 e 18 anos.
Do ponto de vista do Direito do Trabalho o contrato de trabalho e a relação de emprego têm contornos
próprios, assim como o contrato de trabalho do menor aprendiz, como já tratado no presente estudo, que são
conhecidos dos operadores do direito há mais de quarenta anos. Do ponto de vista da Ciência da Educação a
formação técnico-profissional é uma etapa do processo pedagógico de formação.
c)- Trabalho educativo: necessidade:
O Estado do bem estar social está falido. O serviço público vem sendo terceirizado. Os partidos políticos da
situação e da oposição preconizam as parcerias com a iniciativa privada.
O momento é crítico. O diagnóstico da realidade educacional do país demonstra que a evasão escolar do 1º
grau é de 25% e que o ensino médio, de segundo grau, atende apenas 16% da população brasileira entre 15
e 19 anos. Logo todo o restante do contingente de adolescentes é mão-de-obra não-qualificada para o
mercado de trabalho nos moldes atuais.
Ante um quadro tão desolador haveria que existir um incremento descomunal de cursos de ensino médio ou
de educação profissional que correspondessem, a curtíssimo prazo as expectativas do mercado de trabalho.
Veja-se que a CF/88 determina que o ensino fundamental é de responsabilidade do município (art.211,§2º) e
a LDB dispõe que os Estados incumbir-se-ão de assegurar o ensino fundamental e oferecer, com prioridade, o
ensino médio (art. 10, VI, da Lei 9.394/96). Todavia, tais cursos não preparariam, antes de três anos, os
profissionais que o mercado precisa absorver, imediatamente. A obtenção do diploma de conclusão do 1º ou
2º Graus, por adolescentes ou jovens que não puderam cursá-los em idade regular, através do Ensino
Supletivo não se realiza antes de dois anos.
Outrossim, os adolescentes que aí estão, encontram-se com a escolaridade defasada em relação à idade
cronológica, além do que não possuem sequer uma formação básica indispensável para concluir, com
qualidade, cursos de nível médio, técnico e pós-médio, ainda que fosse garantido o acesso de um percentual
de adolescentes carentes, enquanto estivessem concluindo o curso supletivo, nos atuais cursos de nível
médio. Todavia, guardada essa condição lhes seja benéfica, ou não, estão integrados ao mercado de trabalho,
ou nele pretendem ingressar.
Nesse panorama, o papel dos Estados federativos seria investir maciçamente na escola de nível médio e o
papel das entidades assistenciais seria o de exigir a complementação do ensino de Primeiro Grau e de
preparar o adolescente para ter acesso ao ensino médio, exigindo-lhes a matrícula e dando-lhes o apoio
necessário para complementação dos estudos em curso supletivo e, na medida do possível, dos cursos
profissionalizantes em consonância com os virtuais postos de trabalho. Porém, o Estado não tem condições
de reverter essa quadro, em curto espaço de tempo.
Por outro lado, o mercado de trabalho possui postos de trabalho ociosos, necessitando de mão-de-obra
qualificada. A miséria ainda impera em muitos bolsões. Os pais continuam empregando seus filhos
adolescentes. Os empresários ainda buscam explorar essa mão-de-obra barata. O próprio Estado, por meio
da administração pública direta e indireta se apropria dessa mão-de-obra.
A empresa é uma organização produtiva que se utiliza do trabalho como elemento da produção. O empregado
como sujeito do contrato de trabalho já tem assegurados direitos sociais e trabalhistas conquistados ao longo
de mais de 40 anos de lutas pelo respeito a sua dignidade de cidadão. Permitir que postos de trabalho sejam
ocupados ou criados para adolescentes, sem direito aos encargos sociais e previdenciários assegurados a
qualquer outro empregado é realizar um assistencialismo míope. É consentir que quem tem menos, tem
direito a receber menos. Constitui um raciocínio perverso que urge coibir, porque em desacordo com os
princípios internacionais e nacionais de que todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos.
O papel assistencialista ainda é, função do Estado, como poder público, que a bom tempo tem tido a ajuda de
organismos internacionais, UNICEF, IPPEC - OIT, de estados mais desenvolvidos, das ONGs, do trabalho
voluntário. Não está se negando aqui que existam empresários com vontade de colaborar, para a diminuição
da pobreza, das desigualdades sociais, e das mazelas causadas pela permanência dos menores carentes nas
ruas.
O caminho, por certo, não é exigir do empregador que faça assistencialismo, empregando adolescentes, com
direitos reduzidos, porque isto é incompatível com a atividade empresarial produtiva, com fins lucrativos. Uma
alternativa, possível, seria a de que toda vez que uma empresa realiza um programa de atualização ou
treinamento de seus empregados, oportunize, nesses cursos, um percentual de vagas para adolescentes-
carentes, o que poderia ser incentivado mediante uma dedução proporcional no imposto de renda.
Assim, a pior coisa do mundo não é ver o ser humano tornar-se obsoleto, porque mesmo adulto, não se
atualizou para permanecer no mercado de trabalho. A pior coisa do mundo é ver o ser humano, ainda criança
ou adolescente ser alijado desse mercado de trabalho, porque não teve nenhuma oportunidade de amplo
acesso à educação, a uma formação profissionalizante capaz de prepará-lo para competir em igualdade de
condições com os adolescentes não-carentes. E, negar-lhe esse direito é negar-lhe a dignidade do ser
humano, negar-lhe o direito à educação, direito social conquistado pelos povos modernos é negar-lhe o direito
à igualdade de tratamento aumentando o abismo da desigualdade social do país.
De modo que tudo isto, está a justificar uma regulamentação.
Pois bem, é inconteste que o menor carente tem direito a igualdade de tratamento, igualdade de condições
para acesso ao conhecimento científico e aos cursos profissionalizantes. Qualquer projeto que vise
regulamentar o trabalho educativo deverá promover essa igualdade, ou quando menos, oportunizar que se
minimize a real desigualdade entre adolescentes carentes e não carentes. Posto que se é inegável que o
adolescente não-carente chega ao mercado de trabalho com determinadas condições, o que as entidades
assistenciais estão sendo chamadas a proporcionar é uma atividade educacional e profissionalizante de
tamanha envergadura que possa suprir os anos de ausência em cursos regulares e preparação profissional,
de modo que seja propiciado ao adolescente carente, dar um salto qualitativo a fim de competir no mercado
em igualdade de condições, com aqueles. Isto é o que se preconiza desde a Declaração dos Direitos do
Homem, em França: Todos são iguais perante a lei. O direito de igualdade, de isonomia, estará sendo violado,
se não for, ao menos, buscada uma tentativa de minimizar os abismos do conhecimento. É disso que cuida de
preconizar o art. 203, II e III da CF/88 como objetivo da entidade assistencial. É o que determinam os art. 205
e 227 da CF/88 quando prescrevem a educação básica e plena e das prioridades absolutas de
profissionalização do adolescente.
Este seria o ideal. Mas, como não se pode pretender que o adolescente deixe de trabalhar, em curto espaço
de tempo; como não se pode pretender que todas as entidades sociais transformem-se de uma hora para
outra em escolas de ensino médio, de tempo integral; como o Estado não dispõe de recursos suficientes para
reverter essa quadro nefasto, em curto período; há que se concordar que haja uma regulamentação do
trabalho educativo, porém com exigência mínimas que podem ser, agora, hoje, perfeitamente
compatibilizadas, para que se atinja um mal menor.
O que se espera da regulamentação do "trabalho educativo" é o de despertar as entidades assistenciais para
oferecer nas horas de contra-turno escolar uma complementação da formação geral da criança e do
adolescente, com reforço escolar, língua estrangeira,etc.. e no âmbito da iniciação à profissionalização
substituísse, nas oficinas, os trabalhos manuais, artesanatos, tarefas rotineiras e mecânicas de construir
banquetas e cabides de madeira, bordar panos de prato, fabricar cestos de pães, confecionar pães, costurar,
para oferecer cursos e técnicas de verdadeira iniciação à capacitação profissional, em consonância com as
necessidades do mercado local, tudo atendidos os princípios que inspiram a nova LDB. Afinal, é o que está a
exigir o art. 62 do ECA.
Enfim, atender o próprio espírito da Lei do Adolescente, tal como proposto pelo Art. 68, §1º do ECA, que exige
que trabalho educativo é a atividade laboral em que predominam as exigências pedagógicas sobre o aspecto
produtivo, detalhando quais as bases dessa prevalência na realização tanto no âmbito das entidades sociais,
quanto no momento da inserção do menor no mercado de trabalho.
Perspectivas de um Trabalho Educativo
na faixa etária de 14 a 18 anos
no âmbito das entidades sociais
Sem inserção no mercado de trabalho:
Apresenta-se, em breves itens, as justificativa para a adoção dessa modalidade de trabalho educativo, com
base no que foi visto no presente estudo e retiradas da 5ª Conferência Internacional sobre Educação de
Adulto, da ONU, realizada em julho/97, no Congresso de Hamburgo e de trabalhos ali apresentados, em
especial do texto de Nassim, Gabriel Mehedeff, da Secretaria de Formação Profissional do Ministério do
Trabalho, intitulado "Educação e trabalho: um projeto para jovens e adultos de baixa escolaridade":
há um compromisso do país, em erradicar o trabalho infantil e regularizar o trabalho do adolescente;
investir na criança é investir no futuro;
a criança constitui prioridade em todos os sentidos desde a primazia no recebimento de socorro, na
precedência de atendimento nos serviços públicos e na formulação e execução das políticas sociais
públicas, até na destinação privilegiada de recursos públicos (art. 4º do ECA)
para inserção ou reinserção no mercado de trabalho é indispensável possuir o certificado de conclusão
do Primeiro Grau (1ª a 8ª séries do Ensino fundamental).
Pela nova LDB ensino básico engloba o Primeiro e o Segundo Graus.
Diretrizes do MEC indicam que a educação básica (1º e 2º Graus) associada a educação profissional
consituem ferramentas para ampliar a empregabilidade, melhorar a qualidade e competitividade do
setor produtivo e fortalecer a cidadania.
A educação, mais que um direito, é tanto condição para uma plena participação na sociedade, como
conseqüência do exercício da cidadania.
Apenas a educação baseada no respeito, incondicional, aos direitos humanos levará a um
desenvolvimento justo, há uma sociedade participativa, democrática, de igualdade e de construção de
um povo tolerante, não violento, com senso de responsabilidade pessoal e coletivo capaz de lidar com
as transformações sócio-econômico-culturais e com os desafios que a vida lhes impõe.
A educação é um processo duradouro. As novas demandas da sociedade e expectativas de
crescimento profissional requerem durante toda a vida do indivíduo, uma constante atualização de seus
conhecimentos e habilidades
O Estado, ainda é o principal veículo para assegurar o direito de educação para todos, particularmente
para os grupos menos privilegiados da sociedade, como os pobres, minorias, a população rural ou os
povos indígenas.
Globalização, mudança nos padrões de produção, desemprego crescente e dificuldade de levar uma
vida estável exigem políticas trabalhistas mais efetivas, assim como mais investimentos em educação,
de modo a permitir que homens e mulheres desenvolvam suas habilidades e possam participar do
mercado de trabalho e da geração de renda.
A Conferência da ONU declarou "Nós reunidos em Hamburgo, convencidos da necessidade da
educação de adultos, nos comprometemos com o objetivo de oferecer a homens e mulheres as
oportunidades de educação continuada durante todas suas vidas. Para tanto, construiremos amplas
alianças para mobilizar e compartilhar recursos, de forma a fazer da educação de adultos uma dádiva,
uma ferramenta, um direito e uma responsabilidade compartilhada.
A idéia-raíz de um programa de Trabalho Educativo somente pode ser a formação profissional
Vejam-se, ainda, os seguintes dados:
31% das mulheres jovens e adultas, no país, são analfabetas
40,4% da PEA - população economicamente ativa, são de mulheres;
apenas 15,7% das mulheres adultas concluem o ensino obrigatório de 1º Grau;
Pesquisa Nacional DATA FOLHA, de 1998, classificou 5 grupos sociais no Brasil: elite, trabalhadores,
remediados, deslocados e excluídos(subdivididos em pobres, despossuidos e miseráveis). Dentre os
excluídos 25 milhões são miseráveis com 16 anos ou mais, ou seja, 24% da população.
Dos 25 milhões de miseráveis, 83% são analfabetos funcionais, possuem menos de quatro anos de
estudos.
De acordo com o IBGE 40% dos brasileiros até 14 anos vivem em famílias com renda per capita de
meio salário mínimo.
O Brasil possui 20.352 infratores entre 12 e 20 anos. Destes 75,2% está na faixa etária de 12 a 15
anos. Do total é impressionante o baixo nível de escolaridade: 71% não realizou o Primeiro Grau
completo.
Mister que se diga, aqui, uma palavra de alento para estas entidades sociais. Muitas delas operam sem
nenhum recurso ou subsídio público, com trabalho voluntário e patrocínio de entidades privadas. Sobrevivem
de doações dos cidadãos. São párocos, aposentados, em verdadeiro trabalho voluntário e solidário abrindo
caminhos para conseguir uma merenda mais nutritiva, arranjando um berçário para filhos de adolescentes,
ampliando creches, enfim realizando um cem número de atividades de assistencialismo, sem as quais, por
óbvio, a vida dos egressos de famílias carentes seria ainda pior.
Não é demasia dizer, também, que muitas delas possuem um período, ou um semestre, ou até um ano de
atividades de reforço escolar permitindo que crianças e adolescentes carentes ali permaneçam em regime de
contra-turno escolar, ampliando sua formação pedagógica, com o acesso a professores absolutamente
capacitados e que exercem um abençoado voluntariado, com dedicação estremada para o aprimoramento da
formação de tais crianças e adolescentes.
Registra-se, ainda, que muitas delas funcionam com oficinas onde se realiza o desenvolvimento de ofícios
passíveis de serem absorvidos pelo mercado de trabalho local.
Apenas para que não houvesse nenhum tipo de distorção, seria necessário estabelecer que o trabalho
educativo nas entidades sociais somente pode ser realizado sem inserção no mercado de trabalho, posto que
uma vez inserido o elemento do trabalho produtivo estar-se-á adentrando na esfera do Direito do Trabalho e,
de conseqüência, infringindo a Carta Magna, que alterou o limite mínimo de idade para ingresso na atividade
produtiva, aos 16 anos, salvo se na condição de aprendiz.
Veja-se, não é vedado à instituição social prestar qualquer tipo de assistencialismo. Aliás esta pode ser
necessária desde o nascimento até aos 18 anos, as vezes até aos 21 anos. O que é vedado é inseri-los no
trabalho antes dos 16 anos completos, salvo na condição de aprendiz, ou em regime de trabalho educativo.
Para melhor definir o que seria o trabalho educativo nas instituições sociais, bastaria constar tratar-se de
programa de formação em que haja uma parte teórica, e uma parte prática realizada preferencialmente nas
oficinas/laboratórios da própria instituição. A parte teórica priorizará a complementação de estudos observados
os princípios, finalidades e possibilidade de avaliação previstos para o ensino fundamental e médio, definidos
na LDB. A parte prática, que não poderá ultrapassar 4 (quatro) horas diárias priorizará atividades que possam
iniciar para o trabalho em profissões absorvidas pelo mercado de trabalho local.
Em hipótese alguma o trabalho educativo pode ser transformado nos laboratórios/oficinas em trabalho
produtivo, seja utilizando-se da mão-de-obra dos adolescentes para confeccionar algum produto colocado no
mercado porempresa produtiva, seja para ampliar a produção da entidade social a ponto de torná-la
competitiva com o mercado de trabalho local. Exemplifica-se: não se admitiria como trabalho educativo a
confecção e montagem de brinquedos cujas peças sejam fornecidas por uma determinada empresa que
obterá a construção final do objeto que comercializará no mercado. Isto equivaleria a transferir um setor
produtivo desta empresa para a instituição social, caracterizando o contrato de trabalho à domicílio. Da
mesma forma que se a entidade social prepara uma quantidade de pães e doces que atenda além dos
adolescentes e da própria entidade social, todo um bairro da comunidade, estará havendo trasmudação de
trabalho educativo em trabalho produtivo, transformando-se a entidade social, em verdadeiro empregador. Isto
é o que urge coibir, no trabalho educativo, enquanto realizado no âmbito das instituições sociais.
Cuidar para que na realização das diversas atividades desenvolvidas nas oficinas e laboratórios da entidade
não haja colocação dos adolescentes em contato com agentes insalubres, perigosos ou nocivos a sua saúde.
Por fim, a bolsa aprendizagem somente será exigida, se dentro da instituição o adolescente realizar atividade
produtiva, considerada esta como o bem que pode ser vendido comercialmente, com margem lucrativa, capaz
de gerar a contrapartida da atividade laborativa e porque constitui, sem dúvida, um incentivo a formação dos
adolescentes, carentes.
Nesta seara mister regular também que, os frutos da parte prática da formação somente poderão reverter em
favor do adolescente e dos insumos do programa desenvolvido pela entidade assistencial. A instituição social
que transformar sua oficina/laboratório em processo produtivo será equiparada ao empregador do art. 3º , da
CLT, com todas as conseqüências jurídicas decorrentes.
Perspectivas de um Trabalho Educativo
Na faixa etária de 14 a 18 anos
Com inserção no mercado de trabalho:
Apresenta-se, em breves itens, as justificativas para a adoção dessa modalidade de trabalho educativo, com
base no que foi visto no presente estudo e retiradas da 5ª Conferência Internacional sobre Educação de
Adulto, da ONU, realizada em julho/97, no Congresso de Hamburgo e de trabalhos ali apresentados, em
especial do texto de Nassim, Gabriel Mehedeff, da Secretaria de Formação Profissional do Ministério do
Trabalho, intitulado "Educação e trabalho: um projeto para jovens e adultos de baixa escolaridade":
Há 25% de evasão escolar no âmbito do Primeiro Grau (ensino da 1ª a 8ª séries) de cunho universal,
obrigatório e gratuito.
Há apenas 16% de adolescentes cursando, hoje, o ensino médio, no país.
É preciso certificação das competências para poder trabalhar, se estabelecer e manter a
empregabilidade.
A educação mudou o seu paradigma, de educação para ou pelo trabalho para educação para o saber. É
necessário aprender a aprender, aprender a pensar, aprender a interligar conhecimentos de modo
criativo.
A educação está voltada para a aquisição de competências para manter a empregabilidade. Esta
significa possuir um conjunto de conhecimentos, habilidades, comportamentos e relações que fazem
com que o trabalhador possa ser aproveitado não por uma, mas por várias empresas. Os ingredientes
da empregabilidade são competência profissional, disposição para aprender continuamente,
capacidade de empreender.
O mercado integrado e competitivo não precisa mais do "operário padrão", disciplinado, leal, hábil para
uma tarefa, mesmo que iletrado, porque a tecnologia substituiu a habilidade prática do homem pela
máquina, pelo chip de computador.
A Educação Profissional é apenas complementar - e não substitutiva - da educação básica, informam
as diretrizes nacionais do MEC e do Conselho Nacional de Educação.
Trabalhadores com menos de 10 a 12 anos de estudo de boa qualidade possuem dificuldade de
inserção e de permanência no mercado de trablaho.
PRONERA - Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária utiliza-se de recursos do MEC e do
FAT para priorizr a alfabetização dos trabalhadores rurais assentados.
PLANFOR - Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador, no âmbito do Sistema Púbico de Emprego,
em Programa do Ministério do Trabalho, financiado com recursos do FAT - Fundo de Amparo ao
Trabalhador oriundo dos depósitos do FGTS, tem por objetivo mobilizar e articular, gradualmente, toda
a capacidade e competência de educação profissional disponível no país, para a médio prazo,
qualificar e requalificar, anualmente, pelo menos 20% da PEA - População Economicamente Ativa no
pais, cerca de 15 milhões de trabalhadores.
O PLANFOR já ofereceu profissionalização desde o 2º semestre/96 até fins de 1.998, em torno de 5,2
milhões de trabalhadores e já investiu R$1bilhão de recursos do FAT.
O orçamento do PLANFOR para 1.999 é de R$650 milhões, buscando atingir cerca de 3 milhões de
cidadãos. Só o Paraná receberá R$7 milhões em recursos do FAT para profissionalização.
O PLANFOR realiza cerca de 100 horas/aula de qualificação profissional, por trabalhador, a um custo
médio de R$2,00 por hora (ou R$200, per capita, ao ano).
Vejam-se, ainda os seguintes dados:
Segundo dados da PNAD- Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, do IBGE, o Brasil tem uma
PEA - População Economicamente Ativa de 74 milhões de trabahadores, estando ocupados, em torno
de 70 milhões, acima de 10 anos de idade, com o seguinte perfil:
16% (11 milhões) sem instrução ou com menos de um ano de estudo
18%(13 milhões) com menos de 1 a 3 anos de estudo
33% (23 milhões) com 4 a 7 anos de estudo
13% ( 9 milhões) com 8 a 10 anos de estudo
20% (14 milhões) com 11 anos ou mais de estudos.
Segundo dados da RAIS-95 (Relação Anual de Informações Sociais, do MTb), relativamente a PEA
empregada com registro em CTPS:
15% sem instrução ou até a 3ª série do 1ºGrau
33% entre a 4ª e a 7ª série do 1º Grau
23% com o 1º Grau completo
29% com 2º Grau completo ou mais
Aqui, a questão atinge um ponto crítico e de exame mais acurado, partindo-se de uma série de pressupostos
entre os quais ser inegável que: os empresários têm contribuído para a formação e profissionalização do
adolescente; o Estado tem muitas vezes se omitido de seu papel social de propagador da educação universal
e profissionalizante; as Autarquias especiais públicas (Sistema "S") estão por demais elitizadas, assim como
as escolas técnicas e a educação profissionalizante não têm atingido os adolescentes sem nenhuma
experiência profissional e, tampouco priorizado os adolescentes carentes.
Há casos em que a iniciativa privada tem substituído, vale dizer, tem custeado mesmo a formação e o preparo
profissional dos adolescentes que acodem ao mercado de trabalho sem a conclusão do curso fundamental ou
de ensino médico, sem qualquer contribuição do Estado. Exemplo disso é o caso do SESI que em parceria
com a iniciativa privada tem custeado os cursos supletivos nas empresas para que os adolescentes e jovens
em escolaridade desvantajosa possam ingressar e permanecer no emprego. O MEC custeia apenas o
material e as provas dos cursos supletivos, mas não as aulas de formação propriamente ditas.
Da mesma forma que, considerado que apenas 16% dos adolescentes concluem o ensino médio; é de 25% a
evasão escolar do Ensino Fundamental; o empresariado apenas encontra no mercado de trabalho uma grande
maioria de profissionais sem formação básica e sem qualificação profissional. Mais aqui, há uma parcela de
empresários que substituindo o Estado, enquanto responsável, pela educação, tem contribuído com inúmeros
cursos de formação, capacitação, e profissionalização para iniciação ao trabalho. Mesmo naquelas hipóteses
em que o adolescente conclui, regularmente, o ensino médio, é inegável reconhecer que, chega tão
despreparado ao mercado de trabalho, sendo necessário freqüentar cursos de qualificação para o primeiro
emprego.
Pois bem, há aí, uma enorme omissão do Estado, e do poder público estadual, principalmente, eis que a LDB
determina que do estado federado a responsabilidade pelo ensinofundamental, com prioridade para a escola
média.
Por outro lado a própria LDB, Lei 9394/96, reconhece no capítulo "Da Educação Profissional":
art. 40 - LDB - A educação profissional será desenvolvida em articulação com o ensino regular
ou por diferentes estratégias de educação continuada, em instituições especializadas ou no
ambiente de trabalho.
art. 41 - LDB - O conhecimento adquirido na educação profissional, inclusive no trabalho,
poderá ser objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para prosseguimetno ou
conclusão de estudos.
Parágrafo único - Os diplomas de cursos de educação profissional de nível médio, quando
registrados, terão validade nacional.
art. 42 - As escolas técnicas e profissionais, além dos seus cursos regulares, oferecerão cursos
especiais, abertos a comunidade, condicionada a matrícula a capacidade de aproveitamento e
não necessariamente ao nível de escolaridade.
Com efeito, esse conjunto de artigos está a reconhecer que é possível realizar-se aprendizado profissional
também no trabalho; que o MEC está autorizado a avaliar e reconhecer que os cursos ou a atividade
profissional podem ser avaliados e pontuados para fins de prosseguimento e conclusão de cursos, inclusive
para fins de certificação.
Havendo esta possibilidade de conciliação, entre formação e trabalho, decorrente da Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional é possível então viabilizar um contrato especial de trabalho educativo, nos seguintes
moldes.
1) - Quanto a nomenclatura: Como podem existir diversas modalidades de trabalho educativo, é preferível
nomear-se o presente como contrato especial de trabalho educativo, com formação profissional.
2) - Quanto a clientela a ser atingida:
A clientela deverá ser, prioritariamente, aquela oriunda de famílias de baixa renda, (menos de cinco salários
mínimos), "menores de rua", menores assistidos; menores carentes, e buscar integrar menores infratores.
Priorizar os adolescentes que estejam com a escolaridade defasada em relação a idade cronológica.
3) - Quanto a idade dos adolescentes admitidos ao programa de trabalho educativo:
Admite-se, desde que, não suprimida nenhuma exigência que desqualifique a presente proposta, que seja
realizado a partir de 14 anos completos até 18 anos, interpretando-se a exceção contida no art. 7º, inciso
XXXIII, da CF/88 (EC 20/98), como relacionada aos contratos de menor aprendiz e contrato especial de
trabalho educativo.
Observe-se que embora tenha sido alterado o art. 7º, inciso XXXIII da CF/88 não houve alteração do disposto
no art. 227, §3º,I da mesma Carta, onde se lê, verbis: 
"O direito à proteção especial abrangerá os seguintes aspectos: I - idade mínima de quatorze anos para
admissão ao trabalho, observando o disposto no art. 7º, XXXIII". Donde deflui que não é vedado um regime
especial de trabalho educativo para menores entre 14 e 18 anos.
Excepcionalmente, poderia ser prorrogado até a idade de 21 anos (art. 2º, parágrafo único do ECA), desde
que expressamente previsto, que nessa hipótese, trate-se de jovem sem escolaridade, que esteja inscrito no
SINE, certificada a ausência de colocação em qualquer emprego, por mais de seis meses; não possua
qualquer registro anterior em CTPS.
4) - Quanto a natureza do contrato especial de trabalho educativo: Trata-se mesmo de uma modalidade de
contrato de trabalho, de natureza especial, porque reúne os requisitos da formação educacional e
profissionalizante, com o do contrato de trabalho. Deve atender, de forma compatibilizada, os requisitos do art.
6º, 7º e 227 da CF/88.
Veja-se que, ao exigir a Constituição Federal, que na inserção do adolescente no trabalho deverá ser
garantida a idade mínima de 14 anos e dos direitos e previdenciários e trabalhistas, está a exigir que se trate
de modalidade de contrato de trabalho: "O direito à proteção especial abrangerá os seguintes aspectos: I -
idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho, observando o disposto no art. 7º, XXXIII"; II -
garantia de direitos previdenciários e trabalhistas; III - garantia de acesso ao trabalhador adolescente à
escola."
5) - Quanto a responsabilidade pelo desenvolvimento do trabalho educativo: a responsabilidade pelo
planejamento e realização de um programa de trabalho educativo é das instituições sócio-educativas, sejam
elas escolas, entidades de assistência social exclusivamente públicas ou governamentais, sejam as
organizações não governamentais - ONGs, sem fins lucrativos.
Justifica-se que assim seja, porque o art. 68 do ECA já dispõe nesse sentido. Outrossim, o papel de tais
instituições sociais é saltar do assistencialismo para poder proporcionar uma educação profissional. Ficarão
responsáveis por encontrar na grade curricular dos diversos cursos técnicos registrados nas Secretarias de
Educação, aquele que se compatibilize com as empresas privadas e órgãos públicos que querem possuir
adolescentes em regime de trabalho educativo.
Responsabilizar-se-ão pelo cumprimento das exigências legais em relação ao programa, tanto de parte dos
adolescentes, quanto das empresas/órgãos públicos.
Isto justifica que se atribua a elas a anotação da CTPS, de um contrato de trabalho em regime especial de
trabalho educativo, quando a inserção ocorrer no âmbito da administração direta, autárquica e fundacional.
6) - Quanto ao objetivo e natureza do programa: O objetivo do programa como sobressai do artigo 62, do
próprio ECA é o de propiciar formação técnico-profissional, ainda que em apenas um ou alguns módulos da
educação profissional de nível técnico. Dispõe o art. 62 do ECA, que considera-se aprendizagem a formação
técnico-profissional ministrada segundo as diretrizes e bases da legislação de educação em vigor.
Pois bem, o ECA foi editado sob a égide da Lei 5692/71. Hoje vigora a Lei 9.394/96, de 26.12.1996. Os artigos
39 a 42 da novel LDB regulamentam a educação profissional, possibilitando que:
. o aluno matriculado ou egresso do ensino de fundamental (1ª a 8ª série de 1º grau), do ensino médio (2º
Grau) do ensino superior, ou mesmo qualquer trabalhador, jovem ou adulto devem ter possibilidade de acesso
à educação profissional;
- donde, o adolescente, por exemplo, com 16 anos, mas cursando a 5ª série do ensino básico, ou
fundamental, ou matriculado em Curso Supletivo, poderá realizar um módulo do ensino técnico e ter direito a
que esta carga horária de formação seja certificada, com validade nacional;
- a educação profissional pode ser realizada no ensino regular, ou por instituições especializadas ou no
ambiente do trabalho;
- o conhecimento adquirido na educação profissional, inclusive no trabalho, poderá ser objeto de avaliação,
reconhecimento e certificação para prosseguimento ou conclusão de estudos.
Justificativa: Atendida a nova LDB, apenas pode ser admitido como formação técnica-profissional a realizada
através de um módulo, ou conjunto de disciplinas, de uma determinado curso técnico, devidamente aprovado
pelo MEC. Assim, o que o trabalho educativo deve propiciar é que o adolescente participe de um desse
módulos, e obtenha a freqüência e aprovação necessárias para que possa ao término do contrato de trabalho
ter realizado um ou dois desse módulos, conforme o tempo de permanência no regime de trabalho educativo.
Portanto, o compromisso do empregador é de propiciar essa modalidade de formação e não um treinamento
qualquer.
As Diretrizes Nacionais do MEC para a educação profissional determinam que para efeito de
profissionalização a nível médio, são definidos objetivos específicos, titulação, currículos, docentes e a
certificação das competências. Assim, as instituições sociais devem encaminhar a Secretaria de Educação a
grade curricular contendo a carga horária mínima das disciplinas, e dos módulos, e a freqüência e
aproveitamento mínimos, para objeto de certificação. A nível médio haverá diretrizes curriculares nacionais a
obedecer, para cada área do conhecimento, que já se encontram assim dividas: produção de bens, produção
de conhecimento, produção de serviços. Já estãoprontas algumas grades curriculares. É possível acessar
pela "internet", junto ao MEC, PROEP, as Diretrizes Curriculares nacionais, e encontrar ali os cursos cujas
planilhas de carga horária já estão aprovadas. Dentre elas, encontramos os cursos técnicos em gestão
empresarial e pública; gestão comercial de bens e serviços; saúde e segurança no trabalho; propaganda e
publicidade; informática; turismo e lazer; agropecuária; comunicação, dentre muitos outros. Consultada a
Secretaria de Educação no Paraná, já se tem aprovada a matriz, ou grade curricular do curso técnico em
informática com 800 horas/aula e o curso técnico em gestão de bens e serviços, também com 800 horas/aula,
divididos em módulos que variam entre 40 a 150 horas aula.
- O objetivo principal, ou seja, a raíz do programa é a possibilidade de o adolescente se submeter ao regime
de trabalho educativo, mas ao término de um período neste contrato, poder receber uma certificação de um
curso, ou de um módulo de um curso que será fornecida mediante a comprovação da freqüência e
aproveitamento mínimos, depositada junto à Secretaria de Educação.
7) - Quanto ao modo de seu desenvolvimento: Predominará a exigência pedagógica. O desenvolvimento de
aptidões e habilidades e competências que tem real valor no mundo educacional e para o mundo do trabalho,
o que dá a tônica da prevalência da aprendizagem sobre o aspecto produtivo, na realização das atividades.
Para o melhor desenvolvimento do programa a instituição social deverá selecionar escolas, ou instituições
que realizem, ou promova ela própria, um módulo de qualquer dos cursos de educação profissional de nível
médio, o qual deverá ser custeado pelo empregador, que ali matriculará o adolescente em regime de trabalho
educativo, sendo exigido o cumprimento de no mínimo 200 horas de formação, para cada ano de trabalho em
regime especial, junto ao empregador ou órgão público.
Assim, o programa visa que o adolescente, sob a tutela de uma entidade de assistência social governamental
ou de uma ONG, estará submetido a alguma atividade profissionalizante, realizando uma etapa de sua
formação pedagógica. Na verdade o programa de trabalho educativo está a pressupor que o adolescente
freqüente seu curso regular de formação de 1º ou 2º grau, ou supletivo, e ainda, complemente sua formação,
por meio da realização de um módulo de um curso técnico-profissional, com possibilidade de receber
certificação e com validade a nível nacional.
8) - Da jornada de trabalho e da carga horária de formação:
A carga horária mínima de formação será de 200 horas aula, para a complementação de um ou mais módulos
de curso de educação profissional, de nível médio, para cada ano em regime de trabalho educativo, em cada
empresa, ou órgão público.
A carga horária máxima da jornada de trabalho em regime de trabalho educativo será de oito horas diárias, de
segunda a sexta-feira e, quatro horas ao sábado. A carga horária de formação estará sempre incluída na
jornada de trabalho.
O limite de 200 horas aula é um límite mínimo, para um ano de atividade. Considerado que o empregado em
regime de trabalho educativo poderá ser exigido pelo empregador em até 44 horas semanais, o que totaliza
220 horas mensais, e 2640 horas anuais de trabalho, com remuneração reduzida; nada mais justo que o
empregador lhe forneça dentro dessa jornada, pelo menos 200 horas aula, ao ano. Trata-se de menos do que
10% da jornada de trabalho produtiva.
Este é um aspecto crucial do programa. Veja-se é imprescindível que o adolescente esteja freqüentando ou
esteja matriculado no 1º ou 2º graus, ou quando menos esteja matriculado em curso supletivo. Donde ser
inegável que pelo menos em quatro horas por dia, seja de manhã, seja de tarde, seja à noite, estará
estudando no ensino regular. Esta exigência está na Constituição (art.227,§3º, III), na Lei de Diretrizes e Bases
da Educação (art.40) no Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 63 do ECA) e já estava na CLT, desde
1.943, no artigo 403, "a", da CLT). Outrossim, o programa prescreve que o educando realize um formação de
pelo menos um ou mais módulos de educação profissional, o que lhe exige o comparecimento a aulas
teóricas. Assim, resta um único período para o trabalho produtivo.
Logo, ou se delimita o trabalho educativo a apenas quatro horas, ou seis horas diárias, ou se permite o regime
de oito horas, mas desde que, a carga horária de formação teórica, seja nela embutida. Ainda, assim, haverá o
adolescente que realizar o seu curso regular à noite, porque de resto não sobrará horário para trabalhar, e
realizar formação educacional.
9) - Direitos do trabalhador adolescente: Serão garantidos todos os direitos trabalhistas e previdenciários,
como determinam os arts. 7º e 227, da CF/88, salvo quanto ao piso salarial das categorias ou vencimentos
básicos das carreiras nos órgãos públicos, como meio de compensar o empregador e o órgão público pela
participação efetiva na formação.
Será indispensável o acompanhamento, na entidade social, de uma pedagoga, com a finalidade de verificar se
o módulo ou módulos de formação profissional foram devidamente anotados na CTPS do adolescente e se
são passíveis de certificação para fins de aproveitamento na continuidade da educação profissional a nível de
curso técnico.
Em nenhuma hipótese, poderá ser dado por cumprido o programa, em caso de o empregador custear o
ensino básico - 1º ou 2º Graus, eis que a freqüência obrigatória destes é condição para a validade do
programa, e o trabalho educativo com formação somente se realiza a nível de educação profissional.
O módulo ou módulos de curso profissionalizante a serem cursados e objeto de certificação, serão
preferencialmente, correlatos a atividade desenvolvida na empresa ou no órgão público.
Observadas as exigências do art. 63 do ECA, a formação ténico-profissional obedecerá aos seguintes
princípios:
- garantia de acesso e freqüência obrigatória do ensino regular, (aqui, acresce-se a possibilidade de o
adolescente estar matriculado no ensino supletivo, porque esta alteração veio com a nova LDB);
- atividade compatível com o desenvolvimento do adolescente;
horário especial para o exercício das atividades
10) - Da remuneração do adolescente pelo contrato de trabalho em regime de trabalho educativo:
O adolescente receberá valor não inferior ao salário-mínimo para jornada de oito horas, podendo ser
proporcional ao número de horas reduzidas, a título de bolsa aprendizagem.
O empregador, e o órgão público, não obedecerão os pisos da categorias, ou os salários de início das
carreiras, em contrapartida a oferta de formação profissional.
Poderão ainda, ter prioridade no patrocínio dos módulos de formação pelo acesso aos Projetos do PLANFOR,
que se utiliza dos recursos do FAT.
11) -Das responsabilidades:
As empresas privadas se responsabilizarão pela anotação em CTPS e pagamento de todos os encargos
sociais e trabalhistas.
Para o caso de o programa ser desenvolvido em órgãos públicos da administração direta, autárquica e
fundacional a anotação em CTPS será feita pela entidade social, que repassará todos os encargos sociais e
trabalhistas.
Como se trata de uma modalidade de contrato de trabalho a prazo certo, terminando com a idade de 18 anos,
não há que se falar em aviso prévio, nem multa do FGTS.
Outrossim, como os empresários estarão substituindo o poder público no fornecimento de um ou mais
módulos de formação, de educação especial e de nível médio, do trabalhador adolescente é justo que se
compense no pagamento de FGTS e INSS. Assim, a proposta contém o dever de o empresário depositar o
FGTS e INSS do trabalhador adolescente, podendo-se compensar junto a estes órgãos, mediante a
comprovação do custo dos módulos de ensino profissionalizante que adquir ou custear.
Prevê, também a possibilidade de o empregador custear os módulos de ensino por meio de recursos do
PLANFOR, programa que emprega recursos do FAT.
12) - Do desvirtuamento:
Em sendo desvirtuado o regime de formação ou a natureza do contrato em regimeespecial de trabalho
educativo, ficará caracterizado o contrato de trabalho da CLT, responsabilizando-se os contratantes,
solidariamente, pelo pagamento das diferenças entre o valor pago a título de bolsa aprendizagem e o de piso
salarial da categoria, no mercado de trabalho e, demais consectários sonegados, além de se obrigarem a
fornecer, gratuitamente, o curso técnico não realizado.
13) - Da fiscalização:
O regime de trabalho educativo será fiscalizado pela Fiscalização do Trabalho e do INSS, sem prejuízo de
denúncia da fiscalização das entidades sociais na forma estabelecida no art. 90 e 95 do ECA, pelo Ministério
Público do Trabalho.
A certificação dos módulos dos cursos de educação profissional, de nível médio, cursados pelo adolescente
em regime de trabalho educativo será fornecida pelas Secretarias de Estado de Educação, que verificará a
observância dos requisitos de carga horária de formação teórica e carga horária de formação técnica, currículo
mínimo; nível dos docentes; freqüência e aproveitamento do educando, equivalência com cursos de nível
médio já aprovados pelas diretrizes curriculares nacionais, a fim de que possam ter validade nacional, como
determina a LDB e legislação suplementar.
Sob o ponto de vista dos recursos necessários a sua implementação o governo já dispõe de um Programa
Nacional, que utiliza os recursos do FAT, destinado para o desenvolvimento da formação necessária para o
trabalho, que é o PLANFOR, Plano Nacional de Desenvolvimento e Formação para o Trabalho. Assim, os
módulos dos cursos profissionalizantes patrocinados pela iniciativa privada, ou seja, pelos empregadores eis
que de seu interesse a formação em determinadas e específicas áreas poderão ser realizados em parceria
com os programas desenvolvidos pela Secretaria do Trabalho com os recursos do FAT.
Programa de Trabalho Educativo
Proposta de Alteração Legislativa - ECA
Proposta de Alteração imediata do ECA, para adequar-se a alteração da idade mínima para o trabalho
introduzida no art. 7º, inciso XXXIII, pela EC nº 20/98; à Constituição vigente quanto às normas de direito do
trabalho, de assistência social, de previdência social e de educação do adolescente; à recente Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 9.394/96 e à legislação da Consolidação das Leis do Trabalho e
esparsa no que diz com o Direito do Trabalho.
O Projeto de Lei teria uma finalidade mais abrangente qual seja a de propor alteração, atualização e
adequação do Capítulo V, Do Direito à Profissionalização e à Proteção no Trabalho do ECA - Estatuto da
Criaça e do Adolescente, Lei 8069/90.
art. 60 - Sugere-se que se repita o disposto na Constituição Federal:
art. 7º, inciso XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de
dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a
partir de quatorze anos;
art. 61 - A proteção ao trabalho do adolescente é regulada pelo Direito do Trabalho e legislação especial, e o
direito à profissionalização será assegurado segundo as diretrizes e bases da legislação em vigor, sem
prejuízo do disposto nesta lei
art. 62 - Considera-se aprendizagem a formação técnico-profissional ministrada segundo as diretrizes e bases
da legislação em vigor.
Parágrafo primeiro - Entende-se por aprendizagem aquela realizada na forma de contrato especial de trabalho
para o menor aprendiz, regulamentada pela CLT e legislação complementar e o contrato em regime especial
de trabalho educativo, com formação profissional, regulamentado por esta lei.
Parágrafo segundo - Considera-se contrato de trabalho especial de menor aprendiz o destinado a
aprendizagem metódica de um ofício, previsto no artigos 80 e 429 a 433 da CLT, destinado a faixa etária entre
14 (quatorze) e 18 (dezoito) anos, e regulado pela legislação do trabalho e especial, compreendendo uma
parte de formação a título de aprendizagem teórica a cargo das instituições de ensino especializadas e
reconhecidas e uma parte prática a ser realizada no local de trabalho.
Parágrafo terceiro - O contrato de trabalho de menor aprendiz será sempre devidamente registrado na CTPS
do adolescente, pelo empregador ou tomador dos serviços e assegurará ao adolescente aprendiz, os direitos
trabalhistas e previdenciários especificados na legislação própria.
Parágrafo quarto - A parte de aprendizagem teórica do contrato de trabalho de menor aprendiz de um ofício
poderá ser ministrada, além do SENAC e SENAI (CLT, arts. 80, 429 a 433, Decreto 31546/52, Portarias do
MTb 43/53 e 1055/64) pelas Autarquias em regime especial de outros ramos do setor econômico, como
SESC, SESI, SENAR e também por qualquer estabelecimento de ensino médio oficial, escolas técnicas
oficiais ou instituições especializadas em educação profissional, devidamente reconhecidas pelo MEC, desde
que seja observado quanto ao mais, toda a legislação e regulamentação pertinente ao contrato de menor
aprendiz de um ofício.
Parágrafo quinto - O Ministério do Trabalho, ouvido o Ministério da Educação e os estabelecimento oficiais, ou
reconhecidos e as representações sindicais patronais e profissionais atualizará em 60 (sessenta) dias, e após,
periodicamente, ou pelo menos uma vez ao ano, as Portarias que especificam os ofícios destinados ao
contrato de trabalho especial do menor aprendiz.
Parágrafo sexto - O SENAC o SENAI e as demais autarquias especiais que passam a ser autorizadas a
realizar o programa do menor aprendiz, destinarão nunca menos do que 25% do orçamento de suas entidades
em programas de profissionalização que atenderão gratuitamente adolescentes de baixa renda. E, destinarão
nunca menos de 25% de seu orçamento em programas de profissionalização para trabalhadores em geral, de
baixa renda, aí considerada a família com renda até de cinco salários mínimos, ou menos.
art. 63 - (Permanece, com pequena alteração)
A formação técnico-profissional obedecerá aos seguintes princípios:
I - garantia de acesso e freqüência obrigatória ao ensino regular de 1º, ou 2º Graus, ou matrícula em Curso de
Ensino Supletivo.
II - atividade compatível com o desenvolvimento do adolescente;
III - horário especial para o exercício de atividades.
art. 64 - Ao adolescente é assegurada bolsa aprendizagem quando em regime de aprendizagem sob contrato
especial de trabalho educativo, desde que haja a inserção do adolescente no mercado de trabalho de
empresas ou órgãos públicos, com todos os requisitos exigidos pelo artigo próprio.
Parágrafo primeiro - A bolsa aprendizagem será equivalente a um salário-mínimo para uma jornada de oito
horas, podendo ser reduzida proporcionalmente as horas trabalhadas, não podendo ser paga em valor inferior
a meio salário-mínimo.
Parágrafo segundo - A remuneração que o adolescente recebe pelo trabalho efetuado ou a participação na
venda dos produtos de trabalho educativo realizado, sem a inserção do adolescente no mercado de trabalho,
não desfigura o caráter educativo.
art. 65 - Ao adolescente, aprendiz, em regime de contrato de trabalho de menor aprendiz, ou em regime de
contrato de trabalho educativo com inserção no mercado de trabalho serão asseguradosos direitos trabalhistas
e previdenciários, exceto quanto ao salário que será remunerado na forma da CLT, para os primeiros e para
os últimos na forma de bolsa aprendizagem
art. 66 - permanece (proteção do adolescente portador deficiência)
art.67 - permanece (proibições trabalho noturno, insalubre, perigoso, penoso, prejudicial à formação e
realizado em horários incompatíveis com a freqüência a ensino regular, etc..)
art. 69 - permanece - "O adolescente tem direito à profissionalização e à proteção no trabalho, observados os
seguintes aspectos dentre outros:
I - respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento;
II - capacitação profissional adequada ao mercado de trabalho.
art. 68 - O programa social que tenha por base o trabalho educativo, sob responsabilidade de entidade
governamental ou não-governamental, sem fins lucrativos, deverá assegurar ao adolescenteque dele
participe condições de capacitação para o exercício de atividade regular remunerada.
Parágrafo primeiro - Entende-se por trabalho educativo a atividade laboral em que as exigências pedagógicas
relativas ao desenvolvimento pessoal e social do educando prevalecem sobre o aspecto produtivo.
Parágrafo segundo - O programa de trabalho educativo atenderá, prioritariamente, aos adolescentes
assistidos, carentes, com baixa escolarização, oriundos de família com renda abaixo de cinco salários
mínimos e que não tenham podido efetuar os estudos na idade regular e priorizará o reforço escolar capaz de
capacitar o estudante a frequentar cursos regulares do ensino fundamental, médio ou supletivo, incluirá
sempre uma parte de formação teórica e outra de formação prática, e será realizado em duas modalidades. A
baixa escolarização em relação a idade do adolescente não impede, contudo, sua participação em nenhum
dos programas aqui estabelecidos.
Parágrafo terceiro - Nenhum adolescente poderá ser aceito em programa de trabalho educativo sem que
comprove estar matriculado ou cursando o ensino fundamental, o ensino médio, ou curso supletivo. É da
responsabilidade da instituição social o controle da freqüência e aproveitamento da criança e do adolescente
no curso regular de ensino básico, médio, ou supletivo, devendo remeter mensal, ou semestralmente
documentos que comprovem esse acompanhamento ao empregador ou órgão público. Em caso de
inadimplemento dessa condição deverá o empregador ou órgão público denunciar o programa, sob justa
causa, comunicando os órgãos de fiscalização para as providências cabíveis.
art. 70 - A modalidade de trabalho educativo a ser realizada sem inserção do adolescente no mercado de
trabalho (empresas, associações, órgãos públicos) ou seja, exclusivamente, no âmbito da entidade
governamental ou não-governamental, é destinada aos adolescentes de até 18 (dezoito) anos, que não
possua o 1º Grau Completo e tem como finalidade essencial complementar os objetivos, finalidades e
conteúdos de formação previstos na LDB para a educação básica, que é composta pelo ensino fundamental e
ensino médio.
Parágrafo primeiro - A modalidade de trabalho educativo a ser realizada, sem inserção no mercado de
trabalho, terá por finalidade precípua o reforço escolar a fim de permitir a conclusão do ensino de primeiro
grau, segundo grau ou supletivo, em regime de no máximo quatro horas diárias, em horário de contra-turno
escolar.
Parágrafo segundo - É facultado a entidade social, matricular, as suas expensas ou mediante subsidíos
obtidos em parceria com a sociedade, ONGs, os adolescentes em regime de trabalho educativo, em escolas,
instituições sociais ou especializadas que possam facilitar ou promover a conclusão de sua educação básica,
em complementariedade, e sem prejuízo de sua freqüência regular dos cursos de 1º e 2º Graus, conforme o
caso.
Parágrafo terceiro - Quando a instituição social preferir realizar uma pré-profissionalização, observará, sempre
que possível, a iniciação em profissões que possam ser absorvidas pelo mercado de trabalho local, além de
um conteúdo teórico-formativo correspondente a um mínimo de uma hora diária e um conteúdo prático de no
máximo três horas diárias de atividade que será implementada preferencialmente em oficinas/laboratórios das
próprias entidades governamentais ou não-governamentais, vedada a inserção no mercado de trabalho.
Parágrafo quarto - A remuneração que o adolescente receba da entidade assistencial pela atividade exercida
ou a participação na venda dos produtos de seu trabalho não desfigura o caráter educativo. Só será devida
bolsa aprendizagem se houve realização de atividade produtiva, ou desde que o produto do trabalho do
adolescente possa ser vendido dentro das exigências de qualidade e competividade, numa relação custo
benefício.
Parágrafo quinto - O produto da comercialização da venda dos bens resultantes do trabalho do adolescente
somente poderá reverter para benefício da saúde, nutrição, vestuário, transporte e educação do educando ou
para aquisição de insumos para o programa de trabalho educativo.
Parágrafo sexto - A entidade assistencial em regime de trabalho educativo que transforme sua
oficina/laboratório em processo produtivo, sem o pagamento de bolsa aprendizagem ou descumpra quaisquer
dos requisitos desta lei, será equiparada ao empregador do art. 3º da CLT, devendo ser multada pelos órgãos
competentes e responsabilizada pela anotação da CTPS, fazendo jus o adolescente a todos os consectários
decorrentes, como se contrato de trabalho tivesse havido.
Parágrafo sétimo - É vedada a inserção do adolescente com menos de 18 anos, em regime de trabalho
educativo, no mercado de trabalho, ainda que assistido por entidade governamental ou não-governamental,
acaso não comprovada a possibilidade de certificação de um módulo de formação em educação profissional
de nível técnico
Artigo 71 - Fica instituída a modalidade de contrato de trabalho em regime especial de trabalho educativo, com
formação profissional, a ser devidamente registrado na Carteira de Trabalho e destinada preferencialmente a
adolescentes na faixa etária de 14(quatorze) a 18(dezoito) anos, que já tenham concluído o Primeiro Grau, a
qual tem como finalidade o atendimento de menores oriundos de família de baixa renda, com baixa
escolaridade e profissionalização; qualificar para o primeiro emprego e, complementar a formação básica e
profissional do adolescente.
I - Toda entidade que desenvolva o trabalho educativo nos moldes deste artigo deverá possuir uma Pedagoga
responsável pelo acompanhamento do adolescente, cabendo-lhe providenciar para que o módulo de formação
educacional tenha correlação com a oferta de emprego na empresa privada ou no órgão público e seja
passível de certificação a nível nacional para a formação educacional de nível técnico.
II - Caberá a Pedagoga reduzir a jornada de trabalho do adolescente, comunicando a empresa ou órgão
público, caso comprove que este está prejudicando seu rendimento escolar, e a freqüência e aproveitamento
no ensino básico regular ou supletivo.
Parágrafo primeiro - A parte teórica da formação complementar do adolescente em regime de trabalho
educativo, inseridos no mercado de trabalho, seja nas empresas privadas ou órgãos públicos, consiste no
oferecimento de um ou mais módulos de curso de formação, de nível médio, ou pós-médio, destinados a
educação profissional tal como regulada nos artigo 39 a 42 da LDB, Lei 9394/96, completando, no mínimo,
200 horas/aula para cada ano de trabalho prestado em regime de trabalho educativo, com jornada de oito
horas diárias.
I - Caso o empregador ou órgão público contratante adote para o adolescente a jornada de 4 horas, deverá
cumprir o mínimo de 100 horas/aula, para cada ano de trabalho.
II - Deverá ser cumprida uma carga horária mínima de 50 horas/aula por semestre letivo, para o adolescente
em jornada de oito horas diárias, e mínima de 25 horas/aula por semestre, para a jornada de quatro horas
diárias.
Parágrafo segundo - Somente poderá empregar em regime de trabalho educativo a empresa/órgão público
que possa anotar, no momento do registro em CTPS, qual o módulo, ou módulos de educação profissional
proporcionará no período em que pretende contratar o adolescente.
Parágrafo terceiro - Somente terá validade para o regime de trabalho educativo o módulo do curso de
educação profissional de nível técnico que já tenha sido aprovado pelas Secretarias Estaduais de Educação,
que determinarão quais as exigências para que o conhecimento adquirido na formação (carga horária,
currículo específica, nível dos docentes, objetivos, freqüência mínima e aproveitamento) possa ser avaliado,
reconhecido e certificado como competência específica de módulo de curso de ensino médio, na forma do
arts. 39 a 42 da LDB e legislação suplementar. Em qualquer hipótese o módulo a que se refere este
dispositivo deve ser passível de certificação para fins de prosseguimento ou conclusão de estudos até a
obtenção de diplomasde cursos de formação profissional com validade nacional.
Parágrafo quarto - Ao empregador privado cabe o dever de assinar a CTPS no regime de trabalho educativo,
pagando ao adolescente todos os encargos sociais e previdenciários cabíveis, proporcionais a jornada
trabalhada.
Parágrafo quinto - O salário devido ao adolescente em regime de trabalho educativo, com formação
educacional não será nunca inferior ao salário - mínimo, para a jornada de oito horas diárias e 44 horas
semanais, podendo ser reduzido, proporcionalmente para a jornada de 4 horas diárias e 24 horas semanais.
Não será devido o piso salarial da categoria, nem os vencimentos iniciais do funcionário de menor nível, no
âmbito do serviço público.
Parágrafo sexto - Todos os encargos sociais trabalhistas e previdenciários do trabalhador adolescente em
regime de trabalho educativo, são de responsabilidade do emrpegador privado. É facultado, porém, a este a
compensação dos valores despendidos a título de depósitos do FGTS e dos recolhimentos do INSS. Tal
compensação far-se-á, mediante a comprovação, perante os órgãos arrecadadores, dos depósitos nas contas
individuais, acrescida da devida comprovação das despesas tidas com o custeio dos módulos de cursos
educação profissional realizados, na forma da presente lei.
I - Compete aos órgãos arrecadadores do FGTS e da Previdência expedir a regulamentação cabível para a
realização dessa compensação.
II - A compensação será devida, mesmo que o empregador obtenha a realização do(s) módulo(s) de ensino
profissionalizante, por meio do PLANFOR, ocasião em que, a comprovação far-se-á mediante os mesmos
documentos acima, além do certificado de conclusão do módulo.
Parágrafo sétimo - Aos órgãos da administração direta, autárquica e fundacional que empreguem em regime
de trabalho educativo, caberá exigir que a instituição social faça a anotação em CTPS e mediante convênio
repasse os recursos necessários ao pagamento de todos os encargos sociais e previdenciários. Cabe, porém,
ao órgão público, fiscalizar, mediante o recebimento mensal de cópia de todos documentos respectivos, o
pagamento dos direitos do adolescente e do recolhimento dos encargos previdenciários e trabalhistas, e na
omissão, será responsabilizado solidariamente, pelos mesmos. A compensação admitida para os
empregadores privados não se estende aos órgãos públicos, porque do estado, enquanto poder público, a
responsabilidade pela educação.
Parágrafo oitavo - A jornada de trabalho do adolescente em regime de trabalho educativo será de até oito
horas diárias de segunda a sexta feiras e quatro horas aos sábados, de modo a não prejudicar, a formação no
ensino regular (1º, 2º Grau, ou supletivo). Em nenhuma hipótese poderá o empregador deduzir da
remuneração as horas/aula do período de formação educacional. Em nenhuma hipótese poderá ser exigida
qualquer prorrogação de jornada, ou suplementação de jornada.
Parágrafo nono - As hora/aula correspondentes ao(s) módulo(s) do curso de ensino de nível técnico, serão em
qualquer hipótese, desenvolvidas às expensas do empregador ou do órgão público, durante o período de
trabalho, no local indicado por este e recomendado pela entidade social.
I - Em nenhuma hipótese será admitida a freqüência em curso regular de ensino de 1º Grau, 2ºGrau ou
Supletivo, como equivalente ao(s) módulo(s) exigidos de serem oferecidos e custeados pelo empregador ou
órgão público, porque a freqüência a estes é condição para que o adolescente seja aceito no programa de
trabalho educativo, com educação profissional.
Parágrafo décimo - O adolescente gozará férias, de 30 dias ao ano, no mesmo período de férias escolares,
sendo vedada a realização da parte teórica de formação, nesse interregno. As faltas injustificadas e não
abonadas pela entidade social, serão deduzidas a razão de 1/30 avos da remuneração.
I - Terá, obrigatoriamente, direito a vale transporte e fará jus a auxílio alimentação e planos de saúde e
odontológico quando houver para os empregados do estabelecimento.
Parágrafo décimo primeiro- O adolescente que for dispensado antes de iniciado ou concluído o período de
formação anotado em sua CTPS, após ter trabalhado, no mínimo, três meses, terá o direito de fazê-lo,
gratuitamente, às expensas do empregador/órgão público, nos dois anos subseqüentes a dispensa, ou ser
indenizado pelo equivalente, sem prejuízo de outros direitos eventualmente sonegados.
Parágrafo décimo segundo - Os módulos dos cursos de educação profissional destinado ao programa de
trabalho educativo, poderão ser custeados, com recursos advindos do PLANFOR - Programa Nacional de
Formação e Desenvolvimento Profissional administrado pelas Secretarias do Trabalho com recursos do FAT,
desde que o empregador privado contribua para o FGTS e possua mais de dez empregados adultos
registrados.
Parágrafo décimo terceiro - Em nenhuma hipótese o empregador poderá registrar o contrato de trabalho
educativo em CTPS se o curso profissionalizante que promover não tiver recebido, previamente,
reconhecimento para fins de certificação, pelo órgão competente do MEC ou Secretarias de Educação, os
efeitos previstos no art. 41 da LDB, Lei 9394/96. Caberá ao órgão gestor do PLANFOR exigir a comprovação
deste requisito antes de disponibilizar os recursos respectivos.
Parágrafo décimo quarto - Cada empregador poderá manter em regime de trabalho educativo, adolescentes,
até o limite de 10% do total de empregados adultos registrados na empresa. Nenhum setor da empresa
poderá ser mantido com 50% de adolescentes, ou mais.
Parágrafo décimo quinto - O empregador, registrará como empregado, o adolescente que tiver permanecido
por mais de dois anos na empresa, ao completar 18 anos, em caso de vacância de até 10% dos cargos não
extintos.
I - Em caso de adoção do regime de trabalho educativo, com formação educacional, por órgão da
administração pública direta, autárquica e fundacional, esta, ficará obrigada, ao final do contrato, quando o
adolescente atingir 18 anos, inscrevê-lo, gratuitamente, em concurso público que for aberto dentro dos dois
anos subseqüentes, em carreira compatível, ou para a qual tenha a habilitação exigida por lei.
Parágrafo décimo sexto - A duração do programa variará conforme a idade do adolescente, extinguindo-se ao
completar 18 anos.
I - Extingue-se o contrato:
a) - quando o adolescente completar 18 anos;
b )- quando o adolescente receber mais de três advertências por escrito, com ciência a entidade gestora;
c) - faltar injustificadamente e de forma contumaz;
d)- por desempenho escolar insatisfatório, por abandono do programa ou da escola; por incompatibilidade com
a atividade desempenhada na contratante;
e) - por pedido de desligamento do adolescente, devidamente assistido por seu representante legal
f) - por descumprimento pelas partes responsáveis das obrigações constantes do programa;
g) - por descumprimento do contratante do pedido de redução da jornada de trabalho em prejuízo a formação
do educando, formulada pela Pedagoga da entidade gestora.
Parágrafo décimo sétimo - Caberá a instituição social ou entidade gestora manter em seu poder, para fins de
apresentação a fiscalização:
I - declaração de matrícula, emitida a cada semestre ou ano letivo, do curso regular (1º, 2º ou Supletivo),
frequentado pelo adolescente, contendo nome, endereço e registro da escola, grau, curso, período, horário de
aulas.
II - cópia da freqüência mensal do adolescente no curso regular de educação básica.
III - cópia da freqüência do módulo, ou módulos de formação educacional em nível técnico;
IV- certidão da Secretaria de Educação de que o módulo é passível de certificação para fins de formação
educacional em nível técnico;
V- cópia do boletim escolar ou declaração de frequência e aproveitamento.
VI - cópia mensal da frequência e do aproveitamento, no módulo de formação educacional;
VII - descrição das atribuições, setor e horário de permanência do adolescente no estabelecimento
conveniado.
VIII - cópias de todos os comprovantes de remuneraçãona forma da lei, em especial do salário, FGTS, INSS,
férias, 13º salários, e cópia da CTPS onde está anotado o contrato especial de trabalho educativo com
formação profissional e os respectivos módulos de formação.
art. 71 - O PLANFOR - Programa Nacional de Formação e Desenvolvimento Profissional destinará um
percentual, não inferior a 20% de seus recursos para financiar os programas de trabalho educativo e do menor
aprendiz de um ofício, regulamentados pela presente lei.
art. 72 - Os requisitos e condições previstos na presente lei em relação às entidades assistenciais, empresas,
autarquias, entidades educacionais serão objeto de fiscalização pela fiscalização do trabalho, da previdência e
demais órgãos competentes, que em encontrando qualquer irregularidade denunciarão os fatos aos ramos do
Ministério Público do Trabalho, inclusive para os fins a que alude o art. 95 c/c art. 90 do ECA.
art. 73 - O desvirtuamento do programa de trabalho educativo, pelo empregador, pelos agentes dos órgãos
públicos ou das entidades sociais, implicará na caracterização de contrato de trabalho sob o integral regime da
CLT. Os infratores serão responsabilizados solidariamente pelos encargos sociais previdenciários e
trabalhistas devidos ao adolescente, ou aos órgãos arrecadadores, sem prejuízo das multas e demais
sanções cabíveis.
art. 74 - Os recursos obtidos do PLANFOR e não destinados a finalidade do pagamento dos módulos de
ensino de curso profissionalizante, devidamente reconhecidos, serão devolvidos aos cofres públicos, com
juros e correção monetária.
Bibliografia:
1 - A parte I e II do presente trabalho é um resumo dos capítulos 1 e 2 da obra "OS DIREITOS
FUNDAMENTAIS’ de MANOEL GONÇALVES FERREIRA FILHO, Editora Saraiva, 1995, pg. 1 a 37.
2- ORLANDO GOMES e ELSON GOTTSCHALK, "CURSO DE DIREITO DO TRABALHO" , Editora Forense,
12ª edição, 1991, pg. 11, 32/33.
3- DÉLIO MARANHÃO e LUIZ INÁCIO B.CARVALHO, "DIREITO DO TRABALHO", Editora FGV -Fundação
Getúlio Vargas, 17ª edição,1993, pág.7, 8, 16.
4- AMAURI MASCARO NASCIMENTO, "INICIAÇÃO AO DIREITO DO TRABALHO", Editora LTR 13ª edição,
1988, pág.40/42
5 - Revistas do Ministério Público do Trabalho, Editora LTR, nºs. 14, 17;
6- Relatório "Atividades do Ministério Público do Trabalho na Erradicação do Trabalho Infantil e na
Regularização do Trabalho do Adolescente - 1998/1999".
7 - ACÁCIA KUENZER - "ENSINO DE SEGUNDO GRAU - O TRABALHO COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO",
Editora Cortez, 3ª Edição, 1997.
8- Projeto de Lei nº 469-B, de 1995, da Câmara dos Deputados que dispõe sobre o programa de trabalho
educativo e dá outras providências.
9- Declaração referente à 5ª CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE EDUCAÇÃO DE ADULTO, realizada
em julho/97, em Hamburgo, pela ONU - Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a
Cultura.- V CONFINTEA.
10- NASSIM GABRIEL MEHEDEFF "Educação e Trabalho: um projeto para jovens e adultos de baixa
escolaridade", Secretaria de Formação Profissional do Ministério do Trabalho, apresentado no Encontro
Preparatório à reunião dos países do Mercosul, em Curitiba, outubro/98, como Estratégia Regional de
Continuidade da V CONFINTEA.
11 - DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL, do MEC - Ministério
da Educação e do Desporto.
12 - DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO
- do CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO
13 - ORIS DE OLIVEIRA, TRABALHO EDUCATIVO, , LTr, 63-04/459 a 463, abril/99.
14 - LDB - LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL - LEI 9394, DE 20.12.96.
15 - DECRETO FEDERAL 2208, DE 17.04.1997, que regulamenta o §2º do art. 36 e os artigos 39 a 42 da Lei
9394/96; - PORTARIA nº 646 de 14.05.97, que regulamenta a implantação do disposto nos artigos 39 a 42 da
LDB e do Decreto 2208/97.
16 - PROEP - PROGRAMA de EXPANSÃO da EDUCAÇÃO PROFISSIONAL do MEC, Ministério da Educação
e Cultura.

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