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Código Logístico 59831 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-4650-8 9 7 8 6 5 5 8 2 1 0 0 5 4 Fundamentos de Geografia Física Lindberg Nascimento Júnior IESDE BRASIL 2021 © 2021 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Alexander Herasymchuk/Phatphum Phetchakan/Shutterstock Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ N195f Nascimento Júnior, Lindberg Fundamentos de geografia física / Lindberg Nascimento Júnior. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2021. 164 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-65-5821-005-4 1. Geografia física I. Título. 21-69246 CDD: 910.02 CDU: 911.2 Lindberg Nascimento Júnior Doutor e mestre em Geografia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Licenciado e bacharel em Geografia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Professor Adjunto do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde atua nos cursos de Geografia nos Programas de Pós-Graduação em Geografia (PPGG) e em Desastres Naturais (PPGDN). Pesquisa temas voltados para a climatologia geográfica, geografia do clima e educação geográfica das relações étnico- -raciais, com foco nos impactos da variabilidade, teleconexões climáticas, clima urbano, riscos climáticos, vulnerabilidade e cartografia histórica da África. SUMÁRIO Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! 1 Introdução à Geografia Física 9 1.1 Teoria e método em Geografia Física 10 1.2 A natureza na Geografia Física 15 1.3 Paisagem e ambiente na análise geográfica da natureza 21 1.4 A abordagem de geossistemas 23 2 O planeta Terra 31 2.1 A Terra no espaço 31 2.2 História ecológica da Terra 36 2.3 O sistema terrestre 42 2.4 Dinâmicas da natureza 45 3 A superfície terrestre 53 3.1 Fundamentos de geologia 54 3.2 Introdução à geomorfologia 65 3.3 Introdução à pedologia 71 3.4 O Antropoceno 77 4 A atmosfera e a hidrosfera da Terra 83 4.1 Introdução à climatologia 84 4.2 Fundamentos de oceanografia 91 4.3 Elementos da criosfera 95 4.4 Fundamentos de hidrografia 100 5 A biosfera terrestre 110 5.1 Fundamentos de biogeografia 111 5.2 Biomas terrestres 118 5.3 As paisagens brasileiras 124 5.4 Conservação e serviços ecossistêmicos 128 6 Mudanças globais 136 6.1 Crise ambiental 136 6.2 O futuro da humanidade e do planeta 144 6.3 Planejamento e gestão ambiental 148 6.4 Educação e consciência ambiental crítica 153 Gabarito 161 O que define os fundamentos da Geografia Física? Quais são os saberes e conhecimentos que compõem esse campo da ciência geográfica e o tornam importante para a humanidade? Quais são os princípios para um trabalho teórico e prático em Geografia Física que pode contribuir para a sociedade? Fique tranquilo! Essas questões nos ajudarão a refletir sobre os temas, problemas e conceitos abordados nesta obra. Por meio delas você terá acesso a um conjunto de saberes que o auxiliarão nas suas escolhas futuras como geógrafo. Tentamos responder a essas questões partindo sempre das relações existentes entre natureza e sociedade, admitindo-as tanto na condição de eixo epistemológico da geografia quanto como um processo histórico, gradual e inacabado. Nesse sentido, vamos mostrar que a Geografia Física apresenta teorias, conceitos e técnicas próprias para compreender essas relações; assim, não perdemos a noção de onde estamos. Associações e articulações entre a Geografia Física e a Geografia como um todo serão também bastante valorizadas. A intenção é evidenciar a particularidade da ciência geográfica e da Geografia Física no escopo e na relação com outras ciências e, ao mesmo tempo, não perder de vista a indissociabilidade entre esses campos. Assim, não perdemos a noção de onde saímos. Elaboramos esta obra partindo de uma proposta que é crítica, histórica e construtivista, na qual abordamos temas, conteúdos e problemas geográficos da atualidade por meio de uma concepção avaliativa, indicando limites de usos e propósitos. Assim, não perdemos a perspectiva de aonde queremos chegar. Para tanto, no Capítulo 1 abordamos a história e o desenvolvimento da Geografia Física. Entendemos que as relações entre natureza e sociedade são resultado de nossas visões de mundo e projetos de sociedades. Nesse contexto, a Geografia Física é um ramo do saber orientado para desvendar como são as ordens espaciais das relações entre nós, seres humanos, junto ao entorno imediato, próximo e distante. Essa estratégia APRESENTAÇÃO Vídeo serve para entender a organização das paisagens naturais, a constituição dos territórios e a produção do espaço. No Capítulo 2, apresentamos a Geografia Física no contexto do Sistema Terrestre. Nosso objetivo é discutir como as leis físicas do movimento e as forças terrestres são responsáveis em promover o equilíbrio dinâmico do planeta. No Capítulo 3, versamos sobre os processos que auxiliaram na construção da estrutura geológica, do relevo e dos solos, isto é, da superfície terrestre. Destacamos a importância das alterações antrópicas – aquelas associadas às atividades humanas que redefinem a dinâmica natural. No Capítulo 4, estudamos a dinâmica do ar e da água na distribuição do calor no planeta. Adotamos uma perspectiva voltada a explicar a integração sistêmica do mundo em sua complexidade física e em sua dimensão cotidiana, sobretudo em relação a problemas como degradação ambiental, poluição do ar, da água e gestão de recursos hídricos. No Capítulo 5, vamos conhecer os princípios biodinâmicos que regem os fluxos da vida e explicam a diversidade de paisagens em termos de fauna e flora. Abordamos os processos de adaptação biológica e seleção natural como princípios da síntese combinada dentro do Sistema Terrestre, seus padrões de distribuição e a importância de sua conservação. Por fim, no Capítulo 6, destacamos possibilidades de trabalho com problemas reais e concretos no contexto das mudanças globais. Damos ênfase ao estudo das alterações ambientais e de seus impactos, com indicação prática para a atuação profissional baseada na gestão, no planejamento e na educação ambiental. Todos os capítulos contemplam uma breve revisão histórica dos conceitos e temas abordados em articulação com a Lei n. 6.664, que rege a profissão de geógrafo, e outros aparatos legais como o Estatuto da Terra, a Política Nacional de Meio Ambiente, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB e o Estatuto da Cidade. Em síntese, nossa intenção é mostrar de onde saímos, onde estamos, para onde vamos, e, sobretudo, aonde chegar, na condição de profissionais e estudiosos de Geografia. Tudo isso pode auxiliar você a construir sua autonomia e liberdade de pensamento. Boa leitura! Introdução à Geografia Física 9 1 Introdução à Geografia Física Antes de iniciarmosnossos estudos, é importante distinguir- mos Geografia Física no escopo da ciência geográfica, e com base nesse elemento particularizar seus fundamentos dentro do saber humano historicamente construído. Partirmos do princípio de que o saber humano é mais amplo que o conhecimento científico, e por esse caráter ele abrange não somente as formas tradicionais de organizar o conhecimento, mas também de compreender como elas se combinam com os saberes mais recentes e contemporâneos, oferecendo uma maneira mais complexa de entender o desenvolvimento do processo civilizatório da humanidade. Neste capítulo, vamos conhecer uma parte dessas discussões, iniciando pela história do pensamento geográfico e destacando as teorias e os conceitos que mais ajudam na sistematização de uma Geografia Física, que deve ocorrer de modo paralelo à sua formação. O objetivo é que até o fim deste capítulo você tenha uma di- mensão abrangente da história, dos objetos e dos métodos de Geografia Física, além de apreender os conceitos de natureza, espaço, tempo, paisagem e ambiente, pois são elementares para realizar uma análise geográfica. Também vamos discutir as abordagens mais bem aceitas pela comunidade acadêmica, seja no que tange à explicação dos te- mas e questões essenciais à Geografia Física contemporânea, seja às formas de construção desse conhecimento com base no seu cotidiano. Desejamos uma ótima leitura e um bom rendimento de estu- do. Não se esqueça do seu bloco de anotações, da sua caneta, ou lápis. 10 Fundamentos de Geografia Física 1.1 Teoria e método em Geografia Física Vídeo Procure imaginar quando a geografia, e especialmente a Geografia Física, foi pensada pela primeira vez. Se você pensou: “desde a origem do ser humano! Quando nós atingimos o patamar de termos consciên- cia de nós mesmos!” A resposta está correta! Pois, mesmo que seja difí- cil marcar a data específica para a origem de um conhecimento, é mais adequado admitir que ele sempre inicia quando nós, seres humanos, percebemos a nossa habilidade de imaginar o futuro e de elaborar pro- jetos e planos. Essa qualidade é também relativa quando, pela primeira vez em nossa história, tentamos encontrar respostas para questões e dúvidas sobre nós e sobre nosso mundo. Por isso, já devemos considerar que Geografia Física é um saber com a característica de problematizar a relação da sociedade com a na- tureza pelo viés da ciência geográfica. Entretanto, o que isso significa? Quer dizer que aspectos históricos da geografia têm colocado uma di- versidade de questões, que debatem a origem, os propósitos e os mé- todos da ciência, e a Geografia Física não ficou de fora. Então, vamos começar por partes, assumindo que a Geografia Físi- ca foi inicialmente pensada considerando a sistematização elaborada pelo viajante naturalista Alexander von Humboldt (1769–1859). Imerso no contexto do romantismo alemão, Humboldt (2008) admi- tia o estudo da natureza guiado pela experiência estética, valorizando a intuição, a apreciação, a contemplação e a experimentação. Basi- camente, ele entendia a natureza como uma totalidade holística e indissociável. Adepto do empirismo e propenso a elaborar teorias uni- versais e leis gerais, Humboldt ofereceu à geografia um dos primeiros postulados para formulação dos princípios gerais de análise para toda e qualquer realidade: a Teoria Geral da Terra. Sobre esses aspectos, o pesquisador sempre partia do princípio de que o ser humano e a natureza são uma unidade. Suas análises asso- ciavam combinações das características físicas, biológicas e naturais para explicar as transformações espaçotemporais e a dinâmica das paisagens. Grande parte de suas ideias foi incorporada por Friedrich Ratzel (1844–1904), também um dos primeiros teóricos da geografia, formulador do conceito de espaço vital. Totalidade holística refere-se à noção de que o todo é maior do que a soma das partes. Tra- ta-se da perspectiva de que os sistemas naturais estão abertos à evolução e recriação sempre crescentes. Já o empirismo é uma forma de apreensão da realidade pelos sentidos, seja com base na experiência prática (valorização do que é objetivo), ou seja com base na introspecção (valorização das subjetividades). Saiba mais Breno Destacar Breno Destacar Breno Destacar Breno Destacar Breno Destacar Breno Destacar Introdução à Geografia Física 11 Além de Humboldt, Karl Ritter também construiu uma ideia de natu- reza para a geografia com esses elementos, procurando oferecer uma perspectiva de integração entre meio social e natural. Sua estratégia era voltada a alcançar a totalidade da natureza como soma das partes. Não por acaso, Ritter (1865) também observou que as manifestações humanas e os comportamentos sociais não obedecem aos padrões do meio natural. Ritter (1865) concluiu que a humanidade exerce sua influência so- bre a natureza, especialmente com o uso da técnica e das tecnologias, e que a geografia poderia desenvolver leis gerais com base na indu- ção, sobretudo, utilizando o estudo comparado das áreas e da história dos lugares. Essa perspectiva marcou significativamente a geografia francesa, em particular a desenvolvida por Paul Vidal de La Blache (1845–1918), formulador dos conceitos de região geográfica e gênero de vida. Você já deve ter percebido que a Geografia Física parece acompanhar o desenvolvimento da própria geografia, não é mesmo? E é justamente por isso que sua sistematização ainda está aberta ao debate e a diversas contribuições. Gregory (1992) explica esse processo mostrando que mu- danças nos eixos temáticos e metodológicos na Geografia Física têm sido provocadas tanto por transformações internas (no sentido das influên- cias teóricas na geografia) quanto pela inclusão de técnicas de estudo que mudaram as formas de análise e, consequentemente, as maneiras de observar, medir, representar e conhecer a realidade do mundo. Dessa perspectiva, é preciso pontuar pelo menos cinco grandes contribuições importantes que remetem ao desenvolvimento científico entre os séculos XVIII e XXI e que ofereceram implicações diretas à sis- tematização da Geografia Física. A primeira contribuição foi o Princípio do Uniformitarismo, for- mulado por James Hutton (1740–1797), que propôs críticas ao catas- trofismo como teoria explicativa do meio natural, marcando a máxima da modernidade ao afirmar que o presente é a chave para o passado. A perspectiva uniformitarista se apoia na interpretação de que a di- nâmica dos processos naturais atua de modo semelhante, ainda que com intensidades diferenciadas, ao longo da história natural da Terra (SALES, 2004). Ou seja, processos naturais são uniformes e apresen- tam padrões cíclicos e periódicos que auxiliam a descrever como eles Em seus estudos, Humboldt relacionava di- retamente as característi- cas biológicas das plantas aos fatores naturais, como topografia, clima, estrutura geológica, solos e localização. Assista ao documentário Especial Alexander von Humboldt: o alemão que mudou a imagem da América do Sul, publicado pelo canal Camarote.21, para se aprofundar sobre as contribuições do pensador. Disponível em: https://youtu.be/ aVa-8nupDgw. Acesso em: 4 fev. 2021. Vídeo Recomendamos a leitura do capítulo “Um século para uma implemen- tação 1851–1950”, da clássica obra A natureza da Geografia Física, para que você tenha um dimensionamento con- sistente da história dessa ciência e desenvolva sua autonomia e seu conhe- cimento sobre a relação entre teoria, conceitos e autores. GREGORY, K. J. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1992. Leitura https://youtu.be/aVa-8nupDgw https://youtu.be/aVa-8nupDgw Breno Destacar Breno Destacar Breno Destacar Breno Destacar Breno Destacar Breno Destacar Breno Destacar Breno Destacar Breno Destacar Breno Destacar Breno Destacar 12 Fundamentos de Geografia Física ocorrem de modo mais ou menos similar ao longo do tempo passado (por meio da observação), dopresente (por processos de monitora- mento) e do futuro (com construção de cenários e de previsão). A segunda grande descoberta foi a da Teoria da Evolução, no contexto da obra A Origem das Espécies, de Charles Robert Darwin (1809–1882). A perspectiva evolutiva inseriu na análise geográfica das relações sociedade-natureza a noção de origem, mudança e transfor- mação, somando também a ideia das inter-relações e conexões entre os seres vivos e seu entorno, além dos processos de organização e adaptação. Com a teoria da evolução, o estudo geográfico saiu de uma concep- ção fixista e estática para outra mais dinâmica, mutável e integrada, inclusive com inovações conceituais, como o meio geográfico (derivado do reconhecimento do princípio de seleção natural) e fatores regulado- res, que atuavam como forças condicionantes da formação das paisa- gens e suas variações no planeta. Diante disso, os princípios uniformitaristas e evolutivos possibilita- ram que a Geografia Física explicasse tanto a origem e a formação das paisagens no tempo quanto sua dispersão espacial em termos de está- gios evolutivos, diversidade e distribuição no planeta. A título de exemplificação, podemos citar os estudos de reconstru- ção histórica (muito articulada com a paleontologia e a arqueologia) e, com eles, a decodificação da história natural dos continentes, com base no desvendamento dos processos de nascimento e extinção de ocea- nos e mares (Teoria da Deriva Continental), a identificação da origem e a evolução dos relevos (principalmente cadeias montanhosas – orogê- nese), a compreensão da estruturação espacial de bacias hidrográficas (morfogênese), a reconstituição dos climas do passado (paleoclimato- logia), associações com grandes domínios biogeográficos (biomas e regiões biogeográficas) e processos de ocupação humana nos lugares (arqueologia, história e sociologia). Uma terceira influência para a constituição da Geografia Física foi o Colonialismo, sobretudo, devido às explorações científicas que desen- volveram uma quantidade significativa de informações do mundo com as primeiras propostas de mapeamento, classificações, tipologias dos domínios naturais em nível planetário. Esses processos fundamenta- Para mais informações sobre as contribuições de Darwin, assista ao vídeo O que é a teoria da evolução de Charles Darwin e o que inspirou suas ideias revolucionárias, publicado no canal da BBC News Brasil. Disponível em: https://youtu.be/ ambANBIHjCI. Acesso em: 4 fev. 2021. Vídeo https://youtu.be/ambANBIHjCI https://youtu.be/ambANBIHjCI Breno Destacar Introdução à Geografia Física 13 ram sobremaneira a sistematização das formações naturais em todo o planeta. Não podemos nos esquecer de que o Colonialismo, além de ofere- cer o reconhecimento do planeta como mundo, também estabeleceu a localização das riquezas como estratégia geopolítica de desenvolvi- mento e dominação, junto com o genocídio de povos originários e a escravização de africanos. Essa perspectiva mostra que todo o estudo geográfico está embutido de relações de poder, para controle ou apro- priação da natureza, do qual a Geografia Física contribuiu de modo relevante. A quarta grande contribuição foi a incorporação dos avanços da Teoria da Relatividade Geral, que se deu somente a partir do século XX, principalmente com as contribuições do físico alemão Albert Einstein (1879–1955). Nesse caso, a natureza interpretada pelas quatro dimensões do espaço-tempo (altura, profundidade, largura e tempo) proporcionou conceber, para além dos princípios da evolução, também atributos particulares de cada meio, como frequência, intensidade, magnitude, estrutura física, organização química, ordens de grandeza, graus de influência etc. Na Geografia Física isso significou oferecer uma cronologia relativa (por meio da associação com seus diferentes tipos de rochas, fósseis e sedimentos, por exemplo), a partir de idade isotópica (também cha- mada de absoluta), com base na dinâmica da Física do Decaimento 1 , somado à descoberta da Radiação de Fundo. Esses elementos oferece- ram outras referências para o estudo da origem do Universo e da Terra, fundamentado nos princípios do sensoriamento remoto e na resposta espectral dos alvos. A quinta e mais recente contribuição à sistematização da Geografia Física é a Teoria Geral dos Sistemas, que foi elaborada pelo biólogo austríaco Ludwig Von Bertalanffy (1901–1972), em conjunto com Paul Alfred Weiss (1898–1989), no ano de 1930. Nessa teoria, destaca-se que um sistema é um conjunto de unidades organizado e autorregulado, que se movimenta por um fluxo constante de matéria e energia. Suas inter-relações sugerem que o todo (o sistema maior) é mais do que o produto da soma das partes, mas um organismo complexo, que apre- senta subsistemas abertos e fechados, funcionando em interdepen- dência e indissociabilidade. isotópica: refere-se à medida de datação geológica obtida pela radiação eletromagnética emitidas por substâncias químicas e estruturas físicas que constituem as rochas e os minerais. Glossário Também chamada de Física do Decaimento Radioativo, é o processo de liberação de radiação eletromagnética pelos elementos químicos em estado de desintegração. 1 14 Fundamentos de Geografia Física Na Geografia Física, a abordagem sistêmica tem implicado a com- preensão do funcionamento e relacionamento entre elementos e unidades, entre sistemas e subsistemas, em seus graus de interdepen- dência, complexidade nas causas-efeitos e os processos de transfor- mação da matéria e da energia. Dessa forma, não podemos discordar da clássica frase de Antoine-Laurent de Lavoisier (1743–1794) sobre a Lei da Conservação de Massa: “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Os estudos aplicados contemplam questões relativas aos desastres naturais, às áreas degradadas, à restauração ecológica e ambiental, ao clima urbano, à saúde ambiental etc. A abordagem foi bem desenvolvida por Antonio Christofoletti (1979) e Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro (1995). Ambos explicaram que a dinâmica dos sistemas naturais ao longo do tempo tende a ser cada vez mais complexa, já que a ação humana interage de modo signi- ficativo na superfície terrestre e no planeta como um todo. Christofoletti (1979) discutia a teoria geral dos sistemas atribuindo o conceito de geossistemas, referindo-se à organização espacial re- sultante da interação dos elementos e componentes físicos da natu- reza funcionando por meio dos fluxos de matéria e energia em sua expressão espacial. Já Monteiro (1995) utilizou a abordagem sistêmica para determinar uma categoria complexa, na qual interagem elementos humanos, físi- cos, químicos e biológicos, sendo que sistemas socioeconômicos esta- riam incluídos no funcionamento do próprio sistema. Nesse sentido, a particularidade da Geografia Física dentro da ciên- cia geográfica (no conjunto das ciências humanas) é que ela deve ser vista considerando um processo de relação metabólica, no qual ser humano e natureza intercambiam matéria e energia, em que não se separam as contribuições dos intelectuais e estudiosos da Geografia Humana (MOREIRA, 1985). Além disso, ela também se situa no diálogo com a Cartografia, bem como com as Ciências Naturais e Exatas, em especial Física, Geologia, Hidrologia, Química e Biologia. Um esquema dessa relação é apresentado na Figura 1. A Radiação de Fundo foi designada a um tipo de energia eletromagnética detectada em transmissões de rádio pelos astrofísicos Arno Penzias e Robert Wilson. Naquele momento era um ruído extremamente tênue, mas muito persistente em todas as direções do céu. Outros quatro físicos norte-americanos, Robert Dicke, James Peebles, Peter Roll e David Wilkinson, ao tentar medir a mesma radiação, estimaram que por ser muito longa é muito antiga, originada em uma época em que as partículas de luz (fótons) passaram a viajar livremente, sem interagir com a matéria. Nessecaso, a temperatura da Radiação de Fundo é muito próxima do zero absoluto em graus Kelvin (cerca de 2,725 K, ou -270 ºC), e inicialmente a re- cebemos como ruído, ou melhor, como um eco da Big Bang – a grande explosão que originou o nosso Universo. Importante Há muitos exemplos de sistema. Nosso corpo é um sistema e dentro dele existem vários outros: cardio- vascular, respiratório, nervoso etc. Cada um apresenta uma dinâmica e uma função específica e só pode ser completamente interpretado em conexão com outros sistemas (menos e mais simples) e o corpo. Nós também fazemos parte de outros sistema maior, a Terra. Conhecer e compreender as leis que organizam esse sistema é uma medida que oferece saber dinâmica, seu estágio de evolução e suas formas de transformação. Saiba mais Introdução à Geografia Física 15 Figura 1 Posicionamento do campo da Geografia Física em relação a outros campos do saber Geografia Geografia Humana Cartografia Geografia Física Pedologia Biogeografia Climatologia Meteorologia Ecologia Biologia Química Hidrologia Física Geologia Geografia Ambiental Geomorfologia Fonte: Elaborada pelo autor. Hidrografia Diante do exposto, o que sintetiza o caráter da teoria e do método na Geografia Física é o encontro dos processos que fundam a ordem espacial das relações natureza-sociedade. No entanto, antes de discu- tirmos esse aspecto, é necessário apreendermos sobre qual natureza a Geografia Física se refere. Vamos lá! 1.2 A natureza na Geografia Física Vídeo Vamos iniciar esse aprendizado considerando que foi entre os sécu- los XVI e XVIII que o conceito de natureza foi pela primeira vez de fato elaborado. A palavra sugeria a ideia de nascimento com indicação de futuro a surgir, a se gerar, seria a força que gera. Nessa perspectiva, é importante pensar a natureza como aquela característica que oferece a qualidade mais essencial, como algo que é dado, inato, isto é, uma característica que se define por si só, porque foi dotada desde a con- cepção e a origem. 16 Fundamentos de Geografia Física Podemos começar esse debate partindo dos primeiros saberes ela- borados pelos seres humanos sobre a natureza, inicialmente definida pelas temporalidades e espacialidades sob uma condição absoluta, eterna e manifestada. Em síntese, uma natureza sobrenatural, uma supernatureza orientada por concepções mitológicas, que não pode ser pensada em termos de origem e fim; trata-se de uma natureza sa- grada, porque é criada por deuses ou entidades divinas soberanas e superiores. Essas concepções podem ser associadas às relações natureza-so- ciedade das primeiras civilizações e atualmente podem ser atribuídas também como uma parte dos modos de vida de povos originários e tradicionais, bem como de nossas religiões, folclores, dizeres popula- res, produções cinematográficas, desenhos animados e de discursos políticos e midiáticos. Estes últimos são mais relevantes em ocorrência de grandes calamidades, desastres e catástrofes. Você consegue relacionar as concepções sobrenaturais de natureza na sua vida, consi- derando a cultura da sua família, comunidade, cidade ou região? Na maioria das vezes, elas são operadas em uma explicação da natureza como uma entidade superior ou um resultado da vontade divina, ou seja, com intencionalidades e propósitos. Entender e identificar essas manifestações na atualidade é uma das nossas responsabilidades como geógrafos ou como professores de Geografia. Primeiro porque conseguimos partir des- ses saberes para valorizar o que é importante na diversidade cultural de povos, nações, suas tradições, folclores, costumes e cosmovisões. Ao mesmo tempo, construir críticas para propor mudanças para que nenhum acidente, projetos de sociedade, preconceito, discriminação e privação de direitos possam ser admitidos como uma determinação causal natural, impossível de ser transformada. Uma segunda concepção de natureza advém dos postulados da Antiguidade grega, fundamentados nos conhecimentos egípcios, desig- nando ao mundo sua totalidade em suas dimensões material, espiri- tual, artística e imaginada. Foi inicialmente pensada por pré-socráticos, com base na physis (relativo à fisiologia). A noção foi reformulada pelo filósofo Aristóteles, que integrou o modelo geostático (Terra imóvel, esférica e depositada no lugar mais baixo do cosmo) e em torno dele quatro estratos esféricos de terra, água, ar e fogo, relacionados e intercalados pela tendência de estágios úmidos, secos, quentes e frios. A Lua, o Sol, o céu de estrelas e outros O livro O que é natureza é uma obra imprescindível para os geógrafos. Para a discussão que estamos fazendo neste capítulo, recomendamos em espe- cial a leitura do primeiro capítulo “Natural, sobre- natural e artificial”, já que essas três perspectivas de natureza podem ser apropriadas ao estudo geográfico. CARVALHO, M. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 2003. (Coleção Primeiros Passos; 243). Livro Introdução à Geografia Física 17 astros eram fixos e realizavam movimentos circulares, compondo com outras 55 esferas sólidas e constituídas pela quinta essência – o éter –, que por ser desconhecida era substancialmente diferente dos elemen- tos essenciais (CARVALHO, 2003). Figura 2 Os cinco elementos de Aristóteles Fonte: Elaborada pelo autor. Fogo Água Ar TerraÉter Éter ÉterÉter Éter Éter Éter Éter ÉterÉter Éter Éter Éter Frio Quente Úmido Seco Além dos cinco elementos, Aristóteles também ofereceu processos de classificação com base nesses atributos, indicando os fundamen- tos das ciclicidades. Nesse caso, ele afirmou que elementos animados (seres vivos) gerariam sempre seus semelhantes – os cachorros sem- pre gerariam cachorros, assim como as plantas gerariam plantas. Do contrário, o ser inanimado tenderia sempre a voltar a um estágio de repouso, segundo os movimentos do processo. A água tende a se con- servar líquida, as nuvens tendem a se condensar, a chuva a cair e o rio a correr para o mar. Trata-se do princípio de movimento de transfor- mação constante e eterna. A ideia aristotélica de natureza sugeria que todos os objetos têm seu devido lugar e em todos os lugares a natureza acontece como um organismo vivo, obedecendo a um objetivo interno, imutável e eter- no, inerente à sua forma (CARVALHO, 2003). Essa concepção perdurou por todo o período do Império Romano e da Idade Média (cerca de 1.400 anos), mas com alterações e adaptações realizadas pela Igreja 18 Fundamentos de Geografia Física Católica, que manteve a ideia de natureza orgânica e criada por deuses (CARVALHO, 2003). Com o advento da modernidade e os avanços da física newtoniana, a natureza foi pensada pela perspectiva mecanicista, dada pelo mo- vimento dos corpos, em uma visão antropocêntrica e essencialmente naturalista (SUERTEGARAY, 2003). Na geografia ela é designada em seus sentidos orgânico e inorgâ- nico (cursos d´água, fauna, flora, minerais e atmosfera), uma natu- reza-máquina, uma natureza em si, na qual o ser humano não se faz presente, ou quando se faz é vítima ou agressor. Pela definição, a natu- reza oferece a possibilidade de entender e identificar o funcionamento, as dinâmicas, as relações, os agentes e os processos que constroem os movimentos naturais. Foi essa concepção de natureza que reduziu tudo o que é natural em recurso, em mercadoria. Além disso, também legitimou o discurso do determinismo ambiental, das lógicas colonialistas e da subordina- ção dos povos pela ideia de uma distinção social que atribuía a desi- gualdade como processo natural, sendo o racismo um dos melhores exemplos. A visão naturalista separa o ser humano da natureza, coloca-o como observador, dominador, sem laços de pertencimento e isento de res- ponsabilidades, associando, portanto, uma visão de natureza (uma essência em si) que deve ser subordinada e dominada. Não por acaso, essa perspectiva legitimou a ideia causal da organização das socieda- des, dos povos e dos grupossociais e seu desenvolvimento. A partir do século XX, quando os níveis de produção de saberes e conhecimentos geográficos acerca dos lugares na superfície da Terra já permitiam uma sistematização sumária da totalidade do mundo, o avanço técnico-científico proporcionou pela primeira vez na história que a Terra fosse vista do lado de fora. A natureza pode ser pensada com base em suas conexões e articu- lações, cujas características são absolutamente mutáveis, complexas e muito sensíveis a qualquer alteração imposta no âmbito interno e externo. De um mundo todo conectado, esse avanço incorporou tam- bém a concepção de natureza como sistema, organizado com base na interação do sistema terrestre integrado ao Sistema Solar e às forças cósmicas universais. Uma dica para que você possa entender a natureza como uma máquina e um sistema é assistir ao filme O dia depois de amanhã (The day after tomorrow). Ana- lise a previsibilidade dos fenômenos, no que tange à acurácia e aos efeitos associados, à visão global da Terra e sua articulação com os fenômenos de ordem política e econô- mica. Coloque também esse conhecimento como uma parte do avanço técnico-científico que serve para medir (quase) precisamente os impac- tos, os danos, as perdas (econômicas e de vida) e as formas de adaptação. Direção: Roland Emmerich. EUA: 20th Century Fox, 2004. Filme Introdução à Geografia Física 19 Trata-se de um sistema porque apresenta possibilidades de alte- rações das trocas de matéria e energia em função das dinâmicas dos processos internos e externos. Nessa concepção, a natureza não pode ser caracterizada somente pela relação mecânica e fragmentada, mas principalmente pelo conjunto de fluxos (locais e remotos), que resul- tam da atuação de um equilíbrio dinâmico. Na lógica, todos os processos da Terra são naturais, inclusive os an- trópicos 2 , já que eles podem ser explicados pelas forças terrestres e se realizam pelo equilíbrio dinâmico do sistema em sua totalidade. Na Geografia Física, esse conceito auxilia muito os processos de gestão e planejamento ambiental, sobretudo para estudos de potencial econô- mico-ecológicos, de degradação ambiental e de mudanças climáticas. Contudo, a questão que se impõe é que, dado o avanço técnico-científico, a velocidade de transformação dos sistemas naturais e o modelo de desenvolvimento, fica muito difícil separar o que é natu- ral do que é ação antrópica. Dessa impossibilidade, temos trabalhado com o conceito de uma natureza socialmente apropriada, que é pro- duto da relação entre os seres humanos. Uma natureza híbrida, que é complexa e produto de uma construção social, visto que não é pura em nenhum dos sentidos; trata-se de uma natureza que construímos e hoje precisamos lidar com ela. Natureza híbrida: construção social Teoricamente, Latour (1997) chama de hibridização o conjunto de práticas que cria a proliferação de híbridos. Remete à mistura de processos que não apresentam distinção entre natureza e cultura, não humano e humano; que contradiz o engessamento ela- borado pela modernidade; e se dá pela contínua construção de problemas e situações interpretados com base em uma frágil concepção de que apresentam essência e apa- rência fragmentadas. É um paradoxo entender o mundo híbrido por categorias clássi- cas, eminentemente dicotômicas. Entretanto, como qualquer paradoxo, a organização do conhecimento em categorias separadas revela uma crise rica e cara à humanidade e o que está em xeque na discussão é a purificação que sugere a suposta neutralidade da racionalidade e o poder ideológico do conhecimento científico. Isso significa que toda sociedade cria, inventa e institui determi- nada ideia do que é natural, ou seja, sua relação com o mundo orgâ- nico e inorgânico e com os homens entre si; em outras palavras, suas concepções de natureza (PORTO-GONÇALVES, 1989). Atualmente, a Derivado de antropização, ou seja, todas as alterações provocadas ou desenvolvidas por meio de atividades humanas, sociais e produtivas das carac- terísticas originais dos sistemas naturais são enquadradas como mudanças ambientais, já que toda ação antrópica deve garantir ou não sua estabilidade ecológica e, por isso, não é homogênea nem negativa sempre. De outro modo, diversos são os níveis de antropização dos sistemas naturais que podem ser observados considerando quanto do funcionamento original e dinâmico do sistema natural sofre modificações. Como exemplos temos a remoção (desmatamento) ou recomposição (reflorestamento) de domínios vegetacionais, degradação ambiental, poluição atmosférica, restauração ecológi- ca, canalização e retilinização de cursos d´água, construção de cidades e constituição de áreas de produção agrícola. 2 20 Fundamentos de Geografia Física natureza não pode ser mais concebida exclusivamente como algo exterior aos seres humanos ou independente, como entidade divina, organismo vivo, máquina, sistema ou construção social. Cabe a nós, geógrafos, interpretá-la tendo em vista como a sociedade a pratica espacialmente em todas as suas concepções. O Quadro 1 resume um pouco desse processo. Quadro 1 Abordagens geográficas da natureza Abordagem Concepção Origem Meios de observação Formas de explicação Exemplo Mitológica Sobrenatural (sem espaço- -tempo) Primeiras civili- zações Presságios e pelo conhecimento religioso Divindades e mitos Cosmogonias; Trovão (Tupã, Thor e Zeus) Sistematizada Natural (physis) Grécia Antiga Integrada e com- binada a tudo que existe Ciclos, elementos e átomos Terra, fogo, ar, água e éter Racionalizada Natural (mecânica; sistê- mica) Iluminismo; Modernidade Gênese e funcionamento; instrumentaliza- ção e medição Teorias, concei- tos e leis gerais; fragmentada; articulada Sistema terres- tre; grandes esferas; recurso natural Construção social Híbrida (comple- xa e ideológica) Relações sociais e de poder; cultura Apropriada aos modos de produção como (estrutura e ideologia) Transformação do valor de uso em valor de tro- ca; dominação e subordinação Mercadoria; naturalização das relações sociais; racismo; desastres Fonte: Elaborado pelo autor. Como vimos, precisamos considerar que há múltiplas concep- ções de natureza que podem ser interpretadas pela geografia e que todas elas foram elaboradas tendo em vista os interesses dos agentes hegemônicos de cada sociedade, que, ao escolher seus parâmetros culturais e cosmovisões, definiram também elementos de naturalização e normalização das relações sociais de produção. No entanto, como podemos operacionalizar esses conceitos dentro da Geografia Física? Em nossa história, essa espacialidade é identificada com base nos estudos dos sistemas naturais, que podem ser realizados por pelo menos duas abordagens, assumin- do os conceitos de paisagem e de ambiente como categorias de análise. Introdução à Geografia Física 21 1.3 Paisagem e ambiente na análise geográfica da naturezaVídeo O que vem à sua mente quando você pensa em paisagem? Se de início você pensou em um lugar bonito ou remeteu a algo que seja visto, já comece a considerar também que, além da visão, a operacionalização da paisagem envolve todos os sentidos, como tato, olfato, paladar, audição, bem como subjetividades, emo- ções e sensações. Você deve ter atribuído à ideia de paisagem não só um visual esteticamente apreciado, mas também imagi- nou que os cheiros, os sons, os gostos, as sensações e os seus sentimentos formaram uma imagem mental perfeita, inclusive com pessoas e coisas que você aprecia, não é mesmo? A categoria paisagem permite exatamente isso, ou seja, discutir tanto as bases de fundamentação do conhecimento geográfico (partindo dos sentidos e das percepções) quanto a complexidade para abordagem integrada e dialética 3 entre na- tureza e sociedade (daquilo que podemos imaginar como um futuro bom para nós). A paisagem é o resultado imediato da intencionalida- de humana na superfícieterrestre, sendo que ela oferece a combinação de processos pretéritos, responsáveis pela com- partimentação regional da superfície, e dos processos atuais, que correspondem à dinâmica contemporânea dos sistemas naturais. O interesse desse fundamento é produzir uma imagem sintética, em que cultura e natureza formariam um conjunto integrado, articulado e espacialmente diferenciado na superfí- cie do planeta (GOMES, 1996), servindo basicamente para com- preender a síntese lógica entre os fenômenos físicos e sociais, suas combinações e interações, definindo tanto a diferencia- ção, a constituição da diversidade natural quanto a produção do espaço (MENDOZA; JIMÉNEZ; CANTERO, 1988). Santos (2008) conceitua paisagem como o conjunto de for- mas que exprimem heranças, as quais representam as su- Método científico fundamentado na concepção de que a realidade é um processo, crescente e inacabado, movimentado pelas contradições das relações entre aparência (aquilo que é visto, dito, sentido e percebido) e essência (relativo ao que é pen- sado, racionalizado e operado concretamente). 3 22 Fundamentos de Geografia Física cessivas relações entre o homem e a natureza. O autor esclarece que paisagem não é espaço geográfico. A primeira é a materialização de um instante da sociedade (SUERTEGARAY, 2001) e a realidade de homens fixos, uma realidade parada, como em uma fotografia. Por outro lado, o espaço resulta do casamento da sociedade com a paisagem. O espaço contém o movimento. Por isso, paisagem e espaço são um par dialético. Complementam-se e se opõem. Um esforço analítico impõe que os separemos como categorias diferentes, se não queremos correr o risco de não reconhecer o movimento da sociedade. (SANTOS, 2008, p. 74) Em nosso país, a contribuição mais expressiva aos estudos sobre as paisagens naturais foi elaborada por Ab’Saber (1969), que promoveu uma renovação metodológica e instrumental nas pesquisas geomorfo- lógicas desenvolvidas no território nacional, aprofundou o conceito de fisiologia da paisagem, compreendendo-a como o resultado de uma rela- ção entre os processos passados e os atuais, e estudou principalmente a Teoria dos Refúgios Florestais (VITTE, 2007). A Teoria dos Refúgios Florestais é o conjunto de ideias ligadas aos mecanismos de evolução das paisagens neotropicais da América do Sul e sugere interpretações sobre a biodiversidade das paisagens, assim como as extinções ocorridas ao término do Pleistoceno 4 (SILVA; PAS- SOS, 2009). Em resumo, a teoria parte das repercussões associadas às flutua- ções paleoclimáticas da passagem de um período seco e frio (glaciais), para outro mais quente e úmido (interglaciais), diferenciação significa- tiva na distribuição biogeográfica de animais e plantas, devido aos pro- cessos de expansão e retração das áreas de ocorrência e domínio, além de modificações no relevo, nos solos e na disponibilidade hídrica (AB’SABER, 1992). Entretanto, no decorrer da história da geografia, considerou-se a paisagem como o resultado da inter-relação entre a esfera da natureza e da cultura, mediadas pelo trabalho (VITTE, 2007). Nesses termos, o conceito mais bem relacionado hoje é o de ambiente, ligado à ideia de natureza híbrida, já que ele é definido como um conjunto de intera- ções e relações entre seres vivos, coisas e objetos, naturais e artificiais, transformando-os e transformando-se (MENDONÇA, 2008). Todavia, o ambiente não é natureza nem paisagem, trata-se, na ver- dade, de um conceito cunhado após a década de 1960 por intelectuais Época do período Quaternário, da era Cenozoica e do éon Fanerozoico. Essa época precede o Holoceno (momento da origem dos seres humanos), sendo compreendida entre 2,5 milhões a 11,7 mil anos antes do presente (AP), e contempla eventos das glaciações (eras do gelo), marcando o domínio e a extinção de grandes mamíferos, como os mamutes, tigre dentes de sabre, mastodontes etc. 4 Introdução à Geografia Física 23 de movimentos sociais ambientalistas (MONTEIRO, 2003). Em termos gerais, ele serve para problematizar o processo de exploração dos re- cursos naturais e humanos, como alternativas de organizar um modelo de desenvolvimento com base principalmente na conscientização am- biental, na preservação da biodiversidade, na gestão racionalizada dos recursos e na qualidade de vida (PORTO-GONÇALVES, 1989). Por esse caráter, assume-se também o termo socioambiental para dar ênfase à perspectiva de conjunto integrado e articulado com dinâmica natural e processos sociais (MENDONÇA, 2002). O estudo da Geografia Física na perspectiva ambiental ou socioam- biental incorpora assim problemáticas desenvolvidas tendo em vista as lógicas econômicas, os processos educativos e os modelos de desen- volvimento, sendo orientadas principalmente por aparatos legais e normatizações da gestão territorial e da justiça ambiental. Por isso, no desenvolvimento desse estudo, ganham muito sentido as ações de ges- tão, planejamento territorial e educação ambiental. Podemos observar que as duas possibilidades de análise geográfica da natureza apresentam enfoques mais naturalistas dos sistemas natu- rais (por meio da paisagem), ou da natureza em si, e outra que atende à natureza como produto dos processos de apropriação social (quando articulada às questões ambientais), ou seja, da natureza para si. Isso significa afirmar que ambas podem ser combinadas e entendidas em grande parte considerando a abordagem geossistêmica. 1.4 A abordagem de geossistemas Vídeo Antes de começarmos a discutir a importância da abordagem geossistêmica para a Geografia Física, é importante destacarmos que os estudos relacionados aos fluxos de matéria e energia da nature- za, bem como sua conservação e dissipação, transformação e altera- ção, não têm sido bem respondidos pelo viés mecânico, que tende a fragmentar a natureza. Nesse viés, as análises dos fluxos de matéria e energia se torna- ram um dos objetos estudados pela Ecologia, considerando as bases conceituais da vida e os princípios do movimento mecânico, sobretudo das leis da termodinâmica. Assim, por meio do conceito de ecossiste- ma, proposto em 1935 pelo ecologista britânico Arthur George Tansley 24 Fundamentos de Geografia Física (1871-1955), a ecologia se tornou uma disciplina integradora, apesar de sua base estar centrada na ciência biológica (NEVES et al., 2014). O ecossistema se refere à “unidade funcional básica na ecologia, pois inclui tanto os organismos quanto o ambiente abiótico” (ODUM, 1988, p. 9). Nesse âmbito, consideramos ecossistema ou sistema ecoló- gico qualquer unidade (biossistema) que abranja todos os organismos que funcionam em conjunto (a comunidade biótica) em uma dada área e interajam com o ambiente físico de tal forma que os fluxos de matéria e energia produzam estruturas bióticas definidas em um ciclo integra- do, resultado da convergência entre a biocenose (parte viva e orgânica do sistema) e o biótopo – parte mineral – (NEVES et al., 2014). Figura 3 Representação esquemática de um ecossistema Fonte: Elaborada pelo autor. Fontes de energia Nutrientes Produtores Água Ar Terra Energia solar Herbívoros Decompositores Carnívoros Detritos Fluxo de energia e matéria Os estudos ecossistêmicos privilegiam uma análise restrita à biolo- gia, buscando conhecer e descrever padrões, dinâmica e evolução dos ecossistemas, servindo de modelo para avaliar comparativamente sis- temas degradados ou alterados. Eles permitem conhecer os processos que compõem a biodiversidade e compatibilizar os processos produti- vos com a conservação da massa, uma vez que se conheça a estrutura e a fisiologia da paisagem (NEVES et al., 2014). A questão é que os estudos geográficos não têm como base exclu- sivamente a dinâmica biológica dos sistemas ecológicos. Desse pro- Introdução à Geografia Física 25 blema, o geógrafo soviético Victor Sotchava (1905–1978), no início da década de 1960, cunhou o termo geossistema, com a preocupaçãode estabelecer uma metodologia de estudo sistêmico da natureza tendo em vista a geografia. Os geossistemas, para Sotchava (1978), incluem todos os elementos da paisagem como um modelo global, territorial e dinâmico, aplicável a qualquer paisagem concreta. Trata-se de identificar o potencial ecológi- co de determinado espaço no qual há uma exploração biológica, poden- do influir fatores sociais e econômicos na estrutura e expressão espacial. Para Sotchava (1978), o geossistema é manifestado em qualquer dimensão espacial na superfície terrestre, desde as fácies físico-geo- gráficas, que representam a menor unidade em uma divisão natural do terreno, até o que representa o planeta como um todo. Para fazer sua análise, ele propôs três conceitos. A associação dos conceitos pode ser assumida com base na articulação de três escalas de geossistemas, cada uma apresentando uma dinâmica particular, mas que interage no sentido das circulações interdependentes e subordinadas de matéria e energia. As flechas indicadas na figura representam diferentes fluxos que podem ocorrer em um geossistema, Figura 4 Interações e escalas do geossistema Fonte: Elaborada pelo autor. Regional Regional Re gi on al Regional Topológico Topológico To po ló gi co Envelope físico-geográfico Envelope físico-geográfico Fluxo de energia e m atéria Fluxo de energia e matéria fácies: os caracteres de forma e configuração que distinguem um grupo; aspecto geral. Glossário 26 Fundamentos de Geografia Física Nesse sentido, o nível planetário que representa o envelope físico- -geográfico é caracterizado pelo componente zonal que se manifesta com a zonalidade climática, definindo os fatores bioclimáticos terrestres conforme a latitude. O nível regional é caracterizado pelos níveis inter- mediários, nos quais os componentes zonais começam a interagir com os subzonais – altitude, relevo e grandes domínios de paisagem, como biorregiões e ecorregiões. O nível topológico (local) é representado pela escala de maior detalhe, em que os componentes se manifestam no princípio de unidades, com interferências de processos geomorfológi- cos, pedológicos, microclimáticos 5 etc. Para além da hierarquia da estrutura, o geógrafo George Bertrand (1972) procurou estabelecer a funcionalidade do geossistema conside- rando a combinação entre o Potencial Ecológico (clima, hidrologia, geo- morfologia), a Exploração Biológica (vegetação, solo, fauna) e a Ação Antrópica – Figura 5 – (NEVES et al., 2014). Para ele, o geossistema é um todo dialético, com uma multiplicidade de relações e de contradições que se inter-relacionam, atendendo à importância da dinâmica com- plexa entre o social com os processos naturais (BERTRAND, 1972). Nesse sentido, seres humanos, relevo, solo, clima, recursos hídricos, fauna e flora, ou qualquer outro componente, poderão ser conside- rados na análise geossistêmica. Como o modelo não oferece limites máximos de ação de cada elemento, uma vez que nenhum deles se de- senvolve de maneira isolada, é importante considerar em seu interior sua função em termos de processos intrínsecos e extrínsecos. Figura 5 Modelo funcional dos geossistemas Fonte: Adaptada de Bertrand, 1972. Relevo – Clima – Recursos hídricos Exploração biológica Solo – Fauna – Flora Potencial ecológico Geossistema Ação antrópica Produção – Apropriação – Conflitos Relativo a relevo (geomorfo- lógicos), solos (pedológicos) e climas muito específicos (microclima). 5 Introdução à Geografia Física 27 Por isso, a grande vantagem da abordagem dos geossistemas é per- mitir investigar diferentes aspectos da natureza (estrutura, dinâmica e evolução) sob uma base unificada em termos de perspectiva e tra- tamento propositivo, mas também de conflitualidade e a convergên- cia de múltiplos interesses (BERTRAND, 1972). Nesse sentido, a análise pode ser realizada com base nos processos de gestão e planejamento ambiental e territorial. Grande parte desse trabalho atende por levantamentos sistemáti- cos utilizando muita linguagem cartográfica com o uso de geotecnolo- gias, focando pesquisas ecológicas de longa duração (com ênfase no monitoramento e na proteção de unidades de conservação, por exem- plo), estudos de reconstrução paleoambiental na avaliação dos impac- tos das atividades humanas (industriais, infraestruturais e produtivas), nas formas de recuperação de áreas degradadas, bem como na pre- venção e nos diagnósticos de riscos e desastres. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo deste capítulo, valorizamos a construção do conhecimento, da teoria e do método na Geografia Física com base na história de alguns conceitos, categorias e estudiosos do pensamento geográfico. Destaca- mos também sua importância e correspondência atual, sobretudo, para estabelecer o caráter crítico e propositivo do profissional de geografia. Enfatizamos que a Geografia Física é um saber organizado dentro da geografia, e como tal está preocupada com as práticas associadas às re- lações entre natureza e sociedade na produção do espaço. O reconheci- mento das opções teóricas e dos métodos na história é fundamental para estabelecer consistência e coerência prática no mundo atual. Por ser uma ciência social, os temas de trabalho na Geografia Física atendem à integração da dinâmica natural com os processos sociais como construções sociais; por isso, são passíveis de transformações com base em projetos de sociedade e analisados segundo a paisagem e o ambiente. Nesse aspecto, as transformações das paisagens ambientais devem ser orientadas para o aumento da qualidade ambiental e de vida como estratégias para fomentar a participação social no espaço público e no mercado de trabalho. A Geografia Física tem muito a contribuir nesse sen- 28 Fundamentos de Geografia Física tido, tanto na compreensão das diferentes concepções de natureza (que envolvem muitos conflitos e injustiças) quanto nas suas inter-relações, nos horizontes do século XXI. Por isso, lembre-se de que na Geografia Física, paisagem não é am- biente; ambiente não é natural; e geossistema não é natureza. Natureza é uma construção social, um conceito ideológico e cultural, que só pode ser explicado na relação com a sociedade ou por meio de suas transforma- ções na história do conhecimento e da humanidade. Ambiente é um referencial conceitual, que requer mudanças nas re- lações natureza-sociedade no mundo atual, sobretudo nas sociedades capitalistas e ocidentais. O foco é sobremodo valorizado no debate da qualidade de vida e dos modelos de desenvolvimento. Portanto, o termo socioambiental dá ênfase à necessidade de diálogo e integração dos siste- mas naturais, humanos e produtivos. Paisagem é a concepção de natureza natural na geografia, sendo ex- plicada atualmente com base na abordagem dos geossistemas, visto que envolve troca de matéria e energia, e pode ser desenvolvida com o uso de geotecnologias, mapeamento etc. A presença do ser humano (fator antró- pico e ser social), considerando os geossistemas, oferece a possibilidade de transformação social via gestão e planejamento territorial e ambiental. ATIVIDADES Vamos articular conceitos e aplicar nossos conhecimentos? Para as atividades a seguir, você deverá tirar duas fotos de lugares diferentes. Pode ser qualquer lugar, como sítio, cidade, bairro, rua, casa, mas preferencialmente que sejam duas. Caso não tenha máquina fotográfica ou celular com câmera, pegue duas folhas de papel e tente desenhar esses lugares, ou busque em sites, revistas, livros etc. 1. Descreva a paisagem. Para isso, você pode escrever com suas palavras o que está vendo, ouvindo e sentindo. Tente identificar elementos humanos e não humanos. Selecione da cena aquilo que você julgue interessante: pessoas, árvores, estradas, ruas, plantações, automóveis, roupas, equipamentos eletrônicos, rios, pássaros, cheiros, sons e sensações. Fique à vontade para descrever de acordo com seu estilo, e não se limite aos elementos citados. Explorea cena e use sua criatividade. 2. Agora, observe a forma como essa paisagem está organizada. Se atente aos traçados, às cores, aos materiais dos edifícios, às formas das ruas, às distâncias entre os objetos e sua dispersão, aos pontos de conexão e às áreas abertas. Introdução à Geografia Física 29 3. Em seguida, analise a função, a integração e a movimentação dessa cena, tendo em vista as relações entre elementos que você destacou, a história do lugar e quais concepções de natureza podem ser explicitadas com base nela. Destaque elementos explícitos e implícitos dos objetos e dos aspectos culturais e sociais. 4. Perceba em todos os elementos que você destacou os detalhes, os níveis de alteração da paisagem e, ao mesmo tempo, como você e as pessoas se relacionam, vivem ou praticam esse lugar. Para isso, imagine uma linha temporal que mostre uma parte da sua história e da história dessa paisagem. 5. Agora, imagine esse mesmo lugar no futuro. Imagine você nesse futuro, ou pelo menos projete em sua mente uma possibilidade de rever essa cena de outro modo ou em outro contexto. Nesse momento, você já deve entender como a transformação da paisagem resulta em espaço geográfico, e somos nós quem dotamos de sentido e de projeto o nosso lugar no mundo. 6. Enfim, a sua paisagem tem uma história? Conte-a para nós. REFERÊNCIAS AB’SABER, A. N. Um Conceito de Geomorfologia a serviço das pesquisas sobre o Quaternário. Geomorfologia, n. 18, 1969. AB’SABER, A. N. A teoria dos refúgios: origem e significado. Revista do Instituto Florestal, Edição especial, São Paulo, 1992. BERTRAND, G. 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Sendo assim, enfatizamos que a sua atenção é necessária para que, até o final do capítulo, você possa dominar os princípios físico-natu- rais que regem o sistema terrestre e possa perceber que ele está muito mais para superfície, como foi propalado pela Geografia Física clássica. O que estamos querendo dizer é que aqui você compreen- derá o contexto do planeta Terra no Universo, sua gênese, seus movimentos, bem como sua formação e evolução, por meio da história natural, e entenderá quais dinâmicas da natureza e quais forças terrestres são responsáveis pelo estágio atual do planeta, que oferece todas as condições de manutenção da vida enquanto um grande sistema e projeto de nossa sociedade. Mas vamos por partes, não é mesmo? Desejamos uma ótima leitura e um bom rendimento de estu- dos; para isso, faça suas anotações. 2.1 A Terra no espaço Vídeo Como a Terra está no Universo? Essa, de fato, é umas das perguntas mais intrigantes da humanidade e, sem dúvidas, ela é essencial tam- bém para estabelecer as explicações quanto à origem do nosso mun- do. Vamos iniciar esse debate pela noção de que, ao longo da história, os seres humanos refletiram sobre esse aspecto e por isso construíram muitas teorias para a origem do mundo, de sua natureza, do Universo como um todo e da cultura. Grande parte das histórias fantásticas criadas pelas sociedades fo- ram passadas de geração em geração e definiram o que hoje chama- mos de cosmogonia, que é o conjunto de saberes destinados a explicar 32 Fundamentos de Geografia Física o surgimento do Universo. Em geral,atribui-se a divindades a explica- ção de um Universo criado, relativo à concepção de natureza sobrena- tural, que é absoluta, eterna, porque não pode ser parametrizada por dimensões temporais ou espaciais. É importante associar esse primeiro tipo de conhecimento àquele presente na Geografia Física, uma vez que nele a criação do Universo oferecia diretamente a introdução de conceitos como a magia e a pos- sibilidade de influência do ser humano na dinâmica natural (o papel dos sacerdotes tem importância particular para isso). Além disso, as mitologias oferecem o caráter da diversidade cultural em termos de normas, conduta, ética, moral, convívio, costumes, folclores e modo de vida. Na cosmogonia atribuída ao povo tupi-guarani, a noção de criação da natureza é vol- tada para os deuses e guardiões, sendo Guaraci o deus do sol e Jaci a deusa da lua. Estes são os dois deuses com maior destaque na teoria da criação do Universo. Existem outros deuses relacionados à musica, à guerra, à chuva etc. A grande maioria dessas crenças foram obtidas pela observação e por meio de uma astronomia própria. Por meio dela, eram definidos o tempo de colheita, a duração das marés, o período de caça, pesca, agricultura, o tempo das chuvas, as fases da lua e as estações do ano. Com essas observações, histórias, lendas com ensinamentos morais e mitos foram criados. Com isso surgem também as lendas e os mitos relacionados à criação do universo, do homem e da mulher e da noite, por exemplo. Não é à toa que esse conhecimento pode ser relacionado à diversidade cultural e religiosa dos povos. De outro modo, a sistematização desse saber culminou no conhe- cimento organizado na Antiguidade greco-romana, principalmente na ideia de Cosmologia, que foi ancorada nas noções egípcia e mesopotâ- mica de astrologia, articulada com outros saberes como filosofia, ma- temática e artes (MAKLER; VILLELA NETO, 2009). O sentido é que os povos da Antiguidade apresentam mitologias e cosmogonias próprias, pautando-se na organização e na observação dos astros e dos ritmos naturais para oferecer uma noção aprimorada do Universo. Nesse pro- cesso, cada sociedade constrói suas próprias concepções de natureza e de mundo. Esses conhecimentos, então, baseiam-se nas constatações possibi- litadas por instrumentos de observação do céu (como o astrolábio e o telescópio) e de medição da superfície da Terra. Eles foram, inicial- mente, suficientes para identificar grande parte dos planetas, das es- Para aprofundar seus conhecimentos, leia o ar- tigo “Cosmologia: a busca pela origem, evolução e estrutura do universo”, publicado na revista Um olhar para o futuro: desafios da física para o século. Os autores Makler e Villela Neto, com uma linguagem simples e ima- gens interessantes, trazem mais elementos sobre os conhecimentos cosmoló- gicos. Durante a leitura, fique atento à história, ao objeto e ao método da Cosmologia. Disponível em: http://www. cbpf.br/~desafios/media/livro/ Cosmologia.pdf. Acesso em: 26 jan. 2021. Artigo Cosmologia: é o subcampo científico da Astronomia dentro da Física. É orientada pelos estudos sobre origem, estrutura, formação e evolução do Universo. Glossário O planeta Terra 33 trelas e dos astros – que são conhecidos até hoje, com outros nomes e sob outros saberes. Além disso, é a partir desse momento que surge a construção de calendários associados à agricultura e às práticas de di- ferentes povos. Por exemplo, calendário zodiacal, chinês, asteca, lunar ou juliano. O astrolábio foi um dos primeiros instrumentos navais cria- dos pelos árabes do mundo antigo. Ele era essencialmente usado para fazer medições, como precisar o número de ho- ras, definir as estações do ano e estimar a altura bem como a profundidade da superfície e dos astros se baseando no horizonte. O telescópio, conhecido inicialmente como luneta, amplia a capacidade de visão humana. Primeiramente, foi usado para fins militares. Seu uso científico foi designado por Galileu Galilei no século XVII. Andr ew Dun n/W iki me di a Co m m on s Jacopo Kousha n; M aso ud Sa far niy a/ W iki m ed ia C om m on s Os povos árabes também auxiliaram nessa organização. A busca por explicações lógicas ajudou a ordenar um conjunto de nomes apropria- dos para grande parte das estrelas e constelações. Esse conhecimento ajudou a humanidade na criação das principais formas de estabeleci- mento de um processo global para navegação, sobretudo por meio da orientação e da distribuição das estrelas (MAKLER; VILLELA NETO, 2009). Outras sociedades, como polinésias (distribuídas no Oceano Pacífi- co) e ameríndias (situadas ao longo das Américas) também se guiavam pelas constelações; elas não necessariamente utilizavam-nas para fins náuticos, mas como um meio de conhecer áreas continentais. Povos como os Guaranis, os Kaingangs e os Tembés – de raízes Tupi – são exemplos, aqui no Brasil, de comunidades que utilizavam as constela- ções como parâmetro de orientação. Desse conhecimento foi desenvolvida, durante a Idade Média (de 800 a 1450 d.C.), a ideia de Universo Geocêntrico. Associado ao modelo de Ptolomeu, trata-se de um pensamento eclesiástico adotado pela religião cristã para admitir a Terra como centro do Universo (WUENSCHE, 2017). Mais tarde, no século XV, a sistematização da Cosmologia foi inicia- da quando o filósofo e astrônomo germânico Nicolau de Cusa (1401– A noção de ano só foi possível devido ao advento da agricul- tura. Inicialmente, os povos observaram o ciclo das estações e, então, organizaram datas comemorativas e de suas ativi- dades durante o período anual. No Brasil, temos o calendário Kaingang, que, na representação de suas atividades anuais, define uma organização sazonal circular. Ela tem como base os momentos de solstícios. Tem também a indicação da estação chuvosa Ara Pyaú, quando são concentradas as celebrações da colheita, e da estação seca Ara Ymã, período valorizado para plantio e cuidado da terra. Você pode fazer as mesmas relações do calendário Kaingang com o calendário civil, que define o período mais quente do ano para usufruto de férias. Essa organização fomenta, inclusive, o turismo de veraneio nos litorais de todo mundo. Curiosidade 34 Fundamentos de Geografia Física 1464) sugeriu que a Terra não era o centro do Universo e, na verdade, ela girava em torno de seu eixo; as estrelas seriam sóis situados a dis- tâncias diferentes em um espaço infinito (WUENSCHE, 2017). Foi somente com o Renascimento, entre os séculos XV e XVII – um período de grandes transformações culturais, como as grandes nave- gações, o colonialismo e a construção da ciência ocidental – que a Cos- mologia tomou, de fato, o centro do debate (WUENSCHE, 2017). Esse momento foi marcado pela proposta de sistema heliocêntrico para o Universo, de Nicolau Copérnico (1473–1543), e pela visão de Uni- verso de Giordano Bruno (1548–1600), seguido, então, pela utilização do telescópio por Galileu Galilei (1564–1642), a descoberta das leis que levam o nome do astrônomo Johannes Kepler (1571–1630) e o conceito de Sistema Solar. Esses três marcos históricos levaram Isaac Newton (1643–1727), no século XVIII, a elaborar uma separação racionalista da astrologia, por meio dos conhecimentos matemáticos e físicos, e atribuir o caráter científico ao campo chamado Astronomia. Newton ofereceu a noção de um Universo infinito, estático e que pode ser interpretado em dimensões espaciais (comprimento, altura e largura) e temporais (segundos, minutos, horas, dias etc.) separada- mente. A lógica do modelo é cartesiana e reduz-se na Lei da Gravidade; esta compreendida como a principal força que estabelece a massa e a velocidade de todos os corpos e de toda a matéria, determinando a posição dos astros e do planeta Terra no Sistema Solar. Um Sistema Solar sugere o conjunto de corpos celestes com uma estrela central (a maior componente do sistema) e todos os outros corpos sob seu domí-nio gravitacional. No nosso caso, a estrela central é o Sol, que corresponde a mais de 99,85% da massa total do sistema. Ele gera sua energia principalmente por meio da fusão de hidrogê- nio em hélio e foi o principal responsável pela primeira gran- de diferenciação geoquímica dos planetas do Sistema Solar. Contribuiu para a vaporização dos materiais cósmicos e para a formação de planetas rocho- sos, situados mais no interior do sistema (como Mercúrio, Vênus, Terra e Marte), e dos planetas gasosos, compostos de voláteis, como hidrogênio, hélio, amonía- co e metano, que condensaram à baixa temperatura (como Júpiter, Saturno, Urano e Netuno). Saiba mais Figura 1 O Sistema Solar e os movimentos astronômicos D1 m in /S hu tte rs to ck SISTEMA SOLAR Netuno Saturno Marte Vênus Sol Mercúrio Terra Júpiter Urano Cinturão de Asteroides O planeta Terra 35 Nesse aspecto, o Sistema Solar é um todo que se movimenta fun- damentalmente pela ação gravitacional. Isso promove distinções na quantidade de energia (luz solar) que os planetas recebem e resulta nos processos de rotação, no qual os planetas giram em torno do seu próprio eixo gerando a variação dos dias e das noites, e o de transla- ção, quando o giro se dá em torno do Sol, possibilitando as estações do ano – a sazonalidade. Esse processo pode ser observado em todos os planetas do sistema, mas exemplificamos com a Terra, conforme a Figura 2. Figura 2 Movimentos astronômicos do planeta Terra no Sistema Solar (Hemisfério Sul) De si gn ua /S hu tte rs to ck Equinócio de outono (23 de março) Solstício de inverno (21 de junho) Solstício de verão (21 de dezembro) Equinócio de primavera (23 de setembro) Outono Inverno Verão Dia Dia Primavera Noite Noite N S Você já deve ter percebido que todo o conhecimento que temos do Universo é bastante antigo, mas a noção de Sistema Solar, ao contrá- rio, é bem recente. Apesar dos avanços, as leis da física newtoniana não eram suficientes para explicar as novas descobertas que a ciência incorporava de astros, galáxias, além da importância geopolítica que a precedia. A corrida espacial e a viagem à Lua, por exemplo, tornavam- -se projetos em construção e foram fundamentais para estabelecer ou- tros marcos sobre a origem do Universo. O interessante de tudo isso é que, enquanto ciência, a Cosmolo- gia foi institucionalizada somente a partir do século XX, principalmente por causa dos avanços obtidos com a Teoria da Relatividade. Por meio dessa teoria, conseguimos distinguir a Radiação de Fundo e estimar a condição atual da Terra em sua trajetória espaço-temporal, como po- demos observar na Figura 3. https://www.shutterstock.com/pt/g/designua 36 Fundamentos de Geografia Física Figura 3 Linha temporal da origem do Universo e do início do espaço-tempo De si gn ua /S hu tte rs to ck Big Bang 0 380 mil anos 300 milhões de anos Era das trevas Primeiro aparecimento de estrelas 1 bilhão de anos Hoje Tempo Surgimento das primeiras galáxias Formação do Sistema Solar (9 bilhões de anos) Galáxias modernas Pelas teorias científicas, portanto, podemos passar da ideia de um Universo Criado para a noção de um Universo Originado. Em outras palavras, podemos atribuir uma idade à Terra, indicando um processo lógico sobre sua gênese e formação por meio dos fenômenos que observamos diariamente. É uma ideia que atribui à natureza sua naturalidade, ou seja, uma condição dotada de espa- ço e de tempo e, por isso, não podemos esquecer que só consegui- mos explicar esses mecanismos com os avanços técnico-científicos e o conhecimento. Mas, então, o planeta Terra tem, de fato, uma idade? Nós tería- mos assim uma data de nascimento em comum? Digamos que sim. Para responder a essa pergunta, vamos discutir um pouco mais sobre história natural, a história ecológica da Terra. https://www.shutterstock.com/pt/g/designua O planeta Terra 37 2.2 História ecológica da Terra Vídeo Como dito anteriormente, se formos atribuir ao planeta Terra um início, uma gênese, um princípio, consequente- mente estaremos indicando a idade do Universo e da natu- reza natural. É importante lembrar que ao nos referimos à natureza natural estamos considerando exclusivamente os processos possíveis de explicação pelas leis do movimen- to, no escopo da física (mecânica) e da biologia (evolução). Nesse caso, as respostas para essas indagações são adquiridas pela observação dos constituintes do próprio planeta, com o uso de instrumentos tecnológicos pró- prios, que possibilitam oferecer uma cronologia relativa (por meio de associação com seus diferentes tipos: ro- chas, fósseis, seres vivos, por exemplo) como uma idade isotópica (também chamada absoluta), com base na dinâ- mica da Física do Decaimento 1 , por meio da radiação ele- tromagnética. Vamos inciar esse debate assumindo esta última possibilidade, relembrando a relevância de medir o tempo-espaço em anos-luz. Leia o artigo “O Tempo Geológico”, de Manzig, publicado na revista Geomá- tica. Nele, você deve encontrar mais detalhes sobre a escala geológica e principalmente sobre os fundamentos das teorias e dos métodos da ciência geológica. Acesso em: 26 jan. 2021. http://www.geoturismobrasil.com/REVISTA%20ARTIGOS/o%20tempo%20geol%C3%B3gico%20-%20Manzig.pdf Artigo Trata-se da Radiação de Fundo, a qual comprova que o Universo tem limites, mas não é estático e que, ao mesmo tempo, expande-se, ao passo que sua temperatura tam- bém diminui. Por esse aspecto, e com a tecnologia de que dispomos, estima-se que os limites do Universo estejam há 13,9 bilhões de anos-luz da Terra. A Via Láctea, por exem- plo, tem aproximadamente 8 bilhões de anos do limite má- ximo do Universo. Nosso Sistema Solar, e junto com ele a Terra, tem cerca de 4,6 bilhões anos. Também chamada Física do Decaimento Radioativo, é o processo de liberação de radiação eletromagnética pelos elementos químicos em estado de desintegração. 1 Para saber sobre em qual momento do ciclo estelar está o Sol, assista ao vídeo Como funciona o Universo - Estrelas, produzido pelo Discovery Channel e publicado pelo canal Amolyoko. Disponível em: http://youtu.be/ agrJHUe9aHA. Acesso em: 26 jan. 2021. Vídeo http://www.geoturismobrasil.com/REVISTA%20ARTIGOS/o%20tempo%20geol%C3%B3gico%20-%20Manzig.pdf 38 Fundamentos de Geografia Física Mas o que há de interessante em tudo isso? O importante é compreendermos que, no nascimento de uma estrela, o gás hélio é produzido pela queima de hidrogênio e pela combustão do hidrogênio e do lítio. Dessa forma, outros elementos são originados, inclusive quando elas morrem. Essa descoberta deu suporte central à interpretação de que a origem dos gases elementares também ocorreu nos primeiros momentos do Universo, em um fenômeno muito semelhante ao que acontece com uma estrela. Figura 4 Ciclo de vida de uma estrela sc ie nc ep ic s/ Sh ut te rs to ck Nebulosa molecular gigante Estrela pequena Gigante vermelha Nebulosa planetária Anã branca Estrela gigante Supergigante vermelha Supernova Estrela de nêutrons Buraco negro Imagem fora de escala, meramente ilustrativa. Para construir essa ideia, é bom lembrar da importância de se observar as estrelas, o que os nossos antepassa- dos já faziam, mas com outros saberes. Nesse sentido, desde os tempos antigos as estrelas são observadas, e com o avanço técnico-científico podemos também perceber seu ciclo de vida. Assim, as observações indicam que as estrelas nascem de nebulosas, que são compostas basicamente de hidrogênio e hélio, os elementos mais comuns no Universo. Quanto maior a concentração desses gases, maior será a força gravitacional para iniciar sua contração e seu aquecimento. A temperatura do ponto da nebulosa deve ativar a fusão nuclear, que inicialmente usa o hidrogênio como fonte de combustível. Esse processo libera muita energia e, desse modo, uma estrela nasce. Quanto mais ela concentrar combustível
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