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Livro - Fundamentos de Geografia Física

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Código Logístico
59831
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-4650-8
9 7 8 6 5 5 8 2 1 0 0 5 4
Fundamentos de 
Geografia Física 
Lindberg Nascimento Júnior
IESDE BRASIL
2021
© 2021 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do 
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. 
Imagem da capa: Alexander Herasymchuk/Phatphum Phetchakan/Shutterstock
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
N195f
Nascimento Júnior, Lindberg
Fundamentos de geografia física / Lindberg Nascimento Júnior. - 1. 
ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2021. 
164 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5821-005-4
1. Geografia física I. Título.
21-69246 CDD: 910.02
CDU: 911.2
Lindberg Nascimento 
Júnior
Doutor e mestre em Geografia pela Universidade 
Estadual Paulista (Unesp). Licenciado e bacharel em 
Geografia pela Universidade Estadual de Londrina 
(UEL). Professor Adjunto do Departamento de 
Geociências da Universidade Federal de Santa Catarina 
(UFSC), onde atua nos cursos de Geografia nos 
Programas de Pós-Graduação em Geografia (PPGG) 
e em Desastres Naturais (PPGDN). Pesquisa temas 
voltados para a climatologia geográfica, geografia 
do clima e educação geográfica das relações étnico-
-raciais, com foco nos impactos da variabilidade, 
teleconexões climáticas, clima urbano, riscos climáticos, 
vulnerabilidade e cartografia histórica da África.
SUMÁRIO
Agora é possível acessar os vídeos do livro por 
meio de QR codes (códigos de barras) presentes 
no início de cada seção de capítulo.
Acesse os vídeos automaticamente, direcionando 
a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet 
para o QR code.
Em alguns dispositivos é necessário ter instalado 
um leitor de QR code, que pode ser adquirido 
gratuitamente em lojas de aplicativos.
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SUMÁRIO
Agora é possível acessar os vídeos do livro por 
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1 Introdução à Geografia Física 9
1.1 Teoria e método em Geografia Física 10
1.2 A natureza na Geografia Física 15
1.3 Paisagem e ambiente na análise geográfica da natureza 21
1.4 A abordagem de geossistemas 23
2 O planeta Terra 31
2.1 A Terra no espaço 31
2.2 História ecológica da Terra 36
2.3 O sistema terrestre 42
2.4 Dinâmicas da natureza 45
3 A superfície terrestre 53
3.1 Fundamentos de geologia 54
3.2 Introdução à geomorfologia 65
3.3 Introdução à pedologia 71
3.4 O Antropoceno 77
4 A atmosfera e a hidrosfera da Terra 83
4.1 Introdução à climatologia 84
4.2 Fundamentos de oceanografia 91
4.3 Elementos da criosfera 95
4.4 Fundamentos de hidrografia 100
5 A biosfera terrestre 110
5.1 Fundamentos de biogeografia 111
5.2 Biomas terrestres 118
5.3 As paisagens brasileiras 124
5.4 Conservação e serviços ecossistêmicos 128
6 Mudanças globais 136
6.1 Crise ambiental 136
6.2 O futuro da humanidade e do planeta 144
6.3 Planejamento e gestão ambiental 148
6.4 Educação e consciência ambiental crítica 153
 Gabarito 161
O que define os fundamentos da Geografia Física? Quais 
são os saberes e conhecimentos que compõem esse campo da 
ciência geográfica e o tornam importante para a humanidade? 
Quais são os princípios para um trabalho teórico e prático em 
Geografia Física que pode contribuir para a sociedade? 
Fique tranquilo! Essas questões nos ajudarão a refletir sobre 
os temas, problemas e conceitos abordados nesta obra. Por meio 
delas você terá acesso a um conjunto de saberes que o auxiliarão 
nas suas escolhas futuras como geógrafo.
Tentamos responder a essas questões partindo sempre das 
relações existentes entre natureza e sociedade, admitindo-as 
tanto na condição de eixo epistemológico da geografia quanto 
como um processo histórico, gradual e inacabado. Nesse sentido, 
vamos mostrar que a Geografia Física apresenta teorias, conceitos 
e técnicas próprias para compreender essas relações; assim, não 
perdemos a noção de onde estamos.
Associações e articulações entre a Geografia Física e a 
Geografia como um todo serão também bastante valorizadas. A 
intenção é evidenciar a particularidade da ciência geográfica e da 
Geografia Física no escopo e na relação com outras ciências e, 
ao mesmo tempo, não perder de vista a indissociabilidade entre 
esses campos. Assim, não perdemos a noção de onde saímos.
Elaboramos esta obra partindo de uma proposta que é crítica, 
histórica e construtivista, na qual abordamos temas, conteúdos e 
problemas geográficos da atualidade por meio de uma concepção 
avaliativa, indicando limites de usos e propósitos. Assim, não 
perdemos a perspectiva de aonde queremos chegar.
Para tanto, no Capítulo 1 abordamos a história e o 
desenvolvimento da Geografia Física. Entendemos que as relações 
entre natureza e sociedade são resultado de nossas visões de 
mundo e projetos de sociedades. Nesse contexto, a Geografia 
Física é um ramo do saber orientado para desvendar como são 
as ordens espaciais das relações entre nós, seres humanos, 
junto ao entorno imediato, próximo e distante. Essa estratégia 
APRESENTAÇÃO
Vídeo
serve para entender a organização das paisagens naturais, a constituição dos 
territórios e a produção do espaço.
No Capítulo 2, apresentamos a Geografia Física no contexto do Sistema 
Terrestre. Nosso objetivo é discutir como as leis físicas do movimento e as 
forças terrestres são responsáveis em promover o equilíbrio dinâmico do 
planeta.
No Capítulo 3, versamos sobre os processos que auxiliaram na construção 
da estrutura geológica, do relevo e dos solos, isto é, da superfície terrestre. 
Destacamos a importância das alterações antrópicas – aquelas associadas às 
atividades humanas que redefinem a dinâmica natural.
No Capítulo 4, estudamos a dinâmica do ar e da água na distribuição do 
calor no planeta. Adotamos uma perspectiva voltada a explicar a integração 
sistêmica do mundo em sua complexidade física e em sua dimensão cotidiana, 
sobretudo em relação a problemas como degradação ambiental, poluição do 
ar, da água e gestão de recursos hídricos.
No Capítulo 5, vamos conhecer os princípios biodinâmicos que regem os 
fluxos da vida e explicam a diversidade de paisagens em termos de fauna e 
flora. Abordamos os processos de adaptação biológica e seleção natural como 
princípios da síntese combinada dentro do Sistema Terrestre, seus padrões 
de distribuição e a importância de sua conservação.
Por fim, no Capítulo 6, destacamos possibilidades de trabalho com 
problemas reais e concretos no contexto das mudanças globais. Damos 
ênfase ao estudo das alterações ambientais e de seus impactos, com indicação 
prática para a atuação profissional baseada na gestão, no planejamento e na 
educação ambiental.
Todos os capítulos contemplam uma breve revisão histórica dos conceitos 
e temas abordados em articulação com a Lei n. 6.664, que rege a profissão 
de geógrafo, e outros aparatos legais como o Estatuto da Terra, a Política 
Nacional de Meio Ambiente, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 
– LDB e o Estatuto da Cidade. 
Em síntese, nossa intenção é mostrar de onde saímos, onde estamos, 
para onde vamos, e, sobretudo, aonde chegar, na condição de 
profissionais e estudiosos de Geografia. Tudo isso pode auxiliar você a 
construir sua autonomia e liberdade de pensamento. 
Boa leitura!
Introdução à Geografia Física 9
1
Introdução à Geografia Física
Antes de iniciarmosnossos estudos, é importante distinguir-
mos Geografia Física no escopo da ciência geográfica, e com base 
nesse elemento particularizar seus fundamentos dentro do saber 
humano historicamente construído.
Partirmos do princípio de que o saber humano é mais amplo 
que o conhecimento científico, e por esse caráter ele abrange não 
somente as formas tradicionais de organizar o conhecimento, mas 
também de compreender como elas se combinam com os saberes 
mais recentes e contemporâneos, oferecendo uma maneira mais 
complexa de entender o desenvolvimento do processo civilizatório 
da humanidade.
Neste capítulo, vamos conhecer uma parte dessas discussões, 
iniciando pela história do pensamento geográfico e destacando 
as teorias e os conceitos que mais ajudam na sistematização de 
uma Geografia Física, que deve ocorrer de modo paralelo à sua 
formação.
O objetivo é que até o fim deste capítulo você tenha uma di-
mensão abrangente da história, dos objetos e dos métodos de 
Geografia Física, além de apreender os conceitos de natureza, 
espaço, tempo, paisagem e ambiente, pois são elementares para 
realizar uma análise geográfica.
Também vamos discutir as abordagens mais bem aceitas pela 
comunidade acadêmica, seja no que tange à explicação dos te-
mas e questões essenciais à Geografia Física contemporânea, seja 
às formas de construção desse conhecimento com base no seu 
cotidiano.
Desejamos uma ótima leitura e um bom rendimento de estu-
do. Não se esqueça do seu bloco de anotações, da sua caneta, 
ou lápis.
10 Fundamentos de Geografia Física
1.1 Teoria e método em Geografia Física
Vídeo Procure imaginar quando a geografia, e especialmente a Geografia 
Física, foi pensada pela primeira vez. Se você pensou: “desde a origem 
do ser humano! Quando nós atingimos o patamar de termos consciên-
cia de nós mesmos!” A resposta está correta! Pois, mesmo que seja difí-
cil marcar a data específica para a origem de um conhecimento, é mais 
adequado admitir que ele sempre inicia quando nós, seres humanos, 
percebemos a nossa habilidade de imaginar o futuro e de elaborar pro-
jetos e planos. Essa qualidade é também relativa quando, pela primeira 
vez em nossa história, tentamos encontrar respostas para questões e 
dúvidas sobre nós e sobre nosso mundo.
Por isso, já devemos considerar que Geografia Física é um saber 
com a característica de problematizar a relação da sociedade com a na-
tureza pelo viés da ciência geográfica. Entretanto, o que isso significa? 
Quer dizer que aspectos históricos da geografia têm colocado uma di-
versidade de questões, que debatem a origem, os propósitos e os mé-
todos da ciência, e a Geografia Física não ficou de fora.
Então, vamos começar por partes, assumindo que a Geografia Físi-
ca foi inicialmente pensada considerando a sistematização elaborada 
pelo viajante naturalista Alexander von Humboldt (1769–1859).
Imerso no contexto do romantismo alemão, Humboldt (2008) admi-
tia o estudo da natureza guiado pela experiência estética, valorizando 
a intuição, a apreciação, a contemplação e a experimentação. Basi-
camente, ele entendia a natureza como uma totalidade holística e 
indissociável. Adepto do empirismo e propenso a elaborar teorias uni-
versais e leis gerais, Humboldt ofereceu à geografia um dos primeiros 
postulados para formulação dos princípios gerais de análise para toda 
e qualquer realidade: a Teoria Geral da Terra.
Sobre esses aspectos, o pesquisador sempre partia do princípio de 
que o ser humano e a natureza são uma unidade. Suas análises asso-
ciavam combinações das características físicas, biológicas e naturais 
para explicar as transformações espaçotemporais e a dinâmica das 
paisagens. Grande parte de suas ideias foi incorporada por Friedrich 
Ratzel (1844–1904), também um dos primeiros teóricos da geografia, 
formulador do conceito de espaço vital.
Totalidade holística refere-se 
à noção de que o todo é maior 
do que a soma das partes. Tra-
ta-se da perspectiva de que os 
sistemas naturais estão abertos 
à evolução e recriação sempre 
crescentes. Já o empirismo 
é uma forma de apreensão 
da realidade pelos sentidos, 
seja com base na experiência 
prática (valorização do que é 
objetivo), ou seja com base na 
introspecção (valorização das 
subjetividades).
Saiba mais
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Introdução à Geografia Física 11
Além de Humboldt, Karl Ritter também construiu uma ideia de natu-
reza para a geografia com esses elementos, procurando oferecer uma 
perspectiva de integração entre meio social e natural. Sua estratégia 
era voltada a alcançar a totalidade da natureza como soma das partes. 
Não por acaso, Ritter (1865) também observou que as manifestações 
humanas e os comportamentos sociais não obedecem aos padrões do 
meio natural.
Ritter (1865) concluiu que a humanidade exerce sua influência so-
bre a natureza, especialmente com o uso da técnica e das tecnologias, 
e que a geografia poderia desenvolver leis gerais com base na indu-
ção, sobretudo, utilizando o estudo comparado das áreas e da história 
dos lugares. Essa perspectiva marcou significativamente a geografia 
francesa, em particular a desenvolvida por Paul Vidal de La Blache 
(1845–1918), formulador dos conceitos de região geográfica e gênero 
de vida.
Você já deve ter percebido que a Geografia Física parece acompanhar 
o desenvolvimento da própria geografia, não é mesmo? E é justamente 
por isso que sua sistematização ainda está aberta ao debate e a diversas 
contribuições. Gregory (1992) explica esse processo mostrando que mu-
danças nos eixos temáticos e metodológicos na Geografia Física têm sido 
provocadas tanto por transformações internas (no sentido das influên-
cias teóricas na geografia) quanto pela inclusão de técnicas de estudo 
que mudaram as formas de análise e, consequentemente, as maneiras 
de observar, medir, representar e conhecer a realidade do mundo.
Dessa perspectiva, é preciso pontuar pelo menos cinco grandes 
contribuições importantes que remetem ao desenvolvimento científico 
entre os séculos XVIII e XXI e que ofereceram implicações diretas à sis-
tematização da Geografia Física.
A primeira contribuição foi o Princípio do Uniformitarismo, for-
mulado por James Hutton (1740–1797), que propôs críticas ao catas-
trofismo como teoria explicativa do meio natural, marcando a máxima 
da modernidade ao afirmar que o presente é a chave para o passado.
A perspectiva uniformitarista se apoia na interpretação de que a di-
nâmica dos processos naturais atua de modo semelhante, ainda que 
com intensidades diferenciadas, ao longo da história natural da Terra 
(SALES, 2004). Ou seja, processos naturais são uniformes e apresen-
tam padrões cíclicos e periódicos que auxiliam a descrever como eles 
Em seus estudos, 
Humboldt relacionava di-
retamente as característi-
cas biológicas das plantas 
aos fatores naturais, 
como topografia, clima, 
estrutura geológica, solos 
e localização.
Assista ao documentário 
Especial Alexander von 
Humboldt: o alemão que 
mudou a imagem da 
América do Sul, publicado 
pelo canal Camarote.21, 
para se aprofundar sobre 
as contribuições do 
pensador.
Disponível em: https://youtu.be/
aVa-8nupDgw. Acesso em: 4 fev. 
2021.
Vídeo
Recomendamos a leitura 
do capítulo “Um século 
para uma implemen-
tação 1851–1950”, da 
clássica obra A natureza 
da Geografia Física, para 
que você tenha um 
dimensionamento con-
sistente da história dessa 
ciência e desenvolva sua 
autonomia e seu conhe-
cimento sobre a relação 
entre teoria, conceitos e 
autores.
GREGORY, K. J. Rio de Janeiro: 
Bertrand Brasil, 1992.
Leitura
https://youtu.be/aVa-8nupDgw
https://youtu.be/aVa-8nupDgw
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12 Fundamentos de Geografia Física
ocorrem de modo mais ou menos similar ao longo do tempo passado 
(por meio da observação), dopresente (por processos de monitora-
mento) e do futuro (com construção de cenários e de previsão).
A segunda grande descoberta foi a da Teoria da Evolução, no 
contexto da obra A Origem das Espécies, de Charles Robert Darwin 
(1809–1882). A perspectiva evolutiva inseriu na análise geográfica das 
relações sociedade-natureza a noção de origem, mudança e transfor-
mação, somando também a ideia das inter-relações e conexões entre 
os seres vivos e seu entorno, além dos processos de organização e 
adaptação.
Com a teoria da evolução, o estudo geográfico saiu de uma concep-
ção fixista e estática para outra mais dinâmica, mutável e integrada, 
inclusive com inovações conceituais, como o meio geográfico (derivado 
do reconhecimento do princípio de seleção natural) e fatores regulado-
res, que atuavam como forças condicionantes da formação das paisa-
gens e suas variações no planeta.
Diante disso, os princípios uniformitaristas e evolutivos possibilita-
ram que a Geografia Física explicasse tanto a origem e a formação das 
paisagens no tempo quanto sua dispersão espacial em termos de está-
gios evolutivos, diversidade e distribuição no planeta.
A título de exemplificação, podemos citar os estudos de reconstru-
ção histórica (muito articulada com a paleontologia e a arqueologia) e, 
com eles, a decodificação da história natural dos continentes, com base 
no desvendamento dos processos de nascimento e extinção de ocea-
nos e mares (Teoria da Deriva Continental), a identificação da origem e 
a evolução dos relevos (principalmente cadeias montanhosas – orogê-
nese), a compreensão da estruturação espacial de bacias hidrográficas 
(morfogênese), a reconstituição dos climas do passado (paleoclimato-
logia), associações com grandes domínios biogeográficos (biomas e 
regiões biogeográficas) e processos de ocupação humana nos lugares 
(arqueologia, história e sociologia).
Uma terceira influência para a constituição da Geografia Física foi o 
Colonialismo, sobretudo, devido às explorações científicas que desen-
volveram uma quantidade significativa de informações do mundo com 
as primeiras propostas de mapeamento, classificações, tipologias dos 
domínios naturais em nível planetário. Esses processos fundamenta-
Para mais informações 
sobre as contribuições de 
Darwin, assista ao vídeo O 
que é a teoria da evolução 
de Charles Darwin e o 
que inspirou suas ideias 
revolucionárias, publicado 
no canal da BBC News 
Brasil.
Disponível em: https://youtu.be/
ambANBIHjCI. Acesso em: 4 fev. 
2021.
Vídeo
https://youtu.be/ambANBIHjCI
https://youtu.be/ambANBIHjCI
Breno
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Introdução à Geografia Física 13
ram sobremaneira a sistematização das formações naturais em todo 
o planeta.
Não podemos nos esquecer de que o Colonialismo, além de ofere-
cer o reconhecimento do planeta como mundo, também estabeleceu 
a localização das riquezas como estratégia geopolítica de desenvolvi-
mento e dominação, junto com o genocídio de povos originários e a 
escravização de africanos. Essa perspectiva mostra que todo o estudo 
geográfico está embutido de relações de poder, para controle ou apro-
priação da natureza, do qual a Geografia Física contribuiu de modo 
relevante.
A quarta grande contribuição foi a incorporação dos avanços 
da Teoria da Relatividade Geral, que se deu somente a partir do 
século XX, principalmente com as contribuições do físico alemão Albert 
Einstein (1879–1955). Nesse caso, a natureza interpretada pelas quatro 
dimensões do espaço-tempo (altura, profundidade, largura e tempo) 
proporcionou conceber, para além dos princípios da evolução, também 
atributos particulares de cada meio, como frequência, intensidade, 
magnitude, estrutura física, organização química, ordens de grandeza, 
graus de influência etc.
Na Geografia Física isso significou oferecer uma cronologia relativa 
(por meio da associação com seus diferentes tipos de rochas, fósseis e 
sedimentos, por exemplo), a partir de idade isotópica (também cha-
mada de absoluta), com base na dinâmica da Física do Decaimento 1 , 
somado à descoberta da Radiação de Fundo. Esses elementos oferece-
ram outras referências para o estudo da origem do Universo e da Terra, 
fundamentado nos princípios do sensoriamento remoto e na resposta 
espectral dos alvos.
A quinta e mais recente contribuição à sistematização da Geografia 
Física é a Teoria Geral dos Sistemas, que foi elaborada pelo biólogo 
austríaco Ludwig Von Bertalanffy (1901–1972), em conjunto com Paul 
Alfred Weiss (1898–1989), no ano de 1930. Nessa teoria, destaca-se que 
um sistema é um conjunto de unidades organizado e autorregulado, 
que se movimenta por um fluxo constante de matéria e energia. Suas 
inter-relações sugerem que o todo (o sistema maior) é mais do que o 
produto da soma das partes, mas um organismo complexo, que apre-
senta subsistemas abertos e fechados, funcionando em interdepen-
dência e indissociabilidade.
isotópica: refere-se à medida 
de datação geológica obtida 
pela radiação eletromagnética 
emitidas por substâncias químicas 
e estruturas físicas que constituem 
as rochas e os minerais.
Glossário
Também chamada de Física 
do Decaimento Radioativo, é 
o processo de liberação de 
radiação eletromagnética pelos 
elementos químicos em estado 
de desintegração.
1
14 Fundamentos de Geografia Física
Na Geografia Física, a abordagem sistêmica tem implicado a com-
preensão do funcionamento e relacionamento entre elementos e 
unidades, entre sistemas e subsistemas, em seus graus de interdepen-
dência, complexidade nas causas-efeitos e os processos de transfor-
mação da matéria e da energia. Dessa forma, não podemos discordar 
da clássica frase de Antoine-Laurent de Lavoisier (1743–1794) sobre a 
Lei da Conservação de Massa: “na natureza nada se cria, nada se perde, 
tudo se transforma”.
Os estudos aplicados contemplam questões relativas aos desastres 
naturais, às áreas degradadas, à restauração ecológica e ambiental, ao 
clima urbano, à saúde ambiental etc.
A abordagem foi bem desenvolvida por Antonio Christofoletti (1979) 
e Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro (1995). Ambos explicaram 
que a dinâmica dos sistemas naturais ao longo do tempo tende a ser 
cada vez mais complexa, já que a ação humana interage de modo signi-
ficativo na superfície terrestre e no planeta como um todo.
Christofoletti (1979) discutia a teoria geral dos sistemas atribuindo 
o conceito de geossistemas, referindo-se à organização espacial re-
sultante da interação dos elementos e componentes físicos da natu-
reza funcionando por meio dos fluxos de matéria e energia em sua 
expressão espacial.
Já Monteiro (1995) utilizou a abordagem sistêmica para determinar 
uma categoria complexa, na qual interagem elementos humanos, físi-
cos, químicos e biológicos, sendo que sistemas socioeconômicos esta-
riam incluídos no funcionamento do próprio sistema.
Nesse sentido, a particularidade da Geografia Física dentro da ciên-
cia geográfica (no conjunto das ciências humanas) é que ela deve ser 
vista considerando um processo de relação metabólica, no qual ser 
humano e natureza intercambiam matéria e energia, em que não se 
separam as contribuições dos intelectuais e estudiosos da Geografia 
Humana (MOREIRA, 1985). Além disso, ela também se situa no diálogo 
com a Cartografia, bem como com as Ciências Naturais e Exatas, em 
especial Física, Geologia, Hidrologia, Química e Biologia. Um esquema 
dessa relação é apresentado na Figura 1.
A Radiação de Fundo foi 
designada a um tipo de energia 
eletromagnética detectada em 
transmissões de rádio pelos 
astrofísicos Arno Penzias e Robert 
Wilson. Naquele momento era 
um ruído extremamente tênue, 
mas muito persistente em todas 
as direções do céu. Outros quatro 
físicos norte-americanos, Robert 
Dicke, James Peebles, Peter Roll e 
David Wilkinson, ao tentar medir a 
mesma radiação, estimaram que 
por ser muito longa é muito antiga, 
originada em uma época em 
que as partículas de luz (fótons) 
passaram a viajar livremente, sem 
interagir com a matéria.
Nessecaso, a temperatura da 
Radiação de Fundo é muito 
próxima do zero absoluto em 
graus Kelvin (cerca de 2,725 K, 
ou -270 ºC), e inicialmente a re-
cebemos como ruído, ou melhor, 
como um eco da Big Bang – a 
grande explosão que originou o 
nosso Universo.
Importante
Há muitos exemplos de sistema. 
Nosso corpo é um sistema e dentro 
dele existem vários outros: cardio-
vascular, respiratório, nervoso etc. 
Cada um apresenta uma dinâmica 
e uma função específica e só pode 
ser completamente interpretado 
em conexão com outros sistemas 
(menos e mais simples) e o corpo.
Nós também fazemos parte de 
outros sistema maior, a Terra. 
Conhecer e compreender as leis 
que organizam esse sistema é 
uma medida que oferece saber 
dinâmica, seu estágio de evolução 
e suas formas de transformação.
Saiba mais
Introdução à Geografia Física 15
Figura 1
Posicionamento do campo da Geografia Física em relação a outros campos do saber
Geografia Geografia
Humana
Cartografia
Geografia
Física
Pedologia
Biogeografia
Climatologia Meteorologia
Ecologia
Biologia
Química
Hidrologia
Física
Geologia
Geografia
Ambiental
Geomorfologia
Fonte: Elaborada pelo autor.
Hidrografia
Diante do exposto, o que sintetiza o caráter da teoria e do método 
na Geografia Física é o encontro dos processos que fundam a ordem 
espacial das relações natureza-sociedade. No entanto, antes de discu-
tirmos esse aspecto, é necessário apreendermos sobre qual natureza a 
Geografia Física se refere. Vamos lá!
1.2 A natureza na Geografia Física
Vídeo Vamos iniciar esse aprendizado considerando que foi entre os sécu-
los XVI e XVIII que o conceito de natureza foi pela primeira vez de fato 
elaborado. A palavra sugeria a ideia de nascimento com indicação de 
futuro a surgir, a se gerar, seria a força que gera. Nessa perspectiva, é 
importante pensar a natureza como aquela característica que oferece 
a qualidade mais essencial, como algo que é dado, inato, isto é, uma 
característica que se define por si só, porque foi dotada desde a con-
cepção e a origem.
16 Fundamentos de Geografia Física
Podemos começar esse debate partindo dos primeiros saberes ela-
borados pelos seres humanos sobre a natureza, inicialmente definida 
pelas temporalidades e espacialidades sob uma condição absoluta, 
eterna e manifestada. Em síntese, uma natureza sobrenatural, uma 
supernatureza orientada por concepções mitológicas, que não pode 
ser pensada em termos de origem e fim; trata-se de uma natureza sa-
grada, porque é criada por deuses ou entidades divinas soberanas e 
superiores.
Essas concepções podem ser associadas às relações natureza-so-
ciedade das primeiras civilizações e atualmente podem ser atribuídas 
também como uma parte dos modos de vida de povos originários e 
tradicionais, bem como de nossas religiões, folclores, dizeres popula-
res, produções cinematográficas, desenhos animados e de discursos 
políticos e midiáticos. Estes últimos são mais relevantes em ocorrência 
de grandes calamidades, desastres e catástrofes.
Você consegue relacionar as concepções sobrenaturais de natureza na sua vida, consi-
derando a cultura da sua família, comunidade, cidade ou região? Na maioria das vezes, 
elas são operadas em uma explicação da natureza como uma entidade superior ou um 
resultado da vontade divina, ou seja, com intencionalidades e propósitos. Entender e 
identificar essas manifestações na atualidade é uma das nossas responsabilidades como 
geógrafos ou como professores de Geografia. Primeiro porque conseguimos partir des-
ses saberes para valorizar o que é importante na diversidade cultural de povos, nações, 
suas tradições, folclores, costumes e cosmovisões. Ao mesmo tempo, construir críticas 
para propor mudanças para que nenhum acidente, projetos de sociedade, preconceito, 
discriminação e privação de direitos possam ser admitidos como uma determinação 
causal natural, impossível de ser transformada.
Uma segunda concepção de natureza advém dos postulados da 
Antiguidade grega, fundamentados nos conhecimentos egípcios, desig-
nando ao mundo sua totalidade em suas dimensões material, espiri-
tual, artística e imaginada. Foi inicialmente pensada por pré-socráticos, 
com base na physis (relativo à fisiologia).
A noção foi reformulada pelo filósofo Aristóteles, que integrou o 
modelo geostático (Terra imóvel, esférica e depositada no lugar mais 
baixo do cosmo) e em torno dele quatro estratos esféricos de terra, 
água, ar e fogo, relacionados e intercalados pela tendência de estágios 
úmidos, secos, quentes e frios. A Lua, o Sol, o céu de estrelas e outros 
O livro O que é natureza é 
uma obra imprescindível 
para os geógrafos. Para 
a discussão que estamos 
fazendo neste capítulo, 
recomendamos em espe-
cial a leitura do primeiro 
capítulo “Natural, sobre-
natural e artificial”, já que 
essas três perspectivas 
de natureza podem ser 
apropriadas ao estudo 
geográfico. 
CARVALHO, M. 2. ed. São Paulo: 
Brasiliense, 2003. (Coleção Primeiros 
Passos; 243).
Livro
Introdução à Geografia Física 17
astros eram fixos e realizavam movimentos circulares, compondo com 
outras 55 esferas sólidas e constituídas pela quinta essência – o éter –, 
que por ser desconhecida era substancialmente diferente dos elemen-
tos essenciais (CARVALHO, 2003).
Figura 2
Os cinco elementos de Aristóteles
Fonte: Elaborada pelo autor.
Fogo
Água
Ar TerraÉter
Éter
ÉterÉter
Éter
Éter
Éter
Éter
ÉterÉter
Éter
Éter
Éter
Frio
Quente
Úmido
Seco
Além dos cinco elementos, Aristóteles também ofereceu processos 
de classificação com base nesses atributos, indicando os fundamen-
tos das ciclicidades. Nesse caso, ele afirmou que elementos animados 
(seres vivos) gerariam sempre seus semelhantes – os cachorros sem-
pre gerariam cachorros, assim como as plantas gerariam plantas. Do 
contrário, o ser inanimado tenderia sempre a voltar a um estágio de 
repouso, segundo os movimentos do processo. A água tende a se con-
servar líquida, as nuvens tendem a se condensar, a chuva a cair e o rio 
a correr para o mar. Trata-se do princípio de movimento de transfor-
mação constante e eterna.
A ideia aristotélica de natureza sugeria que todos os objetos têm 
seu devido lugar e em todos os lugares a natureza acontece como um 
organismo vivo, obedecendo a um objetivo interno, imutável e eter-
no, inerente à sua forma (CARVALHO, 2003). Essa concepção perdurou 
por todo o período do Império Romano e da Idade Média (cerca de 
1.400 anos), mas com alterações e adaptações realizadas pela Igreja 
18 Fundamentos de Geografia Física
Católica, que manteve a ideia de natureza orgânica e criada por deuses 
(CARVALHO, 2003).
Com o advento da modernidade e os avanços da física newtoniana, 
a natureza foi pensada pela perspectiva mecanicista, dada pelo mo-
vimento dos corpos, em uma visão antropocêntrica e essencialmente 
naturalista (SUERTEGARAY, 2003).
Na geografia ela é designada em seus sentidos orgânico e inorgâ-
nico (cursos d´água, fauna, flora, minerais e atmosfera), uma natu-
reza-máquina, uma natureza em si, na qual o ser humano não se faz 
presente, ou quando se faz é vítima ou agressor. Pela definição, a natu-
reza oferece a possibilidade de entender e identificar o funcionamento, 
as dinâmicas, as relações, os agentes e os processos que constroem os 
movimentos naturais.
Foi essa concepção de natureza que reduziu tudo o que é natural 
em recurso, em mercadoria. Além disso, também legitimou o discurso 
do determinismo ambiental, das lógicas colonialistas e da subordina-
ção dos povos pela ideia de uma distinção social que atribuía a desi-
gualdade como processo natural, sendo o racismo um dos melhores 
exemplos.
A visão naturalista separa o ser humano da natureza, coloca-o como 
observador, dominador, sem laços de pertencimento e isento de res-
ponsabilidades, associando, portanto, uma visão de natureza (uma 
essência em si) que deve ser subordinada e dominada. Não por acaso, 
essa perspectiva legitimou a ideia causal da organização das socieda-
des, dos povos e dos grupossociais e seu desenvolvimento.
A partir do século XX, quando os níveis de produção de saberes e 
conhecimentos geográficos acerca dos lugares na superfície da Terra 
já permitiam uma sistematização sumária da totalidade do mundo, o 
avanço técnico-científico proporcionou pela primeira vez na história 
que a Terra fosse vista do lado de fora.
A natureza pode ser pensada com base em suas conexões e articu-
lações, cujas características são absolutamente mutáveis, complexas 
e muito sensíveis a qualquer alteração imposta no âmbito interno e 
externo. De um mundo todo conectado, esse avanço incorporou tam-
bém a concepção de natureza como sistema, organizado com base na 
interação do sistema terrestre integrado ao Sistema Solar e às forças 
cósmicas universais.
Uma dica para que 
você possa entender 
a natureza como uma 
máquina e um sistema 
é assistir ao filme O dia 
depois de amanhã (The 
day after tomorrow). Ana-
lise a previsibilidade dos 
fenômenos, no que tange 
à acurácia e aos efeitos 
associados, à visão global 
da Terra e sua articulação 
com os fenômenos de 
ordem política e econô-
mica. Coloque também 
esse conhecimento como 
uma parte do avanço 
técnico-científico que 
serve para medir (quase) 
precisamente os impac-
tos, os danos, as perdas 
(econômicas e de vida) e 
as formas de adaptação.
Direção: Roland Emmerich. EUA: 
20th Century Fox, 2004.
Filme
Introdução à Geografia Física 19
Trata-se de um sistema porque apresenta possibilidades de alte-
rações das trocas de matéria e energia em função das dinâmicas dos 
processos internos e externos. Nessa concepção, a natureza não pode 
ser caracterizada somente pela relação mecânica e fragmentada, mas 
principalmente pelo conjunto de fluxos (locais e remotos), que resul-
tam da atuação de um equilíbrio dinâmico.
Na lógica, todos os processos da Terra são naturais, inclusive os an-
trópicos 2 , já que eles podem ser explicados pelas forças terrestres e 
se realizam pelo equilíbrio dinâmico do sistema em sua totalidade. Na 
Geografia Física, esse conceito auxilia muito os processos de gestão e 
planejamento ambiental, sobretudo para estudos de potencial econô-
mico-ecológicos, de degradação ambiental e de mudanças climáticas.
Contudo, a questão que se impõe é que, dado o avanço 
técnico-científico, a velocidade de transformação dos sistemas naturais 
e o modelo de desenvolvimento, fica muito difícil separar o que é natu-
ral do que é ação antrópica. Dessa impossibilidade, temos trabalhado 
com o conceito de uma natureza socialmente apropriada, que é pro-
duto da relação entre os seres humanos. Uma natureza híbrida, que 
é complexa e produto de uma construção social, visto que não é pura 
em nenhum dos sentidos; trata-se de uma natureza que construímos e 
hoje precisamos lidar com ela.
Natureza híbrida: construção social
Teoricamente, Latour (1997) chama de hibridização o conjunto de práticas que cria a 
proliferação de híbridos. Remete à mistura de processos que não apresentam distinção 
entre natureza e cultura, não humano e humano; que contradiz o engessamento ela-
borado pela modernidade; e se dá pela contínua construção de problemas e situações 
interpretados com base em uma frágil concepção de que apresentam essência e apa-
rência fragmentadas. É um paradoxo entender o mundo híbrido por categorias clássi-
cas, eminentemente dicotômicas. Entretanto, como qualquer paradoxo, a organização 
do conhecimento em categorias separadas revela uma crise rica e cara à humanidade 
e o que está em xeque na discussão é a purificação que sugere a suposta neutralidade 
da racionalidade e o poder ideológico do conhecimento científico.
Isso significa que toda sociedade cria, inventa e institui determi-
nada ideia do que é natural, ou seja, sua relação com o mundo orgâ-
nico e inorgânico e com os homens entre si; em outras palavras, suas 
concepções de natureza (PORTO-GONÇALVES, 1989). Atualmente, a 
Derivado de antropização, 
ou seja, todas as alterações 
provocadas ou desenvolvidas por 
meio de atividades humanas, 
sociais e produtivas das carac-
terísticas originais dos sistemas 
naturais são enquadradas 
como mudanças ambientais, já 
que toda ação antrópica deve 
garantir ou não sua estabilidade 
ecológica e, por isso, não é 
homogênea nem negativa 
sempre. De outro modo, diversos 
são os níveis de antropização dos 
sistemas naturais que podem 
ser observados considerando 
quanto do funcionamento 
original e dinâmico do sistema 
natural sofre modificações. 
Como exemplos temos a 
remoção (desmatamento) ou 
recomposição (reflorestamento) 
de domínios vegetacionais, 
degradação ambiental, poluição 
atmosférica, restauração ecológi-
ca, canalização e retilinização de 
cursos d´água, construção de 
cidades e constituição de áreas 
de produção agrícola.
2
20 Fundamentos de Geografia Física
natureza não pode ser mais concebida exclusivamente como algo 
exterior aos seres humanos ou independente, como entidade divina, 
organismo vivo, máquina, sistema ou construção social. Cabe a nós, 
geógrafos, interpretá-la tendo em vista como a sociedade a pratica 
espacialmente em todas as suas concepções. O Quadro 1 resume 
um pouco desse processo.
Quadro 1
Abordagens geográficas da natureza
Abordagem Concepção Origem Meios de observação
Formas de 
explicação Exemplo
Mitológica
Sobrenatural 
(sem espaço-
-tempo)
Primeiras civili-
zações
Presságios e pelo 
conhecimento 
religioso
Divindades e 
mitos
Cosmogonias; 
Trovão (Tupã, 
Thor e Zeus)
Sistematizada
Natural
(physis)
Grécia Antiga
Integrada e com-
binada a tudo 
que existe
Ciclos, elementos 
e átomos
Terra, fogo, ar, 
água e éter
Racionalizada
Natural
(mecânica; sistê-
mica)
Iluminismo; 
Modernidade
Gênese e 
funcionamento; 
instrumentaliza-
ção e medição
Teorias, concei-
tos e leis gerais; 
fragmentada; 
articulada
Sistema terres-
tre; grandes 
esferas; recurso 
natural
Construção 
social
Híbrida (comple-
xa e ideológica)
Relações sociais 
e de poder; 
cultura
Apropriada 
aos modos de 
produção como 
(estrutura e 
ideologia)
Transformação 
do valor de uso 
em valor de tro-
ca; dominação e 
subordinação
Mercadoria; 
naturalização 
das relações 
sociais; racismo; 
desastres
Fonte: Elaborado pelo autor.
Como vimos, precisamos considerar que há múltiplas concep-
ções de natureza que podem ser interpretadas pela geografia e 
que todas elas foram elaboradas tendo em vista os interesses dos 
agentes hegemônicos de cada sociedade, que, ao escolher seus 
parâmetros culturais e cosmovisões, definiram também elementos 
de naturalização e normalização das relações sociais de produção.
No entanto, como podemos operacionalizar esses conceitos 
dentro da Geografia Física? Em nossa história, essa espacialidade 
é identificada com base nos estudos dos sistemas naturais, que 
podem ser realizados por pelo menos duas abordagens, assumin-
do os conceitos de paisagem e de ambiente como categorias de 
análise.
Introdução à Geografia Física 21
1.3 Paisagem e ambiente na análise 
geográfica da naturezaVídeo
O que vem à sua mente quando você pensa em paisagem? Se 
de início você pensou em um lugar bonito ou remeteu a algo que 
seja visto, já comece a considerar também que, além da visão, a 
operacionalização da paisagem envolve todos os sentidos, como 
tato, olfato, paladar, audição, bem como subjetividades, emo-
ções e sensações. Você deve ter atribuído à ideia de paisagem 
não só um visual esteticamente apreciado, mas também imagi-
nou que os cheiros, os sons, os gostos, as sensações e os seus 
sentimentos formaram uma imagem mental perfeita, inclusive 
com pessoas e coisas que você aprecia, não é mesmo?
A categoria paisagem permite exatamente isso, ou seja, 
discutir tanto as bases de fundamentação do conhecimento 
geográfico (partindo dos sentidos e das percepções) quanto a 
complexidade para abordagem integrada e dialética 3 entre na-
tureza e sociedade (daquilo que podemos imaginar como um 
futuro bom para nós).
A paisagem é o resultado imediato da intencionalida-
de humana na superfícieterrestre, sendo que ela oferece a 
combinação de processos pretéritos, responsáveis pela com-
partimentação regional da superfície, e dos processos atuais, 
que correspondem à dinâmica contemporânea dos sistemas 
naturais.
O interesse desse fundamento é produzir uma imagem 
sintética, em que cultura e natureza formariam um conjunto 
integrado, articulado e espacialmente diferenciado na superfí-
cie do planeta (GOMES, 1996), servindo basicamente para com-
preender a síntese lógica entre os fenômenos físicos e sociais, 
suas combinações e interações, definindo tanto a diferencia-
ção, a constituição da diversidade natural quanto a produção 
do espaço (MENDOZA; JIMÉNEZ; CANTERO, 1988).
Santos (2008) conceitua paisagem como o conjunto de for-
mas que exprimem heranças, as quais representam as su-
Método científico fundamentado 
na concepção de que a realidade 
é um processo, crescente e 
inacabado, movimentado pelas 
contradições das relações entre 
aparência (aquilo que é visto, 
dito, sentido e percebido) e 
essência (relativo ao que é pen-
sado, racionalizado e operado 
concretamente).
3
22 Fundamentos de Geografia Física
cessivas relações entre o homem e a natureza. O autor esclarece que 
paisagem não é espaço geográfico. A primeira é a materialização de um 
instante da sociedade (SUERTEGARAY, 2001) e a realidade de homens 
fixos, uma realidade parada, como em uma fotografia. Por outro lado, 
o espaço resulta do casamento da sociedade com a paisagem. O 
espaço contém o movimento. Por isso, paisagem e espaço são 
um par dialético. Complementam-se e se opõem. Um esforço 
analítico impõe que os separemos como categorias diferentes, 
se não queremos correr o risco de não reconhecer o movimento 
da sociedade. (SANTOS, 2008, p. 74)
Em nosso país, a contribuição mais expressiva aos estudos sobre as 
paisagens naturais foi elaborada por Ab’Saber (1969), que promoveu 
uma renovação metodológica e instrumental nas pesquisas geomorfo-
lógicas desenvolvidas no território nacional, aprofundou o conceito de 
fisiologia da paisagem, compreendendo-a como o resultado de uma rela-
ção entre os processos passados e os atuais, e estudou principalmente 
a Teoria dos Refúgios Florestais (VITTE, 2007).
A Teoria dos Refúgios Florestais é o conjunto de ideias ligadas aos 
mecanismos de evolução das paisagens neotropicais da América do Sul 
e sugere interpretações sobre a biodiversidade das paisagens, assim 
como as extinções ocorridas ao término do Pleistoceno 4 (SILVA; PAS-
SOS, 2009).
Em resumo, a teoria parte das repercussões associadas às flutua-
ções paleoclimáticas da passagem de um período seco e frio (glaciais), 
para outro mais quente e úmido (interglaciais), diferenciação significa-
tiva na distribuição biogeográfica de animais e plantas, devido aos pro-
cessos de expansão e retração das áreas de ocorrência e domínio, além 
de modificações no relevo, nos solos e na disponibilidade hídrica 
(AB’SABER, 1992).
Entretanto, no decorrer da história da geografia, considerou-se a 
paisagem como o resultado da inter-relação entre a esfera da natureza 
e da cultura, mediadas pelo trabalho (VITTE, 2007). Nesses termos, o 
conceito mais bem relacionado hoje é o de ambiente, ligado à ideia de 
natureza híbrida, já que ele é definido como um conjunto de intera-
ções e relações entre seres vivos, coisas e objetos, naturais e artificiais, 
transformando-os e transformando-se (MENDONÇA, 2008).
Todavia, o ambiente não é natureza nem paisagem, trata-se, na ver-
dade, de um conceito cunhado após a década de 1960 por intelectuais 
Época do período Quaternário, 
da era Cenozoica e do éon 
Fanerozoico. Essa época precede 
o Holoceno (momento da 
origem dos seres humanos), 
sendo compreendida entre 2,5 
milhões a 11,7 mil anos antes 
do presente (AP), e contempla 
eventos das glaciações (eras do 
gelo), marcando o domínio e a 
extinção de grandes mamíferos, 
como os mamutes, tigre dentes 
de sabre, mastodontes etc.
4
Introdução à Geografia Física 23
de movimentos sociais ambientalistas (MONTEIRO, 2003). Em termos 
gerais, ele serve para problematizar o processo de exploração dos re-
cursos naturais e humanos, como alternativas de organizar um modelo 
de desenvolvimento com base principalmente na conscientização am-
biental, na preservação da biodiversidade, na gestão racionalizada dos 
recursos e na qualidade de vida (PORTO-GONÇALVES, 1989). Por esse 
caráter, assume-se também o termo socioambiental para dar ênfase à 
perspectiva de conjunto integrado e articulado com dinâmica natural e 
processos sociais (MENDONÇA, 2002).
O estudo da Geografia Física na perspectiva ambiental ou socioam-
biental incorpora assim problemáticas desenvolvidas tendo em vista as 
lógicas econômicas, os processos educativos e os modelos de desen-
volvimento, sendo orientadas principalmente por aparatos legais e 
normatizações da gestão territorial e da justiça ambiental. Por isso, no 
desenvolvimento desse estudo, ganham muito sentido as ações de ges-
tão, planejamento territorial e educação ambiental.
Podemos observar que as duas possibilidades de análise geográfica 
da natureza apresentam enfoques mais naturalistas dos sistemas natu-
rais (por meio da paisagem), ou da natureza em si, e outra que atende 
à natureza como produto dos processos de apropriação social (quando 
articulada às questões ambientais), ou seja, da natureza para si. Isso 
significa afirmar que ambas podem ser combinadas e entendidas em 
grande parte considerando a abordagem geossistêmica.
1.4 A abordagem de geossistemas
Vídeo Antes de começarmos a discutir a importância da abordagem 
geossistêmica para a Geografia Física, é importante destacarmos que 
os estudos relacionados aos fluxos de matéria e energia da nature-
za, bem como sua conservação e dissipação, transformação e altera-
ção, não têm sido bem respondidos pelo viés mecânico, que tende a 
fragmentar a natureza.
Nesse viés, as análises dos fluxos de matéria e energia se torna-
ram um dos objetos estudados pela Ecologia, considerando as bases 
conceituais da vida e os princípios do movimento mecânico, sobretudo 
das leis da termodinâmica. Assim, por meio do conceito de ecossiste-
ma, proposto em 1935 pelo ecologista britânico Arthur George Tansley 
24 Fundamentos de Geografia Física
(1871-1955), a ecologia se tornou uma disciplina integradora, apesar de 
sua base estar centrada na ciência biológica (NEVES et al., 2014).
O ecossistema se refere à “unidade funcional básica na ecologia, 
pois inclui tanto os organismos quanto o ambiente abiótico” (ODUM, 
1988, p. 9). Nesse âmbito, consideramos ecossistema ou sistema ecoló-
gico qualquer unidade (biossistema) que abranja todos os organismos 
que funcionam em conjunto (a comunidade biótica) em uma dada área 
e interajam com o ambiente físico de tal forma que os fluxos de matéria 
e energia produzam estruturas bióticas definidas em um ciclo integra-
do, resultado da convergência entre a biocenose (parte viva e orgânica 
do sistema) e o biótopo – parte mineral – (NEVES et al., 2014).
Figura 3
Representação esquemática de um ecossistema
Fonte: Elaborada pelo autor.
Fontes de 
energia
Nutrientes
Produtores
Água Ar Terra
Energia solar Herbívoros
Decompositores
Carnívoros
Detritos
Fluxo de energia e matéria
Os estudos ecossistêmicos privilegiam uma análise restrita à biolo-
gia, buscando conhecer e descrever padrões, dinâmica e evolução dos 
ecossistemas, servindo de modelo para avaliar comparativamente sis-
temas degradados ou alterados. Eles permitem conhecer os processos 
que compõem a biodiversidade e compatibilizar os processos produti-
vos com a conservação da massa, uma vez que se conheça a estrutura 
e a fisiologia da paisagem (NEVES et al., 2014).
A questão é que os estudos geográficos não têm como base exclu-
sivamente a dinâmica biológica dos sistemas ecológicos. Desse pro-
Introdução à Geografia Física 25
blema, o geógrafo soviético Victor Sotchava (1905–1978), no início da 
década de 1960, cunhou o termo geossistema, com a preocupaçãode 
estabelecer uma metodologia de estudo sistêmico da natureza tendo 
em vista a geografia.
Os geossistemas, para Sotchava (1978), incluem todos os elementos 
da paisagem como um modelo global, territorial e dinâmico, aplicável a 
qualquer paisagem concreta. Trata-se de identificar o potencial ecológi-
co de determinado espaço no qual há uma exploração biológica, poden-
do influir fatores sociais e econômicos na estrutura e expressão espacial.
Para Sotchava (1978), o geossistema é manifestado em qualquer 
dimensão espacial na superfície terrestre, desde as fácies físico-geo-
gráficas, que representam a menor unidade em uma divisão natural 
do terreno, até o que representa o planeta como um todo. Para fazer 
sua análise, ele propôs três conceitos. A associação dos conceitos pode 
ser assumida com base na articulação de três escalas de geossistemas, 
cada uma apresentando uma dinâmica particular, mas que interage no 
sentido das circulações interdependentes e subordinadas de matéria 
e energia.
As flechas indicadas na figura representam diferentes fluxos que podem ocorrer em um 
geossistema,
Figura 4
Interações e escalas do geossistema
Fonte: Elaborada pelo autor.
Regional 
Regional 
Re
gi
on
al
 
Regional 
Topológico 
Topológico To
po
ló
gi
co
 
Envelope físico-geográfico
Envelope físico-geográfico
Fluxo de energia e m
atéria 
Fluxo de energia e matéria 
fácies: os caracteres de forma 
e configuração que distinguem 
um grupo; aspecto geral.
Glossário
26 Fundamentos de Geografia Física
Nesse sentido, o nível planetário que representa o envelope físico-
-geográfico é caracterizado pelo componente zonal que se manifesta 
com a zonalidade climática, definindo os fatores bioclimáticos terrestres 
conforme a latitude. O nível regional é caracterizado pelos níveis inter-
mediários, nos quais os componentes zonais começam a interagir com 
os subzonais – altitude, relevo e grandes domínios de paisagem, como 
biorregiões e ecorregiões. O nível topológico (local) é representado pela 
escala de maior detalhe, em que os componentes se manifestam no 
princípio de unidades, com interferências de processos geomorfológi-
cos, pedológicos, microclimáticos 5 etc.
Para além da hierarquia da estrutura, o geógrafo George Bertrand 
(1972) procurou estabelecer a funcionalidade do geossistema conside-
rando a combinação entre o Potencial Ecológico (clima, hidrologia, geo-
morfologia), a Exploração Biológica (vegetação, solo, fauna) e a Ação 
Antrópica – Figura 5 – (NEVES et al., 2014). Para ele, o geossistema é um 
todo dialético, com uma multiplicidade de relações e de contradições 
que se inter-relacionam, atendendo à importância da dinâmica com-
plexa entre o social com os processos naturais (BERTRAND, 1972).
Nesse sentido, seres humanos, relevo, solo, clima, recursos hídricos, 
fauna e flora, ou qualquer outro componente, poderão ser conside-
rados na análise geossistêmica. Como o modelo não oferece limites 
máximos de ação de cada elemento, uma vez que nenhum deles se de-
senvolve de maneira isolada, é importante considerar em seu interior 
sua função em termos de processos intrínsecos e extrínsecos.
Figura 5
Modelo funcional dos geossistemas
Fonte: Adaptada de Bertrand, 1972.
Relevo – Clima – Recursos hídricos
Exploração biológica
Solo – Fauna – Flora 
Potencial ecológico
Geossistema
Ação antrópica
Produção – Apropriação – Conflitos
Relativo a relevo (geomorfo-
lógicos), solos (pedológicos) 
e climas muito específicos 
(microclima).
5
Introdução à Geografia Física 27
Por isso, a grande vantagem da abordagem dos geossistemas é per-
mitir investigar diferentes aspectos da natureza (estrutura, dinâmica 
e evolução) sob uma base unificada em termos de perspectiva e tra-
tamento propositivo, mas também de conflitualidade e a convergên-
cia de múltiplos interesses (BERTRAND, 1972). Nesse sentido, a análise 
pode ser realizada com base nos processos de gestão e planejamento 
ambiental e territorial.
Grande parte desse trabalho atende por levantamentos sistemáti-
cos utilizando muita linguagem cartográfica com o uso de geotecnolo-
gias, focando pesquisas ecológicas de longa duração (com ênfase no 
monitoramento e na proteção de unidades de conservação, por exem-
plo), estudos de reconstrução paleoambiental na avaliação dos impac-
tos das atividades humanas (industriais, infraestruturais e produtivas), 
nas formas de recuperação de áreas degradadas, bem como na pre-
venção e nos diagnósticos de riscos e desastres.
CONSIDERAÇÕES 
FINAIS
Ao longo deste capítulo, valorizamos a construção do conhecimento, 
da teoria e do método na Geografia Física com base na história de alguns 
conceitos, categorias e estudiosos do pensamento geográfico. Destaca-
mos também sua importância e correspondência atual, sobretudo, para 
estabelecer o caráter crítico e propositivo do profissional de geografia.
Enfatizamos que a Geografia Física é um saber organizado dentro da 
geografia, e como tal está preocupada com as práticas associadas às re-
lações entre natureza e sociedade na produção do espaço. O reconheci-
mento das opções teóricas e dos métodos na história é fundamental para 
estabelecer consistência e coerência prática no mundo atual.
Por ser uma ciência social, os temas de trabalho na Geografia Física 
atendem à integração da dinâmica natural com os processos sociais como 
construções sociais; por isso, são passíveis de transformações com base 
em projetos de sociedade e analisados segundo a paisagem e o ambiente.
Nesse aspecto, as transformações das paisagens ambientais devem 
ser orientadas para o aumento da qualidade ambiental e de vida como 
estratégias para fomentar a participação social no espaço público e no 
mercado de trabalho. A Geografia Física tem muito a contribuir nesse sen-
28 Fundamentos de Geografia Física
tido, tanto na compreensão das diferentes concepções de natureza (que 
envolvem muitos conflitos e injustiças) quanto nas suas inter-relações, 
nos horizontes do século XXI.
Por isso, lembre-se de que na Geografia Física, paisagem não é am-
biente; ambiente não é natural; e geossistema não é natureza. Natureza é 
uma construção social, um conceito ideológico e cultural, que só pode ser 
explicado na relação com a sociedade ou por meio de suas transforma-
ções na história do conhecimento e da humanidade.
Ambiente é um referencial conceitual, que requer mudanças nas re-
lações natureza-sociedade no mundo atual, sobretudo nas sociedades 
capitalistas e ocidentais. O foco é sobremodo valorizado no debate da 
qualidade de vida e dos modelos de desenvolvimento. Portanto, o termo 
socioambiental dá ênfase à necessidade de diálogo e integração dos siste-
mas naturais, humanos e produtivos.
Paisagem é a concepção de natureza natural na geografia, sendo ex-
plicada atualmente com base na abordagem dos geossistemas, visto que 
envolve troca de matéria e energia, e pode ser desenvolvida com o uso de 
geotecnologias, mapeamento etc. A presença do ser humano (fator antró-
pico e ser social), considerando os geossistemas, oferece a possibilidade 
de transformação social via gestão e planejamento territorial e ambiental.
ATIVIDADES
Vamos articular conceitos e aplicar nossos conhecimentos? Para as 
atividades a seguir, você deverá tirar duas fotos de lugares diferentes. 
Pode ser qualquer lugar, como sítio, cidade, bairro, rua, casa, mas 
preferencialmente que sejam duas. Caso não tenha máquina 
fotográfica ou celular com câmera, pegue duas folhas de papel e tente 
desenhar esses lugares, ou busque em sites, revistas, livros etc.
1. Descreva a paisagem. Para isso, você pode escrever com suas palavras 
o que está vendo, ouvindo e sentindo. Tente identificar elementos 
humanos e não humanos. Selecione da cena aquilo que você julgue 
interessante: pessoas, árvores, estradas, ruas, plantações, automóveis, 
roupas, equipamentos eletrônicos, rios, pássaros, cheiros, sons e 
sensações. Fique à vontade para descrever de acordo com seu estilo, e 
não se limite aos elementos citados. Explorea cena e use sua criatividade.
2. Agora, observe a forma como essa paisagem está organizada. Se 
atente aos traçados, às cores, aos materiais dos edifícios, às formas 
das ruas, às distâncias entre os objetos e sua dispersão, aos pontos de 
conexão e às áreas abertas.
Introdução à Geografia Física 29
3. Em seguida, analise a função, a integração e a movimentação dessa 
cena, tendo em vista as relações entre elementos que você destacou, 
a história do lugar e quais concepções de natureza podem ser 
explicitadas com base nela. Destaque elementos explícitos e implícitos 
dos objetos e dos aspectos culturais e sociais.
4. Perceba em todos os elementos que você destacou os detalhes, os 
níveis de alteração da paisagem e, ao mesmo tempo, como você e 
as pessoas se relacionam, vivem ou praticam esse lugar. Para isso, 
imagine uma linha temporal que mostre uma parte da sua história e 
da história dessa paisagem.
5. Agora, imagine esse mesmo lugar no futuro. Imagine você nesse futuro, 
ou pelo menos projete em sua mente uma possibilidade de rever essa 
cena de outro modo ou em outro contexto. Nesse momento, você já 
deve entender como a transformação da paisagem resulta em espaço 
geográfico, e somos nós quem dotamos de sentido e de projeto o 
nosso lugar no mundo.
6. Enfim, a sua paisagem tem uma história? Conte-a para nós.
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Quaternário. Geomorfologia, n. 18, 1969.
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https://cadernosgeograficos.paginas.ufsc.br/files/2016/02/Cadernos-Geogr%C3%A1ficos-UFSC-N%C2%BA-05-A-Quest%C3%A3o-Ambiental-na-Geografia-do-Brasil-.-Maio-de-2003.pdf
https://cadernosgeograficos.paginas.ufsc.br/files/2016/02/Cadernos-Geogr%C3%A1ficos-UFSC-N%C2%BA-05-A-Quest%C3%A3o-Ambiental-na-Geografia-do-Brasil-.-Maio-de-2003.pdf
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https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1982-45132014000200271&script=sci_abstract&tlng=pt
https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1982-45132014000200271&script=sci_abstract&tlng=pt
http://www.revistas.usp.br/geousp/article/view/73959
http://www.revistas.usp.br/geousp/article/view/73959
https://revistas.ufpr.br/geografar/article/download/14356/9650
https://revistas.ufpr.br/geografar/article/download/14356/9650
http://www.ub.edu/geocrit/sn-93.htm
https://periodicos.ufsc.br/index.php/geosul/article/view/13601
http://www.mercator.ufc.br/mercator/article/view/58
http://www.mercator.ufc.br/mercator/article/view/58
O planeta Terra 31
2
O planeta Terra
Neste capítulo, vamos estudar as teorias sobre a formação do 
planeta Terra, apreendido como o nosso lugar no mundo. Sendo 
assim, enfatizamos que a sua atenção é necessária para que, até 
o final do capítulo, você possa dominar os princípios físico-natu-
rais que regem o sistema terrestre e possa perceber que ele está 
muito mais para superfície, como foi propalado pela Geografia 
Física clássica.
O que estamos querendo dizer é que aqui você compreen-
derá o contexto do planeta Terra no Universo, sua gênese, seus 
movimentos, bem como sua formação e evolução, por meio da 
história natural, e entenderá quais dinâmicas da natureza e quais 
forças terrestres são responsáveis pelo estágio atual do planeta, 
que oferece todas as condições de manutenção da vida enquanto 
um grande sistema e projeto de nossa sociedade. Mas vamos por 
partes, não é mesmo?
Desejamos uma ótima leitura e um bom rendimento de estu-
dos; para isso, faça suas anotações.
2.1 A Terra no espaço 
Vídeo Como a Terra está no Universo? Essa, de fato, é umas das perguntas 
mais intrigantes da humanidade e, sem dúvidas, ela é essencial tam-
bém para estabelecer as explicações quanto à origem do nosso mun-
do. Vamos iniciar esse debate pela noção de que, ao longo da história, 
os seres humanos refletiram sobre esse aspecto e por isso construíram 
muitas teorias para a origem do mundo, de sua natureza, do Universo 
como um todo e da cultura.
Grande parte das histórias fantásticas criadas pelas sociedades fo-
ram passadas de geração em geração e definiram o que hoje chama-
mos de cosmogonia, que é o conjunto de saberes destinados a explicar 
32 Fundamentos de Geografia Física
o surgimento do Universo. Em geral,atribui-se a divindades a explica-
ção de um Universo criado, relativo à concepção de natureza sobrena-
tural, que é absoluta, eterna, porque não pode ser parametrizada por 
dimensões temporais ou espaciais.
É importante associar esse primeiro tipo de conhecimento àquele 
presente na Geografia Física, uma vez que nele a criação do Universo 
oferecia diretamente a introdução de conceitos como a magia e a pos-
sibilidade de influência do ser humano na dinâmica natural (o papel 
dos sacerdotes tem importância particular para isso). Além disso, as 
mitologias oferecem o caráter da diversidade cultural em termos de 
normas, conduta, ética, moral, convívio, costumes, folclores e modo de 
vida.
Na cosmogonia atribuída ao povo tupi-guarani, a noção de criação da natureza é vol-
tada para os deuses e guardiões, sendo Guaraci o deus do sol e Jaci a deusa da lua. 
Estes são os dois deuses com maior destaque na teoria da criação do Universo. Existem 
outros deuses relacionados à musica, à guerra, à chuva etc. A grande maioria dessas 
crenças foram obtidas pela observação e por meio de uma astronomia própria. Por 
meio dela, eram definidos o tempo de colheita, a duração das marés, o período de 
caça, pesca, agricultura, o tempo das chuvas, as fases da lua e as estações do ano. Com 
essas observações, histórias, lendas com ensinamentos morais e mitos foram criados. 
Com isso surgem também as lendas e os mitos relacionados à criação do universo, do 
homem e da mulher e da noite, por exemplo. Não é à toa que esse conhecimento pode 
ser relacionado à diversidade cultural e religiosa dos povos.
De outro modo, a sistematização desse saber culminou no conhe-
cimento organizado na Antiguidade greco-romana, principalmente na 
ideia de Cosmologia, que foi ancorada nas noções egípcia e mesopotâ-
mica de astrologia, articulada com outros saberes como filosofia, ma-
temática e artes (MAKLER; VILLELA NETO, 2009). O sentido é que os 
povos da Antiguidade apresentam mitologias e cosmogonias próprias, 
pautando-se na organização e na observação dos astros e dos ritmos 
naturais para oferecer uma noção aprimorada do Universo. Nesse pro-
cesso, cada sociedade constrói suas próprias concepções de natureza 
e de mundo.
Esses conhecimentos, então, baseiam-se nas constatações possibi-
litadas por instrumentos de observação do céu (como o astrolábio e 
o telescópio) e de medição da superfície da Terra. Eles foram, inicial-
mente, suficientes para identificar grande parte dos planetas, das es-
Para aprofundar seus 
conhecimentos, leia o ar-
tigo “Cosmologia: a busca 
pela origem, evolução e 
estrutura do universo”, 
publicado na revista 
Um olhar para o futuro: 
desafios da física para o 
século. Os autores Makler 
e Villela Neto, com uma 
linguagem simples e ima-
gens interessantes, trazem 
mais elementos sobre os 
conhecimentos cosmoló-
gicos. Durante a leitura, 
fique atento à história, ao 
objeto e ao método da 
Cosmologia.
Disponível em: http://www.
cbpf.br/~desafios/media/livro/
Cosmologia.pdf. Acesso em: 26 
jan. 2021.
Artigo
Cosmologia: é o subcampo 
científico da Astronomia 
dentro da Física. É orientada 
pelos estudos sobre origem, 
estrutura, formação e evolução 
do Universo.
Glossário
O planeta Terra 33
trelas e dos astros – que são conhecidos até hoje, com outros nomes e 
sob outros saberes. Além disso, é a partir desse momento que surge a 
construção de calendários associados à agricultura e às práticas de di-
ferentes povos. Por exemplo, calendário zodiacal, chinês, asteca, lunar 
ou juliano.
O astrolábio foi um dos primeiros instrumentos navais cria-
dos pelos árabes do mundo antigo. Ele era essencialmente 
usado para fazer medições, como precisar o número de ho-
ras, definir as estações do ano e estimar a altura bem como a 
profundidade da superfície e dos astros se baseando 
no horizonte.
O telescópio, conhecido inicialmente 
como luneta, amplia a capacidade de 
visão humana. Primeiramente, foi usado 
para fins militares. Seu uso científico foi 
designado por Galileu Galilei no século 
XVII.
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Jacopo Kousha
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W
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 C
om
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Os povos árabes também auxiliaram nessa organização. A busca por 
explicações lógicas ajudou a ordenar um conjunto de nomes apropria-
dos para grande parte das estrelas e constelações. Esse conhecimento 
ajudou a humanidade na criação das principais formas de estabeleci-
mento de um processo global para navegação, sobretudo por meio da 
orientação e da distribuição das estrelas (MAKLER; VILLELA NETO, 2009).
Outras sociedades, como polinésias (distribuídas no Oceano Pacífi-
co) e ameríndias (situadas ao longo das Américas) também se guiavam 
pelas constelações; elas não necessariamente utilizavam-nas para fins 
náuticos, mas como um meio de conhecer áreas continentais. Povos 
como os Guaranis, os Kaingangs e os Tembés – de raízes Tupi – são 
exemplos, aqui no Brasil, de comunidades que utilizavam as constela-
ções como parâmetro de orientação.
Desse conhecimento foi desenvolvida, durante a Idade Média (de 800 
a 1450 d.C.), a ideia de Universo Geocêntrico. Associado ao modelo de 
Ptolomeu, trata-se de um pensamento eclesiástico adotado pela religião 
cristã para admitir a Terra como centro do Universo (WUENSCHE, 2017).
Mais tarde, no século XV, a sistematização da Cosmologia foi inicia-
da quando o filósofo e astrônomo germânico Nicolau de Cusa (1401–
A noção de ano só foi possível 
devido ao advento da agricul-
tura. Inicialmente, os povos 
observaram o ciclo das estações 
e, então, organizaram datas 
comemorativas e de suas ativi-
dades durante o período anual. 
No Brasil, temos o calendário 
Kaingang, que, na representação 
de suas atividades anuais, 
define uma organização sazonal 
circular. Ela tem como base os 
momentos de solstícios. Tem 
também a indicação da estação 
chuvosa Ara Pyaú, quando são 
concentradas as celebrações da 
colheita, e da estação seca Ara 
Ymã, período valorizado para 
plantio e cuidado da terra. 
Você pode fazer as mesmas 
relações do calendário Kaingang 
com o calendário civil, que 
define o período mais quente do 
ano para usufruto de férias. Essa 
organização fomenta, inclusive, 
o turismo de veraneio nos litorais 
de todo mundo.
Curiosidade
34 Fundamentos de Geografia Física
1464) sugeriu que a Terra não era o centro do Universo e, na verdade, 
ela girava em torno de seu eixo; as estrelas seriam sóis situados a dis-
tâncias diferentes em um espaço infinito (WUENSCHE, 2017).
Foi somente com o Renascimento, entre os séculos XV e XVII – um 
período de grandes transformações culturais, como as grandes nave-
gações, o colonialismo e a construção da ciência ocidental – que a Cos-
mologia tomou, de fato, o centro do debate (WUENSCHE, 2017).
Esse momento foi marcado pela proposta de sistema heliocêntrico 
para o Universo, de Nicolau Copérnico (1473–1543), e pela visão de Uni-
verso de Giordano Bruno (1548–1600), seguido, então, pela utilização 
do telescópio por Galileu Galilei (1564–1642), a descoberta das leis que 
levam o nome do astrônomo Johannes Kepler (1571–1630) e o conceito 
de Sistema Solar.
Esses três marcos históricos levaram Isaac Newton (1643–1727), no 
século XVIII, a elaborar uma separação racionalista da astrologia, por 
meio dos conhecimentos matemáticos e físicos, e atribuir o caráter 
científico ao campo chamado Astronomia.
Newton ofereceu a noção de um Universo infinito, estático e que 
pode ser interpretado em dimensões espaciais (comprimento, altura 
e largura) e temporais (segundos, minutos, horas, dias etc.) separada-
mente. A lógica do modelo é cartesiana e reduz-se na Lei da Gravidade; 
esta compreendida como a principal força que estabelece a massa e 
a velocidade de todos os corpos e de toda a matéria, determinando a 
posição dos astros e do planeta Terra no Sistema Solar.
Um Sistema Solar sugere o 
conjunto de corpos celestes com 
uma estrela central (a maior 
componente do sistema) e todos 
os outros corpos sob seu domí-nio gravitacional. No nosso caso, 
a estrela central é o Sol, que 
corresponde a mais de 99,85% 
da massa total do sistema. Ele 
gera sua energia principalmente 
por meio da fusão de hidrogê-
nio em hélio e foi o principal 
responsável pela primeira gran-
de diferenciação geoquímica 
dos planetas do Sistema Solar. 
Contribuiu para a vaporização 
dos materiais cósmicos e para a 
formação de planetas rocho-
sos, situados mais no interior do 
sistema (como Mercúrio, Vênus, 
Terra e Marte), e dos planetas 
gasosos, compostos de voláteis, 
como hidrogênio, hélio, amonía-
co e metano, que condensaram à 
baixa temperatura (como Júpiter, 
Saturno, Urano e Netuno). 
Saiba mais
Figura 1
O Sistema Solar e os movimentos astronômicos
D1
m
in
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ck
SISTEMA SOLAR
Netuno
Saturno
Marte
Vênus Sol
Mercúrio
Terra
Júpiter
Urano
Cinturão de Asteroides
O planeta Terra 35
Nesse aspecto, o Sistema Solar é um todo que se movimenta fun-
damentalmente pela ação gravitacional. Isso promove distinções na 
quantidade de energia (luz solar) que os planetas recebem e resulta 
nos processos de rotação, no qual os planetas giram em torno do seu 
próprio eixo gerando a variação dos dias e das noites, e o de transla-
ção, quando o giro se dá em torno do Sol, possibilitando as estações 
do ano – a sazonalidade. Esse processo pode ser observado em todos 
os planetas do sistema, mas exemplificamos com a Terra, conforme 
a Figura 2.
Figura 2
Movimentos astronômicos do planeta Terra no Sistema Solar (Hemisfério Sul) 
De
si
gn
ua
/S
hu
tte
rs
to
ck
Equinócio de 
outono 
(23 de março) 
Solstício de inverno 
(21 de junho) 
Solstício de verão (21 
de dezembro)
Equinócio de 
primavera 
(23 de setembro)
Outono 
Inverno 
Verão 
Dia 
Dia 
Primavera 
Noite 
Noite 
N
S
Você já deve ter percebido que todo o conhecimento que temos do 
Universo é bastante antigo, mas a noção de Sistema Solar, ao contrá-
rio, é bem recente. Apesar dos avanços, as leis da física newtoniana 
não eram suficientes para explicar as novas descobertas que a ciência 
incorporava de astros, galáxias, além da importância geopolítica que a 
precedia. A corrida espacial e a viagem à Lua, por exemplo, tornavam-
-se projetos em construção e foram fundamentais para estabelecer ou-
tros marcos sobre a origem do Universo.
O interessante de tudo isso é que, enquanto ciência, a Cosmolo-
gia foi institucionalizada somente a partir do século XX, principalmente 
por causa dos avanços obtidos com a Teoria da Relatividade. Por meio 
dessa teoria, conseguimos distinguir a Radiação de Fundo e estimar a 
condição atual da Terra em sua trajetória espaço-temporal, como po-
demos observar na Figura 3.
https://www.shutterstock.com/pt/g/designua
36 Fundamentos de Geografia Física
Figura 3
Linha temporal da origem do Universo e do início do espaço-tempo 
De
si
gn
ua
/S
hu
tte
rs
to
ck
Big Bang
0
380 
mil anos 300 
milhões de anos
Era das 
trevas
Primeiro 
aparecimento 
de estrelas
1 bilhão de 
anos Hoje
Tempo
Surgimento 
das primeiras 
galáxias
Formação do Sistema 
Solar (9 bilhões de anos)
Galáxias 
modernas
Pelas teorias científicas, portanto, podemos passar da ideia de 
um Universo Criado para a noção de um Universo Originado. Em 
outras palavras, podemos atribuir uma idade à Terra, indicando 
um processo lógico sobre sua gênese e formação por meio dos 
fenômenos que observamos diariamente. É uma ideia que atribui à 
natureza sua naturalidade, ou seja, uma condição dotada de espa-
ço e de tempo e, por isso, não podemos esquecer que só consegui-
mos explicar esses mecanismos com os avanços técnico-científicos 
e o conhecimento.
Mas, então, o planeta Terra tem, de fato, uma idade? Nós tería-
mos assim uma data de nascimento em comum? Digamos que sim. 
Para responder a essa pergunta, vamos discutir um pouco mais 
sobre história natural, a história ecológica da Terra.
https://www.shutterstock.com/pt/g/designua
O planeta Terra 37
2.2 História ecológica da Terra 
Vídeo Como dito anteriormente, se formos atribuir ao planeta 
Terra um início, uma gênese, um princípio, consequente-
mente estaremos indicando a idade do Universo e da natu-
reza natural. É importante lembrar que ao nos referimos à 
natureza natural estamos considerando exclusivamente os 
processos possíveis de explicação pelas leis do movimen-
to, no escopo da física (mecânica) e da biologia (evolução).
Nesse caso, as respostas para essas indagações são 
adquiridas pela observação dos constituintes do próprio 
planeta, com o uso de instrumentos tecnológicos pró-
prios, que possibilitam oferecer uma cronologia relativa 
(por meio de associação com seus diferentes tipos: ro-
chas, fósseis, seres vivos, por exemplo) como uma idade 
isotópica (também chamada absoluta), com base na dinâ-
mica da Física do Decaimento 1 , por meio da radiação ele-
tromagnética. Vamos inciar esse debate assumindo esta 
última possibilidade, relembrando a relevância de medir 
o tempo-espaço em anos-luz.
Leia o artigo “O Tempo Geológico”, de Manzig, publicado na revista Geomá-
tica. Nele, você deve encontrar mais detalhes sobre a escala geológica e 
principalmente sobre os fundamentos das teorias e dos métodos da ciência 
geológica.
Acesso em: 26 jan. 2021. 
http://www.geoturismobrasil.com/REVISTA%20ARTIGOS/o%20tempo%20geol%C3%B3gico%20-%20Manzig.pdf
Artigo
Trata-se da Radiação de Fundo, a qual comprova que o 
Universo tem limites, mas não é estático e que, ao mesmo 
tempo, expande-se, ao passo que sua temperatura tam-
bém diminui. Por esse aspecto, e com a tecnologia de que 
dispomos, estima-se que os limites do Universo estejam há 
13,9 bilhões de anos-luz da Terra. A Via Láctea, por exem-
plo, tem aproximadamente 8 bilhões de anos do limite má-
ximo do Universo. Nosso Sistema Solar, e junto com ele a 
Terra, tem cerca de 4,6 bilhões anos.
Também chamada Física do 
Decaimento Radioativo, é 
o processo de liberação de 
radiação eletromagnética pelos 
elementos químicos em estado 
de desintegração.
1
Para saber sobre em 
qual momento do ciclo 
estelar está o Sol, assista 
ao vídeo Como funciona 
o Universo - Estrelas, 
produzido pelo Discovery 
Channel e publicado pelo 
canal Amolyoko.
Disponível em: http://youtu.be/
agrJHUe9aHA. Acesso em: 26 
jan. 2021.
Vídeo
http://www.geoturismobrasil.com/REVISTA%20ARTIGOS/o%20tempo%20geol%C3%B3gico%20-%20Manzig.pdf
38 Fundamentos de Geografia Física
Mas o que há de interessante em tudo isso? O importante é compreendermos que, no nascimento de 
uma estrela, o gás hélio é produzido pela queima de hidrogênio e pela combustão do hidrogênio e do 
lítio. Dessa forma, outros elementos são originados, inclusive quando elas morrem. Essa descoberta deu 
suporte central à interpretação de que a origem dos gases elementares também ocorreu nos primeiros 
momentos do Universo, em um fenômeno muito semelhante ao que acontece com uma estrela.
Figura 4
Ciclo de vida de uma estrela
sc
ie
nc
ep
ic
s/
Sh
ut
te
rs
to
ck
Nebulosa 
molecular 
gigante
Estrela 
pequena
Gigante 
vermelha 
Nebulosa planetária
Anã branca
Estrela 
gigante
Supergigante 
vermelha Supernova
Estrela de 
nêutrons
Buraco negro
Imagem fora de escala, meramente ilustrativa.
Para construir essa ideia, é bom lembrar da importância de se observar as estrelas, o que os nossos antepassa-
dos já faziam, mas com outros saberes. Nesse sentido, desde os tempos antigos as estrelas são observadas, e 
com o avanço técnico-científico podemos também perceber seu ciclo de vida. Assim, as observações indicam 
que as estrelas nascem de nebulosas, que são compostas basicamente de hidrogênio e hélio, os elementos 
mais comuns no Universo. Quanto maior a concentração desses gases, maior será a força gravitacional para 
iniciar sua contração e seu aquecimento. A temperatura do ponto da nebulosa deve ativar a fusão nuclear, que 
inicialmente usa o hidrogênio como fonte de combustível. Esse processo libera muita energia e, desse modo, 
uma estrela nasce. Quanto mais ela concentrar combustível

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