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4Neurociência Cognitiva e Aprendizagem

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DEFINIÇÃO
Conceitos de neuroplasticidade e Neuropsicologia. Contribuições da Neuropsicologia para o processo de aprendizagem. Dificuldades e transtornos de aprendizagem e sua relação
com o desenvolvimento do cérebro. Noção de inteligência e sua relação com a aprendizagem da leitura e do raciocínio lógico. Ambientes de aprendizagem neurocientificamente
coerentes.
PROPÓSITO
Apresentar a contribuição da neuroplasticidade cerebral e da Neuropsicologia no processo de ensino e aprendizagem, as dificuldades e os transtornos de aprendizagem na
perspectiva da neurociência, a relação entre inteligência e desenvolvimento da leitura e do pensamento matemático, bem como a importância da construção de ambientes de
aprendizagem neurocientificamente coerentes.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar as principais dificuldades e os principais transtornos de aprendizagem e suas relações com o desenvolvimento à luz da Neuropsicologia
MÓDULO 2
Reconhecer a relação entre o conceito de inteligência e o desenvolvimento da leitura e do raciocínio lógico em um contexto de ambiente escolar neurologicamente coerente
INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, profissionais de diferentes campos das ciências da saúde e educação contribuíram para a compreensão da aprendizagem valendo-se de uma abordagem
multiprofissional.
Identificamos que, para conhecer os problemas que interferem no desenvolvimento da criança, é preciso compreender os padrões de normalidade – aquilo que é esperado com base
nas características da espécie – que envolvem o desenvolvimento dos seres humanos.
Fonte: senivpetro / Freepik
 Desenvolvimento das crianças
As neurociências são um conjunto de disciplinas relacionadas com diferentes campos de conhecimento, que têm por objetivo estudar o funcionamento do cérebro, construindo, assim,
um olhar interdisciplinar acerca deste fenômeno. Consideramos que os processos cognitivos, apoiados pela mudança constante do cérebro, estão intrinsecamente conectados à
nossa estrutura física, cognitiva e psicossocial. Este, portanto, será nosso objeto de estudo.
MÓDULO 1
 Identificar as principais dificuldades e os principais transtornos de aprendizagem e suas relações com o desenvolvimento à luz da Neuropsicologia
NEUROPLASTICIDADE
O termo neuroplasticidade tem sido usado em diferentes pesquisas para descrever fenômenos em distintos níveis de organização de nosso organismo. Podemos falar de
neuroplasticidade desde a regulação genético-molecular até níveis mais avançados, como a reorganização das redes neurais. As vias neurais são estruturas plásticas e mudam
constantemente como produto de estímulos internos e externos.
NEUROPLASTICIDADE
Este termo foi usado pela primeira vez na década de 1940. Trata-se da reorganização neuronal em função das experiências vividas pelo organismo em sua relação com o meio.
 EXEMPLO
Exames recentes com testes de neuroimagem demonstram que o processo de aprendizagem pode ser
encarado como uma resposta comportamental a estímulos ambientais, dos quais a neuroplasticidade
depende.
Compreender a estrutura e as funcionalidades associadas à estrutura neural permite, então, que profissionais de educação e saúde proponham melhores estratégias de ensino em
diferentes contextos educacionais.
A neuroplasticidade também depende da capacidade plástica do sistema nervoso central, que se reorganiza em função das diferentes situações sociais enfrentadas pelo sujeito.
Todas as funções corticais superiores envolvidas na cognição, tais como as gnosias, as praxias e a linguagem, são bons exemplos da plasticidade cerebral — dos níveis mais
elementares, como o molecular, até os níveis cognitivos.
GNOSIAS
Reconhecimento de um objeto usando alguns dos sentidos corporais.
PRAXIAS
Sequências de movimentos que o corpo realiza para concluir determinado ato motor.
Jacques Gaimard / Pixabay
 Reação do cérebro a partir de experiêcias vividas e o meio
O cérebro é, por excelência, o órgão responsável pelo processo de aprendizagem. A partir do seu uso, é possível integrar nosso organismo ao meio ambiente para lidar com
diferentes situações. A plasticidade cerebral depende, portanto, das nossas experiências de vida. Não existem dois cérebros iguais, uma vez que nossa organização neural é fruto de
nossa individualidade. De acordo com Rotta (2016), podemos dividir a neuroplasticidade em dois tipos: a plasticidade do desenvolvimento normal do cérebro e a plasticidade
reacional. Vejamos cada uma delas:
PLASTICIDADE DO DESENVOLVIMENTO NORMAL DO CÉREBRO
É uma operação complexa com várias etapas coexistindo e se autoinflenciando. Entre elas, temos:
Plasticidade neuronal;
Plasticidade dos prolongamentos celulares;
Plasticidade sináptica;
Modificações neuroquímicas e funcionais.
PLASTICIDADE REACIONAL
Acontece quando o cérebro sofre alguma lesão, e o órgão tenta, de alguma forma, compensar o trabalho da área lesionada. A regeneração é possível tanto no sistema nervoso
central quanto no sistema nervoso periférico, porém o periférico tem mais chances de efetuar essa plasticidade com eficiência.
O sistema nervoso modifica-se constantemente ao longo da vida, em função das experiências, das interações e dos vínculos estabelecidos em nosso cotidiano.
NEUROPSICOLOGIA
Entre as áreas que auxiliam na compreensão dos processos de ensino e aprendizagem, podemos destacar a Neuropsicologia como um campo que nos ajuda a compreender até que
ponto podemos estabelecer uma ligação clara entre o funcionamento anatômico do cérebro e suas relações com as emoções e a aprendizagem.
Nesse contexto, podemos definir aprendizagem como aquisição de dados, cujo objetivo é realizar uma tomada de decisão em função de determinada situação. Neste momento,
diferentes processos cognitivos, como memória, linguagem, organização de ideias, raciocínio lógico etc., são acionados em conjunto para responder as demandas do cotidiano.
A Neuropsicologia possibilita uma compreensão mais ampla sobre a forma como as emoções interferem na cognição e no comportamento. Vários autores divergem quando o assunto
é sua origem. Entretanto, é certo que houve uma grande mudança nos rumos deste campo do conhecimento a partir do século XIX, com as descobertas de Pierre Paul Broca e Carl
Wernicke, que inauguraram a Neuropsicologia da Linguagem. No século XX, vimos o início da Neuropsicologia Moderna. Autores como Karl Spencer Lashley, Alexander
Romanovich Luria e Donald Olding Hebb são alguns dos representantes deste período.
PIERRE PAUL BROCA (1824-1880)
“Cirurgião e antropólogo francês que se destacou na história da medicina e das neurociências pela descoberta do centro da fala (atualmente conhecido como área de
Broca), ao estudar os cérebros de pacientes afásicos (incapazes de falar).
De acordo com Broca, essa afasia, causada por alguma lesão no lobo frontal do cérebro, era motora, pois impedia a lembrança dos movimentos necessários para a
produção da linguagem falada ou escrita.”
SABBATTINI, 1997; RUIZA; FERNÁNDEZ; TAMARO, 2004. (Tradução livre. Grifo nosso.)
Fonte: Wellcome Library / Wikimedia
 Pierre Paul Broca
CARL WERNICKE (1848-1905)
“Neuropsiquiatra alemão, cujos trabalhos sobre o complexo sintomático da afasia e a descrição de uma alteração na percepção da linguagem foram fundamentais para
futuras investigações neurológicas dos distúrbios da linguagem.
De acordo com Wernicke, essa afasia, causada por alguma lesão ou algum dano sofrido no lobo temporal do cérebro (área de Wernicke), era sensorial, pois impedia a
lembrança do significado da linguagem falada ou escrita.”
RUIZA; FERNÁNDEZ; TAMARO, 2004. (Tradução livre. Grifo nosso.)
Fonte: Max Glauer / Wikimedia
 Carl Wernicke
KARL SPENCER LASHLEY (1890-1958)
"Psicólogo norte-americano que estudou os mecanismos neurofisiológicos envolvidos na aprendizagem. Ainda que se reconheça como behaviorista, discorda da
concepção mecanicista de comportamento defendida por esta corrente. Desenvolveu inúmeras investigações, procurando relacionar o funcionamento do cérebro com
váriostipos de aprendizagem. Opõe-se à noção rígida de localizações cerebrais, defendendo uma visão integrativa do cérebro.”
(Dicionário Digital Infopédia.)
Fonte: (WP:NFCC#4) / Wikimedia
 Karl Spencer Lashley
ALEXANDER ROMANOVICH LURIA (1902-1977)
"Neuropsicólogo russo, reconhecido em todo o mundo como um dos psicólogos mais eminentes e influentes do século XX, que fez avanços em muitas áreas, incluindo
psicologia cognitiva, processos de aprendizagem e esquecimento, retardo mental e Neuropsicologia.
A pesquisa sobre o funcionamento do cérebro, abordando aprendizado e esquecimento, atenção e percepção como construções psicológicas, envolveu Luria por 40 anos.
A análise funcional e as alterações resultantes de lesões cerebrais locais constituíram sua área de maior interesse.”
(PACHALSKA; KACZMAREK, 2012)
Fonte: UCSD Luria Homepage / Wikimedia
 Alexander Romanovich Luria
DONALD OLDING HEBB (1904-1985)
"Considerado o pai da Neuropsicologia, devido à maneira como conseguiu fundir o mundo psicológico com o mundo da neurociência, a partir da publicação da obra
intitulada A organização do comportamento: uma teoria neuropsicológica (1949), que demonstrou sua teoria sobre como o aprendizado é realizado no cérebro.”
Donald O. Hebb / Wikimedia
Fonte: Donald O. Hebb / Wikimedia
 Donald Olding Hebb
O TERMO NEUROPSICOLOGIA SURGIU NO ANO DE 1913, MAS APENAS NA DÉCADA DE 1940, COM AS
PUBLICAÇÕES DE ARTIGOS SOBRE A MULTIPLICAÇÃO DE CONEXÕES SINÁPTICAS, GANHOU
NOTORIEDADE.
(METRING, 2011)
CONEXÕES SINÁPTICAS
São as que envolvem sinapses, ou seja, conexões entre os neurônios. Como os neurônios não se tocam fisicamente, é necessário que haja um processo elétrico e químico que
permita a comunicação entre eles. Essa comunicação é mediada quimicamente pelos neurotransmissores.
Mas foi com Alexander Romanovich Luria que a Neuropsicologia entrou em sua modernidade (VELASQUES; RIBEIRO, 2014). Vamos nos aprofundar em suas contribuições para este
campo do conhecimento.
CONTRIBUIÇÕES DE LURIA À NEUROPSICOLOGIA
Os estudos de Luria foram essenciais na definição de várias funções cognitivas. No próximo módulo, vamos nos aprofundar em algumas delas, mas, agora, é importante ter clareza
sobre suas características no contexto de nosso estudo. Vamos a elas: as funções cognitivas!
Fonte: user18526052 / Freepik.
ATENÇÃO
É uma função cognitiva complexa, relacionada com a capacidade que o sujeito possui de manter o foco em determinado estilo proveniente do meio. Podemos dividir esta função em
pelo menos seis tipos: atenção voluntária ou seletiva, involuntária, flutuante ou dividida, concentrada, sustentada e alternada. Essa divisão não é consenso e difere de uma
pesquisa para outra.
Fonte: freepik / Freepik.
MEMÓRIA
Outra função cognitiva complexa, porque envolve a integração de diferentes regiões do cérebro responsáveis pela captação, pelo processamento, pelo armazenamento e pela
evocação da informação. A permanência de uma informação na memória depende de uma série de fatores: emoção associada, motivação etc. Esta função cognitiva também pode ser
dividida em memória operacional, memória de curto prazo ou de trabalho e memória de longo prazo.
Fonte: freepik / Freepik.
FUNÇÃO TÁTIL-CINESTÉSICA
Está diretamente relacionada com elementos que permitem o reconhecimento de objetos por forma e tamanho, sem utilização da visão.
Fonte: master1305 / Freepik.
FUNÇÕES MOTORAS
Elas estão diretamente relacionadas com a motricidade, as praxias, a capacidade de se locomover de maneira voluntária.
Fonte: freepik / Freepik.
ORIENTAÇÃO
Capacidade que o ser humano possui de desenvolver diversas ações cotidianas, como dirigir, no caso da orientação espacial, ou se posicionar em relação ao espaço de acordo com
seu corpo, como no caso da propriocepção.
Fonte: freepik / Freepik.
LINGUAGEM
Faculdade mental superior responsável pelo processo de comunicação em sociedade.
Fonte: freepik / Freepik.
RACIOCÍNIO
Compreende nossa habilidade de combinar pensamento com estratégias para chegar a alguma conclusão.
Fonte: freepik / Freepik.
JULGAMENTO
Tem relação direta com nossa capacidade de tomar decisões diante de determinada situação.
Luria também descreveu o cérebro como um conjunto de estruturas dividido em três unidades funcionais. Veremos agora quais são essas três unidades:
PRIMEIRA UNIDADE
Esta unidade regula o tônus cortical e a vigília. As estruturas anatômicas aqui responsáveis são: a medula, o tronco cerebral, o cerebelo, o sistema límbico e o tálamo.
SISTEMA LÍMBICO
Estrutura do cérebro responsável pelo controle e pela organização das emoções, bem como pela produção de sensações vinculadas aos processos emotivos. Tem relação
direta com a estabilidade ou o desequilíbrio de nosso estado emocional.
SEGUNDA UNIDADE
Ela regula o recebimento e o processamento das informações, bem como seu armazenamento. É composta pelos:
Lobos parietais: somatossensoriais;
Lobos occipitais: áreas visuais;
Lobos temporais: áreas auditivas.
TERCEIRA UNIDADE
Esta unidade programa, regula e verifica a atividade mental e sua conexão com o comportamento. As regiões que correspondem a essa unidade funcional são as anteriores do giro
pré-central dos hemisférios cerebrais, que compreendem o córtex motor, pré-motor e pré-frontal.
A compreensão dessas áreas funcionais é essencial para entendermos os problemas de aprendizagem apresentados por um aluno. Anormalidades em qualquer dessas unidades
pode resultar em diferentes problemas de aprendizagem relacionados à atenção, à memória, à dificuldade para decodificar textos ou mesmo compreender e organizar tarefas. De
acordo com essa perspectiva, o comportamento como resposta a determinada situação é produto da integração funcional de diferentes sistemas compostos por várias áreas do
cérebro. Este, por sua vez, coordena um número limitado de áreas corticais quando produz um comportamento específico.
APLICAÇÃO DA NEUROPSICOLOGIA NO CONTEXTO EDUCACIONAL
A Neuropsicologia busca compreender as relações entre as funções psicológicas superiores e os processos neurais. O foco aqui são as inúmeras possibilidades de avaliação e
intervenção em diferentes níveis como forma de auxiliar o desenvolvimento de alunos com ou sem algum tipo de lesão cerebral.
O cérebro humano funciona em uma sequência ordenada e sistemática de desenvolvimento, que vai do nível estrutural ao funcional. Esse processo tem como produto diversas
mudanças cognitivas e comportamentais.
Fonte: freepik / Freepik
 Neuropsicologia
As informações oriundas do campo da Neuropsicologia e sua aplicação ao campo da Educação têm como estrutura fundamental a noção de que é possível sustentar uma visão sobre
os processos de ensino e aprendizagem tendo como base conhecimentos comprovados sobre o funcionamento do cérebro.
A Neuropsicologia traz uma nova visão acerca das teorias de aprendizagem clássicas e permite que educadores possam comparar e expandir seu ponto de vista sobre o processo de
aprendizagem. A abordagem neurocientífica possibilita um olhar sistêmico e integrado, relacionando, de forma direta, conceitos como inteligência, emoção, comportamento e
ambientes de aprendizagem com as dimensões física, cognitiva e psicossocial do desenvolvimento.
As emoções humanas e sua relação com o processo de aprendizagem é um tema importante no campo da Neuropsicologia. Afinal, sem emoção não há aprendizagem. Para que a
aprendizagem acorra de maneira eficiente, são necessárias associações com estados emocionais.
A mesma afirmação pode ser referida à memória. Quanto maior for a qualidade da emoção associada ao que foi aprendido, maior será a probabilidade de fixação e posterior
evocação da informação.
Compreender os fundamentos da Neuropsicologia significa, portanto, inserir o processo educacional numa abordagem que vê o desenvolvimento humano como um processo
evolutivo e maturacional intimamente vinculado a determinadas fases e numa sequência ordenada.
APRENDIZAGEM
Aprender é uma condição natural do ser humano. Desde o processode gestação, somos levados a desenvolver nossa estrutura anatômica, fisiológica e psicológica para lidar com as
situações do cotidiano. Nossa sobrevivência depende disso. O termo aprendizagem pode ser encontrado na literatura como tema de pesquisa de diversas linhas e já passou por
inúmeras modificações ao longo do século XX.
Ao estudarmos sobre a forma como os seres humanos transformam suas experiências em respostas comportamentais que auxiliam na sua sobrevivência, também nos deparamos
com a questão da não aprendizagem. Atualmente, muitos autores procuram separar os sujeitos que não aprendem em pelo menos dois grupos, veja quais são:
1
Fonte: Andrew Angelov / shutterstock
Aqueles que têm dificuldade para aprender por questões externas, como a metodologia do professor, a relação com os colegas, a falta de técnica adequada, as condições
socioeconômicas, entre outros fatores.
Aqueles que têm dificuldade para aprender por questões neurológicas, geralmente inatas ou provocadas por lesões.
2
Muitas pessoas já se fizeram este questionamento: Porque alguns alunos não conseguem aprender determinado conteúdo ou desenvolver certa habilidade?
Este fato deve ser investigado com cuidado e a neurociência tem contribuído de maneira significativa para auxiliar profissionais de educação e saúde na compreensão dos problemas
de aprendizagem. Muitos profissionais que lidam há décadas com alunos com dificuldades de aprendizagem sabem que, por trás de cada sujeito, há um cérebro com um ritmo próprio
e um estilo cognitivo muito particular, que precisa ser levado em consideração, na medida do possível, quando o professor desenvolve seu planejamento curricular.
 COMENTÁRIO
Sabemos que a aprendizagem como processo complexo não se resume ao mero armazenamento de
informações. É necessário o desenvolvimento da capacidade para processar e transformar o pensamento em
comportamento em prol de nossa sobrevivência.
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
Por dificuldades de aprendizagem, compreendemos as que têm origem externa ao sujeito, ou seja, que não são fruto de lesão em alguma área cortical nem de problema genético. Na
tabela abaixo listamos algumas características das dificuldades de aprendizagem, confira:
CARACTERÍSTICAS DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
O desempenho pode ser abaixo da capacidade cognitiva do sujeito.
As dificuldades podem apresentar-se maiores do que as geralmente enfrentadas pelos colegas de classe, pois são mais resistentes ao esforço pessoal e dos professores em
suas práticas. Neste caso, podem levar a uma autoestima negativa.
Há a possibilidade de os profissionais estabelecerem um diagnóstico mais facilmente e, assim, evitar problemas no futuro. 
Geralmente as dificuldades são passageiras e podem ser evitadas, modificando-se determinados aspectos da cultura escolar ou da rotina da família ou do aluno.
TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM
Os transtornos de aprendizagem afetam diretamente as atividades acadêmicas, porém com sintomas provenientes de alguma anomalia na organização das estruturas neurais.
Diferentemente das dificuldades, os transtornos de aprendizagem não são transitórios. Neste caso, o papel dos profissionais de saúde e educação é melhorar a qualidade de vida
dessas pessoas, minimizando os prejuízos causados pela anomalia, para que tenham uma vida acadêmica eficiente.
Mas quais são os sintomas que sinalizam a possibilidade de um transtorno de aprendizagem?
Entre eles, podemos destacar os problemas para:
SINTOMAS SINALIZANTES DE TRANSTORNO DE APRENDIZAGEM
1. Ler as palavras de forma precisa ou realizar uma leitura mais dinâmica — a pessoa parece muito
lenta, aquém do potencial de desenvolvimento.
4. Expressar-se na escrita.
2. Compreender o texto lido — a pessoa lê, mas não consegue interpretar o que leu.
5. Dominar a leitura, a interpretação e a manipulação de
números ou símbolos matemáticos.
3. Escrever corretamente, adicionando ou omitindo letras e fonemas. 6. Raciocinar.
Para serem avaliados, esses sintomas precisam ser recorrentes por, pelo menos, seis meses. Também é preciso descartar outras causas externas que possam favorecer problemas
cognitivos ou emocionais. Além disso, as habilidades acadêmicas afetadas devem ser consideradas quantitativa e qualitativamente abaixo do esperado, tendo em vista a idade
cronológica do aluno. E o mais importante: a avaliação deve ser realizada com testes padronizados e por uma equipe multidisciplinar, composta de profissionais de saúde e
educação, a fim de que o processo seja o mais amplo possível. Considerando os avanços recentes no campo das neurociências, podemos estabelecer alguns princípios para o
desenvolvimento de estratégias que ajudem a minimizar os transtornos de aprendizagem (ROTTA, 2016):
PRIMEIRO PRINCÍPIO
A aprendizagem é um processo social. A construção de um ambiente de aprendizagem positivo favorece a interligação entre estruturas que são responsáveis pelo processamento da
informação, bem como pelo armazenamento e pelo controle das emoções, permitindo uma aprendizagem mais eficiente.
SEGUNDO PRINCÍPIO
O cérebro responde as informações capturadas pelos órgãos dos sentidos. Propiciar momentos em que os alunos possam construir seu conhecimento com estratégias lúdicas
favorece a fixação de informação de maneira mais ampla.
TERCEIRO PRINCÍPIO
Ao contrário do que a literatura acreditava há décadas, aprendemos a vida toda. É necessário estudar os períodos sensíveis, os marcos de desenvolvimento ou, ainda, as janelas de
oportunidade. Porém, com o passar do tempo, nossa capacidade adaptativa parece diminuir. É mais fácil aprender um novo idioma quando se é criança em relação a determinado
período da idade adulta.
JANELAS DE OPORTUNIDADE
Períodos em que o cérebro humano está mais propenso a aprender determinadas habilidades.
QUARTO PRINCÍPIO
O cérebro humano percebe padrões enquanto testa hipóteses. Promover atividades que possam incentivar essa possibilidade aumenta a ativação de áreas corticais responsáveis por
inúmeras tarefas, gerando neuroplasticidade e modificando aos poucos a estrutura e a fisiologia do cérebro com base na experiência. Assim, quanto mais qualitativa for a experiência
acadêmica em termos de conexão com a realidade do aluno, mais áreas do cérebro serão ativadas e mais conexões serão estabelecidas.
Vamos agora conceituar os dois principais transtornos de aprendizagem encontrados no ambiente escolar: dislexia e discalculia.
DISLEXIA
É um transtorno de aprendizagem relacionado à leitura que também afeta a escrita. A dislexia pode ser mais facilmente detectada a partir do processo de alfabetização. Um dos
principais sintomas observados neste período é a dificuldade para soletrar letras.
Um leitor competente é aquele que usa as rotas lexical e fonológica como forma de processar o texto (ROTTA, 2018). Podemos distinguir, ainda, dois tipos de dislexia: a dislexia
fonológica, que atinge a maioria das pessoas com este transtorno, e a dislexia semântica.
Estudos realizados nas décadas de 2000 e 2010 mostram algumas particularidades no cérebro do disléxico. Sabemos que o cérebro normal responde aos estímulos do meio, porém
parece que a resposta do disléxico é mais lenta. Há pouca ativação de caminhos na parte posterior do lado esquerdo do cérebro. Uma das consequências disso é que o cérebro tem
problema para associar som e imagem, dificultando a leitura.
Também constatamos que o cérebro do disléxico tem dificuldade de conectar as áreas de associação visual com as áreas de linguagem, em especial as de Broca e Wernicke.
Não há comprometimento físico na dislexia, e o transtorno contradiz todas as expectativas em relação à criança. É necessário que pais e profissionais compreendam a importância do
diagnóstico precoce para minimizar danos no futuro.
ROTA LEXICAL
A rota lexical (leitura por localização) é utilizada para a leitura de palavras familiares, armazenadas na memória por conta da experiência de repetição da leitura. Ao reconhecer
a palavra, o cérebro aciona o sistema semântico.Esse movimento permite compreender seu significado, possibilitando produzir a pronúncia pelo sistema de produção
fonológica.
ROTA FONOLÓGICA
A rota fonológica (leitura por associação) é utilizada para a leitura de palavras pouco frequentes ou desconhecidas. Para ler essas palavras, o cérebro as divide em unidades
menores (grafemos e morfemas). Depois, associa essas unidades ao som correspondente. Em seguida, realiza a junção de som e imagem, produzindo a pronúncia da palavra.
DISCALCULIA
Vem a ser um transtorno específico de aprendizagem relacionado ao desenvolvimento de habilidades necessárias em várias situações que envolvem o uso de operações
matemáticas. De acordo com a literatura atual, podemos identificar seis tipos de discalculia. São eles:
Discalculia verbal: problema para nomear quantidades matemáticas;
Discalculia practognóstica: problema para enumerar, comparar, manipular objetos reais ou imagens matemáticas;
Discalculia léxica: problema na leitura de símbolos matemáticos;
Discalculia gráfica: problema com a escrita de símbolos matemáticos;
Discalculia ideognóstica: problema com a compreensão de conceitos ou com a realização de operações mentais;
Discalculia operacional: problema para realizar cálculos numéricos.
Como todo transtorno de aprendizagem, o diagnóstico e a intervenção necessitam de uma equipe multidisciplinar que possa auxiliar na redução dos danos futuros, interferindo na
jornada acadêmica e sempre visando à melhoria da qualidade de vida do indivíduo. Os transtornos relacionados à leitura, à escrita e a operações matemáticas são os que mais
preocupam os profissionais de educação.
Neste vídeo, iremos conhecer um pouco mais sobre Transtornos de aprendizagem. Será enriquecedor, portanto, aperte o play!
APRENDIZAGEM COMO PROCESSO DE INTEGRAÇÃO CEREBRAL
A aprendizagem é um processo integrativo. A construção e a compreensão da realidade são produtos dessa integração entre a mente e o corpo. Como ferramenta de organização das
ideias e de comunicação, o processo de desenvolvimento e de aquisição da linguagem implica o envolvimento de diversas estruturas cerebrais. Áreas de processamento visuais
altamente especializadas trocam informações com outras áreas responsáveis pela decodificação e contextualização. Associamos som, imagem e movimento para formar um nexo
organizado em nossas mentes. Em resumo: O mundo interno se conecta com o mundo externo para que possa haver, efetivamente, aprendizagem.
Trabalhar com alunos que não conseguem aprender exige uma visão integrada do potencial humano. Não podemos nos concentrar apenas no trabalho realizado nos processos
cognitivos. É importante, também, focar no desenvolvimento afetivo construindo vínculos positivos que fortaleçam a estima do sujeito. As intervenções precisam considerar um
trabalho integrado que envolva o desenvolvimento das funções motoras, cognitivas e psicossociais.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. OS ESTUDOS DE LURIA CLASSIFICARAM VÁRIAS FUNÇÕES COGNITIVAS QUE AJUDAM A IDENTIFICAR AS DIFICULDADES DE
APRENDIZAGEM. ENTRE ELAS, PODEMOS DESTACAR A LINGUAGEM, O RACIOCÍNIO E O JULGAMENTO. SOBRE ESSAS FUNÇÕES,
ESPECIFICAMENTE, PODEMOS AFIRMAR QUE:
I – ENTENDEMOS LINGUAGEM COMO UMA FACULDADE MENTAL QUE PERMITE A COMUNICAÇÃO ENTRE INDIVÍDUOS SOCIAL.
II – PODEMOS DEFINIR JULGAMENTO COMO A CAPACIDADE DE, TENDO COMO OBJETIVO CHEGAR A UMA CONCLUSÃO FRENTE A
DETERMINADO PROBLEMA, ARTICULAR PENSAMENTO E ESTRATÉGIAS.
III – CHAMAMOS RACIOCÍNIO A HABILIDADE QUE TEMOS DE, FRENTE A QUESTÕES QUE NOS É IMPOSTA, TOMAR DETERMINADA
DECISÃO.
DAS AFIRMAÇÕES ANTERIORES, PODEMOS CLASSIFICAR COMO VERDADEIRA(S):
A) Somente a I
B) Somente a II
C) Somente a III
D) I e II
2. EM RELAÇÃO AOS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM, É CORRETO AFIRMAR QUE:
A) A dislexia é uma condição passageira.
B) Crianças com esses transtornos precisam de turmas especiais para dar conta das tarefas escolares.
C) Com tratamento adequado, a discalculia desaparece quando o sujeito entra na fase adulta.
D) Os principais transtornos encontrados no ambiente escolar estão relacionados aos problemas de compreensão da linguagem e das operações matemáticas.
GABARITO
1. Os estudos de Luria classificaram várias funções cognitivas que ajudam a identificar as dificuldades de aprendizagem. Entre elas, podemos destacar a linguagem, o
raciocínio e o julgamento. Sobre essas funções, especificamente, podemos afirmar que:
I – Entendemos Linguagem como uma faculdade mental que permite a comunicação entre indivíduos social.
II – Podemos definir Julgamento como a capacidade de, tendo como objetivo chegar a uma conclusão frente a determinado problema, articular pensamento e estratégias.
III – Chamamos Raciocínio a habilidade que temos de, frente a questões que nos é imposta, tomar determinada decisão.
Das afirmações anteriores, podemos classificar como verdadeira(s):
A alternativa "A " está correta.
A afirmativas II e III aparecem invertidas. Afinal, de acordo com Luria, o raciocínio deve ser entendido como a capacidade mental de estruturar o pensamento com vistas a um fim,
chegando, assim, a uma conclusão. Já o julgamento está relacionado à escolha, na forma de decisão, diante de situações que nos são apresentadas.
2. Em relação aos transtornos de aprendizagem, é correto afirmar que:
A alternativa "D " está correta.
Os transtornos de aprendizagem são condições inatas (que nascem com a pessoa) e não têm cura, embora, com intervenções adequadas, possamos minimizar os problemas
apresentados pelos alunos. Os transtornos específicos mais comuns são aqueles relacionados às competências leitoras e a operações matemáticas.
MÓDULO 2
 Reconhecer a relação entre o conceito de inteligência e o desenvolvimento da leitura e do raciocínio lógico em um contexto de ambiente escolar neurologicamente
coerente
INTELIGÊNCIA
Não é fácil definir o conceito de inteligência. Ao estudarmos a história da ciência cognitiva de 1940 a 2020, é possível identificar mais de 70 conceitos, cujas características variam não
apenas no tempo, mas também de acordo com diferentes fatores sociais relacionados à diversidade cultural dos países (PASQUALI, 2019).
Pesquisas mais recentes enfatizam o papel da aprendizagem, da cultura e da metacognição no desenvolvimento deste conceito (ROTTA, 2018). O conceito de inteligência gerou
uma infinidade de estudos e debates na comunidade científica nas últimas décadas, mas é possível encontrar, pelo menos, três elementos comuns presentes em todos eles:
METACOGNIÇÃO
Capacidade do indivíduo de identificar e acompanhar seu próprio processo cognitivo, especificamente na aprendizagem. Embora este seja um conceito relativamente novo no
âmbito educacional, tem sua fonte na filosofia clássica. Aristóteles, por exemplo, em sua obra Peri Psique (ou De Anima, na versão em latim), apresenta os processos de como
ocorre o conhecimento na mente.
1. O desenvolvimento da inteligência depende da habilidade de nos adaptarmos a diferentes situações sociais.

2. A inteligência está associada à habilidade do sujeito em ter êxito ou algum tipo de ganho (físico, cognitivo ou emocional) em relação a um objetivo pretendido.

3. A inteligência está diretamente vinculada à interação do sujeito com seu meio.
Nesse contexto, podemos “arriscar um conceito” de inteligência como a capacidade de aprender com a experiência de vida, com o auxílio de processos metacognitivos,
favorecendo uma aprendizagem mais eficiente e ampliando nossa capacidade de adaptação a novos cenários.
Percebemos que o desenvolvimento da inteligência é mais uma questão de estimulação e treinamento do que uma questão de dom inato, como geralmente é reconhecido pelo senso
comum. É importante salientar que ser inteligente vai muito além de saber ler, escrever e fazer contas. Culturas e contextos diversos podem exigir diferentes habilidades de
adaptação.
Um breve olhar em bases de dados acadêmicas em diferentes contextos nos mostra que o conceito de inteligência já esteve associado a diferentes pesquisasque relacionavam
inteligência a noções como gênero, estrutura escolar, capital cultural, alimentação, aspectos socioeconômicos etc. Atualmente, esse conceito é mais amplo, e não mais associado
apenas à capacidade de raciocínio lógico, à leitura e à interpretação de textos.
Fonte: prostooleh / Freepik
 A inteligência se desenvolve por estimulação e treinamento
Como aqui o foco é a relação entre o conceito de inteligência e o processamento da leitura e do cálculo, não vamos explorar outros elementos. Entretanto, é necessário deixar claro
— e por isso repetimos — que, na atualidade, o conceito de inteligência vai muito além do que a decodificação de letras e números para a resolução de determinados problemas.
INTELIGÊNCIA E LEITURA
DE MANEIRA GERAL, A FUNÇÃO ESSENCIAL DO CÉREBRO, COMO PARTE DO SISTEMA NERVOSO
CENTRAL, É DIRECIONAR A REGULAÇÃO DE GRANDE PARTE DAS FUNÇÕES CORPORAIS E MENTAIS.
(LENT, 2019)
É necessário distinguir aqui dois tipos de funções: as cognitivas e as executivas. Elas merecem maior aprofundamento em razão de sua importância para a neurociência cognitiva.
Porém, no contexto de nosso estudo, basta destacar o seguinte:
FUNÇÕES COGNITIVAS
Por meio destas funções, compreendemos os processos mentais que nos permitem ações como recepção, seleção, armazenamento, processamento, organização e recuperação de
informações que possibilitam nossa sobrevivência e adaptação a diferentes situações sociais.
FUNÇÕES EXECUTIVAS
São funções mais complexas, responsáveis pela memória operacional e pelo planejamento de ações. Elas também são responsáveis pelo raciocínio, pela abstração e pela inibição de
comportamentos indesejáveis.
Investigações no campo das ciências cognitivas demonstram que o desenvolvimento da faculdade mental da linguagem no cérebro envolve um conjunto de áreas que atuam em um
ritmo complexo, ao mesmo tempo seriado e paralelo. As pesquisas dos anos 1980 a 2020 sobre a aprendizagem da leitura apontam que este processo não é tão fácil quanto
acreditávamos. Tanto que é possível encontrar pessoas adultas alfabetizadas, mas que podem não conseguir compreender os rudimentos da língua.
 VOCÊ SABIA
Nosso cérebro parece altamente adaptado a uma prática que foi inventada há menos de 6.000 anos, este
fato é interessante – e, devemos reconhecer, maravilhoso ao mesmo tempo. Parece muito tempo, mas, em
termos biológicos, nosso genoma ainda não teve o tempo necessário para desenvolver circuitos cerebrais
inatos próprios à leitura.
Nada na evolução humana nos preparou para receber informações linguísticas a partir do uso do sentido
visual. A leitura é um dos exemplos de atividades culturais criadas pelos seres humanos ao longo dos últimos
milênios.
Uma das questões mais interessantes no que se refere à aprendizagem de leitura é que o ser humano
precisa adaptar seu cérebro para compreender e representar o mundo à sua volta a partir da leitura e do
raciocínio lógico.
A aprendizagem depende do desenvolvimento de uma estrutura cerebral adequada. Afinal, o cérebro reage de maneira plástica aos estímulos do meio e às atividades propostas no
ambiente escolar. Estímulos provenientes do meio levam o cérebro a desenvolver novas sinapses, possibilitando o sujeito a estabelecer novas conexões entre objetos de
conhecimento (leitura ou escrita) em diferentes contextos (CHAVES, 2017). Sabemos que a estrutura cerebral sofre modificações constantes pelas inúmeras estimulações às quais o
corpo é submetido em diferentes situações sociais. Como o funcionamento intelectual não possui uma localização específica, a inteligência, dessa forma, é produto do funcionamento
de sistemas cerebrais interconectados.
Estudos recentes da imagem cerebral, relacionados à organização cerebral dos circuitos de linguagem, demonstram que nosso cérebro tem uma capacidade limitada em relação à
neuroplasticidade, pelo menos no que se refere à linguagem (DAHAENE, 2012).
Esse pressuposto quebra o mito de um cérebro infinitamente maleável quanto à aprendizagem da língua. E não importa se estamos falando da língua portuguesa ou japonesa. O
circuito de linguagem é o mesmo, independentemente da cultura. Hoje utilizamos o modelo de reciclagem neuronal. Consideramos que nossa arquitetura neuronal é estreitamente
enquadrada por limites genéticos. Dessa forma, podemos afirmar que nosso cérebro não é uma tábula rasa, onde podemos acumular experiências oriundas de nossas interações
sociais.
Nosso cérebro é um órgão estruturado em bases genéticas milenares que se adaptam aos estímulos a cada geração. Um bom exemplo disso pode ser encontrado em nossa relação
com as tecnologias. Há poucas décadas, não tínhamos internet, cinema 3D, livros digitais, realidade aumentada.
Então, há diferenças entre o cérebro anterior a esses avanços tecnológicos e o de hoje?
De acordo com algumas pesquisas, em termos genéticos, praticamente nenhuma. A grande diferença está em nossa capacidade de adaptação às tecnologias de nosso tempo. De
1980 a 2020, a ciência cognitiva procurou compreender quais são os mecanismos neurais que envolvem o desenvolvimento de estruturas e permitem ao cérebro humano ler e
interpretar os diferentes signos.
freepik / Freepik
 Processo de leitura
Diante de tudo o que já estudamos, cabe aqui a seguinte pergunta: Como ocorre o processo de leitura?
A leitura começa no olho a partir do contato visual. Diferentes regiões do cérebro estão encarregadas de decodificar os distintos estímulos visuais, como cor, forma e profundidade.
Associamos estas imagens com os sons e o movimento das letras. Então, para ler uma simples palavra, é necessário um trabalho complexo que envolve a integração de som,
imagem e movimento, além de regiões do cérebro responsáveis pela associação de emoções. Em seguida diferentes áreas do córtex cerebral que são responsáveis por distintas
etapas do processo de leitura, são ativadas, garantindo a coordenação entre:
A chegada dos impulsos sensoriais.

A decodificação desses impulsos.

Por fim ocorre a associação até que haja uma resposta motora
A esse processo de leitura, chamamos de funções nervosas superiores, desempenhadas pelo córtex cerebral.
Mais uma vez, é bom ter clareza de que este é um assunto complexo e que merece aprofundamento. Porém, nas perspectivas de nosso estudo, apresentaremos as funções nervosas
segundo cada parte do cérebro, veja a seguir:
Assim, a interpretação de textos está associada a dois processos: o acesso lexical e a integração de significados de acordo a informação textual. O cérebro possui áreas
específicas para captação visual, decodificação, processamento de contexto, entre outras funções. A compreensão dos processos relacionados ao desenvolvimento funcional das
diferentes regiões anatômicas do cérebro com a leitura e a interpretação de textos, assim como sua organização cognitiva, pode auxiliar diretamente nas práticas de formação de
leitores desenvolvidas nas instituições escolares. Ainda há muito a ser estudado em ciência cognitiva, mas um dos consensos que podemos destacar em relação aos diferentes
modelos sobre como realizamos o ato de ler é que este depende de processos perceptivos, cognitivos e linguísticos.
INTELIGÊNCIA E MATEMÁTICA
Tanto no processamento neural da leitura quanto no cálculo, várias áreas e diversos mecanismos cognitivos são envolvidos de maneira complexa. Mesmo nas operações
matemáticas mais simples, é possível identificar vários mecanismos cognitivos em atividade, tais como:
MECANISMOS COGNITIVOS
Processamento verbal e gráfico.
Percepção.
Reconhecimento e representação de números e símbolos.
Memória.
Discriminação visuoespacial.
Raciocínio.
Atenção.
Pesquisas com animais demonstram que, embora em menor grau de complexidade, as habilidades matemáticas não são exclusivas dos seres humanos. Mas, diferente das
habilidades de leitura, as matemáticas são inatas. Diversas investigações constatam que algumas capacidades, como a habilidade para quantificar e distinguir, podem ser
encontradas em criançascom meses de idade. Estudos de Jean Piaget demonstram que as habilidades matemáticas são desenvolvidas a partir de algumas funções cerebrais, como
memória de curto e longo prazos, orientação espacial e raciocínio lógico.
JEAN PIAGET (1896-1980)
Pai do construtivismo, teoria segundo a qual o estudante – no caso, a criança – traz consigo informações fundamentais para seu próprio desenvolvimento cognitivo a partir
das relações com o ambiente externo. No construtivismo, a vivência e o processo de construção que o aluno faz inter-relacionando os diversos conceitos é o que o leva à
aprendizagem.
Fonte: Universidade de Michigan / Wikimedia
 Jean Piaget
Pesquisas mais recentes com neuroimagem comprovam que seres humanos possuem áreas específicas para aprendizagem da matemática. Muitos casos vinculados às dificuldades
de aprendizagem da matemática demonstram que estas, em especial, têm uma relação muito maior com questões socioemocionais e pedagógicas do que com questões
neurológicas.
De 1970 a 2020, a ciência cognitiva avançou consideravelmente em relação aos estudos sobre a construção numérica e determinadas operações matemáticas no cérebro. Esses
estudos chegaram às seguintes conclusões:
Font: Anasta_Rass / Shutterstock
Entre o final do primeiro ano de vida e o início do segundo, a criança tem o potencial necessário para discriminar sequências numéricas crescentes e decrescentes.
Font: greenland / Shutterstock
Por volta dos dois anos de vida, a criança pode realizar correspondência um a um com tarefas compartilhadas.
CORRESPONDÊNCIA UM A UM
Capacidade da criança de perceber, por exemplo, que, da mesma forma que sua mãe coloca um sapato em cada um dos pés, ela pode realizar a mesma ação, mas com seus
próprios sapatos.
Font: freepik / Freepik
Aos três anos de idade, a criança pode contar um pequeno número de objetos.
Flamingo Images / Shutterstock
Entre o quarto e o quinto ano, a criança tem potencial para usar os dedos, a fim de contar e somar pequenos números.
Font: pvproductions / Freepik
Aos seis anos, a criança pode apresentar conservação de conceitos numéricos.
Sergey Nivens / Shutterstock
Aos sete anos, a memória da criança permite que ela se lembre de alguns fatos numéricos
pressfoto / Freepik
Depois dos 11 anos de idade, aproximadamente, a criança/o jovem desenvolve o pensamento abstrato, que será muito importante para a realização de várias operações
matemáticas.
Outra questão interessante em relação aos estudos oriundos das ciências cognitivas é a afirmação de que os sistemas de alfabetização e construção numérica apresentam conexões
à leitura da escrita. A leitura numérica está subordinada a processos semelhantes do circuito de alfabetização.
Várias áreas cerebrais participam no desenvolvimento do raciocínio lógico:
Áreas de processamento visual;
Processamento espacial;
Linguagem;
Memória;
Sequenciação;
Noção de espaço e volume;
Planejamento de ações; e
Conceituação abstrata.
Neste caso, um dos princípios da compreensão biopsicogenética do ser humano é conceber a aprendizagem como uma mudança de comportamento, produto da experiência não de
uma região específica, mas de várias que envolvem um processamento complexo da informação de aspectos sensoriais, neurológicos e psicológicos. E aqui também vale a seguinte
afirmação:
Aprendizagem e emoção caminham juntas.
Estudos recentes demonstram que muitas dificuldades de aprendizagem referentes ao desenvolvimento da matemática estão relacionadas a práticas pedagógicas que não favorecem
um clima positivo para a aprendizagem desses conceitos. Quanto mais próximos da realidade do aluno, maiores são as chances de compreensão e fixação de conteúdos aos
esquemas mentais do aluno. Afinal, uma abordagem lúdica favorece o desenvolvimento das operações mentais.
É necessário modificar uma visão muito presente no senso comum de que não aprendemos matemática por não termos o dom. Neste exato momento, muitos professores em
diferentes realidades educacionais estão aceitando o desafio de tentar desmitificar essa visão com o uso de metodologias de ensino mais lúdicas e contextualizadas à realidade de
seus alunos. Emoções negativas em relação ao objeto de estudo estão entre os fatores que podem, de alguma forma, prejudicar a aprendizagem do aluno. Portanto, é necessário
criar um clima agradável se queremos auxiliar no desenvolvimento das funções e estruturas corticais responsáveis pela aprendizagem do raciocínio lógico.
EDUCAÇÃO E NEUROCIÊNCIAS
De todos as atividades humanas, talvez a mais interdisciplinar seja a educação, compreendida como um processo de formação mediado por inúmeros sujeitos e instrumentos ao
longo da socialização. Entre as possíveis disciplinas que estabelecem vínculos com os processos de ensino e aprendizagem formais, aos quais recorremos na atualidade, sem
dúvida, as neurociências estão entre as que mais auxiliam educadores e alunos.
O avanço dos estudos sobre o cérebro – principalmente o cérebro humano – tem grande impacto social em diferentes áreas de conhecimento. Em especial, os estudos sobre o
funcionamento do cérebro podem auxiliar gestores e professores na construção de ambientes de aprendizagem mais eficientes.
Estabelecer uma ponte entre as ciências da educação e as ciências da saúde é essencial para compreender as relações entre a aprendizagem humana e o funcionamento do
organismo. Diante disto, qual a importância da neurociência no processo de educação? Podemos pontuar o seguinte:
As neurociências auxiliam na valorização de novos papéis a professores e alunos para a construção de um novo ambiente de aprendizagem, marcado pelo foco na aprendizagem do
aluno e tendo o professor como um facilitador do processo. As escolas precisam desenvolver propostas educacionais voltadas à formação de um aluno que constrói conhecimento e
resolve problemas em diferentes áreas a partir de inúmeras estratégias.
As neurociências apresentam uma visão ampla do ser humano baseada no desenvolvimento do cérebro como uma estrutura que processa a informação recebida pelo organismo a
partir de diferentes canais. O ensino diversificado e calcado no desenvolvimento de habilidades é uma de suas metas.
 ATENÇÃO
Introduzir as neurociências no campo educacional não resolve todos os problemas de aprendizagem, porém
pode contribuir para solucionar inúmeros deles, além de mudar os processos de avaliação de alunos. Ao
implementar as neurociências como fundamento para a construção de ambientes de aprendizagem,
podemos, de maneira objetiva, explicar, desenvolver novos modelos e descrever os mecanismos neuronais
que sustentam o desenvolvimento e a aprendizagem em seus atos perceptivos, cognitivos e motores.
AMBIENTE ESCOLAR E NEUROEDUCAÇÃO
Uma das primeiras contribuições da neurociência aplicada à educação é a compreensão de que aprender é muito mais que absorver, de maneira mecânica, as informações que a
escola apresenta ao aluno.
O ato de aprender exige uma rede de operações complexas que envolvem processos neurofisiológicos e neuropsicológicos. Considerando este cenário, um dos papéis essenciais da
escola é contribuir para o desenvolvimento das funções mentais básicas que levem a funções mentais superiores. Pensar dessa forma altera drasticamente o papel de professores,
alunos, pais e gestores e a própria configuração tanto do espaço escolar quanto do currículo praticado nesses ambientes. Muitos são os fatores que podemos considerar do ponto de
vista das neurociências, quando afirmamos que o aprendizado acontece no cérebro. Separamos três fatores que precisam ser levados em consideração neste momento:
O DESENVOLVIMENTO DO APRENDIZ
Desde o século XIX, a ciência moderna oferece subsídios que auxiliam na modelagem de processos educacionais com base em evidências científicas. Ao longo de décadas de
estudo, diferentes fatores foram enfatizados, quando diversas áreas do saber científico tentaram explicar qual é a melhor forma de ensinar as gerações presentes.
Em determinado momento, cientistas acreditaramque algumas habilidades eram inatas. Em outro período, que o professor era a o responsável pelo sucesso do aluno. Nas demais
ocasiões, o ambiente escolar foi identificado como a chave para a aprendizagem do aluno.
Atualmente, entendemos que todos esses fatores influenciam, em maior ou menor escala, o desenvolvimento e a aprendizagem. Quando olhamos para o aluno do ponto de vista das
ciências da saúde, aprendemos que é necessário compreender os diferentes domínios que envolvem o processo de desenvolvimento. Esse domínios são: Domínio físico, domínio
cognitivo e Domínio psicossocial.
Repetimos que os atos de ensinar e aprender são carregados de componentes emocionais do comportamento humano (FONSECA, 2012). A forma como estabelecemos vínculos
com outras pessoas e como lidamos com nossas emoções é fundamental para a aprendizagem. Sem o devido equilíbrio emocional, o processo de aprendizagem pode não acontecer
da melhor maneira.
DOMÍNIO FÍSICO
Aquele que se refere, por exemplo, ao crescimento do corpo, aos marcos do desenvolvimento motor, ao crescimento do cérebro e ao amadurecimento de determinadas
estruturas cerebrais.
DOMÍNIO COGNITIVO
Refere-se ao desenvolvimento dos esquemas mentais, das funções psicológicas superiores, das funções executivas, tais como atenção, memória e linguagem, entre outras
funções diretamente ligadas ao ato de compreender o mundo a nossa volta.
DOMÍNIO PSICOSSOCIAL
Refere-se ao desenvolvimento e ao controle das emoções (bem como à forma com que as usamos em nossas relações com outras pessoas) e à criação de vínculos,
estabelecendo controle da ansiedade e do estresse, por exemplo.
Os três domínios apresentados estão inter-relacionados no processo de desenvolvimento. Não é possível aprender de maneira eficiente sem a integração entre os domínios
físico, cognitivo e psicossocial.
AS ESTRATÉGIAS DO PROFESSOR
As neurociências também demonstram que diferentes alunos possuem distintos estilos de aprendizagem. Esta informação é essencial para professores. Diferentes sujeitos
necessitam de uma diversidade de formas de apresentação do conteúdo para aprender. Por isso, é importante levar em consideração a forma como as relações sociais auxiliam no
desenvolvimento do domínio cognitivo dos alunos.
Todo ser humano precisa de estímulo como combustível para seu desenvolvimento. Podemos observar essa organização nos movimentos, na forma de pensar, nas relações, no
controle das emoções etc.
As neurociências auxiliam o professor a ver o aluno como um ser integral, fruto de um complexo processo de formação humana. Conhecer o funcionamento do cérebro e como este
se desenvolve ao longo de determinado período de tempo auxilia o professor a compreender as possíveis dificuldades de aprendizagem que o aluno pode enfrentar em seu cotidiano.
Se, de um lado, é necessário pensar nas características de quem aprende; do outro, é preciso focar nas características de quem ensina. Um dos grandes erros que muitos gestores
cometem é não considerar a importância da formação continuada de seus professores. Ao pensarmos em ambientes de aprendizagem e práticas pedagógicas, é necessário ter em
mente que o professor é um facilitador da aprendizagem, compreendida como um processo de mudança potencial dos esquemas mentais e do comportamento do aluno.
ESTILOS DE APRENDIZAGEM
Formas preferenciais do sujeito para captar as informações do meio e processá-las a partir da conexão entre diferentes estruturas cerebrais.
A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO
Outro ponto central é a forma como o ambiente físico ou virtual é apresentado aos alunos. É importante que os alunos sejam submetidos a diferentes estímulos ao longo do período
em que frequentam uma instituição de educação formal. Quanto maior for a qualidade e a diversidade das atividades oferecidas, maiores são as chances de o aluno desenvolver uma
plasticidade neural que permita um pensamento mais amplo em relação aos problemas propostos.
Porém diversidade não significa excesso de atividades. É preciso saber dosar entre quantidade e qualidade quando propomos diferentes atividades para os alunos. Nesse mesmo
sentido, pensando exatamente na saúde mental do aluno: é necessário equilibrar o tempo das atividades com intervalos que permitam o descanso necessário entre elas.
Os alunos precisam de um tempo entre uma aula e outra ou de intervalos regulares para organizar o que foi apresentado. A sobrecarga que hoje vemos em alguns sistemas
educacionais pode dificultar a aprendizagem, gerando um clima de ansiedade acima do limite de muitos alunos. Percebemos, portanto, que mais do que possuir um espaço físico
amplamente diversificado, o que é proveitoso para a aprendizagem é sua plena utilização, no contexto da neuroeducação.
Diante do exposto, é possível perceber que as neurociências vieram para auxiliar os profissionais de educação a estabelecer um elo entre diferentes correntes de pensamento, antes
separadas em teorias que valorizavam aspectos isolados do processo de aprendizagem. É preciso conectar as teorias para compreender, de maneira mais ampla, o processo de
ensino e aprendizagem. Nesse sentido, tanto as ciências humanas quanto as ciências da saúde tiveram de rever seus conceitos sobre o processo de aprendizagem, definido como
aquele em que o sujeito busca estratégias para estar e se manter inserido, de maneira saudável, em determinado meio.
O papel da escola é auxiliar no desenvolvimento de competências e habilidades, bem como das estruturas cognitivas, para que o aluno seja capaz de resolver problemas em
diferentes níveis. A introdução de informações acerca da estrutura e do funcionamento do cérebro possibilita um novo olhar em relação à organização do espaço escolar e dos papéis
de professores e alunos.
Neste vídeo, abordaremos mais um pouco a respeito da relação entre o ambiente escolar e a neuroeducação. Vale a pena aprofundar seu conhecimento, para isso aperte o play!
AMBIENTES DE APRENDIZAGEM MAIS EFICIENTES
As tentativas de criar ambientes de aprendizagem centrados em conhecimentos das neurociências ganharam fôlego maior a partir do final da década de 1990 em diferentes países,
como parte da disseminação dos estudos, uma década antes, em áreas como Neuroanatomia, Neurofisiologia e Neuropsicologia (ROTTA, 2016; LENT, 2019). Portanto, cabe
interrogar:
Quais são as etapas necessárias para a construção de um ambiente de aprendizagem com base em fundamentos neurocientíficos?
As neurociências não são utilizadas para criar algo novo, mas para ressignificar o que muitos professores já desenvolvem em seus espaços de atuação. Conceitos como avaliação
diagnóstica, planejamento e feedback ganham novos olhares quando associados às informações de outros campos, em especial o campo das neurociências. Abordaremos agora
esses conceitos, veja abaixo:
AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA
Historicamente, professores utilizam esta ferramenta para avaliar o conhecimento dos alunos antes da introdução de conceitos novos ou no começo de uma nova etapa letiva. Ao
incorporar a neurociência ao conceito de avaliação diagnóstica, acrescentamos informações importantes.
Quando estudam o funcionamento do cérebro, educadores podem avaliar os conhecimentos e as habilidades prévias necessárias ao desenvolvimento de determinadas tarefas. Como
exemplo, podemos verificar os níveis de determinadas funções mentais, físicas e psicossociais.
PLANEJAMENTO
O planejamento das atividades docentes também ganha novos olhares. Da Educação Infantil ao Ensino Superior, sabemos que a diversidade e a complexidade das atividades podem
favorecer o desenvolvimento da neuroplasticidade dos alunos. Diferentes atividades são capazes de beneficiar a construção continuada, o aprimoramento de esquemas e habilidades,
e o desenvolvimento de inteligências múltiplas.
As estratégias que crianças e adultos utilizam para memorizar, conceituar e resolver problemas são inúmeras e dependem, também, de vários fatores. Diversificar as estratégias de
apresentação do conteúdo utilizadas pelos docentesé uma forma de valorizar as diferentes inteligências apresentadas pelos sujeitos.
No planejamento, precisamos incentivar a competência adaptativa dos alunos. Dessa forma, estimulamos a flexibilidade de pensamento para a resolução de problemas.
Compreender a forma como o aluno organiza e processa a informação é tão ou mais importante que saber o resultado correto. São muitos os conceitos que têm relação direta com a
ciência cognitiva, como aprendizagem ativa, aprendizagem centrada no aluno, aprendizagem significativa, metodologias ativas etc.
Quando refletimos sobre o planejamento das ações pedagógicas, é necessário ter em conta a diversidade de formas viáveis para apresentar um conteúdo à turma, considerando as
possibilidades para captação da informação a partir dos diferentes sentidos, como visão, audição e tato.
COMPETÊNCIA ADAPTATIVA
Capacidade de reconhecer que algumas formas de organização do conhecimento são melhores que outras.
FEEDBACK
O feedback representa a participação do aluno no processo de avaliação ao qual determinada atividade está submetida. Isso auxilia sua metacognição. Aqui, um ponto que merece
destaque é a avaliação, entendida e apresentada como um processo transplante àquele que será avaliado. Não é possível pensar em ambientes de aprendizagem com base nas
neurociências e ter a avaliação centrada apenas em uma parte do desenvolvimento, que é a cognitiva.
Historicamente, nosso sistema educacional não auxiliou muitas gerações a compreender a avaliação como uma parte positiva do processo de ensino e aprendizagem. Mesmo na
atualidade, ainda é possível encontrar diferentes realidades em que alunos e professores veem a avaliação com desconfiança.
Se o desenvolvimento é visto como um processo com múltiplos domínios, a avaliação também precisa ser múltipla, diversificada, contínua. Nela, o sujeito tem a possibilidade de
testar suas habilidades físicas, cognitivas e psicossociais.
 ATENÇÃO
Nenhum dos domínios que envolvem o processo de desenvolvimento são superiores. Cada um é importante
nesse processo.
Um ambiente de aprendizagem saudável é aquele preparado para fornecer estímulos que permitam o desenvolvimento de modificações na estrutura cerebral dos alunos, favorecendo
a neuroplasticidade de maneira positiva. Num ambiente sadio há um clima acolhedor. A escola tem de desafiar o aluno, mas também ser um lugar de construção de vínculos positivos.
Fonte: freepik / Freepik
 Legenda da imagem
Outro fator fundamental é a linguagem empregada pelo professor nos processos de ensino e aprendizagem. Cada faixa etária possui um nível de compreensão diferente.
A linguagem pode facilitar ou dificultar a aprendizagem.
Muitos alunos no Ensino Superior apresentam dificuldades de compreensão do conteúdo por não dominarem um capital cultural mínimo que possa estruturar a organização e o
processamento das informações pertinentes a determinada disciplina. Neste momento, é necessário que as instituições de nível superior construam estratégias para auxiliar seus
alunos, como programas de reforço e atendimento psicopedagógico, por exemplo.
Como já vimos anteriormente, as neurociências demonstram que devemos criar situações que possam facilitar o desenvolvimento da aprendizagem não apenas de conteúdo, mas
também de habilidades e funções cognitivas. Retomando as principais funções cognitivas apresentadas no Módulo 1, podemos destacar:

ATENÇÃO
Como vimos, a atenção está relacionada à capacidade que o indivíduo possui de focar a mente em algum aspecto, seja do ambiente, seja de algum conteúdo ou da própria mente, no
caso das estratégias metacognitivas. Sem atenção, não há formação da memória; e sem memória, não há aprendizagem. Quanto maior for a duração de uma atividade, maior será o
risco de dispersão da atenção por parte dos alunos.
MEMÓRIA
Já sabemos que a memória está diretamente relacionada à compreensão e à tomada de decisão em relação ao mundo à nossa volta. Quanto mais forte for a emoção associada a
determinado evento, maiores serão as chances de fixação e evocação do evento.
Atividades lúdicas favorecem o desenvolvimento da memória. Aprender um novo conteúdo é apenas o início do desafio educacional. O grande salto está em desenvolver estratégias
adequadas para fixação e evocação de conteúdos e habilidades.


FUNÇÃO TÁTIL-CINESTÉSICA
Esta função se refere à nossa capacidade de utilizar o tato no reconhecimento de objetos e sensações sem a necessidade da visão. Seu desenvolvimento é uma das bases
essenciais da Educação Infantil, fase em que os professores podem desenvolver atividades as mais lúdicas possíveis, especialmente nos processos de alfabetização.
LINGUAGEM
A função superior da linguagem deve ser compreendida como aquela que permite ao sujeito decodificar, compreender e organizar símbolos e signos verbais e não verbais, a fim de
analisar o mundo à sua volta e de se comunicar de maneira adequada com diferentes grupos sociais.
A linguagem é considerada a função que realmente separa os seres humanos de outros animais. Por isso assume papel de destaque, quando pensamos na criação de ambientes
escolares eficientes (DAHAENE, 2012).

Um ambiente de educação que se baseia nas informações oriundas da ciência cognitiva, em especial das neurociências, deve priorizar a autoria do aluno, a troca de saberes entre
diferentes atores, a avaliação integral, um planejamento adequado aos diferentes estilos de aprendizagem, entre outros fatores, como forma de construção de uma aprendizagem
significativa.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. O CONCEITO DE INTELIGÊNCIA TEM SUSCITADO DEBATES EM DIFERENTES CAMPOS DE PESQUISA NAS ÚLTIMAS DÉCADAS. SOBRE
ESSE CONCEITO, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA:
A) A inteligência é um substrato cortical inato e não passível de mudança pelos meios convencionais.
B) O raciocínio lógico é uma característica dos alunos mais inteligentes.
C) A inteligência não está relacionada às condições socioeconômicas do sujeito.
D) A inteligência está relacionada à nossa capacidade de resolver problemas cotidianos.
2. ATUALMENTE, AS NEUROCIÊNCIAS OCUPAM CERTO DESTAQUE NO CENÁRIO EDUCACIONAL PELAS POSSIBILIDADES IDENTIFICADAS
POR MUITOS PESQUISADORES EM RELAÇÃO À COMPREENSÃO DOS PROCESSOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM. COM BASE NESTA
AFIRMAÇÃO, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA:
A) As neurociências representam uma verdadeira revolução e salvação para os sistemas educacionais.
B) A introdução das neurociências no campo educacional não representa mudanças significativas nesse contexto.
C) Somente psicólogos escolares podem se beneficiar da aplicação das neurociências na escola.
D) As neurociências contribuem para a mudança de olhar em relação ao processo de aprendizagem do aluno.
GABARITO
1. O conceito de inteligência tem suscitado debates em diferentes campos de pesquisa nas últimas décadas. Sobre esse conceito, assinale a alternativa correta:
A alternativa "D " está correta.
Uma das maneiras de conceituar a inteligência é associá-la a um conjunto de operações mentais que nos permite solucionar nossos problemas cotidianos. Ela envolve percepção,
raciocínio, memória, entre outras operações mentais.
2. Atualmente, as neurociências ocupam certo destaque no cenário educacional pelas possibilidades identificadas por muitos pesquisadores em relação à compreensão
dos processos de ensino e aprendizagem. Com base nesta afirmação, assinale a alternativa correta:
A alternativa "D " está correta.
A grande contribuição que as neurociências podem trazer para o campo educacional em geral – e, portanto, não somente para psicólogos que atuam na área – é dar o enfoque
necessário ao processo de aprendizagem. Nesse sentido, ela pode trazer mudanças significativas, como a reestruturação de modelos de avaliação que persistem há décadas. Nem
por isso, pode receber sozinha a responsabilidade e o peso de uma transformação tão profunda na educação.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os conhecimentos oriundos do campo da Neuropsicologia favorecem um olhar interdisciplinardo processo de aprendizagem. Dessa forma, profissionais de educação podem
desenvolver práticas que promovam o desenvolvimento dos alunos com maior eficiência. O grande desafio neste campo hoje é diagnosticar e minimizar os problemas relacionados à
vida acadêmica, para que os indivíduos tenham mais qualidade de vida no futuro.
Como vimos, a neurociência pode auxiliar o professor na elaboração de estratégias de aprendizagem que proporcionem o desenvolvimento da inteligência, da linguagem e do
raciocínio lógico. Aproveitar os conhecimentos oriundos do campo das neurociências contribui para um novo olhar em relação às práticas pedagógicas. Consequentemente, por meio
da compreensão da estrutura e do funcionamento do cérebro, é possível tornar as práticas pedagógicas mais eficientes.
REFERÊNCIAS
CHAVES, A. P. R. A neurobiologia do aprendizado na prática. Brasília: Alumnus, 2017.
DAHAENE, S. Os neurônios da leitura: como a ciência explica nossa capacidade de ler. Porto Alegre: Penso, 2012.
FERGUSON, S. Donald Olding Hebb. [S. l.]: Associação Canadense de Neurociências, [20--].
FONSECA, V. da. Manual de observação psicomotora. Rio de Janeiro: Wak, 2012.
LENT, R. O cérebro aprendiz. Rio de Janeiro: Atheneu, 2019.
METRING, R.; SAMPAIO, S. (orgs.). Neuropsicopedagogia e aprendizagem. Rio de Janeiro: Wak, 2011.
PASQUALI, L. Os processos cognitivos. São Paulo: Vetor, 2019.
PACHALSKA, M.; KACZMAREK, B. L. J. Alexander Romanovich Luria (1902-1977) and the microgenetic approach to the diagnosis and rehabilitation of TBI patients. Acta
Neuropsychologica, v. 10. n. 3, p. 341-369, 2012.
ROTTA, N. T. (org.). Transtornos da aprendizagem: abordagem neurobiológica e multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2016.
ROTTA, N. T. Neurologia e aprendizagem: abordagem multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2018.
RUIZA, M.; FERNÁNDEZ, T.; TAMARO, E. Biografia de Carl Wernicke. En Biografías y Vidas. La enciclopedia biográfica en línea. Barcelona, 2004.
SABBATTINI, R. M. E. A história da psicocirurgia. Paul Pierre Broca: uma breve biografia. Revista Cérebro & Mente, n. 2, jun. 1997.
VELASQUES, B. B.; RIBEIRO, P. Neurociências e aprendizagem. Rio de Janeiro: Rubio, 2014.
EXPLORE+
Pesquise e leia o seguinte artigo: SOUSA, A. M. O. P. de; ALVES, R. R. N. A neurociência na formação dos educadores e sua contribuição no processo de aprendizagem.
Revista Psicopedagogia, v. 34, n. 105, p. 320-331, 2017.
Pesquise os trabalhos do professor Pierluigi Piazzi, cujos vídeos podem ser encontrados em plataformas como YouTube.
Confira a Palestra de Dra. Lara Bloyd, em TEDxVancouver sobe Neuroplasticidade, e veja como alguns pontos de nosso estudo são também apresentados por ela.
Conheça o Canal YouTube da Sociedade Brasileira de Neuropsicologia e aproveite as preciosas contribuições ao tema estudado.
CONTEUDISTA
Marcos Antonio Silva
 CURRÍCULO LATTES
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