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1 
DIREITOS HUMANOS APLICADOS À ATIVIDADE POLICIAL1 
Objetivos da Disciplina 
 Identificar e compreender as fontes, conceitos e princípios do direito 
internacional, particularmente, aqueles relacionados aos direitos humanos, 
bem como sua relação e repercussão no direito interno; 
 Relacionar tais conceitos e princípios com a atividade do profissional de 
segurança pública; 
 Informar-se sobre a origem e o desenvolvimento histórico do Direito 
Internacional dos Direitos Humanos, as vertentes da proteção internacional 
da dignidade da pessoa humana, suas características e seus instrumentos de 
proteção em nível nacional e internacional; 
 Enumerar a conduta e as obrigações dos encarregados da aplicação da lei em 
caso de captura (prisão), relacionando-as com a atividade profissional de 
Segurança Pública; 
 Descrever a conduta correta para com as pessoas detidas, frente ao Direito 
Internacional dos Direitos Humanos (DIDH) e ao Direito Internacional 
Humanitário (DIH), relacionando-a com a atividade profissional de Segurança 
Pública; 
 Identificar as condições exatas para o uso da força e das armas de fogo, 
previstas no direito internacional, relacionando-as com a atividade 
profissional de segurança pública; e 
 Reconhecer as responsabilidades decorrentes das funções operacionais na 
atividade de segurança pública, bem como o papel e a importância dessa 
atividade na promoção e proteção dos direitos humanos. 
O conteúdo está dividido nas seguintes unidades: 
Unidade 1 - Arcabouço jurídico 
Unidade 2 - Premissas básicas na aplicação da lei 
Unidade 3 - Responsabilidades básicas da atividade policial 
Unidade 4 - Poderes básicos na aplicação da lei 
Unidade 5 - Comando, gestão e investigação de violações de direitos humanos. 
 
1 Apostila adaptada do material desenvolvido pela SENASP para o curso EaD Filosofia dos Direitos 
Humanos Aplicada à Atividade Policial. 
2 
UNIDADE 1 – ARCABOUÇO JURÍDICO 
Objetivo da unidade 
Ao final desta unidade, você será capaz de: 
 Conceituar o direito internacional enumerando suas fontes e entender a 
responsabilidade dos Estados no âmbito internacional; 
 Conceituar o Direito Internacional Humanitário, identificar suas principais 
normas, entender seus princípios e explicar os âmbitos de sua aplicação; e 
 Conceituar o Direito Internacional dos Direitos Humanos, explicar suas 
características bem como sua relação com o trabalho policial e identificar os 
principais instrumentos e normas internacionais. 
Esta unidade está dividida nas seguintes aulas: 
Aula 1 – Direito Internacional: conceito, fontes e responsabilidade dos Estados; 
Aula 2 – Direito Internacional Humanitário; 
Aula 3 – Direito Internacional dos Direitos Humanos. 
AULA 1 – DIREITO INTERNACIONAL: CONCEITO, FONTES E RESPONSABILIDADE DOS 
ESTADOS. 
A evolução histórica da proteção dos direitos fundamentais da pessoa humana é 
conquista no sentido de limitar e controlar os abusos cometidos pelo Estado e de suas 
autoridades constituídas em favor da pessoa humana. 
É uma ideia bastante antiga e que nos dias de hoje se cristaliza em forma de tratados 
e instrumentos internacionais, e mesmo de legislação nacional. É nesse contexto que se tem 
feito uso do direito internacional de modo a aprimorar e fortalecer o grau de proteção dos 
direitos consagrados. 
A definição clássica de direito internacional - direito internacional público - consiste 
no corpo de regras que governam as relações entre os Estados, mas compreende também 
normas relacionadas ao funcionamento de instituições ou organizações internacionais, a 
relação entre elas e a relação delas com o Estado e os indivíduos. 
Regula muitos aspectos das relações internacionais e inclui regras sobre os direitos 
territoriais dos Estados (relativas a: terra, mar e espaço aéreo), proteção do meio ambiente, 
comércio internacional, uso da força pelos Estados, o Direito Internacional dos Direitos 
Humanos e o Direito Internacional Humanitário. 
Como ensina Moraes (2000, p. 35), a necessidade primordial de proteção e 
3 
efetividade aos direitos humanos possibilitou em nível internacional, o surgimento de uma 
disciplina autônoma ao direito internacional público, denominada Direito Internacional dos 
Direitos Humanos, cuja finalidade precípua consiste na concretização da plena eficácia dos 
direitos humanos fundamentais, por meio de normas gerais tuteladoras de bens da vida 
primordiais (vida, dignidade, segurança, liberdade, honra, moral, entre outros) e previsão de 
instrumentos políticos e jurídicos de implementação dos mesmos. 
Sendo assim, é possível concluir que o Direito Internacional dos Direitos Humanos é um 
ramo do direito internacional público, criado para proteger a vida, a saúde, e a dignidade dos 
indivíduos. 
FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL 
Melo (2002, p. 113) explica que as fontes do Direito Internacional se constituem dos 
modos pelos quais o Direito se manifesta, isto é, as maneiras pelas quais surge a norma 
jurídica. 
Atualmente, utiliza-se como referência de fonte do Direito Internacional o Artigo 38 
do Estatuto da Corte Internacional de Justiça, estabelecida pela Carta das Nações Unidas 
como o principal órgão judiciário das Nações Unidas: 
A Corte, cuja função é decidir de acordo com o direito internacional as controvérsias 
que lhe forem submetidas, aplicará: 
 As convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que estabeleçam 
regras expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes; 
 O costume internacional, como prova de uma prática geral aceita como 
sendo o direito; 
 Os princípios gerais de direito, reconhecidos pelas nações civilizadas; 
 As decisões judiciárias e a doutrina dos juristas mais qualificados das 
diferentes nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de 
direito. 
A presente disposição não prejudicará a faculdade da Corte de decidir uma questão 
ex aequo et bono2, se as partes com isto concordarem. 
Verifica-se que o costume e os tratados, para os funcionários encarregados da 
aplicação da lei são, sem dúvida, as fontes mais importantes. Apesar disso, é útil mencionar 
brevemente fontes subsidiárias de direito internacional, sem, contudo, entrar em detalhes 
 
2 Expressão latina, comumente empregada na terminologia do direito para exprimir tudo o que se faz ou se 
resolve, "segundo a equidade e o bem". Assim, decidir ou julgar ex aequo et bono, significa decidir ou julgar por 
equidade. 
4 
sobre estas: os princípios gerais do direito reconhecidos pelas nações civilizadas; as decisões 
judiciais de cortes e tribunais internacionais; os ensinamentos dos publicistas mais 
altamente qualificados das várias nações e as resoluções da Assembleia Geral da ONU. 
De acordo com Rover (2005), a importância legal das resoluções da Assembleia Geral 
da ONU é cada vez mais um assunto em debate. No que diz respeito ao funcionamento 
interno da ONU, essas resoluções possuem efeito jurídico pleno. A questão que permanece, 
no entanto, é até que ponto tais resoluções são legalmente obrigatórias aos Estados 
Membros, principalmente àqueles que votaram contra as mesmas. 
Os critérios importantes para se determinar a obrigatoriedade subsistem no grau de 
objetividade que cerca a adoção das resoluções e, ainda mais importante, até que ponto 
uma resolução pode ser considerada a expressão da consciência legal da humanidade 
como um todo. Este último aspecto é ainda mais importante do que a maioria dos Estados 
simplesmente adotar a resolução. As resoluções emanadas da Assembleia Geral estão 
recebendo um apoio cada vez maior por parte de escritores e publicistas como um meio 
subsidiário para se determinar estados de direito. 
RESPONSABILIDADE DOS ESTADOS 
Uma vez que um Estado assume obrigações no âmbito da comunidade internacional, 
por exemplo, assinando e ratificando tratados,convenções e protocolos, muitas vezes isso 
significa que concordou em cumprir suas obrigações de maneira específica (assegurando 
que seu governo, sua constituição e suas leis o possibilite a cumprir suas obrigações 
internacionais). 
Frequentemente é esse o caso na área dos direitos humanos, onde os Estados 
assumiram a responsabilidade de fazer com que certas condutas sejam consideradas crimes, 
como por exemplo, a tortura e o genocídio, e de puni-las por meio de seus sistemas jurídicos 
nacionais. 
Um Estado não pode alegar disposições em sua Constituição ou legislação nacional como escusa 
para furtar-se a cumprir suas obrigações perante o direito internacional. 
Em direito internacional, a responsabilidade surge a partir da violação de qualquer 
obrigação devida às normas internacionais ratificadas. Assim, todo ato ilícito internacional 
por parte de um Estado resulta na responsabilidade internacional daquele Estado. Este é 
tido como real quando: 
 A conduta resultante de uma ação ou omissão é atribuível (imputável) ao 
Estado perante o direito internacional; e 
5 
 A conduta resulta na violação de uma obrigação internacional daquele Estado. 
A responsabilidade existe nos casos onde o próprio Estado - por intermédio dos 
poderes Legislativo, Executivo ou Judiciário, suas normas ou atos de qualquer outra 
autoridade - é o perpetrador e em situações onde a conduta de uma pessoa ou órgão pode 
ser imputada a esse Estado. O Estado não é responsável perante o direito internacional pela 
conduta de uma pessoa ou grupo de pessoas que não agem em seu nome. 
É um princípio do direito internacional que qualquer inobservância ou violação de um 
compromisso resulta na obrigação de fazer uma reparação. 
A reparação deve, tanto quanto possível, eliminar todas as consequências do ato 
ilegal, e restaurar a situação que teria existido, com toda a probabilidade, não fosse o ato 
cometido. 
AULA 2 – DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO (DIH) 
O Direito Internacional Humanitário (DIH) é parte importante do Direito 
Internacional Público e também é conhecido pelo nome de Direito dos Conflitos Armados 
ou Direito da Guerra. É o conjunto de normas cuja finalidade, em tempo de conflito armado, 
é por um lado, proteger as pessoas que não participam, ou que deixaram de participar nas 
hostilidades, e por outro, limitar os meios e métodos de fazer a guerra. 
Existe um conflito armado quando elementos de Forças Armadas adversárias 
empreendem intencionalmente operações militares contra as Forças Armadas do Estado, ou 
quando são atacados intencionalmente objetivos no território ou em águas territoriais de 
outro Estado. 
O DIH se aplica nas seguintes situações: 
 Em um conflito armado internacional: conflito armado entre Estados 
(inclusive se não houver sido declarada guerra formalmente, ou mesmo se 
não há atividades militares); 
 Quando a totalidade do território de um Estado ou parte desse tenha sido 
ocupado (inclusive se não tiver havido resistência armada a essa ocupação); 
 Quando povos lutam contra a dominação colonial, contra ocupação 
estrangeira ou contra regimes racistas, no exercício de seu direito à livre 
determinação; 
 Em um conflito armado não internacional: conflito armado que se desenvolve 
dentro do território de um Estado, e se as forças armadas de outro Estado não 
participam das operações militares. 
6 
O DIH não se aplica às situações de violência menor, tais como supressão de motins, 
reuniões violentas, passeatas, manifestações violentas, desordens e atos isolados de 
violência análogos. Esses podem ser caracterizados como distúrbios ou tensões internas. 
Nesses casos se aplicará a legislação nacional do país em questão. 
Por que o policial deve conhecer o Direito Internacional Humanitário na Aplicação 
da Lei? 
De acordo com ROVER (2005, p. 149) as situações de conflito armado não eclodem 
espontaneamente. São um produto da deterioração do estado da lei e da ordem em um 
país, pelos quais as organizações de aplicação da lei possuem uma responsabilidade direta. 
Pela verdadeira natureza de seus deveres, o envolvimento prático dos encarregados 
da aplicação da lei em casos de manifestações de violência, distúrbios e tensões, que podem 
escalar em direção à guerra civil, requer deles que sejam cuidadosos – e capazes – de 
integrar os princípios de direito internacional humanitário e direitos humanos em suas 
operações e treinamento. 
Por essa razão, para o correto desempenho de sua atividade, certo nível de 
conhecimento do direito internacional humanitário é indispensável aos encarregados da 
aplicação da lei. 
São princípios básicos do Direito Humanitário: 
 Trato Humano e não discriminação: toda pessoa deve ser tratada com 
humanidade e sem discriminação (sexo, nacionalidade, raça, crença religiosa 
ou política). Ex: os que estão fora de combate (combatentes que se renderam, 
feridos, enfermos, náufragos, prisioneiros de guerra), detidos, pessoas civis, 
pessoal sanitário e religioso. 
 Necessidade Militar: toda atividade de combate deve justificar-se por 
motivos militares; estão proibidas as atividades que não sejam militarmente 
necessárias. São aquelas não proibidas pelo Direito Humanitário e 
necessárias para derrotar o inimigo. Deve ser analisada juntamente com 
os princípios de distinção e proporcionalidade. 
 Limitação: as armas e os métodos de guerra que podem ser utilizados são 
limitados. Estão proibidas as armas que causem sofrimentos desnecessários 
ou danos supérfluos. Ex: estão proibidas aquelas que causem ferimentos de 
impossível tratamento ou que causem morte lenta e cruel. 
 Distinção: deve-se distinguir entre combatentes e não combatentes. Deve-se 
7 
também distinguir entre objetivos militares (que podem ser atacados) e bens 
de caráter civil (que não podem ser atacados). 
 Proporcionalidade: quando são atacados objetivos militares, as pessoas civis 
e os bens de caráter civil devem ser preservados o melhor possível de danos 
colaterais. Não devem ser excessivos os danos colaterais com respeito à 
vantagem militar direta e concreta esperada de qualquer ataque contra um 
objetivo militar. 
 Boa fé: deve prevalecer a boa fé nas negociações entre as partes beligerantes. 
A essência do direito da guerra abrange: 
 Atacar somente alvos militares; 
 Poupar pessoas e objetos sujeitos à proteção que não contribuam com o 
esforço militar; 
 Não usar mais força do que o necessário para cumprir sua missão militar. 
O DIH está dividido em Direito de Genebra e Direito de Haia. 
Direito de Genebra 
O Direito de Genebra trata da proteção das vítimas de guerra, sejam elas militares 
ou civis, na água ou em terra. Protege todas as pessoas fora de combate, isto é, que não 
participam ou não estão mais participando nas hostilidades: os feridos, os doentes, os 
náufragos e os prisioneiros de guerra. As quatro Convenções de Genebra de 12 de Agosto 
de 1949 constituem o conjunto dessas normas de proteção. 
O Brasil ratificou as quatro Convenções em 29 de junho de 1957. 
A Primeira Convenção de Genebra visa melhorar a situação dos feridos e doentes das 
Forças Armadas em campanha. 
A Segunda Convenção de Genebra visa melhorar a situação dos feridos, doentes e 
náufragos das Forças Armadas no mar. 
A Terceira Convenção de Genebra é relativa ao tratamento dos prisioneiros de 
guerra. A Quarta Convenção de Genebra protege a população civil em tempo de guerra. 
O Artigo 3º - comum a todas as quatro Convenções de 1949, tem sido chamado de 
uma «mini-convenção» por direito próprio, pois contém regras que são aplicáveis não só a 
conflitos internacionais, mas também a conflitos internos. 
Essas regras são hoje consideradas como sendo regras do direito internacional 
consuetudinário, isto é, uma coisa à qual os beligerantes estão obrigados, 
independentemente das obrigações que eles possam ter em relação a tratados. Elas 
8 
representam um mínimo que temde ser observado em todas as circunstâncias. 
O Direito de Haia 
O direito de Haia preocupa-se mais com a regulamentação dos métodos e meios de 
combate, e concentra-se na condução das operações militares. O direito de Haia é, portanto, 
de interesse fundamental ao comandante militar em terra, mar e ar. 
São exemplos atuais do direito de Haia, e suas ratificações pelo Brasil: 
 Convenção sobre a proibição do desenvolvimento, produção, e destruição de 
armas biológicas e tóxicas (1972) – Brasil: 27 de fevereiro de 1973. 
 Convenção sobre proibições e restrições do emprego de certas armas 
convencionais que causam danos excessivos (1980) – Brasil: 03 de outubro de 
1995. 
 Convenção sobre a proibição do emprego, armazenamento, produção e 
transferência de minas antipessoal e sua destruição (Tratado de Ottawa – 
1997) – Brasil: 30 de abril de 1999. 
A aplicação do DIH em tempo de conflito armado é necessária, pois: 
 Obriga juridicamente aos Estados e aos indivíduos nos Estados; 
 As graves violações do DIH são consideradas crimes de guerra que podem ser 
julgados perante tribunais, nacionais ou internacionais; 
Você quer conhecer mais sobre o Direito Internacional Humanitário? Acesse o site do 
Comitê Internacional da Cruz Vermelha no endereço: < https://www.icrc.org/pt >. 
AULA 3 - DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS (DIDH) 
De acordo com Rover (2005, p. 72) um direito é um título. É uma reivindicação que 
uma pessoa pode fazer para com outra de maneira que, ao exercitar esse direito, não 
impeça que outrem possa exercitar o seu. Assim sendo, os Direitos Humanos são títulos 
legais que toda pessoa possui como ser humano. São universais e pertencem a todos, ricos 
ou pobres, homens ou mulheres. 
Atualmente os direitos humanos são direitos legais - isso significa que fazem parte 
da legislação. Estão tanto nos instrumentos internacionais como também são protegidos 
pelas constituições e legislações nacionais da maioria dos países do mundo. 
Os princípios fundamentais que constituem a legislação moderna dos direitos 
humanos têm existido ao longo da história. No entanto, foi somente no século XX que a 
comunidade internacional se tornou consciente da necessidade de desenvolver padrões 
mínimos para o tratamento de cidadãos pelos governos. 
https://www.icrc.org/pt
9 
Conforme ensina Moraes (2000, p. 36) a evolução histórica da proteção dos direitos 
humanos fundamentais em diplomas internacionais é relativamente recente, iniciando-se 
com importantes declarações sem caráter vinculativo, para posteriormente assumirem a 
forma de tratados internacionais, no intuito de obrigarem os países signatários ao 
cumprimento de suas normas. 
Os funcionários encarregados da aplicação da lei devem ser incentivados a 
compreender como o direito internacional dos direitos humanos afeta o desempenho 
individual de seu serviço. Isso, por sua vez, requer explicações adicionais sobre as 
consequências das obrigações de um Estado perante o direito internacional para a lei e 
prática nacionais. 
O direito conhecido por Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH) consiste 
num conjunto de princípios e regras, com base nas quais os indivíduos ou grupos de indivíduos 
podem esperar certa qualidade minimamente desejável de comportamento da parte das 
autoridades, somente em virtude de serem seres humanos. 
A Carta Internacional dos Direitos Humanos é o termo utilizado como uma referência 
coletiva a três instrumentos importantes dos Direitos do Homem, a saber: 
Declaração Universal dos Direitos do Homem (DUDH) (disponível em 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/D19841.htm) - assinada pelo 
Brasil em 10 de dezembro de 1948; 
Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos (PIDCP) (disponível em 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0592.htm) – ratificado pelo 
Brasil em 24 de janeiro de 1992; 
Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC) 
(disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0591.htm) - 
ratificado pelo Brasil em 24 de abril de 1992. 
Se quiser saber mais sobre DIDH, os seguintes tratados sobre Direitos do Homem são 
também importantes: 
Convenção sobre a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio (disponível em 
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decleg/1950-1959/decretolegislativo-2-11-abril-1951-
351286- publicacaooriginal-124286-pl.html) – ratificada pelo Brasil em 06 de maio de 1952; 
Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação 
Racial (http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=94836) – ratificada 
pelo Brasil em 27 de março de 1968; 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/D19841.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0592.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0591.htm
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decleg/1950-1959/decretolegislativo-2-11-abril-1951-351286-publicacaooriginal-124286-pl.html
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decleg/1950-1959/decretolegislativo-2-11-abril-1951-351286-publicacaooriginal-124286-pl.html
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decleg/1950-1959/decretolegislativo-2-11-abril-1951-351286-publicacaooriginal-124286-pl.html
http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=94836
10 
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as 
Mulheres (disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4377.htm) – 
ratificada pelo Brasil em 01 de fevereiro de 1984; 
Convenção contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, (disponível em 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0040.htm) – ratificada pelo 
Brasil em 28 de setembro de 1989; 
Convenção sobre os Direitos da Criança (disponível em 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D99710.htm) – ratificada pelo 
Brasil em 24 de setembro de 1990; 
Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados (disponível 
em http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1960-1969/decreto-50215-28-janeiro-
1961-389887- publicacaooriginal-1-pe.html ) – ratificada pelo Brasil em 15 de novembro de 
1960; 
Protocolo Facultativo ao Estatuto dos Refugiados (disponível em 
http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=96932&norma=121310) - 
aderido pelo Brasil em 07 de abril de 1992. 
Os funcionários encarregados de aplicar as leis devem estar familiarizados com os 
relevantes sistemas de tratados regionais sobre Direitos Humanos, a saber: 
A Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos (disponível em 
http://www.gddc.pt/direitos- humanos/textos-internacionais-dh/tidhregionais/carta-
africa.html); 
A Convenção Americana dos Direitos Humanos (disponível 
em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D0678.htm) - aderida pelo Brasil em 25 
de setembro de 1992; 
A Convenção Europeia sobre a Proteção dos Direitos Humanos e das Liberdades 
Fundamentais (disponível em http://www.echr.coe.int/Documents/Convention_POR.pdf). 
Para aprofundar seus estudos, você pode acessar as páginas eletrônicas dos 
seguintes órgãos internacionais e nacionais: ONU, ACNUR e MRE. 
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4377.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0040.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D99710.htm
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1960-1969/decreto-50215-28-janeiro-1961-389887-publicacaooriginal-1-pe.html
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1960-1969/decreto-50215-28-janeiro-1961-389887-publicacaooriginal-1-pe.html
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1960-1969/decreto-50215-28-janeiro-1961-389887-publicacaooriginal-1-pe.html
http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=96932&amp;norma=121310
http://www.gddc.pt/direitos-humanos/textos-internacionais-dh/tidhregionais/carta-africa.html
http://www.gddc.pt/direitos-humanos/textos-internacionais-dh/tidhregionais/carta-africa.htmlhttp://www.gddc.pt/direitos-humanos/textos-internacionais-dh/tidhregionais/carta-africa.html
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D0678.htm
http://www.echr.coe.int/Documents/Convention_POR.pdf
11 
UNIDADE 2 - PREMISSAS BÁSICAS NA APLICAÇÃO DA LEI 
Objetivo da unidade 
Ao final desta unidade, você será capaz de: 
 Compreender o significado de “Estado de direito”; 
 Apontar as funções e os deveres dos encarregados da aplicação da lei; 
 Compreender a importância do código de conduta para os encarregados pela 
aplicação da lei; e 
 Compreender a importância de adotar padrões de policiamento que sejam 
condizentes com a ordem democrática, bem como com a promoção e 
proteção dos direitos humanos. 
O conteúdo desta unidade está dividido nas seguintes aulas: 
Aula 1 – Aplicação da lei nos Estados democráticos; 
Aula 2 – Conduta ética e legal da aplicação da lei. 
AULA 1 – APLICAÇÃO DA LEI NOS ESTADOS DEMOCRÁTICOS 
DEMOCRACIA E ESTADO DE DIREITO 
O termo “democracia” tem muitos significados e existem várias formas de governos 
democráticos. 
De acordo com Rover (1998, p. 142) é difícil chegar a uma definição satisfatória de 
"democracia". A tentativa de definir democracia, provavelmente, levará ao estabelecimento 
de características de um regime democrático que possam ser consideradas denominadores 
comuns, independentemente do sistema vigente em determinado Estado. 
Tais características incluem: 
 Um governo democraticamente eleito que represente o povo - e seja 
responsável perante ele; 
 A existência do estado de direito - e o respeito por ele; e 
 O respeito pelos direitos humanos e liberdades. 
O Instituto Interamericano de Direitos Humanos (IIDH) estabelece que o Estado de 
Direito é um sistema jurídico-político, no qual o poder é subordinado ao direito (leis), e que 
existe amplo respeito aos direitos humanos de todas as pessoas. Cita as seguintes 
características de um Estado de Direito: 
 O império da lei para governantes e governados; 
 O controle judicial dos atos de governo; 
12 
 O respeito absoluto pela liberdade de todas as pessoas na jurisdição do 
Estado; 
 A eleição dos governantes pelo voto popular; 
 A divisão de poderes; 
 A responsabilidade dos governantes; 
 O pluralismo político. 
O Estado de Direito e a democracia são pilares fundamentais da vigência dos 
direitos humanos, tornando esses dois conceitos indissolúveis e interdependentes. 
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu artigo 1°, 
estabelece que o Estado Brasileiro constitui-se em Estado Democrático de Direito, tendo 
como fundamentos: 
 A soberania; 
 A cidadania; 
 A dignidade da pessoa humana; 
 Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; 
 O pluralismo político. 
Acrescenta, ainda, em seu Parágrafo único que: 
“Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes eleitos 
ou diretamente, nos termos desta Constituição”. 
Da mesma forma, o artigo 21 da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), 
estipula que: “A vontade do povo é o fundamento da autoridade do governo”, e 
complementa: 
“(...); esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio 
universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto.” 
“Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de seu país, diretamente ou 
por intermédio de representantes livremente escolhidos”. 
“Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.” 
A existência do estado de direito e o respeito por ele origina uma situação onde os 
direitos, liberdades, obrigações e deveres estão incorporados na lei para todos, em plena 
igualdade, e com a garantia de que as pessoas serão tratadas equitativamente em 
circunstâncias similares (ROVER 1998, p. 143) 
Esse aspecto fundamental pode ser encontrado no artigo 26 do Pacto Internacional 
dos Direitos Civis e Políticos, que estipula que Todas as pessoas são iguais perante a lei e 
13 
têm direito, sem discriminação, à igual proteção da lei ..., bem como no caput do artigo 5º 
de nossa Constituição Federal: 
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se 
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à 
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes. (Grifo nosso) 
Você pode perceber que esses ideais são interdependentes e fundamentais para que 
os direitos humanos sejam melhor protegidos pelo processo democrático e pela aplicação da 
lei. 
Democracia e direitos humanos caminham juntos. “Não há democracia sem direitos 
humanos e não há direitos humanos sem democracia” (PIOVESAN, 2003). 
APLICAÇÃO DA LEI 
Ao Estado incumbe promover o bem comum, sendo essencial, para isso, a ordem 
pública, que se dá por meio dos seus aspectos de salubridade, tranquilidade e segurança. 
Este último aspecto objetiva a não ocorrência de delitos. 
Para a manutenção dessa situação antidelitual, o Estado confere investidura pública 
aos órgãos encarregados de aplicar a lei e a seus agentes, para agir em seu nome. 
A principal missão dos órgãos encarregados de aplicar a lei é para servir à 
comunidade, protegendo as pessoas contra atos ilegais, sendo suas responsabilidades 
básicas: 
 Prevenir e detectar o crime; 
 Manter a ordem pública e a segurança; e 
 Proporcionar assistência a pessoas em situações de emergência. 
Essas funções integradas devem garantir a segurança das pessoas que vivem no 
território do Estado. 
O processo de fazer cumprir as leis é levado a cabo pelos funcionários encarregados 
pela aplicação da lei (FEAL), que podem ser agentes da polícia, gendarmeria, guarda 
municipal ou outras denominações equivalentes. No entanto, em situações específicas, as 
forças militares também podem ser chamadas para cumprir com tais obrigações. 
Como ensina Osse (2007, pg. 49), para garantir a segurança, os agentes de segurança 
pública podem legitimamente restringir os direitos dos indivíduos, o que é chamado de 
obrigações negativas; mas os agentes de segurança pública também têm a obrigação 
positiva de contribuir com um ambiente no qual as pessoas se sentem livres e seguras. Para 
cumprir essa missão, são outorgados aos agentes de segurança pública os seguintes poderes 
14 
básicos: de prisão, de detenção, de uso da força e armas de fogo. 
No entanto, esses poderes não são ilimitados. No cumprimento da sua missão, 
agentes de segurança pública devem agir de acordo com os parâmetros da lei do Estado, que 
deve ser coerente com as normas internacionais estabelecidas em instrumentos 
internacionais de direitos humanos. 
Conforme Vianna (2001, pg.16), os poderes de prisão, de detenção, de uso de força e 
armas de fogo são meios poderosos na missão de aplicação da lei. Paradoxalmente esses 
poderes também podem acarretar grandes riscos, uma vez que seu uso indevido pelos 
agentes de segurança pública pode violar os direitos que devem manter e defender. 
Infelizmente, muitas vezes ocorre o uso indevido desses poderes em todo o mundo. 
Como as práticas ilegais ou inaceitáveis de aplicação da lei, pode-se citar: prisão ou detenção 
arbitrária ou ilícita, manipulação de provas, uso excessivo da força e maus-tratos e tortura de 
pessoas detidas. 
Independentemente do nível que ocupam na estrutura de suas instituições, os FEAL 
devem assumir responsabilidades corporativas e entender que são pessoalmente 
responsáveis por suas ações. Os FEAL com responsabilidade, comando e gestão – tema que 
será abordado adiante – podem realizar mudanças estruturais, como mecanismos de 
controle e vigilância, e têm a responsabilidade adicional de evitar que outros funcionários 
violem os direitos humanos. 
Nos estados democráticos de direito, os organismos encarregados de aplicação da lei 
devem agir em conformidade com o marco legal, de forma ética e render contas à sociedade 
queservem. 
AULA 2 – CONDUTA ÉTICA E LEGAL DA APLICAÇÃO DA LEI 
Nesta aula, você aprenderá a conduta ética e legal que deverá adotar para bem 
cumprir seu papel de profissional encarregado de aplicar a lei. 
FUNCIONÁRIOS ENCARREGADOS DE APLICAR A LEI (FEAL) 
O ambiente social global está em constante mutação e exige cada vez mais dos 
Estados, de suas Instituições e de seus funcionários. As pessoas não esperam apenas que o 
Estado disponibilize os melhores serviços, mas espera também que a conduta de suas 
Instituições e seus funcionários seja ética e responsável. 
Não basta fazer as coisas bem, é fundamental fazê-las da forma correta. A forma 
como os Funcionários efetuam o seu trabalho é tão importante como o trabalho em si. É 
fundamental que sua conduta seja íntegra e em conformidade com as leis e os regulamentos 
15 
que regem as suas atividades. 
Na atividade dos órgãos encarregados de aplicar a lei, esta questão deve ser tratada 
com especial distinção, pois seus Funcionários Encarregados de Aplicar a Lei (FEAL) possuem 
a faculdade legal para privar uma pessoa de liberdade, a exclusividade no uso da força e, em 
casos extremos, de emprego de arma de fogo contra um cidadão. 
O emprego desses poderes deve ajustar-se aos princípios de legalidade, necessidade 
e proporcionalidade. Porém, esses três conceitos podem ser interpretados subjetivamente, 
por exemplo: 
No caso da legalidade, não é só importante o cumprimento estrito da lei, mas 
também saber seu espírito, cabendo ao FEAL aplicar o poder discricionário. 
Na hipótese de recorrer à força, o grau a ser empregado (proporcionalidade) em uma 
determinada situação depende de uma avaliação subjetiva dessa necessidade (outras 
opções disponíveis). 
Essa avaliação subjetiva, por sua vez, não pode depender somente de uma noção 
pessoal de ética, mas sim de uma ética profissional. Quando se busca um médico ou um 
advogado, está se manifestando confiança nessa pessoa. O mesmo acontece quando os 
cidadãos necessitam da ajuda de um FEAL. Esperam entre outras coisas, que se guarde a 
confidencialidade da informação e proteção. 
Para auxiliar nessa tarefa é que existem códigos, princípios, guias e manuais que 
orientam a conduta desses profissionais. Alguns deles você estudará a seguir. 
CÓDIGO DE CONDUTA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA OS FUNCIONÁRIOS RESPONSÁVEIS 
PELA APLICAÇÃO DA LEI. 
Este instrumento, o Código de Conduta das Nações Unidas para os Funcionários 
Responsáveis pela Aplicação da Lei, foi adotado por intermédio da resolução 34/169, de 17 
de dezembro de 1979, da Assembleia Geral das Nações Unidas. 
Por meio dessa resolução, o Código de Conduta foi transmitido aos Governos com a 
recomendação de que, uma consideração favorável fosse dada no que se refere à sua 
utilização dentro da estrutura da legislação ou prática nacional, como um conjunto de 
princípios a serem observados pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei. Não é 
um tratado, mas pertence à categoria dos instrumentos que proporcionam normas 
orientadoras aos Governos sobre questões relacionadas com direitos humanos e justiça 
criminal. 
É importante notar que, como foi reconhecido por aqueles que elaboraram o código, 
16 
esses padrões de conduta deixam de ter valor prático, a não ser que o seu conteúdo e 
significado - através de educação, treinamento e acompanhamento - passem a fazer parte 
da crença de cada indivíduo encarregado da aplicação da lei. 
O Código consiste em oito artigos, acompanhados por seus respectivos comentários 
explicativos. 
O artigo 1o estipula que “os encarregados da aplicação da lei devem sempre cumprir o dever 
que a lei lhes impõe (...)” 
Nos parágrafos a. e b. dos comentários do Artigo 1, a seguinte definição é fornecida: 
O termo ‘Funcionários Encarregados pela Aplicação da Lei’ inclui todas as autoridades 
legais, tanto nomeadas quanto eleitas, que exercem poderes policiais, especialmente 
poderes de prisão e de detenção. 
Nos países onde os poderes policiais são exercidos por autoridades militares, quer 
estejam uniformizadas ou quer não, ou por forças de segurança do Estado, a definição de 
Funcionários Encarregados pela Aplicação da Lei deve ser considerada incluindo as 
autoridades desses tais serviços. 
O Artigo 2o requer que os encarregados da aplicação da lei, no cumprimento do 
dever, respeitem e protejam a dignidade humana, mantenham e defendam os direitos 
humanos de todas as pessoas. 
O Artigo 3º fornece normas relacionadas ao uso da força, nos seguintes termos: 
Os Funcionários Encarregados pela Aplicação da Lei podem fazer uso da força quando 
estritamente necessário e até a extensão requerida para o cumprimento de seu dever. 
O Parágrafo a. dos Comentários ao artigo estabelece que o uso da força policial deveria 
ser excepcional, e que, enquanto a polícia faz uso de uma tal força dentro do razoavelmente 
necessário para a prevenção do crime ou para a realização ou para a assistência à detenção 
legítima de delinquentes ou de cidadãos suspeitos, nenhuma outra força além dessa pode 
ser usada. 
O Parágrafo b. destaca que a lei nacional normalmente restringe o uso da força policial 
de acordo com o princípio da proporcionalidade, e afirma que deve ser entendido que tais 
princípios nacionais de proporcionalidade devem ser respeitados na interpretação daquele 
artigo. 
O parágrafo c. dá ênfase ao uso de armas de fogo, o qual é considerado como sendo 
uma medida extrema e que qualquer esforço deveria ser feito para proibir seu uso, 
especialmente contra crianças. Ele estabelece que, em geral, as armas de fogo não deveriam 
17 
ser usadas, a não ser quando um cidadão suspeito oferece uma resistência armada ou, 
ainda, coloca em risco a vida de outras pessoas, e que medidas menos extremas não são 
suficientes para detê-lo ou apreendê-lo. O mesmo parágrafo obriga à rápida apresentação de 
um relatório às autoridades competentes cada vez que uma arma de fogo é utilizada pela 
polícia. 
As normas sobre o uso da força pelos funcionários responsáveis pela aplicação da lei, 
incorporadas no artigo e nos comentários, reiteram a importância dos princípios de 
proporcionalidade (a força sendo usada somente até a necessária extensão) e da 
necessidade (a força sendo usada somente quando é estritamente necessária). 
O terceiro parágrafo dos Comentários exclui a utilização das armas de fogo por 
qualquer outra razão que não seja a legítima defesa. O significado da exigência, como 
expressa naquele parágrafo, pela qual um relatório deve ser apresentado quando uma arma 
de fogo é disparada por um policial, é parte do processo para assegurar uma 
responsabilidade efetiva da polícia para com seus atos. Não se trata de uma mera 
formalidade. É de fato um elemento importante na investigação obrigatória que segue uma 
morte causada por uma autoridade policial, e pode agir como uma dissuasão contra o uso 
ilegítimo de armas de fogo pela polícia. 
Como se verifica, o poder do uso da força e emprego de armas de fogo pelos FEAL têm 
implicações de grande alcance e profundidade e, por essa razão, foi elaborado um 
instrumento internacional específico que estabelece princípios para seu emprego. Este 
documento, denominado Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas de Fogo foi 
adotado pelo Oitavo Congresso das Nações Unidas sobre a Prevenção do Crime e o 
Tratamento de Infratores em 07 de setembro de 1990. 
O artigo 4o estipula que os assuntos de natureza confidencial em poder dos 
encarregados da aplicação da lei devem ser mantidos confidenciais, a não ser que o 
cumprimento do dever ou a necessidade de justiça exijam estritamente o contrário. 
Em relação a esse artigo, é importante reconhecer o fato de que, devido à natureza 
das suas funções, os encarregados da aplicação da lei se veem em uma posição na qual 
podem obter informações relacionadas à vida particular de outras pessoas, que podem ser 
prejudiciais aos interesses ou reputaçãodessas. A divulgação dessas informações só pode ser 
feita com o fim de suprir as necessidades da justiça ou o cumprimento do dever. Fora disso, é 
imprópria, e os encarregados da aplicação da lei devem abster-se de fazê-lo. 
O artigo 5o reitera a proibição da tortura ou outro tratamento ou pena cruel, 
18 
desumano ou degradante. 
O artigo 6o diz respeito ao dever que os encarregados da aplicação da lei têm de 
cuidar e proteger a saúde das pessoas privadas da sua liberdade, que estão sob sua tutela. 
O artigo 7o proíbe os encarregados da aplicação da lei de cometer qualquer ato de 
corrupção, Também devem opor-se e combater rigorosamente esses atos. 
O artigo 8o trata da disposição final exortando os encarregados da aplicação da lei a 
respeitar a lei e a este Código. Os encarregados da aplicação da lei são incitados a prevenir e 
se opor a quaisquer violações da lei e do código. Em casos onde a violação do código é (ou 
está para ser) cometida, os encarregados da aplicação da lei devem comunicar o fato aos 
seus superiores e, se necessário, a outras autoridades apropriadas ou organismos com 
poderes de revisão ou reparação. 
Princípios Orientadores para a Aplicação Efetiva do Código de Conduta para os 
Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei 
Com o objetivo de promover a aplicação do citado Código de Conduta, o Conselho 
Econômico e Social das Nações Unidas, em 24 de maio de 1989, por ocasião de sua 15a 
sessão plenária, adotou os Princípios Orientadores para a Aplicação Efetiva do Código de 
Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, que prevê uma série de 
providências, dentre as quais se destacam: 
 Os princípios consagrados no Código deverão ser incorporados na legislação e 
práticas nacionais [...] 
 Os Governos devem adotar as medidas necessárias para que os funcionários 
responsáveis pela aplicação da lei recebam instrução, no âmbito da formação 
de base e de todos os cursos posteriores de formação e de aperfeiçoamento, 
sobre disposições da legislação nacional relativas ao Código assim como 
outros textos básicos sobre a questão dos direitos do homem[...] 
REMUNERAÇÃO E CONDIÇÕES DE TRABALHO. 
Todos os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem ser satisfatoriamente 
remunerados e se beneficiar de condições de trabalho adequadas [...]. 
DISCIPLINA E SUPERVISÃO. 
Devem ser estabelecidos mecanismos eficazes para assegurar a disciplina interna e o 
controle externo assim como a supervisão dos funcionários responsáveis pela aplicação da 
lei [...]. 
 
19 
IMPLEMENTAÇÃO DO CÓDIGO 
O Código deve estar à disposição de todos os funcionários responsáveis pela 
aplicação da lei e das autoridades competentes na sua própria língua[...] 
IMPORTANTE! 
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha tem contribuído significativamente com a 
difusão dessas normas, através da capacitação de profissionais de várias Forças Policiais e de 
Segurança pelo Mundo e mais recentemente com o trabalho de Integração das Normas 
Internacionais de Direitos Humanos aplicáveis às Funções Policiais, nas matrizes curriculares 
de Cursos de Formação, na área de Treinamento e na área de Doutrina Policial de algumas 
Polícias no Brasil e outros Países Latino- Americanos, com os quais firmou convênio para 
esse fim. 
 
 
20 
UNIDADE 3 - RESPONSABILIDADES BÁSICAS DA ATIVIDADE POLICIAL 
 
Ao final desta unidade, você será capaz de: 
 Identificar as principais normas internacionais de direitos humanos, relativas 
à atividade de prevenção e detecção do crime e explicar sua relevância para a 
atividade policial; 
 Identificar os princípios do direito internacional de direitos humanos que 
delimitam as práticas de aplicação da lei, tais como: a presunção da inocência; 
o direito de todas as pessoas a um julgamento justo, e o respeito pela 
dignidade, honra e privacidade; 
 Conceituar ordem pública e identificar os poderes da administração pública, 
em especial o Poder de Polícia; 
 Citar as principais normas e instrumentos nacionais e internacionais que são 
referência de aplicação em caso de distúrbios e tensões internas; 
 Relacionar os Princípios Básicos do Uso da Força e Armas de Fogo com as 
situações de distúrbios e tensões internas; 
Esta unidade está dividida nas seguintes aulas: 
Aula 1 – Prevenção de detecção do crime; 
Aula 2 – A manutenção da ordem pública; 
Aula 3 – Princípios Básicos do Uso da Força e da Arma de Fogo X distúrbios e tensões 
internas; 
AULA 1 – PREVENÇÃO E DETECÇÃO DO CRIME 
De acordo com Rover (2005), a prevenção e detecção do crime estão entre as áreas 
de interesse imediato das organizações de aplicação da lei em todo o mundo. 
O crime é inerente à vida quotidiana e as organizações de aplicação da lei fazem o 
máximo para erradicar sua ocorrência. Entretanto, o número de crimes solucionados pela 
polícia é menor que o número de crimes praticados. 
A responsabilidade pela prevenção e detecção do crime é atribuída primariamente 
às organizações policiais, mas a prevenção e detecção efetivas do crime também dependem 
muito dos níveis existentes e da qualidade da cooperação entre a organização de aplicação 
da lei e a comunidade (políticos, membros do judiciário, grupos comunitários, corporações 
públicas e privadas, bem como indivíduos) a que essa serve. 
Esse ponto é bastante claro na Constituição brasileira de 1988: 
21 
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é 
exercida para a prevenção da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio 
(...) 
É claro que nas suas tarefas de prevenir e detectar crimes, a polícia deve respeitar 
os Direitos Humanos em todas as ocasiões. Por isso uma prevenção e detecção de crimes 
devem basear-se em práticas e tácticas legais e não arbitrárias. 
Princípios de DIDH e as práticas de aplicação da lei 
Dentre os princípios do Direito Internacional de Direitos Humanos que delimitam as 
práticas de aplicação da lei com esse intuito, é possível ressaltar os seguintes: 
 A presunção da inocência; 
 O direito de todas as pessoas a um julgamento justo; 
 O respeito pela dignidade, honra e privacidade. 
A presunção da inocência 
Esse direito está consagrado em vários instrumentos e normas internacionais das 
quais destacamos: 
O artigo 11 da Declaração Universal dos Direitos Humanos: 
Artigo XI. 
Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido 
inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento 
público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa. 
O artigo 14 do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos 
Toda pessoa acusada de um delito terá direito a que se presuma sua inocência 
enquanto não for legalmente comprovada sua culpa. 
O artigo 7 da Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos 
Toda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada. Esse direito compreende: 
b) O direito de presunção de inocência, até que a sua culpabilidade seja estabelecida 
por um tribunal competente; 
O artigo 8 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos 
Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto 
não se comprove legalmente sua culpa. 
O artigo 6 da Convenção Europeia dos Direitos do Homem 
Qualquer pessoa acusada de um crime deve presumir-se inocente até que seja 
legalmente considerada culpada. 
22 
Também a Constituição brasileira faz esta previsão em seu artigo 5º, LVII: 
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal 
condenatória; 
Como é possível verificar, o direito da presunção da inocência está contido em vários 
instrumentos e normas internacionais e nacionais, do que se entende: 
 A culpabilidade ou a inocência só podem ser determinadas por um tribunal 
regularmente constituído, com base em um processo regular no âmbito do 
qual tenhamsido concedidas ao acusado todas as garantias necessárias para 
a sua defesa; 
 O direito à presunção de inocência, até prova em contrário, é essencial para 
garantir um julgamento justo. 
Rover (2005) reforça esse entendimento enfatizando que uma das tarefas primárias 
na aplicação da lei é a de trazer os infratores à justiça e não compete aos encarregados da 
aplicação da lei decidir sobre a culpa ou inocência de uma pessoa capturada por um delito. 
Sua responsabilidade é registrar, de forma correta e objetiva, todos os fatos relacionados a 
um crime cometido. Os encarregados da aplicação da lei são responsáveis pela busca de 
fatos, ao passo que o judiciário é o responsável pela apuração da verdade (analisando esses 
fatos com o propósito de determinar a culpa ou inocência da(s) pessoa(s) acusada(s)). 
O DIREITO DE TODAS AS PESSOAS A UM JULGAMENTO JUSTO. 
Em relação ao direito a um julgamento justo, tem-se que ter em mente que essa 
garantia se aplica tanto aos processos civis, como aos criminais e administrativos. 
É imprescindível oferecer às partes do processo o direito à ampla defesa e ao 
contraditório, ou seja, dar às partes a chance de contra argumentar e expor os argumentos 
de sua defesa. 
Esse direito está consagrado no artigo 10 da Declaração Universal dos Direitos do 
Homem: 
Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência 
por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir sobre seus direitos e 
deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele. 
O Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos em seu artigo 14 estabelece 
disposições e uma série de garantias mínimas consideradas necessárias para assegurar o 
direito a um processo justo. Essas garantias mínimas foram incorporadas na legislação da 
maioria dos países do mundo. 
23 
O Respeito pela Dignidade, Honra e Privacidade. 
De acordo com Rover (2005), as ações e investigações conduzidas por policiais na 
prevenção ou detecção do crime conduzirão a situações em que muitas das ações tomadas 
resultarão na invasão da esfera privada de indivíduos. 
Há que se ter em conta que todos os países têm um código do processo penal ou 
orientações que definirão os poderes de investigação e as competências dos policiais e seu 
alcance prático. 
Veja a seguir alguns dispositivos internacionais que preveem a proteção da 
privacidade, a honra e a reputação dos indivíduos. 
Declaração Universal dos Direitos do Homem: 
Artigo 12: Ninguém será sujeito à interferência em sua vida privada, em sua família, 
em seu lar ou em sua correspondência, nem a ataque à sua honra e reputação. Todo ser 
humano tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques. 
Convenção Americana sobre Direitos Humanos: 
Artigo 11: Proteção da Honra e da Dignidade 
Toda pessoa tem direito ao respeito de sua honra e ao reconhecimento de sua 
dignidade. 
Ninguém pode ser objeto de ingerências arbitrárias ou abusivas em sua vida privada, 
na de sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência, nem de ofensas ilegais à sua 
honra ou reputação. 
Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais ingerências ou tais ofensas. 
Você já deve ter percebido que essas normas têm repercussões óbvias sobre as ações 
e investigações policiais. Como exemplo, podemos citar as revistas e buscas de pessoas, 
instalações, veículos e outros bens, bem como a interceptação de correspondência, 
mensagens telefônicas e outras comunicações. Todas essas ações deverão respeitar 
escrupulosamente a lei e ser absolutamente necessárias para fins legítimos de aplicação 
da lei. 
Outro instrumento internacional que você estudou no unidade 2 é o Código de 
Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei onde a proteção da 
intimidade é reforçada pelas disposições do artigo 4º que estabelece: 
Artigo 4.º 
As informações de natureza confidencial em poder dos funcionários responsáveis 
pela aplicação da lei devem ser mantidas em segredo, a não ser que o cumprimento do 
dever ou as necessidades da justiça estritamente exijam outro comportamento. 
24 
Comentário: 
Devido à natureza dos seus deveres, os funcionários responsáveis pela aplicação da 
lei obtêm informações que podem relacionar-se com a vida particular de outras pessoas ou 
ser potencialmente prejudiciais aos seus interesses, e especialmente à sua reputação. Deve-
se ter a máxima cautela na salvaguarda e utilização dessas informações, as quais só devem 
ser divulgadas no desempenho do dever ou no interesse. Qualquer divulgação dessas 
informações para outros fins é totalmente abusiva. 
As responsabilidades dos policiais e suas práticas de aplicação da lei nessa área 
requerem supervisão estrita, tanto internamente na organização (superiores hierárquicos e 
corregedoria) como um controle externo (ouvidorias de polícia, Ministério Público entre 
outros). O registro e controle das ações é fundamental, pois permitirão que um juízo justo e 
imparcial seja feito a respeito de sua legitimidade e não arbitrariedade, quando um caso em 
particular vier a julgamento. 
Rover (2005) ressalta que a prevenção e detecção do crime são áreas da aplicação da 
lei que exigem padrões altos de moralidade e ética dos policiais, pois é justamente na 
condução de investigações que se verificam grande parte das violações dos direitos e 
liberdades individuais das pessoas capturadas e/ou detidas. Cita como exemplos: o 
preconceito por parte dos encarregados das investigações, o uso de provas obtidas por meio 
de práticas ilícitas, a pressão sutil sobre a pessoa acusada para obter testemunho. 
Nesse viés, o modo como você e seus colegas desempenham sua atividade 
profissional é que dará a exata noção do que significará a presunção da inocência, um 
julgamento justo e o respeito pela dignidade da pessoa humana. O modo profissional de se 
trabalhar resultará na contribuição individual para os resultados coletivos e a imagem da sua 
corporação como um todo. 
É possível concluir que a polícia e outros profissionais encarregados pela aplicação da 
lei são, muitas vezes, a primeira linha de defesa dos direitos fundamentais da pessoa 
humana e, agindo assim, reforçam a noção de Estado Democrático de Direito. 
 
AULA 2 - A MANUTENÇÃO DA ORDEM PÚBLICA 
A Ordem Pública 
Entre os princípios mais importantes da vida em sociedade está o de "Ordem 
Pública". 
Rover (2005) explica que a paz, a estabilidade e a segurança de um país dependem, 
25 
em larga escala, da capacidade de suas organizações de aplicação da lei em fazer cumprir a 
legislação nacional e de forma eficaz. Ressalta que policiar ocorrências de vulto, inclusive 
reuniões e manifestações, requer mais do que a compreensão das responsabilidades legais 
dos participantes de tais eventos. Requer, também, a compreensão simultânea dos direitos, 
obrigações e liberdades perante a lei daquelas pessoas que deles não participam. 
Conclui o autor afirmando que uma das descrições da essência da manutenção da 
ordem pública é permitir a reunião de um grupo de pessoas que exercitam seus direitos e 
liberdades legais sem infringir os direitos de outros, enquanto, ao mesmo tempo, assegurar 
a observância da lei por todas as partes. 
Lazzarini (2001) escreve que o homem é o cidadão que vive em uma determinada 
sociedade, certo que o fato de ser cidadão propicia a cidadania, ou seja, condição jurídica 
que podem ostentar as pessoas físicas e morais, que, por expressar o vínculo entre o Estado 
e seus membros, implica, de um lado, submissão à autoridade e, de outro, o exercício de 
direito, porque, o cidadão é membro ativo de uma sociedade política independente. 
O vínculo entre o Estado e seus cidadãos, com submissão destes à autoridade do 
Estado, há de estar disciplinado por princípios jurídicos que informam, em especial, as 
atividades administrativas, inclusive as desenvolvidas no Poder Legislativo e no PoderJudiciário e as do Poder Executivo. 
No conjunto do ordenamento jurídico de um Estado, é muito comum falar-se em leis 
de ordem pública. As leis são os preceitos escritos, formulados pelas autoridades 
constituídas com poder de legislar. As leis de ordem pública são as que vão estabelecer 
princípios indispensáveis à vida e manutenção e preservação do próprio Estado. Ao contrário, 
as leis de ordem privada são, principalmente, concernentes aos interesses de ordem 
particular, regulando as relações dos indivíduos entre si ou deles com o Estado. 
As ideias que surgem do conceito de ordem pública são as de vida em paz, bem-
estar social, cooperação dos membros de uma sociedade para o convívio harmonioso e 
que todos possam se desenvolver plenamente em suas potencialidades, exercerem seus 
direitos, tendo a garantia de poder invocar a proteção de um órgão superior do Estado no 
caso de violações dos mesmos. 
 O estado de paz e harmonia de uma sociedade quando se submete ao respeito das 
normas estabelecidas pelo estado, entre as liberdades e direitos individuais e o interesse 
geral, cuja ruptura impossibilite a convivência e o cumprimento dos fins do estado e de suas 
instituições (RAMIREZ, p. 12). 
É a situação e o estado de legalidade normal, em que as autoridades exercem suas 
26 
precípuas atribuições, os cidadãos estão em harmonia, respeitando as regras formais de 
coexistência. A ordem pública não se confunde com a ordem jurídica, embora tenha a sua 
existência dela derivada. (KLINGER, 1983). 
Ordem Pública: conjunto de regras formais, que emanam do ordenamento jurídico 
da Nação, tendo por escopo regular as relações sociais de todos os níveis, do interesse 
público, estabelecendo um clima de convivência harmoniosa e pacífica, fiscalizado pelo Poder 
de Polícia, e constituindo uma situação ou condição que conduza ao bem comum. (R-200). 
Entretanto, existem situações em que pessoas ou coletividades não se submetem ou 
não querem submeter-se à autoridade estatal, podendo ocorrer, dessa forma, uma ruptura 
no cumprimento e na obediência das normas legais e sociais. Neste momento, o Estado tem a 
incumbência de manter e preservar esta ordem social, em favor da coletividade. Um dos 
meios mais comumente utilizados para restaurar essa ordem violada na administração 
pública é a Polícia, e, em casos extremos onde a instituição policial é deficitária ou 
insuficiente, atribui-se essas funções às forças militares (Forças Armadas). 
Nesse caso, as forças militares desempenham funções na comunidade civil que 
habitualmente são incumbência dos funcionários responsáveis pelo cumprimento da lei 
(polícia). As forças militares devem aplicar as normas legais que regem a atuação dos 
funcionários responsáveis pelo cumprimento da lei, especialmente com relação ao uso da 
força e das armas de fogo. 
Deve-se prestar atenção especial à instrução dos militares antes de empreender 
uma operação de segurança interna. Contudo, apesar de realizarem tarefas relacionadas com 
o fato de fazer cumprir a lei, perdura a essencialidade da força militar. Os membros das 
Forças Armadas não são policiais quando realizam uma operação de segurança interna; 
eles apenas ajudam a polícia a manter a ordem pública. 
As forças militares que participam de operações de segurança interna não 
necessitam receber instruções a respeito de toda a gama de capacidades e poderes 
relacionados com a polícia, tal como a investigação do delito. Contudo, devem receber 
instrução efetiva a respeito dos poderes fundamentais relacionados com o fato de cumprir a 
lei: uso da força, prisão e detenção. 
Surge, assim, a necessidade da intervenção do Estado para realizar a manutenção da 
ordem pública violada e assegurar o estado de legalidade impedindo a ruptura dessa 
mesma ordem, velando para que as leis e normas decorrentes sejam observadas. 
A manutenção é ação; manutenção da ordem pública é ação inerente a órgão policial 
no campo da Segurança Pública. 
27 
Verifica-se que o tema da manutenção da ordem pública é abordado em vários 
manuais policiais como sinônimo de controle da ordem pública e operações de controle de 
distúrbios civis. Já em manuais militares aparece como sinônimo de operações de segurança 
interna [operaciones de seguridad interna / Internal security operations], Operações de 
garantia da lei e da ordem, Low intensity Operations [operações de baixa intensidade], 
Operations other than war [operações – militares – distintas da guerra], Military operations 
other than war (MOOTW) [outras operações militares que não sejam a guerra] – muito 
utilizada pelas fontes norte-americanas, entre outras. 
Não existe uma definição padrão para as operações de segurança interna. 
Utilizaremos a seguinte: Operações que impliquem o emprego de forças armadas em apoio 
às autoridades civis com a finalidade principal de manter e restabelecer a ordem. (ROBERTS, 
2002) 
Manutenção da Ordem Pública: é o exercício dinâmico do Poder de Polícia, no 
campo da segurança pública, manifestado por atuações predominantemente ostensivas, 
visando a prevenir, dissuadir, coibir ou reprimir eventos que violem a ordem pública. 
Perturbação da Ordem: abrange todos os tipos de ação, inclusive as decorrentes de 
calamidade pública que, por sua natureza, origem, amplitude e potencial possam vir a 
comprometer na esfera estadual, o exercício dos poderes constituídos, o cumprimento das 
leis e a manutenção da ordem pública, ameaçando a população e propriedades públicas e 
privadas. (R-200) 
No conceito de Lazzarini (2001), o ramo do Direito que deve instrumentalizar tudo 
isso em termos de Administração Pública é o Direito Administrativo. Este como principal 
ramo do Direito Público, infraconstitucional, relaciona-se com os denominados “Direitos 
Humanos Fundamentais”, considerados por Moraes (2000) como sendo: 
O conjunto institucionalizado de direitos e garantias do ser humano que tem por 
finalidade básica o respeito à sua dignidade, por meio de sua proteção contra o arbítrio do 
poder estatal e o estabelecimento de condições humanas de vida e desenvolvimento da 
personalidade humana. 
Poderes da Administração Pública 
Como poderes instrumentais da Administração Pública têm-se o poder vinculado, 
discricionário, hierárquico, disciplinar, regulamentar e o de polícia, não se podendo 
considerar como poder o arbítrio, porque este significa extrapolar os limites da legalidade 
na manifestação da vontade do órgão administrativo, no que se diferencia do discricionário 
que, nos critérios de conveniência e oportunidade, sujeita-se aos princípios da legalidade, da 
28 
realidade e da razoabilidade. 
Embora não se possa dizer da prevalência de um sobre outro poder instrumental, é 
forçoso reconhecer que o Poder de Polícia – do qual decorre o poder da polícia e a própria 
razão da existência da polícia, como força pública do Estado – é um dos mais importantes 
desses poderes administrativos, como se examinará em especial na realização plena dos 
direitos de cidadania, que envolve o exercício efetivo e amplo dos direitos humanos, nacional 
e internacionalmente assegurados. 
É o poder que exerce a administração pública sobre todas as atividades e bens que 
afetam ou possam afetar a coletividade. 
O Estado, por intermédio de suas polícias, deve zelar e velar pelo bem-estar coletivo e 
dos cidadãos em particular, cabendo-lhe, como consequência, o direito-dever ou, até 
mesmo, o dever-poder de tudo fazer na defesa desses direitos. (MAGALHÃES, 1987, p. 61). 
O Poder de Polícia 
Poder de polícia é a competência institucional que a administração pública tem 
para impor restrições a certas atividades privadas e obrigar ou proibir determinadas formas 
de utilização das coisas, tendo em vista o bem comum. 
Consiste numa limitação do exercício da liberdade e da propriedade dos indivíduos 
para que, no uso delas, os membros da coletividade se mantenham ajustados a padrões 
compatíveiscom os objetivos sociais. O Estado cumpre sua missão de defensor e propagador 
dos interesses gerais, coibindo os excessos e prevenindo as perturbações à ordem jurídico-
social. (MEIRELLES 1997, p. 115). 
Marques (2001) explica que o poder de polícia é a denominação de um dos poderes 
concedidos ao Estado para atuar, no uso de sua função social, em benefício da ordem 
jurídica e socioeconômica vigente. Usando esse poder, a Administração estabelece medidas, 
mesmo que restritivas aos direitos individuais, que se tornam necessárias para a 
manutenção e segurança da ordem, da moralidade social e da saúde pública, visando, em 
última instância, assegurar a própria liberdade individual, a propriedade pública e privada e o 
bem- estar coletivo. 
Na visão de Meireles (1997), “Poder de polícia é a faculdade de que dispõe a 
Administração Pública para condicionar e restringir o uso e gozo de bens, atividades e 
direitos individuais, em benefício da coletividade ou do próprio Estado”. 
Para o autor, ele é o mecanismo de frenagem de que dispõe a administração pública 
para conter os abusos do direito individual. O Estado detém a atividade dos particulares 
que se revelar contrária, nociva ou inconveniente ao bem-estar social, ao desenvolvimento e 
29 
à segurança nacional. 
Atributos do Poder de Polícia 
Meirelles (1997) e Marques (s.d) apontam como sendo três os atributos ou 
características do Poder de Polícia: 
Discricionariedade: traduz-se na livre escolha e conveniência de a administração 
exercer o poder de polícia, bem como aplicar as sanções e empregar os meios conducentes a 
atingir o fim colimado, que é a proteção de algum interesse público. Ela é legítima desde que 
o ato da polícia administrativa se contenha nos limites legais e a autoridade se mantenha na 
faixa de opção que lhe é atribuída. 
Na maioria dos Estados, os encarregados de aplicação da lei (...) têm poderes 
discricionários de captura, detenção e do uso da força e de armas de fogo, e podem exercê-
los em qualquer situação de aplicação da lei (ROVER, 2005). 
Esse poder pode se tornar um problema se o policial não for bem preparado. Beato 
faz crítica a esse poder ao afirmar que um dos aspectos mais difíceis no gerenciamento das 
atividades policiais é o grau de discricionariedade dos policiais nas ruas. O autor alega que 
esse problema adquire contornos dramáticos quando se trata de avaliar a necessidade ou 
não do uso de força letal pelos policiais. No dia a dia da atividade policial, esses extremos 
não são tão frequentes. As decisões dos policias acerca de quando se deve ou não acionar as 
leis para a manutenção da ordem determinam os próprios limites da implementação da lei. 
Policiais detêm uma larga margem de decisão acerca de quando acionar ou não as leis. A 
visibilidade dessas decisões é frequentemente baixa, e raramente são sujeitas a mecanismos 
de supervisão por parte de superiores. 
Meirelles (1997, p. 120), ao tratar do assunto, afirma que “Discricionariedade não se 
confunde com arbitrariedade. Discricionariedade é liberdade de agir dentro dos limites 
legais; arbitrariedade é ação fora ou excedente da lei, com abuso ou desvio de poder”. O ato 
arbitrário é sempre ilegítimo e inválido, portanto nulo. 
Autoexecutoriedade: É a faculdade da administração em decidir e executar 
diretamente sua decisão por seus próprios meios, sem intervenção do Judiciário. A 
administração impõe diretamente as medidas ou sanções de polícia administrativa 
necessárias à contenção da atividade antissocial que visa a obstar. Esse princípio autoriza a 
prática do ato de polícia administrativa pela própria administração, independentemente de 
mandato judicial. 
Para Marques (s.d), a executoriedade permite à Administração executar diretamente 
a sua decisão pelo uso da força. E, em decorrência desse atributo, que a Administração 
30 
imponha aos seus administrados atos decorrentes do Poder de Polícia e os pratique, imediata 
e diretamente, sem a interveniência do Poder Judiciário, embora tenha que, posteriormente, 
sujeitar-se ao controle de legalidade. 
Coercibilidade: É a imposição coativa das medidas adotadas pela administração. 
Todo ato de polícia é imperativo, obrigatório para seu destinatário, admitindo até o 
emprego da força pública para seu cumprimento, quando resistido pelo administrado. 
Segundo Meirelles (1997, p. 122), “Não há ato de polícia facultativo para o particular, pois 
todos eles admitem a coerção estatal para torná-los efetivos, e essa coerção também 
independe de autorização judicial”. É a própria administração que determina e faz executar 
as medidas de força que se tornarem necessárias para a execução do ato ou aplicação da 
penalidade administrativa resultante do exercício do poder de polícia. 
Para Marques (s.d.), “A coercibilidade [...] é indissociável da autoexecutoriedade. O 
ato de polícia só é autoexecutório porque é dotado de força coercitiva. É a necessidade de 
se ver as medidas adotadas pela administração através dos meios de coerção”. 
Sobre o atributo da coercibilidade Meirelles (1997, p. 120) diz que: 
O atributo da coercibilidade do ato de polícia justifica o emprego da força física 
quando houver oposição do infrator, mas não legaliza a violência desnecessária ou 
desproporcional à resistência, que em tal caso pode caracterizar o excesso de poder e abuso 
de autoridade nulificadores do ato praticado e ensejadores das ações civis e criminais para 
reparação do dano e punição dos culpados. 
Moreira Neto (1987, p.11) afirma em sua obra que o poder de polícia, com seus 
instrumentos, a discricionariedade e a executoriedade são o tripé do direito administrativo 
da segurança pública. O Poder de Polícia e a Segurança Pública confundida, de um lado, com 
a ordem jurídica e, de outro, com a ordem nas ruas, o conceito de ordem pública mereceu 
exaustivos debates. Embora toda violação à ordem jurídica possa caracterizar-se como uma 
violação à ordem pública, a recíproca não é verdadeira, o que demonstra que esse conceito 
tem matizes meta- jurídicos que, não obstante, referem-se às vigências sociais essenciais à 
convivência harmoniosa e pacífica, como a moral e os costumes. 
Para Moreira Neto (1987, p.13), “Ordem Pública, objeto da Segurança Pública, é a 
situação de convivência pacífica e harmoniosa da população, fundada nos princípios éticos 
vigentes na sociedade”. 
Sobre Segurança Pública, Moreira Neto (1987, p.19) diz que o Estado atua 
juridicamente na sua vertente normativa, estabelecendo as leis que a disciplinarão, e na 
sua vertente jurisdicional, aplicando a lei aos casos contenciosos e, em especial, impondo a 
31 
pena criminal. 
Na vertente administrativa, o Estado atua aplicando a lei para restabelecer a ordem 
violada, de forma discricionária e executória. É nessa atuação que se denomina a atividade 
de polícia de segurança pública, exercendo o Estado o poder de polícia administrativa. 
Na Segurança Pública, o Estado atua pelo poder de polícia, exercitado em suas quatro 
modalidades de ação (AGU): 
 A ordem de polícia: geralmente um comando negativo, contém-se num 
preceito, que, necessariamente, nasce da lei, pois se trata de uma reserva 
legal (art. 5º, II Constituição Federal 1988), e pode ser enriquecido 
discricionariamente, consoante as circunstâncias, pela Administração; 
 O consentimento de polícia: que subordina certas atividades a um controle 
prévio. Quando couber, será a anuência, vinculada ou discricionária, do 
Estado com a atividade submetida ao preceito vedativo relativo, sempre que 
satisfeitos os condicionamentos exigidos; 
 A fiscalização de polícia: é uma forma ordinária e inafastável de atuação 
administrativa que se dá para verificar o cumprimento das ordens ou a 
observância das condições do consentimento. No caso específico da atuação 
da polícia de preservação da ordem pública, é que toma o nome de 
policiamento; 
 A sanção de polícia: é a atuação administrativaautoexecutória que se destina 
à repressão da infração. No caso da infração à ordem pública, a atividade 
administrativa, autoexecutória, no exercício do poder de polícia, esgota-se no 
constrangimento pessoal, direto e imediato, na justa medida para 
restabelecê-la, ou seja, o direito, o costume e moral. 
AULA 3 - PRINCÍPIOS BÁSICOS DO USO DA FORÇA E DA ARMA DE FOGO X DISTÚRBIOS E 
TENSÕES INTERNAS 
Direito de reunião e manifestação nos países democráticos e onde impera o Estado 
de Direito, uma consequência lógica dessa democracia e liberdade é o direito que as pessoas 
têm de saírem às ruas pacificamente em passeatas ou manifestações para expressar suas 
opiniões e sentimentos publicamente, sobre qualquer tema que considerem importante. 
Os instrumentos e normas internacionais preveem certo número de direitos e 
liberdades, que se aplicam às reuniões, manifestações, passeatas e eventos similares. 
Tomemos por exemplo o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP): 
32 
 O direito de ter opiniões próprias sem interferência (PIDCP, art.19.1); 
 O direito à liberdade de expressão (PIDCP, art. 19.2); 
 O direito à reunião pacífica (PIDCP, art. 21); 
 O direito à liberdade de associação (PIDCP, art. 22.1). 
Entretanto, nenhum direito pode ser exercido sem limites. Ao exercício desses 
direitos podem ser impostas restrições, desde que legítimas e necessárias, para que se 
respeite: 
 O direito à reputação de outrem (PIDPC, art. 19.3.a); 
 A proteção da segurança nacional ou da ordem pública (PIDPC, art. 19.3.b) ; 
 A saúde pública e moral (PIDPC, art. 21); 
 As restrições previstas em lei e que se façam necessárias (PIDPC, art. 22.2). 
Além dos artigos citados, a segurança pública pode ser uma razão legítima para 
restrição do direito à liberdade de reunião pacífica e à liberdade de associação. 
O mesmo pode ser observado se você fizer a leitura atenta do artigo 29 (1 e 2) da 
Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH): 
Artigo 29 
Todo ser humano tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e pleno 
desenvolvimento de sua personalidade é possível. 
No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano estará sujeito apenas às 
limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido 
reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer as justas 
exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática. 
De modo idêntico, encontramos na Convenção Americana de Direitos Humanos 
(Pacto de San José) em seu art. 32: 
Toda pessoa tem deveres para com a família, a comunidade e a humanidade. 
Os direitos de cada pessoa são limitados pelos direitos dos demais, pela segurança de 
todos e pelas justas exigências do bem comum, em uma sociedade democrática. 
O equilíbrio está justamente no fato de que a cada direito corresponde a uma 
obrigação, e estas estão, nesse caso, nos deveres da pessoa humana para com a comunidade 
na qual está inserida. Lembrando sempre que as limitações devem ser sempre legais e não 
arbitrárias. 
A violência 
Em toda sociedade podem surgir situações especiais e excepcionais que podem 
33 
colocar em perigo a ordem pública, a segurança das pessoas e, em última instância, o 
próprio Estado. São circunstâncias provocadas por conflitos armados, distúrbios civis ou 
desastres naturais, que requerem do Estado uma atuação especial para restaurar a ordem e 
a normalidade. 
A ruptura da condição normal da ordem pública associa-se, muitas vezes, à ideia de 
violência que ultrapassa aquela dos tempos “normais” * (CAPUTO, 1996). 
* Por violência “normal” entenda-se, por exemplo, a delinquência comum de todos 
os dias, ou em outro plano, as medidas da repressão corrente que desempenha o 
aparelhamento policial nos limites do consentimento legal. 
As Nações Unidas (2001) classificam e definem uma hipotética hierarquia da 
violência em pelo menos cinco níveis. É importante considerar que as fronteiras entre os 
diferentes níveis de violência não são sempre claras, entretanto, de maneira didática, pode-
se considerar que cada situação requer a aplicação das seguintes categorias de normas. O 
quadro a seguir demonstra essa relação: 
Hierarquia da Violência Categorias de normas aplicadas 
Nível 1: situação normal. Nível 1: todos os direitos humanos, sem qualquer 
derrogação. 
Nível 2: tensões internas, 
distúrbios internos, tumultos, 
atos de violência isolados e 
esporádicos. 
Nível 2: todos os direitos humanos, sem qualquer 
derrogação, sob reserva única das restrições autorizada 
pela lei com o único fim de garantir plenamente o 
reconhecimento e respeito pelos direitos e liberdades 
de terceiros, bem como as justas exigências da moral, 
ordem pública e bem-estar geral numa sociedade 
democrática. 
Nível 3: estado de exceção 
proclamado no seguimento de 
tensões internas e de 
violências esporádicas que 
ameaçam a existência da 
nação. 
Nível 3: todos os direitos humanos, salvo algumas 
exceções limitadas, as quais permitem derrogações não 
discriminatórias, nos estritos limites necessários pelas 
exigências da situação. Não é autorizada qualquer 
derrogação no que diz respeito ao direito à vida, à 
proibição de tortura, à proibição da escravidão ou à 
proibição de sujeitar uma pessoa à prisão por 
incapacidade de execução de uma obrigação contratual. 
Nível 4: conflito armado não 
internacional (guerra civil). 
Nível 4: o artigo 3º comum às quatro Convenções de 
Genebra de 1949, o Protocolo Adicional II a essas 
Convenções de 1977, bem como as restantes 
disposições de direitos humanos, incluindo a proteção 
dos direitos não derrogáveis. 
Nível 5: conflito armado 
internacional. 
Nível 5: as quatro Convenções de Genebra e o 
Protocolo Adicional I a essas Convenções de 1977, bem 
como as outras disposições relativas aos direitos 
humanos, incluindo a proteção dos direitos não 
derrogáveis. 
Fonte: Elaborado pela consultora pedagógica com base nas informações. (ONU,2001) 
34 
Distúrbios e tensões internas 
A doutrina vigente não atribuiu uma definição objetiva e precisa sobre distúrbios e 
tensões internas, e nenhum instrumento internacional correu o risco de fazê-lo. Entretanto, 
para os efeitos deste curso, e com intuito de padronizar e esclarecer seu significado, 
adotaram-se os seguintes conceitos constantes do “Diccionario de Derecho Internacional de 
los Conflictos Armados – Pietro Verri (1998)”: 
Distúrbios internos: Segundo definição dada pelo CICV: (Comitê Internacional da Cruz 
Vermelha) em 1971, essa expressão cobre as situações em que, sem que haja um conflito 
armado propriamente dito, existe, não obstante no plano interno, um enfrentamento que 
apresenta certo caráter de gravidade ou de duração e que implica atos de violência. Esses 
últimos podem revestir formas variáveis que podem ir desde a geração espontânea de atos 
isolados de revolta até a luta entre grupos mais ou menos organizados e as autoridades no 
poder. Nessas situações, que não degeneram necessariamente lutas abertas, as autoridades 
no poder recorrem a vastas forças da polícia, inclusive as forças armadas, a fim de 
restabelecer a ordem interior. 
Tensões internas: Segundo uma definição dada pelo CICR em 1971 (com motivo de 
uma consulta a peritos governamentais), trata-se de situações que podem se caracterizar 
por: 
 Grande número de detenções; 
 Grande número de detidos políticos ou de segurança; 
 Prováveis maus tratos infringidos aos detentos; 
 Promulgação do estado de emergência; 
 Alegações de desaparecimentos. 
Ao contrário das situações de distúrbios internos – em que rebeldes estão 
suficientemente organizados e são identificáveis – no caso de tensões internas, a oposição 
raramente está organizada de maneira visível. 
Estado de Emergência: Situação jurídica similar ao estado de sítio, mas que produz 
efeitos menos severos que este último. Em geral, é declarado um perigo do momentoou 
iminente, resultante de uma catástrofe, de uma perturbação grave da ordem pública, de 
uma crise internacional ou de um conflito armado. 
Estado de Sítio: A situação de perigo em que se encontra uma localidade sitiada, 
impõe, em geral, medidas que limitam ou suspendem os direitos e liberdades fundamentais. 
Daí a expressão “estado de sítio” que, por extensão indica a proclamação de uma situação 
35 
de gravidade particular, no interior de um Estado, causada pelo estado de guerra ou por 
outras circunstâncias excepcionais, assim como as medidas conseguintes adotadas para 
garantir ou restabelecer a ordem pública. Essas medidas podem até delegar poderes civis à 
autoridade militar. 
Tanto Caputo (1996-1997), como Rover (2005) compartilham do entendimento que 
nenhum dos instrumentos do direito internacional oferece uma definição adequada do que 
se entende pelos termos: distúrbios interiores e tensões internas. Indicam-nos que, para 
tentar dar uma definição, devemos confrontá- los com uma categoria mais ampla, que é o 
conflito armado não internacional (guerra civil). Remetem-nos ao artigo 1º, parágrafo 2º, do 
Segundo Protocolo Adicional às Convenções de, Genebra de 1949, que estabelece: 
Artigo 1.2 O presente Protocolo não se aplica às situações de tensão e perturbação 
internas, tais como motins, atos de violência isolados e esporádicos e outros atos análogos, 
que não são considerados conflitos armados. (grifo nosso) 
Importante! 
O diploma legal não oferece uma definição, ou melhor, indica-nos uma definição 
“negativa”, isto é, por exclusão. Assim sendo, “situações de tensão e perturbação 
internas” não podem ser caracterizadas como conflitos armados (guerra). Portanto, o 
Protocolo II não se aplica a elas. 
Caputo (1996-1997) afirma que o direito internacional distingue três categorias de 
conflito armado não internacional: 
A guerra civil no sentido clássico do direito internacional; 
Conflito armado não internacional no sentido dado pelo art. 3° comum às quatro 
Convenções de Genebra de 1949; e, 
Conflito armado não internacional no sentido do P.A. II de 1977. 
A classificação de um conflito, segundo essa categoria juridicamente reconhecida, é 
difícil à luz da complexidade dos vários conflitos existentes e da frequente divergência 
doutrinária. É certo dizer que a aplicação de uma norma jurídica em detrimento de outra a 
um caso concreto ou evento específico depende de sua qualificação, isto é, devemos 
sempre perguntar a que tipo de conflito nos referimos. 
Rover (2005) menciona que nem sempre fica claro quando incidentes separados (tais 
como reuniões, passeatas, manifestações, desordens e atos isolados de violência) tornam-se 
relacionados e, vistos conjuntamente, adquirem um padrão consistente descrito como 
distúrbios e tensões. 
Todos os esforços devem ser focalizados na eficaz aplicação da lei, na prevenção e 
36 
detecção do crime e no restabelecimento da segurança pública. Quando tais esforços 
falham, um senso de ilegalidade aliado à impunidade pode crescer dentro de uma 
sociedade, exacerbando ainda mais os níveis de tensão existentes. 
Importante! 
Distúrbios e tensões podem eventualmente levar a situações que ameacem a 
existência da nação, e, dessa forma, deixar o governo tentado a declarar o estado de 
emergência. 
A conceituação do CICV sobre o tema 
Rover (2005) verificou que o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) tentou 
definir distúrbios e tensões. Entende que, embora a fórmula do CICV não seja plenamente 
reconhecida como tal, proporciona uma descrição completa, que serve aos propósitos de 
aprofundamento dos estudos: em um documento do CICV oferece a seguinte descrição de 
distúrbios interiores: 
Envolvem situações em que inexiste um conflito armado não internacional como tal, 
mas consistem numa confrontação dentro do p Envolvem situações em que inexiste um 
conflito armado não internacional como tal, mas consistem numa confrontação dentro do 
país, que é caracterizada por certa gravidade ou duração e que envolve atos de violência. 
Estes últimos podem assumir várias formas, desde a geração espontânea de atos de revolta à 
luta entre grupos mais ou menos organizados e as autoridades no poder. Nessas situações, 
que não necessariamente degeneram em confronto aberto, as autoridades no poder 
utilizam-se de forças policiais em grande número, ou mesmo das Forças Armadas, para 
restaurar a ordem interna. O alto número de vítimas tornou necessária a aplicação de um 
mínimo de regras humanitárias. 
Com relação a tensões internas, indica que o termo geralmente refere-se a: Situações 
de grave tensão (política, religiosa, racial, social, econômica, etc.), ou Sequelas de um 
conflito armado ou distúrbios interiores. 
Direito / Legislação aplicável 
Deyra (2001), assim como Rover (2005) e Caputo (1996-1997) verificam que o artigo 
1.2 do II PA (Protocolo Adicional II) exclui de sua proteção as situações de tensões e 
distúrbios interiores, tais como os motins, os atos isolados e esporádicos de violência e 
outros atos análogos não considerados como conflitos armados. 
Entende que se trata, por isso, de uma situação extra convencional, na qual a 
proteção conferida às vítimas não pode ter por base o Direito Internacional Humanitário 
(DIH). Conclui que os critérios para a qualificação dos conflitos armados não internacionais 
37 
enunciados no art. 1.1 do II Protocolo Adicional são suficientes para excluir as tensões e 
distúrbios interiores do campo de aplicação do DIH. 
Nas situações de distúrbios interiores, as regras do DIH somente podem ser 
invocadas por analogia. Por outro lado, os Estados devem respeitar certos princípios 
humanitários universalmente reconhecidos e os instrumentos de direitos humanos dos quais 
são parte. Devem respeitar, em particular, aqueles direitos que não admitem derrogação, 
mesmo quando a vida da nação estiver ameaçada por um perigo público de caráter 
excepcional. Isso nos remete aos princípios basilares de toda operação de segurança interna: 
 Primazia do poder civil se deve ao fato das Forças Armadas normalmente 
serem empregadas para manter e restaurar a ordem em nome das 
autoridades civis, baseando-se nas normas de direito contidas no direito 
penal e civil do Estado em questão. 
 Uso mínimo da força entende-se a mínima necessária para levar a cabo uma 
missão lícita que pode ir desde a defesa própria até o emprego de técnicas 
tradicionais de guerra. 
 Legitimidade diz respeito às operações que devem ter como objetivo a 
proteção do estado de direito. Deve-se velar para que as forças militares 
sejam parte da solução e que não se convertam em parte do problema. A 
legitimidade existe quando se considera que a missão militar e seu 
desempenho são justos. Quanto mais alta a legitimidade, maiores são as 
probabilidades de êxito. É fundamental que as forças armadas atuem 
respeitando o direito interno e o direito internacional. 
Saiba mais... 
São instrumentos internacionais básicos de direitos humanos que devem ser do 
conhecimento dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei quando atuarem na 
manutenção da ordem pública: 
Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) (disponível em 
http://www.dhnet.org.br/direitos/deconu/textos/integra.htm) 
Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (PIDCP) (Disponível em 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0592.htm) 
Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC) (Disponível 
em www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0591.htm) 
Convenção contra a Tortura e outros tratos ou penas cruéis, desumanas ou 
http://www.dhnet.org.br/direitos/deconu/textos/integra.htm
http://www.dhnet.org.br/direitos/deconu/textos/integra.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0592.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0592.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0591.htm38 
degradantes (Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-
1994/D0040.htm) 
Código de Conduta para os funcionários encarregados de cumpri a lei (Disponível 
em http://www.gddc.pt/direitos-humanos/textos-internacionais-dh/tidhuniversais/dhaj-
pcjp-18.html) 
Princípios básicos sobre o emprego da força e armas de fogo pelos funcionários 
encarregados de cumprir a lei (Disponível em 
http://www.dhnet.org.br/direitos/codetica/codetica_diversos/funclei.html) 
Princípios relativos a uma eficaz prevenção e investigação das execuções 
extralegais, arbitrárias ou sumárias (Disponível em 
https://www.unodc.org/documents/justice-and-prison- 
reform/projects/UN_Standards_and_Norms_CPCJ_-_Portuguese1.pdf) - Conjunto de 
Princípios para a Proteção de todas as pessoas submetidas a qualquer forma de detenção 
ou prisão (Disponível em http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/fpena/lex51.htm) 
Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos 
Um dos instrumentos mais importantes do Direito Internacional dos Direitos 
Humanos é o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP), de 1966. Este prevê, 
em seu art. 4º, as situações de emergências públicas que uma nação pode-se confrontar: 
O art. 4º do PIDCP indica de maneira imperiosa a proibição da derrogação de certos 
direitos fundamentais à pessoa humana quando submetida a essas circunstâncias. 
As Nações Unidas se preocuparam em comentar e interpretar o art. 4º do Pacto. 
Comentam que se permite a um Estado-parte revogar de maneira unilateral e temporária 
algumas obrigações previstas no Pacto, mas, por outro lado, o art. 4º sujeita tanto as 
medidas de derrogação como suas consequências materiais a um regime específico de 
salvaguardas. 
As medidas derrogatórias do conteúdo do Pacto devem ser excepcionais e 
temporárias. Antes mesmo de o Estado invocar o art. 4º, duas condições fundamentais 
devem ser preenchidas: 
 A situação deve ser uma emergência pública que ameace a vida da nação e, 
 O Estado-parte deve proclamar oficialmente o estado de emergência. Este 
último requisito é essencial para a manutenção dos princípios de legalidade e 
império da lei nas situações em que são mais necessárias. 
O Art. 4º (2) dispõe que não autoriza derrogação dos seguintes artigos, que 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0040.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0040.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0040.htm
http://www.gddc.pt/direitos-humanos/textos-internacionais-dh/tidhuniversais/dhaj-pcjp-18.html
http://www.gddc.pt/direitos-humanos/textos-internacionais-dh/tidhuniversais/dhaj-pcjp-18.html
http://www.dhnet.org.br/direitos/codetica/codetica_diversos/funclei.html
http://www.dhnet.org.br/direitos/codetica/codetica_diversos/funclei.html
https://www.unodc.org/documents/justice-and-prison-reform/projects/UN_Standards_and_Norms_CPCJ_-_Portuguese1.pdf
https://www.unodc.org/documents/justice-and-prison-reform/projects/UN_Standards_and_Norms_CPCJ_-_Portuguese1.pdf
https://www.unodc.org/documents/justice-and-prison-reform/projects/UN_Standards_and_Norms_CPCJ_-_Portuguese1.pdf
https://www.unodc.org/documents/justice-and-prison-reform/projects/UN_Standards_and_Norms_CPCJ_-_Portuguese1.pdf
http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/fpena/lex51.htm
39 
contemplam os seguintes direitos inalienáveis: 
Art. 6º, direito à vida; 
Art. 7º, proibição da tortura, penas ou tratamentos cruéis ou degradantes; 
Art. 8º, proibição da escravidão e servidão; 
Art. 11, proibição de prisão por falta de cumprimento de obrigação contratual; 
Art. 15, princípio da anterioridade da lei penal; 
Art. 16, reconhecimento da personalidade jurídica da pessoa; e 
Art. 18, direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião. 
Já no Sistema Interamericano de Direitos Humanos, no mesmo sentido, encontra-se 
a Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH), Pacto de San José de 22 de novembro 
de 1969. 
O uso da força e armas de fogo em manifestações 
Apesar de ser objeto de estudo específico na aula sobre uso da força e armas de 
fogo, o tema merece aqui uma consideração mais especial. A questão do emprego da força 
e armas de fogo é muitas vezes uma questão de doutrina da instituição ou corporação 
policial, colocando-se sempre em evidência a questão do serviço e do interesse público. 
Entretanto, atualmente, enfatiza-se que os policiais e outros funcionários responsáveis pela 
aplicação da lei devem ter conhecimento teórico e prático sobre o uso diferenciado da força. 
O uso diferenciado da força é a possibilidade da seleção adequada de opções de força 
em resposta ao nível de acatamento/submissão do indivíduo a ser controlado. 
O policial deve perceber o grau de risco oferecido quando se depara com pessoas 
que deve abordar. Sua percepção desse risco é que vai permitir ao policial escolher pelo 
aumento ou diminuição do grau de força a ser empregado em cada situação específica. Isso 
requer muito treinamento e experiência profissional. 
O exercício do poder para usar da força e armas de fogo não é uma questão 
individual, mas sim uma questão funcional. Qualquer uso que não esteja dentro da 
legalidade estará sujeito a uma crítica por excesso, desvio, abuso de autoridade ou de poder. 
Recorde que as disposições que se referem ao uso da força e de armas de fogo se 
baseiam sempre em três princípios: 
LEGALIDADE: A ação a ser praticada é legal? Tem previsão na lei? 
NECESSIDADE: A ação a ser praticada é necessária para preservar ou restabelecer a 
ordem pública e proteger a vida humana (própria ou de terceiros)? Existe outra opção? 
PROPORCIONALIDADE: Os meios a serem empregados são moderados e estão em 
proporção à gravidade do delito cometido e ao objetivo legítimo a ser alcançado? 
40 
Outro instrumento internacional que faz referência ao uso da força e armas de fogo 
são os Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas de Fogo pelos Funcionários 
Responsáveis pela Aplicação da Lei (PBUFAF). 
Os dispositivos dos Princípios Básicos do Uso da Força e de Armas de Fogo devem ser 
lidos e interpretados integralmente. De particular importância para o policiamento de 
reuniões e manifestações estão os Princípios Básicos 12 , 13 e 14: Policiamento de reuniões 
ilegais. 
Como todos têm o direito de participar de reuniões legítimas e pacíficas, de acordo 
com os princípios expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos e no Pacto 
Internacional de Direitos Civis e Políticos, os governos, entidades e os responsáveis pela 
aplicação da lei deverão reconhecer que a força e as armas de fogo só podem ser usadas nos 
termos dos Princípios 13 e 14. 
Ao dispersar grupos ilegais, mas não-violentos, os responsáveis pela aplicação da lei 
deverão evitar o uso da força, ou quando tal não for possível, deverão restringir tal força ao 
mínimo necessário. 
Ao dispersar grupos violentos, os responsáveis pela aplicação da lei só poderão fazer 
uso de armas de fogo quando não for possível usar outros meios menos perigosos e apenas 
nos termos minimamente necessários. Os responsáveis pela aplicação da lei não deverão 
fazer uso de armas de fogo em tais casos, a não ser nas condições previstas no Princípio 9. 
Ao estudar o PB 14, a conclusão inicial poderia ser de que esse apresenta uma 
circunstância adicional para o uso legal de armas de fogo. Isso porém não é verdade, pois 
apenas reitera que somente as condições mencionadas no PB 9 (quais sejam: uma ameaça 
iminente de morte ou lesão grave) é que justificam o uso de armas de fogo. 
Os riscos acrescentados por uma reunião violenta - grandes multidões, confusão e 
desorganização - fazem com que seja questionável a conveniência ou praticabilidade do uso 
de armas de fogo nessas situações, tendo em vista as consequências em potencial para as 
pessoas que estejam presentes, porém não envolvidas. 
O Princípio Básico 14 não permite o disparo indiscriminado contra uma multidãoviolenta como uma tática aceitável para dispersar aquela multidão. 
 
41 
UNIDADE 4 - PODERES BÁSICOS NA APLICAÇÃO DA LEI 
Nesta unidade, você estudará os poderes de captura, detenção e o poder de uso da 
força e armas de fogo. 
Ao final desta unidade, você será capaz de: 
 Listar os poderes básicos para aplicação da lei; 
 Definir e compreender o sentido das expressões Captura e Detenção; 
 Enumerar e compreender os princípios pelos quais os poderes básicos de usar 
a força e armas de fogo precisam ser aplicados pelos funcionários 
encarregados de aplicar a lei quando no exercício de sua atividade; 
O conteúdo desta unidade está dividido nas seguintes aulas: 
Aula 1 – Poderes básicos na aplicação da lei: definições 
Aula 2 – Captura 
Aula 3 – Detenção 
Aula 4 – Uso da força e armas de fogo. 
AULA 1 – PODERES BÁSICOS NA APLICAÇÃO DA LEI: DEFINIÇÕES 
Nos Estados Democráticos de Direito todos têm direito à vida, liberdade e segurança 
(PIDCP, Art. 9.1), porém frente à violação da lei, a privação de liberdade pessoal é um dos 
meios legítimos para o Estado exercer sua atividade soberana. 
Privação da liberdade é a definição mais ampla da restrição da liberdade de ir e vir. A 
privação se estende a situações em que esta é causada tanto por pessoas comuns quanto 
estas por agentes públicos exercendo os poderes da aplicação da lei: captura, detenção e o 
uso da arma de fogo. 
As definições a seguir foram extraídas do Conjunto de princípios para a proteção de 
todas as pessoas sob qualquer forma de detenção ou prisão, e auxiliarão você na 
compreensão dos poderes básicos na aplicação da lei, que você estudará nas demais aulas 
desse unidade. 
Captura designa o ato de deter uma pessoa sob suspeita da prática de um delito, ou 
pela ação de uma autoridade; 
Pessoa detida designa qualquer pessoa privada de sua liberdade, exceto no caso de 
condenação por um delito; 
Pessoa presa significa qualquer pessoa privada de sua liberdade como resultado da 
condenação por um delito; 
42 
Detenção significa a condição das pessoas detidas nos termos referidos nos itens 
“captura” e “pessoa detida”; 
Prisão significa a condição das pessoas presas nos termos referidos nos itens 
“captura” e “pessoa presa”; 
Autoridade judicial ou outra autoridade significa uma autoridade judicial ou outra 
autoridade perante a lei cujo status e mandato assegurem as mais sólidas garantias de 
competência, imparcialidade e independência. 
AULA 2 – CAPTURA 
Definição e esclarecimento inicial 
Utiliza-se o termo “captura” como tradução da palavra “arrest” em inglês, de forma a 
padronizar este curso aos instrumentos internacionais aqui referidos, e também para marcar 
a distinção entre a captura da pessoa sob suspeita e a prisão da pessoa sentenciada. 
O artigo 9.1 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP) prescreve: 
Ninguém será privado de liberdade exceto com base em e de acordo com os procedimentos 
estabelecidos por lei (PIDCP, art. 9.1). 
Para que alguém seja capturado ou detido é necessário que os motivos estejam 
claramente estabelecidos na legislação nacional, ou não sejam contrários a esta. 
A norma internacional chamada de Conjunto de princípios para a proteção de todas 
as pessoas sob qualquer forma de detenção ou prisão, nos apresenta condições e requisitos 
mínimos a serem observados pelos Estados quando de captura, detenção ou prisão de 
pessoas. Entretanto, é possível encontrar diferentes conceitos, às vezes mais abrangentes 
em legislações nacionais dos Estados. Para efeitos deste curso verificaremos o que nos 
apresenta a normativa internacional. 
O Conjunto de Princípios declara que a captura, detenção ou prisão somente deverão 
ser efetuados em estrita conformidade com os dispositivos legais e por encarregados 
competentes (Atribuição legal, conhecimento e habilidade), ou pessoas autorizadas para 
aquele propósito (Princípio 2). 
Direitos no ato da Captura 
Sempre que uma pessoa for capturada, a razão deve ser pela suspeita da prática de 
um delito ou por ação de uma autoridade (Conjunto de Princípios, Princípio 36.2). 
Toda pessoa capturada deverá ser informada, no momento de sua captura, das 
razões da captura, devendo ser prontamente informada de qualquer acusação contra ela 
(PIDCP, artigo 9.2; Conjunto de Princípios, Princípio 10). 
43 
A pessoa capturada deverá ser levada a um local de custódia, devendo ser 
conduzida prontamente perante um juiz ou outra autoridade habilitada por lei a exercer 
poder judicial, que decidirá sobre a legalidade e a necessidade da captura (PIDCP, artigo 9.3; 
Conjunto de Princípios, Princípios 11 e 37). 
Não há uma definição clara do que se entende por prontamente. Em muitos Estados o 
período máximo permitido antes que uma pessoa capturada seja trazida perante um juiz ou 
autoridade similar é limitado a 48 horas; em outros Estados este período é limitado a 24 
horas. Este período de 48 ou 24 horas é mais comumente chamado de custódia policial. O 
período que o segue é chamado de prisão preventiva. 
As autoridades responsáveis pela captura devem, no momento da captura, ou pouco 
depois, prestar-lhe informação e explicação sobre os direitos e sobre o modo de os exercer 
(Conjunto de Princípios, Princípio 13). 
Importante! 
Para proteger a situação especial das mulheres e das crianças e adolescentes 
existem disposições adicionais a respeito de sua captura, detenção e prisão. Procure se 
informar na legislação específica sobre essas questões. 
AULA 3 - DETENÇÃO 
Esclarecimento inicial 
Nos vários instrumentos de direitos humanos relativos à detenção, é feita uma 
distinção entre aquelas pessoas que aguardam julgamento e aquelas que foram condenadas 
por um delito. O primeiro grupo é chamado de detidos, e o segundo grupo é chamado de 
presos. No entanto, esta distinção não é aplicada uniformemente em todos os instrumentos. 
As Regras Mínimas para o Tratamento de Presos (RMTP), embora aplicável a ambas as 
categorias acima, somente usa o termo presos, e subsequentemente os divide em presos 
não condenados e condenados. 
Independente da terminologia usada, a distinção entre pessoas condenadas e não 
condenadas é importante, pois os direitos que os indivíduos de cada um dos grupos têm, 
não são exatamente os mesmos, tampouco as normas para o tratamento de cada categoria. 
É também importante observar-se que, como regra geral, os encarregados da 
aplicação da lei que exercem atividade policial somente serão responsáveis por (e exercer 
autoridade sobre) pessoas que ainda não foram condenadas por um delito, e que, além 
disto, ficam um tempo relativamente curto em locais de detenção policial. 
 
44 
Instituições Penais 
Conforme exposto, a maioria dos Estados desenvolveu um sistema no qual os 
encarregados da aplicação da lei (policiais) não têm responsabilidade pelos presos 
condenados, ou não exercem autoridade sobre eles. Esta responsabilidade e autoridade são 
deixadas aos encarregados da aplicação da lei que são chamados de agentes penitenciários, 
guardas penitenciários ou gendarmerias, que tenham recebido instrução e treinamento 
especiais para o desempenho de suas funções. 
O treinamento dos policiais, geralmente não os qualifica como pessoal competente 
para exercer funções em instituições penais ou correcionais. Caso recebam estas funções, ao 
menos treinamento e instruções adicionais serão necessários. 
Como já visto, o instrumento básico que estabelece a boa prática no tratamento de 
presos e na gestão de instituições penais é a Regra Mínima para Tratamento de Presos 
(RMTP). Este é dividido em duas partes: Normas de Aplicação Geral e Normas Aplicáveis a 
Categorias Especiais. 
1a Parte: Normas de aplicação geral 
A 1a Parte é aplicável a todas as categorias de presos - homens ou mulheres, 
menores ou adultos, criminais ou civis, julgados ou sem julgamento. 
A 2a Parte das RMTP identifica cinco categorias diferentes de presos:A. presos condenados; 
B. presos que sofrem de insanidade e doenças mentais; 
C. presos detidos ou aguardando julgamento; 
D. presos condenados a prisão civil; 
E. pessoas detidas ou presas sem acusação. 
AULA 4 - USO DA FORÇA E ARMAS DE FOGO 
Este “poder” é de fundamental importância para o desempenho das atividades 
daqueles encarregados de aplicar a lei, por essa razão a SENASP desenvolveu um Curso de 
EAD específico para os interessados em se aprofundar no tema. Portanto, neste momento 
faremos a necessária abordagem para que você compreenda a responsabilidade e extensão 
do Uso da Força e Arma de Fogo na atividade de Segurança Pública. 
Como você estudou no unidade 3, o uso da força e emprego de armas de fogo pelos 
FEAL tem implicações de grande alcance e profundidade e, por esta razão, foi elaborado um 
instrumento internacional específico que estabelece princípios para seu emprego. Este 
45 
documento, denominado Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo 
pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei foi adotado pelo Oitavo Congresso 
das Nações Unidas sobre a Prevenção do Crime e o Tratamento de Infratores em 07 de 
setembro de 1990. 
Portaria interministerial no. 4.226, de 31 de dezembro de 2010 
O tema sobre o uso diferenciado da força no Brasil conta desde o final do ano de 2010 
com a Portaria Interministerial (Ministério da Justiça e Secretaria de Direitos Humanos da 
Presidência da República), que estabelece diretrizes sobre o uso da força pelos agentes de 
segurança pública. 
A referida Portaria teve como referência instrumentos internacionais importantes do 
sistema de direitos humanos das Nações Unidas. 
As NAÇÕES UNIDAS (1997, p. 87) expressam sua preocupação com o uso da força de 
maneira legal e ao mesmo tempo eficaz. Reconhece que o trabalho policial na sociedade é 
difícil e delicado e também entende que o uso da força em circunstâncias claramente 
definidas e controladas é inteiramente lícito. Ressalta, entretanto, que o uso excessivo da 
força afeta diretamente o princípio em que se baseiam os direitos humanos, ou seja, o 
respeito à dignidade inerente à pessoa humana. Por essa razão considera necessária a 
adoção de uma série de medidas para impedir que esses abusos ocorram, e caso isso 
aconteça que se disponha de mecanismos de correção e sanção apropriados. 
Deve-se levar em consideração o caráter normativo de uma Portaria. Portanto, suas 
diretrizes são de observância obrigatória apenas pelos: 
 Departamento de Polícia Federal; 
 Departamento de Polícia Rodoviária Federal; 
 Departamento Penitenciário Nacional; e 
 Força Nacional de Segurança Pública. 
Para as forças de segurança (PC, PM, Guardas Municipais, etc.) dos entes federados 
(Estados, Distrito Federal e Municípios), ela não tem caráter obrigatório, mas esses serão 
estimulados a tomar iniciativas que visem à implementação de ações para efetivação das 
diretrizes tratadas pela portaria. 
Entretanto, mesmo não tendo caráter obrigatório para as forças estaduais e 
municipais, passa a ser uma excelente ferramenta para a orientação e padronização dos 
procedimentos da atuação dos agentes de segurança pública aos princípios internacionais 
sobre o uso da força. Dá-se com isso um grande passo na melhoria da formulação e ajustes 
46 
da doutrina, da educação, de técnicas operacionais, além de instrumentalizar os órgãos de 
controle e correição com parâmetros mundialmente aceitáveis de profissionalismo. 
Normalmente as corporações policiais nacionais têm normas ou diretrizes internas 
que orientam seus integrantes quanto ao emprego da força e de armas de fogo. A prática 
pode variar de uma corporação para outra, mas os princípios são quase sempre os mesmos. 
Portanto, o uso da força e de armas de fogo deve ser limitado por leis e regulamentos, 
colocando sempre em evidência as questões do serviço e do interesse público. 
 
47 
UNIDADE 5 - COMANDO, GESTÃO E INVESTIGAÇÃO DE VIOLAÇÕES 
DE DIREITOS HUMANOS. 
Nesta unidade, você estudará a responsabilidade dos funcionários com atribuições 
de Comando e Gestão. 
Ao final desta unidade, você será capaz de: 
 Compreender a importância de um efetivo controle das atividades 
operacionais dos agentes de segurança pública. 
 Compreender a necessidade de adotar medidas internas de sanção quando 
constatar abuso de poder por parte de um agente de segurança pública; 
 Conhecer os mecanismos de investigação de violações de Direitos Humanos; 
O conteúdo desta unidade está dividido nas seguintes aulas: 
Aula 1 – Procedimentos de supervisão e revisão 
Aula 2 – Mecanismos de investigação de violações de direitos humanos 
AULA 1 – PROCEDIMENTOS DE SUPERVISÃO E REVISÃO 
A doutrina institucional e a tomada de decisão 
A função de aplicação da lei compreende uma larga gama de serviços. 
No desempenho de seu serviço público os funcionários encarregados pela aplicação 
da lei têm um alto grau de responsabilidade individual, pois devem tomar decisões difíceis, 
inclusive sobre questões que podem envolver a vida ou morte, na maioria das vezes por sua 
própria conta, e em frações de segundo. 
Em situações reais suas decisões imediatas não são orientadas por um superior 
hierárquico que lhes dá a ordem, senão orientadas pelo seu aprendizado das normas e pela 
doutrina institucional, além de seu próprio juízo e pelos princípios de legalidade, 
necessidade e proporcionalidade. 
VIANNA (2000) afirma que princípios, como a aplicação de meios pacíficos antes do 
uso da força e emprego de níveis mínimos de força em qualquer circunstância, são 
fundamentais para o policiamento. Considerando esses princípios e a concentração da força, 
explícita ou implícita, para o policiamento; considerando a natureza do policiamento com 
suas incertezas e seus perigos; e considerando a importância do policiamento na sociedade, 
é claro que o poder do uso da força só poderia ser atribuído àquelas pessoas qualificadas 
para exercê-la convenientemente. Isto implica uma seleção extremamente rigorosa e 
processos de treinamento, um comando efetivo, um controle e uma supervisão dos policiais 
pelos seus superiores, e uma estrita responsabilidade da polícia frente à lei quando há abuso 
48 
de poder. 
Os órgãos encarregados pela aplicação da lei, e aqueles funcionários em função de 
chefia, comando ou direção, devem dar ênfase especial aos aspectos: 
Contratação e seleção: É necessário que se estabeleçam os perfis físicos, 
educacionais, psicológicos e profissiográficos mínimos para seleção e contratação dos 
funcionários encarregados pela aplicação da lei, em conformidade com as funções que 
devem desempenhar. 
Educação e a formação: É necessário garantir a qualidade e velar para que estejam 
em consonância com as normas internacionais de direitos humanos. Além do que, deve-se 
continuamente examinar os procedimentos de aplicação da lei, lembrando que o artigo 2º 
do Código de Conduta dos Funcionários Encarregados pela Aplicação da Lei estabelece que 
os FEAL tem o dever de respeitar e proteger a dignidade humana e manter e defender os 
Direitos Humanos de todas as pessoas. 
Também é de fundamental importância que cada funcionário encarregado pela 
aplicação da lei passe por exames e avaliações periódicas, para que se verifiquem suas 
condições físicas, intelectuais e psíquicas adequadas para o desempenho de suas funções. 
Prestação de contas: Os cidadãos têm direito a pedir às organizações encarregadas 
pela aplicação da lei que prestem contas de seus trabalhos e do desempenho de suas 
funções. Portanto, essas organizações devem registrar, analisar e avaliar seus próprios 
desempenhos e dar conhecimento das conclusões aos seus membros. 
Nível 1 - Prestação de contas no plano Internacional aplicável aos governos dos 
países: Tratam-se de situações que dentro de um território de um Estado revelem um 
quadro persistente de violações graves constantes de direitoshumanos. 
Ainda que essas violações sejam cometidas por agentes individuais de ordem pública, 
a comunidade internacional considera responsável o Estado. Portanto a ação de um 
funcionário encarregado pela aplicação da lei pode ter repercussões Internacionais. 
Nível 2 - Prestação de contas a um órgão externo pelas práticas das organizações 
encarregadas pela aplicação da lei: Em uma sociedade, as organizações encarregadas pela 
aplicação da lei, fazem parte de um sistema maior que compreende a comunidade, as 
autoridades locais e o poder judicial. 
De uma maneira ou de outra, as organizações encarregadas pela aplicação da lei 
devem render contas a estes outros interlocutores. A prestação de contas pode ser direta ou 
indireta. 
As Instituições que enviam recurso de apoio às organizações encarregadas pela 
49 
aplicação da lei têm direito a opinar sobre a forma que se utilizam os recursos, ademais, as 
autoridades locais têm direito a participar nas políticas de aplicação da lei. 
Outra pressão evidente são as queixas derivadas da comunidade. Na prática as 
queixas oficiais sobre a atuação de funcionários encarregados pela aplicação da lei, podem 
influenciar de maneira determinante nas estratégias e planos de aplicação da lei. 
No processo de prestação de contas, deve-se ter em conta todos os interessados que 
formam o entorno da aplicação da lei. 
ROVER (2005) afirma que os governos e as organizações encarregadas da aplicação 
da lei deverão estabelecer procedimentos eficazes de comunicação e revisão aplicáveis a 
todos os incidentes em que: 
 morte ou ferimento forem causados pelo uso da força e armas de fogo pelos 
encarregados da aplicação da lei; 
 os encarregados da aplicação da lei fizerem uso de armas de fogo no 
desempenho de suas funções. 
Nível 3 - Prestação de contas no plano interno das organizações encarregadas pela 
aplicação da lei: Diz respeito à responsabilidade individual de cada integrante dessas 
organizações relativo às ações licitas ou ilícitas, que tenham relação com o desempenho de 
suas funções. Inclusive quando cumprem ordens de seus superiores, os funcionários são 
responsáveis pelos seus atos. 
Caso um funcionário encarregado pela aplicação da lei constate que uma ordem é 
manifestamente ilegal e tem a possibilidade razoável, por mínima que seja, de negar-se a 
acatá-la, e não está obrigado a cumpri-la. 
Em qualquer caso, os superiores que dão a determinação ou ordem manifestamente 
ilegal são plenamente responsáveis se sabem ou deveriam saber que os agentes sob seu 
comando recorrem a práticas ilícitas ou arbitrárias. 
Em tais casos, os superiores têm a obrigação de tomar todas as medidas à sua 
disposição para impedir, eliminar ou denunciar essas práticas. 
Responsabilização dos Encarregados da Aplicação da Lei 
Os governos e as organizações da aplicação da lei deverão assegurar que os 
profissionais em posição de mando, chefia, comando, sejam responsabilizados, caso fique 
provado ou presumido terem tido conhecimento de que encarregados sob o seu comando 
estão, ou tenham estado, recorrendo ao uso ilegítimo de força e armas de fogo, e não 
tenham tomado todas as providências a seu alcance a fim de impedir, reprimir ou comunicar 
50 
tal uso. (Princípio Básico 24) 
Os governos e as organizações de aplicação da lei deverão assegurar que não seja 
imposta qualquer sanção criminal ou disciplinar a encarregados da aplicação da lei que ao 
atuarem de acordo com o Código de Conduta e esses princípios se recusarem a cumprir uma 
ordem [ilegal] para usar força ou armas de fogo ou comuniquem tal uso [ilegal] realizado 
por outros encarregados. 
Obediência a ordens superiores não será nenhuma justificativa quando os policiais: 
 Tenham conhecimento de que uma ordem para usar força e armas de fogo 
que tenha resultado em morte ou ferimento grave de alguém foi 
manifestamente ilegítima; e 
 Tiveram oportunidade razoável para se recusar a cumpri-la. 
Importante! 
Nessas situações, a responsabilidade caberá também ao superior que tenha dado 
as ordens ilegítimas. 
O que é deixado claro pelos Princípios Básicos sobre o Uso da Força e de Armas de 
Fogo pelos funcionários encarregados pela aplicação da lei é que a responsabilidade cabe 
tanto aos encarregados, envolvidos em um incidente particular com o uso da força e armas 
de fogo, como a seus superiores. Esses princípios afirmam que os chefes têm o dever de zelo 
sem que isso retire a responsabilidade individual dos encarregados por suas ações. 
A relação existente entre essas disposições e as disposições sobre o uso indevido de 
força e armas de fogo (PB 7 e 8) deve ser compreendida pelos encarregados da aplicação da 
lei. 
Mecanismos de Queixa 
Os cidadãos que consideram que foram vítimas de procedimentos arbitrários ou 
abusivos por parte de um funcionário encarregado pela aplicação da lei, devem ter a 
possibilidade de apresentar uma queixa. 
O artigo 9.5 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos estabelece que as 
vítimas têm direito de reparação. 
Muitos países possuem mecanismos e recursos para tratar das queixas de seus 
cidadãos. Esses recursos vão desde as comissões internas de revisão até serviços especiais. 
Sejam quais forem os mecanismos existentes em um país, as queixas sobre o trabalho dos 
funcionários encarregados pela aplicação da lei são sempre um assunto delicado. Para um 
agente não é fácil encarar críticas de um cidadão. A resistência coletiva por parte dos agentes 
51 
de uma determinada organização em receber queixas oriundas dos cidadãos é muito comum 
em geral e, as vezes, vê-se estas reclamações de modo muito questionável, fruto de um 
corporativismo natural. 
Por essa razão, os superiores em função de chefia, comando ou direção devem levar 
em conta todas as queixas, registrá-las e investigá-las de maneira pronta, completa e 
imparcial. Além disso, devem orientar seus subordinados que todos os cidadãos têm direito 
de apresentar queixas. Diz-se que a organização ainda é digna de crédito quando os cidadãos 
a procuram para resolver seus problemas e esperam uma resposta aceitável. 
Como você já estudou, em um sistema democrático as organizações encarregadas 
pela aplicação da lei devem prestar contas sobre suas atividades. Isso é agir com 
transparência. 
Ao final deste tema cabe apresentar os Princípios Orientadores para a Aplicação 
Efetiva do Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei 
(24/5/1989) adotado por ocasião da 15a sessão plenária do Conselho Econômico e Social 
das Nações Unidas, que prevê uma série de providências, dentre as quais se destacam: 
Seleção, educação e formação. 
Deve ser dada uma importância primordial à seleção, educação e formação dos 
funcionários responsáveis pela aplicação da lei. Os Governos devem igualmente promover a 
educação e a formação através da frutuosa troca de ideias a nível regional e inter-regional. 
Remuneração e condições de trabalho. Todos os funcionários responsáveis pela 
aplicação da lei devem ser satisfatoriamente remunerados e se beneficiar de condições de 
trabalho adequadas. 
Disciplina e supervisão. 
Devem ser estabelecidos mecanismos eficazes para assegurar a disciplina interna e o 
controle externo assim como a supervisão dos funcionários responsáveis pela aplicação da 
lei. 
Queixas de particulares. Devem ser adotadas disposições especiais, no âmbito dos 
mecanismos previstos pelo parágrafo 3, para o recebimento e tramitação de queixas 
formuladas por particulares contra os funcionários responsáveis pela aplicação da lei, e a 
existência destas disposições será dada a conhecer ao público. 
AULA 2 - INVESTIGAÇÃO DE VIOLAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS 
2.1. O Estado e as violações dos Direitos Humanos 
As violações aos direitos humanos são violações das normas pertinentes ao direito 
52 
penal (nacional) e/ou do direito internacional dos direitos humanos. 
Em um sentido legalrestrito, os direitos humanos são violados somente quando o 
ato ou omissão é imputável ao Estado. 
O Instituto Interamericano de Direitos Humanos (IIDH) afirma que se produz uma 
violação dos direitos humanos cada vez que o Estado (entenda-se: Poder Executivo, Poder 
Legislativo e Poder Judiciário, assim com os governos municipais ou locais) não cumprem 
com as obrigações que sobre esta matéria lhe impõe o ordenamento jurídico vigente. 
Veja o que prescrevem os artigos 1º e 2º da Convenção Americana de Direitos 
Humanos (Pacto de San José). 
Artigo 1°: Obrigação de Respeitar os Direitos 
Os Estados-Partes nesta Convenção comprometem-se a respeitar os direitos e 
liberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa que esteja 
sujeita à sua jurisdição, sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, idioma, 
religião, opiniões políticas ou de qualquer outra natureza, origem nacional ou social, posição 
econômica, nascimento ou qualquer outra condição social. 
Para os efeitos desta Convenção, pessoa é todo ser humano. 
Artigo 2° Dever de Adotar Disposições de Direito Interno 
Se o exercício dos direitos e liberdades mencionados no artigo 1 ainda não estiver 
garantido por disposições legislativas ou de outra natureza, os Estados-Partes 
comprometem-se a adotar, de acordo com as suas normas constitucionais e com as 
disposições desta Convenção, as medidas legislativas ou de outras natureza que forem 
necessárias para tornar efetivos tais direitos e liberdades. 
Como funcionário encarregado pela aplicação da lei, você deve oferecer proteção e 
assistência a todas as vítimas de delitos. Entretanto, isso não se limita a situações em que 
cidadãos são vítimas de outros cidadãos. Deve-se levar em conta que os funcionários 
encarregados pela aplicação da lei, em virtude de suas atividades profissionais, e os poderes 
que desempenham, podem potencialmente incorrer em abuso de poder e, em consequência 
disso, cometer graves violações de direitos humanos. 
As vítimas de violações de direitos humanos merecem atenção especial já que a 
responsabilidade de seus atos recai sobre o Estado. 
Vale dizer que as violações cometidas por um funcionário público comprometem a 
relação entre o Estado e a comunidade. Até eventos e fatos isolados podem comprometer a 
imagem de toda uma organização. É necessário considerar que se os cidadãos não confiam 
na polícia, não irão prestar seu apoio e assistência aos funcionários encarregados pela 
53 
aplicação da lei quando necessário. Portanto a prevenção destes incidentes é de grande 
importância. 
Quando se constatam violações de Direitos Humanos, os superiores em função de 
chefia, comando e direção têm a obrigação de dar uma atenção especial às vítimas e 
assegurar para que haja uma investigação completa, pronta e imparcial. 
Os Estados partes têm obrigação de garantir que toda pessoa cujos direitos tenham 
sido violados possa interpor recurso efetivo, principalmente quando tal violação tenha sido 
cometida por pessoas que atuavam em exercício de suas funções oficiais. 
Os Estados têm a obrigação de submeter tais atos ou omissões a um controle judicial, 
assim como de proteger as vítimas dos mesmos. Caso essas violações de direitos humanos já 
estejam previstas na legislação penal nacional, as medidas devem ser tomadas no âmbito da 
jurisdição nacional. 
Alguns países adotam mecanismos de controle externo para captação de queixas 
através de um Defensor do Povo, também conhecido como “ombudsman” ou “ouvidor”, 
que recebem as reclamações individuais e podem atuar como mediador imparcial e pode 
propor medidas às organizações encarregadas pela aplicação da lei. 
Alguns Estados também tem um acompanhamento e controle sobre as violações de 
direitos humanos feitas através do Poder Legislativo, onde comumente se instalam 
comissões específicas sobre a matéria. 
No plano internacional os Estados podem ter que responder pelas suas práticas no 
campo dos direitos humanos, através de uma larga variedade de mecanismos jurídicos, 
quase-jurídicos, e políticos, incluindo processos de queixas individuais estabelecidas ao 
abrigo de alguns tratados sobre Direitos Humanos. 
No Sistema Interamericano de Direitos Humanos os dois principais órgãos de 
monitoramento são a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a Corte 
Interamericana de Direitos Humanos, ambos instituídos pela Convenção Americana ("Pacto 
de São José"). 
A Comissão Interamericana 
Ao desempenhar suas atribuições, a Comissão - no que se relaciona a direitos humanos 
- pode requerer informações específicas aos Estados-partes da Convenção Americana sobre o 
modo como estes, pela legislação interna, asseguram a efetiva aplicação dos direitos 
assegurados pelo instrumento. Igualmente, a Comissão deve elaborar relatório anual, a ser 
submetido à Assembleia Geral da OEA, no qual são analisados os progressos obtidos, bem 
como são recomendados países em que se faz necessária atenção especial, dado o seu grave 
54 
quadro de violações. O relatório também comunica casos de denúncias recebidas e 
investigações realizadas. 
A Comissão é competente para receber petições de indivíduos, grupos de pessoas ou 
organizações não governamentais, desde que legalmente reconhecidos em pelo menos um 
país membro da OEA. A petição deve referir-se a uma provável violação de um direito 
protegido pela Convenção, ou a uma provável violação da Declaração, quando se tratar de 
Estados-membros que não sejam parte da Convenção. 
Note-se que a Comissão tem jurisdição sobre todos Estados-membros da OEA, mas 
aqueles que não aderiram à Convenção Americana, são supervisionados segundo a 
Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem. 
A Corte Interamericana 
A Corte tem competência para resolver disputas referentes à violação de direitos 
humanos por um Estado (competência contenciosa), bem como para interpretar dispositivos 
da Convenção Americana de Direitos Humanos e demais instrumentos relativos à matéria 
(competência consultiva). 
A Corte somente pode receber casos submetidos pela Comissão ou Estados 
signatários. Por isso, indivíduos ou grupos necessariamente terão que primeiro provocar a 
Comissão e, se esta decidir, envia o caso à Corte, privilegiando-se assim a solução amistosa 
dos conflitos. 
A Corte, com sua decisão, pode exigir o restabelecimento do direito ou liberdade 
violados, a reparação do dano e o pagamento de justa indenização à vítima. Suas decisões 
são definitivas, não cabendo recursos, devendo ser fundamentadas. Quando publicadas, as 
decisões são remetidas a todos os Estados signatários, e o controle de sua execução cabe à 
Assembleia Geral da OEA, que anualmente recebe relatório com os casos julgados pela 
Corte. 
No que se refere à função consultiva da Corte, esta pode ser provocada por qualquer 
Estado-membro da OEA, mesmo que não seja signatário do Pacto, ou mesmo por outros 
órgãos internos deste organismo. 
Recursos no sistema das Nações Unidas 
No âmbito das Nações Unidas existem dois tipos básicos de mecanismos para 
verificação da implementação e controle das questões de direitos humanos: 
Mecanismos Convencionais: são aqueles baseados e previstos expressamente no 
conteúdo das convenções e tratados de direitos humanos para monitorar sua 
implementação; 
55 
Caso algum Estado não tenha condições ou não demonstre a vontade em punir os 
abusos contra os direitos humanos cometidos em seu território, existem mecanismos e 
procedimentos na ONU que permitem que estes abusos sejam denunciados. 
Mecanismos Extraconvencionais: são aqueles baseados na Carta da ONU. 
“Procedimentos Especiais" é o nome genérico dado aos mecanismos estabelecidos pelo 
Conselho de Direitos Humanos para tratar de situações em países específicos ou questões 
temáticas em todas as partes do mundo. 
Os procedimentos especiais do Conselho de Direitos Humanos são especialistas 
independentesde direitos humanos com mandatos para informar e aconselhar sobre os 
direitos humanos a partir de uma perspectiva temática ou específica de cada país. 
Os Procedimentos Especiais são desempenhados tanto por indivíduos (chamados 
"Special Rapporteur“ (relator especial), "Special Representative of the Secretary-General“ 
(representante especial do Secretário Geral) 
, "Representative of the Secretary-General" or "Independent Expert“ (especialista 
independente) ou um grupo de trabalho normalmente composto de 5 membros (um de cada 
região do mundo). 
O sistema de Procedimentos Especiais é um elemento central da estrutura 
administrativa das Nações Unidas de direitos humanos e abrange todos os direitos humanos: 
civis, culturais, econômicos, políticos e sociais. 
Com o apoio do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos 
Humanos (Office of the High Commissioner for Human Rights), os Procedimentos Especiais 
têm por incumbência realizar visitas aos países ; atuar em casos individuais e nos assuntos 
de natureza estrutural mais ampla através do envio de comunicações aos Estados e outros 
em que eles tenham notícia de supostas violações ou abusos. Também têm como missão 
realizar estudos temáticos e convocar consultas com especialistas, contribuir para o 
desenvolvimento de normas internacionais de direitos humanos, se envolverem na defesa 
das vítimas, sensibilizar a opinião pública e dar conselhos para a cooperação técnica. 
Os Procedimentos especiais emitem um relatório anual ao Conselho de Direitos 
Humanos e na maioria dos mandatos também é feito um relato à Assembleia Geral da ONU. 
O dever das organizações de aplicação da lei 
As organizações de aplicação da lei têm um dever, baseado no direito nacional e nas 
obrigações e responsabilidade assumidas pelos Estados, em face dos instrumentos 
internacionais, de investigar prontamente as violações dos direitos humanos rapidamente, 
completamente e imparcialmente. 
56 
O estabelecimento de procedimentos de controle e de revisão é indispensável para 
garantir que os funcionários que aplicam as leis possam prestar contas individualmente. 
Vianna (2000) afirma que: 
A importância de assegurar o fim dos abusos de poder no uso da força precisa ser 
enfatizada. A violência policial, no entanto, pode resultar em sérias violações do direito à 
vida. Além disso, ela exacerba as dificuldades e os perigos do policiamento, já bastante difícil 
e perigoso em si mesmo, por causa das reações imediatas e de longa duração que provoca. 
A violência policial ilegítima pode levar a uma séria desordem pública, à qual a polícia 
tem, então, que responder, podendo assim expô-la a situações perigosas e desnecessárias, 
fazendo com que ela se torne mais vulnerável aos contra-ataques, conduzindo a uma falta de 
confiança na própria polícia por parte da comunidade – o que se torna prejudicial a um 
policiamento efetivo. 
57 
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