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TEORIAS_E_TECNICAS_PSICOTERAPICAS_I_Curs

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C E N T R O U N I V E R S I T Á R I O A R A R A Q U A R A 
 
 
 
 
 
TEORIAS E TÉCNICAS PSICOTERÁPICAS I 
 
Curso de Graduação em Psicologia 
 
 
 
Prof. Fábio de Carvalho Mastroianni
 
 2 
Í N D I C E 
Módulo I – Início da Psicanálise: Teoria e Técnica Freudiana ____________________ 3 
Uma Visão Histórica das Psicoterapias ______________________________________ 3 
Introdução a Teoria e a Técnica Psicanalítica _________________________________ 4 
O Método Catártico ______________________________________________________ 5 
Teoria e Técnica: construções paralelas _____________________________________ 5 
Conceitos Teóricos e Técnicos em Psicanálise _______________________________ 6 
Resistência _____________________________________________________________ 6 
Caso Clínico 1 __________________________________________________________ 7 
Transferência ___________________________________________________________ 8 
Caso Clínico 2 __________________________________________________________ 9 
Contratransferência _____________________________________________________ 10 
Caso Clínico 3 _________________________________________________________ 10 
Setting Terapêutico (Enquadre) ___________________________________________ 11 
Aliança Terapêutica _____________________________________________________ 14 
Caso Clínico 4 _________________________________________________________ 15 
Interpretação – Insight – Elaboração _______________________________________ 16 
Delimitação Técnica das Psicoterapias _____________________________________ 18 
Módulo II – Wilhelm Reich ___________________________________________ 21 
A Clínica do Homem Encouraçado ________________________________________ 21 
A) Reich e a Psicanálise (Freud) __________________________________________ 21 
Caráter _______________________________________________________________ 23 
Caráter Neurótico x Caráter Genital ________________________________________ 25 
Traços de Caráter x Sintomas Neuróticos ___________________________________ 25 
A Função do Orgasmo ___________________________________________________ 26 
B) Reich e o Corpo _____________________________________________________ 27 
C) Reich e a Orgonomia _________________________________________________ 28 
Casos Clínicos - Reich __________________________________________________ 29 
 
Módulo III – Melanie Klein ___________________________________________ 31 
Da Fantasia à Realidade __________________________________________________ 31 
Introdução ao pensamento Kleiniano _______________________________________ 31 
Caso Clínico 1 – Identificação projetiva _____________________________________ 33 
Alguns mecanismos de defesa da Posição Depressiva ________________________ 36 
Exemplo de fantasias que caracterizam as defesas maníacas __________________ 36 
Inveja _________________________________________________________________ 37 
Complexo de Édipo Primitivo _____________________________________________ 38 
Algumas considerações sobre a técnica Kleiniana ____________________________ 40 
Caso Clínico 2 – Albert e a raiva reprimida __________________________________ 41 
Caso Clínico 3 – Alice e a Crueza __________________________________________ 41 
Módulo IV – Donald Woods Winnicott _________________________________ 42 
O Espaço Potencial _____________________________________________________ 42 
O Bebê e o Ambiente ____________________________________________________ 44 
Desenvolvimento Emocional Primitivo ______________________________________ 44 
Adaptação à Realidade __________________________________________________ 46 
O Brincar ______________________________________________________________ 48 
Fase de Pré–Inquietude __________________________________________________ 49 
A Tendência Antissocial _________________________________________________ 49 
O Papel do Pai __________________________________________________________ 50 
A Técnica em Winnicott __________________________________________________ 50 
Caso Clínico ___________________________________________________________ 51 
Módulo V – Jacques Lacan __________________________________________ 54 
A Lógica do Sujeito _____________________________________________________ 54 
Principais Conceitos Linguísticos _________________________________________ 54 
A Constituição do Sujeito ________________________________________________ 55 
Referências ____________________________________________________________ 59
 
 
 3 
Módulo I – Início da Psicanálise: Teoria e Técnica Freudiana 
 
Uma Visão Histórica das Psicoterapias 
 
- A psicoterapia existe muito antes de haver qualquer noção de uma abordagem 
sistemática de tratamento 
- Basicamente, a psicoterapia envolve um sistema de duas pessoas 
 
Suplicante  Curandeiro 
(que sofre primariamente mais na 
mente do que no corpo) 
 (cuja empatia, sabedoria, 
maturidade e objetividade permitem 
que ele alivie o sofrimento do 
suplicante) 
 
- O curandeiro vê e entende alguma coisa sobre o suplicante da qual este não 
tem conhecimento 
- o curandeiro amplia o pensamento do suplicante e influencia o seu 
comportamento 
- curandeiro  pessoa ―iluminada‖, que tem a função de aumentar a 
―iluminação‖ do suplicante 
- Para a realização da terapia é necessário, portanto, uma troca ativa entre 
terapeuta e paciente 
- ao paciente cabe revelar a natureza do seu problema, ainda que não 
possua maior conhecimento sobre ela 
- ao terapeuta, ―adivinhar‖ sua verdadeira natureza e assim levar o 
paciente ao conhecimento curativo 
 - há participação do paciente 
- Entretanto, historicamente a psicoterapia na antiguidade se dava de forma 
diferente, ou seja, sem participação do paciente 
 Entre os babilônios (2000 A.C.) acreditava-se que toda a insanidade era 
devida a um ―demônio‖ específico 
- a cura vinha por meio de um encantamento pelo sacerdote (poderes 
sugestivos) 
- O exemplo da antiguidade que chega mais próximo da moderna concepção de 
psicoterapia refere-se à cura de Lady Kisagohtami pelo Buda 
- de qualquer modo, não havia interesse nas histórias e situações de 
vida singulares das pessoas 
 No ocidente, o poder da Igreja Católica sobre a vida intelectual assegurava a 
pouca ênfase na história de vida do indivíduo 
- as dificuldades emocionais, exatamente como nos tempos bíblicos, 
eram entendidas como consequências de forças externas ao self 
 - forças diabólicas (bem x mal) 
- as dificuldades eram atribuídas à bruxaria 
 Na metade do último milênio o poder da Igreja Católica começou a 
enfraquecer, promovendo maior liberdade de pensamento 
- o movimento conhecido como o Iluminismo levou a grandes 
progressos no esclarecimento humano de modo geral 
- a idéia de um de seus pensadores, Rousseau em o Nobre Selvagem 
influenciou as crenças de diversos autores sobre a ―bondade natural 
das pessoas‖ 
 
 4 
A perfectibilidade da natureza humana dependia da transformação da 
vontade selvagem, cega, incontrolada da humanidade em uma força 
para o bem comum (altruísmo) 
 
Igreja Católica  Iluminismo 
Humanidade pecadora (fruto proibido) 
Influenciada por forças do mal 
 Humanidade considerada 
inerentemente boa ou pelo menos 
recuperável (transformação do 
indivíduo). 
 
- Philippe Pinel, psiquiatra francês (séc. XVIII e XIX) foi influenciado pelas idéias 
iluministas e modificou o método de tratamento do paciente mental, retirando-
lhe as correntes 
- Entretanto, não houve mudança significativa na psicoterapia no que se refere 
à relação entre curandeiro/terapeuta x suplicante/paciente 
 - não havia troca ativa, participação 
- o paciente ainda era submetido à ação do 
terapeuta 
- Mesmer, início do século XIX, era um curandeiro 
carismático que contava com medidas bizarras para 
seus poderes de cura 
- baseou-se nas idéias/descobertas do fenômeno da eletricidade e do 
magnetismo para fundamentar sua ilusória teoria: 
- fluido animal-magnético universal e invisível – sua mádistribuição estava por baixo de todas as doenças humanas 
- método: varinha especial, manto e um barril (cuba de Mesmer) 
- Seguidores de Mesmer desmistificaram seu método demonstrando ser 
desnecessária a utilização desses instrumentos 
- eles simplesmente obtinham os mesmos resultados por meio da 
indução do estado de transe pelo poder da sugestão 
- poder da sugestão, posteriormente denominada de hipnose 
- primórdios da psicanálise 
 
 Leitura Recomendada 
Básica: História da Psicoterapia [Capítulo 1] (EIZIRIK; AGUIAR; 
SCHESTATSKY) 
 
Introdução a Teoria e a Técnica Psicanalítica 
 
- A psicanálise é uma forma especial de psicoterapia 
- A psicoterapia começa a se tornar científica na 
França do século XIX com as grandes escolas 
sobre a técnica da sugestão 
 - Nancy com Liébeault e Berheim 
 - Salpêtrière com Charcot 
- A técnica da sugestão visa modificar a atenção, desviar o 
sujeito de idéias patogênicas e se concentrar em outras 
atividades 
- É ao mesmo tempo um instrumento de investigação e assistência 
 
 5 
- A partir da técnica inicia-se o estudo que visa compreender: 
“A influência da moral sobre o corpo” 
- O tratamento hipnótico é pessoal e não interpessoal 
- Com a introdução da Psicanálise, Freud leva a psicoterapia a um nível 
científico 
 - Criação de uma teoria da personalidade 
 
O Método Catártico 
 
- Breuer caso Anna O. 
- utiliza o hipnotismo não para que o paciente esqueça, mas para que 
se recorde 
 - cura pela fala, pela palavra (Talking cure) 
- Método catártico narrar as circunstâncias em que surgiram os sintomas faz 
com que eles desapareçam Recordar 
 
- Freud utiliza um procedimento intermediário entre o método de Breuer 
(catártico) e o que viria a ser a psicanálise 
 - Consiste em estimular e pressionar o enfermo para que se recorde 
 - método da coerção associativa 
 
- Em 1905 (Sobre Psicoterapia), Freud diferencia a psicanálise e o método 
catártico de outras psicoterapias 
Per via di porre x per via di levare 
 
Teoria e Técnica: construções paralelas 
 
- A técnica catártica descobre a dissociação da consciência 
 - o método produz uma ampliação da consciência 
- A partir destas descobertas os autores formulam e reformulam a teoria 
 Breuer teoria dos estados hipnóides 
- uma condição do indivíduo favorece a segregação da 
consciência 
 (fatores psicológicos e biológicos) 
 Freud teoria do trauma (psicológicos) 
- uma condição do evento/acontecimento favorece a 
segregação da consciência 
- o acontecimento fica segregado da consciência para ser 
esquecido 
- introdução da técnica da coerção associativa e 
abandono da hipnose 
- A técnica da coerção associativa traz a idéia de que: 
 - as coisas são esquecidas porque não se quer recordá-las 
 - conceito de resistência 
- O que no trauma condicionou o esquecimento, no tratamento condiciona a 
resistência 
 
 6 
- Se há a resistência, não se justifica então a coerção 
 - deixa-se o paciente falar livremente 
- técnica da associação livre  regra fundamental da 
psicanálise 
 
Coerção associativa  Resistência  Associação livre 
(técnica)  (teoria)  (técnica) 
 
- Só recordar não é suficiente 
- A resistência age no sentido de defender o sujeito, de manter um 
status quo, evitar o contato com conteúdos que são sentidos como 
―dolorosos‖, desagradáveis 
 
- É necessário dar informes ao paciente sobre si mesmo 
 - tornar conhecido aquilo que ele ignora 
 - surge a interpretação instrumento técnico fundamental 
 
- Recordar, Repetir, Elaborar 
O que é Psicoterapia? 
Trata-se de um método de tratamento realizado por um profissional 
treinado, com o objetivo de reduzir ou remover um problema/queixa 
ou transtorno definido de um cliente ou paciente que deliberadamente 
busca ajuda. 
Onde: 
- o terapeuta utiliza meios psicológicos como forma de influenciar o 
cliente ou paciente 
- é realizada em um contexto primariamente interpessoal (relação 
terapêutica) 
- utiliza-se a comunicação verbal como principal recurso 
- há eminente atividade colaborativa entre paciente e terapeuta 
 
 
Conceitos Teóricos e Técnicos em Psicanálise 
 
Resistência 
 
- Ela surge, no desenvolvimento da psicanálise, como uma oposição às 
lembranças penosas durante o tratamento 
- Aos poucos Freud conclui que o fenômeno está permanentemente presente e 
age contra a percepção de impulsos inaceitáveis de natureza sexual que 
surgem distorcidos 
 Leitura Recomendada 
Básica: A Técnica Psicanalítica [Capítulo 1] – (ETCHEGOYEN) 
Complementar: As principais psicoterapias: fundamentos teóricos 
[Capítulo 1] – (CORDIOLLI) 
 
 7 
- Mais do que uma força a ser vencida, a resistência representa a forma como o 
indivíduo se defende e resiste no cotidiano de sua vida 
- Resistência do analisando: é a resultante de forças dentro dele, que se opõem 
ao analista, ou aos processos e procedimentos à análise, isto é, que 
obstaculizam as funções de recordar, associar, elaborar, bem como o desejo de 
mudar (Zimmerman) 
 
Resistência = re + sistencia 
 
Sistencia sistere, sistens ―continuar a existir‖ 
- uma volta à utilização de recursos defensivos e ofensivos (que se opõe contra 
o que, ou quem, lhes representa alguma ameaça), de um modo tenaz e 
repetitivo, em uma busca ativa do direito de continuar a existir. 
- No início do tratamento a motivação para manter o status quo é maior que a 
motivação para a mudança 
 
Algumas formas de resistência ao tratamento 
- atrasos às sessões 
- recusa em tomar medicamentos 
- permanecer em silêncio 
- enfocar materiais não relevantes 
- esquecer-se de pagar 
- em relação à elaboração (ganhos secundários) 
- transferência 
 
Caso Clínico 1 
 
O Sr. A era um homem solteiro de 29 anos de idade com TOC. No 
momento em que se apresentou para hospitalização psiquiátrica, relatava uma 
história de 10 anos de sintomas obsessivo-compulsivos e queixava-se de estar 
totalmente aprisionado em casa nos últimos 8 anos devido aos pensamentos 
―grotescos, terríveis‖ e incapacitantes constantes que nunca cessavam. Oito 
anos antes da admissão, quando o Sr. A. não saiu mais de casa, sua mãe 
aposentou-se podendo cuidá-lo e satisfazer suas demandas de limpeza – sua 
vida girava em torno dele. 
O Sr. A estava obcecado pela necessidade de evitar a contaminação. 
Preocupava-se também com a possibilidade de engravidar alguma mulher, pois 
temia ter sêmen nas mãos. Por conseguinte, tornou-se um compulsivo lavador 
de mãos. Insistia que sua mãe permanecesse consigo 24 horas por dia. Embora 
ela não dormisse ou tomasse banho com ele, auxiliava-o a vestir-se de modo 
que ele não tocasse suas roupas, impedindo a contaminação. Ele também 
solicitava que ela seguisse um elaborado ritual com 58 passos, ao cozinhar sua 
refeição e colocá-la na mesa. Caso não seguisse o ritual precisamente, tinha 
que descartar toda a refeição e começar tudo novamente. Ela teve de desfazer 
de milhares de dólares em alimentos a cada ano, a fim de responder a estas 
demandas. O Sr. A também insistia que seu pai deveria permanecer fora da 
casa ou em outro cômodo, de modo que não houvesse risco de ser 
contaminado pelos germes que o pai trazia do trabalho. 
O desenvolvimento inicial do paciente não apresentava aspectos 
notáveis, porém ele recordava de um episódio muito desagradável quando tinha 
aproximadamente 5 anos de idade. Lembrava ter visto seu pai agarrando sua 
mãe pelos seios, enquanto ela gritava que o paciente a socorresse. Ele tentou 
impedir, porém foi suplantado pela força do pai. Recordava ter se sentido 
terrivelmente mal acerca do incidente e chorou por perceber-se incapaz de 
salvar sua mãe. 
Re 
―voltar atrás‖ (regredir; revogar) 
―oposição‖ (revolta; reprovar) 
―repetição‖ (reiterar; ressentir) 
―busca de algo‖ (reforma; revolução) 
 
 8 
Embora o paciente tenha ido a vários psiquiatras, sempre se recusava a 
retornar após a 1ª consulta. Certa vez concordouem tomar clomipramina, 
porém interrompeu após a primeira dose, alegando incômodo com os efeitos 
colaterais. Seus pais perceberam que finalmente teriam que hospitalizá-lo, 
porque se encontrava incapacitado. Quando chegou ao hospital, o médico 
perguntou-lhe porque procurava tratamento. Ele respondeu: ―Eu estou 
determinado a ser dependente – quero dizer independente‖. O médico 
comentou de ele ter dito ―dependente‖ e perguntou: ―Há talvez alguma parte em 
você que gostaria de permanecer dependente‖? O Sr. A respondeu: ―↑ocê 
refere-se a minha mãe‖? O médico replicou que ele deveria saber melhor sobre 
isto. O Sr. A refletiu por um momento e disse: ―Bem, ela cuida muito bem de 
mim‖. 
O lapso do Sr. A proporcionou um vislumbre das motivações 
inconscientes desta resistência ao tratamento. Qualquer tipo de tratamento 
bem-sucedido ameaçava a sua relação de dependência com a mãe. Se a 
clomipramina tinha possibilidade de ajudá-lo, então ele não tomaria. 
Similarmente, ele invalidaria quaisquer outros esforços de tratamento 
ambulatorial ou hospitalar. 
Após cerca de uma semana de hospitalização, o Sr. A. desafiou as 
expectativas dos membros da equipe. Passou a apresentar dramáticas 
melhoras, conseguia tocar em maçanetas sem temer a contaminação, ler 
revistas que outros haviam tocado, além de ter reduzido consideravelmente o 
tempo gasto com a lavagem das mãos. Esta melhora ocorreu sem o uso da 
medicação e o paciente comentava que se sentia ―bem menos nervoso‖ no 
hospital do que havia imaginado. À medida que ia avançando, tornou-se 
aparente sua crescente preocupação com os seus desejos sexuais em relação 
à mãe. Comentava que quando a sua mãe o vestia, sentia ―algo sexual‖. O 
afastamento do ambiente emocional carregado de sua casa tornou menos 
problemático seus desejos sexuais pela mãe. Similarmente, os desejos 
agressivos de manter o pai longe dela tornaram-se menos perturbadores. 
Devido à diminuição de sua ansiedade acerca de seus desejos sexuais e 
agressivos, seus sintomas obsessivo-compulsivos não eram tão necessários 
para conter sua ansiedade. 
Caso extraído do livro “Psiquiatria Psicodinâmica” – Glen O. Gabbard 2ª ed – 
Capítulo 1. 
 
 
 
 Leitura Recomendada 
Básica: A Técnica Psicanalítica [Capítulo 1] – (ETCHEGOYEN) 
Complementar: Resistências [Capítulo 28] – (ZIMERMAN) 
 
Transferência 
 
- À medida que os impulsos ou fantasias vão sendo ―descobertos‖ (tornam-se 
conscientes) durante o tratamento, o paciente resiste transferindo tais impulsos 
à figura do terapeuta 
- Revive-se na análise uma série de experiências psicológicas como 
pertencentes não ao passado, mas ao presente em relação ao terapeuta 
- É um recurso que o paciente utiliza a fim de que o material patogênico 
(conflito) permaneça inacessível 
- A vida emocional que o paciente não pode recordar é vivenciada na 
transferência e ali (na análise) deve ser resolvida 
- Ocorre uma distorção entre: passado / presente fantasia / realidade 
 - é inapropriada, irracional e repetitiva 
- Ao mesmo tempo em que serve a resistência o que se transfere é o resistido 
(inconsciente) 
- Quanto mais os desejos de uma pessoa são insatisfeitos em sua vida real, 
maior será sua busca, sua espera em satisfazê-la 
 
 a enfermidade transferência 
 
 
 9 
- A libido insatisfeita do paciente se dirigirá para qualquer pessoa 
- Dessa forma a transferência ocorre tanto dentro da análise quanto fora dela 
- A transferência não é efeito da análise, mas a análise é o método que se 
ocupa de descobrir e analisar a transferência 
- De um obstáculo à análise, a transferência converte-se em seu auxiliar mais 
poderoso quando se consegue inferi-la e traduzi-la ao paciente 
experiência x transferência 
(Libido consciente – ego) (libido recalcada – id) 
(princípio de realidade) (princípio de prazer) 
 
- Transferência = uma experiência do passado que está interferindo na 
compreensão do presente 
 
Caso Clínico 2 
 
Uma mulher casada de 35 anos veio para o tratamento em uma tentativa 
de dar fim à sua infidelidade compulsiva. Sempre que seu marido viajava, o que 
a profissão dele frequentemente exigia, ela escolhia para seu amante um 
homem que fosse tímido, deprimido e impotente. Então se deliciava com sua 
capacidade para seduzi-lo a tornar-se audaz, feliz e potente. Ela geralmente 
realizava seu triunfo ―terapêutico‖ pouco antes do retorno do marido, quando 
rompia o relacionamento extraconjugal. Naturalmente, o casamento tinha suas 
dificuldades, mas era, apesar disso, estável. O terapeuta apenas gradualmente 
ficou sabendo de alguns de seus aspectos perturbados, à medida que a própria 
paciente tornou-se capaz de tolerar o conhecimento do terapeuta sobre eles. 
Após aproximadamente um ano e meio de tratamento e um ano em que 
não teve casos, ela passou a se posicionar mais claramente, por exemplo, 
insistindo com o marido que seu filho de 8 anos era muito jovem para ter o rifle 
que ele lhe havia dado, após o menino ter atirado em sua própria mão com a 
arma. Um dia ela relatou ter ido ao banheiro onde sua filha de 3 anos estava 
tomando banho com o marido, uma prática costumeira que ela não havia 
contado a seu terapeuta. A paciente nunca antes havia ido ver o que acontecia 
no banheiro, mas agora relatava que ficara atônita e paralisada ao ver que sua 
filha estava brincando com o pênis ereto de seu marido enquanto ele ficava 
sentado calmamente lendo o jornal na banheira. Ela saiu sem dizer uma 
palavra. Nesse ponto a sessão de sexta-feira chegou ao fim. 
Na segunda-feira, a paciente estava bastante deprimida, sentindo-se 
desanimada e abandonada por seu terapeuta. Desesperada para sentir-se 
melhor, ela começara a imaginar como poderia arrumar outro caso, e com 
quem. O terapeuta disse-lhe que seus sentimentos pareciam ligados com o 
momento em que ele terminara a sessão de sexta-feira, um comentário que 
resultou em um acesso de depreciação sarcástica por parte da paciente, em um 
tom em que ele nunca havia ouvido dela antes. 
Apenas após vários dias, sua fúria diminuiu suficientemente para ela 
considerar o que havia ocorrido. Ela e o terapeuta apenas gradualmente 
puderam dar-se conta de que havia sido, de fato, uma revivência de 
sentimentos da infância e uma representação na qual o terapeuta, um homem, 
tinha desempenhado o papel de sua mãe, que muitas vezes a havia deixado 
brincando com um ou outro dos pensionistas da sua casa, muitos dos quais 
tinham abusado sexualmente dela. 
Caso extraído do livro “Psicoterapia de Orientação Analítica: Fundamentos 
teóricos e clínicos” – ELZIRIK C.L.; AGUIAR, R. W.; SCHESTATSKY S. S. e 
cols. 2ª ed – Capítulo 22. 
 
 Leitura Recomendada 
Básica: História e Conceito da Transferência [Capítulo 7] e Dinâmica da 
Transferência [Capítulo 8] – (ETCHEGOYEN) 
Complementar: Transferências [Capítulo 31] – (ZIMERMAN) 
Artigo: O conceito de transferência nos "Estudos sobre a histeria" 
(Breuer & Freud, 1895) – (BISSOLI) 
 
 10 
Contratransferência 
 
- Freud descreve esse fenômeno como: 
- resposta emocional do analista aos estímulos que provêm do paciente, 
como resultado da influência do analisando sobre os sentimentos 
inconscientes do médico 
 - destaca principalmente sua influência negativa sobre o tratamento 
- resistências internas do médico necessidade de autoanálise 
 - pontos cegos do terapeuta obstáculo ao tratamento 
- A contratransferência começa a ganhar destaque com os trabalhos de 
Heimann (1950) e Racker (1953), que passam a considerá-la um: 
 - fenômeno normal dentro do processo terapêutico 
- são reações que o analista experimenta diante de seu 
paciente 
 - pode ser considerada como: 
 - um obstáculo 
- um instrumento para melhor compreensão do paciente 
- um campo em que o paciente pode adquirir uma 
experiência diferente da que teve originalmente 
Contratransferência 
 
- ao que se opõe (contra-ataque) 
contra - o que faz balanço em busca do equilíbrio (contraponto) 
Contratransferênciaé diferente (≠) de transferência do 
analista em relação ao paciente 
 
Transferência do terapeuta: sentimentos, idéias e comportamentos que são 
dirigidos ao paciente a partir da história pessoal do terapeuta ou de situações 
de sua vida atual, transferidos sobre ou para dentro do paciente A, mas também 
para B e não provocados por estes 
Contratransferência: quando se é possível identificar que parte do self do 
paciente ou de suas fantasias está sendo colocada dentro da mente do 
terapeuta e está lhe provocando uma reação, idéia ou comportamentos 
- A contratransferência deve ser inicialmente tolerada e elaborada, bem como 
seus sentimentos em relação ao paciente 
 
Caso Clínico 3 
Alguns anos atrás, tratei Martin, um comerciante de sucesso, que tinha 
de fazer uma viagem de negócios no dia da terapia e me pediu que remarcasse 
sua hora para outro dia da semana. Não consegui providenciar isso sem 
atrapalhar minha agenda e disse a Martin que teríamos de perder uma sessão e 
nos encontrar no nosso horário normal na semana seguinte. Mais tarde, porém, 
quando pensei a respeito, percebi que não teria hesitado em reorganizar minha 
agenda para qualquer um dos meus outros pacientes. 
Por que não pude fazer isso por Martin? Foi porque não ansiava vê-lo. 
Havia algo em sua veemência maliciosa que me desgastava. Ele fazia críticas 
incessantes a mim, aos móveis do meu consultório, à falta de estacionamento, 
à minha escrivaninha, aos meus honorários e geralmente começava as sessões 
fazendo referência aos meus erros da semana anterior. 
Meu sentimento desgastado por Martin teve grandes implicações. Ele 
tinha entrado inicialmente em terapia por causa de uma série de fracassos nos 
relacionamentos com as mulheres, nenhuma das quais, achava ele, tinha lhe 
dado o bastante – nenhuma tinha se mostrado suficientemente disposta a pagar 
 
 11 
a parte que lhe cabia das contas do restaurante e do supermercado, ou de dar 
presentes de aniversário equivalentes em valor àqueles que ele tinha lhes dado 
(a renda dele, saiba disso, era várias vezes maior que a delas). Quando faziam 
viagens juntos, ele insistia em que cada um colocasse a mesma quantia de 
dinheiro num ―pote de viagem‖, e todas as despesas de viagem, inclusive 
gasolina, estacionamento, manutenção do carro, gorjetas e até jornais seriam 
pagos com o dinheiro arrecadado para a viagem. Além do mais, ele reclamava 
frequentemente porque suas namoradas não cumpriam integralmente a parte 
que lhes cabia em dirigir, planejar a viagem e ler os mapas. No final, a falta de 
generosidade de Martin, sua obsessão com imparcialidade absoluta e suas 
críticas implacáveis cansavam as mulheres de sua vida. 
E ele estava fazendo exatamente o mesmo comigo! Era um bom 
exemplo de profecia que se cumpre sozinha – ele tinha tanto medo de que os 
outros não cuidassem dele que seu comportamento fazia com que acontecesse 
exatamente isso. Foi meu reconhecimento desse processo que me permitiu 
evitar reagir criticamente (isto é, levar a coisa no lado pessoal), mas perceber 
que esse era um padrão que ele repetira muitas vezes e que no fundo, queria 
mudar. 
Caso extraído do livro “Os Desafios da Terapia: Reflexões para pacientes e 
terapeutas” – YALOM, I D. Ediouro Cap. 20 
 
 Leitura Recomendada 
Básica: - Contratransferência: Descoberta e Redescoberta [Capítulo 21] 
(da página 156 até 161) – (ETCHEGOYEN) 
- Contratransferência [Capítulo 23] – (EIZIRIK; AGUIAR; 
SCHESTATSKY) 
Complementar: Artigo: Contratransferência em psicoterapia e 
psiquiatria hoje – (ZASLAVSKY) 
 
 
Setting Terapêutico (Enquadre) 
 
- Soma de todos os procedimentos que organizam, normatizam e possibilitam o 
processo psicanalítico, incluindo a estrutura física 
- Conjunção de regras, atitudes e combinações, tanto as contidas no ―contrato‖ 
como as que vão se definindo durante a evolução (Dias, horários, honorários, 
forma de pagamento, planos de férias...) 
- São as regras do jogo, mas não é o jogo propriamente dito 
- Serve como um cenário para a reprodução de velhas e novas experiências 
- Devido às múltiplas e constantes inter-relações da transferência com a 
contratransferência, ele está sob contínua ameaça em vir a ser desvirtuado 
 
 
Função do Setting 
- Criação de um novo espaço onde o analisando terá a oportunidade de 
reexperimentar com o seu analista a vivência de antigas e 
decisivamente marcantes experiências emocionais conflituosas que 
foram mal compreendidas, atendidas e significadas pelos pais do 
passado e, por conseguinte, mal solucionadas pela criança de ontem, 
que habita a mente do paciente de hoje (Zimerman, 1999) 
- Mesmo com todos os sentimentos, atos, ataques e verbalizações 
significados pelo paciente como proibidos e perigosos, o setting deve se 
manter uniforme, inalterado 
 - O setting deverá ser preservado ao máximo 
 
 
 12 
Funções complementares do setting 
- Estabelecer o aporte da realidade exterior com suas 
inevitáveis privações e frustrações 
- Ajudar a definir a predominância do princípio de realidade 
sobre o do prazer 
- Reconhecer que é unicamente sofrendo as inevitáveis 
frustrações impostas pelo setting, desde que não sejam 
exageradamente excessivas ou escassas, que o analisando (tal 
como a criança no passado), pode desenvolver a capacidade 
para simbolizar e pensar 
 
excessiva rigidez x firmeza 
exagerada permissividade x flexibilidade 
 
 
Alicerces que sustentam o setting 
 
Neutralidade (regra da neutralidade) 
- nenhum indivíduo é neutro em sua essência, a neutralidade do terapeuta no 
tratamento refere-se, portanto, à sua função, sua postura 
- independente de seus valores, crenças, opiniões e sentimentos o terapeuta 
deve estar disponível para os pontos de vista dos seus analisandos 
- neutralidade não significa uma conduta de frieza, indiferença ou ausência de 
sentimentos 
- Freud compara a regra com a atividade médica do cirurgião: 
Põe de lado todos os sentimentos, até mesmo de 
solidariedade humana, e concentra suas forças 
mentais no objetivo único de realizar a operação 
tão completamente quanto possível 
 
Abstinência (Regra da abstinência) 
- significa abster-se de qualquer tipo de atividade que não seja a de 
interpretação e análise 
- inclui a proibição de qualquer tipo de gratificação externa, sexual ou 
social 
 - ao invés de atender, procurar entender os pedidos do analisando 
 - a melhor forma de gratificar é analisar 
procurar entender pensar lidar com a frustração 
- Dessa forma deve-se haver uma abstinência por parte do paciente em 
procurar o menos possível satisfações substitutas para os seus sintomas 
(principalmente situações de risco) 
 - uso abusivo de drogas, comportamento sexual promíscuo, etc... 
 
Anonimato 
 - é natural que na relação bi-pessoal o paciente demonstre curiosidade 
 - é problema quando a curiosidade pretende invadir a vida íntima do 
terapeuta 
 
 13 
 - o terapeuta deve manter sua vida pessoal dentro do sigilo possível 
- o anonimato favorece a oportunidade de o paciente manifestar 
fantasias que o ajudarão a compreender muitos de seus 
conflitos 
Quanto menos o paciente sabe realmente sobre o 
analista, tanto mais fácil lhe será preencher 
espaços vazios com suas próprias fantasias, além 
disso, quanto menos o paciente souber realmente 
sobre o analista, tanto mais fácil será para o 
analista convencer o paciente de que suas reações 
são deslocamentos e projeções suas. 
- Algumas das ―regras do jogo‖, assim como os principais elementos 
que configuram o setting terapêutico são e devem ser estabelecidos no 
contrato. 
- O contrato irá definir os papéis do terapeuta e do paciente 
 
O Contrato 
 (guardião do setting) 
- Define papéis e funções do terapeuta e do paciente 
paciente: busca alívio de seu sofrimento psíquico. 
terapeuta: utiliza todos os seus recursos teóricos, técnicos e emocionais 
para mitigar esse sofrimento. 
- o contrato pode ser apresentadode forma detalhada ou simplificada. 
 
Elementos constituintes do contrato 
 
a) Frequência 
 - é importante que haja continuidade 
- o interjogo da transferência-contratransferência está sempre presente e 
independe da frequência 
- a proximidade entre as sessões impede que o esquema defensivo se 
reorganize por completo 
 
b) Honorários 
- devem refletir o nível de formação e de experiência do terapeuta 
- deve estar de acordo com os padrões da comunidade onde trabalha 
honorários baixos x honorários altos 
- honorário alternativo: para situações temporárias (para pessoas com menos 
recursos; para benefícios de aprendizagem) 
- a redução de honorários pode provocar sentimentos de dívida 
- data do pagamento 
- reajustes de honorários 
- a quebra de contrato pode servir como sinalizador do que está 
ocorrendo na psicoterapia. 
 
 
 
 14 
Avaliação – A Entrevista inicial 
- pode ser mais do que uma: ―Entrevistas Iniciais‖ 
- é diferente de primeira sessão 
objetivo / finalidade: 
- avaliar as condições mentais, emocionais, materiais e circunstâncias 
da vida do paciente. 
- verificar a qualidade da motivação. 
- se a teoria de tratamento e de cura do terapeuta coincide com a do 
paciente. 
- acessibilidade: disponibilidade e a capacidade do paciente permitir um 
acesso ao seu inconsciente. 
- observar como o paciente reage e contata com os assinalamentos 
(interpretações ?). 
 
O que avaliar? 
- tipo de encaminhamento 
- aparência exterior (forma de falar, vestimentas, como saúda) 
- realidade exterior (condições sócio-econômicas, suporte familiar, 
posição profissional) 
- histórico familiar 
- o grau de motivação 
- Contraindicações (Terapia de orientação analítica) 
- quadros psicóticos agudos 
- quadros depressivos graves com sérias tentativas de suicídio 
- alcoolismo crônico ou adição de drogas 
- quadros fóbicos causadores de incapacitação crônica 
- quadros obsessivo-compulsivos causadores de incapacitação crônica 
- transtornos caracterológicos (de personalidade) graves 
- transtornos alimentares graves 
- síndrome cerebral orgânica e deficiência mental 
 
 Leitura Recomendada 
Básica: Contrato [Capítulo 17] e Setting psicoterapêutico: neutralidade, 
abstinência e anonimato [Capítulo 18] (EIZIRIK; AGUIAR; 
SCHESTATSKY) 
Complementar: Aspectos práticos da psicoterapia: primeiros passos 
[Capítulo 3] – (Gabbard) 
 
Aliança Terapêutica 
 
- É compreendida como uma relação dual, uma formação de compromisso entre 
duas pessoas 
- É uma situação em que um necessita do outro e na qual existe uma intenção 
de colaboração recípocra – ―união de forças‖ em direção à busca da cura 
- A aliança terapêutica é estabelecida com base em uma experiência prévia (de 
confiança) 
 
 15 
 - relação mãe – bebê 
- Está ligada a experiência, diferente de transferência 
 Freud: “em análise transformamos o paciente num colaborador” 
- primeiro o paciente deve se ligar ao tratamento para depois ser tratado 
analiticamente 
- Há uma dissociação do ego: 
- uma parte que colabora, voltada à realidade 
- uma parte que se opõe, impulsos do id, defesas do ego, ordens do 
superego 
- Enquanto uma parte da mente, inconscientemente repete os conflitos 
psíquicos, a outra parte é capaz de se manter livre de conflitos e racionalmente 
distanciar-se, a fim de reconhecer a natureza irracional de suas respostas 
- ―parte adulta‖ – um nível mais maduro da mente (Meltzer) 
- A aliança terapêutica estaria, supostamente, localizada no ego consciente, 
mas recebendo influências de todo o mundo inconsciente 
- A aliança relaciona-se tanto com a transferência positiva quanto a negativa 
 
Caso Clínico 4 
 
R., 35 anos, casada, autônoma, em terapia acerca de um ano e meio, 
procurou-nos por dificuldades de relacionamento com os colegas de trabalho, o 
que a leva a frequentes trocas de emprego. Tentou outros dois terapeutas, mas 
no primeiro ou segundo mês interrompeu as terapias, por considerá-los 
―múmias paralíticas‖. ↑ê-se como uma pessoa extremamente exigente consigo 
e com os demais, o que leva seus familiares a acharem–na uma ―chata‖. 
Reconhece como verdadeira essa crítica, mas não consegue mudar e 
frequentemente provoca situações constrangedoras com seus ―comentários e 
brincadeiras de mau gosto‖. 
Provém de uma família com mais dois irmãos, sendo que o 
relacionamento entre eles e sua mãe viúva é considerado ―formal‖; a mãe é 
vista como fria, raramente manifesta o que pensa. R. sente-se ―pisando em 
ovos‖ quando tem que falar algum assunto mais delicado com ela, pois nunca 
faz idéia de qual será a sua reação. 
Acha-se afetiva, embora a critiquem por ser fria e racional. Seu pai 
faleceu quando tinha 13 anos, tendo deixado a família em uma situação de 
dificuldades econômicas, o que a levou a trabalhar para ajudar no sustento da 
casa. Nunca teve a vida tranquila que gostaria, pois seu pai era um homem com 
―altos e baixos‖ profissionais, que provocava um sentimento de insegurança. 
Não confiava no pai, pelo contrário, criticava-o por esse seu jeito. Acha que o 
principal para relacionar-se é a segurança econômica. Tudo o que ganha é 
depositado no banco, não compra nada além do necessário, sendo considerada 
por sua família uma pessoa avarenta. Não quer passar pelo o que passou 
durante toda a infância, de não saber o que aconteceria no dia seguinte. 
Não tem amigas, embora muitas conhecidas, pois acha que as pessoas 
só se aproximam dela por interesse. Pensa que tudo na vida é um grande 
negócio, em que as pessoas se aproximam uma das outras para levar alguma 
vantagem. Exemplifica com nossa situação: ela vem em busca de melhora de 
sua capacidade em seus relacionamentos e está pagando por esse trabalho. 
Percebemos, no entendimento de sua história e nos sentimentos 
despertados, que o problema mais ―urgente‖ dessa paciente era a sua 
dificuldade de estabelecer vínculos afetivos e confiáveis, e que isso seria 
também o nosso obstáculo mais importante. Ao combinarmos o nosso contrato 
de trabalho, abordamos essa compreensão, bem como a tendência a tais 
dificuldades se repetirem no nosso relacionamento. Regina reagiu 
imediatamente, dizendo que não concordava comigo, pois tinha excelentes 
recomendações a meu respeito, e que nosso trabalho seria puramente 
profissional. E assim começamos... 
Terceira sessão: 
R - “Quando estava chegando aqui, vi você entrando na garagem do prédio. 
Bonito carro, parabéns. (Silêncio.) É engraçado (termo que usa frequentemente 
quando não consegue definir o sentimento), mas achei que você me viu, mas 
não quis me cumprimentar, faz parte da técnica?”. 
T - “Parece que esse fato gerou em você um sentimento de insegurança em 
relação a mim”. 
 
 16 
R - “Não, claro que não, mas é evidente que seu interesse por mim é como por 
qualquer outra paciente, você me entende, eu lhe pago e pronto, ou vai me 
dizer que não é assim?” 
T - “Talvez seja este o seu desejo, que tenhamos uma relação puramente 
formal em que não surjam sentimentos que possam atrapalhar.” 
R - “Que mania que vocês têm de dizer que não tenho sentimentos, mas aqui a 
nossa relação é profissional...” 
E assim seguimos até o final da sessão, a paciente sentindo-se 
acusada por mim de que não teria sentimentos e dizendo que, afinal, aqui não 
era o lugar para falarmos dessas coisas a nosso respeito, e sim de seus 
problemas lá fora. 
Após três semanas: 
R - “Engraçado nosso encontro lá no cafezinho, fiquei meio sem graça, não 
entendo o porquê (nos encontramos na cafeteria perto do consultório antes da 
sessão). É como se você fosse duas pessoas, uma lá e outra aqui...” 
T- “O que você nota de diferente?” 
R - “Não sei: o que falamos aqui fica entre nós dois, vai ficar guardado aqui 
dentro; e lá fora, é como se você pudesse me expor, fiquei ansiosa.” 
T - “Então é como se eu fosse duas pessoas, uma em quem você pode confiar 
e outra não...” 
R - “Pior é que é isso; embora reconheça as recomendações que tivea seu 
respeito, sua formação, etc., tem momentos, como agora, em que não confio. O 
pior que este é o meu problema, parece que não confio em ninguém. Mas é por 
isso que estou aqui, como falamos no início da terapia, não sei se um dia irei 
confiar totalmente em alguém. Até acho que foi em função da desconfiança que 
interrompi as outras terapias.” 
T - “Se você está conseguindo me falar da sua desconfiança, inclusive em 
relação a mim, é porque de alguma maneira está apostando na nossa relação.” 
(Caso extraído do livro ―Psicoterapia de Orientação Analítica: Fundamentos 
Teóricos e Clínicos‖) 
 
 
 
 
 Leitura Recomendada 
Básica: A aliança terapêutica e a relação real com o terapeuta [Capítulo 
19] - (EIZIRIK; AGUIAR; SCHESTATSKY) 
Complementar: Relação Terapêutica: transferência, contratransferência 
e aliança terapêutica [Capítulo 4] (CORDIOLLI) 
Artigo: Aliança terapêutica em psicoterapia de orientação psicanalítica: 
aspectos teóricos e manejo clínico (PERES) 
 
Interpretação – Insight – Elaboração 
 
- A interpretação é uma explicação que o analista dá ao paciente (a partir do 
que este lhe comunicou) para lhe proporcionar um novo conhecimento de 
si mesmo 
- é destinada a produzir insight, sem que nós (o terapeuta) o 
busquemos diretamente 
- A interpretação refere-se a algo que pertence ao paciente, mas do qual ele 
não tem conhecimento 
Interpretação x Informação 
(mundo interior) (mundo exterior) 
- A interpretação não é apenas uma hipótese que o analista constrói, mas uma 
hipótese que é feita para ser comunicada, para ser testada 
- Para Freud, a interpretação é definida como um instrumento do analista para ir 
do conteúdo manifesto às idéias latentes 
 
 17 
 - Tornar consciente o inconsciente 
- Explicar o significado de um desejo, trazer à luz uma determinada 
pulsão 
 
- Atualmente, a interpretação do analista não fica restrita unicamente à 
conscientização dos conflitos inconscientes: 
- A noção da vincularidade implica numa contínua interação entre 
analista e analisando 
- o analista deixa de ser unicamente um observador e passa a 
ser um participante ativo 
 - cada um do par influencia e é influenciado pelo outro 
- há espaço não apenas para as interpretações transferenciais, 
como a compreensão do interjogo transferência-
contratransferência 
- O tratamento não visa apenas um conhecimento pessoal, mas sim a 
um crescimento pessoal 
 - desenvolvimento das capacidades egóicas 
- Mais do que levar o paciente a ―conhecer sobre‖, a interpretação 
busca promover transformações em direção a um ―vir a ser‖ 
- O tratamento visa a uma ―experiência emocional transformadora‖ 
Insight 
- Seria o movimento de tomada de consciência de algo significativo a 
respeito da vida psíquica, no tratamento 
in (dentro) + sight (vista) 
- Serve para apreender um significado ao qual não se podia ter acesso 
até aquele momento 
- A interpretação percorre o caminho do conteúdo manifesto 
(consciente) até o conteúdo latente (inconsciente), tentando vencer as 
resistências para adquirir o insight 
- Já a elaboração percorre o caminho inverso da interpretação, ou seja, 
tenta vencer as ―resistências‖ (abandono das gratificações e dos 
padrões aos quais, o sujeito está neuroticamente apegado) do conteúdo 
latente até o comportamento manifesto. 
 
Elaboração 
- É o processo que visa cessar a insistência da repetitividade, própria 
das formações inconscientes: 
- vai desde o novo conhecimento obtido sobre si (insight) até a 
superação do comportamento repetitivo 
 
 
 
 
 
 
 Leitura Recomendada 
Básica: Insight e Elaboração [Capítulo 21] (EIZIRIK; AGUIAR; 
SCHESTATSKY) 
Complementar: A interpretação em Psicanálise [Capítulo 26 apenas a 
página 195] - (ETCHEGOYEN) 
- Atividade Interpretativa [Capítulo 35] – (ZIMERMAN) 
 
 18 
Caso Clínico 5 – O Homem Dos Ratos 
(Roteiro do filme com trechos do texto) 
Caso Principal – Texto em anexo disponível na secretaria virtual 
 
Delimitação Técnica das Psicoterapias 
 
- De maneira geral, as psicoterapias foram se moldando de acordo com as 
diversas instituições assistenciais (serviços hospitalares, centros de saúde 
mental, etc...) 
- Fiorini (2004) delimita 3 diferentes tipos de estratégia terapêutica: 
 a) de apoio 
 b) de esclarecimento 
 c) transferencial (psicanalítica) 
 
Psicoterapia de apoio 
Objetivo: atenuação ou supressão da ansiedade e de outros sintomas 
clínicos, como modo de favorecer um retorno à situação de homeostase 
anterior à descompensação ou crise 
Estratégia básica: estabelecer um vínculo terapêutico tranquilizador, 
protetor e orientador 
- eventualmente procura modificar comportamentos estimulando 
o ensaio de comportamentos novos 
Relação terapeuta-paciente: deve estar claramente definida sem 
ambiguidade  o paciente em papel subordinado e o terapeuta em 
posição superior (de protetor) 
- evitam-se os silêncios e o distanciamento afetivo 
Intervenções do terapeuta: de tipo sugestivo-diretivo, interpretações 
voltadas ao esclarecimento das motivações do comportamento são 
opcionais 
- atitude ativo-participante, muito próximo, com iniciativas 
diretivas 
Separações: intervalos ou altas, são negados como tais, não devem ser 
sentidas como abandono 
Transferência: idealizadora, não deve ser ―denunciada‖, pois pode criar 
obstáculos a estratégia 
 
Psicoterapia de esclarecimento 
Objetivo: incluem-se os mesmos da estratégia de apoio, acrescentando-
se o desenvolvimento no paciente de uma atitude de auto-observação, 
visando compreender suas dificuldades, motivações e conflitos 
Estratégia básica: estabelecer uma relação de indagação, centrada no 
esclarecimento das conexões significativas entre a biografia do 
paciente, a transferência dos vínculos básicos conflituosos nas relações 
atuais e os sintomas 
- estimular a aprendizagem na auto-compreensão 
 
 19 
Relação terapeuta-paciente: o terapeuta atua enfatizando seu papel real 
de docente especialista, mas assume o caráter de uma relação de apoio 
(docente) 
- o paciente, no entanto, também tem um papel ativo, 
fornecendo dados e buscando identificar suas motivações para 
formular suas próprias interpretações 
Intervenções do terapeuta: adoção de um comportamento 
discretamente caloroso, espontâneo, no sentido de favorecer um 
diálogo de certa fluidez e ativo na medida em que oferece explicações 
pedagógicas acerca do tratamento, diagnóstico e evolução 
- oferece novos modelos de comportamento visando fortalecer 
funções egóicas adaptativas 
Separações: devem ser vistas como situações de prova que permitem 
avaliar como o paciente enfrenta novas tarefas adaptativas 
Transferência: idealizadora: deve ser aceita, desde que não leve o 
paciente a adotar atitudes passivas que ameacem deslocar a relação 
terapêutica para uma situação de apoio 
- hostilidade: deve ser explicada imediatamente como 
atualização da biografia ou como deslocamento de outros 
vínculos atuais 
 
Psicanálise e interpretação transferencial 
Objetivo: reestruturação, a mais ampla possível da personalidade 
Estratégia básica: desenvolvimento e elaboração sistemática da 
regressão transferencial 
- a regressão e o afrouxamento das defesas são necessários, 
permitidos, ―sugeridos‖ como aceitáveis e úteis 
Relação terapeuta-paciente: o analista tende a se mover com certa 
margem de indefinição pessoal (ambiguidade), é um depositário 
potencial de múltiplos papéis que o paciente lhe atribui 
- favorece que o paciente projete os seus conteúdos na figura 
do analista 
Intervenções do terapeuta: interpretações transferenciais e de conteúdo; 
atitude passivo-silenciosa, distante no que se refere ao contato pessoal 
Separações: compreendidas como uma forma de regressão, denotam 
aspectos transferenciais 
Transferência: sua interpretação adquire um papel terapêutico 
privilegiado 
 
 
 20 
 Psicoterapia de apoio Psicoterapia de Esclarecimento PsicanáliseObjetivos 
Atenuação ou supressão da 
ansiedade, retorno a situação de 
equilíbrio homeostático 
Além dos objetivos de apoio busca-se 
o desenvolvimento no paciente de 
uma auto-observação e compreensão 
de suas dificuldades 
Reestruturação da personalidade 
Estratégia básica 
Estabelecer um vínculo terapêutico 
tranquilizador, protetor e orientador 
Estabelecer uma relação de 
indagação, centrada no 
esclarecimento pessoal 
Desenvolvimento e elaboração 
sistemática da regressão 
transferencial 
Relação terapeuta-paciente 
Sem ambiguidade, os papéis são 
claramente definidos 
O terapeuta atua como docente 
especialista, e o paciente tem um 
papel ativo e colaborador 
Ambiguidade, favorece que o 
paciente projete os seus conteúdos 
na figura do analista 
Intervenções do terapeuta 
Sugestivo-diretivo: o terapeuta tem 
papel ativo-participante, com 
iniciativas diretivas 
Discretamente caloroso e 
espontâneo, assim como ativo em 
oferecer orientações pedagógicas 
Interpretações transferenciais e de 
conteúdo, atitude passivo-silenciosa 
Separações 
São negadas como tais, não devem 
ser sentidas como abandono 
Devem ser vistas como situações de 
provas, tarefas adaptativas 
Forma de regressão, denotam 
aspectos transferenciais 
Transferência 
Idealizadora deve ser mantida, faz 
parte da estratégia 
Idealizadora deve ser aceita com 
cuidado, a hostil deve ser 
imediatamente atualizada 
Sua interpretação adquire um papel 
terapêutico privilegiado 
 
Fonte: A Delimitação Técnica das Psicoterapias [Capítulo 3] – (FIORINI) 
 
 21 
Módulo II – Wilhelm Reich 
 
A Clínica do Homem Encouraçado 
 
- Reich nasceu em 24/03/1897 na Galícia ucraniana, parte do império Austro-
húngaro - filho de pais camponeses, possuía um irmão 3 anos mais novo 
- Tinha uma vida familiar atribulada, sua mãe a qual ele idolatrava, não era feliz 
em seu casamento, vindo a se suicidar quando Reich tinha 14 anos 
- O pai ficou arrasado com a morte da esposa e pouco tempo depois contraiu 
pneumonia que evoluiu para uma tuberculose, vindo falecer 3 anos mais tarde (O 
irmão também morreu de tuberculose aos 26 anos) 
- Após a morte do pai, Reich continuou os estudos e ao mesmo tempo dirigia a 
fazenda, porém, em 1916, com 19 anos, a guerra se espalhou e destruiu sua 
propriedade – Reich deixa a fazenda e se alista no exército austríaco, torna-se 
oficial e luta na Itália 
- Em 1918 ingressa na Escola Médica de Viena, formando-se em 1922 
- Destaca-se brilhantemente nos estudos participando ativamente dos 
Seminários de Sexologia promovidos pelos alunos, é a partir do interesse 
nesse tema que vem a conhecer Freud em 1919, quando ingressa na 
Sociedade Psicanalítica de Viena 
- A partir do ingresso na Psicanálise, começa a formular algumas idéias 
controvertidas, encontrando certa resistência entre os psicanalistas, mas ainda 
goza de certo prestígio 
- Assume entre 1924 e 1930 a direção dos seminários de Psicoterapia e é 
nomeado subdiretor da Policlínica Psicanalítica entre 1928 e 1930 
Em sua vida e obra, podemos destacar 3 grandes momentos: 
(1919 – 1926) – Momento de dedicação à Psicanálise com atenção à 
sexualidade e sua relação com as neuroses 
(1927 – 1935) – Momento de crítica à Psicanálise ortodoxa – proposta de 
uma psicanálise revolucionária próxima ao Marxismo 
(1936 – 1957) – Abandono gradual da práxis político-psicanalista e 
incursão pela Fisiologia, Biologia até a Cosmogonia 
 
A) Reich e a Psicanálise (Freud) 
 
- Reich destaca o conceito freudiano de libido como uma energia psíquica: 
- a estagnação ou o acúmulo dessa energia (estase libidinal) irá favorecer 
o aparecimento de sintomas neuróticos 
- Em 1915, Freud propõe uma classificação das neuroses em: 
a) Psiconeuroses: neuroses com causa psíquica cujo sintomas são a 
expressão simbólica de conflitos infantis 
b) Neuroses atuais: causadas por uma disfunção somática atual, 
originada a partir da insatisfação sexual 
- O interesse da Psicanálise focou-se nas primeiras, porém, Freud propõe uma 
relação entre elas: 
 
 22 
 
- Alguns psicanalistas da época rejeitaram a idéia de Freud, alegando que toda 
neurose é de origem psíquica e não somática. Freud não se preocupou, mas 
também não retomou a proposta de um núcleo neurótico atual 
 
- Diante destes conceitos freudianos, Reich destacou: 
- a relação entre origem psíquica e origem somática da neurose: relação 
entre idéias e excitação somática 
- que um núcleo neurótico atual, resultante da frustração sexual, possa 
ser atuante na psiconeurose 
- A partir daí, Reich conclui que: 
- Se uma excitação (somática) energiza uma idéia (psíquica) e se esta é 
incompatível com a consciência (por razões morais), será inibida e se 
frustrará, enquanto a energia se acumula (estase) sem poder se realizar 
- Essa energia acumulada terá que se associar a outra idéia para 
―descarregar-se‖ 
- poderá, então, conectar-se a idéias associadas a conflitos 
infantis – sintomas neuróticos 
 
- Para Reich as psiconeuroses aparecem sobre a base de uma inibição sexual 
atual 
- as psiconeuroses têm um núcleo neurótico atual e as neuroses atuais 
têm uma superestrutura psiconeurótica 
- A neurose á um transtorno somático devido à frustração e consequente desvio 
da energia sexual 
psiconeurose  neuroses atuais 
- O desvio é sempre resultante de uma inibição psíquica: 
energia  idéia 
 Na neurose: 
 
 
- A energia não satisfeita/realizada, ou seja, a energia estásica pode se 
manifestar de duas formas: 
- Através de sintomas neuróticos (neurose obsessiva, fobia irracional) 
- Através de traços de caráter neurótico (ordem excessiva, timidez 
ansiosa) 
energia 
(inibição psíquica) 
idéia 
energia 
acumulada 
idéias infantis 
substitutas das 
idéias atuais 
(em sua origem não patológicas, mas agora 
sobrecarregadas de energia sexual) 
Fator atual 
(pressões morais, 
sociais) 
Frustração 
(do desejo 
 sexual) 
Estase 
Libidinal 
Sintoma neurótico atual 
(núcleo neurótico atual) 
desencadeia Psiconeurose 
(conflitos infantis) 
 
 23 
Caráter 
- A gênese do caráter tem por base o conflito entre as demandas pulsionais e o 
meio exterior 
 - conflito enfrentado inicialmente no Complexo de Édipo 
- Durante a vida do indivíduo repetem-se os conflitos entre desejo libidinal 
e as pressões do meio exterior: 
(id) demandas internas  Ego  demandas externas 
(internalizadas no superego) 
 
- Diante do perigo da emergência de pulsões libidinais, o recalcamento torna-se 
crônico e automático 
- Para Reich, este modo automático de defesa é denominado ―caráter‖ ou 
―couraça caracterológica‖ 
- o caráter é composto das atitudes habituais de uma pessoa e de seu 
padrão consistente de respostas para várias situações 
- inclui atitudes e valores conscientes, estilo de comportamento 
(timidez, agressividade) e atitudes físicas (postura, hábitos de 
manutenção e movimentação do corpo) 
- Do ponto de vista econômico da energia, temos: 
- a energia libidinal não realizada se concentra (estase) forçando a sua 
realização (saída) 
- uma parte desta energia será utilizada pelo ego sob a forma de uma 
formação reativa, a fim de reprimi-la 
- Há, portanto, formação de um círculo vicioso onde: 
 
 
- A figura ao lado pode ilustrar como ocorreria a formação de um caráter, 
através de seus diversos estratos: 
inibição estase Há aumento das 
forças repressivas 
(aumenta) (força o ego) 
Cronificação do caráter 
ou da couraça caracterológica 
 
 24 
 
 
- A realização indireta e parcial das pulsões sexuais torna-se possível através de 
brechas mais ou menos fixas, na couraça, que se interpõem entre o ego e o 
mundo exterior 
- No entanto, devido à realização apenas parcial da libido, a energia represada 
aumenta levando à: 
 - cronicidade e rigidez da couraça 
 - diminuição do prazer sexual e da capacidade de descarga 
- A falta de satisfação sexual e a frustração dos desejoslevam a uma reação 
agressiva que também acaba sendo inibida gerando novamente angústia 
- Através de ―fendas‖ na couraça a libido pode fluir, de modo pouco móvel, para o 
exterior (libido objetal) ou refluir para o ego (libido narcísica) 
 
 
 
 
 
energia 
libidinal 
Realização direta da energia (libido objetal) 
libido 
narcísica 
Realização parcial da energia (libido objetal) 
inibição por pressões externas 1 – 
2 – 
3 – 
4 – 
5 – 
formação reativa (parte da energia é utilizada para inibir o desejo) 
pulsão reprimida 
1 – 
2 – 
3 – 
4 – 
5 – 
energia libidinal 
traço de caráter (a libido cria brechas através da couraça) 
o trabalho de defesa egóica leva a um disfarce dos desejos sexuais 
... aparece no comportamento, como um traço de caráter que busca a gratificação 
parcial do desejo – (diminuição da tensão) 
inibição 
uma nova formação reativa passa a impedir a 
emergência de tal traço, dando origem a um 
novo comportamento 
traço superficial de caráter, que atinge uma conciliação parcial entre a 
realização indireta do desejo e as demandas sociais 
... e assim sucessivamente até o indivíduo encontrar um traço de 
caráter relativo socialmente aceito 
estratificação do 
caráter 
 
 25 
Caráter Neurótico x Caráter Genital 
 
 Caráter neurótico: há um encouraçamento crônico que leva a atitudes rígidas 
diante das diferentes demandas – modo de reação estereotipado 
- A energia sexual não pode descarregar-se pela plena potência orgástica, devido 
às repressões, canalizando-se para pontos de fixação pré-genitais 
 - a energia libidinal não consegue se ligar ao prazer genital (coito) 
- a energia se liga a outras formas de prazer (pré-genital) – sexo oral, 
anal, jogos sado-masoquistas, homossexualismo, voyeurismo, 
masturbação ou abstinência sexual 
 
 Caráter genital: a couraça torna-se móvel e adaptativa, pois: 
 - há a realização direta da energia, ou indireta, através da sublimação 
- estabelece-se a primazia genital e a plena descarga orgástica (é capaz 
de experimentar livre e plenamente o orgasmo sexual, descarregando por 
completo, toda a libido excessiva) 
- as pulsões pré-genitais canalizam-se para as realizações 
genitais e estabelecem com elas, uma unidade (primazia genital) 
 
 
- Para Reich, a personalidade total do indivíduo é a somatória funcional de toda 
sua história incorporada ao presente sob a forma de atitude de caráter 
- condensa em si toda a história dos conflitos enfrentados pelo indivíduo e 
suas resoluções 
 
Traços de Caráter x Sintomas Neuróticos 
 
 
 Os traços de caráter são resultados de forças defensivas repressoras sentidas 
como partes integrantes da personalidade, aceitas pelo ego 
- por exemplo: preocupação com ordem e limpeza (a pessoa pode ter 
estas características bem evidentes, porém, esse traço não é significativo 
ou patológico) 
 
 Já os sintomas neuróticos são vivenciados como estranhos ao indivíduo, como 
elementos exteriores à psique 
- por exemplo: comportamento obsessivo-compulsivo de ordem e/ou 
limpeza dentro de um quadro de Transtorno Obsessivo-Compulsivo 
(TOC) – o problema é significativo e patológico. 
 
- Para Freud, a eliminação dos sintomas se dá através da conscientização dos 
conflitos inconscientes, assim como da angústia 
- Para Reich, não basta tornar consciente os conflitos infantis (inconscientes), é 
necessário ainda, eliminar a fonte de energia que sobre eles investe (energia 
estásica), ou seja, a perturbação de descarga orgástica 
realização sexual 
sublimação 
(inibição sem recalcamento) fluxo 
energia libidinal 
 
 26 
- No entanto, Reich irá perceber que o conflito ainda se mantém 
―energetizado‖ mesmo após o restabelecimento de relações sexuais pelo 
paciente 
 - Isto leva Reich à análise da função do orgasmo 
 
 
A Função do Orgasmo 
 
- A descarga de energia libidinal só ocorre quando o orgasmo é pleno – potência 
orgástica 
 - fórmula do orgasmo (característico de todos os seres vivos) 
 
orgasmo
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Relaxação
(descarga energética)
Controle
voluntário Relaxamento
Penetração
 
 
- A plena potência orgástica se dá em indivíduos onde ocorra a primazia genital - 
são os indivíduos capazes de atingir os movimentos ondulatórios do corpo 
- Quando não ocorre a primazia do genital (há investimento em fantasias pré-
genitais) a descarga não é total, mantendo-se grande parte da energia em estase 
– impotência orgástica 
- A impotência orgástica aumenta a quantidade de energia acumulada, 
gerando angústia e realimentando a pré-genitalidade 
- A frustração gera agressividade e angústia, estas por formação reativa 
fortalecem a couraça caracterológica neurótica 
 
 
Caráter Neurótico (impotência orgástica) 
 
 
 
 
 
energia 
libidinal 
(estase da energia) – liga-se a pontos de fixação pré-genital 
Realização parcial da energia 
 
 27 
Caráter Genital (potência orgástica) 
 
 
 
B) Reich e o Corpo 
 
- No caráter neurótico a energia sexual não liberada se acumula em certos 
grupos musculares, criando-se tensões específicas que vão refletir na maneira de 
agir do indivíduo (traço de caráter) 
 - cada atitude de caráter tem uma atitude física correspondente 
- o caráter do indivíduo é expresso no corpo em termos de rigidez 
muscular 
– caráter muscular 
- As tensões musculares crônicas servem para bloquear uma das três excitações 
biológicas: ansiedade, raiva, ou excitação sexual 
- conclui que a couraça física e a couraça psicológica são essencialmente 
a mesma coisa 
“... as atitudes musculares e as atitudes de caráter 
tem a mesma função no mecanismo psíquico, podem substituir-se 
 e influenciar-se mutuamente. Basicamente, não podem se separar” (Reich, 1948) 
 
- Mente e corpo são vistos como uma só unidade 
- Reich começa a trabalhar de forma direta no relaxamento da couraça muscular 
junto com seu trabalho analítico 
- a perda da couraça muscular liberta considerável energia libidinal e 
auxilia no processo analítico (ver exemplos de caso - fls. 29 e 30) 
- analisava em detalhes a postura de seus pacientes e seus hábitos 
físicos a fim de conscientizá-los de como reprimiam sentimentos em 
diferentes partes do corpo 
- aos poucos começou a trabalhar diretamente com suas mãos sobre os 
músculos tensos a fim de soltar as emoções presas a eles 
- Para Freud, o objetivo era transformar o inconsciente em consciente, através do 
uso da linguagem (associação livre) 
- Para Reich, o objetivo não era apenas esse, mas sim restabelecer o equilíbrio 
biofísico pela descarga da potência orgástica, liberando as energias vegetativas 
(Vegetoterapia) 
- Não mais se fica atrás do paciente, agora ele é olhado de frente e seu 
corpo é analisado, dá-se importância à forma, como o corpo ―fala‖ 
energia 
libidinal 
sublimação (realização indireta) inibição sem 
recalcamento 
 (não há energia 
acumulada, a descarga 
orgástica é total) 
 
 28 
- Para Freud, o corpo é levado em consideração na análise do sintoma, mas 
apenas o conteúdo psíquico é investigado 
- a abordagem corporal torna o paciente objeto da ação do terapeuta, não 
lhe permitindo ser sujeito de suas próprias descobertas (crítica à teoria) 
 
- O foco de Reich será a eliminação da estase libidinal pela regulação sexual 
 - Teoria da Economia Sexual 
- a solução mais evidente seria a eliminação da moral sexual 
repressiva e a plena satisfação orgástica 
- Gradativamente Reich vai se afastando da teoria e técnica psicanalítica, 
buscando ser, não uma Psicologia, mas sim uma Sexologia, enquanto ciência 
dos processos biológicos, fisiológicos, emocionais e sociais da sexualidade 
- Aos poucos vai se distanciando do trabalho árduo do tratamento individual das 
neuroses e começa a investir seus esforços na direção da psico-higiene e 
prevenção 
- Sentindo a necessidade de compreender as forças sociais atuantes,Reich 
encontra em Marx o complemento social da Psicanálise, ou da Economia Sexual 
- ingressa no Partido Comunista com uma proposta de liberação sexual 
da juventude 
- Reich chegou a contabilizar 40 mil simpatizantes de suas idéias por toda a 
Alemanha 
 - Em 1931, apresentou um programa com suas propostas: 
- Livre distribuição de anticoncepcionais para qualquer um que 
quisesse; educação intensiva para o controle da natalidade; 
- Completa abolição das proibições com relação ao aborto; 
- Abolição da distinção legal entre casados e não casados; 
liberdade de divórcio; 
- Eliminação de doenças venéreas e prevenção de problemas 
sexuais através de uma completa educação sexual; 
- Treinamento de médicos, professores etc, em todas as 
questões relevantes da higiene sexual; 
- Tratamento, ao invés de punição, para agressões sexuais 
 
- No entanto, Reich é expulso do partido comunista acusado de 
―contrarrevolucionário freudiano e antimarxista‖ 
- Ao mesmo tempo, os interesses políticos de Reich levantaram, nos círculos 
psicanalíticos , controvérsias até mesmo maiores do que as provocadas por suas 
inovações teóricas 
- é acusado de tentar destruir a teoria freudiana, por ordens de Moscou – 
em 1934 é expulso da API (Associação Psicanalítica Internacional) 
 
C) Reich e a Orgonomia 
 
- Reich inicialmente estuda a energia como libido, a partir de seus estudos em 
Fisiologia, Biologia e Física ele começou a denominar a bioenergia do organismo 
como um aspecto da energia universal presente em todas as coisas 
Libido  energia vegetativa  bioenergia  energia orgônica cósmica 
- Reich desenvolve assim a Orgonoterapia – fundou o Instituto Orgon 
 
 29 
- envolveu-se em experimentos com acumuladores de energia orgônica, 
que restabeleciam o fluxo normal de energia no indivíduo 
- Em 1954, diversas alegações apontaram que o sucesso do tratamento de 
doenças através dos acumuladores eram falsas: 
 - O FDA proibiu judicialmente a distribuição e uso dos acumuladores 
- Reich insistiu com as pesquisas e foi condenado por desacato 
- Em 1957, Reich morre na Prisão Federal de doença cardíaca. 
 
Casos Clínicos - Reich 
 
Caso I - Marcela 
Marcela tem 38 anos e é solteira. Antes de me procurar já contava com 
vários anos de psicoterapia verbal. Sua principal queixa está nos relacionamentos 
sociais e amorosos. Excelente profissional, dedica-se muito ao trabalho e estuda 
bastante, até mesmo nos fins de semana. Poderia estar melhor 
profissionalmente, mas não consegue se fazer reconhecer como profissional 
competente. 
Os grandes desejos de Marcela são: ter um namorado fixo (e não apenas 
casos esporádicos) e um grupo de amigos. Entretanto quando surge uma 
situação social (um jantar, uma festa), dificilmente consegue ir. Sente muita 
excitação com o convite, mas na hora não consegue sair de casa. Algo a paralisa 
e ela não consegue dizer nada sobre isso. 
A respeito desta paralisia também fomos percebendo (por meio de várias 
situações trazidas por ela ao longo das consultas) algumas diferenciações. 
Marcela não encontra muita dificuldade em realizar atos que lhe sejam solicitados 
por outros. Exemplo: quando seu superior pede um relatório ou um estudo, ela o 
realiza, satisfaz o pedido do outro. Mas em situações nas quais a realização 
pessoal está em jogo, a paralisia (resistência) se faz presente. Um trabalho extra, 
um ―bico‖ para ganhar um dinheiro a mais, foi feito por Marcela com extrema 
dificuldade. Nesta ocasião seu braço enrijeceu e ela teve muita dificuldade em 
escrever o relatório. A resistência manifestou-se corporalmente, muscularmente. 
As situações sociais e afetivas são francamente situações de prazer e 
realização pessoal. Nestas ocasiões a paralisia toma conta de Marcela. Embora 
possua uma vasta gama de conhecimento (cinema, literatura, música, política...), 
sente dificuldade de iniciar uma conversa. 
A partir desses elementos, proponho que Marcela se deite, fique olhando 
para o teto e permaneça de boca aberta. Permaneceu imóvel durante quinze 
minutos. Depois disse que sentiu uma angústia imensa. Só angústia. Não 
conseguiu pensar em nada. Repetimos esta situação mais algumas vezes, 
procurando focar a atenção na angústia. 
Na quarta repetição surgiu algo além da angústia. A penumbra da sala 
(só há uma luz na sala, colocada do chão para o teto) a fez lembrar-se de uma 
situação da infância. Depois do almoço, nos fins de semana, seu pai costumava a 
fazer a sesta. Marcela era colocada no mesmo quarto que o pai e a irmã mais 
nova para descansar. A mãe dizia que ela deveria ficar quieta para não acordar o 
pai e a irmã. Ela queria sair e brincar, mas tinha de ficar parada. Depois, associou 
que também não havia festas em casa porque isso perturbava muito o pai. 
A proposta desta experiência tinha um objetivo específico: fazer Marcela 
entrar em contato com a angústia da paralisia. Durante o tempo que ficou imóvel, 
pude observar que sua postura não era relaxada. Havia tensão muscular e 
pequenos movimentos com os dedos. Quando conversamos a esse respeito, 
Marcela disse que teve medo de sair daquela posição (se mexer) porque eu 
poderia ficar bravo com ela. A interpretação de que o medo sentido ali comigo era 
o medo de atrapalhar a sesta do pai foi prontamente aceita. A vivência no 
trabalho corporal proporcionou a Marcela o contato com a angústia, como o medo 
de se movimentar e com a lembrança infantil. Quando este tipo de experiência se 
estabelece (no caso angústia – medo - lembrança), a percepção da transferência 
é praticamente imediata porque o paciente está sentindo e não apenas relatando 
um sentimento de uma situação antiga. 
 
Caso II - Nair 
Nair, 29 anos, já fez cinco anos de psicoterapia (verbal) antes de me 
procurar. Saiu da casa dos pais com 20 anos, depois de muitas discussões com a 
mãe. Tem bom relacionamento com o pai e os dois irmãos mais novos que ela. 
Apesar da idade, Nair se vê como adolescente: muda muito de emprego (não 
suporta horários rígidos), não gosta de compromissos, frequenta bares e 
danceterias de adolescentes e veste-se como tal. 
No primeiro semestre de trabalho fizemos algumas experiências 
corporais movimentando apenas os segmentos da cabeça (olhos, boca) e do 
pescoço. Estas situações foram experimentadas por Nair sem dificuldade. As 
 
 30 
dificuldades surgiram quando começamos a trabalhar com o tronco (tórax e 
abdômen). Nas movimentações do tórax (bater e dizer EU), Nair sente-se 
entediada. Faz o movimento mecanicamente, ―não sente nada e acha chato‖. 
Proponho que Nair faça movimentação da pélvis (deitada e com joelhos 
dobrados, deve erguer um pouco a pélvis e balançá-la de um lado para outro). 
Realiza o movimento por aproximadamente cinco minutos. Interrompe e se diz 
envergonhada. Ela estava ali ―rebolando‖ enquanto eu assistia. Sentiu vergonha 
de se exibir. Peço a ela que volte a ―rebolar‖, deixando que a vergonha e a 
exibição se intensifiquem. Em alguns minutos tem uma lembrança de infância. 
Ela está na sala de casa com o pai e alguns amigos de trabalho. Há música no 
ambiente e ela começa a fazer um show de canto e dança para a platéia. Todos 
estão gostando da apresentação até que a mãe, vindo da cozinha, interrompe a 
cena e leva Nair para o quarto. Recebe um sermão sobre seu exibicionismo e fica 
de castigo no quarto. 
Vemos aqui a situação transferencial com clareza. A vergonha sentida 
por estar se exibindo para mim vem da situação infantil. Nair percebe em primeiro 
lugar o temor de que eu vá recriminar seu exibicionismo (como sua mãe). Atrás 
desse temor existe a vergonha, pois se dá conta, sente excitação em se exibir 
para mim (pai). Além do aspecto transferencial, quero assinalar alguns pontos a 
respeito das resistências no trabalho corporal. Quero ressaltar um detalhe desse 
caso. Vimos que quando Nair começou a sentir vergonha por estar rebolando, 
interrompeu o movimento. Vemos então que a movimentação corporal provocou 
um afeto (vergonha)e que este afeto, ao paralisá-la, funcionou como resistência 
à emergência da representação inconsciente. Ao pedir que ela seguisse a 
movimentação e deixasse que a vergonha de se exibir aumentasse, estávamos 
―desafiando a autoridade repressora‖, para que o reprimido pudesse emergir (o 
desejo de se exibir). A movimentação corporal (rebolar) excitou a representação 
reprimida, aumentou sua carga. Com este aumento de carga, a representação 
ganhou força para emergir, mas foi imediatamente sentida como ameaçadora. O 
que veio primeiramente à consciência de Nair foi a vergonha e não a lembrança 
da infância. A vergonha é o sentimento correspondente à cena de infância. E 
também, na situação atual, aquilo que, ao paralisá-la, impede (resiste) a 
lembrança. Ao mobilizarmos o corpo, ativamos sua memória desejante. Em 
decorrência disso, as resistências aumentam e se tornam conscientes. Não é 
questão, portanto, nem de ceder à resistência nem de vendê-la a todo custo. 
Antes, é questão de compreendê-la como manifestação e função encobridora, ou 
seja, o objetivo não é conseguir rebolar (trabalho corporal), mas respeitar e 
compreender o desejo infantil reprimido e sua relação transferencial (trabalho 
interpretativo). 
Haveria muito que dizer a respeito das resistências no trabalho corporal: 
suas diferentes manifestações e as formas várias de se lidar com elas. Como o 
tema deste estudo é a transferência, assinalo apenas que a vergonha (como 
vimos no caso de Nair) é uma manifestação da resistência, assim como o tédio, o 
sono, a ausência de sensações, a repetição de forma mecânica dos movimentos 
e, em muitos casos, o excesso de excitação e sensações (apresentações 
―performáticas‖) que servem apenas de embuste contra psicorporalistas 
desavisados. 
Casos extraídos do livro “A Transferência na Clínica Reichiana” – Cláudio 
Mello Wagner – Ed. Casa do Psicólogo 
 
 
 Leitura Recomendada 
Básica: Reich: um homem, uma obra [Capítulo 10]; Freud e Reich: da 
psicanálise à orgonoterapia [Capítulo 11] e Uma Teoria do caráter à 
guisa de teoria de personalidade [Capítulo 12] - (REIS; MAGALHÃES E 
GONÇALVES) 
Complementar: O caráter genital e o caráter neurótico [Capítulo 8] - 
(REICH) 
 
 31 
Módulo III – Melanie Klein 
 
Da Fantasia à Realidade 
 
- Melanie, inicialmente Reizes e posteriormente Klein, nasceu em 30/03/1882 em 
Viena, filha caçula de uma família culta. 
- As perdas e o luto foram marcantes no início e ao longo de sua vida 
- aos 4 anos perdeu sua irmã Sidonie, que lhe ensinava leitura e 
aritmética 
- próximo aos 20 anos, perdeu o pai e o irmão Emanuel, amigo e 
incentivador 
- Na adolescência desejava estudar Medicina, mas após a morte de seu pai e 
irmão, acabou se casando com Artur Klein em 1903 - devido ao noivado 
abandonou a idéia de estudar Medicina 
- Teve três filhos: Mellita, Hans, e Erich, após o nascimento do caçula perde a 
mãe, o que a leva a um estado depressivo 
- Em 1914, morando em Budapeste, procurou Ferenczi para análise e entrou em 
contato com a obra de Freud 
- Seu talento para compreender as crianças foi percebido e estimulado por seu 
mestre Ferenczi 
- Em 1922, tentou expor a Freud suas idéias, mas não houve interesse dele 
- Mudou-se para Alemanha em 1923 e se tornou membro pleno da Sociedade de 
Psicanálise de Berlim, iniciando em 1924 sua análise com Karl Abraham, porém, 
a análise durou apenas um pouco mais de um ano devido à morte de seu 
inspirador 
- Klein era bastante produtiva e se focou no estudo da análise com crianças, onde 
desenvolveu a técnica do brincar 
- Em 1926, já separada, viajou para a Inglaterra a convite de Ernest 
Jones, onde passou a morar e a expor as suas idéias acerca da 
psicanálise com crianças 
- Divergências Freud – Klein, posteriormente, ataques de sua filha 
Mellita Shimideberg 
- Klein transmitiu a psicanálise a diversos autores como Rosenfeld, Paula 
Heimann, Richkman e Bion, deixando diversas obras importantes 
- Klein se considerava até o final uma freudiana, vindo a falecer em 22/09/1960 
 
Introdução ao pensamento Kleiniano 
 
- O ego já existe desde o nascimento, é imaturo (primitivo, desorganizado), mas 
possui uma tendência a integração 
- Desde o início ele é exposto à: 
- ansiedade provocada pela polaridade inata dos instintos 
Instinto de vida integração 
Instinto de morte desintegração 
 - ao impacto da realidade externa 
 - frustrar, privar, ameaçar 
 
 32 
 - satisfazer, proteger 
 
- Desde o início o ego é capaz de perceber e reagir à realidade ambiental através 
de um processo interativo entre: 
Fantasia ↔ realidade 
- As pulsões inconscientes dirigem-se a um objeto 
- o seio (parcial) é o primeiro objeto (interno - representante da mãe no 
mundo interno) 
- No nascimento o ego experimenta a ansiedade do instinto de morte: ansiedade 
de separação terror de morte ou aniquilamento 
- Para manter a pequena integridade o ego cinde: 
- projeta o mau (senso de medo, ansiedade, frustração) 
- transforma o temor de aniquilamento em um temor de 
perseguição 
- parte da ansiedade do instinto de morte é retida como fonte de 
agressão que é utilizada para se defender dos medos 
persecutórios 
- projeta o bom (satisfação, senso de prazer corporal, segurança) 
- a libido é projetada para criar um objeto que irá satisfazer o 
instinto de preservação da vida 
- parte da libido é retida para poder estabelecer uma relação 
libidinal com o objeto 
- Cria-se o complexo paradoxo do seio bom e do seio mau 
- O ego estabelece um relacionamento com dois objetos parciais: 
seio idealizado x seio persecutório 
- As fantasias do seio ideal são reafirmadas pelas experiências satisfatórias e 
gratificantes 
- As fantasias do seio persecutório são mantidas pelas experiências de 
frustração, dor, fome 
―o recém-nascido vive um mundo de extremos, povoado por 
objetos bons e maus num embate permanente” 
 
- A integração do ego depende de sua capacidade de poder experimentar a força 
do seio ideal 
- (sensação de proteção, segurança e de que a parte persecutória está 
sob controle) 
- Nesse período a ansiedade é que o seio persecutório supere a parte idealizada 
- sensação de aniquilamento 
Posição esquizo-paranóide 
 
- Se a hostilidade for grande demais ou se o bebê não experimentar o alívio de 
seus ataques ao seio a bondade do seio idealizado é fantasiada como 
insatisfatória 
 - O conflito entre os instintos de vida e de morte se dá entre: 
amar x invejar / tê-lo x destruí-lo 
 
 33 
- O contato imediato com a realidade é alterado pela fantasia inconsciente e a 
realidade age sobre a fantasia 
- O cuidado e a paciência da mãe contribuem para o senso de bem-estar do bebê 
- as fantasias podem ser temperadas pelo relacionamento com a mãe 
(ambiente – Winnicott) 
- a mãe / terapeuta tem de sustentar ou conter emoções que são penosas 
demais para o bebê/ paciente suportar 
- A predominância do objeto bom ou mau depende: 
 - do relacionamento mãe-bebê 
 - da força inata da inveja 
 - da capacidade de tolerar frustração 
- O bebê necessita receber de volta da mãe, as suas experiências por uma 
maneira que lhe assegure que seus sentimentos e ele próprio foram tolerados e 
aceitos 
- é a aceitação dele próprio por outro que o conduz à tolerância de si 
próprio 
- A experiência de uma maternagem suficientemente boa assegura que o mau 
não pesará mais que o bom 
- Com a maior segurança de que os objetos internos são bons, o bebê demonstra 
um desejo de estender-se mais além 
 
Formas de defesa do ego 
- Cisão mantém uma distância suficientemente segura entre os objetos 
persecutórios e os ideais 
- Projeção transforma, troca o perigo interno por um perigo externo 
- Introjeção busca incorporar o bom enquanto o mau é projetado 
- Identificação Projetiva partes do ego e os objetos internos são cindidos e 
projetados para dentro do objeto externo, que é então possuído e controlado pelo 
sujeito

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