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2011 SuStentabilidade e turiSmo Profa. Maria Antonietta Castro Pivatto Prof. Maicon Mohr 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2011 Elaboração: Profa. Maria Antonietta Castro Pivatto Prof. Maicon Mohr Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: 338.4791 M699s Mohr, Maicon Sustentabilidade e turismo / Maicon Mohr e Maria Antonietta Castro Pivatto. Indaial : Uniasselvi, 2011. 262 p. : il. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-465-2 1. Turismo - Sustentabilidade I. Centro Universitário Leonardo da Vinci III apreSentação De acordo com a Divisão de População das Nações Unidas, no final de 2011, o mundo terá 7 bilhões de habitantes (NATIONAL GEOGRAPHIC, 2011). A quantidade de energia e recursos naturais necessários para manter uma população tão numerosa e crescente está acima da capacidade de reposição do planeta Terra, nos levando a um futuro perigoso. É neste cenário que o modelo tradicional de desenvolvimento é repensado, e cada vez mais governo e sociedade civil buscam por alternativas sustentáveis, na esperança de reverter este quadro. E o setor turístico não poderia ficar de fora. Segundo a Organização Mundial do Turismo, 935 milhões de passageiros passaram por aeroportos do mundo em 2010, um crescimento de 7% em relação ao ano anterior. Dados da EMBRATUR apontam que o Brasil recebeu 5,161 milhões de turistas estrangeiros, um aumento de 7,5% em relação a 2009 (JÚNIOR, 2011). Estes números só tendem a aumentar, seguindo a oscilação das moedas internacionais e da estabilidade econômica. Mas por trás destas boas notícias, esconde-se um fantasma assustador: a pressão por novos destinos, roteiros e serviços. Dentro do modelo tradicional de negócios, esta estrutura demanda pesquisa de mercado, planejamento, aplicação de recursos e treinamento de mão de obra qualificada. Mas quando levamos em conta as novas demandas da sociedade, cada vez mais cobrando harmonia com a natureza, observamos que outros fatores precisam fazer parte do projeto: avaliação de impactos ambientais, preparação da comunidade local, cuidados específicos com saneamento, fornecimento de água, reciclagem de lixo, arquitetura etc. Acredita-se que o ecoturismo é uma das alternativas que pode absorver estas demandas, porém toda a indústria do turismo necessita buscar sustentabilidade, visto que no futuro teremos menos oferta de novos destinos, sendo estes cada vez mais pressionados pelo excesso de visitação. Assim, este curso tem a grande missão de trazer aos estudantes de turismo uma nova perspectiva no seu caminho profissional, inserindo informações sobre meio ambiente, educação ambiental e sustentabilidade. FONTE: <http://pt.wikinoticia.com/entretenimento/turismo/71932-o-numero-de-turistas- no-mundo>. Acesso em: 8 ago. 2011. IV Esperamos com isso motivar uma nova percepção sobre a relação do homem com a natureza, tendo o turismo como ferramenta desta transformação. Bons estudos! Profa. Maria Antonietta Castro Pivatto Prof. Maicon Mohr Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI VI VII UNIDADE 1 – FUNDAMENTOS DO MEIO AMBIENTE E DO ECOTURISMO ...................1 TÓPICO 1 – NOÇÕES GERAIS DE BIOLOGIA .............................................................................3 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................3 2 BOTÂNICA ..........................................................................................................................................6 3 ZOOLOGIA ........................................................................................................................................19 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................26 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................28 TÓPICO 2 – CARACTERIZAÇÃO DE MEIO AMBIENTE ...........................................................31 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................31 2 MEIO AMBIENTE E ECOLOGIA ...................................................................................................32 3 BIOMAS BRASILEIROS ..................................................................................................................35 4 PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO DO AMBIENTE NATURAL .........................................42 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................44 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................46 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................48 TÓPICO 3 – ECOTURISMO ................................................................................................................51 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................51 2 DEFININDO O ECOTURISMO ......................................................................................................51 3 PLANEJAMENTO E GESTÃO INTEGRADA DO ECOTURISMO .........................................54 4 ECOTURISMO NO BRASIL ...........................................................................................................58 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................64AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................66 TÓPICO 4 – A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DO TURISMO ......................................69 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................69 2 PRINCÍPIOS E OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ..................................................72 3 MEIO AMBIENTE E REPRESENTAÇÃO SOCIAL .....................................................................74 4 RELAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E TURISMO ..................................................77 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................82 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................84 UNIDADE 2 – SUSTENTABILIDADE ..............................................................................................87 TÓPICO 1 – AS DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE ..........................................................89 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................89 2 AS DIMENSÕES SOCIAL E CULTURAL .....................................................................................91 3 AS DIMENSÕES ECOLÓGICA, AMBIENTAL E TERRITORIAL ...........................................95 4 A DIMENSÃO ECONÔMICA .........................................................................................................99 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................100 5 AS DIMENSÕES POLÍTICAS ........................................................................................................103 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................107 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................109 Sumário VIII TÓPICO 2 – A SOCIEDADE MODERNA E SEU PAPEL NA SUSTENTABILIDADE ...........111 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................111 2 CENÁRIO DEMOGRÁFICO DA SOCIEDADE MODERNA ...................................................113 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................116 3 O CONSUMISMO E SEUS IMPACTOS .......................................................................................117 4 DESENVOLVIMENTO INCLUDENTE ........................................................................................122 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................125 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................127 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................130 TÓPICO 3 – TURISMO E PLANEJAMENTO SUSTENTÁVEL ...................................................133 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................133 2 PLANEJAMENTO E GESTÃO DO TURISMO ............................................................................134 3 ATORES DO TURISMO SUSTENTÁVEL ....................................................................................139 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................152 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................154 TÓPICO 4 – CAPACIDADE DE CARGA NO TURISMO .............................................................157 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................157 2 CONCEITUAÇÃO E UTILIZAÇÃO DA CAPACIDADE DE CARGA ....................................158 3 DETERMINAÇÃO DA CAPACIDADE DE CARGA TURÍSTICA .........................................159 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................164 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................172 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................174 UNIDADE 3 – MODALIDADES TURÍSTICAS NO ESPAÇO NATURAL ...............................177 TÓPICO 1 – ECOTURISMO E TURISMO DE AVENTURA ........................................................179 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................179 2 ENVOLVIMENTO COM A NATUREZA .......................................................................................182 3 TURISMO CONTEMPLATIVO .......................................................................................................184 4 TURISMO DE AVENTURA ..............................................................................................................188 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................191 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................193 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................195 TÓPICO 2 – TURISMO EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO .................................................197 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................197 2 SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO – SNUC ................................200 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................203 3 OS EFEITOS DO TURISMO NAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO...................................206 4 SUSTENTABILIDADE EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO ..............................................209 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................213 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................216 TÓPICO 3 – TURISMO DE EXPERIÊNCIA .....................................................................................219 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................219 2 LAZER E EXPERIÊNCIA ...................................................................................................................220 3 ENVOLVIMENTO COM A COMUNIDADE LOCAL ...............................................................226 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................226 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................230 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................233IX TÓPICO 4 – O IMPACTO AMBIENTAL DA ATIVIDADE TURÍSTICA ..................................235 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................235 2 TURISMO DE MASSA .....................................................................................................................235 3 OS IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELO TURISMO ..............................................238 4 TURISMO DE BAIXO IMPACTO ..................................................................................................243 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................246 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................248 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................250 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................253 X 1 UNIDADE 1 FUNDAMENTOS DO MEIO AMBIENTE E DO ECOTURISMO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • fornecer informações básicas sobre biologia; • promover a compreensão básica da botânica; • promover a compreensão básica da zoologia; • conhecer os conceitos de meio ambiente e ecologia; • conhecer os principais biomas brasileiros; • compreender preservação e conservação do ambiente natural; • compreender o conceito de ecoturismo; • conhecer planejamento e gestão integrada do ecoturismo; • compreender a realidade do ecoturismo no Brasil; • conhecer os princípios e objetivos da educação ambiental; • conhecer o conceito de meio ambiente e representação social; • compreender a relação entre educação ambiental e turismo. Esta Unidade está organizada em quatro tópicos, sendo que, em cada um deles, você encontrará atividades para uma maior compreensão das informações apresentadas. TÓPICO 1 – NOÇÕES GERAIS DE BIOLOGIA TÓPICO 2 – CARACTERIZAÇÃO DE MEIO AMBIENTE TÓPICO 3 – ECOTURISMO TÓPICO 4 – A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DO TURISMO 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 NOÇÕES GERAIS DE BIOLOGIA 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico! Esta unidade tem como objetivo oferecer uma introdução sobre os Fundamentos do Meio ambiente e do Ecoturismo. Para o estudo desta disciplina, é de fundamental importância o conhecimento de alguns conceitos e características da Biologia, e de duas áreas específicas que a integram, que são a Botânica e a Zoologia. Vamos iniciar nossos estudos conhecendo um pouco mais sobre a Biologia. A palavra biologia significa “estudo da vida” (do grego bios “vida” e logos “estudo”). É a ciência que estuda os seres vivos e suas manifestações vitais. Procura entender o surgimento e a evolução da vida em nosso planeta, as relações dos seres vivos com o meio ambiente, seus métodos de sobrevivência, além de vários outros aspectos. A Biologia é uma ciência muito ampla e antiga. Sabemos que o homem primitivo já se preocupava em conhecer o funcionamento de seu corpo e do mundo ao seu redor. Mas historicamente, foi Aristóteles (384 a.C - 322 a.C) o primeiro a escrever sobre Biologia. Talvez você já o conheça por ser um grande filósofo grego, mas você sabia que Aristóteles foi o primeiro grande biólogo da Europa? A formulação do princípio de que todos os organismos estão totalmente adaptados ao meio em que vivem e a afirmação de que a natureza não despende energia desnecessariamente são dele. Infelizmente, após a morte de Aristóteles, a biologia “adormeceu”, não houve uma continuidade de seus estudos e suas pesquisas quase foram perdidas. Somente no século XIV, no período da Renascença é que houve um recomeço nesta área. Isso ocorreu através da pretensão de vários artistas, em especial pintores e escultores, de entender perfeitamente a anatomia humana para poder retratá-las com perfeição em suas obras. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DO MEIO AMBIENTE E DO ECOTURISMO 4 FIGURA 1 – ARISTÓTELES – FILÓSOFO GREGO (384-322 A.C.) FONTE: <http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%B3gica_aristot%C3%A9lica>. Acesso em: 31 jul. 2011. Foi através das observações desses estudiosos e artistas, que tinham como objetivo principal entender melhor todas as formas de vida na Terra e retratá-las com maior realismo, que mais tarde chegou-se à conclusão de que os seres vivos podiam ser estudados mais a fundo se estivessem separados por áreas de estudo específicas. NOTA É possível que você tenha se surpreendido com a influência que o pensador grego, Aristóteles, teve sobre a Biologia. Isto não se atribui somente a ele, mas a inúmeros outros pensadores e artistas, que contribuíram para uma série de outras áreas. Por isso, é importante que você busque ampliar seus conhecimentos sobre a filosofia. Sem dúvida nenhuma, a Biologia é um ramo de conhecimento que cresce em um ritmo bastante acelerado e o acúmulo de tanto conhecimento levou à subdivisão da Biologia em diversos ramos. Observe o quadro a seguir e entenda mais sobre os principais ramos de estudo da Biologia. TÓPICO 1 | NOÇÕES GERAIS DE BIOLOGIA 5 QUADRO 1 – OS PRINCIPAIS RAMOS DA BIOLOGIA PRINCIPAIS RAMOS DA BIOLOGIA Subdivisão O que estuda Citologia ou Biologia Celular Estuda o componente básico dos seres vivos, a célula. Histologia Estuda a formação (origem), a morfologia (forma e estrutura) e o funcionamento dos tecidos. O estudo de citologia e de histologia frequentemente é realizado com o auxílio de microscópios, uma vez que a maioria das células não é visível a olho nu. Anatomia Estudo morfológico das estruturas corporais macroscópicas, isto é, visíveis a olho nu. Embriologia Estuda da formação e o desenvolvimento embriológico dos seres vivos. Botânica Estuda plantas, algas (ficologia) e fungos (micologia) abrangendo o crescimento, o desenvolvimento, a fisiologia e a evolução destes organismos. Zoologia É a área da Biologia que estuda os animais em todos os seus aspectos. Fisiologia Estuda o funcionamento de células, tecidos, órgãos, sistemas e do indivíduo como um todo. Genética Estuda a hereditariedade, isto é, o modo como certas características são transmitidas de uma geração a outra. Evolução Estuda o surgimento de novas espécies a partir de espécies preexistentes. Também investiga as modificações que os seres vivos apresentam durante intervalos de tempo relativamente longos. Ecologia Estuda as relações entre os seres vivos e o ambiente em que vivem, além da distribuição e abundância dos organismos no planeta. Sistemática Estuda a classificação dos seres vivos e as relações evolutivas que existem entre eles. FONTE: Adaptado de: Aguiar et al. (2010a) Como pudemos perceber, o desenvolvimento da Biologia não está unicamente relacionado aos novos conhecimentos e descobertas que surgem a todo o momento, mas essencialmente à importância dos temas biológicos no dia a dia das pessoas. Compreender os princípios biológicos nos ajuda a lidar de forma mais consciente com temas relacionados ao meio ambiente, noções de nutrição e higiene, desenvolvimento de hábitos saudáveis etc. Caro acadêmico! Este tópico não é um resumo completo de toda a Biologia, é apenas um guia para que você possa ter as noções básicas. Portanto, é importante que você pesquise mais em livros, revistas e/ou internet sobre esta importante área de estudo. ATENCAO UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DO MEIO AMBIENTE E DO ECOTURISMO 6 2 BOTÂNICA Podemos conceituar Botânica como a parte da Biologia que estuda os vegetais em todos os aspectos possíveis e, por tradição, as algas e fungos. De acordo com Eichhorn et al. (2001), a palavra “botânica” provém do grego botané, que significa planta, e deriva do verbo boskein, “alimentar”. Vale lembrar que foi através de um grupo de algas clorófitas (algas verdes) que as plantastiveram sua origem. O passo seguinte foi a mudança destas algas do ambiente aquático para o terrestre o que tornou possível o desenvolvimento de muitos animais. NOTA O Reino Plantae é composto por aproximadamente 280.000 espécies e abriga organismos capazes de produzir o seu próprio alimento. Contudo, eles possuem necessidades específicas de determinados nutrientes presentes somente no solo, como por exemplo, os sais minerais. Assim como em outros ramos da Biologia, a Botânica estuda o seu objeto principal, “as plantas”, através de uma grande variedade de níveis, desde o molecular, genético e bioquímico através de organelas, células, tecidos e a biodiversidade de plantas inteiras. No topo desta escala, plantas podem ser estudadas em populações, comunidades e ecossistemas (como acontece no ramo da Ecologia). Em cada um destes níveis um botânico pode se dedicar à classificação (taxonomia), estrutura (anatomia) ou função (fisiologia) da vida vegetal. UNI Caro acadêmico! Após esta etapa introdutória, vamos focalizar um pouco sobre a História da Botânica. Os fatos expostos neste item têm como base as informações postadas no seguinte site: <http://mundonanet.sites.uol.com.br/biologia9.html>. FONTE: Adaptado de: <http://biologia-completa.blogspot.com/2011_03_01_archive.html>. Acesso em: 8 ago. 2011. TÓPICO 1 | NOÇÕES GERAIS DE BIOLOGIA 7 Entre os primeiros estudos botânicos, escritos por volta de 300 a.C., estão dois grandes tratados de Teofrasto: “Sobre a História das Plantas” e “Sobre as Causas das Plantas”. Juntos, estes livros constituem-se na contribuição mais importante à ciência botânica durante a antiguidade e a Idade Média. Em 1665, usando um microscópio primitivo, Robert Hooke descobriu células em cortiça; pouco tempo depois em tecidos vegetais vivos. O alemão Leonhart Fuchs, o suíço Conrad Gessner, e os autores britânicos Nicholas Culpeper e John Gerard, publicaram Herbais (livros sobre ervas) com informações de usos das plantas. Mas só no século XVIII foram realizados estudos mais aprofundados, como o do sueco Carl von Linné, que propôs uma nomenclatura para as plantas em que elas teriam dois nomes em latim: o primeiro indicaria o gênero e o segundo, a espécie, como por exemplo, a Laelia lobata, que popularmente conhecemos pelo nome de orquídea. No Brasil, o estudo das plantas ganhou importância com a chegada da corte portuguesa em 1808. Neste ano, D. João VI fundou o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, que se tornaria o centro da botânica nacional no século 20. Pode-se dizer que a análise da flora brasileira, a mais rica do mundo, se iniciou com o alemão Carl Friedrich Philip von Martius que, entre 1817 e 1820, percorreu o país colhendo os mais variados tipos de plantas, resultando na obra Flora Brasiliensis, de 15 volumes. Esta obra começou a ser publicada em 1840 e só terminou em 1906, muitos anos após a sua morte. FONTE: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Botânica>. Acesso em: 8 ago. 2011. FONTE: <http://mundonanet.sites.uol.com.br/biologia9.html>. Acesso em: 30 jul. 2011. FONTE: <http://mundonanet.sites.uol.com.br/biologia9.html>. Acesso em: 30 jul. 2011. FONTE: <http://mundonanet.sites.uol.com.br/biologia9.html>. Acesso em: 30 jul. 2011. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DO MEIO AMBIENTE E DO ECOTURISMO 8 FIGURA 2 – CARL FRIEDRICH PHILIP VON MARTIUS – AUTOR DA OBRA “FLORA BRASILIENSIS” FONTE: <http://florabrasiliensis.cria.org.br/info?history>. Acesso em: 29 jun. 2011. DICAS Para enriquecer seus estudos, você pode encontrar a versão on-line da obra “Flora Brasiliensis”: <www.florabrasiliensis.cria.org.br>. Por muitos séculos, todas as pessoas que estudavam a natureza eram chamadas naturalistas. A profissão de botânico teve seu início somente em 3 de setembro de 1979, quando a faculdade de Biologia foi reconhecida. UNI Agora que já estudamos o conceito de Botânica e vimos alguns aspectos da sua história, vamos saber um pouco mais sobre o seu objeto de estudo: as plantas. FONTE: <http://mundonanet.sites.uol.com.br/biologia9.html>. Acesso em: 30 jul. 2011. TÓPICO 1 | NOÇÕES GERAIS DE BIOLOGIA 9 Levando em consideração suas características gerais, sabemos que as plantas são organismos eucariontes, pluricelulares e autótrofos e que apresentam uma particularidade marcante e primordial para o desenvolvimento da vida na terra, realizam a fotossíntese. No entanto, a fotossíntese também é realizada por representantes de outros reinos, como o Monera e Protoctista. Existem representantes desse reino em praticamente todos os ambientes de nosso planeta, tanto terrestres quanto aquáticos. NOTA As plantas são seres fotossintéticos e utilizam o Sol, a forma básica de energia, para produzir o próprio alimento. Por essa razão, são chamadas de autotróficas. As plantas são responsáveis por manter a maioria dos ecossistemas e, por isso, são essenciais para a vida na Terra. A classificação das plantas baseia-se em diversos parâmetros importantes como a anatomia, embriologia, ecologia, genética molecular e bioquímica, é continuamente atualizada de acordo com as contribuições de pesquisas científicas. Segundo Aguiar et al. (2010b, p. 6): Ao longo do tempo, diversos sistemas de classificação foram propostos. Em muitos desses sistemas, as algas multicelulares eram incluídas no mesmo reino que as plantas, embora hoje seja consenso colocá-las no reino Proctista, juntamente com as algas unicelulares e os protozoários. Atualmente as plantas estão divididas em quatro grandes grupos: briófitas, que incluem os musgos e as hepáticas; pteridófitas, que incluem as samambaias; gimnospermas, que incluem os pinheiros e angiospermas, que incluem as plantas com frutos. Dentro de cada grupo, existem subgrupos com muitas divisões. UNI Veremos a seguir, de uma forma bastante resumida, as principais características dos grupos de plantas citados anteriormente. Os fatos expostos neste item têm como base as informações postadas no seguinte site: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/reino-plantae/reino-plantae-10.php>. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DO MEIO AMBIENTE E DO ECOTURISMO 10 ● BRIÓFITAS Briófitas (grego: bryon “musgo”, phyton “planta”) são plantas avasculares, ou seja, não possuem vasos condutores de seiva. O transporte de substâncias se dá por difusão entre as células, e é um processo lento, o que limita seu tamanho (as briófitas são plantas de pequeno porte). As briófitas mais conhecidas são os musgos, as hepáticas e os antóceros. As briófitas são classificadas em três Filos: → Bryophytas – Os musgos, com gametófito organizado em rizoides, cauloide e filoides. FIGURA 3 – PARTES DAS BRIÓFITAS FIGURA 4 – MUSGO FONTE: <http://trabalhos.hd1.com.br/briofitas.html>. Acesso em: 29 jun. 2011. FONTE: <http://trabalhos.hd1.com.br/briofitas.html>. Acesso em: 29 jun. 2011. filóide caulóide Esporófito: ● diplóide ● fase passageira ● aclorofilado ● dependente Gametófito ● haplóide ● fase duradoura ● clorofilado ● sustentável rizóide FONTE: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/capas/biologia/biologia.php>. Acesso em: 28 jun. 2011. TÓPICO 1 | NOÇÕES GERAIS DE BIOLOGIA 11 → Hepatophyta – As hepáticas, com gametófito prostrado, onde não ocorre a diferenciação entre filoides e cauloides. FIGURA 5 – HEPÁTICA FONTE: <http://trabalhos.hd1.com.br/briofitas.html>. Acesso em: 29 jun. 2011. FIGURA 6 – HEPÁTICA FONTE: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/reino-plantae/briofitas-4.php>. Acesso em: 29 jun. 2011. → Anthocerophyta – Os antóceros (raros). O filo dos antóceros contém cerca de 100 espécies descritas, sendo o gênero Anthoceros o mais conhecido. FIGURA 7 – TIPO DE ANTÓCERO FONTE: <http://www.infoescola.com/biologia/antoceros-filo-anthocerophyta/>. Acesso em: 29 jun. 2011. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DO MEIO AMBIENTE E DO ECOTURISMO 12 Importância das Briófitas As briófitas são organismos pioneiros em uma sucessão ecológica, podem se desenvolver em rochas, e os produtos resultantes de sua atividadebiológica modificam este substrato de forma a permitir que outras espécies também possam se desenvolver nele. Dependendo do ambiente, a quantidade de carbono que estas plantas absorvem pode influenciar grandemente o ciclo biogeoquímico deste elemento. São também plantas bastante sensíveis à poluição atmosférica, sendo assim podem ser indicadoras de áreas muito poluídas, quando nestes locais a quantidade de briófitas é bastante reduzida. • PTERIDÓFITAS As pteridófitas, assim como as briófitas, são plantas criptógamas (não possuem sementes, nem flores, nem frutos). Foram as primeiras plantas VASCULARES, ou seja, a apresentarem vasos condutores de seiva (xilema e floema), sendo que isto proporciona a elas reporem as perdas de água de forma mais eficaz, e atingirem maiores comprimentos, inclusive podendo apresentar porte arbóreo. Apresentam raízes, caules e folhas verdadeiros. As pteridófitas mais comuns são as samambaias, avencas, cavalinhas e selaginelas. O esporófito é autótrofo e possui esporângios, as estruturas produtoras de esporos. As pteridófitas são classificadas em quatro Filos: → Pterophyta: samambaias e avencas. FIGURA 8 – SAMAMBAIA AMERICANA (Nephrolepis exaltata) FONTE: <http://www.spflores.com.br/show.asp>. Acesso em: 29 jun. 2011. FONTE: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/reino-plantae/reino-plantae-10.php>. Acesso em: 31 jul. 2011. FONTE: Adaptado de: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/reino-plantae/reino- plantae-10.php>. Acesso em: 31 jul. 2011. TÓPICO 1 | NOÇÕES GERAIS DE BIOLOGIA 13 FIGURA 9 – AVENCA (Adiantum capillus) FONTE: <http://www.alienado.net/plantas-que-limpam-ambientes/>. Acesso em: 29 jun. 2011. → Psilotophyta: Psilotum. FONTE: <http://www.biologados.com.br/botanica/taxonomia_vegetal/divisao_psilotophyta_ pteridofita.htm>. Acesso em: 29 jun. 2011. FIGURA 10 – PLANTA DA ESPÉCIE (Psilotum nudum) → Lycophyta: licopódios e selaginelas. FIGURA 11 – LICOPÓDIO FONTE: <http://verdeemfolha.blogspot.com/2010_12_01_archive.html>. Acesso em: 29 jun. 2011. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DO MEIO AMBIENTE E DO ECOTURISMO 14 FIGURA 12 – SELAGINELAS FONTE: <http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/por-dentro-das-celulas/uma-historia-vitoriosa>. Acesso em: 29 jun. 2011. → Sphenophyta: cavalinhas. FIGURA 13 – CAVALINHA (Equisetum arvense) FONTE: <http://liberherbarium.blogspot.com/2011/05/workshop-sobre-ervas-magicas-1906-em. html>. Acesso em: 29 jun. 2011. Importância das Pteridófitas São amplamente utilizadas como plantas ornamentais, sendo que inclusive, o caule da samambaiaçu serve para se fazer xaxim. Os atuais depósitos de carvão mineral (hulha), um importante combustível, foram formados a partir da fossilização de pteridófitas de porte arbóreo, de aproximadamente 375-290 milhões de anos atrás. Algumas podem ser utilizadas na fabricação de alimentos e medicamentos. FONTE: Disponível em: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/reino-plantae/reino- plantae-10.php>. Acesso em: 31 jul. 2011. TÓPICO 1 | NOÇÕES GERAIS DE BIOLOGIA 15 • GIMNOSPERMAS As gimnospermas são plantas de porte arbóreo, climas temperados, e vasculares (ou traqueófitas), pois apresentam vasos condutores de seiva. Ao contrário das briófitas e pteridófitas (criptógamas), formam estróbilos ou pinhas, as estruturas reprodutoras que abrigam os esporângios (as “flores” das gimnospermas), sendo então classificadas como fanerógamas. Estas plantas possuem sementes, todavia, não formam frutos. Na verdade, gimnosperma significa semente nua (mas têm casca!). Dentre as gimnospermas mais conhecidas estão os pinheiros, o pinheiro-do-paraná e as sequoias, que estão dentre as maiores árvores conhecidas atualmente. As gimnospermas são classificadas mais comumente em quatro Filos: → Coniferophyta: pinheiros, sequoia, araucária. FIGURA 14 – PINHEIRO-DO-PARANÁ (Araucária Angustifolia) FONTE: <http://terceiroanobiologia.blogspot.com/2010/07/gimnospermas-as-gimnospermas-do- grego.html>. Acesso em: 29 jun. 2011. FONTE: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/reino-plantae/reino-plantae-10.php>. Acesso em: 31 jul. 2011. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DO MEIO AMBIENTE E DO ECOTURISMO 16 → Cycadophyta: cicas (ornamentais). FIGURA 15 – CICA FONTE: < https://pixabay.com/pt/photos/cicas-flor-sagu-palma-1541391/ >. Acesso em: 03 jun. 2019. → Gnetophyta: efedra – efedrina: estimulante do SNC e descongestionante nasal. FIGURA 16 – EFEDRA FONTE: <http://www.imagejuicy.com/images/plants/e/ephedra/10/>. Acesso em: 29 jun. 2011. TÓPICO 1 | NOÇÕES GERAIS DE BIOLOGIA 17 → Ginkgophyta: somente uma espécie, a Ginkgo biloba. FONTE: <http://vidasimplesenatural.blogspot.com/2011/05/botanica.html>. Acesso em: 29 jun. 2011. Importância das gimnospermas Este grupo é importante para a indústria madeireira e da celulose, inclusive, a araucária é uma espécie em risco de extinção devido à exploração excessiva. Para a indústria alimentícia, pois se beneficia da semente da araucária. A semente, conhecida como pinhão, é utilizada na alimentação humana e animal. Da Gnetophyta efedra e da Ginkgo biloba extraem-se substâncias utilizadas na indústria farmacêutica, que servem como estimulante do Sistema Nervoso Central e como descongestionante nasal no tratamento de pessoas asmáticas e no sentido de favorecer a irrigação cerebral e estimular a memória, respectivamente. NOTA Árvore viva mais velha! Um pinheiro bristlecone (Pinus longaeva), batizado de “Matusalém”, foi descoberto pelo Dr. Edmund Schulman (EUA), nas montanhas brancas, Califórnia, EUA, e datado em 1957 com a idade de 4,6 mil anos, embora cientistas aleguem haver exemplares mais antigos. Sua localização é mantida em sigilo, a fim de protegê-lo de vandalismo. Os anéis de crescimento de árvores como esta são ótimas fontes de dados sobre as mudanças climáticas. (GUINNESS WORLD RECORDS, 2010). FIGURA 17 – GINKGO (Ginkgo biloba) UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DO MEIO AMBIENTE E DO ECOTURISMO 18 ● ANGIOSPERMAS As angiospermas são as verdadeiras plantas superiores. É o grupo vegetal atual mais representativo e com a maior diversidade morfológica, variando de ervas a árvores, além de ser também o grupo com a maior distribuição geográfica e de ambientes (existem algumas espécies marinhas). São fanerógamas que além de produzirem flores, também produzem os frutos, que conferem proteção às sementes além de auxiliarem na sua dispersão (angios - urna, caixa). Antes de se entrar em detalhes sobre o ciclo de vida destas plantas, deve-se inicialmente analisar a estrutura das flores e frutos. As angiospermas são classificadas em apenas um Filo: → Magnoliophyta – todas das plantas com frutos. FIGURA 18 – ÁRVORE COM FRUTOS FONTE: <http://www.nistocremos.net/2011/03/arvore-e-frutos.html>. Acesso em: 31 jul. 2011. Importância das Angiospermas Como já visto anteriormente, elas são o grupo vegetal mais diverso e representativo. Sendo assim, são muito importantes para o homem em diversos aspectos, como a agricultura (são os principais componentes da dieta dos seres humanos), medicina (plantas medicinais), economia (indústria madeireira e de celulose) e ornamentação. Têm também papel fundamental na reciclagem do O2 e CO2 atmosféricos e regulação climática (as grandes florestas seriam grandes aparelhos de ar-condicionado). FONTE: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/reino-plantae/reino-plantae-10.php>. Acesso em: 31 jul. 2011. FONTE: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/reino-plantae/reino-plantae-10.php>. Acesso em: 31 jul. 2011. TÓPICO 1 | NOÇÕES GERAIS DE BIOLOGIA 19 UNI Caro acadêmico! Agora que você aprendeu mais sobre as plantas e suas divisões, você já parou para pensar sobre a importância dos vegetais nas nossas vidas? Vamos entender um pouco mais sobre a importância das plantas? São as plantas que fornecem o oxigênio necessário para a nossa respiração e absorvem o dióxido de carbono (importante gás do efeito estufa) através da fotossíntese, permitem a produçãode fibras para a confecção de tecidos, fornecem matéria-prima para a produção de papel (livros, revistas, jornais etc), especiarias para temperos, alimentos para o homem e para os animais, substâncias para o desenvolvimento de perfumes e medicamentos, madeira para a construção de casas e móveis, matéria-prima para combustíveis e uma série de outras utilidades que contribuem para o desenvolvimento humano de uma forma geral. A Paleobotânica é uma área da Biologia que tem como principal objetivo o estudo dos fósseis das plantas. Ao investigar os fósseis de plantas primitivas e extintas, os paleobotânicos tentam utilizar características morfológicas para estabelecer relações de parentesco entre os diversos grupos de plantas, em diferentes momentos geológicos. Além disso, esse estudo também possibilita imaginar como seriam os ambientes onde essas plantas provavelmente se desenvolveram milhões de anos atrás. No Brasil existem diversos sítios paleobotânicos importantes nas regiões Nordeste e Sul. FONTE: Aguiar et al. (2010b, p. 6). ATENCAO 3 ZOOLOGIA A zoologia do grego, zoon “animal” é a área da Biologia que estuda os animais (AGUIAR et al. 2010a). E com base nesta definição, tão ampla, algumas perguntas podem surgir: - Por que estudar os animais? Assim como os animais, o homem também é resultado de um processo evolutivo. Desta forma, adquirir conhecimentos diversos, através da zoologia, é também compreender a natureza e a posição que ocupamos nela. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DO MEIO AMBIENTE E DO ECOTURISMO 20 - Para que estudar os animais? Primeiramente para conhecer suas estruturas, características e funcionamento, buscando sempre compreender suas relações evolutivas. É bom lembrar que grande parte dos conhecimentos adquiridos sobre os seres humanos conseguiu-se estudando outros animais. - Como estudar os animais? Advindas do conhecimento popular, da observação direta, de experimentos controlados e de pesquisas científicas, é que as informações sobre os animais foram sendo organizadas. Em Biologia as disciplinas costumam ser agrupadas em dois campos distintos. Um conhecido como o campo da Biologia Geral e outro como o campo da Biologia Comparada. Na primeira opção, os estudos têm como base os métodos experimentais, para estudar os mecanismos e os processos que governam os seres vivos. Já na Biologia Comparada estuda-se a biodiversidade usando a metodologia de comparação para descobrir os fatores ocasionados pela presença de seres vivos ou suas relações. Portanto, podemos dizer que o conhecimento técnico-científico sobre animais é adquirido pelos métodos comparativo e experimental. Cientistas são aqueles que formulam hipóteses a partir de fatos concretos, testam suas teorias, repetem seus experimentos e não temem em buscar a opinião de outros especialistas. É através da divulgação das descobertas científicas que se torna possível expandir um campo de investigação, seja relacionado aos animais, ou a outro tema. Os animais sempre despertaram interesse e fascínio entre os homens. Este fato atravessa a história, relembrando um passado remoto onde pinturas destes, muitos hoje extintos, eram feitas no interior de cavernas. Apesar de todo esse interesse, foi através do trabalho do filósofo grego Aristóteles, “História dos animais”, que a zoologia passou a ser de fato ciência. Ele reuniu todos os fatos zoológicos conhecidos até então, e lançou um sistema de classificação para todos os animais. Dentre importantes obras que surgiram após a publicação de Aristóteles, podemos destacar a do naturalista sueco, Carl Von Linné (1707-1778), mais conhecido como Lineu, que criou o sistema nominal adotando dois nomes em latim (gênero e espécie) que é usado até os dias de hoje. Nascia assim a taxonomia (do grego, táxis, classificação, e nomos, regra). No sistema criado por Lineu, o nome da espécie é composto por duas palavras. A primeira significando o gênero e a segunda, o epíteto (palavra que qualifica o substantivo) específico. As espécies deverão ter seus nomes escritos, usando o efeito tipográfico itálico, ou sublinhado, sendo que somente a primeira letra do gênero deverá ser maiúscula. FONTE: Adaptado de: <http://www.achetudoeregiao.com.br/animais/o_que_e_zoologia. htm>. Acesso em: 8 ago. 2011. TÓPICO 1 | NOÇÕES GERAIS DE BIOLOGIA 21 Exemplos: Homo sapiens (Homo = humano, sapiens = sábio); Canis familiaris (Canis = cão, familiaris = da família). Em 1758, Lineu organizou os animais em: Reino – Filo – Classe – Ordem – Família – Gênero e Espécie. E foi a partir de sua importante contribuição, que se estabeleceu o Código Internacional de Nomenclatura Zoológica, periodicamente aprimorado por zoólogos de diversos países. O objetivo deste código é promover a estabilidade e a universalidade dos nomes científicos dos animais, para que qualquer zoólogo, independente de sua língua consiga divulgar suas pesquisas e compreender outras publicações. FIGURA 19 – CARL VON LINNÉ (LINEU) FONTE: <http://maurenj.blogspot.com/2011/03/taxonomia-de-lineu.html>. Acesso em: 29 jun. 2011. NOTA Johann Friedrich Theodor Müller, mais conhecido como Fritz Müller, foi um cientista alemão que viveu em Santa Catarina, principalmente na cidade de Blumenau, no período de 1852 até o ano de sua morte em 1897. Foi responsável pelo desenvolvimento de importantes trabalhos na área de Zoologia e Botânica, perpetuando-se entre os melhores cientistas com trabalhos desenvolvidos no Brasil. Seguindo com nosso estudo do Reino Animal, podemos perceber que conforme a especialização aumenta, mais restritas se tornam as vertentes de estudo. Vamos conhecer agora alguns ramos de estudo específicos dentro da Zoologia: UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DO MEIO AMBIENTE E DO ECOTURISMO 22 • entomologia: estudo dos insetos; • ornitologia: estudo das aves; • mastozoologia: estudo dos mamíferos; • ictiologia: estuda os peixes; • herpetologia: estuda as serpentes; • malacologia: estuda os moluscos; • helmintologia: estuda os vermes; • ficologia: estuda as algas; • cinologia: estuda os cães e assim por diante. UNI Agora que você já viu como o conceito e algumas particularidades da Zoologia, você precisa ter algumas noções sobre a distribuição dos animais nas diversas regiões e ambientes do planeta Terra. É o que faremos na sequência. A Terra inicialmente foi conquistada pelos vegetais, depois pelos seres invertebrados e finalmente pelos seres vertebrados. Desde os animais mais primitivos até os milhões de espécies conhecidos atualmente, muitas mudanças evolutivas ocorreram. Dentro da diversidade animal, vários aspectos importantes devem ser analisados. Existem algumas diferenças aplicadas por grupos e outras individualmente. Estas diferenças fazem parte de um universo amplo, sendo assim, a seguir apresentaremos apenas algumas delas: • Dimorfismo sexual – em que a diferença entre machos e fêmeas pode ser claramente identificável. Ou não tão claras, pelo menos externamente, onde fica impossível fazer a distinção do sexo a olho nu, precisando recorrer a exames laboratoriais específicos. • Dimorfismo juvenil – em que o formato jovem de um animal pode ser completamente diferente do formato adulto da mesma espécie. • Tamanho – característica em que a ordem de grandeza pode ser notada entre baleias e animais microscópicos. • Morfologia – as diferenças relacionadas com a organização, ou seja, com o estudo da estrutura dos animais, são encontradas não apenas na forma externa, mas também na forma interna. TÓPICO 1 | NOÇÕES GERAIS DE BIOLOGIA 23 • Fisiologia – em consequência do estudo das diferenças na estrutura/ forma dos animais, uma exigência de atividades diferentes, por exemplo, nos modos de locomoção e ingestão de alimentos surgiram. Entra então o estudo do funcionamento dos organismos. • Simetria – é a divisão imaginária do corpo de um ser em metades opostas, que devem ser simétricas entre si; basicamente os elementos de simetria são eixos e planos. Eixoé uma reta que atravessa o centro do corpo, de tal modo que ao longo desta reta as partes do corpo se repetem. Plano é a superfície que divide o corpo em partes de tal modo que uma é a imagem especular da outra. • Habitat – a diversidade animal também é expressa na variedade de habitats que eles ocupam; geralmente acredita-se que os animais tenham se originado nos oceanos arqueozoicos, bem antes do primeiro registro fóssil. Cada ambiente diferente - floresta, deserto, oceano, lago, rio, contém sua diversidade animal característica. A distribuição dos animais é limitada pela existência de ambientes adequados à sua sobrevivência e estando este ambiente sujeito às alterações naturais ou artificiais, eles buscam novos locais para habitarem. A disponibilidade de alimento é fator muito importante na distribuição dos animais, assim como temperatura, água, competidores naturais, predadores, entre outros. Os próprios seres vivos servem de meio para outros organismos, constituindo assim um tipo especial de ambiente, conhecido como meio biológico. Muitos organismos vivem no interior ou na superfície de outros em associações íntimas, conjuntamente chamadas de simbiose. Além da diversidade e distribuição, é importante, estudarmos um pouco mais detalhadamente as características e a classificação dos animais. Os animais são organismos pluricelulares, eucarióticos, formados por tecidos bastante diferenciados e órgãos com funções específicas. Seus sistemas e órgãos desempenham diferentes funções permitindo a sobrevivência. Sem dúvida uma das características mais importantes dos animais é o fato de serem heterótrofos, ou seja, incapazes de sintetizar seu próprio alimento. (AGUIAR et al., 2010a). Segundo a sua classificação, os animais estão divididos em: FONTE: Adaptado de: <http://www.achetudoeregiao.com.br/animais/o_que_e_zoologia. htm>. Acesso em: 8 ago. 2011. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DO MEIO AMBIENTE E DO ECOTURISMO 24 QUADRO 2 – CLASSIFICAÇÃO DOS ANIMAIS PORÍFEROS: São os animais mais simples; sua inclusão entre os animais levou tempo para ocorrer, principalmente por sua mobilidade. As esponjas são aquáticas, sendo a maioria marinha. São muito diferentes dos demais animais, classificando-se em um sub-reino: Parazoa. Os outros animais pertencem ao sub-reino Eumetazoa. CNIDÁRIOS: Antigamente denominados celenterados, nesse grupo encontram-se animais aquáticos, em sua maioria marinhos e com sistema radial. Alguns, como as medusas, deslocam- se livremente; as anêmonas vivem fixadas a um substrato. PLATELMINTOS: Reúne animais de corpo achatado, que vivem em ambientes úmidos, em águas doces ou salgadas ou no interior de outros seres, parasitando-os. São exemplos a planária e a tênia. NEMATOIDES: Fazem parte desse grupo animais de corpo cilíndrico, com as pontas afiladas. São encontrados em diversos ambientes e alguns são parasitas. Exemplo: a lombriga e o bicho geográfico. MOLUSCOS: É um grupo de animais com aparência bastante diversificada, mas algumas características comuns. Incluem os bivalves (ostras e mariscos), os gastrópodes (lesmas, caracóis, e caramujos) e os cefalópodes (polvos, sépias e lulas). ANELÍDEOS: Reúne animais de corpo cilíndrico dividido em anéis. Vivem em água doce ou em solo úmido. Como representantes desse grupo temos a minhoca, a sanguessuga e os poliquetos. ARTRÓPODES: É o grupo de animais com maior número de espécies. Sua principal característica é que seu corpo encontra-se coberto por um exoesqueleto resistente, mas leve, capaz de protegê-lo e facilitar o movimento. EQUINODERMOS: É o grupo do ouriço-do-mar e da estrela-do-mar. Os animais adultos geralmente têm simetria radial, como os cnidários. Sua estrutura, no entanto, é complexa e eles estão relacionados evolutivamente aos vertebrados. CORDADOS: Alguns cordados, denominados vertebrados, têm um esqueleto interno com coluna vertebral e crânio. Nesse grupo estão os peixes, os anfíbios, os répteis e os mamíferos. FONTE: Enciclopédia do Estudante (2008). DICAS Caro acadêmico! Para aprofundar o conteúdo, sugerimos uma visita ao site: Só Biologia: <http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Biologia/>. TÓPICO 1 | NOÇÕES GERAIS DE BIOLOGIA 25 DICAS Acesse o site do Ministério do Meio Ambiente: <www.mma.gov.br> e pesquise o conteúdo apresentado nos dois volumes do “LIVRO VERMELHO DAS ESPÉCIES DA FAUNA BRASILEIRA AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO”. Lembre-se de que é importante conhecer para preservar! 26 Neste tópico vimos que: • Biologia é a ciência que estuda os seres vivos e suas manifestações vitais. • A Botânica é a parte da Biologia que estuda os vegetais em todos os aspectos possíveis e, por tradição, as algas e fungos. • O Reino Plantae é composto por aproximadamente 280.000 espécies. • Em 1665, usando um microscópio primitivo, Robert Hooke descobriu células em cortiça; pouco tempo depois em tecidos vegetais vivos. ● As plantas são organismos eucariontes, pluricelulares e autótrofos e que apresentam uma particularidade marcante e primordial para o desenvolvimento da vida na terra, realizam a fotossíntese. • Atualmente as plantas estão divididas em quatro grandes grupos: briófitas, pteridófitas, gimnospermas e angiospermas. Dentro de cada grupo, existem subgrupos com muitas divisões. • Briófitas são plantas avasculares, ou seja, não possuem vasos condutores de seiva. • Pteridófitas são plantas criptógamas, foram as primeiras plantas a apresentar vasos condutores de seiva e atingir maiores comprimentos. Apresentam raízes, caules e folhas verdadeiros. • As gimnospermas são plantas de porte arbóreo, apresentam vasos condutores de seiva, possuem sementes, todavia, não formam frutos. • As angiospermas são as verdadeiras plantas superiores. É o grupo vegetal atual mais representativo e com a maior diversidade morfológica. Produzem sementes, flores e frutos. • As plantas fornecem o oxigênio necessário para a nossa respiração, absorvem dióxido de carbono através da fotossíntese, permitem a produção de matéria-prima para a produção de diversos materiais que contribuem para o desenvolvimento humano de uma forma geral. • Zoologia é o ramo da Biologia que estuda todos os aspectos da biologia animal, inclusive as relações existentes entre estes seres e o ambiente em que vivem. RESUMO DO TÓPICO 1 27 • Grande parte dos conhecimentos adquiridos sobre os seres humanos conseguiu- se estudando outros animais. • O naturalista sueco, Carl Von Linné, mais conhecido como Lineu, criou o sistema binominal de classificação que é usado até os dias de hoje. Nascia assim a taxonomia (do grego, táxis, classificação, e nomos, regra). • A partir do trabalho de Lineu se estabeleceu o Código Internacional de Nomenclatura Zoológica. O objetivo deste código é promover a estabilidade e a universalidade dos nomes científicos dos animais. • Fritz Müller foi um cientista alemão que viveu em Santa Catarina, principalmente na cidade de Blumenau, no período de 1852 até o ano de sua morte em 1897. Foi responsável pelo desenvolvimento de importantes trabalhos na área de Zoologia e Botânica. • Os animais são pluricelulares, eucarióticos, formados por tecidos diferenciados e órgãos com funções específicas. Uma das características mais importantes dos animais é o fato de serem heterótrofos, ou seja, incapazes de sintetizar seu próprio alimento. 28 1 Qual é o objeto de estudo da Evolução? a) Estuda a classificação dos seres vivos e as relações evolutivas que existem entre eles. b) Estuda o surgimento de novas espécies a partir de espécies preexistentes. Também investiga as modificações que os seres vivos apresentam durante intervalos de tempo relativamente longos. c) Estuda a classificação dos seres vivos através das relações evolutivas que existem entre eles. d) Estuda o surgimento de novas espécies a partir de espécies já existentes, além de investigar as semelhanças que os seres vivos apresentam durante intervalos de tempo relativamente longos. 2 Levando emconsideração suas características gerais, sabemos que as plantas são organismos: a) Eucariontes, pluricelulares e autótrofos e que apresentam uma particularidade marcante e primordial para o desenvolvimento da vida na terra, realizam a fotossíntese. b) Monera e Protoctista. c) Eucariontes, pluricelulares e autótrofos. d) Monera e Protoctista e que apresentam uma particularidade marcante e primordial para o desenvolvimento da vida na terra, realizam a fotossíntese. 3 Sobre os aspectos da diversidade animal, pode-se afirmar: I- Dimorfismo sexual – em que o formato jovem de um animal pode ser completamente diferente do formato adulto da mesma espécie. II- Dimorfismo juvenil – em que a diferença entre machos e fêmeas pode ser claramente identificável. Ou não tão claras, pelo menos externamente, onde fica impossível fazer a distinção do sexo a olho nu, precisando recorrer a exames laboratoriais específicos. III- Tamanho – característica em que a ordem de grandeza pode ser notada entre baleias e animais microscópicos. IV- Morfologia – as diferenças relacionadas com a organização, ou seja, com o estudo da estrutura dos animais, são encontradas não apenas na forma externa, mas também na forma interna. V- Fisiologia – é a divisão imaginária do corpo de um ser em metades opostas, que devem ser simétricas entre si; basicamente os elementos de simetria são eixos e planos. Eixo é uma reta que atravessa o centro do corpo, de tal modo que ao longo desta reta as partes do corpo se repetem. AUTOATIVIDADE 29 Agora, assinale a alternativa CORRETA: a) As sentenças I e II estão corretas. b) As sentenças II e III estão corretas. c) As sentenças I, II e V estão corretas. d) As sentenças III e IV estão corretas. 4 Alguns cordados, denominados vertebrados, têm um esqueleto interno com coluna vertebral e crânio. Assinale a alternativa que não corresponde a um cordado: a) Peixes. b) Anfíbios. c) Répteis. d) Ostras. 5 Assinale a alternativa incorreta: a) Biologia é a ciência que estuda os seres vivos e suas manifestações vitais. b) A Botânica é a parte da Biologia que estuda os vegetais em todos os aspectos possíveis e, por tradição, as algas e fungos. c) Zoologia é o ramo da Biologia que estuda alguns dos aspectos da biologia animal, inclusive as relações existentes entre estes seres e o ambiente em que vivem. d) Os animais são pluricelulares, eucarióticos, formados por tecidos diferenciados e órgãos com funções específicas. 30 31 TÓPICO 2 CARACTERIZAÇÃO DE MEIO AMBIENTE UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO No tópico anterior aprendemos sobre a importância da fauna e da flora para o meio ambiente. Você já se deu conta de que o mundo como o conhecemos hoje não existiria se não fosse a interação dos seres vivos? Essa interação é responsável pelo mundo que conhecemos. E nossa existência é totalmente dependente dessa verdade. Desde o ar que respiramos, produzido através da fotossíntese, até nossas roupas, alimentos, combustíveis e tudo o mais que imaginar. NOTA Fotossíntese é um processo fisioquímico realizado por vegetais que possuem clorofila através da sintetização de dióxido de carbono e água. Como resultado deste processo, a planta obtém glicose, amido e celulose, eliminando oxigênio. Para isso usa a energia luminosa vinda do sol. Para saber mais, acesse: <http://pt.wikipedia.org/wiki/ Fotoss%C3%ADntese>. Além do suporte para nossa existência, existe um fator muito importante que desenvolvemos ao longo da evolução: a Biofilia. A biofilia pode ser definida como o amor ou atração por vida, uma tendência natural do ser humano de voltar sua atenção às coisas vivas (WILSON, 2003). É o que explica nosso prazer em ter animais de estimação por perto, flores e visitar ambientes naturais. É neste ponto que o meio ambiente passa a ser foco de interesse do turismo, especialmente do ecoturismo, como veremos no Tópico 3. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DO MEIO AMBIENTE E DO ECOTURISMO 32 FIGURA 20 – A BIOFILIA EXPLICA O AMOR QUE OS SERES HUMANOS SENTEM POR SEUS ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO FONTE: <http://www.imagensdahora.com.br/clipart/cliparts_path/124/cachorro_desenho_ com_dono/>. Acesso em: 19 jul. 2011. 2 MEIO AMBIENTE E ECOLOGIA Em nossas vidas é comum ouvirmos falar em Meio Ambiente e Ecologia, quase que diariamente. É muito importante que saibamos o real significado destas expressões. ● Meio Ambiente Para compreender o que é meio ambiente, tome você mesmo como referência. Agora procure lembrar-se de tudo com o que você se relaciona, seja vivo ou não. Muito bem, este é o seu meio ambiente. Na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente celebrada em Estocolmo, em 1972, definiu-se o meio ambiente da seguinte forma: “O meio ambiente é o conjunto de componentes físicos, químicos, biológicos e sociais capazes de causar efeitos diretos ou indiretos, em um prazo curto ou longo, sobre os seres vivos e as atividades humanas.” Então, o meio ambiente de um ser vivo é representado por tudo aquilo que o rodeia e o influencia, sendo constituído por fatores bióticos e abióticos. São fatores bióticos do seu meio ambiente aqueles seres vivos com quem você compartilha este espaço, ou seja, com quem você interage, direta ou indiretamente. FONTE: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Meio_ambiente>. Acesso em: 8 ago. 2011. FONTE: <http://diariodoverde.com/definicao-de-meio-ambiente-e-ecologia/>. Acesso em: 8 ago. 2011. TÓPICO 2 | CARACTERIZAÇÃO DE MEIO AMBIENTE 33 O Meio Ambiente Biótico inclui alimentos, plantas e animais, e suas relações recíprocas e com o meio abiótico. A sobrevivência e o bem-estar do homem dependem em grande parte dos alimentos que come, tais como frutas, verduras e carne. Depende igualmente de suas associações com outros seres vivos. Por exemplo, algumas bactérias do sistema digestivo do homem ajudam-no a digerir certos alimentos. Os fatores abióticos por sua vez, são aqueles do ambiente físico que influenciam o ser vivo, como por exemplo, a temperatura, a água, a luz, o relevo, a pressão, o teor de oxigênio, entre outros. O Meio Ambiente Abiótico é constituído por diversos objetos e forças que se influenciam entre si e influenciam a comunidade de seres vivos que os cercam. O Portal Educação cita como exemplo: A corrente de um rio pode influir na forma das pedras que fazem ao longo do fundo do rio. Mas a temperatura, limpidez da água e sua composição química também podem influenciar toda sorte de plantas e animais e sua maneira de viver. Um importante grupo de fatores ambientais abióticos constitui o que se chama de tempo. Tanto o meio ambiente abiótico quanto o biótico atuam um sobre o outro para formar o meio ambiente total dos seres vivos e dos ecossistemas. ● Meio ambiente natural O Meio Ambiente Natural é aquele que já existia antes do surgimento do ser humano. Os recursos naturais, de uma forma geral, bióticos ou abióticos são componentes estruturais do meio ambiente natural. A inter-relação entre os elementos que compõem esta classe também é um fator de suma importância para sua compreensão. Certamente que com o surgimento do ser humano, este, como ser animal que é, acabou se tornando elemento do meio ambiente natural. ● Meio ambiente artificial O Meio Ambiente Artificial é um contraponto ao Meio Ambiente Natural. O próprio termo “artificial” já demonstra ser um bem que não se harmoniza com a ideia implícita ao “natural”. Objetivamente, costuma-se vincular o meio FONTE: <http://www.achetudoeregiao.com.br/animais/meio_ambiente.htm>. Acesso em: 26 jul. 2011. FONTE: <http://www.portaleducacao.com.br/direito/artigos/8735/meio-ambiente>. Acesso em: 26 jul. 2011. FONTE: <http://www.achetudoeregiao.com.br/animais/meio_ambiente.htm>. Acesso em: 26 jul. 2011. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DO MEIO AMBIENTE E DO ECOTURISMO 34 ambiente artificial aos bens ambientais que foram alterados pelos seres humanos. Assim, a artificialidade seria uma característica do meio ambiente natural que foi modificado pelo homem e quepor isso não seria mais natural. FIGURA 21 – A METRÓPOLE DE SÃO PAULO É UM EXEMPLO DE AMBIENTE ARTIFICIAL FONTE: <http://www.imagensgratis.com.br/imagens/original/fotos-da-sao-paulo.jpg&imgrefurl>. Acesso em: 19 jul. 2011. ● Meio ambiente cultural O Meio Ambiente Cultural é uma associação entre o Meio Ambiente Artificial com valores culturais, artísticos, históricos, ou paisagísticos. Outra compreensão do Meio Ambiente Cultural é otimizada, de modo a que abrange duas dimensões: a dimensão concreta, formada pelos bens artificiais de valores culturais, artísticos, históricos, entre outros, e a dimensão abstrata, que trata da cultura propriamente dita. Os recursos naturais são elementos da natureza, que possuem utilidade para o homem. Eles podem ser renováveis, como a fauna, a flora, as águas, a energia solar e do vento; ou ainda não renováveis, como o petróleo, o gás e os minérios em geral. Atualmente nossa sociedade vive de tal modo que precisa de quantidades cada vez maiores de recursos naturais para produzir energia, seus bens de consumo e obter alimentos. Deste modo, exploramos nossos recursos renováveis e não renováveis, muitas vezes em um lugar do planeta onde ele não é completamente consumido, ou seja, necessita de transporte para seus consumidores. Esta atividade provoca efeitos negativos como, por exemplo, o gasto de energia para transporte do bem e a impossibilidade de reciclagem dos resíduos no seu local de origem. Outro ponto importante a ser considerado é que após o consumo humano, todo o resíduo passa a compor o lixo das cidades. Como temos vivido um período de superexploração, nossos ecossistemas têm sido severamente afetados, causando degradação e perda de espécies. FONTE: <http://www.univen.edu.br/revista/universo_petroleo_01.pdf>. Acesso em: 26 jul. 2011. TÓPICO 2 | CARACTERIZAÇÃO DE MEIO AMBIENTE 35 ● Ecologia Intuitivamente, sabemos que os seres vivos não podem viver isoladamente. Eles precisam interagir, seja uma ave, uma árvore, um inseto, um fungo ou mesmo o homem. As inter-relações entre estes organismos e seu ambiente físico são chamadas de Ecologia. Ecologia é uma palavra de origem grega. A tradução de “oikos” é casa, e “logos” é estudo. Seu significado seria algo como o “estudo da casa”. A ecologia é um ramo da Biologia, portanto uma ciência, que estuda os seres vivos e suas interações com o meio ambiente. A Ecologia também é responsável pelo estudo da abundância, distribuição e inter-relações dos seres vivos no planeta, e seus estudos fornecem dados que revelam se a fauna e os ecossistemas estão em perfeita harmonia. A vida em nosso planeta ocorre em uma fina camada de 15 km de espessura chamada biosfera. Ela é dividida em três regiões, a atmosfera, a hidrosfera e a litosfera. A atmosfera é formada por diversos gases importantes para a manutenção da vida na Terra. A hidrosfera é formada por toda a água que circula entre a atmosfera e litosfera, como mares, rios, lagos, aquíferos. A litosfera contém em si a crosta terrestre e a camada abaixo da crosta terrestre – chamada de manto. 3 BIOMAS BRASILEIROS Vamos agora estudar um pouco dos biomas que ocorrem no Brasil. Mas, é comum ouvirmos falar em ecossistemas, então precisamos saber as diferenças entre eles. Vejamos as definições que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística nos dá: “Ecossistema - Sistema integrado e autofuncionante que consiste em interações dos elementos bióticos e abióticos e cujas dimensões podem variar consideravelmente.” “Bioma - Conjunto de vida (vegetal e animal) definida pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos e identificáveis em escala regional, com condições geoclimáticas similares e história compartilhada de mudanças, resultando em uma diversidade biológica própria.” FONTE: <http://panoramageografico.blogspot.com/2009_07_01_archive.html>. Acesso em: 26 jul. 2011. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DO MEIO AMBIENTE E DO ECOTURISMO 36 O Brasil é o país de maior biodiversidade do planeta. Foi ele o primeiro signatário da Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB), e é considerado megabiodiverso – país que reúne ao menos 70% das espécies vegetais e animais do planeta. A biota terrestre do nosso país possui a flora mais rica do mundo, com até 56.000 espécies de plantas superiores, já descritas; acima de 3.000 espécies de peixes de água doce; 517 espécies de anfíbios; 1.832 espécies de aves; e 518 espécies de mamíferos; pode ter até 10 milhões de insetos. Os grandes biomas brasileiros são: Mata Atlântica, Floresta Amazônica, Cerrado, Caatinga, Campos Gerais e Pantanal. FIGURA 22 – OS BIOMAS BRASILEIROS (IBAMA 2011) FONTE: <https://www.todamateria.com.br/biomas-brasileiros/>. Acesso em: 03 jun. 2019. UNI Caro acadêmico! Após esta etapa introdutória sobre os biomas, vamos aprofundar nossos estudos sobre os biomas brasileiros. FONTE: <http://www.ibama.gov.br/ecossistemas/home.htm>. Acesso em: 24 jun. 2011. FONTE: Adaptado de: <http://josecarlosmendes.blogspot.com/>. Acesso em: 24 jun. 2011. TÓPICO 2 | CARACTERIZAÇÃO DE MEIO AMBIENTE 37 ● A Mata Atlântica A Mata Atlântica originalmente foi a floresta com a maior extensão latitudinal do planeta. Ela já cobriu 11% do território nacional, estendendo-se deste o Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul. Hoje, porém, a Mata Atlântica possui no máximo 5% da cobertura original. A variabilidade climática ao longo de sua distribuição é grande, indo desde clima tropical úmido e semiárido no nordeste e temperados superúmidos no extremo sul. (AGUIAR et al. 2010). O relevo acidentado da zona costeira adiciona ainda mais variabilidade a este bioma. Nos vales, geralmente as árvores se desenvolvem muito, formando uma floresta densa. Nas encostas, esta floresta é menos densa, devido à frequente queda de árvores. Nos topos dos morros geralmente aparecem áreas de campos rupestres. No extremo sul a Mata Atlântica gradualmente se mescla com a floresta de Araucárias. (AGUIAR et al., 2010). São espécies de árvores típicas da Mata Atlântica: araçazeiro, araucária, goiabeira, jabuticabeira, palmeiras, pau-brasil, pitangueira, entre outras. Já entre os animais presentes neste bioma, podemos citar: onças, macacos, e aves como araponga, corocochó, jacutinga, e tucano-de-bico-verde. (AGUIAR et al., 2010). A Mata Atlântica também possui áreas que podem ser consideradas subdivisões da mesma. Duas delas são: restingas e mata de araucárias. As restingas ocorrem na orla litorânea, desenvolvendo-se sobre o solo arenoso. Sua vegetação é composta por arbustos e árvores de pequeno porte. Porém, em direção ao interior, a vegetação fica mais densa e as árvores maiores. A Mata de araucárias é considerada uma subdivisão da Mata Atlântica devido à composição de sua vegetação e ocorrência geográfica. Ela é assim denominada devido à predominância do pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia). Sua ocorrência principal se dá nos estados do Paraná e Santa Catarina, mas também ocorrem pequena áreas nos estados do Rio Grande do Sul e São Paulo. Sua ocorrência é mais evidente em altitudes superiores a 500 metros. As florestas variam em densidade arbórea e altura da vegetação. Devido ao seu alto valor econômico a Mata de Araucária vêm sofrendo forte pressão de desmatamento. (AGUIAR et al., 2010). FIGURA 23 – MATA ATLÂNTICA FONTE: <https://pixabay.com/pt/photos/floresta-cachoeira-%C3%A1rvores-verde-969069/ >. Acesso em: 03 jun. 2019. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DO MEIO AMBIENTE E DO ECOTURISMO 38 ● Floresta Amazônica A Floresta Amazônica ocupa a Região Norte do Brasil e aproximadamente 47% fica em território nacional. É a maior formação florestal do planeta, condicionada pelo clima equatorial úmido e ultrapassa o território nacional brasileiro. Ela compreende além do Brasil, a Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa. (AGUIAR et al., 2010). O clima na região amazônica é quente e úmido, o que favorece a biodiversidade da região,que é reconhecida como uma das regiões de maior biodiversidade do planeta. (AGUIAR et al., 2010). A região possui uma grande variedade de fisionomias vegetais, desde as florestas densas até os campos. Florestas densas são representadas pelas florestas de terra firme, as florestas de várzea, periodicamente alagadas, e as florestas de igapó, permanentemente inundadas e ocorrem por quase toda a Amazônia central. Os campos de Roraima ocorrem sobre solos pobres no extremo setentrional da bacia do Rio Branco. As campinaranas desenvolvem-se sobre solos arenosos, espalhando-se em manchas ao longo da bacia do Rio Negro. (AGUIAR et al., 2010). FIGURA 24 – ENCONTRO DAS ÁGUAS, RIO NEGRO E SOLIMÕES, NA AMAZÔNIA FONTE: <http://www.brasilescola.com/brasil/rio-amazonas.htm>. Acesso em: 31 jul. 2011. ● O Cerrado O Cerrado brasileiro ocupa a região do Planalto Central brasileiro, em uma área de aproximadamente 25% do território nacional. O solo do cerrado é predominantemente arenoso, ácido e pobre em material orgânico, além de profundos e bem drenados de modo que não acumule água na superfície com facilidade. (AGUIAR et al., 2010). TÓPICO 2 | CARACTERIZAÇÃO DE MEIO AMBIENTE 39 Seu clima é particularmente marcante, apresentando duas estações bem definidas. A vegetação deste bioma é caracterizada, principalmente, por plantas de raízes superficiais e galhos retorcidos. A fauna do Cerrado pode ser representada por espécies como tamanduás, cascavéis, seriemas, emas, entre outros. (AGUIAR et al., 2010). A grande quantidade de material seco que se acumula sobre o solo e a longa estiagem no Cerrado favorecem a ocorrência de queimadas. Tal ocorrência é considerada um fator importante na manutenção deste bioma. Porém, queimadas muito frequentes impedem que a vegetação lenhosa se estabeleça. (AGUIAR et al., 2010). FIGURA 25 – PAISAGEM DE CERRADO EM TOCANTINS FONTE: < http://twixar.me/bx7n >. Acesso em: 03 jun. 2019. ● Caatinga O sertão nordestino é caracterizado pela ocorrência da vegetação mais rala do Semiárido brasileiro, a Caatinga, abrangendo a maior parte dos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e norte de Minas Gerais. As áreas mais elevadas sujeitas a secas menos intensas, localizadas mais próximas do litoral, são chamadas de Agreste. A área de transição entre a Caatinga e a Amazônia é conhecida como Meio-norte ou Zona dos cocais. (AGUIAR et al., 2010). O clima é caracterizado pelas temperaturas médias anuais elevadas. As chuvas são concentradas e a seca pode perdurar por até oito meses, ou mais. A flora é caracterizada por juazeiros, umbus, coroas-de-frade, mandacarus e uma abundante vegetação arbustiva. Grandes áreas do Sertão nordestino sofrem alto risco de desertificação devido à degradação da cobertura vegetal e do solo. (AGUIAR et al., 2010). UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DO MEIO AMBIENTE E DO ECOTURISMO 40 FIGURA 26 – PAISAGEM SECA DA CAATINGA FONTE: <http://twixar.me/yx7n >. Acesso em: 03 jun. 2019. ● Campos Gerais Os Campos gerais também são conhecidos como pampas ou campos do sul, e estão localizados no estado do Rio Grande do Sul. Mas eles ultrapassam o território nacional, abrangendo parte dos territórios uruguaios e argentinos. O clima da região é o subtropical frio, com temperaturas médias anuais de 19o C. Os terrenos planos das planícies e planaltos gaúchos e as coxilhas, de relevo suave-ondulado, são ocupados por espécies pioneiras campestres que formam uma vegetação tipo savana aberta. Estas extensas planícies favorecem os ventos fortes e gelados que são conhecidos na região como “minuanos”. Há ainda áreas de florestas estacionais e de campos de cobertura gramíneo-lenhosa. (AGUIAR et al., 2010). O relevo plano, com a predominância de gramíneas e a presença bastante esparsa de arbustos e árvores, torna os Campos Gerais uma região bastante adequada à criação de gado e à agricultura. Mas o cultivo de pastagens e plantas de interesses econômicos tem levado à destruição da vegetação original. A fauna é composta especialmente por roedores, répteis e aves como o quero-quero (Vanellus chilensis) – Ave-símbolo do estado do Rio Grande do Sul. (AGUIAR et al., 2010). FIGURA 27 – CAMPOS GERAIS FONTE: <http://www.camposgeraisemais.com.br/2009/04/09/comunidade-vai-decidir- geoparque-dos-campos-gerais/>. Acesso em: 19 jul. 2011. TÓPICO 2 | CARACTERIZAÇÃO DE MEIO AMBIENTE 41 ● Pantanal O Pantanal abrange parte dos estados do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul, além de parte dos territórios paraguaio e boliviano, onde é chamado de “chaco”. Como área transicional entre Cerrado e Amazônia, o Pantanal é uma das regiões de maior biodiversidade e a maior planície de inundação contínua do planeta, sendo coberta por vegetação predominantemente aberta. Este ecossistema é formado por terrenos em grande parte arenosos, cobertos de diferentes fisionomias devido à variedade de microrrelevos e regimes de inundação. (AGUIAR et al., 2010). O clima da região é definido como tropical úmido e as temperaturas médias anuais variam entre 23o C e 25o C. Toda vida no pantanal está relacionada ao regime das águas, que é dividido entre “vazante” – maio a julho, e “seca”- agosto a outubro. (AGUIAR et al., 2010). A flora do Pantanal é distinta nas áreas altas, onde não ocorrem as inundações, e nas áreas baixas, que na “vazante” fica inundada. Nas áreas mais altas encontramos vegetação com características de Mata ou de Cerrado, e nas áreas mais baixas se desenvolvem grande variedade de plantas aquáticas. (AGUIAR; ARGEL-DE-OLIVEIRA; SANTOS, 2010). A fauna pantaneira é composta por uma variedade muito grande de espécies. Dentre elas, podemos citar peixes como dourado (Salminus brasiliensis), jaú (Paulicea luetkeni), pacu (Piaractus mesopotamicus), pintado (Pseudoplatystoma corruscans), piraputanga (Brycon hilarii); répteis como calango (Ameiva ameiva), jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris), jiboia (Boa constrictor constrictor), sucuri (Eunectes murinus); mamíferos como anta (Tapirus terrestris), capivara (Hydrochoerus hydrochoeris), onça-pintada (Panthera onca), queixada (Tayassu pecari), veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus); e aves como arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus), biguá (Phalacrocorax brasilianus), cafezinho (Jacana jacana), ema (Rhea americana), socó-boi (Tigrisoma lineatum), tuiuiú (Jabiru mycteria), udu-de-coroa- azul (Momotus momota) – Ave-símbolo de Bonito/MS. (AGUIAR et al., 2010). FIGURA 28 – VISTA AÉREA DO PANTANAL, MOSTRANDO CAMPOS, CORDILHEIRAS E BAÍAS FONTE: <http://ppbio.inpa.gov.br/Port/inventarios/pantanalsul/copy_of_index_html/view>. Acesso em: 19 jul. 2011. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DO MEIO AMBIENTE E DO ECOTURISMO 42 4 PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO DO AMBIENTE NATURAL O ser humano sempre esteve vinculado ao meio ambiente. No início de sua história esse vínculo era muito forte, pois tudo o que precisava para viver vinha diretamente da natureza, como alimentos, roupas e utensílios. Ainda hoje, tudo o que usamos tem origem natural, ainda que distante como o plástico, cuja matéria-prima é o petróleo. No início essa relação era harmoniosa, com os hominídeos sobrevivendo da coleta de frutos e raízes na floresta, depois com a caça e as primeiras ferramentas fabricadas com madeira e pedra, que Sachs (2009) caracteriza como sendo de alta dependência da biomassa. Aos poucos esse trabalho ficou mais elaborado, precisando cada vez mais de recursos. O domínio dos minerais, a produção de alimentos em maior quantidade, a domesticação de animais e a formação de comunidades foram grandes transformadores da humanidade e nos levou à civilização atual. (MANÇO; PIVATTO, 2002). Como os recursos eram fartos, ninguém se preocupava com sua conservação, pois se imaginava que nunca acabariam. A descoberta de novas fontes de energia e novas formas de aproveitá-las nunca levou em conta a degradação ambiental, sendo que a Revolução Industrial foi o início de uma erade poluição, porém sem a percepção de que os recursos naturais poderiam ser finitos. A descoberta da penicilina, a adoção de práticas de saneamento básico e o aumento da produção agrícola foram alguns dos fatores que mudaram a história da humanidade ao promoverem um grande aumento da população, visto que a partir desta época continuaram a nascer muitas pessoas que viveriam cada vez mais, necessitando de mais alimentos e outras necessidades básicas de vida. Com isso, a pressão sobre o meio ambiente aumentou, mas devido à ideia errada de que os recursos eram infinitos, estes nunca foram poupados. Até que em 1962, Rachel Carson lança o livro Primavera Silenciosa, denunciando os problemas ambientais causados pelo uso do pesticida DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano). O impacto deste livro foi tanto, que em 1972 aconteceu em Estocolmo a Primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano (SACHS, 2009), quando os rumos do desenvolvimento foram, pela primeira vez, questionados sob a ótica ambiental. Os primeiros acordos internacionais para diminuir os impactos ambientais do crescimento econômico foram tratados a partir deste evento, sendo revalidados novamente em diversos outros, destacando-se a realização em 1992 no Rio de Janeiro da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Eco 92), quando então chefes de estado do mundo todo se reuniram para examinar a situação ambiental do globo terrestre e as mudanças ocorridas após a reunião de Estocolmo. (DIAS, 2004). TÓPICO 2 | CARACTERIZAÇÃO DE MEIO AMBIENTE 43 Embora novas conferências tenham sido realizadas após a Eco 92, talvez esta tenha sido no Brasil, a mais marcante, por inserir no cotidiano brasileiro questões até então pouco discutidas, como a conservação ambiental e a consciência de responsabilidade pelo nosso futuro comum. DICAS Acesse o link <http://pt.wikipedia.org/wiki/Protocolo_de_Quioto> para saber de outro importante evento que resultou no Protocolo de Kyoto, sobre o controle de emissão de gases causadores do efeito estufa. Estas grandes reuniões visam sempre à tomada de decisões políticas de grande abrangência, mas não elimina a responsabilidade de todo cidadão em tomar atitudes responsáveis para com o ambiente, como economia de energia e água, redução do consumo, reciclagem e reutilização de materiais etc. As atividades humanas sempre causam algum tipo de dano ambiental, visto que cada vez mais utilizamos seus recursos. Ações parceiras do governo, ONGs e cidadãos comuns podem diminuir o ritmo atual de degradação, resultando em um ambiente em harmonia com o desenvolvimento econômico. Palavras como sustentabilidade, conservação e preservação devem fazer parte do nosso dia a dia. UNI Ao longo deste curso você vai entender a sustentabilidade sob diferentes perspectivas. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DO MEIO AMBIENTE E DO ECOTURISMO 44 LEITURA COMPLEMENTAR VOCÊ SABIA QUE, APESAR DE SEREM UTILIZADOS AMPLAMENTE COMO SINÔNIMOS, PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO SÃO CONCEITOS DISTINTOS? Mariana Araguaia O preservacionismo e o conservacionismo são correntes ideológicas que surgiram no fim do século XIX, nos Estados Unidos. Com posicionamento contra o desenvolvimentismo - uma concepção que defende o crescimento econômico a qualquer custo, desconsiderando os impactos ao ambiente natural e ao esgotamento de recursos naturais – estas duas se contrapõem no que se diz respeito à relação entre o meio ambiente e a nossa espécie. O primeiro, o preservacionismo, aborda a proteção da natureza independentemente de seu valor econômico e/ou utilitário, apontando o homem como o causador da quebra deste “equilíbrio”. De caráter explicitamente protetor, propõe a criação de santuários, intocáveis, sem sofrer interferências relativas aos avanços do progresso e sua consequente degradação. Em outras palavras, “tocar”, “explorar”, “consumir” e, muitas vezes até “pesquisar”, torna-se, então, uma atitude que fere tais princípios. De posição considerada mais radical, este movimento foi responsável pela criação de parques nacionais, como o Parque Nacional de Yellowstone, em 1872, nos Estados Unidos. Já a segunda corrente, a conservacionista, contempla o amor à natureza, mas aliado ao seu uso racional e manejo criterioso pela nossa espécie, executando um papel de gestor e parte integrante do processo. Podendo ser identificado como o meio-termo entre o preservacionismo e o desenvolvimentismo, o pensamento conservacionista caracteriza a maioria dos movimentos ambientalistas, e é alicerce de políticas de desenvolvimento sustentável, que são aquelas que buscam um modelo de desenvolvimento que garanta a qualidade de vida hoje, mas que não destrua os recursos necessários às gerações futuras. Redução do uso de matérias- primas, uso de energias renováveis, redução do crescimento populacional, combate à fome, mudanças nos padrões de consumo, equidade social, respeito à biodiversidade e inclusão de políticas ambientais no processo de tomada de decisões econômicas são alguns de seus princípios. Inclusive, este propõe que se destinem áreas de preservação, por exemplo, em ecossistemas frágeis, com um grande número de espécies endêmicas e/ou em extinção, dentre outros. Tais discussões começaram a ter espaço em nosso país apenas em meados da década de setenta, com a criação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente – IBAMA, quase vinte anos depois. Em razão de a temática ambiental ter sido incorporada em nosso dia a dia apenas nas últimas décadas, tais termos relativamente novos acabam sendo empregados sem muitos critérios – mesmo por profissionais como biólogos, pedagogos, jornalistas e políticos. Prova disso é que a própria legislação brasileira, que nem sempre considera uso correto destes TÓPICO 2 | CARACTERIZAÇÃO DE MEIO AMBIENTE 45 termos, atribui a proteção integral e “intocabilidade” à preservação; e conservação dos recursos naturais, com a utilização racional, garantindo sua sustentabilidade e existência para as futuras gerações, à conservação. FONTE: <http://mundoeducacao.uol.com.br/biologia/preservacao-ambiental.htm>. Acesso em: 20 ago. 2011. IMPORTANT E Suas atitudes como cidadão são tão importantes quanto a dos órgãos oficiais na conservação ambiental. Pratique atitudes em harmonia com a natureza e dissemine essas práticas na sua casa, bairro, ambiente de estudo, trabalho e lazer. Por fim, cabe lembrar que não podemos continuar a falar em ecoturismo e turismo sustentável sem ter em mente a importância destas atitudes. 46 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico vimos que: • A biofilia é o amor ou atração por vida, uma tendência natural do ser humano de voltar sua atenção às coisas vivas. • O interesse por ambientes naturais motiva o turismo ecológico, demandando áreas conservadas para viabilizar esta atividade. • O meio ambiente de um ser vivo é representado por tudo aquilo que o rodeia e o influencia, sendo constituído por fatores bióticos e abióticos. • O Meio Ambiente Biótico inclui alimentos, plantas e animais, e suas relações recíprocas e com o meio abiótico. • Os fatores abióticos são aqueles do ambiente físico que influenciam o ser vivo, como por exemplo, a temperatura, a água, a luz, o relevo, a pressão, o teor de oxigênio, entre outros. • O Meio Ambiente Natural é aquele que já existia antes do surgimento do ser humano. • O Meio Ambiente Artificial é um contraponto ao Meio Ambiente Natural, sendo a artificialidade uma característica do meio ambiente natural que foi modificado pelo homem. • O Meio Ambiente Cultural é uma associação entre o Meio Ambiente Artificial com valores culturais, artísticos, históricos, ou paisagísticos. • Os recursos naturais são elementos da natureza, que possuem utilidade para o homem, podendo ser renováveis ou não. • A Ecologia é um ramo da Biologia, portanto uma ciência, que estuda os seres vivos e suas interações com o meio ambiente. • Ecossistema é um sistemaintegrado e autofuncionante que consiste em interações dos elementos bióticos e abióticos e cujas dimensões podem variar consideravelmente. • Bioma é um conjunto de vida (vegetal e animal) definida pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos e identificáveis em escala regional, com condições geoclimáticas similares e história compartilhada de mudanças, resultando em uma diversidade biológica própria. 47 • Os grandes biomas brasileiros são: Mata Atlântica, Floresta Amazônica, Cerrado, Caatinga, Campos Gerais e Pantanal. • O domínio dos minerais, a produção de alimentos em maior quantidade, a domesticação de animais e a formação de comunidades foram grandes transformadores da humanidade e nos levou à civilização atual, sem a percepção de que estes recursos poderiam ser finitos. • Em 1992 aconteceu no Rio de Janeiro da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Eco 92), visando examinar a situação ambiental do mundo. • Ações parceiras do governo, ONGs e cidadãos comuns podem diminuir o ritmo atual de degradação, resultando em um ambiente em harmonia com o desenvolvimento econômico. 48 1 Em qual Bioma do Brasil você vive? Você poderia citar suas principais características? 2 Quais são as atitudes em harmonia com o meio ambiente que você costuma praticar no seu dia a dia? Estas poderiam melhorar ou serem ampliadas de que forma? 3 O Meio Ambiente Biótico não inclui: a) Alimentos. b) Plantas. c) Água. d) Animais. 4 Não é considerado um fator abiótico: a) Água. b) Animais. c) Luz. d) Relevo. 5 Os grandes biomas brasileiros são: Mata Atlântica, Floresta Amazônica, Cerrado, Caatinga, Campos Gerais e Pantanal. Qual dos biomas a seguir ocupa a região do Planalto Central brasileiro? a) Cerrado. b) Caatinga. c) Pantanal. d) Campos Gerais. 6 A fauna pantaneira é composta por uma variedade muito grande de espécies. Assinale a alternativa que apresenta uma espécie que não ocorre no pantanal: a) Dourado (Salminus brasiliensis), calango (Ameiva ameiva), anta (Tapirus terrestris), queixada (Tayassu pecari), veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus); arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus), biguá (Phalacrocorax brasilianus). b) Jaú (Paulicea luetkeni), jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris), capivara (Hydrochoerus hydrochoeris), veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus), cafezinho (Jacana jacana), arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus)ema (Rhea americana). AUTOATIVIDADE 49 c) Pacu (Piaractus mesopotamicus), jiboia (Boa constrictor constrictor), onça-pintada (Panthera onca), socó-boi (Tigrisoma lineatum), arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus), tuiuiú (Jabiru mycteria). d) Pintado (Pseudoplatystoma corruscans), sucuri (Eunectes murinus), pinheiro- do-paraná (Araucaria angustifolia), arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus), udu-de-coroa-azul (Momotus momota). 7 Qual o nome do evento em que os rumos do desenvolvimento foram pela primeira vez questionados sob a ótica ambiental? a) Primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano. b) Rio-92. c) Congresso de Moscou. d) Segunda Guerra Mundial. 50 51 TÓPICO 3 ECOTURISMO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico! Neste tópico, vamos conhecer e estudar sobre um importante segmento do turismo, conhecido como “Ecoturismo”. Com certeza, você já deve ter reparado que nos últimos anos o termo “Eco” está sendo utilizado em demasia, com o intuito de apresentar ideias “ecologicamente corretas”. Pois bem, essa “tendência verde” circunda nossa vida desde meados da década de 1980, surgindo neste período como uma grande oportunidade de mercado. O Brasil possui uma grande potencialidade para o desenvolvimento do ecoturismo, pois apresenta uma série de atrativos de cunho cultural e natural de extremo interesse para o segmento. Sendo assim, não fica difícil compreender o reconhecimento internacional adquirido através da combinação de tantos fatores essenciais para a prática da atividade. Mas afinal, o que é Ecoturismo? Como ocorre seu planejamento? Qual é a realidade deste segmento turístico no Brasil? Neste tópico, vamos buscar o entendimento de todos estes questionamentos. 2 DEFININDO O ECOTURISMO A compreensão do conceito de Ecoturismo é fundamental para darmos início a esse aprofundamento sobre o tema. Seguindo a tendência mundial de valorização do meio ambiente, no final dos anos 1980, o termo Ecoturismo foi introduzido no Brasil. Na mesma década, a EMBRATUR – Instituto Brasileiro de Turismo iniciou o “Projeto Turismo Ecológico” e criou a Comissão Técnica Nacional, esta, constituída em conjunto com o IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Historicamente, esta foi a primeira iniciativa voltada a organizar o segmento. E em 1994, através da publicação das Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo pela EMBRATUR e Ministério do Meio Ambiente, o então “turismo ecológico” passou a se denominar e foi conceituado da seguinte maneira: 52 UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DO MEIO AMBIENTE E DO ECOTURISMO Ecoturismo é um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista por meio da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações. Em meio a diversas interpretações e definições para o termo Ecoturismo, esta conceituação, continua sendo referência no país. Conforme Costa (2002a, p. 31): Muitas pessoas ainda confundem e utilizam os termos ecoturismo e turismo ecológico como sinônimos adequados ao segmento do turismo. Apesar da semelhança, o uso da terminologia turismo ecológico há muito foi descartado pelos órgãos oficiais, nacional e internacionalmente. Tanto o Ibama quanto a Embratur, órgãos responsáveis pelo setor, utilizam o termo ecoturismo no Brasil, como fazem também a OMT - Organização Mundial do Turismo, sediada em Madri, Espanha, e a Ecotourism Society - The International Ecotourism Society – TIES, com sede nos Estados Unidos. DICAS Dada a variedade de interpretações referentes ao conceito de Ecoturismo é importante que você conheça também outros conceitos. No link <http://www.eps.ufsc.br/ disserta99/patricia/cap4.htm>, você encontrará algumas definições em ordem cronológica para um melhor entendimento da evolução deste conceito tão importante para o nosso estudo. Formuladas com base em um movimento preservacionista, as primeiras definições de Ecoturismo ligavam a atividade diretamente e quase exclusivamente ao papel de preservação de ambientes naturais. Porém, estes conceitos passaram por reformulações a partir da evolução de outro conceito, que trata de Sustentabilidade e do consequente envolvimento do ser humano neste processo. FONTE: <http://www.turismo.gov.br/turismo/programas_acoes/regionalizacao_turismo/ estruturacao_segmentos/ecoturismo.html>. Acesso em: 8 ago. 2011. TÓPICO 3 | ECOTURISMO 53 FIGURA 29 – O ECOTURISMO PRATICADO EM BONITO/MS É REFERÊNCIA EM TODO O BRASIL FONTE: <http://www.bonitobrazil.com.br/>. Acesso em: 20 jul. 2011. Percebemos claramente que o Ecoturismo é quem tem liderado a entrada de práticas sustentáveis no setor turístico, mas precisamos ter em mente a diferença básica que o diferencia do Turismo Sustentável. Sobre isso, a Organização Mundial do Turismo – OMT e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA referem-se ao Ecoturismo como um segmento do turismo, enquanto os princípios que se almejam para o Turismo Sustentável são aplicáveis e devem servir de premissa para todos os tipos de turismo em quaisquer destinos. DICAS Lembre-se de que a conceituação de Ecoturismo é bastante ampla e apresenta uma série de particularidades. Então, para aprofundar os seus conhecimentos, sugerimos a leitura do material: ECOTURISMO: Orientações Básicas. Disponível em: <http://www.turismo.gov.br/export/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/ downloads_publicacoes/Livro_Ecoturismo.pdf>.FONTE: Adaptado de: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/meio-ambiente- ecoturismo/meio-ambiente-ecoturismo.php>. Acesso em: 26 jul. 2011. 54 UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DO MEIO AMBIENTE E DO ECOTURISMO 3 PLANEJAMENTO E GESTÃO INTEGRADA DO ECOTURISMO Segundo Magalhães (2002, p. 23): o turismo é um fenômeno social e espacial que propicia o surgimento de atividades econômicas, sendo uma atividade capitalista complexa, difícil de ser analisada como um todo, pois envolve uma gama imensa de ramificações”. Ainda segundo a autora, apesar da geração de recursos, em função dos deslocamentos e permanência das pessoas nos receptivos serem incontestáveis [...] isto não significa que sua prática não traga resultados negativos e, muitas vezes, irreversíveis, numa demonstração de que a geração de recursos é benéfica e prejudicial ao mesmo tempo. A poluição provocada pela indústria turística é nociva em diversos aspectos, tendo em vista a sua complexidade e ramificações. Para que o Ecoturismo possa ser desenvolvido e aplicado como uma atividade sustentável, a fase de planejamento deve ser valorizada e bem construída. Esta etapa é contínua e dinâmica e está presente em todo o desenvolvimento da atividade turística. Planejamento é uma atividade que envolve a intenção de estabelecer condições favoráveis para alcançar objetivos propostos. E, tem por objetivo o aprovisionamento de facilidades e serviços para que uma comunidade atenda seus desejos e necessidades ou, então, o desenvolvimento de estratégias que permitam a uma organização comercial visualizar oportunidades de lucro em determinados segmentos de mercado. (RUSCHMANN, 2002, p. 83). Conforme Lindberg e Hawkins (1999, p. 26): O ecoturismo, como componente essencial de um desenvolvimento sustentável, requer uma abordagem multidisciplinar, um planejamento cuidadoso (tanto físico como gerencial) e diretrizes e regulamentos rígidos, que garantam um funcionamento estável. Somente através de um sistema intersetorial, o ecoturismo poderá, de fato, alcançar seus objetivos. Os governos, as empresas privadas, as comunidades locais e as organizações não governamentais, todas têm um importante papel a desempenhar. A partir do que Fennell (2002) descreve no quadro Princípios do Turismo Sustentável, fica mais evidente a importância de se ter o planejamento do ecoturismo diretamente relacionado às práticas sustentáveis. No quadro a seguir, você poderá fazer uma análise sobre os princípios do turismo sustentável e compreender melhor a sua importância na fase de planejamento do Ecoturismo. TÓPICO 3 | ECOTURISMO 55 QUADRO 3 – PRINCÍPIOS DO TURISMO SUSTENTÁVEL PRINCÍPIOS DO TURISMO SUSTENTÁVEL 1- Usar os recursos de forma sustentável A conservação e o uso sustentável dos recursos – naturais, sociais e culturais – é crucial, e garante os negócios em longo prazo. 2- Reduzir o consumo exagerado e o desperdício A redução do consumo exagerado e do desperdício evita o custo da recuperação do meio ambiente, danificado ao longo do tempo, e contribui para a boa qualidade do turismo. 3- Manter a diversidade Manter e promover a diversidade natural, social e cultural é essencial para o turismo sustentável de longo prazo, e cria uma base resiliente para a indústria do turismo. 4- Integrar o turismo ao planejamento O empreendimento turístico integrado num contexto de planejamento estratégico, nacional e local, e submetido aos EIAs (Estudos de Impacto Ambiental) aumenta a viabilidade a longo prazo do turismo. 5- Apoiar as economias locais O turismo que apoia uma ampla série de atividades econômicas locais e que leva em conta os custos/valores ambientais, protege essas economias e evita danos ao meio ambiente. 6- Envolver as comunidades locais O envolvimento total das comunidades locais no setor do turismo não só traz benefícios a elas e ao meio ambiente em geral, mas também melhora a qualidade da experiência do turismo. 7- Consultar os investidores e o público As consultas a investidores, comunidades locais, organizações e instituições são essenciais se todos quiserem trabalhar juntos e conciliar interesses potencialmente conflitantes. 8- Treinar Equipes O treinamento de equipes que integram o turismo sustentável, além do recrutamento de pessoal local em todos os níveis melhora a qualidade do produto do turismo. 9- Fazer o marketing O marketing que fornece informações completas e responsáveis aumenta o respeito dos turistas pelo meio ambiente natural, social e cultural das áreas de destino, e aumenta a satisfação dos clientes. 56 UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DO MEIO AMBIENTE E DO ECOTURISMO 10- Realizar pesquisas A pesquisa contínua e o monitoramento pela indústria do turismo, coletando e analisando dados, é essencial para a resolução de problemas, além de trazer benefícios às localidades de destino, à indústria do turismo e a seus consumidores. FONTE: Tourism Concern (1992 apud FENNELL, 2002) Ruschmann, (2006, p. 127) relata que: [...] o relacionamento do turismo com o meio ambiente tem se caracterizado por alguns aspectos peculiares e que deverão ser considerados nas ações de estratégias do planejamento da atividade. Para que o desenvolvimento do turismo ocorra de uma maneira equilibrada é necessário estabelecer critérios para a utilização dos espaços, de acordo com suas características, a fragilidade dos ecossistemas naturais e a originalidade cultural das populações receptoras [...]. FIGURA 30 – MAMIRAUÁ, NA AMAZÔNIA, É REFERÊNCIA EM ECOTURISMO COMUNITÁRIO FONTE: <http://360graus.terra.com.br/extremoss/default.asp?did=10542&action=galeria>. Acesso em: 20 jul. 2011. Considerando-se estas necessidades, Ruschmann (2006, p. 86) sugere que o planejamento e desenvolvimento do turismo é necessário quando encontramos as seguintes situações: • Nos locais em que empresas turísticas estão se estabelecendo com sucesso, a fim de assegurar um controle eficaz do desenvolvimento, no qual se incluem as medidas de proteção do meio ambiente. • Nos locais em que o crescimento acelerado da demanda, originado do turismo de massa e nos “pacotes” organizados por operadores turísticos, gerou modificações rápidas nas circunstâncias econômicas e sociais, visando ao monitoramento contínuo do acesso de pessoas. TÓPICO 3 | ECOTURISMO 57 • Nos locais onde o turismo não se desenvolveu satisfatoriamente, apesar de se apresentarem recursos consideráveis. Nesses casos, os estudos determinarão: a viabilidade de implementação de outros tipos de turismo e de incentivos aos empresários na implantação dos equipamentos correspondentes; a relação das vantagens entre o tipo de turismo do local e a concorrência de outros setores econômicos (custo-benefício e custo-oportunidade). • Nos locais onde o desenvolvimento do turismo concorre para a degradação ou a erosão de sítios ou recursos únicos, apesar dos consideráveis benefícios socioeconômicos auferidos pela população receptora. Nesse caso, a decisão, além daquela resultante das considerações e recomendações dos planejadores, deve ser tomada considerando-se critérios políticos. Para o ecoturismo, a sustentabilidade é a principal condição, razão e consequência de seu desenvolvimento. Assim, o planejamento de atividades turísticas deve sempre levar em considerações estes princípios, de forma que o empreendimento possa realmente ser enquadrado como ecoturístico e sustentável. (COSTA, 2002). Lembre-se de que, no mercado atual, essas características podem ser usadas inclusive como um diferencial da concorrência. ATENCAO A Organização Mundial do Turismo considera que, para que a sustentabilidade possa ser assegurada em atividades de ecoturismo, devem-se seguir os seguintes princípios 1 O ecoturismo deve contribuir para a conservação das áreas naturais e para o desenvolvimento sustentável das áreas adjacentes e das comunidades que as habitam. 2 O ecoturismo precisa de estratégias, princípios e políticas específicas para cada nação, região ou área. 3 O ecoturismonecessita de sistemas de coordenação práticos e eficientes entre todos os atores envolvidos. 4 A planificação do ecoturismo deve contemplar critérios restritos de ordenamento territorial – incluindo reservas naturais, áreas de baixo impacto e áreas de impacto médio. Esses critérios devem ser respeitados sem exceções, especialmente no que se refere a edificações e outras infraestruturas turísticas. 58 UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DO MEIO AMBIENTE E DO ECOTURISMO 5 O planejamento físico e o desenho das infraestruturas ecoturísticas devem ser feitos de maneira a minimizar qualquer impacto negativo que podem ter sobre o meio natural ou o meio cultural. 6 Os meios de transporte e comunicação utilizados em áreas ecoturísticas devem ter baixo impacto ambiental. Os esportes que requeiram meios de transporte altamente contaminantes ou ruidosos devem ser definitivamente proibidos nestas áreas. 7 A prática do ecoturismo em parques nacionais e outras áreas protegidas deve cumprir estritamente os planos e regras de gestão destas áreas. 8 Facilitar e tornar efetiva a participação ordenada das comunidades locais nos processos de planejamento, desenvolvimento, gestão e regulação do ecoturismo. 9 Estabelecer mecanismos (legais, fiscais e comerciais) que permitam que uma porção importante dos ingressos provenientes da chegada de ecoturistas a uma localidade seja canalizada para as comunidades locais. 10 Assegurar que o ecoturismo seja um bom negócio ou, em outras palavras, que ele seja também sustentável do ponto de vista econômico. 11 Todos os atores envolvidos pelo ecoturismo devem estar bem informados e conscientes dos custos de mitigar os possíveis efeitos negativos dessa atividade. 12 O cumprimento das leis e normativas que regem o turismo deve ser melhorado e mais estrito no caso do ecoturismo. 13 Deve-se considerar a possibilidade de implantação de um sistema de certificação para estabelecimentos e operações ecoturísticas (pelo menos em âmbito nacional). 14 A educação e a capacitação são prerrequisitos de toda atividade sustentável de ecoturismo. 15 Os ecoturistas necessitam de informações detalhadas e especializadas tanto antes como durante sua viagem. 16 Os catálogos, folhetos e quaisquer outros materiais gráficos de promoção ecoturística devem conter informação substancial sobre a experiência que oferecem aos potenciais ecoturistas. 17 Tanto os canais de comercialização como os meios promocionais relativos ao ecoturismo devem ser confiáveis e consistentes, tanto em relação ao tipo de turismo que se oferece ao consumidor quanto em relação à tipologia dos ecoturistas. 4 ECOTURISMO NO BRASIL Embora o Brasil tenha impressionante riqueza cultural, resultante da mistura entre os colonizadores europeus, índios, negros e posteriormente orientais, ainda assim não consegue estabelecer um equilíbrio quando comparado FONTE: Adaptado de: OMT (2000). TÓPICO 3 | ECOTURISMO 59 à milenar história do Velho Mundo. Portanto, parece óbvio que, em um país com diversidade impressionante e incontáveis paisagens, o desenvolvimento de atividades relacionadas à natureza seja o principal atrativo turístico. A crescente demanda de turistas por viagens que oferece o contato direto com a natureza coloca todas as regiões do país em posição de destaque como destinos para a demanda do turismo ecológico e de aventura, tanto nacional quanto internacional, devido aos seus recursos naturais variados. (RUSCHMANN, 2002). As primeiras empresas de ecoturismo surgiram no Brasil no final da década de 1980, mas foi apenas na década seguinte que esta atividade começou a cair no gosto do público, motivado pela grande exposição na mídia de assuntos relacionados à natureza, um resgate aos “paraísos ecológicos”. Esse movimento teve influência também da Eco 92 (ver Tópico 2), sendo que nem todas as empresas da época poderiam ser conceituadas como efetivamente promotoras de ecoturismo. FIGURA 31 – LOGOMARCA DA ECO 92 FONTE: <http://www.infoescola.com/ecologia/eco-92/>. Acesso em: 20 jul. 2011. O mercado ecoturístico brasileiro é composto por mais de 250 operadoras e agências especializadas, além das empresas de turismo convencional que também possuem pacotes turísticos. Calcula em mais de 2.000 pousadas e mais de 1000 prestadoras de serviços especializados, fabricantes de equipamentos, consultorias e outros. Houve um aumento do interesse por roteiros desenvolvidos em Parques Nacionais e outras unidades de conservação como Reservas Particulares do Patrimônio Natural – RPPN. Anualmente, o ecoturismo e o turismo de natureza vêm se destacando no cenário nacional. O amadurecimento dos empresários do ramo, a busca de profissionalismo e de certificações de segurança tem transformado muitos destinos em referências nacionais e internacionais dentro deste segmento. Diversos destinos turísticos se desenvolveram focando este público e direcionando o desenvolvimento da região, como pode ser observado na lista dos 65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turístico Regional. O projeto 65 Destinos Indutores tem como objetivo capacitar os atores locais para a gestão em turismo, ampliar os conhecimentos sobre planejamento estratégico, fortalecer a governança e a inter- 60 UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DO MEIO AMBIENTE E DO ECOTURISMO relação dos destinos com as regiões em que estão inseridos. (IMB, 2011). Grande parte destes destinos foca ou possui roteiros ligados ao ecoturismo, destacando-se Mateiros/TO, Lençóis/MA, Maragogi/AL, Maraú/BA, Jijoca de Jericoacoara/CE, Barreirinhas/MA, Fernando de Noronha/PE, São Raimundo Nonato/PI, Tibau do Sul/RN, Alto Paraíso de Goiás/GO, Pirenópolis/GO, Bonito/MS, Corumbá/MS, Ilhabela/SP, Foz do Iguaçu/PR e Paranaguá/PR. DICAS Para conhecer os 65 destinos indutores, acesse <http://www.65destinos.com> e <http://www.marcabrasil.org.br/docs/mapa.pdf>. E para conhecer os resultados deste Projeto, acesse: <http://gestaodedestinos.typepad.com/imb/2011/07/resultados-do-projeto- 65-destinos.html>. Em 2001, o Instituto de Ecoturismo do Brasil (IEB), em parceria com a EMBRATUR lançaram uma das primeiras compilações sobre destinos de ecoturismo no país, conforme o quadro a seguir: QUADRO 4 – POLOS DE ECOTURISMO DO BRASIL ESTADO UNIDADES FORMADORAS Acre Rio Branco, Xapuri, Plácido de Castro e Porto Acre. Amapá Porto Grande, Itaubal, Serra do Navio, Pracuúba, Pedra Branca do Amapari, Tartarugalzinho, Cutias, Macapá, Ferreira Gomes e Santana. Amazonas Barcelos, Presidente Figueiredo, Rio Preto da Eva, Novo Airão, Manaus, Manacapuru, Iranduba, Careiro, Careiro da Várzea, Autazes, Itacoatiara e Silves. Pará Santarém, Alter do Chão, Belterra, Aveiro, Itaituba, Oriximiná, Óbidos, Alenquer e Monte Alegre. Rondônia Porto Velho, Guajará-Mirim e Costa Marques. Roraima Boa Vista, Normandia, Uiramutã, Pacaraima e Amajari. Tocantins Caseara e Pium. Maranhão APA das Reentrâncias Maranhenses (Bacuri, Cururupu, Mirinzal, Cedral, Guimarães e Pinheiro), São Luís, Alcântara, São José do Ribamar, Paço do Lumiar, Primeira Cruz, Santo Amaro do Maranhão, Humberto de Campos, Barreirinhas (Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses), Paulino Neves, Tutoia e Araioses (Delta do Parnaíba), Imperatriz, Carolina, Riachão, Balsas, Nova Iorque, Mirador, Barra do Corda e Grajaú. Piauí São Raimundo Nonato, Coronel José Dias, João Costa, Canto do Buriti, Piracuruca, Piripiri, Esperantina, Parnaíba e Luís Correia. TÓPICO 3 | ECOTURISMO 61 Ceará Quixadá, Quixeramobim, Palmácia, Pacoti, Guaramiranga, Mulungu, Aratuba, Baturité, Redenção, Juazeiro do Norte, Crato, Nova Olinda, Santana do Cariri, Araripe, Jardim, Barbalha, Missão Velha, Ibiapaba, Viçosa do Ceará, Tianguá, Ubajara, Ibiapina, São Benedito, Carnaubal, Guaraciaba do Norte, Ipu, Barroquinha, Camocim, Jijoca de Jericoacara, Criz, Acaraú, Itarema, Fortim, Aracati e Icapuí. Rio Grande do Norte Baía Formosa, Tibaú do Sul, Arês, Nísia Floresta, Parnamirim, Natal, Extremoz, Maxaraguape, Rio do Fogo, SãoMiguel dos Touros, São Bento do Norte, Guamaré, Macaú, Serra de São Bento, Passa e Fica, São José do Campestre, Tangará, Serra Caiada, Sítio Novo, Barcelona, Pedra Preta, Lajes, Itajá, São Rafael, Jucurutu, Currais Novos, Acari, São José do Seridó, Cruzeta, Caicó, Serra Negra do Norte, Jardim do Seridó, Parelhas, Carnaúba dos Dantas, Martins, Patu, Apodi e Felipe Guerra. Paraíba João Pessoa, Bayeux, Conde, Cabedelo, Pitimbu, Lucena, Rio Tinto, Baía da Traição, Marcação, Mataraca, Campina Grande, Ingá, Fagundes, Boqueirão, Cabeceiras, Pocinhos, Areia, Bananeiras, Arauna, Pirpirituba, Serraria, Guarabira, Sousa, Santa Luzi, São João do Rio do Peixe, Coremas e Matureia. Pernambuco Arquipélago Fernando de Noronha, Goiana, Itamaracá, Itapissuma, Igarassu, Paulista, Cabo de Santo Agostino, Ipojuca, Sirinhaém, Rio Formoso, Barreiros, São José da Coroa Grande, Pesqueira, Venturosa, Buíque, Arcoverde, Bonito, São Benedito do Sul, Afogados da Ingazeira, Serra Talhada, Triunfo, Belém de São Francisco, Santa Maria da Boa Vista e Petrolina. Alagoas Maragogi, Japaraitinga, Porto de Pedras, São Miguel dos Milagres, Ibateguara, São José da Laje, União dos Palmares, Chã Preta, Quebrângulo, Delmiro Gouveia, Olho d’Água do Casado, Piranhas, Pão de Açúcar, Penedo, Traipu e Piaçabuçu. Sergipe Canindé de São Francisco, Poço Redondo, Brejo Grande, Ilha das Flores, Neópolis, Japoatã, Propriá, Pirambu, Laranjeiras, Areia Branca, Itabaiana, São Cristóvão, Estância, Santa Luzia do Itanhy. Bahia Lençóis, Andaraí, Mucugê, Rio das Contas, Iraquara, Piatã, Morro do Chapéu, Ituaçu, Seabra, Itaeté, Parque Nacional Chapada Diamantina, APA Marimbus de Iraquara, APA do Barbado, Lauro de Freitas, Jauá, Arembepe, Barra do Jacuípe, Guarajuba, Itacimirim, Praia do Forte, Açu da Torre, Imbassaí, Santo Antônio, Porto Sauípe, Massarandupió, Baixios, Subaúma, Sítio do Conde, Barra do Itariri, Siribinha, Costa Azul, Mangue Seco, Itaparica, Ilha de Maré, Madre de Deus, Ilha do Medo, Ilha dos Frades, Ilha Bimbarras, Ilha Cajaíba, Ilha de Saraíba, Ilha do Cal, Ilha das Vacas, Matarandiba, Ilha das Fontes, Ponta dos Garcês, Parques de Salvador, Valença, Guaibim, Cairu, Morro de São Paulo, Gamboa, Garapuá, Boipeba, Camamu, Maraú, Barra Grande, Ituberá, Itacaré, Ilhéus, Olivença, Toromba, Una, Canavieiras, Belmonte, Santa Cruz Cabrália, Porto Seguro, Arraial d’Ajuda, Trancoso, Caraíva, Monte Pascoal, Ponta do Corumbau, Cumuruxatiba, Prado, Abrolhos, Alcobaça, Caravelas, Nova Viçosa e Mucuri. Goiás Parque Nacional Chapada dos Veadeiros, São Domingos, Posse, Serra dos Pirineus, Corumbá de Goiás, Cocalzinho de Goiás, Pirenópolis, Parque Nacional das Emas, Mineiros e Serranópolis. Mato Grosso Estrada Transpantaneira, Poconé, Porto Jofre, Barão de Melgaço, Santo Antônio do Leverger, Cáceres, Parque Nacional Chapada dos Guimarães, Cuiabá e Alta Floresta. Mato Grosso do Sul Estrada Parque do Pantanal, Miranda, Aquidauana, Corumbá, Bodoquena, Bonito, Jardim e Costa Rica. 62 UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DO MEIO AMBIENTE E DO ECOTURISMO Minas Gerais Lagoa Santa, Confins, Pedro Leopoldo, Matozinhos, Prudente de Morais, Sete Lagoas, Cordsburgo, Santana do Riacho, Congonhas do Norte, Presidente Kibitschek, Gouveia, Datas, Diamantina, Couto Magalhães de Minas, Felício dos Santos, Serra Azul de Minas, Santo Antônio do Itambé, Serro, Alvorada de Minas, Dom Joaquim, Conceição do Mato Dentro, Morro do Pilar, Santo Antônio do Rio Abaixo, São Sebastião do Rio Preto, Itambé do Mato Dentro, Jaboticatubas, Ibertioga, Lima Duarte, Rio Preto, Juiz de Fora, Além Paraíba, São João Nepomuceno, Leopoldina, Cataguases, Miraí, Ubá, Barbacena, Viçosa, Araponga, Ponte Nova, Fervedouro, Espera Feliz, Muriaé, Tombos, Belo Horizonte, Bom Jesus do Amparo, Santa Luzia, Sabará, Itabira, Barão de Cocais, Santa Bárbara, Catas Altas, Mariana, Ouro Preto, Piranga, Ouro Branco, Congonhas, Itabirito, Nova Lima, Raposos, Caeté, Alagoa, Itamonte, Itanhandu, Passa Quatro, Virgínia, São Sebastião do Rio Verde, Pouso Alto, São Lourenço, São Roque de Minas, Vargem Bonita, São João Batista do Glória, Delfinópolis, Sacramento, Araxá, Sacramento, Conquista, Delta, Uberaba, Conceição das Alagoas, Planura, Fronteira, Frutal, Campina Verde, Prata, Uberlândia, Cachoeira Dourada, Araporã, Tupaciguara, Araguari, Estrela do Sul, Romaria, Nova Ponte, Patrocínio, Pedrinópolis e Santa Juliana. Espírito Santo Itaúnas, Conceição da Barra, São Mateus, Pinheiros, Linhares, Sooretama, Aracruz, Serra, Cariacica, Vitória, Vila Velha, Guarapari, Anchieta, Viana, Domingos Martins, Marechal Floriano, Alfredo Chaves, Vargem Alta, Castelo, Conceição do Castelo, Venda Nova do Imigrante, Afonso Cláudio, Santa Maria de Jetibá, Santa Teresa, São Roque do Canaã, Ibiraçu, Fundão, Santa Leopoldina, São José do Calçado, Alegre, Guaçuí, Dores do Rio Preto, Divino de São Lourenço, Ibitirama, Iúna, Irupi, Ibatiba e Muniz Freire. Rio de Janeiro Itacurussá, Angra dos Reis, Mangaratiba, Parati, Itatiaia, Penedo, Visconde de Mauá, Engenheiro Passos, Rio de Janeiro, Niterói, Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo, Araruama, Arraial do Cabo, Armação dos Búzios, Barra de São João, Conservatória, Valença, Vassouras, Mendes, Miguel Pereira, Pati do Alferes, Macaé, Quissamá, Campos e São João da Barra. São Paulo Itararé, Itapeva, Capão Bonito, Ribeirão Grande, Tapiraí, São Miguel Arcanjo, Miracatu, Juquitiba, Embu, Itapecerica da Serra, Araçoiaba da Serra, Sorocaba, São Roque, Pirapora do Bom Jesus, Santana de Parnaíba, Atibaia, Mairiporã, Piracicaba, Botucatu, São Pedro, Brotas, São Carlos, Santa Rita do Passa Quatro, Analândia, Rio Claro, Araras, Apiaí, Iporanga, Eldorado, Jacupiranga, Registro, Iguape, Ilha Comprida, Cananeia, Pariquera-Açu, Caçapava, Pindamonhangaba, Cruzeiro, Silveiras, São José do Barreiro, Bananal, Cunha, São Luís do Paraitinga, Paraibuna, São José dos Campos, Monteiro Lobato, São Francisco Xavier, São Bento do Sapucaí, Campos do Jordão, Santo Antônio do Pinhal, Peruíbe, Itanhaém, Cubatão, Santos, Guarujá, Bertioga, São Sebastião, Ilhabela, Caraguatatuba, Ubatuba, Salesópolis, São Bernardo do Campo, São José do Rio Preto, Fernandópolis, Jales, Santa Fé do Sul, Mira Estrela e Cardoso. Paraná Complexo Estuarino Lagunar de Paranaguá/Guaraqueçaba, Parque Estadual do Marumbi, Parque Estadual de Vila Velha, Parque Estadual Guartelá, Represa de Itaipu e entorno, Parque Nacional do Iguaçu e Itaipulândia. Santa Catarina Vértice do Vale do Itajaí, Florianópolis e entorno, Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, entre a Reserva Biológica do Arvoredo e APA Anhatomirim, Região de Lages, Parque Nacional São Joaquim, Urubici, Bom Jardim da Serra e São Joaquim. Rio Grande do Sul Canela, Gramado, Parque Nacional Aparados da Serra, Parque Nacional Serra Geral, Agudo, Camobi, Silveira Martins, Ivorá, Faxinal do Soturno, Itaara e Santa Maria. FONTE: Adaptado de: IEB (2001) TÓPICO 3 | ECOTURISMO 63 DICAS No site <http://ambientes.ambientebrasil.com.br/ecoturismo/destinos.html>, você vai encontrar uma relação completa dos principais destinos de ecoturismo no Brasil. Em recente pesquisa da ABETA (2010), ficou evidente que o ecoturista brasileiro busca nestes destinos participar de atividades que propiciem uma fuga das rotinas do dia a dia, um resgate de momentos de lazer que remetem à vida descompromissada dos tempos da infância. Assim, as viagens figuraram como principal lazer de 40% dos entrevistados, sendo que atividades ligadas à água foram citadas em 46% das respostas. Dentre as principais atividades já praticadas por estes turistas, destacam- se passeios de bugue (36%), cavalgadas (36%), caminhadas (31%), tirolesa (27%), observação de vida selvagem (22%) e mergulho (21%). Quando questionados sobre quais atividades gostariam de participar, 70% citaram bugue, seguido de mergulho (70%), observação de vida selvagem (61%), 4x4 (61%), quadriciclo (61%), flutuação (60%) e caminhadas (57%). (ABETA, 2010). DICAS Acesse<http://www.abeta.com.br/pesquisaperfil/> para obter a pesquisa completa sobre o perfil do turista de aventura e do ecoturista realizada pela ABETA, e <http:// www.ecobrasil.org.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=12&sid=5> para ler um interessante texto sobre o Destino Brasil (Instituto Eco Brasil). 64 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico vimos que: • O Brasil possui uma grande potencialidade para o desenvolvimento do ecoturismo, pois apresenta uma série de atrativos de cunho cultural e natural de extremo interesse para o segmento. • Ecoturismo é um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista por meio da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações. • Para que uma atividade seja classificada como Ecoturismo, ela precisa cumprir os princípios básicos da “Sustentabilidade”, ou seja, deve levar em consideração os seguintes fatores: resultado econômico, mínimos impactos ambientais e culturais, satisfação do ecoturista e da comunidade envolvida. • Para que o Ecoturismo possa ser desenvolvido e aplicado como uma atividade sustentável, a fase de planejamento deve ser valorizada e bem construída. Esta etapa é contínua e dinâmica e está presente em todo o desenvolvimento da atividade turística. • O ecoturismo, como componente essencial de um desenvolvimento sustentável, requer uma abordagem multidisciplinar, um planejamento cuidadoso, tanto físico como gerencial e, diretrizes e regulamentos rígidos, que garantam um funcionamento estável. • Para que o desenvolvimento do turismo ocorra de uma maneira equilibrada é necessário estabelecer critérios para a utilização dos espaços, de acordo com suas características, a fragilidade dos ecossistemas naturais e a originalidade cultural das populações receptoras. • Para o ecoturismo, a sustentabilidade é a principal condição, razão e consequência de seu desenvolvimento. Assim, o planejamento de atividades turísticas deve sempre levar em considerações estes princípios, de forma que o empreendimento possa realmente ser enquadrado como ecoturístico e sustentável. • No Brasil, com uma diversidade impressionante e incontáveis paisagens, o desenvolvimento de atividades relacionadas à natureza é o principal atrativo turístico. 65 • A demanda crescente dos turistas por viagens que proporcionam o contato direto com a natureza coloca todas as regiões do Brasil em posição privilegiada como destinações para a demanda do turismo ecológico e de aventura, tanto nacional quanto internacional, em função de seus inúmeros recursos naturais. • As primeiras empresas de ecoturismo surgiram no Brasil no final da década de 1980, mas foi apenas da década seguinte que esta atividade começou a cair no gosto do público, motivado pela grande exposição na mídia de assuntos relacionados à natureza, um resgate aos “paraísos ecológicos”. • O amadurecimento dos empresários do ramo, a busca de profissionalismo e de certificações de segurança tem transformado muitos destinos em referências nacionais e internacionais dentro deste segmento. • O ecoturista brasileiro busca nestes destinos participar de atividades que propiciem uma fuga das rotinas do dia a dia, um resgate de momentos de lazer que remetem à vida descompromissada dos tempos da infância. 66 1 Quais os principais destinos de ecoturismo de sua região? Elas se enquadram nos princípios do ecoturismo descritos neste tópico? 2 Caso você seja um empreendedor, que tal alinhar sua empresa com os princípios do turismo sustentável? 3 Em 1994, através da publicação das Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo pela EMBRATUR e Ministério do Meio Ambiente, o então “turismo ecológico” passou a se denominar e foi conceituado da seguinte maneira: a) Ecoturismo é o segmento da atividade turística que utiliza o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista por meio da interpretação do ambiente, promovendo o sustento das populações. b) Ecoturismo é um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista por meio da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações. c) Ecoturismo é um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista por meio da interpretação do ambiente, promovendo o sustento das populações. d) Ecoturismo é um segmento da atividade turística que utiliza, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista por meio da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações. 4 Assinale a alternativa que contenha um item que NÃO FAZ PARTE dos princípios do turismo sustentável: a) Usar os recursos de forma sustentável; integrar o turismo ao planejamento; manter a diversidade. b) Reduzir o consumo exagerado e o desperdício; consultar os investidores e o público; incentivar a concentração de renda. c) Consultar os investidores e o público; envolver as comunidades locais; realizar pesquisas. d) Apoiar as economias locais; fazer o marketing; treinar equipes. AUTOATIVIDADE 67 5 Em recente pesquisa da ABETA (2010), ficou evidente que o ecoturista brasileiro busca participar de atividades que propiciem uma fuga das rotinas do dia a dia, um resgate de momentos de lazer que remetem à vida descompromissada dos tempos da infância. Assinale a alternativa que apresente apenas atividades já praticadas pelos turistas entrevistados: a) Passeios de bugue, cavalgadas, caminhadas, tirolesa, observação de vida selvagem e mergulho. b) Passeios de bugue, cavalgadas, caminhadas, tirolesa, flutuação e mergulho. c) Passeios de bugue, cavalgadas, caminhadas, quadriciclo, observação de vida selvagem e mergulho. d) Passeios de bugue, quadriciclo, caminhadas, flutuação, observação de vida selvagem e mergulho. 6 Assinale a alternativa INCORRETA: a) Para o ecoturismo, a sustentabilidade financeira é a principal condição, razão e consequência de seu desenvolvimento. Assim, o planejamento de atividades turísticas deve sempre levar em consideração estes princípios, de forma que o empreendimento possa realmente ser enquadrado como ecoturístico e sustentável. b) A demanda crescente dos turistas por viagens que proporcionam o contato direto com a natureza coloca todas as regiões do Brasil em posição privilegiada como destinações para a demanda do turismo ecológico e de aventura, tanto nacional quanto internacional, em função de seus inúmeros recursos naturais. c) As primeiras empresas de ecoturismo surgiram no Brasil no final da década de 1980, mas foi apenas na década seguinte que esta atividade começou a cair no gosto do público, motivado pela grande exposição na mídia de assuntos relacionados à natureza, um resgate aos “paraísos ecológicos”. d) O amadurecimento dos empresários do ramo, a busca de profissionalismo e de certificações de segurança têm transformado muitos destinos em referências nacionais e internacionais dentro deste segmento. 7 De acordo com a Organização Mundial do Turismo, para que a sustentabilidade possa ser assegurada em atividades de ecoturismo, devem-se seguir alguns princípios. Assinale a alternativa que NÃO CORRESPONDE a um destes princípios. a) O ecoturismo precisa de estratégias, princípios e políticas específicas para cada nação, região ou área. b) A prática do ecoturismo, em parques nacionais e outras áreas protegidas, não deve cumprir os planos e regras de gestão destas áreas. c) A educação e a capacitação são prerrequisitos de toda atividade sustentável de ecoturismo. d) Os ecoturistas necessitam de informações detalhadas e especializadas tantoantes como durante sua viagem. 68 69 TÓPICO 4 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DO TURISMO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Neste Tópico, falaremos sobre a Educação Ambiental, uma ferramenta transformadora da sociedade, e que há tempos vem sendo utilizada para diminuir os problemas ambientais, especialmente aqueles vinculados à sociedade humana. Dependendo da abordagem, o turismo pode ser um importante multiplicador desta nova forma de se relacionar com o meio ambiente e a sociedade. Como já foi citado no Tópico 2 desta Unidade, o crescimento populacional e o desenvolvimento econômico acabaram pressionando de tal forma o equilíbrio ambiental que chegamos ao limite do insustentável. Embora ainda existam muitas opiniões controversas, é evidente que os problemas ambientais já estão interferindo severamente no modo de vida da sociedade moderna, seja com escassez de água onde isto nunca ocorria, antecipação ou atraso de estações climáticas, afetando a reprodução de muitas espécies e os efeitos do clima sobre todo o sistema. FIGURA 32 – A DENSIDADE DEMOGRÁFICA FOGE DE CONTROLE FONTE: <http://noseahistoria.wordpress.com/2011/04/18/a-explosao-populacional-do-seculo-xix/>. Acesso em: 20 jul. 2011. 70 UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DO MEIO AMBIENTE E DO ECOTURISMO No Tópico 3 desta Unidade, já discutimos a importância de se praticar o verdadeiro ecoturismo. Apenas em atender a estas premissas, você já estará fazendo um importante papel como cidadão e ator da cadeia produtiva do turismo. Agora vamos ampliar essa participação. Assim, convidamos você a percorrer este tópico e entender o que é Educação Ambiental e como ela pode contribuir na sua atividade como profissional do turismo. Primeiramente é importante entender o contexto em que as primeiras ideias sobre educação ambiental começaram a aparecer. Já citamos o lançamento do livro Primavera Silenciosa, de Rachel Carson em 1962 e a grande repercussão que causou. Entretanto, Cascino (2009) considera que o primeiro grande texto a respeito das questões ambientais e dos limites para o desenvolvimento humano publicado foi Os limites do crescimento, em 1968. Neste momento em que ocorre a aproximação entre aquilo que se falava nos movimentos sociais, estudantis, operários, minoritários-libertários e a questão do desenvolvimento do planeta ou o caminhar do homem sobre a Terra, principalmente por parte dos industriais e centros científicos do Primeiro Mundo. (CASCINO, 2009). Depois da Primeira Conferência Mundial sobre Meio Ambiente Humano e Desenvolvimento, realizada em 1972, os movimentos e manifestações sociais que reivindicavam proteção ao meio ambiente aos poucos foram se tornando mais abrangentes, pois uma consciência da ausência dos limites dos efeitos poluentes se espalhava entre os manifestantes. Cascino (2009) refere-se ao nascimento de uma consciência/cidadania planetária. A UNESCO promoveu, em Belgrado em 1975, um Encontro Internacional sobre Educação Ambiental. O encontro culminou com a formulação de princípios e orientações para um programa internacional de Educação Ambiental (EA), segundo o qual esta deveria ser contínua, interdisciplinar, integrada às diferenças regionais e voltada para os interesses nacionais. (SOUZA, 2003). FIGURA 33 – LOGOTIPO DA UNESCO FONTE: <http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/>. Acesso em: 20 jul. 2011. TÓPICO 4 | A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DO TURISMO 71 Em 1977, aconteceu o Primeiro Congresso Mundial de Educação Ambiental em Tbilisi, ex-União Soviética, sendo que o Segundo Congresso Mundial de Educação Ambiental também aconteceu lá, porém desta vez em Moscou. (DIAS, 2004). Foi um lento processo acontecendo em meio a importantes mudanças políticas neste país, que culminou no entendimento da necessidade de associar a preocupação ambiental com a educação. (CASCINO, 2009). Em 1987, o Relatório Brundtland, com o título Nosso futuro comum, analisa as principais questões sobre meio ambiente e desenvolvimento, lançando a base do que seria discutido durante a Eco 92. A partir de então, a Educação Ambiental entra nas principais discussões, porém sempre vinculada às questões ambientais puramente. Confunde-se com ensino de ecologia. Até que em 1997, a Unesco publica o documento Educating for a Sustainable Future, com o título “Uma visão transdisciplinar para uma ação orquestrada”. Segundo Cascino (2009), o documento “aponta o caminho da interdisciplinaridade como eixo central de um novo modo de educar, uma plataforma para ações educativas fundadas em preocupações ambientais”. DICAS Para saber mais sobre o Relatório Brundtland, acesse <http://pt.wikipedia.org/ wiki/Relat%C3%B3rio_Brundtland>. Na Conferência de Tbilisi, a Educação Ambiental foi definida como “uma dimensão dada ao conteúdo e à prática da educação, orientada para a resolução dos problemas concretos do meio ambiente através de enfoques interdisciplinares, e de uma participação ativa e responsável de cada indivíduo e da coletividade”. (TBILISI, 1977, apud DIAS, 2004, p. 98). É uma definição que vale até hoje. Entretanto, Dias (2004, p. 99), baseado nos subsídios técnicos elaborados pela Comissão Interministerial para a preparação da Rio-92, dá um enfoque mais aprofundado quando observa que A educação ambiental se caracteriza por incorporar as dimensões socioeconômicas, política, cultural e histórica, não podendo basear-se em pautas rígidas e de aplicação universal, devendo considerar as condições e estágio (sic) de cada país, região e comunidade, sob uma perspectiva holística. Assim sendo, a educação ambiental deve permitir a compreensão da natureza complexa do meio ambiente e interpretar a interdependência entre os diversos elementos que conformam o ambiente, com vistas a utilizar racionalmente os recursos do meio na satisfação material e espiritual (CA) da sociedade no presente e no futuro. monte Destacar 72 UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DO MEIO AMBIENTE E DO ECOTURISMO A Educação Ambiental é um processo permanente, no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos, valores, habilidades, experiências e determinação que os tornem aptos a agir e resolver problemas ambientais presentes e futuros. (DIAS, 2004). Em 1999, a Educação Ambiental foi transformada em lei no Brasil (Lei nº 9.795 de 27 de abril de 1999). Em seu Art. 2° afirma: “A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal”. (BRASIL, 2011). IMPORTANT E A educação ambiental deve sempre ser observada dentro de um ambiente total, o que inclui valores éticos, políticos, sociais, econômicos, científicos, tecnológicos, culturais e ecológicos, e não apenas sob a ótica deste último. 2 PRINCÍPIOS E OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL FIGURA 34 – A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO FONTE DE REFLEXÃO FONTE: <http://palrp20092010-educaoambiental.blogspot.com/>. Acesso em: 20 jul. 2011. Durante a Conferência de Tbilisi foram definidos os seguintes princípios básicos para a Educação Ambiental (DIAS, 2004, p. 112-124): • Considerar o meio ambiente em sua totalidade, ou seja, em seus aspectos naturais e criados pelo homem, tecnológicos e sociais (econômico, político, técnico, histórico-cultural, moral e estético). TÓPICO 4 | A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DO TURISMO 73 • Constituir um processo contínuo e permanente, começando pelo pré-escolar, e continuando através de todas as fases do ensino formal e não formal. • Aplicar um enfoque interdisciplinar, aproveitando o conteúdo específico de cada disciplina, de modo que se adquira uma perspectiva global e equilibrada. • Examinar as principais questões ambientais, do ponto de vista local, regional, nacional e internacional, de modo que os educandos se identifiquem com as condições ambientais de outras regiões geográficas. • Concentrar-se nas situações ambientais atuais,tendo em conta também a perspectiva histórica. • Insistir no valor e na necessidade da cooperação local, nacional e internacional para prevenir e resolver os problemas ambientais. • Considerar, de maneira explícita, os aspectos ambientais nos planos de desenvolvimento e de crescimento. • Ajudar a descobrir os sintomas e as causas reais dos problemas ambientais. • Destacar a complexidade dos problemas ambientais e, em consequência, a necessidade de desenvolver o censo crítico e as habilidades necessárias para resolver os problemas. • Utilizar diversos ambientes educativos e uma ampla gama de métodos para comunicar e adquirir conhecimentos sobre o meio ambiente, acentuando devidamente as atividades práticas e as experiências pessoais. A criação destes princípios considerava que, a partir de um enfoque crítico, “a Educação Ambiental poderá contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos para se decidirem a atuar na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade local e global”. Neste mesmo relatório, foram definidas também as finalidades da Educação Ambiental (DIAS, 2004, p. 109-110): • Promover a compreensão da existência e da importância da interdependência econômica, social, política e ecológica. • Proporcionar a todas as pessoas a possibilidade de adquirir os conhecimentos dos valores, o interesse ativo e as atitudes necessárias para proteger e melhorar o meio ambiente. • Induzir novas formas de conduta nos indivíduos, nos grupos sociais e na sociedade, em seu conjunto, a respeito do meio ambiente. FONTE: Dias (2004) 74 UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DO MEIO AMBIENTE E DO ECOTURISMO • CONSCIÊNCIA – ajudar os grupos sociais e os indivíduos a adquirirem consciência do meio ambiente global e ajudar-lhes a sensibilizarem-se por essas questões. • CONHECIMENTO – Ajudar os grupos sociais e o indivíduo a adquirirem diversidade de experiências e compreensão fundamental do meio ambiente e dos problemas anexos. • COMPORTAMENTO – ajudar os grupos sociais e os indivíduos a comprometerem-se com uma série de valores e a sentirem interesse e preocupação pelo meio ambiente, motivando-os de tal modo que possam participar ativamente da melhoria e da proteção do meio ambiente. • HABILIDADES – ajudar os grupos sociais e os indivíduos a adquirirem as habilidades necessárias para determinar e resolver os problemas ambientais. • PARTICIPAÇÃO – proporcionar aos grupos sociais e aos indivíduos a possibilidade de participarem ativamente das tarefas que têm por objetivo resolver problemas ambientais. Por fim, foram definidas cinco categorias de objetivos da Educação Ambiental (DIAS, 2004 p. 111): Todos esses princípios, finalidades e objetivos podem ser transpostos para as realidades locais e regionais, fazendo parte de uma agenda de Educação Ambiental específica. ATENCAO 3 MEIO AMBIENTE E REPRESENTAÇÃO SOCIAL De acordo com Barcelos (2008), a situação ecológica por que passa atualmente o planeta e as distâncias entre países ricos e pobres acabam por consumir cerca de dois terços de toda a energia gerada no planeta. Ainda segundo o autor, o descontentamento e a não aceitação passiva do que está acontecendo no mundo é que pode suscitar nossa criação imaginativa no sentido de se construírem alternativas tanto de pensamento quanto de ações que, a partir do local, possam interferir nas questões ecológicas globais. Conforme Barcelos (2008, p. 20-21): Inventar maneiras, criar possibilidades para vivermos todos juntos e em paz, é uma das vontades que movem o movimento ecologista desde suas origens no final da década de 1950 e início de 1960 do século passado. A educação ambiental tem seu surgimento na esteira desse movimento político e social sendo, portanto, assumido também sua parcela de responsabilidade pela edificação de um mundo social e TÓPICO 4 | A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DO TURISMO 75 ecologicamente mais justo. Ao pensarmos na contribuição da educação ambiental, para a edificação de um mundo social e ecologicamente mais justo, nada mais oportuno e urgente que aceitarmos o desafio de inventar novas metodologias que nos auxiliem a edificar espaços de convivência a partir da solidariedade, da cooperação, da tolerância e do amor, não só como os demais seres humanos, mas, sim, com todas as demais formas de vida existentes no planeta-terra. Nesse sentido, uma das primeiras reflexões ao se pensar em educação ambiental, é repensar o próprio significado de meio ambiente. Tradicionalmente, esse termo refere-se ao meio natural, biótico e abiótico, deixando a figura humana e os ambientes artificiais de fora. Porém, segundo Jollivét e Pavé (1997 apud DALMORA, 2007, p. 17), para que as metodologias de educação ambiental possam ter bons resultados, é necessário observar outras definições, como as seguintes: Meio ambiente é o conjunto de meios naturais (milieux naturel) ou artificializados da ecosfera, onde o homem se instalou e que ele explora, que ele administra, bem como o conjunto dos meios não submetidos à ação antrópica e que são considerados necessários à sua sobrevivência. Esses meios são caracterizados: por sua geometria, seus componentes físicos, químicos, biológicos e humanos e pela distribuição espacial desses componentes; pelos processos de transformação, de ação ou de interação envolvendo esses componentes e condicionando sua mudança no espaço e no tempo; por suas múltiplas dependências em relação às ações humanas; por sua importância, tendo em vista o desenvolvimento das sociedades humanas. Meio ambiente é um lugar determinado ou percebido, onde os elementos naturais e sociais estão em relações dinâmicas e em interação. Tais relações implicam processos de criação cultural e tecnológica e processos históricos e sociais de transformação do meio natural e construído. Ao inserir a sociedade humana nesta interpretação sobre meio ambiente, torna-se relevante conhecer a maneira como o público-alvo interpreta este conceito, de forma a criar uma comunicação de resultados. Nas representações sociais podemos encontrar os conceitos científicos da forma que foram aprendidos e internalizados pelas pessoas. Uma representação social é o senso comum que se tem sobre um determinado tema, em que se incluem também os preconceitos, ideologias e características específicas das atividades cotidianas (sociais e profissionais) das pessoas. As representações sociais estão relacionadas com as pessoas que atuam fora da comunidade científica, embora possam também estar aí presentes. São modos de pensar que orientam as condutas dos indivíduos na sociedade e equivalem a “um conjunto de princípios construídos interativamente e compartilhados por diferentes grupos que, através delas, compreendam e transformem a realidade. FONTE: Adaptado de: Pereira Reigota (2010). 76 UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DO MEIO AMBIENTE E DO ECOTURISMO IMPORTANT E É fundamental, para se obter bons resultados em seus objetivos de educação ambiental, conhecer o público-alvo, sua realidade, seus conceitos e sua forma de comunicação, de forma a conseguir estabelecer uma comunicação eficiente que traga os resultados esperados. Reigota (2010, p. 68-69) ainda faz uma importante reflexão sobre representações individuais: As representações individuais não podem ser ampliadas para a coletividade, mas, sim, o contrário. O indivíduo equivale à instância simples a partir da qual o complexo (a coletividade) não pode ser deduzido. Um estado patológico da civilização moderna seria o principal responsável pela presença de um desequilíbrio nos homens contemporâneos que, vulneráveis, porque isolados, se encontram à mercê de tendências destruidoras, originadas socialmente. As sociedades modernas, calcadas no individualismo, devem se integrar por meio de crenças e pensamentos comuns (representações) que produzem uma solidariedade orgânica, imprescindível para a construção de uma estabilidade entre os indivíduose sua coletividade. Enquanto os conceitos científicos tendem à generalidade e ao rigor, as representações coletivas se associam a um tipo de conhecimento que, podendo eventualmente possuir um aspecto de cientificidade, se pauta pela de um padrão inflexível de formulação do saber. Portanto, além do coletivo, faz-se importante observar interpretações individuais dos conceitos a serem trabalhados e também a forma como serão absorvidos individualmente, dentro de cada realidade e história de vida, de forma que o conjunto de indivíduos possa compreender, coletivamente, a mensagem que se espera reflexão e compreensão. Isto garantirá que toda a comunidade participe de forma integrada das propostas apresentadas. No caso específico do turismo, existem dois focos de trabalho: a comunidade local que sofrerá o impacto (positivo e negativo, ver Tópico 4 da Unidade 3) da visitação turística e o turista, que deverá ser preparado adequadamente para interagir com a comunidade local. O bom trabalho pré, durante e pós-visita com estes dois atores garantirá os resultados positivos esperados, comprovando a sustentabilidade da atividade. TÓPICO 4 | A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DO TURISMO 77 FIGURA 35 – ECOTURISMO COMUNITÁRIO NO PERU FONTE: <http://www.movimientoecuador.co.uk/Turismo_Comunitario-t-101.html>. Acesso em: 20 jul. 2011. DICAS Para saber mais sobre o papel da representação social nas questões ambientais, leia Reigota (2010). 4 RELAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E TURISMO Você deve se perguntar o que estes temas tão ligados ao meio ambiente tem a ver com turismo? Tem tudo a ver. Não é só o ecoturista que depende de um ambiente saudável e equilibrado, e nem é só o ecoturismo que precisa ser sustentável ambientalmente. Veja estes exemplos: • A poluição da água afasta mergulhadores e banhistas das praias, lagoas e cachoeiras. • O calor antecipado diminui a temporada dos esportes de inverno, pois há cada vez menos neve para praticá-los. • As queimadas e o desmatamento destroem regiões turísticas que poderiam atrair os ecoturistas. • A fumaça das queimadas pode cancelar voos e intoxicar moradores e visitantes. • A mineração pode destruir cavernas e paisagens cênicas. • O desaparecimento de espécies animais e vegetais torna muitos locais desinteressantes para observadores de vida silvestre. • Epidemias causadas por descontrole biológico ou falta de saneamento podem afastar funcionários do serviço e ainda espantar turistas. 78 UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DO MEIO AMBIENTE E DO ECOTURISMO • A presença de caçadores pode tornar a região perigosa para os visitantes. • Obras mal planejadas e sem licença ambiental podem prejudicar o abastecimento de água e ainda causar erosão. FIGURA 36 – O LIXO ESPANTA O TURISTA FONTE: <http://juliafioriozampieri.webnode.com.br/polui%C3%A7%C3%A3o/>. Acesso em: 21 jul. 2011. Envolver-se com questões ambientais é responsabilidade de todo cidadão, mas é você, Caro acadêmico, futuro(a) profissional de turismo, que deve entender o quanto sua escolha está vinculada à importância da natureza protegida. Como pôde perceber, não apenas o ecoturismo, mas os outros segmentos também são afetados pelas questões ambientais. Já imaginou a situação de um grande resort que se vê sem abastecimento de água em plena temporada, causada pela contaminação do rio que abastece a cidade, vinda de alguma indústria rio acima? Ou o prejuízo causado pelo cancelamento de reservas devido a um surto de diarreia causada pela falta de saneamento ou devido à impossibilidade de pousar aviões em meio a uma grande nuvem de fumaça das queimadas da região? Tomar consciência destes problemas e o quanto estão próximos de nós é um passo importante na busca da sustentabilidade. Mas saber disso traz uma segunda reflexão: como podemos contribuir para que parte destes problemas deixe de existir? Qual minha responsabilidade sobre o ambiente que eu habito e que uso em minhas atividades turísticas? A educação ambiental é um importante processo que pode e deve ser incorporado às atividades turísticas. Vejamos algumas maneiras: TÓPICO 4 | A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DO TURISMO 79 • Comunidade local Quando se pretende instalar uma operação turística em uma localidade onde esta atividade ainda não está incorporada, é fundamental conhecer a comunidade e a receptividade desta para com o turismo. Muitos projetos acabam conflitando com moradores por ignorarem esta etapa. Por outro lado, quando inseridos no processo desde o início, compreendendo as possibilidades de trabalho e desenvolvimento e tendo boa orientação sobre as transformações que o local sofrerá, pode ser muito positivo. Nesta etapa, muitas vezes, a educação ambiental é necessária, principalmente porque embora algumas comunidades dependam da natureza, nem sempre essa relação é apropriada, podendo gerar conflitos, especialmente no que se refere à caça, extrativismo descontrolado, lixo etc. DICAS No link <http://pt.scribd.com/doc/6757006/Manual-de-Ecoturismo-de-Base- Comunitaria> é possível baixar o livro “Manual de Ecoturismo de Base Comunitária”, da WWF, com muita informação sobre este tema. • O empreendimento Se o projeto for pensado de maneira sustentável desde o início, ficará muito mais fácil adotar estas medidas e também utilizar toda a filosofia como parte e ferramentas da educação ambiental. Deve ser o principal motivador de práticas diferenciadas, pois sua gestão é que será a motivadora das ações de continuidade. Um bom exemplo é o projeto de sustentabilidade adotado pela Associação dos Hotéis Roteiro de Charme. DICAS Acesse o link <http://ambientes.ambientebrasil.com.br/ecoturismo/artigos/ turismo_sustentavel_no_brasil.html>. para conhecer o projeto de sustentabilidade adotado pela Associação dos Hotéis Roteiro de Charme. 80 UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DO MEIO AMBIENTE E DO ECOTURISMO • Os parceiros Se o empreendimento não estiver vinculado com parceiros também comprometidos com a sustentabilidade será difícil manter determinadas ações. Caso não existam boas alternativas de parcerias na região, uma alternativa é convidar os parceiros para participarem do projeto, de forma a ampliar essas práticas. • Funcionários Não adianta falar em sustentabilidade se toda a equipe não estiver engajada. De que vale falar da importância da água se os funcionários continuam desperdiçando durante lavagem de louça, lençóis etc.? Ou manter coletores de lixo reciclável sem treinar os funcionários responsáveis pela limpeza? Eles devem ser os primeiros a receberem educação ambiental, de tal forma que se transformem em praticantes e multiplicadores destas ações. • Guias locais São eles os responsáveis pelas principais ações de educação ambiental para o turista durante uma operação de turismo, pois tudo o que mostrarem, falarem ou praticarem durante a atividade será absorvido pelo visitante. Assim, é fundamental que os guias de turismo tenham boa orientação e treinamento antes de serem responsáveis pela condução de roteiros cujo objetivo transformador é o foco da atividade. • O turista Com exceção de poucos ecoturistas engajados, a maioria dos turistas não tem qualquer informação ou comportamento compatível com um turismo sustentável, sendo ele o foco da transformação. Nem sempre é o que ele deseja, e muitas vezes uma experiência exageradamente educativa pode ter o efeito contrário. Assim, é fundamental conhecer o turista e suas expectativas, para então adequar a linguagem e as atividades, propiciando a reflexão pretendida. FIGURA 37 – O TURISTA CONVENCIONAL FONTE: <http://www.dignow.org/post/reflex%C3%B5es-sociol%C3%B3gicas-sobre-a- hospitalidade-2341438-47022.html>. Acesso em: 21 jul. 2011. TÓPICO 4 | A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DO TURISMO 81 A experiência do turista é algo muito valorizado recentemente, basta ver o sucesso do projeto Economia da Experiência, desenvolvido pelo Ministério do Turismo e SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).Portanto, ao conciliar o desejo do visitante em experenciar novas sensações com uma prática sustentável através da educação ambiental, teremos grandes chances de levá-lo à reflexão sobre sua relação com o meio ambiente, tanto no seu dia a dia quanto da forma que pratica atividades turísticas. Espera-se que, em futuras oportunidades, ele busque novos roteiros que também ofereçam esse tipo de experiência e questione quando elas não forem apresentadas. Todos ganharão com a formação desta corrente, em especial o meio ambiente. DICAS Para saber mais sobre Economia da Experiência, acesse o link <http://www. turismo.gov.br/turismo/programas_acoes/regionalizacao_turismo/economia_experiencia. html>. Outra forma muito utilizada é a prática do turismo científico ou ainda de estudos do meio, onde estudantes são levados a visitar locais fora da sala de aula para complementarem o currículo escolar. Quando bem preparados e conduzidos com objetivos definidos, estas atividades também são ótimas ferramentas para a educação ambiental de crianças e jovens. DICAS Para saber mais sobre turismo científico, acesse o link <http://cienciaeturismo. blogspot.com/>. 82 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico vimos que: • A Educação Ambiental é uma ferramenta transformadora da sociedade, e que há tempos vem sendo utilizada para diminuir os problemas ambientais, especialmente aqueles vinculados à sociedade humana. • Na Conferência de Tbilisi, a Educação Ambiental foi definida como “uma dimensão dada ao conteúdo e à prática da educação, orientada para a resolução dos problemas concretos do meio ambiente através de enfoques interdisciplinares, e de uma participação ativa e responsável de cada indivíduo e da coletividade”. • Em 1999, a Educação Ambiental foi transformada em lei no Brasil (Lei nº 9.795/27/04/99). • Ao inserir a sociedade humana na interpretação sobre meio ambiente, torna-se relevante conhecer a maneira como o público-alvo interpreta este conceito, de forma a criar uma comunicação de resultados. • As representações sociais são modos de pensar que orientam as condutas dos indivíduos na sociedade e equivalem a um conjunto de princípios construídos interativamente e compartilhados por diferentes grupos que, através delas, compreendam e transformem a realidade. • É fundamental, para se obter bons resultados em seus objetivos de educação ambiental, conhecer o público-alvo, sua realidade, seus conceitos e sua forma de comunicação, de forma a conseguir estabelecer uma comunicação eficiente que traga os resultados esperados. • Além do coletivo, faz-se importante observar interpretações individuais dos conceitos a serem trabalhados e também a forma como serão absorvidos individualmente, dentro de cada realidade e história de vida, de forma que o conjunto de indivíduos possa compreender, coletivamente, a mensagem que se espera reflexão e compreensão. ● Não é só o ecoturista que depende de um ambiente saudável e equilibrado, e nem é só o ecoturismo que precisa ser sustentável ambientalmente, mas toda cadeia produtiva do turismo. • A educação ambiental se faz presente de várias formas quando falamos em turismo, como comunidade local, empreendimento, funcionários, parceiros, guias locais e turistas. 83 • Ao conciliar o desejo do visitante em experenciar novas sensações com uma prática sustentável através da educação ambiental, teremos grandes chances de levá-lo à reflexão sobre sua relação com o meio ambiente, tanto no seu dia a dia quanto da forma que pratica atividades turísticas. 84 AUTOATIVIDADE 1 Como você percebeu, a educação ambiental é uma questão muito complexa e que pode estar presente em vários momentos do turismo, sempre com objetivos de causar reflexão e mudanças de comportamento em relação ao meio ambiente. Porém, ela não é possível se não for demonstrada com exemplos práticos do multiplicador. Sendo assim, convidamos você agora a refletir sobre seu próprio comportamento e ações com relação ao meio ambiente. Como está esta sua relação? Faça uma lista sobre as boas práticas que segue, e outra com atitudes que poderia melhorar com relação ao meio ambiente, em especial aquelas ligadas às atividades turísticas que exerce incluindo quando você mesmo é o turista. 2 Durante a Conferência de Tbilisi foram definidos os princípios básicos para a Educação Ambiental. Assinale a alternativa que NÃO CORRESPONDE a um destes princípios: a) Considerar o meio ambiente em sua totalidade, ou seja, em seus aspectos naturais e criados pelo homem, tecnológicos e sociais (econômico, político, técnico, histórico-cultural, moral e estético). b) Examinar as principais questões ambientais, do ponto de vista local, regional, nacional e internacional, de modo que os educandos se identifiquem com as condições ambientais de outras regiões geográficas. c) Concentrar-se nas situações ambientais atuais, sem considerar também a perspectiva histórica. d) Constituir um processo contínuo e permanente, começando pelo pré-escolar, e continuando através de todas as fases do ensino formal e não formal. 3 Ainda durante a Conferência de Tbilisi foram definidas as finalidades da Educação Ambiental. Assinale a alternativa que NÃO CORRESPONDE a uma destas finalidades: a) Promover a compreensão da existência e da importância da interdependência econômica, social, política e ecológica. b) Proporcionar a todas as pessoas a possibilidade de adquirir os conhecimentos dos valores, o interesse ativo e as atitudes necessárias para proteger e melhorar o meio ambiente. c) Induzir novas formas de conduta nos indivíduos, nos grupos sociais e na sociedade, em seu conjunto, a respeito do meio ambiente. d) Proporcionar a possibilidade de adquirir os conhecimentos dos valores, o interesse ativo e as atitudes necessárias para usufruir o meio ambiente. 85 4 Por fim, durante a Conferência de Tbilisi foram definidas cinco categorias de objetivos da Educação Ambiental. Assinale a alternativa que NÃO CORRESPONDE a uma destas categorias: a) Consciência. b) Conhecimento. c) Valoração. d) Habilidades. 5 As manifestações ambientais no cenário social tais como enchentes, deslizamentos de encostas, destruição de cidades por terremotos e maremotos estão garantindo reflexões sobre a relação entre sociedade e meio ambiente. A educação ambiental é um dos resultados desta reflexão, que convida a sociedade a ter uma postura consciente em relação ao usufruto dos recursos naturais. Sendo assim, sobre a educação ambiental, assinale a alternativa CORRETA: a) A educação ambiental começou a ser percebida como estratégia de minimização dos problemas ambientais a partir da publicação do Relatório Brundtland realizada em 1987. b) A educação ambiental é reconhecida como um movimento autoritário e que prioriza a realização pontual de ações voltadas à preservação do meio ambiente. c) A educação ambiental visa apontar soluções para a habitação popular, por meio da ocupação de encostas e margens de rios. d) A educação ambiental está orientada para estimular a utilização de recursos naturais, para evitar que produtos industrializados sejam reutilizados. 6 Em 1999, a Educação Ambiental foi transformada em lei no Brasil. Qual o número desta lei? a) Lei nº 7.795/27/04/89. b) Lei nº 8.795/27/04/99. c) Lei nº 9.795/27/04/99. d) Lei nº 10.795/27/04/89. 86 87 UNIDADE 2 SUSTENTABILIDADE OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS Ao final desta Unidade, você será capaz de: • conhecer as dimensões da sustentabilidade e a sua importância; • compreender a influência do cenário demográfico e do consumismo nos problemas ambientais; • compreender a importância do planejamento turístico para um desenvol- vimento sustentável; • compreender a necessidade dos estudos de capacidade de carga para um bom planejamento turístico. Esta Unidade está organizada em quatro tópicos, sendo que, em cada um deles, você encontrará atividades para uma maior compreensão das informações apresentadas.TÓPICO 1 – AS DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE TÓPICO 2 – A SOCIEDADE MODERNA E SEU PAPEL NA SUSTENTABILIDADE TÓPICO 3 – TURISMO E PLANEJAMENTO SUSTENTÁVEL TÓPICO 4 – CAPACIDADE DE CARGA NO TURISMO 88 89 TÓPICO 1 AS DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO No documento “Nosso Futuro Comum”, da Comissão Brundtland (WCED, 1987, p. 15), surge uma das mais conhecidas metas para desenvolvimento sustentável: “ele deve satisfazer as necessidades da geração presente sem comprometer as necessidades das gerações futuras”. Apesar desta definição não incluir todos os princípios básicos de sustentabilidade, ela se foca na questão do longo prazo que trata dos interesses intragerações: o foco no futuro está ligado ao tema, sendo que o aspecto central da definição do termo sustentabilidade é o balanceamento da proteção ambiental com o desenvolvimento, implicando assim que as considerações ambientais sejam incorporadas em todos os setores e também na arena política. (SCHMIDT, 2007). Uma forma de abordar estas questões é o conceito de Triple Bottom Line, enfatizando duas questões consideradas fundamentais para uma atuação orientada para a sustentabilidade: a integração dos três componentes do desenvolvimento sustentável – crescimento econômico, equidade social e proteção ao meio ambiente, e a integração entre os aspectos de curto e longo prazo. (ELKINGTON apud PETROBRAS, 1999). FIGURA 38 – CONCEITO DE SUSTENTABILIDADE SEGUNDO A ABORDAGEM TRIPLE BOTTOM LINE, EM SUAS TRÊS DIMENSÕES Crescimento econômico Proteção ambiental Comunidade e equidade Sustentabilidade corporativa Sustentabilidade econômica Sustentabilidade ambiental Sustentabilidade social FONTE: <http://www.hotsitespetrobras.com.br/diretrizes/index.html>. Acesso em: 31 jul. 2011. UNIDADE 2 | SUSTENTABILIDADE 90 O conceito de sustentabilidade seria formado por cinco componentes: a sustentabilidade social, que abrange a gritante desigualdade; a sustentabilidade econômica, voltada para a discrepância na concentração de bens e riquezas em poucos; a sustentabilidade ecológica, ligada à preservação da biodiversidade e à qualidade ambiental; a sustentabilidade espacial, que se refere à distribuição adequada dos assentamentos humanos e, consequentemente, a distribuição territorial e, por fim, a sustentabilidade cultural, voltada para a necessidade de se evitar conflitos culturais. A multiplicidade desses fatores se inter-relacionam diversificadamente e se exprimem obedecendo a características locais e regionais, porém, fatores como os aspectos normativos, administrativos, institucionais, da estrutura de gestão e grau de participação social podem acabar influenciando direta ou indiretamente as ações e decisões locais. FIGURA 39 – A INTER-RELAÇÃO ENTRE AS DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE Social Sócio-econômica Econômica Sócio- -ambiental Econômico- -ambiental Ambiental Sustentável FONTE: <http://turismocriativo.blogspot.com/2010/03/turismo-e-sustentabilidade-uma-visao. html>. Acesso em: 31 jul. 2011. Após esta breve introdução, vamos analisar separadamente cada uma das dimensões da sustentabilidade, de forma a compreender sua importância no contexto geral. IMPORTANT E Tenha em mente que, para alcançar o desenvolvimento sustentável, é imprescindível considerar conjuntamente as dimensões econômica, social, ecológica, cultural e espacial. FONTE: Adaptado de: Pereira; Chiari; Accioly (2010) TÓPICO 1 | AS DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE 91 2 AS DIMENSÕES SOCIAL E CULTURAL • SOCIAL Também conhecida como capital humano, consiste no aspecto social relacionado às qualidades dos seres humanos, como suas habilidades, dedicação e experiências. [...] A sustentabilidade social está baseada num processo de melhoria na qualidade de vida da sociedade, pela redução das discrepâncias entre a opulência e a miséria, por meio de diversos mecanismos, como nivelamento do padrão de renda, acesso à educação, moradia, alimentação, entre outros. Esta dimensão realça o papel dos indivíduos e da sociedade, estando intimamente ligada à noção de bem-estar. Os princípios da sustentabilidade social clarificam o papel dos indivíduos e a organização da sociedade e, tendo por objetivo a estabilidade social beneficiam também as gerações futuras. Estes são: • A garantia da autodeterminação e dos direitos humanos dos cidadãos. • A garantia de segurança e justiça através de um sistema judicial fidedigno e independente. • A luta constante pela melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, que não deve ser reduzida ao bem-estar material. • A promoção da igualdade de oportunidades. • A inclusão dos cidadãos nos processos de decisão social. • A promoção da autonomia da solidariedade e da capacidade de autoajuda dos cidadãos. • A garantia de meios de proteção social fundamentais para os indivíduos mais necessitados. DICAS Para conhecer a Declaração Universal dos Direitos Humanos acesse <http:// portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm>. FONTE: Schmidt (2007) FONTE: <http://pt.scribd.com/doc/50391669/19/Dimensoes-da-Sustentabilidade>. Acesso em: 8 ago. 2011. UNIDADE 2 | SUSTENTABILIDADE 92 FIGURA 40 – DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS FONTE: <http://pandora.jor.br/tag/onu/>. Acesso em: 31 jul. 2011. Com essa visão voltada para a racionalidade social, no ano 2000, 189 países se comprometeram com a Declaração do Milênio (veja o quadro a seguir), fato que demonstra a necessidade urgente de se alcançar a sustentabilidade social, ou seja, democratizar o acesso à informação e ao conhecimento como forma de promover a qualidade de vida dos indivíduos. QUADRO 5 – METAS DA DECLARAÇÃO DO MILÊNIO 1 – erradicar a extrema pobreza e fome; 2 – atingir o ensino básico universal; 3 – promover a igualdade de gênero e a autonomia das mulheres; 4 – reduzir a mortalidade infantil; 5 – melhorar a saúde materna; 6 – combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças; 7 – garantir a sustentabilidade ambiental; 8 – estabelecer parceria mundial para o desenvolvimento. FONTE: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAABmyYAC/capitulo-2-principios-dimensoes- sustentabilidade>. Acesso em: 31 jul. 2011. IMPORTANT E Planejar o desenvolvimento social requer um olhar para os ecossistemas nos quais se está inserido, levando sempre em consideração o manejo das atividades produtivas. FONTE: Justino (2010) TÓPICO 1 | AS DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE 93 Chamamos a atenção para a importância do planejamento, ou seja, “conhecer a realidade de cada localidade para propor estratégias de atuação com foco na resolução dos problemas.” (JUSTINO, 2010). Uma forma de avaliar a qualidade de vida das comunidades é através do acompanhamento dos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH). O conceito de Desenvolvimento Humano é a base do Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH), publicado anualmente pelo PNUD, e também do IDH. Ele parte do pressuposto de que para aferir o avanço de uma população não se deve considerar apenas a dimensão econômica, mas também outras características sociais, culturais e políticas que influenciam a qualidade da vida humana. DICAS Para saber mais sobre o RDH e o IDH, e também o ranking de países, estados e municípios, acesse o link <http://www.pnud.org.br/idh/>. • CULTURAL Os aspectos culturais e educacionais desempenham um papel fundamental para a sustentabilidade, pois incorporam os princípios básicos da sociedade e a sua forma de vida. Num mundo onde cada vez mais culturas se cruzam e se aproximam, muitas vezes, através de processos dolorosos, é fundamental encarar o desafio da diversidade cultural como forma de enriquecimento coletivo, salvaguardando especificidades culturais ao mesmo tempo em que se constroem sentimentos maiores e mais abrangentes com que os indivíduos se possam identificar. Esse pressuposto sugere a adoção de estratégias de desenvolvimento que priorizem os saberes tradicionais de manejo, ou seja, a valorização do local em detrimentodo global. Surge, assim, a necessidade de valorização das identidades nacionais, por meio da afirmação de sua cultura e conhecimento acumulado ao longo da evolução humana. FONTE: Marchesin (2010) FONTE: Justino (2010) FONTE: PNUD (2011) UNIDADE 2 | SUSTENTABILIDADE 94 Os princípios que regem a sustentabilidade cultural e educativa são a criação de condições para o desenvolvimento da personalidade de adolescentes e jovens através de: • A garantia de condições mínimas como estruturas apropriadas, condições de bem-estar, solidariedade, justiça e liberdade. • A transmissão de valores fundamentais e do sentido de responsabilidade e ordem social. • A atenção dada pela sociedade à complexidade dos sistemas e à dinâmica de mudanças criando competências para enfrentar os seus riscos e desafios. • Facilitar a educação com objetivos profissionais e investir no desenvolvimento de um sistema de educação sólido entre gerações. Cabe ainda considerar, nesse aspecto, a sabedoria de povos tradicionais, como camponeses e indígenas, bem como o patrimônio cultural (material e imaterial) constituído na formação dos povos, como, por exemplo, a arquitetura e a gastronomia local, respectivamente. Uma das formas de manifestações da dimensão cultural é através do conceito de Patrimônio Cultural Imaterial, definido pela UNESCO como "as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas - com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural." O Patrimônio Imaterial é transmitido de geração em geração e constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade, contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana. (IPHAN, 2011). FONTE: Marchesin (2010) FONTE: Justino (2010) FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao. do?id=10852&retorno=paginaIphan>. Acesso em: 8 ago. 2011. TÓPICO 1 | AS DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE 95 FIGURA 41 – A CAPOEIRA É UM EXEMPLO DE PATRIMÔNIO IMATERIAL FONTE: <http://orapronobisdopio.blogspot.com/2010/10/patrimonio-cultural-imaterial.html>. Acesso em: 31 jul. 2011. DICAS Para saber mais sobre Patrimônio Cultural Imaterial, acesse <http://www.iphan. gov.br/montarPaginaSecao.do;jsessionid=05479952BF963E35809C62467072CAC2?id=10852 &retorno=paginaIphan>, no site do IPHAN, <http://www.brasil.gov.br/sobre/cultura/patrimoni o/patrimonio-material-e-imaterial> no Portal Brasil e <http://pt.wikipedia.org/wiki/ Patrim%C3%B4nio_cultural_imaterial no Wikipedia>. 3 AS DIMENSÕES ECOLÓGICA, AMBIENTAL E TERRITORIAL • DIMENSÃO ECOLÓGICA E AMBIENTAL Quando se pensa em sustentabilidade, normalmente a conservação ambiental é a primeira palavra que vem à mente. As questões ambientais estiveram sempre no cerne do conceito de sustentabilidade e também sempre que se verificavam perigos iminentes para a sobrevivência da espécie humana, já que, sendo o ambiente fundamental para a vida, é natural que estes aspectos tenham dominado a discussão inicial em volta da sustentabilidade. Até porque é contemporânea das primeiras percepções de risco ambiental e ameaças à vida no planeta. Os princípios fundamentais associados à sustentabilidade ambiental são: • A restrição ao uso de energias não renováveis (como o petróleo) que só devem ser usadas mediante compromisso de criação proporcional de fontes de energia alternativas. • O uso cuidadoso das energias renováveis que nunca devem ser consumidas de forma a exceder a sua capacidade de regeneração. UNIDADE 2 | SUSTENTABILIDADE 96 • A limitação de descarga de substâncias no meio ambiente que não deve ultrapassar a capacidade de assimilação do mesmo. • Os riscos e o perigo para a vida humana provocados pelo Homem devem ser evitados. A dimensão ecológica pode ser dividida em três subdimensões: a primeira foca-se na ciência ambiental e inclui ecologia, diversidade do habitat e florestas. A segunda inclui qualidade do ar e da água (poluição), a proteção da saúde humana por meio da redução de contaminação química e da poluição. A terceira foca-se na conservação e na administração de recursos renováveis e não renováveis. Pode ser chamada de sustentabilidade dos recursos. NOTA Falar em sustentabilidade significa pensar nela incluindo o ponto de vista ecológico. Para tal, é fundamental perceber como se processa a vida sob todos os aspectos, reconhecendo sua importância e o significado de cada ser, bem como nossa responsabilidade para a manutenção da mesma. (JUSTINO, 2010). O quadro a seguir mostra as alavancas que podem incrementar a dimensão ecológica: QUADRO 6 – ALAVANCAS DE INCREMENTAÇÃO DA DIMENSÃO ECOLÓGICA • Aumento da capacidade de carga da Espaçonave Terra por meio da engenhosidade ou, em outras palavras, intensificação do uso dos recursos potenciais dos vários ecossistemas - com um mínimo de dano aos sistemas de sustentação da vida - para propósitos socialmente válidos. • Limitação do consumo de combustíveis fósseis e de outros recursos e produtos facilmente esgotáveis ou ambientalmente prejudiciais, substituindo-os por recursos ou produtos renováveis e/ou abundantes e ambientalmente inofensivos. • Redução do volume de resíduos e de poluição, por meio da conservação e reciclagem de energia e recursos. • Autolimitação do consumo material pelos países ricos e pelas camadas sociais privilegiadas em todo o mundo. • Intensificação da pesquisa de tecnologias limpas e que utilizem de modo mais eficiente os recursos para a promoção do desenvolvimento urbano, rural e industrial. FONTE: Marchesin (2010) FONTE: Schmidt (2010) TÓPICO 1 | AS DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE 97 FONTE: <http://www.cidade.usp.br/projetos/dicionario/verb12/0012/>. Acesso em: 31 jul. 2011. • Definição das regras para uma adequada proteção ambiental, concepção da máquina institucional, bem como a escolha do conjunto de instrumentos econômicos, legais e administrativos necessários para assegurar o cumprimento das regras. IMPORTANT E Devemos ressaltar que, embora o meio ambiente seja o principal motivador dos conceitos de sustentabilidade, ele não é o único, dependendo de todas as ações vinculadas nas outras dimensões. FIGURA 42 – A DIMENSÃO ECOLÓGICA É A ORIENTADORA DAS AÇÕES SUSTENTÁVEIS FONTE: <https://aobservadora.wordpress.com/2007/01/25/ue-e-poluicao-planos- para-um-paradigma-perdido/>. Acesso em: 31 jul. 2011. • DIMENSÃO TERRITORIAL OU ESPACIAL De acordo com Justino (2010), falar em sustentabilidade espacial significa elencar fatos como concentração populacional, densidade demográfica, urbanização. Esta dimensão é voltada a uma configuração rural-urbana mais equilibrada e a uma melhor distribuição territorial de assentamentos humanos e atividades econômicas, com ênfase nas seguintes questões: • Concentração excessiva nas áreas metropolitanas. • Destruição de ecossistemas frágeis, mas vitalmente importantes, por processos de colonização descontrolados. UNIDADE 2 | SUSTENTABILIDADE 98 • Promoção de projetos modernos de agricultura regenerativa e agroflorestamento, operados por pequenos produtores, proporcionando para isso o acesso a pacotes técnicos adequados, ao crédito e aos mercados. • Ênfase no potencial para industrialização descentralizada, associada a tecnologias de nova geração (especialização flexível), com especial atenção às indústrias de transformação de biomassa e ao seu papel na criação de empregos rurais não agrícolas. • Estabelecimento de uma rede de reservas naturais e de biosfera para proteger a biodiversidade. A concentração populacional em torno das grandes cidades tem grande responsabilidade nos problemas ambientais. Problemas como poluição atmosférica, contaminação do lençol freático, consumo excessivo de água, geraçãode resíduos, precariedade dos assentamentos humanos, segregação socioespacial, entre outros, são mais acentuados nos centros urbanos, assim como a sobrecarga nos sistemas de abastecimento de água e energia e a deficiência no esgotamento sanitário. NOTA Tratar dessas questões significa considerar que o processo de urbanização traz consigo a necessidade do planejamento para atender às demandas dos assentamentos humanos, que se instalam nas metrópoles e em seu entorno. (JUSTINO, 2010). Dessa forma, é imprescindível mitigar os efeitos desse aglomerado populacional por meio de iniciativas que considerem aspectos como: possibilidades de fixação das comunidades tradicionais em suas regiões de origem, garantindo a elas condições de sobrevivência; democratização do espaço para o assentamento humano, oferecendo condições necessárias de educação, moradia, mobilidade, transporte, saúde e segurança; tratamento adequado e técnico para abastecimento de água, energia, destinação dos resíduos sólidos, qualidade do ar, distribuição racional dos equipamentos públicos, acessibilidade e inúmeros outros, menos óbvios, porém não menos importantes. FONTE: Marchesin (2010) FONTE: Justino (2010) FONTE: Justino (2010) TÓPICO 1 | AS DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE 99 4 A DIMENSÃO ECONÔMICA Também conhecida como capital artificial, inclui não só a economia formal, como também as atividades informais que proveem serviços para os indivíduos e grupos e aumentam, assim, a renda monetária e o padrão de vida dos indivíduos. A sustentabilidade econômica pode ser alcançada pela alocação eficiente dos recursos e pelas modificações dos atuais mecanismos de orientação dos investimentos. FIGURA 43 – A NATUREZA PODE SER RENTÁVEL DENTRO DOS PADRÕES DE SUSTENTABILIDADE FONTE: <http://engecoambiental.wordpress.com/2010/07/01/credito-de-carbono/>. Acesso em: 31 jul. 2011. A sustentabilidade ecológica só pode ser alcançada por sociedades que desenvolvam comportamentos economicamente sustentáveis, sendo que seus princípios residem, sobretudo no(a): • organização de estruturas econômicas de longo prazo que devem responder às exigências de sistemas estáveis; • preservação do capital real, como infraestruturas e edifícios; • estabilização do valor monetário, prevenindo a inflação; • fato de os custos dos benefícios e serviços deverem ser pagos pela geração que deles se beneficia; • restrição parcial ou total do endividamento, pois cada geração deve, pelo menos, preservar o seu próprio capital recebido da geração dos seus pais e passá-lo à geração seguinte; • uso eficaz dos recursos; FONTE: Schmidt (2007) UNIDADE 2 | SUSTENTABILIDADE 100 • garantia de todos os serviços econômicos serem produzidos de forma transparente e tendo em conta todas as despesas; • fato de os impostos pagos por cidadãos e empresas serem orientados para a sua capacidade de pagamento; • negociação de pactos intergerações justos, que não coloquem em desvantagem as gerações futuras. O modelo econômico atual aponta para o crescimento e não para o desenvolvimento como premissa para o alcance da sustentabilidade. Segundo a autora, é importante destacar que, para atingir a sustentabilidade econômica, é imprescindível a igualdade na distribuição dos recursos, revendo a estrutura econômica vigente, ou seja, uma sociedade onde todos os seus membros estivessem em situação de igualdade. DICAS Acesse o link <http://www.ufcg.edu.br/~edufcg/filestodownload/revistas/ E&DS_Ano_1_N_0_Junho_2007.pdf> para ter acesso à revista eletrônica Economia e Desenvolvimento Sustentável. LEITURA COMPLEMENTAR PIB E BEM-ESTAR Fernando de Aquino Fonseca Neto A definição mais aceita de economia há muitas décadas seria de "ciência do bem-estar", o que já estabelece o seu objetivo mais consensual. Ao mesmo tempo, a estatística mais valorizada pelos economistas tem sido o Produto Interno Bruto (PIB), não faltando quem defenda as suas propriedades enquanto indicador de bem-estar. De fato, altos níveis de PIB per capita estão associados a padrões de vida mais satisfatórios para a população em geral, embora, em vários casos, como em grande parte dos países árabes, na Índia e no Brasil, os padrões de vida da maioria da população não cheguem a acompanhar os níveis de PIB per capita observados. FONTE: Marchesin (2010) FONTE: Justino (2010) TÓPICO 1 | AS DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE 101 Contudo, se em termos de níveis essa associação com o bem-estar é deficiente, ela fica ainda maior quando se fala em termos de crescimento. O crescimento do PIB é apropriado por parcelas maiores ou menores da população, embora quanto maiores essas expansões, mais fácil para a política econômica disseminar os ganhos. Mesmo assim, é inegável que uma mesma taxa de crescimento agregado possa gerar benefícios totalmente diferentes - pode se concentrar no aumento dos lucros dos bancos, na produção de bens de luxo com limitada geração de empregos, na produção de commodities intensivas em recursos naturais para o entesouramento de divisas ou se concentrar em obras de infraestrutura, na produção de bens de consumo popular com alta geração de empregos, na expansão da agricultura familiar. Quanto ao argumento de que é melhor esperar o bolo crescer, ou seja, sacrificar as gerações presentes em benefício das futuras, várias experiências nessa linha sequer garantiram as próprias promessas. Certamente, os casos de níveis ou elevações de bem-estar mais restritos decorreriam de distribuições menos favoráveis da renda gerada. Sobre tal questão, são impressionantes os resultados relatados por André Lara Resende, em seu artigo “Desigualdade e Bem-Estar”, publicado neste jornal, no caderno Eu & Fim de Semana, em 27.01.2011: O ponto crucial do argumento é que, independentemente do nível de renda, a pobreza relativa contribui para a perda de bem-estar. [...] A evidência dos estudos feitos nas últimas décadas, em universidades e institutos de pesquisa por toda parte no mundo, sugere que todos os possíveis indicadores de bem-estar, sejam relativos tanto à saúde, física e mental, quanto a questões sociais, como delinquência juvenil, gravidez adolescente, desempenho escolar, criminalidade, entre muitos outros, estão invariavelmente correlacionados com o nível de desigualdade social. O próprio autor reconhece que “não há como pretender declarar vitória incontestável, com base exclusivamente na evidência empírica”. De qualquer modo, não se podem desprezar essas evidências de que as desigualdades importam, sobretudo nos níveis que persistem no Brasil, para quaisquer fluxos absolutos de renda. Por outro lado, fatores como justiça, meritocracia e estímulos à eficiência, que dependem, em grande medida, de resultados de escolhas, habilidades e empenhos individuais, não podem ser negligenciados. Assim, em função das dificuldades de se identificar um padrão de distribuição de renda adequado, partiu-se para indicadores mais diretos de bem-estar. Nessa linha despontou o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), contemplando as dimensões de renda, saúde e educação. Observe-se que o IDH, ainda que mais abrangente que o PIB per capita como indicador de bem-estar, na dimensão renda permanece sem considerar a sua distribuição, e na dimensão educação não é sensível à sua qualidade, considerando apenas os anos de estudo. UNIDADE 2 | SUSTENTABILIDADE 102 A ênfase na distribuição de oportunidades, em detrimento da distribuição de resultados, mantendo-se uma rede de proteção social mínima, vem obtendo crescente aceitação no debate público. Nesse sentido, indicadores que revelem a geração de oportunidades seriam bastante proveitosos. Mesmo expressando também resultados, os candidatos mais adequados no país hoje seriam os empregos formais, compilados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) em suas bases de dados da Rais e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged),recentemente harmonizadas. Tais bases permitem a montagem de séries mensais de empregos regidos pela CLT, com dados censitários, abrangência nacional e possibilidade de diversas aberturas, geográficas, setoriais e outras. Não se trata, contudo, de menosprezar a busca pelo crescimento do PIB, que deve ser um objetivo prioritário, mas por meio da viabilização e estímulo aos investimentos, tanto em capital físico quanto humano. Para tanto, seriam condições necessárias mercados, instituições e disponibilidade de recursos, locais ou importáveis, satisfatórios para iniciar o processo. Entretanto, importa ressaltar que, mesmo tais condições não garantiriam fluxos vigorosos e duradouros de investimentos. Fator crucial seria empreendedores dispostos a enfrentar as incertezas dos retornos futuros, ainda maiores em um país com peculiaridades que podem fazer a diferença, positiva ou negativamente. Vale ponderar, também, que políticas públicas que visem apenas incrementar a agregação de valor em sua geração, mesmo pretendendo redistribuí-lo por meio de políticas adicionais em um segundo momento, correm o risco de não lograr essa pretendida disseminação de bem-estar, o que levaria a um processo de "indianização" da economia brasileira. Políticas macroeconômicas que resultem em crescimentos da demanda agregada superiores à capacidade produtiva corrente favorecem a elevação e descontrole da inflação, que é, ao mesmo tempo, um imposto regressivo e um inibidor do crédito ao consumidor e dos investimentos. Portanto, se o objetivo final é, de fato, a maximização do bem-estar, o mais sensato seria ajustar a demanda agregada aos níveis de utilização adequados da capacidade produtiva, observada ainda a redução das desigualdades, ao menos para o caso do Brasil, assim como a sustentabilidade ambiental, procurando gerar o máximo de empregos de melhor qualidade, como os formais, tanto imediatos quanto oriundos de desdobramentos de cadeias produtivas com tal potencialidade. FONTE: <http://www.cofecon.org.br/index.php?option=com_ content&task=view&id=2335&Itemid=99>. Acesso em: 8 ago. 2011. TÓPICO 1 | AS DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE 103 5 AS DIMENSÕES POLÍTICAS No debate contemporâneo sobre a proteção da natureza devemos resgatar a dimensão cultural e política que está submersa na ideia de sustentabilidade, visto que a sustentabilidade ambiental está estreitamente relacionada com a democracia e a justiça e sua realização irá exigir a construção de uma cultura política que promova justamente tais valores, sob uma base ecológica. O conceito de desenvolvimento sustentável não apenas pressupõe a existência de necessidades fundamentais para o ser humano, como também eleva essas necessidades à condição de princípio normativo para a sua visão de justiça, ou seja, uma sociedade justa seria aquela que satisfaz as necessidades humanas básicas. Portanto, um desafio fundamental para o século XXI é a construção de novas relações entre pessoas comuns e as instituições – especialmente as de governo – que influenciam diretamente as suas vidas. Ao analisar estes conceitos, Acselrad e Leroy (1999 apud SILVA; SHIMBO, 2004 p. 3) destacam as definições para o desenvolvimento sustentável dentro do debate sobre as novas premissas da sustentabilidade democrática: Sustentabilidade tende a ser entendida como o processo pelo qual as sociedades administram as condições materiais de sua reprodução, redefinindo os princípios éticos e sociopolíticos que orientam a distribuição de seus recursos ambientais... Observam-se as dimensões política e social, quando a sustentabilidade é construída através de sujeitos políticos atuantes em seu ambiente socioeconômico-cultural, recebendo do poder público possibilidades no controle de recursos para decisões políticas. As seguintes estratégias capazes de garantir uma sustentabilidade comprometida com a justiça social, nos seus aspectos distributivos e espaciais: • o resgate das funções sociais do Estado para garantir o direito à cidade (atendimento aos direitos básicos, a construção da cidadania e combate à especulação e privatização dos bens naturais e das ações públicas a partir da construção de políticas públicas e de sua democratização); • a defesa pelos atores em considerar o espaço como instância social onde se possam construir novos modelos de desenvolvimento, baseados no planejamento sociopolítico que favoreçam a distribuição de renda, justiça social e mecanismos que garantam acesso menos desigual aos recursos naturais e ambientais que integram a variedade de meios construídos do espaço urbano brasileiro; • a gestão democrática em todos os níveis da federação para possibilitar a participação da população no planejamento, na operação e governo das cidades, das metrópoles e no desenvolvimento da política urbana nacional. FONTE: Lenzi (2010) FONTE: Grazia et al. (2004 apud SILVA; SHIMBO, 2004) UNIDADE 2 | SUSTENTABILIDADE 104 Durante a Rio 92 foi formalizado um ambicioso plano de ações e implementação das estratégias do desenvolvimento sustentável, intitulado Agenda 21. Este documento pode ser considerado um compromisso internacional de alta cúpula governamental e não governamental que assumiu o desafio de incorporar nos países participantes, em suas políticas públicas, princípios, que desde já, os colocavam a caminho deste novo modelo de desenvolvimento. FIGURA 44 – LOGOTIPO DA ONU PARA A AGENDA 21 FONTE: <http://www.suapesquisa.com/ecologiasaude/agenda21.htm> Acesso em: 31 jul. 2011. Ao longo de sua negociação, a Agenda 21 global incorporou algumas características que permitiram, depois de 1992, que fosse interpretada como “um produto de processo participativo de planejamento das ações e políticas para a transformação do padrão de desenvolvimento e governança dos interesses e conflitos humanos, lastreado no diálogo e pactuação entre atores sociais, com base no ideário da sustentabilidade. A Agenda 21 é a mais ampla experiência de planejamento participativo desenvolvida no país no período posterior à Constituição Federal de 1988. Embora não se neguem os esforços realizados para tornar realidade a criação de agendas 21, a sua visibilidade ficou parcialmente ofuscada pelos acordos hard law (que criam obrigações jurídicas para as partes) – Convenção sobre Mudanças Climáticas e Convenção sobre Biodiversidade – e também, parcialmente, pelos outros dois produtos soft law da Rio 92 – Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e Declaração das Florestas. Em 1997, quando uma Sessão Especial da Assembleia Geral das Nações Unidas – conhecida como Rio+5 – foi realizada para revisar a implementação da Agenda 21 uma série de lacunas foram identificadas, particularmente com relação às dificuldades para alcançar equidade social e reduzir a pobreza. Com isso, em dezembro de 2000, a Assembleia Geral das Nações Unidas resolveu realizar, em 2002, a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável em FONTE: Talon (2009) TÓPICO 1 | AS DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE 105 Johanesburgo, na África do Sul. Na mesma oportunidade, a Resolução da Assembleia Geral incumbiu a Comissão de Desenvolvimento Sustentável de organizar a Cúpula e coordenar uma ampla revisão dos progressos alcançados na implementação da Agenda 21, desde sua aprovação, em 1992. A Resolução estipulava, ainda, que a revisão deveria focar-se nas realizações e nas áreas que requerem esforços adicionais para implementar a Agenda 21. Tais medidas parecem ter resultados, visto que após 2002, um grande número de novas agendas está sendo formulado e/ou implementado. DICAS Para saber mais sobre a Agenda 21, acesse <http://www.mma.gov.br/sitio/index. php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=18&idConteudo=597> e <http://pt.wikipedia.org/wiki/ Agenda_21>. A legislação brasileira atual, especificamente, o Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257 de julho de 2001) estabelece em suas Diretrizes Gerais, Capítulo I, Artigo 2º. “a garantia do direito a cidadessustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer para as presentes e futuras gerações”, sendo este o conceito legal central de sustentabilidade em vigor no Brasil. A busca pela justiça social e equidade representa um ponto em comum entre as políticas urbanas, sociais e ambientais, sendo o Estatuto da Cidade um excelente exemplo de confluências desses fatores e que assumiu uma articulação entre as preocupações urbanísticas e ambientais através de instrumentos como o Estudo de Impacto de Vizinhança, além de reforçar outros instrumentos de mensuração e avaliação de impacto já consolidados pela área ambiental como o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). A sustentabilidade deve ser vista como um conceito normativo que se interliga com a construção do futuro, indicando que os valores políticos modernos precisam ser rearticulados a partir das exigências de uma época que anseia por um novo olhar e uma nova política para o planeta. Sustentabilidade ambiental é um conceito que prescreve como o futuro deveria ser e se projeta como uma parte integrante e fundamental de qualquer utopia que se possa acalentar nos dias de hoje. FONTE: Adaptado de: Talon (2009) FONTE: Adaptado de: Pereira et al. (2010) FONTE: Adaptado de Lenzi (2010) UNIDADE 2 | SUSTENTABILIDADE 106 QUADRO 7 – OS TREZE PRINCÍPIOS DE UMA COMUNIDADE SUSTENTÁVEL 1. Não desperdiça recursos e produz pouco lixo. 2. Limita a poluição de forma que possa ser absorvida pelos sistemas naturais. 3. Valoriza e protege a natureza. 4. Atende às necessidades locais localmente, sempre que possível. 5. Provê casa, comida e água limpa para todos. 6. Dá oportunidades para que todos tenham um trabalho do qual gostem. 7. Valoriza o trabalho doméstico. 8. Protege a saúde de seus habitantes, enfatizando a higiene e a prevenção. 9. Provê meios de transporte acessíveis para todos. 10. Dá segurança para que todos vivam sem medo de crimes ou perseguições. 11. Dá a todos acesso igual às oportunidades. 12. Permite que todos tenham acesso ao processo de decisão. 13. Dá a todos oportunidades de cultura, lazer e recreação. FONTE: <http://www.cidade.usp.br/projetos/dicionario/verb12/0012/>. Acesso em: 31 jul. 2011. 107 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, vimos que: • O desenvolvimento sustentável deve satisfazer as necessidades da geração presente sem comprometer as necessidades das gerações futuras. • O conceito de Triple Bottom Line enfatiza que a sustentabilidade provém da integração dos três componentes do desenvolvimento sustentável – crescimento econômico, equidade social e proteção ao meio ambiente e a integração entre os aspectos de curto e longo prazo. • A sustentabilidade social está baseada num processo de melhoria na qualidade de vida da sociedade, pela redução das discrepâncias entre a opulência e a miséria, por meio de diversos mecanismos, como nivelamento do padrão de renda, acesso à educação, moradia, alimentação, entre outros. • Planejar o desenvolvimento social requer um olhar para os ecossistemas nos quais se está inserido, levando sempre em consideração o manejo das atividades produtivas. • Os aspectos culturais e educacionais desempenham um papel fundamental para a sustentabilidade, pois incorporam os princípios básicos da sociedade e a sua forma de vida. • É fundamental encarar o desafio da diversidade cultural como forma de enriquecimento coletivo, salvaguardando especificidades culturais ao mesmo tempo em que se constroem sentimentos maiores e mais abrangentes com que os indivíduos se possam identificar. • Falar em sustentabilidade significa pensar nela incluindo o ponto de vista ecológico, sendo fundamental perceber como se processa a vida sob todos os aspectos, reconhecendo sua importância e o significado de cada ser, bem como nossa responsabilidade para a manutenção da mesma. • Embora o meio ambiente seja o principal motivador dos conceitos de sustentabilidade, ele não é o único, dependendo de todas as ações vinculadas nas outras dimensões. • Sustentabilidade espacial é voltada a uma configuração rural-urbana mais equilibrada e a uma melhor distribuição territorial de assentamentos humanos e atividades econômicas. 108 • A concentração populacional em torno das grandes cidades tem grande responsabilidade nos problemas ambientais, e tratar dessas questões significa considerar que o processo de urbanização traz consigo a necessidade do planejamento para atender às demandas dos assentamentos humanos, que se instalam nas metrópoles e em seu entorno. • A dimensão econômica inclui não só a economia formal, como também as atividades informais que proveem serviços para os indivíduos e grupos e aumentam, assim, a renda monetária e o padrão de vida dos indivíduos. • Para atingir a sustentabilidade econômica, é imprescindível a igualdade na distribuição dos recursos, revendo a estrutura econômica vigente, ou seja, uma sociedade onde todos os seus membros estivessem em situação de igualdade. • A sustentabilidade ambiental está estreitamente relacionada com a democracia e a justiça e sua realização irá exigir a construção de uma cultura política que promova justamente tais valores, sob uma base ecológica. • O conceito de desenvolvimento sustentável não apenas pressupõe a existência de necessidades fundamentais para o ser humano, como também eleva essas necessidades à condição de princípio normativo para a sua visão de justiça, ou seja, uma sociedade justa seria aquela que satisfaz as necessidades humanas básicas. • A Agenda 21 pode ser considerada um compromisso internacional de alta cúpula governamental e não governamental que assumiu o desafio de incorporar nos países participantes, em suas políticas públicas, princípios, que desde já, os colocavam a caminho deste novo modelo de desenvolvimento. • O Estatuto da Cidade estabelece a garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer para as presentes e futuras gerações. • A sustentabilidade ambiental é um conceito que prescreve como o futuro deveria ser e se projeta como uma parte integrante e fundamental de qualquer utopia que se possa acalentar nos dias de hoje. 109 AUTOATIVIDADE 1 Ao considerar todas as dimensões da sustentabilidade, percebemos a complexidade deste assunto, e como a humanidade ainda está longe de alcançar este modelo ideal de desenvolvimento. Porém atitudes locais podem, aos poucos, fortalecer esta nova política, a começar pela sua empresa ou pela sua comunidade. Pensando nisso, como você poderia inserir estas dimensões dentro da sua realidade profissional ou em sua comunidade? 2 Segundo Sachs (1995), o conceito de sustentabilidade seria formado por cinco componentes. Quais são eles? a) A sustentabilidade social, a sustentabilidade econômica, a sustentabilidade ecológica, a sustentabilidade espacial, e a sustentabilidade cultural. b) A sustentabilidade social, a sustentabilidade astronômica, a sustentabilidade ecológica, a sustentabilidade espacial, e a sustentabilidade cultural. c) A sustentabilidade social, a sustentabilidade econômica, a sustentabilidade ecológica, a sustentabilidade biológica, e a sustentabilidade cultural. d) A sustentabilidade social, a sustentabilidade astronômica, a sustentabilidade ecológica, a sustentabilidade biológica, e a sustentabilidade cultural. 3 Assinale a alternativa que não contenha uma “Alavanca de incrementação da dimensão ecológica: a) Aumento da capacidade de carga da Espaçonave Terra por meio da engenhosidade ou, em outras palavras, intensificação do uso dos recursos potenciais dos vários ecossistemas - com um mínimo de dano aos sistemas de sustentação da vida - para propósitos socialmente válidos. b) Reduçãodo volume de resíduos e de poluição, por meio da conservação e reciclagem de energia e recursos. c) Intensificação da pesquisa de tecnologias limpas e que utilizem de modo mais eficiente os recursos para a promoção do desenvolvimento urbano, rural e industrial. d) Limitação do consumo de combustíveis renováveis, substituindo-os por combustíveis fósseis. 110 4 Segundo os princípios das dimensões da sustentabilidade, são metas da Declaração do Milênio: I– Erradicar a extrema pobreza e fome. II– Atingir o ensino básico universal. III– Promover a igualdade de gênero e a autonomia das mulheres. IV– Reduzir a mortalidade infantil. V– Melhorar a saúde materna. VI– Combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças. VII– Garantir a sustentabilidade ambiental. VIII– Estabelecer parceria mundial para o desenvolvimento. Assinale a alternativa CORRETA: a) As afirmativas I, II e III estão corretas. b) Todas as afirmativas estão corretas. c) As afirmativas I, II, IV, VI, VII e VIII estão corretas. d) As afirmativas I, III, V, VI, VII e VIII estão corretas. 5 Assinale a alternativa que contenha um exemplo de patrimônio cultural imaterial: a) A mata nativa. b) Os rios. c) A capoeira. d) As igrejas. 6 A sustentabilidade ecológica só pode ser alcançada por sociedades que desenvolvam comportamentos economicamente sustentáveis, sendo que seus princípios residem, entre outros, no(a): a) Uso eficaz dos recursos. b) Garantia de todos os serviços econômicos serem produzidos de forma transparente e tendo em conta algumas despesas. c) Fato de os impostos pagos por cidadãos e empresas não serem orientados para a sua capacidade de pagamento. d) Negociação de pactos intergerações injustos, que coloquem em desvantagem as gerações futuras. 111 TÓPICO 2 A SOCIEDADE MODERNA E SEU PAPEL NA SUSTENTABILIDADE UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Vivemos hoje em um mundo de modismos arraigados por conceitos estereotipados de feio e belo, de divisão em seres com inteligência superior e inferior e tantas outras subjetividades criadas para afirmar o poder do capitalismo. Essas características tornaram-se mais evidentes com o advento da globalização, impulsionada pelo desenvolvimento tecnológico, favorecendo a igualdade de costumes, hábitos e atitudes, entre outras que, ao padronizar estilos de vida, leva à desconsideração dos saberes e manifestações tradicionais do conteúdo local por não atenderem à necessidade de produção massificada. Além da perda cultural que isto significa, tem-se uma celebração ao consumismo, visto que todos querem ter ou ser como os modelos impostos pela sociedade de consumo. Desvalorizam-se as tradições e direcionam o consumidor para as novidades, o modismo, que tem como consequência o aumento da geração de lixo. Num mundo que está prestes a atingir 7 bilhões de habitantes, isto gera consequências danosas ao meio ambiente. DICAS Para uma interessante aula sobre as consequências do consumismo, assista ao vídeo “A História das Coisas”, de Annie Leonard neste link: <http://video.google.com/ videoplay?docid=-7568664880564855303>. Para ter acesso aos outros vídeos de temas semelhantes, acesse o link <http://www. storyofstuff.com/> (em inglês). FONTE: Justino (2010) UNIDADE 2 | SUSTENTABILIDADE 112 FIGURA 45 – GERAÇÃO DE POLUENTES NO CICLO PRODUTIVO FONTE: Adaptado de: <http://www.storyofstuff.com>. Acesso em: 2 ago. 2011. O ser humano tem um imenso impacto na Terra. Há tantos de nós, e cada indivíduo usa tanta energia e tantos recursos, que nossas atividades influenciam virtualmente tudo na natureza. A maior parte da superfície terrestre e, crescentemente, dos oceanos, tem passado ao controle direto da humanidade. Porém, este cenário não é novo, está se formando desde o início de nossa história. A primeira responsável, especificamente no Brasil, pela degradação ambiental foi a expansão colonial, criando aqui um espaço de exploração ecológica e humana. Depois disto, seguiu-se uma série de ciclos econômicos que se revezaram no uso inadequado dos recursos naturais, conforme o quadro a seguir. QUADRO 8 – CICLOS ECONÔMICOS BRASILEIROS Ciclo Econômico: exploração do pau-brasil, com extração de uma única espécie, com pouco desmatamento da cobertura vegetal. Quase levou à extinção desta espécie. Ciclo da Cana-de-açúcar: em SP (São Vicente) e em Pernambuco sob o comando de Duarte Coelho, destruição da Mata Atlântica, além da queima da floresta para as caldeiras. Ciclo do Gado: ampliou a colonização do Brasil, penetrando inicialmente pelo Rio São Francisco e depois se espalhando pelo país todo. Uso de pastagens nativas e desmatamento de áreas florestadas para expansão das pastagens. Ciclo do Ouro: final dos séculos XVII e Séc. XVIII. A economia colonial brasileira esteve centrada na extração deste metal, nas minas descobertas pelos bandeirantes paulistas nos sertões de Minas Gerais. Extração Produção Distribuição Consumo Descarte FONTE: Ricklefs (2003) TÓPICO 2 | A SOCIEDADE MODERNA E SEU PAPEL NA SUSTENTABILIDADE 113 Ciclo do Café: final do século XIX. Foi plantado inicialmente na Amazônia, mas se adaptou melhor no Sudeste. Usou-se a mesma lógica predatória de eliminar florestas para se fazer a lavoura e, assim que a terra dava sinais de esgotamento, eliminar mais florestas. A contribuição que o ciclo do café deu ao país foi que, a partir de sua riqueza, se processou o acúmulo de capitais necessários para o próximo ciclo: a industrialização. Ciclo da Industrialização: Aberturas de novas estradas e consumo cada vez maior dos recursos da natureza e início dos processos de poluição. Grande consumo de madeira para abastecer as caldeiras das máquinas a vapor, queimadas causadas pela passagem dos trens (perda de brasas pelo caminho). Ciclo da Tecnologia: o rápido avanço tecnológico gera uma quantidade gigantesca de lixo eletrônico, em uma velocidade condizente com modismos e consumismo desenfreado. FONTE: Adaptado de: Souza (2003) Qual é o cenário atual do desenvolvimento humano e econômico, e quais as suas consequências? É o que veremos nos itens a seguir. 2 CENÁRIO DEMOGRÁFICO DA SOCIEDADE MODERNA Desde que a espécie humana começou a compreender o rápido aumento em seus próprios números, o crescimento populacional humano tem sido causa de grandes preocupações, o que levou ao desenvolvimento de técnicas matemáticas para prever o crescimento de populações – a disciplina da demografia, o estudo de populações. A população humana ultrapassou a marca de 6 bilhões em 12 de outubro de 1999. O crescimento da população humana durante os últimos dez mil anos, desde o advento da agricultura, tem sido um dos desenvolvimentos ecológicos mais significativos da história da Terra. Ele se compara como os maciços deslocamentos causados pela glaciação durante o último milhão de anos e com as extinções globais causadas pelo impacto de um cometa há 65 milhões de anos. Um dos mais marcantes aspectos do crescimento da população humana é que sua taxa continuou a crescer mesmo quando a população se tornou amontoada. O crescimento da população foi muito lento até o desenvolvimento da agricultura, quando então deveria ser de 3-5 milhões. A abundância de alimentos produzidos pela agricultura removeu um fator limitante, que então aumentou cem vezes até o início do século dezoito, mesmo com eventuais quedas, como as causadas pela peste bubônica. A Revolução Industrial, que começou por volta de 1700, proporcionou outro ímpeto para o crescimento da população humana, particularmente com melhorias na saúde pública e na medicina, e aumento no bem-estar material. Durante os 300 UNIDADE 2 | SUSTENTABILIDADE 114 anos de industrialização, os humanos cresceram de talvez 300 milhões para 6 bilhões em 1999, aproximadamente um aumento de vinte vezes, ou uma taxa de crescimento exponencial média de quase 100% por século (1% por ano). Essa duplicação da população de 3 para 6 bilhões de pessoas levou apenas 40 anos e apenas 12 para alcançar7 bilhões em 2011. FIGURA 46 – TAXA DE CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO MUNDIAL FONTE: <http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/566517-o-impressionante-crescimento-da- populacao-humana-atraves-da-historia.> Acesso em: 9 jun. 2019. As mudanças populacionais variam muito, tanto em ritmo como em direção. Em muitos países pobres, o número de habitantes aumenta mais de 4% ao ano, enquanto em muitos países ricos ele cresce menos de 1%. A população pode também diminuir, como acontece em regiões que enfrentam graves crises de saúde pública como a África, por exemplo. FIGURA 47 – VARIAÇÃO DO CRESCIMENTO POPULACIONAL FONTE: < https://www.ecodebate.com.br/2018/07/16/o-crescimento-populacional-dos- continentes-1950-2100-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/.> Acesso em: 9 jun. 2019. FONTE: Ricklefs (2003) FONTE: Veiga e Zatz (2008) TÓPICO 2 | A SOCIEDADE MODERNA E SEU PAPEL NA SUSTENTABILIDADE 115 Nos anos 1960, havia muito temor de que as populações dos países pobres continuassem a se multiplicar com rapidez, porém logo se percebeu que bastava uma população atingir níveis de vida razoáveis para que despencasse o ritmo de novos nascimentos, especialmente com a adoção de métodos eficientes de controle de natalidade. Entretanto, embora as taxas de crescimento da população estejam começando a diminuir em algumas partes do mundo onde a economia está melhorando, o crescimento global, ainda assim, continua aumentando. Isso se deve ao tamanho bruto da população global neste momento, a fatores como aumento na expectativa de vida e um acentuado declínio na incidência de doenças anteriormente muito difundidas (ex.: sarampo e rubéola). A taxa atual de crescimento do tamanho da população mundial é insustentável, pois em um espaço finito e com recursos finitos, nenhuma população pode continuar crescendo para sempre, sendo importante saber com que tamanho a população humana poderia ser sustentada sobre a Terra, ou seja, qual é a sua capacidade de suporte global. É importante lembrar que os 7 bilhões de seres humanos de hoje consomem recursos e geram lixo de forma bem desigual. Em média cada cidadão dos principais polos econômicos mundiais – América do Norte, Europa Ocidental e Japão – consome 32 vezes mais e gera 32 vezes mais lixo do que a imensa maioria dos habitantes dos países pobres. É natural e justo que as populações pobres de todos os países queiram também desfrutar dos benefícios de um padrão de vida mais confortável, no entanto, se hoje se considera que os seres humanos estão usando mais recursos do que a Terra tem capacidade de repor, o problema tende a piorar em um planeta muito mais populoso e com maior consumo. Mais gente requer mais comida, espaço, água, energia e muitos outros recursos. Por isso, não se pode negar que um crescimento vertiginoso da população aumente a pressão sobre a natureza. FONTE: Veiga e Zatz (2008) FONTE: Hutchison (2000) FONTE: Townsend et al. (2010) FONTE: Adaptado de: Veiga e Zatz (2008) UNIDADE 2 | SUSTENTABILIDADE 116 DICAS Para saber mais sobre crescimento populacional, acesse o link <http:// pt.wikipedia.org/wiki/Popula%C3%A7%C3%A3o_mundial>. Outros fatores também têm impacto sobre a incapacidade do planeta de suportar aumentos constantes na população humana. São eles: • Degradação do solo e das terras cultiváveis. • Escassez de água potável e própria para o uso na agricultura. • Degradação das comunidades florestais e dos mananciais de água. • Destruição da camada de ozônio. • Escassez de recursos e extinção de espécies. São muitas as questões e variáveis que mostram a dificuldade de se chegar a um acordo, quando se pergunta em que patamar a população mundial tenderá a se estabilizar e quantos anos serão necessários para que ele seja alcançado, pois tudo dependerá dos ritmos e direções das mudanças populacionais, combinadas às inovações tecnológicas que possam reduzir os impactos ambientais causados por cada indivíduo. LEITURA COMPLEMENTAR A CRISE AMBIENTAL – CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO Segundo Miller (1985, apud BRAGA et al. 2007), nosso planeta pode ser comparado a uma astronave, deslocando-se a cem mil quilômetros por hora pelo espaço sideral, sem possibilidade de parada para reabastecimento, mas dispondo de um eficiente sistema de aproveitamento de energia solar e de reciclagem de matéria. Há, atualmente, na astronave, ar, água e comida suficientes para manter seus passageiros. Tendo em vista o progressivo aumento do número de passageiros, em forma exponencial, e a ausência de pontos para reabastecimento, podem-se vislumbrar, em médio e longo prazos, problemas sérios para a manutenção de sua população. FONTE: Hutchison (2000) FONTE: Adaptado de: Veiga e Zatz (2008) TÓPICO 2 | A SOCIEDADE MODERNA E SEU PAPEL NA SUSTENTABILIDADE 117 O equilíbrio entre população, recursos naturais e poluição influenciará no nível de qualidade de vida no planeta. POPULAÇÃO POLUIÇÃORECURSOS NATURAIS A população mundial cresceu de 2,5 bilhões em 1950 para 6, 2 bilhões no ano de 2002 e, atualmente, a taxa de crescimento se aproxima de 1,13% ao ano. De acordo com a analogia da astronave, isso significa que, a cada ano, 74 milhões de passageiros embarcam, atingindo 7 bilhões de habitantes em outubro de 2011. Esses passageiros estão divididos em 227 nações, nos cinco continentes, poucas das quais pertencem aos chamados países desenvolvidos, com 19% da população mundial. As demais são os chamados países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos, com os restantes 81% da população. Novamente usando a analogia com a astronave, é como se os habitantes dos países desenvolvidos fossem passageiros de primeira classe, enquanto os demais viajam no porão. Em decorrência das altas taxas de crescimento populacional que hoje somente ocorrem nos países menos desenvolvidos, essa situação de desequilíbrio tende a se agravar ainda mais: em 1950, os países desenvolvidos tinham 31,5% da população mundial; em 2002, apenas 19,3%; e, em 2050, terão 13,7%. Dentro dessa perspectiva de crescimento, cabe questionar até quando os recursos naturais serão suficientes para sustentar os passageiros da astronave Terra. 3 O CONSUMISMO E SEUS IMPACTOS O Capitalismo é um modo de produção pelo qual a economia se dá em unidades chamadas empresas, que são de propriedade privada, embora algumas possam ter o governo como proprietário. Em linhas gerais, esta é a forma de organização das atividades produtivas (econômicas) da sociedade baseada no princípio de que os indivíduos podem exercer domínio sobre os recursos, com o intuito de transformá-los em bens e serviços, agregando sempre um novo valor. Essa ação se perpetua por meio de uma cadeia, cujo eixo norteador é o acúmulo privado de capital, justificado na máxima do crescimento econômico. FONTE: Braga et al. (2007) FONTE: Adaptado de: Justino (2010) UNIDADE 2 | SUSTENTABILIDADE 118 FIGURA 48 – CONSUMO CONSCIENTE? FONTE: <http://aprendizagemcompa2.pbworks.com/w/page/13491178/Adolescentes-X- Consumismo:-An%C3%A1lises-de-Pesquisas>. Acesso em: 5 ago. 2011. DICAS Consulte o capítulo 12 de Braga et al. (2007) para um interessante texto sobre a questão ambiental no âmbito da economia. Porém, em meio a esta recente crise econômica, que tem preocupado a população e os governos mundiais, as pessoas ainda não se deram conta de que estão perdendo mais dinheiro com o desaparecimento das florestas do que com a atual crise financeira global, segundo conclusões de um estudo encomendado pela União Europeia, realizada por um economista do Deutsche Bank, que calculou que os desperdícios anuais com o desmatamento variam em uma faixa de US$ 2 trilhões a US$ 5 trilhões. A humanidade herdou um acúmulo de 3,8 bilhões de anos de capital natural: mantendo-se os padrões atuais de uso e degradação, muito pouco há de restar até o fim do século XXI. Para se chegar a esses números, é necessário saber que os serviços de armazenamento de água e da regulação do ciclo de carbono, entre outros, realizadosgratuitamente pela natureza, criam condição para um meio ambiente saudável, oferecendo não só água e ar limpos, chuvas, produtividade oceânica, solo fértil e elasticidade das bacias fluviais, como também certas funções menos valorizadas, mas imprescindíveis para a manutenção da sustentabilidade, tais como: a) o processamento de resíduos (naturais e industriais); b) a proteção contra os extremos do clima; e c) a regeneração atmosférica. Contudo, nas últimas três décadas se consumiu um terço dos TÓPICO 2 | A SOCIEDADE MODERNA E SEU PAPEL NA SUSTENTABILIDADE 119 recursos da Terra, ou seja, de sua riqueza natural. É sabido que ecossistema é um sistema aberto integrado por todos os organismos vivos, inclusive o homem, e os elementos não viventes de um setor ambiental definido no tempo e no espaço. Suas propriedades globais de funcionamento (fluxo de energia e ciclagem da matéria) e autorregulação (controle) derivam das relações entre todos os seus componentes, tanto pertencentes aos sistemas naturais, quanto aos criados ou modificados pelo Homem. A destruição da natureza em decorrência do desenvolvimento econômico vem ocorrendo de maneira cada vez mais intensa, principalmente neste último século. As evidências deste processo encontram-se na escassez dos recursos não renováveis, nos níveis de aquecimento planetário, nos efeitos catastróficos dos dejetos industriais e poluentes diversos, na produção incessante de mercadorias descartáveis, numa demonstração inconteste de que o modo de produção capitalista não exerce um domínio adequado e planejado da natureza, revelando uma contradição crescente entre as necessidades de expansão da produção e as condições do planeta para prover esse desenvolvimento. Esse comportamento “é resultado de uma estratégia usada pelo modelo capitalista que criou o consumismo obsoletista, em que um produto já é lançado tendo o seu sucessor mais moderno na prateleira para ser apresentado em pouco mais de seis meses ou um ano”. Uma verdade, que poucos se dão conta, é que nos dias atuais, de toda a produção mundial, apenas 1% tem vida útil superior a seis meses e, em nossa euforia de consumo, devido ao desconhecimento do ciclo de vida dos produtos, não damos conta que é o meio ambiente que estará sendo afetado. Não podemos esquecer que a primeira etapa da fabricação de um produto se dá com a extração de recursos naturais, cuja exploração está se dando de forma exagerada e desordenada, e o seu destino final também será em um determinado local do ambiente. A humanidade tem sido seduzida pelos apelos midiáticos de consumo, ao ponto de transformar os desejos em necessidades básicas à sobrevivência humana. Isto porque ao longo de sua evolução, o ser humano passou a querer suprir mais do que sua necessidade de sobrevivência, pois, à medida que foram FONTE: Souza e Silva (2008) FONTE: Silva (2010) FONTE: Souza; Silva (2008) UNIDADE 2 | SUSTENTABILIDADE 120 surgindo os avanços tecnológicos, outros objetivos passaram a ser perseguidos, como, por exemplo, espiritualidade, longevidade, prazer, conforto, beleza e convivência. E é aí que entra em pauta o modelo econômico vigente, ou seja, o capitalismo, cujo crescimento está alicerçado nos pilares do consumo. DICAS Acesse o link <http://dinheirama.com/blog/2010/03/11/impactos-sociais-e- ambientais-do-consumo/> para ler um interessante artigo sobre Consumo Consciente, de Costa (2010). Ao subordinar a produção aos imperativos da acumulação, o capitalismo não pode sustentar-se indefinidamente, sem que os avanços tecnológicos e científicos por este obtidos resultem em crescente destruição, visto que o incremento da produtividade do capital o faz senhor e voraz devorador dos recursos humanos e materiais do planeta para, a seguir, retorná-los como mercadorias de consumo de massa, cada vez mais descartáveis. Os reflexos, geralmente desastrosos, podem ser observados, por exemplo, nas atividades agropecuárias e florestais, particularmente quando praticadas de forma extensiva, causando profundas alterações na paisagem, em nível mundial. DICAS Acesse o link <http://www.environmentteam.com/2010/04/11/the-animals- save-the-planet-watch-all-11-cartoons/> e assista aos vídeos criados pelo Animal Planet sobre os impactos ambientais causados por atitudes não sustentáveis. FONTE: Justino (2010) FONTE: Silva (2010) FONTE: Souza; Silva (2008) TÓPICO 2 | A SOCIEDADE MODERNA E SEU PAPEL NA SUSTENTABILIDADE 121 FIGURA 49 – OS VÍDEOS “THE ANIMALS SAVE THE PLANET”, DO CANAL ANIMAL PLANET, SÃO EXCELENTES FERRAMENTAS PARA REFLEXÃO SOBRE OS PROBLEMAS AMBIENTAIS CAUSADOS PELO CONSUMISMO FONTE: <http://karinalthuon.wordpress.com/2008/12/04/the-animals-save-the-planet/>. Acesso em: 5 ago. 2011. Assim, é evidente a necessidade de encontrarmos um ponto de equilíbrio entre o desenvolvimento econômico, uso de recursos naturais e a conservação ambiental, visto que a sobrevivência de todos os seres vivos e a qualidade de vida democrática depende disto. Cabe lembrar que, de acordo com Sachs (2009), o conceito de recurso é cultural e histórico, sendo o conhecimento, pela sociedade, do potencial do seu meio ambiente. Segundo o autor, “o que hoje é recurso, ontem não o era, e alguns dos recursos dos quais somos dependentes hoje, serão descartados amanhã; assim caminha o progresso técnico, então deveríamos confiar o máximo possível no fluxo de renovação dos recursos”. Entretanto, relembra o autor, a capacidade de renovação dos recursos – significando este termo o suporte básico da vida, água, solo e clima – requer uma gestão ecológica prudente, pois não se trata de um atributo concedido de uma única vez, para sempre, ou seja, precisamos aprender como fazer um aproveitamento sensato da natureza para construirmos uma boa sociedade. DICAS Para ler uma interessante entrevista com Helio Mattar, do Instituto Akatu, sobre consumo consciente, acesse o link <http://www.cntdespoluir.org.br/Lists/Contedos/ DispForm.aspx?ID=2425>. UNIDADE 2 | SUSTENTABILIDADE 122 4 DESENVOLVIMENTO INCLUDENTE Ao relembrarmos o que aprendemos até agora, podemos considerar que o crescimento da população humana causou dois grandes problemas: impacto nos sistemas naturais, com interrupção de processos ecológicos e a exterminação de espécies; e a constante deterioração do próprio ambiente da espécie humana à medida que pressionamos os limites dos sistemas ecológicos que podem nos sustentar. Lembre-se de que sem o uso responsável dos recursos naturais, não há como manter uma sociedade sustentável por um longo período. ATENCAO O que observamos como resultado destas duas observações é que, quando feito de modo inadequado, essa exploração de recursos resulta na maioria das vezes em pobreza para as comunidades locais, mesmo após um breve período de progresso econômico. Isso é constatado em áreas de mineração ou exploração florestal, por exemplo. Outra consequência deste tipo de exploração é a forma socialmente desigual da distribuição das riquezas e da renda gerada. Essa retórica faz com que se criem verdadeiros bolsões de pobreza, onde reina a fome e a miséria absoluta de um lado e, do outro, acúmulo de riqueza gerando ostentação e luxo. FIGURA 50 – NA DÉCADA DE 1980 MILHARES DE MINERADORES INVADIRAM SERRA PELADA/ PA EM BUSCA DE OURO. A EXPLORAÇÃO INADEQUADA TROUXE APENAS POBREZA E DEGRADAÇÃO AMBIENTAL FONTE: <http://www.brasilescola.com/brasil/serra-pelada.htm>. Acesso em: 5 ago. 2011. FONTE: Ricklefs (2003) FONTE: Justino (2010) TÓPICO 2 | A SOCIEDADE MODERNA E SEU PAPEL NA SUSTENTABILIDADE 123 Existe uma pressão diferenciada exercida pelos consumidores sobre os ecossistemas, ou seja, as populações dos países ricos são responsáveis pela apropriação de 80% dos recursos naturais e de energia, sendo que representam menos de 20% da população global. Os aspectos de homogeneização são marcantes para instauração do quadro de desigualdades sociais vigentes no planeta, oriundas da concentraçãode renda gerada pelo propósito da acumulação de capital, sendo fundamental, para o desenvolvimento sustentável, considerar aspectos que permitam a formatação de uma sociedade justa e igualitária. O desenvolvimento sustentável é uma proposta alternativa ao modelo de desenvolvimento com viés puramente econômico. O novo modelo de desenvolvimento procura ultrapassar a perspectiva puramente econômica, e considera outras questões como: sociais, políticas, institucionais, tecnológicas, culturais e ambientais. Combater a pobreza e proporcionar uma existência digna de vida dos cidadãos passa a ser o objetivo principal de toda administração pública comprometida com o bem-estar social. Adotar a perspectiva sustentável do desenvolvimento é tentar superar a tradição de enfrentamento da pobreza através de duas maneiras: somente pela via do crescimento econômico, sem considerar a contento as questões sociais; ou pela via das políticas compensatórias, muitas vezes assistencialistas, capazes até de aliviar os sofrimentos dos excluídos, mas não de resolver os seus problemas definitivamente. O procedimento mais adequado para o alcance dos objetivos da sustentabilidade é integrar também as ações práticas, ou seja, proporcionar a interconexão entre áreas estratégicas, tais como educação, saúde, assistência social, geração de emprego e renda, infraestrutura urbana, habitação, conservação ambiental, esporte, cultura e lazer. Tudo isso permeado por um planejamento apto a qualificar uma intervenção eficiente e eficaz com a populações-alvo e a consolidar um padrão de vida mais digno e humano para estas. É importante garantir que, efetivamente, a população local receba uma fatia dos benefícios resultantes do aproveitamento de seus saberes e dos recursos genéticos por ela coletados. Segundo o autor, o ecodesenvolvimento requer o planejamento local e participativo, no nível micro, das autoridades locais, comunidades e associações de cidadãos envolvidas. Por fim, o desenvolvimento deve ser visto em seu sentido amplo, valorizando o crescimento com efetiva distribuição de renda, com superação significativa dos problemas sociais e sem FONTE: Souza; Silva (2008) FONTE: Oliveira (2006) UNIDADE 2 | SUSTENTABILIDADE 124 comprometimento ambiental, o que só pode ocorrer com profundas mudanças nas estruturas e processos econômicos, sociais, políticos e culturais de uma determinada sociedade. UNI Leia trechos da palestra “O tripé do desenvolvimento includente”, de Ignacy Sachs (2007). A transcrição completa da palestra pode ser consultada no link <http://www. wattpad.com/27893-o-tripe%CC%81-do-desenvolvimento-includente-por-ignacy?p=1>. FONTE: Melo; Silva (2003) TÓPICO 2 | A SOCIEDADE MODERNA E SEU PAPEL NA SUSTENTABILIDADE 125 LEITURA COMPLEMENTAR O desenvolvimento includente requer uma estratégia tridimensional: a consolidação e expansão do núcleo modernizador, condição para o crescimento sustentado, deve ser suplementada pela identificação de todas as oportunidades de crescimento puxado pelo emprego e pela promoção de instrumentos de ação direta sobre o bem-estar das populações, sob a forma de redes públicas de serviços de base, educação, saúde, saneamento e habitação que, diga-se de passagem, são geradoras de numerosos empregos. A sua importância deve-se ao fato de que estes serviços permitem efetivação dos direitos humanos fundamentais. O desenvolvimento, em última instância, consiste precisamente na universalização destes direitos. O conceito de crescimento puxado pelo emprego abrange todos os ramos da economia onde ainda é possível avançar com métodos intensivos em mão de obra sem perder de vista que o aumento da produtividade é um objeto universal que inclui também as atividades de baixa intensidade de capital. Mesmo aí, nós temos que ter presente o objetivo de aumentar esta baixíssima produtividade. Mas até certo ponto, a baixa produtividade que predomina no oceano constitui uma oportunidade para avanços rápidos com tecnologias conhecidas. É o problema da inovação e não da invenção de tecnologias novas. Queremos é maximizar o emprego decente combinando atividades de diferentes níveis de produtividade, em vez de buscar maior produtividade possível do trabalho às custas do emprego. Ao lado do artesanato e das indústrias naturalmente intensivas em mão de obra, as maiores margens de liberdade existem na produção de bens e serviços não comerciáveis, os non-tradables não submetidos à concorrência estrangeira, ou seja, à produção de serviços sociais, técnicos e pessoais, à construção civil e às obras públicas. A estes podemos acrescentar os empregos relacionados com a redução do desperdício no uso dos recursos naturais como a conservação de energia, a conservação de água, a reciclagem, os empregos ligados a uma manutenção mais cuidadosa do patrimônio já existente, de infraestruturas, equipamentos e parque imobiliário, além de uma maneira de prorrogar a sua vida útil e reduzir desta forma a demanda pelo capital de reposição. Essas duas atividades a que acabo de me referir na conceituação da teoria do crescimento de Kalecki são as fontes de crescimento que não exigem investimento. E, portanto, é uma área extremamente importante, esta é para mim e para os planejadores do desenvolvimento a principal mensagem do conceito do desenvolvimento ambientalmente sustentável. Como melhorar a produtividade dos recursos e não somente a produtividade do trabalho? Como aumentar a produtividade dos recursos e a vida útil do patrimônio já existente através do trabalho? Eu acho que é por aí que engrenamos o debate sobre o desenvolvimento ambientalmente sustentável e, ao mesmo temo, socialmente includente. As obras públicas, em particular aquelas que não têm o componente de importação e se caracterizam por uma maturação rápida, merecem uma atenção especial. Segundo o último relatório da OIT, programas infraestruturais baseados em métodos intensivos em mão de obra, realizados em uma dezena de países, mostraram-se de 10% a 30% mais baratos em termos financeiros, reduziram o conteúdo de importação em 50% a 60% e geraram de 3 a 5 vezes mais empregos do que teria sido o caso ao recorrer-se a métodos UNIDADE 2 | SUSTENTABILIDADE 126 mais intensivos em capital. [...] É hora de caminhar da civilização do petróleo à civilização da biomassa, valorizando de maneira ecologicamente correta os recursos renováveis, construindo um diversificado complexo bioindustrial e transformando, assim, em vantagem permanente a condição de país tropical. DICAS O livro “Colapso, como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso”, de Jared Diamond (Editora Record), faz um interessante relato de várias sociedades que desapareceram ao longo da história por ter exaurido seus recursos naturais. 127 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, vimos que: • A exaltação atual de conceitos estereotipados desvaloriza saberes e manifestações tradicionais por não atenderem aos anseios massificados de consumo. • Os ciclos econômicos brasileiros se revezaram no uso inadequado dos recursos naturais, sendo a causa de muitos dos problemas atuais. • As preocupações com o crescimento populacional levou ao desenvolvimento da disciplina da demografia. • O crescimento da população foi muito lento até o desenvolvimento da agricultura, quando então deveria ser de 3-5 milhões. • A Revolução Industrial proporcionou outro ímpeto para o crescimento da população humana e durante os 300 anos de industrialização, os humanos cresceram de talvez 300 milhões para 6 bilhões em 1999. • Essa duplicação da população de 3 para 6 bilhões de pessoas levou apenas 40 anos e apenas 12 para alcançar 7 bilhões em 2011. • As mudanças populacionais variam muito, tanto em ritmo como em direção. A população pode também diminuir, como acontece em regiões que enfrentam graves crises de saúde pública. • Quando uma população atingir níveis de vida razoáveis de desenvolvimento cai o ritmo de novos nascimentos, coma adoção de métodos de controle de natalidade. • O crescimento global da população continua aumentando devido a fatores como aumento na expectativa de vida e um acentuado declínio na incidência de doenças. • A taxa atual de crescimento do tamanho da população mundial é insustentável, pois em um espaço finito e com recursos finitos, nenhuma população pode continuar crescendo para sempre. • É justo que as populações pobres queiram também desfrutar dos benefícios de um padrão de vida mais confortável, no entanto, se hoje se considera que os seres humanos estão usando mais recursos do que a Terra tem capacidade de repor, o problema tende a piorar em um planeta muito mais populoso e com maior consumo. 128 • Outros fatores que têm impacto sobre a incapacidade do planeta de suportar aumentos constantes na população humana são a degradação do solo e das terras cultiváveis, a escassez de água potável e própria para o uso na agricultura, a degradação das comunidades florestais e dos mananciais de água, a destruição da camada de ozônio e a escassez de recursos e extinção de espécies. • Ainda há dúvidas sobre em que patamar a população mundial tenderá a se estabilizar e quantos anos serão necessários para que ele seja alcançado. • O Capitalismo é um modo de produção pelo qual a economia se dá em unidades chamadas empresas, que são de propriedade privada, embora algumas possam ter o governo como proprietário. • O modelo capitalista criou o consumismo obsoletista, onde um produto já é lançado tendo o seu sucessor mais moderno na prateleira para ser apresentado em pouco mais de seis meses ou um ano. • Ao longo de sua evolução, a humanidade passou a querer suprir mais do que sua necessidade de sobrevivência, pois à medida que foram surgindo os avanços tecnológicos, outros objetivos passaram a ser perseguidos. • É evidente a necessidade de encontrarmos um ponto de equilíbrio entre o desenvolvimento econômico, uso de recursos naturais e a conservação ambiental, visto que a sobrevivência de todos os seres vivos e a qualidade de vida democrática depende disto. • A capacidade de renovação dos recursos requer uma gestão ecológica prudente, pois precisamos aprender como fazer um aproveitamento sensato da natureza para construirmos uma boa sociedade. • Sem o uso responsável dos recursos naturais, não há como manter uma sociedade sustentável por um longo período. • Quando feito de modo inadequado, a exploração de recursos resulta em pobreza para as comunidades locais, mesmo após um breve período de progresso econômico. • Os países ricos são responsáveis pela apropriação de 80% dos recursos naturais e energia, sendo que representam menos de 20% da população global. • O desenvolvimento sustentável tenta ir além da perspectiva puramente econômica, considerando outros pilares que sustentam a vida humana, ou seja, questões sociais, políticas, institucionais, tecnológicas, culturais e ambientais também integram o alicerce que fundamenta o desenvolvimento sustentável. • É importante garantir que a população local receba uma fatia dos benefícios resultantes do aproveitamento de seus saberes e dos recursos genéticos por ela coletados. 129 • O ecodesenvolvimento requer o planejamento local e participativo, no nível micro, das autoridades locais, comunidades e associações de cidadãos envolvidas. 130 AUTOATIVIDADE 1 O crescimento populacional, o consumismo inconsequente e a escassez de recursos naturais estão afetando todas as esferas da economia. Observa-se inclusive a proliferação de pacotes turísticos massificados que exploram sempre os mesmos atrativos. Dentro deste universo, existem consumidores que ainda valorizam as experiências personalizadas, buscando roteiros alternativos. Assim, sugerimos uma pesquisa na oferta destes roteiros, pois a maioria deles está atrelada a atividades com comunidades tradicionais que buscam no turismo uma alternativa sustentável. Use este material para futuras pesquisas de mercado. 2 Qual o número atual aproximado de seres humanos habitando nosso planeta? a) 700 milhões. b) 7 bilhões. c) 4,5 bilhões. d) 70 bilhões. 3 Segundo Hutchison (2000), outros fatores também têm impacto sobre a incapacidade do planeta de suportar aumentos constantes na população humana. Assinale a alternativa que não contenha um destes fatores: a) Degradação do solo e das terras cultiváveis. b) Escassez de água potável e própria para o uso na agricultura. c) Recuperação das comunidades florestais e dos mananciais de água. d) Destruição da camada de ozônio. 4 O desenvolvimento sustentável tenta ir além da perspectiva puramente econômica, considerando outros pilares que sustentam a vida humana. Assinale a alternativa que não contém questões que integram o alicerce que fundamenta o desenvolvimento sustentável: a) Questões sociais. b) Questões culturais. c) Questões ambientais. d) Questões burocráticas. 131 5 Os países ricos são responsáveis pela apropriação de um determinado percentual dos recursos naturais e energia, sendo que representam menos de outro percentual da população global. Assinale a alternativa que contenha respectivamente os percentuais corretos: a) 80% e 20%. b) 30% e 70%. c) 70% e 30%. d) 20% e 80%. 6 As preocupações com o crescimento populacional levou ao desenvolvimento de uma nova disciplina: a) Geografia. b) Demografia. c) Biologia. d) Zoologia. 132 133 TÓPICO 3 TURISMO E PLANEJAMENTO SUSTENTÁVEL UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Como vimos nos tópicos anteriores, a sustentabilidade tem dimensões variadas, sendo influenciada pelo crescimento da população e pelo consumismo desenfreado. Da mesma forma, o turismo sustentável tem dimensões políticas e culturais, o que nos remete a uma preocupação com o presente e o futuro das sociedades locais, com a produção e consumo dos serviços, a conservação e preservação dos ecossistemas e com o resgate da sua cultura. Um destino turístico pode ser criado num processo de geração espontânea, gradual, não planejada, ou pode resultar de um processo intencional, planejado, sendo imperativo que se faça um planejamento de longo prazo e que beneficie principalmente a população local. Existem diversos exemplos destas duas citações no Brasil e no mundo, com bons e maus resultados. O planejamento é importante para qualquer atividade econômica, visto que orienta a destinação de recursos e investimentos. Entretanto, quando falamos em turismo sustentável, é imprescindível que haja planejamento e definição de metas e objetivos, pois sem isso, corre-se o risco de se perder a sustentabilidade econômica, social e ambiental ao longo do tempo. Lembrando que o equilíbrio entre o turismo e o meio ambiente, em que o segundo se constitui a matéria-prima para o primeiro, precisa ser regulado e disciplinado para que haja entre ambos um relacionamento harmonioso. FONTE: Macedo (2010) 134 UNIDADE 2 | SUSTENTABILIDADE FIGURA 51 – O PLANEJAMENTO FAZ PARTE DE UM PROCESSO Preparar Acompanhar Revisar Planejar FONTE: <http://unirp.blogspot.com/2011/01/planejamento-estrategico-nosso-de-cada.html>. Acesso em: 5 ago. 2011. Assim, após compreender a importância da sustentabilidade ao longo dos tópicos anteriores, convidamos você a conhecer sua aplicação dentro do segmento turístico. 2 PLANEJAMENTO E GESTÃO DO TURISMO No mundo contemporâneo, o turismo tem-se destacado como um fenômeno social e como uma das atividades econômicas mais importantes, recebendo a cada dia maior atenção e seriedade no tratamento científico e técnico a ele dispensado. Entretanto, os bons resultados desta atividade dependem do bom planejamento e gestão, em todos os níveis hierárquicos. O planejamento da atividade turística é uma tarefa bastante complexa, já que abrange aspectos relativos à ocupação territorial, à economia, à sociologia e à cultura dos núcleos receptores, e ainda às características dos locais emissores e à consequente heterogeneidade dos turistas. (RUSCHMANN, 2002).Ou, sob outra perspectiva, Henry e Saink (1990, apud RUSCHMANN, 2006 p. 83) adotam o seguinte conceito: O planejamento é uma atividade que envolve a intenção de estabelecer condições favoráveis para alcançar objetivos propostos. Ele tem por objetivo o aprovisionamento de facilidades e serviços para que uma comunidade atenda seus desejos e necessidades ou, então, o desenvolvimento de estratégias que permitam a uma organização comercial visualizar oportunidades de lucro em determinados segmentos de mercado. O planejamento pode ser classificado em vários tipos, obedecendo a diferentes abordagens: FONTE: Adaptado de: Magalhães (2002) TÓPICO 3 | TURISMO E PLANEJAMENTO SUSTENTÁVEL 135 QUADRO 9 – ABORDAGENS DO PLANEJAMENTO TURÍSTICO ASPECTOS CLASSIFICAÇÃO SUBCLASSIFICAÇÃO Temporal Curto prazo Médio prazo Longo prazo Geográfico Mundial, continental, nacional, estadual, regional, multirregional, microrregional, municipal (ou local) Rural Urbano Econômico Macroeconômico Microeconômico Administrativo Público (normativo) Privado (indicativo) Central Descentralizado Intencional ou teleológico Estratégico Tático Agregativo Global Setorial Local FONTE: Barreto (2001) A escolha da abordagem adequada vai depender de quais objetivos se deseja alcançar. Genericamente, os objetivos do planejamento conduzem a mudanças estruturais de realidades existentes, visando, geralmente, ao crescimento econômico acelerado. Os objetivos básicos indicam “aonde” se quer chegar e são expressos em termos qualitativos, sendo que, no planejamento econômico, e muitas vezes no turístico, os planos sofrem grande influência política. Os objetivos do planejamento turístico podem envolver localidades, regiões, países e até continentes, e envolvem tanto órgãos públicos e empresas privadas desse ramo de atividade, como também fatores influenciadores em todos os níveis. O planejamento de turismo pode dividir-se em vários níveis, obedecendo a um critério de complexidade crescente: • Planejamento de primeiro nível – eventos, excursões, viagens. • Planejamento de segundo nível – transformação de cidades em núcleos turísticos, ativação de núcleos turísticos preexistentes, criação de complexos ou cidades turísticas (construção de equipamentos turísticos). • Planejamento de terceiro nível – políticas nacionais para incentivar a atividade turística no país e organizá-la, abrangendo os outros dois níveis. FONTE: Ruschmann (2006) FONTE: Bound-Bovi; Lawson (1977, apud RUSCHMANN, 2006). FONTE: Barreto (2001) 136 UNIDADE 2 | SUSTENTABILIDADE Após a decisão política de organizar turisticamente uma região, três linhas de ação devem acompanhar o desenrolar das atividades implantadas no local: das decisões, de planejamento e de recursos financeiros e técnicos. Ruschmann (2002, p. 37), afirma que: [...] o planejamento dos espaços como potencial turístico é tarefa do Estado que, para desenvolvê-los, se vê diante de dois objetivos conflitantes: o primeiro, que é o de prover a oportunidade e o acesso a esses locais para o maior número de pessoas possível, se contrapondo ao segundo, de proteger e evitar a descaracterização dos locais privilegiados pela natureza e a cultura original da população receptora. NOTA O planejamento se apresenta como fundamento para o desenvolvimento turístico equilibrado e em harmonia com os recursos físicos, culturais e sociais das regiões receptoras, evitando-se, assim, que o turismo destrua as bases que o fazem existir. (RUSCHMANN 2002). O plano de desenvolvimento turístico é entendido como o conjunto de medidas, tarefas e atividades por meio das quais se pretende atingir as metas, o detalhamento e os requisitos necessários para o aproveitamento de áreas com potencialidade turística. O processo de elaboração do plano deve considerar as características e as singularidades regionais que exigem a adoção de metodologia e de técnicas adequadas a cada caso. Basicamente, as etapas para a elaboração de planos turísticos são as seguintes: • Identificação clara do problema, definindo a meta final e os objetivos. • Caracterização geral. • Aspectos turísticos. • Turismo receptivo. • Análise e avaliação da oferta e da demanda, da imagem e da vocação turística da destinação. • Diagnóstico da situação atual da destinação turística. • Prognóstico prevendo comportamento turístico esperado. • Diretrizes básicas para o desenvolvimento ou recuperação do turismo. • Prazos e prioridades para implantação. • Responsabilidades de cada setor. • Instrumentos necessários para viabilizar as diretrizes propostas. FONTE: Adaptado de: Oliveira (2001) FONTE: Ruschmann (2006) TÓPICO 3 | TURISMO E PLANEJAMENTO SUSTENTÁVEL 137 Os estudos relativos ao planejamento turístico têm se concentrado tanto no levantamento dos aspectos físicos quanto nas considerações econômicas do fenômeno, mas sempre com enfoques parciais, destacando-se: enfoque urbanístico, da política econômica, enfoque Pasolf (products, analysis, sequence for outdoor or seisure planning), modelos de simulação, planejamento estratégico visão integrada. Segundo a autora, para que o levantamento de dados, que fundamenta um processo de planejamento turístico, possa ser realizado adequadamente, é preciso que se tenha a visão mais abrangente possível e com grande profundidade do fato e do fenômeno turístico. A utilização do Sistur (planejamento integrado do desenvolvimento turístico) vem sendo proposto por diversos autores, cujo modelo referencial proposto sugere a análise e o estudo da integração dos seguintes conjuntos: • Relações ambientais que envolvem os seguintes subtemas: ecológico, social, econômico e cultural. • Organização estrutural, que envolve a superestrutura e a infraestrutura. • Ações operacionais que envolvem, no mercado, a oferta e a demanda relacionadas com a produção e o consumo, respectivamente, do sistema de distribuição. DICAS Para mais informações sobre o Sistur, acesse o link <http://turismofaibi2010. blogspot.com/2010/05/sistema-de-turismo-sistur_16.html>. Antes de se iniciar qualquer projeto turístico em uma localidade, o planejador deve responder às seguintes questões: 1. O turismo é importante para impulsionar a economia da região? 2. Quais são as tendências do mercado, os estilos de vida, as necessidades e as preferências dos turistas? 3. Quais estratégias e investimentos devem ser feitos para que a localidade seja competitiva na indústria turística? 4. O que é preciso fazer para que um local estabeleça um nicho no setor de turismo? 5. Quais são os riscos que o turismo produz? 6. Quais as formas de comunicação mais eficientes na tarefa de atrair e de manter os turistas? FONTE: Ruschmann (2002) 138 UNIDADE 2 | SUSTENTABILIDADE QUADRO 10 – ESQUEMA METODOLÓGICO PARA FORMULAÇÃO DE UM PLANO DE ORGANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE TURÍSTICA NUMA LOCALIDADE 1. Análise do território Levantamento dos recursos turísticos naturais (análise física do espaço territorial). Levantamento dos recursos turísticos humanos (análise da atividade humana). 2. Análise do mercado turístico Análise da demanda. Análise da oferta. 3. Formulação da imagem da oferta turística Análise de sua repercussão no território. Análise de sua repercussão na atividade turística. 4. Formulação da política de desenvolvimento Determinação da oferta. Determinação da demanda: nacional ou internacional. 5. Requisitos para a exploração da atividade turística Básicos. Complementares. 6. Cronograma de realização Projetos. Após analisar as respostas obtidas e considerando que a localidade possui potencial para o desenvolvimento turístico o planejamento seja feito conforme o esquema metodológico apresentado no quadro a seguir. FONTE: Oliveira (2001, p. 175) Com um planejamento bem alinhado e definido, com prazos executáveis e dentro de um universo viável de recursos, fica muito mais fácil alcançar um desenvolvimento sustentável para uma região turística. O planejamento permiteprojetar ações futuras com segurança, conquistando confiança e participação da comunidade que, obviamente, deverá ser inserida neste contexto, conforme veremos no item seguinte. FONTE: Oliveira (2001) TÓPICO 3 | TURISMO E PLANEJAMENTO SUSTENTÁVEL 139 DICAS Para um conhecimento mais profundo sobre planejamento e organização do turismo, leia Barreto (2001), Oliveira (2001) e Ruschmann (2006). Por fim, cabe destacar a reflexão de Melo e Silva (2003, p. 24) sobre um dos resultados do planejamento: a territorialização turística: A territorialização turística permitirá que os lugares e regiões transformem suas vantagens comparativas, proporcionadas pelo seu capital natural e cultural, em vantagens competitivas, assegurando a continuidade do dinamismo e contribuindo para promover, com uma determinada autonomia, um efetivo desenvolvimento socioeconômico. Assim, a dinâmica do desenvolvimento dependerá muito mais da capacidade de organização social e política dos territórios, valorizando os laços de coesão e de solidariedade, do que de outros aspectos externos, de pequena influência local e regional. 3 ATORES DO TURISMO SUSTENTÁVEL Falar em desenvolvimento sustentável leva em conta não apenas a questão ambiental, mas também a social. Afinal, como vimos até aqui, o ser humano é o responsável por todas as ações positivas e negativas que recaem sobre o meio ambiente. Com o turismo não poderia ser diferente, ainda mais quando consideramos que o homem também é gerador de atrativos turísticos e culturais, históricos, artísticos, arquitetônicos, técnico-científicos, religiosos etc. Neste item, vamos conhecer os atores do turismo sustentável sob a perspectiva de Swarbrooke (2000, p. vii-viii), que considera: 1. Que o turismo sustentável não é apenas proteção ao meio ambiente; ele também está ligado à viabilidade econômica a longo prazo e à justiça social. 2. Iniciativas planejadas para alcançar o turismo sustentável trazem benefícios a algumas pessoas e prejuízos a outras. É, portanto, um campo altamente político, e não apenas tecnocrático. 3. O turismo sustentável não pode ser separado do debate mais amplo sobre desenvolvimento sustentável em geral. 140 UNIDADE 2 | SUSTENTABILIDADE UNI A abordagem sobre os atores do turismo sustentável apresentada neste item é baseada em Swarbrooke (2000). Sugerimos a leitura desta obra para informações mais detalhadas sobre o tema. • O SETOR PÚBLICO Setor público refere-se àqueles órgãos destinados a representar a comunidade e o interesse público como um todo, e que supostamente agem em nome da totalidade da população, gastando a renda obtida com impostos para implementar políticas e projetos, em benefício de toda a população sobre a qual a autoridade tem jurisdição. O setor público deve desempenhar um papel de liderança na tentativa de desenvolver formas de turismo mais sustentáveis porque, geralmente, tem poder para representar toda a população, não apenas grupos ou indivíduos interessados. É considerado imparcial, sem nenhuma ação comercial, sem nenhum interesse a ser protegido e, por não estar limitado a objetivos financeiros de curto prazo, é capaz de adotar uma visão de longo prazo. Meios pelos quais o setor público influencia o turismo sustentável: Legislação e regulamentação - Muitos governos nacionais têm políticas relativas à sustentabilidade e ao turismo sustentável, porém poucos deles produziram uma legislação que as tornem realidade, direcionando a legislação para o controle e desenvolvimento da construção em geral e sobre certas questões ambientais, como a poluição. Muitos órgãos públicos preferem confiar na autorregulamentação da indústria do turismo, acreditando que seja melhor educar o turista a comportar-se com maior responsabilidade. Financiamento e incentivos fiscais - O setor público pode fornecer concessões, empréstimos sem juros e outros incentivos fiscais para projetos de turismo sustentável, arrecadar impostos incidentes sobre atividades menos sustentáveis e introduzir impostos sobre o turismo que representem uma quantia fixa a ser paga pelos turistas, como a taxa de visitação turística praticada em várias localidades. TÓPICO 3 | TURISMO E PLANEJAMENTO SUSTENTÁVEL 141 Planejamento de uso do solo - Em termos de turismo sustentável, a fase de análise sobre o planejamento deve incluir uma avaliação do desenvolvimento corrente, em termos de conflitos no uso do solo, da capacidade de infraestrutura e transporte da área, das possíveis ameaças e oportunidades no futuro e dos recursos da área e do setor público. A maior parte dos planos de uso do solo baseia-se no conceito de zoneamento – em outras palavras, a alocação de áreas específicas, com a finalidade de projetar usos separados que poderiam criar conflito, caso existissem juntos numa mesma área. Fornecimento de infraestrutura - Os órgãos do setor público são os principais fornecedores e operadores da infraestrutura da indústria do turismo, como as estradas, aeroportos e as estações de tratamento de esgoto. Exemplo como ator atuante na indústria do turismo - O setor público também pode dar um bom exemplo, valendo-se de seu papel de parte atuante na indústria do turismo, em termos de atrações turísticas de propriedade do Estado, como museus e edifícios históricos, linhas aéreas e ferrovias de propriedade do Estado e o papel desempenhado pelos órgãos turísticos nacionais e regionais. Pode desempenhar também um papel positivo, designando áreas onde as paisagens e/ou comunidades sejam protegidas do turismo e de outras ameaças potenciais, como unidades de conservação e áreas de conservação de edifícios. Padrões oficiais - Outro papel valioso do setor público é o estabelecimento de padrões oficiais para sustentabilidade que permitam aos turistas identificar os produtos mais propícios e sustentáveis do ponto de vista do meio ambiente. Controle do governo sobre o número de turistas - Muitas localidades gostariam de estar na posição de controlar a qualidade e a quantidade de turistas que recebem, sendo que a maioria delas deseja um número moderado de turistas com alto poder aquisitivo e uniformemente distribuído ao longo do ano. No entanto, há poucas localidades em situação de controlar seu turismo com esse alcance. De certa forma, isso pode aumentar o custo dos serviços, favorecendo a exclusividade, elitismo e contrariando o conceito de igualdade que deveria estar implícito no turismo sustentável. O turismo tem poderosos interesses envolvidos, como as operadoras de transporte e os hoteleiros, que tentam influenciar o processo político, que podem se opor a medidas que tornem o turismo mais sustentável. Entretanto, frequentemente as comunidades e os governos locais tomam decisões sobre o turismo obedecendo a razões políticas ao invés de se basearem apenas nos méritos da questão, sob o ponto de vista do turismo. FONTE: Adaptado de: Swarbrooke (2000) 142 UNIDADE 2 | SUSTENTABILIDADE DICAS Para saber mais sobre o papel do setor público no turismo sustentável, leia o Capítulo 8 (Parte 3) de Swarbrooke (2000). • A INDÚSTRIA DO TURISMO O setor turístico deve ter um papel fundamental na tentativa de criar formas mais sustentáveis para si. Frequentemente, a indústria turística é criticada em relação ao turismo sustentável em termos de como ela desenvolve os elementos físicos, tangíveis de seu produto, como novos hotéis e aeroportos e como ela opera desde o consumo de energia até políticas, de padrões salariais e condições de trabalho até exploração da vida selvagem. Em termos gerais, a crítica focaliza as acusações de que a indústria turística: • está excessivamente interessada nos lucros a curto prazo e não na sustentabilidade a longo prazo; • está mais interessada em explorar o meio ambiente e as populações locais que em conservá-las; • é relativamente livre e demonstra pouco compromisso com determinadas destinações; • está cada vez mais controlada por grandes corporações transnacionaisque não se interessam por determinadas destinações; • não está fazendo o suficiente para aumentar a percepção dos turistas em prol da sustentabilidade; • somente sobe no “palanque” do turismo sustentável, quando há perspectiva de obter boa publicidade e de reduzir custos. Porém já se observa em alguns setores turísticos algumas ações voluntárias em direção ao turismo sustentável: • No setor hoteleiro, a ação tendeu a focalizar o meio ambiente e as questões operacionais que também podem ajudar a reduzir custos, como redução no consumo de energia, reciclagem de lixo e controle do desperdício. • As operadoras de viagens quanto às companhias aéreas em geral obedecem a obrigações estatuárias de reduzir ao mínimo as poluições do ar e sonora, e o desperdício de combustíveis. TÓPICO 3 | TURISMO E PLANEJAMENTO SUSTENTÁVEL 143 O setor turístico tenta provar que pode regulamentar seu próprio comportamento, através da autorregulamentação voluntária, sendo esta preferível pelo setor à ação imposta. Algumas entidades levaram mais adiante o conceito de autorregulamentação, projetando códigos de conduta voluntários para a indústria como um todo, ou em setores específicos. Outra questão interessante é o interesse do segmento turístico em conscientizar os turistas sobre as questões ambientais e motivá-los a se comportarem de modo mais sustentável nas suas férias. Porém, se ela for muito crítica em relação aos impactos do turismo, poderá perder negócios, ou seja, a meta agora é tentar diminuir os impactos negativos do comportamento dos turistas, dando-lhes a oportunidade de sentir-se bem ao participarem destas novas práticas. Atitudes sustentáveis fazem sentido comercialmente por protegerem os recursos ou ativos dos quais o turismo depende, não só hoje, como também no futuro, e pode ajudar a melhorar o desempenho financeiro de uma organização a curto prazo, reduzindo seus custos. Ao mesmo tempo, observa Swarbrooke (2000, p. 57): [...] existe uma visão, em algumas organizações, de que o turismo sustentável possa realmente ajudá-las a conseguir uma vantagem competitiva na praça ou fazê-las parecer mais éticas, simplesmente por causa do maior preço que os turistas podem estar dispostos a pagar por um produto mais sustentável. Por fim, chama atenção o fato de que a globalização tem contribuído para que os lugares estejam se tornando cada vez mais semelhantes devido a este processo, e os turistas que querem visitar algo diferente poderão virar as costas para os lugares onde esta tendência esteja mais acentuada. Portanto, essas destinações poderão perder receitas e empregos, tornando-se menos sustentáveis como comunidades. DICAS Para saber mais sobre o papel do segmento turístico no turismo sustentável, leia o Capítulo 9 (Parte 3) de Swarbrooke, (2000). FONTE: Adaptado de: Swarbrooke (2000) 144 UNIDADE 2 | SUSTENTABILIDADE • O SETOR VOLUNTÁRIO No contexto turístico, o setor voluntário consiste em grupos de pressão públicos, entidades profissionais, grupos de pressão e trustes voluntários - grupos privados de cidadãos que se reúnem para atingir uma determinada finalidade, sem que nenhum de seus indivíduos obtenha lucro de suas atividades. Os grupos de pressão, que operam independente da indústria do turismo, podem ser classificados em: • grupos especificamente enfocados em turismo, cujo alvo principal é o turismo sustentável; • grupos que focalizam o meio ambiente em geral, e que também se interessam por turismo; • grupos especialmente preocupados com os impactos sociais do turismo; • organizações dedicadas a determinados países ou regiões do mundo, interessados nas questões turísticas de cada país. Os grupos de pressão ajudam o curso do turismo sustentável, aumentando a conscientização sobre as questões e fazendo campanhas em prol de mudanças. Geralmente são compostos por pessoas que moram fora da destinação em questão e existem dúvidas acerca do direito destes de tentarem influenciar o que acontece numa determinada área. Entretanto, o autor também argumenta que, onde os povos locais têm pouco ou nenhum poder político, essas influências externas podem ser muito importantes. Além desses, existem ainda os grupos de pressão compostos por representantes da indústria turística, como o World Travel and Tourism Council (WTTC), que tem o apoio das principais companhias de turismo e exerce pressão organizada em nome dos interesses da indústria do turismo. Os trustes voluntários podem ter um papel positivo no desenvolvimento de formas mais sustentáveis de turismo. Sua contribuição pode incluir: • O fornecimento de mão de obra voluntária para ajudar em projetos de conservação do meio ambiente. • Conservação de locais valiosos de herança, desenvolvendo-os como atrações para os turistas, utilizando a receita gerada para prosseguir seu trabalho de conservação do meio ambiente local. • Coleta de dinheiro para apoiar projetos locais de preservação ambiental. FONTE: Adaptado de: Swarbrooke (2000) TÓPICO 3 | TURISMO E PLANEJAMENTO SUSTENTÁVEL 145 DICAS Para saber mais sobre o papel do setor voluntário no turismo sustentável, leia o Capítulo 10 (Parte 3) de Swarbrooke (2000). • A COMUNIDADE LOCAL Uma das pedras fundamentais do turismo sustentável é a ideia de que a comunidade local deve participar ativamente no planejamento do turismo e, talvez, controlar a indústria do turismo local e suas atividades. No entanto, a ideia de comunidade local é um conceito de difícil definição. Mais difícil ainda é achar mecanismos efetivos para conseguir a participação da comunidade como um todo, no processo de desenvolvimento do turismo, sugerindo que a comunidade local seja composta de todas as pessoas que vivem numa destinação turística. Moralmente, a principal influência deva estar nas mãos daqueles que nasceram e foram criados numa comunidade. Porém, em muitas comunidades, geralmente, os críticos mais clamorosos do turismo podem estar entre aqueles que se mudaram para a comunidade. Há ainda pessoas que, embora não morem numa determinada área, poderiam legitimamente afirmar que têm o direito de opinar sobre o que acontece ali, como proprietários de áreas, donos de empresas locais, nativos que moram em outras localidades. Há uma ideia implícita no conceito de participação da comunidade de que as populações locais tendam a ter um jogo de interesses compartilhados. No entanto, dentro de qualquer comunidade, é provável que haja uma série de grupos com interesses muito diferentes, que terão posições diversas sobre a questão do turismo, como proprietários de empresas de turismo e outras, empregados ou não da indústria turística etc. DICAS Em WWF Brasil (2003), você vai encontrar um manual para planejamento de ecoturismo com base comunitária. FONTE: Adaptado de: Swarbrooke (2000) 146 UNIDADE 2 | SUSTENTABILIDADE Nem sempre há um consenso de propósitos dentro de uma comunidade, que geralmente pode estar dividida em: • elites e o restante da população; • residentes nativos e imigrantes; • os que atuam na indústria do turismo e os que não atuam na mesma; • proprietários e arrendadores de imóveis; • pessoas mais jovens e pessoas mais idosas; • empregadores e empregados ou os autônomos; • os que possuem carros particulares e os que dependem do transporte público; • residentes que estão “bem de vida” e os menos prósperos; • comunidades majoritárias e comunidades étnicas minoritárias. Essas diferenças criam diferentes grupos de interesse e algumas delas implicam um conflito interno, sendo que o consenso somente existirá como um conceito imposto artificialmente, no qual há uma elite dominante que pode impor sua vontade sobre os demais. IMPORTANT E Os responsáveis pela elaboração dessas políticas precisam considerar corretamente em que situações a comunidade pode envolver-se com turismo, e de que forma isso se dará, de forma a evitar a geração de conflitos que descaracterizem a comunidade local. DICAS Para saber mais sobreo papel da comunidade local no turismo sustentável, leia o Capítulo 11 (Parte 3) de Swarbrooke (2000). FONTE: Adaptado de: Swarbrooke (2000) TÓPICO 3 | TURISMO E PLANEJAMENTO SUSTENTÁVEL 147 • A MÍDIA A mídia tem um papel significativo tanto na formação do comportamento dos turistas, quanto na criação de uma consciência sobre as questões relativas ao turismo sustentável. A mídia relevante pode ser dividida em dois tipos: • mídia de viagens, criada para influenciar ou aconselhar diretamente o turista; • mídia que não trata de viagens, mas que influencia ou aconselha indiretamente o turista, pois esse não é seu propósito real. A mídia de difusão de viagens pode prejudicar os princípios da sustentabilidade quando criam no turista o desejo de visitar novos locais, ampliando impactos negativos em novas localidades, promovendo destinações com regimes políticos opressivos, e divulgando matérias pagas. Poucos programas olham o turismo sob o ponto de vista da comunidade local e ainda podem saturar um destino que tenha se tornado famoso por meio de guias de viagens. Por outro lado, a mídia que não trata especificamente de viagens pode ter impactos negativos no turismo sustentável ao divulgar problemas políticos e desastres naturais (que vão desmotivar viagens a estes destinos), programas de vida selvagem que estimulem visitação a ecossistemas frágeis e estimular turismo de massa em destinos divulgados em filmes ou livros de sucesso que ainda não estão preparados para a atividade. Desde o início da década de 1990, a mídia vem mostrando cada vez mais interesse no conceito do turismo sustentável, porém a ênfase é colocada no turista e no meio ambiente, não nas questões sociais e econômicas nem na comunidade local. Ao voltarmos nossa atenção aos guias turísticos tradicionais, podemos observar que estes sempre apresentam a tendência de enfocar exclusivamente as questões diretamente relacionadas com a própria experiência de férias do turista, inclusive acomodação em hotéis, restaurantes e locais de interesse cultural e paisagens naturais. Em todos os casos, invariavelmente, eles se ocuparam das áreas que estavam tipicamente no “mapa do turista”. FONTE: Adaptado de: Swarbrooke (2000) 148 UNIDADE 2 | SUSTENTABILIDADE FIGURA 52 – O GUIA 4 RODAS, DA EDITORA ABRIL, É O MAIS CONHECIDO E CONSULTADO NO BRASIL FONTE: <http://viajeaqui.abril.com.br/noticias/guia-quatro-rodas-brasil-2011-chega-bancas- outubro-novidades-261454_comentarios.shtml?6978313> Acesso em: 10 ago. 2011. É perceptível que nos últimos anos houve um crescimento de ‘guias alternativos’, que diferem do guia tradicional especialmente por cobrirem a maior parte de um país, não apenas os pontos turísticos estabelecidos estão dispostos a elogiar e a criticar e chamam a atenção do turista para questões éticas, como as políticas locais de preservação do meio ambiente ou os registros de direitos humanos. Outro aspecto interessante percebido é a influência exercida pelas locações onde os filmes são rodados e onde são realizados programas populares de televisão, atraindo o interesse das localidades em trazer empresas cinematográficas e de televisão para a sua região. Isso pode levar a um aumento repentino de turistas, sem tempo de preparação para oferecer os serviços que eles irão exigir. Paralelo a isto, o sucesso dos programas de televisão sobre a vida selvagem nos países desenvolvidos pode ter um papel importante no crescimento do ecoturismo, sendo sugerido que esses programas, e quem os elabora, devem reconhecer sua influência e responsabilidade ao divulgar ambientes frágeis. Os turistas querem viagens de baixo custo, mas não aceitam os problemas decorrentes dessas férias. Ele quer ficar isolado das realidades da vida nessas destinações, o que é incompatível com a ideia de sustentabilidade. Portanto, a mídia poderia desempenhar um papel fundamental no desenvolvimento de formas mais sustentáveis de turismo, pois não há dúvida de que a mídia de viagens, em especial, tem grande influência sobre o comportamento dos turistas. É correto falar sobre a adoção, pela mídia, de uma abordagem mais ética para sua cobertura das questões do turismo, ou seja, ela deve desviar-se da indústria do turismo e do turista e mostrar mais interesse pelos direitos da população local e na fragilidade dos ambientes visitados. FONTE: Adaptado de: Swarbrooke (2000) TÓPICO 3 | TURISMO E PLANEJAMENTO SUSTENTÁVEL 149 DICAS Para saber mais sobre o papel da mídia no turismo sustentável, leia o Capítulo 12 (Parte 3) de Swarbrooke (2000). • O TURISTA Swarbrooke (2000, p. 89) observa que: geralmente, a única menção ao turista na literatura do turismo sustentável é a de ser a causa do “problema”, em termos de impactos ambientais, econômicos e sociais de suas atividades, um intruso indesejável e não um hóspede convidado que gasta o dinheiro de seu trabalho para visitar uma localidade. Para desenvolver formas mais sustentáveis de turismo, deve-se colocar mais ênfase no papel do turista e adotar uma atitude mais imparcial em relação a ele, oferecendo experiências que possibilitem uma sensação de “bem-estar”, que reflitam as tendências dos valores sociais e preferências do consumidor e que, ao mesmo tempo, aumentem os benefícios ao máximo e reduzam os custos do turismo. FIGURA 53 – O LIXO É UM DOS PRINCIPAIS PROBLEMAS CAUSADOS PELO TURISMO MAL PLANEJADO, IMPACTANDO O AMBIENTE E PRINCIPALMENTE A FAUNA LOCAL FONTE: <http://www.essaseoutras.com.br/o-risco-que-o-lixo-no-mar-oferece-aos-animais- poluicao-morte-fotos>. Acesso em: 10 ago. 2011. FONTE: Adaptado de: Swarbrooke (2000) 150 UNIDADE 2 | SUSTENTABILIDADE As responsabilidades que os turistas poderiam ter podem ser divididas em dois grupos: • responsabilidades básicas, que devemos esperar de qualquer residente de outro país, por mais temporário que seja; • responsabilidades mais controversas, especificamente relativas ao turismo sustentável. Além das responsabilidades, dentro do conceito de sustentabilidade, particularmente em relação à sua ideia implícita de equidade e justiça social, entende-se que os turistas também devam ter um conjunto de direitos. Para o autor, esses direitos implicam responsabilidades para com o turista, por parte da comunidade local, dos órgãos do governo e da indústria turística. Muitos turistas encaram suas férias como uma fuga das responsabilidades do dia a dia, uma época de despreocupação, o que pode transformá-las em uma antítese da ideia de turismo responsável. DICAS Em ABETA (2010), você vai encontrar informações interessantes sobre o desejo do turista que busca ambientes naturais durante seus momentos de lazer. Talvez tudo o que possamos fazer seja aumentarmos a conscientização do turista sobre as questões ambientais, deixando que decidam por eles mesmos o que devem fazer em relação ao turismo sustentável, em termos de seu comportamento como turistas, e envolver-se com grupos de pressão e com processos turísticos. Lembre-se de que, em um mercado relativamente livre, aberto, competitivo como o do turismo, temos que satisfazer o turista porque, caso contrário, nenhuma empresa sem destinação será sustentável. ATENCAO FONTE: Adaptado de: Swarbrooke (2000) FONTE: Adaptado de: Swarbrooke (2000) TÓPICO 3 | TURISMO E PLANEJAMENTO SUSTENTÁVEL 151 Então, o desenvolvimento de formas mais sustentáveis de turismo significa criar novos produtos e conhecimentos que intensifiquem a experiência do turista e, ao mesmo tempo, cumpram os critérios de sustentabilidade. DICAS Para saber mais sobre o papel do turista no turismo sustentável, leia o Capítulo 13 (Parte 3) de Swarbrooke (2000). FONTE: Adaptado de: Swarbrooke (2000) 152 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico vimos que: • O turismo sustentável tem dimensões políticas e culturais, remetendo a uma preocupação com o presente e o futuro das sociedades locais. • O planejamento é importante para qualquer atividade econômica, visto que orientaa destinação de recursos e investimentos. • O planejamento da atividade turística constitui uma tarefa bastante complexa, pois envolve aspectos relativos à ocupação territorial, economia, sociologia e à cultura dos núcleos receptores, bem como às características dos locais emissores e à consequente heterogeneidade dos turistas. • Os objetivos do planejamento turístico podem envolver localidades, regiões, países e até continentes, e envolvem tanto órgãos públicos e empresas privadas desse ramo de atividade, como também fatores influenciadores em todos os níveis. • Linhas de ação que devem acompanhar o desenrolar das atividades implantadas no local: das decisões, de planejamento e de recursos financeiros e técnicos. • O plano de desenvolvimento turístico é entendido como o conjunto de medidas, tarefas e atividades por meio das quais se pretende atingir as metas, o detalhamento e os requisitos necessários para o aproveitamento de áreas com potencialidade turística. • Para que o levantamento de dados, que fundamenta um processo de planejamento turístico, possa ser realizado adequadamente, é preciso que se tenha a visão mais abrangente possível e com grande profundidade do fato e do fenômeno turístico. • O planejamento permite projetar ações futuras com segurança, conquistando confiança e participação da comunidade que, obviamente, deverá ser inserida neste contexto, conforme veremos no item seguinte. • O ser humano é o responsável por todas as ações positivas e negativas que recaem sobre o meio ambiente. • O setor público refere-se àqueles órgãos destinados a representar a comunidade e o interesse público como um todo, e que supostamente agem em nome da totalidade da população, gastando a renda obtida com impostos para implementar políticas e projetos, em benefício de toda a população sobre a qual a autoridade tem jurisdição. 153 • A indústria do turismo tem um papel fundamental na tentativa de criar formas mais sustentáveis de turismo. • Atitudes sustentáveis fazem sentido comercialmente por protegerem os recursos ou ativos dos quais o turismo depende, não só hoje, como também no futuro, e pode ajudar a melhorar o desempenho financeiro de uma organização a curto prazo, reduzindo seus custos. • O setor voluntário consiste em grupos de pressão públicos, entidades profissionais, grupos de pressão e trustes voluntários - grupos privados de cidadãos que se reúnem para atingir uma determinada finalidade, sem que nenhum de seus indivíduos obtenha lucro de suas atividades. • Uma das pedras fundamentais do turismo sustentável é a ideia de que a comunidade local deve participar ativamente no planejamento do turismo e, talvez, controlar a indústria do turismo local e suas atividades. • O desafio é achar mecanismos efetivos para conseguir a participação da comunidade como um todo, no processo de desenvolvimento do turismo, sugerindo que a comunidade local seja composta de todas as pessoas que vivem numa destinação turística. • A mídia tem um papel significativo tanto na formação do comportamento dos turistas, quanto na criação de uma consciência sobre as questões relativas ao turismo sustentável devendo contribuir para o desenvolvimento de formas mais sustentáveis de turismo. • Geralmente, a única menção ao turista na literatura do turismo sustentável é a de ser a causa do “problema”, em termos de impactos ambientais, econômicos e sociais de suas atividades, um intruso indesejável e não um hóspede convidado que gasta o dinheiro de seu trabalho para visitar uma localidade. • Para desenvolver formas mais sustentáveis de turismo, deve-se colocar mais ênfase no papel do turista e adotar uma atitude mais imparcial em relação a ele, oferecendo experiências que possibilitem uma sensação de “bem-estar”, que reflitam as tendências dos valores sociais e preferências do consumidor e que, ao mesmo tempo, aumentem os benefícios ao máximo e reduzam os custos do turismo. 154 1 Identifique os principais atores do turismo sustentável em sua comunidade e tente imaginar como eles poderiam interagir em prol do desenvolvimento turístico local. 2 Segundo Barreto (2001), o planejamento de turismo pode dividir-se em vários níveis, obedecendo a um critério de complexidade crescente. Assinale a alternativa que não contenha um nível correto: a) Planejamento de primeiro nível – eventos, excursões, viagens. b) Planejamento de segundo nível – transformação de cidades em núcleos turísticos, ativação de núcleos turísticos preexistentes, criação de complexos ou cidades turísticas (construção de equipamentos turísticos). c) Planejamento de terceiro nível – políticas nacionais para incentivar a atividade turística no país e organizá-la, abrangendo os outros dois níveis. d) Planejamento de quarto nível – políticas internacionais para estabilizar a atividade turística no mundo e organizá-la. 3 Assinale a alternativa que não contenha uma etapa para a elaboração de planos turísticos: a) Identificação clara do problema, definindo a meta final e os objetivos. b) Análise e avaliação da oferta e da demanda, da imagem e da vocação turística da destinação. c) Diagnóstico da economia local. d) Diretrizes básicas para o desenvolvimento ou recuperação do turismo. 4 Swarbrooke (2000), considera atores do turismo sustentável, exceto: a) Que o turismo sustentável não é apenas proteção ao meio ambiente; ele também está ligado à viabilidade econômica a longo prazo e à justiça social. b) Iniciativas planejadas para alcançar o turismo sustentável trazem benefícios a algumas pessoas e prejuízos a outras. É, portanto, um campo altamente político, e não apenas tecnocrático. c) O turismo sustentável não pode ser separado do debate mais amplo sobre desenvolvimento sustentável em geral. d) Turismo sustentável considera unicamente a sustentabilidade econômica. AUTOATIVIDADE 155 5 Classifique as seguintes sentenças em V verdadeiras ou F falsas: ( ) Para desenvolver formas mais sustentáveis de turismo, deve-se colocar mais ênfase no papel do turista e adotar uma atitude mais imparcial em relação a ele, oferecendo experiências que possibilitem uma sensação de bem-estar, que reflitam as tendências dos valores sociais e preferências do consumidor e que, ao mesmo tempo, aumentem os benefícios ao máximo e reduzam os custos do turismo. ( ) O setor voluntário consiste em grupos de pressão públicos, entidades profissionais, grupos de pressão e trustes voluntários - grupos privados de cidadãos que se reúnem para atingir uma determinada finalidade, sem que nenhum de seus indivíduos obtenha lucro de suas atividades. ( ) Uma das pedras fundamentais do turismo sustentável é a ideia de que a comunidade local deve participar ativamente no planejamento do turismo e, talvez, controlar a indústria do turismo local e suas atividades. ( ) O desafio é achar mecanismos efetivos para conseguir a participação da comunidade como um todo, no processo de desenvolvimento do turismo, sugerindo que a comunidade local seja composta de todas as pessoas que vivem numa destinação turística. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - V - V - V. b) ( ) F - F - F - F. c) ( ) V - F - V - F. d) ( ) F - V - F - V. 6 Considerando o turismo sustentável, de que maneira a comunidade local deve participar no planejamento do turismo? a) Moderadamente. b) Ativamente. c) Participa apenas como mão de obra. d) Não deve participar. 156 157 TÓPICO 4 CAPACIDADE DE CARGA NO TURISMO UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Como vimos nos tópicos anteriores, o desenvolvimento econômico do turismo pode ser viável em muitas localidades, sendo o objetivo da maioria dos planos em níveis local, regional e nacional, no entanto, seus impactos ambientais e sociais são virtualmente inevitáveis. Toda a atividade humana causa um impacto no ambiente, e, portanto, é necessário adotar medidas capazes de atenuar tal impacto. O desenvolvimento rápido e descontroladodo turismo em localidades com recursos naturais de excepcional beleza, muitas vezes únicos, provoca excesso de demanda e superdimensionamento da oferta, que descaracterizam a paisagem e fazem a destinação perder as características que deram origem a atratividades. (RUSCHMANN, 2006). Segundo Ruschmann (2006, p. 117): Por isso, torna-se necessário empreender planos de desenvolvimento do turismo que estabeleçam a capacidade de carga das destinações, considerando o equilíbrio entre os efeitos econômicos, sociais e culturais e o equilíbrio dos recursos naturais da atividade. Além disso, é preciso considerar também a qualidade da experiência de férias dos turistas, que geralmente depende da quantidade de outros turistas na mesma localidade e dos equipamentos receptivos disponíveis. Assim, quando pretendemos criar ou implantar novo um empreendimento turístico, Ruschmann (2002, p. 113) considera que: O planejamento das facilidades e equipamentos a serem implantados nos espaços naturais requer não apenas estudos que avaliem todos os aspectos da demanda atual e futura, como também o estabelecimento de parâmetros de ocupação, baseados na determinação dos limites da capacidade de utilização desses espaços e de seus recursos. Estamos na era do conhecimento, e o avanço tecnológico tem proporcionado a criação de mecanismos que contribuem para intervenções menos impactantes no ambiente, que são, em alguns momentos, negligenciadas em função dos custos de implantação ou manutenção, ou, até mesmo, por falha do sistema, quando as agências reguladoras não realizam a fiscalização necessária. Assim, o grau de intervenção e o impacto que estas ações vão causar é questão de escolha dos empreendedores, muitas vezes pensada apenas sob a perspectiva econômica. FONTE: Justino (2010) 158 UNIDADE 2 | SUSTENTABILIDADE É importante que, em cada intervenção, se verifiquem os cuidados necessários, bem como as formas de compensação para danos inevitáveis. Também é preciso adotar o conceito de capacidade de carga para o planejamento do turismo, considerando que se trata de uma noção que reconhece que tanto os recursos naturais como os construídos pelo homem têm um limite para absorver visitantes; esse limite, quando ultrapassado, provoca sua deterioração. Assim, neste tópico vamos entender o que é Capacidade de Carga Turística e como esta pode ser calculada para diminuir os impactos ambientais nos ambientes visitados. Este é um fator fundamental quando pensamos em sustentabilidade do turismo, visto que, ao descaracterizar ou mesmo destruirmos definitivamente um atrativo, estaremos “matando a galinha dos ovos de ouro”. 2 CONCEITUAÇÃO E UTILIZAÇÃO DA CAPACIDADE DE CARGA A capacidade de suportar o crescimento populacional de uma região sem deterioração ambiental é um método aceito para o estabelecimento dos limites de visitação de uma área e identificação da utilização dos recursos turísticos. Este estudo deve: • Fornecer diretrizes para a implementação de estratégias de ecoturismo. • Sugerir diretrizes que sejam aplicáveis em nível regional, de comunidade e áreas. • Influenciar a relação entre os limites dessa capacidade e as projeções de mercado. • Fornecer diretrizes para áreas não desenvolvidas, assim como aquelas áreas que já recebem turistas. Ruschmann (2006, p. 116) adota o seguinte conceito para Capacidade de Carga Turística: número máximo de visitantes (por dia/mês/ano) que uma área pode suportar, antes que ocorram alterações nos meios físico e social. [...] Essa capacidade, porém, depende do tipo e do tamanho da área, do solo, da topografia, dos hábitos das pessoas e da vida selvagem (animais), bem como do número e da qualidade dos equipamentos instalados para atender aos turistas. Quanto maior o desenvolvimento turístico das atrações, maior a probabilidade de elas ultrapassarem sua capacidade de carga. Entretanto, não existe um limite claramente definido para ela, uma vez que a capacidade de um atrativo, de uma área ou de um local depende de elementos culturais e naturais, que variam tanto espacial como temporalmente. FONTE: Moraes (2000) TÓPICO 4 | CAPACIDADE DE CARGA NO TURISMO 159 Van Houts (1991 apud RUSCHMANN, 2006, p. 117) chama atenção para os diversos impactos negativos que a ultrapassagem da capacidade de carga pode provocar no ambiente físico, nas atitudes psicológicas dos turistas, no nível de aceitação social da comunidade receptora e na economia das localidades. Os limites físicos envolvem: a capacidade máxima de pessoas em determinada área e a deterioração que seu excesso provoca no meio natural da destinação, assim como nos recursos turísticos construídos pelo homem. A saturação psicológica se manifesta pelo desconforto que os turistas passam a sentir com o excesso de outros visitantes na mesma área ou no mesmo recurso. Quando esse limite é ultrapassado, os turistas começam a procurar outros locais para suas férias ou atividades recreativas. Trata-se do componente comportamental, que reflete a qualidade da experiência turística. Ruschmann (2006, p. 117) complementa observando que “a capacidade de carga social da comunidade receptora estará ultrapassada quando os moradores da localidade já não aceitarem os turistas e passarem a hostilizá-los”. Considerando que a visão moderna do turismo ambiental não separa a natureza do homem, mas tenta estimular sua integração harmoniosa a fim de prover a experiência turística aos cidadãos, protegendo os recursos naturais, as necessidades de espaço de que as pessoas necessitam mudam de acordo com as atividades turísticas e recreacionais praticadas e o local onde ocorrem. Assim, a determinação da capacidade de carga não pode ser utilizada como um limite absoluto para o uso ou a visitação e áreas turísticas. Trata- se, porém, de um instrumento indispensável para identificar situações críticas que necessitam de cuidados e medidas especiais para saná-las, para prevenir problemas a partir da aplicação de controles prévios e para promover o desenvolvimento sustentável do turismo. Deste modo, vamos conhecer alguns métodos para determinação da capacidade de carga no próximo capítulo. 3 DETERMINAÇÃO DA CAPACIDADE DE CARGA TURÍSTICA Operacionalizar a determinação da capacidade de carga das destinações turísticas (e recreativas) é uma tarefa muito complexa, pois resulta de um grande número de componentes que determinam a sua qualidade. Segundo Ruschmann (2006, p. 118): É preciso determinar a tipologia da frequência e as modalidades da intervenção sobre o espaço (semanal, sazonal ou permanente) e do tipo de lazeres praticados (passeios, turismo educativo, esportivo, familiar, jovem etc.). Dependerá, também, do comportamento dos indivíduos, muitas vezes irracional e condicionado, com maior ou menor intensidade, ao seu ambiente cultural. Encontram-se também FONTE: Adaptado de: Ruschmann (2006). 160 UNIDADE 2 | SUSTENTABILIDADE dificuldades na determinação da quantidade ideal de turistas e na sua distribuição no tempo e no espaço, dos meios disponíveis para conter os excessos, e na escolha de modelos de desenvolvimento a implantar etc. Como os impactos ambientais advindos da atividade turística são inevitáveis, Justino (2011) atribui alguns parâmetros para valoração destes impactos (quadro a seguir). Estes elementos são absolutamente necessários para definir medidas de redução e de compensação dos impactos da intervenção humana. QUADRO 11 – CONCEITUAÇÃO DOS ATRIBUTOS E DEFINIÇÃO DOS PARÂMETROS DE VALORAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS Atributos Parâmetros de valoração Caráter: expressa a alteração ou modificação gerada por uma ação. Benéfico: quando for positivo. Adverso: quando for negativo. Magnitude: extensão do impacto num dado componente do fator ambiental afetado. Pequena, média, grande. Importância: o quanto cada impacto é relevante na sua relação de interferência com o meio ambiente ou quando comparado com outros impactos. Não significativa, moderada,significativa. Duração: tempo de permanência do impacto depois da ação que o gerou. Curta, média, longa. Ordem: relação entre a ação e o impacto. Direta, indireta. Reversibilidade: delimita a possibilidade de retorno ou não ao estado original com o fim de determinada intervenção ambiental. Reversível, irreversível. Temporalidade: interinidade da intervenção ambiental. Temporário, cíclico, permanente. Escala: grandeza do impacto com relação à área de abrangência. Local, regional. FONTE: Justino (2011) Cabe observar que a percepção do resultado destes impactos nem sempre é compartilhada, em sua magnitude, pelos atores envolvidos no processo. Por exemplo, enquanto os moradores de uma localidade acham que o número de turistas é excessivo, os economistas preveem um número muito maior de visitantes para viabilizar financeiramente os equipamentos e a infraestrutura básica instalada. Assim, se conceitualmente se deve calcular o número de turistas em determinada área, é recomendada a consideração das seguintes variáveis, para que não haja desvios muito acentuados na delimitação de sua capacidade de carga: • Duração da estada dos visitantes. • Dispersão ou distribuição dos turistas dentro da área. • Características do local visitado. • Características dos turistas. • Época do ano em que ocorre a visita. FONTE: Haywood (1991 apud RUSCHMANN, 2006) TÓPICO 4 | CAPACIDADE DE CARGA NO TURISMO 161 Nesse sentido, as legislações municipais, estaduais e federais fornecem o suporte legal para ações que impeçam a entrada ou o acesso de visitantes além do número previamente determinado como suportável para a área ou localidade, e também para a restrição da construção de equipamentos turísticos ou de casas de veraneio. Os estudos relacionados com a determinação da capacidade de carga em espaços turísticos têm se concentrado mais nas áreas litorâneas, em virtude do fluxo crescente de turistas nas praias e os consequentes impactos que sua presença e os equipamentos construídos para atendê-los causam ao meio ambiente. Bound Bovy e Lawson (1977 apud RUSCHAMANN, 2006, p. 121) determinam os padrões médios para a ocupação de praias, aplicáveis a seus diversos tipos, e de equipamentos instalados: Consideram a largura da praia como sendo de 50 metros, maior do que a faixa de areia, pois inclui vegetação, áreas verdes, quiosques e terraços utilizados pelos visitantes. Além do número ideal de pessoas para os diversos tipos de praias, determinaram também a quantidade de pessoas nas praias de resorts, definindo-os como os equipamentos instalados para a estada de turistas, oferecendo-lhes facilidades múltiplas: – alojamento, lazer, locação de iates e veleiros, esportes etc. – supondo que, geralmente, de 40 a 70% dos hóspedes estão na praia ao mesmo tempo. DICAS No link <http://revistas.univerciencia.org/turismo/index.php/rbtur/article/ viewFile/102/101> você vai encontrar um exemplo de estudo de capacidade de carga em ambiente litorâneo. FONTE: Ruschmann (2006) 162 UNIDADE 2 | SUSTENTABILIDADE Nos parques nacionais e nas diversas áreas florestais consideram-se outros fatores que influenciam a sua visitação pelos turistas: o clima, a altitude e sua localização nas diferentes latitudes do planeta, que podem dificultar seu acesso no inverno, por causa da neve e de seus riscos, ou estimular a frequência nos esportes típico da estação, que também devem ter controlado o número de praticantes. Richez (1992 apud RUSCHMANN, 2006, p. 123) cita quatro dimensões que devem ser consideradas para definir a capacidade de carga do que chama de “espaços-parques”: • A capacidade de carga ecológica – trata-se do limite biológico e físico de qualquer espaço aberto às atividades recreativas. Sua determinação depende dos elementos que constituem os diversos espaços e ou ecossistemas e suas inter-relações e envolvem a utilização de conhecimentos de uma série de disciplinas relacionadas com a geologia, climatologia, hidrologia, geomorfologia, botânica, zoologia, ecologia etc. • A capacidade de cargas social e psicológica – trata-se do nível de impacto humano que, se ultrapassado, ocasiona a deterioração da qualidade da experiência do repouso ao ar livre (RICHEZ, 2002 apud RUSCHMANN, 2006). Para sua determinação será preciso considerar que as pessoas que visitam os parques nacionais e outras áreas florestais têm atividades, expectativas e percepções diferentes de um mesmo ecossistema ou espaço natural, e que estas dependem de seu nível cultural, de suas características sociais, de suas motivações conscientes ou inconscientes, do número de pessoas que participam da visita etc. • Os equipamentos instalados na área – trata-se aqui de estabelecer o número ideal e o tipo de equipamento adequado para atender às necessidades e expectativas dos visitantes. Se a política do órgão responsável está direcionada para proporcionar oportunidades de lazer diversificado aos visitantes e para as comunidades vizinhas, os equipamentos deverão obedecer a critérios, regulamentos e padrões arquitetônicos específicos, e deverão ser submetidos a controles rigorosos e frequentes. • A compatibilidade entre os diversos usos do espaço natural – a diversificação das atividades que podem ser praticadas dentro dos parques nacionais e das áreas florestais é muito ampla e, se algumas necessitam de equipamentos simples que não agridem o meio natural, tais como mirantes ou trilhas ecológicas, outras já provocam danos tanto à paisagem como aos ecossistemas, como, por exemplo, os teleféricos, restaurantes “panorâmicos” etc. FONTE: Ruschmann (2006) TÓPICO 4 | CAPACIDADE DE CARGA NO TURISMO 163 DICAS No link <http://www.physis.org.br/ecouc/Artigos/Artigo4.pdf>, você vai encontrar um exemplo de estudo de capacidade de carga em trilhas dentro de uma Unidade de Conservação. Talvez as unidades de conservação sejam os locais onde mais se encontram trabalhos relativos a estudos de capacidade de carga, visto que esta é uma condicionante dos Planos de Manejo exigido para tais áreas (ver Tópico 2 da Unidade 3). Porém, muitas regiões turísticas já manejam seus atrativos de acordo com estes estudos, como é o caso do município de Bonito/MS. DICAS Para ter acesso a outros estudos sobre capacidade de carga, consulte os Anais dos Congressos de Unidades de Conservação no link <http://www.redeprouc.org.br/ produtos.asp>. Cabe lembrar que os estudos de capacidade de carga não se aplicam apenas a atrativos naturais. Regiões com atrativos histórico-culturais também necessitam destes parâmetros, especialmente, quando se trata de patrimônio frágil. Neste caso, os métodos utilizados são diferenciados. DICAS Para conhecer um estudo de capacidade de carga de atrativo histórico- cultural, acesse o link <http://www.cet.unb.br/portal/attachments/1207_An%C3%A1lise%20 Econ%C3%B4mica.PDF>. 164 UNIDADE 2 | SUSTENTABILIDADE LEITURA COMPLEMENTAR PRESERVAÇÃO DOS PONTOS DE ATRAÇÃO TURÍSTICA ATRAVÉS DA METODOLOGIA DO CÁLCULO DE CARGA João Eduardo Di Pietro Filho João Eduardo Di Pietro Resumo Este trabalho tem como objetivo principal avaliar e melhorar a distribuição dos turistas no tempo e no espaço, proporcionando estadas mais longas, reduzindo o impacto ambiental e fazendo com que o visitante estimule o orgulho e o sentimento de propriedade com as comunidades locais, enriquecendo sua experiência. Com isso aumenta-se a possibilidade deste turista retornar, promovendo uma maior consciência ecológica na população local e fazendo com que o visitante compreenda a importância da preservação da natureza. Palavras-chave: Capacidade de carga; desenvolvimento sustentável; turismo. 1. Introdução A determinação da Capacidade de Carga foi aplicada primeiramente na pecuária, visando saber se as pastagens eram suficientes para que o gado tivesse uma boa alimentação, e os pastos cresciam para alimentar o ciclo seguinte. Já nos anos 50, nos EUA, verificou-se uma grande demanda por áreas de conservação. Naquelemomento, considerava-se apenas o visitante que o local poderia receber, mas nas décadas seguintes a preocupação com o desenvolvimento exagerado do turismo chegou a preocupar, e é até hoje amplamente divulgada pela mídia. A revista National Geographic citava que Acapulco seria destruída pelo próprio turismo. Nesse período, as praias do Mediterrâneo recebiam um enorme número de turistas e, nessa mesma época, ocorreu o apogeu da caça predatória na África. Nos anos 80 e 90, houve uma revisão dos conceitos existentes, surgindo assim metodologias de controle de visitantes. O princípio de capacidade de carga turística, que se refere ao conjunto de métodos e procedimentos criados para discutir as questões referentes à demanda turística e sua inserção sobre os recursos turísticos tornou-se, assim, importante. A metodologia Carrying Capacity (Capacidade de Carga) é apenas uma das propostas no campo da avaliação, monitoramento e manejo de visitantes. TÓPICO 4 | CAPACIDADE DE CARGA NO TURISMO 165 O manejo de visitantes, independentemente da metodologia empregada pelo planejador, é um instrumento do turismo moderno e sustentável e que tem como objetivos: - Com relação ao turista: Enriquecer a experiência. Aumentar a possibilidade de retorno. Estimular gastos mais elevados. Promover e fazer o visitante compreender a importância da conservação da natureza. - Com relação ao local de destino: Distribuir melhor os turistas no tempo e no espaço. Estimular estadas mais longas. Reduzir o impacto ambiental. Estimular o orgulho e o sentimento de propriedade com a comunidade local. 2. Capacidade de Carga O conceito de Capacidade de Carga é entendido como o equilíbrio entre as atividades econômicas em relação à área ou região e à ocupação humana ou ao nível de exploração que os recursos naturais podem suportar, assegurando a satisfação dos visitantes e o mínimo efeito sobre o meio ambiente. Estes são conceitos que pressupõem a conservação e não a proteção. São estabelecidos limites para o desenvolvimento de uma atividade turística equilibrada. (LIMDBERG, 2001). Ruchsmann (1997) entende a capacidade de carga de um recurso turístico como o número máximo de visitantes que uma área pode suportar, antes que ocorram alterações nos meios físico e social. Cerro (1993) conceitua capacidade de carga pela saturação do equipamento turístico, degradação do meio ambiente e pela diminuição da qualidade da experiência turística. Boullón (1994) define a Capacidade de Carga em: capacidade material, capacidade psicológica e capacidade ecológica. A capacidade material refere-se às condições da superfície da água ou da terra; a capacidade psicológica refere-se ao número de visitantes simultâneos que uma área pode acolher de modo satisfatório; a capacidade ecológica é medida pela quantidade de dias por ano, pelo número de visitantes simultâneos e pela rotatividade diária que uma área pode absorver, sem que se altere o seu equilíbrio ecológico. 166 UNIDADE 2 | SUSTENTABILIDADE A medição da capacidade ecológica de uma área indicada para o aproveitamento turístico requer estudo de profissionais especializados, a fim de garantir a diluição de impactos ambientais decorrentes da exploração. Segundo Boullón (1994), mesmo abandonando a defesa da ecologia, deve haver controle no número máximo de pessoas que possam ocupar um espaço simultaneamente. É necessário ter presente que as vertentes ecológica e social do ambiente constituem os principais ativos do setor turístico regional, e que, se os limites de sustentabilidade forem ignorados, as atividades turísticas poderão estar comprometidas, e o próprio destino seriamente desvalorizado. O conhecimento e respeito pelos limiares de utilização, em termos de capacidade de carga dos recursos e das infraestruturas, é condição fundamental para a manutenção das condições propícias às atividades turísticas. Nesta perspectiva, o Plano de Ordenamento Turístico (POT) e os Planos de Ordenamento da Orla Costeira (POOC), em elaboração, deverão constituir instrumentos importantes para equacionar os problemas antevistos com o crescimento da oferta turística na região e apontar soluções. Assim, é fundamental implementar uma política de desenvolvimento turístico que minimize o turismo de "massas" e a consequente degradação do destino, definindo os destinos "das praias" e “as trilhas”, em conformidade com as exigências de um desenvolvimento sustentável, melhorando a qualidade do produto turístico regional e a sua competitividade. Como já foi citado anteriormente, todo e qualquer espaço relacionado ao desenvolvimento do turismo deve ser conciliado à proteção do meio ambiente, pois a questão “natureza” é fonte principal do produto turístico. Por isso, o tema altamente discutido nos meios acadêmicos é a sustentabilidade. Esta discussão não condiz somente ao meio ambiente natural, mas a todos aqueles fatores que de certa forma possam alterar seu estado natural, em primeira instância; a sustentabilidade se relaciona muito com o respeito por aquilo que se usufrui, e depende da preservação da viabilidade de seus recursos de base, e do equilíbrio entre os interesses econômicos que o turismo estimula. Em suma, o desenvolvimento sustentável deve ter alta prioridade no planejamento para que gerações futuras possam aproveitar o mesmo recurso que o turismo proporcionou tempos atrás. O planejamento turístico deve também, ser conciliado a segmentos afins do meio, e deve trabalhar de forma integrada com o poder público e população autóctone, para que obtenha o resultado pretendido. Segundo Beni (1987), esta integração também considera os conjuntos de relações ambientais que envolvem os subsistemas ecológico, social, econômico e cultural; a organização estrutural da comunidade e as ações operacionais que envolvem o mercado, bem como a oferta e a demanda, optando sempre pelo melhor modo de distribuição. TÓPICO 4 | CAPACIDADE DE CARGA NO TURISMO 167 O planejamento turístico deve, da mesma forma, considerar as características e singularidades regionais, a fim de adotar medidas apropriadas a cada caso. No turismo, o plano de desenvolvimento constitui o instrumento fundamental na determinação e seleção das prioridades para a evolução harmoniosa da atividade, determinando suas dimensões ideais, para que, a partir daí, possa-se estimular, regular ou restringir, sua evolução, levando em consideração também o ciclo de vida da destinação em estudo e o perfil psicográfico do turista que se pretende atingir. No entanto, sua maior importância está relacionada à aceitação e participação da comunidade, que deverá buscar o turismo não somente como fonte de renda temporária, como acontece em muitas cidades litorâneas desse nosso país, mas tornar a atividade um novo conceito de economia, cultura, lazer e progresso. Deve ser bom e duradouro, trabalhar com ética e responsabilidade, buscar profissionais capacitados, e inserir o planejamento em todos os setores da atividade. “O turismo somente será bom para o município se antes for bom para a comunidade”. (BENI, 2001). 3. Metodologia A proposta mais difundida é a da Capacidade de Carga de Miguel Cifuentes. Este procedimento foi aplicado em 1984, no Parque Nacional de Galápagos, no Equador, como parte da revisão do Plano de Manejo do Parque. Em 1990, o procedimento metodológico foi revisado na Reserva Biológica Carara, na Costa Rica, e deu origem ao clássico manual “Determinación de La Capacidade de Carga Turística em áreas protegidas”, de 1992, e é hoje a referência para a aplicação da metodologia em atrativos naturais, podendo ser adaptada para qualquer atrativo, seja ele protegido por lei ou não. Este manual indica que a metodologia aplicada é a mais fácil, compreensível e útil para a determinação da Capacidade de Carga Turística, considerando que os atrativos mais belos do mundo estão localizados nos países em desenvolvimento, e que nestes locais há falta de pessoal qualificado e faltade tecnologia para estudos mais complexos. O autor ressalta que a Capacidade de Carga Turística não tem um fim em si mesma, e não é a solução dos problemas de visitação a uma unidade de conservação. É uma ferramenta de planejamento que sustenta e requer decisões de manejo. Este cálculo deve se basear nos objetivos da unidade de conservação, quando for o caso, e na legislação local em vigor, e cada um dos locais deve ter sua própria Capacidade de Carga Turística calculada. 168 UNIDADE 2 | SUSTENTABILIDADE 4. Cálculo de Capacidade de Carga Turística No cálculo da Capacidade de Carga Turística, deve-se considerar, caso existam, as “variáveis críticas”, isto é, que possam restringir significativamente o potencial de uso da área. Escassez de água, inexistência de pontos de apoio, precariedade do serviço de salvamento, falta de estacionamento e outras variáveis semelhantes devem ser avaliadas. A Capacidade de Carga em si é definida em três níveis: - Capacidade de Carga Física (CCF) que é uma relação simples entre espaço e necessidade de espaço por pessoa. - Capacidade de Carga Real (CCR), em que a CCF é submetida a Fatores de Correção (FC) particulares a cada local, de acordo com suas características. - Capacidade de Carga Efetiva (CCE), que restringe a CCR em função da capacidade de manejo da área. A Capacidade de Carga Física (CCF), interpretada como o limite máximo de visitas que pode acontecer em uma área em um tempo determinado, é expressa pela fórmula: CCF = ST . TT SV TV ST – Superfície total da área. SV – Superfície ocupada por um visitante. TT – Tempo total diário de abertura da área à visitação. TV – Tempo requerido para uma visita. A Capacidade de Carga Real é obtida através da multiplicação da CCF pelos diferentes Fatores de Correção considerados, conforme a seguir: CCR = CCF × FC1 × FC2 × ... × FCn Os Fatores de Correção podem ser biofísicos, ambientais ou de manejo. Quanto maior o número de FC considerados, maior a restrição imposta à Capacidade de Carga. Por esse motivo, deve-se buscar selecionar apenas aqueles fatores que realmente implicam uma redução da visitação. São considerados entre quatro a sete FC. Os mais usados são: F Fator de Correção Social (FCsoc). Busca proporcionar uma experiência de qualidade ao visitante, oferecendo não apenas o espaço efetivamente ocupado, mas também aquele que conduz a um conforto desejado: TÓPICO 4 | CAPACIDADE DE CARGA NO TURISMO 169 FCSOC = SV SC SV – Superfície ocupada por um visitante. SC – Superfície que confere o conforto desejado ao visitante. F Fator de Erosão (FCero). Fator de Correção que funciona como indicador de fragilidade ambiental. Considerar áreas sujeitas a este fenômeno: FCero =1 – SEST SE – Superfície erodida ou sujeita à erosão. ST – Superfície total da área. F Fator de Alagamento (FCala). Outro fator que indica a fragilidade ambiental. Também são consideradas as áreas com evidências de alagamento e/ou sujeitas a esse tipo de ocorrência: FCala = 1 – SAST SA – Superfície alagada ou sujeita ao alagamento. ST – Superfície total da área. F Fator de Acessibilidade (FCace). Mede o grau de dificuldade que teriam os visitantes para se deslocarem na área. É dado pela inclinação (acima de 20% são consideradas de difícil acesso multiplicadas por 1,5, de 10% e 20% são consideradas medianas sendo assim ponderadas por 1). As inclinações abaixo de 10% são desconsideradas: FCace =1 – 1,5 SD + SMST SD – Superfície de difícil acesso (inclinação superior a 20%). SD – Superfície de dificuldade de acesso mediana (inclinação entre 10% e 20%). ST – Superfície total da área. F Fator de precipitação (FCpre). É um fator que impede a visitação normal, pois a maioria das pessoas não está disposta a visitar ambientes naturais sob chuva. Deve-se considerar a média de horas de chuva diária nos meses em que a precipitação é significativa: 170 UNIDADE 2 | SUSTENTABILIDADE FCpre = 1 – TPTA TP – Tempo total anual de precipitação nos períodos de visitação aberta. TA – Tempo total anual de possível abertura da área à visitação. F Fator de Insolação (FCins). Em alguns locais, o brilho solar é demasiadamente forte em algumas horas do dia, restringindo a visitação. Aplicado somente a superfícies descobertas: FCins = 1 – TI . SSTA ST TI – Tempo total anual de insolação excessiva nos períodos de visitação aberta. TA – Tempo total anual de possível abertura da área à visitação. SS – Superfície exposta ao Sol. ST – Superfície total da área. F Fator de fechamento temporário (FCfec). Fechamentos da visitação para manutenção da área por períodos de reprodução de animais. Devem ser considerados como fatores de correção: FCfec = 1 – TFTA TF – Tempo total anual de fechamentos temporários nas visitações. TA – Tempo total anual de possível abertura da área à visitação. F Fator de Capacidade de Manejo. A Capacidade de Carga Efetiva é obtida através da multiplicação da CCR pelo Fator de Capacidade de Manejo (FM). CCE = CCR × FM 5. Conclusão A proposta apresentada para determinação da Capacidade de Carga Turística é hoje um referencial, em todo mundo, para se buscar a preservação, tanto do patrimônio natural como do histórico. Com esta metodologia aplicada, podem-se tomar medidas com relação à proteção do patrimônio ambiental, começando com campanhas de conscientização da população, abrangendo principalmente os municípios, a fim de se obter um consenso nacional sobre a importância do patrimônio a ser protegido. TÓPICO 4 | CAPACIDADE DE CARGA NO TURISMO 171 Sabe-se também que a Capacidade de Carga Turística não tem um fim em si mesma, e não é a solução dos problemas de visitação a uma unidade de conservação, mas, com ela, pode-se não somente atrair turistas aficionados, mas também visitantes que não se caracterizam como turistas convencionais e que não buscam as altas temporadas, mas sim o sossego das baixas temporadas, em que o objetivo é somente estar em contato direto com a natureza, e não com os problemas ocasionados pelos outros turistas. Este cálculo deve se basear nos objetivos da unidade de conservação, além de ser uma ferramenta de planejamento que sustenta e requer decisões de manejo. Quando isso acontecer, a legislação local em vigor deverá ter sua própria Capacidade de Carga Turística calculada. É preciso despertar a consciência ecológica para que as futuras gerações possam usufruir e preservar nossas belezas naturais. FONTE: <http://www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP2006_TR450301_6757.pdf>. Acesso em: 8 ago. 2011. 172 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico, vimos que: • Toda ação antrópica desencadeia um impacto no ambiente e, a partir desse pressuposto, é necessário adotar medidas capazes de mitigá-lo. • É necessário empreender planos de desenvolvimento do turismo que estabeleçam a capacidade de carga das destinações, considerando o equilíbrio entre os efeitos econômicos, sociais e culturais e o equilíbrio dos recursos naturais da atividade. • O planejamento das facilidades e equipamentos a serem implantados nos espaços naturais requer o estabelecimento de parâmetros de ocupação, baseados na determinação dos limites da capacidade de utilização desses espaços e de seus recursos. • É importante que, em cada intervenção, se verifiquem os cuidados necessários, bem como as formas de compensação para danos inevitáveis. • A capacidade de suportar o crescimento populacional de uma região sem deterioração ambiental é um método aceito para o estabelecimento dos limites de visitação de uma área e identificação da utilização dos recursos turísticos. • Entende-se a capacidade de carga de um recurso turístico como o número máximo de visitantes (por dia/mês/ano) que uma área pode suportar, antes que ocorram alterações nos meios físico e social. • A ultrapassagem da capacidade de carga pode provocar diversos impactos negativos no ambiente físico,nas atitudes psicológicas dos turistas, no nível de aceitação social da comunidade receptora e na economia das localidades. • A capacidade de carga social da comunidade receptora estará ultrapassada quando os moradores da localidade já não aceitarem os turistas e passarem a hostilizá-los. • A determinação da capacidade de carga é um instrumento indispensável para identificar situações críticas que necessitam de cuidados e medidas especiais para saná-las, para prevenir problemas a partir da aplicação de controles prévios e para promover o desenvolvimento sustentável do turismo. • Operacionalizar a determinação da capacidade de carga das destinações turísticas (e recreativas) é uma tarefa muito complexa, pois resulta de um grande número de componentes que determinam a sua qualidade. 173 • As legislações municipais, estaduais e federais fornecem o suporte legal para ações que impeçam a entrada ou o acesso de visitantes além do número previamente determinado como suportável para a área ou localidade, e também para a restrição da construção de equipamentos turísticos ou de casas de veraneio. • Os estudos relacionados com a determinação da capacidade de carga em espaços turísticos têm se concentrado mais nas áreas litorâneas, em virtude do fluxo crescente de turistas nas praias e os consequentes impactos que sua presença e os equipamentos construídos para atendê-los causam ao meio ambiente. • Nos parques nacionais e nas diversas áreas florestais consideram-se outros fatores que influenciam a sua visitação pelos turistas: o clima, a altitude e sua localização nas diferentes latitudes do planeta, que podem dificultar seu acesso no inverno, por causa da neve e de seus riscos, ou estimular a frequência nos esportes típico da estação, que também devem ter controlado o número de praticantes. 174 1 Quantos atrativos turísticos em sua região possuem estudos de capacidade de carga? Tente descobrir se estes estudos estão sendo aplicados na visitação turística. 2 Segundo Moraes (2000), a capacidade de suportar o crescimento populacional de uma região sem deterioração ambiental é um método aceito para o estabelecimento dos limites de visitação de uma área e identificação da utilização dos recursos turísticos. Este estudo deve obedecer alguns critérios. Assinale a alternativa que não apresente um critério adequado: a) Fornecer diretrizes para a implementação de estratégias de ecoturismo. b) Sugerir diretrizes que sejam aplicáveis em nível regional, de comunidade e áreas. c) Não influenciar a relação entre os limites dessa capacidade e as projeções de mercado. d) Fornecer diretrizes para áreas não desenvolvidas, assim como aquelas áreas que já recebem turistas. 3 Richez (1992 apud RUSCHMANN, 2006, p. 123) cita quatro dimensões que devem ser consideradas para definir a capacidade de carga do que chama de “espaços-parques”. Assinale a alternativa que não contenha uma dimensão correta: a) A capacidade de carga ecológica. b) A capacidade de cargas social e psicológica. c) Os equipamentos instalados na área. d) A incompatibilidade entre os diversos usos do espaço natural. 4 O que é a capacidade de carga de um recurso turístico? a) É o número máximo de visitantes (por dia/mês/ano) que uma área pode suportar, antes que ocorram alterações nos meios físico e social. b) É o número mínimo de visitantes (por dia/mês/ano) que uma área pode suportar, antes que ocorram alterações nos meios físico e social. c) É o número máximo de visitantes (por dia/mês/ano) que uma área pode suportar, depois que ocorrem alterações nos meios físico e social. d) É o número mínimo de visitantes (por dia/mês/ano) que uma área pode suportar, depois que ocorrem alterações nos meios físico e social. AUTOATIVIDADE 175 5 Classifique as seguintes sentenças em V verdadeiras ou F falsas: ( ) A determinação da capacidade de carga é um instrumento indispensável para identificar situações críticas que necessitam de cuidados e medidas especiais para saná-las, para prevenir problemas a partir da aplicação de controles prévios e para promover o desenvolvimento sustentável do turismo. ( ) Operacionalizar a determinação da capacidade de carga das destinações turísticas (e recreativas) é uma tarefa muito complexa, pois resulta de um grande número de componentes que determinam a sua qualidade. ( ) As legislações municipais, estaduais e federais fornecem o suporte legal para ações que impeçam a entrada ou o acesso de visitantes além do número previamente determinado como suportável para a área ou localidade, e também para a restrição da construção de equipamentos turísticos ou de casas de veraneio. ( ) Os estudos relacionados com a determinação da capacidade de carga em espaços turísticos não têm se concentrado mais nas áreas litorâneas, em virtude do fluxo crescente de turistas nas praias e os frequentes impactos que sua presença e os equipamentos construídos para atendê-los causam ao meio ambiente. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - V - V - V. b) ( ) V - V - F - V. c) ( ) V - V - V - F. d) ( ) V - F - V - V. 6 Leia e complete a seguinte sentença: A ultrapassagem da ____________ pode provocar diversos impactos ____________ no ambiente físico, nas atitudes ____________ dos turistas, no nível de aceitação ____________ da comunidade receptora e na economia das localidades. Agora, assinale a alternativa CORRETA: a) capacidade de suporte - negativos - sociais - social. b) capacidade de carga - positivos - sociais - psicológica. c) capacidade de suporte - positivos - psicológicas - social. d) capacidade de carga - negativos - psicológicas - social. 176 177 UNIDADE 3 MODALIDADES TURÍSTICAS NO ESPAÇO NATURAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade você será capaz de: • conhecer as diferenças entre o ecoturismo e o turismo de aventura; • compreender a relação e a importância do turismo de aventura no merca- do turístico; • entender a importância das Unidades de Conservação e seu potencial como atrativo turístico; • conhecer os potenciais impactos da atividade turística no ambiente natu- ral e nas culturas tradicionais. Esta Unidade está organizada em quatro tópicos, sendo que, em cada um deles, você encontrará atividades para uma maior compreensão das informações apresentadas. TÓPICO 1 – ECOTURISMO E TURISMO DE AVENTURA TÓPICO 2 – TURISMO EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO TÓPICO 3 – TURISMO DE EXPERIÊNCIA TÓPICO 4 – O IMPACTO AMBIENTAL DA ATIVIDADE TURÍSTICA 178 179 TÓPICO 1 ECOTURISMO E TURISMO DE AVENTURA UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Agora que já aprendemos sobre o meio ambiente e a sustentabilidade no turismo, nesta unidade, vamos estudar um pouco das relações entre o turista e o ambiente natural. Especificamente neste tópico, vamos abordar com mais detalhes o turismo contemplativo e o de aventura. Nem sempre é consenso entre os estudiosos do turismo a clara separação entre o ecoturismo e o turismo de aventura, sendo que algumas atividades praticadas em ambientes naturais e de baixo impacto ambiental são consideradas por estes modalidades de ecoturismo. Todas as atividades de lazer e recreação praticadas em áreas naturais são de caráter altamente dinâmico, alternando-se principalmente de acordo com a flutuação e a motivação da demanda turística, não sendo raro o aparecimento de novas modalidades. Observe o quadro a seguir: QUADRO 12 – ALGUMAS ATIVIDADES TURÍSTICAS EM AMBIENTES NATURAIS ATIVIDADES / INTERESSES CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS NECESSIDADES ESPECIAIS Boia-cross (Acquaraid). Percorrer rios de corredeiras por meio de boias infláveis. O equipamento pode ser uma câmara de pneu de caminhão ou equipamentos específicos, melhor elaborados e resistentes. Equipamentos como capacete e salva-vidas, além de saber nadar e conhecer o percurso. Asa-delta, paraquedismo, parapente, paraglyder, bolonismo. Práticas aéreas que permitem umavisualização das paisagens de forma panorâmica e sem muitos impactos na fauna e flora. Treinamento especializado e autorização de voo. Os equipamentos são caros e quase sempre importados. Necessita também de apoio por terra. FONTE: WWF (2003) UNIDADE 3 | MODALIDADES TURÍSTICAS NO ESPAÇO NATURAL 180 Acampamento (Camping) Forma mais econômica de hospedar-se próximo à natureza. As barracas estão mais leves e mais baratas hoje em dia. Campings regular izados , com um mínimo de estrutura, e v i t a n d o - s e o c a m p i n g selvagem. Cannyoning / Cachoeirismo (Cascading) Explorar e percorrer rios de vale, driblando os acidentes naturais como cânions, gargantas e cachoeiras. A variante “cascading” é conhecida como rappel de cachoeira. Bons equipamentos, equipes treinadas, preparo e experiência. Canoagem (Canoeing, cayaking) e Rafting Passeios de canoas e caiaques realizados em lagoas, lagos, rios com ou sem corredeiras, baías, mangues etc. Rafting é a descida de rios com corredeiras e pequenas cachoeiras com botes infláveis de estrutura reforçada. N ã o n e c e s s i t a t é c n i c a especializada, mas apenas acompanhamento e saber nadar, além de coletes salva-vidas e capacete. Canoas e caiaques não são baratos, mas produtos nacionais são bons e acessíveis. Ciclismo / Mountain Biking Passeios de bicicleta adaptadas a terrenos irregulares por roteiros predeterminados. Podem-se alcançar lugares mais distantes do que as caminhadas e com menor esforço físico. Exige-se preparo f ís ico e equipamentos de segurança como capacetes e joelheiras. Caminhadas e Travessias (Hikking / Trekking) Caminhadas simples de até 3-4 km não exigem preparo físico, apenas a definição de paradas para descanso e lazer. Trekking são caminhadas mais longas, de até um dia. Distâncias, entre duas regiões de interesse e podem durar de 1 a 4 dias. Para a prát ica de longas caminhadas e travessias não basta disposição. Tem que ter um roteiro bem definido e um mínimo de estrutura logística (equipamento e vestuário), além de preparo físico. Mergulho livre e autônomo (Diving) / flutuação (Snorkelling) O mergulho em áreas marinhas costeiras e em águas interiores é prática já bem desenvolvida no Brasil, porém pouco explorada pelo turismo. A flutuação é realizada em rios e mares de águas cristalinas, equipado apenas com máscara, snorkell e pé de pato. Saber nadar. Equipamentos de mergulho livre e de flutuação são baratos. O de mergulho autônomo nem tanto e necessita de cursos especializados. Montanhismo Caminhadas em ambiente serranos e montanhosos, que podem ou não incluir atividades de escalada simples ou vertical. Atividades com elevados graus de dificuldade podem exigir treinamento, equipamento e acompanhamento específicos. Observação astronômica Observar e conhecer planetas, estrelas e constelações. Melhor realizado longe de centros urbanos e em locais de amplos horizontes. Cartas celestes auxiliam na observação e podem ensinar as noções básicas de orientação geográfica. Pode ser realizada mesmo a olho nu, porém binóculos e telescópios amadores, assim como instrutores especializados, podem enriquecer a experiência. TÓPICO 1 | ECOTURISMO E TURISMO DE AVENTURA 181 Observação da fauna/ flora / Safári fotográfico Realizadas em todo e qualquer passeio, seja de barco, cavalo ou a pé, ou em equipamentos especializados, como torres de observação. Exigem-se técnicas de interpretação ambiental com guias naturalistas especializados ou guias mateiros treinados. Especialmente para a fauna, pode-se precisar de roupas c a m u f l a d a s , t é c n i c a s d e c a m i n h a d a s , l i v r o s d e identificação de animais e de pegadas e equipamentos como binóculos, torres de observação e canopy walkway. Observação de aves (Birdwatching) Observar, identificar e estudar aves em seu ambiente natural. Trilhas específicas para esta atividade podem ser implantadas. As aves podem ter hábitos muito diferentes entre as diversas famílias e devem-se conhecer as melhores épocas e os horários específicos pra observá-los. Necessita de equipamentos como binóculos e bons livros de identificação de avifauna. T é c n i c a s o u s a d a s , g u i a s treinados e equipamentos como torres de observação e passarelas suspensas (canopy walk) permitem maiores chances de observação. Passeio equestre / Enduro equestre Passeios em cavalos treinados para visitantes de "primeira cavalgada", de poucas horas ou de até um dia, formando típicas comitivas. O cavalo é resistente a longas caminhadas e proporciona uma maior interação com a paisagem. Enduro equestre é o deslocamento por roteiros mais longos e acidentados, exigindo animais mais robustos e treinados. No caso do passeio equestre, não há necessidade de experiência prévia, apenas de orientações gerais do guia e de proteção do sol. O enduro equestre é para visitantes mais experientes. Neste caso é preciso também equipamentos em conhecimento do roteiro. Pescaria amadora / Esportiva Muito popular em vários países, ganhando muitos adeptos no Brasil. A prática da soltura do peixe após sua captura (pesque e solte) também está crescendo. Equipamentos simples e baratos são suficientes para uma boa pescaria. Utilizar anzóis sem farpas machucam menos os peixes. Obedeça a legislação local e federal, e obtenha a licença de pesca. Há restrições para a época de reprodução (novembro a março) e para o tamanho máximo de captura de algumas espécies. Devem-se evitar as áreas de pesca de subsistência das comunidades locais. Visita em Cavernas / Espeleomergulho A visita em cavidades naturais permite conhecer um ambiente único, frágil e inóspito. Algumas cavernas apresentam graus de dificuldade e só devem ser exploradas com acompanhamento por especialistas, pois possuem abismos, travessias de rios e lagos internos e até quedas d'água. O I B A M A e x i g e p l a n o de manejo da visitação e acompanhamento especializado. A fauna é extremamente sensível às alterações ambientais provocadas pela visitação. Os espeleotemas são frágeis. Exigem-se certo esforço físico e equipamentos, alguns não tão baratos. UNIDADE 3 | MODALIDADES TURÍSTICAS NO ESPAÇO NATURAL 182 Visitas às comunidades locais / tradicionais Atividades que proporcionam ao visitante trocas de conhecimentos, vivências e experiências culturais. R e g i o n a l i s m o s e m a r c a s d e miscigenação racial. Possuem grande interesse turístico, tais como a gastronomia, a arquitetura, a música, o artesanato e as vestimentas. Modos de vida, tais como atividades de lida com o gado, de pesca, de fabricação de medicamentos e cosméticos naturais entre outros, agregam valor cultural ao roteiro ecológico. Estudos antropológicos e socioambientais são necessários para se conhecer as fragilidades culturais de alguns povos, principalmente indígenas e quilombolas. Ações de resgate e valorização cultural podem ser necessárias se receber visitantes de diferentes culturas. Planejamento participativo contr ibui no preparo da comunidade e para ampliar os benefícios. FONTE: WWF BRASIL (2003) DICAS Visite o site do Clube de Observadores de Aves do Vale Europeu – COAVE para conhecer a atividade e seus potenciais: <www.coave.org.br>. Independente do grau de adrenalina que uma atividade possa liberar, temos que ter como foco todos os princípios do ecoturismo, já discutidos no Tópico 3 da Unidade 1. A partir deste entendimento, vamos agora compreender o que diferencia o ecoturismo contemplativo daquele que se caracteriza como turismo de aventura. 2 ENVOLVIMENTO COM A NATUREZA Como vimos na Unidade 1, o ser humano tem uma relação direta com o meio ambiente desde o início de sua história, visto que nossa sobrevivência depende dele. Desde o ar que respiramos, nossos alimentos e utensílios, tudo vem de matérias-primas animal, vegetal oumineral. Por causa disso, inconscientemente temos uma ligação muito forte com a natureza, que se manifesta de várias formas. Como já vimos antes, essa ligação recebe o nome de biofilia, ou seja, um amor ou atração por vida, uma tendência natural do ser humano de voltar sua atenção às coisas vivas. Esse sentimento pode se expressar de várias formas. Pode ser na afinidade com animais domésticos, manutenção de vasos de plantas ou jardins, prazer em frequentar parques, praças, praias e clubes de campo. Também encontramos exemplos na predileção por atividades em ambiente natural como pesca, caminhadas em trilhas, fins de semana em sítios, fazendas e outras áreas, prática de ecoturismo e turismo de aventura. TÓPICO 1 | ECOTURISMO E TURISMO DE AVENTURA 183 Todos os seres humanos, em algum instante da vida, já sentiram necessidade de procurar por ambientes selvagens, terras pouco maculadas pela ocupação humana, mesmo que inconscientemente, em uma tentativa de resgatar a natureza. O resultado desse encontro é um sentimento de paz interior, geralmente perdida no cotidiano. De acordo com Milena (2010), a biofilia gera o que chamamos de Valor de Amenidade: Uma espécie tem valor de amenidade quando o simples fato de existir proporciona alguma experiência não material na vida humana. Dentre os exemplos dessa condição estão o ecoturismo, a pesca, observação de aves ou fotografia de natureza – todas essas atividades trazem, além de um valor de mercado, estímulos emocionais e estéticos. DICAS Para saber mais sobre Valor de Amenidade, acesse <http://www.advivo.com.br/ materia-artigo/visao-extra-economicista-ajuda-na-conservacao>. Em atividades de turismo de natureza, observamos esse fenômeno com frequência. Os turistas chegam todos os dias de suas cidades apenas para observar aves, macacos e outros animais. Alegram-se ao sentir o cheiro da terra molhada e do aroma das flores. Emocionam-se com o pôr do sol e com os sons da mata. Querem extravasar o stress escalando paredões de pedra ou explorando cavernas. Relaxar enquanto mergulham em águas cristalinas. Testar limites pendurando-se em cordas ao lado de cachoeiras. Pagam para ter um contato com a natureza que os centros urbanos já não permitem. A procura por roteiros e destinos cujo foco principal é a natureza tem crescido anualmente no Brasil, conforme já discutido na Unidade 1. Se de início bastava um fim de semana no sítio ou na casa da praia, hoje o consumidor procura por produtos cada vez mais elaborados e que possibilitem oportunidades de contato com a natureza, privilegiando experiências diferenciadas conforme o gosto e o interesse do turista. A experiência procurada pode ser desde um dia de sol em frente ao mar até dias de caminhada por trilhas íngremes até o topo de uma montanha. A emoção buscada pode ser a fotografia de uma espécie rara de borboleta até o mergulho mais profundo em uma caverna inundada. FONTE: Milena (2010) UNIDADE 3 | MODALIDADES TURÍSTICAS NO ESPAÇO NATURAL 184 FIGURA 54 – O DESEJO DE ESTAR PRÓXIMO À FAUNA É UM DOS PRINCIPAIS MOTIVADORES DO ECOTURISMO FONTE: http://wroteiro.blogspot.com/2011/04/fazenda-san-francisco-pantanal.html>. Acesso em: 18 ago. 2011. O conjunto das incursões na natureza relacionado ao ecoturismo como aventura esportiva resulta do cruzamento de duas tendências contemporâneas: por um lado, a expansão dos esportes de aventura e, por outro, a valorização do consumo de cenários naturais. Portanto, não importa qual seja o grau de adrenalina que o turista procura, o que importa é que ela seja alcançada em ambientes naturais. E aí cabe aos operadores de turismo saberem identificar qual é a atividade que mais se adéqua ao perfil do turista e recomendar os destinos que possam atender a este desejo. DICAS Para conhecer destinos de ecoturismo no Brasil, acesse o link <http://ambientes. ambientebrasil.com.br/ecoturismo/destinos.html>. 3 TURISMO CONTEMPLATIVO Embora alguns autores considerem que turismo contemplativo é sinônimo de ecoturismo, Mamede e Alho (2005, p. 1) tratam como um ramo do ecoturismo: que tem como um de seus instrumentos a interpretação ambiental, envolvendo a satisfação, o interesse e compreensão do meio ambiente, assim como a permissão humana de viver e sentir a essência da natureza, usufruindo-se de seus recursos de forma harmônica e sustentável. FONTE: Jesus (2003) TÓPICO 1 | ECOTURISMO E TURISMO DE AVENTURA 185 Inúmeros atrativos podem ser elementos de contemplação na natureza, tais como paisagens, sons, cores, formas, grupos vegetais e os mais diversos grupos animais. A contemplação da paisagem pode ser praticada nos mais diversos locais, porém é clara a preferência do público por lugares altos, de visão ampla, transmitindo sensação de liberdade. Neste quesito, o ápice da experiência se dá nos pontos que permitam uma visão privilegiada da alvorada e do pôr do sol. Praias, cume de montanhas, mirantes e paisagens abertas são os exemplos favoritos. FIGURA 55 – NÃO IMPORTA O LUGAR, O PÔR DO SOL É SEMPRE VALORIZADO PELOS TURISTAS FONTE: <http://kew-sousa.blogspot.com/2011/03/por-do-sol.html>. Acesso em: 18 ago. 2011. Outro ramo interessante que vem ganhando adeptos é a contemplação da paisagem sonora, ou seja, o conjunto de sons característicos de uma área ou região. Em ambientes naturais, a paisagem sonora pode ser composta pelo canto das aves, o som do vento nas folhas das árvores, o barulho da água caindo da cachoeira, o bater das ondas na praia, o estrondo do trovão quando uma tempestade se aproxima. Pode ser de silêncio também, como o mundo subaquático ou totalmente silencioso, como o interior de uma caverna. A paisagem sonora é parte inseparável de um ambiente. Quando vemos notícias sobre desmatamento e extinção de espécies animais, geralmente lamentamos que jamais será possível ver aquela paisagem ou observar aquele bicho novamente. Mas poucos se dão conta que, neste aspecto, os sons naturais também se vão, ou seja, a eliminação de um pedaço de mata ou campo leva embora a paisagem sonora daquele local. FONTE: Mamede; Alho (2005) UNIDADE 3 | MODALIDADES TURÍSTICAS NO ESPAÇO NATURAL 186 Por fim, talvez o turismo contemplativo que mais possui adeptos no mundo é o turismo de observação de fauna. De acordo com Duffus e Dearden (1990, p. 215), as relações entre os seres humanos e os animais podem ser classificadas como de alto, baixo ou sem consumo: • Interação de alto consumo: atividades como caça e pesca. • Interação de baixo consumo: visita a zoológicos, oceanários e outros ambientes que mantêm os animais em cativeiro. • Interação sem consumo: atividades que possibilitam a observação da vida selvagem em seus ambientes naturais, como a observação de aves, de baleias e os safáris. Segundo esta classificação, o turismo contemplativo de fauna, ou observação de vida silvestre, pode ser considerado como uma interação sem consumo, ou seja, que não necessita consumir o animal como alimento ou troféu (caça e pesca), retirar o animal de seu ambiente natural ou mantê-lo em cativeiro. Nosso foco é a observação da vida livre, testemunhando as relações naturais destes seres com o mínimo de interferência. A observação de vida silvestre pode ser generalista, ou seja, quando todos os animais são interessantes (mergulho, safári), ou específico, quando apenas um grupo é foco do interesse. A observação de aves, de grandes mamíferos e mergulho em bancos de corais certamente são os segmentos mais difundidos, porém podemos encontrar no Brasil e no mundo muitas outras variações, conforme Tapper (2006, p. 14): • Borboletas. Ex.: migração das borboletas-monarcas no México, Estados Unidos e Canadá. • Vaga-lumes. Ex.: Austrália, Pantanal. • Conchas e caramujos. Ex.: Migração do caramujo-vermelho no Oceano Índico. • Recife de corais. Ex.: Caribe, Costa Brasileira, Austrália. • Tubarões. Ex.: Ilhas Caiman, Maldivas, África do Sul, Austrália. • Arraias. Ex.: Ilhas Caiman, Maldivas, Austrália,Pantanal. • Salamandras. Ex.: Estados Unidos. • Dragão-de-Komodo. Ex.: Ilha de Komodo. • Serpentes. Ex.: Pítons na Índia, sucuris no Pantanal. • Jacarés e crocodilos. Ex.: Jamaica, Austrália, Estados Unidos, Pantanal, Amazônia, África. • Tartarugas, cágados, jabutis. Ex.: Litoral brasileiro, México, Sri Lanka, Indonésia, Galápagos. • Aves. Ex.: Inglaterra, Espanha, Costa Rica, Patagônia, Estados Unidos, Brasil, Índia, África. • Pinguins. Ex.: Antártida, Patagônia, Austrália. • Grandes mamíferos. Ex.: África, Índia. • Tigres. Ex.: Nepal, Índia. TÓPICO 1 | ECOTURISMO E TURISMO DE AVENTURA 187 • Gorilas e orangotangos. Ex.: África e Borneo. • Ursos polares. Ex.: Canadá e Groelândia. • Morcegos. Ex.: Texas, Austrália. • Peixe-boi. Ex.: Caribe, Amazônia, Nordeste brasileiro. • Golfinhos e botos. Ex.: Egito, Austrália, Fernando de Noronha, Santa Catarina, Amazônia. • Baleias. Ex.: Patagônia, Nova Zelândia, México, África, Ilhas Canárias, Brasil. • Migrações de grandes mamíferos. Ex.: África, América do Norte. • Mamíferos marinhos. Ex.: Patagônia, Estados Unidos, Galápagos, África. DICAS Para saber mais sobre segmentos da observação de vida silvestre, acesse <http:// www.cms.int/publications/pdf/CMS_WildlifeWatching.pdf>. De acordo com dados da Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura - ABETA, a observação de vida selvagem é a quinta atividade mais praticada pelos ecoturistas (22%). Entretanto, segundo dados desta mesma pesquisa, 61% dos ecoturistas desejam observar fauna, sendo a terceira atividade mais desejada entre as 24 citadas. Estes dados permitem confirmar, portanto, que dentre as diferentes possibilidades de turismo contemplativo, a observação de vida silvestre é a mais atrativa para os ecoturistas. Observe que atualmente temos dois públicos interessados em turismo contemplativo: o turista que busca relaxamento e prazer com belas paisagens e observação de fauna, e aquele que busca as mesmas sensações, porém com foco na produção de filmagens e fotografias. Isto significa que o operador deve estar atento às necessidades específicas de cada grupo. ATENCAO FONTE: Adaptado de: ABETA (2010) UNIDADE 3 | MODALIDADES TURÍSTICAS NO ESPAÇO NATURAL 188 4 TURISMO DE AVENTURA A Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura – ABETA (2010, p. 13), considera a seguinte definição para o segmento de Turismo de Aventura: Turismo de Aventura compreende os movimentos turísticos decorrentes da prática de atividades de aventura de caráter recreativo e não competitivo. [...] Os movimentos turísticos são entendidos como “os deslocamentos e estadas que pressupõem a efetivação de atividades consideradas turísticas”. As “práticas de aventura de caráter recreativo e não competitivo” pressupõem “determinado esforço e riscos controláveis, e que podem variar de intensidade conforme a exigência de cada atividade e a capacidade física e psicológica do turista”. ABETA (2010, p. 13) cita também a definição da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, engajada no processo de normalização do turismo de aventura no Brasil: Atividades oferecidas comercialmente, usualmente adaptadas das atividades de Turismo de Aventura, que tenham ao mesmo tempo o caráter recreativo e envolvam riscos avaliados, controlados e assumidos. Assim, fica evidenciado que o turista de aventura deve ser um comprador de atividades comercialmente oferecidas. Entretanto, não se pode ignorar o fato de que muitos praticantes destas atividades não buscam operadoras de turismo, praticando de forma autônoma e independente. As atividades de aventura abrangem hoje um incontável conjunto de vivências realizadas em cenário natural, possibilitadas pelo avanço tecnológico e impulsionadas pela ideologia de consumo da natureza. Jesus (2003, p. 78) considera ainda que a busca contemporânea de aventura e contato com a natureza, aliada às novas possibilidades tecnológicas, promoveu o surgimento de novas práticas esportivas, muitas resultantes de adaptações de modalidades tradicionais: O snowboarding deriva do esqui, o mountain bike do ciclismo, o rafting da canoagem (todos claros exemplos do uso de novos materiais e busca de novos cenários/desafios); e do surfe derivam diversas inovações (body board, body surf etc.). Outras modalidades surgem beneficiadas pelas mesmas condições de avanço tecnológico e busca da aventura na natureza sem, entretanto, derivar diretamente de esportes tradicionais: o parapente (ou paragliding) e a asa-delta, por exemplo, ou ainda o boia-cross. E há também aquelas práticas resultantes de técnicas de trabalho de campo: do avento de equipamentos mais seguros para as investigações espeleológicas (aliado à já comentada valorização das sensações de risco) derivaram o rapel, o canyoning e o caving. FONTE: Jesus (2003) TÓPICO 1 | ECOTURISMO E TURISMO DE AVENTURA 189 A ABETA (2010, p. 72) considera que o total de modalidades de aventura é superior a 25 possibilidades, citando como principais: QUADRO 13 – PRINCIPAIS MODALIDADES DE TURISMO DE AVENTURA, SEGUNDO ABETA Aqua Ride Arvorismo Asa Delta Bugue Caminhada Caminhada de longo curso Canionismo e Cachoeirismo Canoagem Cavalgada Cicloturismo Escalada Espeleoturismo Flutuação Kitesurf Mergulho Montanhismo Observação da vida selvagem Parapente Rafting Rapel e Tirolesa Turismo fora de estrada Windsu FONTE: <http://www.abeta.com.br/pt-br/atividades-turismo-de-aventura.asp>. Acesso em: 18 ago. 2011. NOTA Note que observação de vida selvagem é citada pela ABETA como turismo de aventura. No entanto, para muitos autores, esta atividade se enquadra como turismo contemplativo, conforme foi adotado nesta disciplina. O turismo de aventura tende, por definição, a buscar áreas praticamente intocadas: picos elevados, vertentes íngremes, cavernas, ambientes submarinos, vales em garganta, corredeiras e cachoeiras. O território brasileiro, neste aspecto, oferece múltiplas possibilidades devido à diversidade de paisagens e o clima ameno (o que facilita a aventura em ambientes aquáticos, por exemplo). Segundo Jesus (2003, p. 79), devido a estas características, as atividades de aventura tendem a buscar novas localidades, de preferência inédita e longe de roteiros turísticos tradicionais, sendo que, inicialmente: Tendem a apresentar uma territorialidade provisória, leviana, completamente diferente daquela realizada pelas modalidades tradicionais, as que se materializam em grandes e duráveis instalações fixas na paisagem. Podemos sugerir que esportes de aventura rascunham uma nova “geografia” do efêmero uso dos lugares, pois aqui é fundamental o desconhecimento do espaço aonde vai se realizar a prática, fato gerador de motivação para superar os desafios previstos. FONTE: Adaptado de: Jesus (2003) UNIDADE 3 | MODALIDADES TURÍSTICAS NO ESPAÇO NATURAL 190 Essa busca por novos destinos tem como tendência pequenas localidades, geralmente em áreas de relevo acidentado e próximas às grandes metrópoles. Um exemplo claro desta observação é o município de Brotas/SP. FIGURA 56 – BROTAS/SP É UMA DAS PRINCIPAIS REFERÊNCIAS EM TURISMO DE AVENTURA NO BRASIL FONTE: <http://www.espacoturismo.com/blog/wp-content/gallery/brotas/rafting-em-brotas-1. jpg>. Acesso em: 18 ago. 2011. Outro fator importante a se observar em turismo de aventura é a mudança do perfil dos empresários responsáveis por este segmento turístico. Se no início o perfil dos gestores era informal e amador, atualmente observa-se uma clara profissionalização da atividade, com organização e capacitação técnica. Esta mudança de perfil pode ser observada na adoção quase generalizada de normas técnicas, padronização rigorosa de procedimentos e certificação. Um dos principais resultados foi a redução do número de acidentes fatais associados a estas atividades, que antigamente era notícia comum entre os praticantes do turismo de aventura. DICAS Visite o site <www.abeta.com.br> e <www.aventurasegura.com.br>para conhecer um pouco mais sobre certificação de segurança no turismo de aventura e no ecoturismo. FONTE: Jesus (2003) TÓPICO 1 | ECOTURISMO E TURISMO DE AVENTURA 191 LEITURA COMPLEMENTAR A acessibilidade no turismo, de forma geral, vem se tornando cada vez mais inserida no planejamento e organização de roteiros, especialmente em atividades ecoturísticas. O texto a seguir comenta o Manual de Boas Práticas de Acessibilidade em Ecoturismo e Turismo de Aventura, elaborado pela ABETA. A Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura – ABETA, elaborou o 11º Manual de Boas Práticas – Acessibilidade em Ecoturismo e Turismo de Aventura, disponibilizado em versão digital e também em impresso. Finalizado em dezembro de 2010, o manual tem como objetivo apresentar aos empresários e profissionais do Ecoturismo e do Turismo de Aventura informações e perspectivas sobre a acessibilidade nesses segmentos, oferecendo- lhes condições para tomar decisões sobre como preparar suas empresas e seus produtos para acessar esse mercado. A acessibilidade é um tema que está cada vez mais em evidência no Brasil. São notáveis os avanços da legislação específica sobre os direitos das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida na última década e têm crescido os esforços para garantir o acesso dessas pessoas a todos os bens e serviços com segurança e autonomia, em todos os aspectos da vida social. Embora haja ainda muito a ser feito para que a legislação vigente seja de fato implementada, essas mudanças indicam um amadurecimento da sociedade brasileira sobre o tema, além – é claro – de ser o resultado da luta das pessoas com deficiência por seus direitos. Devemos lembrar que pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida devem ser respeitadas em suas particularidades e compreender que algumas de suas necessidades podem – e frequentemente são – diferentes das necessidades de pessoas que não estão nessas condições. É por isso que dizemos que se não promovemos a acessibilidade, estamos perpetuando a discriminação. Os segmentos de Turismo de Aventura e Ecoturismo devem estar abertos aos avanços da legislação e a essa demanda crescente, incorporando em suas atividades as questões relativas à acessibilidade. E existem duas fortes razões para investir nesse tipo de negócio: a possibilidade de acessar um mercado de grande potencial e ainda pouco explorado e o cumprimento de uma importante função social, promovendo a dignidade da pessoa humana, disseminando a não discriminação e incentivando o respeito à diversidade. Mas para isso é necessário se informar sobre o tema, adequar produtos e ambientes, assegurar as condições adequadas de segurança, promover a qualificação profissional de funcionários e colaboradores e aprender a atender a esse público específico. UNIDADE 3 | MODALIDADES TURÍSTICAS NO ESPAÇO NATURAL 192 Este manual foi desenvolvido com o intuito de apresentar aos empresários e profissionais do Ecoturismo e do Turismo de Aventura informações e perspectivas sobre a acessibilidade nesses segmentos, oferecendo-lhes condições para tomar decisões sobre como preparar suas empresas e seus produtos para acessar esse mercado. Acreditamos que em Turismo de Aventura e Ecoturismo as pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida também podem ser importantes clientes e merecem ter voz e vez. Queremos destacar seu potencial de consumo dos produtos nesses segmentos e oferecer algumas ideias de como este público pode ser acessado e como proporcionar a essas pessoas serviços de qualidade, com respeito e, principalmente, segurança. FONTE: SHIMOSAKAI (2011) DICAS Acesse o link <http://turismoadaptado.files.wordpress.com/2011/05/manual- de-boas-prc3a1ticas-acessibilidade-em-ecoturismo-e-turismo-de-aventura.pdf> para ter acesso ao Manual de Boas Práticas – Acessibilidade em Ecoturismo e Turismo de Aventura. 193 Neste tópico, vimos que: • O ser humano tem uma ligação muito forte com a natureza (biofilia), que se manifesta de várias formas, como a predileção por atividades em ambiente natural. • Uma espécie tem valor de amenidade quando o simples fato de existir proporciona alguma experiência não material na vida humana. • A procura por roteiros e destinos cujo foco principal é a natureza tem crescido anualmente no Brasil. • Não importa qual seja o grau de adrenalina que o turista procura, o que importa é que ela seja alcançada em ambientes naturais. • Turismo contemplativo é um ramo do ecoturismo que tem como um de seus instrumentos a interpretação ambiental, envolvendo a satisfação, o interesse e compreensão do meio ambiente, assim como a permissão humana de viver e sentir a essência da natureza, usufruindo-se de seus recursos de forma harmônica e sustentável. • Inúmeros atrativos podem ser elementos de contemplação na natureza, tais como paisagens, sons, cores, formas, grupos vegetais e os mais diversos grupos animais. • A contemplação da paisagem pode ser praticada nos mais diversos locais, porém é clara a preferência do público por lugares altos, de visão ampla, transmitindo sensação de liberdade. • A paisagem sonora é o conjunto de sons característicos de uma área ou região. • O turismo de observação de vida silvestre tem como foco a observação da vida livre, testemunhando as relações naturais destes seres com o mínimo de interferência. • A observação de vida silvestre pode ser generalista, ou seja, quando todos os animais são interessantes (mergulho, safári), ou específico, quando apenas um grupo é foco do interesse. RESUMO DO TÓPICO 1 194 • Turismo de Aventura compreende os movimentos turísticos decorrentes da prática de atividades de aventura de caráter recreativo e não competitivo, sendo oferecidas comercialmente, usualmente adaptadas das atividades de Turismo de Aventura, que tenham ao mesmo tempo o caráter recreativo e envolvam riscos avaliados, controlados e assumidos. • A busca contemporânea de aventura e contato com a natureza, aliada às novas possibilidades tecnológicas, promoveu o surgimento de novas práticas esportivas, muitas resultantes de adaptações de modalidades tradicionais. • O turismo de aventura tende a buscar áreas praticamente intocadas: picos elevados, vertentes íngremes, cavernas, ambientes submarinos, vales em garganta, corredeiras e cachoeiras. • A busca por novos destinos tem como tendência pequenas localidades, geralmente em áreas de relevo acidentado e próximas às grandes metrópoles. • A mudança do perfil dos empresários responsáveis pelo turismo de aventura resultou na profissionalização do segmento e na redução do número de acidentes fatais associados a estas atividades. • A acessibilidade no turismo, de forma geral, vem se tornando cada vez mais inserida no planejamento e organização de roteiros, especialmente em atividades ecoturísticas. 195 1 Quais as atividades de turismo contemplativo e de aventura são realizados em sua localidade? Quais poderiam ser introduzidos? 2 Pode ser considerada atividade turística em ambientes naturais: a) Rafting: descida de rios com corredeiras e pequenas cachoeiras com botes infláveis de estrutura reforçada. b) Observação de aves: observar, identificar e estudar aves em seu ambiente natural. c) Montanhismo: caminhada em ambiente serranos e montanhosos, que podem ou não incluir atividades de escalada simples ou vertical. d) Todas as alternativas anteriores. 3 Qual a definição de Turismo de Aventura, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura – ABETA? a) Movimentos turísticos decorrentes da prática de atividades de aventura de caráter recreativo e não competitivo. b) Atividades oferecidas comercialmente, usualmente adaptadas das atividades de Turismo de Aventura, que tenham ao mesmo tempo o caráter recreativo e envolvam riscos avaliados, controlados e assumidos. c) Todas as alternativas anteriores. d) Nenhuma das alternativas anteriores. 4 Classifique as seguintessentenças em V verdadeiras ou F falsas: ( ) Turismo contemplativo é um ramo do ecoturismo que tem como um de seus instrumentos a interpretação ambiental, envolvendo a satisfação, o interesse e compreensão do meio ambiente, assim como a permissão humana de viver e sentir a essência da natureza, usufruindo-se de seus recursos de forma harmônica e sustentável. ( ) Inúmeros atrativos podem ser elementos de contemplação na natureza, tais como paisagens, sons, cores, formas, grupos vegetais e os mais diversos grupos animais. ( ) A contemplação da paisagem pode ser praticada nos mais diversos locais, porém é clara a preferência do público por lugares altos, de visão ampla, transmitindo sensação de liberdade. ( ) A paisagem sonora é o conjunto de sons característicos de uma área ou região. AUTOATIVIDADE 196 Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - V - V - V. b) ( ) F - F - F - F. c) ( ) V - F - V - F. d) ( ) F - V - F - V. 5 Leia e complete a seguinte sentença: Turismo de Aventura compreende os movimentos ____________ decorrentes da prática de atividades de ____________ de caráter recreativo e não ____________, sendo oferecidas comercialmente, usualmente adaptadas das atividades de Turismo de Aventura, que tenham ao mesmo tempo o caráter ____________ e envolvam riscos avaliados, controlados e ____________. Agora, assinale a alternativa CORRETA: a) turísticos - turismo - recreativo - educativo - não controlados. b) de massa - aventura - recreativo - recreativo - não controlados. c) turísticos - aventura - competitivo - recreativo - assumidos. d) de massa - turismo - competitivo - educativo - assumidos. 6 Classifique as seguintes sentenças em V verdadeiras ou F falsas: ( ) O turismo de aventura tende a buscar áreas praticamente intocadas: picos elevados, vertentes íngremes, cavernas, ambientes submarinos, vales em garganta, corredeiras e cachoeiras. ( ) A busca por novos destinos tem como tendência pequenas localidades, geralmente em áreas de relevo acidentado e próximas às grandes metrópoles. ( ) A mudança do perfil dos empresários responsáveis pelo turismo de aventura resultou na profissionalização do segmento e na redução do número de acidentes fatais associados a estas atividades. ( ) A acessibilidade no turismo, de forma geral, vem se tornando cada vez mais inserida no planejamento e organização de roteiros, especialmente em atividades ecoturísticas. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - V - V - V. b) ( ) F - F - F - F. c) ( ) V - F - V - F. d) ( ) F - V - F - V. 197 TÓPICO 2 TURISMO EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Embora algumas iniciativas para conservação de áreas naturais já tenham ocorrido antes desta data, o dia 1º de março de 1872 é considerado um marco na história das unidades de conservação, visto ser esta a data em que o Congresso Nacional Americano decretou a criação do primeiro Parque Nacional do mundo, o Yellowstone National Park. FONTE: Costa (2002b) FIGURA 57 – O PARQUE NACIONAL DE YELLOWSTONE É CONSIDERADO A MAIS ANTIGA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO OFICIAL DO MUNDO FONTE: <http://www.destination360.com/north-america/us/wyoming/yellowstone-national-park/old- faithful>. Acesso em: 18 ago. 2011. Mas afinal, o que é uma Unidade de Conservação? De acordo com a União Internacional para Conservação da Natureza - IUCN (1980 apud Costa 2002b, p. 12), uma área natural protegida, é uma “Superfície de terra ou mar consagrada à proteção e manutenção da diversidade biológica, assim como dos recursos naturais e dos recursos culturais associados, e manejada por meio de meios jurídicos e outros eficazes.” De acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Lei nº 9.985/2000, Cap. 1 Art. 2º), uma Unidade de Conservação: 198 UNIDADE 3 | MODALIDADES TURÍSTICAS NO ESPAÇO NATURAL É o espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção. Resumidamente, as unidades de conservação são áreas nas quais se aplicam medidas restritivas de uso do solo, com a função de proteger certa feição natural ou histórica presente no local. Elas surgiram com a criação dos primeiros parques nacionais, com objetivo de uso público, através especialmente de lazer e turismo. Contudo, desde o início, a intenção de alguns países na instituição dessas áreas era usá-las como mecanismo de conservação dos recursos naturais, meta que acabou por predominar no mundo todo. Após a criação do Parque Nacional de Yellowstone, outros países também adotaram esta prática. Veja o quadro a seguir. QUADRO 14 – PRIMEIROS PARQUES NACIONAIS DO MUNDO País Parque Nacional Ano de Criação Estados Unidos Parque Nacional de Yellowstone 1872 Austrália Parque Nacional Royal 1879 Canadá Parque Nacional Banff 1885 Nova Zelândia Parque Nacional Egmont 1894 África do Sul Parque Nacional Kruger 1898 México Parque Nacional 1899 Argentina Parque Nacional Nahuel Huapi 1903 Chile Parque Nacional 1926 Equador Parque Nacional Galápagos 1934 Venezuela Parque Nacional 1937 Brasil Parque Nacional Itatiaia 1937 FONTE: Costa (2002b) Embora a criação da primeira unidade de conservação no Brasil tenha se dado apenas em 1937 com o Parque Nacional de Itatiaia, observamos que desde a época da colonização já haviam sido decretadas áreas de preservação, como hortos e jardins botânicos, criados a partir da instalação da família real portuguesa no país. Porém, apenas a partir da década de 1930 a legislação brasileira começou a avançar nos cuidados com o ambiente natural, sendo que nas décadas seguintes foram criados diversos parques nacionais. FONTE: Morsello (2001) FONTE: Costa (2002b) TÓPICO 2 | TURISMO EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 199 FIGURA 58 – O PARQUE NACIONAL DE ITATIAIA/RJ É O MAIS ANTIGO PARQUE BRASILEIRO FONTE: <http://etrilhas.com/roteiros/parques-nacionais-e-estaduais/parque-nacional-do- itatiaia/>. Acesso em: 18 ago. 2011. Com a oficialização do Código Florestal Brasileiro (Lei nº 4.771/1965), houve uma separação das áreas que permitiam exploração dos recursos naturais (Florestas Nacionais, Estaduais e Municipais) das que proibiam qualquer forma de exploração dos recursos naturais (Parques Nacionais, Estaduais, Municipais e Reservas Biológicas) e, em 1967, é criado o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal/IBDF, que foi por muito tempo o mentor das unidades de conservação no país. O IBDF foi posteriormente extinto, dando lugar ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis /IBAMA em 1989 que, em 2007, deu origem ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade/ ICMBio, que atualmente é o órgão responsável pela gestão das unidades de conservação brasileiras. Atualmente, as Unidades de Conservação brasileiras são geridas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação/SNUC (BRASIL, 2000), tema de nosso próximo item. DICAS Para conhecer o cadastro nacional das unidades de conservação brasileiras, acesse o link <http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=119>. FONTE: Costa (2002b) 200 UNIDADE 3 | MODALIDADES TURÍSTICAS NO ESPAÇO NATURAL 2 SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO – SNUC A Constituição Brasileira de 1988 declara que todos têm direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, cabendo ao Poder Público o dever de defendê-lo, preservá-lo e de criar áreas para garantir a conservação do meio ambiente. A partir dessa base constitucional, o país concebeu um Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), num processo de elaboração e negociação durou mais de dez anos e significou um avanço importante na construção de um sistema efetivo de áreas protegidas no país. (ISA,2011). Segundo este autor, uma das dificuldades era definir as categorias de manejo, excluindo figuras equivalentes e criando novos tipos de unidades onde foram identificadas lacunas. O anteprojeto foi aprovado pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e em maio de 1992, já na qualidade de Projeto de Lei foi encaminhado ao Congresso Nacional. Em 1994 e 1995 o Projeto de Lei do SNUC recebeu substitutivos com alterações polêmicas e, apenas em 2000 seu texto foi aprovado pelo Congresso Nacional. (ISA 2011). De acordo com o SNUC, os objetivos desta lei são (BRASIL, 2000): • contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos no território nacional e nas águas jurisdicionais; • proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional; • contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas naturais; • promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais; • promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza no processo de desenvolvimento; • proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica; • proteger as características de natureza geológica, geomorfológica, espeleológica, paleontológica e cultural; • proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos; • recuperar ou restaurar ecossistemas degradados; • proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica, estudos e monitoramento ambiental; • valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica; • favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico; • proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e promovendo-as social e economicamente. TÓPICO 2 | TURISMO EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 201 DICAS Para conhecer o texto integral do SNUC e sua regulamentação, acesse o link <http://www.rbma.org.br/rbma/pdf/Caderno_18_2ed.pdf>. As unidades de conservação são divididas em duas categorias: Unidades de Conservação Integral e Unidades de Uso Sustentável. Veja o quadro a seguir (BRASIL, 2000): QUADRO 15 – CATEGORIAS DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO BRASILEIRAS, SEGUNDO O SNUC Unidades de Conservação Integral Têm como objetivo básico a preservação da natureza, sendo admitido o uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos na Lei do SNUC. Estação Ecológica Tem como objetivo a preservação da natureza e a realização de pesquisas científicas. É proibida a visitação pública, exceto com objetivo educacional e a pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável. Reserva Biológica Tem como objetivo a preservação integral da biota e demais atributos naturais existentes em seus limites, sem interferência humana direta ou modificações ambientais, excetuando-se as medidas de recuperação de seus ecossistemas alterados e as ações de manejo necessárias para recuperar e preservar o equilíbrio natural, a diversidade biológica e os processos ecológicos. Parque Nacional Tem como objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico. Monumento Natural Tem como objetivo básico preservar sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza cênica. Refúgio de Vida Silvestre Tem como objetivo proteger ambientes naturais onde se asseguram condições para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades da flora local e da fauna residente ou migratória. Unidades de uso sustentável As unidades de uso sustentável têm como objetivo básico compatibilizar a conservação da natureza com o uso direto de parcela dos seus recursos naturais, ou seja, é aquele que permite a exploração do ambiente, porém mantendo a biodiversidade do local e os seus recursos renováveis. Área de Proteção Ambiental É uma área em geral extensa, com certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais. 202 UNIDADE 3 | MODALIDADES TURÍSTICAS NO ESPAÇO NATURAL Área de Relevante Interesse Ecológico É uma área em geral de pequena extensão, com pouca ou nenhuma ocupação humana, com características naturais extraordinárias ou que abriga exemplares raros da biota regional, e tem como objetivo manter os ecossistemas naturais de importância regional ou local e regular o uso admissível dessas áreas, de modo a compatibilizá-lo com os objetivos de conservação da natureza. Floresta Nacional É uma área com cobertura florestal de espécies predominantemente nativas e tem como objetivo básico o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em métodos para exploração sustentável de florestas NATIVAS. Reserva Extrativista É uma área utilizada por populações locais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte, e tem como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade. Reserva de Fauna É uma área natural com populações animais de espécies nativas, terrestres ou aquáticas, residentes ou migratórias, adequadas para estudos técnico- científicos sobre o manejo econômico sustentável de recursos faunísticos. Reserva de Desenvolvimento Sustentável Conforme definição do SNUC, é uma área natural que abriga populações tradicionais, cuja existência se baseia em sistemas sustentáveis de exploração dos recursos naturais, desenvolvidos ao longo de gerações e adaptados às condições ecológicas locais e que desempenham um papel fundamental na proteção da natureza e na manutenção da diversidade biológica. Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN É uma área privada, gravada com perpetuidade, com o objetivo de conservar a diversidade biológica. FONTE: BRASIL (2000) As Reservas Indígenas não fazem parte do SNUC, sendo que seu manejo é feito por meio de outras bases. DICAS Para saber mais sobre Reservas Indígenas, acesse o link <http://pt.wikipedia.org/ wiki/Reserva_ind%C3%ADgena>. Algumas categorias de unidades de conservação, como a Estação Ecológica, não permitem visitação turística, porém aquelas que permitem, como Parques Nacionais, Monumentos Naturais e RPPNs, podem se tornar importantes atrativos turísticos para uma região, sendo inclusive responsáveis pelo seu desenvolvimento econômico. Entretanto, essa visitação deve estar subordinada às orientações e regras contidas no Plano de Manejo da unidade, para evitar impactos negativos advindos desta atividade, conforme veremos no capítulo seguinte. TÓPICO 2 | TURISMO EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 203 Para saber o que é um plano de manejo, leia o texto a seguir: LEITURA COMPLEMENTAR PLANO DE MANEJO O manejo e gestão adequados de uma Unidade de Conservação devem estar embasados não só no conhecimento dos elementos que conformam o espaço em questão, mas também numa interpretação da interação destes elementos. Para tanto, é essencial conhecer os ecossistemas, os processos naturais e as interferências antrópicas positivas ou negativas que os influenciam ou os definem, considerando os usos que o homem faz do território, analisando os aspectos pretéritos e os impactos atuais ou futuros de forma a elaborar meios para conciliar o uso dos espaços com os objetivos de criação da Unidade de Conservação. Desta forma, o manejo de uma Unidade de Conservação implica elaborar e compreendero conjunto de ações necessárias para a gestão e uso sustentável dos recursos naturais em qualquer atividade no interior e em áreas do entorno dela de modo a conciliar, de maneira adequada e em espaços apropriados, os diferentes tipos de usos com a conservação da biodiversidade. A Lei nº 9.985/2000 que estabelece o Sistema Nacional de Unidades de Conservação define o Plano de Manejo como um documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma Unidade de Conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais. Todas as unidades de conservação devem dispor de um Plano de Manejo, que deve abranger a área da Unidade de Conservação, sua zona de amortecimento e os corredores ecológicos, incluindo medidas com o fim de promover sua integração à vida econômica social das comunidades vizinhas (Art. 27, §1º). O Plano de Manejo visa levar a Unidade de Conservação a cumprir com os objetivos estabelecidos na sua criação; definir objetivos específicos de manejo, orientando a gestão da Unidade de Conservação; promover o manejo da Unidade de Conservação, orientado pelo conhecimento disponível e/ou gerado. Ele estabelece a diferenciação e intensidade de uso mediante zoneamento, visando à proteção de seus recursos naturais e culturais; destaca a representatividade da Unidade de Conservação no SNUC frente aos atributos de valorização dos seus recursos como: biomas, convenções e certificações internacionais; estabelece normas específicas regulamentando a ocupação e o uso dos recursos da Unidade 204 UNIDADE 3 | MODALIDADES TURÍSTICAS NO ESPAÇO NATURAL de Conservação, zona de amortecimento e dos corredores ecológicos; reconhece a valorização e o respeito à diversidade socioambiental e cultural das populações tradicionais e seus sistemas de organização e de representação social. A elaboração de Planos de Manejo, não se resume apenas à produção do documento técnico. O processo de planejamento e o produto Plano de Manejo são ferramentas fundamentais, reconhecidas internacionalmente para a gestão da Unidade de Conservação. O processo de elaboração de Planos de Manejo é um ciclo contínuo de consulta e tomada de decisão com base no entendimento das questões ambientais, socioeconômicas, históricas e culturais que caracterizam uma Unidade de Conservação e a região onde esta se insere. O Plano de Manejo é elaborado sob um enfoque multidisciplinar, com características particulares diante de cada objeto específico de estudo. Ele deve refletir um processo lógico de diagnóstico e planejamento. Ao longo do processo devem ser analisadas informações de diferentes naturezas, tais como dados bióticos e abióticos, socioeconômicos, históricos e culturais de interesse sobre a Unidade de Conservação e como estes se relacionam. A interpretação do diagnóstico se relacionará com a definição de objetivos específicos de manejo, definições de zonas para as diferentes modalidades de usos, normas gerais e programas de manejo. Nesse contexto, o Instituto dispõe de uma coordenação responsável pelo processo de elaboração, revisão e monitoramento de Planos de Manejo, cuja equipe vem trabalhando ativamente na organização e reestruturação do processo de planejamento. Cabe aos técnicos o papel de supervisionar e orientar as equipes de planejamento das Unidades de Conservação, além de, muitas das vezes, coordenar ativamente todo o processo de planejamento. FONTE: <http://www.icmbio.gov.br/biodiversidade/unidades-de-conservacao/planos-de- manejo>. Acesso em: 8 ago. 2011. NOTA Algumas categorias de manejo permitem criação de unidades estaduais e municipais, como parque, monumento natural, área de proteção ambiental, floresta e RPPN, entre outras. TÓPICO 2 | TURISMO EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 205 O objetivo principal de uma unidade de conservação está explícito em seu próprio nome: conservar, proteger a biodiversidade da área em questão. Quanto maior o grau de fragilidade, maiores as restrições de uso do local. Portanto, quando se fala em ecoturismo em unidades de conservação, essa questão precisa estar muito bem alinhada com as atividades que se pretendem para a área, bem como demais detalhes que deverão estar presentes no plano de manejo, conforme já exposto anteriormente. Nem todas as unidades permitem visitação turística e, quando esta é permitida, deve estar subordinada a condicionantes específicas, conforme pode ser observado no quadro a seguir: QUADRO 16 – USO TURÍSTICO DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO BRASILEIRAS, SEGUNDO O SNUC Categoria Domínio Uso Turístico Estação Ecológica Público É proibida a visitação pública, exceto quando com objetivo educacional, de acordo com o que dispuser o Plano de Manejo da unidade ou regulamento específico. Reserva Biológica Público É proibida a visitação pública, exceto aquela com objetivo educacional, de acordo com regulamento específico. Parque Nacional Público A visitação pública está sujeita às normas e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração, e àquelas previstas em regulamento. Monumento Natural Público-Privado A visitação pública está sujeita às condições e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração e àquelas previstas em regulamento. Refúgio de Vida Silvestre Público-Privado A visitação pública está sujeita às normas e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração, e àquelas previstas em regulamento. Área de Proteção Ambiental Público-Privado Nas áreas sob propriedade privada, cabe ao proprietário estabelecer as condições para pesquisa e visitação pelo público, observadas as exigências e restrições legais. Área de Relevante Interesse Ecológico Público-Privado Nas áreas sob propriedade privada, cabe ao proprietário estabelecer as condições para pesquisa e visitação pelo público, observadas as exigências e restrições legais. Floresta Nacional Público A visitação pública é permitida, condicionada às normas estabelecidas para o manejo da unidade pelo órgão responsável por sua administração. Reserva Extrativista Público, com uso concedido às populações extrativistas A visitação pública é permitida, desde que compatível com os interesses locais e de acordo com o disposto no Plano de Manejo da área. 206 UNIDADE 3 | MODALIDADES TURÍSTICAS NO ESPAÇO NATURAL Reserva de Fauna Público A visitação pública pode ser permitida, desde que compatível com o manejo da unidade e de acordo com as normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração. Reserva de Desenvolvimento Sustentável Público, com uso das populações tradicionais É permitida e incentivada a visitação pública, desde que compatível com os interesses locais e de acordo com o disposto no Plano de Manejo da área. Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN Privada Visitação com objetivos turísticos, recreativos e educacionais. As Reservas Particulares do Patrimônio Natural/RPPN e as Áreas de Proteção Ambiental/APA são – com os Parques – as categorias de Unidade de Conservação mais importantes para o incremento do turismo, em seu segmento ecoturismo, porém é importante notar que as RPPNs são particulares, o que requer e depende de interesses privados para o desenvolvimento turístico nessas áreas. FONTE: BRASIL (2000) Estas restrições visam à conservação, mas também podem ser importantes para ordenar o uso turístico. Como já foi discutido anteriormente durante esta disciplina, o turismo pode ser causador de impactos negativos quando não são observadas práticas sustentáveis de visitação. Estes impactos podem ser muito danosos quando ocorrem em áreas destinadas à conservação ambiental, como é o caso das unidades de conservação. Vamos falar sobre isto no próximo capítulo. 3 OSEFEITOS DO TURISMO NAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO Como já vimos anteriormente, o crescente interesse por atividades ligadas à natureza, especialmente a partir da década de 80, fez com que o ecoturismo se tornasse um representativo segmento turístico. No entanto, nem sempre a atividade tendo como base o meio natural gera benefícios para este, sendo que muitas vezes os prejuízos suplantam os poucos benefícios gerados pela atividade. A associação das unidades de conservação com a atividade turística, em especial o ecoturismo, possibilitou a difusão desta atividade em áreas protegidas, tornando diversas unidades de conservação no mundo importantes destinos ecoturísticos, como por exemplo, as Ilhas Galápagos, as reservas e parques nacionais do Quênia e da Tanzânia, entre outras destinações. FONTE: Costa (2002b) FONTE: Soares (2002) TÓPICO 2 | TURISMO EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 207 DICAS Acesse o link <http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2011/06/08/70932- unidades-de-conservacao-podem-render-cerca-de-r-6-bilhoes-por-ano.html> para ter informações sobre o uso econômico de Unidades de Conservação. Sendo o Brasil um dos países mais ricos em biodiversidade, naturalmente algumas de suas unidades de conservação também se tornaram importantes destinos turísticos, sendo que esta atividade está contemplada no SNUC, conforme vimos anteriormente. FIGURA 59 – O PARQUE NACIONAL SERRA DA CANASTRA/MG, ALÉM DE SER MUITO PROCURADO PELOS TURISTAS, PROTEGE O PATO-MERGULHÃO, UMA DAS ESPÉCIES MAIS AMEAÇADAS DO MUNDO FONTE: <http://twixar.me/0XNn >. Acesso em: 03 jun. 2019. Apesar de as unidades de conservação serem locais destinados à conservação ambiental, exercício da educação ambiental, pesquisa científica e contemplação da natureza em seu estado original ou mais próximo deste, a prática da atividade turística muitas vezes não atende a esses princípios. (SOARES, 2002). Segundo Furlan (1999, apud SOARES 2002, p. 3), isso é ocasionado pelo fato de: o turismo ter se tornado uma importante fonte de captação de renda para as unidades de conservação, que geralmente contam com recursos exíguos para suas atividades, especialmente no Brasil e nos países em desenvolvimento, portanto desencadeando a mercantilização do ecoturismo. Para Soares (2002, p. 3), “esse fato faz com que os planos de manejo de muitas unidades de conservação sejam feitos simplesmente para atender à demanda turística e consequentemente podem comprometer a manutenção 208 UNIDADE 3 | MODALIDADES TURÍSTICAS NO ESPAÇO NATURAL dos ambientes naturais contemplados por estas unidades”, gerando impactos negativos muitas vezes irreversíveis. Conforme Serrano (2001 apud SOARES, 2002), “mesmo que a exploração turística das unidades de conservação se faça de acordo com os critérios previstos nos seus planos de manejo, ela dificilmente deixará de provocar impactos negativos”. Soares (2002, p. 3) apresenta os impactos mais comuns ocasionados pelo turismo em unidades de conservação, citados a seguir: • mudanças no comportamento dos animais ocasionados pelo número excessivo de visitantes em uma determinada área; • erosão, distúrbios no comportamento dos animais, perda de hábitat da fauna e comprometimento da qualidade visual da paisagem em função da construção de infraestrutura, de áreas para descanso e da abertura de trilhas e acessos; • alterações no comportamento dos animais e empobrecimento de sua dieta, ocasionados pelo hábito dos visitantes de alimentar os animais; • interferência no ambiente sonoro, visual e olfativo típico da área, resultantes do barulho, excesso de cores e odores estranhos dos visitantes; • poluição do solo, dos cursos d’água e interferência na alimentação dos animais, ocasionados pela deposição inadequada do lixo; • destruição da vegetação, morte de animais e empobrecimento do solo, ocasionados pelos incêndios; • remoção de atrativos naturais (pedras, vegetais, pequenos animais) para servirem de souvenirs para os visitantes. Por outro lado, Serrano (2001 apud SOARES, 2002, p. 4), se bem planejado, o ecoturismo pode ser positivo e trazer benefícios para as unidades de conservação, para a comunidade local e os visitantes: • difusão de informação ambiental por meio de programas de educação ambiental; • integração das UCs com as comunidades locais e com a sociedade; • geração de recursos, oriundos das taxas de visitação, que podem ser importantes na manutenção e no financiamento de programas dentro das UCs; • aumento da oferta de espaços de recreação e lazer em ambientes naturais. Soares (2002, p. 4) lembra que “existem inúmeros casos em que o ecoturismo foi o grande responsável ou contribuiu de forma considerável para a manutenção de uma determinada área natural, como no Quênia e nas Ilhas Galápagos”. Assim, Soares (2002, p. 6) considera que: a partir do momento em que a atividade ecoturística for planejada e praticada seguindo os princípios básicos de educação ambiental, conservação da natureza, valorização das manifestações culturais locais e envolvimento das comunidades locais, os impactos negativos gerados por essa atividade provavelmente serão mínimos ou até mesmo eliminados e seus impactos positivos serão potencializados. TÓPICO 2 | TURISMO EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 209 Portanto, fica evidente que, para garantir que os impactos sejam sempre positivos em Unidades de Conservação, devemos basear a visitação turística no planejamento adequado da atividade, dentro das recomendações do Plano de Manejo. A oferta de infraestrutura mínima é condição essencial para o atendimento a necessidades da demanda turística. A satisfação desse item engloba também a necessidade de um planejamento com mínimo impacto ambiental e total integração entre os grupos sociais envolvidos. DICAS Acesse o link <http://www.sbe.com.br/ptpc/ptpc_v1_n1.pdf#page=69> para conhecer um trabalho sobre a percepção de impactos socioambientais sob a ótica dos ecoturistas. 4 SUSTENTABILIDADE EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO Como já citamos anteriormente, o Brasil é um dos países mais ricos em biodiversidade no mundo, despertando interesse de pesquisadores, estudantes, aventureiros e ecoturistas que, a cada ano aumentam a demanda por atividades em áreas naturais. Porém, faltam em diversas Unidades de Conservação, estudos limitantes de áreas e das possibilidades de exploração turística, principalmente porque a maioria dos Parques – federais, estaduais e municipais – não possuem plano de manejo, o que pode comprometer a qualidade no atendimento ao visitante de tais áreas e a consequente dificuldade de gestão do turismo. Para muitos países ricos em biodiversidade, o ecoturismo representa importante fator de rentabilidade econômica, principalmente quando praticado em parques. No Brasil, com exceção dos Parques Nacionais do Iguaçu/PR, Itatiaia e Tijuca/RJ, as unidades de conservação ainda não apresentam uma rentabilidade derivada da prática turística, demandando recursos do governo para sua manutenção. O crescimento do interesse turístico nas unidades de conservação nem sempre acompanha os investimentos para conservação e manutenção destas áreas. Costa (2002a, p. 65) chama atenção para a pressão já existente nestas áreas, FONTE: Costa (2002a) FONTE: Costa (2002b) 210 UNIDADE 3 | MODALIDADES TURÍSTICAS NO ESPAÇO NATURAL especialmente nas estaduais e municipais, que tem como causas claras a falta de planejamento nas áreas de seu entorno, os fatores políticos e a ausência de aplicação dos princípios de sustentabilidade. Conforme a autora: O desenvolvimento sustentável é norteado tanto por necessidades essenciais, presentes e futuras, como pela noção de limitação, posto que, sem a imposição de limites, dificilmente a sustentabilidade ocorreria. O uso turístico dos recursos naturais, dentro dos princípios expostos, deve enfatizar sob um prisma diferenciado o ser humano, separando em lados diversos a população e o turista. Essa ótica se faz necessária paraque os diferentes aspectos, tanto de planejamento como de gestão – no caso das unidades de conservação – atendam adequadamente à proposta de desenvolvimento sustentável, em que todos saem lucrando: ambiente natural, população local e turista. O Plano de Manejo, como já foi exposto anteriormente, é a principal ferramenta para gestão e uso sustentável de uma unidade de conservação. Além do conhecimento sobre os aspectos socioambientais da área e seu entorno, que balizam sua administração e gestão dos recursos, outro fator importante é o conhecimento de sua capacidade de suporte para visitação turística. Além da Capacidade de Carga, muitos outros métodos foram desenvolvidos, especialmente para os parques norte-americanos, com objetivo de monitorar os impactos advindos de visitação turística. DICAS Visite o site <http://leopold.wilderness.net/> para ter acesso a vários trabalhos sobre o uso turístico em unidades de conservação nos Estados Unidos. Todos os estudos sobre capacidade de carga turística em unidades de conservação acabam por levar em conta os fatores a seguir: • Tamanho da área e espaço utilizável pelo turista. • Fragilidade do ecossistema a ser visitado. • Recursos naturais: número, diversidade e distribuição das espécies vegetais e animais. • Topografia, relevo e hidrografia. • Sensibilidade e mudanças de comportamento de espécies animais diante dos visitantes. • Percepção ambiental dos turistas. • Disponibilidade de infraestrutura e facilidades. • Oportunidades existentes para que os visitantes desfrutem dos recursos. FONTE: Costa (2002a) TÓPICO 2 | TURISMO EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 211 Dois importantes métodos para o controle do uso turístico em Unidades de Conservação são Limite Aceitável de Câmbio (LAC) e o Monitoramento de Impactos dos Visitantes (VIM). A partir do conceito de capacidade de carga, o LAC observa essencialmente as condições desejáveis para uma área receber visitantes, com base em quatro etapas: 1. Especificação das condições aceitáveis e realizáveis para os recursos e aspectos sociais. 2. Análise entre as relações existentes e as mudanças aceitáveis. 3. Identificação das ações de manejo necessárias. 4. Criação e execução de um programa de monitoramento e evolução do manejo. Tanto a metodologia VIM quanto a LAC não tem por objetivo estabelecer uma capacidade de carga ou suporte, apesar de fornecerem subsídios para o cálculo de um número ideal de visitantes. DICAS Em Lobo e Simões (2010), você vai encontrar um excelente manual de monitoramento de impactos em Unidades de Conservação, e em Takahashi (1997) vai poder conhecer com detalhes a metodologia LAC. Costa (2002a, p. 72) observa ainda que: o controle da demanda e a limitação do uso turístico auxiliam não só na manutenção das características ambientais das unidades de conservação, mas também no ganho social advindo do melhor aproveitamento do tempo de estada do visitante na área natural protegida. [...] Para um estudo pormenorizado, visando a estabelecer um patamar ótimo de uso da UC, deverão ser utilizadas as metodologias citadas, o que facilitará em muito a proposição de soluções para os efeitos do turismo detectados. Porém, deve-se ter claro em mente que essas fórmulas são extremamente úteis como instrumentos geradores de dados, mas que necessitam ser avaliados, também, levando em conta os diferenciais existentes em cada caso estudado. FONTE: Costa (2002a) 212 UNIDADE 3 | MODALIDADES TURÍSTICAS NO ESPAÇO NATURAL O Zoneamento Ambiental de Unidades de Conservação é a definição de setores ou zonas em uma unidade de conservação com objetivos de manejo e normas específicos e com propósito de oferecer condições para que todos os objetivos da unidade possam ser alcançados de forma harmônica e eficaz. Ela gera a divisão da área natural protegida em sete zonas com uso e funções definidos para cada uma delas: 1. Zona Intangível: primitividade natural intacta. Dedicada à proteção integral. 2. Zona Primitiva: pequena ou mínima intervenção humana. 3. Zona de Uso Extensivo: área natural, podendo apresentar alguma alteração. 4. Zona de Uso Intensivo: área natural ou alterada pelo homem. 5. Zona Histórico-Cultural: visa a proteger sítios históricos. 6. Zona de Recuperação: áreas naturais consideravelmente alteradas pelo homem. 7. Zona de Uso Especial: é a que contém as áreas necessárias à administração. NOTA Algumas categoa É importante lembrar que, para garantir a sustentabilidade do uso turístico de uma unidade de conservação, o planejamento ambiental requer sempre a utilização de diversos instrumentos de manejo, como o estabelecimento de zonas, a criação de planos de ação e a constante avaliação das atividades ocorrentes em cada área. rias de manejo permitem criação de unidades estaduais e municipais, como parque, monumento natural, área de proteção ambiental, floresta e RPPN, entre outras. Assim, concluímos que existem diversas ferramentas, tanto sociais como ambientais, que buscam utilizar Unidades de Conservação de maneira sustentável. Cabe ao poder público a utilização das mesmas e também à sociedade cobrar o correto manejo destas áreas de importância na conservação da biodiversidade e na economia. FONTE: Costa (2002b) 213 Neste tópico, vimos que: • Uma Unidade de Conservação é o espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção. • Com a oficialização do Código Florestal Brasileiro houve uma separação das áreas que permitiam exploração dos recursos naturais das que proibiam qualquer forma de exploração dos recursos naturais. • O IBDF, criado em 1967, deu lugar ao IBAMA em 1989 que, em 2007, deu origem ao ICMBio, que atualmente é o órgão responsável pela gestão das Unidades de Conservação Brasileiras. • Atualmente, as Unidades de Conservação Brasileiras são geridas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação/SNUC. • A Constituição Brasileira de 1988 declara que todos têm direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, cabendo ao Poder Público o dever de defendê-lo, preservá-lo e de criar áreas para garantir a conservação do meio ambiente. • As unidades de conservação são divididas em duas categorias: Unidades de Conservação Integral e Unidades de Uso Sustentável. • As Reservas Indígenas não fazem parte do SNUC, sendo que seu manejo é feito por meio de outras bases. • Algumas categorias de unidades de conservação, como a Estação Ecológica, não permitem visitação turística, porém aquelas que permitem, como Parques Nacionais, Monumentos Naturais e RPPNs, podem se tornar importantes atrativos turísticos para uma região, sendo inclusive responsáveis pelo desenvolvimento econômico da região. • A visitação turística em Unidades de Conservação deve estar subordinada às orientações e regras contidas no Plano de Manejo da unidade, para evitar impactos negativos advindos desta atividade, conforme veremos no capítulo seguinte. RESUMO DO TÓPICO 2 214 • As Reservas Particulares do Patrimônio Natural/RPPN e as Áreas de Proteção Ambiental/APA são – com os Parques – as categorias de Unidade de Conservação mais importantes para o incremento do turismo. • A associação das unidades de conservação com a atividade turística, em especial o ecoturismo, possibilitou a difusão desta atividade em áreas protegidas, tornando diversas unidades de conservação no mundo importantes destinos ecoturísticos. • O turismo se tornou uma importante fonte de captação de renda para as unidades de conservação, que geralmente contam com recursos exíguos para suas atividades, especialmente no Brasil e nos países em desenvolvimento. • Mesmo que a exploração turística das unidades de conservação se faça de acordo com os critérios previstos nos seus planos de manejo,ela dificilmente deixará de provocar impactos negativos. • Se bem planejado, o ecoturismo pode ser positivo e trazer benefícios para as unidades de conservação, para a comunidade local e os visitantes, conforme Serrano (2001). • A partir do momento em que a atividade ecoturística for planejada e praticada, seguindo os princípios básicos de educação ambiental, conservação da natureza, valorização das manifestações culturais locais e envolvimento das comunidades locais, os impactos negativos gerados por essa atividade provavelmente serão mínimos ou até mesmo eliminados e seus impactos positivos serão potencializados. • A oferta de infraestrutura mínima é condição essencial para o atendimento a necessidades da demanda turística. • O crescimento do interesse turístico nas unidades de conservação nem sempre acompanha os investimentos para conservação e manutenção destas áreas, aumentando a pressão já existente nestas áreas. • O desenvolvimento sustentável é norteado tanto por necessidades essenciais, presentes e futuras, como pela noção de limitação, posto que, sem a imposição de limites, dificilmente a sustentabilidade ocorreria. • Além do conhecimento sobre os aspectos socioambientais da área e seu entorno, que balizam sua administração e gestão dos recursos, outro fator importante é o conhecimento de sua capacidade de suporte para visitação turística. • Dois importantes métodos para o controle do uso turístico em Unidades de Conservação são Limite Aceitável de Câmbio (LAC) e o Monitoramento de Impactos dos Visitantes (VIM). 215 • O controle da demanda e a limitação do uso turístico auxiliam não só na manutenção das características ambientais das unidades de conservação, mas também no ganho social advindo do melhor aproveitamento do tempo de estada do visitante na área natural protegida. • O Zoneamento Ambiental de Unidades de Conservação é a definição de setores ou zonas em uma unidade de conservação com objetivos de manejo e normas específicos e com propósito de oferecer condições para que todos os objetivos da unidade possam ser alcançados de forma harmônica e eficaz. 216 AUTOATIVIDADE 1 Existem unidades de conservação em sua região? Quantas possuem visitação turística? Destas, quais são orientadas por um plano de manejo? 2 Assinale a alternativa que descreve o objetivo de um Parque Nacional: a) Tem como objetivo a preservação da natureza e a realização de pesquisas científicas. É proibida a visitação pública, exceto com objetivo educacional e a pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável. b) Tem como objetivo a preservação integral da biota e demais atributos naturais existentes em seus limites, sem interferência humana direta ou modificações ambientais, excetuando-se as medidas de recuperação de seus ecossistemas alterados e as ações de manejo necessárias para recuperar e preservar o equilíbrio natural, a diversidade biológica e os processos ecológicos. c) Tem como objetivo básico preservar sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza cênica. d) Tem como objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico. 3 Qual foi o primeiro Parque Nacional do mundo? a) Parque Nacional Banff – Canadá. b) Parque Nacional Royal – Austrália. c) Parque Nacional de Yellowstone - Estados Unidos. d) Parque Nacional Egmont – Nova Zelândia 4 Qual foi o primeiro Parque Nacional do Brasil? a) Parque Nacional de Ubajara. b) Parque Nacional do Itatiaia. c) Parque Nacional do Iguaçu. d) Parque Nacional da Serra dos Órgãos. 5 De acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Lei nº 9.985/2000, Cap. 1, Art. 2º), o que é uma Unidade de Conservação? a) É o espaço territorial e seus recursos econômicos, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção. 217 b) É o espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção. c) É o espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características econômicas relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção. d) É o espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pela iniciativa privada, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção. 6 O Projeto de Lei do SNUC recebeu substitutivos com alterações polêmicas e, apenas em 2000 seu texto foi aprovado pelo Congresso Nacional. De acordo com o SNUC, os objetivos desta lei são: • contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos no território nacional e nas águas jurisdicionais; • proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional; • contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas naturais; • promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais; • promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza no processo de desenvolvimento; • proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica; • proteger as características de natureza geológica, geomorfológica, espeleológica, paleontológica e cultural; • proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos; • recuperar ou restaurar ecossistemas degradados; • proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica, estudos e monitoramento ambiental; • valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica; • favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico; • proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e promovendo-as social e economicamente. Considerando os objetivos apontados, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Todos os objetivos estão incorretos. b) ( ) Todos os objetivos estão corretos. c) ( ) Apenas o primeiro objetivo está correto. d) ( ) Apenas o último objetivo está correto. 218 219 TÓPICO 3 TURISMO DE EXPERIÊNCIA UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO O stress da vida moderna e o distanciamento das antigas tradições e da natureza, que antigamente eram mais próximas ao cotidiano das pessoas, têm despertado no viajante o desejo de reviver antigas memórias ou, na maioria dos casos, conhecer realidades diferentes do seu dia a dia. O turista não quer mais ser um sujeito meramente contemplativo, mas sim o ator de sua própria experiência e, portanto, o protagonista de seus sonhos no destino que escolheu para sonhar. Esta é a base para o desenvolvimento do Programa Economia da Experiência, uma parceria entre o Ministério do Turismo, o Instituto Marca Brasil e o SEBRAE. DICAS Para conhecer o Programa Economia da Experiência, acesse o link <http://www. tourdaexperiencia.com/>. De acordo com as informações disponíveis no site do Programa, este trabalho foi desenvolvido e implementado de forma pioneira no Brasil a partir de 2006, em 8 municípios da Região Uva e Vinho - RS, como apoio local do Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares – SHRBS Região