Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
112 Unidade III Unidade III 5 AVALIAÇÃO DE PROJETOS E INVESTIMENTOS Trataremos agora dos métodos que propiciam a avaliação quantitativa de projetos de investimentos ou financiamentos. Existem vários métodos desenvolvidos para a realização desses cálculos, com destaque para os que o fazem descontando o valor presente, os valores de um determinado fluxo de caixa. Os investimentos e financiamentos são tratados como projetos, diferentemente do que ocorre com os procedimentos usuais da empresa. Costumam ser tidos como projetos, também, os lançamentos de novos empreendimentos e até de novas empresas. Observação Um processo é uma atividade continuada, padronizada, com entradas, instrumentos e procedimentos que conduzem a saídas de interesse das várias unidades internas e relacionadas aos stakeholders. Davenport (1993 apud PAIM et al., 2009, p. 101) considera que “[...] um processo [é] um conjunto de atividades que, juntas, produzem um resultado de valor para um consumidor [cidadão] na esfera pública”. Como apregoa Assaf Neto (2012b, p. 357-358): “É importante ressaltar que o investimento se apresenta geralmente como uma parte (algumas vezes, pequena)”. Novamente, Assaf Neto (2012b, p. 358) argumenta: “Uma empresa, em determinado instante, pode ser vista como um conjunto de investimentos em diferentes momentos de execução”. É evidente que, quando se trata de uma nova empresa (uma startup, por exemplo), temos, acima de tudo, um projeto inicial de sua constituição, cujas expectativas devem ser mensuradas e comunicadas aos stakeholders, que devem ser convencidos da prioridade de nela aportar recursos financeiros financiados ou de qualquer outra ordem. Lembrete Um conceito de fundamental importância para a adoção de métodos relacionados com investimentos, projetos etc. é o de custo do dinheiro no tempo, mostrando a diferença entre dois valores nominais, disponíveis em épocas distintas. 113 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS Assim, abordaremos métodos que levam em conta a diferenciação do valor do dinheiro no tempo, do que os que fazem uma quantificação direta, sem essa correção. A taxa de desconto utilizada no primeiro conjunto de avaliações deve refletir o custo e o risco da tomada de decisões empresariais. Diferentemente de um processo, um projeto é uma atividade única, que apresenta um fluxo de recebimentos e/ou pagamentos ao longo de um certo período, até o seu vencimento. Assim, os projetos podem ser classificados como: • Projetos independentes. • Projetos mutuamente excludentes – quando a execução de um deles faz com que o outro seja abandonado. • Projetos contingentes. Em geral, as empresas não dispõem de recursos suficientes para implementar todos os projetos considerados viáveis. Por isso, vários métodos permitem classificar os projetos a fim de auxiliar o processo decisório, sendo os mais conhecidos: • Payback. • Valor presente líquido (VPL). • Taxa interna de retorno (TIR). Observação Tais métodos se prestam à quantificação não somente de investimentos, mas também de financiamentos obtidos pela empresa. 5.1 Métodos de avaliação por períodos de payback Por sua simplicidade, são métodos adotados na prática das empresas e, muitas vezes, como uma primeira aproximação dos resultados. O payback (ou prazo de retorno) busca encontrar o tempo necessário (anos, meses e dias) para que um investimento seja igualado aos valores futuros e, assim, a empresa possa recuperar o investimento inicial. Em geral, é fixado um prazo limite, que serve como referência para julgamento da atratividade do projeto. 114 Unidade III Como exemplo da aplicação desse método, vamos considerar um investimento inicial de R$ 100.000,00, com duas parcelas anuais de recebimentos (fluxos de caixa positivos) iguais de R$ 60.000,00, com conclusão em três anos, e uma final de R$ 50.000, 00. O DFC para esse exemplo é mostrado na tabela seguir. Tabela 47 – DFC de um investimento de R$ 100.000,00 Ocorrência no tempo Entradas ou saídas de caixa R$ Fluxo de caixa acumulado 0 (inicial) Investimento -100.000,00 -100.000,00 1 Resgate 60.000,00 -40.000,00 2 Resgate 60.000,00 20.000,00 3 Resgate final 50.000,00 70.000,00 Dividindo o fluxo de caixa do segundo ano por 360 (dias), período em que se dá a reversão do saldo negativo para positivo, chega-se à entrada diária (R$ 60.000,00 / 360 = R$ 166,67). Observação É usual atribuir o ano como possuindo 360 dias (ano comercial). Dividindo o fluxo de caixa acumulado até o final do ano 1 pelas entradas diárias, obtém-se o quociente, que representa o número de dias restantes (R$ 40.000,00 / R$ 166,67 = 240 dias) do mês 2. O payback desse fluxo será de 1 ano e 8 meses. Dessa forma, se desconsiderarmos o valor do dinheiro no tempo e tratarmos os valores futuros pela sua expressão nominal, o tempo de recuperação do investimento será antes do encerramento do ano 2, a partir da realização do investimento. Todavia, de forma mais realista e correta, se descontarmos os valores futuros, trazendo-os à data em que foi feito o investimento, esse retorno acontecerá um pouco antes do ano 2, mas decorridos 11 meses. Para que o investimento seja aceito e realizado pela empresa, o período de payback atingido precisa estar de acordo com as metas e políticas da empresa para o tratamento desse tipo de projeto, estabelecido no seu plano estratégico e em outros internos. Observação Quanto maior for o período para a recuperação do investimento, menor será o risco estimado para o respectivo projeto. Como indica Assaf Neto (2012b), os limites de tempo definidos pela empresa são também diretamente relacionados com a conjuntura econômica, notadamente no que tange à liquidez monetária. 115 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS Não obstante sua praticabilidade e dada a maior subjetividade de seus parâmetros, procura-se recorrer a métodos mais completos e sofisticados para a tomada de decisões, visando à realização do investimento pretendido. Ademais, esse método considera os fluxos de caixa que ocorrem durante o período de sua medição, ignorando os que lhes são prévios ou posteriores. Também os fluxos de caixa não seguem sempre o padrão regular demonstrado anteriormente, isto é, com ocorrências de valores dentro de uma mesma periodicidade e com igual montante. Comparativamente ao exemplo anterior, podemos ter um fluxo de caixa alternativo que conduz ao mesmo resultado em termos do instante em que se atinge o montante do investimento, mas grande parte desse montante será atingido em tempo proporcionalmente maior ou menor. Isso, afinal, pode ocorrer mesmo nos casos de descontos de valores futuros, e não apenas na alternativa que não leva em conta o valor do dinheiro no tempo. Há também que considerar o fato de que, em projeto que demande um tempo mais longo para a recuperação do investimento, podemos ter, após esse momento, fluxos bastante satisfatórios para a empresa. Saiba mais Assaf Neto expõe duas alternativas que apresentam o mesmo payback, mas com significativa diferença no fluxo de caixa gerado para o investidor (ou financiador). Para saber mais, leia: ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2012b. Assaf Neto e Guasti (2017, pos. 5950) concluem: [...] a par de sua utilidade no processo de avaliação de propostas de investimentos, a limitação na fixação do prazo padrão ideal e outras importantes restrições que podem ser atribuídas ao método [...] fazem concluir que o período de playback [é] uma medida auxiliar nas decisões financeiras de longo prazo. É indispensável o uso simultâneo de outros métodos mais sofisticados, evitando-se que a decisão de investir seja baseada, com maior intensidade, no período de payback. 5.2 Método da taxa interna de retorno (TIR) Com este método, pretende-se descobrir a taxa que desconta um fluxo de pagamentos e/ou de recebimentos, de tal forma que iguale no presente (data de seu início)as entradas e saídas de caixa no período em análise. 116 Unidade III Observação A taxa interna de retorno (TIR) é também conhecida pela sua denominação em inglês, Internal Return Rate (IRR), e o seu cálculo é programado em softwares (como o MS Excel) ou calculadoras financeiras (como é o caso da HP12c). Por considerar a variação do valor do dinheiro no tempo, a TIR expressa a rentabilidade oferecida pelo projeto, que deve ser confrontada com a que é praticada no mercado, sendo uma medida mais efetiva do que as anteriores (tipos de paybacks) para que se possa obter uma indicação geral da aceitação (ou não) do projeto de investimento. Evidentemente, se a comparação for feita no caso de um projeto de financiamento, é desejável que a TIR seja inferior à praticada no mercado. Admitamos, como exemplo, que se esteja estudando a realização de um investimento de R$ 1.000,00, para os quais são aguardados os seguintes benefícios de caixa ao final de cada um dos próximos três anos: Tabela 48 – Fluxo de caixa simplificado de um investimento de R$ 1.000,00 Momento do benefício R$ Inicial 0 -1.000,00 Final do ano 1 500,00 Final do ano 2 500,00 Final do ano 3 500,00 Aplica-se, então, a fórmula de cálculo da TIR. Na prática, por demandar o uso de matemática mais complexa, a TIR é usualmente obtida com o apoio de calculadora eletrônica ou com o uso de função específica, predefinida em softwares, como no MS Excel. A título de exemplo, adaptamos um cálculo, contido em Ribeiro (2016), com os passos que devem ser adotados para a obtenção da TIR, utilizando a calculadora financeira HP12c. Inicialmente, lançamos o fluxo de caixa de cada ocorrência relacionada com a operação (positiva ou negativa, em termos de fluxo de caixa) e, no final, requeremos ao software que, com base nos parâmetros que lhe foram informados, processe a função IRR. Consideremos o seguinte fluxo de caixa, da empresa Gloriosa, para o qual estimamos uma taxa mínima de atratividade (TMA) de 7% ao ano: 117 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS Tabela 49 – DFC para o cálculo da TIR do projeto da empresa Gloriosa Períodos/anos Movimentações (entradas e saídas de caixa) - R$ 0 (-) 20.000,00 1 2.500,00 2 3.000,00 3 2.700,00 4 2.700,00 5 2.700,00 6 5.500,00 7 6.000,00 Como de praxe, consideramos valores negativos para as saídas e positivos para as entradas de recursos financeiros em caixa. O cálculo com o apoio da HP12c segue os seguintes passos: • Teclar f REG (limpam-se os registradores e acumuladores da calculadora). • 200000 CHS g CFo (registra-se o valor do investimento no momento inicial). • 250000 CFj (digita-se a entrada de caixa após o primeiro ano do fluxo). • 300000 CFj. • 270000 CFj (registram-se as entradas das parcelas 2 e 3). • 3 g Nj (informa-se que a última parcela se repete por 3 períodos – de 3 a 5). • 550000. • 600000 (registram-se as duas parcelas finais da operação – 6 e 7). • f IRR (este último passo nos faz recorrer à calculadora para, a partir dos valores informados, calcular a TIR). O resultado informado pela calculadora é 5,17% a.a., o que está abaixo do aceitável/desejável para esse tipo de investimento, que foi estipulado pela empresa Gloriosa em 7% a.a. Opcionalmente, é possível fazer esse cálculo com o software MS Excel, para o qual requeremos a função TIR. 118 Unidade III Naturalmente, existem várias alternativas, não só em termos de calculadoras, mas também de softwares, capazes de efetuar o cálculo da TIR. Exemplificamos, então, com a HP12c e o MS Excel, por apresentarem intenso uso no mercado. Além, ou até como substituta da taxa praticada no mercado, costuma-se comparar a TIR, para considerar a decisão de aceitação (ou não) do projeto de investimento, com o percentual mínimo que tenha sido anteriormente planejado pela empresa em seus projetos do mesmo tipo. Considerando todo o fluxo de caixa, a taxa de retorno atraente do ponto de vista financeiro/ econômico do investimento (ou financiamento) será expressa por: 0 VA TRT I = onde: TRT: taxa de retorno total; VA: valor acumulado em função de entradas e saídas de caixa no período em análise; I0: valor do investimento inicial. Naturalmente, o retorno propiciado pelo projeto de investimento guardará relação direta com os momentos das ocorrências de caixa (recebimentos e pagamentos). Serão diferentes os resultados quando forem comparadas diferentes distribuições de valores nos fluxos de caixa. Utilizamos, a seguir, o exemplo apresentado em Assaf Neto e Guasti (2017). Se determinado investimento fosse feito em duas parcelas (R$ 100,00 no momento inicial e R$ 45,00 no ano seguinte) e os benefícios de caixa ocorressem a partir do ano posterior, a TIR seria de 23,87% ao ano, como demonstrado na figura a seguir. ($ 100) ($ 45) 0 1 2 71 3 74 4 80 5 (anos) 50 Figura 19 – Diagrama de fluxo de caixa para determinado investimento, em duas parcelas 119 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS 1 2 3 4 5 45,00 45,00 45,00 45,00 45,00 100,00 (1 K) (1 K) (1 K) (1 K) (1 K) IRR(K) 23,87%a.a. = + + + + + + + + + = Utilizando os passos previstos com a calculadora financeira HP12c, teremos: Quadro 2 – Passos para o cálculo da TIR com a HP12c Comandos na HP12c Significado fREG Limpa os registradores de armazenamento 100CHSgCFo Fluxo de caixa inicial 45CHSgCFj Fluxo de caixa do ano 1 71gCFj Fluxo de caixa do ano 2 74gCFj Fluxo de caixa do ano 3 80gCFj Fluxo de caixa do ano 4 50gCFj Fluxo de caixa no ano 5 fIRR IRR (TIR) do projeto: 23,87% ao ano Fonte: Assaf Neto e Guasti (2017, p. 188). Assaf Neto e Guasti (2017, p. 189) alertam: O método de avaliação da IRR [TIR] assume, implicitamente, que a taxa interna de retorno de um projeto somente será verdadeira se todos os fluxos intermediários de caixa forem reinvestidos à própria IRR, conforme calculada para o investimento. 5.3 Método do valor presente líquido (VPL) ou Net Present Value (NPV) O valor presente líquido (VPL) é obtido pela diferença entre o valor presente dos benefícios líquidos de caixa, previstos para cada período do horizonte de duração do fluxo de caixa, e o valor presente do investimento (desembolso de caixa). Formalmente, costuma-se adotar a seguinte expressão para o cálculo do VPL: n n FC It t 0t t(1 K) (1 K)i 1 i 1 NPV I + += = = − + ∑ ∑ VPL I.I. VP= − +∑ 120 Unidade III onde: FCt: fluxo (benefício) de caixa líquido de cada período; K: taxa de desconto do projeto, representada pela rentabilidade mínima requerida; Io: investimento processado no momento zero; It: valor do investimento previsto em cada período subsequente. O diagrama que demonstra os descontos realizados em cada um dos períodos do fluxo é representado na figura a seguir. 0 I.I. VP1 VP3 VP5 VP2 VP4 VP6 ∑VP 1 2 3 4 5 6 Anos Figura 20 A expressão que permite o cálculo do VPL é: ( ) ( ) ( ) ( )1 2 3 n FC1 FC2 FC3 FCn VPL I . I 1 k 1 k 1 k 1 k = − + + + + + + + + + Comparativamente à TIR, este método pressupõe que se defina previamente a taxa de desconto que trará os valores futuros ao presente. O método provê os descontos de todos os fluxos de entradas e saídas de caixa de um investimento por uma taxa mínima aceitável pela empresa (definida por K na formulação), expressando o seu resultado econômico (riqueza) atualizado. Um rápido exercício, com os dados da empresa ABC, auxilia a compreensão do funcionamento deste método. Consideremos: VPL /I.I. VP= − +∑ 121 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS Vamos admitir que a empresa ABC necessita avaliar um investimento no valor de R$ 35.000,00, para o qual se esperam diferentes benefícios anuais de caixa. Tabela 50 Ano Benefício esperado de caixa (R$) 1 15.000,00 2 15.000,00 3 15.000,00 4 15.000,00 Admitamos que a empresa ABC definiu uma meta de retorno médio de 20% ao ano. Podemos recorrer à função pré-programada do software MS Excel paraobter o VPL dessa operação. Para tanto, precisamos observar os passos a seguir: • Escolha uma célula do software que conterá a função. • Escolha a função VPL, clicando em . Figura 21 – Escolha da função VPL no MS Excel 122 Unidade III Clicando em VPL, o software apresentará o quadro de diálogo a seguir, que deve ser preenchido com os argumentos da função. Figura 22 – Informação dos parâmetros da função VPL no MS Excel O VPL, calculado pelo MS Excel, será de $ 3.045,46, obedecendo à fórmula = VPL (10,35000, -15000, -15000, -15000, -15000), indicada na linha superior de comando do software, recomendando, assim, a aceitação do projeto pela empresa. O resultado do VPL irá direcionar a decisão de aceitação ou rejeição do investimento. Será aceito todo investimento com um VPL maior ou igual a zero. Nos casos de VPL negativo, obviamente não terá sido atingida a taxa de retorno mínima requerida pela empresa, levando à rejeição do investimento. Tal como no caso da TIR, este método pressupõe o reinvestimento dos fluxos intermediários de caixa à mesma taxa aplicada na avaliação do investimento. Lembrete Todos os projetos que apresentarem VPL ≥ 0 podem ser aceitos, uma vez que geram retorno igual ou maior que o custo de capital ou estipulado pela empresa. Quando um projeto apresenta VPL < 0, seu retorno é inferior a seu custo de capital, e, portanto, ele deixa de ser atrativo. Em mais um exemplo, desta vez com dois projetos mutuamente exclusivos, a empresa deverá escolher, para desenvolvimento e implantação, apenas um deles. 123 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS A empresa ABC analisa duas alternativas de investimento de aquisição de equipamentos: A ou B. A empresa constatou dois diferentes fluxos de caixa para essas alternativas, a saber: Tabela 51 – Diagrama de fluxo de caixa para investimentos alternativos para a empresa ABC Ano Investimento A Investimento B Fluxo de caixa (R$) Fluxo de caixa (R$) 0 -140.000,00 -180.000,00 1 40.000,00 50.000,00 2 40.000,00 55.000,00 3 45.000,00 60.000,00 4 45.000,00 65.000,00 5 50.000,00 70.000,00 6 60.000,00 70.000,00 Os cálculos para a apuração do VPL de cada uma dessas alternativas serão: • Alternativa A VPLA �� � � � � � � 140 000 40 000 1 0 18 40 000 1 0 18 45 000 1 0 11 2 . . ( , ) . ( , ) . ( , 88 45 000 1 0 18 50 000 1 0 18 60 000 1 0 18 140 2 3 4 5 ) . ( , ) . ( , ) . ( , ) . � � � � � � �� 0000 157 306 17 306� �. . • Alternativa B B 1 2 2 3 4 5 50.000 55.000 60.000 65.000 VPL 180.000 (1 0,18) (1 0,18) (1 0,18) (1 0,18) 70.000 70.000 180.000 208.445 28.445 (1 0,18) (1 0,18) =− + + + + + + + + + + =− + = + + Os resultados concluem que a alternativa B é a que oferece o maior VPL (R$ 28.445,00 contra R$ 17.306,00). Evidentemente, outros fatores também devem ser considerados para uma decisão final sobre o assunto, como os aportes iniciais de investimentos, que indicam ser maior para a alternativa A. Além disso, outros aspectos, como o de natureza qualitativa, eventualmente, podem ter peso superior aos quantitativos na escolha da melhor alternativa de investimento para a empresa. 124 Unidade III 5.4 Método índice de valor atual (IVA) É determinado pela razão/divisão do valor presente dos benefícios líquidos de caixa pelo valor presente dos desembolsos de capital: benefícios de caixa (A) desembolso de capital VP IL VP = VP = valor presente (present value, em inglês). Com este método, o critério de aceitar-rejeitar uma proposta de investimento depende dos aspectos a seguir: • IL > 1: o projeto deve ser aceito (VPL > 0). • IL = 1: indica um VPL = 0; o projeto pode ser aceito à medida que remunera o investidor em sua taxa mínima requerida de retorno. • IL < 1: o projeto apresenta um VPL negativo (destrói valor), devendo, portanto, ser rejeitado. Assaf Neto (2012b, p. 392) adverte: Quando a utilização do método envolve projetos independentes, o índice de lucratividade leva à mesma decisão do NPV. No entanto, ao se considerarem projetos mutuamente excludentes, deve-se tomar certa precaução com relação ao uso do método, por não dimensionar a escala do investimento e a distribuição dos fluxos de caixa no tempo. Efetuando o cálculo para as alternativas A e B apresentadas no exemplo imediatamente anterior, teremos: • Alternativa A (A) 157.306,00 IL 1,12 140.000,00 = = • Alternativa B (B) 208.445,00 IL 1,1580 180.000,00 = = 125 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS Esse critério confirma a alternativa B como a melhor entre as duas confrontadas nesse projeto-exemplo. 5.5 Divergências de resultados na aplicação de diferentes métodos São idênticas as decisões, com base nos métodos VPL e TIR, quando se analisa um único projeto de investimento. Contudo, isso pode não acontecer quando são considerados dois investimentos mutuamente excludentes, dos quais somente um poderá ser aceito. Assaf Neto (2012b, p. 397) comenta: É possível, em determinadas circunstâncias, deparar com situações em que o NPV classifica determinado investimento X como o mais atraente economicamente; a IRR, por outro lado, indica o desinteresse econômico dessa alternativa e seleciona o investimento Y como o que deve ser aceito. As razões dessas diferenças [...] são explicadas pelas escalas dos investimentos – montantes de investimento alocado em cada proposta – e pelas diferentes contribuições dos fluxos de caixa no tempo. Saiba mais Para informações mais detalhadas sobre as diferenças de resultados em projetos mutuamente excludentes, leia: ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2012b. 5.6 Taxa interna de retorno modificada (TIRM) O método TIR considera que os fluxos de caixa são reinvestidos na empresa pela própria TIR do projeto, independentemente das taxas que vigoram no mercado, e não pelo custo de capital da empresa. A taxa interna de retorno modificada (TIRM) procura corrigir esse problema. A pergunta que se faz, neste caso, é: o fluxo gerado continuará a render igual ao projeto, não estando mais vinculado a este? O cálculo da TIRM obedece à formulação: futuros 1/n presente FC TIRM [( ) ] 1x100 Investimento = −∑ 126 Unidade III onde: • Os FC futuros se referem ao fluxo de caixa natural do projeto, levado ao valor futuro com base na taxa de reaplicação do mercado. • O investimento presente corresponde ao valor de todo o investimento trazido ao valor presente. • n é o período entre o primeiro e o último fluxo do projeto. Para calcular a TIRM, inicialmente, devem ser capitalizados os valores de cada entrada de caixa para a data final do projeto, empregando o custo de capital do projeto. Feito isso, o próximo passo é encontrar a taxa de desconto que iguala esse montante capitalizado com o valor do investimento inicial. 5.7 Metodologia das opções reais Com este método, procura-se corrigir as deficiências do sistema de cálculo do VPL, considerando a mudança de comportamento dos investidores e dos fluxos de caixa quando ocorrerem alterações nas condições do mercado de atuação da empresa. Uma opção é o direito de comprar ou vender uma quantidade específica de um bem ou ativo por um preço fixo em uma determinada data prefixada ou até esta data. O exercício da opção somente será feito no caso de a oscilação no preço do ativo objeto ser favorável ao seu detentor. Como indicado por Padoveze (s.d., p. 30): O dinamismo do mercado e a flexibilidade gerencial na avaliação de projetos de investimento (que está relacionada com a aparição de novas informações relativas ao projeto) podem levar uma empresa a alterar o cenário definido originalmente, como por exemplo: diferir o projeto, expandi-lo, prorrogá-lo ou abandoná-lo após a fase de planejamento. Quando exercitadas de forma ótima, todas estas opções proporcionam flexibilidade que aumenta o valor do projeto. A análise de opções reais captura o valor dessa flexibilidade, o que os métodos tradicionaisde avaliação de investimentos não conseguem fazer. Métodos como o Valor Presente Líquido (VPL) ou o Fluxo de Caixa Descontado (FCD) não são suficientes para captar o valor associado à flexibilidade, pois eles tratam apenas de fluxos de caixa previstos, descontados a uma taxa constante, por considerar o risco constante durante a vida do projeto. Tais limitações tornam esses métodos inadequados para análises quantitativas por induzir na maioria das vezes a taxas de desconto intuitivas. Em procedimentos deste tipo, existe forte tendência a valorizar excessivamente a aversão ao risco. Neste sentido estes métodos subestimam sistematicamente todo 127 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS projeto. As opções reais são consequências naturais de circunstâncias criadas por situações do mundo real que proporcionam as características de irreversibilidade, incerteza e possibilidade de adiamento. É possível, pois, fazer uma analogia entre a oportunidade de investimento (opção real) e a opção financeira: uma firma com uma oportunidade de investimento irreversível carrega uma opção de investir no futuro (ou de esperar). Ela tem o direito – mas não a obrigação – de comprar um ativo (o projeto) no futuro a um preço de exercício (o investimento). Quando a empresa investe, exerce a opção e arca com um custo de oportunidade igual ao seu valor, o investimento é irreversível, mas ela tem a possibilidade de adiar o investimento até que melhorem as condições de mercado. O quadro a seguir compara a opção real (oportunidade de investimento) com a financeira. Com isso, pode-se calcular o valor de uma opção real utilizando os mesmos métodos usados no caso da opção financeira. Quadro 3 – Comparativo entre as opções reais e financeiras Opção financeira Opção real Preço de exercício da opção Custo de investimento no projeto Ativo subjacente: ação Projeto Retorno da ação Retorno do projeto Volatilidade no preço da ação Volatilidade no valor do projeto Fluxo de dividendos da ação Fluxo de caixa líquido do projeto Tempo de expiração da opção Tempo de expiração da oportunidade do investimento Taxa de juros livre de risco Taxa de juros livre de risco Fonte: Padoveze (s.d., p. 31). Saiba mais Para entender melhor os conceitos da teoria de opções reais utilizada para a avaliação de ativos reais, tais como projetos de investimento, avaliação de projetos de pesquisa, avaliação de propriedades intelectuais, entre outros, leia: PADOVEZE, C. L. Teoria das opções reais. [s.d.]. Disponível em https:// www.maxwell.vrac.puc-rio.br/5656/5656_3.PDF. Acesso em: 12 jan. 2020. 128 Unidade III 6 ESTRUTURAS E CUSTOS DE CAPITAIS O assunto deste tópico é considerado por muitos como a questão mais difícil em finanças práticas de empresas. O seu cálculo é indispensável e relacionado com a escolha dos projetos de investimentos (e até desinvestimentos) e com a estratégia financeira da empresa, isto é, dos planos de financiamentos e avaliação de empresas. É, de certa forma, o ponto de partida dos processos referentes à análise financeira. A estrutura de capitais de uma empresa é representada pela composição/distribuição de suas fontes de financiamento. Os recursos financeiros aplicados (investidos) em ativos – sejam circulantes, sejam não circulantes – podem ser originados dos aportes dos proprietários da empresa e/ou de captações junto a terceiros (como bancos ou o público em geral). O conhecimento do custo do capital empregado pela empresa, tanto o próprio (isto é, de propriedade dos acionistas, sócios) quanto o de terceiros (fruto de captações junto a bancos e outras instituições financeiras ou com outros agentes que atuam nos diferentes mercados financeiros), irá definir a taxa de retorno mínima esperada para novos empreendimentos e projetos. Ademais, ela é utilizada como a taxa de retorno que os acionistas ou financiadores exigem para aplicar seus recursos financeiros na empresa ou mantê-los em qualquer alternativa mais rentável disponível no mercado. Além dos sócios, proprietários e acionistas, também os detentores de capitais de terceiros estarão, naturalmente, propensos a apoiar as empresas com maiores possibilidades de retorno do dinheiro nelas aplicado. 6.1 Orçamento de capital Está cada vez mais evidente a necessidade de montar um planejamento ou um orçamento antes de praticar as ações operacionais ou de outra ordem, seja na empresa, seja para qualquer agente que atue na economia. O orçamento de capital é caracterizado pelo processo de avaliação e seleção de projetos de investimentos de longo prazo. As etapas desse orçamento são subdivididas e sequenciadas em: • Geração de propostas. • Avaliação/análise. • Tomada de decisão. • Implantação. • Acompanhamento. 129 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS Acompanhar o orçamento, efetuando as correções em função de novas informações ou de imprecisões ou desconhecimentos anteriores, é algo que merece cuidados especiais da empresa. 6.2 Taxas de juros e orçamento de capital Como um fato da vida real, a inflação deve ser sempre considerada nas decisões financeiras da empresa. Admitamos que a taxa de juros, proposta pelo banco, para remuneração de determinada aplicação feita pela empresa seja de 10% ao ano. Se essa aplicação for, por exemplo, de R$ 10.000,00, a empresa receberá R$ 11.000,00 no prazo de um ano, a contar da data da aplicação: Jurosapós 1ano = (aplicação em R$) x TJanual = 10.000,00(0,10) = 1.000,00 Montante = aplicação + jurosapós1ano Montante = 10.000,00 + 1.000,00 = 11.000,00 Consideremos, porém, que a taxa de inflação nesse ano seja de 6%. Observação A taxa de inflação afeta igualmente todos os preços dos bens e serviços, reais ou financeiros, transacionados na economia. Percebe-se, então, que a taxa efetiva (real) de juros não é de 10% ao ano. Para que conheçamos qual é a taxa de juros real dessa operação, precisamos efetuar o cálculo a seguir: nominal real inf lação real real a.a. (1 TJ ) TJ 1 (1 T ) (1 0,10) TJ 1 (1 0,6) 1,10 TJ 1 3,8% 1,06 += − + += − + = − = Essa taxa admite o regime de juros compostos (juros sobre juros). Se se tratasse de juros simples, teríamos: TJreal = (1 + TJnominal) – (1 + Tinflação) – 1 TJreal = (1 + 10) – (1 + 0,06) – 1 = 4%a.a. 130 Unidade III Comentam Ross et al. (2013, p. 156): Essa aproximação é razoavelmente precisa quando as taxas de juros e de inflação são baixas. Em nosso exemplo, a diferença entre o cálculo aproximado e o cálculo exato é de apenas 0,2% (4%-3,8%). Infelizmente, a aproximação piora quando as taxas de juros são mais elevadas. 6.3 Capital próprio x capital de terceiros Os recursos financeiros, uma vez adquiridos e registrados no passivo, são investidos no ativo (aplicação de recursos), podendo ser destinados às necessidades de curto prazo (financiamento de clientes, compras de estoques ou manutenção de um determinado saldo de caixa) ou longo prazo (compra de imobilizado). O capital próprio é registrado na contabilidade do subgrupo PL (patrimônio líquido), enquanto os financiamentos com terceiros são expressos nas demais contas que compõem o passivo da empresa. O custo do capital próprio representa o retorno que os investidores/acionistas poderiam conseguir em alternativas de investimento de mesmo risco. O capital de terceiros, por outro lado, é identificado pelos financiamentos que a empresa obtém para a realização de suas atividades operacionais e de investimento. Esses capitais representam dívidas das empresas que podem ser firmadas a taxas pré ou pós-fixadas. É o chamado custo da dívida. O benefício fiscal, decorrente do fato de arcar com juros, faz com que o capital de terceiros tenha menor custo do que o próprio. Contudo, há outros aspectos a considerar quando se pretende financiar os investimentos com capital de terceiros, como: • Possibilidade de falência devido às dívidas. • Custos arcados, em função de processos como agenciamento, controlee monitoração de dívidas. Diferentemente do capital próprio, esse valor é considerado uma despesa contábil, que afeta (diminui) o resultado do período, fazendo com que haja um certo retorno e, portanto, esse particular custo não se aplique integralmente. Admitindo que o custo da dívida é, por exemplo, R$ 10.000,00, representado por 50% do total de capital, e que há uma incidência de 40% sobre o lucro da empresa, esse custo será, na realidade: 10.000,00 x 0,60 = R$ 6.000,00 131 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS Ocorre, então, um benefício representado pela dedutibilidade da despesa pelo uso de capital de terceiros, o que não se verifica para o emprego do capital próprio. Salienta Silva (2012, p. 205): [...] [O] principal problema para sabermos o custo da dívida é determinarmos o valor da própria dívida [no balanço patrimonial] [...]. É mostrado o valor da dívida na data de seu encerramento, e os valores das dívidas nesse dia podem não ser representativos de suas respectivas médias durante o ano. Adicionalmente, se a empresa apresentar algum tipo de sazonalidade em suas operações, aumenta a dificuldade para calcularmos a dívida média anual. Admitamos que a dívida de uma empresa com terceiros é constituída da forma apresentada na tabela a seguir. Tabela 52 – Dívida com terceiros Tipo de dívida 2016 (R$) 2017 (R$) Duplicatas descontadas 30.000 15.000 Com instituições financeiras 55.000 52.000 85.000 67.000 Observação O desconto de títulos (duplicatas, notas promissórias etc.) é uma operação típica dos bancos (as factorings também estão autorizadas a fazê-la). A instituição financeira oferece um empréstimo mediante a garantia de um título, por meio da cessão do direito do recebimento no dia do vencimento. A medida da dívida será: • No final de 2016: R$ 85.000,00. • No final de 2017: R$ 67.000,00. Como a empresa usualmente utiliza várias fontes de recursos, é preciso entender a sua estrutura e distribuição de capital para avaliar o total do custo da empresa. 132 Unidade III Lembrete Todas as modalidades e os prazos de investimentos, descritos contabilmente no ativo do BP de uma empresa, são financiados pelos valores constantes dos financiamentos demonstrados em seu passivo. Quadro 4 – Separação dos investimentos e dos financiamentos na empresa Ativo (aplicações/investimentos) Passivo (origens dos financiamentos) Circulante Circulante Realizável a longo prazo Exigível a longo prazo Permanente Patrimônio líquido (PL) 6.4 Estrutura de capital da empresa Hoji (2004) apud Morante e Jorge (2012) apresenta um diagrama que mostra as aplicações (itens do ativo) e as fontes de recursos/capitais da empresa, subdivididas, contabilmente, no passivo do seu BP, como mostra a figura a seguir. Ativo Passivo circulante Patrimônio líquido Exigível a longo prazo Capital de terceiros Capital próprio Capital permanente e de longo prazo Capital de curto prazo Figura 23 – Tipos de capital x BP da empresa Cabe ao executivo ou à área responsável escolher as opções de captação e aplicação de recursos financeiros, comparando, por exemplo, os custos das obtidas junto a terceiros com as expectativas de remuneração do capital próprio. Observação O montante mais significativo de um ou de outro, como é o caso de terceiros, não significa, no geral, mais ou menos riscos enfrentados pela empresa. 133 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS A teoria que embasa a estrutura de capital foi proposta em artigo assinado por Modigliani e Miller (1958), admitindo que os mercados são eficientes e que a estrutura de capital escolhida pela empresa não afeta o seu valor (da empresa), dado que os custos diferentes seriam compensados pelos riscos assumidos em cada caso. Em princípio, seria sempre melhor trabalhar com fontes de capital próprio. Porém, aspectos como a dedução dos juros pagos pela empresa de seu total devido ao imposto de renda sobre os lucros do período fizeram os autores admitirem a atração propiciada pelo menor custo gerado pelo capital de terceiros, isto é, pelo capital obtido via dívidas da empresa. 6.5 Estrutura ótima de capital A definição de estrutura ótima de capital é teórica; não existe um padrão considerado perfeito, atingindo um montante que maximiza o valor da empresa e arcando com o menor custo possível de capital. A expressão fundamental relacionada com essa estrutura admite a formulação: a Lucro Operacional(1 T) V K −= onde: V: valor da empresa; T: alíquota dos impostos incidentes sobre o lucro; Ka: custo do capital. Se considerarmos o lucro operacional constante, ao minimizar o Ka (custo do capital), maximizamos o valor da empresa (V). 6.6 Mensuração do custo do capital Sob a ótica de quem aporta os recursos para a empresa, devemos considerar que sua remuneração equivalerá a: • Capital de terceiros: empresa arca com juros sobre o valor obtido – obrigação contratual. Há, também, a incidência de outros custos, e não somente dos juros contratuais, mas de taxas como abertura de crédito, comissões, imposto sobre operações financeiras (IOF) etc. • Capital próprio: remuneração residual – quem forneceu os recursos beneficia-se dos resultados (lucros da empresa). 134 Unidade III Podem também ser obtidos recursos financeiros, normalmente de curto prazo, através dos empréstimos não onerosos, isto é, aqueles em que não há cobrança de juros ou outros encargos, que é o caso de muitas operações do próprio dia a dia, como os processos de aquisição de matéria-prima e demais insumos junto a fornecedores. Os administradores e empreendedores devem procurar tornar suas empresas mais valiosas, e esse valor é determinado pelo tamanho, tempo e risco de seus fluxos de caixa livres (FCL). De fato, o valor intrínseco da empresa é estimado como o valor presente de seus FCLs, descontado pelo custo médio ponderado de capital (CMPC). Veja, na figura a seguir, o esquema de cálculo do valor da empresa e do custo de capital. Lucro operacional líquido após impostos Investimentos necessários em capital operacional Custo médio ponderado de capital (CMPC) Fluxo de caixa livre (FCL) Valor = FCL1 (1 + CMPC)1 + FCL2 (1 + CMPC)2 + ... + FCL∞ (1 + CMPC)∞ Custo de dívida Custo do capital próprio Taxas de juros de mercado Mix de dívida/patrimônio da empresa Aversão ao risco de mercado Risco de negócios da empresa = - Figura 24 – Esquema de cálculo do valor da empresa e do custo de capital 6.6.1 Importância de medir o custeio do capital utilizado pela empresa O custo do capital é um elemento crítico em muitas decisões de negócios. As empresas precisam de capital para desenvolver novos produtos, construir fábricas, ampliar o uso de tecnologia da informação, expandir internacionalmente e mesmo adquirir outras empresas. A empresa deve estimar o investimento total exigido e decidir se a taxa de retorno esperada excede o custo do capital. O custo de capital também é um fator importante para a definição de planos de remuneração, além de ser um fator-chave na escolha da combinação de dívida e patrimônio e em decisões de arrendamento/ aluguel em vez de compra de ativos. 135 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS 6.7 Custo do capital próprio O custo de capital próprio é também denominado custo de patrimônio e deve computar: • ações existentes (ordinárias e/ou preferenciais); • ingresso de novo capital; • lucros retidos. Devem ser descontados os valores do fluxo de dividendos futuros esperados. 6.7.1 Modelo de precificação de ativos de capital (CAPM) O modelo de Gordon e Shapiro, que será demonstrado em exemplos adiante, seja para cálculos dos custos de capital próprio, seja para valores já existentes ou de novas ações, ordinárias ou preferenciais, a serem lançadas no mercado, é válido para empresas estáveis em relação à distribuição de dividendos. O Capital Asset Pricing Model (CAPM) é um modelo mais robusto, usado alternativamente,que estuda a atitude, comparando risco e rentabilidade, dos aplicadores em ativos (notadamente ações) ou carteiras de ativos. Permite aos gestores de uma determinada empresa avaliar a taxa de retorno mínima que se espera dos investimentos propostos para a empresa. Considera Carmona (2009, p. 108): [...] A principal metodologia para se calcular o custo de obtenção de capital próprio é através do modelo CAPM [...]. Conforme Elton et al. (2004), esse modelo tem sido apresentado em várias formas, com graus diferenciados de rigor e apelo matemático. Quanto mais a Matemática está presente, mais complexo tem se tornado o modelo. De acordo com os autores, esses modelos mais complexos dificultam a compreensão da intuição econômica. A utilização do CAPM é, porém, subordinada à aceitação de algumas hipóteses restritivas, que se referem ao comportamento do investidor e do mercado em que atua, como a não existência de custos de transação. O modelo CAPM descreve a relação entre o risco e o retorno esperado em investimentos. O retorno esperado será a função da taxa livre de risco, do nível de risco medido pelo coeficiente beta e do prêmio de risco do mercado, calculado com base no retorno de mercado. Sua formulação é dada por: E(Ri) = Rf + βi[E(Rm) - Rf] 136 Unidade III onde: E(Ri): retorno esperado; Rf: taxa livre de risco; βi: risco sistemático; E(Rm): retorno médio esperado pelo mercado. O risco de mercado que um determinado ativo oferece ao investidor é o risco por ele adicionado à carteira de investimentos como um todo. Costuma-se representar a taxa de juros paga por títulos públicos (no caso brasileiro, a taxa-piso Selic, fixada periodicamente pelo Banco Central) como sendo a menos arriscada do mercado. Martelanc, Pasin e Cavalcante (2005) apud Carmona (2009, p. 108) consideram que o modelo CAPM apresenta várias limitações, como: • A presunção da existência de índices abrangentes de mercados acionários. • As bolsas de valores de países emergentes apresentam um pequeno volume de transações e uma excessiva concentração em poucos investidores e títulos/papéis, o que faz com que os índices consolidados não sejam adequadamente representativos da carteira de mercado. • Sempre que o índice de referência de mercado é muito concentrado em poucas ações, o beta da empresa mostra muito mais a relação dessa empresa com as principais companhias que compõem o índice de referência para a carteira de mercado. • O prêmio de risco de mercado costuma ser muito oscilante e depende das taxas de juros livres de risco, podendo até ser negativo. • A versão clássica não leva em consideração os prêmios adicionais para as empresas situadas fora dos Estados Unidos da América. O indicador beta, componente importante do modelo, mede a volatilidade, ou o risco sistêmico, da ação/título ou da empresa em comparação com o mercado de um modo geral. No modelo CAPM de precificação de ativos, o coeficiente beta tem a função de um índice médio de reação que os ativos ou investimentos teriam em relação à média do mercado. O indicador beta leva em conta a sensibilidade da empresa ao risco e relaciona o retorno dos valores individuais comparativamente ao do portfólio do mercado. Esse coeficiente é calculado a partir de uma análise de regressão estatística que considera o mercado e o ativo/investimento. Ele representa 137 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS o quanto o retorno do ativo varia em função da variação do mercado em geral. O beta do ativo alvo é obtido considerando a covariância entre o ativo e o mercado, dividido pela variância do mercado em uma específica janela de tempo. Admitamos que determinada ação possua beta = 2. No caso, quando o índice Ibovespa (refletindo o mercado) subir 1%, é esperado que a sua ação suba 2%. Todavia, se o mercado cair 2%, a ação cairá 4%. O beta é uma medida que não é constante e varia em função da janela de tempo que usamos para calcular: ativo mercado 2 Retorno do mercado Cov(Retorno ,Retorno ) BETA = σ Beta varia no intervalo revelado no quadro a seguir. Quadro 5 – Possibilidades de intervalos de variações do coeficiente beta para determinado ativo Beta O que representa? < 0 Investimento reage na direção contrária do mercado = 0 Ativo com retorno livre de risco entre 0 e 1 Investimento reage na mesma direção, mas menos intensamente que o mercado = 1 Investimento com retorno dentro da média do mercado > 1 Investimento reage mais intensamente que o mercado A tabela a seguir compara os retornos históricos de papel da empresa X com a carteira formada por ativos do mercado Z. Tabela 53 – Comparativos de retornos históricos entre as ações da empresa X e dos ativos de mercado Z Ano Retornos históricos (em %) Ação da empresa X Carteira de ativos do mercado Z 1 10 11 2 12 13 3 8 10 4 -1 -2 5 13 12 Média 8,4 8,8 Fonte: Megliorini e Vallim (2009, p. 84). 138 Unidade III Utilizamos a fórmula a seguir para o cálculo da variância das ações da empresa X: 2 2 X (x x) 125,2 25,04 n 5 − σ = = =∑ A variância da carteira de ativos do mercado Z é dada por: 2 2 z (z z ) 150,8 30,16 n 5 − σ = = =∑ Calcula-se a covariância entre os retornos da carteira de ativos da empresa X e do mercado Z a partir de: x,z (x x )(z z ) 134,4 COV 26,88 n 5 − − = = =∑ Teremos o seguinte resultado para o coeficiente beta da empresa X: x,y x z COV 26,88 0,89125 VAR 30,16 β = = = A carteira de ativos do mercado Z, por conter risco apenas sistemático, apresenta coeficiente beta igual a um. Se o coeficiente beta de uma ação for igual a um, seus retornos se movimentam na mesma direção que os da carteira de ativos do mercado, sendo ambos os riscos sistemáticos. Se o coeficiente beta de uma ação for maior que um, seus retornos esperados variarão mais que os da carteira de ativos do mercado; seu risco sistemático será maior do que o da carteira. Se o coeficiente beta de uma ação for menor que um, seus retornos esperados variarão menos que os da carteira de ativos do mercado; seu risco sistemático será menor do que o da carteira. Apresentamos, a seguir, um exemplo para o cálculo com suporte do modelo CAPM. Um investidor calculou o beta dos ativos X e Y, obtendo, respectivamente, 0,5 e 1,5. O retorno esperado da carteira de títulos (KM) é de 10%. A taxa livre de risco (RF) é de 6%. O cálculo do retorno esperado para o ativo é: K: RF + [beta (KM-RF)] onde: K: retorno esperado para o ativo; 139 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS RF: risk free – taxa de retorno para um ativo sem risco (como os títulos da dívida pública estatal); Beta: coeficiente esperado de risco sistemático do ativo; KM: retorno esperado da carteira de ativos do mercado (como o Ibovespa). Os retornos esperados desses ativos são: Kx = 6% + (0,5(10% - 6%)) = 6% + 2% = 8% Ky = 6% + (1,5(10% - 6%)) = 6% + 6% = 12% Observação O Ibovespa é o principal e o mais importante indicador de desempenho médio dos ativos mais negociados e representativos do mercado de ações de nosso país. É referência para todos que aplicam no mercado de capitais brasileiro. O Ibovespa é composto pelas ações mais negociadas das empresas listadas na B3 e é o resultado de uma carteira teórica de ativos, elaborada de acordo com os critérios estabelecidos em sua metodologia. Aplicam-se ao Ibovespa todos os procedimentos e as regras constantes do manual de definições e procedimentos dos índices da B3. Saiba mais Consulte o site da B3 para mais informações sobre o Ibovespa e outros índices que permitem o acompanhamento das cotações dos valores na Bolsa: http://www.b3.com.br/ Ajusta-se o modelo CAPM considerando o custo Brasil: K = Rf + (β . Km - Rf) + RB K: retorno esperado do ativo; Rf: retorno do ativo, livre de risco; β: coeficiente beta; 140 Unidade III dom: retorno esperado da carteira ativos mercado; RB: risco Brasil. Internacionalmente, a taxa livre de risco, adotada neste modelo, é a do T-Bond (treasury bond)– bônus do Tesouro dos Estados Unidos da América. O risco Brasil é a diferença entre a rentabilidade do T-Bond e a remuneração dos títulos da dívida externa brasileira (Global Bond). Detalharemos mais adiante as informações sobre os global bonds, negociados internacionalmente pelo Brasil. Para trabalhar com o investimento em reais, precisamos acrescentar o diferencial de inflação entre as duas moedas (real e dólar norte-americano). Consideremos as informações a seguir para os cálculos dos retornos dos investimentos. Tabela 54 Retorno esperado da carteira de títulos do mercado (Km) 10,22 (%) T-Bond (Rf) 5,22 Global Bond 6,36 Risco Brasil (Global Bond - Tbond) 1,14 Expectativa média de inflação no Brasil 3,02 Expectativa de inflação média nos EUA 1 Diferencial de inflação (Brasil x EUA) 2 Índice beta da empresa 0,84 K = Rf + (β (Km - Rf) + RB = 5,22% + (0,84(10,22% - 5,22%)) + 1,14% = 10,56% O retorno esperado para um investimento com os valores expressos em dólares norte-americanos será calculado: K = Rf + (β (Km - Rf) + RB = 5,22% + (0,84(10,22% - 5,22%)) + 1,14% = 10,56% O cálculo do retorno esperado com os valores especificados em reais será: K = Rf + (β (Km - Rf) + RB DI = 5,22% + (0,84(10,22% - 5,22%)) + 1,14% + 2,0% = 12,56% DI = diferenca_inflacao_USA-Brasil Alguns ativos são considerados como padrões de comparação no mercado financeiro. 141 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS Apesar das limitações e críticas de vários autores, o CAPM é um modelo amplamente adotado para os cálculos de retorno de capital. 6.7.2 Security market line O gráfico da figura a seguir mostra visualmente os retornos dos ativos com seus respectivos coeficientes beta; demonstra o retorno do título, desdobrando parcela sem risco e prêmio pelo risco de mercado. Retorno esperado Parcela sem risco Prêmio pelo risco Linha do mercado de títulos Betas 0,5 1,0 Rf = 6% KX = 8% KM = 10% Ky = 12% 1,5 Figura 25 – Security market line function 6.7.3 Modelo APT O modelo APT, alternativo ao CAPM, pressupõe que os retornos sobre os títulos sejam gerados por vários fatores de cunho setorial ou macroeconômico. É tido como mais lógico do que o CAPM. Segundo Carmona (2009, p. 110), “não consegue traduzir a mesma intuição econômica que o CAPM”. Com este modelo, a fórmula para o cálculo do retorno do capital empregado é: R = R + β1F1 + β2F2 + ... + βkFk R: parcela - esperada - retorno; F: fatores - serem - utilizados - prever - risco; β: risco - específico - ativo - ou - empresa. 142 Unidade III É entendido que este modelo apresenta mais vantagens do que o CAPM. É uma medida que trabalha com riscos específicos que atingem a empresa, e não, como no caso do primeiro, com um risco geral de mercado. Devem ser consideradas, porém, as dificuldades de operacionalização do APT, no que tange à determinação dos fatores a serem incluídos no modelo. 6.7.4 Custo de capital com base no lançamento de ações preferenciais Este tipo de ação dá a preferência ao recebimento de dividendos, com a fixação de um dividendo mínimo obrigatório ou fixo. Também dá preferência ao reembolso do capital em caso de liquidação da sociedade. Contudo, não dá direito a voto, impedindo a participação do acionista nos destinos da empresa. Pode adquirir o direito a voto nas assembleias da empresa, caso esta não distribua os dividendos pelo prazo de três anos consecutivos. A fórmula de cálculo (popularizada por Gordon e Shapiro) para a apuração do custo de ação presencial já existente é: 1 ações existentes 0 D K g P = + onde: P0: preço corrente da ação; D1: dividendo por ação esperado ao final do ano 1; K: taxa de desconto compatível com o risco assumido pelos fornecedores de capital próprio; g: taxa anual esperada de crescimento dos dividendos das ações. É importante considerar que, para as ações preferenciais, a legislação prevê um dividendo fixo ou mínimo. Se o dividendo é fixo, a taxa anual esperada de crescimento será igual a zero. Admitamos que o dividendo mínimo a ser pago pela empresa será de R$ 2,50 e que as ações preferenciais estão sendo cotadas a R$ 20,00. preferenciais 2,50 K 0,0% 0,125 0,0 0,125 12,5% 20,00 = + = + = = 143 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS Supomos, agora, que o dividendo mínimo previsto para o próximo ano é de R$ 1,8 por ação e que as ações preferenciais estão sendo cotadas a R$ 15,00. Nos últimos anos, os dividendos distribuídos têm crescido à taxa média anual de 3,5%. preferenciais 1,8 K 3,5% 0,12 0,035 0,155 15,5% 15,00 = + = + = = As ações poderão ser negociadas com ágio ou deságio, com relação ao valor praticado no mercado. Há, também, os custos de colocação no mercado (taxas, comissões, corretagens etc.). 1 n.a. D K g VL = + onde: K: custo das novas ações; D1: dividendo por ação esperado ao final do ano 1; VL: valor líquido recebido pela venda da nova ação; g: taxa anual esperada de crescimento dos dividendos das ações. 6.7.5 Custo de capital com base no lançamento de ações ordinárias Estas ações conferem direitos ao investidor para voto nas assembleias, para a discussão, entre outras, de seus planos de expansão ou, por exemplo, da reestruturação societária da empresa. Esse voto pode influenciar diversas decisões da empresa, em situações como: • análise e aprovação das contas patrimoniais; • destinação dos resultados dos exercícios sociais; • eleição da diretoria; • alterações nos estatutos da empresa. O poder de decisão fica com o investidor (ou grupo de investidores) que possua a maior quantidade de ações ordinárias. 144 Unidade III Vamos admitir que as ações ordinárias de uma empresa estão cotadas a R$ 25,00 por unidade. Consideremos, também, o seguinte: • O dividendo previsto para o próximo ano é de R$ 3,50 por ação. • Nos últimos anos, os dividendos distribuídos têm crescido à taxa média anual de 3,5%. ao 3,50 K 3,5% 0,14 0,035 0,175 17,5% 25,00 = + = + = = O exemplo a seguir reforça o entendimento do assunto. Exemplo de aplicação Uma empresa deseja lançar novas ações ordinárias no mercado, com valor de colocação de R$ 20,00 por unidade. Além disso: • Haverá um deságio de 4,5% por ação. • O total de gastos para o underwriting é R$ 0,65 por ação. • O dividendo previsto para o próximo ano é de R$ 3,00 por ação. • Os dividendos distribuídos têm crescido a uma taxa média anual de 3,5%. O valor líquido recebido de cada ação será: R$ 20,00 - R$ 0,90 - R$ 0,65 = R$ 18,45. 6.7.6 Lucros retidos São formados por recursos próprios dos acionistas (que possuem ações ordinárias) e que, por quaisquer deliberações, não receberem as participações de lucros nas ocasiões em que estes se verificaram. Como qualquer capital próprio, devem, ao menos, permitir a remuneração correspondente à da melhor alternativa de investimentos dos quais os acionistas abriram mão ao aplicar seus recursos na empresa. Não há o benefício fiscal do IR – os dividendos equivalem à parcela do lucro remanescente (residual) que a empresa distribui a seus cotistas ou acionistas. 145 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS Sempre há a possibilidade de reinvestimento dos recursos disponíveis. A retenção e o reinvestimento de parte do lucro são justificados quando existem projetos com retornos superiores ao custo de oportunidade dos proprietários. Evidentemente, os lucros retidos não são gratuitos para as empresas e, como os demais valores, devem ser remunerados. São tratados como equivalentes ao ingresso de recursos mediante a emissão de novas ações, sem, contudo, haver a incidência de gastos com taxas, comissões, corretagens etc. 6.8 Custo do capital de terceiros Os modelos apresentados no tópico anterior são bastante utilizados para a precificação de toda modalidade de capital próprio existente na empresa representado no PL da empresa. O benefício fiscal, decorrente do fato de arcar com juros, faz com que o capital de terceiros tenha menorcusto do que o próprio. O custo do capital de terceiros, por outro lado, é também denominado custo da dívida e, de certa forma, é mais fácil de ser entendido do que o do capital próprio. Argumenta Carmona (2009, p. 106): Toda a origem de recursos para a empresa é oriunda do passivo e este, por sua vez, em termos de estrutura de capital, é representado pelas fontes Exigível a Longo Prazo (Capital de Terceiros – CT) e Patrimônio Líquido (Capital Próprio – CP). O Passivo Circulante não é considerado fonte de capital, pois o que se leva em consideração, nesta questão, são as fontes para investimentos de longo prazo, uma vez que os circulantes são operacionais e corriqueiros e de rápida liquidez, sendo considerados como fontes de financiamentos espontâneas. Evidentemente, as empresas podem recorrer ao capital de terceiros, seja por financiamentos e empréstimos, obtidos com as diferentes alternativas, de curto e de longo prazos, seja por produtos oferecidos pelos bancos e pelas instituições financeiras, alternativamente aos seus próprios recursos e de seus acionistas, inclusive os que foram acumulados em função de períodos anteriores de operações e obtidos em função de resultados positivos (lucros) nas diversas ocasiões. Há, também, a possibilidade de obtenção dos recursos no próprio mercado de títulos e valores mobiliários, como via bolsa de valores, quando o porte e as condições da empresa atenderem às especificações da B3 e da CVM. Para obter recursos de terceiros no mercado, a empresa recorre, então, a títulos da dívida de sua própria emissão. Entre esses, destacam-se as debêntures. 146 Unidade III Sandroni (1999, p. 156) define debênture como: Título mobiliário que garante ao comprador uma renda fixa, ao contrário das ações, cuja renda é variável. O portador de uma debênture é um credor da empresa que a emitiu, ao contrário do acionista, que é um dos proprietários dela. As debêntures têm como garantia todo o patrimônio da empresa. Debêntures conversíveis são aquelas que podem ser convertidas em ações, segundo condições estabelecidas previamente. 6.8.1 Custo de capital com base na colocação de debêntures no mercado As operações com debêntures são, inicialmente, realizadas no mercado primário e, posteriormente, negociadas nas bolsas de valores. Entre os custos dessa colocação, podemos mencionar os encargos e as taxas administrativas e operacionais, decorrentes do processo de underwriting (lançamento dos títulos no mercado), a partir da contratação de um intermediário financeiro e devidos a órgãos oficiais como a CVM e a B3. As operações de underwriting são contratadas junto a bancos de investimento, sociedades corretoras e distribuidoras. Esses títulos podem ser negociados com ágio ou deságio (valores superiores ou inferiores ao seu valor nominal). Os investidores que adquirirem esses papéis podem, posteriormente, negociá-los nos mercados secundários (bolsa e balcão). O underwriting pode ser feito tanto para os lançamentos no mercado de novas ações quanto de debêntures. Veremos mais detalhes adiante. Um pequeno exemplo a seguir irá auxiliá-lo no entendimento de um custo para lançamento de debêntures no mercado. Admitamos que a empresa ABC pretende emitir debêntures, conforme tabela a seguir. Tabela 55 – Expectativas de emissão de debêntures pela empresa ABC Características R$ Valor nominal 100.000,00 (-) Deságio 2.000,00 (-) Encargos de colocação 4.000,00 (=) Valor líquido recebido pela empresa 94.000,00 Prazos Prazo para resgate 4 anos Taxas e alíquotas % Taxa de juros 20 a.a. Alíquota do IR (reduz o total dos juros pagos) 40 147 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS O fluxo de caixa correspondente a essas debêntures é: Tabela 56 – Fluxo de caixa das debêntures previstas para emissão pela empresa ABC Anos 0 1 2 3 4 R$ 20.000,00 20.000,00 20.000,00 20.000,00 8.000,00 8.000,00 8.000,00 8.000,00 12.000,00 12.000,00 12.000,00 12.000,00 100.000,00 12.000,00 12.000,00 12.000,00 112.000,00 94.000,00 Calcula-se a TIR deste projeto, isto é, a taxa de desconto que iguala o valor presente dos fluxos de caixa futuros ao investimento inicial: 1 2 3 4 12.000,00 12.000,00 12.000,00 12.000,00 94.000,00 (1 TIR) (1 TIR) (1 TIR) (1 TIR) = + + + + + + + Neste exemplo, a TIR será de 14,06% por período. Saiba mais Para informações detalhadas sobre as debêntures e outros papéis representativos da dívida de empresas com o mercado, leia: FORTUNA, E. Mercado financeiro: produtos e serviços. 22. ed. São Paulo: Qualytimark, 2020. 6.8.2 Custo de capital com base na obtenção de empréstimos e financiamentos no mercado Este custo estará descrito em contratos feitos com instituições financeiras para investimentos em ativos da empresa. Além dos juros, há a cobrança de taxas e comissões que diminuem o valor líquido recebido. É necessário, também, elaborar o fluxo de caixa correspondente, tal como foi feito no caso da captação de recursos e financiamentos via emissão de debêntures. 148 Unidade III Um outro exemplo, à semelhança do anterior, auxilia no entendimento do processo. Admitamos que a empresa ABC pretenda obter financiamentos junto às instituições financeiras, conforme tabela a seguir. Tabela 57 – Características de financiamento para a empresa ABC, junto à instituição financeira Características R$ Valor nominal 200.000,00 (-) Taxas e comissões bancárias 15.000,00 (=) Valor líquido recebido pela empresa 185.000,00 Prazos (anos) Vencimento do contrato 4 Taxas e alíquotas % Pagamentos de taxas de juros 20 Alíquota do IR (reduz o total dos juros pagos) 40 Consideremos, também, a seguinte distribuição do fluxo de caixa da operação no respectivo período: Tabela 58 – Fluxos de caixa relativos ao financiamento para a empresa ABC, junto à instituição financeira Anos 0 1 2 3 4 R$ Pagamentos de juros ao banco 40.000,00 40.000,00 40.000,00 40.000,00 (-) Benefícios do IR (40%) 16.000,00 16.000,00 16.000,00 16.000,00 (=) Despesas líquidas com juros 24.000,00 24.000,0 24.000,00 24.000,00 (=) Devolução do principal 200.000,00 (=) Total desembolsado 24.000,00 24.000,00 24.000,00 224.000,00 O custo do empréstimo é indicado pela respectiva TIR do fluxo de caixa (14,61%), assim calculado: 1 2 3 4 R$24.000,00 R$24.000,00 R$24.000,00 R$224.000,00 R$185.000,00 (1 TIR) (1 TIR) (1 TIR) (1 TIR) = + + + + + + + 149 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS 6.9 Custo médio ponderado de capital (CMPC) ou Weighted Average Cost Of Capital (WACC) Mede-se o valor de uma empresa descontando-se os valores dos FCLs esperados pelo CMPC: CMPC = wdrd (1 – T) + wstdrstd (1 – T) + wpsrps + wsr Sendo: rd: taxa de cupom em dívida nova de longo prazo a ser emitida pela empresa, ou seja, o retorno exigido em um título (para títulos emitidos anteriormente, rd é igual ao rendimento do título até o vencimento); T: taxa marginal efetiva corporativa de impostos; rstd: taxa de juros sobre a dívida de curto prazo, tais como notas a pagar; rps: retorno sobre ações preferenciais; rs: retorno exigido sobre ações ordinárias; w: wd, wstd, wps; ws: pesos de dívida de longo prazo, dívida de curto prazo, ações preferenciais e ações ordinárias na estrutura de capital-alvo da empresa. Os pesos são as porcentagens das diferentes fontes de capital que a empresa planeja usar em uma base regular, com percentuais com base nos valores mercadológicos dessas fontes de capital na estrutura de capital-alvo. Quando se trata de capital existente, por exemplo, sob a forma de lucros retidos, o que se faz é apurar, pelo método da análise vertical (AV), os percentuais de cada tipo de capital. Imagine uma empresa com o PL registrado como R$ 60.000,00 e um total de passivo exigível, junto a terceiros, de R$ 40.000,00. Neste caso, teremos os seguintes percentuais de cada tipo de capital: 60.000,00 Próprio 0,60 60% 100.000,00 = = = 40.000,00 Terceiros 0,40 40% 100.000,00 = = = 150 Unidade III As empresassão financiadas por diferentes fontes de capital, denominadas de componentes de capital. Os investidores que fornecem os componentes do capital exigem taxas de retorno (rd, rstd, rPS e rs) compatíveis com os riscos dos componentes, sob a ótica do investidor e, ao mesmo tempo, de custos para a empresa. É por isso que chamamos o CMPC de custo de capital. O FCL é o fluxo de caixa disponível para distribuição aos investidores e deve oferecer uma taxa global de retorno suficiente para compensar os riscos dos investidores. Esse retorno, de longo prazo, deve ser a média ponderada dos retornos exigidos dos diferentes componentes de capitais, que pode ser entendida como a taxa correta para estimar o valor presente (ou projeto) dos fluxos de caixa da empresa. A formulação básica para o cálculo do CMPC é: CMPC = (Wd . Kd) + (We . Ke) + (Wao . Kao) + (Wap . Kap) + (WB . KB) sendo: Wd: participação das debêntures na estrutura de capital; We: participação dos empréstimos na estrutura de capital; Wao: participação das ações ordinárias na estrutura_capital; Wap: participação das ações preferênciais na estrutura de capital; Kd: custo das debêntures; Ke: custo dos empréstimos; Kao: custo das ações ordinárias; Kap: custo das ações preferenciais. 6.10 Escolha dos pesos dos elementos de capital Como mencionamos no tópico anterior, a empresa estuda as alternativas de custos de cada tipo de capital, estabelecendo as porcentagens que pretende manter de cada um deles, conforme seus planos estratégico e interno. De forma geral, pela falta do benefício fiscal, decorrente do fato de que pode receber de volta parte do que pagou como despesa de tributos, que é dedutível do imposto de renda, o capital de terceiros costuma ser mais barato do que o obtido com sócios ou acionistas. 151 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS A partir de um certo nível de endividamento, porém, os credores, ao atribuir maior risco de insolvência para a empresa, elevam o custo de obtenção de capital de terceiros. Igualmente, os acionistas exigem um maior retorno para seu capital. O ideal é manter uma combinação de capital próprio e de terceiros que possibilite o menor CMPC. Os estudos feitos pela empresa podem conduzir, por exemplo, à tabela comparativa a seguir, com várias combinações de capital próprio e de terceiros. Tabela 59 – Alternativas de estruturas de capital e respectivos custos Estrutura R$ K (e) % R$ K (d) % CMPC % 1 100.000 10,0 900.000 23,0 21,7 2 200.000 10,0 800.000 22,0 19,6 3 300.000 11,0 700.000 21,5 18,35 4 400.000 12,5 600.000 21,5 17,9 5 500.000 15,0 500.000 23,0 19,0 6 600.000 18,0 400.000 26,0 21,2 7 700.000 22,0 300.000 30,0 24,4 Fonte: Megliorini e Vallim (2009, p. 103). No exemplo anterior, percebe-se que a estrutura com menor CMPC é a revelada pela linha 4 da tabela. Evidentemente, também como explicado anteriormente, a empresa pode basear-se na sua atual estrutura de capital e adotar os percentuais com os quais já vem trabalhando. Calculemos o CMPC da seguinte distribuição de capital de uma empresa, registrada no passivo do seu BP: Tabela 60 – Composição do capital disponível para uma empresa (valores contábeis) Composição da dívida Valor contábil (R$) Fonte (%) Custo K (%) Exigível a longo prazo Debêntures 100.000,00 13,33 14,06 Empréstimos 200.000,00 26,57 14,61 Patrimônio líquido Ações ordinárias (25 mil ações - 12,00, cada) 300.000,00 40 18,50 Ações preferenciais (15 mil ações - 10,00, cada) 150.000,00 20 16,50 Total 750.000,00 100,00 152 Unidade III CMPC = (13,33% . 0,1406) + (26,67% . 0,1461) + (40% . 0,1850) + (20% . 0,1650) = 1,87% + 3,9% + 7,4% + 3,3% = 16,47% Obtemos, então, o custo histórico dos recursos captados pela empresa. Admitamos, agora, que os preços das ações são determinados, na fórmula, a partir de seus valores praticados no mercado. A estrutura de capital passa a ter a seguinte representação: Tabela 61 – Composição do capital disponível para uma empresa (valores cotados em mercado) Valor de mercado Proporção de cada fonte Custo (K) (R$) (%) (%) Exigível a longo prazo Debêntures 100.000,00 9,76 14,06 Empréstimos 200.000,00 19,51 14,61 Patrimônio líquido Ações ordinárias (25 mil ações a R$ 20,00, cada) 500.000,00 48,78 18,5 Ações preferenciais (15 mil ações a R$ 15,00, cada) 225.000,00 21,95 16,5 Total 1.025.000,00 100 Fonte: Megliorini e Vallim (2009, p. 103). CMPC = (9,76% . 0,1406) + (19,51% . 0,1461) + (48,78% . 0,1850) + (21,95% . 0,1650) = 1,37% + 2,85% + 9,02% + 3,62% = 16,86% Obtemos, então, o custo histórico dos recursos captados pela empresa, avaliados pelos valores atuais de mercado. 6.11 Questões relacionadas com gestão e custo de capital O custo do capital é afetado por alguns fatores que podem e outros que não podem ser controlados pela empresa. Entre os fatores exógenos, isto é, que estão fora do controle da empresa, podem ser mencionados: • Taxas de juros: dependem da política monetária do governo, executada com o objetivo de combate à inflação ou de melhora do nível de atividade da economia como um todo; afetam tanto os custos da dívida quanto de obtenção de capital próprio. 153 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS • Maior ou menor disponibilidade de crédito: é outro assunto de controle da política monetária do governo, que pode, em determinados momentos, facilitar e, em outros, dificultar as oportunidades de obtenção de crédito pelos agentes econômicos, conforme o nível de liquidez presente na economia. • Prêmio de risco de mercado: é determinado pela aversão dos investidores ao risco, o que, naturalmente, afeta os custos de capital. Os recursos (via capital próprio ou de terceiros) são investidos no ativo, que revela as várias destinações, como a manutenção em caixa, o financiamento de compras a prazo de clientes, as atualizações dos estoques e as compras de imobilizados. No conjunto das políticas públicas, a cargo das diferentes instâncias governamentais (União, estados e municípios), destacam-se as macroeconômicas do governo, que visam orientar e estabelecer diretrizes globais para o funcionamento dos mercados, como: • Política fiscal: concebida e executada a partir das decisões sobre o volume e o tipo da arrecadação (cobrança de tributos, principalmente) e dos gastos do governo, seja em bens de consumo, seja em investimento. • Política monetária: focada nas decisões sobre o volume de moeda necessário para a atuação dos agentes na economia e do comportamento e nível de outros fatores, indicadores de grande importância, como a taxa de juros, o crédito etc. A política monetária pode ser restritiva ou expansionista, influenciando de forma muito significativa a decisão dos agentes econômicos. O quadro a seguir relaciona os instrumentos adotados pelas entidades do governo, em função dos objetivos fundamentais de política monetária. Quadro 6 – Instrumentos utilizados em políticas monetárias (expansionistas ou restritivas) Política monetária Expansionista Restritiva Maior liquidez Menor liquidez Depósitos compulsórios Diminui o percentual de recolhimento Aumenta o percentual de recolhimento Mercado aberto (open market) Governo injeta dinheiro na economia adquirindo títulos públicos Governo retira dinheiro da economia vendendo títulos públicos Política de redesconto bancário Autoridade monetária reduz o juros e aumenta o prazo da operação Autoridade monetária aumenta a taxa de juros e reduz o prazo da operação Fonte: Assaf Neto (2018, p. 24). • Política cambial e comercial: materializadas pela atuação do governo para a obtenção de um nível adequado da taxa de câmbio (da relação entre a moeda nacional e a externa) e a adoção de medidas para desenvolver de forma harmônica o comércio externo do país com outros países. 154 Unidade III Tais medidas são de ordem monetária, fiscal ou qualitativa, como a imposição de tarifas, taxas ou controles e barreiras a determinadas importações. A políticacambial de um país é diferenciada conforme o regime de controle da taxa de câmbio (no nosso caso, de quantos reais são necessários para comprar ou vender uma unidade de dólar ou outra moeda estrangeira), expressa na fórmula: reais axa âmbio dólar montanteR$ T C 1US$ 1unidade = = O atual regime adotado no Brasil é o de taxas de câmbio flutuantes, que, desde o início de 1999, dependem da oferta e da demanda de dólares no mercado à disposição dos agentes econômicos. É possível a adoção de outros regimes, como o fixo, em que o Banco Central do país determina e suporta um preço que deverá ser respeitado nas transações com moedas estrangeiras, o que foi largamente adotado no país para a obtenção de melhores resultados nos diferentes planos de estabilização da moeda nacional. • Política de rendas: interfere na formação de preços e salários, visando ao desenvolvimento econômico. Entre estas políticas, destacam-se as direcionadas a cobrir necessidades de natureza social, como é o caso do Bolsa Família. Observação O câmbio flutuante no Brasil obedece à sistemática vulgarmente denominada de “flutuação suja”, em que as autoridades monetárias (usualmente, o Banco Central do Brasil) atuam diretamente no mercado cambial de forma a reduzir ou aumentar a disponibilidade de moeda estrangeira, o que, pelo seu porte e quantidade/volume de operações, influencia a demanda ou a oferta desse ativo em situações de alta volatilidade. Saiba mais Para saber mais sobre as funções, descrições e influências das políticas governamentais de cunho macroeconômico, consulte: ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2012b. Existem outros fatores ou variáveis que podem ser, de alguma forma, controlados pela empresa, como: • Política de estrutura de capital: a empresa pode alterá-la e isso vir a afetar o custo de obtenção de capital e o CMPC. 155 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS Mencionam Brigham e Ehrhardt (2016, p. 324): [...] O custo da dívida após impostos é inferior ao custo do capital; por isso, se a empresa decidir utilizar mais dívida e menos patrimônio líquido, esse aumento na dívida poderá diminuir o CMPC. • Política de dividendos: a porcentagem de lucros distribuídos como dividendos pode afetar a taxa de retorno exigida das ações. Novamente, Brigham e Ehrhardt (2016, p. 324) comentam: Além disso, se o índice de pagamento de dividendo for tão grande que obrigue a empresa a emitir novas ações para financiar o seu orçamento de capital, os custos de lançamento resultantes também afetarão o CMPC. • Política de investimentos: na estimativa do custo de capital, admitimos, naturalmente, que ele servirá para a realização de investimentos em ativos com o mesmo grau de risco que os existentes. Com relação a esse aspecto, Brigham e Ehrhardt (2016, p. 324) comentam: [...] Se uma empresa investe em uma linha de negócios totalmente nova, o seu custo de capital marginal deve refletir o risco desse negócio. Em retrospecto, podemos, portanto, ver que os grandes investimentos da GE nos negócios de TV e cinema, bem como seus investimentos em hipotecas, aumentaram seu risco e, consequentemente, seu custo de capital. 6.12 Ajustes do custo de capital em função de riscos diferenciados dos projetos O CMPC espelha o risco médio e a estrutura de capital geral da empresa. Às vezes, porém, são necessários ajustes, em termos de percepção de riscos, quando se avalia um projeto específico eventualmente, por exemplo, de uma nova linha de negócios, ou mesmo um projeto muito mais arriscado do que os geralmente perseguidos pela empresa. Resumo Iniciamos nosso estudo tratando dos métodos que podem ser escolhidos para a determinação de determinados projetos ou investimentos pela empresa. Em seguida, conhecemos os métodos que apoiam a tomada de decisões, analisando os projetos e o empreendimento pelo lado quantitativo. O que se pretende é determinar qual ou quais projetos oferecem maior rentabilidade. Vimos que podemos contar com três métodos fundamentais. 156 Unidade III O primeiro, payback, visa determinar o tempo de retorno para que um investimento seja reembolsado, tanto na sua versão simples quanto naquela que pretende determiná-lo após o desconto, a valores presentes, de todos os valores futuros expressos no fluxo de caixa, ou seja, quando levamos em conta uma característica fundamental da análise de projetos, que é trabalhar com o poder aquisitivo dos recursos financeiros ao longo do tempo. Os métodos costumam apresentar resultados semelhantes no sentido da direção quanto à decisão (ou não) de realizar determinado projeto ou investimento. Além do payback, que é, definitivamente, um método mais simples e, por isso, costuma ser o primeiro a se calcular para conhecer as expectativas sobre o projeto ou investimento, mencionamos outras duas possibilidades: o cálculo da taxa interna de retorno (TIR) e o do valor presente líquido (VPL). Nesses casos, precisamos trazer os valores futuros ao presente. Calcula-se o payback, mas utiliza-se ao menos mais um método entre os dois citados. Com a TIR, o que se consegue é descobrir qual é a taxa, aplicada ao referido fluxo de caixa, que faz o desconto de cada um dos valores futuros a uma taxa que iguala os valores do investimento (ou do financiamento) aos futuros (de recebimentos ou de pagamentos, conforme o caso). Compara-se essa taxa com a que está sendo praticada no mercado e que seja entendida como o padrão para essas análises. Pode ser a taxa de juros mínima definida pelo governo (aqui no Brasil, conhecida como Taxa Selic) ou outra determinada pela média ponderada das diferentes fontes de capital obtidas pela empresa para realizar suas operações. Pode até ser outra de livre escolha da empresa e que por ela seja entendida como um bom padrão de remuneração do investimento (ou do financiamento). Normalmente, recorremos a softwares (como o MS Excel) ou a calculadoras financeiras (como o caso da HP12c) para a realização dos cálculos desses métodos de avaliação quantitativa dos investimentos. Quando estamos trabalhando com a TIR, pela sua complexidade matemática, o uso da calculadora (ou do software) se faz absolutamente necessário. Normalmente, trabalha-se com esses métodos admitindo que os valores futuros (os rendimentos das parcelas) serão reincorporados e passarão a render à mesma taxa que remunera o respectivo fluxo. Quaisquer que sejam, porém, as características e restrições dos cálculos que foram efetuados, não há dúvida de que fundamentam as decisões tomadas. Obviamente, sabemos que não são somente esses fatores 157 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS quantitativos que precisam ser considerados. Há os qualitativos, que podem ter significativa importância no processo de decisão, como o mercado de atuação, o tipo de concorrência, as regulamentações do governo, o meio ambiente etc. Quando abordamos os cálculos que permitem a tomada de decisões, evidentemente, estamos tratando dos dois lados do fluxo. Se for um empréstimo, há a visão do tomador do crédito ou de quem cedeu os recursos. Em se tratando de um investimento, é preciso ter em mente a visão específica de quem está realizando a operação (como investidor ou como quem capta os recursos para o projeto). Certamente, não são apenas os acionistas ou proprietários que se preocupam com as possibilidades de remuneração oferecidas pela injeção de recursos financeiros, mas também os próprios financiadores de suas operações. É preciso que haja uma remuneração maior do que o custo de oportunidade oferecido por outro tipo de aplicação na empresa nos diferentes mercados, que oferecem riscos diferenciados (ou pouquíssimos) comparativamente ao desempenho da empresa. Também vimos a necessidade de as empresas elaborarem seus planejamentos, que culminem, entre outros, no chamado orçamento de capital, a partir do qual poderão realizar e acompanhar os resultados de suas
Compartilhar