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A ESTRATÉGIA DO OCEANO AZUL: ESTRATÉGIA PELA MUDANÇA NO NEGÓCIO Prof. Ricardo Marafon Guy Laliberté, que já foi acordionista, acrobata de pernas de pau e comedor de fogo, hoje é o CEO de um dos maiores produtos de exportação cultural do Canadá, o Cirque du Soleil. Fundado em 1984 por um grupo de artistas de rua, o Cirque já montou dezenas de produções assistidas por mais cerca de 50 milhões de pessoas em todo o mundo. Em 20 anos, o Cirque alcançou números que o Ringling Bros e o Barnum & Bailey, o principal circo do mundo levaram mais de um século para alcançar. O Cirque du Soleil O crescimento rápido do Cirque ocorreu em um cenário improvável. O negócio circense estava e ainda está em um declínio de longo prazo. Formas alternativas de entretenimento como eventos esportivos, TV e videogames estavam lançando uma sombra cada vez maior. As crianças, o alicerce do público circense, preferia jogos de PlayStation a números de circo. Havia também, um sentimento crescente, alimentado por ativistas contra o uso de animais, tradicionalmente uma parte integrante do circo. No lado dos fornecedores, os artistas que eram as estrelas das quais o Ringling e outros círcos dependiam para atrair as multidões, muitas vezes podiam ditar seus termos. Como resultado, o setor foi impactado pelo encolhimento persistente do público e por custos mais altos. Além disso, qualquer novo empreendimento no negócio estaria concorrendo contra uma empresa estabelecida forte que, pela maior parte do último século definiu o padrão do setor. O Cirque du Soleil Como o Cirque aumentou a receita em 22 vezes em apenas 10 anos em um ambiente tão pouco atraente? O slogan para uma das primeiras produções do Cirque é revelador: “nós reinventamos o circo.” O Cirque não faz seu dinheiro concorrendo dentro dos limites do setor existente, nem roubando clientes do Ringling e de outros. Em vez disso, ele criou um espaço de mercado não disputado que tornou a competição irrelevante. Atraiu um grupo totalmente novo de clientes que tradicionalmente não iam ao circo. Adultos e clientes corporativos que tinham se voltado para o teatro, o balé e à ópera estavam preparados para pagar várias vezes mais do que o preço do ingresso de um circo convencional para uma experiência de entretenimento sem precedentes. O Cirque du Soleil Para compreender a natureza do feito do Cirque, você precisa saber que o universo dos negócios consiste em 2 tipos distintos de espaço, que definimos como oceanos vermelhos e azuis. Os oceanos vermelhos representam todos os setores existentes hoje, o espaço de mercado conhecido. Nos oceanos vermelhos, os limites do setor são definidos e aceitos e as regras competitivas do jogo são bem compreendidas. Aqui, as empresas tentam superar o desempenho das rivais para obter uma fatia maior da demanda existente. A medida que o espaço fica cada vez mais abarrotado, as perspectivas de lucros e de crescimento são reduzidas. Produtos tornam-se commodities e o aumento da concorrência deixa a água ensanguentada. Oceano Azul x Oceano Vermelho Em alguns casos, empresas podem dar origem a setores completamente novos como o eBay fez com o de leilões online. Porém, na maioria dos casos um oceano azul emerge de um oceano vermelho quando uma empresa altera os limites de um setor existente. Como ficará evidente a seguir foi o que fez o Cirque de Soleil. Ao quebrar a barreira que tradicionalmente separava circo e teatro ele criou um novo e lucrativo oceano azul a partir do oceano vermelho da indústria do circo. Os oceanos azuis denotam todos os setores que não existem hoje, o espaço de mercado desconhecido, não maculado pela concorrência. Nos oceanos azuis a demanda é criada e não disputada. Há uma ampla oportunidade para crescimento que é ao mesmo tempo lucrativa e rápida. Existem 2 maneiras de criar oceanos azuis. 1. 2. Oceano Azul x Oceano Vermelho O Cirque é apenas uma entre mais de 150 criações de oceano azul que foram pesquisadas por W. Chan Kim e Renée Maubourgne em mais de 30 setores usando dados que se estendem a até mais de 100 anos atrás. Analisaram empresas que criaram esses oceanos azuis e seus concorrentes menos bem sucedidos que foram capturados em oceanos vermelhos. Ao estudar essas informações, observou-se um padrão consistente de pensamento estratégico por trás da criação de novos mercados e setores que chamamos de estratégia do oceano azul. A lógica por trás da estratégia do oceano azul rompe com modelos tradicionais, focados em concorrer em espaços de mercado existentes. Oceano Azul x Oceano Vermelho Nesta aula, apresentamos o conceito da estratégia do oceano azul e descrevemos as características que a definem. Avaliaremos as consequências de oceanos azuis nos lucros e no crescimento e discutiremos por que sua compreensão da estratégia do oceano azul ajudará as organizações de hoje, enquanto elas lutam para prosperar em um universo de negócios em aceleração e expansão. Embora o termo seja novo oceanos azuis sempre estiveram entre nós. Volte 100 anos no tempo e pergunte a si mesmo quais setores existentes hoje eram desconhecidos na época. A resposta: setores tão básicos quanto o de automóveis, gravação musical, aviação, petroquímicos, produtos farmacêuticos e consultoria administrativa eram desconhecidos ou tinham acabado de surgir. Agora volte apenas 30 anos e repita a pergunta. Novamente, uma miríade de setores multibilionários se destaca: fundos mútuos, telefones celulares, biotecnologia, varejo de grandes descontos, entrega expressa de encomendas, cafeterias para citar apenas alguns. Há apenas 3 décadas nenhum desses setores era significativo. Oceano Azul x Oceano Vermelho Agora, avance o relógio em 20 anos. Pergunte a si mesmo: quantos setores que hoje são desconhecidos existirão? Se a história serve para prever o futuro, a resposta é "muitos". As empresas possuem uma capacidade enorme de criar novos setores e de recriar outros existentes. Olhando para a frente, parece claro para nós que os oceanos azuis permaneceram sendo o motor do crescimento. As perspectivas, na maioria dos espaços de mercado estabelecidos ou oceanos vermelhos, estão encolhendo de maneira constante. Avanços tecnológicos melhoraram substancialmente a produtividade industrial, permitindo que os fornecedores produzam uma variedade sem precedentes de produtos e serviços. E conforme as barreiras de comércio entre nações e regiões caem e informações sobre produtos e preços se tornam disponíveis instantânea e globalmente, nichos de mercado e paraísos de monopólios continuaram a desaparecer. O resultado é que, em cada vez mais setores, a oferta está superando a demanda. Oceano Azul x Oceano Vermelho Essa situação, inevitavelmente acelerou a comoditização de produtos e serviços atiçou guerras de preços e encolheu margens de lucro. Segundo estudos recentes, grandes marcas americanas em uma variedade de categorias de produtos e de serviços se tornaram cada vez mais parecidas. E à medida que as marcas se tornam mais similares, as pessoas cada vez mais baseiam suas escolhas de compras nos preços. Os consumidores não insistem mais como no passado, que seu sabão para lavar roupas seja marca X e tampouco permanecem fiéis a uma marca de pasta de dentes quando há promoção de outra. Em setores superlotados, diferenciar marcas torna-se cada vez mais difícil tanto em períodos de alta, quanto de baixa na economia. Oceano Azul x Oceano Vermelho Estratégia do Oceano vermelho versus estratégia do oceano azul Os imperativos para estratégias do oceano vermelho e do oceano azul são notavelmente diferentes. HORA DA ATIVIDADE PRÁTICA Voltamos às 20:20h Voltamos às 20:40h Como vimos, na primeira parte da aula, a maioria dos casos de criação de oceanos azuis se faz pela mudança no negócio e não pela invenção de um negócio totalmente novo. Como o Cirque du Soleil que "reinventou o circo" fazendo uma forte alteração no negócio. A estratégia pela mudança no negócio nãose refere simplesmente à mudança do negócio ou seja do produto, da linha de produtos, da região onde se produz ou se vende. Por outro lado também não se refere a fazer mais eficientemente os negócios na forma atual de comprar e vender. Existe um meio termo entre esses extremos. Não se chega a mudar o produto e a região de operação na empresa más inova-se a teia ou encadeamento dos negócios em que nossa empresa está inserida. é por isso que preferimos a denominação mudança no e não do negócio. Estratégia pela mudança no negócio Teias ou encadeamento de negócios Teias ou encadeamentos de tipos de negócios são constituídos pelos fluxos percorridos pelas mercadorias desde as empresas mineradoras ou agricultoras passando por transportadoras, processadoras, intermediários atacadistas e finalmente varejistas que vendem produtos acabados aos consumidores. Este fluxo pode ter bifurcações e convergências que fazem seu desenho ter similitude com uma teia. Uma lata de cerveja por exemplo, passa por várias dezenas de empresas até chegar ao consumidor final e depois continua seu caminho ao ser reciclada. A mudança precisa ser sobre alguma coisa relevante que melhore a base para o sucesso da empresa. Se a mudança não alterar as bases para o sucesso ela não é relevante para esta estratégia. Uma mudança grande na organização como reduzir o número de níveis hierárquicos, deixou a empresa mais ágil para fazer negócios más essa agilidade extra não dava vantagem competitiva pois a empresa já era suficientemente ágil. Então, a redução dos níveis não foi relevante para a estratégia de mudança no negócio. Que mudança no negócio constitui uma base para o sucesso da empresa? A empresa fica diferente dos seus concorrentes e essa diferença vai constituir uma vantagem competitiva ou uma mistura de vantagens competitivas. A empresa, ao mudar, irá alterar a qualidade do seu negócio, uma alteração para melhor. Então, a empresa sai de uma posição não privilegiada para o sucesso e muda para outra posição medianamente privilegiada ou privilegiada para o sucesso. Existem 2 aspectos que tornam a mudança no negócio relevante: 1. 2. Evidentemente, o ideal é conseguir combinar esses 2 aspectos mas nem sempre isso é possível pois eles são independentes e podem ocorrer isoladamente ou em conjunto. Vejamos 2 exemplos de mudanças no negócio. Que mudança no negócio constitui uma base para o sucesso da empresa? Um bananicultor de Santa Catarina fez a seguinte mudança no negócio: em vez de vender sua produção a intermediários que a levavam ao mercado atacadista, um péssimo negócio, passou a vender diretamente aos varejistas. A qualidade do negócio melhorou passando de péssima para a média. Após essa mudança, todos os outros bananicultores quiseram imitá-lo e ele os ajudou organizando uma venda conjunta para todos. O negócio do bananicultor inovador não adquire um diferencial em relação aos de seus concorrentes más a qualidade do negócio melhorou para todos. Como já comentamos anteriormente a Avon, produtora de Cosméticos em vez de distribuir seus produtos para atacadistas e perfumarias como se costumava fazer, inovou seu negócio passando a usar vendedores autônomos que se deslocavam diretamente à casa dos clientes. Que mudança no negócio constitui uma base para o sucesso da empresa? É impossível mudar para uma só empresa. Em uma teia de negócios, tem de se mudar simultaneamente para 2 ou mais empresas em nós distintos de uma mesma teia de negócios. Se uma empresa deseja fazer uma mudança na forma de comprar um produto é necessário que entre seus possíveis fornecedores exista ou passe a existir pelo menos um que aceite mudar sua forma de vender o produto. Cada mudança no negócio realizada irá criar facilidade para outras empresas empreenderem outras mudanças nos respectivos negócios. Toda mudança no negócio, altera o ambiente empresarial afetando muitas empresas diferentes negativa ou positivamente. Por diferenciar-se em relação aos concorrentes, a empresa que mudou adquire uma vantagem competitiva. Com o decorrer do tempo, as empresas concorrentes imitam a mudança ou inovam de maneiras diferentes compensando a desvantagem competitiva que passaram a ter em relação à empresa pioneira. Existem 5 conceitos principais para a estratégia de mudança no negócio: 1. 2. Conceitos 3. O lucro de cada tipo de empresa na teia de um negócio deve ser visto como uma fração do lucro agregado na teia. O preço da transferência de determinado produto de um vendedor para um comprador é o resultado da diferença de poder de negociação entre eles. Só existe o lucro conseguido na negociação e quem tem mais poder, consegue maior lucro. 4. O lucro agregado de uma teia é distribuído em função do poder de negociação das empresas: a de maior poder fica com a maior parte, para as de menor poder de negociação, cabem as migalhas, enquanto as demais situam-se em posições intermediárias. 5.. A empresa mais rentável da teia de negócios, deverá cuidar de viabilizar permanentemente as empresas fornecedoras ou clientes da sua teia. As empresas menos lucrativas de uma teia, às quais cabem a parte das migalhas, podem revelar-se muito pouco rentáveis chegando com frequência a ter de fechar causando transtornos às empresas remanescentes. Por falta de matérias-primas por exemplo os preços pagos aos sobreviventes do negócio da teia ficarão muito altos. Conceitos A criação de uma vantagem competitiva pela diferenciação no negócio é um processo longo pois requer o cumprimento de uma série de atividades, análises, planos, negociações e implementações que envolvem muitas pessoas da empresa e de toda a teia de negócios. São mudanças tão complexas que por vezes vale mais a pena fundar uma empresa nova para operar a inovação do que transformar uma organização já existente. Roteiro para a mudança no negócio Não é possível entender completamente qual é o nosso negócio sem entender também quais são os outros negócios da teia de que participamos. Temos por isso de responder a 2 perguntas simultaneamente: como é o nosso negócio? como é o negócio dos outros participantes na teia? Um bom exemplo é o da inovação da embalagem de leite para consumo direto. as embalagens tradicionais conservavam o leite por 2 dias . Uma inovação na embalagem tornou possível a conservação da qualidade do leite durante várias semanas. Antigamente, o leite tinha de ser transformado em leite em pó ou produzido próximo ao centro de consumo para ser rapidamente transportado. Com o advento da embalagem longa vida a produção pode agora localizar-se em locais distantes dos centros de consumo em grandes unidades com maior tecnologia e menores custos. O leite passou a ser produto de exportação e o leite em pó teve suas vendas diminuídas substancialmente. a indústria do leite deixou de ser exclusivamente local para se tornar multinacional. ETAPA 1 - entender o nosso negócio dentro de uma teia de negócios A metodologia e o significado da análise da qualidade do negócio em si foram apresentados na aula sobre as 5 forças competitivas. Consiste basicamente em fazer uma avaliação de barreiras de entrada e saída, rivalidade, produtos substitutos e poder de negociação dos clientes e dos fornecedores. É particularmente importante a avaliação do poder de negociação. Observando no desenho da teia, quem tem maior poder em cada arco pode- se inferir quem tem ou poderá ter a maior parte do lucro e quem tem se contentado com as migalhas do lucro agregado da teia de negócios. ETAPA 2 - analisar a qualidade de cada negócio em si da teia e da distribuição do lucro agregado Gerar alternativas para a mudança no negócio a rigor é uma questão de criatividade. Se tivemos várias alternativas para a mudança no negócio qual deve ser o critério para escolher uma delas? A resposta tem uma parte aceita com facilidade: as alternativas que simultaneamente trazem diferenciação nos aspectos que dão vantagem competitiva e melhoria da qualidade no negóciodevem ser preferidas. ETAPA 3 - identificar boas alternativas de mudanças O tamanho da empresa pode ser importante para viabilizar uma mudança no negócio. Empresas muito pequenas, têm mais dificuldade de inovar devido à falta de volume de negócios. Fica necessário crescer para depois inovar. Empresas muito grandes também podem ter dificuldade para inovar e mudar. Existe um tamanho ótimo para reduzir as dificuldades da mudança más quem estiver fora do tamanho ótimo, não deve desistir se o plano for promissor, é só reunir mais determinação. Outra questão é a divisão dos benefícios com fornecedores e clientes. É necessário garantir que no novo negócio, fornecedores e clientes tenham negócios de qualidade suficientemente atraentes. Nas 2 últimas etapas, estudar a viabilidade da alternativa pretendida e decidir sobre o momento mais conveniente para enfrentar as dificuldades de implantação da mudança mais do que nas etapas anteriores é difícil apresentar regras gerais pois cada caso tem suas peculiaridades. Destacam-se no entanto algumas questões sobre viabilidade e decisão. 1. 2. ETAPAS 4 e 5 - estudar a viabilidade da mudança pretendida e decidir 3. Se estiver achando melhor desistir do plano de mudança, considere que se o plano tiver qualidade, algum competidor irá em breve ter as mesmas idéias e liderar a mudança e ao evitar o risco de inovar corre o risco de não inovar. Ninguém foge do risco. 4. Lembre-se que a decisão é estratégica e não lógica. Portanto, não é possível calcular taxa de retorno dos investimentos, porque isso depende do tipo e intensidade da reação dos oponentes que não são completamente previsíveis. ETAPAS 4 e 5 - estudar a viabilidade da mudança pretendida e decidir Uma primeira mudança no negócio bem sucedida pode facilitar a viabilização de uma segunda mudança e assim sucessivamente provocando uma mudança radical impensável no momento da primeira mudança. Por este processo, muitas empresas têm se tornado virtuais. São empresas que não possuem ativos físicos como fábricas, equipamentos, armazéns, operários, vendedores, más apenas contratos de fornecimento de armazenagens ou mesmo de promoções com diversas empresas terceirizadas espalhadas pelo mundo. A fabricante de material esportivo Nike é o exemplo mais típico de empresa virtual. são cada vez mais frequentes os exemplos de empresas que caminham rumo à condição de virtuais o que é uma demonstração da enorme importância da estratégia pela mudança no negócio. Efeito cumulativo de mudanças no negócio HORA DA ATIVIDADE PRÁTICA Voltamos às 21:39h
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