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www.facuminas.com.br ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL MATERIAL DIDÁTICO CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA PORTARIA N° 3.445 DO DIA 19/11/2003 1 Sumário PARTE 1 O QUE É ÉTICA? ............................................................................... 3 ÉTICA GERAL .................................................................................................... 3 A HISTÓRIA ....................................................................................................... 8 TEORIAS ÉTICAS ............................................................................................ 17 OS TIPOS DE ÉTICA ....................................................................................... 24 PARTE 2 - ÉTICA PROFISSIONAL ................................................................. 30 CÓDIGOS DE ÉTICA PROFISSIONAL E AS REGRAS DEONTOLÓGICAS .. 37 AS RELAÇÕES UNIVERSAIS DA ÉTICA COM O MUNDO DO TRABALHO .. 42 REFERENCIAS ................................................................................................ 49 2 FACUMINAS A história do Instituto Facuminas, inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a Facuminas, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A Facuminas tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 PARTE 1 O QUE É ÉTICA? ÉTICA GERAL Etimologicamente, a palavra “ética” vem do grego Ethos que significa morada coletiva e vida coletiva. Daí o conceito ser usado para ações que promovam o bem comum ou a justiça no meio social. Devido ao fato de que os gregos a utilizavam no sentido de hábitos e costumes que privilegiassem a boa vida e o bem viver entre os cidadãos, com o tempo tal palavra passou a significar modo de ser ou caráter. Enfim, um modelo de vida que deveria ser adquirido ou conquistado pelo homem por meio da disciplina rígida que lhe formaria o caráter e que seria transmitida aos jovens pelos adultos. Na Grécia, o homem aparece no centro da política, da ciência, da arte e da moral, uma vez que para sua cultura até os deuses eram humanos com seus defeitos e qualidades. O primeiro filósofo que escreveu sobre ética foi Aristóteles. Com esse título, Aristóteles escreveu duas obras: ética a Nicômaco (seu filho) e ética a Eudemo (seu aluno). Os filósofos gregos sempre subordinaram a ética às ideias de felicidade da vida presente e de soberano bem. Nos textos antigos, ética quase sempre parece estar relacionada com desejo inato ao homem de busca da realização do supremo bem. A filosofia grega preocupa-se com a reflexão sobre ética desde os primórdios. Isso porque ética, ou a sede de justiça, é uma das três dimensões da filosofia. As outras duas seriam a teoria e a sabedoria. Em Roma, ética passa a ser denominada “mores”; que significa “moral”. No direito romano a palavra ética refere-se a normas de conduta ou princípios que regem a sociedade ou um determinado grupo e em uma determinada época. Numa palavra: lei. A ética é histórica, o que se deve ao fato de estar solidificada em noções de valor, que mudam à medida que se descobrem novas verdades. O agir ético não será apenas uma simples reprodução de ações das gerações anteriores, mas uma atividade reflexiva que oriente a ação a seguir num determinado momento de nossa vida pessoal. Quando surgem questionamentos sobre a validade de determinados valores ou costumes, e a realidade exige novos 4 valores que possam orientar a ética, surge a necessidade de uma teoria que justifique esse novo agir, uma vez que é impossível a ação ética sem que o agente compreenda a racionalidade dessa ação. Aqui aparecem os filósofos que produzem uma reflexão teórica que oriente a prática ou a crítica do viver ético. Assim, não é possível o agir ético sem uma reflexão entre o que eu devo fazer e o que eu gostaria de fazer em um determinado momento. A ação ética sempre deve buscar o bem comum e consiste na recusa de todas as ações que propiciem o mal. O agir ético vai além de um conjunto de preceitos relacionados a cultura, crenças, ideologias e tradições de uma sociedade, comunidade ou grupo de pessoas. Muitas vezes nossa ação vai ao sentido oposto a essas crenças, pois sendo a noção de dever seu principal valor estrutural, em algumas ocasiões, o nosso dever é justamente indignar-se com tais crenças. Uma vez que guiada pela razão e não pelas crenças, a ética, via de regra, está fundamentada nas ideias de bem e virtude, que nossa civilização considera como valores que devem ser perseguidos por todo ser humano para a promoção da vida, da maneira e onde quer que ela se manifeste. A ÉTICA E A MORAL Frequentemente se confunde ética com moral e isso tem uma razão de ser. É que a palavra “moral” vem do latim mos (singular) e mores (plural), que significa “costumes”. E a palavra “ética” vem do grego e possui o mesmo significado, ou seja, “costumes”. Por isso, muitos utilizam a expressão “bons costumes” como sinônimo de moral ou moralidade. Ética e moral são sinônimos perfeitos, só modificados semanticamente devido às diferentes línguas de origem das duas palavras. Até o século XVIII, já que a língua oficial do saber acadêmico era o latim, a palavra usada é moral. Alguns filósofos modernos passam a usar as duas palavras com sentido diferentes. Kant, por exemplo, define como moral o conjunto de princípios gerais (valores civilizatórios) e ética sua aplicação concreta. Portanto, ética é sempre um agir ético. Outros filósofos concordarão em designar por moral a teoria dos deveres para com os outros, e por ética a doutrina de salvação e sabedoria desvinculada de 5 crenças religiosas. Hoje nós temos duas palavras usadas por muitos autores com o mesmo significado: “ética” e “moral”. Devido ao fato de o pensamento kantiano ter uma importância medular para quem se interessa pela reflexão sobre ética no mundo capitalista, preferimos compreender que ética se diferencia de moral. Moral está mais relacionada a crenças estruturadas em valores acumulados desde a mais tenra infância e transmitidos pelos grupos sociais de interação afetiva, tais como a família e a Igreja. Moral está diretamente relacionada à consciência de que é o lócus privilegiado dos valores, enquanto que a ética é a exteriorização da conduta humana em sociedade. Além disso, desde o início os pensadores liberais preferiram a palavra “ética” para expressar normas de conduta de grupos organizados, como, por exemplo, as categorias profissionais e seus códigos de ética. Compreendemos que a moral está muito ligada à cultura e à religião. Assim, em uma cidade como São Paulo, em que convivem muitas culturas, podem também coexistir diversos tipos de moral. Esses diversos grupos de moral específicos sempre se reportam aos valores éticos fundamentais que, na verdade, são os traços comuns da civilização.Portanto, ética é um conjunto de valores morais que permitem a permanência da civilização. Sem esses valores a civilização como conhecemos desapareceria. Seus fundamentos foram construídos durante todo o processo civilizador, e são iguais para todos os cidadãos do mundo ocidental, independentemente de cultura ou religião. Ela carrega fundamentos que tiveram origem no pensamento cristão na medida em que esses fundamentos contribuíram para a formação do pensamento ocidental. Contudo, não é a transposição pura e simples dos valores da religião para o campo civilizatório. Hoje a imprensa costuma usar a palavra “ética” com muita frequência, às vezes até de forma abusiva. Essa insistência com que se fala de ética hoje se deve ao fato de o capitalismo ter-se Mundializado pois sem os valores éticos é impossível a reprodução da sociedade capitalista. Isso porque o capitalismo é irmão gêmeo da democracia, uma vez que ambos nascem do pensamento liberal 6 e um não vive sem o outro. Como os pilares basilares da democracia são a liberdade pessoal, a busca da felicidade e o individualismo, não há espaço para a vigilância constante das ações individuais numa sociedade de direitos plenos. Tal sociedade é a única possível para o bem-estar do Capital. Para a mentalidade moderna, ética não pode ser entendida como algo que resulta de um poder punitivo explícito, como é o caso da Moral. A punição que a transgressão do agir ético traz é de consciência individual, portanto, absolutamente individual, e essa consciência é formada no processo educativo. Se nossa consciência não considerar a apropriação da propriedade alheia, por exemplo, como um mal e sim como uma esperteza, isto é, um bem; não haverá como impedir que façamos uso indevido do que não é nosso. Assim, a sociedade capitalista e democrática aceita a existência de diferentes formas de conduta moral no aspecto privado, desde que a conduta pública esteja em conformidade com as virtudes que a estruturam, ou seja, dentro da ética. Entende que a sociedade tem um conjunto de regras, normas e valores, que não se identifica com os princípios e normas de nenhuma moral em particular, mas com os valores formadores do núcleo da civilização, sem os quais a civilização entra na barbárie, a luta de todos contra todos em que os direitos – inclusive à propriedade e ao lucro – são destruídos, pois não há como obrigar as pessoas a cumprirem seus deveres. A ética é, nesse sentido, a própria defesa da civilização. Sendo cultural, a moral é o conjunto de regras que se impõem às pessoas pelo grupo ao qual pertencem, numa ação coletiva que tende a agir de determinada maneira, sendo a consolidação de práticas e costumes observados no geral pelo receio de uma reprovação social (a pressão é externa). Partindo desse pressuposto, todo ser humano é moral ao cumprir normas de conduta oriundas de um conjunto de crenças inquestionáveis dentro de sua cultura. No entanto, ética envolve reflexão, por isso não significa apenas um conjunto de normas, mas vai além. Ela é um conjunto de juízos valorativos (racionais) construídos pela civilização, assumidos e manifestados na ação individual de 7 cada um (a pressão é interna). Está estruturada em valores de conduta. É sempre civilizatória. Como ao tratar de ética sempre nos referimos ao conceito de valor, é importante um olhar, ainda que breve, sobre esse conceito. Ele aparece pela primeira vez no sentido que hoje damos nos primeiros trabalhos sobre economia. A ciência econômica moderna difere das demais ciências sociais pela capacidade de quantificar, senão a atividade econômica, pelo menos seus frutos, ou seja, o produto social. Está estruturada em leis universais tais como: lei da oferta e da procura, a lei do valor da moeda, entre outras. O que torna possível de medição e avaliação das relações econômicas, como acontecem e em que medidas acontecem, é o conceito de valor, cuja ideia essencial foi, segundo Weber, retirada da ética protestante cristã. A utilização da ideia de valor como conceito de “algo” que é incorporado à mercadoria foi instituído pelos fundadores da Ciência Econômica: Adam Smith e David Ricardo. Tal conceito foi transportado puramente da filosofia moral para o âmbito econômico. A axiologia ou “teoria do valor” tem suas raízes no solo econômico e somente nos sécs. XIX e XX vai expandir-se como expressão infinita daquilo que “deve ser”, abrangendo todas as criações do espírito humano. É o conceito de valor que permite atualização de uma unidade de medição essencial para praticamente todos os fenômenos do mundo econômico. Há duas maneiras de definir valor, uma delas retira o valor da relação do ser humano com a natureza e parte do pressuposto de que as pessoas têm uma série de necessidades materiais básicas e procura satisfação dessas necessidades na produção de produtos que possam satisfazê-las. Essa é a atividade econômica básica à natureza humana. Ao transformar um objeto qualquer da natureza em algo que possa melhorar de algum modo sua vida, o ser humano incorpora nessa transformação o valor essencialmente humano: o valor trabalho e, dialeticamente, transforma o objeto em valor-utilidade, também chamado de valor de uso. Essa é a teoria do valor do trabalho. 8 A outra maneira de compreender valor é como os pensadores que buscam refletir sobre a ética entendem o conceito. Para eles, valor é sempre coletivo, uma vez que valores são construções mentais elaboradas pela visão de mundo de nossa cultura, podem ser ensinados e formam nossos juízos de bem, mal, justo, injusto, belo e feio. A HISTÓRIA Para muitos autores a experiência ética fundamental ocorre quando sentimos que o agir das pessoas está desconectado dos valores caros à civilização. É a experiência de ‘estranhamento’ frente à realidade, de sentir-se estranho (fora da normalidade) diante do modo como funciona a sociedade, ou até mesmo em relação ao modo de ser e agir de outrem. Cada vez que a sede de justiça, o que deveria ser ou o que se deveria fazer para buscar o funcionamento justo da sociedade, se estabelece, há um avanço da ética. A história da ética, portanto, se confunde com o próprio processo civilizatório. É a própria história das ideias morais da humanidade, desde os tempos pré-históricos até nossos dias, isto é, a história da reflexão humana de como instituir normas que regulem a conduta social, na busca da felicidade individual e ao mesmo tempo o bem comum, e, portanto, instaurem a diminuição da violência. Os filósofos faziam a crítica da realidade social de sua época e a partir dessa crítica ofereciam saídas de como teria de ser a conduta das pessoas para evitar os infortúnios que levariam ao desaparecimento do ethos comum. A sociedade, então, considerando aquelas ideias úteis, passou a educar as novas gerações para aqueles valores. Muitas vezes, por ser um novo dever, o Estado transformava tais normas em leis até que tais condutas fossem incorporadas às consciências individuais e, assim, lentamente, foram estruturados os valores que hoje consideramos essenciais. Nesse sentido, a ética não é imutável, mas, ao contrário, a humanidade vai abandonando valores e adquirindo outros que antes não pensava serem essenciais. Antes de Sócrates não houve, ao menos que se saiba, uma reflexão metódica sobre a ética e o “homem moral”, por isso é que se diz que ele é o “pai da ética”. Contudo, é preciso ponderar que desde períodos mais antigos havia 9 uma identidade perfeita entre o bem comum e o bem individual tão arraigada na mente grega que talvez tal reflexão não fosse necessária ou sequer capaz de ser concebida. Só a dissociação entre bem comum e bem individual (o público e o privado), que começa a ocorrer durante o período da decadência grega, é que justifica anecessidade de alguma teoria que explicasse esta dualidade. Nossa visão de ética, hoje, deve muito, também, a Platão. Na verdade, como Sócrates nada escreveu, é em seus textos que aparece pela primeira vez o conceito de ética. Platão constrói idealmente a “Cidade Perfeita”; nela tudo e todos são guiados por uma ética muito semelhante ao ideal de perfeição social de hoje. A ética de Platão está relacionada intimamente com sua filosofia política, porque, para ele, a polis (cidade-estado) é o terreno próprio para a vida moral. Assim, buscou um Estado ideal, um estado-modelo, utópico, cujo modelo seria o corpo do ser humano. Daí vem o costume de dizermos até hoje o “corpo social”, como sinônimo de sociedade. Assim como o corpo possui cabeça, peito e baixo- ventre, também o Estado deveria possuir, respectivamente, governantes, sentinelas e trabalhadores. O bom Estado é sempre dirigido pela razão em busca da prática da justiça, que seria o equilíbrio entre os direitos e os deveres dos cidadãos na construção de uma polis virtuosa. Portanto é necessária a prática das virtudes. As virtudes são funções da alma humana, determinadas pela sua natureza e pela divisão de suas partes. Tais virtudes seriam todas aquelas que produzem a beleza, o bem e a verdade absoluta. Para tal prática seria necessário, à vontade, o ânimo, o que para Platão significava o domínio das paixões pela razão. Pela razão, faculdade superior característica do homem, a alma elevar- se-ia, mediante a contemplação, ao mundo das ideias. O fim último da razão seria purificar-se ou libertar-se da matéria para contemplar o que realmente é, acima de tudo, a ideia do bem. Para alcançar a purificação seria necessário praticar as várias virtudes que cada alma possui. Platão julgava que as partes da alma possuíam um ideal ou uma virtude que deveriam ser desenvolvidos para seu funcionamento perfeito. A razão deveria aspirar à sabedoria, a vontade 10 deveria aspirar à coragem e os desejos deveriam ser controlados para atingir a temperança. Cada uma das partes da alma, com suas respectivas virtudes, estaria relacionada com uma parte do corpo. A razão manifestara-se na cabeça, a vontade, no peito, e o desejo, no baixo-ventre. Somente quando as três partes do homem pudessem agir como um todo é que teríamos o indivíduo harmônico. A harmonia entre essas virtudes constituiria uma quarta virtude, a justiça. Devido ao fato de ter sua teoria adotada como parcialmente verdadeira pela Igreja Católica, a ética de Aristóteles finca vínculos indeléveis em nossa compreensão de ética. Sua concepção ética privilegia as virtudes (justiça, coragem, fortaleza e sinceridade, a felicidade pessoal e o bem comum), tidas como propensas tanto a provocar um sentimento de realização pessoal àquele que age, quanto simultaneamente beneficiar a sociedade em que vive. Portanto, a felicidade pessoal só é possível onde o bem comum também o é. A ética aristotélica compreende a humanidade como parte da ordem natural do mundo, por isso é denominada: ética naturalista. Segundo Aristóteles, toda atividade humana, em qualquer campo, tende à busca do bem supremo ou sumo bem, que seria resultado do exercício perfeito da razão, função própria do homem. Assim, o homem virtuoso é aquele capaz de deliberar e escolher o que é mais adequado para si e para os outros, movido por uma sabedoria prática em busca do equilíbrio entre o excesso e a escassez. Na antiguidade o conceito de sábio era entendido como um homem virtuoso ou que busca uma vida virtuosa, e que assim consegue estabelecer, em sua vida, a ordem, a harmonia e o equilíbrio que todos desejam. Essa harmonia é conseguida se vivermos de acordo com a natureza – o cosmos para os gregos - , e o justo é viver de acordo com o seu lugar na natureza, uma vez que compreendiam que o cosmos, por si só, é sempre justo e bom. Uma das finalidades da vida humana seria encontrar seu lugar no seio dessa ordem cósmica, tal viver seria a vida ética. Assim, a prática da justiça, a virtude geral, de onde se originam todas as demais, nos tornaria semelhantes ao divino, àquilo que transcende o próprio homem, ao imortal e sábio que está no próprio homem. 11 Os principais filósofos organizadores da ética cristã são: Santo Agostinho em A cidade de Deus e Confissões, e São Tomás de Aquino em Suma teológica. Durante a Idade Média, o cristianismo se estabelece como teoria no campo filosófico; a representação ocidental do “divino” não é mais a natureza e passa a encarnar uma pessoa: Jesus Cristo. Essa nova visão dos logos provoca mudanças profundas na compreensão do que é o bem e, portanto, da ética. O cristianismo traz uma concepção revolucionária que cristaliza até nossos dias: a nova concepção de amor. A moral passa a ser entendida como a busca da perfeição “à imitação de Cristo” como característica de cada ser humano Essa nova concepção da pessoa humana, do indivíduo, é o próprio cerne do processo civilizador ocidental, resultando em todos os direitos da pessoa humana; contudo, é na compreensão do que é a liberdade que o cristianismo vai promover uma revolução, se comparada ao conceito da Antiguidade Clássica. Enquanto que para os antigos a liberdade só se realizava no campo político e era entendida como sinônimo de cidadania, no cristianismo ela é deslocada para o interior de cada ser humano. A ética cristã articula liberdade e vontade; apresenta essa última como essencialmente dividida entre o bem e o mal. Foi o cristianismo que subordinou o ideal de virtude à ideia de dever e de obrigação. Fez da humildade uma virtude essencial, o que era desconhecido pelos antigos. Mais do que isso, o cristianismo também exigiu a submissão da vontade humana à vontade divina, tornando problemática e quase impossível a finalidade ética dos antigos, isto é, a autonomia, a capacidade de escolha por si só dos valores que norteiam as ações humanas. Se para os gregos antigos a virtude era um talento natural, para o cristianismo o que é moral ou não é o uso que se faz desses dons naturais; essa liberdade de escolha vai ser chamada pelos filósofos de “livre-arbítrio”. Aparece aqui a ideia do “mérito”, tão cara ao capitalismo. Não importa mais os talentos que recebemos da natureza, mas o que faremos com esses talentos; por meio deles podemos sair do estado de desigualdade natural para entrar na igualdade por nós construída. Portanto, a liberdade torna-se fundamento da moral. Uma vez que todos são livres e iguais porque filhos do mesmo Deus e com direito à salvação vinda de Cristo, logo, toda a humanidade é composta por 12 irmãos, fraternos entre si. Essa nova noção de fraternidade era desconhecida pelos antigos. No cristianismo a noção de responsabilidade individual é ao mesmo tempo universal e faz surgir uma virtude também desconhecida pelos antigos que é a caridade, ou seja, a responsabilidade pela salvação do outro, material e espiritual, seja o outro quem for. O amor passa de uma noção pessoal e carnal, o amor paixão, para um amor de compaixão, o amor ao próximo, sendo o próximo o outro em geral, já que todos são irmãos. A compaixão, a benevolência, a solicitude, para com os outros, até mesmo com outras formas de vida, passam a ser regras de comportamento ético. Ser virtuoso, portanto ético, passa a ser agir em conformidade com a vontade de Deus, e esse agir é um dever, e, como Deus se manifesta na pessoa humana, a responsabilidade com o outro passa a ser um valor ético. Portanto, a autonomia tão cara aos gregos antigos dá lugar ao conceito de dever, como limite da liberdade. A modernidade inicia quando começa a desaparecer a ideia de ordem universal de hierarquia natural dos seres, cedendo para as ideias de universo infinito, desprovido de centro e de periferia, e de indivíduo livre, átomo no interior da natureza, parao qual já não possui a definição prévia de lugar próprio e, portanto, de suas virtudes próprias. A ordem do mundo não é mais dada de fora do mundo, quer seja pelo cosmos, como queriam os gregos, quer seja por Deus, como pensavam os cristãos na Idade Média. Assim, a modernidade afasta a ideia medieval de um universo regido por forças espirituais secretas que precisam ser decifradas para que com elas entremos em comunhão. O mundo desencanta-se – como escreveu Weber – e passa a ser governado por leis naturais racionais e impessoais que podem ser conhecidas por nossa razão e que permitirão aos homens o domínio técnico sobre a natureza. No livro A ética protestante e o espírito do capitalismo, Weber relaciona o papel do protestantismo cristão à formação do comportamento típico do capitalismo moderno. Weber descobre que os valores do protestantismo, tais como a disciplina ascética, a poupança, a austeridade, a vocação, o dever e a valorização do trabalho como instrumento de salvação da ética protestante 13 promovem o surgimento do capitalismo. Para Weber, tais valores são incorporados na ética ocidental como estrutura da confiança, valor essencial à manutenção da sociedade do contrato, que é a sociedade burguesa. Durante o período compreendido entre os séculos XVII e XX, pouco a pouco, a ética deixa de estar em conformidade com a Natureza ou com Deus para centrar sua reflexão na condição humana. No século XVIII, Rousseau faz uma crítica ao pensamento de Aristóteles, segundo o qual o homem se diferenciaria dos animais por ser racional. Para Rousseau o que diferencia o ser humano dos animais é sua capacidade de decisão por si só: a liberdade e a capacidade de aperfeiçoar-se ao longo da História. Como consequências dessa nova definição de humanidade: a historicidade, a igual dignidade entre os seres humanos. Por ser livre e por não ter nada a dirigir suas ações é que o ser humano é moral. É seu espírito crítico que vai dotar o homem de valores morais, pois o ser humano sempre busca o bem e nasce intrinsecamente bom. O maior representante da ética nos últimos séculos foi sem dúvida Immanuel Kant (1724 – 1804), talvez o mais importante filósofo da modernidade, sobretudo para quem se interesse pelo estudo da ética e mais ainda pela ética profissional. Seu pensamento talvez seja aquele que mais contribuiu para a forma de pensar ética tal como pensamos hoje. O homem é livre, diz Kant, porque não está sujeito às leis físicas da natureza. Sua virtude reside na ação ao mesmo tempo voltada para interesses individuais e universais. Esses são os princípios basilares da ética kantiana: o desinteresse e a universalidade. A ação moral é a única ação verdadeiramente humana, e a liberdade consiste na faculdade de transcender as tendências naturais. Uma vez que as tendências naturais nos levam sempre ao egoísmo é preciso resistir a essas tendências. Tal resistência é denominada por ele de “boa vontade”, ponto que ele vê como princípio de toda a moralidade verdadeira. Para Kant, na natureza há leis, na ética, deveres; e a existência do dever me diz que sou naturalmente livre. Do “dever”, porque, pelo fato de ser livre e ter boa vontade e preocupação com o interesse geral, há algo em nós que ordena uma resistência e até mesmo um combate contra a naturalidade ou animalidade 14 que exista em nós. E Kant dá um exemplo: se um tirano obriga alguém a testemunhar de modo falso contra um inocente, ele pode ceder e dizer o que é falso; mas depois teria remorso, pois algo em nós nos orienta para o bem que é a voz da razão. Isto demonstra que a testemunha sabia que podia dizer a verdade: sabia, devia, podia. E sabia por que seria irracional, uma vez que num mundo em que todos dissessem o que é falso, seria impossível viver, sendo, portanto, para nossa razão, obrigatório dizer a verdade. Essa é a prova da universalidade e necessidade da norma ética. Essa voz da razão, que aparece sob a forma de ordens indiscutíveis, é chamada por Kant de imperativo categórico: imperativo, porque não se pode subtrair a ele, não é um conselho; e categórico, porque não admite o contrário daquilo que está mandando. Com a concepção de perfectibilidade, a ética kantiana vai propor que a liberdade humana consiste justamente na nossa capacidade de ir além das determinações naturais, de satisfazer nossos interesses particulares, para agir de acordo com os interesses gerais, isto é, universais. Por isso, a ética moderna vai repousar na ideia do mérito, ou seja, todos nós temos dificuldades em realizar nosso dever, em seguir os mandamentos da moral, apesar de todos nós o considerarmos legítimos. Daí nosso mérito em agir em conformidade com o bem comum e não em conformidade com nossos desejos e paixões. A modernidade vai valorizar toda a ação de dever, é a ética moderna fundamentalmente meritocrática de inspiração democrática. A partir de Kant, passa a vigorar, no campo de estudo da ética, o que se convencionou chamar de humanismo moderno. Não só no plano da moral, mas no político e no jurídico, o fundamento está unicamente na vontade dos homens, desde que se aceite como restrição a vontade dos outros. A liberdade de cada um termina onde começa a liberdade dos outros. É apenas essa limitação pacífica que pode permitir uma vida social harmônica e feliz. E essa harmonia é uma construção humana e não mais um fato pronto pela natureza ou dada por Deus, ou seja, os homens vivendo em liberdade, mas com a vontade dirigida pelo dever (responsabilidade), na construção de uma sociedade com valores comuns que Kant chama de “reino dos fins”. Como seres dotados de dignidade 15 absoluta, os homens não poderiam ser tratados como meios usados para objetivos pretensamente superiores, ou seja, o fim absoluto digno de respeito absoluto: o centro do universo é a humanidade. Kant elaborou um imperativo categórico da razão do agir ético: “age tendo a humanidade como fim e jamais como meio” (não tratar os sujeitos como coisas) e “age como se a máxima de tua ação pudesse ser realizada por todos os homens e para qualquer homem” (a universalidade da razão garante a universalidade do sentido da ação). Isso significa que a pessoa deve agir espontaneamente, por sua vontade e não sob coação ou por vontade alheia, só sob essa forma o comportamento será eticamente valioso. Tal comportamento terá valor universal. O que o imperativo categórico pede é que a máxima (princípio subjetivo) seja de tal natureza que possa ser elevada à categoria de lei de universal, construindo assim o conceito de igualdade como principio ético. Kant propõe um valor absoluto para servir como fundamento objetivo dos imperativos. E esse valor absoluto é a pessoa humana. O objeto de nossos desejos tem valor relativo, é apenas um meio de alcançar nossos objetivos, pois só o homem tem valor absoluto. Sob dois prismas as pessoas diferem dos demais seres. Primeiro, uma vez que as pessoas têm desejos e objetivos, as outras coisas têm valor para elas em relação aos seus projetos, as meras coisas, e isto inclui os animais, que não são humanos, considerados por Kant incapazes de desejos e objetivos conscientes. Segundo, e ainda mais importante, os seres humanos têm um valor intrínseco, isto é, dignidade, porque são agentes racionais, ou seja, agentes livres com capacidade para tomar as suas próprias decisões, estabelecer os seus próprios objetivos e guiar a sua conduta pela razão. Uma vez que a lei moral é a lei da razão, os seres racionais são as encarnações da lei moral em si. E a única forma de bondade moral poder existir são as criaturas racionais apreenderem o que devem fazer e, agindo a partir de um sentido de dever, fazê-lo. Kant deixou para o Ocidente a ideia de que o ser humano é a única coisa com valor moral; assim, se nãoexistissem seres racionais a dimensão moral do mundo simplesmente desapareceria. Tal reflexão foi essencial para que a 16 humanidade deixasse de considerar seres humanos como coisa e abandonasse a ideia da escravidão de outros seres humanos como direito de propriedade, além de estruturar teoricamente a luta por direitos iguais, independentemente de diferenças físicas, psicológicas, culturais e étnicas. E como são os seres cujas ações são sempre conscientes? Kant conclui que o seu valor tem de ser absoluto, e não comparável com o valor de qualquer outra coisa. Se o seu valor está acima de qualquer preço, segue-se que os seres racionais têm de ser tratados sempre como um fim e nunca como um meio para atingir um determinado fim. Lança, aqui, numa construção racional, a ideia cristã da igualdade entre os homens e que será o núcleo do Estado democrático. O Estado democrático é o conjunto de iguais dentro de um determinado espaço geográfico. Isto significa que temos o dever estrito de buscar a prática do bem, não só para nós mesmos como para as outras pessoas. Temos de lutar para promover o seu bem-estar; temos de respeitar os seus direitos, evitar fazer lhes mal, e, em geral, empenhar-nos, tanto quanto possível, em promover a realização dos fins dos outros. Somente se reveste de valor ético a conduta autônoma, fruto da vontade do agente. A conduta heterônoma é aquela que nos faz agir pela vontade alheia, é desprovida de valor moral. “A dignidade humana exige que o indivíduo não obedeça mais normas do que as que ele mesmo se impôs, usando de seu livre- arbítrio”. Os valores kantianos de liberdade, de responsabilidade, de autonomia e de culto ao dever foram incorporados na ética ocidental como valores essenciais à civilização. Na modernidade conservou-se do cristianismo a ideia de que é virtude a obediência à razão contra o império caótico das paixões; que a virtude é dever e obrigação em face de normas e valores universais; e que a liberdade é o poder humano para enfrentar com suas próprias forças as contingências e a adversidade; que a responsabilidade é marca da honradez virtuosa, pois não há liberdade sem responsabilidade. Mas todos esses termos perderam a universalidade pretendida, pois, lhes falta o centro ordenador: o cosmos antigo ou a providência medieval. Somente com a ideia de civilização será possível 17 definir um novo centro que permitiria o surgimento de uma razão prática com pretensões ao universal no campo ético. Ou seja, há que se viver de acordo com um conjunto de valores expressos por deveres ou imperativos que nos pedem respeito pelo outro, sem o qual uma vida pacífica é impossível. TEORIAS ÉTICAS Antiga Grécia As teorias éticas gregas, entre o século IV e o século V a.C. são marcadas por dois aspectos fundamentais: Polis - a organização política em que os cidadãos vivem – as cidades- estados – favorece a sua participação ativa na vida política da sociedade. As teorias éticas apontam para um dado ideal de cidadão e de sociedade. Cosmos – algumas das teorias ético-políticas procuram igualmente se fundamentarem em concepções cósmicas. As Teorias éticas fundamentais: Sofistas – defendem o relativismo de todos os valores, afirmando que cada cidadão deveria alcançar o prazer supremo que seria o poder político. No entanto, esse mesmo poder pertenceria a poucos mais fortes na força das palavras, e a maioria dos fracos deveria ser dominada por essa minoria. Sócrates (470-399 a.C.) – defende o caráter eterno de certos valores como o bem, a virtude, a justiça e o saber. O valor supremo da vida é atingir a perfeição. Tudo deve ser feito em função desse ideal, o qual só pode ser obtido através do saber. Na vida privada ou na vida pública, todos tem a obrigação de se aperfeiçoarem fazendo o bem, sendo justos. Platão (427-347 a.C.) – defende o valor supremo do bem. O ideal que todos os homens livres deveriam tentar atingir. Para que isto acontecesse, deveriam ser reunidas, pelo menos duas condições: a) Os homens deviam seguir apenas a razão, desprezando os instintos ou as paixões. 18 b) A sociedade devia ser reorganizada, sendo o poder confiado aos sábios, de modo a evitar que as almas fossem corrompidas pela maioria composta por homens ignorantes e dominadas por instintos ou paixões. Aristóteles (384-322 a.C.) – defende o valor supremo da felicidade. A finalidade de todo o homem é ser feliz. Para que isso aconteça é necessário que cada um siga a sua própria natureza, evite os excessos, seguindo sempre a via do “meio termo” (justa medida). Aristóteles em sua obra Ética a Nicômacos, faz citação: Akrasia, ou “fraqueza de vontade”, é o problema apresentado por uma pessoa que pensa, ou professa pensar que deve fazer algo, mas não o faz. Mundo helenístico e romano Com o domínio da Grécia por Alexandre Magno e os impérios que lhe seguiram, alteraram-se os contextos em que o homem vivia. As cidades-estados são substituídas por vastos impérios constituídos por uma multiplicidade de povos e de culturas. Os cidadãos sentem que vivem numa sociedade na qual as questões políticas são sentidas como algo muito distante de suas preocupações. As teorias éticas são nitidamente individualistas, limitando-se, em geral, a apresentar um conjunto de recomendações (máximas) sobre a forma mais agradável de viver a vida. Teorias éticas fundamentais O desenvolvimento científico que mais afetou a ética depois de Newton, foi a teoria da evolução apresentada por Charles Robert Darwin. Suas conclusões foram os suportes documentais da chamada ética evolutiva, do filósofo Herbert Spencer, para quem a moral resulta apenas de certos hábitos adquiridos pela humanidade ao longo de sua evolução. Friedrich Nietzsche explicou que a chamada conduta moral só é necessária ao fraco, uma vez que visa a permitir que este impeça a autor realização do mais forte. 19 Bertrand Russell marcou uma mudança de rumos no pensamento ético das últimas décadas. Reivindicou a ideia de que os juízos morais expressam desejos individuais ou hábitos aceitos. A seu ver, seres humanos completos são os que participam plenamente da vida social e expressa tudo o que faz parte de sua natureza. Ética como ciência normativa é fundamentada por princípios da conduta humana, diretrizes no exercício de uma profissão, estipulando os deveres que devem ser seguidos no desempenho de uma atividade profissional, também denominada filosofia moral. Na história da ética está se entrelaça com a história da filosofia. No século VI a.C., Pitágoras desenvolveu algumas das primeiras Reflexões morais a partir do morfismo, afirmando que a natureza intelectual é superior à natureza sensual e que a melhor vida é a dedicada à disciplina mental Os sofistas se mostraram céticos no que se refere aos sistemas morais absolutos, embora, para Sócrates, a virtude surja do conhecimento, e a educação possa conseguir que as pessoas sejam e devam agir de acordo com a moral. Seus ensinamentos forjaram a maior parte das escolas de filosofia moral gregas da posteridade. Aristóteles considerava a felicidade a finalidade da vida e a consequência do único atributo humano, a razão. As virtudes intelectuais e morais seriam apenas os meios destinados a sua consecução. O epicurismo, por sua vez, identificava como sumo bem o prazer, principalmente o prazer intelectual e, tal como os estoicos, preconizava uma vida dedicada à contemplação. No fim da Idade Média, São Tomás de Aquino viria a fundamentar na lógica aristotélica os conceitos agostinianos de pecado original e da redenção por meio da graça divina. À medida que a igreja medieval se tornava mais poderosa, desenvolvia- se um modelo de ética que trazia castigos aos pecados e recompensa à virtude através da imortalidade.20 Para Baruch Spinoza, a razão humana é o critério para uma conduta correta e só as necessidades e interesses do homem determinam o que pode ser considerado bom e mau, o bem e o mal. Jean-Jacques Rousseau, por sua vez, em seu contrato social (1762), atribuía o mal ético aos desajustamentos sociais e afirmava que os seres humanos eram bons por natureza. Cada um siga a sua própria natureza, evite os excessos, seguindo sempre a via do “meio termo” (justa medida). Uma das maiores contribuições à ética foi a de Emmanuel Kant, em fim do século XVIII. Segundo ele, a moralidade de um ato não deve ser julgada por suas consequências, mas apenas por sua motivação ética. As teses do utilitarismo, formuladas por Jeremy Benham, sugerem o princípio da utilidade como meio de contribuir para aumentar a felicidade da comunidade. Já para Georg Wilhelm Friedrich Hegel, a história do mundo consiste em “disciplinar a vontade natural descontrolada, levá-la a obedecer a um princípio universal e facilitar uma liberdade subjetiva”. Epicuro (341-270 a.C.) – em seus 31º e 37º princípios doutrinários propunha que “as leis existem para os sábios, não para impedir que cometam, mas para impedir que recebam injustiça. (...) A justiça não tem existência por si própria, mas sempre se encontra nas relações recíprocas, em qualquer tempo e lugar em que exista um pacto de não produzir nem sofrer dano.” Cínicos (Antístenes, Diógenes) – o objetivo da vida do sábio é viver de acordo com a natureza, afastando-se de tudo aquilo que provoca ilusões e sofrimentos: convenções sociais, preconceitos, usos e costumes sociais, etc. Cada um deve viver de forma simples e despojada. Estoicos (Zenão de Cítio, Séneca e Marco Aurélio) – o homem é um simples elemento do cosmos cujas leis determinam o nosso destino. O sábio vive em harmonia com a natureza, cultiva o autodomínio, evitando as paixões e os desejos, em suma, tudo aquilo que pode provocar sofrimento. Céticos (Pirro, Sexto Empírico) – defendem que nada sabemos, que nada podemos afirmar com certeza. Em face dessa posição de princípio, a felicidade 21 só pode ser obtida través do alheamento do que se passa a nossa volta, cultivando o equilíbrio interior. A concepção mecanicista defendida pelos sofistas, e por Epicuro separava as questões do homem da natureza. Aquilo que determinava o agir humano era a procura do prazer e o afastamento da dor. O comportamento humano era marcado pela instabilidade dessas motivações, dado que variava em função dos objetos de desejo. A concepção finalista defendida por Platão e Aristóteles subordinava o homem ao cosmos. O sentido da sua existência tinha que ser pensado no quadro da ordem que reinava no cosmos. A ação humana orientava-se de acordo com a sua natureza, para o fim último a cujo cumprimento estava orientado. Não se trata de saber o que leva o homem a agir, mas onde reside a sua perfeição ou plenitude das suas tendências naturais. A lei natural foi inspirada a partir de Heráclito, Platão e Aristóteles, os estoicos e outros filósofos segundo os quais essa lei governava o cosmos e defina a natureza dos homens e o seu lugar na hierarquia cósmica. O cristianismo representado por S. Tomás de Aquino (século XIII) fortalece a existência de uma lei natural universal capaz de regular o comportamento humano e de todos os seres. No entanto, apenas o homem está submetido às leis morais, consideradas “leis naturais” que, colocadas como princípio ordenador da conduta humana, devem estar em harmonia com a ordem geral do universo, ou seja, com a Lei Divina. Quando olhamos Descartes e outros filósofos que definem a natureza humana no plano racional e, com plena autonomia sobre a face da terra justifica-se por que desde o século XVII as teorias cosmológicas vão ruindo, de maneira que a Filosofa reconstitui as bases das teorias morais através da Teologia e na ética pelo comportamento natural do homem. No século XVIII, com a identificação de Deus com a racionalidade dos homens afirma-se que a base de toda a sociedade humana está na razão e na natureza. O direito natural como o conjunto de regras determinadas pela 22 razão regula a sociedade e está conforme a reta razão. A vida, a dignidade humana e a propriedade são um direito natural e não podem, portanto, ser negadas a nenhum ser humano. Desse momento, surgem os filósofos Thomas Hobbes (1588-1679) e John Locke. O primeiro desenvolve teorias políticas e de estado, enquanto John Locke afirma que o direito está enraizado numa “lei da natureza” da qual “deriva a própria constituição do mundo em que todas as coisas observam nas suas operações uma lei e um modo de existência adequados à sua natureza”. John Locke mais tarde afirmará que a lei da natureza é a lei da razão. Foi só no século XVIII que o conceito “direitos naturais” foi substituído por “direitos humanos”. Essa designação surgiu pela primeira vez na obra de Thomas Paine, intitulada “Rigts of Man” (Direitos do Homem), 1791-1792. Augusto Comte – francês, pai do positivismo reforçou a moral do altruísmo. Herbert Spencer – inglês, defensor da ética biológica, acredita em uma ética evolutiva de maneira que, através das experiências consecutivas, o homem vai adaptando-se às mutações da vida e termina por estabelecer os costumes que passam a Influir sobre as condutas. Vários foram os pensadores contemporâneos que discorreram sobre o tema. Nenhum merece o desconhecimento. Todos os esforços despendidos vieram mostrar que a conduta humana é rica em sua produção de fenômenos e, portanto, vale o estudo no sentido de conhecê-la. Buda acusava a ignorância como a causa dos erros e admitia que esta se operava quando se excluía a ação da consciência. Em síntese, há necessidade de suprimir a forte emoção do desejo, substituindo-a por uma consciência inteligente. Hoje, quando buscamos as bases das teorias budistas, encontramos um ramo do conhecimento que se dedica para a ciência do “eu”, com objetivos de buscar os elementos para o controle das emoções, de maneira a não mascarar as condutas virtuosas, ou seja, as qualidades da ética. 23 Immanuel Kant – alemão cuja teoria partiu do pressuposto de que a razão guia a moral e que três são os pilares em que se sustenta: Deus, liberdade e imortalidade. Ele adverte que a simples inclinação para o cumprimento da lei por respeito, não é o exercício de uma vontade para si. Sem liberdade, não pode haver virtude e, sem esta, não existe a moral, nem pode haver felicidade dos povos, porque também não pode haver justiça. Fundamentos éticos: perspectiva clássica Isabel Renaud faz uma reflexão sobre o estudo da ética clássica afirmando ser mais um ato interpretativo contemporâneo que respeita e recria dados analisados. A autora começa por referir que toda a reflexão filosófica passa pela subjetividade do pensador. Essa situação “caracteriza o próprio ato de pensar”. A filosofa contemporânea, no mundo em que vivemos das telecomunicações, da internet, dos programas espaciais, da física quântica, ou da medicina de alta tecnologia, a filosofa contemporânea desde o século XIX se fundamenta nos conceitos da história e da filosofia de Hegel pelas ideias de totalidade e de processo, sendo o homem um ser histórico, assim como a sociedade. Isto traz como uma das consequências a ideia de progresso e consagra a visão crítica diante das bases morais da sociedade ocidental, da religião e os abusos da própria ciência. Na perspectiva dos gregos, não há escolha dos fins, os quais se impõem ao ser racional em virtude da sua constituição racional, mas a escolha incide sobre os meios para atingi-la. Em poucas palavras, na nossa vida real estamos sempre às voltas com problemas morais práticos como atos, juízos, normas morais. Isso vale para todos. Não sepode escapar aos problemas concretos e muitas vezes tão fáceis de perceber os aspectos morais envolvidos. “A ética que surge da finalidade abre-se inevitavelmente ao conceito do bem.” 24 A filosofia e a ética a todo o momento precisam rever os conceitos de sabedoria/prudência e de normas. OS TIPOS DE ÉTICA A ciência dos valores admite várias classificações, porque existem muitas escolas, ideologias ou correntes de pensamento. Quanto mais as sociedades se tornam complexas e as redes de comunicação permitem um contato entre as diversas culturas e visões de mundo, maior é o número de concepções sobre ética. Preferimos essa classificação, uma vez que desenvolve as quatro formas fundamentais de manifestação do pensamento ético na história ocidental. São elas: ética empírica, ética dos bens, ética formal e ética valorativa. Na realidade, os diferentes tipos interpenetram-se e se apresentam como formas ecléticas. O sentido de separação é apenas para facilitar o estudo da ética; portanto foi necessária uma abstração da realidade. Ética empírica É aquela em que os princípios foram derivados da observação dos fatos. Mais do que isso, foi a experiência concreta na vida social que levou seus defensores a provar o fato de que sem os valores éticos a vida social é impossível. Seus defensores são chamados de “empiristas” e suas teorias da conduta baseiam- se no exame da vida moral. Segundo os empiristas, os preceitos disciplinadores do comportamento estão implícitos no próprio comportamento da maioria dos seres humanos. Para os teóricos da ética empírica, não se deve questionar o que o homem deve fazer, e sim examinar o que o homem normalmente faz, pois o homem deve ser como naturalmente é, e não se comportar como as normas queiram que ele seja. O drama ocidental foi que o empirismo nos levou ao relativismo. Como a conduta humana varia de acordo com a cultura e o tempo histórico, a defesa que os empiristas fazem da existência de uma moral universal, natural e própria do ser humano mostra-se improvável nos dias atuais, tanto que o subjetivismo, próprio da visão da ética empírica, terminou por gerar 25 visões de ética que são opostas ao conceito grego original – defesa da vida comunitária. É possível assim dividir as teorias éticas nascidas da ética empírica: Ética anarquista (subjetiva) O anarquismo repudia toda norma, todo valor, direito, moral, convencionalismos sociais, religião. Para tal visão tudo constitui exigência arbitrária, nascida da ignorância, da maldade e do medo. Assim, não há legitimidade nas normas, sejam elas morais ou jurídicas. É uma doutrina egoísta, pois nela o que vale é a vontade humana num dado momento. E esta varia de indivíduo para indivíduo, não é possível uma direção para o agir social considerado modelo. Ética utilitarista Toda ética busca o bem absoluto na vida social. Para a teoria utilitarista só é bom o que é útil: a conduta ética desejável é a conduta útil. A utilidade, porém, é mero atributo de um instrumento. A eficácia técnica dos meios não corresponde ao valor ético dos fins. Exemplo: a arma utilizada para abater animal a ser sacrificado em decorrência de portar enfermidade grave é tão útil como aquela de que se serve o assaltante para liquidar sua vítima. Não existe consistência no utilitarismo como aplicação para necessidade de uma conduta ética dos homens, salvo se referente a uma finalidade: a obtenção do supremo bem, a felicidade das pessoas. O utilitarismo tem sentido moral, se entendido como prudente emprego dos meios aptos à consecução de fins moralmente valiosos. Ética ceticista É a ética do cético, a pessoa que põe em dúvida todas as crenças tidas como verdadeiras para as demais pessoas. Uma teoria de ética cética, portanto, é aquela em que o valor moral maior consiste justamente em colocar em dúvida todos os valores aceitos como essenciais para a maioria dos teóricos. O cético, duvidando de tudo, coloca o método filosófico como fim de compreensão da realidade. É dúvida sistemática. 26 Aqui cabe, mesmo que sucintamente, distinguir entre dúvida metódica e dúvida sistemática. Dúvida metódica é a utilizada como método filosófico de busca da verdade última das coisas. Duvidar como instrumento metódico leva a um saber que se aproxima da ausência do erro. Por exemplo, a máxima de Sócrates, “só sei que nada sei”, sustenta que algo se sabe com certeza: sabe- se, ao menos, que nada se sabe. Esse é o primeiro passo no caminho do conhecimento. Sócrates compreendeu o valor da dúvida como método dialético (método de discussão). Já a dúvida sistemática, própria dos ceticistas, é aquela em que se põe em dúvida tudo e de forma permanente. Eles declaram não crer em coisa alguma e aqui, segundo alguns filósofos, está seu primeiro e mais profundo erro, pois se fossem realmente céticos, duvidariam até mesmo da sua afirmação de que em nada creem. Ética dos bens A ética dos bens preocupa-se com a relação estabelecida entre o proceder individual e o supremo fim da existência humana. A ética dos bens defende a existência de um valor fundamental denominado bem supremo, aquele que não pode ser meio de qualquer outro para se obter um fim. Desta forma, hierarquicamente, a vida pessoal e o prazer de viver são o principal bem supremo. As manifestações mais importantes da ética dos bens são o eudemonismo (confiança na felicidade como destino humano), idealismo ético (aspiração ao ideal) e o hedonismo. Ética formal Para tal teoria, a significação moral do agir ético reside na pureza da vontade e na retidão dos propósitos do agente considerado. Tal retidão de propósito reside na boa vontade do agente ético comportar-se socialmente conforme o seu dever e por dever. Exemplificando: conservar a vida é um dever; portanto, se atentamos contra a vida em quaisquer circunstâncias, estaremos descumprimos o dever. Mas, se alguém perdeu todo o apego à vida e mesmo não temendo, ou até desejando, a morte, conserva a existência para não descumprir o dever de conservar a vida, sua conduta tanto externa como 27 internamente está em acordo com a lei moral e possui valor moral pleno; por isso, seu agir é ético. Ética valorativa É a ética que pressupõe que os valores devam ser ensinados, pois seus teóricos defendem a ideia de que basta saber o que é a bondade para ser bom. O construtor dessa teoria foi Sócrates, segundo o qual basta conhecer a bondade para ser bom. Para nós, que vivemos no século XXI, tal ideia pode parecer ingenuidade, uma vez que já está profundamente gravado na nossa mente que só algum grau de coerção é capaz de evitar que o homem seja mau. Na sua época, era uma noção perfeitamente coerente com o pensamento, ainda que não com a prática da sociedade grega. Essa ideia é a base que orientará a ética ocidental. A ética contemporânea A ética contemporânea encontra o século XIX fragmentando o formalismo existente e o absolutismo, que permitem ao homem transformar a partir da abstração do universo. Desde a época em que Galileu afirmou que a terra não era o centro do universo, desafiando os postulados éticos religiosos da cristandade medieval são comuns os conflitos éticos gerados pelo progresso da ciência, especialmente na sociedade industrializada do século XX. A Sociologia, a Filosofa, a Medicina, o Direito, a Engenharia Genética e as outras ciências se deparam a cada passo com problemas éticos. Em outro campo de atividade humana, a prática política antiética tem sido responsável por comoções e crises sem precedentes em todos os países. Normalmente quando tratamos sobre ética, falamos sobre a moral que está relacionada aos bons costumes, ou seja, às ações dos homens segundo a justiça, a igualdade e o direito de cada indivíduo no meio social. Daí a afirmação de que a éticafundamenta-se em valores morais. Portanto, o caráter moral do homem se define pelas escolhas que ele realiza. Suas virtudes determinam ações praticadas perante a sociedade como um todo. 28 As decisões que se tomam no dia a dia fazem com que se corra o risco de perder os valores éticos baseados nos valores morais, prejudicando seus semelhantes, tanto consciente, como “inconscientemente”. Por exemplo, a frustração, a raiva, o ódio, a disputa e privações fazem parte do aprendizado de uma criança, tanto quanto, o amor, a atenção, o carinho e a afetividade que ela receber. Precisamos respeitar as diferenças individuais da humanidade, na família, na escola e no ambiente profissional, buscando a reeducação dos valores morais, éticos e humanos, estimulando nas novas gerações o sentimento para convívio social e contribuindo para a melhoria e desenvolvimento de todo o país, na luta por uma realidade melhor para todos, na reconstrução da cidadania. À ética fora do espaço social e voltada para o universo do individual, faltam todas as possíveis relações que resgatam o universo filosófico e possibilitam a formação dos eixos centrais das condições de sobrevivência do sistema humano na busca do bem comum. Quando temos normas privadas ou de grupos que visam apenas a interesses determinados ou de categorias de pessoas que não têm respeito ou dignidade, elas representam o máximo das atitudes antiéticas possíveis. Hoje, é comum confundir a ética com as normas éticas impostas pela tradição, pela dominação política e pela educação. Existe uma definição universal da ética que preconiza sob os imperativos do consenso, ser a dignidade não dependente de nenhuma circunstância, pois é qualidade inerente ao ser humano, e a norma ética é interiorizada no seu real valor. É mais fácil e mais cômodo obedecer à regra de não matar do que à de salvar o maior número de vidas possível. Matar não é significativamente pior do que deixar morrer. O que é pior, a intenção ou o descaso? Para você pode ter diferença, mas para quem morre tanto faz. Ser ético é escolher a melhor premissa, perguntando-se sempre qual é o melhor caminho para fazer bem. O que é bem nessa situação? Ficar aberto 29 ao questionamento é permitir ter uma perspectiva ética. O que for moral oferece normas de como agir em direção do bem. Para cada situação ou realidade, novas perguntas devem ser feitas, pois a moral não se questiona, mas a ética, sim. Ela é dinâmica no tempo e nas circunstâncias. Ética dos fins ou ética dos bens É representada pela defesa de valores fundamentais denominados de bem comuns e suas manifestações mais importantes são: hedonismo, utilitarismo, eudemonismo e ética dos valores para os quais o fim último é respectivamente o prazer, o útil, a felicidade e os valores. Morais deontológicas ou do dever ou da lei – as que afirmam que o critério supremo é o Dever ou as Leis. O termo deontologia surgiu das palavras gregas “déon, déontos” que significam dever e “lógos” e se traduzem por discurso ou tratado. Sendo assim, a deontologia seria o tratado do dever ou o conjunto de deveres, princípios e normas adaptadas por um determinado grupo profissional. Logo, a deontologia é uma disciplina da ética especial adaptada ao exercício da uma profissão. Morais situacionais e relativistas – são as que se recusam a construir a moral sobre um princípio absoluto, seja ele o fim último ou o dever. Sem alguma base, algum critério objetivo, não é possível escolher um sistema moral bom em lugar de um ruim. Se ambos são igualmente emotivos e irracionais, são ambos igualmente arbitrários tornando qualquer diferença entre eles apenas produto de propensões acidentais ou caprichos pessoais. Nenhuma escolha poderia ser racionalmente defendida. A humanidade é carregada de regras morais, fundamentada ora no cientificismo, ora no transcendente, mas ambos carentes de ética. Assim, “vale tudo” para você ser feliz (por exemplo, cometer adultério, mas desde que em segredo); “você pode” tudo (comer, beber, jogar, se drogar, assistir ao que quiser curtir a vida adoidado, até dizer coisas que depreciem os outros ou até passar por cima dos outros para conseguir sua meta). 30 Em outras palavras, alguém que assistiu a repetidas cenas fictícias de estupro, de assaltos, de corrupção, tende a ficar mais insensível diante de outras cenas semelhantes. A ética é mais ampla e universal durando mais tempo, enquanto a moral é restrita e funciona em determinados campos da conduta humana em determinados períodos. A moral nasce da ética e se a ética desce de sua generalidade e de sua universalidade, fala-se da existência de uma moral. Mecanismos que são fundamentos das regras do direito e da moral: para sobreviver, o homem se conforma com tais regras e não pode agir de outro modo. É preciso ser ético, porém, a Ética é algo maior, e a moral algo mais limitado, restrito; de maneira que podemos dizer sob esse ângulo de análise, que a ética é um estudo ou uma reflexão sobre o comportamento moral dos indivíduos em uma determinada sociedade. PARTE 2 - ÉTICA PROFISSIONAL As lideranças sociais têm um poder e uma responsabilidade decisivos em relação à ética. Nenhuma nação, povo, ou grupo social pode realizar seu projeto histórico sem lideranças. A liderança social é o elemento de ligação entre os interesses do grupo social e as oportunidades históricas disponíveis para realizá-los. A responsabilidade ética da liderança, portanto, se pudesse ser medida, teria o tamanho e o peso dos direitos reunidos de todos aqueles que ela representa e lidera. A liderança social tem uma tripla responsabilidade ética: institucional, pessoal e educacional. Institucional, porque devem cumprir fel e estritamente os deveres que lhe são atribuídos. Liderança pessoal porque devem ser cada uma delas, um exemplo de cidadania: justas e eticamente íntegras. 31 Liderança educacional porque, além de ser um exemplo, deve dialogar com os que ela lidera, de modo a ampliar a sua consciência política e a fazê-los crescer na cidadania. A moral disciplina o comportamento do homem consigo mesmo. Tratam dos costumes, deveres e modo de proceder dos homens com os outros homens, segundo a justiça e a equidade natural, ou seja, os princípios éticos e morais são na verdade os pilares da construção de uma identidade profissional e sua moral mais do que sua representação social contribui com a formação da consciência profissional. Os princípios éticos e morais são, na verdade, os pilares da construção de um profissional que representa o Direito Justo, distinguindo-se por seu talento e principalmente por sua moral e não pela aparência. De forma sintética, João Baptista Herkenhoff (2001) exterioriza sua concepção de ética; o mundo ético é o mundo do “deve ser” (mundo dos juízos de valor), em contraposição ao mundo do “ser” (mundo dos juízos de realidade). Todavia, “a moral é a parte subjetiva da ética”. “O homem nem sempre pode o que quer, nem quer sempre o que pode. Ademais, sua vontade e seu poder não concordam com seu saber. Quase sempre as circunstâncias externas determinam a sua sorte.” (D’HONDT, 1966, p. 105). A Ética Profissional e a Filosofa do Agir Humano – O Ser Ético/Axiológico. É a vida do bem em organizações humanas. A vida plenamente humana, “programa pedagógico esse que visa formar o jovem profissional, que participa da cidadania, assumindo com plena consciência a recíproca relação entre direitos e deveres”, consiste essa mesma existência da esfera profissional. Esse mundo humano – ser ético/axiológico não é uma dádiva da natureza. É uma conquista cultural. Destino das sociedades institucionalizadas, em sua dimensão ético-profissional, a de enveredarem pelos obscuros caminhos da cidade sem lei. 32A ética é aplicada no campo das atividades profissionais. Assim, a ética profissional é ainda indispensável ao profissional, porque na ação humana “o fazer” e “o agir” estão interligados. O fazer diz respeito à competência, à eficiência que todo profissional deve possuir para exercer bem a sua profissão. O agir se refere à conduta do profissional, ao conjunto de atitudes que deve assumir no desempenho de sua profissão. O estudo e o conhecimento da Deontologia (do grego deontos = dever e logos = tratado) se voltam para a ciência dos deveres, no âmbito de cada profissão. É o estudo dos direitos, emissão de juízos de valores, compreendendo a ética como condição essencial para o exercício de qualquer profissão. A ética é indispensável ao profissional, porque na ação humana “o fazer” e “o agir” estão interligados. O fazer diz respeito à competência, à eficiência que todo profissional deve possuir para exercer bem a sua profissão. O agir se refere à conduta do profissional, ao conjunto de atitudes que deve assumir no desempenho de sua profissão. Tanto a moral como o direito baseiam-se em regras que visam estabelecer certa previsibilidade para as ações humanas. Ambas, porém, se diferenciam. A moral estabelece regras que são assumidas pela pessoa, como uma forma de garantir o seu bem-viver. Independe das fronteiras geográficas e garante uma identidade entre pessoas que sequer se conhecem, mas utilizam este mesmo referencial moral comum. O direito busca estabelecer o regramento de uma sociedade delimitada pelas fronteiras do Estado. As leis têm uma base territorial, que valem apenas para a área geográfica onde uma determinada população ou seus delegados vivem. A ética é o estudo geral do que é bom ou mau, correto ou incorreto, justo ou injusto, adequado ou inadequado. Um dos seus objetivos é a busca de justificativas para as regras propostas pela Moral e pelo Direito. Ela é diferente de ambos – Moral e Direito – pois não estabelece regras. 33 Esta reflexão sobre as ações realizadas no exercício de uma profissão deve iniciar bem antes da prática profissional. A fase da escolha profissional, ainda durante a adolescência muitas vezes, já deve ser permeada por esta reflexão. A escolha por uma profissão é optativa, mas ao escolhê-la, o conjunto de deveres profissionais passa a ser obrigatório. Geralmente, quando você é jovem, escolhe sua carreira sem conhecer o conjunto de deveres que está prestes a assumir, tornando-se parte daquela categoria. Toda a fase de formação profissional, o aprendizado das competências e habilidades, referentes à prática específica numa determinada área, devem incluir a reflexão, antes do início dos estágios. Ao completar a formação em nível superior, a pessoa faz um juramento, que significa sua adesão e comprometimento com a categoria profissional onde formalmente ingressa. Isso caracteriza o aspecto moral da chamada Ética Profissional, a adesão voluntária a um conjunto de regras estabelecidas como sendo as mais adequadas para o seu exercício. É fundamental ter sempre em mente que há uma série de atitudes que não estão descritas nos códigos de todas as profissões, mas que são comuns a todas as atividades que uma pessoa pode exercer. Atitudes de generosidade e cooperação no trabalho em equipe, mesmo quando exercidas solitariamente em uma sala, fazem parte de um conjunto maior de atividades que dependem do bom desempenho desta. Uma postura proativa, por exemplo, é não ficar restrito às tarefas solicitadas, mas contribuir para o engrandecimento do trabalho, mesmo que temporário. Se sua tarefa é varrer ruas, você pode se contentar em varrer e juntar o lixo, mas você pode também tirar o lixo que vê que está prestes a cair na rua, podendo futuramente entupir uma saída de escoamento e causando uma acumulação de água quando chover. O varredor de rua que se preocupa em limpar o canal de escoamento de água da chuva; o auxiliar de almoxarifado que verifica se não há umidade 34 no local destinado para colocar caixas de alimentos; o médico cirurgião que confere as suturas nos tecidos internos antes de completar a cirurgia; a atendente do asilo que se preocupa com a limpeza de uma senhora idosa após ir ao banheiro; o contador que impede uma fraude ou desfalque, ou que não maquia o balanço de uma empresa; o engenheiro que utiliza o material mais indicado para a construção de uma ponte, todos estão agindo de forma eticamente correta em suas profissões, ao fazerem o que não é visto, ou aquilo que, alguém vendo, não saberá quem fez. As leis de cada profissão são elaboradas com o objetivo de proteger os profissionais, as pessoas que dependem deles. Há, porém muitos aspectos não previstos especificamente e que fazem parte do compromisso do profissional com a ética, aquele que, independentemente de receber elogios, faz a coisa certa. Outro conceito interessante de examinar é o de profissional, como aquele que é regularmente remunerado pelo trabalho que executa ou atividade que exerce, em oposição ao amador. Nessa conceituação, diria-se que aquele que exerce atividade voluntária não seria profissional, e esta é uma conceituação polêmica. Na realidade, voluntário é aquele que se dispõe, por opção, a exercer a prática profissional não remunerada, seja com fins assistenciais, ou prestação de serviços em beneficência, por um período determinado ou não. É imprescindível estar sempre bem informado, acompanhando não apenas as mudanças nos conhecimentos técnicos da sua área profissional, mas também nos aspectos legais e normativos. Vá e busque o conhecimento. Muitos processos administrativos e jurídicos no âmbito da quebra da disciplina ética profissional nos conselhos profissionais, acontecem por desconhecimento da própria ética profissional e negligência com os valores éticos e morais. Quais sejam: Competência técnica, aprimoramento constante, respeito às pessoas, confidencialidade, privacidade, tolerância, flexibilidade, fidelidade, envolvimento, afetividade, correção de conduta, boas maneiras, relações interpessoais 35 verdadeiras, responsabilidade, confiança e outras formam composições para um comportamento eticamente adequado. A função principal de um código de ética é começar pela definição dos princípios que o fundamentam e se articula em torno de dois eixos de normas: direitos e deveres. Ao definir direitos, o código de ética cumpre a função de delimitar o perfil do seu grupo. Ao definir deveres, abre o grupo à universalidade. A definição de deveres deve ser tal, que por seu cumprimento, cada membro daquele grupo social realize o ideal de ser humano. O processo de produção de um código de ética deve ser por si só um exercício de ética. Caso contrário, nunca passará de um simples código moral defensivo de uma corporação. A formulação de um código de ética precisa, pois, envolver intencionalmente todos os membros do grupo social que ele abrangerá e representará. Isso exige um sistema ou processo de elaboração de baixo para cima, do diverso ao unitário, construindo-se consensos progressivos, de tal modo que o resultado final seja reconhecido como representativo de todas as disposições morais e éticas do grupo. A elaboração de um código de ética, portanto, realiza-se como um processo ao mesmo tempo educativo no interior do próprio grupo. Deve resultar num produto tal, que cumpra ele também uma função educativa e de cidadania diante dos demais grupos sociais e de todos os cidadãos. Um código de ética não tem força jurídica de lei universal, porém deveria ter força simbólica para tal. Embora um código de ética possa prever sanções para os descumprimentos de seus dispositivos, estas dependerão sempre da existência de uma legislação, que lhe é juridicamente superior, e por ela limitado. Por essalimitação, o código de ética é um instrumento frágil de regulação dos comportamentos de seus membros. Essa regulação só será ética quando o código de ética for uma convicção que venha do íntimo das pessoas. Isso aumenta a responsabilidade do processo de elaboração do código de ética, para que ele tenha a força da legitimidade. Quanto mais democrático e participativo esse processo, maiores as chances de 36 identificação dos membros do grupo com seu código de ética e, em consequência, maiores as chances de sua eficácia. O princípio fundamental que constitui a ética é este: o outro é um sujeito de direitos e sua vida deve ser digna tanto quanto a minha deve ser. O fundamento dos direitos e da dignidade do outro é a sua própria vida e a sua liberdade (possibilidade) de viver plenamente. As obrigações éticas da convivência humana devem pautar-se não apenas por aquilo que já temos, realizamos, somos, mas também por tudo aquilo que poderemos vir a ter, a realizar, a ser. As nossas possibilidades de ser são parte de nossos direitos e de nossos deveres. É parte da ética da convivência. A atitude ética é uma atitude de amor pela humanidade. A moral tradicional do liberalismo econômico e político acostumaram-nos a pensar que o campo da ética é o campo exclusivo das vontades e do livre arbítrio de cada indivíduo. Nessa tradição, também, a organização do sistema econômico- político-jurídico seria uma coisa “neutra”, “natural”, e não uma construção consciente e deliberada dos homens na sociedade. Um código de ética não tem força jurídica de lei universal, porém deveria ter força simbólica para tal. Embora um código de ética possa prever sanções para os descumprimentos de seus dispositivos, estas dependerão sempre da existência de uma legislação, que lhe é juridicamente superior, e por ela limitado. Por essa limitação, o código de ética é um instrumento frágil de regulação dos comportamentos de seus membros. Essa regulação só será ética quando o código de ética for uma convicção que venha do íntimo das pessoas. Isso aumenta a responsabilidade do processo de elaboração do código de ética, para que ele tenha a força da legitimidade. Quanto mais democrático e participativo esse processo, maiores as chances de identificação dos membros do grupo com seu código de ética e, em consequência, maiores as chances de sua eficácia. O princípio fundamental que constitui a ética é este: o outro é um sujeito de direitos e sua vida deve ser digna tanto quanto a minha deve ser. O 37 fundamento dos direitos e da dignidade do outro é a sua própria vida e a sua liberdade (possibilidade) de viver plenamente. As obrigações éticas da convivência humana devem pautar-se não apenas por aquilo que já temos, realizamos, somos, mas também por tudo aquilo que poderemos vir a ter, a realizar, a ser. As nossas possibilidades de ser são parte de nossos direitos e de nossos deveres. É parte da ética da convivência. A atitude ética é uma atitude de amor pela humanidade. A moral tradicional do liberalismo econômico e político acostumaram-nos a pensar que o campo da ética é o campo exclusivo das vontades e do livre arbítrio de cada indivíduo. Nessa tradição, também, a organização do sistema econômico- político-jurídico seria uma coisa “neutra”, “natural”, e não uma construção consciente e deliberada dos homens na sociedade. CÓDIGOS DE ÉTICA PROFISSIONAL E SUAS REGRAS DEONTOLÓGICAS É preciso discutir e refletir sobre o que temos sobre código de ética, moral, deontologia, etiqueta, código disciplinar, código de direitos e deveres e sanções, no âmbito dos direitos universais. Na formação profissional existem dois princípios fundamentais: o da eficácia e o da eficiência. O primeiro exige que a formação seja feita tendo em vista um objetivo mensurável. O segundo que este seja atingido ao menor custo. Podemos ter um, uma formação eficaz, mas pouco eficiente, e vice-versa. Segundo Edgar Morin: “A ética se manifesta em nós de maneira imperativa, como exigência moral”. Esse imperativo origina-se de três fontes interligadas entre si: uma fonte interior ao indivíduo que se manifesta como um dever; outra externa, constituída pela cultura, e que tem a ver com a regulação das regras coletivas; e, por fim, uma fonte anterior, originária da organização viva e transmitida geneticamente. Edgar Morin diz que no mundo da globalização onde as relações desiguais sedimentam a natureza humana a existência de uma “ética da solidariedade” que rejeite todas as misérias, as desigualdades, a intolerância, as 38 barbáries e fundamentalismo de toda ordem, daí a necessidade de um princípio holístico que seja baseado numa totalidade simplificante. Nossa preocupação encontra os filósofos modernos, defensores da filosofia analítica que afirmam que toda e qualquer manifestação moral é fundamentalmente forma de expressão emocional, sem nenhuma base racional. Sob essa reflexão, o mundo está cheio de pseudofilósofos que separam o “deve” do “ser”, distanciando qualquer fundamentação filosófica. Sob esta ótica, como é possível que seres humanos consigam concordar até de cultura para cultura quanto à variedade de princípios morais e legais? E, mais importante, como é possível que sistemas legais e morais evoluam, ao longo dos séculos, na ausência do próprio fundamento racional ou teológico que os filósofos modernos tão eficientemente estão destruindo. É preciso refletir sobre a deontologia da ética profissional como uma ciência que estabelece normas diretoras das atividades profissionais sob o signo de retidão moral ou honestidade estabelecendo o bem a fazer e o mal a evitar no exercício da profissão. Partindo do pressuposto de que toda atividade profissional é sujeita à norma moral, a deontologia profissional elabora sistematicamente os ideais e as normas que devem orientar a atividade profissional, devendo ter o seguinte esquema básico de conduta profissional: a) Na área da profissão, a deontologia interprofissional terá como norma fundamental – zelar, com sua competência profissional e honestidade, pelo bom nome ou reputação da profissão exercida. Sublinhamos competência e honestidade, pois a reputação da profissão não deve ser procurada por si mesma ou a qualquer preço, mas deve ser a consequência natural dos valores e princípios éticos dos membros de uma organização, no exercício das ações à luz do Direito Constitucional, comprometidos com o bem comum social segundo as atividades laborais que a profissão proporciona. b) Na área da ordem profissional, ou seja, na relação com seus pares e colegas de profissão, a norma fundamental será – culto de lealdade e 39 solidariedade profissionais evitando críticas levianas, competição e concorrência desleal, sem descambar, naturalmente para o acobertamento de qualquer ação dos colegas, sem nunca ferir a verdade, a justiça ou a moral, fugindo de toda “máfia, de pactos de silêncio e de sociedades secretas”, pois não são necessárias. c) Na área da clientela profissional, composta por usuários dos serviços profissionais (verdadeiro coração da deontologia profissional), deverá haver três normas fundamentais – execução íntegra do serviço conforme o combinado com o usuário. Sempre que o pedido seja moralmente lícito no plano objetivo, não vá contra o bem comum, contra terceiros ou contra o próprio solicitante. Se, do ponto de vista técnico, o pedido é menos seguro, bom ou tem consequências não previstas pelo solicitante, deve o profissional esclarecer o cliente, mostrando-lhe as inconveniências existentes e os procedimentos para melhor execução. Após, pode deixar o cliente decidir e assumir toda a responsabilidade pelas consequências, exceto se houver prejuízos ao bem comum ou a terceiros. A remuneração justa – nunca por motivo algum,
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