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HISTÓRIA INDÍGENA E A UTILIZAÇÃO DE FONTES DO SÉCULO XVII NA PESQUISA E NO ENSINO-LAIS MARTINS-2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ 
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS 
 CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA 
 
LAÍS CRISTIANE MARTINS FREITAS 
 
 
 
 
 
 
 
HISTÓRIA INDÍGENA E A UTILIZAÇÃO DE FONTES DO SÉCULO XVIII 
NA PESQUISA E NO ENSINO DE HISTÓRIA: UMA EXPERIÊNCIA EM 
AULAS-OFICINA COM ESTUDANTES DO ENSINO FUNDAMENTAL DE 
MACAPÁ (AMAPÁ) 
 
 
 
 
 
 
MACAPÁ-AP 
2018 
 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ 
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS 
 CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA 
 
LAÍS CRISTIANE MARTINS FREITAS 
 
 
 
 
HISTÓRIA INDÍGENA E A UTILIZAÇÃO DE FONTES DO SÉCULO XVIII 
NA PESQUISA E NO ENSINO DE HISTÓRIA: UMA EXPERIÊNCIA EM 
AULAS-OFICINA COM ESTUDANTES DO ENSINO FUNDAMENTAL DE 
MACAPÁ (AMAPÁ) 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado ao Colegiado de Licenciatura 
em História, como parte dos requisitos 
exigidos para a obtenção do grau de 
Licenciada em História. 
 
Orientadora: Prof.ª Dra. Cecília Maria 
Chaves Brito Bastos. 
 
 
Versão corrigida 
 
MACAPÁ-AP 
2018 
 
 
 
 
LAÍS CRISTIANE MARTINS FREITAS 
 
HISTÓRIA INDÍGENA E A UTILIZAÇÃO DE FONTES DO SÉCULO XVIII 
NA PESQUISA E NO ENSINO DE HISTÓRIA: UMA EXPERIÊNCIA EM 
AULAS-OFICINA COM ESTUDANTES DO ENSINO FUNDAMENTAL DE 
MACAPÁ (AMAPÁ) 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado ao Colegiado de Licenciatura 
em História, como parte dos requisitos 
exigidos para a obtenção do grau de 
Licenciada em História. 
 
 
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado pelo colegiado do Curso de 
Licenciatura em História da Universidade Federal do Amapá. 
 
 
Banca Examinadora 
 
___________________________________________________ 
Prof.ª Dra. Cecília Maria Chaves Brito Bastos (Orientadora) 
Universidade Federal do Amapá (UNIFAP) 
 
__________________________________________________ 
Prof. Dr. Giovani José da Silva (Membro) 
Universidade Federal do Amapá (UNIFAP) 
 
__________________________________________________ 
Prof.ª Dra. Simone Garcia Almeida (Membro) 
Universidade Federal do Amapá (UNIFAP) 
Data: _________/_________/__________ 
 
 
 
Dedico este trabalho a Deus. Às 
minhas avós Arcângela Gonçalves e 
Izabel Jardim. E a todos que se 
dedicam a História Indígena e o 
Ensino de História. 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 Ao meu Deus, por ter me conduzido nessa caminhada com fé, esperança e 
sabedoria. Toda a honra e glória seja dada a Ele. A minha família, meus pais Manoel e 
Elizabete e o meu irmão Bruno pelo amor, carinho e dedicação. Obrigada, por acreditarem 
e investirem os seus esforços na concretização desse sonho. Ao meu primo Paulo Vitor 
pelo grande apoio na realização das aulas-oficina na Escola Barão, também ao seu 
Ribamar e dona Otaviana, pessoas iluminadas. 
A minha orientadora, prof.ª Dra. Cecília Maria Chaves Brito Bastos pela sábia 
instrução, suas orientações foram primordiais para que esse trabalho reunisse tanto a 
pesquisa como o Ensino de História. Obrigada pelas críticas construtivas, pela condução 
dos estudos e dos debates, os quais amadureceram a escrita e possibilitaram desenvolver 
o objeto de estudo. Sou grata pelo seu carinho e generosidade e pelo grande aprendizado 
acadêmico e pessoal. 
Ao prof. Dr. Giovani José da Silva que juntamente com a prof.ª Cecília me 
estimularam a pesquisar sobre a História Indígena ainda no começo da graduação. 
Agradeço ao professor Giovani pelas aulas produtivas e estimulantes, espero desenvolver 
com responsabilidade e ética o que aprendi nas aulas de Prática de Ensino. Agradeço por 
suas considerações precisas na banca de qualificação do pré-projeto e na avaliação desse 
trabalho. 
Agradeço gentilmente a prof. Dra. Simone Garcia Almeida por ter aceitado o 
convite avaliar esse estudo, foram muito pertinentes os pontos elencados e discutidos, 
sem dúvida, observações primorosas. Ao Prof. Dr. Sidney Lobato, pelas orientações na 
construção do pré-projeto de TCC e a professora Dra. Lara de Castro por ter sugerido o 
tema do “Diretório dos Índios” nas aulas de Amazônia Portuguesa. 
 Aos meus tios, Domingos e Maria e primos Gediney, Michel e Lucas por me 
terem me acolhido em Belém quando participei do II Encontro do Grupo de Pesquisa 
sobre a História Indígena e do Indigenismo na Amazônia (HINDIA) ocorrido em 2016. 
Com certeza, foi uma grande experiência acadêmica e pessoal que despertou ainda mais 
o interesse pela temática da História Indígena, pois ainda existem muitos objetos de 
 
 
estudo que podem ser abordados tanto na História Indígena como no Ensino de História 
Indígena, sobretudo, no Estado do Amapá. 
 A Universidade Federal do Amapá (UNIFAP) pela formação e assistência 
acadêmica, ao Colegiado e coordenação do Curso de História pela instrução e auxílio, ao 
Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas do Amapá (CEPAP), onde fui bolsista e 
tive o apoio intelectual e financeiro para estudar e apresentar os resultados iniciais e 
parciais desse trabalho. Aos técnicos, Anastácio Penha e Eraldo Ribeiro, pela ajuda e 
amizade. 
 A Escola Barão do Rio Branco, em especial, aos professores Arlete, Doval, 
Denise, Elcivana, Estela, Francisco e Rômulo pela ajuda e disponibilidade quando realizei 
o Estágio Supervisionado e posteriormente as aulas-oficina na escola. Meus sinceros 
agradecimentos aos estudantes da turma 8ª série “A” pela colaboração nas aulas-oficina, 
certamente, tive uma das melhores experiências acadêmicas. 
 Aos amigos e amigas, Juliana Belfor Danilo Pacheco, Izeth Beltrão, Alcione 
Barros, Leandro Freitas, Alcirene Barros, Daniel Silva, Darcinei Neves, Francisco Gilson, 
Iana Richene, Maria Aldeliza, Jéssica, Josibeto e Mauriseia pelo grande apoio. 
O meu carinho e admiração a equipe incansável do Projeto Memorial MP-AP: 
Prof.ª Cecília, Prof.ª Simone, Prof.ª Daguinete, Prof.ª Jelly, Izeth, Elen Vitória, 
Alessandra e Jackeline. Obrigada pelo apoio e aprendizado constante. 
Para finalizar, agradeço a todas as pessoas que de alguma forma, direta ou 
indiretamente contribuíram nessa caminhada acadêmica. O meu sincero, obrigada! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
O estudo enfoca os povos indígenas da Amazônia Portuguesa, no Cabo Norte (Amapá), 
no período em que vigorou o Diretório dos Índios (1757-1798). Objetivou-se analisar, no 
Ensino de História, as fontes documentais que produziram narrativas sobre as 
experiências da colonização, fontes que “silenciaram” a participação e a resistência dos 
“índios” no processo histórico, produzindo imagens e discursos equivocados a respeito 
dos “índios” no Brasil. Assim, considerando o que estabelece a Lei 11.645/2008, quanto 
a obrigatoriedade da História e da Cultura Indígena em sala de aula, elaborou-se o projeto 
“Desconstruindo imagens e representações indígenas” para ser aplicado nas aulas de 
História da 8ª série, com fontes do século XVIII (período colonial no Amapá). Utilizou-
se os procedimentos a seguir: 1) pesquisa com fontes coloniais; 2) elaboração de Aulas-
Oficinas; 3) seleção de uma turma do ensino fundamental para desenvolver as atividades 
programadas e 4) efetivação de aulas-oficina junto a estudantes da 8ª série de uma escola 
pública de Macapá. Nas Aulas-Oficina recorremos ao processo de sensibilização dos 
estudantes para a temática da História Indígena, evidenciando os povos indígenas como 
autores de suas experiências no contexto colonial e contemporâneo, sem negar a 
exploração e a dominação colonial. Após esse processo os estudantes fizeram leitura e 
interpretação de documentos históricos referentes ao Cabo Norte, segunda metade do 
século XVIII, destacando a história dos indígenas que viveram e vivem no Amapá. 
Concluiu-se que a experiência com as Aulas-Oficina, por meio do uso de fontes 
documentais no ensino da História Indígena é uma via possível para a aplicabilidade da 
Lei 11.645/2008 com estudantes do Ensino Fundamental e para o exercíciode 
“descolonizar” imagens e ideias equivocadas que desqualificam o protagonismo e as 
vivências dos povos indígenas no Brasil. 
 
 
 
Palavras-chave: Cabo Norte; Diretório dos Índios; Trabalho e Resistência indígena; 
Ensino de História; Lei n. 11.645/2008. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMMARY 
 
 
The study focuses on the indigenous peoples of the Portuguese Amazon, in the North 
Cape (Amapá), during the period in which the Indian Directory (1757-1798) was in force. 
The aim of this study was to analyze the documentary sources that produced narratives 
about the experiences of colonization, sources that "silenced" the participation and 
resistance of the "Indians" in the historical process, producing images and misleading 
speeches about the "Indians " in Brazil. Accordingly, considering what Law 11.645 / 2008 
establishes, regarding the obligation of History and Indigenous Culture in the classroom, 
the project "Deconstructing indigenous images and representations" was elaborated to be 
applied in History classes of the 8th grade, with sources of the XVIII century (colonial 
period in Amapá). The following procedures were used: 1) research with colonial sources; 
2) Preparation of Classroom-Workshops; 3) selection of a class of elementary education 
to develop the programmed activities and 4) realization of workshop classes with students 
of the 8th grade of a public school in Macapá. In the Classroom-Workshop, we used the 
students' sensitization process to the theme of Indigenous History, highlighting the 
indigenous peoples as authors of their experiences in the colonial and contemporary 
context, without denying colonial exploitation and domination. After this process students 
read and interpreted historical documents referring to the North Cape, second half of the 
eighteenth century, highlighting the history of the natives who lived and live in Amapá. 
It was concluded that the experience with the Workshop Classes, through the use of 
documentary sources in the teaching of Indigenous History, is a possible way for the 
applicability of Law 11.645 / 2008 with students of Elementary School and for the 
exercise of "decolonization" images and misconceptions that disqualify the protagonism 
and the experiences of the indigenous peoples in Brazil. 
 
 
 
 
Keywords: North Cape; Directory of Indians; Indigenous Work and Resistance; History 
teaching; Law no. 11,645 / 2008. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE IMAGENS 
 
 
IMAGEM 1: Inauguração do prédio definitivo do Grupo Escolar de Macapá ............ 61 
 
IMAGEM 2: Escola Estadual Barão do Rio Branco....................................................... 63 
 
IMAGEM 3: Primeiro dia da aplicação da aula-oficina na turma ................................. 77 
 
IMAGEM 4: Etapa da fruição e análise das músicas com os 
estudantes........................................................................................................................ 83 
 
IMAGEM 5: Etapa da exibição e discussão do vídeo com os 
estudantes........................................................................................................................ 85 
 
IMAGEM 6: Etapa da leitura e análise dos documentos escritos em grupos na 2ª aula 
oficina ............................................................................................................................ 97 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE MAPAS 
 
 
 
 
MAPA 1: Localização da Província de Pinsônia no mapa de Cândido Mendes....... 20 
 
 
MAPA 2: Mapa Etno-Histórico de Curt Nimuendaju............................................... 28 
 
 
MAPA 3: Carte de la Région Guyanase.....................................................................44 
 
 
 
 
 
LISTA DE SIGLAS 
 
APEP - Arquivo Público do Estado do Pará 
 
PCNS - Parâmetros Curriculares Nacionais 
 
LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO...............................................................................................................13 
 
I -POVOAMENTO, TRABALHO E RESISTÊNCIA: ASPECTOS DO DIRETÓRIO 
DOS ÍNDIOS NO GRÃO-PARÁ E CABO NORTE NA SEGUNDA METADE DO 
SÉCULO XVIII...............................................................................................................19 
1.1 Os povos indígenas e as políticas indigenistas no Cabo Norte: o caso da Vila de São 
José de Macapá .............................................................................................................. 23 
1.2 A Vila de Macapá: o projeto pombalino e as resistências indígenas........................ 34 
 
II - HISTÓRIA INDÍGENA E ENSINO DE HISTÓRIA..............................................46 
 
III - ENSINO DE HISTÓRIA, TEMÁTICA INDÍGENA E FONTES HISTÓRICAS: 
UMA EXPERIÊNCIA EM AULAS OFICINAS COM ESTUDANTES DO ENSINO 
FUNDAMENTAL DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE 
MACAPÁ........................................................................................................................57 
3.1 A motivação para a construção do 
projeto..............................................................................................................................58 
3.2 Perfil histórico e ambientação da 
escola.............................................................................................................................. 61 
3.3 Diagnóstico dos livros didáticos de 
História........................................................................................................................... 64 
3.4 As aulas oficinas: o trabalho com fontes históricas na sala de 
aula..................................................................................................................................73 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 106 
 
 
FONTES........................................................................................................................109 
 
 
REFERÊNCIAS........................................................................................................... 110 
 
 
APÊNDICE 1................................................................................................................113 
 
 
APÊNDICE 2 ...............................................................................................................114 
 
 
13 
INTRODUÇÃO 
O estudo enfoca os povos indígenas da Amazônia Portuguesa no Cabo Norte 
(atual estado do Amapá), no período em que vigorou o Diretório dos Índios (1757-1798), 
instituído pelo marquês de Pombal, ministro de Dom José I e redigido por Francisco 
Xavier de Mendonça Furtado, na segunda metade dos setecentos. A temática é importante 
tanto para a pesquisa histórica como para o Ensino de História. 
No campo da pesquisa histórica, ainda existem poucos trabalhos que destacam as 
experiências da aplicabilidade da lei do Diretório no Cabo Norte. O trabalho da 
historiadora Cecília Brito (1998), constitui uma das poucas pesquisas que aborda as 
experiências dos trabalhadores indígenas nessa região, identificando a importância da 
mão de obra indígena para o desenvolvimento das atividades exploratórias, mercantilistas 
e de povoamento, assim como no cotidiano e as resistências dos indígenas. Brito (1998), 
ainda afirma que no Cabo Norte os núcleos populacionais (Vilas de Macapá, Mazagão e 
Vila Vistosa) comportaram os índios (ex-aldeados ou provenientes de descimentos), os 
negros escravos (vindos do tráfico interprovincial de regiões da África), além de colonos 
portugueses. 
 O Império português encontrou nos povos indígenas do sertão amazônico a 
solução para os propósitos de ocupação e defesa das possessões lusitanas, assim a 
necessidade de transformação dos indígenas em colonos, agricultorese povoadores. O 
Diretório almejou a integração dos índios ao restante da população colonial por meio da 
religião cristã, da educação (a introdução do Nheengatu) do casamento e do trabalho 
disciplinado. 
O “Diretório dos Índios”, que vigorou entre 1757-1798, é um documento 
substituto ao Regimento das Missões (1686-1755) que marcou a atuação dos religiosos 
na Amazônia portuguesa com forte influência espiritual e ideológica sobre as populações 
indígenas. Com o Diretório, instrumento civil de noventa e cinco artigos, o Estado 
português passou a estabelecer ações de povoamento e ocupação para o espaço 
amazônico, reorganizando relações econômicas e sociais com base na mão de obra 
indígena. 
Autores como Rosa Elizabeth Acevedo Marin (1999), Nírvia Ravena (2005) e 
José Alves de Souza Júnior (2013) trataram de aspectos relevantes nesse processo de 
reorganização do espaço colonial amazônico: entrada de diretores nas povoações 
indígenas (substituindo os missionários), da criação da Companhia do Comércio do Grão-
14 
Pará (com vinte anos de funcionamento) e os incentivos populacionais (casamentos 
interétnicos entre colonos brancos e índias). 
Mais recentemente Marcus Bararuá e Rafael Chambouleyron (2014) 
identificaram que a inserção e o funcionamento das políticas indigenistas, com base no 
Diretório, tiveram como cenário o Cabo Norte (região do atual estado do Amapá) situado 
na província do Grão-Pará. Essa região marcada por especificidades geográficas e 
regionais, desde o século XVII, despertava interesses políticos e econômicos de várias 
nacionalidades. 
Com a decretação do Diretório houve mudanças nas formas de trabalho na 
Amazônia Portuguesa. Os indígenas vivenciaram várias experiências e desafios na região 
quanto aos trabalhos exigidos pela coroa e pelos colonos: na agricultura, nas obras de 
fortificação e das vilas (Macapá, Mazagão e Vila Vistosa), na defesa militar da região, 
entre outros. O tempo e a disciplina do trabalho na agricultura e nas obras públicas, foram 
marcas do sistema do Diretório. A legislação era desrespeitada pelos diretores, a 
violência, como agressões físicas, o excesso de trabalho nas construções, o aparecimento 
de doenças (doença de “bexigas” ou Varíola) devido à regrada e péssima alimentação 
nesses locais, como na construção da Fortaleza de Macapá, contribuíram excessivamente 
para o desgaste, fugas e mortalidade de indígenas na região do Cabo Norte. 
Essas condições levaram os indígenas, também, a terem experiências voltadas 
para momentos de resistências pela recusa ao trabalho diário, pelas fugas, pelas 
bebedeiras devido as péssimas condições de trabalho e de sobrevivência (BRITO, 1998), 
pelas dificuldades em administrar as vilas de Macapá e Mazagão, atender ao consumo e 
o abastecimento interno nas vilas (MARIN, 1999; RAVENA, 2005). 
Assim, a historiografia já produzida sobre a temática, especificamente no Cabo 
Norte, situado na costa setentrional do Grão Pará, instiga a responder a seguinte questão: 
como utilizar fontes do século XVIII, especificamente sobre a participação dos indígenas 
durante a vigência do Diretório dos Índios estabelecido pelo Império português, nas aulas 
de História do Ensino Fundamental em Macapá, de modo a colocar em prática o que prevê 
a lei 11.645/2008? 
Minha experiência alicerçada durante as aulas de História do Amapá e da 
Amazônia Portuguesa, História e Historiografia Indígena e Seminário de Prática de 
Ensino de História levou-me a pensar que há possibilidade de fazer um trabalho com as 
fontes documentais (produzidas pelo estado português durante a vigência do Diretório 
dos Índios) para repensarmos no Ensino de História os mecanismos de dominação 
15 
aplicados aos indígenas, utilizando as narrativas impressas nesses documentos para 
descolonizar imagens e discursos equivocados a respeito dos índios no Brasil. Além disso, 
é possível despertar os estudantes para as experiências vivenciadas pelos indígenas no 
passado e no presente, ressaltando não apenas a submissão dessas populações ao projeto 
português, mas também suas formas de participação e resistência até os dias de hoje. 
Deste modo, o trabalho concentra a pesquisa e a análise dos documentos do 
século XVIII com narrativas acerca dos povos indígenas que vivenciaram a política 
pombalina (decorrente do Diretório dos Índios) na região do Cabo Norte, além de outros 
materiais como as músicas: “Um índio” (1977) e “Todo dia era dia de índio” (1981) e 
respectivamente um vídeo da série “Vídeo nas aldeias” (2000) que foi produzido pelos 
próprios indígenas em parceira com o Ministério da Educação (MEC) e TV Escola, para 
serem utilizados no ensino de História, de forma a atender o que estabelece a Lei 
11.645/2008 quanto a obrigatoriedade da História e da Cultura Indígena em sala de aula. 
Para compor o primeiro capítulo, utilizei a bibliografia atrelada a análise das 
correspondências oficiais. Face a isso, foi possível identificar e discutir a participação e 
as experiências indígenas no projeto dos missionários e no projeto pombalino. As 
legislações (Regimento das Missões e Diretório dos Índios) remodelaram o cotidiano dos 
indígenas impondo-lhes regras de conduta e trabalhos diversificados. Todavia, na 
vigência dessas legislações indigenistas, houve momentos alternados entre a submissão e 
a liberdade movidas por intermédio de negociações como discutem Cecília Maria Chaves 
Brito (1998), Nírvia Ravena (1999), Flávio dos Santos Gomes (2005), John Manuel 
Monteiro (2009), Manuela Carneiro da Cunha (2009), Maria Regina Celestino de 
Almeida (2010) e José Alves de Souza Júnior (2010, 2013). 
No segundo capítulo, consta a discussão sobre a temática da História Indígena no 
Ensino de História utilizando pesquisas de Luís Donizete Benzi Grupioni (1995), José 
Ribamar de Bessa Freire (2002), John Monteiro (2009), Manuela da Cunha (2009), Maria 
Celestino de Almeida (2010), Edson Machado de Brito (2009) e Giovani José da Silva 
(2015), entre outros autores, que têm abrangido diversos temas no campo da História 
Indígena e no ensino da temática indígena na Educação Básica. A identificação e 
interpretação da resistência dos povos indígenas no pretérito e no presente, foi 
proporcionada pelo diálogo mais próximo entre a História e a Antropologia, sobretudo, 
na proposta da “Nova História Indígena”, que tem se dedicado e atribuído novos sentidos 
e métodos de compreensão sobre as trajetórias indígenas no contexto colonial e 
16 
contemporâneo, com repercussão nas pesquisas acadêmicas sobre a História indígena e 
do Indigenismo e sobretudo, no ensino da temática nas escolas não indígenas do Brasil. 
Imagens e discursos nas legislações indigenistas, como foi no Diretório pombalino 
do século XVIII e nos documentos assinados por autoridades coloniais, demonstram a 
tentativa de apagamento das diferenças culturais e a inclusão involuntária na sociedade. 
O Império português reivindicou para si a tutela das sociedades indígenas, mesmo com 
todas as contradições da legislação e a relutância dos povos indígenas ao sistema 
assimilador. Trabalhar tais questões implica em repensar esses mecanismos não somente 
na história do indigenismo colonial, mas também no próprio Ensino de História, uma vez, 
que as imagens e ideias equivocadas criadas a respeito dos índios no Brasil, derivam de 
narrativas e experiências da colonização, que por séculos “silenciaram” a participação das 
sociedades indígenas nesse processo histórico, inclusive na história da Amazônia 
portuguesa setecentista. 
 O terceiro capítulo relata a aplicação do projeto de intervenção docente, 
intitulado: “Desconstruindo imagens e representações indígenas nas aulas de 
História”, realizado com estudantes da 8ª série da Escola Estadual Barão do Rio Branco, 
na qual fui aluna dos anos finais do Ensino Fundamental, entre os anos de 2005 a 2008. 
Atualmente, a Escola Barão está situada em um prédio alugadono bairro Central de 
Macapá no estado do Amapá. 
 O projeto de intervenção docente, a princípio, foi construído durante as aulas de 
Estágio Supervisionado em Docência, como avaliação parcial. No entanto, foi durante o 
desenvolvimento desta monografia que resolvi aproximar e conciliar a pesquisa histórica 
e o ensino de História Indígena no pretérito e no presente mediante o uso de fontes 
históricas (músicas brasileiras, documentário e duas correspondências oficiais sobre o 
Cabo Norte) na sala de aula, por meio da realização de duas aulas-oficina. 
Seguindo as orientações dos Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), Isabel 
Barca (2004), Circe Maria Fernandes Bittencourt (2011), Selva Guimarães (2012), Flávia 
Eloisa Caimi (2012) e Giovani José da Silva (2015), foram utilizadas fontes históricas 
(músicas brasileiras, vídeo produzido por indígenas e documentos coloniais) para 
identificar as possibilidades e os desafios na incorporação desses materiais no estudo da 
temático étnico-racial no Ensino de História Indígena. Uma vez, que o uso desses recursos 
ainda não é uma realidade concreta em muitas salas de aula e porque ainda existem poucos 
livros didáticos regionais sobre a história do Amapá. 
17 
 Observando a existência de poucos livros didáticos que abordam a temática 
étnico racial no âmbito local, realizei a avaliação de três livros didáticos de História, que 
estão na biblioteca e foram utilizados por alunos e professores da Escola Barão. O 
primeiro livro, “Estudar história: das origens do homem à era digital” (2015), concentra 
uma abordagem cronológica e linear a partir de temas políticos e sociais. O segundo e o 
terceiro livros, respectivamente, “Amapá: Vivendo a nossa História” (2008) e 
“Conhecendo o Amapá: Estudos Amazônicos/Estudos Amapaenses” (2016), apenas 
acompanharam as atividades do professor, mas não foram utilizados diretamente pelos 
estudantes da turma. Esses dois livros seguem uma temática regional, voltada para as 
questões históricas e culturais relacionadas à Amazônia brasileira e ao Estado do Amapá. 
Considerei interessante analisar os livros didáticos porque o Brasil é um dos 
países onde mais se produz livros didáticos no mundo e a produção cresce a cada ano. 
Por ser um tema relevante para a Educação Básica, constantemente, provoca críticas e 
controvérsias sobre o que têm sido veiculado nesses materiais e acerca dos impactos na 
atuação do professor na sala de aula e principalmente na formação escolar dos alunos. 
Além disso, porque é necessário realizar um diagnóstico sobre como a temática da 
História Indígena está sendo veiculada nas páginas desses materiais didáticos. 
Como metodologia no Ensino de História apliquei duas aulas-oficina conceito que 
integra a teoria da Educação Histórica, desenvolvida pela historiadora portuguesa Isabel 
Barca (2004). A teoria apresenta cinco níveis de trabalho com os estudantes que parte do 
nível da compreensão histórica e finaliza com o nível da interpretação histórica – nível 
almejado –. Na primeira aula programada, utilizei algumas sugestões de atividades a 
partir do artigo “Ensino de História Indígena” do historiador, antropólogo e professor 
Giovani José da Silva (2015), que incluiu o trabalho com duas músicas brasileiras, “Um 
índio” (1977) e “Todo dia era dia de Índio” (1981). Além disso, utilizei o vídeo “Índios 
no Brasil: quem são eles?” (2000), produzido com os indígenas do Projeto “Vídeos nas 
aldeias” em parceria com o Ministério da Educação (MEC) e a TV Escola. A partir da 
utilização desses recursos, realizei uma avaliação diagnóstica com os estudantes por meio 
dos conhecimentos prévios e escolares. 
O desenvolvimento das aulas-oficinas com os estudantes da 8ª série da Escola 
Barão, ocorreu em razão dos alunos estarem nos anos finais do Ensino Fundamental, 
portanto, já tinham vivenciado muitas experiências sobre o estudo dos povos indígenas 
no ambiente escolar, sobretudo, porque os estudantes seriam capazes de compreender e 
refletir sobre conceitos históricos e temas mais complexos, como o racismo e o 
18 
preconceito entre indígenas e não-indígenas. Esse era um dos objetivos com as aulas-
oficina, desenvolver novas percepções e desconstruir ideias e discursos equivocados 
sobre os povos indígenas no passado e no presente. 
Na segunda aula oficina, utilizei duas fontes (correspondências oficiais do século 
XVIII) analisadas no primeiro capítulo, retiradas da coleção “Amazônia na era 
pombalina” (2005), assinadas por Francisco Xavier de Mendonça Furtado, irmão do 
Marquês de Pombal (Sebastião de Carvalho e Melo), em duas datas: 2 de dezembro de 
1753 e 14 de fevereiro de 1754. Neste projeto de intervenção docente, as fontes 
documentais foram transformadas em materiais didáticos para analisar as imagens e 
representações dos indígenas no contexto da Amazônia Portuguesa e no Cabo Norte. 
Busquei desenvolver percepções sobre os indígenas no passado e no presente, 
relacionando os conhecimentos do senso comum, das experiências pessoais e da formação 
escolar dos estudantes, quanto os conhecimentos sobre os povos indígenas por intermédio 
da Lei federal n. 11.645/2008 que neste ano (2018), completou dez anos de promulgação. 
A utilização dos documentos históricos levou em consideração a linguagem, a 
idade e o nível de escolarização dos estudantes, por isso, a adaptação do documento 
acompanhado de glossário e palavras-chave, para que os estudantes compreendessem os 
significados de algumas palavras nas correspondências oficiais do século XVIII, pois 
entender a natureza e a composição do documento é um dos procedimentos iniciais e 
primordiais para o reconhecimento da fonte histórica, dessa forma, o exercício de leitura 
e análise se torna mais consistente e possibilita atingir os objetivos com mais êxito. 
Para compor a experiência pedagógica do uso de documentos históricos com os 
estudantes, foi necessário a realização de entrevistas com três professores de História da 
Escola Barão que nesse trabalho são identificados por professores A, B e C, 
respectivamente. Por meio do modelo de entrevista semiestruturada, o objetivo foi 
realizar um diagnóstico quanto a formação continuada dos professores, as possibilidades 
e os desafios de se trabalhar a temática étnico racial a partir dos documentos históricos, 
tendo como referência a Lei federal n. 11. 645/2008. 
Ademais, a conciliação entre a pesquisa e o ensino de História Indígena convergiu 
para a possibilidade do uso de fontes históricas para identificar e compreender junto com 
os estudantes da 8ª série, que os povos indígenas são condutores de suas experiências no 
passado colonial e no presente. 
 
19 
I - POVOAMENTO, TRABALHO E RESISTÊNCIA NO CABO NORTE: 
ASPECTOS DO DIRETÓRIO DOS ÍNDIOS NA SEGUNDA METADE DO 
SÉCULO XVIII 
 
Neste capítulo analiso alguns documentos na vigência do Diretório pombalino, 
legislação que previa as ações de autoridades lusitanas, colonos e povos indígenas, com 
vistas a poder utilizá-los em sala de aula. Por isso, o objetivo é identificar e discutir 
algumas experiências dos indígenas, por meio dos autores que analisam o povoamento, o 
trabalho e a formas de resistência na Amazônia portuguesa, juntamente com a análise das 
correspondências oficiais da segunda metade do século XVIII. 
Avaliar os impactos da política indigenista em solo amazônico é um exercício 
importante para compreender não apenas o sistema do Diretório e suas ramificações no 
nessa região, mas as mudanças no cotidiano dos povos indígenas no interior das 
povoações coloniais e as formas de resistência encontradas pelos índios por intermédio 
de acordos, conflitos, negociações e fugas, que caracterizaram em grande parte, as 
ondulações dessa política assimilacionista na Amazônia portuguesa. 
O Império português encontrou nos povos indígenas do sertão amazônico, a 
solução para os propósitos de ocupação, defesa e povoamentodas possessões lusitanas da 
extensa região. Assim a necessidade de transformação dos índios em colonos, agricultores 
e povoadores. A inserção do documento do Diretório dos Índios1, composto por noventa 
e cinco artigos almejou a integração dos indígenas por meio da religião cristã, dos 
casamentos interétnicos, da educação e do trabalho regido pelo tempo. 
No caso do Diretório pombalino na Amazônia portuguesa, a maioria dos trabalhos 
produzidos se referem às experiências de indígenas e autoridades coloniais na Província 
do Grão-Pará, no entanto, ainda existem poucos trabalhos que enfocam a atuação do 
Diretório na região do Cabo Norte (atual estado do Amapá), com vistas a clarificar e 
analisar as especificidades do Diretório no cotidiano dos trabalhadores indígenas 
residentes na região setentrional da província do Grão-Pará, mais precisamente, nas vilas 
de Macapá, Mazagão e Vila Vistosa2(BRITO, 1998). 
 
1Segundo o antropólogo Carlos de Araújo Moreira Neto (1988, pp. 25-26), se tratava de um documento, 
instrumento civil composto de 95 artigos instituído pelo Estado português na Amazônia portuguesa entre 
(1757-1798), que visava a integração dos indígenas ao sistema colonial. Dentre seus principais artigos se 
destaca: a transformação dos aldeamentos em vilas, a inserção de um diretor branco nas povoações, 
batismos e casamentos intérétnicos, a inserção de escolas para meninos e meninas nas povoações e a 
introdução da Língua Geral, o Nheengatu (mistura de línguas indígenas com o português). 
2Um dos principais núcleos populacionais da Capitania do Cabo Norte no século XVIII. 
20 
Sobre a localização das antigas “Terras do Cabo Norte”, apresento o mapa 
histórico, onde é possível ter uma visão parcial das terras correspondentes ao Cabo Norte 
(atual Estado do Amapá). 
 
 
 
O Diretório dos Índios teve seus objetivos exploratórios e comerciais adaptados e 
improvisados em razão das especificidades geográficas e regionais da Amazônia 
portuguesa, como foi vivenciado em grande parte da Província do Grão-Pará e no Cabo 
Norte. Nessa área específica, a defesa e a segurança da parte setentrional foram as 
principias razões para o estabelecimento de um núcleo populacional e de uma fortificação 
na Vila de Macapá, que segundo a estudiosa Nírvia Ravena (1999, pp.66-67), ocorreu 
improvisadamente. De acordo com essa autora, o transporte dos primeiros colonos 
açorianos de Belém para o Cabo Norte, grupos compostos predominantemente por 
mulheres, crianças e velhos, ocorreu sem planejamento. Faltavam canoas, índios remeiros 
e médicos para acompanhar os colonos durante a viagem. 
Amparado por um projeto agrícola e civilizatório, o sistema do Diretório passou 
a regular e equiparar as relações entre índios e autoridades, devendo atribuir a sua criação 
à vantagem do Estado português obter a autonomia da mão de obra indígena, 
MAPA 1: Localização da Província de Pinsônia no mapa de Cândido Mendes, de 1868. 
 
Fonte: http://www.wikiwand.com/pt/Projeto_Oyapokia. Acesso em: 21 de janeiro de 2019. 
 
http://www.wikiwand.com/pt/Projeto_Oyapokia
21 
imprescindível para a consumação das ações exploratórias, comerciais e de povoamento 
no sertão amazônico. 
Entre o século XVII até a segunda metade do século XVIII, os povos indígenas 
foram alvos de duas legislações indigenistas que incluíram regras de conduta, 
remodelamento do cotidiano e trabalhos diversificados: o Regimento das Missões3 (1686) 
e posteriormente, o “Diretório dos Índios”4. Nesse contexto, é importante compreender 
que na vigência das legislações indigenistas houve momentos alternados entre a 
submissão e a liberdade movidos por negociações como discutem os historiadores Cecília 
Brito (1998), Nírvia Ravena (1999), Maria Regina Celestino de Almeida (2012) e José 
Alves de Souza Júnior (2010, 2013), em seus respectivos trabalhos referentes a atuação 
das políticas indigenistas na América Portuguesa. 
De acordo com a antropóloga Manuela da Cunha (2009, p. 130), durante décadas 
na história do indigenismo no Brasil se repercutiu o estudo das legislações mediante as 
narrativas das autoridades, mas se desconhecia a intervenção/contestação dos próprios 
indígenas perante o sistema que tentava incorporá-los à sociedade colonial. 
Recentemente, a aproximação entre a História indígena e do indigenismo têm permitido 
identificar e interpretar as variações das políticas indigenistas, motivadas pela oposição 
ou adaptação dos povos indígenas conforme os impactos da colonização, sem contudo, 
desassociar a História Indígena no corpo dessas transformações sociais e culturais. 
Conforme as pesquisas de Almeida (2010), evidências encontradas em 
documentos coloniais referentes às Missões incitam que os aldeamentos coloniais na 
América Portuguesa, eram espaços da alternância entre a submissão e a resistência 
indígena, por meio de acordos e negociações, onde estavam em disputa interesses 
materiais e à própria liberdade. É necessário discutir também, de que modo a resistência 
indígena pode ser analisada no Diretório pombalino vigente na região do Cabo Norte, 
visto das especificidades geográficas e como uma reformulação das Missões Religiosas, 
com intenções semelhantes para a manutenção do trabalho indígena. 
 
3Segundo Marcia de Souza e Mello (2009), o documento redigido pelo Império português passou a vigorar 
no Estado do Maranhão e Grão-Pará (1686-1757) autorizando a administração dos eclesiásticos (a maioria 
jesuítas e missionários) sobre os índios aldeados, a criação do ofício de Procurador de Índios nas Capitanias 
do Pará e Maranhão, a proibição de homens brancos e mestiços nos aldeamentos, repartição dos índios de 
13 a 60 anos para os serviços nas missões e da Coroa portuguesa. As índias quando necessário, eram 
destinadas exclusivamente para os serviços de farinheira e amas-de-leite. Os índios deveriam permanecer 
livres, portanto, pagos com salários conforme a especificidade local. 
4Diretório que se deve observar nas Povoações dos Índios do Pará e Maranhão em quanto Sua Majestade 
não mandar o contrário. In: MOREIRA NETO, Carlos de Araújo. Índios da Amazônia. De Maioria a 
Minoria (1750-1850). Editora Vozes, Petrópolis, 1988. pp.166-203. 
22 
Tendo em vista, que o projeto pombalino na Amazônia portuguesa tinha o objetivo 
de estabelecer uma agricultura comercial e ao mesmo tempo, transformar os povos 
indígenas em súditos agricultores do rei, pergunto: Como então, identificar e analisar a 
resistência indígena nos documentos produzidos pelas autoridades portuguesas na região 
do Cabo Norte? Assim, torna-se fundamental elencar mais três perguntas: 1) Quem 
escreveu os documentos? 2) De que forma os povos indígenas são retratados nas 
narrativas e qual a condição? 3) Que tipo de resistência foi essa? 
Nas palavras de John Manuel Monteiro (2009, p. 238), a atuação dos povos 
indígenas ao longo do processo histórico com os europeus, não deve ser priorizado 
exclusivamente sob o aspecto das invasões, imposições e perdas, mas também deve-se 
refletir e agregar a tais experiências os esforços de reversão, oposição dos indígenas às 
tentativas de limitação de suas ações, manifestadas ao longos dos séculos. Como explica, 
opor-se a essa justificativa, seria como negar tais esforços e renegá-los apenas ao cenário 
das injustiças e do sofrimento. Descaracterizando os motivos dessa resistência. 
Ao analisar o conceito da resistência indígena, John Monteiro (2009), aponta que 
identificar e refletir sobre essas experiências ainda é um desafio para os antropólogos e 
historiadores, isso porque, interpretar essas evidências nos documentos coloniais é um 
exercício que tende a influenciar o pesquisador para uma certa ambiguidade em 
diferenciar o “índio resistente” e o “índio colaborador”. Como pontua, a resistência ou a 
ação de resistir, não pode ser interpretada somente a oposição direta ao sistema, mas 
também nas formas encontradas pelospovos indígenas para conviver/adaptar com as 
transformações ocasionadas pela inserção das políticas indigenistas. 
Requer, portanto sensibilidade, para não resultar ao que Manuela da Cunha (2009) 
explicita quando revela que por longos períodos, o indigenismo esteve associado apenas 
a submissão dos povos indígenas à legislação colonial. Logo, analisar o conceito de 
resistência nos documentos coloniais é compreender que os documentos enquanto 
construções humanas, adquirem interpretações ao longo do tempo e do espaço. 
Os historiadores Leandro Karnal e Flavia Tatsch (2012, p. 24) explicam que o 
documento histórico, é um conjunto de informações sobre um determinado contexto e 
visão de uma época, sua importância adquire valor quando o historiador passa a interrogá-
lo e a interpretá-lo, estabelecendo conexões com o passado e o presente, a partir da fonte 
em mãos. Contudo, também se releva que ao ser resultado da subjetividade humana, o 
documento histórico, é um produto humano que pode ser imprevisível e contraditório, 
dependendo dos métodos escolhidos para a análise das fontes documentais. 
23 
Assim, a partir deste momento, destaco a análise das correspondências oficiais 
referentes à Vila de São José de Macapá, para compreender de que modo os povos 
indígenas são descritos nas narrativas produzidas pelas autoridades portuguesas no 
período em que vigorou o Diretório dos Índios no Cabo Norte. 
 
 
1.1 OS POVOS INDÍGENAS E AS POLÍTICAS INDIGENISTAS NO CABO NORTE: 
O CASO DA VILA DE SÃO JOSÉ DE MACAPÁ 
 
Para a Amazônia portuguesa, foram designadas ações de ocupação e 
povoamento das áreas sujeitas às invasões estrangeiras. Uma das principais motivações 
para que ocorresse a intensificação das ações demarcatórias foi a assinatura do Tratado 
de Madrid5 de 1750, que exigiu a ocupação imediata, após longos períodos de disputa 
entre portugueses e espanhóis pelas possessões na América. Fruto disso, foi a 
implementação do sistema político, econômico e social que agregou mudanças radicais 
na organização da imensa região, assim como das diversas etnias indígenas que 
compunham a Amazônia Portuguesa. 
Os objetivos almejaram o controle dos índios ex-aldeados6 das Missões 
Religiosas, mas também, sinalizavam para os interesses econômicos que estavam nos 
planos lusitanos para essa região. O interesse do Diretório pombalino era manter os 
indígenas na condição de vassalos agricultores, aliados importantes para o resguardo das 
fronteiras e o aumento populacional, assim como, para a viabilização de um projeto 
agrícola, gerador de lucros à Fazenda Real. Não foi em vão que em 1755, houve o fim da 
escravização indígena, o incentivo aos casamentos entre colonos e índias em troca de 
honrarias e a criação da Companhia do Comércio do Grão-Pará e Maranhão7. 
Uma das primeiras mudanças surgiu com a inserção de um diretor e militar branco 
nos núcleos populacionais, o diretor era indicado pelo governador da Província do Grão-
Pará, o qual teria poderes para administrar os índios das povoações, uma diferença quanto 
 
5O Tratado de Madrid foi um acordo estabelecido entre as Coroas portuguesa e espanhola na segunda 
metade do século XVIII, redefinindo as regiões ao norte e sul da América. Seguindo o princípio de 
utipossidets, as regiões em disputam pertenceriam a nação que ocupasse e povoasse primeiro. 
6Índios regressos dos aldeamentos missionários após a extinção dos Regimento das Missões (1686-1757). 
7A Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão criada em 7 de junho de 1755, no reinado de Dom 
José I foi uma das mais importantes companhias pombalinas do comércio colonial. Com vinte anos de 
funcionamento, a companhia monopolista operou na exploração e comercialização das drogas do sertão e 
outros gêneros, como: algodão, cacau, anil, tabaco, cravo, canela, óleo de copaíba, entre outros. 
24 
ao que previa o Regimento das Missões. Este documento proibia a permanência de 
moradores brancos e mestiços nos aldeamentos missionários. 
Os Principais, lideranças indígenas a serviço da Coroa portuguesa, teriam funções 
semelhantes ao do diretor, porém, caberia a eles, a função de vigiar os índios nos serviços 
e propor descimentos8, mas a aplicação da correção, caso desobedecessem as ordens nas 
povoações ficaria sob responsabilidade do diretor. Segundo Souza Júnior (2010) isso foi 
um dos motivos que provocaram a resistência dos índios ao trabalho, principalmente 
quando vinham acompanhados de maus tratos e desentendimentos com os diretores das 
povoações basicamente constituída de indígenas. 
Com base nisso, o historiador Mauro Cezar Coelho (2006), consentindo que a 
inclusão dos Principais foi uma alteração política e social gerida pelo Diretório, revela 
que a apropriação de uma autoridade indígena alterou o mundo do trabalho colonial e a 
própria organização do corpo militar que se instaurava. Nesse aspecto, é coerente 
ponderar que a inserção dos Principais e de índios ex-aldeados favorecia a negociação no 
interior das povoações, pois a adesão momentânea dos indígenas ao sistema colonial em 
muitas ocasiões significava a manutenção da vida e a sobrevivência. 
Quanto a experiência de povoamento da Capitania do Cabo Norte, cuja 
administração política e econômica pertencia à Província do Grão-Pará, as ações de 
resguardo e povoamento estiveram relacionadas à proteção territorial, além de 
motivações econômicas. Nesse sentido, antes da implantação do Diretório pombalino, já 
se articulava a criação de uma povoação e fortaleza em Macapá, por isso, o Governador 
do Estado do Grão-Pará, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, já em 1751 descrevia 
medidas para o envio de colonos açorianos para a região do Cabo Norte. 
A estratégia lusitana vinculava o resguardo do Cabo Norte com a implantação de 
um núcleo populacional, que posteriormente se transformaria na Vila de São José de 
Macapá. Uma das primeiras ações estavam relacionadas ao projeto da agricultura para a 
produção de gêneros ao consumo interno, pois segundo o governador, as terras estavam 
improdutivas e precisavam de colonos para cultivá-las. Sem contar que os casais 
açorianos de Belém, representavam um alto custo financeiro para os cofres reais. Desse 
 
8 Segundo Brito (1998, p. 119), o descimento foi um sistema e estratégia adotado no Regimento das Missões 
e posteriormente no Diretório pombalino, que consistia no convencimento de grupos indígenas para se 
deslocarem para outros núcleos populacionais afim de serem distribuídos nos serviços das Ordens 
Religiosas, no serviço real e nos serviços dos moradores da Amazônia portuguesa. Ver :BRITO, Cecília 
Maria Chaves. Índios das “Corporações”: trabalho compulsório no Grão-Pará no Século XVIII. In: 
ACEVEDO MARIN, Rosa Elizabeth. A escrita da história paraense. Belém: UFPA, 1998. pp. 115-137. 
 
25 
modo, o envio desses colonos, poria fim à duas preocupações do Estado: a defesa e o 
povoamento do Cabo Norte e a economia dos cofres reais (RAVENA, 1999). 
Quanto a instalação dos recém-moradores e consequentemente da criação de um 
núcleo populacional, Mendonça Furtado era bastante claro em sua correspondência de 18 
de dezembro de 1751, enviada ao Capitão-mor João Batista de Oliveira. Mendonça 
Furtado, no que tange as instruções para a organização dos novos moradores e suas 
funções no trato e cultivo das terras, ordenava que não seria tolerado em nenhuma 
instância a desocupação dos colonos: 
 
Por ser preciso e conveniente aos serviços de S. Maj. que na nova povoação e 
fortaleza do Macapá haja uma pessoa que não só contenha aqueles novos 
moradores em paz, mas que também os persuada ao trabalho e a cultura das 
terras, não deixando precipitar esta gente no abominável vício da preguiça, 
nem no outro igualmente perniciosos que é o desprezo do trabalho manual, o 
qual tem sido muita parte de se reduzirem esta terra à penúria e miséria em que 
se acha [...]. 9 
 
Nas orientaçõesde Mendonça Furtado, projetava-se a criação de uma povoação e 
de uma fortaleza em Macapá. A permanência de uma autoridade particular no núcleo 
populacional serviria para organizar os moradores para o trabalho na agricultura, por isso 
investir na terra, cuidá-la e fazê-la produzir alimentos, esse era um dos objetivos 
almejados com o envio dos colonos açorianos para o Cabo Norte. 
Nesse sentido, o Capitão-mor João Batista, autoridade militar e particular, tinha a 
função de administrar e fiscalizar os moradores no núcleo populacional ao norte da 
Província do Grão-Pará, não permitindo em hipótese alguma, que os moradores ficassem 
desocupados ou que contraíssem o “mal da preguiça”, que segundo o governador seria 
lamentoso. Orientações específicas eram delegadas à João Batista para a administração 
dos casais açorianos na povoação no Cabo Norte, que como alegava veementemente 
Mendonça Furtado, encontrava-se em estado de miséria, por isso, o envio dos novos 
colonos para o povoamento e o cultivo das terras. 
Com base nisso, Ravena (1999, p.77) ao analisar essa experiência de povoamento, 
discorre que a inserção de um chefe particular para administrar os moradores no Cabo 
Norte era uma ação para garantir a fixação e o povoamento imediato, nomeando esse 
 
9Instrução que levou o Capitão-mor João Batista de Oliveira quando foi estabelecer a Nova Vila de São 
José de Macapá. Pará, 18 de dezembro de 1751. In. Mendonça, Marcos de Carneiro de. A Amazônia na 
era pombalina. Correspondência do Governador e Capitão-General do Estado do Grão-Pará e 
Maranhão, Francisco Xavier de Mendonça Furtado: 1751-1759.2. ed. Brasília, 2005. Tomo II, p. 171-
174. 
26 
processo como, “Povoar a qualquer custo”. Mendonça Furtado ao delegar uma autoridade 
militar para organizar os moradores e enviar informações sobre o andamento de suas 
ordens no Cabo Norte, também, deixava intrínseco que tal prática era uma forma de 
impedir a desordem, mas também de dificultar o controle dos religiosos sobre os 
indígenas, pois, como novamente identifica Ravena (1999): 
 
[...]Significava, portanto, que este primeiro chefe político local tinha poderes 
políticos que permitiam alianças ou desmandos junto aos moradores. [...] O 
caráter de uma administração militar já aparecia como diretriz política para 
Macapá. Além da necessidade de garantia de posse do território do Cabo Norte, 
para Mendonça Furtado, a nova povoação converteu-se num campo de 
experimentação. Tanto no tocante à administração da mão-de-obra indígena 
como também nas formas de alijar os missionários (principalmente jesuítas) 
do controle político das povoações. (RAVENA, 1999, p. 77-78). 
 
Conforme a autora explica, a nomeação de um chefe militar estava entre as 
medidas do governador para o resguardo do território e nesse sentido, a função do Capitão 
João Batista em 1751 configurava a instauração de sua autoridade como mediador entre 
a povoação e a Província. A experimentação dessa prática no Cabo Norte demostrou que 
as ações de Mendonça Furtado estavam solidificadas na urgência do povoamento da 
região e uma das primeiras interferências no modelo de organização do trabalho indígena 
realizado durante o governo dos religiosos que, mais tarde, tornou-se uma das principais 
razões para as contendas entre o governador e os missionários na província do Grão-Pará 
(RAVENA, 1999). 
Na mesma correspondência que trata das “Instruções”, Mendonça Furtado 
continuava insistindo que os colonos açorianos enviados para o Cabo Norte não 
abandonassem o cultivo das terras, não sendo permitido que apenas os índios exercessem 
a função, todavia, deveriam utilizar os serviços dos indígenas apenas para os serviços da 
caça e pesca, atividades que os colonos não estariam acostumados a lidar, como enfatizou: 
Para evitar o abuso que está tão arraigado nestas terras de que só os índios são 
os que devem trabalhar, e que a todo o branco é injurioso pegar em instrumento 
para cultivar as terras, não consentirá V. mercê que estes povoadores se sirvam 
de índio algum para o trabalho da cultura; no de qualquer outro mais que, 
somente daqueles que lhes estão destinados para os pescadores e caçadores 
[...]. 
 
 A agricultura assim como a caça e a pesca, estavam entre os principais meios 
de sobrevivência dos moradores e indígenas no núcleo populacional no Cabo Norte. 
Percebe-se que o documento reforça a importância da agricultura e da criação das 
lavouras para a subsistência, porém não identifica a origem da proteína para alimentar a 
27 
população, apenas cita a função dos índios na caça e pesca de animais. De acordo com 
Acevedo Marin (1999) nos primeiros anos de instalação do núcleo populacional no Cabo 
Norte, a região vivenciou o despreparo dos colonos açorianos, a carência de alimentos, 
além das constantes inundações as quais por muito tempo impediram o plantio, 
provocando a estagnação das terras. 
 Segundo Ravena (1999) Mendonça Furtado havia feito o transporte 
improvisado dos colonos açorianos para o Cabo Norte. Nesse sentido, não somente o 
deslocamento dessas famílias consistiu em uma solução rápida de povoamento na região, 
mas subtende-se que por longos períodos a sobrevivência dos colonos e indígenas esteve 
comprometida, principalmente pela carência de alimentação e o despreparo dos 
moradores, que passaram a depender constantemente dos serviços dos indígenas. 
Quanto a presença dos povos indígenas, Mendonça Furtado incluía 
constantemente o termo “indígenas” quando se reportava aos ameríndios no Cabo Norte 
porém, a presença do termo nos documentos causa e reforça a generalização desses povos 
no contexto da Amazônia portuguesa. A presença do “índio genérico” nos documentos 
era uma das estratégias adotadas pelas autoridades portuguesas para obliterar a 
diversidade de povos indígenas nessa região, pois em outro trecho da correspondência, o 
governador escreveu: “[...] Defendo que os moradores se sirvam de índios, se contudo 
alguns índios quiserem viver na Povoação com suas famílias, o poderão fazer, ficando 
repartidos como outros quaisquer moradores, sendo-lhes permitido o ganharem o seu 
jornal como outro qualquer [...]. 
 Ao contrário do que aparece nos documentos sobre as populações indígenas, no 
Cabo Norte existia uma diversidade de povos, culturas e línguas indígenas, porém não há 
uma definição dessas etnias nas correspondências trocadas entre as autoridades lusitanas. 
O que estimula a desconstruir a ideia de generalização e obliteração dos ameríndios nesses 
documentos, pois havia a tentativa de apagamento das diferenças culturais e a equiparação 
entre indígenas e não indígenas na Amazônia portuguesa. 
 A seguir apresento o mapa Etno-Histórico adaptado de Curt Nimuendaju (1981), 
onde é possível ter uma visão parcial da localização das etnias indígenas que residiam e 
residem no espaço que corresponde o atual Estado do Amapá. Ao contrário do que 
obliterava o governador Mendonça Furtado, havia uma miríade de povos indígenas que 
desde os séculos XVII e XVIII habitavam essa região, como se verifica no mapa. 
 
28 
 
 
 
As intenções de Mendonça Furtado para o Cabo Norte é um exemplo de que na 
província do Grão-Pará e inegavelmente em quase toda a região da Amazônia portuguesa, 
as investidas de ocupação tiveram que adaptar os projetos coloniais às especificidades 
geográficas e populacionais – presença de fauna e flora diversificada além de diversas 
etnias indígenas – que o espaço abrigava. Às estratégias de ocupação e povoamento foi 
necessário a arregimentação de trabalhadores/povoadores, sejam indígenas ou colonos 
açorianos. Assim, Acevedo Marin (1999) e Ravena (1999) admitem que no espaço 
colonial apesar das dificuldades encontradas pela instabilidade econômica e fronteiriça, 
como foi o caso do Cabo Norte, pôde-se combinar ações de caráter mercantilistas às 
Fonte: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv14278_mapa.pdfAcesso em: 29 de 
janeiro de 2019. Adaptado 
 
MAPA 2: Mapa Etno-Histórico de Curt Nimuendaju (1981). 
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv14278_mapa.pdf
29 
especificidades geográficas, um dos principais objetivos do Império português para o 
sertão amazônico. 
O Cabo Norte não esteve distante de ser uma experiência de ocupação e 
povoamento, logo, pensar que a região também foi um alvo da consumação dos objetivos 
econômicos é ponderar que a implementação de um núcleo populacional, também não 
seria um exercício muito fácil. Primeiro, a autonomia dos eclesiásticos sobre os 
aldeamentos indígenas, consistia em um grande obstáculo para conseguir mão de obra 
nativa; segundo, dar condição para que os colonos açorianos sobrevivessem e 
desenvolvessem a agricultura com mão de obra indígena; e terceiro, a instabilidade 
fronteiriça, visto a insistência francesa. Por isso Ravena (1999) denomina esse processo 
inicial no Cabo Norte como um “laboratório”, marcado pela urgência e adaptação dos 
objetivos lusitanos nessa faixa do sertão amazônico (RAVENA, 1999, p. 79). 
Não podemos esquecer que os aldeamentos missionários tendiam a abrigar 
diversas etnias indígenas, no entanto, nas correspondências oficiais não é possível 
identificar com clareza essa pluralidade étnica, pois ocorre uma generalização desses 
povos nas narrativas documentais do século XVIII. Dessa forma, em muitos trechos dos 
documentos, os indígenas aparecem como principal mão de obra para o abastecimento 
interno e para o mercado de gêneros (algodão, tabaco, cravo, salsaparrilha, cacau). 
Contudo, os aldeamentos mantidos pelos serviços dos indígenas não eram competitivos, 
mas fonte de lucros para os missionários, o que ascendia a cobiça de Mendonça Furtado. 
Para Moreira Neto (1988) e Ravena (2005) uma das características dos 
aldeamentos indígenas estava na sua autossuficiência. Assim, aos indígenas era permitido 
tempo de trabalho e reprodução, mesmo com as práticas de conversão, como a imposição 
da Religião Cristã e do Nheengatu10. Todavia, a flexibilidade na introdução/condução 
dessas medidas era uma das estratégias para evitar as fugas em massa, ao contrário do 
que ocorria nos serviços dos moradores, onde os índios eram explorados ao máximo, sem 
lhes dar condições de reprodução. 
Nesse ponto, explica-se a atitude ambiciosa de Mendonça Furtado quando 
contratou Francisco Portilho e Melo para estabelecer um aldeamento ilegal, denominado 
de Aldeia de Santana de Macapá. Na correspondência enviada por Mendonça Furtado ao 
 
10 Consta no artigo 6º da legislação do Diretório dos Índios, a introdução do Nheengatu ou a Língua Geral 
nas escolas das povoações coloniais. O Nheengatu consistia na mistura de línguas indígenas com o 
português. 
30 
agenciador de índios identificou-se algumas instruções sobre as medidas a serem tomadas 
na administração dos índios descidos: 
 
Terá V. Mercê o maior cuidado pela sua parte em que todos os índios sejam 
bem instruídos na doutrina cristã e em tudo o mais pertencentes aos bons 
costumes; porém, terá toda a vigilância em que o pároco não exceda os limites 
da jurisdição meramente espiritual, pois esta só lhe é permitida, e por nenhuma 
forma atemporal, dando-me logo parte se algum excesso que o mesmo pároco 
queira ter nesta matéria. 11 
 
 
No trecho, as instruções à Portilho e Melo eram claras quanto a presença de um 
pároco na Aldeia e o ensino da doutrina cristã entre os índios do aldeamento particular. 
Ao contrário do que descrevia Mendonça Furtado na correspondência, existia uma 
diversidade de povos indígenas, como é possível identificar no mapa de Curt Nimuendaju 
(1981). Essa ausência e invisibilidade recorrente nos documentos, sinalizava os objetivos 
do Império português para assimilação dos indígenas ao projeto colonial por meio do 
instrumento civil do Diretório no Cabo Norte, porém nem sempre as imposições do 
Império português se configuravam como uma realidade, pois, os ameríndios recusavam 
ou negociavam a permanência nesses locais. 
Com base nisso, ao tecer seus comentários sobre o processo de povoamento na 
região do Grão-Pará, Acevedo Marin (1999, p. 33) afirma que inicialmente um dos 
principais obstáculos que teve de ser contornado pelas autoridades coloniais foi 
justamente o acesso aos trabalhadores indígenas. Na correspondência do governador 
Mendonça Furtado, enviada ao rei de Portugal em fevereiro de 1754, a mensagem alertava 
para a quantidade de índios vadios e alforriados que se encontravam circulando no Estado 
do Grão-Pará, e sobre os perigos dos índios dispersos no sertão: 
 
[...] Era o de haver uma quantidade de índios alforriados e livres que andavam 
sendo vadios, sem que o público tirasse utilidade do seu trabalho, e ainda que, 
em conformidade das ordens de V. Maj., eu os mandava dar à soldada a estes 
moradores, com facilidade lhes fugiam de casa e andavam fazendo neste 
povoado e no sertão perturbações, a muitas das quais eu não podia dar remédio, 
por que os moradores com engano de que os poderiam conservar alguns dias 
nas suas fazendas, os escondiam nelas, e a maior parte das vezes sem que lhes 
tirassem fruto do seu trabalho [...]12. 
 
11 Instrução que levou Francisco Portilho e Melo para administrar os índios da Aldeia de Santana de 
Macapá. In. Mendonça, Marcos de Carneiro de. A Amazônia na era pombalina. Correspondência do 
Governador e Capitão-General do Estado do Grão-Pará e Maranhão, Francisco Xavier de Mendonça 
Furtado: 1751-1759.2. ed. Brasília, 2005. Tomo II, p. 63-64. 
 
12Carta ao Rei sobre os males que adivinham ao Estado da existência de índios vadios alforriados, e do fato 
de nenhuma pessoa poder ter com segurança estes índios em casa, pelas razões que expõem. A Amazônia 
31 
 
 
 Conforme expresso na correspondência de 1754, o governador Mendonça Furtado 
explicava a ocorrência de índios livres e recém libertos que causavam perturbações no 
povoado e transtornos aos moradores, muitos moradores os acomodavam em suas 
fazendas na tentativa de utilizar a mão de obra, porém, os índios não ficavam por muito 
tempo e fugiam das casas dos moradores. Neste trecho o governador não somente se 
preocupava com a dispersão e ociosidade desses índios para a segurança da Província, 
mas com o desperdício de mão de obra, visto que a força de trabalho indígena possuía um 
alto valor para os cofres reais. 
 Não satisfeito, Mendonça Furtado apontava o segundo motivo da intranquilidade 
sobre a circulação de índios alforriados e vadios na Província do Grão-Pará, desta vez, 
alertava para o perigo que podiam oferecer a integridade dos moradores, pois como 
escreveu, os moradores ao tentarem manter alguns desses índios nas lavouras não tinham 
segurança, o governador articulava que a insistência dessa prática pelos moradores gerava 
um clima de “guerra” entre os colonos e índios, como articulava: 
 
[...]Por essa causa os possam obrigar a trabalhar como deveram, porque quando 
os devem fazer cultivar as fazendas; se lhes propõem da outra parte o descanso 
que eles amam sumamente; e vem isto a fazer uma tal confusão, que passa de 
ódios mortais, quase a uma guerra civil entre estas gentes; vindo por este meio 
a perderem os lavradores a cultura das suas fazendas, e os índios, além das 
soldadas que deveriam ganhar, a civilização que deveriam ter se fossem 
criados em obediência e disciplina. 
 
 
A mensagem de Mendonça Furtado tem como tônica a ociosidade e o abandono 
dos índios das lavouras, consideradas faltas graves para o governador. Manter os índios 
nos serviços dos colonos, em 1754 era uma tarefa difícil e conflituosa para os moradores, 
como relatava na correspondência. Além de criticar os moradores quanto ao descanso 
dado aos índios nas fazendas, o governador também culpava os índios quanto o 
desperdício da soldada (pagamento) que poderia ser evitado caso os índios fossem 
obedientes e disciplinados.Nos primeiros anos do governo de Mendonça Furtado (1751-1759) eram 
constantes as reclamações quanto aos índios ociosos e os que abandonavam os trabalhos 
nas fazendas dos moradores da província do Grão-Pará. Isso pode ser explicado pelo 
 
na era pombalina. Correspondência do Governador e Capitão-General do Estado do Grão-Pará e 
Maranhão, Francisco Xavier de Mendonça Furtado: 1751-1759.2. ed. Brasília, 2005. Tomo II, p. 62-
63. 
32 
tratamento que os índios recebiam nesses locais, além do mais, a autonomia na 
administração dos religiosos sobre os índios aldeados, incitava a competição por mão de 
obra indígena, os moradores muitas vezes acoitavam os índios desertores para que 
trabalhassem em suas fazendas, todavia, muitos fugiam, incendiando novas fugas. Assim 
a competição por mão de obra foi uma tônica entre religiosos e colonos, fator de prejuízo 
econômico e de insegurança territorial para o Estado. 
Em outra correspondência de 1º de março de 1754, um ano antes da assinatura da 
Lei de 7 de junho de 1755 que extinguiu a administração dos religiosos, de Mendonça 
Furtado comunicava ao irmão Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês de Pombal) 
sobre a deserção de índios no Estado, desta vez, culpava exclusivamente os religiosos 
pela incidência de índios desertores na região: 
 
[...] Mandei no mês de novembro buscar três aldeias que constam da relação 
inclusa quarenta índios, e antes do Natal me ficaram somente dois. Segunda 
vez mandei às mesmas aldeias buscar trinta e seis índios no princípio do mês 
de janeiro, chegaram a esta cidade no fim dele e ontem a noite me deram a 
parte que remeto a V. Exª e como se foram já vinte e um e hoje se irão os 
outros, e finalmente não há meio de os fazer conter, porque os padres os 
escondem pelos matos, nas suas feitorias, onde não pode chegar soldado nem 
justiça[...]13. 
 
 
Como observado na correspondência, grande foi o prejuízo com a deserção dos 
índios, segundo Mendonça Furtado era impossível manter os índios nas povoações, pois, 
eram incentivados pelos religiosos a fugirem para os matos, o que dificultava a recaptura 
dos índios fugidos. Para Ravena (1999, p. 68), a fuga de índios estimulada pelos religiosos 
acontecia em função da tutela que aumentava o número de trabalhadores indígenas nos 
aldeamentos dos religiosos, o que provocava desavenças visíveis com os colonos. 
Frequentemente no governo espiritual e material das Missões os eclesiásticos 
enviavam os índios aldeados para outras povoações ou fazendas da mesma ordem 
religiosa, quando os moradores chegavam encontravam os aldeamentos vazios, o que 
ascendia as contendas entre religiosos, autoridades e colonos. Por isso, Brito (1998, p. 
122), comenta que, nos anos finais do Regimento das Missões, a legislação foi burlada 
pelos eclesiásticos provocando problemas na distribuição dos trabalhadores e fomentando 
 
13 Correspondência de Mendonça Furtado, à Sebastião José, sobre a deserção de índios. In. Mendonça, 
Marcos de Carneiro de. A Amazônia na era pombalina. Correspondência do Governador e Capitão-
General do Estado do Grão-Pará e Maranhão, Francisco Xavier de Mendonça Furtado: 1751-1759.2. 
ed. Brasília, 2005. Tomo II, pp. 138-139. 
33 
intrigas, como esta que consta no trecho da mensagem de Mendonça Furtado ao ministro 
e irmão Sebastião José. 
 Diante disso, é oportuna a análise de Almeida (2010, pp.75-76), quando explica 
que uma das razões para haver o deslocamento de índios para os espaços dos aldeamentos 
no contexto das Missões era a possibilidade de proteção e a sobrevivência que os índios 
cogitavam haver nesses ambientes. Além do que, não descarta a influência dos Principais 
para erguer e manter o número de indígenas nos aldeamentos coloniais, uma vez, que 
esses espaços foram locais de alianças e negociações entre as lideranças nativas e as 
autoridades portuguesas. 
Os próprios religiosos sabiam da importância da medição das lideranças indígenas 
para os descimentos, logo, a estratégia do convencimento pacífico era uma alternativa 
menos dispendiosa e mais lucrativa, tanto pelos religiosos quanto pelas autoridades 
coloniais, para aumentar a quantidade de indígenas nos serviços das povoações. Uma 
alternativa menos desgastante do que por meio da Guerra Justa14, e mais barata do que o 
Resgate15, uma ação particular para provimento de índios. Todavia, em parênteses, 
Almeida (2017) insere, nesse contexto, as condições encontradas pelos índios descidos 
nos aldeamentos: 
 
Não se pode esquecer que esses acordos se faziam num contexto de extrema 
violência e desigualdade. A aldeia era o mal menor e nela os índios se 
submetiam a uma nova situação que lhes trazia imensos prejuízos. Sujeitavam-
se às regras portuguesas, passando a viver em condição subordinada e sujeitos 
ao trabalho compulsório. Misturavam-se com outros grupos étnicos e sociais, 
viam-se reduzir as terras às quais tinham acesso e expunham-se a altas 
mortalidades [...]. (ALMEIDA, 2010, p. 80). 
 
 
Mediante a interpretação de Almeida, as condições por trás dos acordos e 
negociações entre indígenas e autoridades religiosas tinham um caráter de proteção ao 
mesmo tempo acionava a condição de subordinação dos índios ao contraste étnico e social 
nos aldeamentos coloniais. Analisar essa questão, é também pensar na escolha ao se 
tornarem índios aldeados e suas consequências, diante da realidade desfavorável que 
surgia com o avanço da colonização. Contudo, Almeida (2010, p. 81) também lembra que 
 
14 A Guerra Justa eram expedições armadas realizadas por tropas de guerra. Essas expedições invadiam os 
núcleos indígenas e capturavam o maior número de índios possível. Segundo o Regimento das Missões 
(1616) a Guerra Justa era autorizada quando os índios impedissem ou recusassem a pregação, atacassem 
ou roubassem os colonos ou se tornassem aliados das autoridades francesas, holandesas ou inglesas. 
15 Resgate era a apropriação ou a “compra” de índios cativos ou que haviam se tornado escravos de outros 
índios, também era considerada uma forma de evitar a morte. O cativeiro durava em torno de dez anos, 
após isso, o indígena era libertado. 
34 
em muitos documentos do período das Missões surgem evidências que suscitam a 
insistência dos índios aldeados pela garantia de terras; cargos, aumento dos salários, 
recusa ao trabalho escravo. Portanto, a alternância entre submissão e resistência, também, 
foram questões que estiveram presentes nas relações políticas e sociais entre índios 
aldeados e autoridades nos aldeamentos, principalmente nas negociações nos descimentos 
de indígenas para esses locais. 
Refletir sobre a condição das populações indígenas no contexto das Missões, é 
também compreender os espaços de uma liberdade condicionada, isto é, ao mesmo tempo, 
as autoridades coloniais reapropriavam-se das práticas culturais dos povos indígenas, 
apesar da existência de mecanismos ideológicos e coercivos. Certamente foram espaços 
flexíveis, propícios à manifestação dos índios aldeados, por meio de acordos e 
negociações para conquistar interesses materiais e a própria liberdade. Desse modo, com 
a transição para o sistema do Diretório, o cenário passou a ser outro, civilizá-los e integrá-
los à sociedade colonial que se instalava nos núcleos populacionais da região colonial 
amazônica. 
Em 7 de junho de1755, houve a extinção do Regimento das Missões de 1686, 
sendo transferido a tutela dos eclesiásticos para o Império português sobre os aldeamentos 
indígenas, como parte da continuação dos interesses comercias e de povoamento na 
Província do Grão-Pará. A experiência de povoamento no Cabo Norte tornou-se um caso 
específico para analisar a adaptação da reforma pombalina nessa região. 
Consequentemente a Vila de Macapá surgiu como um cenário para averiguar a adaptação 
dos objetivos implementados pela política indigenista do Diretório, e essencialmente 
revelava a nova condição dospovos indígenas. No contexto do diretório não se buscava 
mais a “evangelização” e, sim, a “civilização”, visto do caráter assimilador do projeto 
pombalino para os índios da Amazônia portuguesa da segunda metade do século XVIII 
(BRITO, 1998; RAVENA, 1999). 
 
 
 
2. 2 A VILA DE MACAPÁ: O PROJETO POMBALINO E AS RESISTÊNCIAS 
INDÍGENAS 
Os antigos aldeamentos tornaram-se espaços caracterizados pela laicização 
administrativa, visto que os indígenas não eram mais tutelados pelos eclesiásticos, mas 
por autoridades escolhidas pelo Império português e nesse processo, intensificou-se a 
35 
exploração da mão de obra indígena juntamente com as práticas de violência, da 
corrupção dos diretores, mas também da resistência dos povos indígenas como recusas ao 
trabalho e as fugas, além das doenças, experiências essas que regeram o cotidiano de 
indígenas e das autoridades nas povoações da Amazônia portuguesa. A tutela era outra, a 
do Estado, mas a exploração da mão de obra indígena se manteve (SOUZA JÚNIOR, 
2010). 
 Se o Diretório inovou ou não, na administração laicizada no interior das 
povoações não é um dos propósitos desse trabalho, o fato é que a experiência do Diretório 
no do Cabo Norte, especificamente na Vila de São José de Macapá, instiga a analisar de 
que forma o projeto político, civil, social e econômico foi vivenciado nessa região 
específica, e principalmente como os índios tiveram suas vidas reguladas e estabeleceram 
negociações para sobreviver nesses núcleos populacionais. Entretanto, é necessário 
ponderar que o aparelho administrativo encontrou, inicialmente, problemas no 
abastecimento interno e na arregimentação de trabalhadores indígenas, que após a 
extinção das Missões ficavam mais difíceis de serem arregimentados (RAVENA, 2005). 
 Acevedo Marin (1999), que discute acerca das experiências de colonos no núcleo 
de povoamento no Cabo Norte, explica que o processo se orientava a partir da ocupação 
territorial e da agricultura, por isso, ressalta o envio de famílias açorianas para cultivar as 
terras e, consequentemente, o papel de uma autoridade particular escolhida por Mendonça 
Furtado. Em 1758, um ano depois da vigência do Diretório, fundava-se efetivamente a 
Vila de Macapá. Nesse período, os problemas de alagamento de algumas áreas da nova 
povoação foram algumas das dificuldades que inicialmente, não permitiram que os 
colonos cultivassem as terras. 
Com a vigência do Diretório os indígenas seriam fundamentais não somente na 
agricultura, mas nos serviços militares e nas obras públicas, como na construção da 
fortificação de Macapá, entre 1764 à 1773. Na correspondência de 1765 que Mendonça 
Furtado envia ao irmão Sebastião José de Carvalho e Melo consta a importância da 
construção da Fortaleza de Macapá no segundo ano de sua construção: 
 
Fico esperando com grande alvoroço o oficial engenheiro que há de vir 
encarregado da fortificação de Macapá, a qual é tão importante como V. Exª, 
sabe, e tendo nós naquele sítio, uma boa praça, ficamos seguros de algum 
insulto dos franceses e temos com ela coberta toda a margem setentrional das 
36 
Amazonas que está tão exposta como a V. Exª, tenho representado 
repetidíssimas vezes.16 
 
 
 No trecho da correspondência era grande a expectativa de Mendonça Furtado 
sobre a construção da fortificação em Macapá, que correspondia um dos desígnios para 
garantir a proteção do Cabo Norte, assim como toda a faixa setentrional. Erguer uma 
fortaleza na região significava a proteção do território contra os franceses, mas também 
pairavam perguntas, como: Quem trabalharia na construção da fortificação? Qual era a 
condição desses trabalhadores? 
Sabendo que o projeto agrícola iniciado no período pombalino, tinha como base a 
mão de obra indígena, no caso do Cabo Norte, os objetivos metropolitanos nessa região 
tiveram desafios que assolaram não só o andamento das obras na fortificação em Macapá, 
mas também a sobrevivência dos próprios colonos e indígenas. Logo, havia a necessidade 
de mais trabalhadores para as obras da fortificação, por isso a inclusão do trabalho 
africano. Conforme o aumento de trabalhadores elevou-se também a quantidade de 
despesas para manter autoridades, colonos, indígenas e africanos provocando os baixos 
lucros da Fazenda Real. Por isso, a criação da Companhia de Comércio que em vinte anos 
de funcionamento conviveu com dificuldades para o consumo e abastecimento interno na 
Vila de Macapá. (RAVENA, 2005). 
Enquanto nas Missões os índios em sua maioria realizavam o extrativismo e a 
agricultura, no sistema do Diretório essas atividades continuariam, porém com o intuito 
de atender os colonos e a Companhia de Comércio do Estado. Desse modo, não só os 
objetivos comerciais estavam no projeto pombalino, mas a própria rotina de trabalho seria 
afetada, logo, o tempo e a disciplina do trabalho, tanto na agricultura, como nas obras 
públicas seriam marcas do sistema do Diretório. A legislação por diversas vezes, era 
desrespeitada pelos diretores, a violência, como agressões físicas, o excesso de trabalho 
nas construções, o aparecimento de doenças (as bexigas, popularmente conhecida como 
Varíola) devido a regrada e péssima alimentação nesses locais, como na construção da 
Fortaleza de Macapá, contribuíram excessivamente para o desgaste, fugas e mortalidade 
de indígenas. 
 
16 A Sebastião José, na qual o Governador Mendonça Furtado, em síntese transmite o seu pensamento. A 
Amazônia na era pombalina. Correspondência do Governador e Capitão-General do Estado do 
Grão-Pará e Maranhão, Francisco Xavier de Mendonça Furtado: 1751-1759.2. ed. Brasília, 2005. 
Tomo III, pp. 164-170. 
 
37 
Com identifica Souza Júnior (2010, p. 85) o trabalho na fortificação de Macapá 
era a certeza da exaustão pelo trabalho. Por isso, os serviços nas obras públicas eram 
considerados os mais penosos. Os índios se recusavam a irem para a construção, devido 
as condições insalubres, além do que as jornadas de trabalho poderiam levar à morte. Ao 
comentar sobre a recusa de índios para o trabalho na fortaleza da Vila de Macapá, o autor 
se reporta a uma correspondência da época, em que uma índia dizia para que levassem 
outro, mas que não levasse o seu filho para o trabalho na fortificação. 
Mediante a isso, Brito (1998, p.126), ao encontrar documentos coloniais sobre a 
organização e distribuição dos indígenas nos serviços reais, de moradores e de 
particulares, identifica que os índios na idade de 13 anos à 60 anos estavam na lista para 
os trabalhos no campo e nas obras. Observa que a maioria dos indígenas enviados para a 
construção da fortificação em Macapá, os índios das “corporações”, como identifica em 
seu trabalho, vinham principalmente de outras localidades, como do interior do atual 
estado do Pará (Portel, Melgaço, Souzel, dentre outras regiões). 
O caso apontado por Souza Júnior (2010) é uma das evidências que demonstram 
a recusa de muitos indígenas para o trabalho nas fortificações. As fugas, levaram as 
autoridades a buscarem índios em outras localidades próximas à Macapá, como identifica 
Brito (1998) na lista de trabalhadores. A autora aponta que ocorria o rodízio de 
trabalhadores de três em três meses, segundo as ordens de contrato, todavia, nem todas as 
vezes era o que ocorria, logo, o número de índios nos trabalhos condizia quase com o 
número de índios fugidos, devido as péssimas condições de trabalho nesses espaços. 
A escassez de alimentos, como a diminuição da produção de farinha, foram alguns 
dos principais obstáculos que contribuíram para o cotidiano instável na Vila de Macapá. 
O Império português almejava a construção da fortificação, elevar a produção da 
Companhia do Comércio, mas não levou em consideração que a quantidade de indígenas 
não era tão abundante quanto inicialmente, e para manter o andamento do plantio de 
gêneros, a colheitas nas roças e a criação de víveres, precisava de mão de obra

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