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BIOETICA-E-ENVELHECIMENTO

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1 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 2 
2 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA BIOÉTICA ........................................... 3 
 2.1 Princípios da bioética .................................................................................. 5 
3 ÉTICA E CUIDADO ................................................................................. 6 
4 ENVELHECIMENTO ............................................................................... 8 
5 ENVELHECIMENTO, REVOLUÇÃO BIOLÓGICA E EVOLUÇÃO 
SOCIAL............................................................................................................ 12 
6 AUTONOMIA DA PESSOA IDOSA À LUZ DA BIOÉTICA .................... 17 
7 A AUTONOMIA DIANTE DA MORTE SOB A ÓTICA MODERNA ......... 21 
 7.1 Autonomia diante da própria morte .......................................................... 22 
8 O PROLONGAMENTO DA VIDA VIA TÉCNICA ................................... 24 
 8.1 Biotecnologias ........................................................................................... 24 
9 BIOÉTICA E PESQUISA EM SAÚDE MENTAL .................................... 30 
10 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ........................................................... 35 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora 
que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
2 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA BIOÉTICA 
 
Fonte: ambientelegal.com 
A bioética teve início no início dos anos 1970 com a publicação de dois 
trabalhos muito importantes do pesquisador e professor norte-americano da área de 
oncologia Van Rensselaer Potter, no campo da biotecnologia. Ramo do conhecimento 
que ajuda as pessoas a pensar sobre o possível impacto (positivo ou negativo) dos 
avanços da ciência na vida (humanidade ou, mais geralmente, todos os seres vivos). 
Ele sugeriu construir uma “ponte” entre duas culturas, ciência e humanismo, norteado 
pela seguinte frase: “Nem tudo o que é cientificamente possível é eticamente 
justificável” (JUNQUEIRA, 2011). 
Um dos conceitos que definem Bioética (“ética da vida”) é que esta é a ciência 
“que tem como objetivo indicar os limites e as finalidades da intervenção do 
homem sobre a vida, identificar os valores de referência racionalmente 
proponíveis, denunciar os riscos das possíveis aplicações” (LEONE; 
PRIVITERA; CUNHA, 2001 apud JUNQUEIRA, 2011). 
Para isso, a bioética como campo de pesquisa deve ser examinada de forma 
interdisciplinar, o que significa que devem participar especialistas de diferentes áreas 
(especialistas da educação, direito, sociologia, economia, teologia, psicologia, 
medicina, etc.). Todos terão a sua contribuição a dar ao estudo das várias questões 
da Bioética. Por exemplo, quando um economista do governo propõe um novo plano 
econômico que afeta (negativamente) a vida das pessoas, as questões bioéticas 
devem ser levadas em consideração. Assim, os próximos itens tratarão do resgate de 
 
4 
 
conceitos das ciências humanas básicas para abordar os problemas éticos 
decorrentes do avanço das ciências da saúde. O progresso científico não é ruim, mas 
a “verdade científica” não pode substituir a ética (JUNQUEIRA, 2011). 
Os avanços tecnológicos e científicos na biologia e na saúde trouxeram, até 
recentemente, situações inimagináveis para a sociedade, inovações que trazem 
esperança, bem como preocupações e dilemas éticos para os profissionais de saúde. 
Dentre eles, a utilização de novos métodos de investigação, descobertas de 
medicamentos mais eficazes e equipamentos menos invasivos, assim como o controle 
de doenças tidas até agora como fora de controle. Essas conquistas e avanços trazem 
a esperança de melhoria da qualidade de vida, e, por outro lado, criam contradições 
que necessitam ser analisadas de forma responsável sob a luz de princípios éticos 
discutidos e analisados pelos profissionais e pela sociedade organizada (SANTIN et 
al, 2011). 
Nessa perspectiva, segundo Santin (2011), a bioética representa 
conhecimentos e valores biológicos, sendo ampliadas e discutidas as questões sociais 
relacionadas às condições de saúde e as questões relacionadas à preocupação com 
a vida dos animais e das plantas. Não só com o desenvolvimento científico e 
tecnológico, mas também com as condições de utilização das novas tecnologias. 
Dentro desses aspectos, existe também a preocupação com problemas éticos 
relacionados ao cuidado da vida e da saúde dos seres humanos. 
Portanto, o cuidado à saúde vem sendo um dos maiores desafios da 
sociedade, trazendo, por um lado, grandes perspectivas em relação ao 
aumento da longevidade, cura de doenças, melhorias na qualidade de vida 
das pessoas; e por outro, inquietações e dilemas éticos para os profissionais 
(PESSINI, 2004 apud SANTIN et al, 2011). 
Alguns dilemas estão relacionados às questões do cuidado e da manipulação 
da vida humana, bem como com a utilização de novas tecnologias, quando 
confrontadas com as dificuldades enfrentadas por parte da população que é excluída 
e está à margem do processo dos avanços tecnológicos. Assim, reflexões precisam 
ser feitas e discussões mantidas para que a ciência e a técnica não prescindam da 
ética, sob pena de transformarem-se numa forma de poder nas mãos de profissionais 
ou de uma minoria da população (SANTIN et al, 2011). 
Para Volnei Ivo Carlin (1996, p. 34-35), bioética é a “maneira de 
regulamentação das novas práticas biomédicas, atingindo três categorias de 
 
5 
 
normas: deontológicas, jurídicas e éticas, que exigem comportamento ético 
nas relações da biologia com a medicina” (SANTIN et al, 2011). 
Segundo Santin (2011) a bioética é um conhecimento complexo, o qual não 
visa apenas estabelecer normas deontológicas para dirigir e punir, de forma genérica, 
o comportamento dos profissionais da saúde. Ela pretende ir além do aspecto 
deontológico sem, contudo, ignorá-lo ou transgredi-lo. Do mesmo modo, a moral em 
vigor numa determinada sociedade ou observada por um certo grupo social também 
é levada em conta pela bioética, porque não se pode pensar em uma prática afastada 
de um contexto social e em desconformidade com suas raízes históricas e culturais. 
É assim que a bioética se distingue daquilo que se utiliza, ou seja, ela não é 
ética (estudo do bem), não é moral (normas que regulam a prática do bem) e 
não é deontologia (código de conduta), embora seja impossível sem elas (...). 
O que na ética é estudado, na moral praticado e na deontologia obrigado, na 
bioética é problematizado (SOARES; PIÑEIRO, 2002, p. 29 apud SANTIN et 
al, 2011). 
A essência da bioética é a liberdade, mas ela deve vir acompanhada de muita 
responsabilidade e do real compromisso de profissionais e pesquisadores para que o 
progresso tenha como objetivo a melhoria da qualidade de vida de todas as classes 
sociais e a preservação do planeta (SANTIN etal, 2011). 
2.1 Princípios da bioética 
Um dos marcos históricos mais significativos na genealogia da disciplina foi a 
publicação da obra “Bioética: uma ponte para o Futuro”, de Van Rensselear Potter. Já 
André Hellegers, foi quem designou o termo, dando origem à escola principialista da 
bioética (SANTIN et al, 2011). 
A bioética, definida como o estudo sistemático das dimensões morais das 
ciências da vida e do cuidado da saúde, utiliza uma variedade de 
metodologias éticas num contexto multidisciplinar. É uma disciplina que 
poderá, pelos seus fundamentos e de seus conceitos, ser um referencial, para 
respaldar as discussões sobre os avanços tecnológicos e científicos na 
prevenção, promoção, tratamento e cuidados à saúde dos seres humanos 
(PESSINI e BARCHIFONTAINE, 2006 apud SANTIN et al, 2011). 
Ainda segundo o autor, dentro dos conceitos utilizados como referenciais, numa 
visão principialista da bioética, destacam-se a autonomia, a beneficência, a não 
maleficência e a justiça. A autonomia refere-se ao direito do indivíduo de se 
 
6 
 
autogovernar, realizar suas próprias escolhas, isto é, exercer a função de protagonista 
em seu processo de saúde e doença. Sendo assim, requer que o profissional respeite 
a vontade do paciente ou seu representante. O princípio da benevolência, por outro 
lado, está relacionado a fazer o bem e evitar mais sofrimento. 
Atender os interesses importantes e legítimos dos indivíduos e, na medida do 
possível, evitar danos. O que a delimita é que o profissional da saúde deve fazer o 
bem ao seu paciente, independentemente de desejá-lo ou não. Além disso, procurar 
maximizar os benefícios (possíveis) e minimizar os danos possíveis. A não 
maleficência, por sua vez, é baseada no princípio deontológico de que se deve evitar 
ao máximo a possibilidade de causar danos. Por fim, o princípio da justiça é entendido 
como equidade, reconhecendo que todas as pessoas devem ter suas necessidades 
atendidas, preservadas suas diferenças e singularidades ((SANTIN et al, 2011). 
Salienta-se que, nos conflitos em que a bioética visa responder e problematizar, 
nem sempre todos os princípios estarão presentes. Muitas vezes será necessário 
optar por um em detrimento de outros na análise do caso concreto, em um juízo de 
ponderação sobre qual deles deverá prevalecer (SANTIN et al, 2011). 
3 ÉTICA E CUIDADO 
 
Fonte: womenshealth.pt 
A reflexão sobre a ética e sua importância no cotidiano social diz respeito à 
preocupação dos profissionais no que concerne à conduta, às atitudes e à busca de 
 
7 
 
novos modos de cuidar. Tem como base a análise das ações, como precisam ser 
realizadas e suas conseqüências na vida do ser humano/paciente (SANTIN et al, 
2011). 
Segundo Santin (2011), a ética nas relações de cuidado é uma premissa 
essencial e fundamental que incita a ação profissional com o intuito de respeitar a 
dignidade da pessoa a ser cuidada. Da doença que merece discussão urgente pelos 
profissionais de saúde ou cuidadores, gestores e sociedade. É preciso criar um quadro 
ético referencial, articulando esses fenômenos complexos, a evolução técnico-
científica, a racionalidade do saber biomédico e a busca da retomada da dignidade 
humana. É um mandamento fundamental para uma vida digna, com qualidade e não 
apenas pela quantidade de dias vividos. Os dilemas éticos vivenciados precisam de 
uma discussão urgente e profunda, para que se redefina a viabilidade humana e o 
sentido da vida. 
 A dicotomia do pensamento atual sobre saúde, hierárquico e excludente, 
impõe consciências e decisões que a sociedade não pode mais esperar. Inexiste o 
suporte mínimo necessário para conviver com essas situações e, sem um trabalho 
multidisciplinar estruturado e consistente, acabam os profissionais da saúde 
insatisfeitos e desmotivados com a profissão, já que por vezes se confrontam com 
este conflito de valores. Algo precisa, pois, ser feito, com muita responsabilidade e 
sem corporativismo (SANTIN et al, 2011). 
O sentido e o valor da vida humana, hoje desacreditada, exigem medidas 
convincentes para que a saúde seja tratada não como um bem econômico, mas como 
um meio para um fim, nomeadamente a qualidade de vida do doente hospitalizado, 
que transforma o cuidado em imponente, ação controladora e hierárquica à 
insensibilidade e indiferença no processo de enfermagem. O profissional, por sua vez, 
poderá distanciar-se do paciente, desconhecer suas necessidades e vontades, 
tornando o cuidar rotineiro, massificado, e a relação profissional da saúde/paciente 
uma convivência impessoal. 
 A revisão das relações de cuidado nas unidades de saúde por meio de um 
exercício coletivo e participativo é capaz de propor alternativas sustentáveis de 
cuidado em que o paciente exerça suas opções e seja respeitado em sua dignidade e 
em seus direitos fundamentais. É fundamental corrigir as distorções provocadas pela 
mercantilização da doença, mudando a atitude frente a esta problemática, numa 
 
8 
 
inversão perceptiva diante dos problemas éticos vivenciados, cuidar não somente das 
doenças, dos sinais e sintomas, mas ampliar a dimensão do processo saúde/doença. 
Numa abordagem multidimensional, com compromisso ético e social, e com 
competência, é possível estabelecer uma relação genuína, valorizando o acolhimento 
e a atenção ao paciente. Reduzir o distanciamento (assimetria de relacionamento) 
entre o profissional e o paciente com vistas a reconstruir o processo de enfermagem 
a partir do compromisso ético assumido pela profissão. Tudo se resume a um único 
conceito: pessoas diferentes com necessidades diferentes. E o respeito ao direito de 
decidir de cada pessoa (autonomia) a partir de suas diferenças é outro princípio básico 
de qualquer relação (SANTIN et al, 2011). 
O ser humano/paciente tem o direito de ser ouvido e de decidir sobre suas 
conveniências, sobre sua saúde e seu corpo. Não se pode ignorar totalmente a sua 
vontade no processo do cuidado. O cuidado baseado na atenção solidária, que 
entende tanto o desejo como o silêncio do paciente nas horas difíceis, mostra-se o 
caminho mais seguro e viável para a observância dos princípios éticos e da proteção 
da sua dignidade. O princípio ético da solidariedade no cuidado deve transparecer em 
sua plenitude, por meio da criação de redes de vínculos, com respeito à pluralidade 
humana e às diferenças entre profissionais e pacientes (SANTIN, 2011). 
4 ENVELHECIMENTO 
 
Fonte: portaldoenvelhecimento.com 
 
9 
 
O envelhecimento passou por uma série de mudanças conceituais ao longo da 
história mundial chegando à visão atual. No século XIX, as segregações por faixa 
etária apareceram e foram definidas em relação às funções sociais, hábitos e espaços 
ocupados na sociedade, portanto, acredita-se que o conceito de envelhecimento 
esteja intimamente relacionado ao curso da modernização e da revolução industrial 
(FIGUEIRA et al, 2021). 
Segundo Figueira (2021) no século XX, o processo de mudança sociocultural 
do envelhecimento continuou nos moldes da incipiente definição médica de idade na 
geriatria e na gerontologia, trazendo consigo definições que também serviram de base 
para a formulação de políticas públicas específicas. 
A velhice até então vista como uma etapa de preparação e espera da morte 
teve sua visão modificada, com os discursos sobre envelhecimento ativo e 
capacidade funcional, já não mais associada a doença, mas a habilidade de 
executar atividades do cotidiano, começando a separação da velhice como 
acontecimento natural, fisiológico, e da doença, processo patológico 
(HELENA & BERNARDO, 2019 apud FIGUEIRA et al, 2021). 
A Organização Mundial da Saúde define envelhecimento saudável como o 
processo de desenvolver e manter as habilidades funcionais que possibilitam o bem-
estar na velhice (OMS, 2015). 
Envelhecer bem e ter uma velhice com qualidade é um processo que 
depende de diversos fatores que interagem entresi. Neste sentido, o 
envelhecimento é uma das expressões de um ser que está em movimento, 
integrado com o mundo que o envolve, que o constitui e que é produzido por 
ele (FURTADO NOGUEIRA & BLOC BORIS, 2019 apud FIGUEIRA et al, 
2021). 
A idade aumenta as limitações em termos de saúde, relações sociais, 
enfrentamento da vida quotidiana e estatuto social, razão pela qual muito se exige do 
ponto de vista adaptativo e a não adaptação pode criar um desequilíbrio entre 
emoções, interesses, bem-estar, imagem social e compromisso global com a vida. 
Envelhecer com qualidade não envolve apenas bem-estar físico e redução de 
doenças, mas também de fatores psicossociais que afetam as ações da sociedade 
como um todo e das instituições públicas (FIGUEIRA et al, 2021). 
Atualmente existe um problema gritante entre corpo e tecnologia que contradiz 
os conceitos de saúde e beleza, pois não existe um quadro que determine o que é 
saúde e o que é beleza (CARVALHO, 2018). 
 
10 
 
Os sinais do envelhecimento constrangem as pessoas idosas, pois se 
distanciam do padrão considerado ideal, e isso faz com que tendam a resistir 
a estas modificações, investindo em produtos e serviços para modificar a 
aparência corporal (CORDEIRO et al., 2017 apud FIGUEIRA et al, 2021). 
É importante lembrar dos artigos 8 e 10, respectivamente, do Estatuto do Idoso; 
que o envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um direito social. 
Que fala também sobre a garantia da liberdade, respeito e dignidade, como pessoa 
humana e sujeito de direitos civis, políticos, individuais e sociais. Refere o direito ao 
respeito que consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral, 
abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, de valores, 
ideias e crenças. A dignidade da pessoa idosa é assinalada como instrumento 
promotor de cidadania, saúde, cuidados e qualidade de vida, para que a mesma tenha 
condições de alcançar a longevidade e uma existência digna (FIGUEIRA et al, 2021). 
Além das vulnerabilidades genético-biológicas, estamos expostos e vulneráveis 
ao longo da vida às consequências dos efeitos das influências socioculturais sobre 
cada um de nós. A inatividade no envelhecimento pode tornar patológicos os aspectos 
fisiológicos do envelhecimento, mas envelhecer não significa a perda total dos papéis 
sociais, mas sim uma modificação deles. O isolamento dos idosos reflete a falta de 
identificação das pessoas e sua fragilidade. Normalmente é o suficiente para separar 
o envelhecimento, ou seja, sua decadência os isola. Condições que limitam o acesso 
a experiências com as quais os idosos se sentem bem e se descrevem como muito 
satisfeitos e envolvidos na vida podem ser prejudiciais (FIGUEIRA et al, 2021). 
Na atualidade, a bioética pode ser entendida como uma reflexão complexa, 
interdisciplinar e compartilhada sobre a adequação das ações que envolvem a vida e 
a vida. É complexo porque abarca a diversidade do tema em questão, interdisciplinar 
pela possibilidade de poder recorrer a saberes das mais variadas áreas do 
conhecimento. Compartilhado a fim de usar as várias interfaces para conduzir 
diálogos de enriquecimento mútuo, transdisciplinar e interdisciplinar. 
A Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos (DUBDH) 
(UNESCO, 2006), assinada por 191 países em 2005, reconheceu os direitos humanos 
como referencial mínimo e universal para a bioética. Ela parte do reconhecimento de 
que a saúde é resultante de múltiplos aspectos que englobam não só o progresso 
científico e tecnológico, mas também fatores culturais e sociais. 
 
11 
 
Em seu artigo 11, a DUBDH propõe: “Nenhum indivíduo ou grupo deve ser 
discriminado ou estigmatizado por qualquer razão, o que constitui violação à 
dignidade humana, aos direitos humanos e às liberdades fundamentais”. O 
estigma só se produz ou se concretiza quando retirado do outro a sua 
dignidade, diminuído naquilo que o constitui como ser humano (GODOI & 
GARRAFA, 2014 apud FIGUEIRA et al, 2021). 
Os padrões de beleza são fatores sociais criados para padronizar e ditar o 
significado sociocultural e criar estigmatizações e marcações irreparáveis. Todos têm 
a dignidade como valor absoluto, sem discriminação de raça, cultura, religião, saúde, 
condições socioeconômicas ou idade. O que é um fim em si mesmo não tem apenas 
um valor ou preço relativo, mas um valor intrínseco. Kant afirma que “o homem não 
tem preço”, a dignidade humana é justificada pelo fato de não ter preço. Conscientizar 
sobre a dignidade e os direitos das pessoas idosas e serve como ponto de partida e 
referencial teórico para o combate às ações que violam esses direitos (FIGUEIRA et 
al, 2021). 
No princípio da caridade, algumas regras são necessárias, como proteger e 
defender os direitos dos outros, evitar danos, remover condições que causam danos 
e ajudar os necessitados. O princípio da caridade aplicado ao idoso inclui aceitar o 
envelhecimento com suas vantagens e desvantagens, bem como todas as outras 
fases da vida como uma etapa positiva e defender o direito do idoso a "ser velha e 
velha". Em sua totalidade, que sua idade não precisa mais esconder e pode abraçar. 
Aceitar as mudanças físicas que advêm com o envelhecimento é uma forma de 
respeitar e preservar a dignidade da pessoa que envelhece, pois a estigmatização é 
desumanizante (FIGUEIRA et al, 2021). 
O corpo considerado velho é aquele que não se encontra de acordo com os 
parâmetros determinados socialmente, e, portanto, são ofertados práticas e 
procedimentos que objetivam torná-lo culturalmente adequado, a fim de 
atender as exigências consideradas ideais. Os padrões estéticos definidos 
por uma conjuntura social acabam por dimensionar um obstáculo ao 
reconhecimento do indivíduo e a sua real identidade (FIN et al., 2017 apud 
FIGUEIRA et al, 2021). 
A dignidade é um valor imutável e imaterial que não depende de circunstâncias 
existenciais concretas, nem pode estar subordinado ao julgamento de outrem. A 
defesa da dignidade humana é um princípio central da bioética, por isso é importante 
eliminar a discriminação e a estigmatização dos idosos. Isso ajuda a aumentar sua 
vulnerabilidade (FIGUEIRA et al, 2021). 
 
 
12 
 
5 ENVELHECIMENTO, REVOLUÇÃO BIOLÓGICA E EVOLUÇÃO SOCIAL 
 
Fonte: megajuridico.com 
Por conveniência, nos referiremos a esse ponto de vista histórico da previsão 
de vida como tendo estruturas distintas da visão convencional. Alguns dos 
pressupostos básicos associados a essa compreensão convencional do ciclo de vida 
limitam, senão inteiramente, as possibilidades criativas dos humanos com o aumento 
da idade e definem a gama de significados apropriados para "ser velho" e a relação 
entre "ser velho". Sociedade em geral (GEORGE, 2011). 
De acordo com George (2011) como resultado, os complexos desafios éticos 
que o envelhecimento traz para os indivíduos e suas famílias e comunidades são 
discutidos apenas superficialmente nos significados tacitamente aceitos da 
expectativa de vida humana, não como questões éticas sobre o significado da vida e 
como viver a vida. 
A perspectiva de que os estágios da vida podem e irão experimentar uma 
mudança significativa por meio da evolução médica ou social simplesmente não é 
vista como um trabalho sobre a biologia do corpo humano, mesmo em face da 
evolução científica. Como o título de um livro de Kurtzman e Gordon, No More Dying: 
The Conquest of Aging and the Extension of Human Life. Extension of Human Life) 
publicado em 1976 parece mais profético do que científico, há cada vez mais 
evidências científicas de que o processo de envelhecimento é sujeito à manipulação. 
Na verdade, o envelhecimento envolve mudanças genéticas e celulares complexas, 
cujo efeito cumulativo se mostra evolutivamente nos processos de maturação ou na 
 
13 
 
aquisição de várias habilidades, bem como em processos degenerativos. associado 
ao envelhecimentoe velhice (GEORGE, 2011). 
Segundo George (2011) os procedimentos biológicos associados ao 
crescimento e desenvolvimento humano nos primeiros e médios anos também estão 
associados à degeneração. A compreensão desses processos subjacentes pode 
estender a vida útil ou estender certos estágios de desenvolvimento com base em 
várias estratégias, incluindo medicação, modificação genética ou mudanças como 
restrição calórica. 
O potencial desse tipo de trabalho levou alguns a ampliar uma visão 
excessivamente otimista do tratamento do envelhecimento. Embora esse entusiasmo 
seja historicamente novo, ele não é mais totalmente especulativo, mas baseado em 
novas pesquisas científicas que sugerem fortemente que os processos biológicos do 
envelhecimento podem ser potencialmente modificados (GEORGE, 2011). 
Ainda de acordo com George (2011) isso pode alterar significativamente a 
estrutura da expectativa de vida, o que leva a mudanças significativas no curso de 
vida das pessoas. Por exemplo, se alguns estágios do crescimento e desenvolvimento 
humano pudessem ser manipulados por meio de intervenção humana direta, seria 
difícil presumir que a expectativa de vida tem uma estrutura determinante natural que 
define as normas éticas de tal forma que seria difícil aceitar a influência do 
envelhecimento. De significados naturais tradicionalmente usados para estruturar a 
reflexão bioética contemporânea. 
Ao lado dos esforços especulativos em biologia, o envelhecimento demográfico 
mostra claramente uma forte correlação entre melhores padrões de vida e expectativa 
de vida, sugerindo que a expectativa de vida é pelo menos quantitativamente 
maleável, o que significa como as fases da vida devem ser compreendidas. Se a 
expectativa de vida causa um aumento na expectativa de vida por meio de medidas 
sociais, econômicas e de saúde, os pressupostos da expectativa de vida natural 
devem ser reexaminados. Por exemplo, uma população aposentada, jovem e idosa, 
forçou os gerontologistas a repensar a aposentadoria e a introduzir distinções que 
desafiam as suposições nas quais a avaliação de Callahan se baseia (GEORGE, 
2011). 
 
 
14 
 
Segundo George (2011) mudanças econômicas e sociais associadas com a 
economia global estão fazendo com que as sociedades reavaliem as políticas sociais 
que foram baseadas em pressupostos associados com o que foi, até o século XX, um 
período de expectativa e plano de vida tradicionalmente estável. Uma vez que muitos 
dos desenvolvimentos que estão distorcendo concepções tradicionais sobre as fases 
da vida são dinâmicos e relativamente novos historicamente, as suas implicações para 
o curso de vida típico de seres humanos nas sociedades desenvolvidas continuam 
bastante nebulosas. 
No entanto, o trabalho de Callahan e Daniels, refletindo uma compreensão 
tradicional e acrítica da expectativa de vida como algo sólido e além do reino humano, 
serve como um sinal de um problema mais profundo no domínio da bioética, ou seja, 
sua tendência para lidar com o envelhecimento e o envelhecimento. A perspectiva da 
medicina intensiva e o problema do envelhecimento, especialmente no que diz 
respeito ao morrer (GEORGE, 2011). 
Callahan, certamente aborda a questão do papel da medicina na conquista do 
envelhecimento, já que seu livro tem um capítulo com esse título. Ele se concentra 
somente no que considera ser o compromisso irracional e antiético da medicina 
moderna de adiar a morte como o fim da vida humana, em vez da questão mais 
importante do envolvimento médico no próprio processo de envelhecimento. Adiar a 
morte é sempre antiético para Callahan Quando a morte é natural, mas estamos 
menos confiantes do que em nossa capacidade de dizer quando ela é ou deveria ser. 
É claro que Callahan abordou o tema do adiamento da morte, que é o fim inevitável 
de um ciclo de vida natural com limites fixos, como tema de prolongar a vida e valorizar 
as habilidades humanas prejudicadas pelo processo de envelhecimento ou 
principalmente doenças relacionadas com o envelhecimento (GEORGE, 2011). 
Isso não é surpreendente, porque a noção de abrandar ou alterar os 
processos de envelhecimento e, correlativamente, de abrir caminhos para a 
ação e escolha humana é inconsistente com sua noção de uma expectativa 
de vida que é natural (PETER SINGER (p. 136) apud GEORGE, 2011). 
Se os processos de envelhecimento podem ser moldados, então um conceito 
de envelhecimento, que está sujeito a características naturais normativas, perde seu 
domínio estabilizador. A abordagem bioética tradicional do envelhecimento também 
parece aceitar que o envelhecimento justifica intervenção médica apenas na medida 
em que a doença está presente. Se o envelhecimento não fosse devidamente vista 
 
15 
 
como doença ou incompreensível em relação aos processos patológicos, estaria fora 
do quadro legítimo da medicina; Desse ponto de vista, é fácil ver por que, além do 
tratamento médico no fim da vida, a bioética teve pouco interesse em questões éticas 
e sociais complexas relacionadas ao envelhecimento e ao cuidado de longo prazo 
(GEORGE, 2011). 
A visão da relação da medicina e da doença que está por trás dessa atitude 
pode estar em uma confusão conceitual, que limita a intervenção médica para os 
estados ou condições de doença, como Caplan argumentou. Mesmo que o 
envelhecimento não envolva processos patológicos, ainda pode ser um objeto 
adequado para intervenções médicas e manipulação. Tendo em vista que os 
processos biológicos do envelhecimento são cada vez mais diferenciados dos 
processos de doença, sua modificação pode ser de fato um objetivo eticamente 
legítimo (GEORGE, 2011). 
Sendo assim, como Peter Singer argumenta, retardar o processo de 
envelhecimento pode muito bem proporcionar benefícios aos indivíduos atualmente 
existentes, de forma a não criar problemas que questionem a legitimidade de tais 
intervenções. Embora o envelhecimento seja um processo natural e não uma doença, 
as restrições que o envelhecimento impõe à ação, escolha e pensamento humanos 
significativos podem ser suficientes para justificar a busca por tratamentos ou uma 
"cura" para o envelhecimento. É importante ressaltar que, quando o envelhecimento 
é manipulado, a aceitação de estruturas bioéticas e valores normativos associados à 
visão natural da expectativa de vida é problemática inegavelmente afetado os 
processos de envelhecimento e têm ajudou a repensar os valores que definem as 
etapas da vida, de modo que falar da expectativa de vida como algo natural simplifica 
um conjunto muito mais complexo de fenômenos nos quais se escondem um amplo 
leque de questões bioéticas. Infelizmente, uma vez que esses elementos são perdidos 
nos principais tratamentos de bioética do envelhecimento, estamos muito além de ter 
uma bioética robusta do envelhecimento (GEORGE, 2011). 
Segundo George (2011) a aceitação tácita do conceito de expectativa de vida 
pela bioética significa que o conceito subjacente e os pressupostos de valor ainda não 
foram analisados criticamente. Isso é surpreendente, pois as mudanças históricas na 
compreensão das fases da vida, como a infância e a velhice, são bem conhecidas. No 
entanto, a reflexão bioética parece aderir a uma visão tradicional e fixa do 
 
16 
 
envelhecimento e das etapas da vida, culturais ou naturais, que têm uma estrutura 
normativa fixa. Quando for esse o caso, a estrutura tradicional para avaliar 
negativamente o envelhecimento pode mudar. Alguns dos significados opressivos 
associados às compreensões tradicionais de envelhecimento e "ser velho", na 
verdade, derivam sua força da estrutura que tantas vezes rejeitam, ou seja, uma 
estrutura que vê o envelhecimento principalmente como um processo de perda. 
Tal entendimento do envelhecimento reflete a atitude negativa da nossa cultura 
em relação a qualquer existência que não é socialmente produtiva ou socialmente 
capaz de ação produtivaeconômica, mas as mudanças demográficas e econômicas 
desde a Segunda Guerra Mundial no mundo ocidental estão desafiando diretamente 
esse entendimento. Tradicionalmente, era natural pensar que quando a ação 
produtiva é menos provável ou impossível, a existência é negativamente valorizada 
não só por outros, mas por si mesmo. Nesse contexto, a morte é vista como natural, 
porque a natureza é vista como fornecedora da base para o que é realmente uma 
construção social ou um conjunto de condições (GEORGE, 2011). 
A ideia do ciclo natural da vida, normativamente aceita na bioética, reflete, 
portanto, uma visão que valoriza a razão instrumental e prioriza o propósito (re) 
produtivo da vida humana sobre outros ideais, como a realização do pessoal por si só. 
Como as pessoas idosas têm cumprido as suas funções socialmente definidas de 
paternidade e não são mais economicamente produtivas, se tornam um grupo 
“natural” de se nomear para a chamada morte “natural”. Essa compreensão 
biologizada da morte como natural reforça a crença cultural de que outros tipos de 
morte ou morte em outras faixas etárias são inaceitáveis ou não naturais. A terapia 
intensiva neonatal, cirurgia para defeitos congênitos graves ou transplantes de órgãos 
raramente são considerados, mas a terapia intensiva é oferecida. O uso de recursos 
é centrado na idade, “naturalmente” menos produtivo e, portanto, menos valioso. 
Ironicamente, as mudanças reais na expectativa de vida e produtividade aumentaram 
nos idosos, que geralmente são saudáveis e social e economicamente produtivos 
(GEORGE, 2011). 
Sua situação existencial desmente as próprias suposições sobre o 
envelhecimento em relação ao qual o conceito de expectativa natural de vida se 
baseia. O interesse pela vida e a rejeição da morte natural, combinados com seu 
número crescente, são um poderoso motivador para o trabalho na biologia do 
 
17 
 
envelhecimento. Assim, alterações do envelhecimento, mesmo que biologicamente 
produzidas, fundamentalmente rejeitam a análise Procrustiana do envelhecimento em 
termos do modelo normativo da medicina (GEORGE, 2011). 
A associação do tratamento do envelhecimento com a medicina reflete a 
tendência moderna de medicalizar a vida, mas a explicação da medicalização pode 
obscurecer os processos mais importantes que estão moldando a maneira como a 
bioética tende a lidar com o envelhecimento. Como discutido anteriormente, certos 
elementos na chamada expectativa de vida natural são claramente criações sociais. 
Por exemplo, a infância e suas atividades distintas e propósitos são conceitos 
distintamente modernos que refletem as atitudes burguesas para o valor social dos 
indivíduos, bem como atitudes culturais sobre a diferenciação de papéis entre os 
sexos. 
Infelizmente, a bioética ainda não precisa se alinhar adequadamente aos 
processos históricos que moldaram o significado e o valor do envelhecimento. Ao 
aceitar a expectativa de vida e o envelhecimento como normativamente "naturais", a 
bioética tende a ignorar as possibilidades complexas que as famílias, comunidades e 
tradições religiosas oferecem em relação a uma variedade de visões e significados do 
envelhecimento. Esse monitoramento é problemático porque essas influências 
moldam os problemas práticos do envelhecimento e devem ser levadas em 
consideração em qualquer teoria ética apropriada (GEORGE, 2011). 
6 AUTONOMIA DA PESSOA IDOSA À LUZ DA BIOÉTICA 
 
 
18 
 
Fonte: dinizbioetica.com 
Em primeiro lugar, é importante rever o conceito de autonomia como princípio 
bioético antes de aplicá-lo. A valorização desse conceito no contexto da necessidade 
de compreender os aspectos éticos da experimentação com pessoas mostra que o 
termo está relacionado à competência humana de legislar por si; a capacidade de 
controlar, gerenciar e tomar decisões pessoais na vida diária (SAQUETTO et al, 2013). 
Beauchamp e Childress apud Saquetto (2013) usar o conceito de autonomia 
para examinar a tomada de decisão em saúde, definindo a escolha autônoma como o 
ato de governança eficaz, em vez da mera capacidade de governar. A autonomia 
pessoal pode ser influenciada por fatores de controle, como o uso excessivo de 
drogas, emoções, alfabetização, institucionalização, limitações ao nível das funções 
sensoriais (auditivas e visuais) e, principalmente, devido às capacidades mentais, 
racionalidade e inteligência suficientes. 
Hipotetiza-se que a pessoa com autonomia reduzida pode ter influência de 
outros indivíduos em determinados aspectos ou simplesmente não ter competência 
para atuar de acordo com seus próprios objetivos e vontades, não significa o mesmo 
que respeito pela pessoa autônoma, ou seja, o respeito é permitir o reconhecido direito 
ao autogoverno - e o princípio da autonomia expressa esse direito (SAQUETTO et al, 
2013). 
Porém, para que uma ação seja considerada autônoma, ela deve ser realizada 
sem qualquer tipo de manipulação ou influência que reduza a liberdade de decisão do 
protagonista. É importante ressaltar que o indivíduo deve estar plenamente informado 
sobre as vantagens e desvantagens da decisão a ser tomada e deve ser capaz de 
compreender e avaliar as informações recebidas. O consentimento deve ser 
genuinamente voluntário e baseado na divulgação correta de informações 
(SAQUETTO et al, 2013). 
De acordo com o art. 5º da Declaração Universal sobre Bioética e Direitos 
Humanos, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a 
Cultura, a autonomia da pessoa deve ser respeitada desde que ela respeite a 
autonomia dos outros e assume a responsabilidade sobre a tomada de decisões. 
Quando se fala em redução ou perda de autonomia no contexto 
gerontogeriátrico, é frequente a associação com dependência física ou social, o que 
 
19 
 
muitas vezes pode levar a uma perspectiva estereotipada sobre os idosos, o que 
reforça a ideia de que todo idoso dependente possui autonomia comprometida. Essa 
compreensão contribui para fortalecer atitudes que desconsideram a pessoa idosa 
como participante do processo existencial e de tomada de decisões pautadas na 
autonomia. Na gerontologia, a autonomia é definida como a capacidade de julgar e 
agir e pode ser vista sob duas perspectivas: como uma tarefa ética para os idosos e 
como uma exigência moral para o cuidador (SAQUETTO et al, 2013). 
De acordo com Saquetto (2013) pessoa idosa precisa encarar e assumir o 
processo da senescência, no que se refere ao saber lidar com as limitações e 
modificações e, ao mesmo tempo, conseguir situar-se na vida de forma autônoma. No 
entanto, vivenciar esse processo de transformação geralmente não é uma tarefa fácil 
para os idosos; alguns tornam essa transição espontânea e relativamente fácil, 
enquanto outros têm que induzir esse aprendizado primeiro. Mesmo o cuidador, 
principalmente se for familiar, muitas vezes sofre o impacto desse processo: cônjuge 
ou filho, o cuidador sofre ao constatar as alterações físicas e psicológicas do idoso, 
que na maioria das vezes vão apagando gradativamente o problema. Juntos Mesmo 
no gozo pleno da saúde, os idosos tendem a perder sua mobilidade e acuidade visual, 
audição, agilidade mental – dentre outros atributos dos quais desfrutou com plenitude 
nos anos precedentes. Assim, o cuidado por familiar implica em um desafio ético. 
Compromisso de ajudar a desenvolver a autonomia dos idosos e, sempre que 
possível, incentivar a tomada de decisões e iniciativas em matéria de higiene, saúde, 
emprego e relacionamentos, mesmo quando o cuidador observa a diminuição das 
competências e capacidades dos idosos. 
Para responder a esse desafio ético é importante entender e transcender os 
valores morais atualmente atribuídos aos idosos: física e mentalmente decrépitos, 
totalmente destituídos de direito de escolha e, em grande parte, socialmente inúteis. 
É fundamental perceber que essas ideias, como quaisquer outros valores,são 
impostas pela sociedade e não correspondem necessariamente à verdade. Essas 
construções míticas sobre o envelhecimento e a juventude são percebidas pelas 
sociedades clássicas e culminam em uma cultura pós-moderna do horror da velhice 
(SAQUETTO et al, 2013). 
Devemos, portanto, nos livrar desses (pré) conceitos para permitir que uma 
ética prática norteie as relações cotidianas com os idosos, pautada no respeito ao 
 
20 
 
outro como sujeito ativo. Em algumas situações, os idosos acompanham os familiares 
oferecendo-lhes uma convivência intergeracional que, por sua vez, permite o 
empoderamento mútuo e os ajuda a se sentirem incluídos na vida familiar e a ganhar 
respeito e apoio. É pela mesma razão que os idosos e aposentados são muitas vezes 
os principais responsáveis pelo sustento da família, pois não é incomum serem os 
únicos membros da família que recebem dinheiro regularmente, mas também em 
situações em que o mais velho não é o proprietário da residência. O contribui 
significativamente para a sobrevivência do grupo familiar, é importante fortalecer a 
consciência da sua autonomia e que é possível desenvolver no processo de 
envelhecimento (SAQUETTO et al, 2013). 
Para tanto, faz-se preciso que os que o rodeiam o tratem, à medida de suas 
possibilidades, como ser autônomo. Nesse sentido, é fundamental que familiares, 
cuidadores e profissionais de saúde eliminem a infantilização no trato com idosos, 
fenômeno notoriamente observado, com destaque à forte tendência a tratá-los como 
dependentes, alguém que não sabe decidir o melhor para sua vida. Do mesmo modo, 
cabe também considerar que a instalação de grupos de convivência na velhice 
configura-se estratégia potencializadora para a saúde física e psíquica dos que os 
integram, ajudando-lhes a assumir, com consciência e autonomia, o processo de 
senescência e oferecendo-lhes referenciais simbólicos que reforçam sua valorização 
como pessoa e sua busca de novos sentidos para a vida. Assim, percebe-se que, para 
compreender os idosos em uma perspectiva ampla, é necessário considerar sua 
multidimensionalidade e compreender aspectos de cunho social, político, cultural e 
econômico que requerem uma análise bioética das mudanças nas relações com as 
pessoas para possibilitar essa idade. 
Os preceitos morais modernos sobre o envelhecimento são paradoxais: por um 
lado, o respeito pelos idosos é proclamado por lei; ao contrário, é evidente o desprezo 
desses idosos, vistos como um peso para a sociedade. Essa situação paradoxal de 
respeito ao abandono se reflete não apenas na forma como os idosos são vistos, mas 
também na forma como são tratados e orientados. Comportar-se para serem aceitos, 
eles devem renunciar aos seus princípios de autodeterminação e aceitar plenamente 
a proteção dos outros, e muitas vezes são forçados a adotar comportamentos que não 
são típicos de sua personalidade. Permitir a autonomia das pessoas idosas no seio 
da família, entre os cuidadores e a sociedade como um todo tem como objetivo criar 
 
21 
 
uma compreensão mútua da identidade das pessoas desta faixa etária e do seu modo de vida. 
Trata-se de uma mudança de atitudes e conotações de valores que possibilitem aos 
idosos orientar sua vida de acordo com suas necessidades, medos, adaptações e 
realizações pessoais, uma vez que a conexão com a idade produtiva é possível no 
âmbito das vivências cotidianas (SAQUETTO et al, 2013). 
Neste contexto, entende-se que assegurar autonomia sobre as tomadas de 
decisões por parte dos idosos, bem como garantir o domínio de suas habilidades 
físicas, é ser ético com o indivíduo que está inserido em sociedade e possui vitalidade. 
Por esse motivo, é fundamental sensibilizar os cuidadores e a sociedade em geral, 
cujos membros, eventualmente, serão familiares de idosos, para que desenvolvam 
uma maior consciência dos limites fisiológicos decorrentes do processo natural de 
envelhecimento, evitando privações o indivíduo tem o direito de dirigir sua vida, mas 
oferecendo-lhe um novo modo de vida independente e seguro (SAQUETTO et al, 
2013). 
7 A AUTONOMIA DIANTE DA MORTE SOB A ÓTICA MODERNA 
 
Fonte: portaldoenvelhecimento.com 
A morte traz consigo mitos (“verdades”), que possui características conforme a 
cultura vivida no tempo e no espaço, que foi e é questionada sobre várias perspectivas 
filosóficas e religiosas. Para Kovács, a morte é vista como parte do processo da vida. 
Alguns filósofos modernos como Michel Eyken de Montaigne do século XVI, Karl 
 
22 
 
Jasper (1965) e Martin Heidegger (1962) postulam a condição de morrer para a 
existência de vida. Nos dias de hoje em que a biotecnologia e a tecnociência avançam 
com aparelhos ultramodernos, a medicina avança no combate à morte com 
transplantes de órgãos, diante e sem uma resposta que defina a morte (OLIVEIRA et 
al, 2010). 
A morte como a maior certeza da existência humana, embora quase sempre 
colocada em segundo plano, é uma peculiaridade intrínseca do Homo sapiens 
sapiens, único ser vivo que tem consciência de sua própria finitude sobre o 
desconforto e o enfrentamento entre a vida e a morte, paradoxo relacionado às 
definições preconcebidas. 
Segundo Siqueira Batista (2004) apud Oliveira (2010), existem diferentes 
perspectivas para se conceituar a morte: morte clínica, parada cardíaca; a morte 
biológica, que se apresenta como o "avanço" da morte clínica e dela se diferencia por 
seu caráter irreversível; morte aparente, estado aparente de decomposição física; 
morte encefálica, entendida como sinônimo de morte biológica; morte encefálica, que 
não deve ser confundida, pois podem ser distinguidas pela análise da respiração; 
morte legal, que estipula no artigo 10 do Código Civil que é a morte que põe fim à 
existência da pessoa física; morte psicológica, em que a percepção psicológica da 
morte precede a morte biológica em um tempo variável. 
 O autor citado acima também aponta que a morte permeia o desenvolvimento 
da ciência, principalmente na primeira metade do século XX, quando a morte clínica 
era praticamente sinônimo de morte biológica; existe uma padronização de termos 
entre morte clínica e morte encefálica que existe desde meados do século XX. Parece 
claro que o tema da conceituação da morte como parâmetro tem o momento e os 
avanços biotecnológicos que permeiam o processo natural característico da vida, a 
dimensão social e científica da tomada de decisão, de modo que parece mais 
adequado (OLIVEIRA et al, 2010). 
7.1 Autonomia diante da própria morte 
O modelo de análise bioética que sustenta os numerosos problemas dos 
avanços bioéticos, especialmente a pesquisa humana, e que é amplamente utilizado 
na prática clínica na maioria dos países, é o "principalista" introduzido em 1977 por 
 
23 
 
Beauchamp e Childress; e a segunda edição em 1979. Esses autores propõem quatro 
princípios bioéticos básicos: autonomia, benevolência, inocuidade e justiça 
(OLIVEIRA et al, 2010). 
O princípio da benevolência inclui um princípio básico: fazer o bem, do latim 
bonum facere, que é usado na prática de médicos, enfermeiras e outros profissionais 
para servir ao bem do paciente; o princípio da não agressão, por outro lado, 
complementa o da caridade e prevê a obrigação profissional de não agredir o outro 
não nocere. Em qualquer estudo sobre ética, a justiça torna-se o tema ilustre. O 
informe Belmont define o princípio de justiça como imparcialidade na distribuição de 
riscos e benefícios (OLIVEIRA et al, 2010). 
O princípio de “não causar danos” é, porém, perfeitamente aplicável para 
rejeitar qualquer forma de terapia agressiva e fútil, visto este como princípio 
da não-maleficência (PESSINI, 2007: 129 apud OLIVEIRA et al, 2010). 
O princípio da autonomia foi apoiado pela Carta dos Direitos dos Doentes em 
Hospitais Privados nos Estados Unidos em 1972. Esse princípio foi introduzido em 
outros países, incluindo o Brasil,o que influenciou o desenvolvimento de uma carta 
separada contendo os quatro direitos fundamentais, defendido: direito à vida, saúde, 
informação e uma morte digna. 
Etimologicamente, a palavra autonomia vem do grego autos (I) e nomos (regra, 
autoridade ou lei) e significa o poder de tomar decisões sobre si mesmo e de assumir 
o controle de sua vida. Para Ribeiro (2007), cada indivíduo é um estado em si mesmo; 
cada indivíduo, enquanto não violar direitos alheios, é o seu próprio soberano, é 
autônomo (OLIVEIRA et al, 2010). 
A autonomia entendida como um princípio ético é uma forma de liberdade 
pessoal baseado no respeito pelas pessoas, onde as pessoas têm o direito de definir 
o seu caminho na vida, desde que esse direito não viole a autonomia de outrem. A 
capacidade de se autogerir, escolher, repartir, avaliar sem constrangimentos internos 
ou externos, etc., junto com o critério de autonomia, criam uma virada completa na 
relação médico-paciente. Uma relação que não é mais de sujeito (médico) e objeto 
(paciente), mas de sujeitos (médico e paciente) são agora sujeitos autônomos que 
constroem relações interpessoais, compartilham decisões na sociedade e gozam de 
plenos direitos. A relação profissional-paciente tem um novo comportamento que 
reconhece a capacidade do paciente de tomar decisões; essa é a marca do princípio 
 
24 
 
da autonomia; nesse sentido, consentimento informado significa respeito pela pessoa 
com suas convicções e crenças (OLIVEIRA et al, 2010). 
 
 
 
8 O PROLONGAMENTO DA VIDA VIA TÉCNICA 
 
Fonte: rtve.es 
8.1 Biotecnologias 
Em maio de 2013 dois pesquisadores da Universidade de Harvard (Amy 
Wagers e Richard T. Lee) anunciaram a descoberta de uma proteína, a GDF11, capaz 
de reverter o processo de envelhecimento do coração. De acordo com os 
especialistas, essa é uma descoberta gigantesca, pois, além de proporcionar 
tratamento para um dos mais comuns problemas cardíacos – a falha diastólica, devido 
ao desgaste dos tecidos do órgão – mudará o modo como pensamos os processos 
de envelhecimento (ALVES, 2014). 
Os esforços do laboratório se concentram agora em viabilizar testes clínicos da 
GDF11, para que o tratamento possa chegar aos pacientes. Antes disso, em 2009, 
um trio de laboratórios em pesquisa patrocinada pelo National Institute on Aging 
anunciou que uma droga chamada rapamicina, até então conhecida por inibir o 
 
25 
 
crescimento celular, tem a capacidade estender em até 12% a expectativa de vida 
máxima em camundongos, interferindo na atividade de uma proteína denominada 
TOR de mamíferos ou mTOR. 
Essa descoberta trouxe para as pesquisas sobre antienvelhecimento uma 
evidência concreta de que o envelhecimento pode ser retardado farmacêuticamente 
e, com isso, abrem-se possibilidades para o tratamento de doenças diretamente 
relacionadas à senescência, como o Alzheimer, por exemplo. Senescência significa 
envelhecimento estritamente biológico e distinto de um envelhecimento cronológico e 
teve na medicina e nas ciências biológicas a fonte principal de sua compreensão 
(ALVES, 2014). 
A perspectiva do processo de senescência influenciou diretamente a 
demarcação de um ciclo de vida, com fases de desenvolvimento distintas 
(ROUGEMONT, 2013, p. 1 apud ALVES, 2014). 
Esses são apenas dois exemplos de muitos projetos que estão sendo 
desenvolvidos em laboratórios ao redor do mundo para curar ou retardar doenças 
relacionadas ao processo de envelhecimento humano. Melhorar a qualidade de vida 
das pessoas (ALVES, 2014). 
De acordo com Alves (2014) a busca por uma vida mais longa não é algo novo, 
pelo contrário, podemos encontrar diversos exemplos ao longo da história da 
humanidade. Diz-se que Cleópatra se banhava em leite de cabra para manter a pele 
jovem; o mito da fonte da juventude já alimentou os sonhos de muitos homens e 
mulheres, aventureiros ou não; a Idade Média foi a época dos alquimistas que 
buscavam a pedra filosofal e o elixir da longa vida. Nos dias atuais a busca por uma 
vida mais longa tem como principal motor o desenvolvimento tecnocientífico e seus 
cada vez maiores conhecimento e capacidade de manipulação do corpo humano a 
nível molecular e genético. 
Na era da técnica é através de subsídios científicos e tecnológicos que o 
homem procura meios para prolongar o máximo possível seu tempo de existência na 
terra. E, embora tal esforço não seja uma característica exclusiva do homem 
contemporâneo – imerso numa sociedade em que técnica e ciência desempenham 
um papel crucial –, podemos identificar nos dias de hoje uma diferença substancial 
em comparação aos esforços de épocas anteriores. O acúmulo de conhecimento 
científico ao longo da história da humanidade, com todas as tentativas e erros, idas e 
 
26 
 
vindas, progressos e resultados inesperados e por vezes questionáveis, fornece aos 
cientistas, técnicos e engenheiros da atualidade, um grande arsenal de 
conhecimentos que aliados às tecnologias disponíveis elevam potencialmente a 
capacidade do homem de criar e aperfeiçoar (ALVES, 2014). 
As pesquisas desenvolvidas atualmente sobre antienvelhecimento e 
longevidade, concentram-se principalmente em duas frentes: a primeira tem como 
foco as doenças ligadas ao envelhecimento e a substituição de órgãos danificados 
por meio de terapias com células-tronco para com isso, proporcionar um acréscimo 
na expectativa de vida dos indivíduos; a segunda postula que o envelhecimento deve 
ser retardado em nível celular e molecular, promovendo assim uma melhora no 
organismo como um todo e não em um órgão por vez como é o caso da primeira 
proposta (ALVES, 2014). 
Segundo estimativa de um grupo de pesquisadores da Universidade de Illinois, 
dentro de 10 ou 20 anos seria possível conseguir facilmente um acréscimo de 07 anos 
de vida saudável e daí por diante um aumento exponencial desse número. Por sua 
vez, Aubrey De Gray é ainda mais ousado em sua avaliação do aumento da 
expectativa máxima de vida humana. Ele acredita que a ciência está muito próxima 
da "cura" da velhice e pode eliminar todas as doenças por meio de tratamentos 
genéticos. Segundo ele, os benefícios da ciência médica moderna permitirão que a 
expectativa média de vida aumente exponencialmente. Em entrevista à Revista Veja 
em junho de 2011, De Grey afirma que “temos 50% de chances, com os avanços dos 
estudos a respeito da degenerescência das células, de estender a vida humana até 
200 anos até 2030- 2040” (ALVES, 2014). 
De Gray entende o envelhecimento do ponto de vista biológico como uma série 
de efeitos colaterais metabólicos que alteram progressivamente a composição do 
corpo ao longo do tempo. Com isso, o corpo torna-se gradativamente menos capaz 
de se auto manter e em consequência, menos funcional. Como solução a esses 
problemas seu projeto propõe a criação de uma medicina antienvelhecimento que 
atue em duas abordagens simultâneas: evitando o acúmulo de danos provenientes do 
metabolismo e, ao mesmo tempo revertendo, os danos já existentes. 
Nesse sentido, a analogia entre máquina e corpo funciona não como uma 
comparação entre ambos, mas no sentido de que o corpo humano tornase passível 
de intervenções, de manutenção e de reparo, viabilizando a durabilidade de suas 
 
27 
 
capacidades e o aperfeiçoamento das suas competências naturais. Não obstante a 
ousadia de suas afirmações e de seus prognósticos em relação à longevidade 
humana, De Grey afirma que não está em busca de uma fórmula da imortalidade. Seu 
objetivo é estender a vida o máximo possível, levando em consideração que há um 
limite para isso e, erradicar as doenças do corpo humano no processo. E, ainda que 
a maioria dos tratamentos não tenha saído do laboratório ou mesmo tenham se 
iniciado os testes em humanos, ele é bastante otimista em afirmar que não existem 
razões para que isso não ocorra num futuro muito próximo. Uma vez que, sua 
argumentação baseia-se na desconstruçãodo envelhecimento como uma dimensão 
imutável da natureza humana. 
O que não apenas molda seu pensamento, mas é um ponto comum para 
pesquisadores em biotecnologia do rejuvenescimento. As descobertas das 
ciências médicas até agora nos dizem que esse limite é de 120 anos. Nosso 
relógio biológico restringe a função dos órgãos e a capacidade de regenerar 
células (GUEDES, LEIS, 2010 apud ALVES, 2014). 
 É nesse contexto que se inserem as pesquisas com a enzima telomerase, que 
constituem um dos mais importantes esforços nas terapias antienvelhecimento. A 
principal característica da telomerase é prolongar a extensão dos telômeros e com 
isso, superar o limite de Hayflick. Telômeros são filamentos de um código repetido no 
final de cada fita de DNA. Cada vez que uma célula sofre divisão uma parte dos 
telômeros é perdida e isso limita o número de vezes que uma célula é capaz de se 
dividir. 
Quando o telômero chega ao fim, a célula é programada para morrer. “A 
terapia genética com telomerase promete rejuvenescer indefinidamente as 
células somáticas humanas (células não reprodutivas) – isto é, todas as 
células humanas” (KURZWEIL, 2006, p. 38 apud ALVES, 2014). 
Com isso, além de buscar a cura para diversas doenças relativas à má divisão 
ou funcionamento celular, as pesquisas com telomerase podem aumentar o limite 
biológico do corpo humano. A ciência moderna, e mais recentemente a tecnociência, 
são desenvolvidas para expandir o tempo e o escopo da atividade humana no mundo. 
A genética, o desenvolvimento de órgãos artificiais, as pílulas e diversos outros 
processos capazes de transformar o funcionamento interno do corpo humano, são 
objetos de pesquisa da ciência. São exemplos do esforço científico de não apenas 
tratar e prevenir doenças, mas também buscando fórmulas para prover ao homem 
 
28 
 
uma vida mais longa e ativa. Esses processos são a expressão na sociedade 
contemporânea do desejo do homem de se emancipar da condição frágil e perecível 
da sua biologia (ALVES, 2014). 
A velhice é considerada, nesse contexto, o sinal mais visível da fragilidade 
humana. Segundo autor agora não mais basta melhorar as condições de vida do 
homem nos moldes do projeto científico moderno, trata-se, mais do que isso de 
incrementar o status de humano. O corpo humano natural torna-se cada dia mais 
ultrapassado. A tecnologia, e principalmente aquela aplicada ao corpo chama cada 
vez mais a atenção para a contingência do homem e de seu corpo. O corpo na visão 
da ciência contemporânea é um vasto campo de experiências. O desencanto do 
mundo e da vida a que chegou a ciência ao desvendar o funcionamento do corpo, tem 
como consequência a transformação deste num laboratório de experiências que 
desperta a imaginação no sentido de melhorar potencializar, curar, criar e recriar o 
corpo humano. Torná-lo mais resistente e eficiente. Mantê-lo mais jovem e saudável. 
A biotecnociência entendida como um conjunto de ferramentas teóricas, 
técnicas, industriais e institucionais que procura transformar seres e 
processos vivos para alcançar, grosso modo, o bem-estar de indivíduos e 
populações parece ter ampla justificação e legitimidade política. Afinal, se é 
possível prover às pessoas uma vida melhor e mais longeva, promover um 
bem-estar ilimitado, então por que não? (DIAS; VILAÇA, 2010 apud ALVES, 
2014). 
Ela é um neologismo que indica a interação entre sistemas complexos nos 
quais se constituem os seres e os ambientes vivos, a fim de agir sobre eles por meio 
de um sistema técnico e informacional, bem como de dispositivos que objetivam 
orientar tal intervenção (IBIDEM, p. 1028). 
No entanto, embora várias pesquisas de terapia anti-envelhecimento estejam 
presentes e amplamente utilizadas no ambiente acadêmico e externo, as alternativas 
já alcançadas ainda são muito poucas. Os experimentos que prometem resultados 
mais drásticos ou que são mais invasivos no corpo humano, sequer chegaram à fase 
de testes com humanos ainda. As alternativas disponíveis hoje consistem em sua 
grande maioria em mudanças e tratamentos ligados à alimentação. Envolvem 
principalmente uma dieta de restrição calórica; práticas de exercícios e mudanças nos 
hábitos cotidianos em geral (ALVES, 2014). 
Esses tratamentos e dietas partem do princípio de que cuidando bem do corpo, 
é possível ao indivíduo alcançar com saúde o dia em que estará ao alcance das mãos 
 
29 
 
a possibilidade de utilizar-se das terapias e tratamentos que estão sendo 
desenvolvidos em laboratório. Um exemplo disso é o programa desenvolvido em 
conjunto por Ray Kurzweil e Terry Grossman, que é apresentado no livro "The 
Medicine of Immortality". A ideia básica do livro é que é possível viver mais e melhor 
não apenas por meio da tecnologia, mas também por meio da mudança de hábitos de 
vida. Segundo Kurzweil é uma questão de tempo até que sejamos capazes de 
estender nossa existência muito além do limite que a biologia nos impõe. E até lá, é 
possível com o conhecimento e tecnologias disponíveis hoje, manter-se saudável à 
espera do momento em que a tecnociência seja capaz de deter ou mesmo reverter o 
envelhecimento (ALVES, 2014). 
O conjunto destas técnicas constitui o que se pode chamar de prolongevidade. 
O termo, criado por Gerald Guman na década de 60 e reproposto por Post e Binstock 
em 2004, designa a busca por significativa extensão do comprimento e/ou expectativa 
de vida média, sem que em decorrência disto ocorram doenças ou sofrimento. Para 
Guman, tal propósito esta relegado ao limbo da ciência séria, pois a tradição científica 
havia até então considerava a possibilidade da prolongevidade como impossível ou 
não desejável. 
Contudo, o crescente conhecimento da ciência acerca do corpo humano e 
seu funcionamento, juntamente com o desenvolvimento tecnológico abriram 
novamente as portas para a perspectiva do prolongamento da vida com 
embasamento e legitimação científica (LEITÃO, 2010 apud ALVES, 2014). 
O projeto da prolongevidade é o de transformar o envelhecimento e também o 
corpo. De acordo com Post e Binstock (2004), a realização da prolongevidade pode 
advir de três modelos idealizados a partir do mapeamento das pesquisas em 
biotecnologia na área do envelhecimento. A saber: modelo da morbidade comprimida, 
modelo da desaceleração do envelhecimento e modelo de interdição do 
envelhecimento. Segundo o modelo de morbidade comprimida é possível chegar ao 
fim da vida livre de doenças crônicas e das limitações físicas provenientes do 
envelhecimento do corpo. Assim, após uma vida completamente saudável, haveria 
um abrupto declínio e então, a morte (ALVES, 2014). 
No modelo da desaceleração do envelhecimento, busca-se o prolongamento 
máximo da expectativa de vida: todas as doenças e restrições relacionadas ao 
envelhecimento não desapareceriam, mas seriam cada vez mais retardadas. Já o 
modelo de interdição do envelhecimento, que constitui o projeto mais ousado, aposta 
 
30 
 
na reversão dos processos de envelhecimento em indivíduos adultos. Por isso, ela 
propõe a eliminação da velhice e da morte natural. Esta se daria apenas por acidentes, 
assassinatos ou outro tipo de violência e suicídio. O modelo de proibição do 
envelhecimento nos lembra muito a sociedade do Admirável Mundo Novo, que é livre 
de velhice e doenças. O bem-estar e a melhora da qualidade de vida estão implícitos 
em todos esses programas. Desde as políticas para a promoção de um 
envelhecimento ativo, onde mesmo com todas as implicações e limitações da velhice 
o indivíduo pode aproveitar todas as possibilidades da vida em sociedade, até a 
possibilidade de reverter e eliminar o envelhecimento, o pensamento por trás destes 
projetos é o mesmo tornar as doenças e limitações da vida livres pelo maior tempo 
possível (ALVES, 2014). 
9 BIOÉTICA E PESQUISA EM SAÚDE MENTAL 
 
Fonte: medicinasa.com 
A Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos elenca15 
princípios, que devem ser observados por pessoas e instituições que lidam com as 
questões de vida, saúde e morte. A configuração da bioética como um campo, 
conforme anteriormente observado, é evidenciada na DUBDH pela não exclusividade 
dos direitos humanos como a ética de onde emanam esses princípios (OLIVEIRA, 
2018). 
 
31 
 
Todavia, os direitos humanos constituem a tônica, o que pode ser deduzido do 
próprio nome da Declaração. Tal característica, de acordo com Santos, Shimizu e 
Garrafa (2014), amplia enormemente a agenda da bioética no século XXI. 
Além disso, observamos que a partir da tônica dos direitos humanos na 
DUBDH, a bioética se aproxima das questões mais sociais implicadas nos 
fenômenos vitais acima citados, tornando-se, desse modo, importante 
referencial para agendas igualmente pautadas, em alguma medida, pelos 
direitos humanos. Para dimensionarmos esta importância é preciso 
considerar a relação existente entre direitos humanos e democracia (GOMEZ, 
2004 apud OLIVEIRA, 2018). 
Por um lado, a ausência de democracia caracteriza-se por diversos 
desrespeitos aos direitos humanos. E, por outro, a presença vigorosa desses direitos, 
mormente dos direitos sociais, potencializa a experiência democrática. É preciso 
considerar, também, que na sociedade brasileira, a democracia se encontra ainda em 
construção, apresentando a cidadania. 
“déficits alarmantes de efetividade em termos de direitos, recursos e garantias 
institucionais imanentes à cidadania civil, social e cultural” (GOMEZ, 2004, p. 
77 apud OLIVEIRA, 2018). 
Posto isto, temos a dimensão do importante papel a ser desempenhado pela 
bioética e sua declaração no apoio a pessoas, movimentos e instituições sociais, cujos 
trabalhos se encontram alicerçados na promoção e/ou proteção dos direitos humanos. 
Mas não apenas para estes. É importante lembrarmos o papel desempenhado pelos 
princípios da bioética médica principialista no sentido de humanizar o cuidado, 
tradicionalmente subsumido à técnica. 
Com isso em mente, nossa intenção aqui é mostrar como a abordagem 
psicossocial da doença mental, em especial o uso de drogas, pode encontrar respaldo 
na bioética e como essa abordagem define o cuidado a esses agravos. Ademais, uma 
vez que a abordagem psicossocial foi assumida institucionalmente pelo Sistema Único 
de Saúde, uma prática ou discurso - como é a Declaração Universal sobre Bioética e 
Direitos Humanos - que dê sustentação a essa abordagem, por extensão e em certa 
medida, confere também elementos para uma argumentação positiva acerca do 
Sistema. Com isso em mente, nossa intenção aqui é mostrar como a abordagem 
psicossocial da doença mental, em especial o uso de drogas, pode encontrar respaldo 
na bioética e como essa abordagem define o cuidado a esses agravos (OLIVEIRA, 
2018). 
 
32 
 
Em termos que definem boas práticas de saúde mental na atenção primária 
mas que acreditamos se aplicar a outros casos de atenção também, queremos que 
este texto reflita os princípios de respeito à dignidade, destacando os direitos humanos 
bem como o respeito pela autonomia e responsabilidade individual. Estes princípios, 
respectivamente referidos nos artigos 3º e 4º da DUBDH, nos parecem fundamentais 
para o dispositivo do projeto terapêutico singular, estratégico para o cuidado em saúde 
mental, em especial, na atenção ao uso de álcool e outras drogas. 
O Ministério da Saúde (BRASIL, 2013, p. 33) define o projeto terapêutico 
singular (PTS) como “um plano de ação compartilhado composto por um 
conjunto de intervenções que seguem uma intencionalidade de cuidado 
integral à pessoa”. 
Construído pela equipe e pelo sujeito que necessita do cuidado, este dispositivo 
tensiona algumas características antigas da produção de cuidado. Por um lado, 
desafia a hierarquização como elemento constitutivo do processo de trabalho em 
saúde; a supremacia médica que marca este processo é abalada por um dispositivo 
que, se não iguala todos os saberes concorrentes para a produção do cuidado, ao 
menos ressignifica aqueles outrora desconsiderados, dentre eles o próprio 
conhecimento daquele que necessita do cuidado. A consideração deste último 
conhecimento traz para a cena do cuidado a questão da subjetividade. A observância 
de suas expressões pela equipe de saúde é colocada como fundamental para os 
processos de produção de cuidado em saúde mental, uma vez que o envolvimento do 
sujeito é uma das condições para a melhora e/ou cura. Este envolvimento, por sua 
vez, é tributário da competência do sujeito para refletir e fazer escolhas, e do respeito 
que a equipe de saúde deve ter em relação a essa competência. Tal respeito se 
expressa na busca do envolvimento do sujeito em seu projeto terapêutico, busca que 
para nós materializa a observação do princípio do respeito à autonomia (OLIVEIRA, 
2018). 
O respeito ao agente autônomo é reconhecer que existem capacidades e 
perspectivas pessoais, incluindo o direito dele examinar e fazer escolhas, para tomar 
atitudes baseadas em crenças e valores pessoais. Esse respeito à autonomia envolve 
considerar o agente e capacitá-lo a agir autonomamente. É o verdadeiro respeito, 
incluindo a ação de respeitar, não mera adoção de um certo princípio. De imediato 
podemos pensar que, no contexto da produção do projeto terapêutico singular, a 
capacitação para o agir autonomamente se dá por meio do acesso à informação, nos 
 
33 
 
moldes do consentimento informado. A nosso ver, tal capacitação é dada pela 
oportunidade de exercício da autonomia, o que é feito pelo PTS em si. Em outros 
termos, em si mesmas, embora não exclusivamente, as possibilidades de escolhas, 
reflexivas e livres, abertas pelo PTS, capacitam o sujeito a agir autonomamente. Se 
tivermos em conta que: 
1) o sujeito transita por diversos espaços sociais e que 
2) as experiências em alguma medida nos educam e que o resultado da 
educação é transformação, temos que o respeito à autonomia que, originalmente, em 
bioética se vincula ao principialismo, não se reduz a este. Quando esse respeito é 
abertura para a revisão de relações instituídas de poder, ele significa uma importante 
contribuição para o empoderamento. É o que acontece com o PTS, que, possibilitando 
a experiência desse empoderamento na saúde, estabelece condições para que o 
sujeito possa replicar em outros espaços o seu agir autonomamente. No que se refere 
à atenção ao uso de drogas, a abordagem psicossocial, de modo geral, e nela a 
pactuação do projeto terapêutico singular têm o benefício de romper com uma 
abordagem médica reducionista em que o sujeito é apenas paciente OLIVEIRA, 
2018). 
Cruz (2000, p. 240) nos explica que esta passagem acontece porque as 
toxicomanias, uma vez consideradas problemas médicos, 
“passaram a ser vistas como uma doença qualquer [...] o modelo de doença 
inclui, entre seus constituintes, a ideia de inexistência ou de um forte 
abrandamento da responsabilidade daquele que está doente sobre o que lhe 
acontece”. Ocorre que, se o médico toma as decisões com exclusividade, 
além da passividade, podemos ter também, por parte do sujeito, uma 
oposição ao tratamento adotado. Devemos ainda observar mais uma questão 
quanto à relação entre PTS e construção da autonomia. Se, do mesmo modo 
que em outras questões da saúde mental, na atenção ao uso de drogas a 
pactuação do PTS contribui para uma ruptura do paternalismo próprio do 
modelo biomédico, aqui ela produz um adendo. Por meio do PTS, é minado 
o “uso do poder médico como forma de controle social” (CRUZ, 2000, p. 242 
apud OLIVEIRA, 2018) sobre uma questão em que pesa demasiadamente o 
juízo jurídico-moral. 
O treinamento comportamental por meio de medicação ou abstinência, 
realizado por meio de aparelho médico, deixa de ocorrer após o referido julgamento. 
A voz do sujeito / usuário (de serviços e drogas) quando ouvida em um nível superior. 
É profundo que simplesmente ouvir, ou seja,estar aberto ao pluralismo, traz cunhas 
para o julgamento moral legal e abala os estereótipos do discurso subjacente. 
Nas palavras de Monsalve e Román (2009, p. 41), segundo Bobbio, “apesar 
de existir um consenso quase absoluto em torno da dignidade humana como 
 
34 
 
fundadora dos direitos humanos, o significado e alcance concreto dessa ideia 
apresenta, ao contrário, um desacordo generalizado e amplo” (MONSALVE 
e ROMÁN apud OLIVEIRA, 2018). 
A partir da análise de documentos de Direito Internacional dos Direitos 
Humanos e de sentenças da Corte Americana sobre Direitos Humanos, os autores 
apontam três tipos de tensão relativos ao conceito de dignidade humana, a saber, a 
tensão entre seu caráter natural e seu caráter artificial, a tensão entre seu caráter 
abstrato e seu concreto e a tensão entre seu caráter universal e seu caráter particular. 
De fato, não temos uma definição do que se entende por dignidade humana na 
DUBDH. O seu artigo 3º nos diz apenas que, juntamente com os direitos humanos e 
as liberdades fundamentais, a dignidade humana deve ser respeitada. Também afirma 
em sua subseção que "os interesses e o bem-estar da pessoa devem prevalecer sobre 
os interesses exclusivos da ciência ou da sociedade". 
A nosso ver, no que concerne à atenção em saúde mental em nossa sociedade, 
se considerarmos sua história de violência, que tem sua sede no modelo asilar, temos 
que nem os interesses nem o bem-estar dos assistidos foram prioritários. Isso 
significou a violação de inúmeros direitos, a começar pela liberdade, que a Lei 
10.216/01 procurou proteger. 
O texto da lei não faz referência à expressão “dignidade humana”, todavia, 
podemos deduzir que o artigo 2, em que são elencados os direitos dos 
atendidos pela saúde mental, trata de sua materialização. São nove direitos, 
dos quais destacamos os dois primeiros, que se referem ao acesso ao melhor 
tratamento do sistema de saúde, de acordo com as necessidades do usuário, 
e ao tratamento “com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de 
beneficiar sua saúde” (BRASIL, 2001 apud OLIVEIRA, 2018). 
É muito clara a ressonância destes com o disposto na alínea b do artigo 3º da 
DUBDH. Do mesmo modo é claro, também, que eles apontam para a necessidade de 
dispositivos que os materializem. 
O mesmo projeto terapêutico único que dá início e estabelece um processo de 
construção da autonomia do sujeito / usuário permite que sua dignidade se 
materialize. Primeiro porque, como um dos espaços de fala/ escuta do sujeito/usuário, 
ele é uma ferramenta de humanização das relações deste com as equipes de saúde. 
Segundo porque, instado a tratar das dimensões emocional e social de seu processo 
de saúde/doença/cuidado, este sujeito/usuário dialogicamente construirá a forma 
mais benéfica de atender às suas necessidades (OLIVEIRA, 2018) 
 
35 
 
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