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DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL Direito Eleitoral Capítulos 1 ao 12 DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL Direito Eleitoral Capítulo 1 1 Olá, aluno! Bem-vindo ao estudo para os concursos de Delegado de Polícia Civil. Preparamos todo esse material para você não só com muito carinho, mas também com muita métrica e especificidade, garantindo que você terá em mãos um conteúdo direcionado e distribuído de forma inteligente. Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com fins de entender como cada Banca e cada Carreira costuma cobrar os assuntos do edital. Afinal, queremos que sua atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior aproveitamento, pois o tempo é escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para otimizar seu estudo sempre! Ademais, estamos constantemente perseguindo melhorias para trazer um conteúdo completo que facilite a sua vida e potencialize seu aprendizado. Com isso em mente, a estrutura do PDF Ad Verum foi feita em capítulos, de modo que você possa consultar especificamente os assuntos que estiver estudando no dia ou na semana. Ao final de cada capítulo você tem a oportunidade de revisar, praticar, identificar erros e aprofundar o assunto com a leitura de jurisprudência selecionada. E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou comentários, entre em contato através do e-mail pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para a gente! Racionalizara preparação dos nossos alunos é mais que um objetivo para Ad Verum, trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos agora para o estudo da disciplina. Faça bom uso do seu PDF Ad Verum! Bons estudos 2 Abordaremos os assuntos da disciplina de Direito Eleitoral da seguinte forma: CAPÍTULOS Capítulo 1– Introdução ao direito eleitoral Capítulo 2– Organização da justiça eleitoral Capítulo 3–Direitos políticos Capítulo 4 – Alistamento eleitoral Capítulo 5– Cadastro Eleitoral Capítulo 6– Partidos políticos Capítulo 7– Eleições Capítulo 8 – Propaganda política Capítulo 9– Recursos eleitorais Capítulo 10– Processo penal eleitoral Capítulo 11– Fornecimento gratuito de transporte no dia das eleições 3 SUMÁRIO CAPÍTULOS ........................................................................................................................................................................... 2 DIREITO ELEITORAL........................................................................................................................................................... 4 1. Introdução ao direito eleitoral............................................................................................................................. 4 1.1 Conceito. ................................................................................................................. Erro! Indicador não definido. 1.2 Fontes .................................................................................................................................................................... 5 1.2.1 Classificação: Fontes Materiais e Formais. ............................................................................................... 5 1.3 Princípios ............................................................................................................................................................. 11 1.3.1 Princípios da lisura das eleições .............................................................................................................. 11 1.3.2 Princípio da moralidade eleitoral ............................................................................................................ 12 1.3.3 Princípio da celeridade eleitoral ............................................................................................................. 13 1.3.4 Princípio da anualidade eleitoral ............................................................................................................ 14 1.3.5 Princípio do aproveitamento do voto ..................................................................................................... 17 QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 18 QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................................ 20 GABARITO ........................................................................................................................................................................... 29 LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 30 JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 31 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 34 4 DIREITO ELEITORAL 1. Introdução ao direito eleitoral Atenção! Futuro Delta, Eleitoral é matéria pouquíssimo cobrada, último edital cobrado de forma expressa a matéria foi Delegado SE 2018. Porém, o edital de delegado Espírito Santo de 2019 trouxe na parte de legislação especial a cobrança do código eleitoral. Portanto, estude somente os itens destacado no seu edital. Não perca muito tempo se aprofundando na matéria. Estude focado. 1.1 Conceito No Direito, existem vários ramos, como, por exemplo, o direito civil, o direito constitucional e o direito administrativo. O direito eleitoral, portanto, é apenas um dentre vários outros ramos existentes no arcabouço jurídico brasileiro. Embora seja somente um dos vários ramos, o direito eleitoral apresenta peculiaridades e características próprias que o distinguem dos demais. Antes de estudar essas especificidades, vamos ler o conceito desse ramo do direito? Marcos Ramayana afirma que o direito eleitoral é: “Ramo do Direito Público que disciplina o alistamento eleitoral, o registro de candidatos, a propaganda política eleitoral, a votação, apuração e diplomação, além de organizar os sistemas eleitorais, os direitos políticos ativos e passivos, a organização judiciária eleitoral, dos partidos políticos e do Ministério Público dispondo de um sistema repressivo penal especial”.1 Em resumo, o direito eleitoral é aquele que disciplina e regulamenta todos os assuntos relacionados à eleição2. E, por tratar de um assunto de interesse da coletividade, é um ramo de direito público3. 1RAMAYANA, Marcos. Direito Eleitoral. 10ª edição, rev., ampl. e atual., Niterói: Editora Impetus, 2010, p. 14. 2 Código Eleitoral Art. 1º Este Código contém normas destinadas a assegurar a organização e o exercício de direitos políticos precipuamente os de votar e ser votado. 3 Óbvio! Se o direito privado regula a relação entre pessoas ou entre pessoas e coisas no âmbito particular, como ocorre no direito civil, por exemplo, o direito eleitoral nunca poderia se encaixar nesse conceito. 5 Existe, no entanto, outro detalhe sobre o direito eleitoral que não foi tratado nesse conceito: a sua autonomia. Esse ramo do direito que tem ligação direta com as eleições possui institutos e normas próprias (ex. código eleitoral, lei de inelegibilidade, lei dos partidos políticos). Essa normatividade específica dá ao direito eleitoral uma certa autonomia em relação aos demais ramos. Mas, cuidado para não confundir autonomia com independência. O direito eleitoral é autônomo, mas não é independente. Isso porque possui ligações diretas e essenciais com o direito constitucional eo direito administrativo, por exemplo. Essas ligações podem ser constatadas através das normas de direito eleitoral que estão presentes na Constituição. Entendido o conceito, vamos aplicá-lo na prática? Imagine uma pessoa que quer viajar ao exterior pela primeira vez e nunca votou. Na organização dos preparativos da viagem, ela percebe que não poderá obter o passaporte porque não está em dia com as suas obrigações eleitorais. Nessa situação, qual o ramo do direito que está regulando esse tema? O direito eleitoral! Afinal, é ele o responsável por regulamentar todos os assuntos relacionados à eleição. 1.2 Fontes Segundo o dicionário4, “fonte” significa “local de origem de alguma coisa; origem, procedência, proveniência”. Então, o que vamos estudar agora é o local de onde se origina o direito eleitoral. 1.2.1 Classificação. Fontes Materiais x Fontes Formais As fontes materiais são os movimentos sociais, políticos e econômicos que levam ao surgimento da norma jurídica. Assim, todos os fatores que ensejam a criação de uma norma são considerados fontes materiais. Vamos para um exemplo prático! A Resolução n.º 23.457/15 do TSE, que dispõe sobre a propaganda eleitoral, assim dispõe: 4http://michaelis.uol.com.br/busca?r=0&f=0&t=0&palavra=fonte. 6 Art. 20. É vedada a propaganda eleitoral por meio de outdoors, inclusive eletrônicos, sujeitando-se a empresa responsável, os partidos, as coligações e os candidatos à imediata retirada da propaganda irregular e ao pagamento de multa no valor de R$5.000,00 (cinco mil reais) a R$15.000,00 (quinze mil reais). Essa norma jurídica elaborada pelo TSE não surgiu do nada, certo? Algum movimento político/social começou a ecoar nos corredores do TSE, e, após muita discussão e votação, o Tribunal concordou que a propaganda em outdoor é errada e elaborou a resolução normativa proibindo-a. Conclusão: toda norma jurídica, seja ela uma lei ou uma simples resolução, sempre é fruto/resultado de alguma coisa, de algum movimento. Damos a esse “movimento” o nome de fonte material. Alguns exemplos desse tipo de fonte são a doutrina e a consulta pública. E a fonte formal? Então, se uma lei eleitoral for originada de argumentos trazidos no livro de um grande doutrinador, o livro é a fonte material, é o movimento que influenciou a criação da norma jurídica, e a lei é o resultado desse movimento influenciador, ou seja, é a fonte formal. Vamos falar um pouco sobre a competência para legislar sobre direito eleitoral. A CF atribui tal competência à União: Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; Nós vimos há pouco que a fonte formal é o resultado da fonte material e que um dos exemplos de fonte formal é justamente a lei eleitoral. Pergunto: essa lei eleitoral, fonte formal, somente pode ser editada pela União? Como você acha que ocorre esse “ecoamento”? Como você acha que esse movimento chega aos ouvidos dos Ministros do TSE? Por vários fatores! Alguém pode ter solicitado uma consulta pública sobre esse tema. Um Ministro pode ter lido algo na doutrina acerca do assunto. Enfim! E de quem é a competência para elaborar essa fonte formal do direito eleitoral? Veja a resposta na próxima página! 7 Antes de responder, dê uma olhada no parágrafo único do art. 22: Art. 22 Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo. Segundo esse dispositivo,a União pode delegar, por meio de lei complementar, questões específicas da sua competência legislativa para os Estados. É possível, então, afirmar que os Estados podem legislar sobre questões específicas de direito eleitoral? NÃO! O objetivo do direito eleitoral é regular tudo aquilo relacionado às eleições, certo? Então, faria sentido o processo eleitoral ser diferente em cada Estado da federação? Não! As regras eleitorais precisam ser uniformes em todo o território nacional. E isso somente é alcançado através de uma lei nacional, editada pela União. Dessa forma, uma lei estadual jamais poderá tratar de matéria eleitoral, jamais poderá ser fonte formal do direito eleitoral. Baseando-se no que você leu agora, qual a resposta daquela pergunta? SIM! Ultrapassado o ponto da competência legislativa, vamos aprofundar mais um pouco o assunto “fonte formal”. São exemplos de fontes formais: Código Eleitoral Lei n.º 9.504/97 (Lei das Eleições) Resolução do TSE Medida provisória5 Vamos falar um pouco acerca da resolução do TSE? Antes, precisamos antecipar o tópico referente às competências do TSE. O Código Eleitoral atribuiu ao TSE a seguinte competência: Art. 23 - Compete, ainda, privativamente, ao Tribunal Superior, 5 Não é possível a edição de medida provisória sobre direito eleitoral. Há vedação expressa no artigo 62, §1º, I, a. 8 IX - expedir as instruções que julgar convenientes à execução deste Código; Esse dispositivo, portanto, concedeu à Corte Superior Eleitoral um poder normativo, um poder de editar normas infralegais e regulamentares6. É aí que está o detalhe desse poder: é um poder limitado. Afinal, os atos normativos dele emanados são secundários, pois servem para dar execução à lei e, por isso, jamais podem inovar o direito, jamais podem trazer novas regras, novos direitos, novas obrigações até então inexistentes na legislação eleitoral. Repito: as resoluções do TSE são atos normativos secundários! A jurisprudência do STF nem sempre entendeu que as resoluções do TSE seriam fontes secundárias. Antes, a maioria dos Ministros do Supremo entendiam o contrário: a natureza primária das resoluções. 1º entendimento: as resoluções do TSE têm caráter primário. No julgamento da ADI nº. 3.999 e ADI nº. 4.086, o STF entendeu pela constitucionalidade da Resolução TSE nº. 22.610/2007, que versava sobre o processo de perda de mandato eletivo por infidelidade partidária. Ao decidir pela constitucionalidade, o Supremo estava reconhecendo que as resoluções do TSE têm caráter primário e, desse modo, podem inovar o direito7, pois somente normas jurídicas dessa natureza podem ser submetidas ao controle de constitucionalidade. As normas secundárias, ao contrário, por não ter seu fundamento de validade retirado da Constituição, não se submete ao controle de constitucionalidade, mas ao controle de legalidade. 2º entendimento: as resoluções do TSE têm caráter secundário. 6 Vide questão 5 e 6. 7 A Resolução TSE nº. 22.610/2007 inovou o direito ao trazer novas hipóteses de perda de mandato eletivo por infidelidade partidária que não existiam na legislação eleitoral. 9 Esse é o entendimento que prevalece atualmente na Corte Suprema. A mudança de entendimento se deu, em parte, pela alteração legislativa ocorrida no artigo 105 da Lei das Eleições (9.504/97). Leia atentamente a nova e a antiga redação: Art. 105. Até o dia 5 de março do ano da eleição, o Tribunal Superior Eleitoral expedirá todas as instruções necessárias à execução desta Lei, ouvidos previamente, em audiência pública, os delegados dos partidos participantes do pleito. Art. 105. Até o dia 5 de março do ano da eleição, o Tribunal Superior Eleitoral, atendendo ao caráter regulamentar e sem restringir direitos ou estabelecer sanções distintas das previstas nesta Lei, poderá expedir todas as instruções necessárias para sua fiel execução, ouvidos, previamente, em audiência pública, os delegados ou representantes dos partidos políticos. (Redação dada pela Lei nº 12.034, de 2009) Percebeu as novidades? A nova redação deixou claro que as resoluções do TSE têm caráter regulamentar (infralegal) e, portanto, somente podem complementar/detalhar a lei (jamais inovar). Portanto, em provasobjetivas8, adote esse posicionamento! Para resumir, vamos esquematizar? Fontes primárias x Fontes secundárias A distinção de fonte primária e secundária está relacionada ao chamado “fundamento de validade”. Se a norma jurídica foi elaborada com base na Constituição Federal, essa é uma 8 Em relação as provas subjetivas, você precisa saber que o STF admite o controle de constitucionalidade de algumas resoluções do TSE que disciplinam assuntos estritamente constitucionais. Isso não significa, no entanto, que as resoluções têm caráter primário, apenas que elas podem sofrer controle de constitucionalidade em razão da importância da matéria que ela carrega. 10 norma primária. Mas, se a norma foi elaborada para complementar/detalhar uma lei já existente, o seu fundamento de validade é a lei e não a Constituição. Por isso, trata-se de uma fonte secundária. Vamos detalhar! Veja o que está previsto na Constituição Federal: Art. 14 § 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. Essa lei complementar é uma fonte primária ou secundária? Fonte primária! Afinal, o que permitiu a sua criação foi a própria Constituição. O texto constitucional foi, portanto, o seu fundamento de validade. Seguindo essa linha de raciocínio, responda: se o TSE elaborar uma resolução detalhando/complementando os dispositivos dessa lei complementar, essa norma jurídica do TSE será uma fonte primária ou secundária? Muito bem... Secundária! Dê uma olhada nesse organograma: Entendeu melhor agora? CF Fonte primária Fonte secundária 11 Último detalhe: como o objetivo da fonte secundária é complementar a norma jurídica primária, ela não pode inovar, ou seja, ela não pode trazer nenhum conteúdo novo, nenhum conteúdo que extrapole aquele já contido na norma. Fontes diretas x Fontes indiretas A fonte direta é aquela que trata especificamente de matéria de direito eleitoral. É o caso, por exemplo, do Código Eleitoral e da Lei das Eleições (9.504/97). A fonte indireta, ao contrário, é aquela que não está relacionada ao direito eleitoral, mas que, mesmo assim, é aplicada ao direito eleitoral subsidiariamente. Há casos em que essa aplicação subsidiária está prevista expressamente no próprio CE, observe: Art. 364. No processo e julgamento dos crimes eleitorais e dos comuns que lhes forem conexos, assim como nos recursos e na execução, que lhes digam respeito, aplicar-se-á, como lei subsidiária ou supletiva, o Código de Processo Penal. 1.3 Princípios Antes de estudar cada um dos princípios eleitorais, uma introdução sobre o tema é fundamental. A norma jurídica é o gênero. Suas espécies são: As regras Os princípios Portanto, quando alguém fala em “norma jurídica”, pode estar se referindo tanto as regras quanto aos princípios jurídicos. Agora, estudaremos os princípios aplicáveis ao direito eleitoral. 1.3.1 Princípio da lisura das eleições A chave para entender esse princípio está na sua nomenclatura: “lisura”. Segundo o dicionário9, essa expressão significa “lealdade, boa-fé, honestidade, probidade”. A partir desses significados, você consegue entender como esse princípio é aplicado na prática eleitoral, estou 9http://michaelis.uol.com.br/busca?r=0&f=0&t=0&palavra=lisura 12 certo? O que esse princípio almeja, como norma jurídica, é que a atuação de todos os envolvidos no processo eleitoral seja honesta, seja justa e seja leal. Alcançado esse objetivo, o princípio da lisura das eleições estará sendo aplicado na sua integralidade10. Para continuar, é importante dizer que esse é um princípio expresso na legislação eleitoral: Lei Complementar nº. 64/90 Art. 23. O Tribunal formará sua convicção pela livre apreciação dos fatos públicos e notórios, dos indícios e presunções e prova produzida, atentando para circunstâncias ou fatos, ainda que não indicados ou alegados pelas partes, mas que preservem o interesse público de lisura eleitoral. 1.3.2 Princípio da moralidade eleitoral O princípio da lisura das eleições, estudado acima, impõe a honestidade durante os trâmites eleitorais. O princípio da moralidade eleitoral, por sua vez, vai mais além: impõe uma análise completa da vida pregressa do candidato. O objetivo dessa análise é justamente comprovar a moralidade do candidato. Observe o que diz a Constituição: Art. 14 § 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. Essa Lei Complementar nº 64/90 representa a consolidação desse princípio? Pois é! Ao trazer inúmeras hipóteses de inelegibilidade, ela está garantindo um processo eleitoral honesto e preservando a moralidade dos candidatos. Vamos analisar uma dessas hipóteses: Art. 1º São inelegíveis: 10 Vide questão 3. 13 e) os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, desde a condenação até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o cumprimento da pena, pelos crimes: 1. contra a economia popular, a fé pública, a administração pública e o patrimônio público; Compreendeu? Você concorda que essa lei, ao proibir que condenados por crimes contra o patrimônio público sejam candidatos, está garantindo eleições justas? Vamos seguir! 1.3.3 Princípio da celeridade eleitoral O princípio da celeridade está previsto na Constituição Federal: Art. 5 LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. Por estar previsto na Constituição, esse princípio é aplicado em todos os ramos do direito, concorda? No entanto, no direito eleitoral, esse princípio é entendido e aplicado de forma especial. Como as eleições se iniciam e terminam em datas determinadas, o trâmite de todos os atos que compõem a eleição precisa ser muito mais rápido. Por isso, alguns usam outra denominação para se referir a esse princípio em relação ao direito eleitoral: imediaticidade. Essa expressão, de fato, resume bem o papel dessa norma jurídica no processo eleitoral brasileiro, pois as decisões ali proferidas precisam ser “imediatas”. Observe o que está previsto no CE: Art. 257 § 1o A execução de qualquer acórdão será feita imediatamente, através de comunicação por ofício, telegrama, ou, em casos especiais, a critério do presidente do Tribunal, através de cópia do acórdão. A imediaticidade do processo eleitoral também pode ser comprovada na Lei das Eleições (9.504/97): 14 Art. 97-A. Nos termos do inciso LXXVIII do art. 5o da Constituição Federal, considera-se duração razoável do processo que possa resultar em perda de mandato eletivo11 o período máximo de 1 ano, contado da sua apresentação à Justiça Eleitoral. Decorre do princípio da celeridade um princípio muito cobrado em prova: o princípio da preclusão instantânea das decisões eleitorais. A ligação entre os dois princípios é clara e simples. Se o processo eleitoral precisa ser “imediato”, a parte interessada em recorrer precisa se manifestar imediatamente, sob pena de perder esse direito. O artigo do CE que trata desse princípio também é bem didático, veja: Art. 147 § 1º A impugnação à identidade do eleitor, formulada pelos membros da mesa, fiscais,delegados, candidatos ou qualquer eleitor, será apresentada verbalmente ou por escrito, antes de ser o mesmo admitido a votar. 1.3.4 Princípio da anualidade eleitoral Preste bem atenção! Esse princípio é o mais cobrado em provas de concurso. O princípio da antinomia eleitoral está previsto expressamente na Constituição: Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 4, de 1993) Você conseguiu compreender as marcações feitas no texto? Elas servem para chamar sua atenção para diferenciação12 feita pelo legislador entre a vigência da lei e a sua eficácia. Vamos conceituar: Vigência: refere-se à existência da norma Eficácia: refere-se à produção de efeitos da norma 11 Atenção! Somente o processo eleitoral que possa resultar em perda do mandato é que tem o prazo máximo de duração fixado em 1 ano. Todos os demais processos eleitorais não têm prazo fixo de conclusão. Porém, devem observar o princípio da celeridade. 12A redação anterior do dispositivo constitucional não fazia tal diferenciação: Art. 16 A lei que alterar o processo eleitoral só entrará em vigor um ano após sua promulgação. Ou seja, não existia “vigência” e “eficácia”; tudo era considerado “vigência”. A nova redação, portanto, corrigiu um erro teórico grave. Afinal, após a publicação, ela já existe! Depois? O direito de impugnar estará precluso por causa do princípio da preclusão instantânea das decisões eleitorais 15 Para a Constituição, a lei que altera o processo eleitoral tem vigência imediata (na data publicação), mas não produz efeitos imediatos. Os seus efeitos são pro futuro, ou seja,o conteúdo ali disposto somente surtirá algum efeito depois de algum tempo (1 ano após a data da vigência)13. Imagine uma lei que foi publicada no dia 14/11/2017 e que diminuiu pela metade o tempo de propaganda eleitoral no rádio e na TV. Quando essa lei entrará em vigor e quando produzirá efeitos? Atenção! Antes de responder, tenha cuidado com uma das marcações feitas no texto. O princípio da anualidade eleitoral somente é aplicado para aquelas leis que alteram o processo eleitoral. Caso não haja essa alteração, as leis entrarão em vigor e produzirão efeitos imediatamente, entendeu? Vamos lá! Como a diminuição do tempo de rádio e TV altera o processo eleitoral, o princípio da anterioridade eleitoral precisa ser observado, certo? Logo, essa lei entrará em vigor em 14/11/2017, mas não produzirá efeitos na eleição de 2018, pois os efeitos somente começam a ocorrer 1 ano após a publicação. Segundo o STF, altera o processo eleitoral a lei que promover: Alteração motivada por propósito casuístico Rompimento da igualdade de participação dos partidos políticos e dos candidatos Alteração que afete a normalidade das eleições Fator de perturbação Utilizando o mesmo exemplo, responda: qual regra é aplicada na eleição de 2018? Você concorda que a nova lei revogou tacitamente o dispositivo que tratava do tempo de rádio e TV? Você também concorda que, embora tenha ocorrido essa revogação, o novo tempo de rádio e TV não valerá para as eleições de 2018 em razão do princípio da anualidade? Pronto! Se você concordou comigo nesses dois pontos, você entendeu uma das consequências desse princípio: a ultratividade da legislação anterior. Como a nova lei somente produzirá efeitos 1 ano após a data da publicação, a lei antiga continua produzindo efeitos durante esse período14. 13 Vide questões 1 e 2. 14 Vide questão 7. 16 Ultrapassado esses detalhes do princípio, vamos aprofundar, ok? Por que o legislador constituinte criou esse dispositivo? Por que ele criou esse princípio eleitoral? Bem, para proteger você, o cidadão. O objetivo desse princípio é justamente evitar que o legislador derivado muda a legislação eleitoral a qualquer momento, de acordo com as circunstâncias políticas e econômicas do momento. Esse princípio serve, então, para dar uma certa estabilidade ao processo eleitoral. É um alerta imposto ao legislador: “se você alterar o processo eleitoral, a alteração somente produzirá efeitos daqui a um ano”. Esse princípio, portanto, nada mais é do que uma garantia individual. Sendo assim, nenhuma proposta de emenda pode abolir o disposto no artigo 16, sob pena de violar uma cláusula pétrea15. Esse também é o entendimento do STF na ADI nº. 3.685: 5. Além de o referido princípio conter, em si mesmo, elementos que o caracterizam como uma garantia fundamental oponível até mesmo à atividade do legislador constituinte derivado, nos termos dos arts. 5º, § 2º,e 60, § 4º, IV, a burla ao que contido no art. 16 ainda afronta os direitos individuais da segurança jurídica (CF,art. 5º, caput) e do devido processo legal (CF, art. 5º, LIV). Vimos até agora que uma lei que alterar o processo eleitoral somente produzirá efeitos 1 ano após a data da sua publicação. E se não for uma lei? E se a alteração que alterar o processo eleitoral for causada por uma jurisprudência do TSE? Essa alteração também precisará respeitar o princípio da anterioridade eleitoral? O STF já de debruçou sobre o tema no julgamento do RE nº. 637.485/RJ: 15 Art. 60 § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:IV - os direitos e garantias individuais. 17 (...) II. MUDANÇA DA JURISPRUDÊNCIA EM MATÉRIA ELEITORAL. SEGURANÇA JURÍDICA. ANTERIORIDADE ELEITORAL. NECESSIDADE DE AJUSTE DOS EFEITOS DA DECISÃO. Mudanças radicais na interpretação da Constituição devem ser acompanhadas da devida e cuidadosa reflexão sobre suas consequências, tendo em vista o postulado da segurança jurídica. Não só a Corte Constitucional, mas também o Tribunal que exerce o papel de órgão de cúpula da Justiça Eleitoral devem adotar tais cautelas por ocasião das chamadas viragens jurisprudenciais na interpretação dos preceitos constitucionais que dizem respeito aos direitos políticos e ao processo eleitoral. Não se pode deixar de considerar o peculiar caráter normativo dos atos judiciais emanados do Tribunal Superior Eleitoral, que regem todo o processo eleitoral. Mudanças na jurisprudência eleitoral, portanto, têm efeitos normativos diretos sobre os pleitos eleitorais, com sérias repercussões sobre os direitos fundamentais dos cidadãos (eleitores e candidatos) e partidos políticos. No âmbito eleitoral, a segurança jurídica assume a sua face de princípio da confiança para proteger a estabilização das expectativas de todos aqueles que de alguma forma participam dos prélios eleitorais. A importância fundamental do princípio da segurança jurídica para o regular transcurso dos processos eleitorais está plasmada no princípio da anterioridade eleitoral positivado no art. 16 da Constituição. O Supremo Tribunal Federal fixou a interpretação desse artigo 16, entendendo-o como uma garantia constitucional (1) do devido processo legal eleitoral, (2) da igualdade de chances e (3) das minorias (RE 633.703). Em razão do caráter especialmente peculiar dos atos judiciais emanados do Tribunal Superior Eleitoral, os quais regem normativamente todo o processo eleitoral, é razoável concluir que a Constituição também alberga uma norma, ainda que implícita, que traduz o postulado da segurança jurídica como princípio da anterioridade ou anualidade em relação à alteração da jurisprudência do TSE. Assim, as decisões do Tribunal Superior Eleitoral que, no curso do pleito eleitoral (ou logo após o seu encerramento), impliquem mudança de jurisprudência (e dessa forma repercutam sobre a segurança jurídica), não têm aplicabilidade imediata ao caso concreto e somente terão eficácia sobre outros casos no pleito eleitoral posterior. Em resumo, precisam respeitar o princípio da antinomia eleitoral: Lei que alterar o processo eleitoral Jurisprudência que alterar o processo eleitoral 1.3.5 Princípio do aproveitamento do voto No direito eleitoral, a proteção da soberania popular é o objetivo primordial. Por isso, nada mais lógico do que existir uma norma jurídica protetora do voto. Vamos a ela: 18 Art. 219. Na aplicação da lei eleitoral o juiz atenderá sempre aos fins e resultados a que ela se dirige, abstendo-se de pronunciar nulidades sem demonstração de prejuízo. Conseguiu compreender o que esse artigo 219 está afirmando? Isso mesmo! Ele está dizendo que o juiz eleitoral não poderá anular um voto sem que haja demonstração cabal do prejuízo que a sua manutenção causa. 1.3.6 Princípio da vedação de restrição de direitos políticos O princípio da vedação da restrição dos direitos políticos, também conhecido como princípio da atipicidade eleitoral ou da estrita legalidade, impede o intérprete de adotar conclusões restritivas quanto aos direitos políticos, quando a legislação eleitoral não o faz. Em síntese, assuntos relacionados aos direitos políticos, como a inelegibilidade, por exemplo, devem ser interpretados restritivamente, de modo a garantir a máxima efetividade do direito fundamental. Thales Tácito Cerqueira e Camila Cerqueira, citados por Marcos Ramayana, definem bem o princípio, observe: “No Direito Eleitoral brasileiro, onde não se estiver restringido direitos políticos, não cabe ao intérprete fazê-lo. Este princípio é fundamental, é norma de aplicação geral, e corresponde exatamente ao in dubio pro reo do Direito Processual Penal. Podemos chamá-lo de in dubio pro candidato ou in dubio pro eleitor, ou seja, havendo dúvida, deve sempre o juiz ou tribunal priorizar a não restrição de direitos políticos”.16 Cuidado para não pensar que os direitos políticos não podem ter seu exercício cerceado, pois, podem! O que o princípio, em questão, nos traz é que toda e qualquer restrição deve estar baseada na legislação17. 16RAMAYANA, Marcos. Direito Eleitoral. 10ª edição, rev., ampl. e atual., Niterói: Editora Impetus, 2010, pág. 23. 17 Vide questão 1. 19 QUADRO SINÓTICO FONTES FORMAIS x MATERIAIS A fonte formal é o resultado da fonte material, é a forma que a fonte material adquiri ao ingressar no mundo jurídico. As fontes materiais são os movimentos sociais, políticos e econômicos que levam ao surgimento da norma jurídica. PRIMÁRIAS x SECUNDÁRIAS A distinção de fonte primária e secundária está relacionada ao chamado “fundamento de validade”. Se a norma jurídica foi elaborada com base na Constituição Federal, essa é uma norma primária. Mas, se a norma foi elaborada para complementar/detalhar uma lei já existente, o seu fundamento de validade é a lei e não a Constituição. Por isso, trata-se de uma fonte secundária. DIRETAS x INDIRETAS A fonte direta é aquela que trata diretamente de matéria de direito eleitoral. A fonte indireta, ao contrário, é aquela que não está relacionada ao direito eleitoral, mas que, mesmo assim, é aplicada ao direito eleitoral subsidiariamente PRINCÍPIOS LISURA DAS ELEIÇÕES O que esse princípio almeja, como norma jurídica, é que a atuação de todos os envolvidos no processo eleitoral seja honesta, seja justa e seja leal. MORALIDADE ELEITORAL O princípio da moralidade eleitoral impõe uma análise completa da vida pregressa do candidato. O objetivo dessa análise é justamente comprovar a moralidade do candidato. CELERIDADE ELEITORAL Como as eleições se iniciam e terminam em datas determinadas, o trâmite de todos os atos que compõem a eleição precisa ser muito mais rápido. Por isso, alguns usam outra denominação para se referir a esse princípio em relação ao direito eleitoral: imediaticidade. ANUALIDADE ELEITORAL Para a Constituição, a lei que altera o processo eleitoral tem vigência imediata (na data publicação), mas não produz efeitos imediatos. Os seus efeitos são pro futuro, ou seja, o conteúdo ali disposto somente surtirá algum efeito depois de algum tempo (1 ano após a data da vigência). APROVEITAMENTO DO VOTO No direito eleitoral, a proteção da soberania popular é o objetivo primordial. Por isso, nada mais lógico do que existir uma norma jurídica protetora do voto. VEDAÇÃO DE RESTRIÇÃO DE DIREITOS POLÍTICOS O princípio da vedação da restrição dos direitos políticos, também conhecido como princípio da atipicidade eleitoral ou da estrita legalidade, impede o intérprete de adotar conclusões restritivas quanto aos direitos políticos, quando a legislação eleitoral não o faz 20 QUESTÕES COMENTADAS Questão 1 (CESPE – 2019 – MPE/PI – PROMOTOR) O princípio que sustenta a ideia de que o intérprete da norma deve manter a aplicação da lei estritamente vinculada às limitações por ela impostas a candidatos e eleitores é o da A) vedação da restrição de direitos políticos. B) democracia partidária. C) responsabilidade solidária. D) periodicidade da investidura. E) celeridade da justiça eleitoral. Comentário: O princípio da vedação da restrição de direitos políticos é dirigido exclusivamente ao intérprete do direito eleitoral. Ele proíbe que o intérprete faça interpretações restritivas em relação aos direitos políticos. Dessa forma, esse princípio representa uma garantia ao cidadão de que todos os direitos políticos previstos no ordenamento jurídico serão preservados pelo aplicador da lei. 21 Questão 2 (VUNESP -2018 – CÂMARA MUNICIPAL – ASSISTENTE LEGISLATIVO) Se, hipoteticamente, tivesse sido sancionado, no dia 15 de maio de 2018, um projeto de lei que alterasse a Lei Federal nº 9.504/97, que estabelece as normas gerais para as eleições no Brasil, modificando, em larga medida, a disciplina da propaganda eleitoral, é correto dizer que a nova lei A) não poderia ser aplicada às eleições de outubro de 2018, em razão da incidência do princípio da lisura das eleições. B) poderia ser aplicada às eleições de outubro de 2018, em razão da incidência do princípio da democracia. C) não poderia ser aplicada às eleições de outubro de 2018, em razão da incidência do princípio da anualidade eleitoral. D)poderia ser aplicada às eleições de outubro de 2018, em razão da incidência do princípio do aproveitamento do voto. E)não poderia ser aplicada às eleições de outubro de 2018, em razão da incidência do princípio federativo. Comentário: A questão trata do princípio da anualidade eleitoral, anterioridade eleitoral ou antinomia eleitoral. O referido princípio impede a produção de efeitos imediata da lei alteradora do processo eleitoral. Os efeitos somente serão produzidos 1 ano após a data da publicação da norma. Segundo o STF, implica alterações no processo eleitoral a lei que promover: Rompimento da igualdade de participação dos partidos políticos e dos respectivos candidatos Criação de deformação que afete a normalidade das eleições Introdução de fator de perturbação Promoção de alteração motivada por propósito casuístico. 22 Questão 3 (CONSUPLAN – 2018 – TJ/MG - JUIZ) Avalie as seguintes asserções e a relação proposta entre elas. I. “É absoluta, plena ou de eficácia total, e de aplicabilidade imediata, sem quaisquer exceções, o princípio da anualidade ou anterioridade da lei eleitoral.” PORQUE II. “ O princípio foi pensado pelo constituinte com o propósito de impedir mudanças repentinas, de última hora, no processo de escolha dos agentes políticos que emergem das eleições.” A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta. A) A segunda afirmativa é falsa e a primeira verdadeira. B)A primeira afirmativa é falsa e a segunda é verdadeira. C)As duas afirmativas são verdadeiras e a segunda justifica a primeira. D)As duas afirmativas são verdadeiras, mas a segunda não justifica a primeira. Comentário: A primeira alternativa (I) é falsa! O princípio da anualidade eleitoral estabeleceuuma restrição para algumas leis eleitorais: a produção de efeitos somente ocorrerá um ano após a data da sua publicação. Ocorre que essa restrição não existe em todas as leis eleitorais, mas somente naquelas que alterem o processo eleitoral. Questão 4 (VUNESP – CÂMARA MUNICPAL/VALINHOS - ANALISTA) Assinale a alternativa que corretamente discorre sobre os princípios do direito eleitoral. 23 A) Os magistrados e os membros do Ministério Público Eleitoral são investidos na função eleitoral pelo prazo improrrogável de 4 (quatro) anos, por força do princípio da periodicidade da investidura das funções eleitorais. B) O princípio da lisura das eleições ou da isonomia de oportunidades está calcado na ideia de cidadania, de origem popular do poder e no combate à influência do poder econômico ou político nas eleições. C) Pelo princípio da anterioridade eleitoral, a lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, mas não surtirá efeitos na eleição que ocorra até 90 (noventa) dias da data de sua vigência. D)O princípio da responsabilidade solidária consubstancia-se na responsabilidade solidária entre o candidato, o tesoureiro e o partido político, pela veracidade das informações financeiras e contábeis da campanha constantes das prestações de contas. E)O princípio da anualidade eleitoral determina que os partidos políticos prestem contas anualmente dos gastos efetuados com os valores recebidos a título de participação no Fundo Partidário. Comentário: O princípio da lisura tem como diretriz garantir uma eleição leal, justa e de boa-fé. E uma das formas de atingir esse diretriz é coibir o abuso do poder econômico ou político nas eleições. Esse abuso, por si só, desestabiliza a igualdade entre os candidatos e impede que as minorias alcancem a vitória no pleito. Também é importante comentar a letra “d”. O princípio da responsabilidade solidária realmente estipulou uma obrigação solidária no tocante às informações financeiras e contábeis da campanha. No entanto, essa solidariedade somente existe entre o candidato e o partido político, não englobando a figura do tesoureiro. 24 Questão 5 (FCC – 2017 – TRE/SP - TÉCNICO) Acerca das fontes de Direito Eleitoral, A) a função normativa da Justiça Eleitoral autoriza que sejam editadas Resoluções normativas pelo Tribunal Superior Eleitoral com a finalidade de criar direitos e estabelecer sanções, possibilitando a revogação de leis anteriores que disponham sobre o mesmo objeto da Resolução Normativa. B)as normas eleitorais devem ser interpretadas em conjunto com o restante do sistema normativo brasileiro, admitindo-se a celebração de termos de ajustamento de conduta, previstos na Lei n° 7.346/85, que disciplina a Ação Civil Pública, desde que os partidos políticos transijam, exclusivamente, sobre as prerrogativas que lhes sejam asseguradas. C) o Código Eleitoral define a organização e a competência da Justiça Eleitoral, podendo ser aplicado apesar de a Constituição Federal prever a necessidade de lei complementar para tanto. D) as Resoluções Normativas do TSE, as respostas às Consultas e as decisões do Tribunal Superior Eleitoral são fontes de Direito Eleitoral de natureza exclusivamente jurisdicional e aplicáveis apenas ao caso concreto dos quais emanam. E) o Código Eleitoral, a Lei de Inelegibilidades, a Lei dos Partidos Políticos, a Lei das Eleições, as Resoluções Normativas do TSE e as respostas a Consultas são fontes de Direito Eleitoral de mesma estatura, hierarquia e abrangência, podendo ser revogadas umas pelas outras. Comentário: A letra “a” traz aquilo que estudamos detalhadamente na apostila. As resoluções do TSE têm caráter infralegal e regulamentar, lembra? Por isso, jamais podem revogar uma lei, pois a sua função é justamente detalhá-la, complementá-la. A letra “d” está errada ao atribuir a natureza jurisdicional às consultas do TSE. A função consultiva da justiça eleitoral será estudada na próxima apostila. Mas, vou adiantar que esse é uma função meramente administrativa. Na resposta à consulta, o TSE não está se 25 manifestando sobre um caso concreto, mas sobre uma dúvida abstrata que lhe foi apresentada. Identificou o erro da letra “e”? Isso! As resoluções e as consultas não tem a mesma hierarquia das demais, pois são fontes secundárias do direito eleitoral. Questão 6 (CESPE – TRE/RS - TÉCNICO)Com relação a esse assunto, assinale a opção correta. A) As resoluções do TSE, por tratarem de legislação mais específica, devem prevalecer sobre quaisquer das demais fontes do direito eleitoral, em se tratando de matérias relacionadas às eleições. B)O princípio da anterioridade tem como escopo proteger o processo eleitoral, garantindo que qualquer lei que altere esse processo somente entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição seguinte à data de sua vigência. C)Os juízes eleitorais são órgãos da justiça eleitoral, juntamente com as juntas eleitorais, os tribunais regionais eleitorais e o TSE. D)A transferência de domicílio do eleitor, a adoção de medidas para coibir a prática de propaganda eleitoral irregular e a emissão de segunda via do título eleitoral são exemplos de funções judiciárias da justiça eleitoral que devem ser apreciadas por juiz eleitoral e, na ausência deste, por um juiz da respectiva seccional. E)As fontes do direito eleitoral têm como objetivo principal assegurar que não haja mudanças no ordenamento jurídico, mantendo-o estático, como deveria ser desde o princípio, pois se exige, cada vez mais, um ambiente legislativo seguro e simplificado. Comentário: Vamos comentar a letra “a” e a letra “e”. Em relação a letra “a”, o erro está na afirmação de que as resoluções do TSE prevalecem sobre todas as demais fontes. A lei eleitoral, por exemplo, por ser fonte primária, 26 prevalece sobre a resolução do TSE. Sendo assim, qualquer contrariedade entre ambos implicará na revogação da resolução e não da lei. A letra “e”, por sua vez, está totalmente equivocada. Você acha mesmo que as fontes servem para impedir mudanças na legislação eleitoral? As resoluções do TSE, por exemplo, são uma fonte secundária cujo objetivo é dar a lei aplicação operacional. Isso, por si só, é uma mudança. Questão 7 (CS-UFG – 2015 – AL/GO - PROCURADOR) Ao julgar o Recurso Extraordinário Eleitoral n. 633.703, em 23 de março de 2011, o Supremo Tribunal Federal entendeu que a Lei Complementar n. 135/2010 (Lei da Ficha Limpa) não deveria ser aplicada às eleições de 2010 por desrespeitar o art. 16 da Constituição Federal de 1988. Considerando o princípio da anualidade, A) a emenda constitucional que altera o processo eleitoral possui aplicação imediata. B) a lei que altera o processo eleitoral, assim que publicada, ingressa imediatamente no ordenamento jurídico pátrio, inocorrendo a vacatio legis. C) a lei que altera o processo eleitoral entra em vigor um ano após sua publicação, não tendo efeito no período da vacatio legis. D) a incidência da anualidade em relação à lei que altere o processo eleitoral dependerá de ponderação no caso concreto, por tratar-se de um princípio. Comentário: Questão excelente para lembrar um detalhe interessante sobre o princípio da anualidade eleitoral. A lei eleitoral que altera o processo eleitoral não tem vacatio legis. Vamos conceituar: 27 Vacatio legis: é o período entre a data da publicação da norma e a data da vigência. Agora, compare esse conceito com o artigo 16 da Constituição: Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência. Compreendeu o motivo dessa lei eleitoral não ter período de vacatio? Isso! É porque ela entra em vigor na data da sua publicação! A letra “b”, portanto, é a alternativacorreta, uma vez que a lei eleitoral alteradora do processo eleitoral ingressará imediatamente no ordenamento, pois já tem vigência, mas não precisará observar o período de vacatio legis. Questão 8 (UEG - 2018 - PC-GO - Delegado de Polícia) Segundo o Código Eleitoral, havendo a suspensão dos direitos políticos, o título eleitoral A) Fica imediatamente suspenso até que cesse a causa de suspensão B) Fica suspenso somente a partir do trânsito em julgado de condenação criminal e enquanto durarem os seus efeitos C) É válido, não podendo, contudo, o eleitor exercer os seus direitos políticos, ativos e passivos. D) Fica cancelado a partir da condenação criminal transitada em julgado e enquanto duraram os seus efeitos E) É válido, não podendo, contudo, o eleitor se candidatar a cargo eletivo. Comentário: LETRA D - No caso de cancelamento ou suspensão dos direitos políticos, o título eleitoral será cancelado a partir do trânsito em julgado da sentença. Com base no Código Eleitoral : 28 Art. 71. São causas de cancelamento: I – a infração dos arts. 5º e 42; II – a SUSPENSÃO OU PERDA dos direitos políticos; III – a pluralidade de inscrição; IV – o falecimento do eleitor; V – deixar de votar em 3 eleições consecutivas. Art. 72. Durante o processo e até a exclusão pode o eleitor votar validamente. 29 GABARITO Questão 1 - A Questão 2 - C Questão 3 - B Questão 4 - B Questão 5– C Questão 6 - C Questão 7 - B Questão 8 - D 30 LEGISLAÇÃO COMPILADA Constituição Federal:artigos 5, LXXVII; 14, §9; 16 e 22. Código Eleitoral: artigos 23, IX; 147, §1; 219; 257, §1 e 364. Lei da Eleições: artigos 97-A e 105. LC 64/90: artigos 1 e 23. 31 JURISPRUDÊNCIA STF. ADI 3685, Rel. Min. Ellen Gracie, julgado em 22/03/2006. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 2º DA EC 52, DE 08.03.06. APLICAÇÃO IMEDIATA DA NOVA REGRA SOBRE COLIGAÇÕES PARTIDÁRIAS ELEITORAIS, INTRODUZIDA NO TEXTO DO ART. 17, § 1º, DA CF. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE DA LEI ELEITORAL (CF, ART. 16) E ÀS GARANTIAS INDIVIDUAIS DA SEGURANÇA JURÍDICA E DO DEVIDO PROCESSO LEGAL (CF, ART. 5º, CAPUT, E LIV). LIMITES MATERIAIS À ATIVIDADE DO LEGISLADOR CONSTITUINTE REFORMADOR. ARTS. 60, § 4º, IV, E 5º, § 2º, DA CF. 1. Preliminar quanto à deficiência na fundamentação do pedido formulado afastada, tendo em vista a sucinta porém suficiente demonstração da tese de violação constitucional na inicial deduzida em juízo.2. A inovação trazida pela EC 52/06 conferiu status constitucional à matéria até então integralmente regulamentada por legislação ordinária federal, provocando, assim, a perda da validade de qualquer restrição à plena autonomia das coligações partidárias no plano federal, estadual, distrital e municipal.3. Todavia, a utilização da nova regra às eleições gerais que se realizarão a menos de sete meses colide com o princípio da anterioridade eleitoral, disposto no art. 16 da CF, que busca evitar a utilização abusiva ou casuística do processo legislativo como instrumento de manipulação e de deformação do processo eleitoral (ADI 354, rel. Min. Octavio Gallotti, DJ 12.02.93). 4. Enquanto o art. 150, III, b, da CF encerra garantia individual do contribuinte (ADI 939, rel. Min. Sydney Sanches, DJ 18.03.94), o art. 16 representa garantia individual do cidadão-eleitor, detentor originário do poder exercido pelos representantes eleitos e "a quem assiste o direito de receber, do Estado, o necessário grau de segurança e de certeza jurídicas contra alterações abruptas das regras inerentes à disputa eleitoral" (ADI 3.345, rel. Min. Celso de Mello). 5. Além de o referido princípio conter, em si mesmo, elementos que o caracterizam como uma garantia fundamental oponível até mesmo à atividade do legislador constituinte derivado, nos termos dos arts. 5º, § 2º, e 60, § 4º, IV, a burla ao que contido no art. 16 ainda afronta os direitos individuais da segurança jurídica (CF, art. 5º, caput) e do devido processo legal (CF, art. 5º, LIV). 6. A modificação no texto do art. 16 pela EC 4/93 em nada alterou seu conteúdo principiológico fundamental. Tratou-se de mero aperfeiçoamento técnico levado a efeito para facilitar a regulamentação do processo eleitoral. 7. Pedido que se julga procedente para dar interpretação conforme no sentido de que a inovação trazida no art. 1º da EC 52/06 somente seja aplicada após decorrido um ano da data de sua vigência. STF. RE nº. 637.485/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 01/08/2012. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. REELEIÇÃO. PREFEITO. INTERPRETAÇÃO DO ART.14, § 5º, DA CONSTITUIÇÃO. MUDANÇA DA JURISPRUDÊNCIA EM MATÉRIA ELEITORAL. SEGURANÇA JURÍDICA. I. REELEIÇÃO. MUNICÍPIOS. INTERPRETAÇÃO DO ART. 14, § 5º, DA CONSTITUIÇÃO. PREFEITO. PROIBIÇÃO DE TERCEIRA ELEIÇÃO EM CARGO DA MESMA NATUREZA, AINDA QUE EM MUNICÍPIO DIVERSO. O instituto da 32 reeleição tem fundamento não somente no postulado da continuidade administrativa, mas também no princípio republicano, que impede a perpetuação de uma mesma pessoa ou grupo no poder. O princípio republicano condiciona a interpretação e a aplicação do próprio comando da norma constitucional, de modo que a reeleição é permitida por apenas uma única vez. Esse princípio impede a terceira eleição não apenas no mesmo município, mas em relação a qualquer outro município da federação. Entendimento contrário tornaria possível a figura do denominado “prefeito itinerante” ou do “prefeito profissional”, o que claramente é incompatível com esse princípio, que também traduz um postulado de temporariedade/alternância do exercício do poder. Portanto, ambos os princípios – continuidade administrativa e republicanismo – condicionam a interpretação e a aplicação teleológicas do art. 14, § 5º, da Constituição. O cidadão que exerce dois mandatos consecutivos como prefeito de determinado município fica inelegível para o cargo da mesma natureza em qualquer outro município da federação. II. MUDANÇA DA JURISPRUDÊNCIA EM MATÉRIA ELEITORAL. SEGURANÇA JURÍDICA. ANTERIORIDADE ELEITORAL. NECESSIDADE DE AJUSTE DOS EFEITOS DA DECISÃO. Mudanças radicais na interpretação da Constituição devem ser acompanhadas da devida e cuidadosa reflexão sobre suas consequências, tendo em vista o postulado da segurança jurídica. Não só a Corte Constitucional, mas também o Tribunal que exerce o papel de órgão de cúpula da Justiça Eleitoral devem adotar tais cautelas por ocasião das chamadas viragens jurisprudenciais na interpretação dos preceitos constitucionais que dizem respeito aos direitos políticos e ao processo eleitoral. Não se pode deixar de considerar o peculiar caráter normativo dos atos judiciais emanados do Tribunal Superior Eleitoral, que regem todo o processo eleitoral. Mudanças na jurisprudência eleitoral, portanto, têm efeitos normativos diretos sobre os pleitos eleitorais, com sérias repercussões sobre os direitos fundamentais dos cidadãos (eleitores e candidatos) e partidos políticos. No âmbito eleitoral, a segurança jurídica assume a sua face de princípio da confiança para proteger a estabilização das expectativas de todos aqueles que de alguma forma participam dos prélios eleitorais. A importância fundamental do princípio da segurança jurídica para o regular transcurso dos processos eleitorais está plasmada no princípio da anterioridade eleitoral positivado no art. 16 da Constituição. O Supremo Tribunal Federal fixou a interpretação desse artigo 16, entendendo-o como uma garantia constitucional (1) do devido processo legal eleitoral, (2) da igualdade de chances e (3) das minorias (RE 633.703). Em razão do caráter especialmente peculiar dos atos judiciais emanados do Tribunal Superior Eleitoral, os quais regem normativamente todo o processo eleitoral, é razoável concluir que a Constituição também alberga uma norma, ainda que implícita,que traduz o postulado da segurança jurídica como princípio da anterioridade ou anualidade em relação à alteração da jurisprudência do TSE. Assim, as decisões do Tribunal Superior Eleitoral que, no curso do pleito eleitoral (ou logo após o seu encerramento), impliquem mudança de jurisprudência (e dessa forma repercutam sobre a segurança jurídica), não têm aplicabilidade imediata ao caso concreto e somente terão eficácia sobre outros casos no pleito eleitoral posterior. III. REPERCUSSÃO GERAL. Reconhecida a repercussão geral das questões constitucionais atinentes à (1) elegibilidade para o cargo de Prefeito de cidadão que já exerceu dois mandatos consecutivos em cargo da mesma natureza em Município diverso (interpretação do art. 14, § 5º, da Constituição) e (2) retroatividade ou aplicabilidade imediata no curso do período eleitoral da decisão do Tribunal Superior Eleitoral que implica mudança de sua jurisprudência, de modo a permitir aos Tribunais a adoção dos procedimentos relacionados ao exercício de retratação ou declaração de inadmissibilidade dos recursos repetitivos, sempre que as decisões recorridas contrariarem ou se pautarem pela orientação ora firmada. IV. EFEITOS DO PROVIMENTO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. Recurso extraordinário provido para: (1) resolver o caso concreto no sentido de que a decisão do TSE no RESPE 41.980-06, apesar de ter entendido corretamente que é inelegível para o cargo de Prefeito o cidadão que exerceu por dois mandatos consecutivos cargo de mesma natureza em Município diverso, não pode incidir sobre o diploma regularmente concedido ao recorrente, vencedor das eleições de 2008 para Prefeito do 33 Município de Valença-RJ; (2) deixar assentados, sob o regime da repercussão geral, os seguintes entendimentos: (2.1) o art. 14, § 5º, da Constituição, deve ser interpretado no sentido de que a proibição da segunda reeleição é absoluta e torna inelegível para determinado cargo de Chefe do Poder Executivo o cidadão que já exerceu dois mandatos consecutivos (reeleito uma única vez) em cargo da mesma natureza, ainda que em ente da federação diverso; (2.2) as decisões do Tribunal Superior Eleitoral que, no curso do pleito eleitoral ou logo após o seu encerramento, impliquem mudança de jurisprudência, não têm aplicabilidade imediata ao caso concreto e somente terão eficácia sobre outros casos no pleito eleitoral posterior. 34 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS RAMAYANA, Marcos. Direito Eleitoral. 10ª edição, rev., ampl. e atual., Niterói: Editora Impetus, 2010. DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL Direito Eleitoral Capítulo 2 1 SUMÁRIO DIREITO ELEITORAL, Capítulo 2 ....................................................................... Erro! Indicador não definido. 1. Organização da Justiça Eleitoral ......................................................................................................................... 3 1.1 Origem................................................................................................................................................................... 3 1.2 Órgãos ................................................................................................................................................................... 8 1.3 Funções ............................................................................................................................................................... 10 1.3.1 Função administrativa ............................................................................................................................. 11 1.3.2 Função jurisdicional ................................................................................................................................ 12 1.3.3 Função normativa ................................................................................................................................... 13 1.3.4 Função consultiva.................................................................................................................................... 13 1.4 Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ......................................................................................................................... 15 1.4.1 Composição ............................................................................................................................................. 15 1.4.2 Impedimento e suspeição ....................................................................................................................... 21 1.4.3 Competência ........................................................................................................................................... 22 1.5 Tribunal Regional Eleitoral (TRE) ......................................................................................................................... 39 1.5.1 Composição ............................................................................................................................................. 40 1.5.2 Deliberação ............................................................................................................................................. 45 1.5.3 Impedimento e suspeição ....................................................................................................................... 47 1.5.4 Competência ........................................................................................................................................... 47 1.6 Juízes eleitorais ................................................................................................................................................... 60 1.6.1 Competência ........................................................................................................................................... 62 1.7 Juntas eleitorais .................................................................................................................................................. 66 1.7.1 Composição ............................................................................................................................................. 66 1.7.2 Escrutinadores e Auxiliares ..................................................................................................................... 69 1.7.3 Competência ........................................................................................................................................... 71 1.8 Ministério Público Eleitoral. ................................................................................................................................ 73 2. Procurador-Geral Eleitoral ................................................................................................................................... 74 3. Procurador-Regional Eleitoral ............................................................................................................................ 75 4. Promotor eleitoral ................................................................................................................................................... 76 QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................................ 78 GABARITO ........................................................................................................................................................................... 92 2 LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 95 JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 97 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................................................................. 98 3 DIREITO ELEITORAL 1. Organização da Justiça Eleitoral 1.1 Origem. A Justiça Eleitoral foi criada pelo Código Eleitoral, em 1932, com o objetivo de organizar as eleições e, principalmente, organizar o direito de votar e ser votado. Isso está expresso no primeiro artigo do Código Eleitoral: Art. 1º Este Código contém normas destinadas a assegurar a organização e o exercício de direitos políticos precipuamente os de votar e ser votado. Isso demonstra que a justiça eleitoral é um dos principais garantidores do regime de governo adotado pela CF: a democracia. Afinal, ela é a responsável por organizar todo o procedimento das eleições e por garantir um pleito probo e eficaz. Em outros países, como o Uruguai, por exemplo, as eleições não são organizadas por um órgão do Poder Judiciário, mas por um órgão independente que não integra nenhum outro Poder. No Brasil, há um outro detalhe, além do fato das eleições serem organizadas por uma ramificação do Judiciário: essa é uma ramificação especializada. A justiça eleitoral, ao lado da justiça militar e da justiça do trabalho, compõe a chamada “justiça especial”, que nada mais é do que uma tentativa do Constituinte de dar uma atenção maior a essas matérias1, evitando que elas se misturem com as matérias “comuns”2. No organograma abaixo, vocês conseguirão visualizar melhor a divisão entre a justiça especial e a justiça comum: 1 Eleitoral, trabalhista e militar. 2 A Justiça comum é composta pela Justiça Estadual e pela Justiça Federal. 4 Embora a justiça eleitoral faça parte da justiça especial, os magistrados que a compõem são de outros ramos do Judiciário, uma vez que não há quadro próprio de juízes na justiça eleitoral3.A maior consequência disso é que, como eles são de outros ramos, eles acumulam ambas as funções – a função de origem, com a de juiz de direito, por exemplo, e a função eleitoral. Essa acumulação de funções gerou uma controvérsia em relação aos advogados que integram os TRE’s e o TSE. Afinal, se os juízes podem acumular as funções, os advogados também podem exercer a função eleitoral e continuar exercendo a advocacia? Ou seja, os advogados também podem acumular funções? O STF, na ADI nº. 1127, entendeu que “a incompatibilidade com o exercício da advocacia não alcança os juízes eleitorais e seus suplentes, em face da composição da justiça eleitoral estabelecida na Constituição”. Conclusão: os advogados podem sim acumular as funções, assim como os juízes. Se os juízes eleitorais, oriundos da magistratura, acumulam as duas funções, o que ocorre quando eles se afastam da sua função de origem? Pense na situação de um juiz estadual que também exerce a função de juiz eleitoral. Caso ele se afaste das suas funções no fórum estadual, o que ocorrerá com sua atuação na justiça eleitoral? A solução desse problema também está no Código Eleitoral: 3 A PEC nº. 358/2009 tentou criar um quadro próprio de magistrados eleitorais, mas foi arquivada em 2015. STF STJ TJ Juízes estaduais TRF Juízes federais TSE TRE Juízes eleitorais STM Juiz auditor militar TST TRT Juízes do trabalho 5 Art. 14 § 2º Os juízes afastados por motivo de licença férias e licença especial, de suas funções na Justiça comum, ficarão automaticamente afastados da Justiça Eleitoral pelo tempo correspondente excetoquando com períodos de férias coletivas, coincidir a realização de eleição, apuração ou encerramento de alistamento. Então, se o juiz tirar férias na justiça estadual, automaticamente ele estará de férias na justiça eleitoral, salvo em três situações4: Outra característica da justiça eleitoral que advém dessa inexistência de quadro de magistrados é a periodicidade dos cargos. Como os juízes acumulam as duas funções, é preciso que haja uma rotatividade entre os juízes, de modo a não sobrecarregá-los. Há determinação expressa disso no texto constitucional: Art. 121 § 2º - Os juízes dos tribunais eleitorais, salvo motivo justificado, servirão por dois anos, no mínimo, e nunca por mais de dois biênios consecutivos, sendo os substitutos escolhidos na mesma ocasião e pelo mesmo processo, em número igual para cada categoria. Portanto, lembre-se: todos os integrantes dos Tribunais Eleitorais, juízes ou não, somente exercem a função eleitoral por um período de 2 anos, prorrogável5 por igual período. É importante citar um dispositivo do CE sobre essa prorrogação: Art. 14 § 4º No caso de recondução para o segundo biênio observar-se-ão as mesmas formalidades indispensáveis à primeira investidura. O que isso significa? 4 O CE obriga o juiz a permanecer em exercício na justiça eleitoral por um motivo simples: grande volume de trabalho. Durante esses períodos, o volume de trabalho na justiça eleitoral é imenso. 5 Observe que essa prorrogação é única, pois a Constituição afirma expressamente que eles nunca poderão servir por mais de 2 biênios consecutivos. 6 Para entender esse dispositivo, nós vamos antecipar um artigo referente à composição dos TRE’s: Art. 120. § 1º - Os Tribunais Regionais Eleitorais compor-se-ão: I - mediante eleição, pelo voto secreto: a) de dois juízes dentre os desembargadores do Tribunal de Justiça; b) de dois juízes, dentre juízes de direito, escolhidos pelo Tribunal de Justiça; II - de um juiz do Tribunal Regional Federal com sede na Capital do Estado ou no Distrito Federal, ou, não havendo, de juiz federal, escolhido, em qualquer caso, pelo Tribunal Regional Federal respectivo; III - por nomeação, pelo Presidente da República, de dois juízes dentre seis advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Tribunal de Justiça. Leia atentamente o inciso II do artigo 120. Ele afirma que um dos integrantes dos TRE’s é um juiz federal escolhido pelo TRF da respectiva região. Portanto, fazendo uma combinação dos dois artigos (do CE e da CF), concluímos que a prorrogação do mandato desse juiz federal precisa seguir “as mesmas formalidades indispensáveis à primeira investidura”, ou seja, a decisão da prorrogação também precisa ser feita pelo respectivo TRF. O Código Eleitoral determina que o mandato dos juízes eleitorais seja “ininterrupto”. Art.. 14 § 1º Os biênios serão contados, ininterruptamente, sem o desconto de qualquer afastamento nem mesmo o decorrente de licença, férias, ou licença especial, salvo no caso do § 3º. Isso quer dizer que, uma vez iniciado o exercício da função eleitoral, os eventuais afastamentos não acarretam a suspensão/interrupção do biênio. Ou seja, o prazo de 2 anos é contado de forma contínua, ininterrupta. Então, se um juiz eleitoral tirar férias de 30 dias no - primeiro ano do prazo, essas “férias de 30 dias” não serão acrescentadas ao final do biênio. No entanto, há um tipo de afastamento que gera um acréscimo de tempoao final do biênio: o afastamento fixado no §3º. § 3o Da homologação da respectiva convenção partidária até a diplomação e nos feitos decorrentes do processo eleitoral, não poderão servir como juízes nos Tribunais Eleitorais, ou como juiz eleitoral, o cônjuge ou o parente consanguíneo ou afim, até o 7 segundo grau, de candidato a cargo eletivo registrado na circunscrição. (Redação dada pela Lei nº 13.165, de 2015) Antes de tudo, precisamos entender o motivo de existir desse parágrafo.6 Ele está estabelecendo uma regra de imparcialidade para os juízes eleitorais. Afinal, está determinando o “afastamento compulsório”7 dos juízes que tenham algum tipo de relação de parentesco ou afetividade com os candidatos. Só que esse “afastamento compulsório” precisa observar alguns detalhes: 1º detalhe: tempo. O afastamento é temporário! O juiz eleitoral só fica afastado da data da homologação da convenção partidáriaaté a data da diplomação dos eleitos. 2º detalhe: circunscrição. O afastamento só ocorre se o juiz atuar na circunscrição do candidato. Imagine a situação de um juiz eleitoral de Recife/PE que é marido da candidata a prefeita da cidade de Olinda/PE. Há afastamento nesse caso? Não, pois o juiz não atua na respectiva circunscrição do município de Olinda. Pois bem! Entendido esses dois detalhes, voltemos à exceção prevista no §1º. Dissemos que o afastamento previsto no §3º gera um acréscimo de tempo ao final do biênio, certo? Então, é só trocar o exemplo citado acima para entender esse acréscimo. Imagine que a esposa do juiz é candidata à prefeita de Recife, em vez de Olinda. Nesse caso, o juiz eleitoral, seu marido, terá que ser afastado das funções eleitorais da data da homologação da convenção até a diplomação. E esse tempo de afastamento será acrescido ao final do seu mandato. Para exercer as funções eleitorais com independência durante o biênio, os “exercentes” dessa função precisam ter algumas garantias. O que diz a Constituição sobre isso? 6 Responda a questão 8. 7 Veja a ordem que está sendo dada pelo artigo: “não poderão servir como juízes”. 8 Art. 121 § 1º - Os membros dos tribunais, os juízes de direito e os integrantes das juntas eleitorais, no exercício de suas funções, e no que lhes for aplicável, gozarão de plenas garantias e serão inamovíveis. Inicialmente, é preciso esclarecer quem são esses “exercentes” da função eleitoral que têm direito a tais garantias: Membros do TSE Membros do TRE Juízes eleitorais Integrantes das Juntas Eleitorais Perceba, portanto, que todos esses quatro citados acima têm garantias8 e são inamovíveis. 1.2 Órgãos Segundo a Constituição Federal, são órgãos da justiça eleitoral: Art. 118. São órgãos da Justiça Eleitoral: I - o Tribunal Superior Eleitoral; II - os Tribunais Regionais Eleitorais; III - os Juízes Eleitorais; IV - as Juntas Eleitorais. Antes de explicar a ramificação da justiça eleitoral, é preciso analisar algumas características desses tribunais: Art. 12. São órgãos da Justiça Eleitoral: I - O Tribunal Superior Eleitoral, com sede na Capital da República e jurisdição em todo o País; II - um Tribunal Regional, na Capital de cada Estado, no Distrito Federale, mediante proposta do Tribunal Superior, na Capital de Território; III - juntas eleitorais; IV - juízes eleitorais. 8 Essas garantias são iguais àquelas garantias dos magistrados em geral conferidas pela própria CF no artigo 95. 9 Esse inciso II do artigo 12 traz uma particularidade fundamental desse órgão. Embora seja um órgão federal, o TRE tem sede “estadual”, estando em todas as capitais dos 26 Estados da federação e também do DF. Vejamos agora a ramificação: E o que a Constituição estabelece em relação à organização e à competência desses órgãos? Art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos tribunais, dos juízes de direito e das juntas eleitorais. A Constituição, portanto, nada fixou! Ela apenas autorizou o legislador ordinário a dispor dessas matéria, contanto que o faça por meio de lei complementar. Você lembra que no início da apostila nós falamos que um dos objetivos9 do Código Eleitoral é a organização das eleições? Então, será que o Código Eleitoral é a lei complementar referida na Constituição? Antes de responder, é preciso analisar a natureza jurídica desse Código. Ele foi editado em 1965 como lei ordinária. Só que, com a promulgação da Constituição e com a entrada em vigor desse artigo 121, as normas sobre a organização e competência da justiça eleitoral teriam de ser disciplinadas por lei complementar. Solução? Recepcionar o Código Eleitoral com o mesmo status anterior (lei ordinária), com exceção das 9 Art. 1º Este Código contém normas destinadas a assegurar a organização e o exercício de direitos políticos precipuamente os de votar e ser votado. 10 normas que tratavam da organização e competência da justiça eleitoral, que foram recepcionadas com o status de lei complementar. Há outro aspecto importante sobre a organização da justiça eleitoral: não confunda a divisão jurisdicional com a divisão administrativa. Essa última divisão é uma divisão meramente territorial/geográfica. A circunscrição eleitoralé o território mais amplo, uma vez que corresponde ao espaço geográfico de um estado-membro10. Essa circunscrição, é dividida em zonas eleitorais. Em regra11, a quantidade de zonas depende da quantidade de municípios. Ou seja, cada zona “ficaria responsável” por cuidar de 1 município. A seção eleitoral, por sua vez, corresponde aos vários locais de votação existentes dentro de cada zona. 1.3 Funções Quais as funções que a justiça eleitoral pode desempenhar? Função administrativa Função jurisdicional Função normativa Função consultiva 10 Com base nesse conceito, qual seria a circunscrição eleitoral administrada pelo TRE/PE? O Estado de Pernambuco! 11 Excepcionalmente, um Município pode ter mais de uma zona ou uma zona ser responsável por mais de um município. 11 1.3.1 Função administrativa12 A função administrativa se refere a todo o procedimento de preparação, organização e execução do pleito eleitoral. É por meio dessa função que a justiça eleitoral prepara as urnas, treina os mesários, recebe e defere os pedidos de registro de candidatura, faz cessar a propaganda eleitoral irregular, etc. Se nós pegarmos apenas um dos exemplos acima, como a preparação das urnas, podemos visualizar uma característicaimportante da função administrativa: a possibilidade de atuação de ofício. Afinal, não faz nenhum sentido o juiz eleitoral ter de esperar a provocação de algum interessado para dar início ao trabalho de preparação das urnas. Você consegue entender o motivo dessa característica? O motivo do juiz eleitoral poder agir de ofício? Simples: não existe lide/conflito no âmbito administrativo13. O poder de polícia, um dos poderes administrativos que estudamos no direito administrativo, também é outra característica dessa função, pois é por meio dele que o juiz eleitoral consegue garantir a legitimidade das eleições. Lembras do conceito de poder de polícia previsto no Código Tributário? Bem, ele é perfeitamente aplicável aqui. Vejamos: Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. Vamos então aplicar esse conceito na prática do direito eleitoral. Pense na seguinte situação: o candidato João, com o objetivo de concorrer a vereador, coloca uma propaganda eleitoral sua em um outdoor. A legislação eleitoral permite isso? Não! Então, o juiz eleitoral pode proferir uma ordem judicial determinando a retirada imediata dessa propaganda? Sim, podendo, inclusive, fazer de ofício! Então, esse juiz eleitoral, ao fazer 12 Responda a questão 1. 13 Essa é a principal diferença entre a função jurisdicional e a administrativa. 12 isso, está agindo com fundamento em qual poder? O poder de polícia! Afinal, está “limitando ou disciplinando direito (...) em razão de interesse público”. 1.3.2 Função jurisdicional A função jurisdicional da justiça eleitoral nada mais do que a função típica do Judiciário: o função de solucionar os conflitos de interesse (em matéria de direito eleitoral). O exercício dessa função pode ser visualizado no julgamento da ação de impugnação de mandato eletivo (AIME) e da ação de
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