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Pensam ento científico na educação Juliana Bordinhão Diana / A ndreza Regina Lopes da Silva Código Logístico 57484 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6453-3 9 788538 764533 Pensamento científico na educação IESDE BRASIL S/A 2018 Juliana Bordinhão Diana Andreza Regina Lopes da Silva Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ D529p Diana, Juliana Bordinhão Pensamento científico na educação / Juliana Bordinhão Diana, Andreza Regina Lopes da Silva. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE BRASIL, 2018. 152 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6453-3 1. Ciência - Metodologia. 2. Ciência - Estudo e ensino. 3. Professores - Formação. I. Silva, Andreza Regina Lopes da. II. Título. 18-51203 CDD: 507 CDU: 5(07) © 2018 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem auto- rização por escrito das autoras e do detentor dos direitos autorais. Capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Rogotanie/iStockphoto Juliana Bordinhão Diana Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento pela UFSC e especialista em Informática na Educação pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Graduada em Licenciatura em Ciências – Habilitação em Biologia, pelas Faculdades Integradas de Ourinhos. Atuou como coordenadora de polo de educação a distân- cia. Trabalha na área da educação, com experiência nas funções de designer educacional, tutora, professora e pesquisadora em cursos na modalidade a distância. Tem experiência principalmente nos se- guintes temas: educação a distância, polo de apoio presencial, design instrucional e produção de conteúdo para cursos a distância. Andreza Regina Lopes da Silva Doutora e mestre no Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento (PPEGC) na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialista em Educação a Distância e em Auditoria Empresarial. Graduada em Administração pela UFSC e em Pedagogia pela UniCesumar. Coach e mentora acadêmica formada pelo Instituto Brasileiro de Coaching (IBC). Experiência na área de educação com ênfase em educação a distância, aprendizagem e desen- volvimento de competências. Atua como coach e mentora acadêmica, como designer educacional e coordenadora de projeto e de produção. Também desenvolve atividades relacionas à capacitação de professo- res e é autora de livros e artigos científicos. Sumário Apresentação 7 1. Discussões sobre ciência 9 1.1 Conceito e divisão da ciência 9 1.2 Evolução da ciência 13 1.3 Ciência no contexto acadêmico 16 2. A natureza do conhecimento 23 2.1 O que é conhecimento 23 2.2 Tipos de conhecimento 26 2.3 Relevância do conhecimento científico 29 3. Método científico: a sistematização do conhecimento 37 3.1 Método científico 37 3.2 Classificação dos métodos 41 3.3 O pensamento científico na educação 45 4. Sociedade do conhecimento e o acesso à informação 55 4.1 Contexto histórico da sociedade 55 4.2 Sociedade contemporânea 61 4.3 Democratização do conhecimento 66 5. Ensinar e aprender cientificamente 75 5.1 Educação científica 75 5.2 Atores da educação 77 5.3 O desenvolvimento do trabalho científico na educação 80 6. Aprendizagem em rede 91 6.1 Transformações no ensinar e aprender 91 6.2 Espaços de ensino-aprendizagem 96 6.3 Ensinar e aprender na sociedade do conhecimento 98 7. Gestão do conhecimento na prática docente 107 7.1 O que é gestão do conhecimento 107 7.2 Relação da gestão do conhecimento com a prática docente 111 7.3 Gestão do conhecimento no cenário acadêmico 114 8. Pensamento científico 123 8.1 Desenvolvendo o conhecimento científico 123 8.2 Tipos de pesquisa 126 8.3 Projeto científico: da teoria à prática 132 Gabarito 143 Apresentação O pensamento científico, por meio de teorias e práticas sistematizadas, transcende crenças, valores e demais questões relacionadas ao senso comum, tornando-se um referencial da sociedade contemporânea, baseada no conhecimento. Trata- -se de uma construção que se amplia constantemente por não se limitar a uma única visão de mundo. Aplicar ciência no dia a dia acadêmico é um desafio que vem sendo realizado de forma cada vez mais constante, nas mais diferentes áreas do saber, superando o paradigma do pensamento linear e cartesiano e dando espaço para discus- sões interdisciplinares. O pensamento científico integra as áreas de pesquisa, inovação e desenvolvimento, oportunizando formação e de- senvolvimento para o bem-estar coletivo. É com base nessa discussão que elaboramos este livro, para que você reconhe- ça a relevância e presença do conhecimento científico no seu dia a dia. Para tanto, esta obra foi dividida didaticamente em 8 capítulos. No Capítulo 1, apresentamos discussões sobre a ciência e sua relevância para o contexto acadêmico. No Capítulo 2, iniciamos o estudo sobre o conhecimento, identificando seus diferentes tipos e suas aplicações práticas. A sistematização do conhecimento, ou seja, do método científico, é discutida no Capítulo 3. Já no Capítulo 4 ampliamos a reflexão e destaca- mos as características da sociedade do conhecimento e como se dá o acesso à informação. 8 Pensamento científico na educação No Capítulo 5, focamos na relevância da formação científica, isto é, discutimos sobre como ensinamos e aprendemos cientificamente. E, no Capítulo 6, continuamos abordando questões de aprendizagem na atualidade, agora com foco na aprendizagem em rede e nas transformações no ensinar e aprender. Após conhecer diferentes aspectos sobre o conhecimen- to e a aprendizagem, no Capítulo 7 buscamos apresentar a definição e aplicação da gestão do conhecimento na prática docente. E, no Capítulo 8, fechamos nosso estudo refletin- do sobre a importância do pensamento científico na edu- cação contemporânea. Desejamos uma ótima leitura! 1 Discussões sobre ciência Juliana Bordinhão Diana A ciência está presente no nosso dia a dia de diferentes formas, e isso ocorre como resultado de um contexto histórico que contri- buiu para o desenvolvimento da ciência moderna. Para compreen- der tal contexto, neste capítulo apresentaremos o conceito de ciência e refletiremos sobre como ela se faz relevante no cotidiano das pes- soas. Assim, iniciaremos nosso estudo conhecendo como a ciência se divide, para que possamos compreender sua evolução, e finaliza- remos identificando sua inserção no âmbito acadêmico. 1.1 Conceito e divisão da ciência Você sabe o que é ciência e qual é a sua aplica- bilidade no nosso cotidiano? E na vida profissional e acadêmica? Neste capítulo, vamos refletir sobre a ciência e como ela faz parte das atividades que desenvolvemos no dia a dia. A importância de se compreender o que vem a ser a ciência contribui para o entendimento do nosso mundo contemporâneo, envolvendo toda a sua subjetividade e seu valor (APPOLINÁRIO, 2012). Do latim scientia, ou do grego episteme, ciência tem como signi- ficado aprender, conhecer (APPOLINÁRIO, 2012). Em estudos acerca do termo, diversos autores e pesquisadores apresentam defi- nições importantes sobre a ciência. Vamos conhecer algumas delas? Para Kneller (1980, p. 11), a ciência é o “conhecimento da natu- reza e exploração desse conhecimento”. Marconi e Lakatos (2003) adotam a definição de Trujillo Ferrari, o qual tem a ciência como Vídeo 10 Pensamento científico na educação “um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao sis- temático conhecimento com objeto limitado, capaz de ser subme- tido à verificação” (TRUJILLO FERRARI, 1974 apud MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 80). Por sua vez, Cervo, Bervian e Silva (2007, p. 3) destacam a ciência como “resultado de descobertas ocasionais,nas primeiras etapas, e de pesquisas cada vez mais metódicas, nas etapas posteriores”. Appolinário (2012) nos apresenta, ainda, algumas definições que complementam nosso estudo sobre o tema, nas quais considera pen- sadores clássicos, como: Ander-Egg, um pesquisador focado nas sociologias, ciências políticas e na economia; Melvin Marx e William Hillix, que desenvolveram suas pesquisas sobre os sistemas e as teo- rias em psicologia; Karl Popper, filósofo austríaco que dedicou sua vida às pesquisas sobre teorias científicas; e Newton da Costa, filó- sofo brasileiro conhecido por suas pesquisas sobre lógica e filosofia. No quadro a seguir apresentamos as definições de tais autores. Quadro 1 – Definições de ciência Autores Definição Ander-Egg “Conjunto de conhecimentos racionais, certos ou pro- váveis, obtidos metodicamente, sistematizados e verifi- cáveis, que fazem referência a objetos de uma mesma natureza” (ANDER-EGG, 1978, p. 15). Marx e Hillix “Atividade pela qual os homens adquirem um conheci- mento ordenado dos fenômenos naturais, trabalhando com uma metodologia particular (observação controla- da e análise) e um conjunto de atitudes (ceticismo, obje- tividade etc.)” (MARX; HILLIX, 1978, p. 19). Karl Popper “Um cientista, seja teórico ou experimental, formula enunciados ou sistemas de enunciados e verifica-os um a um. No campo das ciências empíricas, ele formula hi- póteses e submete-as a testes, confrontando-as com a experiência, através de recursos de observação e experi- mentação” (POPPER, 1974, p. 27). (Continua) Discussões sobre ciência 11 Autores Definição Newton da Costa “A ciência consiste essencialmente em sistemas de conhecimentos alcançados por caminho racional. Seu propósito: o conhecimento científico, isto é, uma série de crenças verdadeiras e justificadas, dentro das fron- teiras da racionalidade [...] poder-se-ia dizer que a razão sozinha conduz, em princípio, às ciências formais; razão mais experiência, às reais” (COSTA, 1999, p. 41). Fonte: Appolinário, 2012, p. 8. Em uma visão geral, temos a ciência como um conjunto de fato- res, composto de experiências, como uma forma de conhecimento. É possível dizer que a ciência sempre parte de um questionamento, da busca por uma resposta sobre algo que já existe ou não, a qual traz uma nova pesquisa. Com base nessas definições e análises, é possível afirmar que as ciências apresentam características particulares, o que faz com que sejam diferenciadas de outras formas e tipos de conhecimento, indo muito além do senso comum (APPOLINÁRIO, 2012). Marconi e Lakatos (2003) destacam que as ciências apresentam três aspectos que são essenciais para seu entendimento: 1. Objetivo ou finalidade: representa a preocupação em distin- guir a característica comum. 2. Função: refere-se ao aperfeiçoamento da relação do homem com o seu mundo. 3. Objeto: • Material – representa o que se pretende estudar; ou • Formal – está relacionado a um enfoque especial diante de outras ciências sobre o mesmo objeto material. Além desses aspectos, a ciência também tem a necessidade de uma classificação e divisão própria, de acordo com sua complexi- dade. Observe a figura a seguir: 12 Pensamento científico na educação Figura 1 – Classificação e divisão da ciência Sociologia Psicologia social Política Economia Direito Antropologia cultural Biologia e outras Química Física Ciências Factuais Formais Sociais Naturais Matemática Lógica Fonte: Marconi; Lakatos, 2003, p. 81. Seguindo a mesma proposta de classificação científica, Appolinário (2012) destaca que as ciências formais são aquelas dire- tamente ligadas ao estudo das relações abstratas e simbólicas, sendo que suas estruturas conceituais não estão necessariamente ligadas a fatos. As ciências naturais, para o autor, correspondem ao estudo dos fenômenos naturais, ou seja, àqueles que se relacionam à vida, ao ambiente etc. E, por fim, as ciências sociais seriam aquelas em que seu estudo está voltado para a investigação de fenômenos huma- nos e sociais. Com base nessa explanação sobre o que é ciência, seus conceitos e definições, podemos identificar como ela está presente em nosso dia a dia. No tópico a seguir, vamos ampliar nosso conhecimento a respeito da ciência e o entendimento sobre suas definições, sua his- tória e evolução. Discussões sobre ciência 13 1.2 Evolução da ciência Agora que você já sabe o que é ciência – a qual, de modo simplista podemos apontar como o conhecimento da natureza e a exploração desse saber – é possível refletir: mas como a ciência che- gou até essa definição? Em um contexto histórico, temos que a ciência é composta por diversos movimentos e momentos no desenvolvimento da civilização. Falando de modo figurado, para que esse movimento seja contínuo, é preciso que os motores da ciência estejam sempre em funcionamento, e, para isso, é necessário haver combustível. Dessa forma, o combustí- vel que movimenta a ciência é a pesquisa, que é a busca por uma res- posta, a compreensão de algo que se deseja saber, comprovar. Ao longo da história, a busca por novos conhecimentos e pesqui- sas da comunidade científica visaram sempre ao saber e à exploração. Kneller (1980) aponta que a ciência se desenrolou ao longo da histó- ria desde o Liceu de Aristóteles, na Grécia Antiga, o qual promovia um passeio no entorno de Atenas, em que os “professores” ministra- vam suas aulas. Outros momentos marcantes ocorreram ao longo do Renascimento, da ciência milenar chinesa até a ciência europeia, sem- pre realizada por filósofos, matemáticos, astrônomos, físicos e outros que revelaram visões diferentes daquelas já apresentadas. O que se tinha era uma comunidade de investigadores. Em cada momento a natureza da ciência tinha um significado, por exemplo: no Renascentismo, o objetivo era “desvendar o plano de Deus em sua criação” (KNELLER, 1980, p. 11), enquanto nos tempos modernos a natureza da ciência está em ampliar o conhecimento científico já obtido. Ao buscar um entendimento e significado sobre algo, a ciência é vista como o conhecimento científico, e, para se chegar até ele, é preciso considerar as técnicas utilizadas, a fim de se obter um resultado. Assim, na trajetória histórica da civilização, temos diversas ciências, sendo que Vídeo 14 Pensamento científico na educação diferentes filosofias contribuíram para que cada sociedade as desen- volvesse. O quadro a seguir apresenta algumas dessas filosofias e como certas civilizações antigas agiam diante da busca pela ciência. Quadro 2 – Civilizações e sua ciência Civilização Característica Chinesa Teoria das forças naturais opostas (yin e yang). Teoria das cinco fases. Grega Proposição das teorias dos quatro elementos: terra, ar, fogo e água. Árabe Herdou a filosofia grega e a alquimia chinesa, criando sua própria ciência. Fonte: Elaborado pelas autoras com base em Kneller, 1980. Destacamos que, no período de desenvolvimento dessas ativida- des, os filósofos, matemáticos, astrônomos, físicos e outros pensadores envolvidos nesse processo de busca pelo conhecimento não as adota- vam como características de uma ciência – a civilização atual é que as identifica dessa maneira. Dessas atividades, destacamos a antiga ciên- cia chinesa e a ciência europeia. Essas duas tiveram resultados dife- rentes, visto que a chinesa não progrediu como a europeia. Podemos justificar isso ao observar que as ações tomadas pela ciência chinesa não tiveram tanto êxito. Observe na figura a seguir as principais obser- vações que Kneller (1980) traz a respeito dessa conclusão. Figura 2 – Desenvolvimento da ciência europeia e da ciência chinesa C iê nc ia eu ro pe ia • Promoveu a combinação de dife- rentes condições históricas. • A Renascença promoveu o indi- vidualismo. • O capitalismo criou uma classe ávida por novos conhecimentos. • Usavam a matemática a seu favor. • Possuíam a noção de legislador divino. • Os chineses não apresentavam uma geometriaque permitia o desenvolvimento de uma astro- nomia teórica. • Duvidavam da razão e não bus- cavam desenvolver suas próprias teorias. • A burocracia chinesa minimizou a influência dos mercadores. • Careciam da ideia de um legisla- dor divino, não percebendo que a natureza tem leis. C iência chinesa Fonte: Elaborada pelas autoras com base em Kneller, 1980. Discussões sobre ciência 15 Essas observações são apontadas por Kneller (1980) como sufi- cientes para o nascimento da ciência moderna. Torna-se importante destacar que, ao se ter a ciência ocidental como bem-sucedida, esta passa a ser tomada como o paradigma da ciência, porém ela não é a única. Considerando que a ciência é a busca pelo conhecimento, com o passar do tempo surgiram diferentes correntes de pensamento da ciên- cia moderna, conforme destacam Sampieri, Collado e Lucio (2013): o empirismo, o materialismo dialético, o positivismo, a fenomenologia, o estruturalismo, a etnografia e o construtivismo. No quadro a seguir apresentamos uma breve descrição das características dessas correntes. Quadro 3 – Correntes de pensamento da ciência Corrente Principais pensadores Característica Empirismo John Locke (1632-1704) As experiências humanas é que constituem a formação de ideias e conceitos. Materialismo dialético Karl Marx (1818-1883) Friedrich Engels (1820-1895) A dialética representa o diálogo, o debate sobre um tema. Assim, o conceito da dialética é a base para o entendimento dos proces- sos sociais que ocorrem no decor- rer do tempo. Positivismo Auguste Comte (1798-1857) Considera o conhecimento cien- tífico como o único e verdadeiro. Dessa forma, no positivismo tem- -se o culto à ciência, ao mundo humano e ao materialismo. Fenomenologia Edmund Husserl (1859-1938) O estudo é realizado de acordo com a forma em que os fenôme- nos acontecem em seu tempo e espaço. Representa o estudo da essência de como as coisas são percebidas no mundo. (Continua) 16 Pensamento científico na educação Corrente Principais pensadores Característica Estruturalismo Ferdinand de Saussure (1857-1913) Traz uma abordagem em que se consideram as diferentes formas utilizadas ao se realizar as ativida- des humanas. Assim, tem-se que a sociedade está formada sob di- versas estruturas. Etnografia Bronisław Malinowski (1884-1942) Representa a descrição detalhada da cultura de um povo, de uma sociedade. É a ciência do estudo das etnias. Construtivismo Jean Piaget (1896-1930) Seu conceito está relacionado à atuação ativa do indivíduo no processo de criação e modifica- ção das representações do objeto de estudo. Fonte: Elaborado pelas autoras. Temos, assim, que a ciência em seu desenvolvimento e evolu- ção histórica apresentou diferentes correntes, que contribuíram com distintas abordagens utilizadas nas pesquisas atuais. No decorrer desta obra, vamos nos aprofundar sobre os diferentes métodos cien- tíficos e como eles se fazem presentes no contexto acadêmico, o qual tratamos melhor no tópico a seguir. 1.3 Ciência no contexto acadêmico Vimos anteriormente como a ciência vem se desenvolvendo e evoluindo, com diferentes pers- pectivas e correntes de pensamento. Também vimos que a ciência é a busca pelo conhecimento e, para isso, os pensadores e cientistas utilizam-se de dife- rentes recursos e formas de se chegar a um resul- tado. Em um contexto mais atual, destacamos que esses resultados Vídeo Discussões sobre ciência 17 representam diferentes produções científicas, estando diretamente relacionados ao meio acadêmico. Por isso verifica-se que a educação se faz presente em todo processo de desenvolvimento da sociedade em que vivemos, onde o conhecimento e a ciência são os eixos principais. Mas de onde surgem os questionamentos que os cientistas fazem para que seja produzida a ciência? Segundo Appolinário (2012, p. 6), “o conhecimento científico depende e se origina de indagações oriundas do senso comum, o que pode acabar resultando em alguma descoberta científica importante”. E você sabe o que é senso comum? O senso comum foi provavelmente o primeiro tipo de conheci- mento surgido na humanidade. Ele representa aquilo que sabemos das práticas que vivenciamos. Com base nesse conhecimento adqui- rido, encontramos a solução para diferentes ações que o dia a dia nos apresenta e tomamos diversas decisões, das mais simples até as mais complexas. Por exemplo: imagine que você está em um processo sele- tivo para uma vaga de emprego muito interessante e que tem uma entrevista com a equipe de seleção, incluindo um coordenador da área de atuação, um profissional de recursos humanos e uma psicó- loga. Nessa situação, você sabe o comportamento que deve apresentar a fim de conquistar sua vaga, explorando seu conhecimento sobre as atividades a serem realizadas para o cargo em questão. Perceba que o conhecimento que você utilizou representa aquilo que é comum, aquilo que sabemos diante do que é divulgado e publicado a respeito. Com base no exemplo que apresentamos, é possível afirmar que o senso comum é muito importante no nosso cotidiano, independen- temente da ação a ser tomada, visto que ele contribui para a tomada de decisões. Podemos considerá-lo como um aliado, uma vez que evita que tenhamos de fazer diferentes procedimentos científicos para chegar a uma decisão. Appolinário (2012) nos traz um exemplo que ajuda a compreender e reconhecer como o conhecimento cien- tífico não é aplicável em todas as situações diárias, sendo necessário que lancemos mão do senso comum. Observe o texto a seguir. 18 Pensamento científico na educação A melhor calça jeans do Brasil Imagine a seguinte situação: você decide comprar uma calça jeans nova. Mas, antes, você decide utilizar um procedimento científico, pois seu objetivo, além de comprar a calça, é alcançar o resultado mais preciso e correto possível, envolvendo modelos, qualidade do tecido e custo-benefício. Para isso, você realizará um cronograma de execução, levantamento de produtos para análise e recursos financeiros. Diferentes etapas precisam ser cumpridas para chegar a um resultado, como: fazer um levantamento de mercado e modelos disponíveis para realizar a análise de custo-benefício. Com esse levantamento, que durou um mês, você chegou a um número de 600 peças diferentes que pre- cisam ser analisadas quanto a modelo, tecido e preço. Com essas 600 calças é preciso realizar diferentes tes- tes, resultando em mais um mês de pesquisa. Após as diferentes etapas de coleta de material e análises, você chegou à conclusão de qual seria a melhor calça jeans a ser comprada. Fonte: Appolinário, 2012, p. 3-4. Perceba que realizar procedimentos científicos é inviável para as ações e decisões do dia a dia, por isso o senso comum se revela essencial. No caso da calça jeans, não é preciso realizar um proce- dimento científico para saber qual a melhor opção; podemos fazer isso consultando o vendedor da loja ou até mesmo a sua preferência diante do que já sabe. Em relação à entrevista do processo seletivo Discussões sobre ciência 19 de uma vaga de emprego, não é necessário realizar uma pesquisa científica para descobrir que tipo de comportamento e conduta deve ser adotado diante do possível futuro chefe. Isso é algo que tomamos conhecimento com base naquilo que vivenciamos. É importante destacar que o senso comum não minimiza ou anula a importância dos procedimentos científicos, pois ambos são relevantes para a construção do conhecimento. Observe no quadro a seguir uma comparação entre esses dois tipos de conhecimento. Quadro 4 – Senso comum e conhecimento científico Conhecimento obtido com o senso comum Conhecimento obtido com processos científicos Assistemático e desorganizado. Sistemático e organizado. Ametódico: frequentemente depende do acaso. Metódico: é produzido por uma série de procedimentos específicos e bem-definidos. Subjetivo: depende de nossos juízos e disposições pessoais.Objetivo e impessoal: é direto e factual. Tende a ser mais isento, dependendo menos dos nossos juízos e disposições pessoais. Fonte: Appolinário, 2012, p. 6. O senso comum não substitui o conhecimento científico e vice-versa, eles se complementam. Segundo Appolinário (2012, p. 6), “muitas vezes, o conhecimento científico depende e se origina de indagações oriundas do senso comum, o que pode acabar resul- tando em alguma descoberta científica importante”. Para realizar processos científicos, são utilizados métodos científicos, que vamos conhecer no Capítulo 3. Assim, perceba que compreender a ciência e como ela se desen- volve é a base para o nosso estudo nesta obra, na qual você terá a oportunidade de refletir sobre o pensamento científico e colocá-lo em prática no contexto educacional. 20 Pensamento científico na educação Considerações finais O contexto acadêmico exige do pesquisador o entendimento de diferentes termos que compõem o seu cotidiano. Assim, compreen- der o que é ciência é uma tarefa, que contribui com a formação pro- fissional ao longo da vida, já que a ciência faz parte das atividades do pesquisador, especialmente porque a essência dela é a busca por resultados, por novos conhecimentos. Com base no que foi apresentado neste capítulo, adquirimos uma visão de conceitos e fatos históricos que colaboraram com a definição e o entendimento do que é ciência, bem como demonstra- ram que seu uso está relacionado à realidade das sociedades. A forma como a ciência está inserida no dia a dia e na história da humanidade reflete uma postura e método reflexivos para que, por meio de seu entendimento e difusão, seja base para futuras pesquisas e novas descobertas. Nesse sentido, fica clara a importância de distin- guir o conhecimento que tem origem no senso comum daquele que é obtido com procedimentos científicos, visto que ambos envolvem diferentes critérios. Ampliando seus conhecimentos Iniciamos este livro apresentando o conceito de ciência e como ela se faz presente na história humana. Para ampliar ainda mais essa reflexão, sugerimos a leitura do artigo “Ciência, senso comum e revo- luções científicas: ressonâncias e paradoxos”, de Marivalde Moacir Francelin (2004). Nesse texto, a autora complementa o que apresen- tamos neste capítulo, e, dessa forma, contribui com sua formação. Discussões sobre ciência 21 Ciência, senso comum e revoluções científicas: ressonâncias e paradoxos (FRANCELIN, 2004, p. 26) Uma das características singulares da ciência na contempora- neidade é a sua flexibilidade em relação a alguns aspectos antes considerados indesejáveis, em função do excesso pragmático e do isolamento disciplinar. Porém, pode-se notar que esses são apenas alguns pontos salientes no âmbito científico. Vários outros conjuntos de relações, conceitos e interpretações pode- riam ser estabelecidos a partir de temáticas como ciência, senso comum e revoluções científicas. Discussões como essa tornam-se quase que intermináveis. São sugestivos os distin- tos pontos abordados em torno dos temas. O que se chama de “estatuto científico” parece tomar uma forma diferente nesse sentido, pois participa da incerteza que compõe os meandros científicos. São essas incertezas que se tenta abordar no pre- sente texto. [...] O contexto científico é variável e, sem dúvida, pode receber interferência do ambiente tanto local quanto global. Porém, essas tais influências podem ser recebidas e, principalmente, entendidas de diversas maneiras em um mesmo evento e por um mesmo observador. Exemplo disso são as revoluções cientí- ficas que passaram por enfoques distintos em função do debate aprofundado e prolongado entre Thomas Kuhn e Karl Popper. Na ciência não foi, não é e, provavelmente, não será diferente. Nesse sentido, o debate prende-se à ciência e tenta mapear uma espécie de gênese científica, justificando a necessidade de uma aproximação com o senso comum. Assim, reúnem-se os componentes que permeiam ambiente e espírito humanos em suas manifestações cotidianas, em detrimento dessa espécie de gênese científica. 22 Pensamento científico na educação Atividades 1. A ciência apresenta diferentes definições e conceitos, que foram construídos com o passar do tempo por diferentes pes- quisadores. Considerando as definições de ciência, descreva qual a essência do conceito e como é conhecido atualmente. 2. Com o passar do tempo, a ciência se desenvolveu com diferentes ações, realizadas por profissionais e pesquisadores de diversas áreas de atuação, em diferentes culturas. Na evolução da ciência, destacam-se as ciências europeia e chinesa, que trazem caracte- rísticas e resultados diferentes. Com base nesse contexto, des- creva as principais características de cada uma dessas ciências. 3. No contexto acadêmico, a ciência se faz presente em diversos momentos, nos quais a busca pelo conhecimento é intensifi- cada. Para obter esse conhecimento, podemos considerar o senso comum ou os procedimentos científicos. Com base no que foi estudado neste capítulo, descreva as principais dife- renças entre esses dois tipos de conhecimentos. Referências APPOLINÁRIO, F. Metodologia da ciência: filosofia e prática da pesquisa. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2012. CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A.; SILVA, R. Metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. FRANCELIN, M. M. Ciência, senso comum e revoluções científicas: resso- nâncias e paradoxos. Ciência da Informação, Brasília, v. 33, n. 3, p. 26-34, set./ dez. 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ci/v33n3/a04v33n3>. Acesso em: 23 mar. 2018. KNELLER, G. F. Ciência como atividade humana. Rio de Janeiro: Zahar, 1980. MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. V. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003. SAMPIERI, R. H.; COLLADO, C. F.; LUCIO, M. P. B. Metodologia de pes- quisa. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. 2 A natureza do conhecimento Andreza Regina Lopes da Silva Vimos, no capítulo anterior, que a sociedade contemporânea é baseada no conhecimento. Diante de tal assertiva, evidencia-se a relevância da ciência para o desenvolvimento de um país, por meio da construção, reconstrução e mesmo desconstrução de saberes pré-existentes, pois entende-se que a ciência é reflexo de um dado momento histórico. Neste capítulo, vamos discutir a natureza do conhecimento, como processo de desenvolvimento de um resultado futuro deno- minado aprendizagem. Tal processo pode ser gerado pelo indiví- duo ou pela integração coletiva e o conhecimento, assim pode ser entendido pela sua natureza e tipologia como elemento de valor das sociedades humanas. 2.1 O que é conhecimento Na sociedade em que vivemos, o conhecimento vem sendo cada vez mais reconhecido como um importante recurso, conferindo uma vantagem social e acompanhando o crescimento do ambiente dinâmico da contemporaneidade. Sendo assim, podemos entender o conhecimento como o ele- mento de maior impacto econômico e social na atualidade. De modo geral, o conhecimento precisa ser construído, desconstruído e recons- truído ao longo do tempo, criando significados com base em infor- mações obtidas – sejam elas de pensamentos científicos, religiosos, filosóficos, empíricos, do senso comum, entre outros. Vídeo 24 Pensamento científico na educação Fruto da racionalidade humana, o conhecimento pode ser enten- dido como a transformação da informação por meio de um processo de criação de significado. Como resultado do ambiente e contexto interpretado, temos novos conhecimentos sendo criados com fre- quência. Esse processo de construção contínua exige flexibilidade para adaptação a uma sociedade em constante remodelagem, incen- tivado pelo crescimento e pela produtividade acelerados. A sociedade contemporânea integra-se, segundo Venzin, Krogh e Roos (1998), pelas seguintes perspectivas: • do desenvolvimento cognitivo, baseado no conhecimento como algo abstrato explicitado pelo indivíduo que o produziu; •da autopoiesis1, fundamentado no ponto de vista criativo e socialmente construído por meio da observação; e • interacionista, cuja representação do ambiente se dá pelo pro- cessamento da informação percebida pelos diferentes fluxos de experiência dos envolvidos. Nesse sentido, o conhecimento pode ser entendido, segundo Choo (2003), como um processo resultante da combinação, intera- ção e relacionamento que podem se dar entre indivíduos, grupos ou organizações para o alcance de um determinado objetivo. Além disso, o conhecimento é construído e desenvolvido pela necessidade de conexão entre os indivíduos, o que, diante da neces- sidade de adaptação constante ao ambiente, exige por vezes a con- cepção de novos modelos mentais. Essa mudança é necessária na busca de um desenvolvimento sustentável, que por sua vez leva à inovação de produtos, serviços e competências que ampliam o hori- zonte de oportunidades e escolhas, exigindo um processo contínuo de aprendizado qualificado (CHOO, 2003). 1 A autopoiesis, ou autopoiese, é um termo criado pelos professores Maturana e Varela, nos anos de 1970, para designar a capacidade de os indivíduos produzirem a si próprios (MATURANA; VARELA, 1980). A natureza do conhecimento 25 Para gerar conhecimento, um conjunto de dados deve ser inter- ligado a uma realidade, dando sentido à informação, que, de acordo com um determinado contexto, transforma-se em conhecimento, como podemos observar na Figura 1. Figura 1 – Escada do desenvolvimento de conhecimento Dado Informação Conhecimento Fonte: Elaborada pelas autoras. Esse processo de construção do conhecimento permite ao indiví- duo desenvolver competências que podem ser empregadas em arte- fatos criativos, sendo expressos, por exemplo, em objetos manuais construídos por uma realidade interpretada. Esse processo marca uma aprendizagem, não como causa, mas como consequência do desenvolvimento de um indivíduo que, em dado momento, pode começar a identificar situações ou cenários até então despercebidos – o que pode incluir desaprender pressupostos e crenças, tidas como verdades absolutas – para, com base nisso, aprender. O conhecimento evoluiu pelo processo de socialização, explici- tação e compartilhamento de saberes, num ciclo contínuo de desen- volvimento, impulsionado pela intervenção humana. Nesse sentido, o conhecimento é responsável por criar valor individual, grupal e/ou organizacional. Logo, cresce no mesmo ritmo das mudanças vividas e, nesse cenário, “não somos sujeitos passivos, mas agentes partici- pativos, capazes de ajudar no enriquecimento cultural, científico e tecnológico, gerando um movimento de alimentação e retroalimen- tação entre indivíduos e sua coletividade” (CASTRO; GONTIJO; AMABILE, 2012, p. 25). 26 Pensamento científico na educação O resultado do processo evolutivo do conhecimento pode ser entendido como uma representação de mundo por meio da análise sistemática de uma realidade definida por um propósito. Assim, infere-se que o conhecimento se configura como significado con- gruente do processamento cognitivo de informações, que pode ocorrer em nível individual e/ou no coletivo. No decorrer do século XXI, condições de alta produtividade, inovação e criação de redes de interação digital trazem consigo a concepção do conhecimento como artefato de grande valor econô- mico, necessário ao progresso não só de países desenvolvidos, mas de todo o globo (CASTELLS, 2016). Em outras palavras, o conheci- mento, em suas mais variadas tipologias, como descreveremos no item a seguir, é a base para a expansão da sociedade contemporânea. 2.2 Tipos de conhecimento Existem variados tipos de conhecimento, com aspectos em comum entre si, mas também com grandes diferenças. Neste item, vamos primeira- mente conhecer as principais características de qua- tro tipos de conhecimento, definidos por Marconi e Lakatos (2010), como demonstra o Quadro 1. Quadro 1 – Tipologia dos conhecimentos Tipo de conhecimento Descrição Popular Também conhecido como senso comum, é aquele conhecimento que estruturamos com a realidade vivida, um conjunto de crenças e opiniões em geral acumuladas. Religioso Também conhecido como teológico, é aquele co- nhecimento que tem relação direta com a fé, logo, é inspiracional, pois não é preciso ver para crer. Sua inspiração apoia-se em doutrinas sagradas. Vídeo (Continua) A natureza do conhecimento 27 Tipo de conhecimento Descrição Filosófico Iniciado pelos pré-socráticos, na Grécia Antiga, esta- beleceu-se pela liberdade de pensamento experien- ciado. Já com Platão e Aristóteles, destacou-se o raciocínio abstrato e valorativo sem a exigência de aplicação direta à realidade. Nietzsche, Foucault e De- leuze, entre outros filósofos contemporâneos, enfati- zaram o conhecimento sob o olhar do sujeito da ação. Científico É todo conhecimento justificado e sistematizado que permite, sempre que necessário, uma revisão. Esse conhecimento desenvolve-se por meio de um ciclo que vai da observação à produção de teorias, num fluxo constante de teoria e prática. Fonte: Elaborado pelas autoras com base em Marconi; Lakatos, 2010. Apesar da caracterização e divisão em quatro grandes tipos de conhecimento, podemos analisar um fato com base no olhar desses diferentes conhecimentos. Vamos usar como exemplo o nascimento de uma criança. No conhecimento popular, o nascimento pode ser visto como a continuidade de uma família. Sob a ótica do conhe- cimento religioso, é como uma dádiva divina. Sob a luz do conhecimento filosófico, esse novo ser pode ser questionado quanto à sua origem e ao seu destino. E o conhecimento científico, ao olhar para esse nascimento, pode buscar referência nas ciências biológicas para compreensão do sistema que integra esse novo indivíduo. Assim, é importante percebermos que sobre um determinado fato podemos ter diferentes análises de conhecimento coexistindo sob a visão de uma mesma pessoa. Por exemplo, um cientista pode entender que o indivíduo é um ser vivo com sistema complexo, vê-lo como uma dádiva divina e, além disso, no seu dia a dia, para cuida- dos diários, tomar por base o conhecimento de senso comum. Esses conhecimentos aqui apresentados podem também ser classificados, segundo Castro, Gontijo e Amabile (2012), como tácito ou explícito. 28 Pensamento científico na educação • Conhecimento tácito: do latim tacitus, pode ser entendido como o conhecimento empírico de um indivíduo. Logo, é de difícil externalização, pois geralmente foi adquirido ao longo da vida e se aplica de maneira inconsciente nas ações do dia a dia. • Conhecimento explícito: do latim explicitus, é um conhe- cimento que se apresenta organizado em diferentes bases, por meio de procedimentos, normas e regulamentações que, por vezes, estarão claramente formalizados em textos, gráficos etc. Não é nossa intenção limitar os tipos de conhecimento, mas mos- trar que ele trabalha a relação entre o homem e o mundo de acordo com seu contexto, sua realidade ou mesmo seu propósito. Essa con- cepção não é nova. Desde os primórdios da existência humana, o indivíduo foi movido pela realidade que o circunda. O que torna o conhecimento científico distinto, intenso e valioso é o conjunto de procedimentos metodológicos utilizados para a construção da ciência. Esse conhecimento é um processo em cons- tante desenvolvimento, revisão e construção, por meio de um sis- tema de ideias verificáveis. Isso posto, vale lembrarmos que essa discussão sobre a ciência envolve um universo de possibilidades. Assim, propomos aqui um caminho de compreensão da ciência pela negação, por exemplo: ciência não é religião, não é senso comum, não é filosofia. Logo, o conhecimento científico permite descobertas científicas verificá- veis e seu avanço tem relação direta com a vida dos seres humanos, incutindo mudança de mentalidade, costumes e maneiras de ser e relacionar-se com o mundo. Considerando a visão de Castro, Gontijo e Amabile (2012),podemos afirmar que os saberes científicos integram as diferentes esferas das relações de desenvolvimento de um indivíduo ao longo da vida, numa perspectiva de propagação de saberes formais. Diante A natureza do conhecimento 29 dessa constatação, descrevemos no item a seguir as potencialidades da ciência na sociedade do conhecimento. 2.3 Relevância do conhecimento científico Considerando a relevância da ciência para a evo- lução e o desenvolvimento da sociedade, numa rela- ção sistemática – verificável e aproximadamente exata – de integração do homem com o mundo, temos a complexidade do universo científico, entendido por meio de temas, metodologias e procedimentos ine- rentes às atividades racionais de um sistema de conhecimento. No tópico anterior, vimos que o conhecimento é um processo resultante do significado dado a informações com base em uma reali- dade e um determinado propósito. Vimos, ainda, que o conhecimento pode ser individual, grupal ou organizacional, sendo individual aquele desenvolvido pelo processo cognitivo do indivíduo, grupal quando envolve a discussão e interação entre diferentes indivíduos e organi- zacional quando essa construção se dá no âmbito das organizações. Essa temática é ampla e complexa, mas contribui para com- preendermos mudanças nas mais diferentes esferas sociais, estimu- lando o desenvolvimento do conhecimento e reconhecendo-o como um fator de produção que impacta diretamente na solução de uma problemática. Desse modo, busca-se no procedimento científico soluções, por meio da aplicação de novas ideias, investigação e veri- ficação de resultados, a fim de corrigir hipóteses, teorias e procedi- mentos empregados. Nesse sentido, o conhecimento advindo da ciência e seu reco- nhecimento são de grande importância na sociedade contempo- rânea. O conhecimento assume a posição de recurso com o maior valor econômico, cultura e social do século XXI. Diante de uma gigantesca rede de informação, passamos a congregar a sociedade Vídeo 30 Pensamento científico na educação em uma rede de conhecimento, dos mais diferentes tipos. Contudo, é na ciência que o avanço desse conhecimento integra diferentes interesses, criação e cooperação com base em um objeto de estudo, visando a promover pesquisas que tragam avanços para a população como um todo. Nesse cenário, as redes de comunicação e desenvolvimento são construídas com iniciativas, interesses e projetos que se conectam multidisciplinarmente, superando as formas limitadas de desenvol- vimento adotadas na era da industrialização. Integram-se diferentes conteúdos, multiplicam-se os conhecimentos e forma-se então uma sociedade virtual e difusa, na qual saberes não se limitam a tempo e espaço, pois, com as redes digitais de informação e comunicação, eles passam a não ter limites temporais e geográficos (CASTELLS, 2016). Assim, crescentes práticas que objetivam o desenvolvimento de uma sociedade baseada no conhecimento têm sido impulsionadas pelo reconhecimento de que a sociedade está em constante trans- formação. Passamos a conceber que o desenvolvimento sustentável cresce no mesmo ritmo que o avanço da ciência. Sendo assim, tais processos precisam ser integrados. Diante da infinidade de informações e da autonomia crescente dos indivíduos nas últimas décadas, a tendência dessa sociedade que se baseia no conhecimento se intensifica com práticas de socializa- ção, compartilhamento, externalização e internalização do conhe- cimento, uma vez que este assume posição de gerador de valor e de impulsionador de mudanças e de transformações da sociedade con- temporânea. Esse processo é reconhecido por Nonaka e Takeuchi (1997) como gestão do conhecimento – temática que vamos discutir de modo mais aprofundado no Capítulo 7. O ponto de partida nessa nova realidade é a associação dos conhecimentos, sejam eles científicos, religiosos, filosóficos ou do senso comum, desde que levem ao fortalecimento do desenvolvi- mento sustentável da sociedade. A natureza do conhecimento 31 Assim, infere-se que os saberes científicos têm sido difundidos com maior intensidade nesse modelo de sociedade contemporânea, que não se limita a culturas isoladas, pois agora elas se conectam constantemente e ampliam-se devido à integração de indivíduos e espaços – algo que até o fim do século XX limitava-se a discussões fragmentadas em conteúdos, disciplinas, culturas e regiões distintas. Esse movimento de integração de saberes incentiva pesquisas e inovações nos mais diferentes campos do conhecimento, visando a criar novas riquezas em uma sociedade globalizada. Considerações finais A natureza do conhecimento é um tema que extrapola a con- cepção teórica e a tipologia das ciências. Inclui a análise do conhe- cimento científico e sua evolução como estratégia de um sistema de desenvolvimento sustentável, em que ciência e problemas da reali- dade se integram na direção da qualidade de vida e de novas opor- tunidades na sociedade. Essa discussão é uma realidade do século XXI que exige soluções e iniciativas relacionadas a ações de pesquisa científica, no lugar de verdades absolutas instituídas pelo conhecimento revelado pela fé ou pelo senso comum. Essa compreensão da relevância da ciência apontar o interesse da sociedade moderna em compreender o mundo e minimizar calamidades naturais e escassez de recursos, um movimento possível pela integração da ciência à prática diária. Nesse novo cenário, reconhecemos que o conhecimento exige um modelo de desenvolvimento progressivo e integrado, cuja construção não se limita à educação formal (series iniciais, ensino médio, e gra- duação, por exemplo), mas exige de cada um de nós um movimento de autonomia e busca constante por saberes que possam ser integra- dos como processos e técnicas que estimulem a produção e sociali- zação de novos conhecimentos, a fim de potencializar o desenvol- vimento da ciência. Como indivíduos aprendentes, devemos todos 32 Pensamento científico na educação ser protagonistas da evolução da ciência, contribuindo com soluções inovadoras que estimulem o desenvolvimento da sociedade. Ampliando seus conhecimentos Neste capítulo, tratamos do conhecimento, sua tipologia e discutimos de maneira reflexiva a sua relevância para a sociedade contemporânea. Isso porque ela tem no conhecimento o seu arte- fato de maior valor e cresce e potencializa seus resultados com base na construção colaborativa dele. Nesse sentido, Pereira (2014) dis- corre sobre algumas implicações da construção do conhecimento em nossa sociedade, destacando a universidade como uma via de racionalização e de desenvolvimento dele. Para que você possa ampliar sua compreensão sobre a natureza do conhecimento, reproduzimos a seguir um excerto sobre a ciência moderna e seu caminho nas universidades. A construção do conhecimento na modernidade e na pós-modernidade: implicações para a universidade (PEREIRA, 2014) Algumas consequências para a produção do conhecimento decorreram [...] para a estruturação da universidade. Com esse procedimento, a universidade desenvolve o conhecimento pela via da racionalidade e reproduz a separação sujeito-objeto. 1. O sujeito e objeto tornam-se polos opostos da relação de conhecimento. Para que a objetividade seja alcançada, o sujeito do conhecimento teve que ser reprimido e superado, principalmente nas qualidades de sentimento e imagina- ção. O conhecimento torna-se algo alcançável somente pelo uso da razão. A natureza do conhecimento 33 2. O método científico tem como fundamento a redução da complexidade. Impera que o complexo seja dividido, separado e classificado para que possa ser explicado, compreendido, trabalhado. Acredita-se que a mente humana não dá conta de explicar o mundo na sua complexidade. A simplificação do complexo constitui uma arbitrariedade consentida e é necessá- ria para que se conheça a causa do fenômeno. 3. A organização do conhecimento vai ser feita de forma dico- tômica, onde umapossibilidade exclui a outra. O pensamento é dualista – mente e corpo; razão e sentimento; explicações físi- cas e explicações culturais. Caso predomine um dos aspectos, o outro está excluído. As áreas do conhecimento vão sendo sepa- radas para que ele seja produzido na sua especificidade. Isso vai influenciar a formação na universidade. 4. A ciência toma como base o conceito de ordem uniforme como princípio organizador dominante na realidade. Isso levou à adoção de alguns postulados, tais como: a mudança é uniforme e linear; o universo é estável e mecânico, a realidade é simples e quantificável, o progresso é linear. 5. O método científico elimina a possibilidade de sentimentos, intuição e experiências pessoais poderem ser consideradas fon- tes de conhecimento, por não serem exatos e objetivos. [...] A ciência moderna que se constituiu na convicção de que há regularidade e previsibilidade no mundo físico e biológico vai passar essa convicção para alguns teóricos dos fenômenos sociais. Para estes, como para aqueles, descoberta a regulari- dade do fenômeno, tornava-se possível a predição e o controle destes, fossem naturais ou humanos. [...] Tendo essas considerações teóricas em perspectiva, nos questionamos na universidade a nossa condição de trabalhar um ensino que tome como referência a emergência de novas posturas paradigmáticas do conhecimento e que se questione quanto à estruturação imposta pelo método científico. Essas novas perspectivas levam a universidade a pensar sua função de ensinar, formar e pesquisar, baseadas somente nas certezas 34 Pensamento científico na educação científicas, no método experimental e na objetividade, rejei- tando qualquer nova contribuição que não seja parametrada dentro dessa relação. [...] Atividades 1. Considerando que saímos de uma sociedade denominada industrial e chegamos à sociedade baseada no conhecimento, descreva o que é conhecimento e como o construímos. 2. A sociedade contemporânea tem o conhecimento como ele- mento de valor. Isso traz também a consciência dos diferen- tes tipos de conhecimento e suas principais inferências. Com base no que vimos no capítulo, discorra sobre seis tipos de conhecimento e suas principais características. 3. A sociedade passou por um processo de transformação signi- ficativo a partir do século XX, no que diz respeito à construção do conhecimento como base do desenvolvimento econômico. Considerando o conhecimento científico, destaque os princi- pais aspectos que o avanço da ciência agrega à sociedade do século XXI, cuja base é a integração em rede. Referências CASTELLS, M. A sociedade em rede. 17. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2016. CASTRO, C. L. F.; GONTIJO, C. R. B.; AMABILE, A. E. N. (Org.). Dicionário de políticas públicas. Barbacena: EdUEMG, 2012. Disponível em <http:// bd.camara.gov.br/bd/handle/bdcamara/13076>. Acesso em: 12 abr. 2018. CHOO, C. W. A organização do conhecimento: como as organizações usam a informação para criar significado, construir conhecimento e tomar deci- sões. 2. ed. São Paulo: Senac, 2003. A natureza do conhecimento 35 MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia cientí- fica. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2010. MATURANA, H. R.; VARELA, F. J. Autopoiesis and cognition: the realization of the living. Dordrecht: D. Reidel Co., 1980. NONAKA, I.; TAKEUCHI, H. Criação de conhecimento na empresa: como as empresas japonesas geram a dinâmica da inovação. Rio de Janeiro: Campos, 1997. PEREIRA, E. M. A. A construção do conhecimento na modernidade e na pós-modernidade: implicações para a universidade. Revista Ensino Superior, n. 12, jul./set. 2014. Disponível em: <https://www.revistaensino superior.gr.unicamp.br/artigos/a-construcao-do-conhecimento-na-moder nidade-e-na-pos-modernidade-implicacoes-para-a-universidade>. Acesso em: 15 abr. 2018. VENZIN, M.; KROGH, G.; ROOS, J. Future research into knowledge management. In: KROGH, G.; ROOS, J.; KLEINE, D. (Org.). Knowing in firms: understanding, managing and measuring knowledge. Londres: Sage, 1998. 3 Método científico: a sistematização do conhecimento Andreza Regina Lopes da Silva Discutimos anteriormente sobre a ciência e sua relevância no contexto da sociedade atual, uma sociedade em rede. Agora, é importante debatermos o método científico, visto que ele sistema- tiza o conhecimento por meio de situações concretas e com refle- xões previamente mapeadas e discutidas. Diante disso, neste capítulo vamos conhecer os principais méto- dos científicos utilizados na educação e pesquisa, os quais proporcio- nam oportunidades de contribuir, com o desenvolvimento do país. O conhecimento científico não é único e acabado; ele permite, por meio de procedimentos definidos, a revisão de saberes prévios, a fim de ampliar sua aplicabilidade e compreensão em um dado período. Essa discussão é, sem dúvida, o ponto de partida da contribuição notável da ciência em relação às tendências e transformações sociais. 3.1 Método científico Vamos começar nossa discussão destacando que foi no início do século XXI que tivemos o marco do crescimento da ciência no que tange ao fomento público e iniciativas que estimulam sua expansão. Novos conceitos sobre a própria natureza e as neces- sidades humanas são explicitados por meio da ciên- cia, permitindo aos indivíduos fortalecer seu senso crítico, indo além do senso comum. Vídeo 38 Pensamento científico na educação A ciência tem se demonstrado um instrumento de riqueza de produção na sociedade do conhecimento. Na era da globalização, o que diferencia um país desenvolvido dos demais é principalmente o investimento em ciência e tecnologia. O desenvolvimento da ciên- cia se dá em grande parte dentro das instituições de ensino supe- rior (IES) e exige fomento dos governos, das próprias instituições de ensino e da iniciativa privada. Essa relação é conhecida como conceito da tríplice hélice, uma abordagem integrada para o cresci- mento econômico, como ilustra a Figura 1. Figura 1 – Tríplice hélice Iniciativa privadaGoverno IES Fonte: Elaborada pelas autoras com base em Etzkowitz; Leydesdorff, 2000. Partindo dessa discussão, podemos perceber a relevância da integração entre os agentes da hélice para o desenvolvimento de um país, pois, no que tange à inovação, o fomento é fortalecido com as mudanças e interações dessas relações – entre governo, IES e ini- ciativa privada (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000). Contudo, em pleno século XXI ainda temos alguns impasses no contexto bra- sileiro: apesar da expansão da ciência no país, principalmente nas últimas décadas, é comum, infelizmente, a importação de tecnologia e fontes de conhecimento de outros países. Nesse sentido, como já afirmamos anteriormente nesta obra, a produção da ciência é fundamental para o crescimento sustentá- vel de um país, pois é vista como um agente de competitividade e Método científico: a sistematização do conhecimento 39 desenvolvimento, o que predispõe a necessidade de avançarmos no conhecimento sobre os métodos científicos que impactam na exce- lência das pesquisas realizadas. Com esse contexto inicial, queremos despertar a consciência quanto à sistematização do conhecimento. Sabemos que, por vezes, falar em método científico para muitos soa como algo engessado, difícil, gerando inclusive resistências. No entanto, devemos desmis- tificar aqui essa visão e mostrar que até mesmo você, como estu- dante e profissional, contribui para essa realidade e o avanço do país. A sistematização do conhecimento ocorre por meio de métodos que, por sua vez, vão permitir a construção de saberes válidos e ver- dadeiros por um caminho definido. Pense, no campo das ciências da saúde, como é relevante um estudo com método definido – nesse caso, o método clínico. Com certeza ele auxilia, além de pesquisa- dores e profissionais na prática clínica, no bem-estar dos pacientes. Para uma melhor compreensão, observe a Figura 2. Figura 2 – Etapas do desenvolvimentodo método científico Observação ResultadoHipótese Questão de análise Experimento Fonte: Elaborada pelas autoras. Perceba que o método científico é composto de cinco etapas, sendo elas: 1. Observação – corresponde ao mapeamento do contexto a ser pesquisado. 2. Questão de análise – definição da pergunta/problemática que direcionará a pesquisa. 40 Pensamento científico na educação 3. Hipótese – corresponde a possíveis explicações da questão definida para análise. 4. Experimento – relacionado a testes da hipótese definida. 5. Resultado – condição observada e evidenciada com os proce- dimentos das experiências. Até aqui ficou claro que a ciência consiste no estudo com méto- dos claros e definidos da evolução do conhecimento, sejam eles métodos de abordagem ou de procedimentos, como veremos no próximo item, no Quadro 1. Ou seja, a sistematização do conhe- cimento investigado, para a construção de ciência, é realizada com um método científico, independentemente de seu tipo (CASTRO; GONTIJO; AMABILE, 2012). Mas, agora, queremos que você reflita: tudo que emprega método é ciência? Observe que essa relação não é obrigatoriamente direta. Imagine-se diante de uma receita de bolo, em que métodos de procedimentos estão definidos, por exemplo: “bata as claras em neve e reserve”; “em outro recipiente, bata as gemas e a manteiga”, e assim sucessivamente. Temos um método, mas não é ciência. Método científico é uma teoria de investigação que busca respon- der a uma problemática definida pelo racionalismo e espírito crítico (DESCARTES, 2011). Dessa forma, podemos explicar o conhecimento científico como o processo de criação de significado que o indivíduo gera por meio da abstração da informação, cuja razão procura “a verdade nas ciên- cias” (DESCARTES, 2011, p. 27). Como resultado, queremos que você perceba que método é um conceito que integra o raciocínio e/ou o caminho que seguimos na sistematização do conhecimento. Mas tenha claro que não vamos aqui ensinar o método, e sim apresen- tar suas diferentes formas para a construção da ciência. Não há um só procedimento, tampouco abordagens definidas, pois temos um processo de construção contínuo que exige dos pesquisadores e estudiosos flexibilidade e adaptação constante. Método científico: a sistematização do conhecimento 41 3.2 Classificação dos métodos O conceito de método, como vimos anteriormente, está relacionado à organização e/ou à abordagem siste- mática do conhecimento produzido e distribuído. Ou seja, está integrado à construção e ao desenvolvimento sistematizado do conhecimento, permitindo ao pes- quisador a busca por respostas em uma investigação racional. Para melhor compreensão, organizamos o Quadro 1. Observe: Quadro 1 – Métodos de abordagem e de procedimentos Método de abordagem Método de procedimentos • Indutivo • Dedutivo • Hipotético-dedutivo • Dialético • Histórico • Comparativo • Estudo de caso • Estatístico • Estudo de caso • Funcionalista • Estruturalista • Etnográfico Fonte: Adaptado de Marconi; Lakatos, 2010. Em geral, o método constitui a ordem e o raciocínio necessários para o avanço em diferentes campos de estudo, permitindo a cons- trução de generalizações e o estabelecimento de comparações sobre o objeto de estudo. O método de abordagem faz analogia ao racio- cínio obtido com base em um dado estudo já realizado, enquanto o método de procedimentos está relacionado à ordem das ações. Sendo assim, considerando a discussão apresentada por Marconi e Lakatos (2010), vamos às descrições dos métodos citados no Quadro 1. • Abordagem indutiva: desenvolve-se por um processo de raciocínio no qual, com a observação de um fenômeno, é possível fazer descobertas e generalizações com base em uma Vídeo 42 Pensamento científico na educação premissa observada. Por exemplo: “João é um homem mortal. Pedro é um homem mortal. Caio é um homem mortal”. Logo, subtende-se que “todos os homens são mortais”. Ou seja, a abordagem indutiva trabalha com generalizações científicas. • Abordagem dedutiva: nessa abordagem, parte-se da questão de que, se a premissa é verdadeira, a conclusão também é, e vice-versa. A proposta, nesse caso, é explicitar uma conclusão observada com base no maior número de situações, a fim de se atingir a “exatidão”. Por exemplo: “todo mamífero tem um coração. Todos os cães são mamíferos”. Logo, é possível afir- mar com exatidão, pela conclusão das premissas definidas, que “todos os cães têm um coração”. • Abordagem hipotético-dedutiva: considerando que o conhe- cimento científico é desenvolvido com base em uma proble- mática, a dedução pode ser entendida como a aproximação exata da solução; logo, todo resultado de uma questão cien- tífica pode ser questionável. Sendo assim, a minimização de erros está relacionada à inúmera repetição da pesquisa e sua análise. Essas constatações nos permitem dizer que a constru- ção do conhecimento científico é feita por meio da sistema- tização de dados e informações, mas nem por isso é definida como verdade única e absoluta, principalmente em questões genéricas. Por exemplo: “amanhã fará sol”. Essa frase pode ser entendida como uma dedução com base em análises dos últi- mos dias do mês. No entanto, trazer uma abordagem hipo- tético-dedutiva implica em ponderar os diferentes elementos do estudo ou mesmo da hipótese. Sendo assim, teríamos, por exemplo: “Amanhã, a partir das 9 horas, fará sol em todas as regiões do Sul do Brasil”. • Abordagem dialética: nesse caso, o raciocínio é movido pela observação da realidade ou pela busca da resposta à problemá- tica pelo viés da contradição. Sendo assim, os princípios que Método científico: a sistematização do conhecimento 43 fundamentam essa abordagem são: ação recíproca oposta; pas- sagem da quantidade à qualidade; e discussão dos contrários. Uma fala dialética pode ser representada por: “A sociedade do século XXI tem liberdade de expressão, com algumas restrições”. Observe que liberdade e restrições são conceitos contraditórios. • Procedimento fenomenológico: visa à análise de um fenô- meno que se expressa por si mesmo. Assim, nessa abordagem, a sistematização do conhecimento contribui com o reconhe- cimento e a tomada de consciência de uma prática diária, por exemplo. É uma abordagem que não considera hipóteses e conhecimentos prévios, pois tem a proposta de sistematizar o conhecimento da observação e a compreensão direta da vivência humana, sem se preocupar com generalizações. • Procedimento histórico: toma por base a investigação científica passada, considerando os períodos de mudanças e possíveis componentes, ao longo do tempo, que influenciam na solução a ser proposta. O procedimento histórico apoia-se na evolução de fatos ao longo de um determinado período. Por exemplo, para se pesquisar a tendência das tecnologias na educação, podemos estudar os meios de comunicação e sua evolução ao longo da história da humanidade. • Procedimento comparativo: é utilizado para fazer a com- paração de grupos distintos, em situação atual ou passada, ou, ainda, de um determinado grupo na situação presente comparado à situação passada. Por exemplo: “Quais elemen- tos intersectam o modo de fazer educação do século XX e do século XXI?”. Observe que, ao sistematizar o conhecimento por meio da comparação, é possível fazer inferências signifi- cativas quando pensamos em planejar tendências ou verificar necessidades de mudanças. • Procedimento estatístico: pode ser entendido como resul- tado de um conjunto complexo de representações a fim de 44 Pensamento científico na educação reduzir a análise do fenômeno a termos quantitativos, para então se obter generalizações. Por exemplo: organizar a faixa etária da sociedade que tem formação em nível superior. Podemos reduzir a realidade pela estatística, apontando que 14% dos adultos brasileiros têm ensino superior. • Procedimento de estudo de caso: diz respeito à observação de fenômenos de aspectos decasos particulares. Esse estudo é desenvolvido visando a se obter generalizações. • Procedimento funcionalista: integra o olhar do pesquisador a casos concretos e reais, tendo em vista apresentar uma divisão de aspectos que o fenômeno em análise apresenta. Por exemplo: tipos de governo (podemos ter comunismo, autarquia, democra- cia, entre outros). Observe que é uma sistematização do conheci- mento, que pode ser organizada por uma determinada tipologia. • Procedimento estruturalista: parte do conhecimento concreto para o abstrato, e vice-versa, dispondo de uma representação dos fenômenos reais em análise. Considerando que por trás de todo fenômeno temos uma estrutura, nesse procedimento deve-se analisá-la. Por exemplo: a estrutura de ingresso numa instituição de ensino superior pode ser resultante da aprova- ção no vestibular, que segue a conclusão do Ensino Médio, que por sua vez pode advir de uma estrutura de instituição pública ou privada. • Procedimento etnográfico: consiste no método que combina o ponto de vista do pesquisador e da comunidade da qual o indivíduo em evidência faz parte, já que a etnografia visa à observação, descrição e interpretação de determinada cultura para, então, propor-se à sistematização do conhecimento. Um exemplo é a observação e descrição de uma comunidade indí- gena e da forma como ela compartilha o conhecimento para dar sustentabilidade cultural à sua tradição. Método científico: a sistematização do conhecimento 45 • Procedimento clínico: comumente utilizado sob o ponto de vista qualitativo e/ou quantitativo na área da saúde, visando a compreender o processo com base nas tendências observadas. Para tanto, é fundamental a integração entre domínio teórico e prático. Como exemplo, temos as pesquisas clínicas para combater determinado vírus que afeta crianças menores de 2 anos de idade. Observe que, ao tratar da classificação dos métodos em uma pes- quisa, temos uma amplitude de categorização. Logo, a abordagem e os procedimentos utilizados são definidos pelo pesquisador e orien- tador da pesquisa com a finalidade de atender de maneira satisfa- tória à problemática em questão. Não existe receita pronta. A cada pesquisa há um mapeamento metodológico. Sendo assim, vale des- tacar que o conceito de método pode ser entendido como caminho, forma e até mesmo modo de pensar, que por vezes são interligados a instrumentos de pesquisa, visando a promover o desenvolvimento da sociedade, com base na evolução da ciência. Conhecer os métodos e ter claro qual deles será utilizado é essencialmente saber o caminho considerado ideal para se realizar o avanço do conhecimento com confiabilidade e precisão de dados e resultados. Nesse sentido, a concepção teórica e a maneira de estudo definidas por um pesquisador, com base em sua problemática, são fundamentais à construção de novos saberes, pois os resultados ten- dem a representar projeções de melhoria e desenvolvimento social – uma característica dos tempos modernos, como possibilidade do avanço científico (DESCARTES, 2011). 3.3 O pensamento científico na educação Devido ao avanço da ciência, e, especificamente, da medicina, atualmente a população tem taxas de mortalidade cada vez mais reduzidas. Temos a ampliação da comunicação devido ao avanço das Vídeo 46 Pensamento científico na educação tecnologias, que contribuem diretamente para facilitar nossa rotina diária, incluindo o desenvolvimento de competências individuais. Por exemplo: por meio de ambientes virtuais, é possível, para mui- tos, mesmo com limitação temporal ou geográfica, dispor de um espaço de difusão de saberes. A comunicação digital cresceu expo- nencialmente em consequência das tecnologias. Além disso, essas mudanças geraram uma nova cultura, que se baseia no conheci- mento e nos meios digitais, realidade que incide no modo de saber, ser e agir dos indivíduos. Contudo, apesar desse conjunto expressivo de contribuição da ciência para o desenvolvimento dos países, ela ainda não é uma realidade compreendida pela sociedade brasileira, que apresenta grande exclusão social, limitando o acesso de muitos à compreensão dos conhecimentos científicos (UNICAMP, 2002). Nesse sentido, é importante reconhecermos: mais do que um pro- cedimento de sistematização do conhecimento, o método científico é a base da formação de profissionais e de inovações na sociedade, per- mitindo maior acesso às diferentes áreas de conhecimento. Além da construção de novos saberes, o método científico contribui para a con- cepção de fundamentações lógicas, racionais, eficientes e eficazes. Desse modo, o pensamento científico pode ser definido como procedimentos e raciocínios didáticos de desenvolvimento de novos conhecimentos e ressignificação daqueles pré-existentes, por vezes sendo necessário desconstruir os saberes de senso comum. O conhecimento científico permite descrever aspectos do mundo de fatos, acontecimentos e regis- tros históricos. Com essa definição, queremos que você reflita: é preciso usar somente o pensamento científico? Então por que ele é importante? É relevante o conhecimento científico na atual sociedade em rede, que se integra pela instrumentalidade e se comunica predo- minantemente mediada por computadores e comunidades virtuais (CASTELLS, 2016). Assim, se quisermos continuar no caminho do desenvolvimento, é de extrema importância trabalharmos a cons- trução do pensamento já na formação dos professores e no desen- volvimento do aluno quando ele ingressa na escola. Método científico: a sistematização do conhecimento 47 Essa prática, infelizmente, ainda não é comum na educação básica no Brasil, apesar de poder ser entendida como uma tendência global, já que a ciência reconhece problemas de abordagem ampla, como: erradicação da pobreza, democracia da paz, proteção eco- lógica, direitos humanos, entre tantos outros aspectos que colabo- ram com instâncias públicas e privadas de maneira significativa (ARETIO, 2012). Isso porque entende-se que o desenvolvimento da ciência potencializa a criação de redes de participação e desen- volve o senso de protagonismo dos cidadãos, servindo de alavanca ao desenvolvimento social. O avanço da humanidade sempre foi impulsionado pela curio- sidade, pela busca em compreender o ser humano e o mundo em que vive. Isso promoveu a necessidade de troca e de estruturação de informações. Nesse movimento, a ciência teve sua criação, ao procurar respostas ao desconhecido e sistematizar o conhecimento por métodos definidos, dando espaço à criação das diversas áreas científicas. Tendo isso em vista, entendemos que desenvolver o pen- samento científico, antecipando mudanças de cenários e criando novas estratégias, é fundamental ao perfil de formação e atuação profissional do indivíduo bem-sucedido no século XXI, o que é capaz de criar diferentes soluções. Essa compreensão demonstra que a sociedade e a cultura muda- ram e a educação tem seguido o mesmo caminho, pois as neces- sidades humanas transformam-se dia a dia. Sendo assim, nossa participação como indivíduos críticos na sociedade à qual perten- cemos precisa mudar. E isso exige a transformação de paradigmas, entre eles ter o conhecimento como algo de maior valor e riqueza na sociedade contemporânea. Nesse contexto, o professor necessita assumir uma nova postura de mediador do conhecimento, facilita- dor e até mesmo curador digital, ou seja, aquele que seleciona infor- mações para compartilhamento e promove a construção de novos conhecimentos. E a realidade não é diferente para o aluno, pois se 48 Pensamento científico na educação exige que ele assuma de modo corresponsável a sua formação e o seu desenvolvimento ao longo da vida. Mas você pode estar se perguntando: como podemos promover um ambiente de integração que não se limite a informações prontas, mas estimule a construção de novos saberes sistematizados racional- mente e organizados em ações? Para respondermos a essa questão, é importanteprimeiro ter algo claro: conforme aponta Castells (2016), apesar dos primeiros laboratórios de pesquisa terem surgido na indústria química alemã já no fim do século XIX, o tema no Brasil ainda é bastante recente. A pesquisa – e a ciência – exige um ciclo de realimentação cumu- lativo entre quem ensina e quem aprende, quem pesquisa e quem se beneficia da pesquisa. Ou seja, é um tripé que sustenta o pensa- mento científico na educação. Para melhor compreender essa refle- xão, observe a Figura 3. Figura 3 – Tripé para expansão do conhecimento científico Ensino Expansão Pensamento científico Extensão Pesquisa Fonte: Elaborada pelas autoras. Método científico: a sistematização do conhecimento 49 Com essa figura, perceba que não estamos falando de ciên- cia como algo distante, mas como elemento que envolve ações de ensino, pesquisa e extensão e que se amplia pela integração da denominada tríplice hélice, mostrada na Figura 1. Dessa forma, não estamos em busca de culpados para a realidade brasileira; o importante para haver uma mudança é perceber que, por mais que esta ocorra em passos lentos, se estivermos dispostos e compro- metidos, ela sempre acontece. Talvez você pense: mas o sistema de educação no Brasil não evoluiu. Nesse caso, relembre as primeiras práticas educacionais em nosso território, como a catequização feita pelos jesuítas. Certamente você irá concordar que desde então muito mudou, mesmo que ainda não seja o que desejamos. Hoje, no que tange ao avanço da ciência, precisamos principalmente de ações e fomento dedicados à expansão da pós-graduação no país: “O aumento da produção científica está associado ao crescimento da pós-graduação e ao financiamento da pesquisa pelas agências governamentais de fomento” (UNICAMP, 2002, p. 22). Pois bem, o que queremos que você perceba é que a sistema- tização do conhecimento amplia possibilidades de descobertas, melhorias e soluções. Contudo, isso não ocorre de um dia para o outro, tampouco se limita aos laboratórios de pesquisa. O movi- mento de conscientização sobre o conhecimento científico é algo ainda não integrado de modo pleno em nossa sociedade, sobre- tudo na parcela significativa de indivíduos que compõem o cená- rio de exclusão social. Esse quadro atual também é um alerta para a necessidade de evolução do incentivo à ciência e à formação de cientistas no país. Isso não é uma tarefa fácil, mas é um desafio da sociedade de países em desenvolvimento como o Brasil. Para conquistarmos essa nova realidade, a formação de qualidade é obrigatória. Exige-se, assim, novas maneiras de promover uma educação que forme indivíduos críticos, “com acesso à educação superior e um sistema produtivo comprometido com o progresso” (UNICAMP, 2002, p. 17). 50 Pensamento científico na educação Certamente podemos afirmar que é oportuna, desejável e emer- gente a necessidade de repensarmos o papel do professor e o com- promisso do aluno, os quais são, antes de tudo, cidadãos que devem buscar o desenvolvimento da coletividade com autonomia. De modo geral, o pensamento científico, por meio de métodos definidos, contribui para expandir as possibilidades de soluções em relação à melhoria da qualidade de vida e ao desenvolvimento de uma nação. Considerações finais Em nossa sociedade baseada no conhecimento, cada vez mais se reconhece a relevância e necessidade da atuação e integração da comunidade científica. Mas, por sua vez, ela não consegue avançar sozinha em pesquisas e descobertas, pois também precisa da socie- dade. Vimos que argumentos não faltam para comprovar a impor- tância de se investir em ciência e incentivar a formação de cientistas no país. Contudo, cabe também aos professores e alunos, pessoas comprometidas com o desenvolvimento, promover e fomentar uma cultura em que a construção do conhecimento não se limite à edu- cação formal. Deve-se incluir recursos diversos e de acesso livre e aberto, a fim de potencializar a capacidade de desenvolvimento de um país no qual o meio digital é cada vez mais ágil, inclusive no âmbito educacional. Para dar conta dessa discussão, neste capítulo apresentamos os principais métodos científicos utilizados na pesquisa acadêmica, reconhecendo não só os conceitos, mas sua importância para o desenvolvimento social como um todo. O conhecimento científico torna-se uma ferramenta estratégica de desenvolvimento sustentá- vel, podendo, por esse motivo, contribuir para a prosperidade de um país e sua comunidade. Isso implica em promover novos saberes com a combinação de teorias e experiências que ultrapassam olhares segmentados e o senso comum. Esse resultado só pode ser obtido com a exploração sistemática de diferentes fontes de pesquisa de Método científico: a sistematização do conhecimento 51 um objeto de interesse, a qual pode envolver, além da verificação, a repetição e correção de possíveis falhas de estudo. Entendemos que as características do meio social e profissio- nal de uma comunidade induzem ou restringem certos compor- tamentos. Assim, sistematizar o conhecimento exige, além de uma busca completa e organizada de fontes confiáveis, a valorização do saber científico pela sociedade, de modo a influenciar significativa e positivamente a coleta de informações, a construção de novos conhecimentos e o consequente desenvolvimento de competências individuais e coletivas. Ampliando seus conhecimentos Neste capítulo discutimos a importância do método científico para a construção de conhecimentos estruturados e a crescente significân- cia das ciências para a população brasileira. Contudo, ainda é uma pequena parcela da população que tem acesso à profissão de cientista e ao conhecimento científico em universidades ou instituições de pes- quisa. Apesar da importância dessa atuação, são poucas as pessoas que se lembram do nome de algum cientista brasileiro, por exemplo. Para refletirmos sobre essa discussão quanto ao conhecimento científico e sua percepção no Brasil, sugerimos que você conheça o relatório do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), que traz um olhar dos brasileiros quanto a esse contexto. Percepção pública da ciência e tecnologia 2015: ciência e tecnologia no olhar dos brasileiros (CGEE, 2015) As atitudes dos brasileiros sobre ciência são, em geral, muito positivas, prevalecendo a percepção sobre seus benefícios, a confiança grande nos cientistas e nas suas motivações, bem 52 Pensamento científico na educação como o reconhecimento da importância do investimento público em C&T. O otimismo quanto aos impactos da C&T vem crescendo desde 1987: • O número de pessoas que acreditam que a C&T está associada “só a benefícios” para a humanidade conti- nuou crescendo de forma expressiva, desde 1987, e hoje tal opinião é a da maioria dos brasileiros. Isto ocorreu mesmo que, em 2015, tenha havido uma retração na porcentagem de pessoas que acreditam que as ciências trazem “mais benefícios que malefícios”. A grande maio- ria dos brasileiros (73%) declara acreditar que C&T traz “só benefícios” ou “mais benefícios do que malefícios” para a humanidade (em 2010 este número alcançava 81%). Tal opinião otimista prevalece em todas as faixas de renda e escolaridade e em todas as regiões do Brasil, sendo um pouco maior na região Sul. [...] As atitudes sobre C&T não podem ser entendidas de maneira linear a partir apenas de variáveis sociodemográfi- cas: as pessoas mais informadas não necessariamente possuem visões mais positivas e as pessoas com visões mais cautelosas ou críticas não necessariamente possuem menor grau de esco- laridade. As trajetórias de vida e o contexto de moradia, capital social, valores, participação em atividades de sociabilidade e políticas, têm um peso importante na forma como as pessoas se apropriam da informação científica e formam suas atitudes sobre os cientistas e sobre a ciência e tecnologia. [...] A avaliação positiva dos brasileiros sobre o grau de avanço da ciência brasileira
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