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24/03/2022 1 Proteção Penal ao Patrimônio Professor: Cesar Oliveira Janoti cesarjanoti@gmail.com GRADUAÇÃO EM DIREITO - Básica: 1) JESUS, Damásio. Direito penal. São Paulo: Saraiva, 2007. v. 2. 2) MIRABETE, Júlio Fabrini. Manual de direito penal. São Paulo: Atlas, 2007. v. 2. 3) NORONHA, Edgar Magalhães. Direito penal. São Paulo: Saraiva. 2003. v. 2. Bibliografia 24/03/2022 2 - Complementar: 1) BRUNO, Anibal. Direito penal. Rio de Janeiro: Forense, 2005. 2) CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. São Paulo: Saraiva, 2008. v. 2. 3) DELMANTO, Celso. Código penal comentado. 7ª ed. São Paulo: Renovar, 2007. 4) FRANCO, Alberto Silva. Código penal e sua interpretação jurisprudencial. 8ª ed. São Paulo: RT, 2007. 5) JESUS, Damásio. Código penal anotado. 18ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007. 6) MIRABETE, Júlio Fabrini. Código penal interpretado. São Paulo: Atlas, 2007. Bibliografia CP – Art. 155 24/03/2022 3 - Furto Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. - Furto - Bem jurídico: 1ª) somente a propriedade (Hungria); 2ª) a propriedade e a posse (Nucci; Greco; Masson); 3ª) propriedade, posse e detenção (Mirabete; Delmanto; Bitencourt). • Propriedade é o direito de usar, gozar e dispor de uma coisa (dir. civil); patrimonialidade (constitucional). • Posse é o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade. Exemplo: locação. • Detenção é aquela situação em que alguém conserva a posse em nome de outro e em cumprimento às suas ordens e instruções. Exemplo: caseiro em relação ao imóvel de que cuida. 24/03/2022 4 - Furto - Sujeitos: 1) Sujeito ativo: qualquer pessoa pode figurar como sujeito ativo de furto, salvo o proprietário. Atenção! CP, Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo: I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural. - Servidor público??? - Furto - Sujeitos: 2) Sujeito passivo: proprietário, o possuidor ou detentor legítimo da coisa, a depender da corrente adotada em relação ao bem jurídico. Atenção! No caso de crime contra o patrimônio em que o ofendido seja índio não integrado ou comunidade indígena, a pena será agravada de um terço (art. 59 da Lei nº 6.001/73). 24/03/2022 5 - Furto - Tipo objetivo: 1) Núcleo do tipo: - Subtrair significa retirar a coisa da posse da vítima, passando ao poder do agente. Pode ocorrer por apoderamento direto, quando o agente apreende a coisa manualmente, ou por apoderamento indireto, na hipótese de o agente utilizar-se de terceiros ou de animal. - Coisa é tudo aquilo que existe, podendo tratar-se de objetos inanimados ou de semoventes. - Furto - Tipo objetivo: - Valor afetivo ou sentimental: divergência! Para Hungria (Comentários ao Código Penal, vol. VII, p. 23), "a coisa subtraída deve representar para o dono, senão um valor reduzível a dinheiro, pelo menos uma utilidade (valor de uso), seja qual for, de modo que possa ser considerada como integrante do seu patrimônio". No mesmo sentido: STF, RE 100103, Rel Min. Francisco Rezek, 27/04/1984), e HC 107.615, Rel. Min. Dias Toffoli, 06/09/2011 (furto de disco de ouro do cantor Milton Nascimento. Em sentido contrário (ex. Nucci), deve haver subtração apenas de coisa com valor patrimonial. 24/03/2022 6 - Furto - Tipo objetivo: - Transplante ou remoção de tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoa ou cadáver em desacordo com as disposições da Lei nº 9.434/97, configura o crime descrito no art. 14 da referida legislação. - Cadáver: pode caracterizar crime de furto, como, por exemplo, quando pertencer a um museu ou na hipótese de ser utilizado para a finalidade científica, pois nestes casos passa a integrar o patrimônio de alguém. Caso contrário, pode configurar o crime de subtração de cadáver (CP, art. 211). - Furto - Tipo objetivo: - Alheia é toda coisa que pertence a outrem. Coisas abandonadas (res derelicta) e coisas que não pertençam a ninguém (res nullius) não podem ser objeto do crime de furto, uma vez que não integram o patrimônio de outrem. Coisas perdidas (res deperdita) e coisa esquecida também não podem ser objeto de furto, pois há tipo específico para esse caso, que é a apropriação (art. 169, II, CP) 24/03/2022 7 - Furto - Móvel é a coisa que se desloca de um lugar para outro. Trata-se do sentido real, e não jurídico (ex. navio). - Coisa móvel por equiparação (CP, art. 155, § 3°): energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico. - Exposição de Motivos da Parte Especial do CP: “56 (...) Para afastar qualquer dúvida, é expressamente equiparada à coisa móvel e, compatibilizar, reconhecida como possível objeto de furto a "energia elétrica ou suscetível de incidir no poder de disposição material e exclusiva de um indivíduo (como, por exemplo, a eletricidade, a radioatividade, a energia genética dos reprodutores, etc.) pode ser incluída, mesmo do ponto de vista técnico, entre as coisas móveis, a cuja regulamentação jurídica, portanto, deve ficar sujeita.” - Furto - Ocorre o crime de furto nos casos de ligação clandestina de energia elétrica, de telefone, de água e de sêmen de semovente reprodutor. - Adulteração do medidor de energia elétrica: divergência - furto mediante fraude (STF, HC 72467, j. 31/10/1995) ou estelionato (STJ, HC 67 .829, j. 02/08/2007). - Sinal de TV a cabo: Para o STF, é atípica a conduta de realizar ligação clandestina de TV a cabo (HC 97.261/RS, j. 12/4/2011). O STJ já decidiu que há furto na hipótese (RHC 30.847/RJ, 5ª T., j. 20/08/2013; REsp 1076287, 5ª T., j. 02/06/2009; REsp 1123747, j. 16/12/2010). 24/03/2022 8 - Furto - Tipo Subjetivo Dolo e elemento subjetivo especial Exige-se o dolo, não existindo a forma culposa. Além do dolo, consistente na consciência e vontade de subtrair coisa alheia móvel (animus furandi), o tipo contém o elemento subjetivo especial "para si ou para outrem", que revela o fim de assenhoreamento definitivo (animus rem sibi habendi). - Atenção! Subtrair coisa do devedor com o fim de quitação da dívida configura exercício arbitrário das próprias razões (art. 345 do CP) ou, conforme a hipótese, erro de proibição (art. 21 do CP). - Furto - Furto de uso Será atípica, por ausência do elemento subjetivo especial do tipo (para si ou para outrem), a subtração de coisa alheia móvel quando o agente não possuir a intenção de assenhoreamento. De acordo com a doutrina e jurisprudência, para caracterizar furto de uso são necessários alguns requisitos: a) subtração de coisa infungível; b) intenção de uso momentâneo; c) devolução imediata da coisa após o uso e sem qualquer dano; d) a vítima não pode ter percebido a subtração. 24/03/2022 9 - Furto - Furto famélico A jurisprudência tem reconhecido o estado de necessidade (art. 24 do CP), desde que presentes os seguintes requisitos (ônus da defesa): a) que o fato seja praticado para mitigar a fome; b) que seja o único e derradeiro recurso do agente (inevitabilidade do comportamento lesivo); c) que haja a subtração de coisa capaz de diretamente contornar a emergência; d) a insuficiência dos recursos adquiridos pelo agente com o trabalho ou a impossibilidade de trabalhar. - Furto - Consumação: divergência! a) contrectatio (tocar): consuma-se no momento em que o agente toca a coisa, ou seja, basta o contato com a mão. b) amotio (remover) ou apprehensio (apreender): a consumação ocorre no momento em que o agente remove a coisa, passando para seu poder, mesmo sem retirá-la da esfera de proteção da vítima. Assim, se o autor entra na residência da vítima e retira um objeto do armário, ocorre a consumação, mesmo que a coisa não seja retirada da casa do ofendido. * Atenção! Alguns autores diferenciam amotio de apprehensio. Para a teoria da amotio, a consumação ocorreria com o deslocamento da coisa, ao passo que, para a teoria da apprehensio, bastaria o agente segurara coisa, mesmo sem deslocamento. 24/03/2022 10 - Furto - Consumação: divergência! c) ablatio (tirar): além da apreensão e da remoção, a coisa deve ser retirada da esfera de proteção da vítima. d) illatio (transportar ou trazer): além de ser removida do lugar e retirada da esfera de proteção da vítima, a coisa deve ser levada para local seguro. - Furto - Consumação: divergência! Nossa legislação adotou a teoria da amotio, ou seja, a consumação da subtração se dá com a posse da coisa pelo agente. Mesmo assim, não há consenso acerca do exato momento da posse. Os dois principais posicionamentos são: 1°) entende-se consumado o furto no momento em que a coisa sai da esfera de vigilância ou disponibilidade da vítima. Alguns doutrinadores acrescentam que o agente deve ter a posse tranquila da coisa. 2°) consuma-se no momento em que o agente obtém a posse da coisa, ainda que por curto espaço de tempo, sendo desnecessário falar-se em posse tranquila e no critério de saída da coisa da chamada "esfera de vigilância da vítima". Basta que, cessada a clandestinidade, o agente tenha tido a posse da res furtiva, ainda que retomada, em seguida, pela perseguição imediata. 24/03/2022 11 - Furto - Consumação: divergência! STF: "Para a consumação do furto, é suficiente que se efetive a inversão da posse, ainda que a coisa subtraída venha a ser retomada em momento imediatamente posterior. Jurisprudência consolidada do Supremo Tribunal Federal" (HC 114329/RS, j. 01/10/2013). - Furto - Consumação: divergência! STJ: "(. .. ) 2. O Plenário do Supremo Tribunal Federal, superando a controvérsia em torno do tema, consolidou a adoção da teoria da apprehensio (ou amotio), segundo a qual se considera consumado o delito de furto quando, cessada a clandestinidade, o agente detenha a posse de fato sobre o bem, ainda que seja possível à vitima retomá-lo, por ato seu ou de terceiro, em virtude de perseguição imediata. Desde então, o tema encontra-se pacificado na jurisprudência dos Tribunais Superiores. 3. Delimitada a tese jurídica para os fins do art. 543-C do CPC, nos seguintes termos: Consuma-se o crime de furto com a posse de fato da res furtiva, ainda que por breve espaço de tempo e seguida de perseguição ao agente, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada" (REsp 1524450/RJ, 3ª Seção, j. 14/10/2015). 24/03/2022 12 - Furto - Furto majorado ou furto noturno “Art. 155, § 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.” - Repouso noturno é o período em que as pessoas se recolhem para dormir. Deve ser analisado de acordo com os costumes e hábitos do local do crime. Neste período o agente possui maior facilidade para a prática da conduta, considerando que a vigilância da vítima, ou mesmo de terceiros, é reduzida. - Furto - Furto privilegiado ou mínimo “Art. 155, § 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.” - Primariedade: 1ª) equivale ao não reincidente, ainda que tenha no passado várias condenações (CP, arts. 63 e 64); 2ª) na data da sentença, não ostenta qualquer condenação irrecorrível. 24/03/2022 13 - Furto - Furto privilegiado ou mínimo “Art. 155, § 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.” - Coisa de pequeno valor: é aquela que não ultrapassa a importância de um salário mínimo, predominando o entendimento de que deve ser analisado o valor do objeto por ocasião da subtração. - Furto - Furto privilegiado ou mínimo “Art. 155, § 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.” - Atenção! O pequeno valor da coisa (requisito do furto privilegiado) não se confunde com o princípio da insignificância (que exclui a tipicidade material se a coisa for de valor ínfimo e houver baixo desvalor da conduta). - Vetores: (a) mínima ofensividade da conduta do agente; (b) nenhuma periculosidade social da ação; (c) reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento; e (d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada. 24/03/2022 14 - Furto - Furto qualificado Art. 155 (...) § 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido: I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa; II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza; III - com emprego de chave falsa; IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas. - Furto - Furto qualificado - Obstáculo que protege a coisa (exterior à coisa); - O ato de violência não é contra a pessoa; - “destruição” - demolir ou desfazer; - “rompimento” – quebrar ou rasgar sem perda da individualidade; - a violência deve ser empregada antes da consumação do furto (se depois, pode configurar crime autônomo de dano - art. 163 do CP). - Atenção! Rompimento do vidro do automóvel??? EREsp n° 1.079.847/SP 24/03/2022 15 - Furto - Furto qualificado - Perícia: por ser infração que deixa vestígios, é necessária a perícia para a caracterização da materialidade da circunstância (art. 171 do CPP), salvo em caso de ausência de vestígios, quando a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta (arts. 158 e 167 do CPP). - Princípio da insignificância: predomina o entendimento pela impossibilidade de aplicação, em razão da maior ofensividade e reprovabilidade da conduta (STF, HC 121.760, e STJ, HC 330.359). - Furto - Furto qualificado - Abuso de confiança: especial vínculo de lealdade ou de fidelidade entre a vítima e o agente, sendo irrelevante, por si só, a simples relação de emprego ou de hospitalidade. Atenção! A coisa deve ingressar na esfera de disponibilidade do agente em face da facilidade decorrente da confiança nele depositada. Se, apesar da relação de confiança, o agente pratica o furto de uma maneira que qualquer outra pessoa poderia tê-lo cometido, não haverá esta qualificadora. 24/03/2022 16 - Furto - Furto qualificado - Fraude: meio enganoso capaz de iludir a vigilância do ofendido e permitir maior facilidade na subtração do objeto material. - Exemplos: 1) utilização de “fantasia” de funcionário da companhia provedora de internet para ingressar na residência da vítima e subtrair-lhe bens; 2) dois sujeitos que entram num estabelecimento comercial, sendo que, enquanto um distrai o ofendido, o outro lhe subtrai mercadorias. - Furto - Furto qualificado - Escalada: uso de via anormal para ingressar no local em que se encontra a coisa visada, exigindo-se, ainda, que a escalada seja fruto de um esforço fora do comum por parte do agente. - Atenção! Não implica, necessariamente, subida, mas a utilização de qualquer meio incomum. - Exemplos: 1) penetração via subterrânea (túnel); 2) Utilização de cordas ou escada para transpor um muro alto. 24/03/2022 17 - Furto - Furto qualificado - Destreza: excepcional habilidade física ou manual para a subtração do objeto que estava em poder da vítima, de modo a impedir qualquer percepção. - Chave falsa: qualquer instrumento, com ou sem forma de chave, que o agente utiliza para abrir fechaduras ou mecanismo material de segurança. Exemplos: chave mestra, alfinete, prego, chave de fenda, tesoura etc. - Atenção! Ligação direta em automóvel: não incide a qualificadora, pois o agente não utiliza instrumento ou objeto na ignição, mas sim liga os fios. - Furto - Furto qualificado - Concurso de pessoas: são necessárias, no mínimo, duas pessoas. Atenção! Participação de inimputáveis??? 24/03/2022 18 - Furto - Furto qualificado Art. 155 (...) § 4º-A. A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. Atenção! 1) Art. 251 – Explosão: incide o princípioda especialidade; 2) Art. 16, § 1º, III, da Lei n.º 10.826/03: crime hediondo e pena de reclusão de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. - Furto - Furto qualificado Art. 155 (...) § 4º-B. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se o furto mediante fraude é cometido por meio de dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou não à rede de computadores, com ou sem a violação de mecanismo de segurança ou a utilização de programa malicioso, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo. (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021) - Exemplos: invadir determinado sistema informático para desativar um alarme ou para interromper um videomonitoramento e, na sequência, apreender fisicamente o objeto alheio até então protegido. 24/03/2022 19 - Furto - Furto qualificado Art. 155 (...) § 4º-C. A pena prevista no § 4º-B deste artigo, considerada a relevância do resultado gravoso: (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021) I – aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do território nacional; (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021) - Sofisticação delitiva, transnacionalidade e dificuldade investigativa. II – aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é praticado contra idoso ou vulnerável. (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021) - Maior fragilidade da vítima. - Furto - Furto qualificado Art. 155 (...) § 5º A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. - VEÍCULO AUTOMOTOR (anexo I da Lei n.º 9.503/97) - todo veículo a motor de propulsão que circule por seus próprios meios, e que serve normalmente para o transporte viário de pessoas e coisas, ou para a tração viária de veículos utilizados para o transporte de pessoas e coisas. O termo compreende os veículos conectados a uma linha elétrica e que não circulam sobre trilhos (ônibus elétrico). 24/03/2022 20 - Furto - Furto qualificado Art. 155 (...) § 6º A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração for de semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da subtração. - Abigeato: subtração de animais do campo e das fazendas (boi, ovelha, porco, cavalo etc.). - Bitencourt: “semovente domesticável de produção é de uma ambiguidade terrível, (...) só é domesticável o que não doméstico”. - Não são objeto material dessa figura qualificada os animais domésticos (cão, gato etc.). - Furto - Furto qualificado Art. 155 (...) § 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego.” 24/03/2022 21 - Furto - Questões importantes: 1) É possível furto privilegiado (§ 2.º) qualificado (§ 4.º)? a) Súmula 511 do STJ; b) Só há privilégio para o caput. 2) Furto qualificado e princípio da insignificância? a) Não é possível, em razão da maior reprovabilidade na hipótese de furto qualificado (STJ); b) a incidência da qualificadora, por si só, não impede o reconhecimento da insignificância. - Furto de coisa comum Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa comum: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. § 1º - Somente se procede mediante representação. § 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a que tem direito o agente. 24/03/2022 22 CP – Art. 157 ROUBO - Roubo BENS JURÍDICOS: - A propriedade, posse, a detenção e a integridade física e psíquica. - Trata-se de crime pluriofensivo (ocorre ofensa a bens jurídicos diversos). ROUBO = FURTO + CONSTRANGIMENTO ILEGAL (157) (155) (146) 24/03/2022 23 - Roubo - Sujeitos: 1) Sujeito ativo: qualquer pessoa, salvo o proprietário. 2) Sujeito passivo: é o proprietário, possuidor ou o mero detentor da coisa, bem como a pessoa contra quem se dirige a violência ou grave ameaça, ainda que desligada da lesão patrimonial. - Roubo Roubo próprio Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. 24/03/2022 24 - Roubo - Tipo objetivo: subtração mediante (a) violência, (b) grave ameaça ou (c) qualquer outro meio capaz de impossibilitar a vítima de resistir ou defender-se. - Violência: é a violência própria (vis absoluta), a força bruta, consistente em agressão física. Pode resultar lesão corporal ou não. - Grave ameaça: consiste na violência moral, que se dá por meio de intimidação (vis relativa). A grave ameaça pode ser velada, como na hipótese de um indivíduo bem mais forte fisicamente chegar para uma pessoa franzina e pedir que lhe entregue a carteira. - Haver, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: trata-se de violência imprópria. O agente retira da vítima o seu poder de resistência (ex.: ingestão de drogas). - Roubo - Tipo Subjetivo: é o dolo, consistente na consciência e vontade de subtrair coisa alheia. É previsto ainda o elemento subjetivo especial do tipo, qual seja, "para si ou para outrem", que revela o fim de assenhoreamento definitivo (animus furandi). 24/03/2022 25 - Roubo - Consumação: • 1ª corrente (STF e STJ): consuma-se no momento em que, cessada a violência, o agente obtém a posse da coisa, ainda que por curto espaço de tempo, sendo desnecessário falar-se no critério de saída da coisa da chamada "esfera de vigilância da vítima" e posse tranquila. - Roubo - Consumação: • 1ª corrente (STF e STJ): "É firme a jurisprudência da Corte no sentido de que à consumação do crime de roubo é suficiente a verificação de que, cessada a clandestinidade ou a violência, tenha o agente tido a posse da coisa subtraída, ainda que retomada logo em seguida“ (STF, HC 114.328/SP). 24/03/2022 26 - Roubo - Consumação: • 2ª corrente: consuma-se no momento em que, após a violência ou grave ameaça, o agente retira a coisa da "esfera de vigilância da vítima". - Roubo - Tentativa: no roubo próprio é admissível. Ocorre quando o sujeito, mesmo com o emprego de violência ou grave ameaça, não consegue a posse da coisa. 24/03/2022 27 - Roubo - Atenção! Uma vítima e patrimônios diversos: "Ainda que atingidos patrimônios distintos, não há falar em concurso formal de crimes, mas em crime único de roubo, se a violência ou grave ameaça se voltou contra uma pessoa que, sozinha, exercia a posse de bens de sua propriedade e de terceiros" (STJ, HC 204.316). - Roubo - Atenção! Mais de uma vítima e patrimônios diversos: “É uníssono o entendimento deste Superior Tribunal de Justiça, no sentido de que o roubo perpetrado com violação de patrimônios de diferentes vítimas, ainda que num único evento, configura a literalidade do concurso formal de crimes, é não apenas de crime único. Especialmente no crime de roubo, que se caracteriza pelo emprego de violência ou grave ameaça na investida do agente contra o patrimônio alheio, tal entendimento se justifica e se evidencia, porque diversificada também é a constrição das vítimas, e não somente seu patrimônio (AgRg no REsp 984.371/RS). 24/03/2022 28 - Roubo - Atenção! Intenção de subtrair um único patrimônio, mas com violência ou grave ameaça contra mais de uma pessoa: "1. No delito de roubo, se a intenção do agente é direcionada à subtração de um único patrimônio, estará configurado um único crime, ainda que, no modus operandi, seja utilizada violência ou grave ameaça contra mais de uma pessoa. 2. Se o agente utiliza grave ameaça ou violência (própria ou imprópria) simultaneamente contra duas ou mais pessoas, mas subtrai bens pertencentes a apenas uma delas, responde por um só crime de roubo ( .. .)" (STJ, AgRg no REsp 1490894/DF). - Roubo Roubo impróprioArt. 157, § 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro. - Atenção! No roubo impróprio o tipo penal não descreve como seu elemento a violência imprópria (eliminar, sem violência física ou grave ameaça, a capacidade de resistência da vítima). Assim, se o agente subtrai e depois emprega violência imprópria, não responde por roubo impróprio, mas sim pelo delito de furto. 24/03/2022 29 - Roubo Roubo impróprio Tipo Subjetivo: é o dolo, consistente na consciência e vontade de subtrair coisa alheia. São previsto ainda os elementos subjetivos especiais do tipo, quais sejam, "para si ou para outrem", que revela o fim de assenhoreamento definitivo (animus furandi) e "a fim de assegurar a impunidade do crime ou detenção da coisa para si ou para terceiro". - Roubo Roubo impróprio - Consumação: ocorre quando o agente, logo depois da subtração da coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro. 24/03/2022 30 - Roubo Roubo impróprio - Roubo de uso? - Princípio da insignificância? - Roubo Roubo impróprio - Tentativa: divergência. 1ª corrente: predomina ser inadmissível. Segundo Hungria (Comentários, v. VII, p. 61-2), "já no caso de violência subsequente à subtração, o momento consumativo é o do emprego da violência; e não há falar-se em tentativa: ou a violência é empregada, e tem-se a consumação, ou não é empregada, e o que se apresenta é o crime de furto". No mesmo sentido: Damásio e Capez, bem como o STJ: HC 120.574, j. 12/04/2011; REsp 1155927, j. 18/05/2010. 24/03/2022 31 - Roubo Roubo impróprio - Tentativa: divergência. 2ª corrente: é admissível. Conforme acentua Fragoso (Lições, vol. 1, p. 327): "A tentativa de roubo impróprio é possível e se verifica sempre que o agente, tendo completado a subtração, é preso após tentar o emprego da violência ou da ameaça para assegurar a posse da coisa ou a impunidade. Há também tentativa se o agente é surpreendido após ter completado a subtração e emprega violência, mas se vê forçado a abandonar a coisa, fugindo". - Roubo Roubo majorado ou circunstanciado Art. 157, § 2º: A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: I – (revogado); II - se há o concurso de duas ou mais pessoas; III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância. IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior; V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca; 24/03/2022 32 - Roubo Roubo majorado ou circunstanciado Art. 157, § 2º: A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: I – (revogado); II - se há o concurso de duas ou mais pessoas; Vide observações feitas no estudo do crime de furto! - Roubo Roubo majorado ou circunstanciado Art. 157, § 2º: A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância. - Atividade específica: exercício de "serviço específico" de transporte de valores, como ocorre no transporte de dinheiro em carro-forte, e não um transporte eventual de valores. - Valores: dinheiro, joias, títulos e outras coisas que representam quantidade de dinheiro. - Elemento subjetivo: o agente deve ter conhecimento de que a vítima está em serviço de transporte de valores. 24/03/2022 33 - Roubo Roubo majorado ou circunstanciado Art. 157, § 2º: A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior; Vide observações feitas no estudo do crime de furto! - Roubo Roubo majorado ou circunstanciado Art. 157, § 2º: A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. - Atenção! a) ocorre a restrição da liberdade por poucos instantes no momento da execução do crime: não incide a majorante; b) ocorre a restrição da liberdade, por tempo juridicamente relevante, no âmbito da execução do crime de roubo ou para evitar a ação policial: incide a majorante. Exemplo: a vítima ficou presa no banco traseiro do veículo subtraído durante 30 minutos; c) ocorre a restrição da liberdade, por tempo juridicamente relevante, sem qualquer relação com a execução do crime ou garantia de fuga: não incide a majorante, mas haverá concurso entre os crimes de roubo e sequestro (art. 148 do CP). 24/03/2022 34 - Roubo Roubo majorado ou circunstanciado Art. 157, § 2º: A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca. Vide observações feitas no estudo do crime de furto! - Roubo Roubo majorado ou circunstanciado Art. 157, § 2º: A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca. Atenção! Denomina-se arma própria o instrumento fabricado com a finalidade de ataque ou defesa (arma de fogo, espada, lança); arma imprópria é aquela que não possui a destinação de ataque ou defesa, mas pode ser utilizada para esse fim (faca de cozinha, martelo, tesoura, taco de beisebol, chave de fenda, pedaço de pau, uso de animais). 24/03/2022 35 - Roubo Roubo majorado ou circunstanciado Art. 157, § 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo; (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018) II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018) § 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) - Roubo Roubo majorado ou circunstanciado Art. 157, § 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo; (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018) Atenção! - Anexo III do DECRETO Nº 10.030, DE 30 DE SETEMBRO DE 2019 - Arma de fogo: arma que arremessa projéteis empregando a força expansiva dos gases, gerados pela combustão de um propelente confinado em uma câmara, normalmente solidária a um cano, que tem a função de dar continuidade à combustão do propelente, além de direção e estabilidade ao projétil. - Arma de pressão: arma cujo princípio de funcionamento é o emprego de gases comprimidos para impulsão de projétil, os quais podem estar previamente armazenados em uma câmara ou ser produzidos por ação de um mecanismo, tal como um êmbolo solidário a uma mola. - Arma de brinquedo (simulacro), arma descarregada ou arma de fogo sem a possibilidade do disparo? 24/03/2022 36 - Roubo Roubo majorado ou circunstanciado Art. 157, § 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. Vide observações feitas no estudo do crime de furto! - Roubo Roubo majorado ou circunstanciado Art. 157, § 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) - Art. 3º do Anexo I do DECRETO Nº 10.030, DE 30 DE SETEMBRO DE 2019 II - arma de fogo de uso restrito - as armas de fogo automáticas, dequalquer tipo ou calibre, semiautomáticas ou de repetição que sejam: (Incluído pelo Decreto nº 10.627, de 2021) a) não portáteis; (Incluído pelo Decreto nº 10.627, de 2021) b) de porte, cujo calibre nominal, com a utilização de munição comum, atinja, na saída do cano de prova, energia cinética superior a mil e duzentas libras-pé ou mil seiscentos e vinte joules; ou (Incluído pelo Decreto nº 10.627, de 2021) c) portáteis de alma raiada, cujo calibre nominal, com a utilização de munição comum, atinja, na saída do cano de prova, energia cinética superior a mil e duzentas libras-pé ou mil seiscentos e vinte joules; (Incluído pelo Decreto nº 10.627, de 2021) III - arma de fogo de uso proibido: (Incluído pelo Decreto nº 10.627, de 2021) a) as armas de fogo classificadas como de uso proibido em acordos ou tratados internacionais dos quais a República Federativa do Brasil seja signatária; e (Incluído pelo Decreto nº 10.627, de 2021) b) as armas de fogo dissimuladas, com aparência de objetos inofensivos; (Incluído pelo Decreto nº 10.627, de 2021) 24/03/2022 37 - Roubo Roubo qualificado Art. 157, § 3º Se da violência resulta: I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e multa; (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018) - Art. 129, §§ 1º e 2º do CP. II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018) - Morte em decorrência da "violência“: a morte deve resultar da violência empregada durante a execução e em razão do roubo. Se o agente, durante a execução do crime de roubo, percebe que a vítima é seu antigo inimigo e resolve matá-la por motivos alheios ao roubo, não haverá latrocínio, mas roubo em concurso com homicídio. - Morte em decorrência da "grave ameaça“: se a morte decorrer da grave ameaça, não haverá latrocínio. Nesse caso, poderá haver concurso de crimes de roubo e homicídio, doloso ou culposo, dependendo das circunstancias (Bitencourt, Nucci e Capez). Existe entendimento contrário, no sentido de que a morte pode decorrer da grave ameaça, pois a "violência" descrita no art. 157 § 3° deve ser interpretada no sentido de abranger a violência física e a violência moral (grave ameaça).
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