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Saúde e Educação - EAD indd

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SAÚDE E EDUCAÇÃO
PROF.A MA. LARA HAUSER DOS SANTOS NEPONUCENO
Reitor: 
Prof. Me. Ricardo Benedito de 
Oliveira
Pró-Reitoria Acadêmica: 
Maria Albertina Ferreira do 
Nascimento
Diretoria EAD: 
Prof.a Dra. Gisele Caroline 
Novakowski
PRODUÇÃO DE MATERIAIS
Diagramação:
Alan Michel Bariani
Thiago Bruno Peraro
Revisão Textual:
Fernando Sachetti Bomfim
Marta Yumi Ando
Simone Barbosa
Produção Audiovisual:
Adriano Vieira Marques
Márcio Alexandre Júnior Lara
Osmar da Conceição Calisto
Gestão de Produção: 
Cristiane Alves
© Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114
 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo 
(a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá.
 Primeiramente, deixo uma frase de Só-
crates para reflexão: “a vida sem desafios não 
vale a pena ser vivida.”
 Cada um de nós tem uma grande res-
ponsabilidade sobre as escolhas que fazemos, 
e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica 
e profissional, refletindo diretamente em nossa 
vida pessoal e em nossas relações com a socie-
dade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente 
e busca por tecnologia, informação e conheci-
mento advindos de profissionais que possuam 
novas habilidades para liderança e sobrevivên-
cia no mercado de trabalho.
 De fato, a tecnologia e a comunicação 
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, 
diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e 
nos proporcionando momentos inesquecíveis. 
Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino 
a Distância, a proporcionar um ensino de quali-
dade, capaz de formar cidadãos integrantes de 
uma sociedade justa, preparados para o mer-
cado de trabalho, como planejadores e líderes 
atuantes.
 Que esta nova caminhada lhes traga 
muita experiência, conhecimento e sucesso. 
Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira
REITOR
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UNIDADE
01
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ..............................................................................................................................................................4
1. CONCEITO DE SAÚDE/DOENÇA ............................................................................................................................5
1.1 A CULTURA CLÁSSICA GREGA E AS RAÍZES DA MEDICINA OCIDENTAL ........................................................6
1.2 A IDADE MÉDIA: O FEUDALISMO E A PRÁTICA MÉDICA RELIGIOSA .............................................................6
1.3 IDADE MODERNA: O AVANÇO DA CLÍNICA E DOS CONCEITOS DE CAUSALIDADE ......................................6
1.4 IDADE CONTEMPORÂNEA: DA DETERMINAÇÃO SOCIAL À MULTICAUSALIDADE .......................................7
2. REFLEXÕES SOBRE A SAÚDE MENTAL ...............................................................................................................8
2.1 NORMAL E PATOLÓGICO .....................................................................................................................................8
2.2 CONCEITO DE SAÚDE MENTAL ......................................................................................................................... 11
2.3 POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL ...........................................................................................................................12
3. MODELO BIOMÉDICO X MODELO DE INTEGRALIDADE ...................................................................................16
CONSIDERAÇÕES FINAIS .........................................................................................................................................18
NATUREZA DO PROCESSO SAÚDE-DOENÇA
PROF.A MA. LARA HAUSER DOS SANTOS NEPONUCENO
ENSINO A DISTÂNCIA
DISCIPLINA:
SAÚDE E EDUCAÇÃO
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
INTRODUÇÃO
A proposta desta disciplina é trabalhar a concepção de saúde, sociedade e cidadania a 
partir das perspectivas educacionais. Além disso, perceber a educação em saúde no processo de 
trabalho como um facilitador para a formação de um cidadão saudável e comprometido com o 
autocuidado individual e coletivo.
Para isso, será necessário problematizar a realidade da educação e saúde nos dias atuais 
como forma de entender, interagir e comprometer-se com um projeto de vida saudável e em 
comunidade.
Como aspecto fundamental, retomamos a a� rmativa de Bock (2002, p. 271): “A escola 
precisa ser articulada com a vida”, para destacar que a discussão da interlocução entre saúde e 
educação é parte essencial na formação do pro� ssional da educação.
Para iniciar nossos estudos, nesta primeira unidade, discutiremos a natureza do processo 
saúde-doença. Isso porque as perguntas: “O que é saúde, ter saúde?”, “O que é ter doença?” se 
� zeram presentes nas diversas culturas e civilizações durante toda a história da humanidade e 
essas perguntas já foram, e ainda hoje são, respondidas de formas diversas.
Nesse sentido, precisamos ter conhecimento do percurso histórico dessas discussões para 
entender como se consolidou o conceito de saúde que temos em nossa sociedade contemporânea, 
bem como posicionar-se criticamente perante ele.
Avançando em nosso percurso formativo, faremos algumas re� exões acerca do conceito 
de saúde mental, buscando desconstruir ideias como “normal”, “anormal”, “louco” e provocar no 
aluno um olhar mais crítico e sensível para essas demandas, além de perceber como as questões 
de saúde mental interferem no dia a dia dos indivíduos e no seu entorno social.
Por � m, trabalharemos as diferenças entre o modelo biomédico e o modelo de integralidade 
no trato com as questões de saúde, visando a atualizar o entendimento sobre os serviços e olhares 
dirigidos à população a partir da perspectiva integral de saúde e educação.
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1. CONCEITO DE SAÚDE/DOENÇA
As perguntas “o que é saúde?” e “o que é doença?” fazem parte da preocupação dos 
humanos desde os primórdios da humanidade. 
Gutierrez e Oberdiek (2001) fazem uma descrição muito rica da construção social desses 
conceitos de acordo com as condições concretas de cada momento histórico. Assim, pontuam 
que, a princípio, os seres humanos eram nômades e viviam em agrupamentos ou tribos sempre 
se deslocando de um lugar para o outro em busca de sobrevivência, seja em busca de alimentos 
ou em defesa às ameaças do meio.
Neste contexto social, pouco desenvolvido, os fenômenos eram explicados do ponto de 
vista do pensamento mágico, religioso e sobrenatural, como, por exemplo, a explicação para o 
inverno que era: “os deuses soprando vento frio devido à ira por comportamentos dos homens”.
Conforme os grupos humanos foram se espalhando pelas diversas regiões, eles foram 
criando suas próprias explicações para os diversos acontecimentos naturais e assim foram 
surgindo as diversas culturas, tradições e civilizações que in� uenciam as nossas vidas até hoje.
À medida que cultivava a terra, o homem deixava de ser nômade continuando com a 
pecuária, pesca, metalurgia e comércio e, com o aumento do trabalho, veio a “necessidade” (de 
acordo com o entendimento daquele contexto histórico) de escravizar os povos vizinhos e/ou 
inimigos.
As grandes civilizações que surgiram nessa época – no Oriente Médio (egípcios, hebreus, 
caldeus, assírios) entendiam as doenças como decorrentes de causas externas, sem que o 
organismo tivesse qualquer participação no processo. Portanto, as causas poderiam ser elementos 
da natureza e/ou espíritos sobrenaturais, desde que externos ao corpo do homem. 
Com essa concepção sobre as doenças que acabou se con� gurando como a “Complexidade 
das causas externas”, houve a necessidade de criar a instituição que hoje conhecemos como 
hospital, que foi copiada pelas civilizações europeias e chegou como uma instituição fundamental 
para a organização social até os dias atuais.
Com o advento do Cristianismo, surgem novas formas de pensar as causas das doenças. 
A mais difundida é a consideração do “pecado” como responsávelpelos males físicos, como 
“castigo justo” vindo de Deus. Há também a introdução da ideia de que há um “mau espírito” 
que domina a alma e o corpo do doente, cujo agente é o demônio. É nesse contexto que se deu a 
origem das práticas de exorcismos, existentes até hoje em alguns credos e culturas.
Em contraponto, entre os chineses e hindus, havia o desenvolvimento de práticas de 
observação e complexas � loso� as que explicavam os acontecimentos deixando os elementos 
mágico-religiosos em plano secundário. A doença era vista como consequência de um 
desequilíbrio entre os elementos que compõem o organismo humano, denominados nessa época 
de “humores”. A causa do desequilíbrio era atribuída ao ambiente físico, como nos astros e no 
clima.
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1.1 A Cultura Clássica Grega e as Raízes da Medicina Ocidental
Ainda de acordo com Gutierrez e Oberdiek (2001), é exatamente entre a Índia e a China que 
surge a civilização grega, que é de longe a que mais exerceu in� uência no mundo contemporâneo. 
Os gregos procuravam uma explicação racional para as doenças, fundamentando o que vem a ser 
chamado de “medicina cientí� ca”. 
De forma precoce, já nos séculos VI a IV a.C., os gregos descartam os elementos mágicos 
e religiosos como causadores de doenças e, por meio da observação empírica, concluem sobre 
a importância do ambiente, da sazonalidade, do trabalho, da posição social do indivíduo para o 
surgimento das doenças. É nesse período histórico que temos Hipócrates – considerado o pai da 
medicina cientí� ca – e também Galeno, que difunde suas ideias. Desse modo, temos duas linhas 
da medicina: 1) a de que doenças diferentes podem ter causas e sintomas iguais, assim temos 
a terapêutica intervencionista localizada nos exames diretos nos doentes; 2) a segunda, que 
valorizava mais o prognóstico, cujas doenças eram vistas dentro do quadro de cada indivíduo, 
assim temos a terapêutica, que era apoiada nas reações defensivas naturais, pois, segundo essa 
concepção, não havia doenças, mas sim pessoas doentes.
Esta segunda linha é a hipocrática, que dá ênfase aos “humores do corpo” e, nessa 
perspectiva, o estado de saúde seria caracterizado pela existência da harmonia do homem com a 
natureza. Nesse sentido, o diagnóstico seguia o roteiro da exploração sensorial, comunicação oral 
e do raciocínio, ou seja, uma abordagem ampla sobre o ser humano. Mais tarde, veremos que essa 
perspectiva foi retomada na contemporaneidade.
1.2 A Idade Média: o Feudalismo e a Prática Médica Religiosa
Segundo Gutierrez e Oberdiek (2001), esse período histórico é marcado pela existência 
de duas classes sociais bastante marcadas: proprietários/senhores e servos. As propriedades 
pertenciam aos senhores feudais – clero da igreja e nobreza. A Igreja era muito forte e o 
pensamento religioso era monopolizado pela igreja católica, que era a ideologia dominante e 
assumia o papel de “tratar dos corpos e das almas”, uma vez que era “una, culta e generosa”. 
O cristianismo prometia a redenção e a cura e ocorre um retrocesso teórico-metodológico na 
medicina ocidental. As doenças tinham duas interpretações: segundo os pagãos, eram devidas à 
“possessão do diabo” ou como consequência de feitiçarias.
Para os cristãos, eram sinais de puri� cação e de expiação dos pecados. A terapêutica 
estava baseada em milagres, obtidos por meio da súplica, da morti� cação e do arrependimento 
dos pecados. As causas das doenças são atribuídas à mesma variabilidade dos humores, mas 
agora a fé e religiosidade são o tratamento e a cura.
1.3 Idade Moderna: o Avanço da Clínica e dos Conceitos de Causalidade
Com o declínio do feudalismo, temos o período de nascimento do capitalismo, que 
propicia intensas mudanças sociais e grandes avanços na ciência, caracterizando o período 
histórico que chamamos de Renascimento (GUTIERREZ; OBERDIEK, 2001).
Nesse momento, há uma grande intensidade de manifestações artísticas, � losó� cas e 
cientí� cas com a contestação do dogmatismo religioso-� losó� co. O Universo já não é aceito 
como obra sobrenatural, fruto de preceitos cristãos. 
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O espírito crítico do homem leva-o para a ciência experimental, para a observação, a � m de 
obter explicações racionais para os fenômenos da natureza. Temos, nesse momento, grandes 
nomes que marcam a história da ciência, como Copérnico (teoria heliocêntrica), Newton (lei da 
gravidade) e Paré (pai da cirurgia). 
Há, também, o desenvolvimento de várias teorias para explicar as doenças pestilenciais: 
dependentes da susceptibilidade do corpo e de ordem atmosférica, sempre com o foco nas causas 
das doenças. Há ainda o desenvolvimento da teoria miasmática, que explica que condições 
sanitárias ruins criavam um estado atmosférico local, que vinha a causar as doenças infecciosas 
e os surtos epidêmicos. 
Durante todo o século XVIII, os estudos médicos voltam-se para a compreensão do 
funcionamento do corpo humano e das alterações anatômicas sofridas durante a doença. O 
estudo das causas cede lugar à prática clínica e há grandes avanços nessa área. No início da Idade 
Moderna, temos a consolidação do capitalismo e a inauguração do Estado Liberal com fatos 
marcantes como a Revolução Industrial na Inglaterra (1760-1850) e a Revolução Francesa (1789).
1.4 Idade Contemporânea: da Determinação Social à Multicausalidade
Ainda, seguindo a cronologia de Gutierrez e Oberdiek (2001), temos as doutrinas liberais, 
que justi� cam o capitalismo, e as teorias socialistas, que o condenam. Nos princípios marxistas, 
temos o materialismo histórico (determinação socioeconômica), que fomenta a causação social 
(relação entre as condições de trabalho das populações e o aparecimento de doenças). Neste 
momento, teremos o desenvolvimento das ciências sociais e até de uma teoria social da medicina, 
que acredita que é nas condições de vida e trabalho do homem que as causas das doenças devem 
ser buscadas.
Há uma mudança de paradigma e os fatores externos que até então vinham sendo 
responsabilizados pela produção das doenças têm seu papel minimizado, e sua ação só se 
traduzirá em doença onde e quando o contexto social permitir que tal fato ocorra.
Com a derrota dos movimentos revolucionários, a Medicina Social teve seu 
desenvolvimento prejudicado e as denúncias de que os proletários estavam submetidos a 
condições de vida e de trabalho que lhes causavam doenças foram absorvidas pelos governos e 
tiveram como resposta as medidas sanitárias e a legislação trabalhista, e não a transformação da 
organização social como desejavam.
As descobertas bacteriológicas da metade do século XIX sufocam de vez as concepções 
sociais e reforçam a formulação unicausal com o primado das causas externas: para cada doença, 
há um agente etiológico que deve ser identi� cado e combatido por meio de vacinas e produtos 
químicos. 
É no contexto do � nal da II Guerra Mundial, com o desenvolvimento da estatística e 
informática, que teremos os grandes estudos com variedade de dados e o nascimento da 
multicausalidade moderna, que possibilitará a compreensão do processo saúde-doença como 
síntese de múltiplas determinações.
É nesse contexto histórico que temos a de� nição da Organização Mundial de Saúde para 
o conceito de saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente 
ausência de afecções e enfermidades”. Desse modo, temos a ampliação da discussão sobre saúde e 
doença, uma vez que o fato de não estar doente não signi� ca necessariamente estar saudável. Há 
aqui o entendimento da saúde como um direito social, inerente à condição de cidadania, que deve 
ser assegurado sem distinção de raça, religião, ideologia política ou condição socioeconômica. A 
saúde é assim apresentada como um valor coletivo, um bem de todos. 
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 Garcia e Gida (1988),em um trabalho metodológico sobre intervenção na comunidade, 
salientam esse conceito amplo sobre saúde da população, reforçando o que sabemos: que a saúde 
é um conceito abrangente, entrelaçada por vários fatores.
Dessa forma, os autores inscrevem a saúde dentro da situação econômico-político-social 
da vida dos homens, ou seja, na esfera das ações humanas, em que o próprio homem se encontra, 
na qual cada situação peculiar (econômico-político-social) re� etirá na forma e nos recursos de 
a população lidar com a saúde, colocando a promoção como um problema de todos na busca do 
lugar de cada um. Dessa forma, podemos perceber que cada um e todos têm direitos em relação 
à saúde, assegurados pela Constituição Federal de 1988, conforme veremos mais adiante.
Figura 1 - Conceito de saúde. Fonte: Freepik (2020).
2. REFLEXÕES SOBRE A SAÚDE MENTAL
2.1 Normal e Patológico
A discussão sobre o que é “normal” e o que é “patológico” é tão antiga quanto a própria 
humanidade. De acordo com Bock (2002, p. 353), “Responder a isso signi� ca dizer que 
determinadas áreas de conhecimento cientí� co estabelecem padrões de comportamento ou de 
funcionamento do organismo sadio ou da personalidade adaptada”. Ou seja, em algum momento, 
alguém estabelece um padrão que precisa ser seguido e quem não consegue corresponder a esse 
padrão é tipi� cado como “anormal”. 
Percebam o quanto isso é complexo, pois o conceito de “normal” e “patológico” é 
absolutamente relativo e muda de cultura para cultura e, mesmo dentro da mesma cultura, muda 
ao longo dos diversos momentos históricos. 
A antropologia tem muito a contribuir com esta discussão com a ideia da relatividade 
cultural, ou seja, cada ideia e cada fenômeno devem ser entendidos a partir da cultura na qual 
este se dá; caso contrário, corremos o risco de cair em julgamentos baseados em estereótipos e 
preconceitos.
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Assim, vemos que a ciência e os pro� ssionais acabam assumindo um “poder” de 
determinar o que é “normal” e o que é “patológico” e, muitas vezes, o que é caracterizado como 
patológico envolve, na verdade, comportamentos que representam uma transgressão de normas 
morais de um determinado momento histórico, sabendo que essas normas mudam de cultura 
para cultura e ao longo do tempo.
Dessa forma, atualmente, quando falamos em saúde mental, não nos focamos em ideias 
como “louco”, “anormal”, mas sim trabalhamos na perspectiva de sofrimento psíquico e doença 
mental, que são concepções mais amplas e vão além de aspectos morais.
A partir das discussões sobre o conceito de “normal” e “patológico”, refl ita sobre a 
crônica de Luiz Fernando Veríssimo:
O nariz
Era um dentista respeitadíssimo. Com seus quarenta e poucos anos, uma fi lha 
quase na faculdade. Um homem sério, sóbrio, sem opiniões surpreendentes, mas 
de uma sólida reputação como profi ssional e cidadão. Um dia, apareceu em casa 
com um nariz postiço. Passado o susto, a mulher e a fi lha sorriram com fi ngida 
tolerância. Era um daqueles narizes de borracha com óculos de aros pretos, 
sobrancelhas e bigodes que fazem a pessoa fi car parecida com o Groucho Marx. 
Mas o nosso dentista não estava imitando o Groucho Marx. Sentou-se à mesa de 
almoço – sempre almoçava em casa – com a retidão costumeira, quieto e algo 
distraído. Mas com um nariz postiço.
– O que é isso? – perguntou a mulher depois da salada, sorrindo menos.
– Isto o quê?
– Esse nariz.
– Ah, vi numa vitrina, entrei e comprei.
– Logo você, papai…
Depois do almoço ele foi recostar-se no sofá da sala como fazia todos os dias. A 
mulher impacientou-se.
– Tire esse negócio.
– Por quê?
– Brincadeira tem hora.
– Mas isto não é brincadeira.
Sesteou com o nariz de borracha para o alto. Depois de meia hora, levantou-se e 
dirigiu-se para a porta. A mulher o interpelou:
– Aonde é que você vai?
– Como, aonde é que eu vou? Vou voltar para o consultório.
– Mas com esse nariz?
– Eu não compreendo você – disse ele, olhando-a com censura através dos aros 
sem lentes. – Se fosse uma gravata nova, você não diria nada. Só porque é um 
nariz…
– Pense nos vizinhos. Pense nos clientes.
Os clientes, realmente, não compreenderam o nariz de borracha. Deram risadas 
(“Logo o senhor, doutor…”), fi zeram perguntas, mas terminaram a consulta 
intrigados e saíram do consultório com dúvidas.
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– Ele enlouqueceu?
– Não sei – respondia a recepcionista, que trabalhava com ele há 15 anos. – 
Nunca vi “ele” assim.
Naquela noite, ele tomou seu chuveiro, como fazia sempre antes de dormir. 
Depois, vestiu o pijama e o nariz postiço e foi se deitar.
– Você vai usar esse nariz na cama? – perguntou a mulher.
–Vou. Aliás, não vou mais tirar este nariz.
– Mas, por quê?
– Porque não!
Dormiu logo. A mulher passou metade da noite olhando para o nariz de borracha. 
De madrugada começou a chorar baixinho. Ele enlouquecera. Era isto. Tudo 
estava acabado. Uma carreira brilhante, uma reputação, um nome, uma família 
perfeita, tudo trocado por um nariz postiço.
– Papai…
– Sim, minha fi lha.
– Podemos conversar?
– Claro que podemos.
– É sobre esse seu nariz…
– O meu nariz, outra vez? Mas vocês só pensam nisso?
– Papai, como é que nós não vamos pensar? De uma hora para outra, um homem 
como você resolve andar de nariz postiço e não quer que ninguém note?
– O nariz é meu e vou continuar a usar.
– Mas por que, papai? Você não se dá conta de que se transformou no palhaço do 
prédio? Eu não posso mais encarar os vizinhos, de vergonha. A mamãe não tem 
mais vida social.
– Não tem porque não quer…
– Como é que ela vai à rua com um homem de nariz postiço?
– Mas não sou “um homem”. Sou eu. O marido dela. O seu pai. Continuo o mesmo 
homem. Um nariz de borracha não faz nenhuma diferença. Se não faz nenhuma 
diferença, por que não usar?
– Mas, mas…
– Minha fi lha.
– Chega! Não quero mais conversar. Você não é mais meu pai!
A mulher e a fi lha saíram de casa. Ele perdeu todos os clientes. A recepcionista, 
que trabalhava com ele há 15 anos, pediu demissão. Não sabia o que esperar de 
um homem que usava nariz postiço. Evitava aproximar-se dele. Mandou o pedido 
de demissão pelo correio. Os amigos mais chegados, numa última tentativa de 
salvar sua reputação, o convenceram a consultar um psiquiatra.
– Você vai concordar – disse o psiquiatra depois de concluir que não havia nada 
de errado com ele – que seu comportamento é um pouco estranho…
– Estranho é o comportamento dos outros! – disse ele. – Eu continuo o mesmo. 
Noventa e dois por cento do meu corpo continua o que era antes. Não mudei 
a maneira de vestir, nem de pensar, nem de me comportar. Continuo sendo um 
ótimo dentista, um bom marido, bom pai, contribuinte, sócio do fl uminense, tudo 
como antes. Mas as pessoas repudiam todo o resto por causa deste nariz. Um 
simples nariz de borracha. Quer dizer que eu não sou eu, eu sou o meu nariz?
– É… – disse o psiquiatra. – Talvez você tenha razão…
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
O que é que você acha, leitor? Ele tem razão? Seja como for, não se entregou. 
Continua a usar o nariz postiço. Porque agora não é mais uma questão de nariz. 
Agora é uma questão de princípios. 
O que você achou? Será que ele estava mesmo louco? Ou será que apenas estava 
transgredindo uma norma social de cunho moral? Ao usar o nariz de palhaço, 
ele deixou de ser quem ele realmente era? Ele fez mal para alguém? Na verdade, 
o que ele fez foi contrariar o que está socialmente imposto: “não usar nariz de 
palhaço, se você não for palhaço ou estiver em um show”, mas essa atitude em si 
não interferiria em nada na sua vida nem nos demais, no entanto a forma como a 
sociedade reagiu a isso trouxe muitas perdas para o dentista.
2.2 Conceito de Saúde Mental
Ao discutirmos o conceito de saúde, especialmente considerando a sua relação com 
a educação, um aspecto fundamental é o conceito de saúdemental. Isso porque ela interfere 
diretamente nos fenômenos escolares e no processo de ensino/aprendizagem.
Além disso, na atualidade, faz-se de suma importância discutir temas que têm como 
ênfase a saúde mental, bem como aspectos ligados a ela, tendo em vista que a saúde mental tem 
sido alvo de grandes preocupações, discussões e re� exões, não somente de grandes pensadores, 
cientistas e � lósofos, como também da população em geral, já que todos os mencionados, de 
alguma forma, estão se preocupando mais com a promoção do bem-estar. 
Em tempos anteriores, a concepção de saúde mental, assim como a própria concepção de 
saúde, estava atrelada à doença; atualmente, entendemos a saúde mental como muito mais que 
a simples ausência de doença, e sim como a capacidade individual nas suas dimensões pessoais, 
sociais e econômicas de enfrentamento das intempéries da vida, numa busca constante de bem-
estar e satisfação, inerente à vida do homem.
A Organização Mundial de Saúde a� rma que não existe uma de� nição o� cial e única de 
saúde mental. Isso porque as diferenças culturais e sociais, as subjetividades, e diversidade de 
teorias de entendimento sobre a vida e o mundo afetam o modo como a saúde mental é de� nida. 
Assim, são inúmeras as discussões acerca desse tema e, de acordo com o Relatório sobre 
a Saúde no Mundo, “[...] abrangem, entre outras coisas, o bem-estar subjetivo, a autoe� cácia 
percebida, a autonomia, a competência, a dependência intergeracional e a autorrealização do 
potencial intelectual e emocional da pessoa” (ORGANIZAÇÃO MUNIDAL DE SAÚDE, 2001, 
p. 3). Segundo esse relatório, é extremamente difícil de� nir esse conceito, pois este percorre 
uma perspectiva transcultural. Entretanto, faz-se de grande importância mencionar que a saúde 
mental é, de modo geral, algo mais que a simples ausência de transtornos mentais. 
Dessa forma, Saúde Mental é um termo usado para descrever o nível de qualidade de 
vida cognitiva ou emocional, que pode incluir a capacidade de um indivíduo de apreciar a vida 
e procurar um equilíbrio entre as atividades e os esforços para atingir a resiliência psicológica. 
Admite-se, entretanto, que o conceito de Saúde Mental é mais amplo que a ausência de transtornos 
mentais.
Na página o� cial da Secretaria de Saúde do estado do Paraná, encontramos alguns 
entendimentos que elucidam muito bem o que podemos entender como saúde mental.
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1. Saúde Mental é o equilíbrio emocional entre o patrimônio interno e as exigências ou 
vivências externas. É a capacidade de administrar a própria vida e as suas emoções dentro 
de um amplo espectro de variações, sem, contudo, perder o valor do real e do precioso. É 
ser capaz de ser sujeito de suas próprias ações sem perder a noção de tempo e espaço. É 
buscar viver a vida na sua plenitude máxima, respeitando o legal e o outro (Dr. Lorusso);
2. Saúde Mental é estar de bem consigo e com os outros. Aceitar as exigências da vida. 
Saber lidar com as boas emoções e também com as desagradáveis: alegria/tristeza; 
coragem/medo; amor/ódio; serenidade/raiva; ciúmes; culpa; frustrações. Reconhecer 
seus limites e buscar ajuda quando necessário.
3. Os seguintes itens foram identi� cados como critérios de saúde mental:
 
a. Atitudes positivas em relação a si próprio;
b. Crescimento, desenvolvimento e autorrealização;
c. Integração e resposta emocional;
d. Autonomia e autodeterminação;
e. Percepção apurada da realidade;
f. Domínio ambiental e competência social.
2.3 Política de Saúde Mental
A partir destas re� exões sobre a saúde mental, temos que a Política Nacional de Saúde 
Mental orienta-se pelos princípios do SUS instituídos pela Lei 8.080/1990: universalidade, 
equidade e integralidade e pelas diretrizes de descentralização, regionalização e hierarquização e 
participação da comunidade. Neste sentido, essa política prioriza uma prática em saúde integral 
que consiga abordar os indivíduos em sua complexidade e integralidade rompendo com o 
reducionismo biomédico ao compreender as diversas dimensões que determinam a produção da 
saúde e da doença. 
No que se refere à atenção à saúde mental, no Brasil, esse setor da saúde nas últimas 
décadas passou por profundas transformações, fruto da mobilização de instituições, trabalhadores 
da saúde, familiares e usuários. 
Por volta da segunda metade da década de 1970, contamos com o movimento social 
da Reforma Psiquiátrica que “[...] se caracteriza por uma ruptura em relação à racionalidade 
psiquiátrica, ao recursar-se a considerar o sofrimento humano apenas como o objeto simples da 
doença mental, mas considerá-lo em sua complexidade” ( YASUI, 2006, p. 90). É um processo 
social complexo, que consiste numa luta contra a segregação, a violência, a discriminação e a 
exclusão da pessoa em sofrimento psíquico, ou seja, é “[...] um processo que tem como princípios 
éticos a inclusão, a solidariedade e a cidadania” ( AMARANTE, 2007, p. 58). Porém, a perspectiva 
na atenção à pessoa em sofrimento psíquico nem sempre foi essa.
Segundo Costa (2007), a história das políticas de atenção em saúde mental, no 
Brasil, remonta à vinda da família real portuguesa ao nosso país. Isso porque esse fato trouxe 
transformações políticas, econômicas, culturais e sociais ao Brasil, trazendo grandes mudanças 
para as cidades e o aumento da população urbana.
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Como consequência das desigualdades sociais presentes e em decorrência das más 
condições de vida de grande parte da população, também aumenta o número de epidemias e 
doenças nos centros urbanos. Após a independência do Brasil, em 1822, tem início um movimento 
médico reivindicando a criação de asilos para a população marginalizada socialmente e, em 
especial, os “loucos”, como eram denominadas as pessoas em sofrimento psíquico. Nessa época, o 
movimento higienista apregoava a necessidade da organização dos espaços públicos das cidades.
É nesse contexto, de acordo com Costa (2007), que temos, em 1852, a inauguração do 
primeiro hospício brasileiro na cidade do Rio de Janeiro – o hospício Dom Pedro II – e, em 
1898, o Hospital Colônia Juqueri. Todavia, o marco histórico do início das políticas públicas de 
saúde mental no Brasil é a aprovação do Decreto 1.132, em 1903, que � cou conhecida como a 
“lei de assistência aos alienados” e que trazia como avanço a pro� ssionalização do tratamento 
dos alienados que até então era de responsabilidade de religiosas, sem necessariamente ter o 
acompanhamento médico.
Após a II Guerra Mundial, começam a se intensi� car na Europa os questionamentos sobre 
a instituição asilar e a divulgação de experiências que se contrapunham ao modelo psiquiátrico 
tradicional como a Comunidade Terapêutica, Psicoterapia Institucional, Psiquiatria de Setor, 
Psiquiatria Preventiva, Antipsiquiatria e Psiquiatria Democrática (AMARANTE, 2007).
Estas discussões chegam ao Brasil com certo atraso em relação à conjuntura mundial, mas 
marcam um importante período da história da assistência à saúde mental no país. Por volta da 
década de 1970, Vasconcelos (2010) destaca o início das três principais fases nessa assistência: de 
1978 a 1992, caracterizado pela eclosão da crítica do modelo hospitalocêntrico, em que temos o 
Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM), composto por trabalhadores da área, 
associações de familiares e usuários dos serviços que fomentam a discussão sobre a necessidade 
de que seja revista a instituição hospital psiquiátrico, inclusive apresentando diversas denúncias 
sobre maus tratos e mortes nos hospitais existentes. Neste momento histórico, temos também 
a implantação dos primeiros serviços substitutivos como o Centro de Atenção Psicossocial 
(CAPS) e o Núcleo de Atenção Psicossocial (NAPS), que ajudam a alavancar as discussões sobre 
a possibilidade de formas alternativas ao hospital psiquiátrico para o tratamento daspessoas com 
transtorno mental. Ainda, em 1989, o deputado Paulo Delgado (PT/MG) apresenta à Câmara 
Federal o Projeto de Lei nº 3657-A, para regulamentação dos direitos das pessoas com transtornos 
mentais, propondo explicitamente a extinção dos hospitais psiquiátricos.
O período de 1992 a 2001 é caracterizado pelo fortalecimento dos movimentos sociais 
nessa área, inspirados pelo Projeto de Lei de Paulo Delgado e, mesmo sem que a lei tenha sido 
aprovada, temos o início da implantação de rede extra-hospitalar no país e aprovação de leis 
antimanicomiais em vários estados brasileiros. Também nessa década registramos a adesão 
do Brasil à Declaração de Caracas, fruto da Conferência Regional para a Reestruturação da 
Assistência Psiquiátrica dentro dos Sistemas Locais de Saúde na região das Américas – que 
preconiza a realização da atenção à pessoa com transtorno mental em serviços de base territorial 
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1990).
Por � m, temos, segundo Vasconcelos (2010), o terceiro momento, que tem como marco 
a realização da III Conferência Nacional de Saúde Mental em 2001, a aprovação da Lei 10.216/01 
e a expansão e consolidação da rede de atenção psicossocial. Atualizando a discussão do autor, 
tivemos, em 2010, a realização da IV Conferência Nacional de Saúde Mental. Inclusive, vale 
destacar que essa conferência foi realizada com razoável atraso e sua realização deve-se em parte 
ao movimento social da Marcha dos Usuários pela Reforma Psiquiátrica Antimanicomial.
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Neste ponto, é interessante marcar a diferença entre a Reforma Psiquiátrica e a Política 
Nacional de Saúde Mental. A Reforma Psiquiátrica é um movimento social cuja meta é a luta 
pelos direitos das pessoas em sofrimento psíquico. A PNSM é uma política pública que foi gerada 
no bojo da Reforma Psiquiátrica. Atualmente, as pessoas em sofrimento psíquico têm algumas 
garantias previstas na legislação como a de serem preferencialmente atendidas em serviços 
de bases territoriais e serem assistidas pela rede de Atenção Psicossocial, que é composta por 
diferentes serviços ( BRASIL, 2011).
No que se refere aos serviços oferecidos pela rede, destacamos que cada um deles tem 
características e � nalidades próprias, pois se adequam às variadas necessidades das pessoas 
em sofrimento psíquico como, por exemplo, moradia, crise, atendimento ambulatorial, e 
sua implantação segue critérios pré-estabelecidos pelo Ministério da Saúde, de acordo com a 
demanda posta.
Muitas vezes, ouvimos críticas à Reforma Psiquiátrica no sentido de que “acaba-se com o 
hospital psiquiátrico e deixa-se as pessoas em sofrimento psíquico sem atendimento”, no entanto 
essa ideia é equivocada, pois a proposta é a de que os hospitais psiquiátricos sejam substituídos 
por outros serviços para que se possibilite uma atenção humanizada aos usuários. 
Dessa forma, temos uma série de serviços substitutivos com vistas a atender essa demanda. 
Apresentaremos agora, de forma resumida, os principais serviços previstos na Política Nacional 
de Saúde Mental. 
Temos o Serviço Residencial Terapêutico (SRT), “[...] que são casas localizadas no 
espaço urbano, constituídas para responder às necessidades de moradia de pessoas portadoras 
de transtornos mentais graves, institucionalizadas ou não” ( BRASIL, 2004a, p. 6). 
O Programa de Volta Para Casa, segundo o Ministério da Saúde ( BRASIL, 2003) tem 
como foco a “[...] reintegração social de pessoas acometidas de transtorno mental, egressas de 
longas internações” e tem como parte integrante o pagamento de auxílio-reabilitação psicossocial. 
Os Consultórios de Rua são “[...] dispositivos públicos que oferecem cuidados básicos 
de saúde para população vulnerável no próprio contexto de rua, em ação conjunta com outros 
setores como Assistência Social, Justiça, Cultura, Esporte e outros, e na estratégia de Redução de 
Danos” ( BRASIL, 2010). 
Contamos também com a estratégia da implantação de leitos psiquiátricos em hospitais 
gerais, uma vez que a internação hospitalar é prevista pela Lei 10.216/01, quando os recursos 
extra-hospitalares se mostram insu� cientes, mas a indicação da Portaria 224/92 (1992) do 
Ministério da Saúde é a de que esse tipo de leito passe a ser ofertado nos hospitais gerais. 
Os Programas de Centros de Convivência e Cultura, que são dispositivos públicos 
compostos por equipe multipro� ssional, oferecem às pessoas com transtornos mentais espaços 
de sociabilidade, produção e intervenção na cidade (BRASIL, 2005). 
Por � m, temos o CAPS nas seguintes modalidades: CAPS I - para municípios com 
população entre 20.000 e 50.000 habitantes, funcionando 5 dias por semana; CAPS II - para 
municípios com população de mais de 50.000 habitantes, funcionando 5 dias por semana; CAPS 
III - para municípios com mais de 200.000 habitantes, funcionando 24 horas por dia, sete dias por 
semana; CAPSi (para municípios com mais de 200.000 habitantes, especializado no atendimento 
de crianças e adolescentes e funcionando 5 dias por semana); CAPS Ad (para municípios com 
mais de 200.000 habitantes, especializado no atendimento a usuários de álcool e outras drogas e 
funcionando 5 dias por semana), CAPS Ad III (para municípios com mais de 200.000 habitantes, 
especializado no atendimento a usuários de álcool e outras drogas, funcionando 24 horas por 
dia, sete dias por semana). Os CAPS são serviços de saúde municipais, abertos, comunitários que 
oferecem atendimento diário. 
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Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2004b), o CAPS tem como objetivo oferecer atendimento 
à população, realizar o acompanhamento clínico e a reinserção social dos usuários pelo acesso ao 
trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários. 
Todos esses serviços substitutivos trazem em comum a discussão da necessidade de 
articulação com o nível da Atenção Básica do SUS, considerado fundamental para a organização 
e operacionalização do sistema de saúde no Brasil, bem como para a atenção à saúde mental.
De acordo com alguns estudiosos da área de saúde mental, como Amarante (2007), Tenório 
(2002) e Vasconcelos (2010), para avançar no processo da Reforma Psiquiátrica, duas questões 
centrais são colocadas: a primeira diz respeito à construção de uma cultura antimanicomial, 
na qual passe a fazer parte do imaginário social a perspectiva de que o sujeito em sofrimento 
psíquico não mais será isolado nos hospitais psiquiátricos e segregado da vida social, mas sim 
conviverá na sua comunidade, e a segunda se refere ao oferecimento de serviços substitutivos ao 
hospital psiquiátrico. 
Os problemas de saúde mental têm se tornado cada vez mais 
comuns em todo o mundo. A ansiedade, por exemplo, atinge 
mais de 260 milhões de pessoas. Inclusive, o Brasil é o país 
com o maior número de pessoas ansiosas: 9,3% da população, 
segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Além disso, 
novos dados mostram que 86% dos brasileiros sofrem com algum 
transtorno mental, como ansiedade e depressão. Disponível 
em: https://veja.abril.com.br/saude/pesquisa-indica-que-86-dos-brasileiros-tem-
algum-transtorno-mental. Acesso em: 24 fev. 2020.
Para aprofundar a refl exão sobre o conceito de saú-
de mental, leia o livro O alienista de Machado de 
Assis. O livro é de 1882 e relata a história de um 
médico que era fascinado pelo estudo da loucura 
e procurava classifi car as patologias das pessoas, 
tendo a ideia de construir uma casa, onde cada lou-
co classifi cado por ele era trancado com o intuito 
de buscar a cura. 
Figura 2 – Capa do livro O alienista, de Machado de Assis. Fonte: Cultura genial (2020).
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3. MODELO BIOMÉDICO X MODELO DE INTEGRALIDADE
 
Como vimos até agora nesta unidade, os avanços obtidos na ciência e na medicina ao longo 
dosanos proporcionaram um entendimento e uma discussão mais ampliada sobre o conceito 
de saúde e doença. Assim, temos como desdobramento a necessidade de rever os modelos de 
atendimento de saúde oferecidos à população, visando a abarcar a sua integralidade.
Dessa forma, de um lado, temos o clássico modelo biomédico caracterizado 
[...] pela explicação unicausal da doença, pelo biologicismo, fragmentação, 
mecanicismo, nosocentrismo, recuperação e reabilitação, tecnicismo, 
especialização. A unicausalidade pressupõe o reconhecimento do agente 
etiológico, é este que deverá ser identi� cado e combatido. A simplicidade da 
unicausalidade reside em trabalhar apenas a relação causa-efeito imediata 
(CUTOLO, 2006, p. 16).
 
Ou seja, no modelo biomédico, consideram-se apenas os aspectos biológicos dos 
indivíduos. Assim, essas respostas, que se materializaram no dia a dia dos serviços em forma de 
programas e ações especiais na saúde pública com características bastante fortes de centralidade 
e verticalidade, chegam aos usuários em tom de imposição, de forma autoritária. Com isso, 
percebemos que essas respostas atravessavam os serviços, as ações e as práticas de saúde 
atropelando, muitas vezes, as necessidades especí� cas e reais da população assistida.
Já o modelo da integralidade – que é o que visamos a implantar em todas as áreas e setores 
sociais – preconiza a existência de ações preventivas e curativas e abarca o indivíduo em sua 
totalidade. Dessa forma, aponta para a necessidade de horizontalização dos programas e ações 
de saúde. 
Para se sensibilizar sobre a discussão da Reforma Psi-
quiátrica, assista ao fi lme Bicho de sete cabeças. É um 
fi lme inspirado no livro Canto dos malditos, de Austregé-
silo Carrano Bueno, e conta a história de um adolescen-
te que gosta de desafi ar o perigo e comete pequenas 
rebeldias incompreendidas pelos pais. Mas seus pais 
decidem interná-lo em um hospital psiquiátrico, onde 
ele conhece uma realidade desumana e vive emoções e 
horrores que ele nunca imaginou que pudessem existir. 
Figura 3 – Filme Bicho de sete cabeças. Fonte: Gullane (2020).
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Nesta perspectiva, a concretização da integralidade no cotidiano dos serviços e das 
intervenções de saúde teriam como consequência a identi� cação dos problemas de saúde reais e 
vividos pelos cidadãos e logo uma prática do Sistema Único de Saúde articulada com a realidade. 
Propõe-se, dessa forma, a trabalhar, sustentando-se em três pilares básicos: o território (sendo 
este o território vivido), os problemas de saúde (sendo estes os de fato apontados pela população) 
e a intersetorialidade (considerando a articulação com as demais políticas).
Um dos aspectos fundamentais passa a ser a integração da “voz do outro” nesse processo, 
ou seja, o usuário do serviço de saúde não tem um papel passivo no seu atendimento, mas sim 
assume uma posição de protagonista. Da mesma forma ocorre na escola, no sentido da perspectiva 
de que o aluno precisa fazer parte do processo ensino/aprendizagem, e não apenas assumir uma 
postura passiva de “recebedor do conhecimento”.
Além disso, na assistência à saúde, é fundamental priorizar a integração das ações 
preventivas, promocionais e assistenciais que sempre devem fazer parte do escopo das ações 
oferecidas aos usuários. Outro aspecto essencial é a integração entre os pro� ssionais das equipes 
interdisciplinar e multipro� ssional, pois só assim é possível uma compreensão ampla dos 
problemas de saúde, das necessidades dos usuários e das ações de saúde necessárias.
Por � m, primar pela integração de todos os aspectos da vida humana – biológico, social, 
mental, espiritual, econômico –, entendendo que a vida humana por muito tempo foi fragmentada 
pelo olhar reducionista e biologicista da biomedicina. Acredita-se que, assim, podemos, no dia a 
dia dos serviços, promover encontros reais e potentes entre pro� ssionais e usuários nos serviços 
de saúde, bem como entre professores e alunos na escola.
Suponhamos que um paciente procure o serviço de saúde com crise hipertensiva. 
Quais seriam as perspectivas de intervenção da equipe de saúde? Na perspectiva 
do modelo biomédico, a intervenção restringir-se-ia à administração da medica-
ção necessária. Mas será que isso é o sufi ciente? Será que a intervenção poderia 
contemplar outros aspectos da vida desse paciente? Na perspectiva do modelo 
de integralidade, ao considerar o indivíduo em sua totalidade, durante a consulta 
médica, ele também seria orientado quanto à importância de uma alimentação 
hipossódica e de exercícios físicos regulares para controle da pressão arterial.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade, como aspecto fundamental, retomamos a a� rmativa de Bock (2002, p. 
271): “A escola precisa ser articulada com a vida”, para destacar que a discussão da interlocução 
entre saúde e educação é parte essencial na formação do pro� ssional da educação.
Para tanto, iniciamos discutindo o conceito de saúde/doença e pudemos entender 
que este se transforma ao longo do tempo, de acordo com as vivências, produções humanas e, 
principalmente, as condições concretas de vida.
Também problematizamos a ideia de saúde mental, re� etindo sobre os conceitos de 
normalidade, anormalidade e loucura, chegando à compreensão de que a saúde mental está 
relacionada às questões subjetivas de capacidade de lidar com as adversidades da vida.
Por � m, avaliamos as diferenças entre o modelo biomédico e o modelo de integralidade no 
trato com as questões de saúde, destacando a necessidade de um olhar integral sobre os sujeitos. 
Destacando que esse olhar integral precisa fazer parte do cotidiano de todos os pro� ssionais, 
inclusive os da educação.
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UNIDADE
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SUMÁRIO DA UNIDADE
1. HISTÓRICO DAS POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL .........................................................................21
1.1 A FORMAÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO E AS PRIMEIRAS AÇÕES DE SAÚDE PÚBLICA .............................21
1.2 REPÚBLICA (1889-1930) ....................................................................................................................................22
1.3 “CIDADANIA REGULADA” E DIREITO À SAÚDE ...............................................................................................23
1.4 ANOS 1950: DESENVOLVIMENTO E SAÚDE .....................................................................................................24
1.5 EXPANSÃO E CONSOLIDAÇÃO DO COMPLEXO MÉDICO-EMPRESARIAL ....................................................25
1.6 REDEMOCRATIZAÇÃO E DIREITO À SAÚDE ....................................................................................................27
1.7 A POLÍTICA DE SAÚDE NA NOVA REPÚBLICA ..................................................................................................27
2. SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS ..................................................................................................................... 30
2.1 OS AVANÇOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ..................................................................................... 30
2.2 PRINCÍPIOS E DIRETRIZES DO SUS ................................................................................................................ 30
CONSIDERAÇÕES FINAIS .........................................................................................................................................34
SAÚDE E SOCIEDADE BRASILEIRA
PROF.A MA. LARA HAUSER DOS SANTOS NEPONUCENO
ENSINO A DISTÂNCIA
DISCIPLINA:
SAÚDE E EDUCAÇÃO
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INTRODUÇÃO
Nesta unidade, discutiremos questões importantes e bastante pertinentes em nosso atual 
contexto político e social, tais como: Quem é ou deve ser responsável pela saúde dos indivíduose da sociedade? Que direitos e garantias os Estados devem prover a seus cidadãos? Os Estados 
devem atuar na proteção à saúde das comunidades? Se entendermos que os Estados têm um 
papel fundamental na garantia do direito à saúde, qual deve ser a extensão desse direito? Os 
Estados devem proteger todos os indivíduos ou apenas aqueles que contribuem � nanceiramente 
para um sistema de atenção? Ou apenas os mais necessitados? Qual deve ser a abrangência da 
proteção ofertada? O Estado deve prover todos os tipos de assistência à saúde ou somente ações 
coletivas de prevenção e promoção à saúde?
Questões como estas sempre foram pautadas durante a história do nosso país e foram 
abordadas e respondidas de formas diferentes ao longo dessa trajetória. Por isso, percorreremos 
a história das políticas de saúde pública no Brasil para ter conhecimento de como estas se 
consolidaram até a instituição do Sistema Único de Saúde.
Por � m, trataremos dos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde para entender 
como este está organizado e como está previsto o seu funcionamento, buscando a valorização 
desse sistema, que foi uma grande conquista histórica em nosso país.
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1. HISTÓRICO DAS POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL
1.1 A Formação do Estado Brasileiro e as Primeiras Ações de Saúde Pública
Figura 1 - Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro, 1500. Fonte: Sousa (2011).
Nesta apresentação, usaremos como base o texto de Tatiana Baptista (2007), que resgata, 
de forma clara e didática, a trajetória histórica das políticas públicas de saúde no Brasil. 
Baptista (2007) destaca que os historiadores apontam que, quando os colonizadores 
chegaram ao Brasil, este era visto como um “paraíso”, com belezas naturais e gente saudável, 
sendo que as doenças que matavam milhares de pessoas na Europa não existiam por aqui. Logo 
essa imagem se desfaz e os con� itos com os indígenas, as di� culdades materiais da vida na região 
e, sobretudo, as diversas e frequentes enfermidades passam a ser ameaças e obstáculos para o 
estabelecimento dos colonizadores.
Na leitura de Baptista (2007), devido a isso, criam-se os cargos de físico-mor e cirurgião-
mor para cuidar da saúde dos europeus e não “atrapalhar” o projeto de colonização devido ao 
grande número de doenças e mortes. Com medo dos tratamentos da época, na maioria, à base 
de purgantes ou sangrias, muitas pessoas (ricos ou pobres) preferiam recorrer aos remédios 
recomendados pelos curandeiros negros ou indígenas.
A ausência de serviços de saúde e� cientes fazia com que a orientação dos médicos só 
fosse aceita em épocas de epidemias e elas ocorriam em grande número. Nos surtos epidêmicos, 
os médicos e os curandeiros pouco podiam fazer, já que quase nada se conhecia sobre as doenças 
infectocontagiosas. A única opção era exigir o afastamento dos enfermos do ambiente ocupado 
pelos sadios – reclusão/exclusão dos doentes.
Com a vinda da Família Real (1808), houve a necessidade de se mudar a imagem ruim 
que o Brasil tinha na Europa (país de barbárie e escravidão). Assim, teremos as primeiras escolas 
de medicina do país e as primeiras ações de saúde pública que surgiram no mundo: proteção 
e saneamento das cidades, principalmente as portuárias, responsáveis pela comercialização e 
circulação dos produtos exportados; controle e observação das doenças e doentes, inclusive e 
principalmente dos ambientes; teorização acerca das doenças e construção de conhecimento 
para adoção de práticas mais e� cazes no controle das moléstias (BAPTISTA, 2007).
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Os ricos buscavam assistência médica na Europa ou em clínicas particulares. Para os 
pobres, restavam os curandeiros negros, que continuaram a ser os principais responsáveis pelo 
tratamento dos que tinham pouco dinheiro. Nesse momento, a falta de estrutura e higiene dos 
hospitais fazia com que o internamento fosse muito perigoso e temido por todos. Nessa época, o 
Brasil tinha a fama de ser um dos países mais insalubres do planeta.
1.2 República (1889-1930)
Baptista (2007) destaca que a proclamação da República, em 1889, foi embalada pela 
ideia de modernizar o Brasil, pautando-se em lemas do positivismo como ordem e progresso. 
Assim, se inicia um novo ciclo na política de Estado com o fortalecimento e a consolidação 
econômica da burguesia cafeeira.
Com isso, surge a necessidade de um “povo saudável e educado” para o trabalho cotidiano, 
que seria a força propulsora do progresso nacional, mas as epidemias se alastravam entre os 
trabalhadores, devido às péssimas condições de saneamento.
Incentivados pela ideia da população como “capital humano”, pela primeira vez, o Estado 
deixa de agir só nos surtos epidêmicos e elabora um plano de combate às enfermidades que 
reduziam a vida produtiva ou “útil” da população.
Há a destinação de recursos para a área da saúde pública e o serviço sanitário passa a 
realizar um intenso trabalho de controle e vigilância das fábricas, estábulos, hospitais, bares e 
cemitérios.
Também há uma determinação de que apenas os médicos diplomados poderiam tratar 
da saúde da população, e a polícia foi convocada para localizar e punir os curadores e os curiosos 
que atendiam aos enfermos mais pobres, multando-os ou ameaçando-os de prisão.
Neste momento, temos a intervenção higienista, que potencializa as pesquisas na área de 
saúde e a criação de diversos laboratórios com o desenvolvimento do trabalho de muitos cientistas 
famosos, como Oswaldo Cruz e Carlos Chagas. Médicos higienistas receberam incentivos para 
criar uma política de saúde pública voltada para Cuidados com ambiente, Divulgação de regras 
de higiene, Isolamento de doentes. Apesar de todo esse avanço, e até mesmo porque eles se 
concentravam nas cidades, no interior, ainda temos muitas doenças de caráter endêmico.
Em 1918, o Brasil tinha uma população total de 28,9 milhões de pessoas, sendo que 
a população rural era em torno de 20 milhões de pessoas; 17 milhões de enfraquecidos pelos 
parasitas intestinais; 3 milhões de vítimas de doença de Chagas; 10 milhões de atacados pela 
malária; 5 milhões de tuberculosos; além de um alto índice de subnutrição e alcoolismo.
A vinda da família real portuguesa para o Brasil ocorreu em 28 de novembro de 
1807, sendo que a comitiva chegou ao Brasil em 22 de janeiro de 1808. O que 
motivou essa vinda para o Brasil foi a necessidade de garantir que Portugal con-
tinuasse independente quando estava sendo ameaçado de invasão por Napoleão 
Bonaparte, ou seja, foi uma manobra política do Príncipe-Regente, D. João (OLI-
VEIRA LIMA, 1986).
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Com isso, conclui-se que o homem rural brasileiro era, acima de tudo, um “personagem 
doente”. Para muitos estudiosos da época, as doenças eram a grande causa de pobreza brasileira. 
O personagem Jeca Tatu de Monteiro Lobato se consolidou como o símbolo do caboclo brasileiro: 
fraco e desanimado, cujas enfermidades o impediam de participar no esforço de fazer o Brasil 
progredir (BAPTISTA, 2007).
A chegada dos imigrantes, bem como o aumento da população e da pobreza resultaram 
na multiplicação dos cortiços, das favelas e do número de doentes. Diante desse quadro, parte 
da elite intelectual acreditava que as endemias e a baixa produtividade da população se deviam 
à qualidade da “raça brasileira”. Apoiado nos conceitos de eugenia, dizia-se que a mistura de 
brancos, negros e índios criara um “tipo nacional” condenado à preguiça e à debilidade física 
e mental. Acreditavam que pouco se podia fazer, a não ser esperar o desaparecimento dos 
“híbridos raciais” e dos grupos humanos considerados “biologicamente inferiores”, entre os quais 
se incluíam os negros e os indígenas. Outra parcela dos intelectuais acreditava que era necessária 
uma intervenção urgente do Estado no setor sanitáriopara garantir melhoria geral das condições 
de vida da população.
Com isso, teremos a intensa intervenção higienista com o saneamento das cidades. Houve 
a derrubada dos cortiços e a construção de parques e avenidas sob a justi� cativa de que aquelas 
construções antigas eram responsáveis pela proliferação de ratos e mosquitos que causavam 
doenças. Houve também a retirada da população das favelas dos morros porque alegavam que os 
morros di� cultavam a circulação de ar. Com toda essa “limpeza”, o número de doenças diminuiu, 
mas a elite econômica foi quem mais se bene� ciou de todo esse processo (água encanada, esgoto, 
luz), já os mais pobres continuaram em situações de vida precárias. A Revolta da Vacina (1904) 
foi uma resposta violenta ao descaso e arrogância das autoridades. A intervenção médica foi 
recebida com descon� ança pelo povo e se viram obrigados a tomar vacina e com medo reagiram.
Houve muitos confrontos e mortes até que o governo recuasse e revogasse a decisão de 
ser obrigatória a vacina, passando a ser opcional. Durante esse período, o movimento sanitarista 
trouxe a situação da saúde como uma questão social e política, como o grande obstáculo à 
civilização. Grande parte da população � cou desamparada, pois o direito à saúde integral não era 
uma preocupação dos governantes e não havia interesse na de� nição de uma política ampla de 
proteção social.
1.3 “Cidadania Regulada” e Direito à Saúde 
Ainda seguindo a linha de Baptista (2007), Getúlio Vargas, a partir da década de 1930, 
promove uma reforma política para livrar o Estado do controle das oligarquias e recorre a medidas 
populistas, pelas quais o Estado se apresentava como “pai tutor da sociedade”, promovendo o que 
julgava ser indispensável ao cidadão.
Em linhas gerais, o higienismo é uma doutrina que nasce no fi nal do século XIX e 
prospera com o liberalismo no início do século XX, quando o poder público come-
ça a dar maior atenção à saúde dos habitantes das cidades, tendo como foco as 
campanhas sanitárias que primavam pela “limpeza” dos centros urbanos (COSTA, 
2007). 
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Teremos alguns avanços na área da saúde com o anúncio do Estado de assumir o 
compromisso de zelar pelo bem-estar sanitário da população. Os médicos foram praticamente 
excluídos das decisões sanitárias, que passam a ser tomadas por políticos e burocratas.
Getúlio, conhecido como o “pai dos pobres”, primava pela necessidade de obter apoio 
social e político e conferir alguma legitimidade ao Estado ditatorial. Além disso, previa uma 
legislação social que garantisse maiores direitos aos trabalhadores urbanos.
Assim, teremos um emaranhado de leis que, muitas vezes, contradizendo umas às outras, 
pouco garantiriam aos trabalhadores quanto ao direito de assistência médica e indenização em 
dinheiro por enfermidade ou por acidente de trabalho.
Nesse período, temos a organização das caixas de aposentadoria e pensões e os institutos 
de previdência. Sob a tutela do Estado, esses órgãos garantiram assistência médica a uma vasta 
parcela da população urbana sem gastar verba alguma da administração federal, o que acabou se 
organizando em serviços irregulares e ine� cientes. Por mais que os serviços não funcionassem 
de forma e� ciente, eles representam um avanço para o momento, no sentido de minimamente 
existir uma legislação que possibilitava assistência médica.
A Constituição de 1934, promulgada em 16 de julho, traz avanços como a previsão de 
assistência médica, licença maternidade remunerada e jornada de 8 horas de trabalho. A CLT 
de 1943 prevê: salário-mínimo, indenização aos acidentados, tratamento médico aos doentes, 
pagamento de horas extras, férias remuneradas. No entanto, quem não tinha carteira de trabalho 
assinada e não contribuía com as caixas não tinha direito ao atendimento e � cava à mercê da 
caridade pública. Assim, temos a característica de uma “cidadania regulada” e excludente, pois 
não garantia a todos os mesmos direitos.
Nesse momento histórico, tínhamos a prevalência de doenças em nosso país, que já 
haviam sido superadas em outros países, o que re� etia as nossas di� culdades de assistência à 
saúde. 
Um fato marcante desse período é que foram convocados pelo exército cerca de 100 mil 
homens para exame físico e mental para lutar na Europa, e os exames indicaram que a maior 
parte dos recrutas estava com a saúde comprometida, ou seja, ainda tínhamos em grande medida 
um “país doente”, com uma população que continuava sofrendo com a precariedade dos serviços 
(BAPTISTA, 2007).
1.4 Anos 1950: Desenvolvimento e Saúde
De acordo com Baptista (2007), a partir de 1945, o Brasil vive a fase conhecida como 
“Período de Redemocratização”, marcado pelas eleições diretas para os principais cargos 
políticos, pelo pluralismo e pela liberdade de atuação da imprensa, das agremiações políticas e 
dos sindicatos.
Os movimentos sociais ganham destaque e passam a fazer pressão e exigir direitos. A falta 
de recursos impedia que o Estado atuasse com e� ciência na péssima situação da saúde coletiva: 
faltavam funcionários especializados, equipamentos apropriados, postos de atendimento e, 
sobretudo, faltava ânimo dos servidores. Um fenômeno que interferia na política nacional era 
o clientelismo: os partidos ou os líderes políticos trocavam ambulâncias, leitos hospitalares, 
pro� ssionais de saúde e vacinas por votos e apoio nas épocas eleitorais.
Com a pressão dos sindicatos, temos a ampliação nos direitos dos trabalhadores, que faz 
com que o número de usuários do sistema passe de 2 a 8 milhões de usuários em menos de duas 
décadas – o que faz com que a prestação do serviço se torne caótica. Devido ao alto índice de 
mortalidade infantil, há um investimento em atividades de vacinação e tratamento de crianças, 
assim como a assistências às mães.
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No entanto, essa assistência, longe se ser assumida como um compromisso do Estado, 
é tida como um ato de bondade dos políticos, os quais podiam tirar boas vantagens eleitorais. 
No Brasil, nunca se consolidou, de fato, uma política de bem-estar social, mas ganhou espaço 
a ideologia desenvolvimentista, que apontou a relação pobreza/doença/subdesenvolvimento. 
Indicava a necessidade de políticas que resultassem em melhora do nível de saúde da população 
como condição para se obter desenvolvimento, e este foi o primeiro passo para uma discussão 
mais aprofundada sobre o direito à saúde e à proteção social como política pública. 
1.5 Expansão e Consolidação do Complexo Médico-Empresarial
Baptista (2007) descreve que, em 31 de março de 1964, temos o golpe de Estado, que dá 
início ao regime ditatorial, no qual os militares passam a governar o país. A partir disso, temos 
profundas mudanças na administração pública, no sentido de uma forte centralização do poder 
no âmbito do executivo. Nesse período, temos a modernização da estrutura produtiva e uma 
política que inibe as conquistas salariais obtidas na década de 1950 e, com isso, as taxas do Produto 
Interno Bruto (PIB) tornam-se próximas às dos países mais ricos, levando o Brasil a ocupar a 
posição de oitava potência econômica do mundo capitalista, fato este que � cou conhecido como 
“Milagre Econômico”.
No entanto, tudo isso criou uma falsa ilusão de desenvolvimento nacional, já que o poder 
de compra do salário-mínimo foi sensivelmente reduzido, tornando ainda mais difícil a vida das 
famílias trabalhadoras.
Temos grandes conquistas na área do esporte, como a Copa de 1970, e também avanços 
na medicina, como a questão dos primeiros transplantes de coração. É claro que tudo isso era 
amplamente utilizado pela propaganda do governo para criar a convicção de que o projeto 
governamental dos militares estava fazendo o “país ir para frente”; a� nal, era o tempo do “Brasil 
Grande” e das frases de efeito patriótico, como “Brasil, ame-o ou deixe-o” e “Ninguém seguraeste 
país”.
Também era vivenciada dura repressão política e policial com profundo desrespeito 
aos direitos humanos. Com o golpe militar, teremos uma mudança drástica na perspectiva 
governamental e a redução das verbas destinadas à saúde pública, uma vez que, em nome da 
segurança e do desenvolvimento, cresceu o investimento nos ministérios militares, transportes e 
na indústria e comércio.
A saúde passa a ser encarada como elemento individual e não como fenômeno coletivo; 
assim, teremos poucos investimentos da área, como pagamento de serviços a hospitais particulares 
e algumas campanhas de vacinação.
Você consegue perceber como os políticos da nossa cidade, do nosso estado e do 
nosso país, de forma geral, ainda se comportam como nesse momento histórico? 
Muitas vezes, reproduzem uma ideia, mesmo que subliminar, de que o que fazem 
é um “ato de bondade”. Enquanto cidadãos e profi ssionais, precisamos estar aten-
tos a essas abordagens para que consigamos superar essa lógica ultrapassada e, 
enfi m, construir uma política de garantia de direitos e não de benevolências.
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Dentro de todo esse contexto, teremos diversas epidemias com o aumento de doenças 
como dengue, malária e meningite – fatos estes que, por meio da censura, os militares impediam 
que a imprensa divulgasse. Por volta de 1971, temos uma epidemia de meningite que nem a 
censura conseguiu esconder devido à sua grande extensão, aí o governo se viu obrigado a intervir 
com campanhas de vacinação em massa.
Em 1966, temos a criação do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), que uni� ca 
todos os órgãos previdenciários e está subordinado ao Ministério do Trabalho. Pela constituição 
de 1967, o Estado deveria apoiar as atividades privadas, e a atuação governamental seria apenas 
suplementar aos serviços prestados pela medicina privada.
O INPS constitui-se em um sistema bastante frágil, uma vez que pagava baixos preços 
pelos serviços prestados e havia uma demora na transferência de verbas, além da existência 
de diversas fraudes na prestação de serviços e contas, uma vez que não havia uma � scalização 
e� ciente.
Com esse atendimento de� ciente, as empresas passaram a � rmar contratos com grupos 
médicos e deixaram de pagar a cota previdenciária ao governo e, em troca, comprometiam-se a 
prestar assistência médica a seus empregados.
O Estado respondeu à demanda com a contratação dos serviços privados, permitindo 
a formação do que � cou conhecido como “complexo médico-empresarial”. Teremos muitos 
acidentes de trabalho que os militares explicavam como parte do esforço coletivo para contornar 
as di� culdades econômicas do momento.
A entrada no país de um grande volume de capitais estrangeiros imediatamente 
evidenciou que o investimento na área de serviço médico-hospitalar privado poderia ser um 
negócio extremamente lucrativo.
Nesse período, a principal razão para o quadro de estagnação social foi o total descaso 
dos governantes com relação às políticas públicas comprometidas com o desenvolvimento social. 
Durante todo o regime militar autoritário, o investimento na área de saúde pública foi precário, 
o saneamento e as políticas de habitação populares foram desprezados, aumentou a pobreza e, 
principalmente, a desigualdade social. A crise brasileira agravou-se após a falência do modelo 
econômico do regime militar, manifestada, sobretudo, no descontrole in� acionário, já a partir do 
� nal dos anos 1970.
O país reconquista a democracia em meio a uma das mais graves crises econômicas 
e sociais de sua história – devido à in� ação de mais de 2000%, foram necessários cortes de 
investimentos e verbas e contenção de salários. 
Nesse cenário, vivenciamos uma grande crise da saúde com hospitais em precário estado 
de funcionamento, di� culdades de encontrar atendimento médico e inúmeras mortes sem 
socorro especializado.
Continua a existência de muitas doenças: tuberculose, doença de Chagas, cólera, dengue 
– con� rmando a permanência histórica do trágico estado da saúde popular.
Não se consegue garantir um planejamento e continuidade na execução da política 
e dos programas, o que permite o alastramento da corrupção e a ine� ciência dos serviços de 
atendimento às necessidades básicas da população.
Com os novos ares da abertura política, os moradores da periferia dos grandes centros 
urbanos começaram a lutar pela melhoria de suas condições de vida. Com a assessoria de padres 
e médicos sanitaristas, foram criados os Conselhos Populares de Saúde, encarregados de obter 
melhor saneamento básico, e houve a criação de hospitais e centros de saúde nas áreas mais 
carentes.
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Temos também a reivindicação de melhores condições de trabalho por parte dos médicos. 
No � nal dos anos 1970, teremos o Movimento Sanitarista, que busca encontrar respostas para os 
dilemas da política de saúde nacional e elabora o documento pelo direito universal à saúde – que 
a� rma que a assistência médico-sanitária é direito do cidadão e dever do Estado.
Ainda teremos a criação do Sistema Uni� cado e Descentralizado de Saúde (SUDS), 
baseado no princípio de integração de todos os serviços de saúde, públicos e particulares – com 
a participação da comunidade na administração das unidades locais.
Buscaram-se formas para que o Estado pudesse ter maior interferência nos serviços 
particulares, com maior � scalização e controle das ações – estes passam a ser complementares 
aos serviços públicos. 
Começa-se a municipalização dos serviços – que traz problemas para a gestão. Surge 
o Sistema Uni� cado de Saúde (SUS), encarregado de organizar, no plano regional, as ações do 
Ministério da Saúde e dos serviços de saúde estaduais e municipais.
1.6 Redemocratização e Direito à Saúde 
A década de 1980 iniciou-se em clima de redemocratização, crise política, social e 
institucional do Estado nacional. A área social e, em especial, a previdência social viviam uma 
crise profunda, assumindo medidas de racionalização e reestruturação do sistema. 
No âmbito da saúde, o movimento da Reforma Sanitária indicava propostas de expansão 
da área de assistência médica da previdência, intensi� cando os con� itos de interesse com a 
previdência social e envolvendo o poder institucional e pressões do setor privado.
Neste contexto, foi realizada a VII Conferência Nacional de Saúde (1980), que apresentou 
como proposta a reformulação da política de saúde.
As ideias reformistas defendidas por diversos grupos de discussão começavam a se 
integrar em uma proposta abrangente de de� nição da política de saúde. Existiam, contudo, 
divergências de postura no encaminhamento das propostas entre os grupos de reformistas, o que 
também in� uiu na condução da política de saúde.
Em 1980, outros mecanismos de reformulação começaram a ser encaminhados. O 
diagnóstico apontava para uma rede de saúde ine� ciente, desintegrada e complexa, indutora de 
fraude e de desvio de recursos.
A partir desse diagnóstico, foram elaboradas propostas operacionais básicas para a 
reestruturação do setor, mas não para desmontagem do sistema.
Temos os princípios básicos para uma política de saúde uni� cada, integrada e 
descentralizada. Essas propostas avançaram na discussão sobre o funcionamento do setor 
previdenciário e sua articulação com a saúde e criaram condições para a discussão sobre a 
democratização e universalização do direito à saúde, especialmente a partir do governo da Nova 
República (BAPTISTA, 2007).
1.7 A Política de Saúde na Nova República
No ano de 1986, o Ministério da Saúde convocou técnicos, gestores de saúde e usuários 
para uma discussão aberta sobre a reforma do sistema de saúde, realizando, assim, a VIII 
Conferência Nacional de Saúde (VIII CNS).
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Essa conferência foi um marco histórico da política de saúdebrasileira, pois, pela primeira 
vez, contava-se com a participação da comunidade e dos técnicos na discussão de uma política 
setorial. A conferência reuniu cerca de 4.000 pessoas nos debates e aprovou, por unanimidade, a 
diretriz da universalização da saúde e o controle social efetivo com relação às práticas de saúde 
estabelecidas.
Após 20 anos de ditadura, conquistava-se o direito à participação; após séculos de 
desassistência, falava-se na de� nição de um modelo protetor com a garantia do direito à saúde 
integral.
No relatório da VIII Conferência, consta:
Saúde como Direito em seu sentido mais abrangente, a saúde é a resultante das 
condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, 
transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços 
de saúde. É, assim, antes de tudo, o resultado das formas de organização social 
da produção, as quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis de vida.
Direito à saúde signi� ca a garantia, pelo Estado, de condições dignas de vida 
e de acesso universal e igualitário às ações e serviços de promoção, proteção 
e recuperação de saúde, em todos os seus níveis, a todos os habitantes do 
território nacional, levando o desenvolvimento pleno do ser humano em sua 
individualidade (CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE, 1986, p. 1).
Esse relatório, com todas as a� rmações nele contidas, serviu como instrumento de 
pressão política no contexto da Nova República. E mais: serviu de referência na discussão da 
Assembleia Nacional Constituinte em 1987/1988, sendo reconhecido como um documento de 
expressão social. 
As propostas da VIII CNS não foram concretizadas de imediato. Após a conferência, 
por iniciativa do MPAS/Inamps, foi constituído o Sistema Uni� cado e Descentralizado de Saúde 
(SUDS), que se apresentou como estratégia ponte na construção do SUS.
Ao mesmo tempo em que o SUDS era implementado, ocorria a discussão da Assembleia 
Nacional Constituinte de 1987/1988. Nela, o relatório da VIII CNS foi tomado como base para a 
discussão da reforma do setor de saúde, e o SUS foi � nalmente aprovado.
O debate constituinte foi acirrado e revelou resistências por parte dos prestadores de 
serviço privado do setor de saúde e da medicina autônoma, além de con� itos de interesses 
entre os reformistas atrelados ao Ministério da Saúde e os reformistas da previdência social. As 
disputas de interesse não foram su� cientes para barrar a aprovação do SUS e seus princípios, mas 
impediram a de� nição de algumas políticas importantes para o processo de implementação. Esse 
fórum reuniu parlamentares na de� nição de uma nova Carta Constitucional para o Brasil.
A nova carta surgia no contexto político da redemocratização e tinha a intenção explícita 
de a� rmar o compromisso com políticas mais justas e igualitárias. A Constituição foi aprovada 
em 5 de outubro de 1988 e ganhou a denominação “Constituição Cidadã”.
Após a legalização do SUS, em 1988, buscou-se de� nir, em novas leis, assim como em 
portarias do Ministério da Saúde, regras para garantir o � nanciamento do setor e a regulação do 
setor privado e demais pontos da política.
Tem-se, a seguir, um resumo da História das Políticas Públicas:
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HISTÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL
ASPECTOS HISTÓRICOS
- Saúde como simples ausência de doença;
- Ações de assistência à saúde voltada para as epidemias;
- Assistência à saúde apenas para quem tinha carteira assinada e contribuía 
com a previdência;
- Ações de saúde como “favor” dos políticos.
DIVISOR DE ÁGUAS: 1988 – CONSTITUIÇÃO CIDADÃ
- Saúde como direito do cidadão e dever do Estado; 
- Acesso universal à assistência à saúde;
- Saúde como completo bem-estar físico, psíquico e social;
- Saúde como política pública;
- Foco na prevenção e promoção de saúde.
Para entendermos a história das políticas de saúde em nosso país, 
assista ao documentário Políticas de Saúde no Brasil: um século 
de luta pelo direito à saúde. Nesse documentário, você, aluno, vai 
perceber como as políticas de saúde se articularam com a história 
política brasileira e entender como a constituição do SUS é um 
grande avanço para a assistência à saúde em nosso país. Disponível 
em: https://www.youtube.com/watch?v=YmUsYSpi-GQ. Acesso em: 14 jan. 2020. 
Figura 2 - Políticas de Saúde no Brasil. Fonte: En(cena) (2020).
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2. SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
2.1 Os Avanços da Constituição Federal de 1988
As bases da implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) estão garantidas na Constituição 
Federal de 1988, especi� camente do Art. 196: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, 
garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de 
outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção 
e recuperação”.
Com isso, temos a reformulação do conceito de assistência à Saúde, que não signi� ca mais 
apenas assistência médico-hospitalar curativa ou preventiva, mas sim é resultado de políticas 
públicas do governo. Desse modo, consegue abarcar a amplitude do conceito de saúde.
Dessa forma, a Saúde deixou de ser considerada uma contraprestação para ser considerada 
um direito público subjetivo do ser humano. E, talvez, o principal avanço: Saúde passa a ser um 
direito universal, ou seja, todos têm direito e não apenas quem contribui com a previdência, 
como acontecia até então no país.
Além disso, percebemos a mudança de paradigma, no sentido da assistência prestada, 
pois, a partir daí, o enfoque estará em ações de prevenção, o que também signi� ca um grande 
avanço assistencial.
2.2 Princípios e Diretrizes do SUS
Os princípios e diretrizes do SUS constituem as bases para o funcionamento e organização 
do sistema de saúde, a� rmando direitos conquistados historicamente pelo povo brasileiro e o 
formato democrático, humanista e federalista preconizado para a sua existência.
A base legal do SUS é constituída fundamentalmente por três documentos que expressam 
os elementos básicos que estruturam e organizam o sistema de saúde brasileiro: 
- A Constituição Federal de 1988, segundo a qual a saúde é um dos setores que estruturam 
a seguridade social, ao lado da previdência e da assistência social.
- A lei 8.080, de 19 de setembro de 1990, que dispõe sobre a organização e regulação das 
ações e dos serviços de saúde em todo o território nacional.
- A lei 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que estabelece o formato da participação 
popular no SUS e dispõe sobre as transferências de recursos � nanceiros na área da saúde.
Além disso, há diversas normatizações, decretos, portarias e medidas provisórias que 
atualizam, alteram ou revisam aspectos organizacionais e operacionais do sistema.
De acordo com Matta (2007), para de� nir os princípios do SUS, entendemos que “[...] 
os princípios são aqueles que servem de base, alicerce, para o sistema de saúde” brasileiro; em 
contrapartida e ao mesmo tempo, tais princípios representam os valores, os preceitos, as bandeiras 
de luta que sustentam o sistema de saúde. 
Assim, para atender aos objetivos preconizados, a estruturação do SUS segue alguns 
princípios e diretrizes, que são fundamentais para a sua organização, de forma que temos os 
seguintes princípios:
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1. UNIVERSALIDADE: o artigo 196 da CF a� rma que “[...] a saúde é direito de todos e 
dever do Estado”. Isso signi� ca dizer que a saúde é um direito e não um serviço ao qual 
se tem acesso por meio de uma contribuição ou pagamento de qualquer espécie. Assim, 
todos os cidadãos brasileiros têm direito à atenção à saúde.
2. EQUIDADE: o princípio da equidade é fruto de um dos maiores e históricos problemas 
do país: as iniquidades sociais e econômicas. Essas iniquidades levam a desigualdades no 
acesso, na gestão

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