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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS ESCOLA DE CIÊNCIAS HUMANAS, JURÍDICAS E SOCIAIS FACULDADE DE FILOSOFIA DANIEL AUGUSTO DA SILVA FILIPE LOPES DE RAMOS NELSON LAZARO CARDOSO NETO RAFAEL BUENO PORFÍRIO DAS CHAGAS RIVALDO DE CARVALHO REZENDE MORADORES EM SITUAÇÃO DE RUA: UM PROBLEMA FILOSÓFICO E SOCIAL CAMPINAS 2023 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS ESCOLA DE CIÊNCIAS HUMANAS, JURÍDICAS E SOCIAIS FACULDADE DE FILOSOFIA DANIEL AUGUSTO DA SILVA FILIPE LOPES DE RAMOS NELSON LAZARO CARDOSO NETO RAFAEL BUENO PORFÍRIO DAS CHAGAS RIVALDO DE CARVALHO REZENDE MORADORES EM SITUAÇÃO DE RUA: UM PROBLEMA FILOSÓFICO E SOCIAL Trabalho apresentado à disciplina Projeto Integrador: Ser humano e filosofia da Faculdade de Filosofia Pontifícia Universidade Católica de Campinas sob a orientação do Prof. Dr. Luiz Gabriel Provinciatto para obtenção de Créditos CAMPINAS 2023 2 INTRODUÇÃO Moradores em situação de rua: uma questão filosófica e social A sociedade atual é envolvida por diversas novidades a cada dia, principalmente no que tange o mundo digital. Muito tem se falado das realidades virtuais, porém, não deve ser deixada de lado a realidade existente no contexto do presente desta mesma sociedade. A “robotização” do humano, termina em esfriar as relações e tornar as pessoas mais insensíveis aos outros seres humanos. Neste sentido, vale aprofundar tal problemática que atinge diretamente os moradores em situação de rua. A problematização dos moradores em situação de rua é um tema de extrema importância e complexidade na sociedade moderna. Viver nas ruas implica diversos desafios, como a falta de acesso à habitação, à saúde, à segurança, entre outros. Essa problemática remete a uma reflexão sobre a existência do ser humano e seu modo de sobrevivência. Esse problema social envolve questões econômicas, políticas e culturais, que afetam a vida dessas pessoas enquanto indivíduos e integrantes de uma comunidade. Nesse sentido, a filosofia pode ser uma importante ferramenta para entender e enfrentar essa problemática, e o filósofo Marco Túlio Cícero é uma referência importante para pensar a respeito. A situação de rua é um problema que envolve uma série de fatores, como a pobreza, a violência, a falta de oportunidades e a falta de acesso aos serviços básicos de saúde e educação. Muitos desses indivíduos, acabam nas ruas por questões relacionadas ao desemprego, ao alcoolismo, uso de drogas e/ou problemas de saúde mental. Contudo, não se pode afirmar que todas as pessoas em situação de rua estejam nessas condições, visto que há uma diversidade de histórias e trajetórias que levam a essa situação. Para compreender a problemática dos moradores em situação de rua, a filosofia de Marco Túlio Cícero pode ser uma importante ferramenta de reflexão. Cícero viveu no século l a.C. e sua obra é marcada pela preocupação com as questões sociais e políticas de sua época. Em sua obra "Sobre as Obrigações", ele defende a importância da justiça social e da caridade, como formas de aliviar o sofrimento dos mais necessitados e de garantir um convívio mais justo e equitativo entre todos os cidadãos de uma comunidade. Assim, ao refletir sobre a problemática dos moradores em situação de rua, pode-se ver a importância da justiça social em uma sociedade mais justa e humana. O filósofo defendia que 3 a caridade é um dever de todos e que a comunidade deve se esforçar para garantir as condições mínimas de sobrevivência para aqueles que vivem em situações precárias. Além disso, Cícero também chama atenção para a importância da educação e formação dos indivíduos, que são pilares essenciais para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Quando se fala dos moradores em situação de rua, se fala de uma questão complexa e multifacetária que pode ser compreendida a partir de diversas perspectivas, como a econômica, política, social e filosófica. A reflexão sobre o tema a partir das obras de Marco Túlio Cícero pode trazer importantes contribuições, no sentido de mostrar que a caridade e a justiça social são valores essenciais para construir uma sociedade mais justa e equitativa. Assim, é preciso pensar em políticas públicas eficazes e em ações de solidariedade que possam ajudar a amenizar o sofrimento dessas pessoas, garantindo-lhes o acesso aos direitos básicos e as condições necessárias para uma vida digna. Contudo vale recordar que a problemática dos moradores em situação de rua é uma realidade social presente em diversas cidades no mundo. Cícero pode ser uma importante referência para abordar a problematização da situação de rua. Em sua obra sobre a Persona, Cícero traz reflexões interessantes sobre a ideia de máscaras sociais que as pessoas usam para se apresentar ao mundo. A Persona seria o papel social que cada um de nós desempenha, as máscaras que usamos para nos adequar às expectativas sociais. E é interessante pensar em como isso se relaciona com a realidade dos moradores de rua, que muitas vezes são vistos apenas como pessoas "sem-teto" ou "mendigos". Ao desconsiderar a Persona dessas pessoas, está não apenas ignorando a complexidade de suas experiências, mas também perpetuando estereótipos e preconceitos sobre a situação de rua. Por isso, a obra de Cícero pode ser uma importante ferramenta para trazer uma perspectiva mais ampla e humana para o debate sobre moradores em situação de rua. Ao entender que cada pessoa é uma Persona complexa, que vai além da etiqueta de "morador em situação de rua", pode-se passar a pensar em soluções mais efetivas para ajudar essas pessoas a reconstruírem suas vidas. Além disso, a obra de Cícero lembra da importância de olhar para além das aparências e buscar compreender os indivíduos em sua totalidade. Isso pode ser especialmente importante no caso dos moradores de rua, que muitas vezes são estigmatizados e marginalizados pela sociedade. Pode-se concluir que a obra de Cícero sobre a Persona é uma importante referência para abordar a problematização dos moradores em situação de rua. 4 MORADORES EM SITUAÇÃO DE RUA: UM PROBLEMA FILOSÓFICO E SOCIAL A vida humana é um dos elementos mais estudados ao longo da história, desde o seu surgimento, maneiras de compreendê-la e conservá-la. Todavia, a evolução, progresso e conquistas do ser humano é acompanhado de tantas contradições. Enquanto se prioriza o avanço e novas descobertas, muitas vezes deixa-se ou esquece o arcabouço cultural do humano. Um exemplo claro é a modernidade, onde o digital conseguiu imperar em todos os espaços e lugares, porém, ao mesmo tempo, em contrapartida, conseguiu desvalorizar a identidade humana. Para compreender a essência da existência humana, é preciso considerar os valores e princípios que guiam as pessoas, como a necessidade de pertencimento, de integração social, de amor e cuidado, de segurança e proteção, de realização e autoestima. É preciso que as políticas públicas voltadas para a população em situação de rua considerem tais valores e princípios e trabalhem no sentido de assegurar que essas pessoas tenham acesso a serviços básicos como moradia, alimentação, trabalho, saúde e educação. É vital compreender que a situação de rua não é apenas uma questão de falta de dinheiro ou de suporte do Estado, mas, também uma questão de saúde mental, relações familiares, valores e muitas outras questões que afetam a vida de cada indivíduo que vive nessa situação. A pessoa em situação de rua não é uma "coisa" ou um objeto social, mas sim um ser humano, um indivíduo com sua própria história, sua própriaidentidade, possuindo sentimentos, emoções, desejos e anseios. A melhor forma de se aproximar dos moradores em situação de rua, é ouvir e compreender suas histórias de vida, como elas se sentem inseridas nessa realidade, reconhecer sua humanidade e oferecer a elas o apoio necessário para que possam reconstruir suas vidas. É fundamental olhar para além das questões financeiras e sociais e levar em conta as perspectivas pessoais, emocionais e espirituais de cada indivíduo envolvido nesse contexto. A abordagem da situação de rua, precisa se basear em uma compreensão holística e humanizada, que considere todos os aspectos envolvidos na vida dessas pessoas. Isso significa entender que a vida na rua é apenas um sintoma de problemas mais profundos, que precisam ser abordados de maneira mais ampla para que seja possível construir uma sociedade mais igualitária e justa para todos. Desde a antiguidade, o filósofo Marco Túlio Cícero trouxe contribuições significativas para a compreensão da natureza humana e a reflexão sobre a sociedade e suas diferentes formas de organização. Em suas obras, Cícero abordou diversos aspectos da vida em sociedade, 5 inclusive no que diz respeito à construção da persona ou da máscara social. Como podemos notar em diversas citações em suas obras como por exemplo: "A pessoa de bem não se julga sábia mas esforça-se por sê-lo" - De Officiis Livro I ou então "Para mim a persona é a máscara da eloquência; ela é o emprego da linguagem uma utilização específica da fala que está focada no que deve ser dito como deve ser dito e quando deve ser dito com o único objetivo de influenciar o auditório." - Marco Túlio Cícero "De Oratore" A persona é a máscara que o indivíduo usa para se apresentar ao mundo, para mostrar- se socialmente aceitável, ocultando aspectos de sua verdadeira personalidade. Ao trazer essa visão sobre a persona, Cícero nos convida a refletir sobre como os moradores em situação de rua constroem suas próprias máscaras para sobreviver em uma sociedade que muitas vezes os excluem e os marginaliza. Essas máscaras são construídas não apenas para proteger-se de possíveis agressões, mas também para obter ajuda de estranhos e fortalecer relações sociais em contextos adversos. A construção da persona ou da máscara social pelos moradores em situação de rua pode ser observada em suas estratégias diárias de sobrevivência. Eles se vestem de maneira específica, com roupas velhas, rasgadas ou sujas, criando uma imagem de abandono e pobreza que apela à compaixão das pessoas. Além disso, muitos moradores em situação de rua criam histórias fictícias sobre sua vida para convencer pessoas a ajudá-los. Cícero também defendia a importância do respeito e da dignidade humana, valores que são frequentemente violados no caso dos moradores de rua. "A constituição da pessoa é mais importante do que a constituição da cidade" - De Republica Livro I Essas pessoas são frequentemente tratadas com desprezo e preconceito, sendo privadas de acesso a serviços básicos como saúde, alimentação e moradia. Ao reconhecer a humanidade desses indivíduos e esforçar para garantir seus direitos, pode-se contribuir para uma sociedade mais justa e igualitária. Outro aspecto importante da obra de Cícero é sua defesa da justiça social. Para o filósofo romano, a justiça consiste em dar a cada um o que lhe é devido, levando em consideração não apenas as leis, mas também as necessidades e aspirações de cada indivíduo. Nesse sentido, 6 pode-se pensar que a justiça social para os moradores de rua, implicaria não apenas em garantir suas necessidades básicas, mas também em reconhecer suas capacidades e potencialidades, oferecendo-lhes oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional. Ao longo de sua vida, Cícero desenvolveu uma rica personalidade que acarretou grande influência em sua época e crescimento de seu legado. Segundo o próprio autor, a persona de Cícero era multifacetada, sofrendo variações de acordo com os contextos sociais e políticos em que ele se encontrava e ao longo do tempo. Em uma de suas obras, Cícero chegou a afirmar que "é preciso mudar de persona mais vezes do que de roupa", indicando sua preocupação em se adequar às situações e, ao mesmo tempo, manter sua integridade moral. Essa multiplicidade de personas de Cícero pode ser vista em diversas obras do autor, como em "As Catilinárias", onde assume a persona de um patriota defensor da República e da lei, e em "De Finibus Bonorum et Malorum", onde apresenta diferentes personas de filósofos para explicar suas ideias. Em "De Amicitia", ele assume a persona do filósofo e reflexiona sobre a amizade, um tema importante em sua vida. Diante disso, é possível compreender que a persona de Cícero é um exemplo de manter uma identidade autêntica e, ao mesmo tempo, ser flexível suficiente para se adequar a diferentes contextos sociais e políticos. Além disso, ela exemplifica a importância de se pautar em princípios éticos e morais sólidos para a formação de líderes comprometidos com a justiça e a liberdade. Pode-se ainda mencionar a ideia de Cícero sobre a importância da solidariedade e da participação cívica. Para o filósofo, a vida em sociedade exige que cada um de nós se preocupe com o bem-estar dos outros, colaborando para a construção de um ambiente mais harmonioso e solidário. Essas máscaras são, portanto, uma forma de sobrevivência em um ambiente hostil e desigual que exclui os mais pobres. Elas possibilitam uma maior capacidade de adaptação à vida nas ruas, ajudando a construir laços de solidariedade com outros moradores em situação de rua e com pessoas que oferecem ajuda. No entanto, isso não deixa de ser uma forma de opressão e exploração, pois obriga essas pessoas a esconderem sua verdadeira identidade para se adequar aos padrões sociais, constroem suas próprias máscaras para sobreviver em uma sociedade que muitas vezes os exclui e os marginaliza. A partir das reflexões trazidas por Cícero e da observação da construção das máscaras sociais pelos moradores em situação de rua, é 7 possível perceber que a sociedade precisa repensar suas estruturas de exclusão, para que não seja necessário que as pessoas criem estratégias de sobrevivência extenuantes. A problemática dos moradores em situação de rua é um assunto complexo e delicado, que precisa ser discutido a partir de diferentes perspectivas. Uma dessas perspectivas pode ser a filosófica, que convida a refletir sobre questões éticas, políticas e sociais relacionadas a essa situação. Nesse sentido, o filósofo romano Marco Túlio Cícero pode ser uma referência interessante para pensar sobre a condição dos moradores de rua. Cícero foi um dos principais pensadores da Roma antiga, tendo se destacado por suas reflexões sobre a moralidade, a justiça e a política. Em sua obra, pode-se encontrar elementos que ajudam a refletir sobre a situação dos moradores de rua, especialmente a partir da criação de uma persona. A partir da reflexão sobre a obra de Marco Túlio Cícero, pode-se verificar que os moradores em situação de rua precisam de uma atenção especial da sociedade, não apenas porque são vítimas de uma série de violações de direitos, mas também porque são parte integrante da comunidade. Nesse sentido, é necessário enfrentar o preconceito e a invisibilização dessas pessoas, criando uma persona que permita enxergá-las como seres humanos com necessidades, potencialidades e direitos. Para isso, é importante que sejam implementadas políticas públicas que garantam o acesso dos moradores de rua a moradia, saúde, alimentação e educação, bem como oportunidades de capacitação e inserção no mercado de trabalho. Além disso, é fundamental que se promova uma cultura de solidariedade e participação cívica, que permita uma convivência mais harmoniosa e justa entre todos os membros da sociedade.A reflexão a partir da obra de Cícero é um convite a uma mudança de perspectiva em relação aos moradores em situação de rua, afastando de uma visão estigmatizadora e reforçando a responsabilidade coletiva em relação a esses indivíduos. Além disso, é preciso fortalecer a rede de apoio para que a sociedade como um todo possa se engajar na construção de soluções mais humanas e efetivas para a situação de rua. Isso inclui a participação da sociedade civil, do setor privado e das organizações não governamentais. É fundamental, portanto, que ações governamentais estejam aliadas às ações de todos aqueles que se importam com a causa da erradicação da situação de rua, de forma que possamos construir uma sociedade mais justa e solidária. 8 Moradores em situação de rua e animais: Com base em Cícero. O ser humano é composto de diversas dimensões, sejam elas, espirituais, básicas, intelectual, social etc. Todavia, tais dimensões também são acompanhadas de diversas necessidades, que acompanham a vida humana desde sua concepção até o seu declínio. Atualizando as necessidades mais pertinentes, encontram-se os moradores em situação de rua, que muitas vezes não são reconhecidos e tratados como humanos, por muitos que passam diante desta realidade, dando mais valor aos animais. Para entender essa relação, é importante analisar o pensamento do filósofo Marco Túlio Cícero, principalmente em relação ao afeto e questões sociais e filosóficas. Sob a perspectiva filosófica, uma das referências mais importantes é o pensamento de Marco Túlio Cícero nesse contexto o que Cícero teria a dizer sobre a relação entre pessoas em situação de rua e animais? Para começar, é importante destacar que, na época de Cícero, a relação entre humanos e animais era muito diferente da que se tem hoje. Os animais eram vistos não apenas como seres inferiores, mas também como objetos de uso humano. Eram criados para servir como alimento, meio de transporte, fonte de trabalho e até mesmo de entretenimento. A ideia de que os animais merecem respeito e cuidado por si mesmos, como seres sencientes, ainda estava longe de surgir. No entanto, mesmo nesse contexto, Cícero já manifestava uma preocupação com o bemestar dos animais. Em sua obra "De Legibus", ele escreve que "os animais têm um direito natural, e o homem não tem o poder de afligi-los sofrimento sem motivo". Essa era uma posição avançada para a época, que valorizava a virtude e a empatia também em relação aos animais. Ao mesmo tempo, porém, Cícero não via a relação entre humanos e animais como um encontro de iguais. Em outro livro, "De Officis, ele escreve que o homem é superior aos animais não apenas em capacidades físicas e cognitivas, mas também em virtude moral. "A diferença entre o homem e o animal é comparável à que existe entre a alma e o corpo", escreveu Cícero. Nessa perspectiva, a relação entre humanos e animais deveria ser guiada pela razão e pela benevolência, mas não pela igualdade. Trazendo à questão dos moradores em situação de rua e animais, é possível extrair de Cícero algumas ideias que podem ajudar a enxergar essa relação de uma forma mais rica e empática. Por um lado, Cícero valorizava o afeto e a companhia que os animais podem fornecer aos humanos. Ele próprio tinha um cachorro de estimação, que menciona em algumas de suas cartas. Para Cícero, a convivência com os animais podia representar uma fonte de alegria e conforto para os seres humanos. 9 Por outro lado, Cícero também defendia que a relação entre humanos e animais deveria ser guiada pelo respeito e cuidado mútuo. Isso significa que, se os moradores em situação de rua desejam ter animais como companheiros, é importante que eles estejam em condições adequadas de serem cuidados e não sofrerem. Além disso, o cuidado com os animais não deve ser visto como um caminho para a exploração ou a negligência de outras necessidades humanas, como o acesso a abrigo, comida e saúde. A relação entre humanos e animais é sempre atravessada por questões sociais e políticas. Os moradores em situação de rua enfrentam desafios que vão além da falta de um lar, como a discriminação, a falta de acesso a serviços públicos e o preconceito. Nesse contexto, os animais podem desempenhar um papel importante como fonte de apoio emocional e afeto, mas também como alvo de preconceitos e violências. Por isso, é fundamental que sejam criadas políticas públicas que busquem valorizar e proteger tanto os moradores em situação de rua quanto os animais que lhes fazem companhia. A relação entre moradores em situação de rua e animais é um tema complexo que requer uma reflexão cuidadosa e multidisciplinar. A obra de Marco Túlio Cícero pode ajudar a pensar essa relação de afeto, respeito e cuidado mútuo. Mas cabe ao humano como ser pensante e a sociedade, garantir que essa relação seja guiada pelos valores de justiça, empatia e solidariedade. Nessa perspectiva, a relação entre humanos e animais deveria ser guiada pela razão e pela benevolência, mas não pela igualdade. Cícero, enfatiza a importância da empatia na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. É preciso exercer a capacidade de sentir a dor e o sofrimento do outro, independentemente de sua condição social ou posição na sociedade, é o que torna os humanos mais humanos. Pode até parecer redundante, mas a prática faz toda diferença. Por isso vale questionar se a ligação com os animais não se tornou uma forma de fuga da realidade e de nossas responsabilidades sociais, pois cuidar de um cachorro ou gato é mais fácil do que enfrentar as problemáticas sociais que envolvem os moradores em situação de rua. A empatia pode ser a chave para transformar a realidade dessas pessoas e lidar com os outros seres humanos em entorno da realidade social em que estão inseridos, com mais afeto e compaixão. Cícero destacou que a virtude deve ser praticada não apenas em relação a alguns indivíduos, mas em relação a toda a humanidade. Isso significa que é necessário enxergar a humanidade não como uma massa homogênea, mas sim como um conjunto diverso e multifacetado de pessoas, todas com necessidades e desejos diferentes, mas igualmente merecedoras de respeito e dignidade. Portanto, a ligação do morador em situação de rua e a valorização dos animais nos dias atuais deve ser um alerta para a necessidade de olhar com mais 10 empatia e atenção para aqueles que sofrem com a exclusão social. Somente através da construção de uma sociedade mais justa e igualitária, pode-se relacionar com todos os seres humanos com respeito e afeto que eles merecem. 11 CONCLUSÃO O problema existencial do Ser sempre foi uma discussão que atravessa gerações dentro do campo metafísico. Esse desafio filosófico remete às clássicas perguntas: “O que é o Ser?”, “O que é o existir?”, “Qual é a essência da realidade?” Essas inquietações universais são o centro das “preocupações” filosóficas. Mas enfim, como podemos definir o Ser? Pode-se definir o Ser como tudo aquilo que existe ou que possa existir. Outra questão importantíssima a se discutir é: O que é o Homem? Ou quem é o Homem? Numa visão crítica/filosófica talvez seja uma afirmativa dizer que o Homem é um ser individual, logótico, que tenta se compreender por meio do outro, da dialética, e da contemplação de si mesmo. Pela força atuante do homem a sociedade tem se modificado muito com o passar dos tempos, e o próprio homem precisou se adaptar à essas mudanças se revestindo das tais máscaras que dizia o filósofo grego Marco Túlio Cícero. As modificações que aconteceram com o passar dos anos fizeram com que discussões intrigantes e talvez ainda não discutidas surgissem com força significativa. Os exageros dos cuidados com os pet’s têm gerado questionamentossobre a desumanização do ser humano e a humanização do animal, e com isso surge uma expressão chamada de família multiespécie. Existe um projeto de lei de n° 179/23 que defende a causa de direitos dos animais e regulamenta o conceito da família formada por um núcleo humano em convivência compartilhada com seus animais. Ora, se o ser humano é desumanizado, ele perde os direitos de ser protegido pelas leis que favorecem a nossa espécie. Ao longo deste trabalho, foi possível compreender o contexto dos moradores em situação de rua e a problemática que envolve essa questão social. A partir dessa reflexão, utilizamos a perspectiva do filósofo Marco Túlio Cícero, que criou o conceito de Persona como forma de refletir sobre a construção da identidade humana, a partir das escolhas e das ações que cada indivíduo toma. Nesse sentido, a realidade dos moradores em situação de rua é complexa, e não pode ser reduzida a uma única dimensão. Cada um desses indivíduos tem uma história de vida única, com escolhas e experiências que moldam sua identidade. Além disso, suas trajetórias são marcadas por diversas adversidades, como a falta de acesso a serviços básicos de saúde e educação, a discriminação e o estigma social. No contexto abordado no desenvolvimento é importante que a sociedade como um todo desenvolva uma visão mais humanizada e acolhedora com relação aos moradores em situação de rua. É preciso que sejam oferecidas políticas públicas que permitam a essas pessoas se reconstruírem e reinventarem suas personas, tendo acesso a moradia, trabalho e dignidade. Em suma, a reflexão proposta pelo filósofo Marco Túlio Cícero nos permite entender a importância da construção da identidade humana, mas também nos leva a pensar sobre a necessidade de uma abordagem mais empática e sensível com relação aos moradores em situação de rua. É preciso buscar soluções que possa ajudá-los a superar as adversidades que enfrentam e a construir uma nova narrativa para suas vidas. 12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SANTOS, José Trindade. Existir e Existência em Platão: Universidade de Lisboa, 2004. p. 38-58 CÍCERO, Marco Túlio. Dos Deveres (De Officiis), Curitiba: Edipro, 2000 CÍCERO, Marco Túlio. Da República, São Paulo: Editora Nova Cultura Ltda,1988. p. 137153. CÍCERO, Marco Túlio. Sobre as obrigações. Tradução de Paulo Henrique Faria Nunes. São Paulo: Editora Martin Claret, 2017. PLEGER, Wolfgang. Manual de antropologia filosófica, Do Conceito de Pessoas: Editora Vozes,2008. p. 285-297 CÍCERO Marco Túlio. De oratore. Tradução de Márcio Pugliesi 1. ed. São Paulo: Edições Loyola 2001.
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