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CULTURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA QUESTIONÁRIO UNIDADE II

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· Pergunta 1
0,3 em 0,3 pontos
	
	
	
	Acerca do conceito de identidade social, o antropólogo Roberto DaMatta (1985, p. 15) – no livro “O que faz o brasil, Brasil?” – explica que: “Se a condição humana determina que todos os homens devem comer, dormir, trabalhar, reproduzir-se e rezar, essa determinação não chega ao ponto de especificar também que comida ingerir, de que modo produzir, com que mulher (ou homem) acasalar-se e para quantos deuses ou espíritos rezar. É precisamente aqui, nessa espécie de zona indeterminada, mas necessária, que nascem as diferenças e, nelas, os estilos, os modos de ser e estar, os ‘jeitos’ de cada qual”. A partir dessa leitura, é correto afirmar que:
 
I. A identidade social é universal, uma vez que todos comem, dormem, trabalham etc.
II. A identidade social tem a ver com as maneiras pelas quais cada grupo humano consegue pôr em prática algumas das possibilidades de atualizar o que a condição humana apresenta como universal; daí as maneiras de comer, de rezar, de dormir etc. de cada qual.
III. O conceito de identidade está ligado ao dado de que é a sociedade que nos dá a fórmula pela qual traçamos certos perfis e fazemos desenhos mais ou menos exatos de nós mesmos.
IV. A identidade dos sujeitos e dos grupos se forma a partir das condições históricas e culturais – condições que não escolhemos, pois quando nascemos o mundo já está “pronto” para nos receber em um determinado grupo familiar e social, com uma língua usada por todos e com um conjunto de regras, hábitos e tradições utilizadas; ou seja, uma cultura.
 
É correto o que se afirma em:
	
	
	
	
		Resposta Selecionada:
	e. 
II, III e IV apenas.
	Respostas:
	a. 
I apenas.
	
	b. 
II apenas.
	
	c. 
III apenas.
	
	d. 
I, II e III apenas.
	
	e. 
II, III e IV apenas.
	Comentário da resposta:
	Resposta: E
Comentário: É correto o que se afirma em II, III e IV. A afirmativa I está incorreta, pois a identidade social tem mais a ver com condições históricas e culturais do que com determinações universais. Como escreve o antropólogo, as condições humanas determinadas – como comer, dormir, trabalhar – não chegam ao ponto de especificar que comida ingerir nem como se deve comer. Daí que seja razoavelmente fácil distinguir um brasileiro e sua comida, bem como seu jeito de comer, do indiano, por exemplo, e de sua comida e seu jeito de comer. As sentenças II, III e IV caminham nessa direção argumentativa acerca do conceito de identidade social.
	
	
	
· Pergunta 2
0,3 em 0,3 pontos
	
	
	
	Quando Darcy Ribeiro, em O povo brasileiro, fala em uma “etnia nova” para se referir ao brasileiro que surgia da ninguendade, é preciso considerar o seguinte: o protobrasileiro – filho da índia, gerado por um estranho, branco ou preto – se perguntaria quem era, se já não era índio nem branco ou preto. Esse brasilíndio, assim como o crioulo, nascido na terra nova, racialmente puro ou mestiçado que, sabendo-se não africano como os negros que via chegando, e sabendo-se também não branco nem índio e seus mestiços, foram assim desafiados a sair da ninguendade para construírem sua própria identidade étnica. O surgimento de uma etnia brasileira, explica o antropólogo, passa tanto pela “anulação das identificações étnicas de índios, africanos e europeus, como pela indiferenciação entre as várias formas de mestiçagem, como os mulatos (negros com brancos), caboclos (brancos com índios) ou curibocas (negros com índios)” (RIBEIRO, 2006, p. 119). Nesse contexto, a noção teórica da ninguendade nos indica que:
	
	
	
	
		Resposta Selecionada:
	d. 
O brasileiro surge de um processo de desidentificação com suas matrizes étnico-culturais.
	Respostas:
	a. 
O brasileiro surge de uma identificação plena com suas matrizes étnico-culturais.
	
	b. 
O brasileiro surge da afirmação de uma matriz étnico-cultural em prejuízo da outra.
	
	c. 
O brasileiro surge da invenção de uma etnia pura, a brasileira.
	
	d. 
O brasileiro surge de um processo de desidentificação com suas matrizes étnico-culturais.
	
	e. 
O brasileiro surge de uma pacificação plena da mestiçagem.
	Comentário da resposta:
	Resposta: D
Comentário: É correto o que se afirma na alternativa D. Darcy Ribeiro fala em “ninguendade” para dizer que o povo brasileiro, fruto de um processo mais amplo de transfiguração étnica, surge de uma espécie de desidentificação com suas matrizes culturais: a matriz tupi, a lusa e a afro. Darcy Ribeiro chega mesmo a dizer que o “zé ninguém mulato” – filho do branco com o negro – e o “zé ninguém mameluco” – filho do branco com o índio – se conjugaram para formar os brasileiros, de modo que é da ninguendade que este “povo novo” pode sair para virar outra coisa, que não é índio nem africano, nem europeu, é brasileiro.
Não se pode afirmar (alternativa A) que o brasileiro surge de uma identificação plena com suas matrizes originais; como explica o autor, o brasileiro surgia dos tijolos dessas matrizes, enquanto elas iam sendo desfeitas... Tampouco se pode afirmar (alternativa B) que o brasileiro surge da afirmação de uma matriz em detrimento da outra; fosse assim e nós seríamos portugueses, índios ou africanos; e não brasileiros. O que se coloca na alternativa C é um equívoco. Não existe uma pureza étnico-cultural em qualquer que seja o grupo. Todos os povos, em maior ou menor grau, são resultado do encontro de culturas e povos diversos. Já o que se coloca na alternativa D está incorreto porque falar em pacificação plena da mestiçagem é ocultar, historicamente, os violentos processos de deculturação dos povos indígenas e africanos; bem como a violência que atravessava, propriamente, o intercruzamento sexual desses contingentes humanos dominados pelo brando europeu no Brasil.
	
	
	
· Pergunta 3
0,3 em 0,3 pontos
	
	
	
	Darcy Ribeiro (2006), em O povo brasileiro, nos faz refletir sobre o que teria sido o primeiro encontro, lá em 1500, entre os índios que aqui viviam e o português que chegava no litoral. Esse entrechoque cultural, com o passar dos tempos, levou o português a perceber que os índios eram vadios, vivendo uma vida inútil e sem prestança. Aos olhos dos índios, os oriundos do mar/oceano pareciam aflitos demais. Eles não entendiam o comportamento dos portugueses preocupados em juntar toras de pau vermelho, por exemplo. E, provavelmente, maiores teriam sido as esperanças do que os temores daqueles primeiros índios em relação aos portugueses. Tanto é que muitos deles embarcaram confiantes nas primeiras naus, crendo que seriam levados à Terra sem Males, morada de Maíra, o deus Sol, o criador... Enquanto viravam produto de exportação para a metrópole. Muitos índios fugiram, morreram graças às pestes trazidas pelos brancos, mas cada nova geração queria ver com seus próprios olhos o povo estranho, implantado nas praias, recebendo navios cheios de bens preciosíssimos. Com base nesse contexto, é correto afirmar que:
 
I. Esse encontro entre a “selvageria” e a “civilização” revela como, por exemplo, índios se aculturaram nos modos de ser do português, enquanto ocorria uma destruição das bases da sua vida social – uma deculturação fortíssima.
II. O encontro entre índios e portugueses resultou na dominação do segundo sobre o primeiro, que foi escravizado e teve seu povo dizimado pelas pestes que o branco trazia no corpo.
III. O português tinha a cultura da cristandade católica e uma tecnologia avançada (a nau oceânica, com suas velas de mar alto, seu leme fixo, sua bússola, seu astrolábio e, sobretudo, seu conjunto de canhões de guerra); já o índio não tinha cultura, pois acreditava em outros deuses e eram vadios.
 
É correto o que se afirma em:
	
	
	
	
		Resposta Selecionada:
	b. 
I e II, apenas.
	Respostas:
	a. 
I apenas.
	
	b. 
I e II, apenas.
	
	c. 
II, apenas.
	
	d. 
III, apenas.
	
	e. 
II e III, apenas.
	Comentário da resposta:
	Resposta: B
Comentário: É correto o que se afirma em I e II. A alternativa III está errada, pois leva a crer, sob argumento preconceituoso e etnocêntrico, que os índios encontrados no Brasil, por serem diferentes do europeu,não eram dotados de cultura; se entendermos que o conceito de cultura indica os modos de ser e de fazer de cada qual, não faz sentido argumentar que os índios não tinham cultura simplesmente porque acreditavam em deuses diferentes do Deus do branco europeu ou porque, aos olhos deste último, seriam vadios. Em I e II acentua-se o aspecto de dominação do branco sobre o índio, tanto num nível biótico (o que Darcy Ribeiro chamou de uma guerra bacteriológica que resultou na dizimação dos índios), quanto num nível étnico-cultural (quando coexistem processos de aculturação e deculturação, ou seja, de incorporação de elementos e traços culturais do “outro”, e de destruição das bases da vida social daquele “outro”, no caso o índio, que fora escravizado, dizimado, evangelizado etc.).
	
	
	
· Pergunta 4
0,3 em 0,3 pontos
	
	
	
	Gilberto Freyre, em Casa-grande e senzala (1997), reflete sobre como a sociedade brasileira vai se organizar, tanto economicamente como enquanto civilização a partir da produção agrícola. Passado um século do português em terras brasileiras, havia uma estabilidade patriarcal da família, uma regularidade do trabalho por meio da escravidão, e da união do português com a mulher índia, então incorporada à cultura econômica e social do invasor. Percebe-se que a sociedade que toma forma aqui é agrária em sua estrutura, com mão de obra escrava dos índios, em um primeiro momento, e depois dos negros trazidos da África. Assim, com uma organização política, econômica e jurídica estabelecida pelo povo português, a sociedade brasileira se hierarquizava a partir de famílias proprietárias e autônomas; havia os senhores de engenho e o capelão (hoje conhecido como padre, o representante da religião), que ficavam dentro da casa-grande; e os demais (índios ou negros), os que obedeciam a suas ordens, ficavam de fora. São esses senhores, os donos de terras e de escravos, que defendiam a colônia politicamente; mas serão seus filhos doutores, estudados, que passam a defender os escravos dos abusos cometidos pelos senhores, por Portugal e pela Igreja. Tendo em vista esse contexto histórico analisado por Freyre, é correto o que se afirma em:
 
I. O Brasil se formava dentro de um quadro social sem hierarquias.
II. O Brasil se formava dentro de um quadro rígido de valores discriminatórios.
III. O Brasil se formava sob a dominação dos portugueses brancos e aristocráticos, e por isso nossa sociedade se fez hierarquizada.
IV. O Brasil refletia o ideal de solidariedade entre os povos; e por isso nos fizemos mestiços e sem traços de discriminação racial/social.
 
É correto o que se afirma em:
	
	
	
	
		Resposta Selecionada:
	b. 
II e III, apenas.
	Respostas:
	a. 
I e II, apenas.
	
	b. 
II e III, apenas.
	
	c. 
III e IV, apenas.
	
	d. 
II, apenas.
	
	e. 
III, apenas.
	Comentário da resposta:
	Resposta: B
Comentário: É correto o que se afirma em II e III, apenas. A sentença I está errada, pois o enunciado mostra como o Brasil se fazia, àquela altura de um século depois da “descoberta” do Brasil, um país hierarquizado, ou seja, formado dentro de um quadro rígido de valores discriminatórios impostos pelo português branco e aristocrático (o que está nas afirmativas II e III). A sentença IV está errada, pois o Brasil se instituía sob a escravidão; e não sob um “ideal de solidariedade entre os povos”. Essa instituição escravocrata, embora atravessada por relações afetivas e de intercruzamento, instituiu o Brasil racista e classista que conhecemos hoje.
	
	
	
· Pergunta 5
0,3 em 0,3 pontos
	
	
	
	Sérgio Buarque de Holanda, no livro Raízes do Brasil (1995, p. 145), afirma que: “O Estado não é uma ampliação do círculo familiar e, ainda menos, uma integração de certos agrupamentos, de certas vontades particularistas, de que a família é o melhor exemplo”. E segue dizendo que: “Só pela transgressão da ordem doméstica e familiar é que nasce o Estado [...]”. Seguindo essa linha de raciocínio, é correto afirmar que:
 
I. Para que o Estado exista é necessário que se destrua a instituição familiar.
II. Se na família prevalece um tipo de relação pautada por certas vontades particulares às pessoas, no Estado burocrático, racional e legal, deveria imperar a impessoalidade da lei que serve a todos os indivíduos.
III. O transplante da ordem doméstica à gestão pública faz com que os detentores de posições públicas de responsabilidade tenham dificuldade de compreender a distinção fundamental entre os domínios do privado e do público.
IV. Para o funcionário patrimonial, a própria gestão política apresenta-se como assunto de seu interesse particular.
 
É correto o que se afirma em:
	
	
	
	
		Resposta Selecionada:
	e. 
II, III e IV, apenas.
	Respostas:
	a. 
I, apenas.
	
	b. 
II, apenas.
	
	c. 
III, apenas.
	
	d. 
IV, apenas.
	
	e. 
II, III e IV, apenas.
	Comentário da resposta:
	Resposta: E
Comentário: É correto o que se afirma em II, III e IV, apenas. A sentença I está errada, pois seria um exagero interpretar que Sérgio Buarque de Holanda propôs a destruição da instituição familiar para que o Estado se fizesse possível; o que ele argumenta é que, no Estado burocrático, racional e legal – em que se deveria imperar a impessoalidade da lei –, não deveria prevalecer a lógica doméstica e familiar, uma vez que o transplante da ordem doméstica à gestão pública faz com que os funcionários públicos se tornem funcionários patrimoniais; o funcionário patrimonial, por definição, é aquele que encara a gestão política como assunto de interesse particular. Essa argumentação, disposta em II, III e IV, segue a linha de raciocínio proposta no enunciado.
	
	
	
· Pergunta 6
0,3 em 0,3 pontos
	
	
	
	Quando, supostamente, um presidente da república de um país da América Latina afirma que que pretende beneficiar seu filho ao indicá-lo para o cargo de embaixador nos Estados Unidos. Quando esse presidente associa o cargo a um filé mignon, dizendo que se puder dar um filé mignon ao seu filho, ele dará, podemos compreender, aqui, segundo a leitura de Sérgio Buarque de Holanda – em Raízes do Brasil (1995) – que:
 
I. Os privilégios e os personalismos são absolutamente estranhos às estruturas de poder vigentes nesse país.
II. Há, nesse país, certo predomínio das vontades particulares, dos laços de sangue e de coração, mesmo onde as instituições democráticas, fundadas em princípios neutros e abstratos, pretendem assentar a sociedade em normas antiparticularistas.
III. Há uma ética de fundo emotivo ao se pretender “dar um filé mignon ao filho”, quando o “filé mignon” se remete à embaixada em Washington.
 
É correto o que se afirma em:
	
	
	
	
		Resposta Selecionada:
	d. 
II e III, apenas.
	Respostas:
	a. 
I, apenas.
	
	b. 
II, apenas.
	
	c. 
I e II, apenas.
	
	d. 
II e III, apenas.
	
	e. 
III, apenas.
	Comentário da resposta:
	Resposta: D
Comentário: É correto o que se afirma em II e III, apenas. O cenário descrito na questão evidencia como os privilégios e os personalismos são absolutamente comuns (e não estranhos, como está posto em I) às estruturas de poder desse país; isso porque é o próprio presidente querendo beneficiar seu filho. Daí o predomínio das vontades particulares, dos lações de sangue e de coração sobre as normas antiparticularistas (o que está em II); em III, vemos como há uma ética de fundo emotivo – e não racional, antiparticularista, republicana – ao se pretender dar um cargo (filé mignon) ao filho.
	
	
	
· Pergunta 7
0,3 em 0,3 pontos
	
	
	
	Com o fim da escravidão, no final do século XIX, e sob um processo de modernização pautado por um liberalismo de Estado/mercado, o Brasil vivenciou uma peculiar transição da ordem escravocrata à ordem competitiva. O sociólogo Jessé Souza (2018), no livro Subcidadania brasileira, nos lembra que, ao negro liberto, fora do contexto tradicional, restava o deslocamento social, e os códigos desviantes da norma apareciam-lhe como afirmação de individualidade e até de heroísmo. Isso significa considerar que, no Brasil:
 
I. Ao negro liberto, invariavelmente condenado aosserviços perigosos e humilhantes, os destinos de vagabundo, ladrão ou prostituta ofereciam perspectivas comparativamente maiores.
II. Para o negro, sem a oportunidade de classificação social e inadaptado ao trabalho livre, restavam as franjas marginais do sistema: condições precárias de trabalho, moradia, alimentação, educação etc.
III. O negro fora incorporado à nova sociedade de ordem competitiva sem qualquer problema; ele se tornou um trabalhador assalariado ou um pequeno burguês, assim como, por exemplo, o imigrante italiano.
IV. O negro liberto veio constituir a classe dominante no Brasil.
 
É correto o que se afirma em:
	
	
	
	
		Resposta Selecionada:
	a. 
I e II, apenas.
	Respostas:
	a. 
I e II, apenas.
	
	b. 
III e IV, apenas.
	
	c. 
II e III, apenas.
	
	d. 
I e IV, apenas.
	
	e. 
I e III, apenas.
	Comentário da resposta:
	Resposta: A
Comentário: É correto o que se afirma em I e II, apenas. A nova classe de libertos, composta majoritariamente por negros escravos constituiu uma classe subalternizada pela nova ordem competitiva; isso porque ocorreu uma abolição da escravatura num nível jurídico, mas não num nível psicossocial e econômico. Os negros libertos, abandonados pelos senhores, ficaram deslocados na nova ordem e só tinham oportunidade de trabalhar em funções que lhes lembravam o passado da escravidão. Esquivando-se desse tipo de trabalho e a fim de garantir sua dignidade de homem livre, os destinos de vagabundo, ladrão ou prostituta ofereciam perspectivas maiores. Sendo assim, a esse negro liberto sem oportunidades na nova ordem, restavam as franjas marginais do sistema. O negro liberto e ainda estigmatizado pela cor e por sua condição de abandono não estaria adaptado à nova ordem moderna e competitiva, de modo que a nova classe dominante reorganizou a estrutura da força de trabalho assalariado com a mão de obra do imigrante, e não com a mão de obra dos negros libertos.
	
	
	
· Pergunta 8
0,3 em 0,3 pontos
	
	
	
	O antropólogo Roberto DaMatta (1986, p. 95-97), em O que faz o brasil, Brasil?, elaborou a seguinte tese sobre o “dilema brasileiro”: [...] o dilema brasileiro reside precisamente numa trágica oscilação entre um esqueleto nacional feito de leis universais cujo sujeito [é] o indivíduo e situações onde cada qual [se salva e se despacha como pode], utilizando para isso o seu sistema de relações pessoais. Haveria, assim, um verdadeiro combate entre leis que devem valer para todos e relações que evidentemente só podem funcionar para quem as tem. O resultado é um sistema social dividido e até mesmo equilibrado entre duas unidades sociais básicas [...]”. Considerando essa perspectiva, é correto dizer que essas duas unidades sociais básicas são:
	
	
	
	
		Resposta Selecionada:
	a. 
O indivíduo (o sujeito das leis universais que modernizam a sociedade) e a pessoa (o sujeito das relações sociais, que conduz ao polo tradicional do sistema).
	Respostas:
	a. 
O indivíduo (o sujeito das leis universais que modernizam a sociedade) e a pessoa (o sujeito das relações sociais, que conduz ao polo tradicional do sistema).
	
	b. 
O mameluco, filho do branco com índio, e o mulato, filho do branco com negro.
	
	c. 
O aplicador da lei, o puro burocrata, e o corrupto, o que infringe a lei.
	
	d. 
O patrão, dono dos meios de produção, e o empregado, explorado pelo patrão.
	
	e. 
O rico e o pobre.
	Comentário da resposta:
	Resposta: A
Comentário: É correto o que se afirma em A. Tal como está explícito no próprio enunciado, o dilema brasileiro, segundo o antropólogo, reside entre o universo das leis, cujo sujeito é o indivíduo, e o sistema de relações pessoais de cada qual, cujo sujeito é a pessoa. Portanto, indivíduo e pessoa – nessa perspectiva – são as duas unidades sociais básicas para se compreender o dilema brasileiro. A partir daí, DaMatta irá propor categorias analíticas como a “malandragem” e o “jeitinho brasileiro”.
	
	
	
· Pergunta 9
0,3 em 0,3 pontos
	
	
	
	Em O que faz o brasil, Brasil?, Roberto DaMatta (1986, p. 68) propõe que todas as sociedades alternam suas vidas entre rotinas e ritos, períodos ordinários e extraordinários (festas, crises, acidentes, milagres); “[...] tanto a festa quanto a rotina são modos que a sociedade tem de exprimir-se, de atualizar-se concretamente, deixando ver sua ‘alma’ ou o seu coração”. Acerca das festas, no caso brasileiro, é correto afirmar que:
 
I. Os carnavais são “ritos de reforço” e os chamados “festivais da ordem” são “ritos de inversão”. As festas cívicas e religiosas promovendo a igualdade e a supressão das fronteiras sociais, e os carnavais promovendo, ao contrário, a glorificação e a manutenção dessas fronteiras.
II. O carnaval permite a substituição dos uniformes pelas fantasias. O uniforme cria a ordem – uniformiza. A fantasia – no seu duplo sentido – permite a invenção e a troca de posições na estrutura social.
III. O carnaval é a possibilidade utópica de inverter o mundo em direção à alegria, à abundância, à liberdade e, sobretudo, à igualdade de todos perante a sociedade.
 
É correto o que se afirma em:
	
	
	
	
		Resposta Selecionada:
	c. 
II e III, apenas.
	Respostas:
	a. 
I, apenas.
	
	b. 
II, apenas.
	
	c. 
II e III, apenas.
	
	d. 
III, apenas.
	
	e. 
I e III, apenas.
	Comentário da resposta:
	Resposta: C
Comentário: É correto o que se afirma em II e III. A afirmativa I está errada porque inverte a definição correta. Os carnavais, em verdade, são ritos de inversão e não de reforço. Isso porque os carnavais têm a possibilidade de promover uma sensação de igualdade e supressão de fronteiras sociais – de tal modo que invertem o mundo; no caso das festas cívicas e religiosas, dos desfiles militares, em suma, dos festivais da ordem, há, pelo contrário, uma glorificação dessas fronteiras, papéis e hierarquias sociais; e por isso são considerados ritos de reforço. As sentenças II e III ajudam a compreender essa questão. Em II, vemos uma explicação acerca da função social das fantasias – permitir a invenção (fantasiar) e a troca de posições na estrutura social. Em III, vemos como o carnaval significa esta possibilidade, ainda que utópica, de inverter o mundo em direção à alegria, à abundância, à liberdade e à igualdade de todos perante a sociedade.
	
	
	
· Pergunta 10
0,3 em 0,3 pontos
	
	
	
	Segundo as palavras de Darcy Ribeiro (2006, p. 108), em O povo brasileiro, “todos nós, brasileiros, somos carne da carne daqueles pretos e índios suplicados. Todos nós brasileiros somos, por igual, a mão possessa que os suplicou”. Com isso ele sugere que:
 
I. A doçura e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós a gente mais sentida e sofrida que somos e a gente insensível e brutal, que também somos.
II. Somos descendentes de escravos e de senhores de escravos; e por isso somos servos da malignidade destilada e instalada em nós.
III. Nossa cicatriz de torturador impressa na alma está sempre pronta a explodir numa brutalidade racista e classista.
IV. Somos formados por um triângulo de raças, o que fez com que nos tornássemos uma sociedade solidária e baseada numa democracia racial.
 
É correto o que se afirma em:
	
	
	
	
		Resposta Selecionada:
	e. 
I, II e III, apenas.
	Respostas:
	a. 
I, apenas.
	
	b. 
II, apenas.
	
	c. 
III e IV, apenas.
	
	d. 
IV, apenas.
	
	e. 
I, II e III, apenas.
	Comentário da resposta:
	Resposta: E
Comentário: É correto o que se afirma em I, II e III, apenas. Ao dizer que somos “carne da carne de pretos e índios supliciados”, mas também “a mão possessa que os supliciou”, Darcy Ribeiro nos ajuda a compreender como somos tão doces quanto cruéis (I); ou sevos de uma malignidade instalada em nós (II); essa cicatriz de torturador impressa na alma, como podemos observar no cotidiano, está realmente pronta a explodir numa brutalidade racista e classista (III). A afirmativa IV está errada, pois, ao acentuar a miscigenação do povo brasileiro, sugerindo que a partir dela nos fizemos uma sociedade solidária e baseada numa democracia racial, esconde o verdadeiro racismoestrutural e a indecente desigualdade social e econômica que assola o Brasil.

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