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Gêneros literários
Apresentação
Você sabia que a divisão literária por gêneros teve origem na Grécia Antiga? É a partir da obra 
Poética, de Aristóteles, que a literatura começa a ser teorizada. Hoje, a classificação por gêneros 
literários não obedece, necessariamente, a forma clássica proposta pelos gregos. 
Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai aprender a reconhecer os gêneros literários clássicos e 
suas características, bem como conhecer os estudos dos gêneros literários na atualidade. 
Bons estudos.
Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Reconhecer os gêneros literários e sua classificação clássica.•
Diferenciar a literatura em prosa e em verso, verificando os cruzamentos do poético e da 
narrativa.
•
Comparar os gêneros literários hoje, em especial, a poesia, o romance e o ensaio. •
Infográfico
Segundo Anatol Rosenfeld (1985), os gêneros literários têm determinados traços estilísticos 
fundamentais. Eles servem para compreender a divisão estilística da literatura de maneira ampla e 
didática.
Veja, neste Infográfico, um comparativo entre os gêneros literários clássicos. 
Conteúdo do livro
A divisão literária por gêneros teve origem na Grécia Antiga, com Platão e Aristóteles. Chamada de 
clássica, promoveu a separação dos textos em três grupos. Posteriormente, devido às necessidades 
da sociedade, foram surgindo novos e diferentes gêneros na literatura, como romance, conto, 
poema em prosa e ensaio.
No capítulo Gêneros literários, parte integrante da obra Textos fundamentais de poesia em língua 
portuguesa, você vai aprender um pouco mais sobre a divisão clássica, bem como a respeito das 
especificidades dos textos literários contemporâneos. 
Boa leitura. 
TEXTOS 
FUNDAMENTAIS DE 
POESIA EM LÍNGUA 
PORTUGUESA
Debbie Mello Noble
Gêneros literários
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Reconhecer o que são os gêneros literários e a sua classificação clássica.
 � Diferenciar a literatura em prosa e em verso verificando os cruzamentos 
do poético e da narrativa.
 � Comparar os gêneros literários atuais, em especial a poesia, o romance 
e o ensaio.
Introdução
A divisão literária em distintos gêneros teve origem na Grécia Antiga 
com os filósofos Platão e Aristóteles, ao que ficou conhecida como divi-
são clássica, sendo responsável por esquematizar a separação em três 
gêneros literários: épico, lírico e dramático. Posteriormente, devido às 
necessidades sociais, surgiram novos e diferentes gêneros da literatura, 
como o romance, o conto, o poema em prosa e o ensaio.
Neste capítulo, discutiremos a noção de gêneros literários e a sua 
classificação segundo a divisão clássica já mencionada. Além disso, dife-
renciaremos a literatura expressa em prosa da construída em forma de 
versos, verificando os cruzamentos do poético e do narrativo no que 
denominamos poema em prosa e prosa poética. Por fim, analisaremos 
algumas especificidades dos textos literários contemporâneos, com 
destaque para a poesia, o romance e o ensaio.
Divisão clássica dos gêneros literários
A divisão literária em distintos gêneros teve origem na Grécia Antiga com os 
notórios filósofos Platão e Aristóteles. Platão é o primeiro a abordar a questão 
da mimese, ou seja, da imitação nas obras poéticas, o que é posteriormente 
aprofundado pelo seu aluno Aristóteles na célebre Poética. Nessa obra, Aris-
tóteles desenvolve um tratado sobre as formas de imitação da natureza e do 
mundo pelos poetas, demonstrando as características que os diferentes tipos de 
imitação assumem na poesia épica e na dramática. A lírica, especificamente, 
não é abordada, de forma que só se consolida como parte dos três gêneros 
durante o Renascimento, no qual há uma valorização desse tipo de poesia.
No artigo de Gabriel Nocchi Macedo intitulado “Algumas 
notas sobre Aristóteles e a definição de poesia” é possível 
compreendermos melhor a obra de Aristóteles, um dos fun-
dadores da filosofia ocidental, e qual é a natureza da poesia. 
Acesse o link abaixo ou o código ao lado para conferir o artigo.
https://qrgo.page.link/RwB96
Rosenfeld (1985) reconstrói o texto de Aristóteles com vistas a visualizar 
os indícios da caracterização do que hoje conhecemos como gênero lírico. 
Ele percebe três maneiras de narrar em Poética: 
 � a ligada ao épico, que conta com a ajuda de terceiros para narrar; 
 � a dramática, na qual as próprias personagens estão em ação, sem a 
necessidade de narração; 
 � uma terceira, na qual “se insinua a própria pessoa [do autor], sem que inter-
venha outra personagem” (ROSENFELD, 1985, p. 16), relacionada à lírica.
É importante ressaltarmos que a teoria clássica dos gêneros, herdada de Platão e 
Aristóteles, atualmente é muito utilizada como uma divisão didática, não como uma 
normatização única à qual a literatura supostamente se filiaria. Assim, os gêneros épico, 
lírico e dramático são três categorias amplas, nas quais se encaixam inúmeros textos 
literários que seguem seus “traços estilísticos fundamentais” (ROSENFELD, 1985, p. 21). 
Portanto, a divisão com base nesses três gêneros apresenta as suas formas puras, contudo, 
como bem alerta Rosenfeld, esses traços não são iguais a critérios de valor, não possuem 
a função de julgar se determinada obra é mais ou menos pura de acordo com eles.
Gêneros literários2
A seguir, especificaremos os traços fundamentais de cada um dos três 
gêneros literários e as distinções entre eles com base na divisão clássica.
Épico
O gênero épico abarca os poemas narrativos extensos, cuja principal caracte-
rística é a presença de um herói responsável por feitos extraordinários sobre 
os quais versará a obra literária. Nesse sentido, a epopeia seria uma das artes 
da imitação que, juntamente com a tragédia, representa assuntos sérios e imita 
os homens melhores do que de fato o são. 
Para diferenciar a epopeia da tragédia, Aristóteles traça algumas diferenças 
entre essas formas literárias, dentre a quais está a dimensão do poema épico, 
que não teria a sua duração limitada como a tragédia.
Abaurre e Pontara (2005) apresentam um excelente quadro-resumo da estrutura dos 
poemas épicos:
 � Proposição — o poeta define o tema e o herói do seu poema.
 � Invocação — o poeta pede à musa que lhe inspire para que desenvolva com 
maestria o tema do seu poema. 
 � Narração — o poeta narra as aventuras do seu herói. 
 � Conclusão — o poeta encerra a sua narrativa após relatar os feitos gloriosos que 
marcaram a trajetória do seu herói. 
Para Rosenfeld (1985), o poema épico retrata um mundo imaginário de 
modo objetivo. Ele não se preocupa em expressar as emoções do poeta, mas 
narra os estados de alma das personagens que compõem os seus poemas. Ao 
mesmo tempo em que narra o destino das personagens, o narrador está sempre 
presente por meio da sua narrativa, concedendo a palavra aos personagens 
por meio da sua própria voz. Assim, há certa distância entre o narrador e o 
mundo por ele narrado. 
Outra característica importante do poema épico é o enaltecimento de um 
herói. O conflito histórico é apenas pano de fundo para o desenvolvimento do 
herói, que enfrenta perigos e jornadas extraordinárias. No entanto, o foco dos 
poemas épicos não é o herói enquanto expressão da sua própria personalidade 
3Gêneros literários
ou individualidade, mas sim da sua identidade pátria. Vejamos um exemplo 
de poema épico clássico (HOMERO, 1997):
Musa, reconta-me os feitos do herói astucioso que muito
peregrinou, dês que esfez as muralhas sagradas de Tróia;
muitas cidades dos homens viajou, conheceu seus costumes,
como no mar padeceu sofrimentos inúmeros na alma,
para que a vida salvasse e a de seus companheiros a volta.
Notemos que, em fins do século XVI, a epopeia como gênero puro declina 
em detrimento de novas formas de narrativas derivadas dos próprios poemas 
épicos, todavia que passam a ser escritas em prosa. Surgem, assim, os gêneros 
narrativos modernos, comoo romance, o conto e as novelas, que veremos de 
forma mais detalhada posteriormente. 
Lírico
O surgimento da lírica fundamenta-se na tradição oral dos poemas cantados, 
geralmente acompanhados por um instrumento denominado lira, que motiva a 
denominação desse gênero (ABAURRE; PONTARA, 2005). Após a invenção 
da imprensa, no século XV, é que ocorre a separação entre a música e a escrita da 
poesia, visto que há uma inversão da prevalência da cultura oral pela cultura escrita.
Segundo Abaurre e Pontara (2005), é somente a partir do Renascimento 
italiano que a poesia de característica subjetiva ganha reconhecimento seme-
lhante aos gêneros épico e dramático. 
De acordo com Abaurre e Pontara (2005), as estruturas mais conhecidas da lírica são 
as seguintes:
 � Elegia — poema surgido na Grécia Antiga que trata de acontecimentos tristes, mui-
tas vezes enfocando a morte de um ente querido ou de uma personalidade pública.
 � Écloga — poema pastoril que retrata a vida bucólica dos pastores em um am-
biente campestre. 
 � Ode — poema que exalta valores nobres, caracterizando-se pelo tom de louvor.
 � Soneto — é a mais conhecida das formas líricas e possui 14 versos, que se orga-
nizam em duas estrofes de quatro versos (quartetos) cada e duas estrofes de três 
versos (tercetos) cada.
Gêneros literários4
O gênero lírico, conforme Rosenfeld (1985), pode ser definido como o mais 
subjetivo dos três, pois a sua principal característica é justamente a presença 
de uma voz central que traduz no poema a expressão de um estado da alma, 
as suas emoções e também as suas reflexões sobre o ser humano e o mundo. 
Nesse sentido, a poesia lírica tem como ponto de partida a manifestação 
verbal das emoções e dos sentimentos do eu lírico. A partir desse objetivo, 
o mundo, a natureza e as outras personagens que porventura apareçam nesse 
tipo de poema são evocados apenas para ressaltar os sentimentos do eu lírico. 
A esse respeito, Rosenfeld (1985, p. 23) afirma que “a bem-amada, recordada 
pelo eu lírico, não se constituirá em personagem nítida de quem se narrem 
as ações e enredos; será apenas nomeada para que se manifeste a saudade, a 
alegria ou a dor da voz central”. 
Em relação às características formais da lírica, Rosenfeld aponta a curta 
extensão como um traço fundamental estilístico. Uma vez que não narra 
acontecimentos, mas sim emoções, a poesia lírica não é extensa como o 
poema épico, senão efêmera, como a metamorfose dos sentimentos e das 
sensações humanas. 
É justamente na diferença de objeto narrado que reside a importância da lírica, pois 
somente a epopeia não era capaz de expressar as emoções e os sentimentos dos 
poetas. Assim, a lírica nasce para atender a esse anseio, de modo a fazer com que seja 
construída, no poema, a voz subjetiva do poeta, isto é, o eu-lírico.
Outros dois traços estilísticos apontados pelo autor são o ritmo e a musica-
lidade das palavras e consequentemente dos versos. Esses traços se destacam 
de tal maneira que, por vezes, são priorizados em detrimento do sentido, de 
modo que o poeta se atém antes à sonoridade do poema que ao seu conteúdo. 
De acordo com Abaurre e Pontara (2005, p. 42), o ritmo se define como “um 
movimento regular, repetitivo” que se marca na poesia pela alternância entre 
pausas e acentos (sílabas tônicas e átonas). Quando o esquema rítmico possui 
o mesmo número de sílabas, os versos são considerados regulares; quando 
possui números diferentes, são irregulares. 
Outro fator importante, embora não seja obrigatório, para a construção 
da musicalidade é a rima, que pode ser definida como “a coincidência ou a 
5Gêneros literários
semelhança de sons a partir da última vogal tônica dos versos” (ABAURRE; 
PONTARA, 2005, p. 43). 
Ademais, na poesia lírica, ao contrário do que ocorre no poema épico, as 
ações não são situadas nem no tempo, nem no espaço. Prepondera a voz do 
presente, indicando uma ausência de distância que o passado traria. Assim, 
há a impressão de que a poesia trata sempre de um momento eterno. 
Rosenfeld (1985, p. 23-24) apresenta um exemplo importante para a com-
preensão da temporalidade do gênero lírico:
Apavorado acordo, em treva
O tempo verbal, que não remete necessariamente ao passado, pode represen-
tar tanto uma situação presente quanto uma recordação que permanece, que 
não se restringe ao passado. Do contrário, a construção seria acordei. É essa 
construção que causa a impressão de um momento eterno, que tanto pode 
falar do hoje quanto de outro momento que ainda se faz presente; portanto, 
um momento eterno. 
Dramático
Ao propor os seus estudos sobre esse gênero, Aristóteles inspirou-se no drama 
grego da época para estabelecer alguns princípios do que seria o texto dra-
mático por excelência. Nesse sentido, a tragédia estaria mais detalhadamente 
proposta por Aristóteles que a comédia. 
Aristóteles propõe a tragédia como sendo a imitação de homens, represen-
tando-os melhores do que de fato o são, por meio de personagens em ação. 
Para ele, a ação deveria se passar de forma concentrada em um espaço-tempo 
máximo de 24 horas, isto é, deveriam retratar episódios breves. Esses episó-
dios retratariam o desenrolar de uma história já iniciada, enfocando o clímax 
e o desenlace dos conflitos apresentados. Segundo Aristóteles (2003, p. 8):
A tragédia é a imitação de uma ação importante e completa, de certa exten-
são; deve ser composta num estilo tornado agradável pelo emprego separado 
de cada uma de suas formas; na tragédia, a ação é apresentada, não com a 
ajuda de uma narrativa, mas por atores. Suscitando a compaixão e o terror, a 
tragédia tem por efeito obter a purgação dessas emoções.
Uma das principais diferenças do texto dramático em relação aos gêneros 
épico e lírico é a forma como é narrado, ou melhor, como não é narrado, já 
que o narrador é dispensável nesse formato literário. Isso porque os aconteci-
mentos se dão por meio das falas e das ações das personagens (ROSENFELD, 
Gêneros literários6
1985). Para melhor ilustrarmos a questão, observemos o trecho a seguir, 
extraído da peça Édipo Rei, do dramaturgo ateniense Sófocles ([406 a.C.], 
documento on-line):
Sacerdote Realmente, tu falas no momento oportuno, pois acabo de 
ouvir que Creonte está de volta.
Édipo Ó rei Apolo! Tomara que ele nos traga um oráculo tão propício, 
quanto alegre se mostra sua fisionomia.
Entra Creonte
Creonte Uma resposta favorável, pois acredito que mesmo as coisas 
desagradáveis, se delas nos resulta algum bem, tomam-se uma felicidade. 
Édipo Mas, afinal, em que consiste essa resposta? O que acabas de dizer 
não nos causa confiança, nem apreensão. 
Creonte (indicando o povo ajoelhado) Se queres ouvir-me na presença 
destes homens, eu falarei; mas estou pronto a entrar no palácio, se assim 
preferires. 
Édipo Fala perante todos eles; o seu sofrimento me causa maior desgosto 
do que se fosse meu, somente.
Contemporaneamente, a teoria teatral estabelece alguns pressupostos 
diferentes para o texto dramático. Segundo Magaldi (1991), até o início do 
século XX, aproximadamente, o texto teatral era considerado parte essencial 
do drama, consagrando-se soberano frente à encenação. Não se concebia 
teatro sem obra dramática. A partir do século XX, há um declínio do chamado 
textocentrismo, pois o espetáculo teatral passa a ser possível e reconhecido 
ainda que sem texto. Ganha espaço, então, a arte da encenação, colocando 
encenador e autor (dramaturgo) lado a lado. 
Apesar de o vocábulo drama remeter à maioria das pessoas atualmente as ideias de 
sofrimento e dor, trata-se apenas de um dos seus muitos sentidos possíveis. No que 
concerne ao gênero literário, essa palavra não está ligada necessariamente à tragédia; 
pelo contrário, ela também engloba a comédia e diz respeito às peças teatrais em geral. 
7Gêneros literários
Portanto, reconhecemos que cada dramaturgo da nossa época adota um estilo 
diferente, assim como cada encenador, diretor ou ator podem adaptar esses estilos 
ao seu, conferindo um caráter maisamplo e um repertório múltiplo ao teatro.
Vejamos o seguinte excerto do texto teatral O Auto da Compadecida, do 
escritor contemporâneo Ariano Suassuna (2014):
Chicó e João Grilo estão na frente da igreja de padre João, querem convencê-lo 
a benzer o cachorro de sua patroa, a mulher do padeiro.
Chicó Padre João!
João Grilo Padre João! Padre João!
Padre (aparecendo na frente da igreja) Que há? Que gritaria é essa?
Chicó Mandaram avisar para o senhor não sair, porque vem uma pessoa 
aqui trazer um cachorro para o senhor benzer.
Padre Para eu benzer?
Chicó Sim
Padre (com desprezo) Um cachorro?
Chicó Sim
Padre Que maluquice! Que besteira!
João Grilo Cansei de dizer a ele que o senhor não benzia.
Padre Não benzo de jeito nenhum.
Chicó Mas padre, não vejo nada de mal em se benzer o bicho.
João Grilo No dia em que chegou o motor novo do major Antônio 
Morais o senhor não benzeu?
Padre Motor é diferente, é uma coisa que todo mundo benze. Cachorro 
é que eu nunca ouvi falar.
João Grilo É, Chicó, o padre tem razão. Uma coisa é benzer o motor do 
major Antônio Morais e outra benzer o cachorro do major Antônio Morais.
Padre Como?
João Grilo Eu disse que uma coisa era o motor e outra o cachorro do 
major Antônio Morais.
Padre E o dono do cachorro de quem vocês estão falando é Antônio 
Morais?
João Grilo É. Eu não queria vir, com medo de que o senhor se zangasse.
Padre (desfazendo-se em sorrisos) Zangar nada, João! Falei por falar, mas 
também vocês não tinham dito de quem era o cachorro!
João Grilo Quer dizer que benze, não é?
Padre Não vejo mal nenhum em se abençoar as criaturas de Deus.
João Grilo Então fica tudo na paz do Senhor, com cachorro benzido e 
todo mundo fica satisfeito.
Gêneros literários8
Padre Digam ao major que venha. Eu estou esperando (Entra na igreja).
No exemplo, é possível visualizarmos partes do texto destacadas. Essas 
partes correspondem às indicações cênicas dadas pelo autor da peça para os 
atores e diretores que porventura a encenarão. Esses trechos são denominados 
rubricas, que se somam aos diálogos para completar o texto dramático e 
podem servir como indicação cênica quando as peças são encenadas ou como 
complemento do texto quando lidas. 
Para Magaldi (1991), é necessário compreendermos o teatro como uma 
tríade que não funciona sem os seus três elementos: ator, texto e público. Ao 
assumir esses elementos como essenciais, podemos pressupor a existência de 
outros, como o gesto, a interpretação, o cenário, o espaço cênico, o figurino 
e a iluminação, por exemplo.
Cruzamentos do poético e do narrativo
Você sabia que um poema não precisa necessariamente ser escrito em versos? 
Segundo Souza (2007), desde a Poética fica claro que o texto escrito em verso 
“não é um indício exterior e óbvio que distingue um texto de poesia em relação 
a um de medicina ou física”. Com isso, inferimos que a poesia enquanto objeto 
da poética não é facilmente distinguível das outras formas literárias, de forma 
que o verso não é um traço que distingue o poético do narrativo. 
Anteriormente, estudamos que o poema épico narra os feitos de um herói. 
Na forma clássica, observada por Aristóteles nos poemas de Homero, por 
exemplo, a epopeia narrava por meio de versos, contudo o próprio Aristóteles 
alertava que os gêneros poéticos poderiam usar a linguagem em verso ou 
em prosa, já que outras características eram consideradas como essenciais à 
poética: a mimeses, a verossimilhança, a catarse, entre outras.
Segundo Souza (2007), até o século XVIII, empregava-se o termo poesia 
para designar as composições em verso e variados termos para as produções 
em forma de prosa, como epopeia, sermão, novela, etc. A partir do século 
XIX, o vocábulo literatura passa a ser utilizado com o sentido de “conjunto 
da produção escrita, objeto dos estudos literários”, abarcando tanto os textos 
produzidos em verso quantos os escritos em prosa. Dessa época em diante, 
poesia passa a designar tanto o gênero particular da literatura, que se carac-
terizava pelo emprego do verso, quanto as composições em prosa, desde que 
possuíssem certos valores artísticos, como a musicalidade ou “o predomínio 
9Gêneros literários
dos elementos intuitivo-sentimentais sobre os lógico-discursivos” (SOUZA, 
2007, p. 49).
Poema em prosa
Não é possível apontarmos com exatidão um marco que date o surgimento 
do poema em prosa. No entanto, muitos teóricos afirmam que é no seio do 
Romantismo que essa forma literária encontra abertura para desenvolver-se, 
posto que o poema em prosa está ligado à necessidade de libertação das formas 
impostas pelo movimento literário anterior, o Classicismo. 
Charles Baudelaire, autor de Flores do Mal, é um dos primeiros — e talvez 
um dos mais conhecidos — a associar prosa e verso na sua obra Pequenos 
poemas em prosa, publicada postumamente. 
Em 1861, Charles Baudelaire enviou uma carta ao editor e amigo Arsène Houssaye 
com a proposta de publicar uma série de escritos cujo título seria La Lueur et la fumée 
/ poème, en prose, já adiantando o seu desejo de escrever “um poema em prosa”. 
Vejamos um trecho dessa carta, que foi publicada juntamente com algumas edições 
de Pequenos poemas em prosa (Baudelaire, 1995):
Meu caro amigo, estou-lhe enviando um pequeno trabalho que não se 
poderia dizer, sem injustiça, que não tenha pé nem cabeça, pois, ao 
contrário, tudo o que ele tem é, ao mesmo tempo, cabeça e pé, alternada 
e reciprocamente.
Considere, eu lhe peço, que admiráveis comodidades essa combinação 
nos oferece a todos, a você, a mim e ao leitor. Nós podemos interromper 
onde quisermos, eu os meus devaneios, você o manuscrito e o leitor 
sua leitura; porque eu não impeço a vontade contestadora de cada um 
no curso interminável de uma intriga superfina.
[...]
Qual de nós que, em seus dias de ambição, não sonhou o milagre de uma 
prosa poética, musical, sem ritmo e sem rimas, tão macia e maleável 
para se adaptar aos movimentos líricos da alma, às ondulações do de-
vaneio, aos sobressaltos da consciência. É, sobretudo, da frequentação 
das enormes cidades e do crescimento de suas inumeráveis relações 
que nasce esse ideal obsessivo.
Gêneros literários10
O poema em prosa, conforme Bernard (apud ÁLVARES, 1995), apesar 
da sua denominação, não se constitui como um gênero híbrido ou que esteja 
a meio caminho da prosa ou do verso. Dessa forma, Álvares aponta que, no 
momento do seu surgimento, no século XVIII, o poema em prosa não possuía 
um lugar no cânone, principalmente porque carregava no seu nome a própria 
contradição de dois termos que aparentemente eram opostos e inconciliáveis. 
Justamente pelo caráter de contradição presente na sua forma é que o poema 
em prosa seria a forma ideal para retratar algumas temáticas que precisavam 
exprimir essa dualidade (TODOROV apud ÁLVARES, 1995). Assim, os 
poemas em prosa de Baudelaire representaram uma prosa com musicalidade, 
ainda que sem rima ou ritmo, trazendo a ideia da poeticidade por meio do 
trabalho simbólico das palavras (ÁLVARES, 1995). Eis um exemplo de poema 
em prosa, retirado do livro de Charles Baudelaire Pequenos poemas em prosa 
(BAUDELAIRE, 1995, p. 41):
Multidão, solidão: termos iguais e conversíveis para o poeta ativo e fe-
cundo. Quem não sabe povoar a própria solidão também não sabe estar 
só entre a gente atarefada. O poeta goza desse incomparável privilégio 
de poder, quando lhe agrada, ser ele mesmo e um outro. Como essas 
almas errantes que buscam um corpo, ele entra, se quiser, na personagem 
de alguém. 
Coronel (2007) analisa de forma comparativa a poesia em prosa de Charles 
Baudelaire com a de Fernando Pessoa, observando que ambos identificam-se com 
um espírito do Modernismo relacionado à desordem da forma e dos conteúdos 
abordados. A respeito do trecho que selecionamos do poema de Charles Bau-
delaire, a autora percebe os sinais de uma sensibilidade notadamente moderna 
em relação às grandes aglomerações humanas da cidade. Além disso, a autora 
afirma que a poesia de Baudelaire não concentra-se na exploraçãodo eu pessoal 
do artista, que seria um traço central da lírica moderna, “passando a constituir 
um jogo polifônico de vozes, como se a subjetividade pura não mais pudesse 
representar a sensibilidade de uma época marcada pela presença das grandes 
massas urbanas no cenários das ruas modernas” (CORONEL, 2007, p. 6).
No entendimento de Álvares, é isto o que poema em prosa faz ainda hoje: 
desafiar a normatividade do universo literário. Dessa forma, o poema em prosa 
não é uma forma que se propõe a adentrar o cânone, pois possui o caráter 
de desafiar os limites do que já é realizado, sem estabelecer novas regras ou 
formatos essenciais. 
11Gêneros literários
Prosa poética
Alguns autores entendem que há uma diferenciação possível entre o poema em 
prosa e a prosa poética. Para Paixão (2013), é a primeira palavra de cada um 
dos termos que os diferencia. A prosa poética, nesse sentido, teria a sua ênfase 
centrada na prosa, sendo o que a define enquanto forma de escrita, porém, ela 
apresenta recursos estilísticos advindos da poesia. Dessa maneira, a prosa poética 
lança um “olhar lírico sobre a realidade”, mas as frases e os parágrafos propõem 
uma “dinâmica extensiva para o texto e as imagens evocadas” (PAIXÃO, 2013, 
p. 152). Para o autor, dois exemplos nesse sentido são essenciais: Finnegans wake, 
de James Joyce, e Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa. 
Que o que gasta, vai gastando o diabo de dentro da gente, aos pouquinhos, é o 
razoável sofrer. E a alegria de amor — compadre meu Quelemém diz. Família. 
Deveras? É, e não é. O senhor ache e não ache. Tudo é e não é... Quase todo 
mais grave criminoso feroz, sempre é muito bom marido, bom filho, bom pai, 
e é bom amigo-de-seus-amigos! Sei desses. Só que tem os depois — e Deus, 
junto. Vi muitas nuvens (ROSA, 2001, p. 27).
Segundo Paixão (2013), textos como esse, de João Guimarães Rosa, apre-
sentam um “deslocamento inesperado em relação aos modelos habituais”, pois 
o autor desenvolve na prosa um texto dotado de carga poética. Em outras pala-
vras, o autor alcança certo “estado de poesia” sem abdicar do plano narrativo 
e da extensão da sua obra. Para o autor, então, a prosa poética se distingue 
do poema em prosa, pois esse último desentranha-se da ideia de poema, não 
segue os seus formatos, mas mantém a concisão, ao contrário da prosa poética. 
Por meio do link a seguir, você pode verificar o ensaio de Cláudio Portella, Pequeno 
tratado da prosa poética, que contém diversos exemplos desse formato de texto. 
https://goo.gl/rRCJmZ 
Gêneros literários12
Gêneros literários atuais: poesia, 
romance e ensaio
Como já aprendemos, a classificação em gêneros literários corresponde aos 
modelos clássicos da realidade grega antiga. Por esse motivo, no mundo 
contemporâneo, existem outras divisões possíveis para os textos literários. 
Martins afirma que um determinado tipo de sociedade (a grega) gerou a 
poesia épica, enquanto outro tipo de sociedade (o mundo contemporâneo) 
gerou o romance. Portanto, o autor expõe, com Lukács (2000), que um gênero 
literário não é “meramente o resultado da inventividade de autores ou de 
uma evolução isolada da forma, e sim um produto, um resultado de formas 
sociais de produção e de consumo de em um dado momento histórico” 
(MARTINS, 2012, p. 248). 
No mundo contemporâneo, convivem e imbricam-se as formas narrativas, 
líricas e dramáticas, dando origem a gêneros como o conto, o romance, o 
ensaio e diversos outros que deles derivam. Diante desse breve panorama, 
passaremos à análise de alguns dos principais gêneros que circulam nos 
nossos dias. 
Lírica moderna
Na obra Estrutura da lírica moderna, Friedrich aponta os caminhos que a lírica 
percorre ao longo dos séculos XIX e XX. Para o autor, a lírica moderna atende a 
um objetivo comum às artes em geral: a dissonância, que seria a junção entre a 
incompreensibilidade e o fascínio, gerando uma tensão no leitor. Ele aponta que 
essa tensão se evidencia na lírica moderna tanto na forma quanto no conteúdo. 
Na forma, há uma convivência de traços “de origem arcaica, mítica e oculta com 
uma aguda intelectualidade” (FRIEDRICH, 1978, p. 16), ao passo em que se 
misturam a simplicidade da forma escrita e a complexidade dos seus conteúdos. 
Outro ponto importante suscitado por Friedrich é a expressão do eu do 
poeta, que até meados do século XIX era essencial na poesia e passa a não 
ser mais um traço fundamental. O poeta participa dos seus poemas enquanto 
artista, frequentemente refletindo sobre o próprio poema. A língua, na lírica 
moderna, é tomada como um experimento no qual o vocabulário e a sintaxe 
assumem novas significações e formas. As figuras de linguagem, como a 
comparação e a metáfora, “são aplicadas de uma nova maneira, que evita 
o termo de comparação natural e força uma união irreal daquilo que real e 
logicamente é inconciliável” (FRIEDRICH, 1978, p. 18). Esteticamente, o 
conceito de belo é repensado e discutido, o que se reflete no grotesco.
13Gêneros literários
Em resumo, o que se dá na lírica moderna é um conjunto de inovações 
relativas à poesia clássica que predominava até então. Ela expressa as transfor-
mações sociais que provocam conflitos no sujeito moderno, por vezes chocando 
o leitor, levando-o a refletir e questionar as tradições. Exemplo disso são os 
poemas em prosa que lemos anteriormente. Além de Baudelaire e Pessoa, no 
Brasil os poemas de Carlos Drummond de Andrade são bons exemplos das 
inovações relativas à lírica moderna. Veja, por exemplo, o poema Mãos dadas 
(ANDRADE, 2000, p. 118):
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista pela janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes.
a vida presente.
Pereira (2012) ensina que esse poema é um ótimo exemplo da disputa 
entre a tradição e a inovação presente na lírica do século XX. O eu lírico se 
debate na tensão entre o “mundo caduco”, ao qual não quer ser associado, e o 
mundo futuro, mas explicita a sua filiação ao “tempo presente”. Além disso, o 
poema questiona os temas sentimentais ao expressar que não dirá “suspiros ao 
anoitecer”, em uma tensão entre negar a tradição lírica de fundo subjetivo ao 
mesmo tempo em que alude a ela, como nos trechos finais: “não distribuirei 
cartas de suicidas”, “nem serei raptado por serafins”.
Romance
O romance surge da necessidade do mundo moderno de traduzir a sociedade 
por meio de uma forma literária que correspondesse ao momento histórico. 
Gêneros literários14
Lukács (2000, p. 59) traça um comparativo entre a epopeia e o romance: 
“O romance é a epopeia de uma era para a qual a totalidade extensiva da 
vida não é mais dada de modo evidente, para a qual a imanência do sentido 
à vida tornou-se problemática, mas que ainda assim tem por intenção a 
totalidade”. 
Apesar de ter surgido séculos antes, apenas em meados do século XIX 
o romance se consolida como um gênero literário, resguardando a epopeia 
ao passado. Tal fato está diretamente relacionado às Revoluções Francesa 
e Industrial e ao consequente surgimento de novas classes sociais, como a 
burguesia. Essa reconfiguração social levou, naturalmente, ao surgimento de 
novas demandas, sobretudo culturais. Nesse contexto, as longas narrativas, 
como as epopeias, estavam ligadas ao clássico, que não representava a classe 
burguesa emergente. Assim, surgem os folhetins, que eram novelas publicadas 
diariamente nos jornais.
Como expressão desse período histórico, o romance apresenta um indiví-
duo que, segundo Martins (2012), busca a sua essência, porém converge parao encontro das estruturas sociais, pois não há tempo para a subjetividade. 
Assim, “[...] o romance completa o homem que é alheio a esse mundo alheio 
à subjetividade. O romance é a forma que representa uma realidade interior 
não encontrada nas estruturas sociais que nos regem e que nos sufocam” 
(MARTINS, 2012, p. 252). Nesse sentido, o romance é um gênero de reflexão, 
que proporciona ao homem desvendar-se.
Estruturalmente, o romance também atenderia a esses anseios do mundo 
contemporâneo. Por esse motivo, o limite do romance deve ser o limite da 
vida do herói, pois a sua trajetória tem a função de enfocar uma parcela do 
mundo. Dessa maneira, podemos distinguir duas características essenciais do 
romance em contraponto à epopeia: o herói, que agora é um homem comum, 
dividido e que poderia representar qualquer um de nós; e o tempo, que não 
mais retrata necessariamente o passado, mas se direciona para o futuro, ado-
tando certo caráter de imprevisibilidade que não se configurava na epopeia 
(MELLO; OLIVEIRA, 2013). Nesse sentido, também o espaço adquire outra 
importância: conquanto na epopeia a ação se dava em um espaço restrito, no 
romance o espaço extrapola a questão dimensional. 
Se essas são características ligadas ao momento fundador do romance 
ou, ainda, a uma análise relativa ao século XIX e ao início do século XX, o 
romance contemporâneo transformou-se e desprendeu-se de tais pressupos-
tos. As noções de tempo, espaço e a própria estrutura da narrativa têm sido 
constantemente reinventadas pelos autores. Virginia Woolf e James Joyce 
são dois autores bastante apontados como precursores de uma nova forma de 
15Gêneros literários
narrativa. Uma dessas inovações é o uso do fluxo de consciência, que, no 
Brasil, tem em Clarice Lispector uma forte representante. 
Fluxo de consciência é uma técnica narrativa utilizada para expressar por meio do 
monólogo interior os vários estados de espírito e as emoções da personagem. O 
narrador apresenta pensamentos sem se preocupar em articular logicamente as 
ideias, misturando uma série de impressões da personagem para recriar no texto o 
funcionamento da mente humana (ABAURRE; PONTARA, 2005).
Como vimos, também a prosa poética é uma forma de inovação no ro-
mance. João Guimarães Rosa, juntamente com Clarice Lispector e outros 
escritores, representam a narrativa contemporânea com a desconstrução do 
convencionalismo até então vigente e um caráter de experimentação que 
segue até os dias atuais. 
Ensaio
Na teoria literária contemporânea, o ensaio adquire um estatuto curioso e não 
evidente, uma vez que esse gênero já foi demasiadamente debatido entre os 
teóricos, chegando-se até mesmo ao ponto de considerar que já se havia dito 
tudo a seu respeito. Posto isso, seria consenso que o ensaio possui lugar entre 
o literário e o estritamente teórico. Adotaremos essa concepção como ponto 
de partida para que você entenda o que vem a seguir. 
Nesse entremeio entre literatura e teoria, poderíamos compreender o 
ensaio como um “irmão” da literatura, ao mesmo tempo em que se distancia 
das formas artísticas por abordar conceitos e possuir uma certa “pretensão 
à verdade desprovida de aparência estética”, conforme afirma Adorno 
(2003, p. 18).
Carvalho (2012), por sua vez, defende que o ensaio é um tipo de texto 
que parte da experiência pessoal para gerar um pensamento conceitual. 
Assim, o autor afirma que no ensaio há um exercício de liberdade e espaço 
para a criação, convertendo o gênero em algo pouco científico, diferindo, 
portanto, da monografia ou do artigo científico, por exemplo. Apesar de 
situar-se próximo ao artístico, parece sempre tangenciá-lo. Ainda segundo 
o autor, o ensaio é “o texto teórico que pode ser lido como literatura”, res-
Gêneros literários16
saltando ainda que neste gênero a forma é tão importante quanto o conteúdo 
(CARVALHO, 2012, p. 196).
Em O ensaio como forma, Adorno escreve um ensaio sobre o próprio ensaio. Obser-
vemos que no trecho destacado, a seguir, ele cita o autor Max Bense. Vejamos como 
a linguagem é construída por ambos de forma literária e também argumentativa:
O ensaio deve permitir que a totalidade resplandeça, em um traço par-
ticular, escolhido ou encontrado, sem que a presença dessa totalidade 
tenha de ser afirmada. [...]
‘Escreve ensaisticamente quem compõe experimentando; quem vira e 
revira o objeto, quem o questiona e o apalpa, quem o prova e o submete à 
reflexão; quem o ataca de diversos lados e reúne no olhar de seu espírito 
aquilo que vê, pondo em palavras o que o objeto permite vislumbrar 
sob as condições geradas pelo ato de escrever (ADORNO, 2003, p. 36).
Assim, o ensaio apresenta um ponto de vista, que corresponde à perspec-
tiva do autor, sobre determinado assunto, procurando debatê-lo com vistas a 
defender uma hipótese ou uma tese sobre o assunto. No entanto, ao contrário 
de um artigo científico, nele não se exige a adequação a aspectos formais. 
Logo, o ensaio é o discorrer livre e fundamentado de um autor sobre algum 
assunto. Em função dessa liberdade, ele encontra-se entre os gêneros chamados 
literários e não entre os gêneros científicos. 
ABAURRE, M. L.; PONTARA, M. Literatura Brasileira: tempos, leitores e leituras. São 
Paulo: Moderna, 2005.
ADORNO, T. W. O ensaio como forma. In: ADORNO, T. W. Notas de literatura. São Paulo: 
Editora 34, 2003.
ÁLVARES, L. B. P. Poema em prosa e romantismo: caminhos iniciáticos. Biblioteca 
Digital — FLUP. 1995. Disponível em: <http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/5741.
pdf>. Acesso em: 19 jun. 2018.
17Gêneros literários
ANDRADE, C. D. Mãos dadas. In: ANDRADE, C. D. Antologia poética. 46. ed. Rio de 
Janeiro: Record, 2000.
ARISTÓTELES. Poética. 7. ed. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 2003.
BAUDELAIRE, C. O Spleen de Paris: pequenos poemas em prosa. Rio de Janeiro: Imago, 
1995.
CARVALHO, L. B. M. O jogo da amarelinha: ensaio em forma de romance. Remate de 
Males, v. 31, n. 1-2, p. 195-210, 2012.
CORONEL, L. P. A poesia em prosa de Charles Baudelaire e Fernando Pessoa: cruza-
mentos. Nau Literária, v. 3, n. 2, p. 1-7, 2007. 
FRIEDRICH, H. Estrutura da lírica moderna. São Paulo: Duas Cidades, 1978.
LUKÁCS, G. A teoria do romance: um ensaio histórico-filosófico sobre as formas da 
grande épica. São Paulo: Editora 34, 2000.
HOMERO. Odisseia. Rio de Janeiro: Ediouro, 1997.
MAGALDI, S. Iniciação ao teatro. São Paulo: Ática, 1991.
MARTINS, T. Notas sobre o romance e sobre a teoria do romance: a questão da 
condição humana em um gênero que ainda vive. Revista Virtual de Letras, v. 4, n. 2, 
p. 247-267, 2012.
MELLO, C. J. A.; OLIVEIRA, V. S. Romance: gênero problemático ou ambivalente? Todas 
as Letras, v. 15, n. 1, p. 172-181, 2013.
PAIXÃO, F. Poema em prosa: problemática (in)definição. Revista Brasileira, ano II, n. 
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PEREIRA, D. C. A lírica moderna: diálogos e permanência. Revista de Estudos Literários, 
v. 23, p.5-16, 2012.
ROSA, J. G. Grande sertão: veredas. 19. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
ROSENFELD, A. A teoria dos gêneros. In: ROSENFELD, A. O teatro épico. São Paulo: 
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SOUZA, R. A. Teoria da literatura. 10. ed. São Paulo: Ática, 2007.
SÓFOCLES. Rei Édipo. Portal do Domínio Público. [406 a.C.]. Disponível em: <http://
www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000024.pdf>. Acesso em: 19 jun. 2018.
SUASSUNA, A. Do auto da compadecida. 2014. Disponível em: <http://www.rede-
brasilatual.com.br/revistas/98/do-auto-da-compadecida-homenagem-a-ariano-
-suassuna-9161.html>. Acesso em: 18 jun. 2018.
Gêneros literários18
Dica do professor
Entre algumas características fundamentais do texto dramático, ressalta-se o fato de que tem a 
especificidade de sua dupla função: é escrito para ser lido e interpretado. Nesse sentido, a rubrica é 
importante elemento, auxiliando a compreensão da leitura e atuação. 
Nesta Dica do Professor, você vai conhecer as rubricas e ver o exemplo de seu papel em peça 
teatral. 
 
Aponte a câmera para o códigoe acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.
Na prática
A principal característica do gênero lírico é a subjetividade: o eu-lírico expressa suas emoções e 
sentimentos por meio da poesia. Uma das principais formas de poesia lírica é o soneto.
Na Prática, veja análise das características desse gênero e da poesia lírica em um soneto de Florbela 
Espanca. 
Aponte a câmera para o 
código e acesse o link do 
conteúdo ou clique no 
código para acessar.
Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:
Rei Édipo, de Sófocles
Leia a peça que foi apontada como exemplo perfeito do gênero dramático.
Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.
Literatura fundamental 75: O jogo da amarelinha (Julio 
Cortázar) – Parte 1
Assista a uma entrevista com o prof. Davi Arrigucci Jr. sobre o livro O jogo da amarelinha (Rayuela, 
no original), de Julio Cortázar.
Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.
Relações de alteridade em contos de Rubem Fonseca
Leia a análise de contos presente no artigo "Relações de alteridade em contos de Rubem Fonseca", 
a fim de saber mais sobre outra forma de narrativa muito explorada na literatura contemporânea: o 
conto.
Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.

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