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STF proíbe celebrações religiosas coletivas na pandemia - Migalhas

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STF proíbe celebrações religiosas coletivas na pandemia 
Os ministros validaram decreto do Estado de SP vedou integralmente a realização 
de cultos coletivos. 
 
Nesta quinta-feira, 8, o plenário do STF assentou a constitucionalidade de dispositivo do 
decreto 65.563/21, do Estado de São Paulo, que vedou integralmente a realização de 
cultos, missas e outras atividades religiosas coletivas durante a pandemia de covid-19. A 
decisão foi por maioria, em um placar de 9x2. 
Liberdade de (ir ao) culto - entenda o imbróglio: 
O PSD - Partido Social Democrático questionou a constitucionalidade do decreto estadual 
65.563/21, de São Paulo, que vedou integralmente a realização de cultos, missas e outras 
atividades religiosas coletivas como medida de enfrentamento da pandemia de Covid-19. 
No último sábado, Nunes Marques liberou celebrações religiosas presenciais em meio a 
pandemia de covid-19. Sua decisão foi em outro processo. Em liminar, o ministro 
determinou que Estados, municípios e DF se abstenham de editar decretos que proíbam 
atividades religiosas presenciais. 
Na decisão, Nunes Marques considerou que a proibição total da realização de cultos 
religiosos presenciais representa uma extrapolação de poderes, pois trata o serviço 
religioso como algo supérfluo, que pode ser suspenso pelo Estado, sem maiores 
problemas para os fiéis. Veja a decisão de Nunes Marques. 
"A proibição categórica de cultos não ocorre sequer em estados de defesa (CF, art. 136, 
§ 1º, I) ou estado de sítio (CF, art. 139). Como poderia ocorrer por atos administrativos 
locais? Certo, as questões sanitárias são importantes e devem ser observadas, mas, para 
tanto, não se pode fazer tábula rasa da Constituição." 
Dois dias depois da decisão de Nunes Marques, Gilmar Mendes manteve a proibição de 
cultos e missas em São Paulo. Ao negar o pedido liminar do PSD - Partido Social 
Democrático, Gilmar Mendes considerou que as medidas de restrição são necessárias em 
meio à pandemia. Veja a decisão de Gilmar Mendes. 
"Em um cenário tão devastador, é patente reconhecer que as medidas de restrição à 
realização de cultos coletivos, por mais duras que sejam, são não apenas adequadas, mas 
necessárias ao objetivo maior de realização da proteção da vida e do sistema de saúde." 
Liberação de cultos 
Nunes Marques iniciou seu voto dizendo que, além de uma crise sanitária, a sociedade 
vive uma das maiores crises dos direitos individuais: "criou-se esfera de intolerância". O 
ministro desabafou em razão da publicidade de sua decisão pela imprensa, que o colocou 
como "negacionista". 
Nunes Marques salientou que, no dia em que proferiu sua decisão que liberou os cultos 
coletivos, 22 unidades da federação já possuíam decretos permitindo cultos em igrejas e 
templos, "quando eu proferi a minha decisão nós tínhamos 19 das 26 capitais permitindo 
cultos. Seriam tais gestores negacionistas?". 
"Embora se observe uma tentativa de interditar qualquer debate sobre essas medidas 
sanitárias, como se elas fossem dogmas, tais atos do poder público, em absolutamente, 
nada diferem daqueles que, diuturnamente, são praticados nas várias esferas de governo." 
Para o ministro, sua decisão teve menos efeito "liberatório" e mais padronizador no que 
se refere ao combate à pandemia. Nunes Marques citou que existiam Estados que 
liberavam eventos com 50% da capacidade, outros Estados com 30%; em alguns lugares 
se mede a temperatura e em outros não. 
Em seguida, o ministro afirmou que as igrejas desempenham um importante papel no 
combate à depressão e ansiedade que aumento durante a pandemia: "como negar-lhes 
[fiéis] a prática de sua fé? Como negar-lhes o direito fundamental de professar sua religião 
publicamente com a observâncias as limitações sanitárias?". Por fim, o ministro assentou 
a possibilidade de templos religiosos permanecerem abertos. 
Em brevíssimo voto, o ministro Dias Toffoli pediu vênia ao relator para acompanhar a 
divergência de Nunes Marques. 
Proibição de cultos 
Alexandre de Moraes votou contra a liberação de cultos e missas na pandemia. Ao seguir 
o entendimento de Gilmar Mendes, o ministro foi didático em seu voto: "Estado não se 
mete na fé, fé não se mete no Estado". 
Moraes explicou que os decretos que restringem as atividades religiosas protegem não só 
os fiéis contra o coronavírus, mas toda a sociedade que é composta, até mesmo, por 
pessoas que não possuem fé nenhuma. 
Segundo a avaliação de Moraes, não há nos decretos estaduais ou municipais nenhum ato 
direcionado à perseguição ou diferenciação a algumas, ou todas, as denominações 
religiosas. "Os municípios e Estados não conseguem debelar essa pandemia sem o apoio 
da União, sem a liderança da União", disse ao salientar que a União deve ter papel de 
coordenação. 
 
Ao final, e por entender que proteger os fiéis "talvez seja a maior missão das religiões", 
Moraes entendeu que não há nada de discriminatório, de preconceituoso ou de 
inconstitucional nos decretos que, embasados em critérios científicos, restringem 
temporariamente os cultos religiosos. 
Edson Fachin analisou a constitucionalidade de decreto que restringe as celebrações 
religiosas presenciais durante a pandemia. O ministro entendeu que "inconstitucional não 
é o decreto, mas "inconstitucional é não promover meios para que as pessoas fiquem em 
casa, inconstitucional é recusar as vacinas que teriam evitado o colapso de hoje". 
Fachin explicou que a medida que restringe as celebrações religiosas não é proibição 
"absoluta e nem permanente" quanto à realização de atividades fisicamente presenciais. 
O ministro salientou que a restrição das missas e cultos por decreto "não impede, e nem 
poderia, a realização de cerimônias religiosas não fisicamente presenciais, especialmente 
dentre outros meios pela rede mundial de computadores". 
Para o ministro, não se trata de estabelecer preferência entre atividades religiosas ou entre 
atividades religiosas e seculares, mas serve para enfrentar a fase mais crítica "dessa triste 
pandemia". 
"A cada instante que não se mantêm as pessoas em casa, mais a epidemia se espalha. Os 
hospitais já não conseguem mais atender a todos." 
Barroso afirmou que é necessário que o Brasil tenha um comitê de saúde comitê médico 
científico de alto nível orientando as ações governamentais. Embora o ministro reconheça 
que o país está atrasado nessa conduta, afirmou que "ainda é tempo, não é tarde demais" 
e que "estamos precisando, mais do que nunca, ouvir a ciência". 
Ao fazer uma análise sobre a importância das religiões, o ministro concluiu que a 
modernidade e todas as transformações culturais, não levaram ao desaparecimento do 
sentimento religioso. Para o ministro, a decisão do indivíduo sobre qual religião seguir, 
ou se não escolher nenhuma, "ainda constitui uma das escolhas existenciais mais 
importantes da sua vida". Assim, para Barroso, a restrição temporária das reuniões 
públicas não fere o núcleo essencial da liberdade religiosa. 
"Negar a pandemia, ou a sua gravidade, não fará com que ela magicamente desapareça", 
assim afirmou a ministra Rosa Weber ao votar contra a liberação das atividades religiosas 
coletivas em meio a pandemia. A ministra ressaltou que a medida tem caráter excepcional 
e temporário e foi imposta as mais diversas atividades, que vão desde as atividades 
econômicas, passando por escolares até atividades religiosas. 
A ministra Cármen Lúcia prestou solidariedade aos familiares das vítimas da covid-19 e 
afirmou que "sobram dores e ainda faltam soluções". 
Posteriormente, a ministra afirmou que o Brasil se tornou um país "que preocupa o mundo 
inteiro, e não apenas, portanto, os brasileiros, pela transmissibilidade letal desse vírus". 
Com efeito, Migalhas entrevistou recentemente o ex-primeiro ministro de Portugal José 
Sócrates, que proferiu fala semelhante: a gestão de Bolsonaro na pandemia tem piorado 
a imagem do Brasil no cenário internacional.Cármen Lúcia criticou quem promove aglomerações: "aglomeração é um ato de 
descrença, de fé, na ciência, no Deus da vida e no outro, falta de capacidade de pensar no 
outro". 
Ato contínuo, votou o ministro Ricardo Lewandowski. Em breve voto, o Lewandowski 
afirmou que os fiéis devem, enquanto perdurarem as restrições, devem utilizar outros 
meios para exercerem a liberdade de culto, como programas televisivos, rádio, internet 
etc. 
Marco Aurélio, logo em seguida, afirmou: "Queremos rezar? Rezemos em casa. Não há 
necessidade de abertura de templo (...) A maior vacina é do isolamento". Finalizando o 
julgamento, votou o ministro Fux contra a liberação dos cultos: "o decreto passa em todos 
os testes da razoabilidade". 
Processo: ADPFs 811

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