Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA DANIELA MACHADO SILVA AS MUDANÇAS CLIMATICAS E UM COMPARATIVO ENTRE O PROTOCOLO DE QUIOTO E O ACORDO DE PARIS Florianópolis 2019 DANIELA MACHADO SILVA AS MUDANÇAS CLIMATICAS E UM COMPARATIVO ENTRE O PROTOCOLO DE QUIOTO E O ACORDO DE PARIS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Relações Internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel. Orientador: Prof. Rafael de Miranda Santos, Dr. Florianópolis 2019 DANIELA MACHADO SILVA AS MUDANÇAS CLIMATICAS E UM COMPARATIVO ENTRE O PROTOCOLO DE QUIOTO E O ACORDO DE PARIS Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel e aprovado em sua forma final pelo Curso de Relações Internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina. Florianópolis, 07 de outubro de 2019. ______________________________________________________ Professor e Orientador Prof. Rafael de Miranda Santos, Dr. Universidade do Sul de Santa Catarina ______________________________________________________ Prof. Jonatan Carvalho de Borba, Ms. Universidade Federal de Santa Catarina ______________________________________________________ Prof. João Geraldo C. Campos, Msc. Universidade do Sul de Santa Catarina ______________________________________________________ Matheus Luiz Puppe Magalhães, M.A., LL.M. Aos meus pais, Edenir e Ivana, que sempre estiveram ao meu lado e são os meus maiores exemplos de vida. A minha vitória também é de vocês. AGRADECIMENTOS Primeiramente gostaria de agradecer ao meu professor orientador, Rafael de Miranda Santos, pela dedicação, pela competência e pelo suporte a mim dirigidos para a conclusão deste trabalho, e também a todos os outros professores, pelos ensinamentos repassados nesta caminhada acadêmica. Aos meus pais, Edenir e Ivana, por todo o apoio que sempre me deram, principalmente na reta final para a conclusão do curso, e por sempre terem acreditado em mim, mesmo quando eu dava indícios de querer abandonar essa trajetória. À minha irmã, Eduarda, que sempre esteve ao meu lado. A todos os meus colegas e, principalmente, aos amigos Amanda, Bruna, Heitor, Lisandra, Roberta, Thayse, Vitor e Victoria, que me incentivaram, deram forças e ânimo para que fosse possível a efetivação deste trabalho, e que se mostraram sempre disponíveis para qualquer coisa. Também aos amigos Dinan, Wilter e Alicia, que não poderiam ser esquecidos, principalmente por terem vivenciado a COP23 comigo e ajudado a descobrir o amor pelo tema. Ao Geraldo e à Eloisa, por todos os encontros quinzenais que tivemos neste ano, pelas conversas e ensinamentos, que sem dúvida levarei para a vida toda. Agradeço a Deus, que sem dúvida esteve comigo durante todo esse longo percurso. E, por fim, gostaria de agradecer também a todos que direta ou indiretamente fizeram parte não só da minha formação acadêmica, mas da minha vida. RESUMO Este trabalho tem como objetivo destacar e analisar a crescente importância do enfrentamento às mudanças climáticas, debruçando-se especialmente sobre as principais conferências do clima, seus acordos e conclusões na esfera internacional desde a ECO-92, considerada o marco inicial para as discussões sobre o tema. Discute-se a relevância do Protocolo de Quioto e do Acordo de Paris, quando foram adotados tratados com o objetivo de reforçar e incentivar respostas globais às ameaças das mudanças do clima e seus respectivos impactos, e relaciona-se o meio ambiente, a sustentabilidade e a globalização. Palavras-chave: Mudanças climáticas. Conferências internacionais. Relações internacionais. Protocolo de Quioto. Acordo de Paris. ABSTRACT This work aims to highlight and analyze the growing importance of climate change, main climate conferences, their international agreements and conclusions since ECO- 92, which is considered as the initial “tiptoe” for discussions. on tackling climate change. It also discusses the relevance of the Kyoto Treaty and the Paris Agreement, where agreements have been adopted to strengthen and encourage global responses to climate change threats and their impacts. Also relating the environment, sustainability and globalization. Keywords: Climate change. International conferences. International relations. Kyoto Protocol. Paris Agreement. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Fridays For Future ........................................ Erro! Indicador não definido. Figura 2 - Diferenças entre 1,5 ºC e 2 ºC de aquecimento ........................................ 30 file:///C:/Users/Daniela%20Silva/Desktop/TCC%20DANI.docx%23_Toc19027241 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Acordo de Paris X Tratado de Quioto ....................................................... 36 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CMMAD – Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento CNUMAD – Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento COP – Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas ECO-92 – Convenção das Nações Unidas sobre Meio Ambiente GEE – Gases de Efeito Estufa INC – Comitê Intergovernamental de Negociação INDC – Pretendida Contribuição Nacionalmente Determinada IPCC – Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas NDC – Contribuição Nacionalmente Determinada OMM – Organização Meteorológica Mundial ONG – Organização Não Governamental ONU – Organização das Nações Unidas PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente UNFCCC – Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas WCC – World Climate Conference WRI – World Resources Institute SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 11 2 MEIO AMBIENTE, GLOBALIZAÇÃO E SUSTENTABILIDADE ......................... 14 3 SOCIEDADE CIVIL .............................................................................................. 17 4 ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS ................................................................ 20 5 CONFERÊNCIAS INTERNACIONAIS SOBRE O CLIMA ................................... 22 5.1 ECO-92 .............................................................................................................. 22 5.2 COP3 ................................................................................................................. 24 5.2.1 O Protocolo de Quioto .................................................................................. 24 5.3 COP21 ............................................................................................................... 26 5.3.1 O Acordo de Paris ......................................................................................... 27 5.4 DISCUTINDO O PROTOCOLO DE QUIOTO E O ACORDO DE PARIS .......... 35 6 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 39 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 42 11 1 INTRODUÇÃO As mudanças climáticas são discutidas de fato desde meados dos anos 1990, e podemos considerar como principais marcos a criação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (Intergovernmental Panel on Climate Change – IPCC), a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, ECO-92, o Protocolo de Quioto e o Acordo de Paris. O desenvolvimento sustentável tem ganhado ainda mais relevância nos últimos anos e, por isso, vem cada vezmais sendo debatido não só entre diversos países, como também entre importantes atores globais. A participação em fóruns internacionais sobre questões ambientais e mudanças climáticas está cada vez mais presente no dia a dia dos Estados. A preocupação com o meio ambiente, as mudanças climáticas e o massivo aquecimento global são questões que devem ser repensadas para que haja um futuro mais próspero. Para se realizarem estudos sobre o enfrentamento às mudanças climáticas de forma a manter o planeta viável, organizações foram criadas para monitorar e auxiliar os Estados. Entre as principais instituições que abordam as mudanças climáticas podemos citar o The Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), que estuda e analisa as mudanças no clima mediante pesquisas e relatórios esporádicos, e o United Nations Framework Convention on Climate Change (UNFCCC), órgão Quadro das Nações Unidas que trata das mudanças climáticas. Atualmente, a concepção mais aceita é a de que mudanças climáticas são fenômenos referentes a alterações da temperatura média global, o que traz diversas consequências para o planeta, como aumento do nível do mar, secas duradouras, extinção de faunas e floras, e tempestades de intensidades altas. Esse massivo aumento na temperatura global, juntamente com as mudanças climáticas, ocorre devido ao aumento dos gases causadores do efeito estufa (dióxido de carbono, óxido nitroso e metano), entre outros motivos. A Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) define desenvolvimento sustentável como aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer que as gerações futuras tenham também suas necessidades atendidas. 12 Há muito tempo se vêm discutindo opções viáveis para alcançarmos a sustentabilidade global. Nessa direção, são inúmeras conferências e fóruns lançados para que sejam discutidas as opções. Entre os vários problemas que estamos enfrentando está o aquecimento global, que preocupa cada vez mais. No entanto, não bastam somente os tratados internacionais para que possamos alcançar os objetivos propostos. Muitos pontos dos processos para um mundo mais sustentável precisam ser analisados, como a relação entre a crescente globalização e o meio ambiente e, principalmente, a conscientização do ser humano. Em meio às opções de mecanismos de preservação ambiental, foi sediada no Brasil a primeira conferência internacional com foco somente no meio ambiente, a ECO-92. Trata-se de um marco na história sobre a discussão da redução de gases de efeito estufa (GEE), quando diversos objetivos foram traçados para um mundo mais sustentável. Nesse encontro alguns importantes documentos foram assinados, como o Protocolo de Quioto, em que se estipula a diminuição da emissão de gases causadores do efeito estufa, a Convenção do Clima e, o mais importante deles, a Agenda 21. Ainda para se buscarem alternativas mais atuais, foram feitas outras conferências internacionais sobre mudanças climáticas, tendo sido destaques a Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de Quioto (COP3) e a de Paris (COP21). A COP3, que aconteceu em 1997, na cidade de Quioto, no Japão, objetivava negociar, redigir e aprovar termos do Protocolo de Quioto, que entraria em vigor somente em 2005, o qual ficou conhecido como um dos mais importantes marcos desde a criação dessa convenção no combate às mudanças climáticas. Porém, devido ao fracasso obtido com o Protocolo, em 2011, na COP17, na África do Sul, foi criada a Plataforma de Durban, com o objetivo de negociar um instrumento jurídico que regesse as medidas de mitigação das mudanças climáticas a partir de 2020, agenda que abriu caminho para o Acordo de Paris. A Conferência de Paris, COP21, em 2015, teve certo êxito, se comparada ao fracasso de Quioto. Na capital francesa foram obtidas valiosas promessas para tornar o mundo mais sustentável, com projeções para um período a partir de 2020. Com a crescente evolução das tecnologias e a rápida globalização, os problemas climáticos e ambientais não são mais tratados apenas como regionais, em 13 que basta que cada Estado aplique as ações individuais. Os problemas ambientais, sobretudo as mudanças climáticas, precisam e devem ser discutidos em âmbito global, com medidas para que cada administração territorial cumpra sua parte, para aumentar a possibilidade de manter o planeta sustentável e com menos efeitos negativos na biodiversidade. A importância deste trabalho é justificada pela relevância e pelo impacto do estudo para a sociedade, uma vez que todos são diretamente afetados pelas mudanças negativas que o mundo tem passado. Caso essas mudanças se agravem, todos sofreremos. É imprescindível tratar desse tema no meio acadêmico, mediante estudos mais aprofundados, para que a sociedade possa compreender e interagir melhor com os problemas climáticos que estão afetando cada vez mais a Terra. Na academia, em relações internacionais, o tema meio ambiente e mudanças climáticas tem sido cada vez mais discutido, e este trabalho mostra a importância de se criar uma ponte entre os estudiosos do meio ambiente e a sociedade civil. Para a autora do presente trabalho, o tema se justifica ainda pela crescente importância que os fóruns internacionais vêm adquirindo. Além da paixão e do interesse pelo meio ambiente, entende-se necessária a compreensão sobre clima, meio ambiente e suas mudanças. Logo, este trabalho de conclusão de curso tem como objetivo geral demonstrar o valor do meio ambiente, analisar a crescente importância do enfrentamento das mudanças climáticas e das conferências do clima, seus acordos e conclusões, na esfera internacional, desde a ECO-92. Como objetivos específicos, destaca-se a importância do meio ambiente e da sustentabilidade nas relações internacionais, à luz da ECO-92, analisam-se as mais significativas conferências internacionais sobre o clima, como a ECO-92, a COP3 e a COP21, e, por fim, discute-se a relevância do Protocolo de Quioto e do Acordo de Paris. O trabalho visa refletir a seguinte pergunta: “Qual é a importância das conferências internacionais do clima nas relações internacionais contemporâneas, especialmente as conferências que ocorreram entre a ECO-92 e a COP24?”. 14 2 MEIO AMBIENTE, GLOBALIZAÇÃO E SUSTENTABILIDADE De acordo com Helena Ribeiro Sobral (1997), a questão ambiental é emblemática para se estudar o processo de globalização. Um exemplo da globalização e da preocupação com o meio ambiente é a Agenda 21, documento de suma importância, fruto da reunião de diversos países na Conferência das Nações Unidas em 1992, no Rio de Janeiro. A ECO-92, com os objetivos de atingir um crescimento sustentável, pela integração dos conceitos de meio ambiente e desenvolvimento; de lutar pelo fortalecimento de um mundo com qualidade, pelo combate à pobreza e pela proteção da saúde humana; de tornar o mundo habitável, em questões de suprimento de água e administração de rejeitos sólidos; de encorajar o eficiente uso dos recursos e a conservação da biodiversidade; de proteger recursos regionais e globais; e de propiciar um efetivo gerenciamento dos resíduos químicos e dos resíduos nucleares. Foi a partir dessa conferência que a sustentabilidade ganhou foco e passou a ser uma das principais questões da política ambiental. Segundo o Relatório de Brundtland, elaborado pela Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento, o termo “sustentável” deriva do latim, sustentare, que significa sustentar, defender, favorecer, apoiar, conservar, cuidar. Esse documento foi intitulado como Nosso Futuro Comum, e nele se apresenta o conceito sobre sustentabilidade como “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”1(UNITED NATIONS, 1987, tradução nossa). O documento enfatiza problemas ambientais, como a destruição da camada de ozônio e o aquecimento global; e, a todo momento foca em três componentes principais que devem estar interligados: o desenvolvimento econômico; a sustentabilidade; e o meio ambiente. Unidos, formam o tripé sobre o qual o mundo está, e, se não prosperarem juntos, poderemos sofrer graves consequências no futuro: 1 Texto original: “[...] to ensure that it meets the needs of the present without compromising the ability of future generations to meet their own needs - The concept of sustainable development”. 15 Se o desenvolvimento econômico aumenta a vulnerabilidade às crises, ele é insustentável. Uma seca pode obrigar os agricultores a sacrificarem animais que seriam necessários para manter a produção nos anos seguintes. Uma queda nos preços pode levar os agricultores e outros produtores a explorarem excessivamente os recursos naturais, a fim de manter rendas. Mas pode-se reduzir a vulnerabilidade usando tecnologias que diminuam os riscos de produção, dando preferência a opções institucionais que reduzam flutuações de mercado e acumulando reservas, sobretudo de alimentos e divisas. Mas não basta ampliar a gama das variáveis econômicas a serem consideradas. Para haver sustentabilidade, é preciso uma visão das necessidades e do bem-estar humano que incorpora variáveis não econômicas como educação e saúde, água e ar puros e a proteção das belezas naturais. Também, é preciso eliminar as limitações dos grupos menos favorecidos, muitos dos quais vivem em áreas ecologicamente vulneráveis.2 (NOSSO FUTURO COMUM, 1987, p. 64, tradução nossa). Souza (2007) entende que o crescimento da atividade industrial e populacional no mundo, associado à falta de medidas que objetivem o desenvolvimento sustentável, indica a incapacidade de se produzir sem a geração de impactos negativos ao ambiente. Além de criar produtos, os processos produtivos geram poluentes danosos à saúde humana, animal e vegetal, com gastos monetários e perda de bem-estar à sociedade, o que torna todo o processo insustentável. Para Furtado (1974) e Leis (1999), trabalhar com o padrão de consumo adotado pelos países afluentes jamais poderia ser estendido às demais sociedades, pela própria impossibilidade de o meio ambiente naturalmente absorver os impactos advindos dessa adoção. Defender a generalização das formas de consumo que prevalecem nos países cêntricos não tem cabimento. “O custo, em termos de depredação do mundo físico, 2 Texto original: Economic development is unsustainable if it increases vulnerability to crises. A drought may force farmers to slaughter animals needed for sustaining production in future years. A drop in prices may cause farmers or other producers to overexploit natural resources to maintain incomes. But vulnerability can be reduced by using technologies that lower production risks, by choosing institutional options that reduce market fluctuations, and by building up reserves, especially of food and foreign exchange. A development path that combines growth with reduced vulnerability is more sustainable than one that does not. Yet it is not enough to broaden the range of economic variables taken into account. Sustainability requires views of human needs and well-being that incorporate such non-economic variables as education and health enjoyed for their own sak~, clean air and water, and the protection of natural beauty. It must also work to remove disabilities from disadvantaged groups, many of whom live in ecologically vulnerable areas. 16 desse estilo de vida é de tal forma elevado que toda tentativa de o generalizar levaria inexoravelmente ao colapso da civilização atual [...]” (FURTADO, 1974, p. 75). O conceito mais aceito nos últimos anos para sustentabilidade envolve a definição mais concreta do objetivo de desenvolvimento atual (a melhoria da qualidade de vida de todos os habitantes da Terra) e, ao mesmo tempo, distingue o fator que limita tal desenvolvimento e pode prejudicar as gerações futuras (o uso de recursos naturais além da capacidade do planeta). (MIKHAILOVA, 2006). Como lembra Tomlinson (2015), o meio ambiente vem sofrendo uma série de problemas, principalmente as mudanças do clima, por conta da globalização crescente, das ações e das decisões de diferentes atores internacionais, desde indivíduos até grandes corporações e Estados. Esses problemas não têm apenas um culpado, por isso os indivíduos não devem esperar a ação dos Estados, mas devem, sim, começar a tomar medidas, por menores que sejam, para evitar que a situação se agrave. Como não esperam pelos “grandes” para causar os problemas, não devem esperar por eles para solucioná-los. 17 3 SOCIEDADE CIVIL Como mencionado no capitulo anterior, a sociedade civil também deve se preocupar e ter voz ativa sobre as mudanças climáticas, tema de importância que pode direta e indiretamente afetar as vidas na terra. Alguns movimentos contemporâneos vêm crescendo e repercutindo pelo mundo, como por exemplo, de uma menina sueca, de 16 anos, chamada Greta Thunberg, que criou o “Fridays For Future” ou o “Climate Strike”. Durante três semanas no mês de agosto de 2018, ela se recusou a ir para a escola e ficou sentada em frente ao Parlamento Sueco para protestar contra a falta de ações sobre a crise climática no seu país (#FRIDAYSFORFUTURE, 2019) Exemplificando os estudos de Tomlinson (2015). Segundo #Fridaysforfuture (2019) o movimento acabou tendo mais repercussão do que o esperado, e Greta Thunberg decidiu continuar protestando no mês seguinte, porém, dessa vez, somente nas sextas-feiras, até que as políticas suecas apresentassem um caminho seguro para o meio ambiente. Inspirados por este movimento, estudantes e adultos de outros países começaram a protestar em frente a seus governos e parlamentos, seguindo a menina, que então nomeou esse movimento de Fridays For Future ou, em português, Sextas- feiras pelo Futuro. (#FRIDAYSFORFUTURE, 2019) A Figura 1 mostra o crescimento do movimento intitulado Fridays for Future no mundo. 18 Figura 1 – Fridays For Future Fonte: #FRIDAYSFORFUTURE. Events Graph. Sweden, 02 set. 2019 disponível em: https://www.fridaysforfuture.org/events/graph. Acesso em: 02 set. 2019 Pode-se observar que a linha vermelha, registra o número de países onde aconteceu o movimento; as cidades em verde; o número de eventos em roxo; e, por último, em azul o número de pessoas que participaram por semana3 e o total individual de pessoas que pelo menos uma vez participaram ou aderiram ao movimento. Assim como Greta Thunberg, podemos citar Severn Suzuki, uma menina de 13 anos, que ficou conhecida internacionalmente por ter “calado o mundo”, que em 1992 com seu discurso na ECO-92, muito aplaudido, a menina canadense conseguiu provocar lágrimas em inúmeras pessoas, sendo uma pioneira deste tipo de movimento. Severn representava um grupo ambientalista (Environmental Children’s 3 Uma mesma pessoa pode contabilizar toda a semana. https://www.fridaysforfuture.org/events/graph 19 Organization) formado por ela e mais três meninas (Vanessa Sultie, Morgan Geisler e Michelle Quigg), com a intenção de trazer o foco para as questões ambientais e “pedir para que os adultos mudem o seu modo de agir”. (SUZUKI, 1992). Além das duas meninas, temos outros exemplos espalhados pelo mundo, como alguns artistas que aproveitam seu status de “celebridade” e sua influencia para apoiar a defesa das mudanças climáticas e junto criar uma possível conscientização. Entre esses podemos citar Morgan Freeman, Leonardo DiCaprio, Bradd Pitt e Cameron Diaz. 20 4 ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS As organizações internacionais podem ser definidas como “associações voluntárias de Estados, constituindo uma sociedade,criada por um tratado, com a finalidade de buscar interesses comuns por meio de uma permanente cooperação entre seus membros” (SEINTENFUS, 2013, p. 92). A organização internacional mais conhecida é a Organização das Nações Unidas (ONU), que tem por finalidade manter a paz e a segurança no mundo, fomentar relações cordiais entre as nações e promover progresso social, melhores padrões de vida e direitos humanos. De acordo com o site oficial da ONU, A Organização das Nações Unidas, também conhecida pela sigla ONU, é uma organização internacional formada por países que se reuniram voluntariamente para trabalhar pela paz e o desenvolvimento mundial. (NAÇÕES UNIDAS, 2019). Existem muitas organizações internacionais, em diversos setores, que atuam ao redor do globo. Entre elas, destacamos algumas organizações internacionais ligadas ao sistema ONU e ao clima, como o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas ou, em inglês, The Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em inglês, United Nations Framework Convention on Climate Change (UNFCCC). O PNUMA, estabelecido em 1972, dispõe de uma rede de escritórios regionais para apoiar instituições e processos de governança ambiental. Tem como objetivos manter o estado do meio ambiente global sob contínuo monitoramento, alertar povos e nações sobre problemas e ameaças ao meio ambiente e recomendar medidas para melhorar a qualidade de vida da população sem comprometer os recursos e serviços ambientais das gerações futuras (ONU MEIO AMBIENTE, 2019). A ONU Meio Ambiente, principal autoridade global em meio ambiente, é a agência do Sistema das Nações Unidas responsável por promover a conservação do meio ambiente e o uso eficiente de recursos no contexto do desenvolvimento sustentável. (ONU MEIO AMBIENTE, 2019). O IPCC foi fundado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), em 1988, para prover 21 ao mundo uma visão científica mais clara sobre o atual estado das mudanças climáticas e seus potenciais impactos ambientais e socioeconômicos. Ele divulga relatórios periódicos em que demonstra as mudanças climáticas que o mundo vem sofrendo. É formado por um grupo de cientistas de diversas nacionalidades, que, além de divulgarem os relatórios, propõem metas que devem ser seguidas para que o aquecimento global seja minimizado. O financiamento para as pesquisas ocorre de forma voluntária pelos países-membros, e também com contribuições regulares do PNUMA e da UNFCCC (IPCC, 2019). A UNFCCC, ratificada por 196 países, surgiu em 1992 durante a ECO-92 e foi uma das três adotadas na “Cúpula da Terra do Rio”, só tendo entrado em vigor dois anos depois, em 1994. Seu principal objetivo é prevenir a interferência humana “perigosa” e lidar com quaisquer impactos negativos ao sistema climático, além de tomar decisões necessárias para promover a efetiva implementação das ações para a redução das mudanças do clima e de quaisquer instrumentos jurídicos que a COP possa adotar. Ela reconheceu a existência de um grande problema em um momento em que as informações disponíveis sobre mudança climática eram bem menores do que as que temos hoje, o que foi notável (UNITED NATIONS CLIMATE CHANGE, 2019b). 22 5 CONFERÊNCIAS INTERNACIONAIS SOBRE O CLIMA Já foram realizadas inúmeras conferências sobre o clima, sendo a pioneira, em 1972, a Conferência de Estocolmo. A essência dessa conferência das Nações Unidas foi sobre o meio ambiente humano, um tema amplo, que vai muito além das mudanças climáticas, mas que representou o início das discussões sobre o assunto em âmbito internacional (UNITED NATIONS CLIMATE CHANGE, 2019c). Já em 1979 aconteceu a World Climate Conference (WCC), a primeira conferência que realmente teve foco nas mudanças do clima. A seguinte ocorreu somente onze anos depois, junto com o lançamento do primeiro relatório do IPCC, em 1990, quando realmente começaram a se realizar conferências com mais frequência. Um ano depois, houve em Nova York o primeiro encontro do Comitê Intergovernamental de Negociação (INC) (UNITED NATIONS CLIMATE CHANGE, 2019c). Em 1992 acontece a ECO-92, no Rio de Janeiro, onde finalmente o clima começa a ter destaque no cenário internacional. E em 1995 realiza-se a primeira Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP1), dando abertura às próximas COP (UNITED NATIONS CLIMATE CHANGE, 2019c). 5.1 ECO-92 A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), também conhecida como Cúpula da Terra, ECO-92 ou RIO-92, é considerada uma conferência internacional de destaque e de grande importância, pois foi a primeira a se preocupar com o equilíbrio entre a proteção ambiental e o desenvolvimento econômico, e pela primeira vez os países participantes reconheceram a necessidade de tomar iniciativa para prevenir danos futuros, além de ter sido o berço das primeiras manifestações do que viria a se tornar o Protocolo de Quioto. A conferência aconteceu no Rio de Janeiro, em junho de 1992, vinte anos após a Conferência de Estocolmo, e resultou na adoção de normas fundamentais para o direito internacional do meio ambiente, como a Carta da Terra, a Agenda 21 e as 23 chamadas “convenções irmãs do Rio”, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) e suas outras duas “irmãs”, a Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (Convenção da Biodiversidade) e a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (AMORIM, 2015). Segundo André Lago (2007), a ECO-92 foi diferente de todas as conferências anteriores na área e teve caráter especial por ter reunido mais de 100 países para a busca de um desenvolvimento igualitário e sem agressão ao meio ambiente. Também buscou uma forma de desenvolvimento sustentável, com preservação dos recursos naturais do planeta Terra, demonstrando, assim, a evolução do tema meio ambiente na agenda internacional dos países. Ocorreu paralelamente à conferência um fórum global, organizado por inúmeras ONG. O documento que ganhou destaque foi a Agenda 21, pois pela primeira vez houve uma reflexão sobre a importância do comprometimento individual de cada país a respeito da forma pela qual seus governos, empresas e todos os atores de sua sociedade poderiam cooperar no estudo de soluções para os problemas socioambientais (BRASIL, 2019). A Agenda 21 foi vista como uma agenda de ações para o século XXI, com assuntos que vão desde dimensões sociais e econômicas (tal como o combate à pobreza e a mudança nos padrões de consumo e desenvolvimento sustentável), passando pela gestão dos recursos para o desenvolvimento (como a proteção da atmosfera e a conservação da diversidade biológica) e indo até a importância do fortalecimento do papel das crianças e da juventude no desenvolvimento sustentável e da promoção do ensino e da conscientização ambiental (BRASIL, 2019). No decorrer da conferência, ficou acordado que os países em desenvolvimento deveriam receber apoio financeiro e tecnológico para alcançarem outro modelo de desenvolvimento, que fosse sustentável, inclusive com a redução dos padrões de consumo, especialmente de combustíveis fósseis (petróleo e carvão mineral). Com essa decisão, a possível união entre meio ambiente e desenvolvimento avançou, superando parte dos conflitos registrados nas poucas reuniões anteriores (CONFERÊNCIA RIO-92 SOBRE O MEIO AMBIENTE DO PLANETA, 2019). 24 5.2 COP3 A terceira Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, COP3 ou Cimeira de Quioto, aconteceu em 1997, no Japão. Tornou-se um dos eventos mais extraordináriose notáveis da diplomacia ambiental internacional, tendo reunido em torno de 2.200 delegados de 158 Estados- Partes da Convenção e de 6 Estados observadores, cerca de 4.000 observadores de ONG e mais de 3.700 representantes da mídia (OBERTHUR; OTT, 1999, p.77). Para resolverem todas as questões pendentes sobre meio ambiente, a reunião em Quioto foi dividida em três partes. Antes do início da COP, o Grupo de Trabalho de Biblioteconomia Médica retomou sua oitava sessão por um dia, para fazer um balanço do estado das discussões e apresentar quaisquer novas conclusões para a conferência (OBERTHUR; OTT, 1999, p.80). A própria COP foi então dividida em duas fases. Durante a primeira semana, as Partes tentaram estabelecer o máximo de conclusões comuns possíveis, a fim de permitir que o acordo final fosse alcançado durante o segmento ministerial de três dias da conferência, que ocorreu durante a segunda semana da reunião (OBERTHUR; OTT, 1999, p.80). 5.2.1 O Protocolo de Quioto Como já mencionado, o Protocolo de Quioto teve parte de sua origem na ECO- 92, mas foi criado oficialmente em dezembro de 1997 e entrou em vigor somente em fevereiro de 2005, logo após o atendimento a certas condições, que exigiam a ratificação de no mínimo 55% do total de países-membros da Convenção, e também por países que representavam pelo menos 55% do total das emissões globais de dióxido de carbono em 1990 (SISTER, 2007, p.9). Os países signatários foram divididos em dois grupos, de acordo com seu nível de industrialização. Cada grupo tem obrigações distintas em relação ao Protocolo. • Anexo I – reúne os países desenvolvidos; • Não Anexo I – grupo dos países em desenvolvimento. Reconhecendo que os países desenvolvidos são os principais responsáveis pelos atuais níveis elevados de emissões de GEE na atmosfera como resultado da mais de 150 anos de atividade industrial, o protocolo impõe uma grande tarefa às as nações desenvolvidas sob o princípio de “Responsabilidades comuns, porém diferenciadas”. 25 Desta forma, os países desenvolvidos que ratificaram o tratado têm o compromisso de diminuir suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) numa média de 5,2% em relação aos níveis que emitiam em 1990. E têm um prazo final para cumprir a meta: entre 2008 e 2012. Já os países do Não Anexo I não têm metas obrigatórias, mas devem auxiliar na redução de emissão desses gases por meio de ações nacionais e também através de projetos previstos no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. (BRASIL, 2010) Para Victor (2001), o Protocolo de Quioto foi negociado com muita pressa, e a maior parte do acordo foi redigida em apenas dois meses antes da sessão de negociação final. Com esse processo de negociação acelerado, quase não deram atenção a como os compromissos seriam implementados, e assim os negociadores essencialmente ignoraram as imensas implicações, não só financeiras, do sistema que estavam criando. Além disso, os negociadores dos países industrializados queriam um acordo que desse a impressão de que seus governos estavam levando o aquecimento global a sério. Inicialmente concordaram em criar um sistema de comércio de emissões de gases, no entanto a linguagem jurídica usada no Protocolo de Quioto não requeria a criação de tal sistema. Ainda segundo Victor (2001), diplomatas de alguns países deixaram Quioto com a suposição de que o comércio de emissões era parte integrante do protocolo e adiaram o máximo possível qualquer esforço para estabelecer as regras que governariam esse sistema. Na prática, poucas nações seriam capazes de cumprir as rígidas metas de Quioto de maneira econômica, a menos que concordassem em negociar baixas taxas para as emissões. Seguindo as palavras de Victor (2001), mesmo estando de acordo com o objetivo máximo da UNFCCC, a sessão de Quioto criou um acordo altamente ambicioso, que exige uma forma completamente nova de negociação financeira internacional para que tenha sucesso, mas sem nenhum consenso sobre como implementar esse esquema. Por conta da pressa, da rápida negociação e do pouco interesse por parte dos diplomatas, o protocolo acabou sendo de certa forma ineficiente e difícil de ser aplicado, especialmente por ter sido escrito de modo muito genérico e sem especificidades de como teriam de ocorrer as negociações financeiras sobre o comércio de carbono. 26 5.3 COP21 A vigésima primeira Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, ou COP21, aconteceu em dezembro de 2015, em Paris. Teve como principal objetivo incorporar um novo acordo entre todos os Estados-partes da UNFCCC para diminuir as emissões de GEE, limitar o aumento da temperatura global em menos que 2 ºC até o final deste século e, consequentemente, retrogradar o aquecimento global (INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL, 2019). Segundo Barbosa (2015) “há pelo menos um motivo para apostar que algo de bom possa sair desse novo encontro – nunca antes tantos chefes de Estado e governos estiveram reunidos em um mesmo lugar para discutir soluções em conjunto”. O objetivo da COP21 foi claro: chegar a um ambicioso e amplo acordo com o máximo de Estados possível, senão todos, para frear os efeitos das mudanças climáticas e garantir o futuro das próximas gerações, o que já haviam tentado fazer na COP3, com o Protocolo de Quioto, mas que acabou não atendendo às expectativas. A diferença é que dessa vez decidiram deixar o tema do acordo mais amplo, não focando somente na redução de emissão de GEE, e antes do encontro na COP encorajaram os governos a submeter a Pretendida Contribuição Nacionalmente Determinada ou, em inglês, Intended Nationally Determined Contributions (INDC) (SALAWITCH; CANTY; HOPE; TRIBETT; BENNETT, 2017, p.118). O foco das INDCS é refletir as ambições de cada país para contribuir com a redução de emissões domésticas de gases. Juntar as INDC de todos os países era fundamental para a determinação do Acordo de Paris. A data final para a submissão individual das INDCS foi 1º de outubro de 2015. Cada país da convenção devia apresentar, no contexto de suas prioridades nacionais, circunstâncias e capacidades, contribuições que fossem compatíveis com o objetivo final de limitar o aumento da temperatura global a um máximo de 2 ºC até o final do século – teto que os cientistas colocaram como necessário na época para evitar mudanças catastróficas. Posteriormente, esse quantificador passaria de INDC para NDC, sem o “i” de “Intended” (em português, “Pretendida”), uma vez que, com o Acordo em vigor, os países não teriam mais contribuições pretendidas e, sim, contribuições a serem cumpridas. (O QUE SÃO INDCS, 2015) 27 Além das INDCS, foi decidido que seria aberto um grupo para “consultas informais”, intitulado Comitê de Paris, liderado pelo presidente da COP21, Laurent Fabius, com o objetivo de acelerar e facilitar o compromisso sobre o Acordo e a propagação das decisões tomadas durante a conferência (UNITED NATIONS CLIMATE CHANGE, 2019a). Após a COP21, de certo modo, todas as COP foram focadas no Acordo de Paris, sendo a de Marraqueche a primeira delas, onde começaram as discussões. Já a COP23, sob a presidência de Fiji, aconteceu em Bonn, pois aquele país não possuía estruturas suficientes para receber um evento internacional de tamanho porte. Em Katowice aconteceu a COP24, e a próxima será sediada pelo Chile (UNITED NATIONS CLIMATE CHANGE, 2019d). 5.3.1 O Acordo de Paris O Acordo de Paris é o esforço multilateral mais recente para a construção sólida de um projeto de regulação internacional no contexto das mudanças climáticas, que devia ter entrado em vigor em 2016, após 55 países responsáveis por mais de 55% das emissões de GEE o ratificarem. Porém, como sua ratificação aconteceu mais rápido do que o esperado, foi acordado que só funcionaria efetivamente após o livro de regrasestar pronto, em 2020, depois da COP26. Até 2020, os signatários terão tempo para fazer acordos, tomar decisões, aprofundar-se nos temas que acharem necessários e, principalmente, esboçar o texto final do Acordo, com as futuras metas e ações que entenderem ser necessárias para alcançar os objetivos. O Acordo foi adotado por consenso, e o documento assinado por 195 países-partes da UNFCCC mais União Europeia. Até 2020, qualquer país poderá assinar e/ou ratificar o Acordo, assim como há a opção de desistência (NAÇÕES UNIDAS BRASIL, 2019). Apesar de ter sido adotado por consenso, esse Acordo não foi unânime. Alguns países, como Rússia, Turquia, Líbano, Iraque e Angola, só o assinaram, e não o ratificaram. Outros países, como Omã e Suriname, ratificaram o tratado somente em 2019. O Brasil assinou-o e ratificou-o em 2016 (UNITED NATIONS TREATY COLLECTION, 2019). 28 Em junho de 2017, os Estados Unidos da América declararam oficialmente sua intenção de saída, após uma declaração de Donald Trump que termina com as seguintes palavras: 4[...] Como presidente, tenho uma obrigação, e essa obrigação é para o povo americano. O Acordo de Paris minaria nossa economia, restringiria nossos trabalhadores, enfraqueceria nossa soberania, imporia riscos legais inaceitáveis e nos colocaria em permanente desvantagem para os outros países do mundo. É hora de sair do Acordo de Paris e é hora de buscar um novo acordo que proteja o meio ambiente, nossas empresas, nossos cidadãos e nosso país. É hora de colocar Youngstown, Ohio, Detroit, Michigan e Pittsburgh, Pensilvânia - junto com muitos outros locais em nosso grande país - antes de Paris, França. É hora de tornar a América ótima novamente. Obrigado. Obrigado. Muito obrigado. (TRUMP, 2017, tradução nossa) Após 2020, imagina-se que mais nenhum país “entre” no Acordo e tampouco opte pela saída. O Acordo é tão amplo que “reflete o avanço em todas as áreas possíveis de combate ao aquecimento global, a promoção e a preservação do meio ambiente e também o desenvolvimento sustentável sob o viés de ações globais” (RODRIGUES; FROZZA; FRAGA, 2017, p. 7). Entretanto, apesar de amplo, possui metas bem específicas para limitar o aquecimento global em relação à linha da base pré-industrial. Ele busca reduzir a emissão cumulativa de GEE, de modo que o aumento da temperatura média da superfície da terra esteja abaixo de 2 ºC, e atualmente busca esforços para limitar a temperatura a 1,5 ºC, pois novas pesquisas já comprovaram que ainda poderemos sofrer muitos danos se a temperatura máxima chegar a 2 ºC. Esses números podem ser interpretados como “a meta de Paris”, de 1,5 ºC de aquecimento da Terra, com limite máximo de 2 ºC, pois reconheceram que meio grau a menos pode reduzir significativamente alguns impactos das mudanças climáticas e 4 [...] As President, I have one obligation, and that obligation is to the American people. The Paris Accord would undermine our economy, hamstring our workers, weaken our sovereignty, impose unacceptable legal risks, and put us at a permanent disadvantage to the other countries of the world. It is time to exit the Paris Accord and time to pursue a new deal that protects the environment, our companies, our citizens, and our country. It is time to put Youngstown, Ohio, Detroit, Michigan, and Pittsburgh, Pennsylvania — along with many, many other locations within our great country — before Paris, France. It is time to make America great again. Thank you. Thank you. Thank you very much. 29 outros possíveis riscos (SALAWITCH; CANTY; HOPE; TRIBETT; BENNETT, 2017, p.118) A Figura 2, a seguir, do Instituto WRI Brasil, que faz parte do grupo World Resources Institute, instituição global de pesquisa com atuação em mais de 50 países, atuante no desenvolvimento de estudos e na implementação de soluções sustentáveis em clima, florestas e cidades, mostra, de acordo com o IPCC, a diferença dos danos que o planeta deverá sofrer se alcançarmos o nível máximo de temperatura de 1,5 ºC ou de 2 ºC, para o fim de tentar conscientizar as pessoas de que meio grau de aquecimento faz diferença e muitas coisas podem sofrer alterações por conta desse meio grau. O Instituto deixa claro seu apoio à redução do nível máximo de temperatura da Terra para 1,5 ºC (WRI BRASIL, 2019). 30 Figura 2 – Diferenças entre 1,5 ºC e 2 ºC de aquecimento Fonte: 8 COISAS que você precisa saber sobre o relatório de mudanças climáticas do IPCC. In: WRI BRASIL, São Paulo, 9 out. 2018. Disponivel em: https://wribrasil.org.br/pt/blog/2018/10/oito-coisas-que- voce-precisa-saber-sobre-o-relatorio-de-mudancas-climaticas-do-ipcc. Acesso em: 25 jun. 2019. 31 Hoje, o nível máximo de aquecimento do planeta tem gerado muitas discussões nas conferências sobre o clima, principalmente em plenárias, quando são tomadas as principais decisões. A grande abrangência do Acordo inclui assuntos como agricultura, saúde, direitos humanos e oceanos, além de possuir artigos específicos sobre transferência e desenvolvimento tecnológico, perdas e danos, adaptação e mitigação do clima e financiamento climático (PARIS AGREEMENT, 2015). De acordo com Klein et al. (2007), o artigo 7º do acordo5 trata da adaptação do clima e de um ciclo de ações para fortalecer regularmente os esforços de adaptação. 5 Article 7 1. Parties hereby establish the global goal on adaptation of enhancing adaptive capacity, strengthening resilience and reducing vulnerability to climate change, with a view to contributing to sustainable development and ensuring an adequate adaptation response in the context of the temperature goal referred to in Article 2. 2. Parties recognize that adaptation is a global challenge faced by all with local, subnational, national, regional and international dimensions, and that it is a key component of and makes a contribution to the long-term global response to climate change to protect people, livelihoods and ecosystems, taking into account the urgent and immediate needs of those developing country Parties that are particularly vulnerable to the adverse effects of climate change. 3. The adaptation efforts of developing country Parties shall be recognized, in accordance with the modalities to be adopted by the Conference of the Parties serving as the meeting of the Parties to this Agreement at its first session. 4. Parties recognize that the current need for adaptation is significant and that greater levels of mitigation can reduce the need for additional adaptation efforts, and that greater adaptation needs can involve greater adaptation costs. 5. Parties acknowledge that adaptation action should follow a country-driven, gender responsive, participatory and fully transparent approach, taking into consideration vulnerable groups, communities and ecosystems, and should be based on and guided by the best available science and, as appropriate, traditional knowledge, knowledge of indigenous peoples and local knowledge systems, with a view to integrating adaptation into relevant socioeconomic and environmental policies and actions, where appropriate. 6. Parties recognize the importance of support for and international cooperation on adaptation efforts and the importance of taking into account the needs of developing country Parties, especially those that are particularly vulnerable to the adverse effects of climate change. 7. Parties should strengthen their cooperation on enhancing action on adaptation, taking into account the Cancun Adaptation Framework, including with regard to: (a) Sharing information, good practices, experiences and lessons learned, including, as appropriate, as these relate to science, planning, policies and implementation in relation to adaptation actions; (b) Strengthening institutional arrangements, including those under the Convention that serve this Agreement, to support the synthesisof relevant information and knowledge, and the provision of technical support and guidance to Parties; (c) Strengthening scientific knowledge on climate, including research, systematic observation of the climate system and early warning systems, in a manner that informs climate services and supports decision-making; (d) Assisting developing country Parties in identifying effective adaptation practices, adaptation needs, priorities, support provided and received for adaptation actions and efforts, and challenges and gaps, in a manner consistent with encouraging good practices; and (e) Improving the effectiveness and durability of adaptation actions. 8. United Nations specialized organizations and agencies are encouraged to support the efforts of Parties to implement the actions referred to in paragraph 7 of this Article, taking into account the provisions of paragraph 5 of this Article. 9. Each Party shall, as appropriate, engage in adaptation planning 32 O artigo 8º abrange o tema de perdas e danos associados aos efeitos das mudanças climáticas,6 através de áreas de cooperação e de facilitação que possam melhorar a compreensão, e de algumas ações sobre o tema que atualmente são tratados pela UNFCCC, junto com o Mecanismo Internacional para Perdas e Danos de Varsóvia. Na sequência, o artigo 9º trata do financiamento climático,7 que é a peça central da processes and the implementation of actions, including the development or enhancement of relevant plans, policies and/or contributions, which may include: (a) The implementation of adaptation actions, undertakings and/or efforts; (b) The process to formulate and implement national adaptation plans; (c) The assessment of climate change impacts and vulnerability, with a view to formulating nationally determined prioritized actions, taking into account vulnerable people, places and ecosystems; (d) Monitoring and evaluating and learning from adaptation plans, policies, programmes and actions; and (e) Building the resilience of socioeconomic and ecological systems, including through economic diversification and sustainable management of natural resources. 10. Each Party should, as appropriate, submit and update periodically an adaptation communication, which may include its priorities, implementation and support needs, plans and actions, without creating any additional burden for developing country Parties. 11. The adaptation communication referred to in paragraph 10 of this Article shall be, as appropriate, submitted and updated periodically, as a component of or in conjunction with other communications or documents, including a national adaptation plan, a nationally determined contribution as referred to in Article 4, paragraph 2, and/or a national communication. 12. The adaptation communications referred to in paragraph 10 of this Article shall be recorded in a public registry maintained by the secretariat. 13. Continuous and enhanced international support shall be provided to developing country Parties for the implementation of paragraphs 7, 9, 10 and 11 of this Article, in accordance with the provisions of Articles 9, 10 and 11. 14. The global stocktake referred to in Article 14 shall, inter alia: (a) Recognize adaptation efforts of developing country Parties; (b) Enhance the implementation of adaptation action taking into account the adaptation communication referred to in paragraph 10 of this Article; (c) Review the adequacy and effectiveness of adaptation and support provided for adaptation; and (d) Review the overall progress made in achieving the global goal on adaptation referred to in paragraph 1 of this Article. 6 Article 8 1. Parties recognize the importance of averting, minimizing and addressing loss and damage associated with the adverse effects of climate change, including extreme weather events and slow onset events, and the role of sustainable development in reducing the risk of loss and damage. 2. The Warsaw International Mechanism for Loss and Damage associated with Climate Change Impacts shall be subject to the authority and guidance of the Conference of the Parties serving as the meeting of the Parties to this Agreement and may be enhanced and strengthened, as determined by the Conference of the Parties serving as the meeting of the Parties to this Agreement. 3. Parties should enhance understanding, action and support, including through the Warsaw International Mechanism, as appropriate, on a cooperative and facilitative basis with respect to loss and damage associated with the adverse effects of climate change. 4. Accordingly, areas of cooperation and facilitation to enhance understanding, action and support may include: (a) Early warning systems; (b) Emergency preparedness; (c) Slow onset events; (d) Events that may involve irreversible and permanent loss and damage; (e) Comprehensive risk assessment and management; (f) Risk insurance facilities, climate risk pooling and other insurance solutions; (g) Non-economic losses; and (h) Resilience of communities, livelihoods and ecosystems. 5. The Warsaw International Mechanism shall collaborate with existing bodies and expert groups under the Agreement, as well as relevant organizations and expert bodies outside the Agreement. 7 Article 9 1. Developed country Parties shall provide financial resources to assist developing country Parties with respect to both mitigation and adaptation in continuation of their existing obligations under the Convention. 2. Other Parties are encouraged to provide or continue to provide such support voluntarily. 3. As part of a global effort, developed country Parties should continue to take the lead in mobilizing climate finance from a wide variety of sources, instruments and channels, noting the 33 arquitetura internacional de mudanças do clima e está sendo determinante para alcançar o Acordo de Paris. Ainda, as obrigações para o fornecimento do financiamento climático foram divididas em diferentes disposições dentro do artigo, incluindo alavancar os fluxos financeiros privados por meio de intervenções públicas para atender às necessidades dos países em desenvolvimento, bem como os esforços de todas as partes para canalizar seus próprios recursos financeiros domésticos e alavancar os fluxos financeiros privados domésticos em seus próprios países. A transferência e o desenvolvimento tecnológico aparecem no artigo 10,8 com o objetivo de ajudar os países em desenvolvimento a melhorar a resiliência às significant role of public funds, through a variety of actions, including supporting country-driven strategies, and taking into account the needs and priorities of developing country Parties. Such mobilization of climate finance should represent a progression beyond previous efforts. 4. The provision of scaled-up financial resources should aim to achieve a balance between adaptation and mitigation, taking into account country-driven strategies, and the priorities and needs of developing country Parties, especially those that are particularly vulnerable to the adverse effects of climate change and have significant capacity constraints, such as the least developed countries and small island developing States, considering the need for public and grant-based resources for adaptation. 5. Developed country Parties shall biennially communicate indicative quantitative and qualitative information related to paragraphs 1 and 3 of this Article, as applicable, including, as available, projected levels of public financial resources to be provided to developing country Parties. Other Parties providing resources are encouraged to communicate biennially such information on a voluntary basis. 6. The global stocktake referred to in Article 14 shall take into account the relevant information provided by developed country Parties and/or Agreement bodies on efforts related to climate finance. 7. Developed country Parties shall provide transparentand consistent information on support for developing country Parties provided and mobilized through public interventions biennially in accordance with the modalities, procedures and guidelines to be adopted by the Conference of the Parties serving as the meeting of the Parties to this Agreement, at its 9 first session, as stipulated in Article 13, paragraph 13. Other Parties are encouraged to do so. 8. The Financial Mechanism of the Convention, including its operating entities, shall serve as the financial mechanism of this Agreement. 9. The institutions serving this Agreement, including the operating entities of the Financial Mechanism of the Convention, shall aim to ensure efficient access to financial resources through simplified approval procedures and enhanced readiness support for developing country Parties, in particular for the least developed countries and small island developing States, in the context of their national climate strategies and plans. 8 Article 10 1. Parties share a long-term vision on the importance of fully realizing technology development and transfer in order to improve resilience to climate change and to reduce greenhouse gas emissions. 2. Parties, noting the importance of technology for the implementation of mitigation and adaptation actions under this Agreement and recognizing existing technology deployment and dissemination efforts, shall strengthen cooperative action on technology development and transfer. 3. The Technology Mechanism established under the Convention shall serve this Agreement. 4. A technology framework is hereby established to provide overarching guidance to the work of the Technology Mechanism in promoting and facilitating enhanced action on technology development and transfer in order to support the implementation of this Agreement, in pursuit of the long-term vision referred to in paragraph 1 of this Article. 5. Accelerating, encouraging and enabling innovation is critical for an effective, longterm global response to climate change and promoting economic 34 mudanças climáticas e a reduzir as emissões de GEE, além de acelerar e aumentar a eficácia das ações que os países tomarão no longo prazo (KLEIN et al., 2007, p. 258- 267). No preambulo do Acordo é reconhecido que a mudança do clima é uma preocupação comum de todas os atores, logo estes deverão, ao adotar medidas para enfrentar a mudança climática, respeitar, considerar e promover suas respectivas obrigações considerando os direitos humanos, o direito à saúde e dos povos indígenas, crianças e pessoas em situação de vulnerabilidade, e o direito ao desenvolvimento, bem como a igualdade de gênero e o empoderamento feminino. Sempre deverá ser observada a importância de assegurar a integridade dos ecossistemas, incluindo os oceanos, e a proteção da biodiversidade (PARIS AGREEMENT, 2015). Ban Kin-moon, 8º Secretário-Geral da ONU, tem sua fala destacada em matéria das Nações Unidas Brasil (2015), em que diz acreditar que o Acordo marca um momento decisivo para o enfrentamento às mudanças do clima: “Pela primeira vez, cada país do mundo se compromete a reduzir as emissões, fortalecer a resiliência e se unir em uma causa comum para combater a mudança do clima. O que já foi impensável se tornou um caminho sem volta”. Ainda na matéria, Kin-moon afirma que o Acordo de Paris deve preparar o terreno para o progresso na erradicação da pobreza, para o fortalecimento da paz e para a garantia de uma vida de dignidade e oportunidade para todos (NAÇÕES UNIDAS BRASIL, 2015). growth and sustainable development. Such effort shall be, as appropriate, supported, including by the Technology Mechanism and, through financial means, by the Financial Mechanism of the Convention, for collaborative approaches to research and development, and facilitating access to technology, in particular for early stages of the technology cycle, to developing country Parties. 6. Support, including financial support, shall be provided to developing country Parties for the implementation of this Article, including for strengthening cooperative action on technology development and transfer at different stages of the technology cycle, with a view to achieving a balance between support for mitigation and adaptation. The global stocktake referred to in Article 14 shall take into account available information on efforts related to support on technology development and transfer for developing country Parties. 35 5.4 DISCUTINDO O PROTOCOLO DE QUIOTO E O ACORDO DE PARIS O Protocolo e o Acordo se diferem em muitos fatores. Deve ser observado que o Acordo de Paris veio não só para tentar alcançar os objetivos do Protocolo de Quioto (que foi um enorme fracasso – ao invés de reduzir as emissões de gases, acabou aumentando em cerca de 16%), mas para ir além. Claramente, não só a estrutura, mas os comprometimentos do Acordo de Paris são distintos dos do Protocolo de Quioto. Se em ambos foi estabelecido que todas as ações são voluntárias, o Acordo sugere que a cada cinco anos os governos comuniquem os mecanismos usados para a revisão de suas contribuições, a avaliação do andamento das metas e a disponibilidade de ajuda para os signatários que não conquistaram avanços. Além disso, enquanto o Protocolo de Quioto focava somente no compromisso dos países desenvolvidos, o Acordo de Paris exige que todos os países (que fazem parte do Acordo) façam sua parte. Ainda, no Protocolo, os países não sofrem penalidades por não atingirem algum objetivo proposto; exige-se apenas a geração de relatórios e o monitoramento e a reavaliação das metas coletivas e individuais com o passar dos anos. Outro erro do Protocolo foi o caso de ter feito metas diferentes para países desenvolvidos e subdesenvolvidos (países do Anexo I e do Não Anexo I), pois com a globalização é preciso ter conhecimento de que o mundo está em constante evolução. Deste modo, se os grandes emissores de GEEs ao longo da história desempenharam um papel fundamental até agora para as mudanças climáticas, novos poluidores passam a contribuir, substantivamente, para a determinação do clima do planeta no futuro. (SOUZA; CORAZZA, 2017, p. 66). No caso do Acordo de Paris, não existem grupos, e cada país tem suas próprias metas e compromissos, de acordo com suas INDCS. Portanto, embora o Protocolo de Quioto tenha sido o primeiro importante passo para um regime global de redução de emissões de GEE, era preciso avançar, ir além, e é justamente nesse sentido que se iniciaram as negociações na COP21 para o Acordo de Paris, que até 2020 deve definir quais serão os deveres e metas incorporados ao Acordo que as partes devem cumprir. 36 O que já se tem certeza sobre o Acordo é que ele não será restrito à diminuição dos GEE, como foi o Protocolo de Quioto. Abrangerá uma diversidade de temas relacionados às mudanças climáticas e terá foco na diminuição do aumento da temperatura global. Para isso, o tempo de reflexão é um ponto que deve ser bem observado e discutido. Em Quioto tudo aconteceu muito rápido, e as decisões foram imediatas, fazendo com que o Protocolo não ficasse com uma redação apropriada e apta para ser praticada. Já Paris aparentemente está sendo mais negociado, discutido e escrito com cautela, há exatos quatro anos, e ainda dispõe de mais um ano a apresentação de uma proposta de texto final. A partir da análise dos tratados observou-se que existem possíveis relações entre os tratados conforme o quadro 1. Tabela 1 - Acordo de Paris X Tratado de Quioto Tema Acordo de Paris Tratado de Quioto Gases de efeito estufa Reconhecendo a importância da conservação e melhoria, conforme apropriado, dos sumidouros e reservatórios dos gases de efeito estufa mencionados na Convenção. Cada Parte incluída no Anexo I, ao cumprir seus compromissos quantificados de limitação e redução de emissões assumidos sobo Artigo 3, a fim de promover o desenvolvimento sustentável, deve implementar e/ou aprimorar políticas e medidas de acordo com suas circunstâncias nacionais. Fome Reconhecer a prioridade fundamental de salvaguardar a segurança alimentar e acabar com a fome. _ Saúde e bem-estar As Partes devem, ao adotar medidas para lidar com as mudanças climáticas, respeitar, promover e considerar suas respectivas obrigações [...] direito à saúde [...]. _ Temperatura global Manter o aumento da temperatura média global bem abaixo de 2 ° C acima dos níveis pré-industriais e prosseguir esforços para limitar o aumento de temperatura a 1,5 ° C acima dos níveis pré-industriais, reconhecendo que isso reduziria significativamente os riscos e impactos das mudanças climáticas. _ 37 Educação de qualidade Afirmando a importância da educação, treinamento, conscientização, participação e acesso público à informação e cooperação em todos os níveis nos assuntos abordados neste Acordo. Cooperar e promover em nível internacional e, conforme o caso, por meio de organismos existentes, a elaboração e a execução de programas de educação e treinamento, incluindo o fortalecimento da capacitação nacional, em particular a capacitação humana e institucional e o intercâmbio ou cessão de pessoal para treinar especialistas nessas áreas, em particular para os países em desenvolvimento, e facilitar em nível nacional a conscientização pública e o acesso público a informações sobre a mudança do clima. Igualdade de gênero As Partes devem, ao adotar medidas para lidar com as mudanças climáticas, respeitar, promover e considerar suas respectivas obrigações com [...] a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres. _ Energia limpa _ A pesquisa, a promoção, o desenvolvimento e o aumento do uso de formas novas e renováveis de energia, de tecnologias de sequestro de dióxido de carbono e de tecnologias ambientalmente seguras, que sejam avançadas e inovadoras Trabalho descente Levando em conta os imperativos de uma transição justa da força de trabalho, a criação de trabalho decente e empregos de qualidade, de acordo com as prioridades das indc. _ 38 Industria e inovação Levando em consideração as necessidades específicas e situações especiais dos países menos desenvolvidos no que se refere ao financiamento e transferência de tecnologia. Tais programas envolveriam, entre outros, os setores de energia, transporte e indústria, bem como os de agricultura, florestas e tratamento de resíduos. Além disso, tecnologias e métodos de adaptação para aperfeiçoar o planejamento espacial melhorariam a adaptação à mudança do clima; Cooperar na promoção de modalidades efetivas para o desenvolvimento, a aplicação e a difusão, e tomar todas as medidas possíveis para promover, facilitar e financiar, conforme o caso, a transferência ou o acesso a tecnologias, know-how, práticas e processos ambientalmente seguros relativos à mudança do clima, em particular para os países em desenvolvimento, incluindo a formulação de políticas e programas para a transferência efetiva de tecnologias ambientalmente seguras que sejam de propriedade pública ou de domínio público e a criação, no setor privado, de um ambiente propício para promover e melhorar a transferência de tecnologias ambientalmente seguras e o acesso a elas; Cooperar nas pesquisas científicas e técnicas e promover a manutenção e o desenvolvimento de sistemas de observação sistemática e o desenvolvimento de arquivos de dados para reduzir as incertezas relacionadas ao sistema climático, os efeitos adversos da mudança do clima e as consequências econômicas e sociais [...] Redução das desigualdade s As partes devem [...] respeitar, promover e considerar suas respectivas obrigações com [...] direitos dos povos indígenas, comunidades locais, migrantes, crianças, pessoas com deficiência e pessoas em situações vulneráveis e o direito ao desenvolvimento, bem como a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres. _ Oceanos Garantir a integridade de todos os ecossistemas, incluindo oceanos [...] _ 39 Vida terrestre Observando a importância de garantir a integridade de todos os ecossistemas, e a [...] proteção da biodiversidade, reconhecida por algumas culturas como Mãe Terra, e notando a importância de parte do conceito de "justiça climática", ao tomar medidas para abordar das Alterações Climáticas. _ Fonte: elaborado pela autora 40 6 CONCLUSÃO Como pôde ser observado, ao longo dos anos têm sido realizadas diversas conferências internacionais para tentar obter êxito em relação ao enfrentamento às mudanças climáticas e à proteção do meio ambiente. Nessas reuniões, houve tanto resultados positivos quanto negativos. A escassez de matérias-primas, as mudanças climáticas, as catástrofes naturais e outros fatores levam os países a tomarem decisões cada vez mais importantes para frear o aquecimento global e, consequentemente, para barrar o avanço descontrolado da industrialização. Entre as ações que trouxeram grandes avanços nos últimos anos para frear o aquecimento global está a Agenda 21, descrita na seção 4.1, que foi o meio encontrado pelos participantes da ECO-92 para tentar mobilizar os países participantes a transformar intenções em práticas, com a sugestão de várias alternativas para que os Estados pudessem atingir um nível de desenvolvimento sustentável aceitável para os padrões da época sem comprometer as gerações futuras. Também foram destacados neste trabalho o Protocolo do Quioto, explicitado na seção 4.2.1, através da COP3, que constituiu um tratado internacional com compromissos mais rígidos para a redução da emissão dos gases que agravam o efeito estufa, considerados como causa antropogênica do aquecimento global, e o Acordo de Paris, discutido na seção 4.3.1, com a COP21, que pretende implementar um novo tratado internacional, mais amplo, claro, fácil e possível de ser aplicado. Deve-se pontuar que o Acordo de Paris ainda possui um ano de negociações pela frente e, por isso, são relevantes novas pesquisas, principalmente após a COP26, de 2020, pois o Acordo estará assinado e os países começarão a colocá-lo em prática, o que certamente provocará, novamente, muita discussão sobre o assunto. Retomando a discussão desenvolvida da seção 4.4, fica visível o desarranjo do Protocolo de Quioto e as expectativas e possibilidades que o Acordo de Paris apresenta para gerar incríveis resultados, pelo principal fato de se estar estruturando o Acordo desde 2015, com ajustes quanto às divergências, para não repetir os erros do Protocolo de Quioto nesse aspecto. Conclui-se que as conferências internacionais do clima têm grande importância não só nas relações internacionais contemporâneas, mas para um futuro mais 41 próspero e tranquilo para toda a humanidade. Percebe-se que atualmente esse tem sido o único meio que possibilita o encontro de muitos atores internacionais para discutir, analisar, propor e aprender sobre as mudanças climáticas, especialmente por fomentar espaços específicos para reuniões, sessões e discussões, para em conjunto se pensar em alternativas viáveis para frear as mudanças climáticas e se comprometer mediante acordos e tratados. 42 REFERÊNCIAS #FRIDAYSFORFUTURE. Events Graph. Sweden, 2 set. 2019. Disponível em: https://www.fridaysforfuture.org/events/graph. Acesso em: 2 set. 2019. #FRIDAYSFORFUTURE: About. Disponível em: https://www.fridaysforfuture.org/about. Acesso em: 2 set. 2019. 8 COISASque você precisa saber sobre o relatório de mudanças climáticas do IPCC. In: WRI BRASIL, São Paulo, 9 out. 2018. Disponível em: https://wribrasil.org.br/pt/blog/2018/10/oito-coisas-que-voce-precisa-saber-sobre-o- relatorio-de-mudancas-climaticas-do-ipcc. Acesso em: 25 jun. 2019. AMORIM, João A. Alves. A ONU e o meio ambiente: direitos humanos, mudanças climáticas e segurança internacional no século XXI. São Paulo: Atlas, 2015. BARBOSA, Vanessa. 10 grandes números da COP21, a reunião mais ‘quente’ da ONU. 2015. Disponível em: https://exame.abril.com.br/mundo/10-grandes-numeros- da-cop21-a-reuniao-mais-quente-da-onu/. Acesso em: 9 maio 2019. BOCHENSKI, Jozef Maria. A filosofia contemporânea ocidental. Tradução de Antônio Pinto de Carvalho. São Paulo: Herder, 1962. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Agenda 21 Global. Disponível em: http://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda-21/agenda-21- global. Acesso em: 20 abr. 2019. BRASIL. Saiba mais sobre o Protocolo de Quioto. 2010. Disponível em: http://www.brasil.gov.br/noticias/meio-ambiente/2010/11/protocolo-de-quioto. Acesso em: 7 maio 2019. Conferência Rio-92 Sobre o Meio Ambiente do Planeta: desenvolvimento sustentável dos países. Disponível em: http://www.senado.gov.br/noticias/Jornal/emdiscussao/rio20/a-rio20/conferencia-rio- 92-sobre-o-meio-ambiente-do-planeta-desenvolvimento-sustentavel-dos- paises.aspx. Acesso em: 20 abr. 2019. DOWBOR, Ladislau; IANNI, Octavio; RESENDE, Paulo Edgar A. (Org.). Desafios da globalização: globalização e o meio ambiente. In: SOBRAL, Helena Ribeiro. Globalização e o meio ambiente. São Paulo: Vozes, 1997. FACHIN, Odília. Fundamentos de metodologia. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. FURTADO, Celso. O mito do desenvolvimento econômico. São Paulo: Paz e Terra, 1974. GIL, Antonio Carlos. Método e técnica de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008. 43 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL (Brasil). COP-21. Disponível em: https://www.socioambiental.org/pt-br/cop-21. Acesso em: 8 maio 2019. IPCC. The Intergovernmental Panel on Climate Change. Disponível em: https://www.ipcc.ch/. Acesso em: 10 abr. 2019. KLEIN, Daniel et al. (Ed.). The Paris Agreement on climate change: analysis and commentary. Reino Unido: Oxford, 2007. LAGO, André Aranha Corrêa do. Estocolmo, Rio, Joanesburgo: o Brasil e as três Conferências Ambientais das Nações Unidas. Brasília: Funag, 2007. LEIS, H. R. Modernidade insustentável: as críticas do ambientalismo à sociedade contemporânea. Rio de Janeiro: Vozes, 1999. MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003. Disponível em: https://docente.ifrn.edu.br/olivianeta/disciplinas/copy_of_historia-i/historia-ii/china-e- india. Acesso em: 9 abr. 2019. MIKHAILOVA, I. Sustentabilidade: evolução de conceitos teóricos e problemas da mensuração prática. Economia e Desenvolvimento, Santa Maria, n. 16, p. 22-41, 2006. NAÇÕES UNIDAS BRASIL. Acordo global sobre mudança do clima é adotado em Paris. 2015. Disponível em: https://nacoesunidas.org/acordo-global-sobre- mudanca-do-clima-e-adotado-em-paris/. Acesso em: 19 out. 2019. NAÇÕES UNIDAS BRASIL. COP21. Disponível em: https://nacoesunidas.org/cop21/. Acesso em: 19 ago. 2019. O QUE são INDCs. In: DICIONÁRIO AMBIENTAL. ((o))eco, Rio de Janeiro, 2015. Disponível em: http://www.oeco.org.br/dicionario-ambiental/o-que-sao-as-indcs/. Acesso em: 9 maio 2019. OBERTHUR, Sebastian; OTT, Hermann E. The Kyoto Protocol: International Climate Policy for the 21st Century. [S.l.]: Springer, 1999. ONU MEIO AMBIENTE. Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Disponível em: https://nacoesunidas.org/agencia/onumeioambiente/. Acesso em: 10 abr. 2019. ONU. A ONU e o meio ambiente. Disponível em: https://nacoesunidas.org/acao/meio-ambiente/. Acesso em: 9 abr. 2019. RODRIGUES, Flávio Marcelo; FROZZA, Mateus Sangoi; FRAGA, Jonhanny Mariel Leal. O Acordo de Paris sobre o combate ao aquecimento global após a Ordem Executiva de Independência Executiva de Washington. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E CONTEMPORANEIDADE, 4., 2017, Santa Maria. Anais.: UFSM, 2017. 44 SALAWITCH, Ross J.; CANTY, Timothy P.; HOPE, Austin P.; TRIBETT, Walter R.; BENNETT, Brian F. Paris Climate Agreement: beacon of hope. Suiça: Springer, 2017. SEITENFUS, Ricardo. Relações internacionais. 2. ed. Barueri: Manole, 2013. SISTER, Gabriel. Mercado de carbono e Protocolo de Quioto. Rio de Janeiro: Campus, 2007. SOUZA, Maria Cristina Oliveira; CORAZZA, Rosana Icassatti. Do Protocolo Kyoto ao Acordo de Paris: uma análise das mudanças no regime climático global a partir do estudo da evolução de perfis de emissões de gases de efeito estufa. Desenvolvimento e Meio Ambiente, Paraná, v. 42, p. 52-80, dez. 2017. SOUZA, Roberta Fernanda da Paz de. Economia do meio ambiente e responsabilidade social: os métodos de valoração econômica e controle ambiental. In: CONGRESSO DA SOBER, 45., Londrina, 2007. Anais [...] Londrina: Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural, 2007. Disponível em: http://www.sober.org.br/palestra/6/1128.pdf. Acesso em: 15 maio 2019. SUZUKI, Severn. Discurso de Severn Suzuki (13 anos), canadense, proferido na ECO 92. [Rio de Janeiro: s.n.], 1992. Disponível em: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/chamadas/Discurso_ de_Severn_Suzuki_Eco92_1263221092.pdf. Acesso em: 15 maio 2019. TOMLINSON, Luke. Procedural Justice in the United Nations Framework Convention on Climate Change: Negotiating Fairness. [S.l]: Springer, 2015. TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987. TRUMP, Donald. Statement by President Trump on the Paris Climate Accord. [Washington: s.n.], 2017. Disponível em: https://www.whitehouse.gov/briefings- statements/statement-president-trump-paris-climate-accord/. Acesso em: 28 ago. 2019. UNITED NATIONS CLIMATE CHANGE. Negotiation Updates COP 21/ CMP 11: United Nations Framework Convention on Climate Change, 2019a. Disponível em: https://unfccc.int/process/conferences/pastconferences/paris-climate-change- conference-november-2015/statements-and-resources/negotiating-updates. Acesso em: 19 ago. 2019. UNITED NATIONS CLIMATE CHANGE. What is the United Nations Framework Convention on Climate Change?: United Nations Framework Convention on Climate Change, 2019b. Disponível em: https://unfccc.int/process/the- convention/what-is-the-united-nations-framework-convention-on-climate-change. Acesso em: 14 abr. 2019. UNITED NATIONS CLIMATE CHANGE. History of the Convention: United Nations Framework Convention on Climate Change, 2019c. Disponível em: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/chamadas/Discurso_de_Severn_Suzuki_Eco92_1263221092.pdf https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/chamadas/Discurso_de_Severn_Suzuki_Eco92_1263221092.pdf 45 https://unfccc.int/process/the-convention/history-of-the-convention#eq-1. Acesso em: 14 abr. 2019. UNITED NATIONS CLIMATE CHANGE. Process and Meetings: Paris Agreement - Status of Ratification, 2019d. Disponível em: https://unfccc.int/process/the-paris- agreement/status-of-ratification. Acesso em: 28 ago. 2019. UNITED NATIONS TREATY COLLECTION. Depositary: Status of Treaties. Disponível em: https://treaties.un.org/Pages/ViewDetails.aspx?src=TREATY&mtdsg_no=XXVII-7- d&chapter=27&clang=_en. Acesso em: 29 ago. 2019. UNITED NATIONS. A/42/427. Development and international economic co- operation: environment. 4 Aug. 1987. [Nairobi]: United Nations, 1987. Disponível em: https://digitallibrary.un.org/record/139811/files/A_42_427-EN.pdf. Acesso em: 15 maio 2019. UNITED NATIONS. Paris Agreement. Paris: ONU, 2015. Disponível em: https://unfccc.int/sites/default/files/english_paris_agreement.pdf. Acesso em: 20 fev. 2019. VICTOR, David G. The collapse ofthe Kyoto Protocol and the struggle to slow global warming. New Jersey: Princeton University Press, 2001. WRI BRASIL. Sobre o WRI Brasil. Disponível em: https://wribrasil.org.br/pt/sobre. Acesso em: 25 jun. 2019.