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Fundamentos da Biologia Celular - Alberts et al - 2017 - 4 Edicao-685

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658 Fundamentos da Biologia Celular
As características mais fáceis de seguir são aquelas de fácil visualização ou 
mensuração. Em humanos, incluem-se nesta categoria características como a ten-
dência para espirrar quando se é exposto ao sol, a presença de lóbulos da orelha 
ligados ou pendentes, ou a capacidade para detectar certos sabores ou odores (Fi-
gura 19-19). Obviamente, as leis da herança genética não foram descobertas pela 
observação dos lóbulos da orelha de humanos, mas seguindo-se características em 
organismos fáceis de cruzar e que produzem um grande número de descendentes. 
Gregor Mendel, o pai da genética, estudou principalmente ervilhas. No entanto, cru-
zamentos experimentais semelhantes podem ser realizados em moscas-da-fruta, 
vermes, cães, gatos, ou qualquer planta ou animal que possua as características de 
interesse, pois as mesmas leis básicas da herança genética aplicam-se a todos os 
organismos de reprodução sexuada: das ervilhas aos seres humanos.
Nesta seção, descrevemos as bases da herança genética em organismos de 
reprodução sexuada. Analisamos como o comportamento dos cromossomos du-
rante a meiose – sua segregação nos gametas que então se unem de maneira 
aleatória para formar uma prole geneticamente distinta e característica – explica 
as leis da herança genética, a princípio evidenciadas por experimentação. Mas, 
primeiro, discutimos como Mendel, por meio do cruzamento de ervilhas no jar-
dim de seu mosteiro, desvendou essas leis há mais de 150 anos.
Mendel estudou características que são 
herdadas de forma descontínua
Mendel escolheu estudar plantas de ervilha porque elas são fáceis de cultivar em 
grande número e podem ser criadas em um pequeno espaço, como o existente no 
jardim de uma abadia. Ele controlava as plantas a serem cruzadas removendo o 
espermatozoide (pólen) de uma planta e esfregando-o nas estruturas femininas 
de outra. Esta cuidadosa polinização cruzada dava a Mendel certeza sobre a an-
cestralidade de cada planta de ervilha que ele examinava.
Mas talvez o mais importante para os objetivos de Mendel fosse o fato de as 
plantas de ervilha apresentarem diferentes variedades. Por exemplo, uma linha-
gem de ervilhas apresenta flores púrpuras, ao passo que outra apresenta flores 
brancas. Uma variedade produz sementes (ervilhas) com pele lisa, outra produz 
ervilhas enrugadas. Mendel escolheu avaliar sete características distintas (a cor da 
flor e o formato da ervilha, por exemplo), facilmente observáveis, e, mais importan-
te, herdadas de forma descontínua: por exemplo, as plantas têm ou flores púrpura 
ou flores brancas, mas não apresentam colorações intermediárias (Figura 19-20).
Mendel descartou teorias alternativas 
de herança genética
Os experimentos de cruzamento realizados por Mendel foram bastante diretos e 
simples. Ele começou com estoques geneticamente puros, ou plantas de “linha-
gens puras”, que produziam sempre descendentes da mesma variedade sob au-
tofertilização (ou autofecundação). Se ele seguisse a cor da ervilha, por exemplo, 
ele usava plantas com ervilhas amarelas que sempre produziram descendentes 
com ervilhas amarelas, e plantas com ervilhas verdes que sempre produziram 
descendentes com ervilhas verdes.
Os antecessores de Mendel haviam usado organismos que apresentavam 
variação em diversas características. Esses investigadores muitas vezes se com-
plicavam ao tentar caracterizar descendentes cuja aparência era tão complexa 
que não podia ser facilmente comparada com a de seus genitores. Porém, a abor-
dagem diferencial de Mendel consistiu na observação de uma única caracterís-
tica por vez. Em um experimento típico, ele realizava a polinização cruzada de 
duas de suas variedade puras. Ele então registrava a herança da característica 
selecionada na próxima geração. Por exemplo, Mendel cruzou plantas produtoras 
de ervilhas amarelas com plantas produtoras de ervilhas verdes e verificou que 
toda a descendência híbrida resultante, chamada de primeira prole, ou geração 
F1, era composta por ervilhas amarelas (Figura 19-21). Ele obteve um resultado 
Figura 19-19 Algumas pessoas sentem 
esse sabor; outras, não. A capacidade 
de perceber o sabor do produto químico 
feniltiocarbamida (PTC) é controlada por 
um único gene. Embora os geneticistas 
soubessem desde os anos de 1930 que a 
insensibilidade ao PTC é uma característica 
hereditária, apenas em 2003 é que os inves-
tigadores identificaram o gene responsável 
por essa característica, o qual codifica um 
receptor do gosto amargo. Pessoas insen-
síveis produzem uma proteína receptora de 
PTC que contém substituições de aminoá-
cidos que, se imagina, reduzem a atividade 
do receptor.
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