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Fundamentos da Biologia Celular - Alberts et al - 2017 - 4 Edicao-741

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714 Fundamentos da Biologia Celular
Embora ainda seja difícil descobrir quais os fatores específicos do ambiente ou 
do estilo de vida que são significantes, e muitos ainda permanecem desconhecidos, 
alguns já foram precisamente identificados. Por exemplo, há muito tempo foi obser-
vado que o câncer cervical, que ocorre no epitélio que reveste a cérvice (colo) do 
útero, era muito mais comum em mulheres com experiência sexual do que naquelas 
inexperientes, sugerindo uma causa relacionada com a atividade sexual. Agora sa-
bemos, com base em modernos estudos epidemiológicos, que a maioria dos casos 
de câncer cervical depende de uma infecção do epitélio com determinados subtipos 
de um vírus comum, denominado vírus do papiloma humano (ou papilomavírus hu-
mano). Esse vírus é transmitido via relação sexual e pode, algumas vezes, provocar 
uma proliferação descontrolada das células infectadas. Assim, com esse conheci-
mento, podemos prevenir a infecção, por exemplo, pela vacinação contra o vírus 
do papiloma. Essa vacina agora já está disponível, conferindo grande proteção se 
administrada em jovens antes de se tornarem sexualmente ativos.
Entretanto, na grande maioria dos cânceres humanos, não parece que os 
vírus estejam envolvidos. Como veremos, o câncer não é uma doença infecciosa. 
Dados epidemiológicos revelam que outros fatores aumentam o risco de câncer. 
A obesidade é um desses fatores. O tabagismo é outro: o fumo é responsável não 
somente por quase todos os casos de câncer de pulmão, mas também aumenta a 
incidência de vários outros cânceres, como o de bexiga. Ao cessar o tabagismo, 
podemos prevenir cerca de 30% de todas as mortes por câncer. Não se conhece 
outra política de prevenção ou tratamento que teria tamanho impacto nas taxas 
de morte por câncer.
Como explicamos adiante, embora os fatores ambientais afetem a incidên-
cia de câncer e sejam críticos para algumas formas da doença, estaria incorreto 
concluir que eles são a única causa de câncer. Não importa o quanto tentamos 
prevenir o câncer com uma vida saudável, nunca seremos capazes de erradicá-lo 
por completo. Para desenvolver tratamentos efetivos, precisamos compreender 
profundamente a biologia das células cancerosas e os mecanismos responsáveis 
pelo crescimento e pela disseminação dos tumores.
O câncer se desenvolve pelo 
acúmulo de mutações
O câncer é fundamentalmente uma doença genética. Ele surge como consequência 
de mudanças patológicas na informação contida no DNA. Ele difere de outras doen-
ças genéticas por apresentar, sobretudo, mutações somáticas, que são aquelas que 
ocorrem nas células somáticas do organismo, em oposição às mutações que ocor-
rem nas linhagens germinativas, as quais são transmitidas por meio das células ger-
minativas a partir das quais o organismo multicelular, como um todo, se desenvolve.
Muitos dos agentes identificados conhecidos por contribuírem para o câncer, 
incluindo a radiação ionizante e muitos carcinógenos químicos, são mutagêni-
cos: eles causam mudanças na sequência de nucleotídeos do DNA. Porém mes-
mo em um ambiente livre de tabaco, radioatividade e todos os outros agentes 
mutagênicos externos que nos preocupam, as mutações podem ocorrer de modo 
espontâneo como resultado de limitações fundamentais na precisão da repli-
cação e no reparo do DNA (discutido no Capítulo 6). Na verdade, carcinógenos 
ambientais que não o fumo provavelmente são responsáveis por uma pequena 
fração das mutações responsáveis pelo câncer, e a eliminação desses fatores de 
risco externos ainda nos deixaria suscetíveis à doença.
Embora o DNA seja replicado e reparado com grande precisão, ocorre em 
média um erro a cada 109 ou 1010 nucleotídeos copiados, como discutimos no Ca-
pítulo 6. Isso significa que as mutações espontâneas ocorrem a uma taxa estima-
da de 10–6 a 10–7 mutações por gene por divisão celular, mesmo sem a presença 
de agentes externos. Ocorrem cerca de 1016 divisões celulares no corpo humano 
durante o tempo médio de vida; portanto, é provável que cada gene individual ad-
quira uma mutação em mais de 109 ocasiões distintas em cada indivíduo. Desse 
ponto de vista, o problema do câncer parece não ser por que ele ocorre, mas sim 
por que ele ocorre tão raramente.
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