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A SERPENTE A SERPENTE Filomena Barata Nota: Muitas das fotografias usadas, pese estarem disponóveis na internet, têm direitos de autor. Medusa, pavimento musivo polícromo do I-II século d.C. Museo Nazionale Romano delle Terme di Diocleziano a Roma https://hiveminer.com/Tags/medusa%2Cmosaico A Serpente do Rio Anas Por João Cabral Era uma vez… a parte mais ocidental da Europa, a Ibéria, ainda era conhecida por esse mundo além, por a terra das Serpentes. Não sabemos se com razão ou sem ela, o que é certo é que a Serpente também entra na lenda da fundação de Serpa. Na verdade, vem de tempos muito recuados, dos tempos em que Serpa era só charneca, a lenda de que as suas terras e as das vizinhanças eram domínio de uma Serpente alada, forte, vigorosa, que até parecia deitar lume pelas ventas e que vivia acoitada nas fragas do rio Anas, sinuoso e turbulento, hoje chamado Guadiana. E, como era ser domínio, logo que sentia Serpa em perigo ela se aprestava para vir em socorro das suas terras e, mais tarde, da sai vida, e as defendia, vitoriosamente, de quem viesse para lhes fazer mal. Deve ter tido muito que lutar mas o certo é que Serpa sobreviveu a todos os perigos e hoje é uma vila bonita e tem uma Serpe no seu brasão a recordar a sua guardiã de outros tempos. In Arquivos de Serpa – Edição Câmara Municipal de Serpa A SERPENTE EM PORTUGAL «A Serpente é o entendimento de todas as coisas e a compreensão intelectual da vacuidade d’elas. Seguindo um caminho que não é o de nenhuma ordem nem destino, ela ergue-se á Altura que é a sua origem e evita os lugares por onde os homens passam. O entendimento de tudo, a fusão dos opostos, a ciencia da indiferença do bem e do mal, a ciencia da valia da emoção como emoção e da vontade como vontade, a igual ironia para com os sábios como para com os néscios. No seu culto adultaram os últimos magos, no seu nome adolesceram os primeiros». Fernando Pessoa. "O Caminho da Serpente" Imagem: Lima de Freitas, retrata Fernando Pessoa e o "Caminho da Serpente", no painel de azulejos da gare do Rossio A SERPENTE EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS A Serpente constitui um tema constante nas lendas em território português. Ela é o símbolo mais forte da deusa-mãe por ser um animal subterrâneo, habitante do mundo oculto, das entranhas da terra e do mundo infernal, detentor portanto dos seus segredos, por voltar à luz do dia e por mudar de pele, sinal da sua capacidade regeneradora, do poder do renascimento e da imortalidade. 1 - Rocha 177 de Fratel. Idade do Bronze 1.200 - 900 a. C 2 - Gravuras que especialistas acreditam ser de arte rupestre foram descobertas nas margens do rio Guadiana, em Elvas, havendo uma forte probabilidade de serem figuras pré-históricas. https://observador.pt/2018/02/12/especialistas-acreditam-ter-sido-encontrada-mais-arte- rupestre-no-guadiana/ A ORA MARÍTIMA de Avieno A “Ora Maritima”, de Avieno, escrita no século IV d.C., mas que se baseia fundamentalmente em périplos fenícios e gregos com quase mil anos (do século VI a.C.), se bem que com posteriores acrescentos fundamentados em informações gregas e latinas, continua a ser o texto mais antigo que se conhece descrevendo a costa do Sudoeste e Sul peninsular. Apesar de continuar a levantar questões de vária índole, que se prendem com aspectos geográficos, etnológicos, gentílicos, e outros, ela é ainda uma fonte importante de informações sobre esta zona. Nessa obra, o nosso território é designado com o nome de Ophiussa, como “terra de serpentes”, e o seu nome viria de uma grande invasão de serpentes que fizera fugir os antigos habitantes da terra. Os seus actuais habitantes chamavam-se Sefes (Serpentes) e Cempsos (Saefes e Cempsi), e habitavam as colinas e os campos de Ophiussa. OS ESCRITORES DA ANTIGUIDADE Às Terríveis Górgonas foi dada como habitação «para lá do Oceano ilustre, na fronteira com a noite, na morada das Hespérides de voz cristalina, Esteno, Euríale e Medusa de fatídico destino» (Hesíodo, Teogonia: vv. 274-276), a região da «meia- luz», onde se situava a Ibéria e o «luminoso Ocidente» (Ésquilo, ed. s/d, 61). Os escritores Pomponius Mela e Plínio (século I) apontavam para a morada das mesmas as ilhas Górgades — Insulae Gorgades (Pompónio Mela, III 9, 89-96, 99; Plínio VI, 200), situadas em frente ao promontório chamado «Hesperu Ceras, a partir do qual a terra firme começa a dobrar- se até ao ocaso e até ao Mare Atlanticum» (Plínio VI, 200). Mosaico com representação de Perseu Vitorioso. Museu Monográfico de Conímbriga OFIUSA. A LENDA Conta a lenda que a costa que hoje é a de Lisboa, tinha um estranho nome: Ofiusa -que quer dizer "Terra de Serpentes". As serpentes tinham a sua rainha. Uma rainha muito estranha, metade mulher, metade serpente...senhora de um olhar feiticeiro, e de uma voz muito meiga. Às vezes, esta estranha rainha subia ao alto de um monte e gritava ao vento, só para que pudesse ouvir a sua própria voz: "Este é o meu reino ! Só eu governo aqui, mais ninguém! Nenhum ser humano se atreverá a pôr aqui os pés: ai de quem ousar! Pois as minhas serpentes, não o deixarão respirar um minuto sequer!". De facto, durante muito tempo, ser humano nenhum se aventurou a desembarcar nesta costa que ela pensava que estaria amaldiçoada pelos deuses e também pelos homens. Porém um dia, vindo de muito longe, um herói lendário chamado Ulisses, famoso pelas suas aventuras guerreiras, atracou na cidade. Ficou deslumbrado com as belezas naturais que viu e ao desembarcar subiu a um monte, e com a sua máscula voz, gritou ao vento: "Aqui edificarei a cidade mais bela do Universo ! E dar-lhe-ei o meu próprio nome: será a Ulisseia, capital do Mundo !" E a sua profecia concretizou-se... e hoje, embora não tenha o nome dado pelo herói mitológico grego "Ulisseia", é uma das mais belas cidades do Mundo, e chama-se LISBOA. Cit. a partir de http://lisboa.blogs.sapo.pt A SERPENTE: O BEM E O MAL A VIDA E A MORTE A serpente é um réptil que muitas vezes está associado ao mal, à morte e escuridão, por ser considerado uma animal misterioso, traiçoeiro e venenoso. Por outro lado, pode representar o rejuvenescimento, a renovação, a vida, a eternidade e a sabedoria. Sintetizando: O símbolo da Serpente está associado, no aspecto positivo, à sabedoria, à ascensão e à força espiritual. No aspecto negativo relaciona-se com traição e falsidade. A serpente é também um símbolo poderoso em várias religiões. No cristianismo, por exemplo, está associada ao mal, ao desejo tentador. Mas noutras religiões está ligada à transcendência humana que se eleva. Pintura rupestre de cobra encontrada na Austrália | Foto: Shutterstock AS SERPENTES NA HISTÓRIA Temidas, amadas ou idolatradas, as serpentes acompanham a trajetória humana desde a origem do mundo, variando o seu simbolismo nas várias culturas. Presente em todas as épocas, espalhadas pelos cinco continentes, a sua imagem mitológica assume sempre um papel fundamental, associada que está à essência primordial da natureza. Contudo, há duas constantes: essa criatura vinda das profundezas da Terra aparece, por uma lado, associada à ideia de um conhecimento profundo e de transmutação. Muitas vezes, como acontece no Egipto com a serpente-uraeus, representa a soberania. Mas pode também ter uma função protectora, sendo usada sobre a cabeça da deusa Ísis, ou como acontece na Grécia Antiga com a Medusa. 1 - Conjunto em cobre representando a deusa Ísis amamentando seu filho Hórus ladeado por Mut e Néftis. Três serpentes (uraeus), à frente, protegem o casal. Período tardio (664-332 AC). http://niloacima.blogspot.pt/2016/05/estatua-da-deusa-isis- amamentando-horus.html 2 - Wadjet - Era vista como a protetora do Hórus vivo, o faraó. 3 - Friso datado do Período Tardio (c. 712 a 332 a.C.) e pertencente ao Museu do Louvre. http://niloacima.blogspot.pt/2016/05/estatua-da-deusa-isis-amamentando-horus.html http://niloacima.blogspot.pt/2016/05/estatua-da-deusa-isis-amamentando-horus.htmlA SERPENTE BÍBLICA E Deus disse: “Podes comer de todas as árvores do jardim. Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não deves comer, porque, no dia em que dele comeres, com certeza morrerás». (…) Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais do campo, que o Senhor Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? “De modo algum morrereis. Pelo contrário, Deus sabe que, no dia em que comerdes da árvore, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecedores do bem e do mal”. Génesis 3:1-5 Mas como causou o Pecado Original foi castigada: «Então o Senhor Deus disse à serpente: Porquanto fizeste isto, maldita serás mais que toda a fera, e mais que todos os animais do campo; sobre o teu ventre andarás, e pó comerás todos os dias da tua vida». Génesis 3:14 1 - Pecado original e Expulsão do Paraíso terrestre, fresco de Michelangelo Buonarroti Capela Sistina. Roma 2 – Mosaico bizantino. Palácio de Constantinopla. Combate de águia com serpent simbolizando Deus contra o Demónio. A SERPENTE E AS DIVINDADES GRECO-ROMANAS Na mitologia greco-romana, a figura da serpente surge associada a muitíssimas divindades, de que destacamos, entre tantas mais: Os Gigantes; Tifão e os seus filhos; Esculápio; Apolo; Hermes/Mercúrio; Laocoonte, sacerdote de Apolo, mas também a grandes heróis e personagens da mitologia grega, Hércules - que enfrentou o monstro Hidra, animal com corpo de dragão e nove cabeças de serpente – Perseu que matou a Medusa, monstro com serpentes no cabelo, e ainda Medeia. 1 - A serpente Ouroboros num antigo manuscrito alquímico grego 2 - Estátua de Esculápio no museu do Teatro de Epidauro, Grécia TIFÃO E ZEUS/JÚPITERTifão era filho de Gaia (a Terra) e Tártaro (o Inferno). Ao perceber que estava grávida, Gaia transformou-o numa semente e deu-a a Hera que a plantou no jardim do Olimpo. Assim nasceu um monstruoso dragão de cem cabeças, cercado de víboras, da cintura para baixo e maior do que as montanhas. O Tifão é um gigante que simboliza a grandeza das forças naturais, a quem os gregos atribuíram a paternidade dos ventos ferozes e violentos, o causador de tempestades e terremotos. Para vencer este rebelde Zeus/Júpiter só dispôs da ajuda de Atena, a Razão, sua filha, enquanto os demais deuses olímpicos, apavorados se refugiaram no Egipto, onde se transformaram em animais. O nome (Typhón ou Typhos, do grego, Typhón, Typhoeus) significa “redemoinho”. 1 - Zeus lançando o seu raio sobre Tifão Cerca de 550 a.C.. Colecções Estatais de Antiguidades (Inv. 596)] Q - Héracles/Hércules e Cérbero. Detalhe do mosaico romano "Os Doze Trabalhos de Hércules", de Llíria, Museu Arqueológico de Espanha TIFÃO, O PAI DOS MONSTROS GREGOS Hesíodo, um escritor do século VIII a. C. descreveu Tifon, na sua obra Teogonia com muito pormenor. Tifon era tão alto que a sua cabeça batia nas estrelas, os braços enormes bloqueavam os raios do sol, e carvões em brasa saíam da sua boca. Havia um dragão de cem cabeças com línguas escuras nos seus ombros, e dos seus olhos saíam labaredas. Sons estranhos provinham dessas cabeças. Algumas vezes os deuses podiam entendê-los facilmente, mas em outras pareciam os berros de touros enfurecidos. As vezes, rosnavam como leões, no momento seguinte, como cachorrinhos. Mural etrusco representando Tífon, Tarquínia OS FILHOS DE TIFÃO A natureza infernal de Tífon (ou Tifão) é confirmada pela sua descendência: - A Hidra de Lerna - filho de Tifão e Equidna - “conhecedora de obras funestas”, segundo Hesíodo, metade mulher, metade serpente -, era um monstro que tinha corpo de dragão e várias cabeças de serpente. Segundo a lenda, as cabeças da Hidra podiam-se regenerar. Matar a Hidra de Lerna foi o segundo trabalho do herói Hércules. - a Quimera - “que sopra fogo invencível, terrível, grande, rápida e violenta. Tinha três cabeças”, nas palavras de Hesíodo, era um ser monstruoso que expelia fogo pela boca e pelas narinas, também filho da união entre Equidna e Tífon. Tinha cabeça de leão, cauda de serpente, corpo de bode e rabo de dragão. Dois cães: 1 - Hércules e a Hidra de Lerna. Detalhe do Mosaico «Os Doze Trabalhos de Hércules. Llíria (Valência, Espanha). 2 – Quimera. A partir de: http://knoow.net/religioes/mitolgrcrom/quimera/ ORTO E CÉRBERO Ortro ou Ortos - considerado o cão de guarda mais feroz da antiguidade, a sua cauda era uma serpente. Também foi morto por Hércules. Cérbero, “O cão de voz de bronze de Hades com cinquenta cabeças, implacável e fero”. segundo Hesíodo, na Teogonia era também filho de Tifão e de Equidna. Era o cão monstruoso de várias cabeças, cauda de dragão, pescoço e dorso eriçados de serpentes, guardião do reino de Plutão e Perséfone que guardava a entrada do mundo inferior, o reino subterrâneo dos mortos, deixando as almas entrarem, mas jamais saírem. 3 - Cerbero – Detalhe de uma ânfora ateniense. Século VI a. C. Paris. Musée du Louvre F204 © Musée du Louvre O GIGANTE ALPO Alpo era um Gigante natural da Sicília, que foi derrotado por Dioniso durante a gigantomaquia. Como a maioria dos gigantes, Alpo era filho de Geia e Urano, tendo-se rebelado com os seus irmãos contra os deuses. Eram colossos de um tamanho imenso com um tronco terminado em serpente. Alpo tinha numerosos braços e sua cabeleira era constituída de cem serpentes. Vivia numa montanha deserta porque costumava atacar e devorar caminhantes. Alpo atacou o deus Dioniso usando como uma espécie de escudo uma enorme lasca de rocha e como lanças árvores inteiras. Dioniso atirou contra ele o seu tirso e matou-o. Mosaico dos Gigantes. Villa Romana del Casale Fotografia a partir de: https://en.wikipedia.org/wiki/Villa_Romana_del_Casale ZEUS/JÚPITER E A SERPENTE Zeus, o Júpiter dos Romanos, era o deus supremo do Olimpo, o pai dos deuses, é considerado o mestre das metamorfoses. São inúmeras as formas em que se transforma, principalmente, para cortejar as mulheres mortais e até as deusas. Assim, ele metamorfoseou-se em águia para raptar o jovem Ganimedes; em cisne para seduzir e engravidar Leda; em touro para conquistar Europa e em serpente para possuir a sua sobrinha Perséfone, esposa de Hades, o Plutão dos Romanos, e rainha do Inferno. Dessa união, nasceu Sabázio. Na Grécia antiga, os heróis mortos e os deuses eram adorados sob a forma de uma serpente de barbas e os nos Lares também surgem serpentes representando os antepassados. Também o Genius é representado como uma serpente. Zeus/Júpiter, em muitas ocasiões aparece desta maneira. PRÍAPO Príapo Século II d.C. The J. Paul Getty Museum, Los Angeles, Califórnia Príapo Século I d.C. Lupanar, Pompeia, Itália Deus grego, filho de Dioniso/Baco e Afrodite/Vénus, segundo uma versão do mito, tem bastantes associações com a serpente, visto que, segundo uma outra versão da lenda, nascera da fecundação de uma serpente. O mito de Príapo consagra assim a ideia do nascimento de heróis a partir da fecundação de uma mulher por uma Serpente. A característica desse deus era o pénis exageradamente grande e sempre ereto, simbolizando a fertilidade. Participava do cortejo de Dioniso em companhia dos sátiros e de Sileno A sua função era guardar pomares em geral, vinhedos e jardins, desviando os malefícios dos olhares invejosos. HÉRACLES/HÉRCULES E A HIDRA DE LERNA Na história do mito de Héracles, herói da Mitologia Grega, filho de Zeus/Júpiter e de Alcmena, uma descendente de um outro herói, Perseu, há uma passagem em que ele enfrenta a Hidra de Lerna - um monstro com corpo de dragão e cabeças de serpente que, quando cortadas, renasciam, e cujo sopro mortal provocava devastações nas colheitas e nos rebanhos. Hércules enfrenta-a num dos seus célebres «Doze Trabalhos». Ele próprio, ainda recém-nascido, havia estrangulado duas serpentes que a vingativa Hera havia mandado colocar sobre o seu berço. Baixo relevo com a representação de Héraclesou Hércules em luta contra a Hidra de Lerna. Pode tratar-se do fragmento de um sarcófago, peça que poderia reproduzir em relevo outros trabalhos de Hércules.. (Segundo José Luis de Matos). MNA. LADON/LADÃO Nome atribuído à serpente/dragão guardiã da árvore que protege os «pomos de ouro» no Jardim de Hespérides, situado no extremo Ocidente, nas margens do grande rio Oceano, havendo que considere que ficava no Sul da Península Ibérica. O Jardim das Hespérides, na mitologia grega, foi a morada das ninfas com o mesmo nome. A lenda narra que Hera recebera de Gaia (Geia) maçãs (pomos) de ouro como presente de seu casamento com Zeus e que as mandou plantar no seu longínquo jardim. Ela deu às Hespérides, ninfas do entardecer e filhas de Atlas, a função de proteger este jardim. Quando as ninfas começaram a usar os frutos de ouro para próprio benefício, Hera teve de procurar um guardião mais confiável. Assim Ladão, o dragão com um corpo de serpente e cem cabeças, passou a proteger o jardim. A OUROBOROS A Ouroboros ou Oroboro é uma criatura mitológica em forma de serpente, minhoca, cobra ou dragão que engole a própria cauda formado um círculo e, por isso, simboliza o ciclo da vida, a eternidade, a mudança, o tempo, a evolução, a fecundação, o nascimento, a morte, a ressurreição, a criação, a destruição, a renovação. Além disso, muitas vezes, Ouroboros está associado à criação do Universo. Ouroboros é também o símbolo do deus Romano Janus (deus do início, das entradas e das escolhas). A SERPENTE E AS DIVINDADES A serpente surge ainda associada ao Génio, simbolizando a força espiritual e vivificante dos homens, pois todos se fazem acompanhar dessa divindade individual que o acompanha e protege até à morte, dos imperadores e dos deuses, a exemplo do Génio de Júpiter. Lucerna com cena ritual. Torre d’Ares Serpente apotropaica num Larário. Casa di Vetiii. Pompeia. Anel de ouro em forma de serpente. Séculos I a. C. – I d. C. BONA DEA E A FECUNDIDADE DA TERRA Divindade romana da fertilidade associada ao culto de Baco. Numa das muitas versões do mito, a deusa aparece como filha de Fauno e é muitas vezes chamada de Fauna. O seu pai apaixonou-se por ela, e face à resistência da filha, embriagou-a com vinho, mas nem assim conseguiu possuí-la. Então ele a agrediu-a com ramos de murta e, mais tarde, transformou-se em serpente para satisfazer o seu desejo sexual. Representa a fertilidade da Terra e por extensão das Mulheres Fotografia a partir de: http://www.livinginseason.com/tag/bona-dea/ ESCULÁPIO E A SERPENTE Filho de Apolo e Corónis, nasceu de um ovo sob forma de serpente e não fazia parte dos deuses do Olimpo. A referência mais antiga que existe sobre Esculápio encontra-se na Ilíada de Homero, onde ele é descrito como um médico. Numa das suas lendas, Asclépio estava atendendo Glauco que já estava morto. Ele viu uma serpente que o ameaçava e a matou com o seu bastão. Em seguida uma segunda serpente apareceu com a boca cheia de ervas e as colocou na boca da cobra morta que imediatamente renasceu. Então Asclépio usou essas ervas, colocando-as na boca de Glauco e ele reviveu. A capacidade de ressuscitar mortos o tornou semelhante aos deuses, por isso Zeus matou-o com um raio. Atendendo a um pedido de Apolo, o deus supremo do Olimpo o colocou entre as estrelas como Ophinchus que significa o portador das serpentes. Esculápio. Ampúrias ESCULÁPIO, O DEUS DA SAÚDE Esculápio faz-se representar como um ancião e tem como atributo o bastão enrolado por uma serpente. O bastão com a serpente da Sabedoria, representa o poder curativo da divindade, motivo pelo que ainda hoje as farmácias tenham como símbolo este animal. 1 - Esculápio e Hígia. Museu do Louvre. Séculos I- II d. C., restaurado em meados do século XVIII. Site oficial do Museu do Louvre Fotografia a partir de: https://i.pinimg.com/originals/d7/af/09/d7af093a27e2c0f04cb 04afd930d0e7f.jpg 2 – Estátua de Esculápio. Museus Captolinos https://i.pinimg.com/originals/d7/af/09/d7af093a27e2c0f04cb04afd930d0e7f.jpg https://i.pinimg.com/originals/d7/af/09/d7af093a27e2c0f04cb04afd930d0e7f.jpg HÍGIA/SALUS Filha de Asclépio, o Esculápio romano e Epíone, Hígia (de onde deriva a palavra higiene) era a Deusa da Preservação da Saúde e prevenção da doença. Corresponde à deusa romana «Salus», que também está na origem da palavra “saúde”. É representada sozinha ou acompanhada do seu pai Asclépio/Esculápio, dando a beber a uma serpente por uma taça ou cálice. Os seus atributos, «Cálice de Hígia» e a serpente toram-se símbolos da Medicina e da Farmácia. A serpente tinham contacto com os mortos, e, possivelmente, carregavam para o Hades as almas dos ancestrais, que retornavam para ajudar os vivos, contribuiu para que o imaginário antigo lhes atribuísse um papel de sábias, porque tinham contato com os espíritos ancestrais ricos em experiência e, por isso, vinham à terra ensinar essas experiências aos seus descendentes que eram os curandeiros e os oráculos. HERMES/MERCÚRIO Mercúrio, o homólogo romano do Hermes grego, antes de se tornar o protector dos comerciantes e viajantes, era um deus associado à fertilidade, sorte, estradas e fronteiras. Ao que parece o seu nome deriva da palavra herma, uma coluna quadrada ou retangular de pedra, terracota ou bronze que servia como marco de encruzilhadas e caminhos protegendo viajantes ou pastores, e era colocada nas casas como garante da fecundidade. 1 - Mercúrio num vaso de Terra Sigillata Hispánica (Mérida).Fotografia José Manuel Jérez Linde. 2 - Representação de Mercúrio no mosaico do Planetário de Itálica. Fotografia a partir do Conjunto Arqueológico de Itálica. http://2.bp.blogspot.com/-LjqluzbrSCk/Vm8mkfyrGFI/AAAAAAABha0/qQZAgnQcQws/s1600/Mercurio+en+un+vaso+de+Terra+Sigillata+Hisp%C3%A1nica+(M%C3%A9rida)..jpg MERCÚRIO E O CADUCEU Hermes, que significa interprete ou mensageiro, de seu nome romano Mercúrio, tinha como atributo um caduceu com duas serpentes enroscadas e um elmo alado na extremidade. Segundo a mitologia, Mercúrio lançara-o entre duas serpentes que lutavam e estas acabaram por entrelaçar-se na haste, numa atitude amistosa. Por ser Mercúrio, também, deus dos negociantes, o caduceu ficou associado ao comércio e ainda hoje é símbolo dos Contabilistas. Ao que se sabe o caduceu deve a sua importância à intervenção de Mercúrio perante duas serpentes que lutavam, enroscando-se no seu bastão. Hermes, Mercúrio tesouro do santuário romano- céltico de Berthouville, Normandia 2jpg APOLO E A SERPENTE PÍTON Hera descobriu, por meio de Íris - sua mensageira e confidente - que a ninfa Latona estava grávida de Zeus. Enciumada, proibiu que ela desse à luz em terra firme, quer no continente, quer em qualquer ilha. Colocou no encalço de Latona, a gigantesca serpente Píton, com a incumbência de devorá-la. Latona obrigada a errar pelo mundo, sem jamais receber abrigo de quem quer que fosse, acabou por chegar à ilha de Ortígia, uma ilha flutuante que não se fixava a lugar nenhum; e, por isso, não fazendo parte da terra. Ali, padeceu das dores de parto por muitos dias. O seu sofrimento chegou aos ouvidos de Ilícia (deusa que preside aos partos) que, compadecida, resolveu socorrê- la. Assistida por Ilícia, Latona deu à luz dois filhos. Um menino que recebeu o nome de Apolo, e uma menina, Artemisa. Apolo tinha a pele alva e os cabelos loiros; era a representação perfeita do Sol e do dia. Artemisa tinha longos cabelos negros sobre uma face da cor do leite; representava a lua envolta pela noite. Assim Apolo passou a representar o Sol e Artemisa a Lua. APOLO E A SERPENTE PÍTON «Que desça a serpente que deitada se assemelha a um rio caudaloso, cujos anéis sentem as duas feras (...) Respondendo ao meu chamamento, possa vir ao meu encontro a Píton, que ousou atacar os deuses gémeos; que possa voltar a Hidra e todas as serpentes pela mão de Hércules, mas que cresciamde novo à medida em que iam sendo mortas. Abandonando os Colcos, acode também tu, serpente sempre vigilante, cujo primeiro sono se deveu aos meus encantamentos». Medeia, Séneca, Tradução, Introdução e notas: Ricardo Duarte. Edições Sá da Costa, 2010. Apolo e a serpente Píton, Ovidii Metamorphosis, Verwandelungs Bucher Imagem a partir de: https://www.uvm.edu/~hag/ovid/baur1703/index.html https://www.uvm.edu/~hag/ovid/baur1703/index.html «Para o tempo não poder apagar a memória deste feito, institui jogos sagrados com uma grandiosa competição, chamados píticos, do nome da serpente que ele subjugara. Neles, todo o jovem que vencesse por mão, por pé, ou carro, ganhava a título honorífico um ramo de folhas de carvalho. O loureiro não existia ainda e Febo cingia ainda as frontes graciosas e o longo cabelo com folhas de qualquer árvore» Ovídio, Metamorfoses, Livro I, Cotovia Clássicos Apolo matando Píton, Gravador Virgil Solis (1514 – 1 August 1562), para a obra de Ovídio APOLO E A SERPENTE PÍTON CETO Uma das principais divindades gregas marinhas, filha do titã do Mar, Ponto, com a titã da Terra, Gaia. Possui características bipolares: tem uma beleza deslumbrante e apresenta-se como um monstro perigoso. Do seu casamento com o irmão Forcis, nasceram as Greias, as Górgonas, a serpente guardiã do Jardim das Hespérides e as próprias Hespérides. Medusa, pavimento musivo polícromo. Séculos I-II d.C. Museo Nazionale Romano delle Terme di Diocleziano a Roma A MEDUSA Cabeça de Medusa, montagem de bronze dos navios Nemi construídos por Calígula no Lago Nemi. Mosaico com representação de Medusa, Itálica. Perseu entregando a cabeça de Medusa a Atena. Cratera atribuída ao pintor Tarporley de Apúlia (400-385a.C.). Museu de Belas Artes de Boston, Massachusetts, EUA. MITRA E A SERPENTE Este relevo foi encontrado em 1925, nas ruínas de Troia. Apenas existe uma cópia no MNA. Seria um tríptico. Apenas sobreviveram parte do central e o painel do lado direito. Provavelmente na zona central estaria representado o sacrifício do touro, taurotctonia. A Lua aparece num canto. Do outro lado deveria estar o Sol. Caupates, o Sol poente, ampara a tocha invertida, sobre o qual de vê uma pata animal, possivelmente sacrificada. Na zona oposta, deveria estar Cautes com a tocha erguida, o Sol nascente. No painel da direita, temos Hélios e Mitra, com o barrete frígio, reclinados num triclinium, celebrando o banquete que comemora o pacto destas duas divindades. Em baixo Cautes e Caupates, ladeando uma serpente encorada uma cratera, representando a terra e a água. No painel do lado esquerdo, poderia estar representado um leão, simbolizando o fogo, e talvez ainda os quatro ventos, relativos ao elemento ar. 1 - Banquete mitraico 2- Banquete mitraico das Ruínas de Tróia. Cópia no MNA LAOCOONTE Laocoonte era um sacerdote de Apolo, mas, contra a vontade de Apolo, casou-se e teve filhos, Antífantes e Timbreu. Quando Laocoonte estava a fazer um sacrifício a Neptuno, Apolo enviou duas serpentes marinhas de Ténedos, que estrangularam o sacerdote e seus descendentes. Laocoonte e seus filhos. Agesandro, Polidoro e Atenodoro 50 d.C. Período: Barroco Helenístico (Escuela Rodia o de Rodas) Foi descoberto a 14 de Enero de 1506, na Colina do Esquilino (Roma) Segundo Plinio o Velho estaria no Palácio do Imperador Tito. Localización actual: Museo Pío Clementino, (Museus do Vaticano), Roma, Italia Obra original: Bronce del Siglo II a.C. Inspiración: Friso de la Lucha de Atenea y Alcioneo (Altar de Zeus, Pérgamo) Medeia neta do Deus do sol, Helio, também tinha um carro puxado por serpentes. Cálice-cratera lucaniana de figuras vermelhas com representação de Medeia, Jasão e a carruagem de Hélio. c. -400. Círculo do Pintor de Policoro Ao centro, Medeia, que foge na carruagem alada, puxada por serpentes, enviada por seu avô Hélio, simbolizado pelo círculo raiado. Em ambos os lados, harpias, que aqui representam a morte. No registro inferior, à direira, os corpos dos filhos de Medeia e Jasão, diante da Ama e do Pedagogo; à esquerda, o atônito e impotente Jasão olha a ex- esposa fugindo, fora de seu alcance. Esse vaso pode ser indubitavelmente associado à tragédia Medeia, de Eurípides, representada pela primeira vez em -431, em Atenas. Medeia, Jasão e a carruagem de Hélio - Portal Graecia Antiqua (greciantiga.org) http://www.theoi.com/Gallery/O28.7.html MEDEA E TRIPTOLEMUS ca 330 - 310 B.C. Staatliche Antikensammlungen, Munich https://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0665 https://greciantiga.org/arquivo.asp?num=1243 https://greciantiga.org/arquivo.asp?num=1243 https://greciantiga.org/arquivo.asp?num=1243 https://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0254 https://greciantiga.org/arquivo.asp?num=1243 https://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0062 https://greciantiga.org/arquivo.asp?num=1117 https://greciantiga.org/img.asp?num=0667 http://www.theoi.com/Gallery/O28.7.html CASSANDRA Cassandra nasceu com um irmão gémeo, Heleno. Os seus pais esqueceram-se deles no templo de Apolo depois das festas em honra da divindade. No dia seguinte, quando os vieram buscar, encontram-nos adormecidos com duas serpentes. Com os gritos assustados dos pais, os animais retiram-se para os seus loureiros sagrados. Depois disso, as crianças revelaram o dom de profecia que lhes foi transmitido pelas serpentes. Diz-se que Cassandra era uma profetisa inspirada: o deus Apolo possuía-a e ela emitia os seus oráculos num delírio. Podemos afirmar como alguns autores que as duas faces da adivinhação, a apolínea e a dionisíaca, têm origem igualmente na serpente. Ajax possuindo Cassandra, c. 440–430 BC, Museu do Louvre DIONISO Nos rituais de iniciação ao culto de Dioniso as serpentes eram guardadas na Cista Mística O cisto era o cesto onde objectos místicos do deus ficariam guardados, normalmente mostrado perto de uma serpente. A serpente, o tigre, a pantera, o lince, o touro, o bode ou cabrito são animais ligados ao deus, a ele consagrados ou formas tomadas por por Dioniso/Baco. Também as máscaras utilizadas no teatro, arte que lhe era dedicada aparecem como seus símbolos, bem como taça ou cálice de onde o deus bebe e distribui vinho. Ovídio, no seu livro IV das Metamorfoses, faz mesmo de Dioniso descendente de duas serpentes (vv. 604-605). Na fotografia: Busto de Dioniso em mármore. Século II d.C . Milreu, Faro. Museu Nacional de Arqueologia, Lisboa. http://www.matriznet.dgpc.pt/MatrizNet/Objectos/ ObjectosConsultar.aspx?IdReg=110176 "Oh! Ide, Bacantes, ide Bacantes Bem-aventurado o ditoso que conhece os mistérios divinos, purifica sua vida, participa com toda a alma no tíaso, faz as bacanais nas montanhas com santas purificações, celebra as orgias de Cíbele, a grande mãe, e, brandindo o tirso, coroado de hera, presta culto a Diónisos. Ide, Bacantes, ide Bacantes, das montanhas da Frígia para as espaçosas ruas da Hélade! Trazei Brómio, deus filho de um deus, Diónisos! Trazei Brómio! Aquele que saiu das entranhas da mãe que, tomada das dores da maternidade, ao som do trovão alado de Zeus, abandonara a vida. (…) Deu-o à luz, quando as Parcas fixaram, esse deus de chifres de touro, coroou-o com uma coroa de serpentes, e desde então as Ménades cingem seus cabelos com esta caça selvagem. Coroa-te de hera, ó Tebas, ama de Sémele! Faz brotar, faz brotar o verde alegre-campo de lindas bagas, e celebrai as bacanais com ramos de carvalho ou de abeto! (...) Eurípides, As Bacantes, Tradução Maria Helena Rocha Pereira, Edições 70, 2018. Triunfo de Baco procedente de Susa PANDORA Diz-nos a Teogonia Hesíodo que Pandora foi a primeira mulher encomendada por Zeus a Hefesto, deus da forja, para punir o homem. Modelada em argila e animada por Hefesto, para torná-la irresistível, Zeus precisou da cooperação preciosa de todos os deuses: Atena ensinou-lhe a arte da tecelagem, adornou-a com a mais bela indumentária e ofereceu-lheseu próprio cinto; Afrodite deu-lhe beleza e insuflou-lhe o desejo indomável que atormenta os membros e os sentidos; as Graças divinas e a augusta Persuasão embelezaram-na com lindíssimos colares de ouro e as Horas coroaram-na com flores primaveris; Hermes encheu-lhe o coração de artimanhas, imprudência, astúcia, ardis, fingimento e cinismo, concedeu-lhe o dom da palavra e chamou-lhe Pandora. Zeus, então, enviou Hermes com o belo presente de núpcias a Epimeteu. Ela levava nas suas mãos uma caixa que nunca poderia abrir. Porém, não resistindo à curiosidade, ela abriu-a no dia do seu casamento. Da caixa saíram todos os males em forma de serpentes, que até hoje atingem a humanidade. No fundo da caixa estava a esperança, o único bem que restou. Hefesto de Pandora. Desenho a partir de: http://clasicasusal.es/Mitos/hefesto.htm http://clasicasusal.es/Mitos/hefesto.htm «Antes de facto habitava sobre a terra a raça dos homens/, a resguardo de males, sem a penosa fadiga/ e sem dolorosas doenças que aos homens trazem a morte./ Mas a mulher, levantando com a mão a grande tampa da jarra,/ dispersou-os e ocasionou aos mortais penosas fadigas./ E ali só a Esperança permaneceu em morada indestrutível/ dentro das bordas, sem passar a boca nem para fora/ sair, porque antes já ela colocara a tampa na jarra,/ por vontade do deus da égide, Zeus que amontoa as nuvens./ Outras infinitas tristezas vagueiam entre os homens;/ e cheia está a terra de males, cheio se encontra o mar;/ as doenças entre os homens, de dia e de noite,/ vão e vêm por si, trazendo males aos mortais/ em silêncio, já que da voz as privou o prudente Zeus». Hesíodo, Trabalhos e Dias, (Introdução, Tradução e Notas Ana Elias Pinheiro e José Ribeiro Pereira). Ed. Imprensa Nacional – Casa da Moeda. 2014 Pandora abrindo a caixa James Gillray,1808 https://en.wikipedia.org/wiki/Pandora%27s_box... 15Pedro Almeida, Pedro Miguel Salvado e 13 outras pessoas https://en.wikipedia.org/wiki/Pandora%27s_box?fbclid=IwAR0mmhA9v7Mi5CNbSwlFwOdodtCPDRBKnMfUXzALXq7jyDA_xAJ_LAHG7n4#/media/File:Pandora_opening_her_box_by_James_Gillray.jpg PANDORA Fotografia a partir de :Musée du Louvre, Paris Catalogue No. Louvre K570https://www.theoi.com/Gallery/K20.1B.html « "Filho de Jápeto, conhecedor dos pensamentos entre todos, alegras-te por teres roubado o fogo e enganado o meu espírito, mas para ti em pessoa será grande pena e para os homens futuros. Em vez do fogo, dar-lhes-ei um mal com que todos se vão regozijar em seu coração, ao rodear de amor o mal". Assim falou, e riu-se o pai dos homens e dos deuses. Ordenou ao ínclito Hefestos que o mais lesto possível amassasse terra com água, nela infundisse voz humana e vigor e que, semelhante às deusas imortais no aspecto, modelasse bela e encantadora figura de donzela. Em seguida incumbiu Atena de lhe ensinar as artes e a tecer a tela de muitos ornamentos; a áurea Afrodite de lhe derramar a graça em torno da cabeça e o desejo irristível e os cuidados que devoram os membros. De nela incutir cínica inteligência e carácter volúvel encarregou Hermes, o mensageiro Argeifonte. Assim falou e eles obedeceram a Zeus Crónida e senhor. De imediato modelou com terra o ilustre Argeifonte uma imagem de virgem casta, como vontade do Crónida. Cinge-lhe a cintura e embeleza-a a deusa Atena de olhos garços. As divinas Graças e a venerada Persuasão envolveram-lhe o colo com colares de ouro e em sua volta as Horas de formosa cabeleira coroam-na de flores primaveris. Todo o tipo de adornos a seu corpo ajustou Palas Atena. E em seu peito incutiu o mensageiro Argeifonte mentiras, palavras sedutoras e carácter volúvel, por vontade de Zeus tonitruante. Insuflou-lhe voz o arauto dos deuses e deu a esta mulher o nome de Pandora, porque todos os habitantes das mansões do Olimpo doaram a dádiva, ruína para os homens comedores de pão». Hesíodo, Trabalhos e Dias, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2014. ANFISBENA FRAUDE Anfisbena era a Serpente mitológica grega com duas cabeças e caninos venenosos, cujo nome significa “que vai em duas direções”, sendo impossível distinguir a sua traseira da dianteira. Nascida do sangue que escorreu da cabeça da Górgona quando Perseu a decepou. Esta criatura tem olhos incandescentes e fatais na lua cheia; alimenta-se de cadáveres, consegue nadar, escavar, atingir grandes velocidades e hipnotizar suas vítimas. Os ofídios aparecem a inúmeras outras Figuras Mitológicas, de que se destaca a FRAUDE, «uma divindade alegórica infernal, encarnação do perjúrio» que vivia nas águas do Cocito, onde escondia o seu corpo monstruoso em cauda de serpente. Só mostra o rosto hipocritamente amável e doce» (Diccionário de Mitologia Grega e Romana, Jel Scmidt), motivo pelo que a FRAUDE é muitas vezes representada com duas cabeças e a máscara do engano. ESTIGE, O RIO SERPENTE Segundo a Teogonia de Hesíodo, nove espiras cercam o círculo do mundo, enquanto a décima, furtivamente introduzida por baixo da criação, forma o Estige, rio serpente, habitat de serpentes, o caminho dos inferius. Os infernos e os oceanos, a água primordial e a terra profunda formam apenas a primeira matéria, uma substância primordial – a da serpente. Enquanto espírito da água primeira, a serpente primordial é o espírito de todas as águas, as que correm debaixo ou na superfície da terra e as que vêm de cima. O rio Estige Por Gustave Doré, 1861. Fotografia a partir de: https://pt.wikipedia.org/wiki/Estige https://pt.wikipedia.org/wiki/Gustave_Dor%C3%A9 Bibliografia sumária Trabalho de consulta fundamental: RIBEIRO, Maria Goretti, 2017, Imaginário da Serpente de A a Z. EDITORA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA http://www.uepb.edu.br/download/ebooks/Imaginario-da-Serpente-de-A-a- Z.pdf Vários: CHEVALIER, Jean. GHEERBRANT, Alain, Diccionário dos Símbolos. Editora Teorema. EURÍPIDES, Medeia. Editorial Inquérito. EURÍPIDES, As Bacantes, Edições 70, Col. Clássicos Gregos e Latinos, N.º 9, Lisboa, 1998 (tradução portuguesa, introdução e notas por Maria Helena da Rocha Pereira. HESÍODO, Teogonia, Hesíoso, "Teogonia“ e “Trabalhos e Dias”, (tradução Ana Elias Pinheiro e José Ribeiro Ferreira) Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 2014 MONTERO HERRERO, Santiago, Diosas y Adivinas «Monstros e Mitos», Revista de Arqueologia, nº 207. OVÍDIO, Metamorfoses, Ed. Cotovia Clássicos, 2007. SILVA, Semíramis Corsi, «Barbaridade versus Humanitas no Principado Romano: a política e a construção da imagem do imperador Heliogábalo (século III EC)». Revista Alétheia. Estudos sobre Antiguidade e Medievo Nº2/2017 ISSN: 1983-2087 https://www.academia.edu/…/Barbaridade_versus_Humanitas_no Virgílio, Geórgicas, Sá da Costa, 1948 Lisboa. (Tr. E notas Ruy Mayer) http://www.uepb.edu.br/download/ebooks/Imaginario-da-Serpente-de-A-a-Z.pdf http://www.uepb.edu.br/download/ebooks/Imaginario-da-Serpente-de-A-a-Z.pdf https://www.academia.edu/…/Barbaridade_versus_Humanitas_no Diapositivo 1 Diapositivo 2: A SERPENTE Diapositivo 3: A Serpente do Rio Anas Por João Cabral Era uma vez… a parte mais ocidental da Europa, a Ibéria, ainda era conhecida por esse mundo além, por a terra das Serpentes. Não sabemos se com razão ou sem ela, o que é certo é que a Serpente tamb Diapositivo 4: A SERPENTE EM PORTUGAL Diapositivo 5: A SERPENTE EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS Diapositivo 6: A ORA MARÍTIMA de Avieno Diapositivo 7: OS ESCRITORES DA ANTIGUIDADE Diapositivo 8: OFIUSA. A LENDA Diapositivo 9: A SERPENTE: O BEM E O MAL A VIDA E A MORTE Diapositivo 10: AS SERPENTES NA HISTÓRIA Diapositivo 11: A SERPENTE BÍBLICA Diapositivo 12: A SERPENTE E AS DIVINDADES GRECO-ROMANAS Diapositivo 13: TIFÃO E ZEUS/JÚPITER Diapositivo 14: TIFÃO, O PAI DOS MONSTROS GREGOS Diapositivo 15: OS FILHOS DE TIFÃO Diapositivo 16: ORTO E CÉRBERO Diapositivo 17: O GIGANTE ALPO Diapositivo 18: ZEUS/JÚPITER E A SERPENTE Diapositivo 19 Diapositivo 20: HÉRACLES/HÉRCULES E A HIDRA DE LERNA Diapositivo 21: LADON/LADÃO Diapositivo 22: A OUROBOROSDiapositivo 23: A SERPENTE E AS DIVINDADES Diapositivo 24: BONA DEA E A FECUNDIDADE DA TERRA Diapositivo 25: ESCULÁPIO E A SERPENTE Diapositivo 26: ESCULÁPIO, O DEUS DA SAÚDE Diapositivo 27: HÍGIA/SALUS Diapositivo 28: HERMES/MERCÚRIO Diapositivo 29: MERCÚRIO E O CADUCEU Diapositivo 30: APOLO E A SERPENTE PÍTON Diapositivo 31: APOLO E A SERPENTE PÍTON Diapositivo 32 Diapositivo 33: CETO Diapositivo 34: A MEDUSA Diapositivo 35: MITRA E A SERPENTE Diapositivo 36: LAOCOONTE Diapositivo 37: Medeia neta do Deus do sol, Helio, também tinha um carro puxado por serpentes. Diapositivo 38: CASSANDRA Diapositivo 39: DIONISO Diapositivo 40 Diapositivo 41: PANDORA Diapositivo 42 Diapositivo 43: PANDORA Diapositivo 44: ANFISBENA FRAUDE Diapositivo 45: ESTIGE, O RIO SERPENTE Diapositivo 46: Bibliografia sumária