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Fichamento: Norman Lowe – História do Mundo Contemporâneo Capítulo 1: O mundo em 1914 · A Alemanha era a principal potência do continente, tanto em termos militares quanto econômicos · pós-Unificação · Expressivo crescimento industrial: superou a Inglaterra na produção de ferro e aço · O progresso industrial mais espetacular havia acontecido fora do continente europeu: Estados Unidos, seguido pela rápida modernização japonesa · Surto de expansão imperialista nos anos posteriores a 1880 · Corrida pela África: controle de novos mercados e matérias-primas, capazes de satisfazer as demandas geradas pela Segunda Revolução Industrial · China: EUA e Japão pressionando concessões comerciais; derrubada da dinastia Manchu e instalação de uma República · O governo alemão foi muito influenciado pelas obras de um norte-americano, Alfred Mahan, que acreditava que o poder marítimo era a chave para se construir um grande império. Sendo assim, os alemães fizeram um esforço determinado para expandir sua marinha. Para muitos britânicos, a nova marinha alemã só poderia indicar uma coisa: a Alemanha pretendia entrar em guerra contra o seu país. · Política de alianças: Potências Centrais (Alemanha, Império Austro-Húngaro e Itália) e Tríplice Entente (Grã-Bretanha, França e Rússia) · Os atritos entre os dois grupos levaram a Europa à beira da guerra várias vezes desde 1900: · Rivalidade naval entre Grã-Bretanha e Alemanha · Revanchismo francês: a França não se conformava com a perda do território da Alsácia-Lorena para a Alemanha no final da Guerra Franco-Prussiana (1871) · A Alemanha estava insatisfeita com a repartição dos territórios na África · O nacionalismo sérvio e o pan-eslavismo eram fatores de instabilidade nos balcãs. · Antecedentes da Guerra: · Questão marroquina (1905-1906): os alemães anunciaram que ajudariam o sultão do Marrocos a manter a independência do país e exigiram uma conferência internacional para discutir a questão – a Conferência de Algeciras de 1906. Os britânicos acreditavam que se os alemães conseguissem o que queriam, eles praticamente controlariam o Marrocos, o que seria importante para a expansão imperialista alemã – dessa forma, lideraram a oposição à Alemanha na Conferência, onde a França exigiu o controle do setor bancário e da polícia do Marrocos. A Alemanha foi derrotada na disputa. · Acordo britânico com a Rússia em 1907: os russos estavam ávidos para atrair o investimento britânico a seu programa de modernização industrial, e ao fim, um acordo resolveu as diferenças que restavam entre eles na Pérsia, no Afeganistão e no Tibete; o acordo confirmou os receios alemães de que a Grã-Bretanha, a França e a Rússia estavam planejando “cercá-los”. · Crise da Bósnia (1908): tensão entre o Império Austro-Húngaro e Sérvios. Os austríacos, aproveitando-se de uma revolução na Turquia, anexaram formalmente a província turca da Bósnia (que ocupavam desde 1878); a anexação foi um golpe para os sérvios, que também desejavam ocupar o estado vizinho – já que ali estavam 3 milhões de sérvios, entre sua população mista de sérvios, croatas e muçulmanos. Os sérvios pediram ajuda aos “irmãos eslavos” russos, que convocaram uma conferência europeia. Quando ficou claro que a Alemanha apoiaria a Áustria em caso de guerra, os franceses recuaram. Ninguém se mostrou disposto a se envolver em um conflito nos balcãs, o que representou um triunfo para a aliança austro-húngara. Os russos estavam preocupados com a situação nos balcãs, onde a Bulgária e a Turquia estavam sob influência alemã, o que poderia fazer com que a Alemanha e a Áustria controlassem o Estreito de Dardanelos, a saída do Mar Negro, principal rota para o comércio russo. · Crise de Agadir (1911): tropas francesas ocuparam Fez, a capital do Marrocos, para dominar uma revolta contra o sultão. Os alemães enviaram uma canhoneira, a Panther, ao porto marroquino de Agadir, esperando pressionar os franceses a compensar a Alemanha. De fato, ao fim, os alemães reconheceram o protetorado francês sobre o Marrocos em troca de duas faixas de território no Congo Francês. · Primeira guerra dos Balcãs (1912): Sérvia, Grécia, Montenegro e Bulgária iniciaram uma série de ataques à Turquia, de forma a conquistar mais terras do esfacelado Império Turco-Otomano. Durante a conferência de paz, realizada em Londres, as antigas terras turcas foram divididas entre os Estados, mas a Albânia, com o apoio austríaco, tornou-se território independente, e não sérvio – como a Sérvia desejava. · Segunda guerra dos Balcãs (1913): os búlgaros, insatisfeitos com o que ganharam no acordo de paz, culpavam a Sérvia – que havia ficado com a maior parte da Macedônia (a qual os búlgaros tinham pretensões de obter). A Bulgária atacou a Sérvia, e foi derrotada, assinou o Tratado de Bucareste, perdendo a maior parte do que tinham ganhado na primeira guerra. · O assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando: foi a causa imediata da declaração de guerra do Império Austro-Húngaro contra a Sérvia. O herdeiro do império austro-húngaro foi assassinado por um jovem sérvio membro da organização Mão Negra em uma visita a Sarajevo, capital da Bósnia. No dia 28 de julho, o Império Austro-Húngaro declarou guerra à Sérvia; os russos ordenaram uma mobilização geral em apoio aos sérvios, e a Alemanha declarou guerra à Rússia e à França. Quando as tropas alemãs entraram na Bélgica em seu caminho para a França, a Grã-Bretanha exigiu sua retirada; ignorada, a Grã-Bretanha declara guerra à Alemanha. O Império Austro-Húngaro declarou guerra à Rússia em 6 de agosto e outros países entraram mais tarde. · A Guerra e os planos de mobilização das grandes potências: · Plano Schlieffen: elaborado em 1905-06 pelo conde von Schlieffen; partia do pressuposto de que a França se alinharia automaticamente à Rússia. O grosso das forças alemãs deveria ser mandado de trem à fronteira belga e, através da Bélgica, atacar a França, que seria derrotada em seis semanas. A seguir, as forças alemãs se movimentariam rapidamente pela Europa para atacar a Rússia, cuja mobilização se esperava que fosse lenta. O plano dependia da rápida captura de Liège, na Bélgica, e derrota francesa, o que não ocorreu. Capítulo 2: A Primeira Guerra Mundial e o Período Posterior Aliados (Potências da Entente) · Grã-Bretanha · França · Rússia (saiu em 1917) · Itália (entrou em 1915) · Sérvia · Bélgica · Romênia (entrou em 1916) · EUA (entrou em 1917) · Japão Potências Centrais · Alemanha · Império Austro-Húngaro · Turquia (entrou em novembro de 1914) · Bulgária (entrou em 1915) · A expectativa geral era de um evento curto e decisivo, como outras guerras recentes na Europa, contudo, os alemães não conseguiram vencer rapidamente a França; ambos os lados se enredaram e passaram os quatro anos seguintes atacando e defendendo linhas de trincheiras. · O atraso para a captura de Bruxelas pela Alemanha deu tempo para a mobilização britânica; na marcha para Paris, os alemães foram atacados pelos franceses na Batalha de Marne, que os fizeram recuar e cavar trincheiras – momento em que a guerra na frente ocidental deixa de ser uma guerra de movimento e passa a ser uma guerra de posição. A Batalha de Marne destruiu o Plano Schlieffen de uma vez por todas. · No Leste Europeu havia movimento: · Inicialmente, êxitos russos contra os austríacos, que tinham de ser ajudados pelos alemães. · bloqueio turco ao Estreito de Dardanelos começava a obstruir os russos, o que incentivou a Campanha de Gallipolo, promovida pela Inglaterra, para ajudar os russos e eliminar os turcos na frente oriental. A campanha foi um fracasso. · Quando a Bulgária entrou na guerra, ao lado das potências centrais, em outubro de 1915, a Sérvia foi rapidamente dominada por búlgaros e alemães. · Em maio de 1915, os italianos lutam ao lado dos aliados, depois de assinado um tratado secreto que prometeu à Itália Trentino, a Ístria, Trieste, parte da Dalmácia, algumas ilhas no mar Egeu e um protetorado sobre a Albânia. A intenção dos aliados era aliviar a pressão sobre os russos, mas estesnão conseguiram postergar a derrota. · A Grã-Bretanha vinha sofrendo grandes perdas de navios mercantes por conta de ataques submarinos, e a França tinha seus exércitos paralisados nas trincheiras. · No mar, nem britânicos nem alemães ousavam arriscar qualquer ação que pudesse resultar na perda de suas principais frotas. A força naval britânica era usada para três objetivos principais: bloquear as potências centrais, impedindo a entrada de mercadorias e esgotando-os aos poucos; manter suas rotas comerciais abertas para que os próprios aliados não passassem fome; e transportar tropas britânicas para o continente e mantê-las com suprimentos através dos portos do Canal da Mancha. Os britânicos conseguiram atingir esses objetivos e entraram em ação contra unidades alemãs estacionadas no interior, como na Batalha das Ilhas Falkland, quando destruíram uma das principais esquadras alemãs. · Os alemães inicialmente respeitavam navios neutros e de passageiros, mas em pouco tempo ficou claro que a estratégia não era eficaz: os britânicos tentaram enganar os alemães usando bandeiras neutras ou navios de passageiros para transportar armas e munição. Em abril de 1915, o navio de passageiros britânicos Lusitania foi afundado por um ataque de torpedos. · Desesperados pela escassez de comida causada pelo bloqueio britânico, os alemães se engajaram em uma guerra submarina “irrestrita” – eles tentavam afundar todos os navios mercantes neutros e inimigos no Atlântico. Mesmo sabendo que isso provavelmente traria os EUA para a guerra, eles esperavam que a Grã-Bretanha e a França fossem forçadas a se render por causa da fome antes que os norte-americanos dessem qualquer contribuição vital. · Em dezembro de 1917, os alemães capturaram a Polônia (território russo) e forçaram os russos a sair da guerra (com a assinatura do duro Tratado de Brest-Litovski, também chamado de diktat, entre Alemanha e Rússia). Todo o peso das forças alemãs foi jogado agora para o ocidente; sem os Estados Unidos, os aliados teriam sofrido uma grande pressão. · Como se previu, os EUA entraram na guerra em abril de 1917; com isso, os Aliados viram uma mudança de rumos. Os EUA forneceram comida, navios mercantes e crédito à Grã-Bretanha e à França. Em campo militar, desgastaram os alemães, e ao final do verão europeu de 1918, o país estava próximo à exaustão. Em novembro de 1918 foi assinado um armistício (que foi idealizado como uma maneira de salvar a Alemanha de uma invasão e preservar a disciplina e a reputação do Exército), e no ano seguinte, em Versalhes, um polêmico acordo de paz. · Foram 7 fatores fundamentais para a derrota das potências centrais: 1. A falha do Plano Schlieffen 2. O poder marítimo dos aliados foi decisivo, sobretudo com a aplicação do bloqueio que causou escassez desesperada de comida na Alemanha 3. A campanha dos submarinos alemães fracassou em face dos comboios protegidos pela força naval britânica 4. A entrada dos EUA trouxe enormes recursos aos Aliados 5. Os líderes políticos dos Aliados foram mais competentes do que os das Potências Centrais 6. Os alemães perderam seus melhores soldados na ofensiva de 1918 e a epidemia de gripe espanhola aumentou as dificuldades 7. A Alemanha estava constantemente tendo que ajudar seus aliados na frente oriental. · Os impactos da guerra envolveram não só a perda de milhares de soldados, mas também de populações inteiras; foram introduzidos novos métodos de guerra e armamentos, e a sociedade sofreu grandes mudanças, com as mulheres assumindo os lugares dos homens (que estavam nos campos de batalha) nas fábricas e em outros trabalhos que antes só eles exerciam. Em todos os Estados europeus envolvidos os governos organizaram as pessoas como nunca antes, de forma que todo o país estivesse engajado no esforço de guerra. · Os efeitos sobre os Estados foram individualmente devastadores, já que os grandes impérios que dominaram a Europa central e do leste por mais de 200 anos desapareceram do dia para a noite. · Na Alemanha, as dificuldades e a derrota causaram uma revolução, e foi instaurada a República de Weimar. · O Império Habsburgo entrou em colapso e as várias nacionalidades se declararam independentes. · Na Rússia, as pressões da guerra causaram duas revoluções em 1917, que alçaram os comunistas ao poder. · A Itália tornou-se o primeiro Estado europeu a cair em uma ditadura fascista. · EUA, Japão e China aproveitaram-se da guerra para expandir seu comércio. · Os Estados Unidos saíram da Guerra como a nova potência mundial. · Os líderes estavam determinados a não mais permitir os horrores da Grande Guerra, e criaram um sistema de “segurança coletiva”, baseado nos 14 pontos do presidente Woodrow Wilson: a Liga das Nações. · Quando a conferência de paz se reuniu (janeiro de 1919), ficou imediatamente claro que seria difícil chegar a um acordo de paz: a França queria uma paz severa, que arruinasse a Alemanha do ponto de vista econômico e militar; a Grã-Bretanha era favorável a um acordo menos rígido, de forma que a Alemanha logo pudesse se recuperar e voltar a consumir os produtos britânicos; os EUA defendiam uma “paz sem vencedores”, baseada nos 14 pontos de Wilson. · Em junho de 1919 a Conferência gerou o Tratado de Versalhes, que acarretava em diversas perdas territoriais para a Alemanha (como a devolução da Alsácia-Lorena para a França e a perda da Prússia Ocidental para a Polônia, por exemplo), a retirada das colônias alemãs na África (colocadas sob a supervisão da Liga das Nações), a restrição bélica da Alemanha e a imposição da cláusula de culpa pela guerra, acompanhada de pesadas indenizações. · Aos alemães não foi permitido que estivessem presentes às discussões em Versalhes; os termos do acordo foram simplesmente apresentados a eles. · O tratado foi polêmico, e gerou muito rancor e um sentimento de revanchismo alemão. · As indenizações foram consideradas excessivas, mesmo entre alguns países participantes do Tratado. John M. Keynes, que era assessor econômico da delegação britânica na conferência, pediu que os aliados aceitassem 2 bilhões de libras, uma quantia razoável e que a Alemanha teria condições de pagar. A cifra de 6,6 bilhões, cobradas pelo Tratado, possibilitou que os alemães dissessem que era impossível pagar e em seguida começassem a deixar de pagar suas prestações anuais. Os aliados acabaram admitindo o equívoco e reduziram a quantia para 2 bilhões de libras, com o Plano Young, em 1929, mas não antes destas se mostrarem desastrosas. · Com o Tratado de Saint German (1929), a Áustria perdeu a Boêmia e a Morávia para o novo estado da Tchecoslováquia; Dalmácia, Bósnia e Sérvia tornaram-se Iugoslávia; o sul de Tirol, Trentino, Ístria e Trieste passaram para a Itália. O Tratado de Trianon (1920) sobre a Hungria dava a Eslováquia e a Rutênia à Tchecoslováquia, a Croácia e a Eslovênia à Iugoslávia e a Transilvânia e o Banat de Timisoara à Romênia. Ambos estavam contidos no Pacto da Liga das Nações. · A Turquia também perdeu territórios com o Tratado de Sèvres (1920), e diversas regiões ficaram sob o mandato da França e da Grã-Bretanha, como a Síria e a Palestina. Porém, a perda de território para a Grécia feriu o sentimento nacional turco, e liderados por Mustafa Kemal, os turcos rejeitaram o tratado e expulsaram os gregos da região de Smirna. Mais tarde, chegou-se a um novo compromisso, revisado pelo Tratado de Lausanne (1923). · Os Estados Unidos nunca ratificaram os acordos de paz de Paris nem entraram na Liga das Nações, o que provocou certa fragilidade nestes desde o princípio e tornou difícil suas aplicações de maneira integral. Mais tarde, os desentendimentos culminariam em uma nova guerra mundial.