Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA INTRODUÇÃO Prezado aluno, O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA Jhonatan dos Santos Dantas Geografia e características naturais Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: ◼ Caracterizar a astronomia e a geologia. ◼ Analisar características da climatologia e da geomorfologia. ◼ Nomear aspectos dos recursos hídricos e do relevo. Introdução A ciência geográfica interpreta o espaço associando os diversos fenôme- nos e agentes que interferem na sua configuração. Para isso, a utilização dos estudos da natureza é fundamental, pois o espaço é formado por uma série de elementos naturais que interagem constantemente. Assim, é necessário que a interpretação do espaço geográfico englobe os múl-tiplos fenômenos da natureza e relacione-os para compreender as suas diversas conformações e características. Neste capítulo, você vai aprender a caracterizar a astronomia e a geologia enquanto áreas da ciência importantes para a interpretação geográfica. Você também vai ver como a climatologia e a geomorfologia são importantes para a compreensão do relevo terrestre, bem como estudar os diversos tipos de clima e os conteúdos principais relaciona-dos a esses temas. Além disso, você vai conhecer os tipos de relevo e os diversos aspectos dos recursos hídricos. Dessa forma, você vai estar apto a realizar uma análise integrada das características naturais e da sua relação com a geografia. 2 Geografia e características naturais A astronomia e a geografia Na Antiguidade, a geografia era fundamental para os viajantes, reis e impera-dores que tinham interesse em explorar o planeta. Desvendar os segredos da Terra e da natureza também foi tarefa de grandes cientistas e filósofos desde a Antiguidade. Estudiosos como Eratóstenes e Ptolomeu, por exemplo, tinham essa preocupação. Apesar dos estudos de Ptolomeu, Estrabão, Eratóstenes e outros que apre- sentaram teorias opostas ao geocentrismo (a Terra como centro do universo), o pensamento geocêntrico perdurou por muito tempo. Além disso, a noção de que a Terra seria plana teve força durante a Idade Antiga e a Idade Média. Foi apenas com as grandes navegações que a ideia de globo terrestre começou a ser aceita e a se difundir entre a população (ANDRADE, 1987). O período das grandes navegações foi fundamental para o desenvolvimento da cartografia e de técnicas que permitiram um novo mapeamento do planeta. Junto a isso, as noções heliocêntricas começaram ser discutidas, rompendo com o paradigma religioso e dogmático predominante até a época segundo o qual a Terra constituía o centro do universo. Nicolau Copérnico e Galileu Galilei foram cientistas que marcaram a histó-ria afirmando a configuração heliocêntrica do universo. Essa teoria enfrentou forte resistência na época, principalmente pela cultura dogmática e religiosa que predominava. Os amplos estudos que foram desenvolvidos após o século XVII, principalmente sobre astronomia, física e química, é que permitiram o rompimento de diversos paradigmas e uma compreensão profunda sobre a dinâmica da natureza e sobre as leis gerais do universo. A astronomia é um campo da ciência que estuda os corpos celestes e os diversos fenômenos que ocorrem fora da Terra. Portanto, a sua importância para a geografia é notória, visto que todo o conhecimento relacionado às orientações cartográficas, às coordenadas geográficas e à estrutura terrestre foi influenciado pelos estudos dessa disciplina (CAVALCANTE, 2012). Por isso, é importante você conhecer alguns conceitos básicos que mostram a relevância da astronomia para a compreensão da dinâmica da natureza e para a formação do espaço terrestre. Em primeiro lugar, você deve entender a posição da Terra na Via Láctea (nome da galáxia na qual o planeta se encontra). Posteriormente, deve conhecer os movimentos da Terra e os seus satélites naturais. Geografia e características naturais 3 A Terra é o terceiro planeta no Sistema Solar (Figura 1) e o único com condições propícias para o desenvolvimento da vida animal e vegetal. A sua posição permite um clima equilibrado para o desenvolvimento de diversos ecossistemas. Figura 1. O sistema solar. Fonte: Adaptada de Christos Georghiou/Shutterstock.com. Além da posição da Terra no sistema solar, o movimento que o planeta faz também garante o equilíbrio térmico necessário para a sobrevivência de espécies de plantas e animais. O movimento de rotação é aquele em que a Terra gira em torno do seu próprio eixo. Esse movimento, que dura 24 horas, é responsável pelos dias e noites e pela ilusão do movimento do Sol. Já o movimento de translação (Figura 2) é aquele em que a Terra gira em torno do Sol. Esse movimento dura 365 dias e 6 horas. Devido à sobra de horas, a cada 4 anos o calendário passa a vigorar por 366 dias — é o chamado ano bissexto. O movimento de translação é importante para a definição das estações do ano. É importante você notar que, devido à inclinação do planeta e ao movi- mento de translação, as estações do ano nos Hemisférios Norte e Sul são opostas: quando é verão no Hemisfério Norte, é inverno no Hemisfério Sul e vice-versa. 4 Geografia e características naturais Figura 2. Movimento de translação. Fonte: Adaptada de Freitas (2019). O solstício é caracterizado pela máxima incidência de raios solares em um hemis-fério. Consequentemente, no hemisfério oposto haverá o menor tempo da taxa de incidência de raios solares. No dia 21 de dezembro, ocorre o solstício de verão no Hemisfério Sul e o de inverno no Hemisfério Norte. No dia 21 de junho, ocorre o contrário. Por sua vez, o equinócio é caracterizado pela distribuição igualitária de raios solares em ambos os hemisférios. Os equinócios ocorrem em 23 de setembro e 21 de março. Outra questão importante nos estudos da astronomia se refere aos satélites naturais. A Lua, satélite natural da Terra, por exemplo, exerce ampla influência nas marés dos oceanos. Vale lembrar que existem as marés cheias e vazias graças à força gravitacional que a Lua exerce sobre as águas, atuando como uma espécie de ímã que provoca agitação nos mares de acordo com a fase lunar (Figura 3) e o horário do dia. Geografia e características naturais 5 Figura 3. Fases da Lua. Fonte: Gouveia (2019c). A relação existente entre os astros também é importante para você com- preender diversos fenômenos naturais, entre eles os eclipses. O eclipse lunar (Figura 4) ocorre quando a Terra está alinhada com a Lua e com o Sol, impe-dindo que os raios solares iluminem a Lua.Figura 4. Eclipse lunar. Fonte: Gouveia (2019a). 6 Geografia e características naturais Já o eclipse solar (Figura 5) ocorre quando o alinhamento entre a Terra, a Lua e o Sol acontece de modo que a Lua impede que os raios solares ilumi- nem a Terra por algumas horas. Esses eclipses podem ser totais ou parciais, dependendo do alinhamento entre os astros. Figura 5. Eclipse solar. Fonte: Gouveia (2019b). Você sabia que os eclipses foram fundamentais para o desenvolvimento da teoria geral da relatividade de Albert Einstein? Graças aos eclipses e às fotos desses eventos feitas pelos astrônomos, foi possível comprovar a teoria geral, hoje amplamente estudada pelos físicos. Esse conceito foi fundamental para revolucionar a teoria da gravidade e desenvolver as ideias sobre a curvatura do espaço. Os estudos da astronomia, nesse sentido, são fundamentais para a compre-ensão de alguns temas da geografia. É o caso dos fusos horários, que existem graças ao movimento de rotação, fazendo com que o Sol apareça no sentido leste-oeste — nesse caso, os 24 fusos horários definidos fazem com que haja uma diferença de um dia entre o fuso +12 e o fuso –12. Aspectos como orientação espacial, pontos cardeais e colaterais também sofrem influência direta dos eventos que ocorrem fora da Terra. É comum, Geografia e características naturais 7 em sala de aula, ensinar pontos cardeais apontando o braço direito para o leste (nascer do sol) e então definindo a orientação dos demais pontos. Ou seja, a utilização da astronomia na geografia escolar também é importante, inclusive para o aluno relacionar conhecimentos e temas e aprender de maneira mais dinâmica vários assuntos, como orientação, coordenadas, entre outros. Outra questão importante é referente às zonas climáticas da Terra — a compreensão do formato da Terra, atrelada aos estudos da incidência da radiação solar, permite explicar a existência de zonas térmicas no planeta (Figura 6). Figura 6. Zonas térmicas da Terra. Fonte: Polon (2018). Como você pode ver na Figura 6, a porção equatorial do planeta recebe maior incidência de radiação solar, o que permite o maior aquecimento dessa área em relação às zonas polares. Assim, devido ao formato do planeta e à inclinação existente, a distribuição de calor ocorre irregularmente, sendo que as áreas centrais (intertropicais) são as áreas mais aquecidas do globo (CONTI; FURLAN, 2005). Além disso, o relação das zonas climáticas com as estações do ano reforça a importância da astronomia para os estudos geográficos. Durante o século XX, a descoberta de vários elementos químicos e o aperfeiçoamento de leis gerais do universo, como as teorias em torno da relatividade, da gravidade, entre outras, permitiram expandir a ciência de 8 Geografia e características naturais modo significativo. Isso contribuiu para o desenvolvimento dos estudos acerca da estrutura terrestre, da sua composição química e da origem das rochas e materiais geológicos. Os estudos cosmológicos sobre a origem do universo e a relação entre esses temas e a formação do planeta Terra também contribuíram signifi- cativamente para os estudos geológicos e geomorfológicos, como você vai ver adiante. A geologia e a geomorfologia A geologia é o campo científico responsável por estudar a formação da crosta terrestre, bem como os materiais que compõem a estrutura da Terra. Já a geomorfologia é o campo da ciência que estuda as formas da superfície ter-restre, bem como o seu processo de formação e transformação, identificando fenômenos e causas que originam e transformam os diversos tipos de relevo (ROSS, 2005). Nas Figuras 7 e 8, você pode observar como se constitui a estrutura terrestre. Figura 7. Estrutura terrestre. Fonte: Gandini ([2019]). Geografia e características naturais 9 Figura 8. Camadas do interior da Terra. Fonte: Camadas... (2014). Como você pode perceber, a crosta terrestre corresponde à camada externa da litosfera, sendo menos espessa que as outras camadas da Terra. Essa com-preensão é relevante para o entendimento da teoria da deriva continental, da formação do relevo terrestre e dos vários processos que envolvem atividades sísmicas, como vulcanismo e tectonismo (LOBLER; SIMÕES, 2016). A seguir, você pode conhecer melhor esses elementos. ◼ Deriva continental: é uma teoria proposta por Alfred Wegener no início do século XX que afirma que os continentes eram unificados e, no decorrer de milhões de anos, houve um processo de separação devido ao movimento continental que ocorre lentamente. ◼ Vulcanismo: é um fenômeno que envolve materiais advindos do interior da Terra, que se movimentam e podem entrar em contato com a superfície terrestre. O vulcanismo está atrelado à movimentação de lavas presente no interior do planeta, concentradas na região do manto terrestre, e é responsável pela formação do relevo ao solidificar-se na superfície. ◼ Tectonismo: é o processo de movimento das placas tectônicas. A movi-mentação ocorre devido às pressões existentes no interior da Terra, que causam o deslocamento de enormes placas continentais. Esse processo pode ser responsável por uma série de atividades sísmicas e causa, no longo prazo, a modificação do relevo terrestre. 10 Geografia e características naturais Para compreender como ocorreu a formação da estrutura terrestre, você precisa conhecer os agentes que atuam na formação e na alteração da super- fície do planeta. Esses agentes podem ser endógenos ou exógenos. Os agentes endógenos agem no interior da Terra e causam a formação de relevo, rochas e minerais. Já os agentes exógenos provocam a modelagem da superfície de diversas formas (LOBLER; SIMÕES, 2016). Os agentes formadores do relevo O relevo é formado por agentes internos e agentes externos. Compreender o papel desses agentes é fundamental para entender a dinâmica geomorfológica da Terra. Entre os agentes internos, há o vulcanismo e o tectonismo. O vulcanismo (Figura 9) é o processo de erupção do material magmático que chega à superfície. Ele age diretamente na formação do relevo e das rochas. O resfriamento das lavas vulcânicas forma as rochas ígneas, denominadas também rochas magmáticas. Essa formação dá origem aos escudos cristalinos, grandes áreas formadas por rochas cristalinas (LOBLER; SIMÕES, 2016; CHRISTOPHER; BIRKELAND, 2017). Figura 9. Vulcanismo. Fonte: Adaptada de Estrutura... (2013). Geografia e características naturais 11 Na Figura 9, você pode observar que a atividade vulcânica encontra em pontos específicos uma “válvula de escape” — nesses locais, ocorrem as erupções vulcânicas ou o derramamento de lavas. O processo de vulcanismo também influencia diretamente a formação de ilhas vulcânicas. Um exemplo de ilhas vulcânicas é o estado do Havaí, pertencente aos Estados Unidos, um arquipélago de ilhas localizado no Oceano Pacífico e originado pela atividade vulcânica constante na região. Outro processo que age constantemente na formação do relevo terrestre é o tectonismo (Figura 10). Assim, a movimentação de placas tectônicas causa um grande processo de transformação no formato da superfície (ROSS, 2005). O movimento das placas tectônicas dá origem às grandes cordilheiras e falhas geológicas. Figura 10. Placas tectônicas. Fonte: Adaptada de Peter Hermes Furian/Shutterstock.com. Elevados planaltos também foram formados em tempos mais antigos pelos processos de vulcanismo e tectonismo. Hoje, são áreas que não sofrem mais interferência dos agentes internos.Esses agentes atuam por meio da força advinda do interior da Terra, que pressiona a superfície (crosta da Terra), provocando vários deslocamentos e remodelagens. Os agentes externos também exercem ampla influência na modelagem e na configuração geomorfológica da superfície, sendo responsáveis pela formação das bacias e rochas sedimentares. 12 Geografia e características naturais Entre os agentes externos, você pode considerar o intemperismo e a erosão (CHRISTOPHER; BIRKELAND, 2017). O intemperismo é entendido como todo desgaste, desintegração ou de- composição provocada nas rochas e solos pelos agentes intempéricos. Assim, há diversas formas de intemperismo. O processo de intemperismo pode ser: físico, químico ou biológico (ROSS, 2005). Veja a seguir. ◼ Intemperismo físico: é o processo de desgaste e desagregação das rochas que ocorre pela força mecânica, ou seja, pelo contato físico. O principal fator que causa o intemperismo físico é a ação constante dos ventos, da água e da temperatura na rocha. ◼ Intemperismo biológico: é provocado pelas plantas e animais. Esses agentes acabam causando o desgaste e a desagregação das rochas por meio de seu contato direto. ◼ Intemperismo químico: é provocado em grande parte pela ação cons- tante da água. A ação da água provoca a desagregação dos materiais que compõem a rocha, podendo diluir os minerais que a formam. O processo de intemperismo causa uma alteração enorme na paisagem, pois promove a remodelagem da superfície terrestre. Esse processo de des- gaste pode formar as rochas sedimentares, que são constituídas a partir do desgaste de outras rochas. As partículas, misturadas e compactas por um longo período de tempo, formam as bacias sedimentares, áreas nas quais se encontra uma formação rochosa sedimentar, geralmente um tipo de rocha mais frágil que dá origem a um solo mais arenoso, com maiores propensões à erosão (ROSS, 2005). Outro agente externo que age na modelagem da superfície é a erosão. A erosão do solo é um processo de retirada do solo que ocorre por meio do transporte de sedimentos provocado pela ação das águas da chuva, dos rios, dos mares, etc. A erosão do solo pode provocar inúmeros danos ambientais em áreas rurais e urbanas (ROSS, 2005). Ela pode causar deslizamento de terras em áreas urbanas, pode provocar a perda de áreas agricultáveis, danificar canais fluviais e intensificar os processos de assoreamento. As erosões mais graves são denominadas voçorocas. Essas erosões chegam a uma profundidade tão grande que podem atingir os lençóis freáticos, sendo um processo quase irreversível. Sem dúvida, a erosão e o intemperismo são agentes poderosos na remode-lagem e na configuração do relevo terrestre. Essa superfície, porém, adquire diferentes formas, podendo ser classificada de acordo com o seu formato (ROSS, 2005). Geografia e características naturais 13 Os diferentes relevos e os recursos hídricos da Terra A superfície da Terra adquire diferentes formatos devido aos vários processos que ocorrem na configuração e na formatação do relevo. Esses diferentes formatos recebem denominações variadas, como você pode ver a seguir. ◼ Montanha: forma de relevo que apresenta elevadas altitudes e terrenos bastante irregulares. O conjunto de montanhas forma cordilheiras. O ponto mais elevado do planeta é o pico Everest, localizado na cordilheira do Himalaia, com 8.848 metros de altitude. ◼ Serra: forma de relevo que apresenta altitudes elevadas, porém inferio-res às das montanhas. Algumas serras constituíram grandes montanhas em tempos passados e sofreram um rebaixamento devido aos agentes externos. A altitude ultrapassa 1.000 metros. ◼ Planalto: forma de relevo com altitudes médias que variam de 200 a aproximadamente 1.000 metros. Apesar dos desníveis desse tipo de relevo, ele é propenso à ocupação e ao desenvolvimento de atividades humanas. Esse perfil de relevo é favorável à existência de rios enca- choeirados, o que viabiliza, em alguns terrenos, a construção de usinas hidrelétricas. ◼ Planície: forma de relevo que apresenta terrenos baixos, além de apre-sentar uniformidade e poucos desníveis. As planícies geralmente são bastante exploradas para o desenvolvimento de atividades agrícolas e também para a ocupação e a construção de cidades. Esses terrenos podem ser propensos a inundações. Geralmente, os rios de planícies são navegáveis, o que permite o deslocamento de pessoas e mercadorias por vias fluviais. ◼ Depressão: forma de relevo em que os terrenos apresentam uma va- riação altimétrica negativa em relação aos terrenos do entorno. Ou seja, as depressões são caracterizadas pela queda brusca de altitude em determinados pontos. Algumas depressões podem chegar a uma altitude negativa em relação ao nível do mar. ◼ Escarpa: forma de relevo na qual ocorre uma ampliação brusca de altitude de determinada superfície e um desnível significativo entre dois pontos. As escarpas geralmente são associadas a penhascos. Grande parte dos cânions apresentam escarpas na forma do relevo. As formas variadas do relevo são influenciadas diretamente por fatores da natureza, como a dinâmica climática, a interação entre os diversos biomas, a 14 Geografia e características naturais hidrografia, entre outros (NASCIMENTO; SAMPAIO, 2004). A hidrografia e as águas que compõem a superfície causam uma modificação enorme no formato do relevo terrestre. Por conseguinte, o relevo, atrelado ao tipo de clima, determina a distribuição dos recursos hídricos pelo planeta. Um exemplo disso é a formação de bacias hidrográficas. As bacias hidro- gráficas são delimitadas pelo relevo ou divisor de águas. Ou seja, toda água drenada dentro daquela área delimitada pelo divisor constitui uma bacia hi- drográfica (Figura 11). Toda bacia hidrográfica é formada por um rio principal e um conjunto de afluentes. Quanto mais afluentes houver e quanto maior for a área de drenagem, maior será a bacia hidrográfica. Figura 11. Bacia hidrográfica. Fonte: Adaptada de Bacias... (2015). Os rios nascem na parte elevada dos relevos e deságuam (foz do rio) nas áreas baixas. Os rios de relevos íngremes (como planaltos, montanhas e serras) podem apresentar cachoeiras, e a velocidade da água no leito é maior. Já rios de planície geralmente são lentos, os canais fluviais são mais largos e as planícies de inundação são áreas extensas (LOBLER; SIMÕES, 2016). Rios de planície também são favoráveis para o transporte e para a pesca. Já os rios de relevo elevado e íngreme são propensos à construção de usinas hidrelétricas. Os rios que apresentam rápida vazão em seu leito Geografia e características naturais 15 também podem acentuar os processos erosivos devido à retirada do solo nas margens. Os rios podem ser perenes, intermitentes ou efêmeros. Os perenes são rios com fluxo de água constante. Já os intermitentes são rios que secam durante um período do ano, geralmente o período de secas. Por sua vez, os rios efêmeros são constituídos apenas pelo canal fluvial, de modo que só ocorre fluxo de água no momento das chuvas torrenciais; caso contrário, o rio permanece seco. Mas os recursos hídricos não estão apenas nos rios. Os lençóis freáticos, aquíferos e lagos também representam formas de acúmulo desses recursos. Os lençóis freáticos e aquíferos são áreas em que a retenção da água encontra--se no subsolo. Já nos lagos e lagoas, as águas encontram-se na superfície, mas não há um canal de escoamento, de modo que se constituem pequenas depressões. As áreas ao redor acabam drenando as águas para esses corpos de água fechados existentes na superfície. As águas existentes no planeta são utilizadas para a agricultura, para a geração de energia, para a higiene da população e também para beber. Porisso, como você sabe, a gestão dos recursos hídricos é fundamental para garantir a qualidade de vida dos habitantes. A proteção das áreas de manancial, a qualidade das águas e os estudos climáticos são elementos importantes para um bom desenvolvimento da sociedade. A climatologia e a geografia A climatologia é o ramo da ciência que se dedica a compreender a dinâmica climática da atmosfera, de modo a identificar o perfil climático de lugares e regiões. A climatologia é extremamente necessária para a geografia, pois é um dos princi-pais elementos que permite compreender os geossistemas (BERTRAND, 2004). O geossistema é a aplicação de teorias gerais que explicam fenômenos naturais que ocorrem na superfície terrestre — esse método também analisa a correlação entre os fenômenos da natureza. Ou seja, os estudos geossistêmicos compreendem o clima, a vegetação, o relevo e a hidrografia como sistemas interligados que influenciam um ao outro. Logo, os estudos climáticos são de grande valia para a compreensão de inúmeros processos de transformação do espaço e da superfície terrestre (BERTRAND, 2004). Assim, o clima é o comportamento atmosférico padrão determinado pelos conjuntos de variações de tempos atmosféricos que dão uma característica climática a determinada área. Já o tempo (atmosférico) é uma referência ao comportamento momentâneo da atmosfera (CONTI; FURLAN, 2005). 16 Geografia e características naturais É possível classificar o clima. Por exemplo, no sul do Brasil, o clima é subtropical, enquanto, no sudeste, ele é tropical. Essa classificação de clima é determinada pelo conjunto de variações atmosféricas que dão um padrão de comportamento temporal à atmosfera. Já o tempo é o estado momentâneo da atmosfera. Por exemplo, o tempo está chuvoso ou o tempo está ensolarado. A energia solar e a incidência de radiação na Terra são fundamentais para a determinação dos tipos de clima. Como você viu na Figura 6, a distribuição de calor no planeta ocorre de modo diferenciado. Essa distribuição de calor é um dos principais fatores que influenciam a dinâmica climática. Na Figura 12, a seguir, você pode verificar que os tipos de clima mais quentes encontram-se nas áreas centrais do planeta. Já os climas frios e po- lares encontram-se nas regiões de latitudes elevadas. Isso ocorre devido à distribuição irregular de calor e radiação solar na Terra. Figura 12. Tipos de clima. Fonte: Tipos... (2017). Geografia e características naturais 17 Além desses fatores, a altitude, a continentalidade, a maritimidade, as correntes marítimas e as massas de ar também interferem diretamente na dinâmica climática (CONTI; FURLAN, 2005). Nas altitudes elevadas, o ar é mais rarefeito, o calor não é absorvido da mesma maneira do que nas baixas altitudes. Então, quanto maior for a elevação do terreno, mais fria será a tempe- ratura. No topo de uma montanha, por exemplo, mesmo que ela seja localizada em faixas equatoriais ou nos trópicos, o ar apresenta baixas temperaturas. A continentalidade está associada à absorção de calor pelo continente. Assim, quanto mais distante dos oceanos for um espaço, maior será a influ-ência da continentalidade. A absorção de calor ocorre durante o dia, devido à radiação solar. Durante a noite, ocorrem quedas bruscas de temperatura devido à perda do calor retido no continente. Assim, a amplitude térmica de áreas afastadas dos oceanos com pouca presença de água é bastante significativa. A maritimidade é a influência da água dos mares e oceanos no clima. Por-tanto, nas áreas litorâneas, a amplitude térmica é relativamente pequena, pois a água demora para ganhar calor e também demora a perdê-lo, contribuindo para a pouca variação de temperatura ao longo do dia. As correntes marítimas estão associadas ao movimento das águas oceânicas. Esse deslocamento das águas do oceano faz com que elas elevem as tempera- turas de seu local de origem, interferindo diretamente na dinâmica climática. Um exemplo da influência das correntes marítimas é o caso de Nova Iorque, nos Estados Unidos. Durante o inverno, as águas do polo norte se deslocam em direção ao litoral leste do país, provocando um frio intenso. Durante o inverno, as águas do oceano chegam a temperaturas tão baixas que congelam. As massas de ar são um dos principais fatores que influenciam a dinâmica do clima. Uma massa de ar é um volume de ar com pressão atmosférica, temperatura e umidade relativa do ar homogêneas internamente. Ela se des-loca na atmosfera e leva as características de seu local de origem. Assim, as massas de ar geralmente recebem influência das zonas térmicas, bem como de características locais. Por exemplo, as massas de ar formadas em desertos são secas, já as formadas em florestas tropicais são úmidas, e as formadas em regiões polares são frias. 18 Geografia e características naturais As massas de ar podem apresentar baixa pressão atmosférica ou alta pressão atmosférica. A pressão nada mais é do que a densidade do ar, ou seja, a força que o ar exerce na superfície. Em geral, as massas de alta pressão são frias e as de baixa pressão são quentes. Os furacões e tufões são formados em águas oceânicas e recebem influência das massas de baixa pressão atmosférica. Geralmente, eles se originam na região dos trópicos e necessitam de um aquecimento das águas, já que o processo de evaporação contribui para a sua formação. Os furacões, quando atingem as porções continentais, causam enormes estragos. Eles podem ser classificados de f1 até f5, de acordo com a intensidade da tempestade tropical. Quanto maior for a classificação, maior será a intensidade do fenômeno. Todos esses fatores originam diferentes tipos de clima no planeta. Os principais estão listados a seguir. ◼ Equatorial: tipo de clima que favorece o estabelecimento de florestas pluviais e apresenta elevada umidade relativa do ar e elevadas tempe- raturas o ano todo. ◼ Tropical: tipo de clima que apresenta uma estação chuvosa e outra mais seca e temperaturas elevadas o ano todo. ◼ Polar: clima presente nas regiões polares. Praticamente todo o ano as temperaturas encontram-se abaixo de 0 ºC. ◼ Frio de montanha: clima que apresenta sempre baixas temperaturas devido à altitude. Ocorre apenas em locais com terrenos elevados. ◼ Desértico: caracterizado pela baixa umidade relativa do ar durante todo o ano. Os desertos nem sempre são quentes, mas em geral apresentam grande amplitude térmica. ◼ Semiárido: clima com escassez de chuva e baixa umidade relativa do ar. Apesar de a umidade relativa do ar ser baixa na maior parte do ano, existe geralmente uma estação em que a umidade do ar se amplia, podendo inclusive ocasionar chuvas esporádicas. ◼ Temperado: clima de transição que geralmente ocorre nas zonas térmi-cas temperadas. Esse clima apresenta estações do ano bem definidas; os verões são quentes e os invernos bastante rigorosos. Geografia e características naturais 19 Como você sabe, o uso irresponsável da natureza e dos seus recursos tem provocado inúmeras catástrofes ambientais, algumas com efeitos diretos na dinâmica climática. Problemas como chuvas ácidas, poluição do ar e ampliação do efeito estufa são resultados de um modelo de desen- volvimento urbano-industrial que promove danos graves ao meio ambiente (ROSS, 2005). Você sabia que o efeito estufa é natural e garante o equilíbrio da temperatura na Terra, permitindo o desenvolvimento de diversos tipos de vida? Porém, a poluição do ar e a emissão de gases poluentes têm intensificado o efeito estufa. Esse processo tem gerado inúmeras discussões a respeito do aquecimento global. A contribuição da climatologia vai além da correlação existente entreos elementos naturais que compõem a superfície terrestre. A climatologia auxilia na compreensão de diversos aspectos, como o estabelecimento e o desenvolvimento de lavouras agrícolas atreladas à dinâmica climática de regiões produtoras. Além disso, ela auxilia no entendimento das formas de ocupação do solo. Considere, por exemplo, que as regiões mais densamente povoadas tendem a ser áreas com climas mais agradáveis para a sobrevivência humana. Ou seja, o clima é um elemento fundamental para a compreensão da dinâmica da natureza, de diversas atividades econômicas e da formação do espaço geográfico. ANDRADE, M. C. Geografia ciência da sociedade: uma introdução a análise do pensa- mento geográfico. São Paulo: Atlas, 1987. BACIAS hidrográficas. In: AMIGO pai. [S.l.: s.n.], 2015. Disponível em: https://amigopai. wordpress.com/2015/10/19/bacias-hidrograficas/. Acesso em: 12 mar. 2019. BERTRAND, G. Paisagem e geografia física global: esboço metodológico. Revista RAEGA, v. 8, 2004. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/raega/article/view/3389/2718. Acesso em: 12 mar. 2019. 20 Geografia e características naturais CAMADAS da Terra e suas características. In: CULTURAMIX. [S.l.: s.n.], 2014. Disponível em: http://meioambiente.culturamix.com/natureza/camadas-da-terra-e-suas-carac- teristicas. Acesso em: 12 mar. 2019. CAVALCANTE, M. B. A popularização da astronomia no ensino da geografia: uma ex- periência no ensino fundamental e médio. Revista Brasileira de Educação em Geografia, v. 2, n. 4, jul./dez. 2012. Disponível em: http://www.revistaedugeo.com.br/ojs/index. php/revistaedugeo/article/view/63/85. Acesso em: 12 mar. 2019. CHRISTOPHERSON, R. W.; BIRKELAND, G. H. Geossistemas: uma introdução à geografia física. 9. ed. Porto Alegre: Bookman, 2017. CONTI, J. B.; FURLAN, S. A. Geoecologia: o clima, os solos e a biota. In: ROSS, J. Geografia do Brasil. 5. ed. São Paulo: Edusp, 2005. ESTRUTURA interna dos vulcões. In: CIÊNCIAS 6° ano. [S.l.: s.n.], 2013. Disponível em: https://equiciencias6anope.wordpress.com/estrutura- interna-dos-vulcoes/. Acesso em: 12 mar. 2019. FREITAS, E. Movimento de translação. In: ALUNOS online. [S.l.: s.n.], 2019. Disponível em: https://alunosonline.uol.com.br/geografia/movimento-translacao.html. Acesso em: 12 mar. 2019. GANDINI, R. Camadas da Terra. In: INFOESCOLA. [S.l.: s.n.], [2019]. Disponível em: https:// www.infoescola.com/geologia/camadas-da-terra/. Acesso em: 12 mar. 2019. GOUVEIA, R. Eclipse lunar. In: TODA matéria. [S.l.: s.n.], 2019a. Disponível em: https:// www.todamateria.com.br/eclipse-lunar/. Acesso em: 12 mar. 2019. GOUVEIA, R. Eclipse solar. In: TODA matéria. [S.l.: s.n.], 2019b. Disponível em: https:// www.todamateria.com.br/eclipse-solar/. Acesso em: 12 mar. 2019. GOUVEIA, R. Fases da lua. In: TODA matéria. [S.l.: s.n.], 2019c. Disponível em: https:// www.todamateria.com.br/fases-da-lua/. Acesso em: 12 mar. 2019. LOBLER, C. A.; SIMÕES, M. da A. Metodologia do ensino de geografia. Porto Alegre: Sagah, 2016. NASCIMENTO, F. R.; SAMPAIO, J. L. F. Geografia física, geossistema e estudos integra-dos da paisagem. Revista da Casa da Geografia de Sobral, v. 6, n. 1, 2004. Disponível em: http://www.uvanet.br/rcgs/index.php/RCGS/article/view/130. Acesso em: 12 mar. 2019. POLON, L. Zonas térmicas da Terra. In: TERRA educação. [S.l.: s.n.], 2018. Disponível em: https://www.estudopratico.com.br/zonas-termicas-da- terra-polares-temperadas-e--tropical/. Acesso em: 12 mar. 2019. ROSS, J. Geografia do Brasil. 5. ed. São Paulo: Edusp, 2005. TIPOS de clima. In: SUPORTE geográfico. [S.l.: s.n.], 2017. Disponível em: https:// suportegeografico77.blogspot.com/2017/06/tipos-de-clima_97.html. Acesso em: 12 mar. 2019. Geografia e características naturais 21 Leituras recomendadas COLANGELO, A. C. Geografia física, pesquisa e ciência geográfica. GEOUSP – espaço e tempo, v. 16, 2004. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/geousp/article/ view/73952. Acesso em: 14 mar. 2019. LEFF, E. Ecologia, capital e cultura: a territorialização da racionalidade ambiental. Rio de Janeiro: Vozes, 2009. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes curriculares da educação básica geografia. Paraná: SEEP, 2008. Disponível em: http://www.educadores.diaadia.pr.gov. br/arquivos/File/diretrizes/dce_geo.pdf. Acesso em: 14 mar. 2019. VITTE, A. C. Da metafísica da natureza à gênese da geografia física moderna. Revista GEOgraphia, 2006. 20/40 METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA Mait Bertollo Geografia e educação ambiental Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: ◼ Reconhecer a educação ambiental como instrumento de análise da realidade ambiental. ◼ Identificar os conceitos de meio ambiente natural e cultural. ◼ Explicar a importância da educação ambiental e a sua necessária articulação com o poder local e com a comunidade. Introdução A geografia é uma ciência que se relaciona diretamente com a educação ambiental. As noções de espaço geográfico, de escala e de representa- ções do meio ambiente e suas variáveis são importantes para se pensar a problemática ambiental em conjunto com a sociedade, de modo que seja possível interpretar e compreender a realidade. As questões socioambientais devem considerar as diversas percepções sobre a natureza existentes nas diferentes sociedades, grupos e indivíduos. Como você deve imaginar, percepções distintas podem gerar disputas, geralmente promovidas pela redução do meio ambiente como recurso natural ou como bem econômico. Nesse sentido, as relações entre o ser humano e a natureza variam de acordo com o grupo social e com o momento histórico em que se faz a análise. Neste capítulo, você vai verificar como a educação ambiental, junto à ciência geográfica, pode ser um instrumento de análise. Ela é importante para a compreensão dos impactos das atividades humanas, dos proble-mas ligados à preservação do meio ambiente, bem como das disputas entre o poder local e a comunidade. 2 Geografia e educação ambiental A educação ambiental como instrumento de análise da realidade ambiental A educação ambiental é multidisciplinar. A geografia, por sua vez, permite o estudo do meio ambiente com base nas relações do ser humano com o espaço. Com isso em mente, você deve considerar que a compreensão dos problemas socioambientais, que envolvem a relação da sociedade com o meio ambiente, demanda o entendimento dos impactos em escala global e local. Além disso, tal compreensão exige uma abordagem que identifique as características naturais, culturais e econômicas da área estudada. Um dos objetivos da ciência geográfica é compreender as dinâmicas ambien-tais por meio da relação do ser humano com a natureza e da interferência humana no ambiente (SUESTEGARAY, 2012). Além disso, o tipo de articulação do poder local com a comunidade também é importante para se conhecerem as causas e consequências das ações humanas e dos fenômenos naturais sobre o espaço. Como você sabe, ao longo da história humana, a relação da sociedade com o espaço provocou sucessivas transformações. As necessidades sociais e o desenvolvimento tecnológico demandam cada vez mais intensamente os recur-sos naturais, aumentando gradativamente a área de abrangência dos impactos (LANDIM; SILVA; ALMEIDA, 2011). Por sua vez, os impactos ambientais têm efeito direto nas atividades sociais e econômicas. A compreensão dessa dinâmica é essencial para a criação de propostas parapreservar e utilizar de forma racional os recursos naturais, evitando a degradação e os resultados nocivos à sociedade e ao meio ambiente. A maneira como os recursos naturais são utilizados e o fato de serem ou não preservados impactam na vida de todos. Afinal, há uma ligação direta entre a natureza modificada e o funcionamento da vida cotidiana próxima ou até distante da área que sofre transformações. A sociedade utiliza os recursos naturais para a sua sobrevivência e o seu desenvolvimento. Isso ocorre por meio da exploração da vegetação, de minerais e dos recursos hídricos, por exemplo, que fornecem alimentos e elementos para transformação, como madeira e minérios. O uso imprudente e não sustentável desses recursos ameaça de extinção a fauna e a flora de vários tipos de formação vegetal no Brasil e no mundo. A prática de queimadas para o cultivo de monoculturas, como a de soja, e para a pecuária extensiva, como no caso da criação de gado, é um exemplo de problema ambiental que afeta muitas escalas da vida humana e do meio ambiente. Além disso, o desmatamento, a degradação do solo em áreas de vegetação nativa e a morte de numerosos exemplares da fauna impactam a fertilidade do solo para plantio, o clima local e também a qualidade da água que abastece a população Geografia e educação ambiental 3 que vive próxima de um rio. Tal impacto é potencializado quando há uso de agrotóxicos ou substâncias químicas para recompor a produtividade do solo. Os impactos ambientais são resultado das ações humanas sobre o meio. Eles podem alterar profunda e permanentemente as formações vegetais, as fontes hídricas, como rios e águas subterrâneas, o solo e a fauna. Assim, o meio ambiente é composto dos elementos naturais e sociais. Além disso, existe uma relação direta entre esses elementos e os ecossistemas. A educação ambiental busca conhecer as variáveis desses elementos e verificar como as ações humanas impactam o meio ambiente ao longo do tempo. Como exemplo do impacto da ação humana sobre o meio ambiente, considere o quase total desaparecimento da mata Atlântica no território brasileiro. A Figura 1, a seguir, compara a área da mata Atlântica no século XVI e no século XXI. Figura 1. Mapa da área de mata Atlântica no Brasil no século XVI e no século XXI. Fonte: SOS Mata Atlântica (2019, documento on-line). Os problemas ambientais atingem tanto o espaço rural quanto o espaço urbano. Nesses espaços, estão presentes o meio físico característico e também os elementos humanos, as suas construções e as transformações do meio. A 4 Geografia e educação ambiental geografia tem como objetivo compreender a relação entre a sociedade e as modificações que ela causa no meio ambiente. Portanto, a educação ambiental, sob a óptica geográfica, é um instrumento importante de conservação e utili- zação dos recursos de maneira racional e sustentável. A promoção de debates e reflexões educativas sobre as atividades humanas que resultam em impactos irreversíveis ao meio ambiente é imprescindível para a busca de alternativas e soluções nesse contexto (SUESTEGARAY, 2012). Um ecossistema é um conjunto composto de comunidades de organismos vivos, seus ambientes e as relações que eles mantêm entre si. Esses organismos são a fauna, a flora e os microrganismos. Por sua vez, o ambiente é formado pela atmosfera, pelo solo e pela água. O meio ambiente natural e cultural Ao longo da história, ao interagir com o meio ambiente, o ser humano sempre teve a intenção de obter meios para a sua sobrevivência, desde a primária obtenção de alimentos até a confecção de produtos para o seu uso. Assim, a partir da coleta de vegetais e do cultivo de plantas mais resistentes em locais mais próximos das moradias, nasceu a agricultura. Além disso, a partir da domesticação de animais para reproduzi-los com o objetivo de servirem de alimento, criou-se a pecuária. Dessa forma, ao longo do tempo, houve transformações profundas no modo como o ser humano modifica o meio em que vive, configurando o espaço de acordo com suas ações e práticas cotidianas. Essas transformações ocorreram e ocorrem em todos os lugares habitados do planeta. A agricultura e a criação animal garantem até hoje a obtenção constante de alimentos. É comum a prática de desmatamento para a abertura de áreas de plantação, para pasto e para retirada de madeira. Logo, essas atividades estão intimamente relacionadas ao desmatamento. Além da dimensão natural da degra- dação, é importante você considerar a dimensão social do espaço e a sua dinâmica, pois o espaço geográfico é o produto da transformação da natureza pelos seres humanos. Sua alteração se dá por meio dos instrumentos de cada época, segundo as características culturais e interesses políticos e econômicos vigentes. As transformações impostas à natureza pelo ser humano causam impactos que precisam ser quantificados, pois apresentam variações que podem ser Geografia e educação ambiental 5 grandes, pequenas, profundas ou superficiais (LANDIM; SILVA; ALMEIDA, 2011). A avaliação das consequências de algumas ações é importante para se determinar se um ambiente pode ou não comportar seus impactos. A ciência e a tecnologia, quando aplicadas de forma responsável, podem contribuir para que o impacto das ações humanas seja menos danoso ao meio ambiente e às populações locais, considerando que as alterações podem modificar práticas ecológicas, sociais e econômicas (SUESTEGARAY, 2012). Os recursos naturais que o ser humano explora têm um valor econômico, pois podem ser comercializados. Esse aspecto está associado a conflitos em relação ao uso, à posse e à alteração de áreas onde a natureza foi pouco transformada e onde prevalecem as suas características originais. Em lugares como a Amazônia, há muitos conflitos entre as comunidades indígenas e os agentes que querem explorar os recursos naturais. É o que você pode notar na Figura 2, que mostra o índice de desmatamento na Região Amazônica. Além disso, considere que o avanço da agropecuária causa desmatamento e queimadas, com graves consequências para a flora, a fauna, os solos e os rios. Em acréscimo, há os efeitos sobre a população local, como a expulsão dos indígenas de suas terras. Figura 2. Área de desmatamento na Amazônia brasileira. Fonte: Oliveira et al. (2010, documento on-line). 6 Geografia e educação ambiental A abordagem do meio ambiente natural ou cultural deve fazer referência às ações da sociedade sobre o espaço. Um espaço rural e uma área de reflo- restamento, por exemplo, não podem ser considerados meios naturais, pois já possuem modificações e diferenças em relação à sua paisagem original. O meio que possui qualquer fator social e cultural e que passou por transforma-ções devido à ação do homem é produto da sua interação com determinada comunidade humana, que possui certas preferências culturais e vive sob um conjunto de circunstâncias naturais. A geografia revela que, ainda que os elementos naturais sejam predominantes, esse meio tem alguma transformação humana e, assim, não é mais natural. As transformações humanas, quando resultam em impacto ambiental, significam que o resultado das ações modifica o ambiente e produz danos, muitas vezes irreversíveis. Quando se trata do território brasileiro, os exemplos de perda da biodiversidade podem ser vistos também no cerrado. O garimpo em várias regiões do País causa, por exemplo, o desbarrancamento de margens de rios, a contaminação da água e do solo por mercúrio (produto utilizado nesse tipo de exploração), além da perda da biodiversidade local. O modelo econômico contemporâneo demanda um acelerado processo de produção devido à crescente pressãopelo consumo. Essa dinâmica já provocou e ainda provoca grandes problemas ambientais e sociais pela necessidade de intensa exploração dos recursos naturais (LANDIM; SILVA; ALMEIDA, 2011). A educação ambiental e a sua articulação com o poder local e a comunidade Para que o meio ambiente, em seus variados aspectos, seja preservado e para que os recursos sejam usados de forma racional e sustentável, todos os tipos de ecossistemas brasileiros abrigam Unidades de Conservação (UCs). Uma unidade de conservação é uma área com características naturais relevantes instituída pelo poder público para a preservação e a manutenção da diversidade biológica. Geografia e educação ambiental 7 As unidades de conservação podem ser classificadas como de proteção integral ou de uso sustentável (Quadro 1). A unidade de proteção integral tem como finalidade preservar a natureza mediante o uso indireto dos recursos naturais, como por meio de visitas para atividades educacionais, científicas e recreativas. É o caso do ecoturismo. Nesse tipo de unidade de proteção, a extração e a comercialização de recursos naturais são proibidas. Por sua vez, a unidade de uso sustentável concilia o uso de parte dos recursos com a conservação da natureza. São permitidas a extração e a comercialização dos recursos de maneira sustentável, por meio de um plano de manejo. Quadro 1. Grupos de unidades de conservação da natureza Unidades de proteção integral Unidades de uso sustentável Estação ecológica Área de proteção ambiental Reserva biológica Área de relevante interesse ecológico Parque nacional Reserva extrativista Parque estadual Reserva de fauna Parque municipal Reserva de desenvolvimento sustentável Refúgio de vida silvestre Reserva particular do patrimônio natural Monumento natural Floresta (nacional, estadual e municipal) Fonte: Adaptado de Brasil (2010). Além de protegerem a biodiversidade e o patrimônio ambiental, essas unidades são importantes para a população indígena e as comunidades ribei- rinhas, de pescadores, artesãos, seringueiros, etc. Isso ocorre pois o modo de vida desses grupos depende intimamente dos recursos da natureza, e o conhecimento da fauna, da flora, do solo e dos recursos hídricos contribui para a sua preservaç ã o. Logo, essas unidades de conservação são espaços naturais protegidos por lei e possuem características particulares relacionadas com a fauna e a flora do local. As unidades de conservação fazem parte do patrimônio natural e cultural do País. Portanto, têm importância ecológica (OLIVEIRA et al., 2010). 8 Geografia e educação ambiental A população indígena que habita a Amazônia possui um conhecimento profundo e importante sobre o uso medicinal das espécies nativas da floresta. Recentemente, a indús- tria farmacêutica global passou a investir em pesquisas e na extração de conhecimento para produzir medicamentos com base em plantas das florestas tropicais e equatoriais. Para que seja garantida a conservação desses ecossistemas, existem leis ambien- tais. Contudo, elas não são suficientes para a preservação do patrimônio natural, pois a fiscalização e o combate ao desmatamento ilegal feitos pelas unidades de conservação geralmente são atividades que envolvem constante monitoramento de áreas isoladas e de difícil acesso. Assim, nem sempre são eficientes. Um instrumento que pode auxiliar na preservação é a certificação florestal. Ela é concedida a empresas que seguem padrões de qualidade e sustentabilidade na extração e na produção, por exemplo, da madeira. Nesse caso, a madeira recebe um selo que indica de onde ela provém. Os produtos com tal certificação não degradam o meio ambiente e colaboram para o desenvolvimento social e econômico das comunidades florestais onde são produzidos. Assim, o processo de certificação garante a manutenção da floresta e das atividades econômicas que ela proporciona (OLIVEIRA et al., 2010). Outra prática de preservação ambiental é o ecoturismo. Nele, a atividade turística está ligada à conservação da biodiversidade e ao desenvolvimento econô mico das populaç õ es locais, com a diminuição dos impactos da sociedade no meio ambiente, gerando empregos para quem vive na região. O combate ao desmatamento e as ações de preservação devem ser feitos por todos. Proteger o meio ambiente implica comprar objetos de madeira ou móveis de comércio legal, conscientizar as pessoas da importância da preservação da fauna, da flora, da água, do solo e da atmosfera, além de não colocar fogo em áreas de vegetação. As mudanças de atitudes individuais e coletivas são impor- tantes. Nesse contexto, a educação ambiental pode conscientizar a população sobre os problemas ambientais e sociais consequentes das atividades humanas. Geografia e educação ambiental 9 BRASIL. Ministério do Turismo. Secretaria Nacional de Políticas de Turismo. Departa- mento de Estruturação, Articulação e Ordenamento Turístico. Coordenação-Geral de Segmentação. Ecoturismo: orientações básicas. 2. ed. Brasília: Ministério do Turismo, 2010. Disponível em: http://www.turismo.gov.br/sites/default/turismo/o_ministerio/ publicacoes/downloads_publicacoes/Ecoturismo_Versxo_Final_IMPRESSxO_.pdf. Acesso em: 25 fev. 2019. LANDIM, R. B. T. V.; SILVA, D. F.; ALMEIDA, H. R. R. C. Desertificaç ão em Irauçuba (CE). investigação de possíveis causas climáticas e antrópicas. Revista Brasileira de Geografia Física, Recife, v. 4, n. 1, p. 1-21, jan./mar. 2011. OLIVEIRA, N. L. et al. Desenvolvimento sustentável e sistemas agroflorestais na amazônia mato-grossense. Confins, n. 10, 2010. Disponível em: http://journals.openedition.org/ confins/6778. Acesso em: 25 fev. 2019. SOS MATA ATLÂNTICA. 2019. Disponível em: https://www.sosma.org.br/artigos/. Acesso em: 25 fev. 2019. SUESTEGARAY, D. M. A. Geografia física, geografia ambiental ou geografia e ambiente? In: MENDONÇA, F.; KOZEL, S. (org.). Elementos de epistemologia da geografia contempo-rânea. Curitiba: UFPR, 2012. Leituras recomendadas FIOCRUZ. Invivo: informações sobre a situação dos biomas brasileiros. [2019]. Dispo- nível em: http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=9. Acesso em: 25 fev. 2019. SATO, M.; CARVALHO, I. Educação ambiental: pesquisa e desafios. Porto Alegre: Artmed, 2005. UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO BRASIL. Informações sobre as unidades de conservação do Brasil. [2019]. Disponível em: https://uc.socioambiental.org. Acesso em: 25 fev. 2019.
Compartilhar